20/08/2014 Apresentações: Socorro: Sou professora da ... · 20/08/2014 Apresentações: Raonni:...
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20/08/2014
Apresentações:
Raonni: Assistente Social – Atualmente estou na Prefeitura de SP, servidor
municipal, na Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, CRAS,
militante da Organização da Arma da Crítica.
Socorro: Sou professora da graduação, estou na coordenação do curso, todos
aqui passaram pelo curso, já fiz minha dissertação de mestrado numa parceria
com a Bia, construímos uma pesquisa conjunta, depois acabei entrando na
gestão acadêmica, ministro uma disciplina chamada Projetos Societários e
Profissão, e que para mim é muito importante estar participando do NEAM, por
força da disciplina que a gente está começando. E continuo no Núcleo de
Saúde e Qualidade de vida.
Bia: Então para vocês que estão chegando para situar um pouco, e
rapidamente vocês já vão se integrar, neste semestre, nós estamos com 9
alunos matriculados, antes estávamos com 12 ou 13, mas por contada CAPES
que, enfim, estamos com uma redução de bolsas, então os alunos trancaram, e
iremos abrir as bolsas somente no segundo semestre de 2015. Considerando
que hoje o curso de Serviço Social na PUC SP é o de maior número de bolsas,
nós temos hoje em torno de 140 bolsas para todos os alunos, o que é muito
grande, os outros cursos não tem, agora, na realidade, a questão das bolsas
não depende do programa. E efetivamente, nos editais, a gente não coloca a
questão das bolsas, porque se a gente cria uma ilusão de que haverá bolsas e
depois pode não haver. Na realidade, na gestão passada, a Prof. Raquel, como
eu coloquei, ela ampliou o número de bolsas, a CAPES não falou nada, e
quando foi a prestação de contas da gestão, ela pediu ressarcimento dessas
bolsas, então estamos sem estas bolsas, o que é um problema, porque grande
parte dos nossos alunos, a bolsa CNPQ é bolsa integral, mas nem todos os
alunos podem ter a bolsa integral, porque tem mais de 30 horas de trabalho,
enfim, tem 2 trabalhos, então a bolsa CAPES, ela é uma bolsa intermediária,
parcial, que a gente conseguiu, mas é essa a questão, claro que os alunos num
primeiro momento ficaram apreensivos, e por isso, que hoje o Ademir está lá
conversando com os alunos à respeito disso. No colegiado a gente voltou a
discutir, no sentido que agora a gente veja institucionalmente a bolsa com a
FAPESP, porque na PUC SP, nós só temos CNPQ e CAPES, então agora, o
professor Mazzeo, que está vindo dar aulas efetivas, na pós graduação, nas
universidades estaduais, eles tem muito contato com a FAPESP, pra gente
fazer institucionalmente, não só uma atitude do aluno, o professor orientador
sair correndo atrás de bolsa.
Aluna (05:01 min): Eu já recebi um e-mail da universidade falando das
bolsas FAPESP, na universidade.
Bia: Mas a universidade não tem bem uma relação ainda. No site nem
existe FAPESP. Então temos que ir lá, garimpar.
Taynara: Só uma dúvida, dentro destas 12 bolsas, você falou que tem 9
no mestrado, as outras 3 são para o doutorado?
Bia: Não, não. Dessas 12 bolsas, essas bolsas têm entre mestrado e
doutorado.
Taynara: Não tem um número certo para mestrado e doutorado?
Bia: Não, porque a gente reorganiza, não tem porque até a cada
semestre nós oferecemos um número de bolsas, um nº de vagas para alunos X
para mestrado e X para doutorado, de acordo com as nossas possibilidades
objetivas de orientação, de professores, etc., por exemplo, teve um semestre
que oferecemos um número X e entraram menos mestrandos, a gente ampliou
o de doutorandos que entraram mais, porque a ideia é que todo mundo possa
entrar. E a questão que também já foi abordada com o Ademir, com os alunos
que entraram este semestre, é de que, o próximo semestre, alguns alunos que
deixam as bolsas porque concluem, a prioridade vai ser para os mestrandos e
doutorandos que entraram agora em junho. Isso quer dizer que, possivelmente,
no próximo semestre, vai ser mais difícil a questão das bolsas. Isso não
significa dizer que a gente não vá discutir abertura de curso, etc., a gente vai
voltar a falar com a CAPES, eles foram, tanto que quando saí daqui de férias,
saí daqui dia 17, o Ademir já estava feliz, pois a conversa na CAPES havia sido
positiva, na véspera de fechar tudo, veio um e-mail dizendo que as bolsas não
vão sair. Então o Ademir está fazendo esta conversa lá, mas é isso. A outra
coisa que eu queria dizer rapidamente para vocês eu vou passar o jornal
APROPUC para vocês, semana passada fizemos um ato belíssimo, muito forte
a repercussão externa foi muito grande, muitos apoiadores, etc., então estou
passando para vocês pegarem, e aqui estou passando para vocês o panfleto
para vocês divulgarem em relação a APROPUC que a gente vai ver amanhã.
Vocês estão sabendo que hoje, mais uma vez a repressão, a polícia baixou feio
há duas semanas atrás, cortaram pontos dos alunos, pela primeira vez hoje. À
tarde teve negociação na USP, para ver a questão da legalidade da greve. O
resultado era hoje à tarde. Enfim, tem pessoas feridas, eles estarão aqui
amanhã, os metroviários estarão aqui amanhã, o pessoal do movimento
indígena também vai estar aqui no Ato de Lançamento do Comitê Contra a
Criminalização dos Movimentos Sociais.
E no dia 28 nós vamos fazer o lançamento da revista, 50 Anos do Golpe
Militar, vai ser na 239, 7 autores(as) de artigos já confirmaram presença. A
outra coisa é que estou aguardando resposta da vinda daquele historiador, que
vai falar sobre a questão racial no Brasil, do ponto de vista do marxismo, para
ver que data a gente fecha com ele, a Raquel Varela é uma das estudiosas,
marxista, ela escreveu sobre a Revolução dos Cravos em Portugal e é uma das
historiadoras mais importantes hoje, no campo do marxismo, tem uma crítica
contundente, e ela vai fazer um debate conosco no dia 30/10/2014, à noite ela
vai fazer o debate na Unicamp com Ricardo Antunes. Ela vai fazer um debate
sobre a questão depois da crise do capitalismo de 2006, como está hoje a
situação na Europa e a luta dos trabalhadores. Então também já está fechado.
E o Renato que eu falei para vocês, que vai falar sobre o lucro do Estado
Social, também um marxista, pesquisador de Lisboa, vou ver se ele vem no dia
do NEAM, é a mesma pesquisa da Raquel Varela, ele vai mostrar a ilusão
social desenvolvimentista com uma saída para a crise do projeto neoliberal, vai
falar das lutas sociais, etc.
Para vocês dois que vieram hoje, nós estamos no NEAM, neste
semestre, da metade para o final, um texto de Marx “Sobre a Questão Judaica”
e também estamos fazendo a cada encontro, uma leitura do livro de Leandro
Konder “Sobre o Amor”, onde são filósofos, intelectuais, poetas, artistas,
músicos, revolucionários, enfim, e de várias épocas, que na realidade, a gente
está discutindo afinal, qual é a concepção de pensamento de amor, e tem tido
aí a discussão do amor do ponto de vista mais amplo, ou seja, em todas as
objetivações humanas, amor pela política, pela vida, nas relações amorosas, e
ao mesmo tempo, fazendo uma relação dessa concepção na história, sempre
tendo como referência, a perspectiva emancipatória, ou seja, do ponto de vista
da emancipação humana, e do ponto de vista da história, ou seja, que
intelectuais são esses, de onde eles vieram, como eles vieram, etc. Então,
hoje, iremos entrar com a leitura de Rosa Luxemburgo. Então, para vocês que
estão vindo agora, o livro “Sobre a Questão Judaica”, ele foi publicado por um
conjunto de textos pela Boitempo e eu conversei a semana passada, essa
semana eles estarão na PUC SP e eu combinei deles trazerem “Sobre o
Amor”, o livro sai com 30% de desconto, eu pedi para eles trazerem “Sobre a
Questão Judaica”.
