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20/08/2014 Apresentações: Raonni: Assistente Social – Atualmente estou na Prefeitura de SP, servidor municipal, na Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, CRAS, militante da Organização da Arma da Crítica. Socorro: Sou professora da graduação, estou na coordenação do curso, todos aqui passaram pelo curso, já fiz minha dissertação de mestrado numa parceria com a Bia, construímos uma pesquisa conjunta, depois acabei entrando na gestão acadêmica, ministro uma disciplina chamada Projetos Societários e Profissão, e que para mim é muito importante estar participando do NEAM, por força da disciplina que a gente está começando. E continuo no Núcleo de Saúde e Qualidade de vida. Bia: Então para vocês que estão chegando para situar um pouco, e rapidamente vocês já vão se integrar, neste semestre, nós estamos com 9 alunos matriculados, antes estávamos com 12 ou 13, mas por contada CAPES que, enfim, estamos com uma redução de bolsas, então os alunos trancaram, e iremos abrir as bolsas somente no segundo semestre de 2015. Considerando que hoje o curso de Serviço Social na PUC SP é o de maior número de bolsas, nós temos hoje em torno de 140 bolsas para todos os alunos, o que é muito grande, os outros cursos não tem, agora, na realidade, a questão das bolsas não depende do programa. E efetivamente, nos editais, a gente não coloca a questão das bolsas, porque se a gente cria uma ilusão de que haverá bolsas e depois pode não haver. Na realidade, na gestão passada, a Prof. Raquel, como eu coloquei, ela ampliou o número de bolsas, a CAPES não falou nada, e quando foi a prestação de contas da gestão, ela pediu ressarcimento dessas bolsas, então estamos sem estas bolsas, o que é um problema, porque grande parte dos nossos alunos, a bolsa CNPQ é bolsa integral, mas nem todos os alunos podem ter a bolsa integral, porque tem mais de 30 horas de trabalho, enfim, tem 2 trabalhos, então a bolsa CAPES, ela é uma bolsa intermediária, parcial, que a gente conseguiu, mas é essa a questão, claro que os alunos num primeiro momento ficaram apreensivos, e por isso, que hoje o Ademir está lá conversando com os alunos à respeito disso. No colegiado a gente voltou a

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20/08/2014

Apresentações:

Raonni: Assistente Social – Atualmente estou na Prefeitura de SP, servidor

municipal, na Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, CRAS,

militante da Organização da Arma da Crítica.

Socorro: Sou professora da graduação, estou na coordenação do curso, todos

aqui passaram pelo curso, já fiz minha dissertação de mestrado numa parceria

com a Bia, construímos uma pesquisa conjunta, depois acabei entrando na

gestão acadêmica, ministro uma disciplina chamada Projetos Societários e

Profissão, e que para mim é muito importante estar participando do NEAM, por

força da disciplina que a gente está começando. E continuo no Núcleo de

Saúde e Qualidade de vida.

Bia: Então para vocês que estão chegando para situar um pouco, e

rapidamente vocês já vão se integrar, neste semestre, nós estamos com 9

alunos matriculados, antes estávamos com 12 ou 13, mas por contada CAPES

que, enfim, estamos com uma redução de bolsas, então os alunos trancaram, e

iremos abrir as bolsas somente no segundo semestre de 2015. Considerando

que hoje o curso de Serviço Social na PUC SP é o de maior número de bolsas,

nós temos hoje em torno de 140 bolsas para todos os alunos, o que é muito

grande, os outros cursos não tem, agora, na realidade, a questão das bolsas

não depende do programa. E efetivamente, nos editais, a gente não coloca a

questão das bolsas, porque se a gente cria uma ilusão de que haverá bolsas e

depois pode não haver. Na realidade, na gestão passada, a Prof. Raquel, como

eu coloquei, ela ampliou o número de bolsas, a CAPES não falou nada, e

quando foi a prestação de contas da gestão, ela pediu ressarcimento dessas

bolsas, então estamos sem estas bolsas, o que é um problema, porque grande

parte dos nossos alunos, a bolsa CNPQ é bolsa integral, mas nem todos os

alunos podem ter a bolsa integral, porque tem mais de 30 horas de trabalho,

enfim, tem 2 trabalhos, então a bolsa CAPES, ela é uma bolsa intermediária,

parcial, que a gente conseguiu, mas é essa a questão, claro que os alunos num

primeiro momento ficaram apreensivos, e por isso, que hoje o Ademir está lá

conversando com os alunos à respeito disso. No colegiado a gente voltou a

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discutir, no sentido que agora a gente veja institucionalmente a bolsa com a

FAPESP, porque na PUC SP, nós só temos CNPQ e CAPES, então agora, o

professor Mazzeo, que está vindo dar aulas efetivas, na pós graduação, nas

universidades estaduais, eles tem muito contato com a FAPESP, pra gente

fazer institucionalmente, não só uma atitude do aluno, o professor orientador

sair correndo atrás de bolsa.

Aluna (05:01 min): Eu já recebi um e-mail da universidade falando das

bolsas FAPESP, na universidade.

Bia: Mas a universidade não tem bem uma relação ainda. No site nem

existe FAPESP. Então temos que ir lá, garimpar.

Taynara: Só uma dúvida, dentro destas 12 bolsas, você falou que tem 9

no mestrado, as outras 3 são para o doutorado?

Bia: Não, não. Dessas 12 bolsas, essas bolsas têm entre mestrado e

doutorado.

Taynara: Não tem um número certo para mestrado e doutorado?

Bia: Não, porque a gente reorganiza, não tem porque até a cada

semestre nós oferecemos um número de bolsas, um nº de vagas para alunos X

para mestrado e X para doutorado, de acordo com as nossas possibilidades

objetivas de orientação, de professores, etc., por exemplo, teve um semestre

que oferecemos um número X e entraram menos mestrandos, a gente ampliou

o de doutorandos que entraram mais, porque a ideia é que todo mundo possa

entrar. E a questão que também já foi abordada com o Ademir, com os alunos

que entraram este semestre, é de que, o próximo semestre, alguns alunos que

deixam as bolsas porque concluem, a prioridade vai ser para os mestrandos e

doutorandos que entraram agora em junho. Isso quer dizer que, possivelmente,

no próximo semestre, vai ser mais difícil a questão das bolsas. Isso não

significa dizer que a gente não vá discutir abertura de curso, etc., a gente vai

voltar a falar com a CAPES, eles foram, tanto que quando saí daqui de férias,

saí daqui dia 17, o Ademir já estava feliz, pois a conversa na CAPES havia sido

positiva, na véspera de fechar tudo, veio um e-mail dizendo que as bolsas não

vão sair. Então o Ademir está fazendo esta conversa lá, mas é isso. A outra

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coisa que eu queria dizer rapidamente para vocês eu vou passar o jornal

APROPUC para vocês, semana passada fizemos um ato belíssimo, muito forte

a repercussão externa foi muito grande, muitos apoiadores, etc., então estou

passando para vocês pegarem, e aqui estou passando para vocês o panfleto

para vocês divulgarem em relação a APROPUC que a gente vai ver amanhã.

Vocês estão sabendo que hoje, mais uma vez a repressão, a polícia baixou feio

há duas semanas atrás, cortaram pontos dos alunos, pela primeira vez hoje. À

tarde teve negociação na USP, para ver a questão da legalidade da greve. O

resultado era hoje à tarde. Enfim, tem pessoas feridas, eles estarão aqui

amanhã, os metroviários estarão aqui amanhã, o pessoal do movimento

indígena também vai estar aqui no Ato de Lançamento do Comitê Contra a

Criminalização dos Movimentos Sociais.

