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SUMÁRIO 1 - JOSUÉ...................................................................................................................2

1.1. CONTEÚDO DO LIVRO .................................................................................................3 1.2. IMPORTÂNCIA DO LIVRO DE JOSUÉ PARA NOSSOS DIAS...................................................5

2 - JUÍZES..................................................................................................................6

2.1. CONTEÚDO DO LIVRO .................................................................................................7 2.2. IMPORTÂNCIA DO LIVRO DE JUÍZES PARA OS NOSSOS DIAS............................................10

3 - RUTE ..................................................................................................................11

3.1. CONTEÚDO DO LIVRO ...............................................................................................11 3.2. IMPORTÂNCIA DO LIVRO DE RUTE PARA OS NOSSOS DIAS ..............................................13 3.3. RUTE E OS OUTROS LIVROS BÍBLICOS ........................................................................13

4 - I SAMUEL............................................................................................................14

4.1. CONTEÚDO DO LIVRO ...............................................................................................15 4.2. IMPORTÂNCIA DO LIVRO DE I SAMUEL PARA OS NOSSOS DIAS ........................................18

5 - II SAMUEL...........................................................................................................20

5.1. CONTEÚDO DO LIVRO ...............................................................................................20 5.2. IMPORTÂNCIA DO LIVRO DE II SAMUEL PARA OS NOSSOS DIAS .......................................24

6 - I REIS .................................................................................................................25

6.1. CONTEÚDO DO LIVRO ...............................................................................................26 6.2. IMPORTÂNCIA DO LIVRO DE I REIS PARA OS NOSSOS DIAS .............................................29

7 - II REIS ................................................................................................................30

7.1. CONTEÚDO DO LIVRO ...............................................................................................31 7.2. IMPORTÂNCIA DO LIVRO DE II REIS PARA OS NOSSOS DIAS ............................................35

8 - I CRÔNICAS ........................................................................................................36

8.1. CONTEÚDO DO LIVRO ...............................................................................................38 8.2. IMPORTÂNCIA DO LIVRO DE I CRÔNICAS PARA OS NOSSOS DIAS .....................................40

9 - II CRÔNICAS .......................................................................................................40

9.1. CONTEÚDO DO LIVRO ...............................................................................................41 9.2. IMPORTÂNCIA DO LIVRO DE II CRÔNICAS PARA OS NOSSOS DIAS ....................................46

10 - ESDRAS...........................................................................................................46

10.1. CONTEÚDO DO LIVRO ...............................................................................................47 10.2. IMPORTÂNCIA DO LIVRO DE ESDRAS PARA OS NOSSOS DIAS ..........................................48

11 - NEEMIAS.........................................................................................................49

11.1. CONTEÚDO DO LIVRO ...............................................................................................50 11.2. IMPORTÂNCIA DO LIVRO DE NEEMIAS PARA OS NOSSOS DIAS .........................................52

12 - ESTER.............................................................................................................52

12.1. CONTEÚDO DO LIVRO ...............................................................................................54 12.2. IMPORTÂNCIA DO LIVRO DE ESTER PARA OS NOSSOS DIAS ............................................55

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1 - JOSUÉ Escritor: incerto

Lugar da escrita: Canaã

Data: 1400 - 1375 a.C.

Os israelitas, acampados nas planícies de Moabe, estão prontos para entrar em Canaã, a Terra Prometida. O território do outro lado do Jordão é habitado por grande número de pequenos reinos, que possuem cada qual um exército. Estes reinos estão divididos entre si e enfraquecidos em razão dos muitos anos em que o Egito os dominou de modo corrupto. Contudo, para a nação de Israel, a oposição é forte. Se o país há de ser subjugado, será preciso tomar as muitas cidades fortificadas, tais como Jericó, Ai, Hazor e Laquis. Tempos difíceis estão à frente. É preciso travar e ganhar batalhas decisivas, com a ajuda do próprio Deus que realizará grandes milagres para seu povo, a fim de cumprir a sua promessa de o estabelecer nessa terra. Incontestavelmente, estes acontecimentos extraordinários, tão notáveis nos tratos de Deus com o seu povo, têm de ser assentados por escrito, e isso por uma testemunha ocular. Que homem poderia ser melhor para isso do que o próprio Josué, aquele que Deus designara qual sucessor de Moisés? (Nm 27:15-23).

Deus escolheu Josué como líder dos acontecimentos prestes a ocorrer. Durante os 40 anos passados no ermo, ele foi íntimo colaborador de Moisés. Tem sido “ministro de Moisés desde a sua idade viril”, o que mostra sua aptidão como líder espiritual e líder militar (Nm 11:28; Ex 24:13; 33:11; Js 1:1). Quando Israel saiu do Egito, Josué era capitão dos exércitos de Israel, quando este derrotou os amalequitas (Ex 17:9-14). Na qualidade de companheiro leal de Moisés e valente comandante do exército, era a escolha lógica para representar a tribo de Efraim, quando se escolheu um homem de cada tribo para a perigosa missão de espiar Canaã. A coragem e fidelidade que demonstrou nessa ocasião lhe asseguraram a entrada na Terra Prometida (Nm 13:8; 4:6-9, 30, 38). Sim, este Josué, filho de Num, é um “homem em quem há espírito”; um homem que ‘seguiu a Deus integralmente’, um homem “cheio do Espírito de sabedoria”. Não é de admirar que “Israel continuou a servir a Deus todos os dias de Josué” (Nm 27:18; 32:12; Dt 34:9; Js 24:31).

Josué não é personagem lendário, mas um servo de Deus, que realmente existiu. Seu nome é mencionado nas Escrituras Gregas Cristãs (At 7:45; Hb 4:8). É lógico dizer que, assim como Moisés foi usado para escrever sobre os eventos dos seus dias, seu sucessor, Josué, seria usado para escrever os acontecimentos que ele próprio presenciou. Que o livro foi escrito por alguém que presenciou os eventos, demonstra-se em Josué 6:25. A tradição judaica atribui a escrita a Josué, e o próprio livro declara: “Então escreveu Josué estas palavras no livro da lei de Deus.” (Js 24:26).

Na ocasião da destruição de Jericó, Josué proferiu uma maldição profética sobre os que reconstruíssem a cidade, que teve cumprimento notável uns 500 anos mais tarde, nos dias de Acabe, rei de Israel (Js 6:26; I Re 16:33, 34). Além do mais, a autenticidade do livro de Josué é confirmada pelas muitas referências que posteriores escritores da Bíblia fazem aos eventos relatados nele. Vez após vez, os salmistas se referem a estes (Sl 44:1-3; 78:54, 55; 105:42-45; 135:10-12; 136:17-22), assim como Neemias (Ne 9:22-25), Isaías (Is 28:21), o apóstolo Paulo (At 13:19; Hb11:30, 31) e o discípulo Tiago (Tg 2:25).

O livro de Josué abrange um período de mais de 20 anos, desde a entrada em Canaã até provavelmente ao ano em que Josué morreu. O próprio nome Josué (em hebraico: Yehoh·shú·a`), que significa “Deus É Salvação”, é perfeitamente adequado, em vista do papel que Josué como líder visível em Israel desempenhou durante a conquista do país. Ele atribuiu toda a glória a Deus, o Libertador. Na Septuaginta, o livro é chamado “I·e·soús” (o equivalente grego de Yehoh·shú·a`), e é desta palavra que se deriva o nome Jesus. Pelas suas excelentes qualidades de coragem, obediência e integridade, Josué foi realmente um maravilhoso tipo profético de “nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5:1).

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1.1. Conteúdo do Livro

O livro se divide de forma natural em quatro partes:

1. a entrada na Terra Prometida,

2. a conquista de Canaã,

3. a distribuição do país e

4. as exortações de despedida de Josué.

O relato inteiro é feito de modo vívido e está cheio de episódios dramáticos.

A. A Entrada na Terra Prometida (Josué 1:1–5:12). Sabendo de antemão as provações à frente, Deus de início encoraja a Josué e lhe dá bom conselho: “Somente sê corajoso e muito forte (...) Este livro da lei não se deve afastar da tua boca e tu o tens de ler em voz baixa dia e noite, para cuidar em fazer segundo tudo o que está escrito nele; pois então farás bem sucedido o teu caminho e então agirás sabiamente. Não te dei ordem? Sê corajoso e forte (...) pois o Senhor, teu Deus, está contigo onde quer que andares” (1:7-9). Josué atribui o crédito a Deus como o verdadeiro Líder e Comandante, e passa imediatamente a fazer os preparativos para a travessia do Jordão, segundo a ordem de Deus. Os israelitas o reconhecem como sucessor de Moisés e juram-lhe lealdade. Avante, pois, para a conquista de Canaã!

Dois homens são enviados para fazer reconhecimento de Jericó. Raabe, a meretriz, aproveita a oportunidade para mostrar sua fé em Deus, escondendo os espias e arriscando sua própria vida. Em troca, os espias juram que ela será poupada quando Jericó for destruída. Os espias retornam trazendo a informação de que todos os habitantes do país estão desalentados por causa dos israelitas. Sendo favorável o relatório, Josué avança imediatamente em direção ao rio Jordão, que se acha na época da cheia. É então que Deus dá uma prova tangível de que sustém a Josué e de que, assim como no tempo de Moisés, há um “Deus vivente” no meio de Israel (3:10). No momento em que os sacerdotes que carregam a arca do pacto põem os pés nas águas do Jordão, as águas a montante se encapelam, permitindo que os israelitas atravessem a pé enxuto. Josué toma 12 pedras do meio do rio como memorial, e coloca outras 12 pedras dentro do rio, onde os sacerdotes se acham de pé, após o que os sacerdotes atravessam o rio, e as águas retornam à cheia.

Tendo atravessado o rio, o povo acampa em Gilgal, entre o Jordão e Jericó, e ali Josué coloca as pedras memoriais como testemunho para as gerações futuras, ‘para que todos os povos da terra conheçam a mão de Deus, que ela é forte; a fim de que deveras temais ao Senhor, vosso Deus, para sempre’ (4:24). (Josué 10:15 indica que, depois disso, Gilgal foi usado, talvez, como acampamento de base por um bom tempo). É aqui que os filhos de Israel são circuncidados, pois não havia sido praticada a circuncisão durante a jornada no ermo. Celebra-se a Páscoa, cessa o maná e finalmente os israelitas começam a comer dos produtos da terra.

B. A conquista de Canaã (5:13–12:24). Agora, o primeiro objetivo se acha ao alcance deles. Mas como tomar esta “rigorosamente fechada”, murada, cidade de Jericó? (6:1). O próprio Deus dá os pormenores do proceder a seguir, enviando o “príncipe do exército de Deus” para instruir a Josué (5:14). Uma vez por dia, durante seis dias, os exércitos de Israel devem marchar em volta da cidade, estando à testa os guerreiros, seguidos dos sacerdotes que tocam as buzinas de corno de carneiro e de outros que carregam a arca do pacto. No sétimo dia, precisam fazer a volta sete vezes. Josué transmite fielmente as ordens ao povo. Exatamente como se lhes ordenou, os exércitos marcham em volta de Jericó. Não se profere nenhuma palavra. Não se ouve senão o barulho surdo de passos e o toque das buzinas pelos sacerdotes. Daí, no último dia, depois de se completar a sétima volta, Josué lhes dá o sinal para gritarem. Eles dão “um grande grito de guerra”, e as muralhas de Jericó ruem! (6:20). Todos juntos, lançam-se sobre a cidade, capturando-a e devotando-a à destruição pelo fogo. Somente a fiel Raabe e sua família são poupadas.

Agora rumo ao oeste, para Ai! A certeza de outra vitória fácil se transforma em terror, quando os homens de Ai desbaratam os 3.000 soldados israelitas enviados para capturar a cidade. O que acontecera? Será que Deus abandonara seu povo? Inquieto, Josué consulta a

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Deus. Deus revela que, contrário à sua ordem de destruir tudo o que havia em Jericó, alguém no acampamento desobedeceu, roubando algo e escondendo-o. Essa impureza precisa ser removida do acampamento antes que Israel possa continuar a prosperar com a bênção de Deus. Sob a orientação divina, Acã, o malfeitor, é descoberto, e ele e sua família são mortos a pedradas. Restabelecido o favor de Deus, os israelitas avançam contra Ai. O próprio Deus revela mais uma vez a estratégia a usar. Os homens de Ai são engodados a sair de sua cidade murada e descobrem que estão encurralados numa emboscada. A cidade é capturada e destruída, com todos os seus habitantes. (8:26-28) Não há transigência com o inimigo!