A Expressão Popular tem o que nós vamos ver na sequência, que é “A
Ideologia Alemã”. Vamos começar a leitura da Rosa e depois a gente vai para
a leitura “Sobre a Questão Judaica”. Quando a gente for fazer a leitura “Sobre a
Questão Judaica”, me deem 10 minutos muito rapidamente, eu vou situar o que
a gente já discutiu para vocês.
A cada livro tem um intelectual que fala a respeito da obra, quando a
gente discutiu A Introdução e A Crítica à Filosofia de Direito de Hegel, a gente
viu o vídeo sobre a obra comentada pelo Alyson Mascaro, na Edição do Curso
sobre Marx e Engels da Boitembo. Par verem bata acessar no youtube.
Em relação à esse texto “Sobre a Questão Judaica”, é a Arlene que vai
falar, entra no youtube, entra na Boitempo, coloquem Arlene Clemesha– Sobre
a Questão Judaica”, vocês irão ver o vídeo e mais ou menos 28 min de
questões, mas que são muito importantes, porque nas questões ela vai falar
sobre um Estado único, o momento contemporâneo da luta palestina, vai falar
sobre o judaísmo, catolicismo na história nas relações com as classes, enfim,
ajuda a gente a pensar um pouco. A Arlene é uma das estudiosas, especialista
na Questão da Palestina, a tese do mestrado dela foi Sobre a Questão Judaica,
a tese de doutorado dela foi sobre a Questão da Palestina, ela coordena um
grupo de estudos na USP, e ela tem um livro belíssimo sobre a questão
judaica.
Luiz: Eu só queria fazer um comentário, uma nota sobre o falecimento
de Nicolau Sevcenko, foi meu professor na USP, é um dos raros professores
que não tem origem burguesa, foi office boy, um outro exemplo da sociologia é
Florestan Fernandes, são pessoas que vem das camadas populares, Nicolau
era um exemplo, então só queria deixar essa nota.
Bia: Em relação a isso, o próximo número do Jornal PUCVIVA, 2º feira
que vem, é um artigo maravilhoso, que ele escreveu na Folha de São Paulo em
dois mil e alguma coisa, não me lembro a data agora, acho que 2006, e lendo
um artigo dele é um retrato da proposta de desestruturação das relações de
trabalho que está tendo lá na Prefeitura de São Paulo e aqui na PUCSP e a
gente dá uma nota embaixo na importância do Nicolau para o pensamento
crítico brasileiro.
Bom, então vamos passar para a leitura. E vocês que estão chegando
agora, passem o e-mail de vocês, pois toda a nossa leitura, nós temos um
acervo do NEAM, e todo o nosso debate, a discussão é gravada, e é passada
para todos os alunos, então vocês passem o e-mail. O primeiro já está pronto,
deste semestre, e eu já encaminhei. OK, quem quer ler?
Juliana: Rosa Luxemburgo, A Militante que queria ser feliz (22:00 min a
36:40 min).
Bia: Quem não leu este livro: “Lutadoras: história de mulheres que
fizeram história”, para quem está discutindo a questão da mulher na
Revolução, a editora é ISKRA. Alguém quer comentar?
Juliana: Eu gosto muito da visão dela do amor. Eu li estas cartas com o
Leo. E daí é muito interessante porque eles vão discutindo política, sobre a
revolução, sobre liberdade e sobre a intimidade, ela fala do lar também, de
como ela quer organizar, de como ela quer de repente ter um filho, de como ela
se vê como indivíduo, mas também indivíduo que é político, que tem essas
duas dimensões, ela tem muito esse cuidado, de ter preservado essa dimensão
da paixão e do amor, e também, não é só o amor relativo ao amante, ela e o
Leo, que é o companheiro, ela escreve os artigos e ele manda corrigido, é
super rigoroso, tem essa relação múltipla, mas aí também com os amigos,
então essa coisa elegante, cordial, da preocupação, do cuidado, que aparece
tanto quanto aparece a da figura política, admirada e eu acho muito
interessante. Eu gosto muito de uma frase que ela fala nesse livro, nas cartas,
que ela manda para ele, que o Leo tem uma visão mais rigorosa, como desse
que ele cita, Revolucionário, o dos mortos de férias. Então o Leo é mais ou
menos esse pique, então às vezes ele manda algumas coisas para ela, ele diz
que não tem, mas tem sim. Eu já li cartas dele também. Enfim, ele é mais
rigoroso com ela, com a questão da Revolução, por isso que ele decide não só
ficar os dois juntos, morar juntos, sempre ele está numa cidade e ela em outra,
mas ele fala para ela que precisa ter rigor, disciplina e ela fala “nossos esforços
têm sido inúteis. O que adianta ficar 10 horas aqui, buscando escrever, ou
estudando, para escrever uma página. É muito mais interessante ter um
esforço intenso, e dirigido por uma hora e pronto. Sem ter que ter sacrifício.”
Ela fala alguma coisa de sacrifício. Não há necessidade para estudar ou fazer
ou algo sacrificioso. Eu vou conseguir escrever um artigo sem ter essa, ter
disciplina, sem que seja um sacrifício mesmo. Então eu acho muito
interessante. Foi até a primeira citação que eu coloquei no meu mestrado,
porque eu fui aprendendo com a Rosa várias coisas. Eu fui fazendo mestrado
ao longo dos dois anos, eu não deixei para depois. Então um pouco por dia,
sem sacrifícios, sem se cobrar, e ela fala um pouco disso, discutindo com o
Leo, do relacionamento deles, é interessante.
Jorge Artur – Eu acho que a Juliana falou, eu me lembrei em 1983/1984,
não sei quando foi lançado, em 83 que ela vem ao Brasil, e eu me lembro que
me marcou muito, eu achava que era uma coisa completamente melosa,
completamente desvio burguês, uma tarefa fora da Revolução, onde já se viu
perder tempo com uma tradução dessas? Então, quando faltava tanta coisa
importante para ser traduzida, com essa coisa subjetiva, e hoje a gente tem
muita clareza disso. A classe social tem gênero, tem etnia, tem muito mais
colorido do que se vê, então isso me marcou muito, essa crítica como se a
questão do amor, da subjetividade, do tesão, fosse algo que para nós estava
proibido. Tem nuances, o afeto, o amor, então isso era muito importante nessa
época, entre nós e esquerda.
Luiz: O revolucionário tinha que ser um operário.
Jorge Artur: É, duro, rígido. É o desvio burguês, tudo que era bom, é
desvio burguês.
Luiz: Ser taxado de burguês, era da nação eterna.
Bia: Quem mais?