E no dia 28 nós vamos fazer o lançamento da revista, 50 Anos do Golpe

Militar, vai ser na 239, 7 autores(as) de artigos já confirmaram presença. A

outra coisa é que estou aguardando resposta da vinda daquele historiador, que

vai falar sobre a questão racial no Brasil, do ponto de vista do marxismo, para

ver que data a gente fecha com ele, a Raquel Varela é uma das estudiosas,

marxista, ela escreveu sobre a Revolução dos Cravos em Portugal e é uma das

historiadoras mais importantes hoje, no campo do marxismo, tem uma crítica

contundente, e ela vai fazer um debate conosco no dia 30/10/2014, à noite ela

vai fazer o debate na Unicamp com Ricardo Antunes. Ela vai fazer um debate

sobre a questão depois da crise do capitalismo de 2006, como está hoje a

situação na Europa e a luta dos trabalhadores. Então também já está fechado.

E o Renato que eu falei para vocês, que vai falar sobre o lucro do Estado

Social, também um marxista, pesquisador de Lisboa, vou ver se ele vem no dia

do NEAM, é a mesma pesquisa da Raquel Varela, ele vai mostrar a ilusão

social desenvolvimentista com uma saída para a crise do projeto neoliberal, vai

falar das lutas sociais, etc.

Para vocês dois que vieram hoje, nós estamos no NEAM, neste

semestre, da metade para o final, um texto de Marx “Sobre a Questão Judaica”

e também estamos fazendo a cada encontro, uma leitura do livro de Leandro

Konder “Sobre o Amor”, onde são filósofos, intelectuais, poetas, artistas,

músicos, revolucionários, enfim, e de várias épocas, que na realidade, a gente

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está discutindo afinal, qual é a concepção de pensamento de amor, e tem tido

aí a discussão do amor do ponto de vista mais amplo, ou seja, em todas as

objetivações humanas, amor pela política, pela vida, nas relações amorosas, e

ao mesmo tempo, fazendo uma relação dessa concepção na história, sempre

tendo como referência, a perspectiva emancipatória, ou seja, do ponto de vista

da emancipação humana, e do ponto de vista da história, ou seja, que

intelectuais são esses, de onde eles vieram, como eles vieram, etc. Então,

hoje, iremos entrar com a leitura de Rosa Luxemburgo. Então, para vocês que

estão vindo agora, o livro “Sobre a Questão Judaica”, ele foi publicado por um

conjunto de textos pela Boitempo e eu conversei a semana passada, essa

semana eles estarão na PUC SP e eu combinei deles trazerem “Sobre o

Amor”, o livro sai com 30% de desconto, eu pedi para eles trazerem “Sobre a

Questão Judaica”.

A Expressão Popular tem o que nós vamos ver na sequência, que é “A

Ideologia Alemã”. Vamos começar a leitura da Rosa e depois a gente vai para

a leitura “Sobre a Questão Judaica”. Quando a gente for fazer a leitura “Sobre a

Questão Judaica”, me deem 10 minutos muito rapidamente, eu vou situar o que

a gente já discutiu para vocês.

A cada livro tem um intelectual que fala a respeito da obra, quando a

gente discutiu A Introdução e A Crítica à Filosofia de Direito de Hegel, a gente

viu o vídeo sobre a obra comentada pelo Alyson Mascaro, na Edição do Curso

sobre Marx e Engels da Boitembo. Par verem bata acessar no youtube.

Em relação à esse texto “Sobre a Questão Judaica”, é a Arlene que vai

falar, entra no youtube, entra na Boitempo, coloquem Arlene Clemesha– Sobre

a Questão Judaica”, vocês irão ver o vídeo e mais ou menos 28 min de

questões, mas que são muito importantes, porque nas questões ela vai falar

sobre um Estado único, o momento contemporâneo da luta palestina, vai falar

sobre o judaísmo, catolicismo na história nas relações com as classes, enfim,

ajuda a gente a pensar um pouco. A Arlene é uma das estudiosas, especialista

na Questão da Palestina, a tese do mestrado dela foi Sobre a Questão Judaica,

a tese de doutorado dela foi sobre a Questão da Palestina, ela coordena um

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grupo de estudos na USP, e ela tem um livro belíssimo sobre a questão

judaica.

Luiz: Eu só queria fazer um comentário, uma nota sobre o falecimento

de Nicolau Sevcenko, foi meu professor na USP, é um dos raros professores

que não tem origem burguesa, foi office boy, um outro exemplo da sociologia é

Florestan Fernandes, são pessoas que vem das camadas populares, Nicolau

era um exemplo, então só queria deixar essa nota.

Bia: Em relação a isso, o próximo número do Jornal PUCVIVA, 2º feira

que vem, é um artigo maravilhoso, que ele escreveu na Folha de São Paulo em

dois mil e alguma coisa, não me lembro a data agora, acho que 2006, e lendo

um artigo dele é um retrato da proposta de desestruturação das relações de

trabalho que está tendo lá na Prefeitura de São Paulo e aqui na PUCSP e a

gente dá uma nota embaixo na importância do Nicolau para o pensamento

crítico brasileiro.

Bom, então vamos passar para a leitura. E vocês que estão chegando

agora, passem o e-mail de vocês, pois toda a nossa leitura, nós temos um

acervo do NEAM, e todo o nosso debate, a discussão é gravada, e é passada

para todos os alunos, então vocês passem o e-mail. O primeiro já está pronto,

deste semestre, e eu já encaminhei. OK, quem quer ler?

Juliana: Rosa Luxemburgo, A Militante que queria ser feliz (22:00 min a

36:40 min).

Bia: Quem não leu este livro: “Lutadoras: história de mulheres que

fizeram história”, para quem está discutindo a questão da mulher na

Revolução, a editora é ISKRA. Alguém quer comentar?

Juliana: Eu gosto muito da visão dela do amor. Eu li estas cartas com o

Leo. E daí é muito interessante porque eles vão discutindo política, sobre a

revolução, sobre liberdade e sobre a intimidade, ela fala do lar também, de

como ela quer organizar, de como ela quer de repente ter um filho, de como ela

se vê como indivíduo, mas também indivíduo que é político, que tem essas

duas dimensões, ela tem muito esse cuidado, de ter preservado essa dimensão

da paixão e do amor, e também, não é só o amor relativo ao amante, ela e o

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Leo, que é o companheiro, ela escreve os artigos e ele manda corrigido, é

super rigoroso, tem essa relação múltipla, mas aí também com os amigos,

então essa coisa elegante, cordial, da preocupação, do cuidado, que aparece

tanto quanto aparece a da figura política, admirada e eu acho muito

interessante. Eu gosto muito de uma frase que ela fala nesse livro, nas cartas,

que ela manda para ele, que o Leo tem uma visão mais rigorosa, como desse

que ele cita, Revolucionário, o dos mortos de férias. Então o Leo é mais ou

menos esse pique, então às vezes ele manda algumas coisas para ela, ele diz

que não tem, mas tem sim. Eu já li cartas dele também. Enfim, ele é mais

rigoroso com ela, com a questão da Revolução, por isso que ele decide não só

ficar os dois juntos, morar juntos, sempre ele está numa cidade e ela em outra,

mas ele fala para ela que precisa ter rigor, disciplina e ela fala “nossos esforços

têm sido inúteis. O que adianta ficar 10 horas aqui, buscando escrever, ou

estudando, para escrever uma página. É muito mais interessante ter um

esforço intenso, e dirigido por uma hora e pronto. Sem ter que ter sacrifício.”

Ela fala alguma coisa de sacrifício. Não há necessidade para estudar ou fazer

ou algo sacrificioso. Eu vou conseguir escrever um artigo sem ter essa, ter

disciplina, sem que seja um sacrifício mesmo. Então eu acho muito

interessante. Foi até a primeira citação que eu coloquei no meu mestrado,

porque eu fui aprendendo com a Rosa várias coisas. Eu fui fazendo mestrado

ao longo dos dois anos, eu não deixei para depois. Então um pouco por dia,

sem sacrifícios, sem se cobrar, e ela fala um pouco disso, discutindo com o

Leo, do relacionamento deles, é interessante.

