2006 - Homossexualidade Modernidade e Tradição Grega - Revista História e Perspectivas

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    Histria e Perspectivas, Uberlndia (35): 99-116, Jul.Dez.2006

    HOMOSSEXUALIDADE, MODERNIDADE ETRADIO GREGA

    Daniel Barbosa dos Santos1

    RESUMO: Este artigo tem por objetivo, por um lado, fazer uma an-lise cultural da categoria homossexualidade, ao colocar em evidnciaa construo histrica tanto do contedo de seu conceito quanto daidentidade produzida por este fenmeno desde ento na modernidadee, por outro, verificar a influncia, em diversos momentos e de di-versas formas (historiografia e literatura), da tradio grega, espe-cialmente o homoerotismo clssico ateniense, (nesta construohistrica). A relao que se quer verificar , portanto, a que se esta-belece entre a tradio clssica do helenismo e a construo dahomossexualidade na modernidade, bem como sua luta poltica.

    PALAVRAS-CHAVES: Homossexualidade. Modernidade.Helenismo.

    ABSTRACT: This article intends, on the one hand, to make acultural analysis of the category homosexuality, showing clearlythe historical construction of as much the content of its conceptas the identity produced by that fenomenum ever since in themodernity and, on the other hand, to verify the influence, indifferent moments and ways (historiography and literature), ofthe greek tradition, specially the athenian classic homoerotism,in that historical construction. The relationship intended to do is,

    therefore, between the classical tradition of the helenism andthe construction of the homosexuality in the modernity, as wellas its political struggle.

    1 Daniel Barbosa dos Santos. Mestre e doutorando no programa de ps-graduao do Departamento de HIstria da UFMG. Professor Substituto doDepartamento de Histria da UFMG.

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    KEYWORDS: Homosexuality. Modernity. Helenism.

    H dois aspectos da modernidade que subjazem esta anli-se e sobre os quais eu gostaria de tecer alguns comentrios. Porum lado, Weber evidenciou o processo de emancipao das es-feras axiolgicas na modernidade. Ele mostrou-nos a

    autonomizao da razo. Baudelaire, a autonomizao da arte.Mas, h uma outra esfera que, de forma semelhante, seautonomiza na modernidade, da qual no trataram nem Webernem Baudelaire, mas o filsofo francs Michel Foucault: a esferada sexualidade. Esta esfera discursiva criou duas identidadesoriginais da modernidade, o heterossexuale o homossexual. Tra-ta-se, ento, de saber como a modernidade criou a sexualidade.Por outro lado, pensarei no impacto ou reverberao dohomoerotismogrego na modernidade, tentando vislumbrar e ana-lisar a construo de uma tradio decorrente desta reverbera-o e sua relao tanto com a produo da identidade e da psi-quehomossexuais quanto com a emancipao da homossexua-lidade enquanto movimento e pensamento politizados em buscade direitos civis, sociais e polticos.

    Na modernidade ocidental, as experincias, os comporta-mentos e as identidades sexuais so estruturadas pela sexua-lidadeenquanto um campo discursivo autnomo, construdo poressa mesma modernidade, que interpreta e organiza as experi-ncias e as identidades sexuais na medida que constitui e indi-vidualiza o ser no nvel do ser sexual. Diferentemente de sexo,que um fato natural, sexualidade uma construo cultural.Ela representa a apropriao do corpo humano e de suas zo-nas ergenas atravs de um discurso ideolgico. Essa viso da

    categoria sexualidadeest associada, em particular, com o l-timo trabalho de Foucault,A Histria da Sexualidade. Vejamos otrajeto de seu pensamento.

    Em suas obras, criativas e originais, Foucault, primeiro, anali-sou os saberes e seus discursos, propondo um mtodo, a arqueo-logia do saber. Como um saber se constitui? Como se organiza?

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    Em que condies ele aparece? (FOUCAULT, 1978; 1980; 1981;1977). Depois, analisou os poderes e suas estratgias. O poder,para Foucault, no um lugar ou algo que se possui, mas umaprtica, uma relao de foras com outras foras. Em seu novomtodo de investigao, o qual ele chama de genealogia do po-der, os saberes passam a ter uma funo estratgica na redede dispositivos que constituem o poder. (FOUCAULT, 1977; 1979).