Josué edifica a seguir um altar no monte Ebal, em obediência à ordem de Deus por intermédio de Moisés, e escreve sobre as pedras “uma cópia da lei” (8:32). Depois, Josué lê as palavras da Lei, junto com a bênção e a maldição, perante a assembléia da inteira nação que está de pé, metade diante do monte Gerizim e a outra metade diante do monte Ebal (Dt 11:29; 27:1-13).

Diversos dos pequenos reinos de Canaã, alarmados com o progresso rápido da invasão, se unem no esforço de impedir o avanço de Josué. Mas, ‘os habitantes de Gibeão, ouvindo o que Josué havia feito a Jericó e a Ai, agem com astúcia’ (Js 9:3, 4). Fingem ser de um país distante de Canaã, e fazem um pacto com Josué “para deixá-los viver”. Quando os israelitas descobrem o ardil, respeitam o pacto, mas fazem dos gibeonitas “ajuntadores de lenha e tiradores de água”, quais ‘escravos mais baixos’, cumprindo-se assim em parte a maldição que Noé, sob inspiração divina, pronunciara contra Canaã, filho de Cã (Js 9:15, 27; Gn 9:25).

Essa deserção dos gibeonitas não é coisa insignificante, pois “Gibeão era uma cidade grande (...) maior do que Ai, e todos os seus homens eram poderosos” (Js 10:2). Adoni-Zedeque, rei de Jerusalém, vê nisso uma ameaça contra si mesmo e contra os demais reinos de Canaã. Tem de ser punido para servir de exemplo, a fim de que não haja mais deserção para o lado do inimigo. Portanto, Adoni-Zedeque e outros quatro reis (das cidades-reinos de Hébron, Jarmute, Laquis e Eglom) se organizam e guerreiam contra Gibeão. Josué, fiel a seu pacto com os gibeonitas, marcha a noite inteira para ir em socorro deles, e desbarata os exércitos dos cinco reis. Mais uma vez, Deus luta pelo seu povo, empregando poderes e sinais sobre-humanos, com resultados devastadores. Grandes pedras de saraiva caem do céu, matando mais inimigos do que as espadas do exército israelita. Daí, maravilha das maravilhas, ‘o sol fica parado no meio dos céus e não tem pressa em pôr-se por cerca de um dia inteiro’ (10:13). Assim, podem ser completadas as operações de limpeza. Os sábios do mundo talvez tentem desacreditar este acontecimento miraculoso, mas os homens de fé aceitam o relato divino, bem cientes do poder de Deus de controlar as forças do universo e de dirigi-las segundo a Sua vontade. Pois, com efeito, “o próprio Deus lutava por Israel” (10:14).

Josué, depois de matar os cinco reis, destrói a Maquedá. Indo rapidamente para o sul, destrói completamente a Libna, Laquis, Eglom, Hébron e Debir, cidades situadas nas montanhas e colinas entre o mar Salgado e o Grande Mar. As notícias sobre a invasão espalham-se então por todo o país de Canaã. No Norte, o alarme é dado por Jabim, rei de Hazor. A toda a parte, a ambos os lados do Jordão, ele envia mensageiros para convocar uma ação unida em massa contra os israelitas. Quando as forças reunidas do inimigo se acampam junto às águas de Merom, abaixo do monte Hermom, são uma “multidão como os grãos de areia que há à beira do mar” (11:4). Novamente Deus assegura a Josué a vitória e fornece o plano da estratégia da batalha. Qual o resultado? Mais uma derrota esmagadora para os inimigos do povo de Deus! Hazor é incendiada, e as cidades aliadas e seus reis são destruídos. Assim, Josué estende a área da dominação israelita por todo o comprimento e por toda a largura de Canaã. Trinta e um reis foram derrotados.

C. A Distribuição do País (13:1–22:34). Apesar dessas muitas vitórias, destruição das muitas cidades principais fortificadas e fim da resistência organizada por algum tempo, “em uma parte muito grande ainda resta de se tomar posse do país” (13:1). Mas, Josué já está com quase 80 anos, e outro trabalho grande ainda resta a fazer — o da distribuição do país por herança entre nove tribos inteiras e a meia tribo de Manassés. Rubem, Gade e metade da tribo de Manassés já receberam a sua herança ao leste do Jordão, e a tribo de Levi não receberá nenhuma, sendo a sua herança “o Senhor Deus, o Deus de Israel” (13:33). Com a

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ajuda do sacerdote Eleazar, Josué faz então as designações do lado oeste do Jordão. Calebe, com 85 anos de idade, sempre com o mesmo zelo para lutar contra os inimigos de Deus até o fim, solicita Hébron, uma região infestada de anaquins, o que lhe é concedido (14:12-15).Depois de as tribos receberem as suas heranças por sorte, Josué solicita a cidade de Timnate-Sera, nos montes de Efraim, e isto lhe é concedido “por ordem de Deus” (19:50). A tenda da reunião é armada em Silo, que também fica na região montanhosa de Efraim.

Seis cidades de refúgio são reservadas, três de cada lado do Jordão, para o homicida não intencional. As ao oeste do Jordão são Quedes, na Galiléia; Siquém, em Efraim; e Hébron, no território montanhoso de Judá. As ao leste são Bezer, no território de Rubem; Ramote, em Gileade; e Golã, em Basã. Deu-se a estas “categoria sagrada” (20:7). Quarenta e oito cidades, com seus pastos, das que foram dadas a cada tribo, são designadas por sorte como cidades de residência para os levitas. Essas incluem as seis cidades de refúgio. Dessa forma, Israel ‘passou a tomar posse da terra e a morar nela’. Como Deus prometera, “tudo se cumpriu” (21:43, 45).

Os guerreiros das tribos de Rubem, de Gade e da meia tribo de Manassés, que continuaram com Josué até este tempo, voltam agora para as suas heranças, do outro lado do Jordão, levando consigo a exortação de serem fiéis e a bênção de Josué. A caminho, ao chegarem perto do Jordão, erigem um grande altar. Isto provoca uma crise. Visto que o lugar designado para a adoração de Deus é a tenda de reunião, em Silo, as tribos do oeste temem traição e deslealdade, e preparam-se para lutar contra os supostos rebeldes. Entretanto, evita-se o derramamento de sangue, quando se explica que o altar não é para sacrifícios, mas apenas para servir de “testemunha entre nós [os israelitas ao leste e ao oeste do Jordão] de que o Senhor Deus é o verdadeiro Deus” (22:34).

D. Exortações de Despedida de Josué (23:1–24:33). “E sucede, muitos dias depois de Deus ter dado a Israel descanso de todos os seus inimigos ao redor, sendo Josué já idoso e avançado em dias”, que ele convoca todo o Israel para dar inspiradas exortações de despedida (23:1). Humilde até o fim, ele atribui a Deus todo o crédito das grandes vitórias sobre as nações. Que todos continuem agora a ser fiéis! “Tendes de ser muito corajosos para guardar e fazer tudo o que está escrito no livro da lei de Moisés, nunca vos desviando dele nem para a direita nem para a esquerda” (23:6). Precisam evitar os deuses falsos, e ‘guardar constantemente as suas almas, amando ao Senhor, seu Deus’ (23:11). Não pode haver transigência com os cananeus remanescentes ali, nem casamento nem alianças de interconfessionalismo com eles, pois isto provocaria a ira ardente de Deus contra eles.

Reunindo todas as tribos em Siquém, e convocando os respectivos representantes delas perante Deus, Josué passa a fazer a narrativa pessoal de Deus sobre seus tratos com seu povo desde o momento em que chamou a Abraão e o conduziu a Canaã até a conquista e a ocupação da Terra da Promessa. Novamente Josué adverte contra a religião falsa, exortando Israel a ‘temer a Deus e servi-lo sem defeito e em verdade’. Sim: “servi a Deus”! A seguir, ele lhes apresenta o assunto com a máxima clareza: “Escolhei hoje para vós a quem servireis, se aos deuses a quem serviram os vossos antepassados (...) ou aos deuses dos amorreus em cuja terra morais. Mas, quanto a mim e aos da minha casa, serviremos a Deus.” Com convicção que faz lembrar a de Moisés, Josué relembra Israel que o Senhor “é um Deus santo; ele é um Deus que exige devoção exclusiva”. Portanto, abaixo os deuses estranhos! Então, o povo fica entusiasmado a declarar à uma só voz: “Ao Senhor, nosso Deus, serviremos, e a sua voz escutaremos!” (24:14, 15, 19, 24). Antes de os despedir, Josué faz um pacto com eles, escreve essas palavras no livro da lei de Deus e coloca uma grande pedra para servir de testemunho. Daí, Josué morre em idade avançada, com 110 anos, e é enterrado em Timnate-Sera.

1.2. Importância do Livro de Josué Para Nossos Dias

Ao ler as exortações de despedida de Josué relativas ao serviço fiel, não vibra seu coração? Não endossa as palavras que Josué proferiu há mais de 3.400 anos: “Quanto a mim e aos da minha casa, serviremos a Deus”? Ou, se estiver servindo a Deus em condições difíceis ou isolado de outros fiéis, não se sente inspirado com as palavras de Deus dirigidas a Josué no início da marcha para a Terra da Promessa: “Sê corajoso e muito forte”? Além do mais, não acha que é de inestimável proveito seguir o Seu conselho de ‘ler [a Bíblia] em voz

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baixa, dia e noite, para fazer bem sucedido o seu caminho’? Certamente, todos os que seguem estes conselhos sábios os acharão notavelmente proveitosos (24:15; 1:7-9).

Os eventos, descritos tão vividamente no livro de Josué, são mais do que mera história antiga. Destacam os princípios divinos — acima de tudo sublinham que a fé implícita em Deus e a obediência a Ele são vitais para a obtenção das bênçãos dÊle. O autor da carta aos hebreus, conta que pela fé “caíram os muros de Jericó, depois de terem sido rodeados por sete dias”, e que, pela fé, “Raabe, a meretriz, não pereceu com os que agiram desobedientemente” (Hb 11:30, 31). Tiago menciona igualmente a Raabe como exemplo útil para os cristãos quanto a produzir obras de fé (Tg 2:24-26).

Os eventos incomuns e sobrenaturais, relatados em Josué 10:10-14, onde se diz que o sol se deteve e a lua ficou parada, bem como os muitos outros milagres que Deus realizou para seu povo, são poderosos lembretes de que o propósito de Deus é exterminar definitivamente todos os iníquos oponentes de Deus, e que Ele tem poder para isso. Isaías relaciona a cena das batalhas de Gibeão, tanto na época de Josué como na de Davi, com Deus levantar-se agitado para tal extermínio, “para fazer o seu ato - seu ato é estranho - e para executar a sua obra - sua obra é incomum” (Is 28:21, 22).

Apontam os acontecimentos narrados no livro de Josué para o Reino de Deus? Certamente que sim! Que a conquista e o povoamento da Terra Prometida têm a ver com algo de muito maior importância, foi indicado pelo autor da carta aos hebreus, que disse: “Pois, se Josué os tivesse conduzido a um lugar de descanso, Deus não teria depois falado de outro dia. De modo que resta um descanso sabático para o povo de Deus.” (Hb 4:1, 8, 9). Eles fazem empenho para assegurar a sua “entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (II Pd 1:10, 11). Segundo indicado em Mateus 1:5, Raabe se tornou uma antepassada de Jesus Cristo. O livro de Josué fornece, pois, na narrativa, outro elo importante que conduz à produção da Semente do Reino. Esse livro dá a firme segurança de que as promessas do Reino de Deus se cumprirão ao pé da letra. Falando da promessa de Deus feita a Abraão, a Isaque e a Jacó, e a seus descendentes, os israelitas, o relato diz concernente aos dias de Josué: “Não falhou nem uma única de todas as boas promessas que Deus fizera à casa de Israel; tudo se cumpriu” (Js 21:45; Gn 13:14-17). O mesmo se dá com a “boa promessa” de Deus relativa ao justo Reino dos céus — tudo se cumprirá!

2 - JUÍZES Escritor: desconhecido

Lugar da Escrita: Israel

Data: entre 1050 e 1000 a.C.