Jorge Artur – Eu acho que a Juliana falou, eu me lembrei em 1983/1984,

não sei quando foi lançado, em 83 que ela vem ao Brasil, e eu me lembro que

me marcou muito, eu achava que era uma coisa completamente melosa,

completamente desvio burguês, uma tarefa fora da Revolução, onde já se viu

perder tempo com uma tradução dessas? Então, quando faltava tanta coisa

importante para ser traduzida, com essa coisa subjetiva, e hoje a gente tem

muita clareza disso. A classe social tem gênero, tem etnia, tem muito mais

colorido do que se vê, então isso me marcou muito, essa crítica como se a

questão do amor, da subjetividade, do tesão, fosse algo que para nós estava

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proibido. Tem nuances, o afeto, o amor, então isso era muito importante nessa

época, entre nós e esquerda.

Luiz: O revolucionário tinha que ser um operário.

Jorge Artur: É, duro, rígido. É o desvio burguês, tudo que era bom, é

desvio burguês.

Luiz: Ser taxado de burguês, era da nação eterna.

Bia: Quem mais?

Fernanda: Isabel Loureiro ela organiza os textos escolhidos da Rosa,

pela editora UNESP, e na apresentação, ela coloca uma série de elementos

interessantes e aí quando vocês dizem do seu pai que rechaço a tradução,

esse é um dos primeiros elementos que a Isabel coloca na apresentação, que

a Rosa, depois da morte, ela caiu no ostracismo, a tradução dela foi traduzida,

acho que na década de 60/70 que veio a ser traduzida, então tem uma relação

muito problemática com a esquerda oficial, porque ela era uma mulher firme e

tinha uma autonomia intelectual; ela bancava aquilo que ela acreditava e as

divergências com Lenin etc., então após a morte dela, pelo Stalinismo que

chega também na Alemanha, a profissão da Rosa vai cair nesse ostracismo e

daí não é pelo ponto de vista do amor, mas eu acho que a produção intelectual

da Rosa como um todo que vai ser rechaçada pela esquerda. Então eu acho

que é um primeiro elemento para a gente poder pensar. Nessa mesma

apresentação que a Isabel Loureiro coloca, é interessante, ela vai falar do

volume 3, o volume 3 é só das cartas da Rosa para o Leo. Ela vai dizer que é

um momento que vai desmistificar a Rosa, aquela mulher revolucionária,

dedicada só às questões da Revolução, mas é uma Rosa que tem também

essa coisa do amor etc., e aí ela vai dizer que a Rosa é uma mulher avançada

no seu tempo e filha do seu tempo; e à medida que a gente vai lendo esse

texto, eu fiquei pensando, se é uma mulher avançada para o seu tempo, filha

do seu tempo, é quando ela vai romper com o Leo para viver um romance com

o filho da Clara. E ela é contemporânea da Alexandra Kolontai, que fala sobre o

amor e camaradagem, que já era um debate para dentro da esquerda da

época, e já tinha; então, assim, eu fiquei pensando muito nesse sentido, que

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ela teve que suspender o relacionamento para poder começar a viver o outro,

por que não viver os dois ao mesmo tempo? Eu fiquei pensando muito sobre

isso.

Luiz: Desvio burguês. Kkk

Bia: Isso não é desvio burguês.

Fernanda: Eu acho que é isso, são esses elementos, avançada no

tempo, mas uma filha do seu tempo, né?

Luiz: Mas depois você fala, Bia. Eu só queria falar uma coisinha, que eu

tive a mesma impressão com relação a Marx. O olhar do Leandro é

desconstruir o momento. É engraçado que se você vai fazer uma leitura, vamos

dizer assim, o masculino revolucionário, fica aquela coisa monumental, é como

o Nelson Rodrigues falava, colocando em praça pública, é aquela figura

inatacável, é uma figura humana, então eu acho bárbaro isso. É uma coisa que

aconteceu com a Rosa e está por fora, não tem essa de ficar ali, né? Coisas de

missionário, Revolucionário é uma coisa, missionário é outra. Então assim, não

só ela, ela por exemplo, é um emblema. Eu me peguei pensando, que na

verdade isso me fez abstrair de uma outra coisa, e na importância da figura

feminina neste momento do século XX, porque a gente tem a Rosa que é um

exemplo, mas a gente tem a Clara Zetkin, a Wendy Goldman, tem o mesmo

peso para o anarquismo que a Rosa no comunismo.

Jorge Artur: E brigando com os homens do mesmo jeito, pau a pau.

Luiz: De pau não, porque para afirmar tem que ter um pau maior. Srsrsr

Jorge Artur: (49:22 ???) dizia que, quando passassem os anos ela ia ver

questões que ela está tratando de tesão.

Luiz: Se colocasse Freud aí no meio, seria histérico. Srsrs. A gente tem

a Salomé, o Lou-Andreas Salomi, todas judias, né? Eu já vi coisas

interessantes do judaísmo naquele tempo. Não é à toa que são figuras que

emergem o judaísmo, tem que pensar a mulher no judaísmo, parece que o

judaísmo está saturado; saturado no bom sentido, ele está habitado por

mulheres, Raquel, Dalila, então há muitas figuras femininas brigando para ter

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um espaço no meio dos homens e eu estive pensando, não foi um desvio

burguês, foi um desvio poético, será que o comunismo é terra prometida? Será

que Marx não é reencarnação do Moisés? Srsrs Porque quando você pega o

comunismo, a origem, quando você estuda o judaísmo, parece que é uma

coisa que um judeu, quando Marx denuncia o judeu com um tipo de meio, é o

(51:24 ????) é o cara que vai fundar há 100 anos atrás, já estava morando no

Estado de Israel. Então isso que a gente está vendo hoje acontecer é algo que

começou há 100 anos, de eliminar os clandestinos de lá, é uma coisa

pragmática que está centenária. A história fez com que ele se aproveitasse e

colocasse esse bonde para andar. Mas você tem um judaísmo.

Bia: Porque eles foram perseguidos e resistiram.

Luiz: Sim. Existe um judaísmo laico nas entrelinhas, foi uma coisa que

não tive tempo de reler, de pesquisar, e me chamou a atenção isso. Essa coisa

feminina, ela tem uma repercussão. Jamais viria de mulheres católicas, ou de

outra religião. O judaísmo é fundamental nesse momento. Não é uma busca

por transcendência, superação, mas essas duas dimensões se tocam, então eu

vi a Rosa aqui como um emblema, uma coisa que converge o feminino,

feminino que quer transformar, que quer ir à luta, mas que não se confunde

com essa coisa missionária, porque a Rosa quer ter filhos, quer uma família, e

você tem aquela frase emblemática também: (52:29 ???) Essa coisa dura, essa

coisa mecânica, da química, do homem, do masculino, tem um contraponto,

então saiu essa “salada” aí.

Jussara: Tem um trecho da leitura que ela coloca o modo dela de como

o livro é “Sobre o Amor” então é a marca dela cravada, que é quando a Rosa

se colocava toda apaixonadamente, nos diversos planos de sua vida, então, eu

acho que é isso que ela traz para a gente, essa intensidade em todos os

âmbitos, a gente quer tanto a totalidade das coisas, ela põe essa pessoa na

totalidade. Então ela tinha um estudo dos problemas teóricos, a paixão por

isso, na militância política e não menos na relação dela amorosa. Até porque

essa intensidade, essa paixão que ela tinha, por essas questões mais sérias

não poderiam ser menos, pelas questões mais subjetivas. Então eu acho que

isso é a marca dela como uma mulher do seu tempo, como uma mulher que

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participou da construção histórica de um tempo, ela deixou essa marca para a

gente.

Bia: Mais alguém?

Fernanda: A Isabel vai dizer que em 1914 ela vai ter uma breve uma

relação com um advogado companheiro de partido, que é o (54:52 ???). Eu

acho interessante porque ele não coloca esse caso que ela teve, deve ter tido

vários outros também.