    Por fim, ele analisou os modos de subjetivao que nos constitu-ram em momentos determinados da histria moderna ocidental.Assumiu um desconstrutivismo filosfico e avanou, com suasinvestigaes, sobre os saberes e os poderes institudos e sobreos prprios impasses que suas descobertas lhe colocaram(RODRIGUES, 1988).

    nessa terceira fase de suas pesquisas, na qual ele chegaaos processos de subjetivao, que se encontra seu passo fun-damental em direo ao desvelamento da categoria sexualida-de. Em sua ltima obra, a trilogia que forma a Histria da Sexu-alidade, Foucault analisou a constituio dessa categoria nos dis-cursos das instituies e dos saberes da modernidade.

    No volume I,A vontade de saber, ele ope-se hiptese re-pressiva e investiga a forma como o sexo no parou de ser esti-mulado e reverberado pelos discursos produzidos a seu respeitopor instituies como a Igreja, a Escola e o consultrio mdico, epor saberes como a Medicina, a Pedagogia e a Psicologia. Foucaultdemonstra que, desde o sculo XVI, e, com maior vigor, a partirdo sculo XIX, a colocao do sexo na ordem dos discursos foi aforma privilegiada das sociedades modernas produzirem a se-xualidade, tanto a normal quanto as desviantes, sendo a vonta-de de saber sobre o sexo uma pea essencial de uma estratgiade controle do indivduo e das populaes (RODRIGUES, 1998).

    Nos dois volumes seguintes, O uso dos prazerese O cuida-do de si,Foucault chega a uma percepo ao mesmo temposurpreendente e, de certa forma, estarrecedora. Sua anlisegenealgica sobre as questes do saber e do poder, lana-o numimpasse: se o indivduo um efeito do poder, quais as suas possi-bilidades de singularizao e de autonomia diante da sociedade?

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    O poder relao de foras e se distribui em rede. Portanto, noh um lugar do poder e nada est isento de poder. Se no h umlugar do poder, no pode haver um lugar da resistncia. As lutasso formas de resistncia na prpria rede de poderes. Assim comoo poder, a resistncia se distribui, como uma rede, em pontosmveis e transitrios, em toda a estrutura social. Seria possvelao indivduo, como produto do poder, resistir ao que o constitui?

    Portanto, se, por um lado, o poder uma relao de foras comoutras foras, por outro, a subjetivao uma relao de forasconsigo mesmo. A partir dessas concluses, Foucault, formulan-do uma estilstica da existncia, tratar das possibilidades devida capazes de resistir ao poder e de se beneficiar do saber(RODRIGUES, 1998).

    Nesse percurso, Foucault desprendeu sexualidade dascincias fsicas e biolgicas (exatamente como as feministasdesprenderam gnero dos fatos do sexo anatmico, dodimorfismo somtico) e tratou-a, ao contrrio, como o conjun-to de efeitos produzidos nos corpos, nos comportamentos enas relaes sociais por uma certa disposio de umatecnologia poltica complexa. Ele divorciou sexualidade denatureza e interpretou-a, ao contrrio, como uma produocultural. A partir desse enfoque, as perguntas que Foucault fazpara compreender historicamente a experincia sexual so:como se constitua a experincia sexual numa dada cultura?Em que termos era construda a experincia sexual? Como aexperincia sexual se distinguia de, e se relacionava com, ou-tros tipos de experincias, e como as fronteiras entre essesvrios tipos de experincias estavam articuladas? Prazeres edesejos sexuais eram diferentemente configurados para mem-bros diferentes de uma dada sociedade e, se sim, de acordo

    com quais princpios? Como os termos empregados pelosvrios membros dos grupos de seres humanos para organi-zar suas experincias sexuais operavam conceitual einstitucionalmente, de forma a constiturem os seres huma-nos enquanto sujeitos da experincia sexual? Quais outrasreas da vida estavam implicadas nessa operao? Como a

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    constituio de sujeitos sexuais relacionava-se com a consti-tuio de outras formas sociais, outras formas de poder e ou-tras formas de saber? (HALPERIN, 1990).

    Essas perguntas de Foucault recolocam a relao que exis-te entre identidades, experincias e comportamentos erticos ea sociedade como um todo, na qual eles esto inscritos e foramconstitudos, e levam o filsofo a uma chave analtica para com-

    preender a lgica dessas identidades, experincias e comporta-mentos: o processo de subjetivao ao qual o indivduo e os gru-pos sociais esto sujeitos em suas sociedades.