Fernanda: Isabel Loureiro ela organiza os textos escolhidos da Rosa,
pela editora UNESP, e na apresentação, ela coloca uma série de elementos
interessantes e aí quando vocês dizem do seu pai que rechaço a tradução,
esse é um dos primeiros elementos que a Isabel coloca na apresentação, que
a Rosa, depois da morte, ela caiu no ostracismo, a tradução dela foi traduzida,
acho que na década de 60/70 que veio a ser traduzida, então tem uma relação
muito problemática com a esquerda oficial, porque ela era uma mulher firme e
tinha uma autonomia intelectual; ela bancava aquilo que ela acreditava e as
divergências com Lenin etc., então após a morte dela, pelo Stalinismo que
chega também na Alemanha, a profissão da Rosa vai cair nesse ostracismo e
daí não é pelo ponto de vista do amor, mas eu acho que a produção intelectual
da Rosa como um todo que vai ser rechaçada pela esquerda. Então eu acho
que é um primeiro elemento para a gente poder pensar. Nessa mesma
apresentação que a Isabel Loureiro coloca, é interessante, ela vai falar do
volume 3, o volume 3 é só das cartas da Rosa para o Leo. Ela vai dizer que é
um momento que vai desmistificar a Rosa, aquela mulher revolucionária,
dedicada só às questões da Revolução, mas é uma Rosa que tem também
essa coisa do amor etc., e aí ela vai dizer que a Rosa é uma mulher avançada
no seu tempo e filha do seu tempo; e à medida que a gente vai lendo esse
texto, eu fiquei pensando, se é uma mulher avançada para o seu tempo, filha
do seu tempo, é quando ela vai romper com o Leo para viver um romance com
o filho da Clara. E ela é contemporânea da Alexandra Kolontai, que fala sobre o
amor e camaradagem, que já era um debate para dentro da esquerda da
época, e já tinha; então, assim, eu fiquei pensando muito nesse sentido, que
ela teve que suspender o relacionamento para poder começar a viver o outro,
por que não viver os dois ao mesmo tempo? Eu fiquei pensando muito sobre
isso.
Luiz: Desvio burguês. Kkk
Bia: Isso não é desvio burguês.
Fernanda: Eu acho que é isso, são esses elementos, avançada no
tempo, mas uma filha do seu tempo, né?
Luiz: Mas depois você fala, Bia. Eu só queria falar uma coisinha, que eu
tive a mesma impressão com relação a Marx. O olhar do Leandro é
desconstruir o momento. É engraçado que se você vai fazer uma leitura, vamos
dizer assim, o masculino revolucionário, fica aquela coisa monumental, é como
o Nelson Rodrigues falava, colocando em praça pública, é aquela figura
inatacável, é uma figura humana, então eu acho bárbaro isso. É uma coisa que
aconteceu com a Rosa e está por fora, não tem essa de ficar ali, né? Coisas de
missionário, Revolucionário é uma coisa, missionário é outra. Então assim, não
só ela, ela por exemplo, é um emblema. Eu me peguei pensando, que na
verdade isso me fez abstrair de uma outra coisa, e na importância da figura
feminina neste momento do século XX, porque a gente tem a Rosa que é um
exemplo, mas a gente tem a Clara Zetkin, a Wendy Goldman, tem o mesmo
peso para o anarquismo que a Rosa no comunismo.
Jorge Artur: E brigando com os homens do mesmo jeito, pau a pau.
Luiz: De pau não, porque para afirmar tem que ter um pau maior. Srsrsr
Jorge Artur: (49:22 ???) dizia que, quando passassem os anos ela ia ver
questões que ela está tratando de tesão.
Luiz: Se colocasse Freud aí no meio, seria histérico. Srsrs. A gente tem
a Salomé, o Lou-Andreas Salomi, todas judias, né? Eu já vi coisas
interessantes do judaísmo naquele tempo. Não é à toa que são figuras que
emergem o judaísmo, tem que pensar a mulher no judaísmo, parece que o
judaísmo está saturado; saturado no bom sentido, ele está habitado por
mulheres, Raquel, Dalila, então há muitas figuras femininas brigando para ter
um espaço no meio dos homens e eu estive pensando, não foi um desvio
burguês, foi um desvio poético, será que o comunismo é terra prometida? Será
que Marx não é reencarnação do Moisés? Srsrs Porque quando você pega o
comunismo, a origem, quando você estuda o judaísmo, parece que é uma
coisa que um judeu, quando Marx denuncia o judeu com um tipo de meio, é o
(51:24 ????) é o cara que vai fundar há 100 anos atrás, já estava morando no
Estado de Israel. Então isso que a gente está vendo hoje acontecer é algo que
começou há 100 anos, de eliminar os clandestinos de lá, é uma coisa
pragmática que está centenária. A história fez com que ele se aproveitasse e
colocasse esse bonde para andar. Mas você tem um judaísmo.
Bia: Porque eles foram perseguidos e resistiram.
Luiz: Sim. Existe um judaísmo laico nas entrelinhas, foi uma coisa que
não tive tempo de reler, de pesquisar, e me chamou a atenção isso. Essa coisa
feminina, ela tem uma repercussão. Jamais viria de mulheres católicas, ou de
outra religião. O judaísmo é fundamental nesse momento. Não é uma busca
por transcendência, superação, mas essas duas dimensões se tocam, então eu
vi a Rosa aqui como um emblema, uma coisa que converge o feminino,
feminino que quer transformar, que quer ir à luta, mas que não se confunde
com essa coisa missionária, porque a Rosa quer ter filhos, quer uma família, e
você tem aquela frase emblemática também: (52:29 ???) Essa coisa dura, essa
coisa mecânica, da química, do homem, do masculino, tem um contraponto,
então saiu essa “salada” aí.
Jussara: Tem um trecho da leitura que ela coloca o modo dela de como
o livro é “Sobre o Amor” então é a marca dela cravada, que é quando a Rosa
se colocava toda apaixonadamente, nos diversos planos de sua vida, então, eu
acho que é isso que ela traz para a gente, essa intensidade em todos os
âmbitos, a gente quer tanto a totalidade das coisas, ela põe essa pessoa na
totalidade. Então ela tinha um estudo dos problemas teóricos, a paixão por
isso, na militância política e não menos na relação dela amorosa. Até porque
essa intensidade, essa paixão que ela tinha, por essas questões mais sérias
não poderiam ser menos, pelas questões mais subjetivas. Então eu acho que
isso é a marca dela como uma mulher do seu tempo, como uma mulher que
participou da construção histórica de um tempo, ela deixou essa marca para a
gente.
Bia: Mais alguém?
Fernanda: A Isabel vai dizer que em 1914 ela vai ter uma breve uma
relação com um advogado companheiro de partido, que é o (54:52 ???). Eu
acho interessante porque ele não coloca esse caso que ela teve, deve ter tido
vários outros também.
Jussara: E ela não era tão bonita, mancava.
Bia: Eu acho que no geral vocês trouxeram elementos importantes para
a gente pensar, Rosa, mulher, e sua objetivação na história, e é interessante,
porque à medida que você lê o texto do Leandro, ao mesmo tempo você
começa a ver o que foi a figura, foi essa expressão política, né? Se a gente
pensar a Rosa como judia, polonesa, é a 5º dos cinco filhos, numa família onde
o pai trabalhava com o comércio, ela sai de uma vila pequena na Polônia, vai
para a Alemanha, e ela é muito jovem, começa na militância política. Ela entra
com uma perspectiva de esquerda, muito jovem, adolescente. E ela vai entrar
para a universidade, ela vai fazer faculdade, ela faz Direito, faz Ciência Política,
e ela, de fato, é brilhante, porque ela tem uma função muito tensa e uma
combatividade muito grande, ela consegue e faz uma crítica, como fala o texto
aqui, a Berenstein que é revisionista, o que era um revisionismo? Era rever a
teoria de Marx, ou seja, o revisionismo, ela foi dos marcos do partido social
Democrata, agora, o Partido Social Democrata naquela época, era um partido
revolucionário, a gente precisa ter clareza do que era um Partido Social
Democrata. Então lá, a organização do Partido Social Democrata era uma
perspectiva, inclusive, com a presença de frações comunistas. Rosa se colocou
na 1º fileira na defesa da Revolução Russa em 1905. Naquele período, a gente
sabe, que aquela revolução, não seria uma Revolução Bolchevique proletária,
o Estado rural, com pouco desenvolvimento das forças produtivas, mas, desde
o 1º momento é importante essa questão internacionalista. E ela era uma
marxista. E ao beber da teoria de Marx, muito diferentemente dos que foram
chamados comunistas dogmáticos do Stalinismo, fizeram essa ruptura e o
Marx não fazia essa ruptura entre objetividade e subjetividade. Para Marx
desde os manuscritos econômicos e filosóficos de 1844, ele está tratando de
um conjunto de questões centralmente ele vai desenvolver a produção material
como a prioridade ontológica, que em relação às outras categorias, mas todas
as esferas daquilo que ele vai chamar de hominilateralidade humana, ou seja,
tudo aquilo que pertence ao humano em todas as suas dimensões.