Eis uma página da história de Israel cheia de ação, que mostra o povo ora envolvido com a religião demoníaca e as conseqüências desastrosas, ora arrependido e misericordiosamente libertado por Deus, por meio de juizes divinamente nomeados. As poderosas obras de Otniel, Eúde, Sangar e os outros juizes que os seguiram inspiram fé. Conforme disse o escritor de Hebreus: “O tempo me faltaria se prosseguisse relatando sobre Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, (...) os quais, pela fé, derrotaram reinos, puseram em execução a justiça, (...) dum estado fraco foram feitos poderosos, tornaram-se valentes na guerra, desbarataram os exércitos de estrangeiros” (Hb 11:32-34). Para completar a lista dos 12 juizes fiéis desse período, mencionamos também Tola, Jair, Ibsã, Elom e Abdom. (Samuel geralmente não é contado entre os juizes.) Deus combatia pelos juizes, e Seu Espírito os envolvia ao passo que executavam seus atos de bravura. Eles atribuíam todo o crédito e toda a glória ao seu Deus.

Na Septuaginta, o livro é chamado de "Kri·taí", e na Bíblia hebraica é "Sho·fetím", que, traduzido, é “Juizes”. Sho·fetím deriva-se do verbo "sha·fát", que significa “julgar, vindicar, punir, governar”, o que expressa bem a função destes homens nomeados teocraticamente por “Deus, o Juiz de todos” (Hb 12:23). Deus suscitou esses homens em determinadas ocasiões para libertar seu povo do jugo estrangeiro.

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Que período abrange o livro de Juizes? Pode-se calcular isto tomando por base 1 Reis 6:1, que diz que Salomão começou a edificar a casa de Deus no quarto ano de seu reinado, que era também o “quadringentésimo octogésimo ano depois da saída dos filhos de Israel da terra do Egito”. (“Quadringentésimo octogésimo” é um número ordinal que representa 479 anos inteiros). Os conhecidos períodos incluídos nos 479 anos são: 40 anos no ermo, sob a liderança de Moisés (Dt 8:2), 40 anos do reinado de Saul (At 13:21), 40 anos do reinado de Davi (II Sm 5:4, 5) e os 3 primeiros anos inteiros do reinado de Salomão. Subtraindo este total de 123 anos dos 479 anos, de 1 Reis 6:1, obtemos o resultado de 356 anos, que abrangem o período entre a entrada de Israel em Canaã e o início do reinado de Saul. Os eventos relatados no livro de Juizes, que ocorreram em grande parte desde a morte de Josué até o tempo de Samuel, abrangem cerca de 330 anos deste período de 356 anos.

A autenticidade de Juizes é incontestável. Os judeus sempre o aceitaram como parte do cânon da Bíblia. Tanto os escritores das Escrituras Hebraicas como os das Gregas Cristãs fazem alusão a esse relato, como em Salmo 83:9-18; Isaías 9:4; 10:26 e Hebreus 11:32-34. Usando de toda a franqueza, o livro não esconde as faltas e as reincidências por parte de Israel, exaltando ao mesmo tempo a infinita benevolência de Deus. É o Senhor Deus , e não um mero juiz humano, que é glorificado como Libertador de Israel.

Ademais, as descobertas arqueológicas confirmam a genuinidade de Juizes. Bem surpreendentes são as descobertas arqueológicas sobre a natureza da religião de Baal praticada pelos cananeus. Fora as referências na Bíblia, pouco se sabia sobre o baalismo até 1929, quando se escavou a antiga cidade cananéia de Ugarit (a moderna Ras Xamra, na costa síria, defronte da ponta nordeste da ilha de Chipre). Foi revelado aqui que a religião de Baal se caracterizava pelo materialismo, extremo nacionalismo e adoração do sexo. Cada cidade cananéia tinha evidentemente seu santuário de Baal, bem como capelas conhecidas como os altos. Dentro dessas capelas, havia provavelmente imagens de Baal, e, perto dos altares, do lado de fora, encontravam-se colunas de pedra talvez símbolos fálicos de Baal. Detestáveis sacrifícios humanos manchavam de sangue estes santuários. Quando os israelitas ficaram contaminados com o baalismo, ofereceram da mesma forma seus filhos e suas filhas (Jr 32:35) Havia um poste sagrado que representava a mãe de Baal, Axerá. A deusa da fertilidade, Astorete, esposa de Baal, era adorada por meio de licenciosos ritos sexuais, sendo mantidos tanto homens como mulheres como “consagrados” prostitutos do templo. Não é de admirar que Deus ordenasse o extermínio do baalismo e de seus aderentes bestiais. “Teu olho não deve ter dó deles; e não deves servir aos seus deuses” (Dt 7:16).

2.1. Conteúdo do Livro

O livro se divide logicamente em três partes. Os dois capítulos 1 e 2 iniciais descrevem as condições que existiam naquela época em Israel. Os capítulos 3 a 16 falam das libertações por parte dos 12 juizes. Os capítulos 17 a 21 descrevem, em seguida, incidentes das lutas internas em Israel.

A. Condições em Israel no Tempo dos Juizes (1:1-2:23). As tribos de Israel são descritas à medida que se dispersam para se estabelecerem nos seus respectivos territórios designados. Mas, em vez de expulsarem totalmente os cananeus, os israelitas submetem muitos desses a trabalhos forçados, permitindo que residam entre eles. Em conseqüência disso, o anjo de Deus declara: “Pelo que também eu disse: Não os expelirei de diante de vós; antes, estarão às vossas costas, e os seus deuses vos serão por laço” (2:3). Assim, quando surge uma nova geração que não conhece a Deus nem as obras realizadas por ele, o povo logo abandona a Deus para servir aos Baalins e a outros deuses. Visto que a mão de Deus está contra ele para calamidade, vem a estar em “sério aperto”. Em virtude de sua obstinação e recusa de ouvir mesmo aos juizes, Deus não expulsa nenhuma das nações que ele deixou para provar Israel. Este fundo histórico nos será de ajuda para entendermos os eventos subseqüentes (2:15).

B. O juiz Otniel (3:1-11). Angustiados por causa de seu cativeiro às mãos dos cananeus, os filhos de Israel começam a invocar a Deus em busca de socorro. Ele suscita primeiro a Otniel qual juiz. Julga Otniel mediante poder e sabedoria humana? Não, pois lemos: “Então veio sobre ele o Espírito de Deus”, para subjugar os inimigos de Israel. “Depois o país teve sossego por quarenta anos” (3:10, 11)

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C. O juiz Eúde (3:12-30). Depois de os filhos de Israel terem sido subjugados por 18 anos a Eglom, rei de Moabe, clamam a Deus que ouve outra vez as suas súplicas e suscita o juiz Eúde. Tendo conseguido uma audiência particular com o rei, o canhoto Eúde saca de sua espada caseira escondida na sua vestimenta e crava-a profundamente no ventre gordo de Eglom, matando-o. Israel se junta imediatamente a Eúde na luta contra Moabe, e o país goza outra vez do descanso que Deus lhe concede, por 80 anos.

D. O juiz Sangar (3:31). Sangar salva a Israel, abatendo 600 filisteus. Que a vitória se deve ao poder de Deus, indica-se mediante a arma que emprega uma simples aguilhada de gado.

E. O juiz Baraque (4:1-5:31). Depois, Israel cai sob o jugo do rei cananeu, Jabim, e de Sísera, seu chefe de exército, que se jacta de seus 900 carros munidos de foices de ferro. Israel clama de novo a Deus que o escuta e suscita o juiz Baraque, eficazmente ajudado pela profetisa Débora. Para que Baraque e seu exército não tenham motivo para se jactar, Débora dá a conhecer que a batalha será travada por orientação de Deus, e passa a profetizar: “Será à mão de uma mulher que Deus venderá a Sísera” (4:9). Baraque convoca os homens de Naftali e de Zebulon ao monte Tabor. Seu exército de 10.000 homens desce então ao combate. Sua firme fé lhes traz a vitória. ‘Deus começa a lançar em confusão tanto a Sísera como a todos os seus carros de guerra e todo o acampamento’, esmagando-os por uma inundação súbita no vale do Quisom. “Não restou nem sequer um” (4:15, 16). Jael, esposa de Héber, o queneu, para cuja tenda Sísera foge, leva ao clímax a matança, pregando contra o chão a cabeça de Sísera com uma estaca de tenda. “Assim subjugou Deus (...) a Jabim” (4:23). Débora e Baraque entoam um cântico para a glória do poder invencível de Deus, que fez com que até mesmo as estrelas lutassem desde suas órbitas contra Sísera. É deveras ocasião para bendizer a Deus! (5:2). Seguem-se 40 anos de paz.

F. O juiz Gideão (6:1-9:57). De novo fazem os filhos de Israel o que é mau, e o país é devastado pelos midianitas invasores. Por intermédio de seu anjo, Deus suscita o juiz Gideão, e o próprio Deus o assegura, com as palavras: “Mostrarei estar contigo” (6:16). O primeiro ato de coragem de Gideão consiste em destruir o altar de Baal que se acha na sua própria cidade. Os exércitos combinados do inimigo cruzam então em direção de Jezreel, mas ‘o Espírito de Deus envolve Gideão’ ao passo que este convoca Israel para a batalha (6:34). Mediante a prova de expor um velo de lã ao orvalho no chão da eira, Gideão recebe duplo sinal de que Deus está com ele.

Deus diz a Gideão que seu exército, composto de 32.000 homens, é grande demais, e que o tamanho poderá dar motivo para jactância humana sobre a vitória. Primeiro, os temerosos são enviados para casa, restando apenas 10.000 (Jz 7:3; Dt 20:8). Depois, mediante a prova da maneira de beber água, todos, exceto 300 alertas e vigilantes, são eliminados. Gideão faz reconhecimento do acampamento midianita durante a noite e de novo é assegurado do sucesso ao ouvir um homem interpretar um sonho como significando: “isto não é senão a espada de Gideão (...) O verdadeiro Deus lhe entregou na mão a Midiã e a todo o acampamento” (Jz 7:14). Gideão presta adoração a Deus e divide seus homens em três grupos em volta do acampamento midianita. O silêncio da noite é subitamente rompido: os 300 homens de Gideão tocam as buzinas, quebram os grandes jarros, acendem as tochas e gritam: “A espada de Deus e de Gideão!” (7:20). O acampamento do inimigo vira um pandemônio. Os midianitas lutam uns contra os outros e põem-se em fuga. Mas Israel os persegue, mata-os, abate também a seus príncipes. Os israelitas pedem então que Gideão domine sobre eles, mas Gideão recusa, dizendo: “Deus é quem dominará sobre vós” (8:23). Contudo, do despojo da guerra ele faz um éfode, que chega a ser mais tarde objeto de grande veneração, tornando-se assim um laço para Gideão e sua família. O país tem descanso por 40 anos durante o tempo em que Gideão é juiz.

Depois da morte de Gideão, Abimeleque, um de seus filhos, nascido de uma concubina sua, usurpa o poder e assassina seus 70 meios-irmãos. Jotão, o filho mais novo de Gideão, é o único que escapa, e, do cume do monte Gerizim, ele profere uma maldição sobre Abimeleque. Nessa parábola das árvores, ele assemelha a “realeza” de Abimeleque a um modesto espinheiro. Abimeleque vê-se logo envolvido numa luta interna em Siquém, onde sofre a humilhação de ser morto por uma mulher que lhe atira, do alto da torre de Tebes, uma mó certeira, esmagando-lhe o crânio (Jz 9:53; II Sm11:21).

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G. Os juizes Tola e Jair (10:1-5). Estes são os próximos a efetuar libertações pelo poder de Deus, julgando por 23 e 22 anos, respectivamente.

H. O juiz Jefté (10:6-12:7). Visto que Israel persiste em voltar-se para a idolatria, a ira de Deus se acende de novo contra a nação. O povo sofre agora opressão por parte dos amonitas e dos filisteus. Jefté é chamado de volta do exílio para liderar Israel no combate. Mas quem realmente é o juiz nessa controvérsia? As próprias palavras de Jefté fornecem a resposta: “Julgue hoje Deus, o Juiz, entre os filhos de Israel e os filhos de Amom” (11:27). Ao passo que o Espírito de Deus opera nele, Jefté faz um voto de que, ao retornar de Amom em paz, devotará a Deus a primeira pessoa que de sua casa sair ao seu encontro. Jefté subjuga Amom com grande matança. Ao voltar para casa, em Mispá, é a sua própria filha que lhe sai primeiro ao encontro, correndo, com alegria pela vitória de Deus. Jefté cumpre o seu voto não, não mediante sacrifício humano, pagão, segundo os ritos do baalismo, mas devotando esta filha única ao serviço exclusivo na casa de Deus, para Seu louvor.