    Segundo esse argumento de Foucault, ento, namodernidade ocidental, a experincia sexual estruturada pelasexualidade enquanto um campo discursivo autnomo, cons-titudo por essa mesma modernidade, que interpreta e organi-za a experincia sexual e que constitui e individualiza o ser nonvel do ser sexual.

    A interpretao construcionista da esfera ertica, segundo ateoria que David Halperin desenvolveu em One hundred years ofhomosexuality, baseia-se nessa concepo foucaultiana de quesubjetividades sexuais so socialmente construdas. Na sexua-lidade, a homossexualidade e a heterossexualidade so ca-tegorias construdas no mundo moderno ocidental a partir do s-culo XIX, mediante a polaridade ter relao ertica com pessoado sexo oposto e ter relao ertica com pessoa do mesmosexo, responsveis pela criao de duas subjetividades sexuaisreaisque distinguem profundamente as pessoas. Essas catego-rias operam, doravante, no sentido de identificar, cada vez mais,o serou a totalidade psquica do indivduo com o ser sexual.

    Halperin investigou o surgimento e a construo da catego-ria homossexualidade, o que, alis, j est proposto no ttulo de

    sua obra: Cem anos de homossexualidade, completados em1992. Ele pde identificar a formao dessa orientao sexual(HALPERIN, 1990) e verificar que antes do seu surgimento, nosculo XIX, o que existia era inverso sexual. Inverso sexualreferia-se a uma srie ampla de comportamentos desviantesde gnero, entre os quais o desejo ertico por uma pessoa do

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    mesmo sexo era somente um aspecto lgico, mas indistinto, aopasso que a categoria homossexualidade concentrava seu focona questo mais especfica da escolha de objeto sexual. A cres-cente diferenciao entre desejo homossexual e comportamen-tos desviantes de gnero, na passagem do sculo XIX para osculo XX, reflete uma reconceituao maior da natureza da se-xualidade humana, sua relao com o gnero e seu papel na de-

    finio social dos indivduos. Em outras palavras, atravs do s-culo XIX, a preferncia sexual por uma pessoa do mesmo sexono se distinguia de outros tipos de no-conformidade a papissexuais culturalmente definidos:

    [...] o desvio na escolha de objeto sexual era visto meramente comoum dos inmeros sintomas patolgicos exibidos por aqueles queinvertiam seus papis sexuais, adotando um estilo masculino oufeminino em contraposio ao que era estimado natural e apropriadoao seu prprio sexo anatmico. (HALPERIN, 1990, p. 15-16.)

    A separao conceitual da sexualidade per se das ques-

    tes de masculinidade e feminilidade tornou possvel uma novataxonomia dos comportamentos e psicologias sexuais inteira-mente baseada no sexo anatmico das pessoas envolvidasnum ato sexual, isto , relao ertica entre pessoas do mes-mo sexo ou entre pessoas de sexo diferente. O efeito desseprocesso foi o de obliterar vrias distines que tradicional-mente operavam nos discursos anteriores sobre contatos se-xuais entre pessoas de mesmo sexo, as quais diferenciavamradicalmente parceiro sexual ativo de parceiro sexual passivo,papis sexuais normais de anormais (ou convencionais de no-convencionais), estilo masculino de estilo feminino e pederastia

    de lesbianismo. Todos esses comportamentos tinham de seragora classificados igualmente e colocados sob o mesmodefinidor comum: as identidades sexuais foram doravante po-larizadas pela oposio fundamental definida rigidamente pelojogo binrio compreendido pela semelhana e diferena nossexos dos parceiros sexuais.

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    A partir de ento, as pessoas passavam a pertencer auto-maticamente a uma ou a outra das categorias homossexuali-dade e heterossexualidade. Fundada a partir de fenmenoscomportamentais objetivos, verificveis e positivos, a novataxonomia sexual pde reclamar uma validade descritiva e trans-histrica, o que a possibilitou elevar-se s alturas da cientificidadee ser entronada enquanto um conceito operativo nas cincias

    sociais (HALPERIN, 1990).Identificando a construo cultural da sexualidade, Halperinmostra a sua constituio e o seu funcionamento. Em primeirolugar, a sexualidade define-se como um domnio sexual autno-mo dentro do campo maior da natureza psicolgica do homem.Segundo, a sexualidade efetua a demarcao e o isolamentoconceituais de seu domnio em relao a outras reas da vidapessoal e social que tradicionalmente trespassavam esse cam-po, tais como virilidade, intimidade, afeio, paixo, amor, ape-tite, desejo, para nomear apenas alguns dos velhos requeren-tes de territrios recentemente reivindicados pela sexualida-de. Por fim, a sexualidade gera identidade sexual: ela dotacada um de ns com uma natureza sexual individual, com umaessncia pessoal definida, pelo menos em parte, em termosespecificamente sexuais (HALPERIN, 1990).