Então eu diria, como vocês falaram, quando a Ju falou das cartas, o
Jorge Artur e quando a Fernanda retomou um pouco essa discussão,
lembrando a Isabel Loureiro. Isabel é uma marxista Lucatiana, que tem feito
trabalhos fundamentais e faz exatamente essa tradução. Então eu acho que é
importante fazer essa relação da Rosa no seu tempo e nessa história política e
ela de fato não tinha essa concepção aqui, aliás, essa concepção messiânica
do que significa a revolução também é uma distorção do que é a perspectiva
revolucionária, porque tem que ter claro isso.
A outra, quando a Juliana fala, as cartas dela, eles viviam na
clandestinidade devido as perseguições políticas sofridas, então a questão da
clandestinidade também coloca para os sujeitos históricos revolucionários,
situações cotidianas muito difíceis. Ela queria ser mãe, e ao mesmo tempo ela
não se colocava naquilo que as mulheres do seu tempo eram colocadas no
sentido que ela pudesse fazer todas as atividades no campo da vida privada
para que o homem fizesse a luta, então ela era tão militante quanto seu
companheiro de 15 anos.
Então eu vejo que é extremamente importante como historicamente o
papel da mulher se constrói, num campo de combate. É importante a gente
deixar claro porque a concepção hegemônica do papel da mulher é fruto do
patriarcado, a monogamia é fruto do patriarcado, então não são os
revolucionários que colocam a questão da propriedade nas relações amorosas.
Tem que ter claro isso. Ela vem para o patriarcado. O que é o patriarcado? Não
é a expressão da herança? Não é no auge do capitalismo, uma forma de
conceber a família?
A autora Wendy Golfman, tem um livro O Estado e a Revolução, ela vai
mostrando, na Revolução Russa, o papel da mulher e a perspectiva
revolucionária do ponto de vista das relações entre as classes, de superação
da classes, da luta pela emancipação humana. Então ela vai mostrar, que
aquela discussão, por exemplo, da legalização do aborto, do cuidado das
crianças, ou seja, que o cuidado deve ser coletivo, os restaurantes coletivos, as
lavanderias coletivas, a alimentação coletiva, então esse espaço de
subordinação de dependência, na vida privada, ela corresponde ao auge do
atual capitalismo, da manutenção do papel da mulher (trabalho não
remunerado), a questão do divórcio, a questão da sexualidade, a questão da
livre orientação; algo que imediatamente após o Stalinismo se instaurar, foi por
terra. Acabou a liberalização, a escolha do ponto de vista amoroso foi
detonada, a perseguição dos homossexuais foi brutal, qualquer pensamento
divergente foi fuzilado.
Jorge Artur – Com direito a exportação, né? Fizeram a mesma coisa na
guerra civil espanhola.
Bia – Pois é. Então é um pouco para a gente pensar, como que na
história da humanidade essa relação entre as classes e de classe, de
exploração e de dominação, elas estão sempre presentes.
Uma outra coisa importante, que eu vejo da Rosa, ela fez um combate
duro com os revisionistas, ela fez um combate duro e saiu do Partido Social
Democrata (PSD), quando o PSD apoiou os critérios de guerra, pela 1º Guerra
Mundial, ela sai de uma forma dissidente, se organiza com os comunistas, cria
um outro grupo, e vai efetivamente fazer um combate duro em relação ao
processo de capitulação da social democracia. Se a gente for pensar nos anos
30, foi o que Stalin fez, na relação com o imperialismo, nos créditos às guerras
etc., Uma outra questão que eu penso que seja importante, que não dá para a
gente fazer a discussão muito rápido, não dá para eu fazer a leitura do texto
sem localizar esta figura importantíssima da história revolucionária. Não dá
para pensar a Alemanha ou pensar o debate dela com Lenin. Eles eram aliados
ali na questão revolucionária. Agora havia uma divergência, o Lênin estava
pensando a questão do partido do ponto de vista do centralismo democrático,
num momento, que se não houvesse aquela estrutura de partido, não teria
Revolução. A Rosa estava numa Alemanha onde as forças produtivas eram
extremamente mais desenvolvidas do que a situação da Rússia, e que as
mobilizações eram de massa, tanto que ela escreveu: Greve de massa,
sindicato e Partido. Então é para a gente compreender e ela vai dizer da
importância da greve geral como greve política, ela vai fazer um combate com
os sindicatos, com a visão meramente econômica, que já estabelecera um giro
para a social democracia não mais revolucionária, já setores que tinham pactos
e ela vai fazer essa crítica. E a crítica (01:05:56???) , que na realidade, que daí
(01:06:05????), que com a perspecção anarquista e se contrapondo ao projeto
revolucionário ela vai mostrar, e se a gente for discutir por exemplo, aliás, ela
nasceu, no dia que nasceu Marx, não no mesmo mês e ano, ela é de 05 de
Março e Marx 05 de maio, e ela nasceu dias antes da Comuna de Paris, em
1871, e é assassinada em 19/01/1919. Os policiais entram no saguão do hotel
onde Rosa se encontrava, a arrastam e a levam em um carro, depois, ela é
jogada no rio e seu cadáver só é encontrado no dia 31/05. Por que eu também
estou chamando a atenção? Sendo uma mulher no seu tempo e a frente de
seu tempo e altamente vinculada na história, e como todas essas questões, da
convicção para ela, ela vivia com paixão. Ela está enterrada em Berlim.
Olha, Brecht dedicou a seguinte frase a Rosa “aqui jaz Rosa de
Luxemburgo, judia da Polônia, vanguarda dos operários alemães, muito por
ordem dos opressores, oprimidos, enterrai as vossas desavenças”.
Então esse esquecimento, esse silêncio, para traduzir obras de
Revolucionários na história, é fruto de um Estado de Opressão, de dominação.
E era Revolucionária como mulher, porque uma mulher no seu tempo, ela vai
objetivando na sua vida cotidiana as várias possibilidades de uma construção
emancipatória, no afeto, no amor, na literatura, no desenho porque ela gostava
de desenhar, ou seja, como é possível você, cotidianamente, aquilo que
Lukács fala, ter momentos de suspensão, apesar da barbárie. Hoje cedo na
USP, mais dois jovens foram violentados e saíram, arrebentados.