Os efraimitas protestam então que não foram convocados para lutar contra Amom, e ameaçam a Jefté, que se vê obrigado a repeli-los. Ao todo, 42.000 efraimitas são mortos, muitos deles nos vaus do Jordão, onde são reconhecidos por não conseguirem pronunciar corretamente a senha “Xibolete”. Jefté continua a julgar Israel por seis anos. 12:6.

I. Os juizes Ibsã, Elom e Abdom (12:8-15). Embora se fale pouco concernente a estes, os períodos em que julgaram são declarados como sendo de sete, dez e oito anos, respectivamente.

J. O juiz Sansão (13:1-16:31). Mais uma vez Israel cai sob o jugo dos filisteus. Desta vez, Deus suscita a Sansão como juiz. Desde seu nascimento, seus pais o devotam como nazireu, e isto requer que não se lhe passe nunca a navalha sobre a cabeça. Quando cresce, Deus o abençoa, e, ‘com o tempo, o Espírito de Deus principia a impeli-lo’ (13:25). O segredo da sua força não está em músculos humanos, mas no poder dado por Deus. É quando ‘o Espírito de Deus se torna ativo nele’ que recebe o poder de matar um leão sem ter nada na mão, e mais tarde de revidar a traição filistéia, abatendo 30 dentre eles (14:6, 19). Visto que os filisteus continuam a agir traiçoeiramente em conexão com o casamento que Sansão está para contrair com certa moça filistéia, ele toma 300 raposas e, virando-as cauda contra cauda, coloca tochas entre as caudas e as envia para incendiarem os campos de cereais, os vinhedos e os olivais dos filisteus. Daí, efetua uma grande matança de filisteus, “empilhando pernas sobre coxas” (15:8). Os filisteus persuadem seus co-israelitas, homens de Judá, a amarrarem Sansão e o entregarem a eles, mas, de novo ‘o Espírito de Deus se torna ativo nele’, e seus grilhões se derretem, por assim dizer, caindo de suas mãos. Sansão fere mortalmente mil desses filisteus “um montão, dois montões!” (15:14-16). Que arma de destruição usa ele? A queixada fresca dum jumento. Deus revigora seu servo exausto por fazer surgir miraculosamente uma fonte donde jorra água no local da batalha.

Depois, Sansão pernoita em Gaza, na casa de uma prostituta; os filisteus o cercam em emboscada. Mas, o Espírito de Deus revela estar novamente com ele ao levantar-se à meia-noite e arrancar os batentes da porta da cidade com seus postes, carregando-os de lá para o cume dum monte, defronte de Hébron. Depois disso, ele se enamora da pérfida Dalila. Sendo instrumento fácil nas mãos dos filisteus, ela o atormenta até que ele revela que a sua devoção a Deus como nazireu, simbolizada pelos seus cabelos compridos, é a verdadeira fonte de sua grande força. Enquanto ele está dormindo, ela manda que se lhe cortem os cabelos. Desta vez, é em vão que ele acorda para ir travar o combate, pois “foi Deus quem se retirara dele” (16:20). Os filisteus o pegam, vazam-lhe os olhos e o fazem virar a mó na prisão, como escravo. Quando chega a época da celebração de uma grande festa em honra de Dagom, deus dos filisteus, estes mandam tirar Sansão de lá para lhes servir de espetáculo. Não dando importância ao fato de que seu cabelo crescia outra vez em abundância, permitem que se coloque entre as duas grandes colunas da casa usada para adoração de Dagom. Sansão invoca a Deus: “Senhor Deus, por favor, lembra-te de mim e fortalece-me só esta vez.” E Deus lembra-se deveras dele. Segurando as colunas, Sansão ‘se encurva com poder’ com o poder de Deus ‘e a casa cai, de modo que os mortos, que entrega à morte ao ele mesmo morrer, vêm a ser mais do que os que entregara à morte durante a sua vida’ (16:28-30).

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Chegamos então aos capítulos 17 a 21, que descrevem algumas das lutas internas que infelizmente desgastam a Israel nessa época. Esses eventos ocorrem cedo no período dos juizes, conforme se indica pela menção de Jonatã e Finéias, netos de Moisés e de Arão, provando que estão ainda vivos.

L. Micá e os danitas (17:1-18:31). Micá, um efraimita, estabelece seu próprio sistema religioso independente, a idólatra “casa de deuses”, com tudo, imagem esculpida e um sacerdote levita (17:5). Homens da tribo de Dã passam por lá, a caminho da posse de sua herança no norte. Eles saqueiam Micá, tirando-lhe os acessórios religiosos e o sacerdote, e avançam para o extremo norte, a fim de destruírem a insuspeitosa cidade de Laís. Em seu lugar, edificam a sua própria cidade de Dã, e colocam ali a imagem esculpida que pertencera a Micá. Assim, seguem a religião de sua própria escolha, independente, durante todos os dias em que a casa da verdadeira adoração de Deus continua em Silo.

M. O pecado de Benjamim em Gibeá (19:1-21:25). O acontecimento escrito a seguir faz Oséias dizer posteriormente estas palavras: “Pecaste desde os dias de Gibeá, ó Israel” (Os 10:9). Certo levita de Efraim, voltando para casa com sua concubina, passa a noite na casa de um homem idoso, em Gibeá de Benjamim. Homens imprestáveis dessa cidade cercam a casa, exigindo ter relações sexuais com o levita. Eles aceitam, entretanto, sua concubina em seu lugar, e abusam dela a noite inteira. Pela manhã, ela é encontrada morta na soleira da porta. O levita leva o cadáver para casa, recorta-o em 12 pedaços e envia estes a todo o Israel. As 12 tribos são destarte postas à prova. Castigarão a Gibeá, removendo assim do meio de Israel a imoralidade? Os benjamitas fecham os olhos a esse crime bestial. As outras tribos se congregam perante Deus, em Mispá, onde resolvem decidir por sortes quem lutará contra Benjamim, em Gibeá. Depois de duas derrotas sanguinárias, as outras tribos levam a vitória, colocando uma emboscada, e praticamente aniquilam a tribo de Benjamim, escapando apenas 600 homens que se refugiam no rochedo de Rimom. Mais tarde, Israel lastima que uma tribo foi cortada. Eles procuram então um meio de encontrar esposas para os benjamitas sobreviventes dentre as filhas de Jabes-Gileade e de Silo. Com isto termina a narrativa de lutas e intrigas em Israel. Conforme repetem as palavras concludentes de Juizes: “Naqueles dias não havia rei em Israel. Cada um costumava fazer o que era direito aos seus próprios olhos” (Jz 21:25).

2.2. Importância do Livro de Juízes Para os Nossos Dias

Longe de ser apenas uma narrativa de lutas e de derramamento de sangue, o livro de Juizes exalta a Deus como o grande Libertador de seu povo. Mostra como ele expressou sua misericórdia e longanimidade incomparáveis para com o povo chamado pelo Seu nome, toda vez que recorria a ele com coração arrependido. O livro de Juizes é de grande proveito em defender decididamente a adoração de Deus e em seus poderosos avisos acerca da tolice da religião demoníaca, do interconfessionalismo e das associações imorais. A condenação severa que Deus pronunciou contra a adoração de Baal deve impelir-nos a nos resguardar dos seus equivalentes modernos: o materialismo, o nacionalismo e a imoralidade sexual (2:11-18).

Um exame da destemida e corajosa fé dos juizes deve inspirar em nosso coração uma fé similar. Não é de admirar que eles sejam mencionados em Hebreus 11:32-34, em termos tão calorosos de aprovação! Lutaram para santificar o nome de Deus, mas não na sua própria força. Conheciam a fonte de seu poder, o Espírito de Deus, e o reconheciam com humildade. Da mesma forma hoje, podemos tomar “a espada do Espírito”, a Palavra de Deus, certos de que Deus nos dará forças, assim como deu a Baraque, Gideão, Jefté, Sansão e muitos outros. Sim, com a ajuda do Espírito de Deus, podemos ser tão fortes, em sentido espiritual, como Sansão era em sentido físico, para vencermos poderosos obstáculos, se tão-somente orarmos a Deus e confiarmos nele (Ef 6:17,18; Jz 16:28).

Em dois lugares o profeta Isaías se refere ao livro de Juizes, a fim de mostrar que Deus, sem falta, esmagará o jugo que Seus inimigos colocam sobre seu povo, assim como fez nos dias de Midiã (Is 9:4; 10:26). Isto nos faz lembrar também do cântico de Débora e de Baraque, que termina com a oração fervorosa: “Pereçam assim todos os teus inimigos, ó Deus, e sejam os que te amam como quando o sol sai na sua potência” (Jz 5:31). E quem são os que amam a Deus? O próprio Jesus Cristo indica que são os herdeiros do Reino,

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empregando uma expressão semelhante em Mateus 13:43: “Naquele tempo, os justos brilharão tão claramente como o sol, no reino de seu Pai.” De modo que o livro de Juizes aponta para o tempo em que o justo Juiz e Semente do Reino, Jesus, exercerá seu poder. Por intermédio dele, Deus glorificará e santificará Seu nome, em harmonia com a oração do salmista concernente aos inimigos de Deus: “Faze-lhes como a Midiã, como a Sísera, como a Jabim no vale da torrente de Quisom (...) para que as pessoas saibam que tu, Deus de Israel, somente tu és o Altíssimo sobre toda a terra” (Sl 83:9, 18; Jz 5:20, 21).

3 - RUTE Escritor: Desconhecido

Lugar da Escrita: Israel

Escrita Completada: Século X a.C.

Tempo Abrangido: 11 anos do domínio dos juizes

Tema: Amor que redime

Em emocionante cena, o livro de Rute desabrocha-se na bela história de amor entre Boaz e Rute. Mas, não é mero idílio de amor. A intenção não é proporcionar diversão. O livro acentua o propósito de Deus de produzir o herdeiro do Reino e exalta a Sua benevolência. (Rute 1:8; 2:20; 3:10) A grande qualidade do amor de Deus se manifesta em escolher ele uma moabita, ex-adoradora do deus pagão Quemós, que se convertera à religião verdadeira, para se tornar uma antepassada de Jesus Cristo. Rute é uma das quatro mulheres mencionadas por nome na genealogia de Jesus que começa com Abraão (Mateus 1:3, 5, 16). Rute, assim como Ester, é uma das duas mulheres cujos nomes são dados a livros da Bíblia.

“E sucedeu que, nos dias em que os juizes julgavam . . .” Com estas palavras iniciais, o livro de Rute começa a sua comovente história. Estas palavras indicam também que esselivro foi escrito mais tarde, no tempo dos reis de Israel. Entretanto, os eventos relatados no livro abrangem um período de cerca de 11 anos no tempo dos juizes. Embora o nome do escritor não seja declarado, é bem provável que tenha sido Samuel, que também parece ter escrito Juizes, e que era a destacada pessoa fiel no início do período dos reis. Samuel, bem familiarizado com a promessa de Deus, a respeito de um “leão” da tribo de Judá, e que havia sido usado por Deus para ungir a Davi, que era dessa tribo, para ser rei em Israel, estaria profundamente interessado em fazer um registro da genealogia até Davi. (Gênesis 49:9, 10; I Samuel 16:1, 13; Rute 1:1; 2:4; 4:13, 18-22).

A autoridade canônica de Rute nunca foi contestada. Deu-se confirmação suficiente dela quando Deus inspirou que se alistasse Rute na genealogia de Jesus, em Mateus 1:5. O livro de Rute foi sempre reconhecido pelos judeus como parte do cânon hebraico. Não é de surpreender, pois, que foram encontrados fragmentos do livro entre outros livros canônicos nos Rolos do Mar Morto, descobertos a partir de 1947. Além disso, Rute harmoniza-se plenamente com os propósitos de Deus, referentes ao Reino, e com os requisitos da Lei de Moisés. Embora fosse proibido aos israelitas o casamento com cananeus e moabitas idólatras, isto não se aplicava aos estrangeiros que, como no caso de Rute, aceitassem a adoração de Deus. No livro de Rute, a lei sobre resgatadores e casamento com cunhado é observada em todos os seus pormenores (Deuteronômio 7:1-4; 23:3, 4; 25:5-10).