    As identidades sexuais concebidas na sexualidade, nodevem ser confundidas com identidades e papis femininos emasculinos. Realmente, uma das principais funes conceituaisda sexualidade distinguir, de uma vez por todas, identidadesexual de implicaes de gnero, separar tipos de predileosexual de graus de masculinidade e feminilidade. Isto precisa-mente o que torna a sexualidade estranha para o esprito dasculturas mediterrneas antigas. Esse enfoque da sexualidade,

    til como um modo de pensar sobre sexo em histria e socieda-de, tambm sustentado pela evidncia antiga. As tipologias se-xuais antigas geralmente derivavam seus critrios para categorizaras pessoas no de sexo, mas de gnero. Os antigos tendiam ainterpretar o desejo sexual como normativo, se esse desejo im-pelisse o ator social a se conformar com o seu papel masculino

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    convencionalmente definido, ou como desviante, se o impelissea violar esse papel (HALPERIN, 1990).

    Vista desse ngulo, a sexualidade (ou a forma como as iden-tidades sexuais so articuladas e a forma como as experinciaserticas so produzidas na modernidade ocidental) no umacaracterstica universal da natureza humana e,consequentemente, ela no existe independentemente da cultu-

    ra. Em ltima anlise, como afirma Halperin, a sexualidade[...] representa a apropriao do corpo humano e de suas zonasergenas por um discurso ideolgico [...] e uma viragem na forma deconceituar, experimentar e institucionalizar a natureza humana, umaviragem que, juntamente com outros desenvolvimentos, marcam atransio para a modernidade na Europa ocidental e setentrional.(HALPERIN, 1990, p. 25)

    Robert Padgug (1979), um dos autores nos quais Halperinse baseia para interpretar a categoria sexualidade, analisa aconexo entre a moderna interpretao da sexualidade, enquanto

    um domnio autnomo, e a construo moderna das identidadessexuais. Esse autor diz que

    A pressuposio mais comum sobre a sexualidade a de que ela uma categoria separada da existncia (como a ecomomia ou oestado, outras esferas da realidade supostamente independentes),quase idntica com a esfera da vida privada. Tal viso localiza asexualidade, como uma essncia fixa, dentro do indivduo [...] levan-do a uma variedade de determinismos psicolgicos e, muitas vezes,tambm, a um determinismo biolgico. O efeito disso elevar ascategorias sexuais contemporneas condio de categorias uni-versais, estticas e permanentes, apropriadas para a anlise de to-

    dos os seres humanos e de todas as sociedades. (PADGUG apudHALPERIN, 1990, cap. 1, nota 49).

    Um dos grandes avanos da abordagem construcionista foijustamente o de detectar, analisar e denunciar esses determinismosaparentes ao afirmar e demonstrar o convencionalismo cultural daesfera da sexualidade na constituio da modernidade.

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    Halperin afirma que o estudo da vida sexual na antiguidadetorna mais visvel o comprometimento cultural implicado na cate-goria sexualidade e suas subcategorias (homossexualidade eheterossexualidade), o que permite a ele concluir que essas ca-tegorias so formas de vida ertica relativamente recentes e alta-mente determinadas pela cultura moderna. Portanto, tais identida-des sexuais no so vlidas para todos os seres humanos em

    todos os tempos e lugares, mas modos peculiares e excepcionaisde conceituar e de experimentar desejos erticos.A anlise da historiografia e da literatura referentes ao

    homoerotismo ateniense clssico de sua multiplicidade deabordagens, das imagens deste homoerotismogeradas no seucurso e das relaes entre estas imagens e o debate em tornoda construo da identidade homossexual no mundo moderno poder ser feita tendo-se como fundamentao terico-metodolgica o campo das Culturas Polticas (BERSTEIN, 1998).