A cada dia a gente aborda uma situação de barbárie. Então eu acho que
a gente tem muito o que aprender com essa mulher e não é do ponto de vista
personalista, mas da importância histórica que a Rosa tem, e como as pessoas
não estudam, eu fico pensando nas universidades, a gente sabe disso né
Socorro? Lá na graduação, não é só no Serviço Social, é no geral. Não
debatem quem são esses sujeitos, que partidos são esses, nós temos que
aprender com esse legado, com essa história, e romper com esses mitos, que
parte destes mitos são mitos extremamente reacionários, que eu vou muito
rapidamente já entrar na Questão Judaica, que é essa relação da questão
judaica. Vocês que viram o vídeo, da Arlene, quem não viu vai ver, ela vai
deixar claramente essa questão. Ela vai dizer, olha, há uma propaganda
nefasta, anticomunista em relação a essa obra de Marx, sobre a Questão
Judaica. Por que? Porque eles acusam, há setores que recusam numa dada
passagem, notadamente a que vimos na semana passada, como se Marx
fosse anti-semita. E, na realidade, Marx não está fazendo a discussão do
judaísmo como religião, isso é muito importante. É importante, inclusive, para
hoje a gente discutir a questão da Palestina, a questão não é o judeu como
cidadão, é o Estado de Israel, o imperialismo, o genocídio, etc.
Então, quando Bruno Bauer está dizendo, tanto Bruno Bauer quanto
Marx eram da esquerda hegeliana e o Bruno Bauer vai dizer “olha para os
judeus se emanciparem, eles tem que se emancipar da religião” e o Marx vai
dizer: “A emancipação não é da religião, a emancipação política é a Esfera do
Estado”, portanto, o indivíduo, como indivíduo social, pode ser católico,
protestante, etc, etc., na realidade, há discussão de um processo de
emancipação política que pressupõe, não um limite de um Estado laico e que
impede o Estado laico de ser progressivo para 1844, considerando que o
Estado alemão é um Estado Cristão e que os judeus foram perseguidos. Da
mesma maneira que tem um mito que a origem da questão financeira do judeu
é capitalista. Não é. Na realidade, os judeus, como estavam fora de qualquer
possibilidade do período do feudalismo, ou seja, eles não possuíam terra, eles
eram expulsos, então eles eram comerciantes, era a natureza prática do
judaísmo. Os judeus costumavam fazer empréstimo para os agricultores
pobres que estavam na colheita. Então vejam que contradição. O que o
feudalismo centra e daí a questão com as religiões, era a hegemonia do
cristianismo, assim como, o processo da idade média, a inquisição, assim
como o protestantismo em relação ao capitalismo. Agora, o judaísmo, os
judeus enquanto cidadãos, foram expulsos, a gente sabe disso bem antes do
holocausto. Então a atividade que eles tinham era comércio, e aí um
empréstimo porque a igreja proibia empréstimo a juros, era feito pelos judeus.
Só para a gente fazer relação com o texto de Marx, quando Marx estava
falando que a questão judaica não é uma questão religiosa, e que, a discussão
passa necessariamente pela crítica, e é a 1º vez que Marx vai fazer essa
crítica, vai mostrar o limite do Estado, que o Estado é o Estado de dominação,
e que vai a última consequência, que a luta por um projeto revolucionário, de
auto-organização dos indivíduos, fim das classes sociais, fim da propriedade
privada dos meios de produção e fim do Estado, aqui está, Sobre a Questão
Judaica. Olhem que contradição, ao mesmo tempo que os judeus não podiam
ser os senhores feudais, ao mesmo tempo eles eram úteis e funcionais ao
feudalismo, está claro? Então nós temos que entender isso na história.
Luiz: Só um adendo Bia. Essa questão de por que o judeu empresta
dinheiro e o católico, não? Porque a igreja proibia, porque você emprestar
dinheiro a juros era você “mercarejar” com o tempo. E o tempo era o domínio
de Deus. Era uma propriedade de Deus. Então você negociar com o tempo era
uma forma de se (01:15:04???) que era um crime que interditava a subir. E
como judeus tinham imunidade, então só restava isso para ele, ser judeu já era
um pecado, então...
Bia: E aí a gente acaba fazendo confusão E NÃO COMPREENDENDO
QUANDO A GENTE FALA “Olha, os rabinos estão defendendo os
progressistas, defendendo contra a Palestina, e “dizem” que não pode fazer
debate sobre a Palestina na universidade porque a PUC tem que estar acima
do bem e do mal, ou seja, acho que ela não entende absolutamente nada de
história.
Então, na realidade, a crítica do Marx é exatamente nessa direção,
embora nós saibamos que lá na Introdução a Crítica da Filosofia do direito de
Hegel, ele vai falar que a religião é o ópio do povo, pois colocar a referência
num Deus absoluto, como fazia Hegel, é na realidade deixar de colocar a
escolha e a possibilidade histórica nos sujeitos históricos como sujeitos sociais,
etc. Como dizia Marx esse Estado e essa sociedade produzem a religião, na
realidade uma consciência invertida do mundo, como realização fantástica da
essência humana.
Então só para a gente situar um pouco o que a gente leu até agora,
aliás, quando a gente viu a Arlene, ela falou quando começa a perseguição dos
judeus, séculos XII/XIII, ela vai falar de um autor, Adam Leon, alguém já leu
Adam Leon? Então ela vai citar e hoje eu fui atrás, e entrei na virtual para
comprar, mas meu cartão estava clonado, mas vou comprar, porque ela deu
esta informação, e Adam Leon é um marxista, que faz exatamente a discussão
do ponto de vista do judaísmo, da história do judaísmo, do marxismo. Então,
nesse momento, o que a gente está discutindo, o que é um Estado Único? Se a
gente for pensar, por exemplo, no Estado de Israel, você tem 5 milhões de
judeus, 3 milhões de palestinos, dos 3 milhões, tem judeus, então o que é um
Estado religioso, o que é um Estado laico, etc., no entanto, se vocês tiverem
interesse em aprofundar essa discussão, até para discutir o momento
contemporâneo, porque a gente começa a pensar, da mesma maneira que os
judeus eram “malditos”, e aí foram expulsos, e aí com o advento do
capitalismo, sai do capitalismo comercial para o capitalismo industrial, então os
judeus precisavam ser banidos, e são espalhados pelo mundo inteiro. Da
mesma forma os turcos, a xenofobia que a gente está vivendo na Europa, quer
dizer, o problema todo está neles, quer dizer, este irracionalismo que está
presente hoje, e aí vivendo na época que ela discutia, que uma das questões
centrais, e aí concluindo mesmo, é que a questão judaica, ela não é uma
questão religiosa.
Então, no debate que ela vai falar, é nesse texto do Marx, que pela
primeira vez Marx está dizendo do proletariado como a única classe portadora
do universal na perspectiva da direção do processo revolucionário. Se nos
Manuscritos Econômicos Filosóficos de 1844 Marx falava em possuidores e
possuídos, ainda não falava em força de trabalho, aqui é o 1º texto da
centralidade, do proletariado, e aqui mais uma vez, Rosa Luxemburgo
escreveu muito isso, ou seja, como ela esteve colocada no movimento de
massas, no movimento social, no movimento operário, nas mobilizações,
naquilo que eles imaginavam processo revolucionário em 1918 na Alemanha e
depois foi arrebatada, parte dos militantes mortos, e parte deles acabaram com
as organizações. Então a repressão nesse período foi brutal. E Rosa como
marxista compreendia o protagonismo do proletariado na revolução social.
Jorge Artur: E nunca mais teve isso na Alemanha. Quando termina a 2º
Guerra Mundial, os comunistas foram acabados juntos.
Bia: É porque parte daqueles que eram comunistas bandeou, né gente?