3.1. Conteúdo do Livro

A decisão de Rute de ficar com Noemi (1:1-22): a história começa durante uma época de fome em Israel. Elimeleque (meu Deus é Rei), um homem de Belém (casa do Pão), atravessa o Jordão em companhia de sua esposa, Noemi (agradável), e de seus dois filhos, Malom (definhamento) e Quiliom (fraqueza), para passarem algum tempo na terra de Moabe (terra de maldição). Ali, os filhos se casam com mulheres moabitas, Orfa (aquela que dá as costas) e Rute (amiga). Sobrevém desgraça a essa família; primeiro morre o pai e depois

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morrem os dois filhos. As três mulheres ficam viúvas e sem filhos, não havendo descendente para Elimeleque. Noemi ouve que Deus voltou novamente a sua atenção para Israel, dando pão a Seu povo, e decide retornar à sua terra natal, Judá. As noras se põem a caminho com ela. Mas Noemi roga-lhes que voltem a Moabe, pedindo a benevolência de Deus para prover marido a cada uma dentre os homens do povo delas. Por fim, Orfa volta “ao seu povo e aos seus deuses”, mas Rute, sincera e firme na sua conversão à adoração de Deus, fica com Noemi. Ela expressa belamente a sua decisão nas seguintes palavras: “Aonde quer que fores, irei eu, e onde quer que pernoitares, pernoitarei eu. Teu povo será o meu povo, e teu Deus, o meu Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu e ali serei enterrada. Assim me faça Deus e assim lhe acrescente mais, se outra coisa senão a morte fizer separação entre mim e ti” (1:15-17) Entretanto, Noemi, viúva e sem filhos, cujo nome significa “Minha Agradabilidade”, sugere que a chamem pelo nome de Mara, que significa “Amarga”.

A. Rute respiga no campo de Boaz (2:1-23): ao chegar a Belém, Noemi permite que Rute vá respigar durante a colheita da cevada. Boaz, o dono do campo, um judeu de idade madura e parente próximo de Elimeleque, sogro de Rute, nota-a. Embora a lei de Deus lhe conceda o direito de respigar, Rute demonstra sua humildade, pedindo permissão para trabalhar no campo. (Levíticos 19:9, 10) Concede-se-lhe prontamente a permissão, e Boaz lhe diz que respigue somente em seu campo com suas moças. Conta-lhe que ouviu sobre sua conduta leal para com Noemi e a encoraja com as palavras: “Deus recompense teu modo de agir e haja para ti um salário perfeito da parte de Deus, o Deus de Israel, debaixo de cujas asas vieste refugiar-te” (Rute 2:12) Naquela noitinha, Rute partilha generosamente com Noemi os frutos de seu trabalho, e explica que o êxito dela em respigar foi graças à boa vontade de Boaz. Noemi vê nisso a mão de Deus, dizendo: “Bendito seja ele por Deus que não abandonou a sua benevolência para com os vivos e os mortos (...) O homem é aparentado conosco. Ele é um dos nossos resgatadores” (2:20). Com efeito, Boaz é parente chegado que tem legalmente o direito de suscitar descendência para Noemi em nome do falecido Elimeleque. Rute continua a respigar nos campos de Boaz até o fim da colheita da cevada e do trigo.

B. Boaz, como resgatador, casa-se com Rute (3:14-22): Noemi, tendo passado a idade de dar à luz filhos, instrui Rute para se casar em lugar dela, segundo a lei do levirato. Numa época tão importante como a da colheita, era costume o proprietário do campo supervisionar pessoalmente a joeira dos cereais, que se fazia à noitinha, a fim de aproveitar a brisa que soprava depois de um dia quente. Boaz estaria dormindo no chão da eira, e é ali que Rute o encontra. Ela se aproxima dele quietamente, descobre-lhe os pés e se deita. Ao despertar ele no meio da noite, ela se identifica e, de acordo com o costume seguido pelas mulheres quando reivindicavam o direito do casamento segundo a lei do levirato, pede que ele estenda sobre ela a aba de sua veste. Boaz declara: “Que Deus te abençoe, minha filha”, e elogia-a por não se ter interessado em jovens, por paixão ou por cobiça. Longe de ser alguém que faria proposta de relação impura, Rute ganha para si a reputação de ser “mulher de bem” (3:10, 11). Todavia, conforme ele então lhe diz, há outro resgatador que é parente mais próximo que ele; consultará a este pela manhã. Rute continua deitada aos pés dele até de manhã cedo. Daí, ele lhe dá de presente cereais e ela volta para Noemi, que ansiosamente pergunta sobre o resultado.

C. Boaz vai de manhã cedo até o portão da cidade à procura do resgatador. Levando consigo dez dos homens mais idosos da cidade quais testemunhas, dá primeiro a este parente mais próximo a oportunidade de resgatar tudo o que pertencera a Elimeleque. Fará ele isso? A sua resposta imediata é sim, ao lhe parecer que pode aumentar a sua riqueza. Mas, quando fica sabendo do requisito de casamento com Rute, segundo a lei do levirato, teme pela sua própria herança, e apresenta legalmente a sua recusa, tirando a sua sandália. O nome dele não é mencionado no relato da Bíblia, recebendo apenas menção desonrosa como “Fulano”. Diante das mesmas testemunhas, Boaz resgata Rute como sua esposa. Faz ele isso por algum motivo egoísta? Não, mas “para que o nome do morto não seja decepado” (4:1, 10). Todos ali presentes invocam a bênção de Deus sobre esta terna provisão, e essa bênção revela ser deveras maravilhosa! Rute dá à luz um filho a Boaz que já era de idade avançada, e Noemi se torna a ama da criança. Diz-se que “à Noemi nasceu um filho”, e é chamado de Obede (4:17).

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D. Os versículos finais do livro de Rute dão a genealogia desde Peres, através de Boaz, até Davi. Certos críticos argumentam que nem todas as gerações estão alistadas, visto que o espaço de tempo é muito grande para tão poucas pessoas. É isso verdade? Ou foi cada um abençoado com muita longevidade, e com um filho em idade avançada? A última conclusão parece ser a certa, o que sublinha que a produção da prometida Semente depende da providência de Deus e de sua benignidade, não do poder natural do homem. Em outras ocasiões, Deus exerceu seu poder de modo similar, como no caso do nascimento de Isaque, de Samuel e de João, o Batizador (Gênesis 21:1-5; I Samuel 1:1-20; Lucas 1:5-24, 57-66).

3.2. Importância do Livro de Rute Para os Nossos Dias

Esta narrativa encantadora é certamente proveitosa, visto que ajuda a edificar forte fé nos que amam a justiça. Todos os personagens principais neste emocionante drama demonstraram ter notável fé em Deus, e ‘receberam testemunho por intermédio de sua fé’ (Hebreus 11:39). Tornaram-se bons exemplos para nós hoje. Noemi teve profunda confiança na benevolência de Deus (1:8; 2:20). Rute deixou de livre vontade a sua terra natal para praticar a adoração de Deus; provou ser leal e submissa, bem como trabalhadora disposta. Foi o profundo apreço pela lei de Deus, por parte de Boaz, e sua aquiescência humilde em fazer a vontade de Deus, bem como seu amor pela fiel Noemi e pela laboriosa Rute, que o conduziram a cumprir o seu privilégio do casamento por meio de resgate.

A provisão de casamento, feita por Deus, neste caso um casamento por meio de resgate, foi usada em honra dele. Deus foi o Arranjador do casamento de Boaz com Rute, e o abençoou segundo a sua benevolência; ele o usou como meio de preservar ininterrupta a linhagem real de Judá, conduzindo a Davi e finalmente ao Davi Maior, Jesus Cristo. O cuidado vigilante de Deus na produção do Herdeiro do Reino, segundo a sua provisão legal, deve fortalecer a nossa certeza e fazer com que aguardemos com confiança o cumprimento de todas as promessas do Reino. Isto nos deve estimular a trabalhar diligentemente na colheita atual, certos de uma recompensa perfeita da parte de Deus, o Deus do Israel espiritual, debaixo de cujas ‘asas viemos refugiar-nos’ e cujos propósitos concernentes ao Reino estão progredindo tão gloriosamente em direção ao seu pleno cumprimento (2:12). O livro de Rute é mais um elemento essencial da narrativa que conduz a tal Reino!

3.3. Rute e os Outros Livros Bíblicos

Mateus 1:3, 5, 16: “Judá gerou de Tamar a Perez e a Zera; Perez gerou a Esrom; Esrom, a Arão; (...) Salmom gerou de Raabe a Boaz; este, de Rute, gerou a Obede; e Obede, a Jessé; (...) E Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama o Cristo”.

Gênesis 49:9, 10: “Judá é leãozinho; da presa subiste, filho meu. Encurva-se e deita-se como leão e como leoa; quem o despertará? O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos”.

I Samuel 16:1, 13: “Disse o SENHOR a Samuel: Até quando terás pena de Saul, havendo-o eu rejeitado, para que não reine sobre Israel? Enche um chifre de azeite e vem; enviar-te-ei a Jessé, o belemita; porque, dentre os seus filhos, me provi de um rei. (...) Tendo-se retirado de Saul o Espírito do SENHOR, da parte deste um espírito maligno o atormentava”.

Mateus 1:5: “Salmom gerou de Raabe a Boaz; este, de Rute, gerou a Obede; e Obede, a Jessé”.

Deuteronômio 7:1-4; 23:3, 4; 25:5-10: “Quando o SENHOR, teu Deus, te introduzir na terra a qual passas a possuir, e tiver lançado muitas nações de diante de ti, os heteus, e os girgaseus, e os amorreus, e os cananeus, e os ferezeus, e os heveus, e os jebuseus, sete e o SENHOR, teu Deus, as tiver dado diante de ti, para as ferir, totalmente as destruirás; não farás com elas aliança, nem terás piedade delas; nem contrairás matrimônio com os filhos dessas nações; não darás tuas filhas a seus filhos, nem tomarás suas filhas para teus filhos; pois elas fariam desviar teus filhos de mim, para que servissem a outros deuses; e a ira do

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SENHOR se acenderia contra vós outros e depressa vos destruiria. (...) Nenhum amonita ou moabita entrará na assembléia do SENHOR; nem ainda a sua décima geração entrará na assembléia do SENHOR, eternamente. Porquanto não foram ao vosso encontro com pão e água, no caminho, quando saíeis do Egito; e porque alugaram contra ti Balaão, filho de Beor, de Petor, da Mesopotâmia, para te amaldiçoar. (...) Se irmãos morarem juntos, e um deles morrer sem filhos, então, a mulher do que morreu não se casará com outro estranho, fora da família; seu cunhado a tomará, e a receberá por mulher, e exercerá para com ela a obrigação de cunhado. O primogênito que ela lhe der será sucessor do nome do seu irmão falecido, para que o nome deste não se apague em Israel. Porém, se o homem não quiser tomar sua cunhada, subirá esta à porta, aos anciãos, e dirá: Meu cunhado recusa suscitar a seu irmão nome em Israel; não quer exercer para comigo a obrigação de cunhado. Então, os anciãos da sua cidade devem chamá-lo e falar-lhe; e, se ele persistir e disser: Não quero tomá-la, então, sua cunhada se chegará a ele na presença dos anciãos, e lhe descalçará a sandália do pé, e lhe cuspirá no rosto, e protestará, e dirá: Assim se fará ao homem que não quer edificar a casa de seu irmão; e o nome de sua casa se chamará em Israel: A casa do descalçado”.

Levíticos 19:9, 10: “Quando também segares a messe da tua terra, o canto do teu campo não segarás totalmente, nem as espigas caídas colherás da tua messe. Não rebuscarás a tua vinha, nem colherás os bagos caídos da tua vinha; deixá-los-ás ao pobre e ao estrangeiro. Eu sou o SENHOR, vosso Deus”.

4 - I SAMUEL Escritores: incerto

Lugar da Escrita: Israel

Data: entre 931 e 722 a.C.

Tema: Deus age na história

A organização nacional de Israel sofreu momentosa mudança. Nomeou-se um rei humano! Isto se deu enquanto Samuel servia como profeta de Deus em Israel. Embora Deus soubesse de antemão e predissesse essa mudança para a monarquia, segundo a exigência do povo de Israel, ainda assim, foi um golpe atordoador para Samuel. Devotado ao serviço de Deus desde seu nascimento e estando cheio de reconhecimento reverente da realeza do Senhor Deus, Samuel previu os resultados desastrosos para os co-membros daquela nação santa de Deus. Foi só sob a orientação de Deus que Samuel cedeu às exigências deles. “Samuel falou então ao povo sobre a prerrogativa legítima do reinado, e escreveu-a num livro e depositou-o perante Deus” (10:25). Assim terminou a época dos juizes, e começou a época dos reis humanos que veria Israel subir a um poder e prestígio sem precedentes, só para finalmente cair na desonra e ser divorciado do favor de Deus.