    Julgo que este objeto de pesquisa transita na fronteira emque se cruzam a histria cultural e a histria poltica. E o fatode no tratar aqui nesta anlise de uma cultura poltica consti-tuda, no torna impertinente, neste caso, o uso deste campoterico-metodolgico, pois o que afirma Berstein a respeito daecologia e da corrente feminista, pode ser aplicadologicamente homossexualidade, isto , so as novas cor-rentes surgidas no campo do poltico, embora no possua, cadaqual, cultura poltica constituda.

    Portanto, embora no possua uma cultura poltica constitu-da, a homossexualidade toca o poltico. Tem que toc-lo, na medi-da em que, o homossexual, surgindo como sujeito especfico, comuma novidade idiossincrtica, no plano das sociedades modernas,quer se afirmar enquanto um elemento social na luta pelos seus

    direitos civis, sociais e polticos. E a expanso de uma tal expres-so social caminha integrada no jogo poltico da democracia, apoi-ando-se nele e por meio dele, e em muitos casos, assumindo umapostura comumente identificada como de esquerda, para aefetivao de suas conquistas em direo justia social, cida-dania e integrao (ou no) na sociedade.

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    Que o cultural prepara o terreno do poltico aparece desde jcomo uma evidncia de que alguns retiraram estratgias.(BERSTEIN, 1998, p. 357). Procurando um possvel vetor peloqual passa a integrao de uma cultura (subcultura?) que toca opoltico, como acredito que seja o caso da expresso da homos-sexualidade, aposto na longa historiografia que tenta traduzir paraa modernidade o fenmeno da relao homoertica dos antigos

    gregos, fazendo deste fenmeno uma espcie de espelho no qualdeve refletir modelos e contra-modelos histricos, que podem setornar ou artefatos para usos polticos ou referncias iluminadoraspara se pensar e exprimir a homossexualidade em seu locusori-ginal, a modernidade.

    Pode-se estabelecer como ponto de partida do movimento que,doravante, colocar a homossexualidade num embate poltico con-tra a sua represso e na concomitante busca de sua identidade apassagem do sculo XIX para o XX, momento em que ocorrem per-seguies e procedimentos jurdicos, tais como o processoEulemberg, em 1907, na Alemanha; o processo Oscar Wilde, em1895, na Inglaterra, e os inquritos contra a homossexualidade namarinha dos Estados Unidos a partir de 1919. Inicia-se, ento, nesteperodo, um procedimento de patologizao da homossexualidade,com grande nfase na sua abordagem clnica, considerada cientfi-ca. Dois vetores despontam. O primeiro, favorvel homossexua-lidade, na Alemanha, tendo Magnus Hirschfeld (1868-1925) frente,culminou na criao do Instituto de Promoo Humanitria, em 1897,em Berlim, e no jornal Der Eigene, primeiro peridico voltado exclu-sivamente para um pblico homossexual. Esse grupo de simpati-zantes, valendo-se largamente do clima permissivo da cidade deBerlim sob a Repblica de Weimar (1919-1933), elaborou um com-plexo sistema de interpretaes e, principalmente, de interveno

    social na defesa de homossexuais. Mas, dividido por querelasinterpretativas sobre a natureza da homossexualidade e dos diver-sos modos de vidados homossexuais, o movimento deu origem atrs grupos distintos, um dos quais, os cultores do amor grego, ouVnus urnia, voltados para o culto, platnico ou no, de jovens eadolescentes (os efebos). No segundo vetor, passava-se da ca-

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    racterizao moral (a condenao como depravao e pecado) paraa busca de uma causa mdica da homossexualidade fsica oupsquica e sua conseqente cura ou controle, at a suaexterminao fsica (uma abordagem cientificista da homossexuali-dade). Nesta teoria, formulou-se a tese bsica do trauma original: aseduo e o intercurso homossexual, enquanto primeira experin-cia sexual do indivduo, marcariam para todo o sempre o seu com-

    portamento, originando-se, no trauma inicial, a homossexualidade.Num clima poltico que misturava eugenismo, nacionalismo e racis-mo, a tese justificou inmeros procedimentos de normalizao, umavigilncia redobrada sobre os meninos e os que tivessem acesso aeles, desencadeou uma represso policial nas dcadas subseqen-tes e o pnico devido possvel propagao dos homossexuais nasociedade. Assim, a homossexualidade foi definida como ameaaao Estado e ao bem-estar da comunidade nacional, devendo sercontrolada ou exterminada (SILVA, 2000, p. 239-240).