O Social Democrata abriu mão, virou Stalinista, apoiou as guerras, essa briga
da Rosa era contra os créditos de guerra. E o que vai fazer Stalin? Ele vai atrás
dos tanques de guerra. Isso é importante de se ter claro, uma coisa é o
marxismo, é o Leninismo, são as histórias revolucionárias, outra coisa é como
na história da humanidade nós estamos vivendo processos de deterioração, de
decadência, aquilo que Lukács chamou de Decadência Ideológica, de
decomposição, eu já falei deste texto de Lukács para vocês. Sobre a
Decadência ideológica, Lukács vai dizer que em 1848, quando a Revolução
Proletária é derrotada, muitos que trilhavam as fileiras revolucionárias, viram
oportunistas, arrivistas, mudam de lado, que, aliás, é muito comum, é preciso
se acostumar, pois a esquerda e os revolucionários somos minoritários, desde
sempre.
Jorge Artur: Nesses livros de 1964, PQP, nossa!
Bia: É, agora você acha revolucionário lá no passado.
Jorge Artur: E vice versa também, que era no passado e que nega hoje,
aliás a pequena história do Zé Paulo sobre a Ditadura Militar, está maravilhoso.
Bia: Pelo fato de trazer para uma nova geração algo que não é
conhecido e não estou fazendo uma crítica didática, eu defendo a questão
didática, sempre! Mas num claro momento por exemplo, quando ele vai discutir
a questão de cultura, eu esperava mais.
Jorge Artur: Eu gostei disso! Porque “Tu gostou” vai atrás de mais.
Bia: Eu conheço Zé Paulo. E com tudo o que ele tem, eu acho que ele
poderia aprofundar um pouco mais. A questão da cultura para o marxismo,
para alguns setores marxistas é muito pouco trabalhada. Exatamente por esse
viés, e por essa marca stalinista, autoritária, é quase que, tangenciada.
Jorge Artur: E antes de 64, era COMPLETAMENTE tangenciada.
Bia: Eu diria que entre os marxistas do século XX um dos autores que tratou,
mais profundamente a questão da estética, foi Lukács. Exatamente por isso, eu
esperava que o Zé Paulo, como um bom Lukatiano, tratasse da questão da
cultura de uma forma mais aprofundada na resistência à ditadura, e ainda vou
conversar com ele sobre isso.
Jorge Artur: Ele traz uma interpretação muito própria.
Bia: Que é ele, mas na questão da cultura...
Juliana: Qual livro é esse?
Jorge Artur: Pequena História da Ditadura Militar, 1964-1975.
Aluna: A Lívia fez uma pesquisa à respeito disso.
Bia: Lívia Cotrim da Fundação Santo André.
Aluna: As filhas dela fizeram a dissertação de mestrado, foi excelente.
Bia: Quem estava no NEAM lembra, a gente trouxe a Lívia o ano
passado.
Aluna: Tem um outro livro que eu não me lembro, que eles também
discutem.
Bia: Marx e Engels.
Jorge Artur: É uma coleção que está no 5º livro, muito bom.
Bia: Bom, vamos para a questão judaica? Quem quer ler?
Jorge Artur: Já estamos na questão judaica.
Bia: E no final do Livro Lutadoras elas tratam da luta das mulheres
operárias no Brasil, tem o depoimento da Rosalina Santa Cruz e tem o meu.
Bom, onde a gente parou? Quem sabe?
Aluna: (01:31:50 a 01:35:25) pág 63-70.
Aluna: (01:35:25 a 01:48:47) pag 63-70.
Jorge Artur: (01:48:47 a 01:58:13)
Bia, vamos parar um pouco aqui né, vocês sabem que Rudge também
era da esquerda hegeliana, como Marx. Este texto foi escrito em 1843. Marx
estava fora da Alemanha, ele estava exilado, foi para a França, ele começa a
escrever na Holanda, mas ele está fora da Alemanha, então ele está trocando
cartas com Rudge sobre a situação da Alemanha. Então foi isso que acabamos
de ouvir e vamos falar sobre ela. O que ele está trazendo aqui? De que Estado
ele está falando?
Aluna (01:58:08): Parece que ele está falando da transição do
feudalismo para o capitalismo. Ele traz algumas informações sobre a vergonha,
tem uma parte que ele fala dos vassalos também, de se dedicar, e aos blocos
do novo mundo, mas que ele ainda não tem isso desvendado, isso não é claro,
ele está naquela fase de transição, então tem uma parte aqui que ele fala das
características submissas, amáveis e prestativos, ele fala da liberdade também,
que é o único que pode transformar a sociedade, então ele já dá alguns passos
em direção a questão das classes, e fala da transformação do ser humano com
muitas outras e daí dá para perceber que já havia isso no feudalismo, e os
vassalos que não eram nada, que pagavam os impostos e aí eu percebo que
neste texto ele fala sobre isso, ele tem a comparação do filisteu que eu também
achei bárbara. Essa ideia do dinheiro, o filisteu relacionado ao dinheiro, então
ele já vai percebendo algumas nuances que vão, a transição da monarquia,
para um mundo já mais para o lado do capitalismo, mas não dá forma como a
gente hoje sabe, conhece. Fala também sobre a ordem das coisas mortas, que
é a fase que o feudalismo está acabando, tem já os pequenos comércios, mas
há os que organizam “COMO” o comércio em si, né? E aí a fase da transição.
Algumas coisas da Revolução Francesa já começam a aparecer para o
mundo, de uma outra maneira, diferente daquele Estado que estava na
Prússia, na Alemanha, que eram mais atrasados, o Estado ficava bem primitivo
em relação aos outros acontecimentos do mundo. Ele fala sobre o sistema de
indústria e comércio, que levará mais rapidamente a uma multiplicação da
população a uma ruptura no interior da sociedade atual.
Bia: Quem mais?
Luiz: Não tem nada absolutamente a ver com o texto, mas eu achei
muito interessante, que eu nunca tinha feito essa conexão, o Nietzsche
conceito de politeísmo para denunciar essa sociedade alemã que está
rompendo com o passado aristocrático. Está se deslocando. É uma coisa que
eles chamam cultivo da historicidade, as aparências, o R$, o que Marx está
denunciando, politicamente não acabou os teóricos no mesmo termo,
politeísmo. Eu nunca tinha feito essa aproximação e me chamou a atenção
porque Marx é contundente, ele revisa esta palavra, na verdade é o grande
desafeto histórico do judeu, é o filisteu, e eu achei bárbaro isso.
Bia: Quem mais?
Aluna (02:03:34???): Na verdade Bia, eu queria que você comentasse
um pouco sobre esse momento de Marx, que é a ruptura com os jovens
hegelianos, e aí bate na monarquia e coloca como alternativa a democracia.
Bia: Num 1º momento
Aluna: Aí depois tem continuidade que ele vai falar sobre o comunismo,
mas tem esse momento que ele vai dedicar com a possibilidade de alternativa,
a democracia.
Bia: Só um pouco para falar sobre isso, depois a gente volta ao texto, na
realidade os jovens hegelianos, todos eles, a esquerda dos jovens hegelianos,
ela está fazendo uma discussão ferrenha, ela vai ter como referência o Hegel,
e ela vai começar a fazer uma inversão própria do pensamento de Hegel.
Porque não é só a esquerda hegeliana, você também tem a direita hegeliana,
toda aquela discussão, o real é racional, o racional é real, lembra quando a
gente fez essa discussão, discutiu a Crítica à Filosofia de Hegel?
Hegel afirmava: “Tudo que é racional é real e tudo que é real é racional. A
direita hegeliana se apoia na ideia de que “ tudo que é racional é real” - o que
corresponde ao idealismo, a determinação da ideia no pensamento. A
esquerda hegeliana se apoia na assertiva de “ tudo o que é real é racional” , o
que parte da realidade do mundo histórico de sujeitos reais.