Os dois livros de Samuel eram originalmente um só rolo ou volume. Fez-se a divisão de Samuel em dois livros quando se publicou esta parte da Septuaginta grega. Na Septuaginta, Primeiro Samuel foi chamado Primeiros Reinados. Esta divisão e o nome Primeiro Reis foram adotados pela Vulgata latina e continuam até hoje em Bíblias católicas. Que Primeiro e Segundo Samuel formavam originalmente um só livro, demonstra-se pela nota massorética sobre 1Samuel 18:24, que declara que este versículo se acha na metade do livro de Samuel. Há muita evidência da exatidão da narrativa. Os locais geográficos se enquadram nos eventos descritos. É interessante notar que o ataque bem-sucedido de Jonatã contra a guarnição filistéia de Micmás, que levou à completa derrota dos filisteus, foi repetido na Primeira Guerra Mundial por um oficial do Exército Britânico, que, conforme noticiado, desbaratou os turcos, seguindo os pontos de referência descritos no livro inspirado de Samuel (14:4-14).

Todavia, há provas ainda mais fortes da inspiração e da autenticidade desse livro. Contém o notável cumprimento da profecia de Deus de que Israel pediria um rei (Dt 17:14; I Sm 8:5) Anos mais tarde, Oséias confirmou isso, citando as palavras de Deus: “Passei a dar-te um rei na minha ira e o tirarei na minha fúria” (Os13:11). Pedro mostrou que Samuel era

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inspirado ao identificar a Samuel como o profeta que havia ‘declarado distintamente os dias’ de Jesus (At 3:24). Paulo se referia a 1Samuel.13:14, quando contou brevemente a história de Israel (At 13:20-22). O próprio Jesus atestou a autenticidade do relato, ao perguntar aos fariseus dos seus dias: “Não lestes o que Davi fez quando ele e seus homens ficaram com fome?” Passou então a relatar que Davi pediu o pão da proposição (Mt 12:1-4; I Sm 21:1-6). Esdras também aceitou o relato como sendo genuíno, conforme já mencionado (I Cr 29:29).

Sendo este o relato original das atividades de Davi, toda menção de Davi em todas as Escrituras confirma o livro de Samuel como sendo parte da Palavra inspirada de Deus. Alguns de seus eventos são até mencionados nos cabeçalhos dos salmos de Davi, como no Salmo 59 e I Sm 19:11, no Salmo 34 e I Sm 21:13, 14 e no Salmo 142 e I Sm 22:1 ou I Sm 24:1, 3. Assim, a evidência interna da própria Palavra de Deus testifica conclusivamente a autenticidade de Primeiro Samuel.

4.1. Conteúdo do Livro

O livro abrange, em parte ou no todo, a vida de quatro líderes de Israel: Eli, o sumo sacerdote; Samuel, o profeta; Saul, o primeiro rei; e Davi, que foi ungido para ser o próximo rei.

A. A Judicatura de Eli e o Jovem Samuel (1:1-4:22). No início da narrativa, somos apresentados a Ana, esposa favorita de Elcana, um levita. Ela não tem filhos e é desprezada por isso pela outra esposa de Elcana, Penina. Enquanto a família faz uma das suas visitas anuais a Silo, onde se acha a arca do pacto de Deus, Ana ora fervorosamente a Deus para que lhe dê um filho. Ela promete que, se sua oração for atendida, devotará o filho ao serviço de Deus. Deus atende a sua oração, e ela dá à luz um filho, Samuel. Logo que é desmamado, ela o leva à casa de Deus e o coloca sob os cuidados do sumo sacerdote Eli, como alguém ‘emprestado a Deus’ (1:28). Ana se expressa, então, em jubilante oração de agradecimentos e de felicidade. O menino se torna “ministro de Deus perante Eli, o sacerdote” (2:11).

Nem tudo vai bem com Eli. Está velho, seus dois filhos se tornaram imprestáveis, e ‘não reconhecem a Deus’ (2:12). Usam o seu cargo sacerdotal para satisfazer a sua ganância e seus desejos imorais. Eli deixa de os corrigir. Deus, portanto, passa a enviar mensagens divinas contra a casa de Eli, avisando que “nunca chegará a haver um homem idoso na tua casa”, e que ambos os filhos de Eli morrerão num só dia (I Sm 2:30-34; I Re 2:27). Por fim, Ele envia o menino Samuel a Eli com uma mensagem de julgamento de fazer tinir os ouvidos. Assim, o jovem Samuel é credenciado à função de profeta em Israel (3:1, 11).

No devido tempo, Deus executa esse julgamento, suscitando os filisteus. Visto que o resultado da batalha é desfavorável a Israel, os israelitas levam, com grande grito, a arca do pacto de Silo para seu acampamento militar. Ouvindo o grito e sabendo que a Arca foi trazida para dentro do acampamento de Israel, os filisteus fortalecem-se e ganham uma sensacional vitória, desbaratando totalmente os israelitas. A Arca é capturada, e os dois filhos de Eli morrem. Com coração tremendo, Eli ouve o relato. Ao se mencionar a Arca, cai de costas da cadeira, quebra o pescoço e morre. Assim, termina a sua judicatura de 40 anos. Deveras: “A glória exilou-se de Israel”, pois a Arca representa a presença de Deus com o seu povo (4:22).

B. Samuel julga Israel (5:1-7:17). Agora os filisteus também têm de aprender, para a sua grande tristeza, que a arca de Deus não deve ser usada como amuleto. Quando levam a Arca para dentro da casa de adoração de Dagom, em Asdode, o deus deles cai estirado de bruços. No dia seguinte, Dagom cai de novo estirado na soleira, desta vez com a cabeça e as palmas de ambas as mãos decepadas. Com isto começa o costume supersticioso, entre os filisteus, de ‘não pisar no limiar de Dagom’ (5:5). Os filisteus mandam apressadamente a Arca para Gate, e daí para Ecrom, mas tudo em vão! Sobrevêm tormentos em forma de pânico, hemorróidas e uma praga de roedores. Os senhores do eixo dos filisteus, em desespero final com o aumento do número de mortos, devolvem a Israel a Arca num novo carro puxado por duas vacas que amamentam. Em Bete-Semes, sobrevêm calamidade sobre alguns dos israelitas, porque olham para a Arca (I Sm 6:19; Nm 4:6, 20). Finalmente, a Arca descansa na casa de Abinadabe, na cidade levítica de Quiriate-Jearim.

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Por 20 anos, a Arca permanece na casa de Abinadabe. Samuel, já adulto, insta com os israelitas para que se desfaçam dos Baalins e das imagens de Astorete e sirvam a Deus de todo o coração. Eles fazem isso. Quando se reúnem em Mispá para adoração, os senhores do eixo dos filisteus aproveitam a oportunidade para batalhar, e Israel é apanhado de surpresa. Israel invoca a Deus por intermédio de Samuel. Um grande barulho de trovão da parte de Deus lança os filisteus em confusão, e os israelitas, fortalecidos mediante sacrifícios e orações, obtêm uma vitória esmagadora. Daquele tempo em diante, ‘a mão de Deus continua a ser contra os filisteus todos os dias de Samuel’ (7:13). Contudo, Samuel não pára seu serviço. Durante toda a vida, continua a julgar Israel, fazendo viagem anual desde Ramá, logo ao norte de Jerusalém, até Betel, Gilgal e Mispá. Em Ramá, ele levanta um altar a Deus.

C. Saul, o primeiro rei de Israel (8:1-12:25). Samuel já está envelhecido no serviço de Deus, mas seus filhos não andam nos caminhos de seu pai, pois aceitam subornos e pervertem o julgamento. Neste tempo, os homens mais idosos de Israel vão ter com Samuel com o seguinte pedido: “Designa-nos deveras um rei para nos julgar, igual a todas as nações” (8:5). Samuel, extremamente perturbado, busca a Deus em oração. Deus responde: “Não é a ti que rejeitaram, mas é a mim que rejeitaram como rei sobre eles (...) E agora escuta a sua voz.” (8:7-9) Primeiro, porém, Samuel precisa adverti-los das conseqüências funestas de seu pedido rebelde: arregimentação, pagamento de impostos, perda da liberdade e, com o tempo, amargura e clamor a Deus. O povo, irredutível nos seus desejos, exige um rei.

Agora, passamos a conhecer Saul, filho de Quis, da tribo de Benjamim, e incomparavelmente o mais belo e o mais alto homem em Israel. Ele é conduzido a Samuel, que lhe reserva um lugar de honra num banquete, unge-o e daí o apresenta a todo o Israel numa assembléia em Mispá. Embora no início Saul se esconda entre a bagagem, é finalmente apresentado como sendo a escolha de Deus. Samuel relembra mais uma vez a Israel a prerrogativa do reinado, escrevendo-a num livro. Entretanto, não é senão depois da vitória sobre os amonitas, que acaba com o sítio em Jabes de Gileade, que Saul é levado a sério por todos os dentre o povo, de modo que confirmam a sua realeza em Gilgal. Samuel os exorta outra vez a temer, servir e obedecer a Deus, e roga a Deus que envie um sinal em forma de trovões e chuva fora de época, na ocasião da colheita. Numa demonstração aterradora, Deus mostra a sua ira por terem rejeitado a Ele qual Rei.

D. A desobediência de Saul (13:1-15:35). Ao passo que os filisteus continuam a molestar a Israel, Jonatã, o corajoso filho de Saul, derrota uma guarnição dos filisteus. O inimigo, para vingar-se disto, envia um enorme exército, “como os grãos de areia que há à beira do mar”, em tamanho, e eles acampam em Micmás. A inquietação assola as fileiras dos israelitas. ‘Se tão-somente Samuel viesse dar-nos a orientação de Deus!’ Saul, impaciente de esperar por Samuel, peca, oferecendo presunçosamente ele próprio o sacrifício queimado. Samuel aparece de súbito. Rejeitando as pouco convincentes desculpas de Saul, pronuncia o julgamento de Deus: “E agora teu reino não durará. Deus certamente achará para si um homem que agrade ao seu coração; e Deus o comissionará como líder do seu povo, porque não guardaste o que Deus te ordenou” (13:14).

Jonatã, cheio de zelo pelo nome de Deus, ataca outra vez um posto avançado dos filisteus, desta vez acompanhado apenas de seu escudeiro, e como um raio eles abatem cerca de 20 homens. Um terremoto aumenta a confusão dos inimigos. Estes se põem em fuga e os israelitas os perseguem decididamente. Contudo, a plena força da vitória fica enfraquecida pelo juramento precipitado de Saul de proibir os guerreiros de comer antes de terminar a batalha. Os homens se cansam logo e daí pecam contra Deus, comendo carne recém-abatida, sem dar tempo para o sangue escoar. Jonatã, da sua parte, revigorara-se com um favo de mel antes de saber do juramento que ele denuncia intrepidamente como um empecilho. Ele é remido da morte pelo povo, por causa da grande salvação que efetuou em Israel.

Chega, então, o tempo de Deus executar o julgamento sobre os vis amalequitas (Dt 25:17-19) Devem ser totalmente exterminados. Nada deverá ser poupado, nem homem nem animal. Nenhum despojo deve ser tomado. Tudo tem de ser entregue à destruição. Entretanto, Saul, desobedecendo, poupa a Agague, rei dos amalequitas, e os melhores animais dentre os rebanhos e manadas, ostensivamente para os sacrificar a Deus. Isto

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desagrada tanto ao Deus de Israel que ele inspira Samuel a expressar uma segunda rejeição de Saul. Desconsiderando as desculpas de Saul que quer salvar as aparências, Samuel declara: “Tem Deus tanto agrado em ofertas queimadas e em sacrifícios como em que se obedeça à voz de Deus? Eis que obedecer é melhor do que um sacrifício (...) Visto que rejeitaste a palavra de Deus, ele concordemente rejeita que sejas rei” (I Sm 15:22, 23). Saul estende então o braço para implorar clemência a Samuel e arranca a aba de sua túnica. Samuel lhe certifica que Deus arrancará igualmente o reino de Saul e o dará a um homem melhor. O próprio Samuel lança mão da espada, executa a Agague e vira as costas a Saul, para nunca mais o ver.

E. A unção de Davi, sua bravura (16:1-17:58). Deus conduz a seguir Samuel à casa de Jessé, em Belém de Judá, para selecionar e ungir o futuro rei. Um por um os filhos de Jessé são passados em revista, mas são rejeitados. Deus faz lembrar a Samuel: “Não como o homem vê é o modo de Deus ver, pois o mero homem vê o que aparece aos olhos, mas quanto a Deus, ele vê o que o coração é” (16:7). Finalmente, Deus indica a sua aprovação de Davi, o mais moço, descrito como sendo “ruivo, rapaz de belos olhos e bem-parecido”, e Samuel o unge com óleo (16:12). O Espírito de Deus vem então sobre Davi, mas Saul desenvolve um espírito mau.