    Para este perodo, podemos pensar em duas ordens de fon-tes: as obras de Oscar Wilde, principalmente, talvez, O Retratode Dorian Gray(WILDE, 2000),e as referncias aos cultores doamor grego do Crculo de Berlim.

    A partir da dcada de 1920, o Fascismo viu-se para efeitode credibilidade obrigado a eliminar de suas fileiras os homos-sexuais, ainda que, desde as suas origens, o movimento fascistase identificasse com organizaes que mantinham algum tipo devnculo ou utopia homossexual, de ntido carter falocrata emisgino. O efebismo filo-helnico e o virilismo, com seu elogiocaricato aos aspectos visuais mais marcantes da masculinida-de, chegando-se mesmo construo de um tipo, o homem fas-cista, como um cabide de caracteres sexuais masculinos exa-cerbados, acabaram por ter guarida nas fileiras fascistas. A am-

    bigidade gritante: com o rompimento entre Hitler e Ernst Rhm,deu-se a execuo de inmeros lderes nazistas das SA na cha-mada Noite das Longas Facas. Uso medonho do efebismopelaesttica e moral nazi-fascistas. A partir deste episdio, a homosse-xualidade ser alada ao nvel de preocupao permanente do Es-tado nazista. Descrente dos mtodos mdicos, embora prossiga

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    com cruis pesquisas mdicas, como na clnica Virchow e noscampos de concentrao, o nazismo ir iniciar uma terrvel cam-panha de extermnio, dirigida pela Gestapo e pelas SS, sob o co-mando, em especial, de Heinrich Himmler. Embora tenha procura-do exterminar da sociedade e de suas fileiras a homossexuali-dade, o fascismo manteve uma profunda ambigidade at o seufinal, gerada em boa parte na cultura machista, misgina e falocrata

    das associaes masculinas do perodo weimariano: a estticafascista valoriza um poderoso vis virilista e falocrata expresso naescultura, na pintura ou mesmo na literatura (SILVA, 2000).

    No ps-guerra surge uma outra tentativa de descrever a ho-mossexualidade, retomando-se agora Freud. Nesta perspectiva,a homossexualidade comeou a ser tratada como desvio e nomais como doena. Portanto, duas correntes desenvolveram-se neste perodo: um grupo voltado para a cura e um grupo inte-ressado no alvio da dor psquica decorrente da inadequao en-tre preferncia sexual e cultura (SILVA, 2000).

    Principalmente a partir da dcada de 1940, um longo e ricodebate sobre o homoerotismo ateniense clssico permeou ahistoriografia da sexualidade. Podemos encontrar em sua cons-truo diversas abordagens, com mltiplos propsitos. No finaldo sculo XX delineiam-se duas abordagens principais: oessencialismo e o construcionismo.

    Desde Henri-Irene Marrou, na dcada de 1940, passandopor Werner Jaeger, Felix Buffire, Kenneth J. Dover, MichelFoucault, Bernard Sergent, John Boswell, Paul Veyne, CatherineSalles, Jacques Mazel, Claude Calame, Jan Bremmer, entre ou-tros, at a constituio da abordagem construcionista (DAVIDM. HALPERIN, JOHN J. WINKLER, JEAN-PIERRE VERNANT,NICOLE LORAUX) e as recentes teses de Martin F. Kilmer e de

    Keith DeVries, ainda na dcada de 1990, o caminho longo eamplo em debates.

    Em sua obra Histria da Educao na Antiguidadeda d-cada de 1940, Marrou manteve uma abordagem prudente eembaraosa no que diz respeito a esse aspecto do helenismo.Ele negou para a relao Erastes/Eromenosqualquer carter

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    ertico, reduzindo-a, a despeito dos textos e das imagens, auma camaradagem masculina, militar ou pedaggica, que so-mente condies excepcionais e a fraqueza da carne podiamtransformar num corpo-a-corpo ilcito (SARTRE, 1999, p. 5).Naquele momento, como vimos, poca de extraordinrioautoritarismo e extremado conservadorismo, fortes interdiespesavam sobre a homossexualidade no mundo ocidental, jus-

    tificando, em parte, a superficialidade das anlises e as con-cepes de Marrou.A situao permaneceu assim at a liberalizao dos costu-

    mes, nos Estados Unidos e na Europa, nos anos 1960/70, pero-do em que se inicia uma reviso radical dos conhecimentos edas concepes sobre o homoerotismoateniense clssico.