Marx vai dizer é o Ser que determina a consciência e não a consciência que
determina o Ser, e o que ele está chamando Ser? Se refere à sociedade,
a sociedade de classes, os sujeitos históricos que vão determinar a
consciência e para Hegel, é a consciência que determina o ser. Era um
momento ideal; era o Estado Prussiano, monárquico, era a visão absolutista,
idealista, então tudo estava posto e a gente já viu isso, Hegel era racional, ele
tinha uma defesa da razão, tanto que ele vai fazer a crítica ao Kant, enfim, que
tinha uma discussão com a razão instrumental, a questão era que Hegel partia
da história presente, da história posta e da história dada. Então Estado era
absoluto, e a monarquia era a Prússia. Diferentemente das forças produtivas, o
próprio desenvolvimento do país, que depois, Marx faz a relação com a
Revolução Francesa, como revolução burguesa. Mas aqui ainda ele está num
trânsito, entre um democrata radical e um comunista. Embora ele já coloque,
aqui ele está dizendo de uma forma poética; a gente precisa compreender o
processo de maturação teórico-político do Marx na história. Então, se a gente
for pensar, que em cada obra do Marx a gente vai encontrar o seu pensamento
da maturidade, a gente tá ferrado, pois não está. Agora, há um trato rigoroso e
permanente na sua pesquisa. Então desde o Jovem Marx nós vamos ver traços
significativos que vão estar maturados lá no O Capital, é difícil. Por que?
Porque se a gente não compreender na obra literária, o momento histórico e o
desenvolvimentismo da evolução do seu pensamento, a gente tá ferrado.
Segundo, muitos dos textos de Marx são manuscritos. São textos que ele ia
escrevendo um para outro, para ir maturando, lembra o que eu disse? Muitas
vezes você lê um texto lá atrás, do Jovem Marx, e diz “Agora entendi”, depois
na passagem seguinte ele está falando da mesma coisa, mas de um outro jeito
que está maturando é o seu método de investigação, é o que Zé Paulo sempre
fala e ele tem toda razão, uma coisa é o método de investigação e a outra é o
método de exposição. E isso vale para as pesquisas de vocês, para os TCCs,
os mestrados, os doutorados, o pós doutorado, e a gente vai estudando, a
gente lê, lê, lê, a gente fala, mas eu li tanto e agora o que estou aproveitando
nessa síntese? Porque é garimpar mesmo. Então é para você ir formando esse
processo. Então, os jovens hegelianos, o Marx vai fazendo todo esse trânsito, e
ele vai debatendo no interior intelectual entre os jovens hegelianos, da
esquerda hegeliana, também com divergências. Ele vai ter um momento que
vai ter debate com Rudge, ele vai ter um dado momento com Bruno Bauer; o
Bruno Bauer até esse texto, sobre a questão judaica, escrita pelo Bruno, eles
tinham muitos pontos comuns, agora, a partir da questão judaica, quando
Bauer toma a Questão Judaica como uma questão religiosa a ser superada e o
Marx toma a questão judaica como social e político e portanto universal, é que
ele vai começar a dar os passos, no sentido, primeiro, de fazer crítica ao
Estado, porque até aqui ele via na Revolução Francesa, na Revolução
Burguesa a emancipação política. Aqui começa a ver de que não basta a
emancipação política( que a burguesia já realizou). Então ele vai como um
traço progressivo do ponto de vista da humanidade, o alastramento, ou seja, a
perspectiva da emancipação humana.
Só que quando ele começa a fazer esse debate com Bruno Bauer, ele
também vai perceber, o limite da emancipação política e compreender que o
Estado é sempre Estado de Dominação, foi assim na monarquia, no
capitalismo, só numa sociedade, aí é o trânsito para o comunismo, comunista,
portanto, comum à todos, sem propriedade privada dos meios de produção,
sem as classes sociais, com proletariado como a classe com a condição
histórica e com possibilidade de tomar para si o poder político para uma ruptura
com essa ordem, é quando Marx fala de alto supressão positiva da ordem
capitalista.
Do ponto de vista da análise Lukatiana, Lukács vai dizer que Marx tem
uma onto-negatividade da política. Os reformistas batem duro, dizem que Marx
não tem uma onto negatividade à política, porque fazem a defesa da mediação
da política como instância última do ponto de vista das reformas. Mas aí já é o
reformismo. Está claro o que estou falando? Ou seja, reformismo, revisionismo,
o abandono daquilo que foi tão caro para Marx e para os marxistas, que é a
Revolução Social.
Nesse sentido, Rosa Luxemburgo tinha uma concepção, assim como
Lênin, assim como Trótski, da Revolução Social, Marx, ou seja, a revolução
social como uma necessidade histórica de supressão dessa ordem. Ele faz
uma crítica mostrando o atraso, o caráter retrógrado dessa sociedade; quando
ele fala das coisas mortas, ou seja, as coisas no fundo, encasteladas, porque a
sociedade monárquica, é uma sociedade onde o parentesco e as castas, ou
seja, essa relação do parentesco, da casta, da subordinação, Ele vai dizer, se
os dominados não tomarem para si, você vai ter uma sucessão, de dominação.
Jorge Artur – Mantém uma mentalidade de dominado, seja ele dono de
terra ou servo. Ou o dono de terra é tão alienado quanto o servo.
Bia – Aquilo que depois Marx e Engels vão tratar disso, lá na ideologia
alemã, quando eles vão dizer aquela frase: “As ideias dominantes de uma dada
época, são as ideias da classe dominante”, portanto, o operariado, e Marx vai
dizer tem a consciência de classe em si e para si.
É a consciência como diz Meszaros, consciência contingente e
necessária, ou seja, aquela consciência mais imediata, quando na primeira
parte do texto falavam O Operário, se você pegar o operário médio, do chão de
fábrica, ele também vai reproduzir a ideologia dominante, assim como a classe
média, ou não? Então não vamos ter um mito de achar que basta ser operário
para ser revolucionário.
Então, vejam, essas ideias, a mídia, as instituições, a igreja, e tudo mais,
né? As religiões... A gente discutia no primeiro tempo da nossa conversa que
num dado momento é o protestantismo e o capitalismo, o feudalismo e o
cristianismo, os judeus sendo expulsos dos lugares e o Estado de Israel
recentemente, nos anos 40 do século passado bancado pelo imperialismo, os
créditos da primeira e segunda guerra e agora as guerras sendo patrocinadas
por conta de queima de excedente num momento de decomposição das
próprias relações sociais de produção, portanto, guerra, guerra, guerra, ou
seja, a quem interessa? Que Paz é essa? É uma grande abstração. Que não
violência é essa? Ou, como diz a Arlene “Que tolerância é essa?” Nós vamos
tolerar a barbárie?
A tolerância no século XII, XIII em relação até de protecionismo em
relação aos judeus, etc. A crítica que Marx está fazendo nessa conversa aqui,
é esse Estado Prussiano, atrasado, retrógrado, monárquico.
Jorge Artur: Tem uma “capinha” de modernidade sobre esse jovem rei,
que inclusive o jovem rei quer obstruir que tenha sido o antigo rei, o Guilherme
III, mas que reproduz esse obscurantismo.
Bia: O que mais a gente tem a falar desse trecho para a gente poder
seguir?
Luiz: Só colocar uma demarcação histórica, nesse período a gente está
iniciando o processo de unificação da Alemanha em torno do poder social. O
(02:17:54??????) está ligado a criação de uma burocracia profissional, ou seja,
o Estado existe, mas para poder avançar no capitalismo não se pode ter uma
mentalidade feudal, absolutista, então você precisa de uma modernização para
que este Estado se sustente unificadamente e só a Prússia pode fazer isso.