Jussara: E ela não era tão bonita, mancava.

Bia: Eu acho que no geral vocês trouxeram elementos importantes para

a gente pensar, Rosa, mulher, e sua objetivação na história, e é interessante,

porque à medida que você lê o texto do Leandro, ao mesmo tempo você

começa a ver o que foi a figura, foi essa expressão política, né? Se a gente

pensar a Rosa como judia, polonesa, é a 5º dos cinco filhos, numa família onde

o pai trabalhava com o comércio, ela sai de uma vila pequena na Polônia, vai

para a Alemanha, e ela é muito jovem, começa na militância política. Ela entra

com uma perspectiva de esquerda, muito jovem, adolescente. E ela vai entrar

para a universidade, ela vai fazer faculdade, ela faz Direito, faz Ciência Política,

e ela, de fato, é brilhante, porque ela tem uma função muito tensa e uma

combatividade muito grande, ela consegue e faz uma crítica, como fala o texto

aqui, a Berenstein que é revisionista, o que era um revisionismo? Era rever a

teoria de Marx, ou seja, o revisionismo, ela foi dos marcos do partido social

Democrata, agora, o Partido Social Democrata naquela época, era um partido

revolucionário, a gente precisa ter clareza do que era um Partido Social

Democrata. Então lá, a organização do Partido Social Democrata era uma

perspectiva, inclusive, com a presença de frações comunistas. Rosa se colocou

na 1º fileira na defesa da Revolução Russa em 1905. Naquele período, a gente

sabe, que aquela revolução, não seria uma Revolução Bolchevique proletária,

o Estado rural, com pouco desenvolvimento das forças produtivas, mas, desde

o 1º momento é importante essa questão internacionalista. E ela era uma

marxista. E ao beber da teoria de Marx, muito diferentemente dos que foram

chamados comunistas dogmáticos do Stalinismo, fizeram essa ruptura e o

Marx não fazia essa ruptura entre objetividade e subjetividade. Para Marx

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desde os manuscritos econômicos e filosóficos de 1844, ele está tratando de

um conjunto de questões centralmente ele vai desenvolver a produção material

como a prioridade ontológica, que em relação às outras categorias, mas todas

as esferas daquilo que ele vai chamar de hominilateralidade humana, ou seja,

tudo aquilo que pertence ao humano em todas as suas dimensões.

Então eu diria, como vocês falaram, quando a Ju falou das cartas, o

Jorge Artur e quando a Fernanda retomou um pouco essa discussão,

lembrando a Isabel Loureiro. Isabel é uma marxista Lucatiana, que tem feito

trabalhos fundamentais e faz exatamente essa tradução. Então eu acho que é

importante fazer essa relação da Rosa no seu tempo e nessa história política e

ela de fato não tinha essa concepção aqui, aliás, essa concepção messiânica

do que significa a revolução também é uma distorção do que é a perspectiva

revolucionária, porque tem que ter claro isso.

A outra, quando a Juliana fala, as cartas dela, eles viviam na

clandestinidade devido as perseguições políticas sofridas, então a questão da

clandestinidade também coloca para os sujeitos históricos revolucionários,

situações cotidianas muito difíceis. Ela queria ser mãe, e ao mesmo tempo ela

não se colocava naquilo que as mulheres do seu tempo eram colocadas no

sentido que ela pudesse fazer todas as atividades no campo da vida privada

para que o homem fizesse a luta, então ela era tão militante quanto seu

companheiro de 15 anos.

Então eu vejo que é extremamente importante como historicamente o

papel da mulher se constrói, num campo de combate. É importante a gente

deixar claro porque a concepção hegemônica do papel da mulher é fruto do

patriarcado, a monogamia é fruto do patriarcado, então não são os

revolucionários que colocam a questão da propriedade nas relações amorosas.

Tem que ter claro isso. Ela vem para o patriarcado. O que é o patriarcado? Não

é a expressão da herança? Não é no auge do capitalismo, uma forma de

conceber a família?

A autora Wendy Golfman, tem um livro O Estado e a Revolução, ela vai

mostrando, na Revolução Russa, o papel da mulher e a perspectiva

revolucionária do ponto de vista das relações entre as classes, de superação

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da classes, da luta pela emancipação humana. Então ela vai mostrar, que

aquela discussão, por exemplo, da legalização do aborto, do cuidado das

crianças, ou seja, que o cuidado deve ser coletivo, os restaurantes coletivos, as

lavanderias coletivas, a alimentação coletiva, então esse espaço de

subordinação de dependência, na vida privada, ela corresponde ao auge do

atual capitalismo, da manutenção do papel da mulher (trabalho não

remunerado), a questão do divórcio, a questão da sexualidade, a questão da

livre orientação; algo que imediatamente após o Stalinismo se instaurar, foi por

terra. Acabou a liberalização, a escolha do ponto de vista amoroso foi

detonada, a perseguição dos homossexuais foi brutal, qualquer pensamento

divergente foi fuzilado.

Jorge Artur – Com direito a exportação, né? Fizeram a mesma coisa na

guerra civil espanhola.

Bia – Pois é. Então é um pouco para a gente pensar, como que na

história da humanidade essa relação entre as classes e de classe, de

exploração e de dominação, elas estão sempre presentes.

Uma outra coisa importante, que eu vejo da Rosa, ela fez um combate

duro com os revisionistas, ela fez um combate duro e saiu do Partido Social

Democrata (PSD), quando o PSD apoiou os critérios de guerra, pela 1º Guerra

Mundial, ela sai de uma forma dissidente, se organiza com os comunistas, cria

um outro grupo, e vai efetivamente fazer um combate duro em relação ao

processo de capitulação da social democracia. Se a gente for pensar nos anos

30, foi o que Stalin fez, na relação com o imperialismo, nos créditos às guerras

etc., Uma outra questão que eu penso que seja importante, que não dá para a

gente fazer a discussão muito rápido, não dá para eu fazer a leitura do texto

sem localizar esta figura importantíssima da história revolucionária. Não dá

para pensar a Alemanha ou pensar o debate dela com Lenin. Eles eram aliados

ali na questão revolucionária. Agora havia uma divergência, o Lênin estava

pensando a questão do partido do ponto de vista do centralismo democrático,

num momento, que se não houvesse aquela estrutura de partido, não teria

Revolução. A Rosa estava numa Alemanha onde as forças produtivas eram

extremamente mais desenvolvidas do que a situação da Rússia, e que as

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mobilizações eram de massa, tanto que ela escreveu: Greve de massa,

sindicato e Partido. Então é para a gente compreender e ela vai dizer da

importância da greve geral como greve política, ela vai fazer um combate com

os sindicatos, com a visão meramente econômica, que já estabelecera um giro

para a social democracia não mais revolucionária, já setores que tinham pactos

e ela vai fazer essa crítica. E a crítica (01:05:56???) , que na realidade, que daí

(01:06:05????), que com a perspecção anarquista e se contrapondo ao projeto

revolucionário ela vai mostrar, e se a gente for discutir por exemplo, aliás, ela

nasceu, no dia que nasceu Marx, não no mesmo mês e ano, ela é de 05 de

Março e Marx 05 de maio, e ela nasceu dias antes da Comuna de Paris, em

1871, e é assassinada em 19/01/1919. Os policiais entram no saguão do hotel

onde Rosa se encontrava, a arrastam e a levam em um carro, depois, ela é

jogada no rio e seu cadáver só é encontrado no dia 31/05. Por que eu também

estou chamando a atenção? Sendo uma mulher no seu tempo e a frente de

seu tempo e altamente vinculada na história, e como todas essas questões, da

convicção para ela, ela vivia com paixão. Ela está enterrada em Berlim.

Olha, Brecht dedicou a seguinte frase a Rosa “aqui jaz Rosa de

Luxemburgo, judia da Polônia, vanguarda dos operários alemães, muito por

ordem dos opressores, oprimidos, enterrai as vossas desavenças”.