Os filisteus fazem novamente incursões em Israel, apresentando o seu campeão, Golias, um gigante de seis côvados e um palmo (cerca de 2,9 m) de altura. É tão monstruoso que sua cota de malha pesa cerca de 57 quilos e a lâmina de sua lança, quase 7 quilos (17:4, 5, 7). Dia após dia, este Golias desafia blasfema e desdenhosamente a Israel para que escolha um homem e o deixe sair para lutar, mas ninguém responde. Saul estremece na sua tenda. Entretanto, Davi chega a ouvir os escárnios do filisteu. Com justa indignação e coragem inspirada, Davi exclama: “Quem é este filisteu incircunciso que venha escarnecer das fileiras combatentes do Deus vivente?” (17:26). Rejeitando a armadura de Saul porque não a experimentou antes, Davi sai ao combate, munido unicamente de um bastão de pastor, uma funda e cinco pedras lisas. Considerando o confronto com este jovem pastor uma afronta à sua dignidade, Golias invoca o mal sobre Davi. Ressoa a resposta confiante: “Tu vens a mim com espada, e com lança, e com dardo, mas eu chego a ti com o nome de Deus dos exércitos” (17:45). Uma pedra certeira da funda de Davi lança o campeão dos filisteus por terra! Correndo para ele à plena vista de ambos os exércitos, Davi desembainha a espada do gigante e a usa para decepar a cabeça do dono dela. Que grande libertação da parte de Deus! Que regozijo no acampamento de Israel! Morto o seu campeão, os filisteus fogem, e os jubilantes israelitas os perseguem cerradamente.

F. Saul persegue a Davi (18:1-27:12). Em conseqüência da ação destemida de Davi a favor do nome de Deus, apresenta-se-lhe uma amizade maravilhosa. É com Jonatã, filho de Saul e herdeiro natural do reino. Jonatã chega a “amá-lo como a sua própria alma”, de modo que os dois fazem um pacto de amizade. (18:1-3) Enquanto se celebra a fama de Davi em Israel, Saul, irado, procura matá-lo, mesmo lhe dando sua filha Mical em casamento. A inimizade de Saul se torna cada vez mais insana, de modo que Davi se vê forçado a fugir com a amorosa ajuda de Jonatã. No momento da separação, os dois choram, e Jonatã reafirma a sua lealdade a Davi, dizendo: “Mostre o próprio Deus estar entre mim e ti, e entre a minha descendência e a tua descendência, por tempo indefinido” (20:42).

Davi e seu pequeno grupo de apoiadores famintos, fugindo do exacerbado Saul, chegam a Nobe. Ali, o sacerdote Aimeleque, depois de se certificar de que Davi e seus homens se abstiveram de mulheres, permite-lhes comer do pão sagrado da proposição. Agora, armado da espada de Golias, Davi foge para Gate, no território dos filisteus, onde finge estar louco. De lá, ele se esconde na caverna de Adulão, depois foge para Moabe, e mais tarde, seguindo o conselho do profeta Gade, ele retorna à terra de Judá. Temendo uma insurreição a favor de Davi, o Rei Saul, louco de ciúmes, ordena a Doegue, o edomita, que massacre a população sacerdotal de Nobe; só Abiatar escapa e foge para junto de Davi. Ele se torna o sacerdote do grupo.

Davi, servo leal de Deus, trava então uma bem-sucedida guerrilha contra os filisteus. Entretanto, Saul continua a sua campanha total de capturar a Davi, convocando seus guerreiros e indo ao encalço dele “no ermo de En-Gedi” (24:1). Mas Davi, o amado de Deus, consegue sempre manter-se um passo à frente de seus perseguidores. Em certa ocasião, Davi tem oportunidade de matar a Saul, mas ele se refreia e apenas corta a aba da túnica de

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Saul para lhe provar que lhe poupara a vida. Mesmo este gesto inofensivo faz o coração de Davi bater, pois sente que agiu contra o ungido de Deus. Que grande respeito pela organização de Deus!

A narrativa mencione nesta altura a morte de Samuel (25:1), Davi pede a Nabal, de Maom de Judá, que o proveja de alimento em troca dos serviços prestados a seus pastores. Mas Nabal só ‘lança invectivas’ contra os homens de Davi, e Davi põe-se a caminho para puni-lo (25:14). Compreendendo a gravidade da situação, Abigail, esposa de Nabal, leva secretamente provisões a Davi e aplaca-lhe a ira. Davi a abençoa pela sua iniciativa judiciosa e a envia de volta em paz. Quando Abigail informa Nabal sobre o sucedido, ele é atacado do coração, e dez dias mais tarde morre. Davi casa-se então com a bondosa e bela Abigail.

Pela terceira vez, Saul persegue obstinadamente a Davi, e, mais uma vez, goza da misericórdia de Davi. “Um sono profundo da parte de Deus” cai sobre Saul e seus homens. Isto permite que Davi entre no acampamento e se apodere da lança de Saul, mas ele se refreia de estender a mão “contra o ungido de Deus” (26:11, 12). Pela segunda vez Davi é forçado a buscar refúgio junto aos filisteus que lhe dão Ziclague como lugar de residência. De lá, ele continua as suas incursões contra outros inimigos de Israel.

G. Fim suicida de Saul (28:1-31:13). Os senhores do eixo dos filisteus se unem num exército combinado e acampam em Suném. Em contrapartida, Saul posta-se junto ao monte Gilboa. Num estado de grande agitação, Saul busca orientação divina, mas não consegue obter nenhuma resposta de Deus. Se tão-somente pudesse entrar em contato com Samuel! Saul se disfarça e parte para ir consultar uma médium espírita, em En-Dor, por trás das linhas dos filisteus, cometendo assim outro grave pecado. Encontrando-a, roga-lhe que contate Samuel. Precipitado em tirar conclusões, Saul presume que aquele que a médium faz aparecer seja o falecido Samuel. Entretanto, “Samuel” não tem mensagem consoladora para o rei. No dia seguinte, ele morrerá e, em conformidade com as palavras de Deus, o reino lhe será tirado. No outro acampamento, os senhores do eixo dos filisteus estão subindo ao combate. Vendo a Davi e seus homens entre as fileiras deles, ficam com suspeitas e os mandam para casa. Os homens de Davi voltam a Ziclague no momento exato! Um bando de invasores amalequitas levou a família e as posses de Davi e de seus homens, mas Davi e seus homens os perseguem, e tudo é recuperado sem nenhum dano.

A batalha é travada no monte Gilboa. Israel sofre uma desastrosa derrota, e os filisteus controlam as áreas estratégicas do país. Jonatã e outros filhos de Saul são mortos, e Saul, mortalmente ferido, mata-se com a sua própria espada é um suicida. Os filisteus vitoriosos prendem os cadáveres de Saul e de seus três filhos nas muralhas da cidade de Bete-Sã, mas os homens de Jabes-Gileade retiram os corpos dessa humilhante posição. O calamitoso reinado do primeiro rei de Israel chega assim a um fim desastroso.

4.2. Importância do Livro de I Samuel Para os Nossos Dias

Que impressionante história contém Primeiro Samuel! Com honestidade notável em todos os pormenores, expõe tanto a fraqueza como a força de Israel. São mencionados aqui quatro líderes de Israel: dois seguiram a lei de Deus e dois não. Note-se como Eli e Saul fracassaram nos seus deveres: o primeiro negligenciou tomar ação e o segundo agiu presunçosamente. Por outro lado, Samuel e Davi mostraram amor pelo caminho de Deus desde a sua mocidade, e prosperaram em conseqüência disso. Que lições valiosas encontramos aqui para todos os ministros! Quão necessário é que estes sejam firmes, que velem pela pureza e pela ordem na congregação de Deus, que respeitem as providências tomadas nela, que sejam destemidos, calmos, corajosos, que tenham amor e consideração para com os outros! (2:23-25; 24:5, 7; 18:5, 14-16). É digno de nota também que os dois que foram bem-sucedidos tiveram a vantagem de uma boa formação teocrática desde a tenra infância, e, bem jovens ainda, falavam corajosamente a mensagem de Deus e se desincumbiam dos interesses que se lhes confiavam (3:19; 17:33-37). Que todos os jovens adoradores de Deus hoje possam ser pequenos “Samuéis” e pequenos “Davis”!

Dentre todas as palavras proveitosas deste livro, é preciso lembrar claramente as que Deus inspirou Samuel a proferir ao julgar Saul por este não “extinguir a menção de

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Amaleque debaixo dos céus” (Dt 25:19). A lição de que ‘a obediência é melhor que sacrifício’ é repetida em várias situações, em Oséias.6:6, Miquéias.6:6-8 e em Marcos.12:33. (I Sm15:22). É essencial que tiremos proveito hoje deste relato inspirado, obedecendo plena e completamente à voz de Deus, nosso Senhor! A obediência em reconhecer a santidade do sangue é também trazida à nossa atenção, em 1Samuel14:32, 33. Comer carne sem que se tenha deixado escoar devidamente o sangue era considerado ‘pecar contra Deus’. Isto se aplica também à congregação cristã, segundo o que é dito claramente em Atos15:28,29.

O que ressalta do livro de Primeiro Samuel é o lastimável erro de uma nação que chegou a considerar a dominação de Deus desde os céus como não sendo prática (I Sm 8:5, 19, 20; 10:18, 19). As armadilhas e a futilidade da dominação humana são retratadas de modo descritivo e profético (8:11-18; 12:1-17). No início, Saul revela ser homem modesto, que tinha o Espírito de Deus (9:21;11:6), mas seu bom-senso se obscureceu e seu coração ficou amargo ao passo que diminuía seu amor pela justiça e sua fé em Deus (14:24, 29, 44). Suas ações anteriores de zelo foram anuladas pelos seus atos posteriores de presunção, desobediência e infidelidade a Deus (I Sm 13:9; 15:9; 28:7; Ez 18:24). A sua falta de fé gerou insegurança, transformando-se em inveja, ódio e assassínio (18:9,11; 20:33; 22:18, 19). Morreu assim como viveu, faltando com o dever para com seu Deus e para com seu povo, e constitui um aviso para qualquer indivíduo que venha a ser ‘obstinado’ como ele foi II Pd 2:10-12.

No entanto, há o contraste com o bem. Por exemplo, note-se a conduta do fiel Samuel, que serviu Israel por toda a vida, sem usar de fraude, parcialidade ou favoritismo (I Sm12:3-5). Mostrava-se ansioso por obedecer desde a sua infância (3:5), era cortês e respeitoso (3:6-8), fidedigno no cumprimento de seus deveres (3:15), inabalável na sua dedicação e devoção (7:3-6; 12:2), disposto a ouvir (8:21), pronto a apoiar as decisões de Deus (10:24), firme no seu julgamento para com quem quer que fosse (13:13), firme na obediência (15:22), perseverante no cumprimento de incumbências (16:6,11). Era também alguém que recebeu testemunho favorável dos de fora. (2:26; 9:6) Não somente deve o seu ministério na mocidade incentivar os jovens a empreender o ministério hoje em dia (2:11, 18), mas a sua perseverança nele, sem parar, até o fim de seus dias, deve reconfortar os desgastados pela idade (7:15).

Há, também, o notável exemplo de Jonatã. Ele não manifestou rancor por ser Davi ungido para ser rei do reino que ele poderia ter herdado. Ao contrário, reconheceu as excelentes qualidades de Davi e fez um pacto de amizade com ele. Similar companheirismo desinteresseiro pode ser grandemente edificante e encorajador entre os que hoje servem fielmente a Deus (23:16-18).

Para as mulheres, há o exemplo de Ana, que acompanhava regularmente seu esposo ao lugar de adoração de Deus. Era mulher humilde, voltada a orações, e renunciou ao companheirismo de seu filho para manter a sua palavra e mostrar apreço pela bondade de Deus. Foi deveras maravilhosa a sua recompensa ao vê-lo entrar no serviço frutífero de Deus, por toda a vida (1:11, 21-23, 27, 28). Além disso, há o exemplo de Abigail, que demonstrou submissão feminina e sensatez, o que lhe granjeou o louvor de Davi, de modo que mais tarde ela se tornou sua esposa (25:32-35).