Então, quer dizer, você tem, na verdade, uma mentalidade operante, que já
está preparada, existe uma certa doutrinação nas províncias alemãs, mas
alguém precisa ser o agente que vá conduzir esse processo, que é Bismarck
(02:19:19???). Ele é apontando para o surgimento do Estado alemão e de um
capitalismo alemão que quer se inserir no capitalismo mundial e a partir do
momento que ele entra já tem a guerra franco prussiana e tudo isso é estrutura
para a 1º Guerra Mundial. Então o desembocador disso vai ser a 1º Guerra
Mundial.
Jorge Artur: Você que está com isso aí mais quentinho, dá para falar de
uma modernização conservadora nesse momento?
Luiz: Olha, quentinho não, porque eu achava (02:19:53????) srrsrs
Jorge Artur: Dá para falar nesse momento de modernização
conservadora?
Luiz: Perfeitamente.
Jorge Artur: Porque assim, o quanto a burocracia e até hoje, nos é
mostrada como o que livra da corrupção e, no entanto, a burocracia é um lixo,
o que torna o Estado, cotidiano, diário, a barbárie cotidiana.
Luiz: Vamos pegar um exemplo do Japão, que vive exatamente o
mesmo movimento, você vai pegar a Toyota, esses nomes japoneses mais
famosos, são famílias de Samurais, então, quem de fato exercia o poder
político, então você precisa atender esses interesses, você precisa casar bem
esses interesses, mas o que é o Estado? É a unificação desses interesses. E
quem vai abrir mão do seu próprio feudo se não por uma possibilidade de
vantagens, potenciais e concretizar lucro ali na frente?
Primeiro, a Alemanha, o Japão, eles sabem, eles sentem que estão
sendo engolidos à poeira colonialista. Assim, a África, a Ásia, estão partilhadas,
a Alemanha vai fazer o que? Vai pegar uma ou duas províncias, os italianos
vão tentar pegar a Etiópia. Isso é sintomático do quanto eles estão
despreparados para entrar num cenário em que a França e a Inglaterra já estão
enraizadas, dominam o mundo.
Se você olhar da nossa perspectiva, eles já estão dentro de uma
perspectiva capitalista concorrencial e global, porque a gente pode até já falar
de uma globalização, a unificação do Estado alemão não é uma preparação
para entrar no cenário capitalista, mas é para entrar num cenário de guerra. E
você vai ter que atravessar interesses, você vai romper território que já tem
dono.
Socorro: Porque é muito tardio o processo.
Luiz: Exatamente.
Socorro: Você tem a Revolução Inglesa, ainda no século XVI, você vai
ter a Revolução Francesa e o processo alemão que vai se dar pela via
prussiana e já entra num processo de disputa de espaço, inclusive pela perda
que teve de colônias. Então é uma disputa de entrada no capital, mesmo.
Luiz: É, o capitalismo na verdade é o eixo que conduz toda essa lógica,
que na verdade é o cenário que está se desenhando para a 1º Guerra Mundial,
para a 2º Guerra Mundial, que não houve a 2º, houve um armistício de 30 anos,
e o que a gente está vendo hoje, Israel e Palestina, são ainda a criação de um
Estado plantado numa região, que foi toda ela desmembrada pelo capitalismo
americano, francês, que ali tinha o império romano, os árabes na verdade,
esses países que a gente conhece hoje, Irã, Iraque, eles tem uma potência que
equivaleria a Rússia se tivesse integrado, seria também um grande desconforto
para os interesses do capitalismo europeu.
Socorro: No caso alemão tem o papel da Bismarck, que antecipa a
previdência à direitos sociais, no sentido de desmantelar o processo político do
movimento operário que já se coloca.
Bia: Mais alguém quer comentar? Dá para ler mais um pouco, não dá?
Jorge Artur: Ela segue da 70-73 (início 02:25:12 a 02:38:10)
Bia: Temos 5 minutos para comentar.
Quelly (02:38:51): Essa questão da dialética, quando ele coloca “É
apenas um fenômeno particular do princípio humanista, infectado por seu
oposto, o sistema privado”. Eu não sei se nesse momento ele já tem
consciência do método.
Bia: Mas isso importa para a gente?
Quelly: Não.
Bia: Eu não sei se ele já tem consciência do método, o que aparece
aqui, é que ele está num processo de elaboração, de reflexão brutal, ou não é
isso que parece para a gente? E ele vai escancarando. Ele fala, olha, não
estamos falando de dogmatismo, nós estamos falando de homens e sujeitos
reais, nós estamos falando das coisas reais concretas, postas no cotidiano, de
como elas se apresentam.
Renato: Bia, eu vejo que não precisa ter consciência do (02:40:01????),
mas ele está tendo uma consciência que é a mais importante, a inversão
dialética, ele está tendo consciência da materialidade, da objetividade
invertendo ali, é o começo do mecanismo, do pensamento dele.
Bia: Isso que o Renato está falando, na realidade,
Renato: Ele está rompendo.
Bia: Ele está rompendo! Eu não sei se nesse momento ele fala “Eu estou
com consciência de que estou elaborando um método” mas ele tem um método
de análise de interpretação de ruptura que se passa a realidade, isso está
claro. Então aqui há um método de investigação e um método de exposição e
isso que o Renato está trazendo é essa a questão da inversão, porque quando
ele faz a crítica contundente ao idealismo, ou seja, ao Espírito, à forma como
Hegel vê a razão do espírito desvinculada das condições objetivas e reais dos
sujeitos históricos, é exatamente aí que ele vai retomar, então essa inversão já
está posta. Esta crítica à esquerda aos outros setores hegelianos mais à
direita, conservadores, também já está posta. A ebulição com que ele trata a
Prússia naquele momento, também já está posta, a crítica à essa relação
hierárquica, familiar, estamental, enfim, da unificação da Alemanha, um atraso
grupal em relação a França, também ele já está vendo isso, tanto que ele fala,
olha se eu estivesse na Alemanha, não daria para estar, pois nem respirar eu
conseguiria.
Jorge Artur: Tal qual Lukács naquele momento olha para o amigo e diz:
Agora é o momento da gente continuar vivo. A barbárie está colocada de tal
forma.
Bia: E como fazer para continuar vivo.
Jorge Artur: Não adianta voltar para a Alemanha agora e fazer barricada
que o poder é descomunal. Isso que ele diz Bia, trata-se de um trabalho pelo
mundo e por nós.
Bia: E aqui ele já está criticando a visão dogmática do comunismo, isso
é antes dos manuscritos econômicos filosóficos e aqui quando ele escreve esta
carta, na sequência ele vai escrever “A Crítica à filosofia de Direito de Hegel” e
lá essa elaboração da inversão de Hegel, está claríssima. Na carta anterior é
uma coisa atrás da outra, ele está fazendo toda a discussão da Prússia, do
atraso, da Barbárie etc. Aqui ele diz que os sujeitos são sujeitos históricos,
então aqui já vai começar aquilo que depois é desenvolvido posteriormente que
é a ideia do proletariado que lá nos manuscritos já vai estar, e a tradução fala
em classe trabalhadora, naquele momento Marx não está falando de classe
trabalhadora, está falando de proletariado, de operariado, ele está falando de
centralidade de classe.
Renato: Uma outra questão que ele coloca também é que ele já está se
posicionando que ele não é a favor do socialismo utópico, do comunismo
utópico, ele começa a se definir.
Jorge Artur: Ele está criticando.
Bia: É a crítica do anarquismo em geral. A crítica à Proudhon, vai ser
posterior, mais fortemente, quando Proudhon escreve a Filosofia da Miséria. E
Marx responde com a Miséria da Filosofia.