Então esse esquecimento, esse silêncio, para traduzir obras de

Revolucionários na história, é fruto de um Estado de Opressão, de dominação.

E era Revolucionária como mulher, porque uma mulher no seu tempo, ela vai

objetivando na sua vida cotidiana as várias possibilidades de uma construção

emancipatória, no afeto, no amor, na literatura, no desenho porque ela gostava

de desenhar, ou seja, como é possível você, cotidianamente, aquilo que

Lukács fala, ter momentos de suspensão, apesar da barbárie. Hoje cedo na

USP, mais dois jovens foram violentados e saíram, arrebentados.

A cada dia a gente aborda uma situação de barbárie. Então eu acho que

a gente tem muito o que aprender com essa mulher e não é do ponto de vista

personalista, mas da importância histórica que a Rosa tem, e como as pessoas

não estudam, eu fico pensando nas universidades, a gente sabe disso né

Socorro? Lá na graduação, não é só no Serviço Social, é no geral. Não

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debatem quem são esses sujeitos, que partidos são esses, nós temos que

aprender com esse legado, com essa história, e romper com esses mitos, que

parte destes mitos são mitos extremamente reacionários, que eu vou muito

rapidamente já entrar na Questão Judaica, que é essa relação da questão

judaica. Vocês que viram o vídeo, da Arlene, quem não viu vai ver, ela vai

deixar claramente essa questão. Ela vai dizer, olha, há uma propaganda

nefasta, anticomunista em relação a essa obra de Marx, sobre a Questão

Judaica. Por que? Porque eles acusam, há setores que recusam numa dada

passagem, notadamente a que vimos na semana passada, como se Marx

fosse anti-semita. E, na realidade, Marx não está fazendo a discussão do

judaísmo como religião, isso é muito importante. É importante, inclusive, para

hoje a gente discutir a questão da Palestina, a questão não é o judeu como

cidadão, é o Estado de Israel, o imperialismo, o genocídio, etc.

Então, quando Bruno Bauer está dizendo, tanto Bruno Bauer quanto

Marx eram da esquerda hegeliana e o Bruno Bauer vai dizer “olha para os

judeus se emanciparem, eles tem que se emancipar da religião” e o Marx vai

dizer: “A emancipação não é da religião, a emancipação política é a Esfera do

Estado”, portanto, o indivíduo, como indivíduo social, pode ser católico,

protestante, etc, etc., na realidade, há discussão de um processo de

emancipação política que pressupõe, não um limite de um Estado laico e que

impede o Estado laico de ser progressivo para 1844, considerando que o

Estado alemão é um Estado Cristão e que os judeus foram perseguidos. Da

mesma maneira que tem um mito que a origem da questão financeira do judeu

é capitalista. Não é. Na realidade, os judeus, como estavam fora de qualquer

possibilidade do período do feudalismo, ou seja, eles não possuíam terra, eles

eram expulsos, então eles eram comerciantes, era a natureza prática do

judaísmo. Os judeus costumavam fazer empréstimo para os agricultores

pobres que estavam na colheita. Então vejam que contradição. O que o

feudalismo centra e daí a questão com as religiões, era a hegemonia do

cristianismo, assim como, o processo da idade média, a inquisição, assim

como o protestantismo em relação ao capitalismo. Agora, o judaísmo, os

judeus enquanto cidadãos, foram expulsos, a gente sabe disso bem antes do

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holocausto. Então a atividade que eles tinham era comércio, e aí um

empréstimo porque a igreja proibia empréstimo a juros, era feito pelos judeus.

Só para a gente fazer relação com o texto de Marx, quando Marx estava

falando que a questão judaica não é uma questão religiosa, e que, a discussão

passa necessariamente pela crítica, e é a 1º vez que Marx vai fazer essa

crítica, vai mostrar o limite do Estado, que o Estado é o Estado de dominação,

e que vai a última consequência, que a luta por um projeto revolucionário, de

auto-organização dos indivíduos, fim das classes sociais, fim da propriedade

privada dos meios de produção e fim do Estado, aqui está, Sobre a Questão

Judaica. Olhem que contradição, ao mesmo tempo que os judeus não podiam

ser os senhores feudais, ao mesmo tempo eles eram úteis e funcionais ao

feudalismo, está claro? Então nós temos que entender isso na história.

Luiz: Só um adendo Bia. Essa questão de por que o judeu empresta

dinheiro e o católico, não? Porque a igreja proibia, porque você emprestar

dinheiro a juros era você “mercarejar” com o tempo. E o tempo era o domínio

de Deus. Era uma propriedade de Deus. Então você negociar com o tempo era

uma forma de se (01:15:04???) que era um crime que interditava a subir. E

como judeus tinham imunidade, então só restava isso para ele, ser judeu já era

um pecado, então...

Bia: E aí a gente acaba fazendo confusão E NÃO COMPREENDENDO

QUANDO A GENTE FALA “Olha, os rabinos estão defendendo os

progressistas, defendendo contra a Palestina, e “dizem” que não pode fazer

debate sobre a Palestina na universidade porque a PUC tem que estar acima

do bem e do mal, ou seja, acho que ela não entende absolutamente nada de

história.

Então, na realidade, a crítica do Marx é exatamente nessa direção,

embora nós saibamos que lá na Introdução a Crítica da Filosofia do direito de

Hegel, ele vai falar que a religião é o ópio do povo, pois colocar a referência

num Deus absoluto, como fazia Hegel, é na realidade deixar de colocar a

escolha e a possibilidade histórica nos sujeitos históricos como sujeitos sociais,

etc. Como dizia Marx esse Estado e essa sociedade produzem a religião, na

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realidade uma consciência invertida do mundo, como realização fantástica da

essência humana.

Então só para a gente situar um pouco o que a gente leu até agora,

aliás, quando a gente viu a Arlene, ela falou quando começa a perseguição dos

judeus, séculos XII/XIII, ela vai falar de um autor, Adam Leon, alguém já leu

Adam Leon? Então ela vai citar e hoje eu fui atrás, e entrei na virtual para

comprar, mas meu cartão estava clonado, mas vou comprar, porque ela deu

esta informação, e Adam Leon é um marxista, que faz exatamente a discussão

do ponto de vista do judaísmo, da história do judaísmo, do marxismo. Então,

nesse momento, o que a gente está discutindo, o que é um Estado Único? Se a

gente for pensar, por exemplo, no Estado de Israel, você tem 5 milhões de

judeus, 3 milhões de palestinos, dos 3 milhões, tem judeus, então o que é um

Estado religioso, o que é um Estado laico, etc., no entanto, se vocês tiverem

interesse em aprofundar essa discussão, até para discutir o momento

contemporâneo, porque a gente começa a pensar, da mesma maneira que os

judeus eram “malditos”, e aí foram expulsos, e aí com o advento do

capitalismo, sai do capitalismo comercial para o capitalismo industrial, então os

judeus precisavam ser banidos, e são espalhados pelo mundo inteiro. Da

mesma forma os turcos, a xenofobia que a gente está vivendo na Europa, quer

dizer, o problema todo está neles, quer dizer, este irracionalismo que está

presente hoje, e aí vivendo na época que ela discutia, que uma das questões

centrais, e aí concluindo mesmo, é que a questão judaica, ela não é uma

questão religiosa.

Então, no debate que ela vai falar, é nesse texto do Marx, que pela

primeira vez Marx está dizendo do proletariado como a única classe portadora

do universal na perspectiva da direção do processo revolucionário. Se nos

Manuscritos Econômicos Filosóficos de 1844 Marx falava em possuidores e

possuídos, ainda não falava em força de trabalho, aqui é o 1º texto da

centralidade, do proletariado, e aqui mais uma vez, Rosa Luxemburgo

escreveu muito isso, ou seja, como ela esteve colocada no movimento de

massas, no movimento social, no movimento operário, nas mobilizações,

naquilo que eles imaginavam processo revolucionário em 1918 na Alemanha e

depois foi arrebatada, parte dos militantes mortos, e parte deles acabaram com

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as organizações. Então a repressão nesse período foi brutal. E Rosa como

marxista compreendia o protagonismo do proletariado na revolução social.