    Entre 1967 e 1969, em cidades como Nova Iorque, Ams-terd ou Berlim, ocorre uma revolta libertria por parte dos ho-mossexuais, transformada em grande parte em uma revolu-o comportamental, contra o preconceito e a represso. As-sumia-se a condio homossexual como um desafio polticoperante a famlia e o Estado, identificados com a repressosocial. O uso do corpo assumia as feies de uma arma con-tra a ordem. Em 26 de junho de 1969, ocorre o episdio daChristoph Street, no Greenwich Village, em Nova Iorque, queacaba por originar a parada do orgulho gay. Neste dia, a polciade Nova Iorque invade o Stonewall In, um Queer Bar, um barmisto com grande freqncia de trabalhadores pobres, inclu-sive latinos, gays e travestis. Aps as habituais humilhaes,o pblico reage e degenera em luta de rua, com importanteparticipao dos travestis. Depois de vrios dias de luta nasruas de Greenwich Village homossexuais resolvem organizaruma luta permanente contra o preconceito e a humilhao.

    Neste processo, gays, mulheres e negros caminharam juntos,assumindo uma postura de esquerda (SILVA, 2000).

    Foi nesse clima que Buffire efetuou uma anlise [...] de umaabundante poesia ertica masculina pouco equvoca em suas des-cries e muito precisa quanto evocao do prazer dos amantes(SARTRE, 1999, p. 5) no seu Eros adolescent: la pdrastie dans la

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    Grce antique.Dover, em sua obraA Homossexualidade na GrciaAntiga, fez um grande estudo lexical e iconogrfico, da prostituiomasculina e da legislao na Atenas clssica, evidenciando a realamplitude das relaes erticas entre homens.

    Assim caa um tabu implcito, pois Kenneth Dover sublinhava aomesmo tempo a freqncia do fenmeno pederstico e a dimensosexual das relaes amorosas, que iam alm da amizade viril de

    companheiros de caserna ou do vnculo privilegiado de ordem peda-ggica, mais espiritual que carnal. (SARTRE, 1999, p. 5).

    Faltava ainda, no entanto, uma anlise que explicasse ohomoerotismo ateniense clssico, j que tanto Dover quantoBuffire concentraram-se muito mais nas descries que nasexplicaes ou anlises do fenmeno. Na seqncia, o estudode Sergent, Homosexuality in greek mithque analisou os mitosgregos e textos histricos quase etnogrficos relativos a Creta,Esparta, Atenas, mas tambm aos celtas, germanos e irania-nos, mostrou que as prticas evocadas por estes textos inse-

    rem-se nos ritos de passagem, que marcam a integrao dosjovens sociedade dos adultos. A questo que, embora Sergentno reduzisse a homossexualidade exclusivamente funoritual prticas de excluso e de marginalizao, seguidas deinverso dos papis usuais e, enfim, de reintegrao no grupo suas concluses pareciam levar, quase que inevitavelmente, apensar que a codificao do rito inicitico primitivo fundava alegitimidade da prtica ertica concomitante ao rito, o que redu-zia enormemente o fenmeno, ao considerar apenas uma desuas facetas (SARTRE, 1999).

    Boswell, um dos maiores adversrios da tese de Sergent, veio

    tona com a sua obra Christianity, Social Tolerance and Homosexuality:Gay people in Western Europe from the Beginning of the Christian Erato the Fourteenth Century,demonstrando a generalizao da homos-sexualidade no meio dos clrigos e dos bispos dos primeiros sculosda Idade Mdia e que a condenao crist no encontrava justificaonas escrituras sagradas (SARTRE, 1999).

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    Os argumentos de Boswell, que fundam a legitimidade de umahomossexualidade que s teria sido atacada a partir do triunfo dasidias de Toms de Aquino, remetem-no claramente para umenfoque essencialista. Segundo este autor, a heterossexualidadee a homossexualidade so essncias do ser humano, indepen-dentemente de sociedade e cultura. Assim, vendo a homossexu-alidade entre os antigos, pagos e cristos, parecia que Boswell

    [...] preocupava-se mais em buscar na Antiguidade argumentospara alimentar os debates atuais do que em compreender poreles mesmos os comportamentos dos gregos e, de maneira maisgeral, dos antigos (SARTRE, 1999, p. 5).