Jorge Artur: E nunca mais teve isso na Alemanha. Quando termina a 2º

Guerra Mundial, os comunistas foram acabados juntos.

Bia: É porque parte daqueles que eram comunistas bandeou, né gente?

O Social Democrata abriu mão, virou Stalinista, apoiou as guerras, essa briga

da Rosa era contra os créditos de guerra. E o que vai fazer Stalin? Ele vai atrás

dos tanques de guerra. Isso é importante de se ter claro, uma coisa é o

marxismo, é o Leninismo, são as histórias revolucionárias, outra coisa é como

na história da humanidade nós estamos vivendo processos de deterioração, de

decadência, aquilo que Lukács chamou de Decadência Ideológica, de

decomposição, eu já falei deste texto de Lukács para vocês. Sobre a

Decadência ideológica, Lukács vai dizer que em 1848, quando a Revolução

Proletária é derrotada, muitos que trilhavam as fileiras revolucionárias, viram

oportunistas, arrivistas, mudam de lado, que, aliás, é muito comum, é preciso

se acostumar, pois a esquerda e os revolucionários somos minoritários, desde

sempre.

Jorge Artur: Nesses livros de 1964, PQP, nossa!

Bia: É, agora você acha revolucionário lá no passado.

Jorge Artur: E vice versa também, que era no passado e que nega hoje,

aliás a pequena história do Zé Paulo sobre a Ditadura Militar, está maravilhoso.

Bia: Pelo fato de trazer para uma nova geração algo que não é

conhecido e não estou fazendo uma crítica didática, eu defendo a questão

didática, sempre! Mas num claro momento por exemplo, quando ele vai discutir

a questão de cultura, eu esperava mais.

Jorge Artur: Eu gostei disso! Porque “Tu gostou” vai atrás de mais.

Bia: Eu conheço Zé Paulo. E com tudo o que ele tem, eu acho que ele

poderia aprofundar um pouco mais. A questão da cultura para o marxismo,

para alguns setores marxistas é muito pouco trabalhada. Exatamente por esse

viés, e por essa marca stalinista, autoritária, é quase que, tangenciada.

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Jorge Artur: E antes de 64, era COMPLETAMENTE tangenciada.

Bia: Eu diria que entre os marxistas do século XX um dos autores que tratou,

mais profundamente a questão da estética, foi Lukács. Exatamente por isso, eu

esperava que o Zé Paulo, como um bom Lukatiano, tratasse da questão da

cultura de uma forma mais aprofundada na resistência à ditadura, e ainda vou

conversar com ele sobre isso.

Jorge Artur: Ele traz uma interpretação muito própria.

Bia: Que é ele, mas na questão da cultura...

Juliana: Qual livro é esse?

Jorge Artur: Pequena História da Ditadura Militar, 1964-1975.

Aluna: A Lívia fez uma pesquisa à respeito disso.

Bia: Lívia Cotrim da Fundação Santo André.

Aluna: As filhas dela fizeram a dissertação de mestrado, foi excelente.

Bia: Quem estava no NEAM lembra, a gente trouxe a Lívia o ano

passado.

Aluna: Tem um outro livro que eu não me lembro, que eles também

discutem.

Bia: Marx e Engels.

Jorge Artur: É uma coleção que está no 5º livro, muito bom.

Bia: Bom, vamos para a questão judaica? Quem quer ler?

Jorge Artur: Já estamos na questão judaica.

Bia: E no final do Livro Lutadoras elas tratam da luta das mulheres

operárias no Brasil, tem o depoimento da Rosalina Santa Cruz e tem o meu.

Bom, onde a gente parou? Quem sabe?

Aluna: (01:31:50 a 01:35:25) pág 63-70.

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Aluna: (01:35:25 a 01:48:47) pag 63-70.

Jorge Artur: (01:48:47 a 01:58:13)

Bia, vamos parar um pouco aqui né, vocês sabem que Rudge também

era da esquerda hegeliana, como Marx. Este texto foi escrito em 1843. Marx

estava fora da Alemanha, ele estava exilado, foi para a França, ele começa a

escrever na Holanda, mas ele está fora da Alemanha, então ele está trocando

cartas com Rudge sobre a situação da Alemanha. Então foi isso que acabamos

de ouvir e vamos falar sobre ela. O que ele está trazendo aqui? De que Estado

ele está falando?

Aluna (01:58:08): Parece que ele está falando da transição do

feudalismo para o capitalismo. Ele traz algumas informações sobre a vergonha,

tem uma parte que ele fala dos vassalos também, de se dedicar, e aos blocos

do novo mundo, mas que ele ainda não tem isso desvendado, isso não é claro,

ele está naquela fase de transição, então tem uma parte aqui que ele fala das

características submissas, amáveis e prestativos, ele fala da liberdade também,

que é o único que pode transformar a sociedade, então ele já dá alguns passos

em direção a questão das classes, e fala da transformação do ser humano com

muitas outras e daí dá para perceber que já havia isso no feudalismo, e os

vassalos que não eram nada, que pagavam os impostos e aí eu percebo que

neste texto ele fala sobre isso, ele tem a comparação do filisteu que eu também

achei bárbara. Essa ideia do dinheiro, o filisteu relacionado ao dinheiro, então

ele já vai percebendo algumas nuances que vão, a transição da monarquia,

para um mundo já mais para o lado do capitalismo, mas não dá forma como a

gente hoje sabe, conhece. Fala também sobre a ordem das coisas mortas, que

é a fase que o feudalismo está acabando, tem já os pequenos comércios, mas

há os que organizam “COMO” o comércio em si, né? E aí a fase da transição.

Algumas coisas da Revolução Francesa já começam a aparecer para o

mundo, de uma outra maneira, diferente daquele Estado que estava na

Prússia, na Alemanha, que eram mais atrasados, o Estado ficava bem primitivo

em relação aos outros acontecimentos do mundo. Ele fala sobre o sistema de

indústria e comércio, que levará mais rapidamente a uma multiplicação da

população a uma ruptura no interior da sociedade atual.

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Bia: Quem mais?

Luiz: Não tem nada absolutamente a ver com o texto, mas eu achei

muito interessante, que eu nunca tinha feito essa conexão, o Nietzsche

conceito de politeísmo para denunciar essa sociedade alemã que está

rompendo com o passado aristocrático. Está se deslocando. É uma coisa que

eles chamam cultivo da historicidade, as aparências, o R$, o que Marx está

denunciando, politicamente não acabou os teóricos no mesmo termo,

politeísmo. Eu nunca tinha feito essa aproximação e me chamou a atenção

porque Marx é contundente, ele revisa esta palavra, na verdade é o grande

desafeto histórico do judeu, é o filisteu, e eu achei bárbaro isso.

Bia: Quem mais?

Aluna (02:03:34???): Na verdade Bia, eu queria que você comentasse

um pouco sobre esse momento de Marx, que é a ruptura com os jovens

hegelianos, e aí bate na monarquia e coloca como alternativa a democracia.

Bia: Num 1º momento

Aluna: Aí depois tem continuidade que ele vai falar sobre o comunismo,

mas tem esse momento que ele vai dedicar com a possibilidade de alternativa,

a democracia.

Bia: Só um pouco para falar sobre isso, depois a gente volta ao texto, na

realidade os jovens hegelianos, todos eles, a esquerda dos jovens hegelianos,

ela está fazendo uma discussão ferrenha, ela vai ter como referência o Hegel,

e ela vai começar a fazer uma inversão própria do pensamento de Hegel.

Porque não é só a esquerda hegeliana, você também tem a direita hegeliana,

toda aquela discussão, o real é racional, o racional é real, lembra quando a

gente fez essa discussão, discutiu a Crítica à Filosofia de Hegel?

Hegel afirmava: “Tudo que é racional é real e tudo que é real é racional. A

direita hegeliana se apoia na ideia de que “ tudo que é racional é real” - o que

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corresponde ao idealismo, a determinação da ideia no pensamento. A

esquerda hegeliana se apoia na assertiva de “ tudo o que é real é racional” , o

que parte da realidade do mundo histórico de sujeitos reais.

Marx vai dizer é o Ser que determina a consciência e não a consciência que

determina o Ser, e o que ele está chamando Ser? Se refere à sociedade,

a sociedade de classes, os sujeitos históricos que vão determinar a

consciência e para Hegel, é a consciência que determina o ser. Era um

momento ideal; era o Estado Prussiano, monárquico, era a visão absolutista,

idealista, então tudo estava posto e a gente já viu isso, Hegel era racional, ele

tinha uma defesa da razão, tanto que ele vai fazer a crítica ao Kant, enfim, que

tinha uma discussão com a razão instrumental, a questão era que Hegel partia

da história presente, da história posta e da história dada. Então Estado era

absoluto, e a monarquia era a Prússia. Diferentemente das forças produtivas, o

próprio desenvolvimento do país, que depois, Marx faz a relação com a

Revolução Francesa, como revolução burguesa. Mas aqui ainda ele está num

trânsito, entre um democrata radical e um comunista. Embora ele já coloque,

aqui ele está dizendo de uma forma poética; a gente precisa compreender o

processo de maturação teórico-político do Marx na história. Então, se a gente

for pensar, que em cada obra do Marx a gente vai encontrar o seu pensamento

da maturidade, a gente tá ferrado, pois não está. Agora, há um trato rigoroso e

permanente na sua pesquisa. Então desde o Jovem Marx nós vamos ver traços

significativos que vão estar maturados lá no O Capital, é difícil. Por que?

Porque se a gente não compreender na obra literária, o momento histórico e o

desenvolvimentismo da evolução do seu pensamento, a gente tá ferrado.

Segundo, muitos dos textos de Marx são manuscritos. São textos que ele ia

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escrevendo um para outro, para ir maturando, lembra o que eu disse? Muitas

vezes você lê um texto lá atrás, do Jovem Marx, e diz “Agora entendi”, depois

na passagem seguinte ele está falando da mesma coisa, mas de um outro jeito

que está maturando é o seu método de investigação, é o que Zé Paulo sempre

fala e ele tem toda razão, uma coisa é o método de investigação e a outra é o

método de exposição. E isso vale para as pesquisas de vocês, para os TCCs,

os mestrados, os doutorados, o pós doutorado, e a gente vai estudando, a

gente lê, lê, lê, a gente fala, mas eu li tanto e agora o que estou aproveitando

nessa síntese? Porque é garimpar mesmo. Então é para você ir formando esse

processo. Então, os jovens hegelianos, o Marx vai fazendo todo esse trânsito, e

ele vai debatendo no interior intelectual entre os jovens hegelianos, da

esquerda hegeliana, também com divergências. Ele vai ter um momento que

vai ter debate com Rudge, ele vai ter um dado momento com Bruno Bauer; o

Bruno Bauer até esse texto, sobre a questão judaica, escrita pelo Bruno, eles

tinham muitos pontos comuns, agora, a partir da questão judaica, quando

Bauer toma a Questão Judaica como uma questão religiosa a ser superada e o

Marx toma a questão judaica como social e político e portanto universal, é que

ele vai começar a dar os passos, no sentido, primeiro, de fazer crítica ao

Estado, porque até aqui ele via na Revolução Francesa, na Revolução

Burguesa a emancipação política. Aqui começa a ver de que não basta a

emancipação política( que a burguesia já realizou). Então ele vai como um

traço progressivo do ponto de vista da humanidade, o alastramento, ou seja, a

perspectiva da emancipação humana.

Só que quando ele começa a fazer esse debate com Bruno Bauer, ele

também vai perceber, o limite da emancipação política e compreender que o

Estado é sempre Estado de Dominação, foi assim na monarquia, no

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capitalismo, só numa sociedade, aí é o trânsito para o comunismo, comunista,

portanto, comum à todos, sem propriedade privada dos meios de produção,

sem as classes sociais, com proletariado como a classe com a condição

histórica e com possibilidade de tomar para si o poder político para uma ruptura

com essa ordem, é quando Marx fala de alto supressão positiva da ordem

capitalista.

Do ponto de vista da análise Lukatiana, Lukács vai dizer que Marx tem

uma onto-negatividade da política. Os reformistas batem duro, dizem que Marx

não tem uma onto negatividade à política, porque fazem a defesa da mediação

da política como instância última do ponto de vista das reformas. Mas aí já é o

reformismo. Está claro o que estou falando? Ou seja, reformismo, revisionismo,

o abandono daquilo que foi tão caro para Marx e para os marxistas, que é a

Revolução Social.

Nesse sentido, Rosa Luxemburgo tinha uma concepção, assim como

Lênin, assim como Trótski, da Revolução Social, Marx, ou seja, a revolução

social como uma necessidade histórica de supressão dessa ordem. Ele faz

uma crítica mostrando o atraso, o caráter retrógrado dessa sociedade; quando

ele fala das coisas mortas, ou seja, as coisas no fundo, encasteladas, porque a

sociedade monárquica, é uma sociedade onde o parentesco e as castas, ou

seja, essa relação do parentesco, da casta, da subordinação, Ele vai dizer, se

os dominados não tomarem para si, você vai ter uma sucessão, de dominação.

Jorge Artur – Mantém uma mentalidade de dominado, seja ele dono de

terra ou servo. Ou o dono de terra é tão alienado quanto o servo.

Bia – Aquilo que depois Marx e Engels vão tratar disso, lá na ideologia

alemã, quando eles vão dizer aquela frase: “As ideias dominantes de uma dada

época, são as ideias da classe dominante”, portanto, o operariado, e Marx vai

dizer tem a consciência de classe em si e para si.

É a consciência como diz Meszaros, consciência contingente e

necessária, ou seja, aquela consciência mais imediata, quando na primeira

parte do texto falavam O Operário, se você pegar o operário médio, do chão de

fábrica, ele também vai reproduzir a ideologia dominante, assim como a classe

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média, ou não? Então não vamos ter um mito de achar que basta ser operário

para ser revolucionário.

Então, vejam, essas ideias, a mídia, as instituições, a igreja, e tudo mais,

né? As religiões... A gente discutia no primeiro tempo da nossa conversa que

num dado momento é o protestantismo e o capitalismo, o feudalismo e o

cristianismo, os judeus sendo expulsos dos lugares e o Estado de Israel

recentemente, nos anos 40 do século passado bancado pelo imperialismo, os

créditos da primeira e segunda guerra e agora as guerras sendo patrocinadas

por conta de queima de excedente num momento de decomposição das

próprias relações sociais de produção, portanto, guerra, guerra, guerra, ou

seja, a quem interessa? Que Paz é essa? É uma grande abstração. Que não

violência é essa? Ou, como diz a Arlene “Que tolerância é essa?” Nós vamos

tolerar a barbárie?

A tolerância no século XII, XIII em relação até de protecionismo em

relação aos judeus, etc. A crítica que Marx está fazendo nessa conversa aqui,

é esse Estado Prussiano, atrasado, retrógrado, monárquico.

Jorge Artur: Tem uma “capinha” de modernidade sobre esse jovem rei,

que inclusive o jovem rei quer obstruir que tenha sido o antigo rei, o Guilherme

III, mas que reproduz esse obscurantismo.

Bia: O que mais a gente tem a falar desse trecho para a gente poder

seguir?