    A dcada de 1980 foi um momento de crescimento doconservadorismo, especialmente aps a eleio de M. Thatcher(1979) na Inglaterra e Ronald Reagan (1981) nos Estados Uni-dos e com o incio do pontificado de Joo Paulo II (1978). Tam-bm esta a dcada em que surgem a Aids e todos os proble-mas morais em que ela implicou. A plataforma conservadora deambos os polticos principalmente no tocante educao eservios pblicos de sade, assim como no apoio a atividadesculturais muitas vezes levou a um enfrentamento direto com omovimento social oriundo de 1968, particularmente sobre pon-tos relativos ao livre exerccio do aborto e ao reconhecimentocivil da parceria homossexual. O conservadorismo social e adescrena na ao educativa do Estado, em especial contra opreconceito, permitem o avano de um cientificismo totalmentedesprovido de qualquer base e capaz de forjar comportamen-tos clnicos altamente duvidosos. Surge um novo clima depatologizao da homossexualidade, recusando-se a aceitarqualquer possibilidade explicativa baseada em dados culturais.Nessa viso, a homossexualidade teria origem orgnica e esta-

    ria muito possivelmente inscrita no cdigo gentico das pesso-as, sendo possvel mesmo identific-la e, quem sabe, cur-laou extermin-la (SILVA, 2000, p. 243).

    Foi tambm na dcada de 1980, e contra a mar conserva-dora que ela trouxe, que vrios autores colaboraram para a cria-o do Construcionismo. O enfoque essencialista ser radicalmente

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    criticado pela abordagem construcionista. A interpretaoconstrucionista afirma que as experincias sexuais so construesculturais, isto , em cada sociedade essas experincias soestruturadas de uma forma especfica. Portanto, elas so con-sideradas categorias histricas, e no categorias universaisou naturais.

    Segundo a abordagem construcionista, as experincias e as

    identidades sexuais na modernidade ocidental so estruturadaspela sexualidade, enquanto um campo discursivo autnomo,construdo por essa mesma modernidade, que interpreta e organi-za as experincias e as identidades sexuais na medida que cons-titui e individualiza o ser no nvel do ser sexual. Diferentemente desexo, que um fato natural, sexualidade uma construo cultu-ral. Ela representa a apropriao do corpo humana e de suas zo-nas ergenas por meio de um discurso ideolgico.

    As imagens do homoerotismo construdas ao longo destahistoriografia desencadearam tenses e debates polticos, emparte implcitos e em parte explcitos na prpria escrita de cadaobra, na sucesso delas e no dilogo entre elas, e fundamental-mente no dilogo entre elas e o establishment. Vimos acima, attulo de exemplos, primeiro, a militncia de Boswell e as crticasdeste autor ao reducionismo de Sergent, que na avaliao deBoswell, reduzia as relaes homoerticas entre os antigos, con-sideradas por ambos como homossexuais, a um rito inicitico.Depois, as crticas do construcionismo, abordagem que recusaas categorias de anlise homossexualidade, heterossexualidadee sexualidade para a Grcia antiga, s teses de Boswell. Estamoslidando com o uso de argumentos histricos como instrumentospolticos. Isto , estamos lidando, em muitos casos, no apenascom mudanas tericas e metodolgicas, mas, tambm, com

    mudanas ideolgicas e os usos polticos delas. No estaramostambm lidando com invenes de tradies?

    Em outras palavras, possvel verificar, no desenrolar destahistoriografia, um debate poltico contemporneo sobre os direi-tos de cidadania dos homossexuais, a construo da identidadehomossexual e a visibilidade da homossexualidade no plano da

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    democracia vigente. Considero que [...] o agente racional huma-no que tenha adquirido conscincia histrica (fundamentadaargumentativa, discursivamente) dispe de elevado grau de pro-babilidade de influir sobre a orientao pessoal e social do agir(MARTINS, 2002, p. 18).

    Por um lado, considero importante discutir cada obrahistoriogrfica e literria como produo de seu tempo, investigan-

    do o uso que se fez do fenmeno grego em cada ambiente polticoe cultural. Por outro, ser necessrio estabelecer uma linha decongruncia, de dilogos entre as discusses possveis nestasobras e o movimento que quer colocar/liberar/integrar na socieda-de, por meio de um comportamento ou ao poltica, um novo atorsocial: o homossexual. Certamente, poderemos verificar nestainterao, entre o moderno e o antigo, relaes de franco apoio,precedncia, continuidade, militncia, ambigidade, repdio, co-nhecimento histrico e esclarecimento terico. Trata-se da investi-gao de um aspecto do helenismo na modernidade.

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