Luiz: Só colocar uma demarcação histórica, nesse período a gente está

iniciando o processo de unificação da Alemanha em torno do poder social. O

(02:17:54??????) está ligado a criação de uma burocracia profissional, ou seja,

o Estado existe, mas para poder avançar no capitalismo não se pode ter uma

mentalidade feudal, absolutista, então você precisa de uma modernização para

que este Estado se sustente unificadamente e só a Prússia pode fazer isso.

Então, quer dizer, você tem, na verdade, uma mentalidade operante, que já

está preparada, existe uma certa doutrinação nas províncias alemãs, mas

alguém precisa ser o agente que vá conduzir esse processo, que é Bismarck

(02:19:19???). Ele é apontando para o surgimento do Estado alemão e de um

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capitalismo alemão que quer se inserir no capitalismo mundial e a partir do

momento que ele entra já tem a guerra franco prussiana e tudo isso é estrutura

para a 1º Guerra Mundial. Então o desembocador disso vai ser a 1º Guerra

Mundial.

Jorge Artur: Você que está com isso aí mais quentinho, dá para falar de

uma modernização conservadora nesse momento?

Luiz: Olha, quentinho não, porque eu achava (02:19:53????) srrsrs

Jorge Artur: Dá para falar nesse momento de modernização

conservadora?

Luiz: Perfeitamente.

Jorge Artur: Porque assim, o quanto a burocracia e até hoje, nos é

mostrada como o que livra da corrupção e, no entanto, a burocracia é um lixo,

o que torna o Estado, cotidiano, diário, a barbárie cotidiana.

Luiz: Vamos pegar um exemplo do Japão, que vive exatamente o

mesmo movimento, você vai pegar a Toyota, esses nomes japoneses mais

famosos, são famílias de Samurais, então, quem de fato exercia o poder

político, então você precisa atender esses interesses, você precisa casar bem

esses interesses, mas o que é o Estado? É a unificação desses interesses. E

quem vai abrir mão do seu próprio feudo se não por uma possibilidade de

vantagens, potenciais e concretizar lucro ali na frente?

Primeiro, a Alemanha, o Japão, eles sabem, eles sentem que estão

sendo engolidos à poeira colonialista. Assim, a África, a Ásia, estão partilhadas,

a Alemanha vai fazer o que? Vai pegar uma ou duas províncias, os italianos

vão tentar pegar a Etiópia. Isso é sintomático do quanto eles estão

despreparados para entrar num cenário em que a França e a Inglaterra já estão

enraizadas, dominam o mundo.

Se você olhar da nossa perspectiva, eles já estão dentro de uma

perspectiva capitalista concorrencial e global, porque a gente pode até já falar

de uma globalização, a unificação do Estado alemão não é uma preparação

para entrar no cenário capitalista, mas é para entrar num cenário de guerra. E

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você vai ter que atravessar interesses, você vai romper território que já tem

dono.

Socorro: Porque é muito tardio o processo.

Luiz: Exatamente.

Socorro: Você tem a Revolução Inglesa, ainda no século XVI, você vai

ter a Revolução Francesa e o processo alemão que vai se dar pela via

prussiana e já entra num processo de disputa de espaço, inclusive pela perda

que teve de colônias. Então é uma disputa de entrada no capital, mesmo.

Luiz: É, o capitalismo na verdade é o eixo que conduz toda essa lógica,

que na verdade é o cenário que está se desenhando para a 1º Guerra Mundial,

para a 2º Guerra Mundial, que não houve a 2º, houve um armistício de 30 anos,

e o que a gente está vendo hoje, Israel e Palestina, são ainda a criação de um

Estado plantado numa região, que foi toda ela desmembrada pelo capitalismo

americano, francês, que ali tinha o império romano, os árabes na verdade,

esses países que a gente conhece hoje, Irã, Iraque, eles tem uma potência que

equivaleria a Rússia se tivesse integrado, seria também um grande desconforto

para os interesses do capitalismo europeu.

Socorro: No caso alemão tem o papel da Bismarck, que antecipa a

previdência à direitos sociais, no sentido de desmantelar o processo político do

movimento operário que já se coloca.

Bia: Mais alguém quer comentar? Dá para ler mais um pouco, não dá?

Jorge Artur: Ela segue da 70-73 (início 02:25:12 a 02:38:10)

Bia: Temos 5 minutos para comentar.

Quelly (02:38:51): Essa questão da dialética, quando ele coloca “É

apenas um fenômeno particular do princípio humanista, infectado por seu

oposto, o sistema privado”. Eu não sei se nesse momento ele já tem

consciência do método.

Bia: Mas isso importa para a gente?

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Quelly: Não.

Bia: Eu não sei se ele já tem consciência do método, o que aparece

aqui, é que ele está num processo de elaboração, de reflexão brutal, ou não é

isso que parece para a gente? E ele vai escancarando. Ele fala, olha, não

estamos falando de dogmatismo, nós estamos falando de homens e sujeitos

reais, nós estamos falando das coisas reais concretas, postas no cotidiano, de

como elas se apresentam.

Renato: Bia, eu vejo que não precisa ter consciência do (02:40:01????),

mas ele está tendo uma consciência que é a mais importante, a inversão

dialética, ele está tendo consciência da materialidade, da objetividade

invertendo ali, é o começo do mecanismo, do pensamento dele.

Bia: Isso que o Renato está falando, na realidade,

Renato: Ele está rompendo.

Bia: Ele está rompendo! Eu não sei se nesse momento ele fala “Eu estou

com consciência de que estou elaborando um método” mas ele tem um método

de análise de interpretação de ruptura que se passa a realidade, isso está

claro. Então aqui há um método de investigação e um método de exposição e

isso que o Renato está trazendo é essa a questão da inversão, porque quando

ele faz a crítica contundente ao idealismo, ou seja, ao Espírito, à forma como

Hegel vê a razão do espírito desvinculada das condições objetivas e reais dos

sujeitos históricos, é exatamente aí que ele vai retomar, então essa inversão já

está posta. Esta crítica à esquerda aos outros setores hegelianos mais à

direita, conservadores, também já está posta. A ebulição com que ele trata a

Prússia naquele momento, também já está posta, a crítica à essa relação

hierárquica, familiar, estamental, enfim, da unificação da Alemanha, um atraso

grupal em relação a França, também ele já está vendo isso, tanto que ele fala,

olha se eu estivesse na Alemanha, não daria para estar, pois nem respirar eu

conseguiria.

Jorge Artur: Tal qual Lukács naquele momento olha para o amigo e diz:

Agora é o momento da gente continuar vivo. A barbárie está colocada de tal

forma.

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Bia: E como fazer para continuar vivo.

Jorge Artur: Não adianta voltar para a Alemanha agora e fazer barricada

que o poder é descomunal. Isso que ele diz Bia, trata-se de um trabalho pelo

mundo e por nós.

Bia: E aqui ele já está criticando a visão dogmática do comunismo, isso

é antes dos manuscritos econômicos filosóficos e aqui quando ele escreve esta

carta, na sequência ele vai escrever “A Crítica à filosofia de Direito de Hegel” e

lá essa elaboração da inversão de Hegel, está claríssima. Na carta anterior é

uma coisa atrás da outra, ele está fazendo toda a discussão da Prússia, do

atraso, da Barbárie etc. Aqui ele diz que os sujeitos são sujeitos históricos,

então aqui já vai começar aquilo que depois é desenvolvido posteriormente que

é a ideia do proletariado que lá nos manuscritos já vai estar, e a tradução fala

em classe trabalhadora, naquele momento Marx não está falando de classe

trabalhadora, está falando de proletariado, de operariado, ele está falando de

centralidade de classe.

Renato: Uma outra questão que ele coloca também é que ele já está se

posicionando que ele não é a favor do socialismo utópico, do comunismo

utópico, ele começa a se definir.

Jorge Artur: Ele está criticando.

Bia: É a crítica do anarquismo em geral. A crítica à Proudhon, vai ser

posterior, mais fortemente, quando Proudhon escreve a Filosofia da Miséria. E

Marx responde com a Miséria da Filosofia.