O amor de Davi por Deus é expresso de modo comovedor nos salmos que compôs enquanto perseguido no ermo por Saul, o “ungido de Deus” que caíra no pecado (I Sm 24:6; Sl 34:7, 8; 52:8; 57:1, 7, 9). E, com que sincero apreço, Davi santificou o nome de Deus, quando lançou o desafio ao escarnecedor Golias! “Eu chego a ti com o nome de Deus dos exércitos (...) No dia de hoje Deus te entregará na minha mão, (...) e pessoas de toda a terra saberão que existe um Deus que pertence a Israel. E toda esta congregação saberá que não é nem com espada nem com lança que Deus salva, porque a Deus pertence a batalha, e ele terá de entregar-vos na nossa mão” (17:45-47). Davi, o corajoso e leal “ungido de Deus”, magnificou a Deus como sendo Deus de toda a terra e a única Fonte real de salvação (II Sm 22:51). Sigamos sempre este corajoso exemplo!

O que nos informa o livro de Primeiro Samuel sobre o desenrolar dos propósitos de Deus concernentes ao Reino? Ah! isto nos leva ao verdadeiro ponto alto deste livro da Bíblia! Pois é aqui que conhecemos a Davi, cujo nome significa, provavelmente, “Amado”. Davi era amado de Deus e escolhido como o ‘homem que agradou ao seu coração’, aquele que era

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apto para ser rei em Israel (3:14). Assim, o reino passou para a tribo de Judá, em harmonia com a bênção de Jacó, em Gênesis 49:9, 10, e a realeza havia de permanecer na tribo de Judá, até que viesse o Governante, a quem pertence a obediência de todos os povos.

Além do mais, o nome de Davi está associado com o da Semente do Reino, que também nasceu em Belém, da linhagem de Davi (Mt 1:1, 6; 2:1; 21:9, 15). Trata-se do glorificado Jesus Cristo, o “Leão que é da tribo de Judá, a raiz de Davi”, e “a raiz e a descendência de Davi, e a resplandecente estrela da manhã” (Ap5:5; 22:16). Regendo no poder do Reino, este “filho de Davi” mostrará toda a firmeza e coragem de seu ilustre antepassado em lutar contra os inimigos de Deus até os derrubar, e em santificar em toda a terra o nome de Deus. Quão forte é a nossa confiança nesta Semente do Reino!

5 - II SAMUEL Escritores: provavelmente o sacerdote Abiatar

Lugar da Escrita: Israel

Data: entre 931 e 722 a.C.

Tema: rei Davi, precursor do Messias

A nação de Israel estava desesperada por causa da derrota que sofrera em Gilboa e da invasão do país pelos vitoriosos filisteus em conseqüência disso. Os líderes de Israel e a nata de seus jovens jaziam mortos. É então que Davi, o jovem “ungido de Deus”, filho de Jessé, faz sua entrada propriamente dita na cena nacional (19:21). Assim começa o livro de Segundo Samuel, que bem poderia ser chamado de livro de Deus e Davi. A narrativa está cheia de ação de toda sorte. Vai desde o nadir da derrota até o zênite da vitória, desde a angústia de uma nação dilacerada pelas lutas internas até a prosperidade de um reino unido e desde o vigor da juventude até a sabedoria da idade avançada. Aqui se relata a vida íntima de Davi, que de todo o coração procurava seguir a Deus. É um relato que deve incitar o leitor a fazer um escrutínio de seu coração, a fim de estreitar sua relação com seu Criadore ter o Seu favor.

O nome de Samuel, na realidade, nem sequer é mencionado no relato de Segundo Samuel, sendo este nome dado ao livro, pelo que parece, por ter sido originalmente um só rolo, ou volume, com Primeiro Samuel. Devemos aceitar o livro de Segundo Samuel como parte do cânon da Bíblia pelos mesmos motivos apresentados com respeito a Primeiro Samuel. É incontestável a sua autenticidade. A própria franqueza e sinceridade dos escritores, não passando por alto nem mesmo os pecados e as faltas do Rei Davi, é, em si, forte evidência indireta da veracidade desse documento.

Todavia, a evidência mais convincente da autenticidade de Segundo Samuel reside no cumprimento das profecias, especialmente as relacionadas com o pacto do Reino feito com Davi. Deus fez a seguinte promessa a Davi: “Tua casa e teu reino hão de ficar firmes por tempo indefinido, diante de ti; teu próprio trono ficará firmemente estabelecido por tempo indefinido” (7:16). Mesmo no crepúsculo do reino de Judá, Jeremias declarou que esta promessa feita à casa de Davi subsistiria, dizendo: “Assim disse Deus: ‘No caso de Davi, não se decepará homem seu, impedindo-o de sentar-se no trono da casa de Israel” (Jr 33:17). Esta profecia se cumpriu, pois, mais tarde, Deus suscitou a “Jesus Cristo, filho de Davi”, da tribo de Judá, segundo testifica tão claramente a Bíblia (Mt 1:1).

5.1. Conteúdo do Livro

A. Eventos no início do reinado de Davi (1:1-4:12). Após a morte de Saul, junto ao monte Gilboa, um amalequita foge da batalha e apressadamente vai ter com Davi, em Ziclague, para lhe dar a notícia. Procurando agradar a Davi, inventa a história de que ele próprio tirou a vida de Saul. Em vez de elogios, o amalequita recebe como recompensa a morte, pois testifica contra si mesmo, dizendo que matou “o ungido de Deus” (1:16.) O novo rei, Davi, compõe então uma endecha, “O Arco”, na qual deplora a morte de Saul e de

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Jonatã. Este cântico atinge um belo clímax na expressão comovente do superabundante amor de Davi por Jonatã: “Estou aflito por ti, meu irmão Jonatã, tu me eras muito agradável. Teu amor a mim era mais maravilhoso do que o amor das mulheres. Como caíram os poderosos e pereceram as armas de guerra!” (1:17, 18, 26, 27).

Sob a ordem de Deus, Davi e seus homens mudam-se com suas famílias para Hébron, no território de Judá. Ali, os anciãos da tribo ungem a Davi qual rei. O general Joabe se torna o mais proeminente dos apoiadores de Davi. Contudo, Is-Bosete, filho de Saul, como rival no trono de Israel, é ungido por Abner, chefe do exército. Há choques periódicos entre as duas forças oponentes, e Abner mata um irmão de Joabe. Por fim, Abner passa para o lado de Davi. Ele leva para Davi a Mical, filha de Saul, por quem Davi havia pagado muito tempo antes o dote do casamento. Mas Joabe aproveita a oportunidade para matar Abner, vingando assim a morte de seu irmão. Davi fica muito angustiado com isso, eximindo-se de qualquer culpa. Pouco depois, o próprio Is-Bosete é assassinado, enquanto ‘faz a sua sesta do meio-dia’ (4:5).

B. Davi, rei em Jerusalém (5:1-6:23). Embora esteja reinando em Judá já por sete anos e seis meses, Davi se torna agora o rei absoluto, e os representantes das tribos o ungem para ser rei sobre todo o Israel. Esta é a sua terceira unção. Um dos primeiros atos de Davi na qualidade de rei do inteiro reino é capturar a fortaleza de Sião, em Jerusalém, ocupada pelos jebuseus; ele os surpreende, passando pelo túnel de água. Davi faz, então, de Jerusalém a sua capital. Deus dos exércitos abençoa a Davi, tornando-o grande, cada vez mais. Até mesmo Hirão, o rico rei de Tiro, envia a Davi cedros valiosos e também trabalhadores para a construção de uma casa para o rei. A família de Davi aumenta, e Deus faz prosperar o seu reino. Há mais duas batalhas com os combativos filisteus. No primeiro destes, Deus rompe as fileiras do inimigo diante de Davi, em Baal-Perazim, dando-lhe assim a vitória. No segundo combate, Deus realiza outro milagre, fazendo ouvir um “ruído de marcha nas copas dos lentiscos”, o que indica que Deus vai à frente de Israel para derrotar os exércitos dos filisteus (5:24). Mais uma grande vitória para as forças de Deus!

Tomando consigo 30.000 homens, Davi põe-se a caminho para trazer a arca do pacto de Baale-Judá (Quiriate-Jearim) para Jerusalém. Ao ser transportada ao som da música e com grande alegria, a carroça em que é carregada dá um solavanco, e Uzá, que está caminhando do lado, estende a mão para segurar a Arca sagrada. “Nisso se acendeu a ira de Deus contra Uzá, e o verdadeiro Deus o golpeou ali pelo ato irreverente” (6:7). A Arca fica na casa de Obede-Edom, e, nos três meses seguintes, Deus abençoa ricamente a casa de Obede-Edom. Depois de três meses, Davi põe-se a caminho para ir buscar a Arca e levá-la de modo correto pelo resto do caminho. A Arca é conduzida para a capital de Davi com gritos alegres, música e dança. Davi dá livre curso à sua grande alegria, dançando perante Deus, mas sua esposa Mical desaprova isto. Davi insiste: “Vou festejar perante Deus” (6:21). Em conseqüência disso, Mical permanece sem filhos até morrer.

C. O pacto de Deus com Davi (7:1-29). Chegamos, agora, a um dos mais importantes eventos da vida de Davi, diretamente relacionado com o tema central da Bíblia: a santificação do nome de Deus por meio do Reino, sob a Semente prometida. Este evento se origina do desejo de Davi de construir uma casa para a arca de Deus. Residindo ele próprio numa linda casa de cedro, Davi revela a Natã seu desejo de construir uma casa para a arca do pacto de Deus. Por intermédio de Natã, Deus reafirma a Davi Sua benevolência para com Israel e faz com ele um pacto que subsistirá para sempre. Entretanto, não será Davi, mas o seu descendente (semente) quem edificará uma casa para o nome de Deus. Além disso, Deus faz a amorosa promessa: “E tua casa e teu reino hão de ficar firmes por tempo indefinido diante de ti; teu próprio trono ficará firmemente estabelecido por tempo indefinido” (7:160).

Comovido pela bondade que Deus manifestou, fazendo este pacto do Reino, o coração de Davi transborda de gratidão por toda a benevolência de Deus: “Que única nação na terra é semelhante ao teu povo Israel, que Deus foi remir para si como povo e designar um nome para si, e fazer para eles coisas grandes e atemorizantes? (...) E tu mesmo, ó Deus, te tornaste seu Deus” (7:23, 24). E Davi ora fervorosamente pela santificação do nome de Deus e para que a sua casa seja firmemente estabelecida perante Ele.

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D. Davi estende o domínio de Israel (8:1-10:19). Mas, Davi não reinará em paz. Restam combates a travar. Davi passa a derrubar os filisteus, os moabitas, os zobaítas, os sírios e os edomitas, estendendo assim o território de Israel até os limites fixados por Deus (II Sm 8:1-5, 13-15; Dt 11:24). Depois, ele volta a sua atenção para a casa de Saul, a fim de, em consideração a Jonatã, manifestar sua benevolência para quem quer que remanesça. Ziba, servo de Saul, chama a atenção de Davi para Mefibosete, filho de Jonatã, que tem os pés aleijados. Davi ordena imediatamente que todos os bens de Saul sejam entregues a Mefibosete e que suas terras sejam cultivadas por Ziba e seus servos, a fim de fornecerem sustento à casa de Mefibosete. Quanto ao próprio Mefibosete, comerá à mesa de Davi.

Morrendo o rei de Amom, Davi envia embaixadores a seu filho Hanum para lhe expressar sua benevolência. Mas os conselheiros de Hanum acusam Davi de os ter enviado para espiarem o país, e eles os humilham e os enviam de volta meio nus. Irritado com tal afronta, Davi envia Joabe com seu exército para vingar essa injúria. Dividindo as suas forças, ele derrota facilmente os amonitas e os sírios que haviam vindo para socorrê-los. Os sírios reúnem novamente as suas forças, só para sofrerem nova derrota causada pelos exércitos de Deus, sob o comando de Davi, e perdem 700 condutores de carros e 40.000 cavaleiros. Eis mais uma evidência do favor e da bênção de Deus sobre Davi.

E. Davi peca contra Deus (11:1-12:31). No ano seguinte, na primavera, Davi envia de novo Joabe contra Amom, para sitiar a cidade de Rabá, mas ele próprio fica em Jerusalém. Certa noitinha, do terraço de sua casa, ele vê a linda Bate-Seba, esposa de Urias, o hitita, que se banha. Ele manda trazê-la para sua casa, tem relações sexuais com ela, e ela fica grávida. Davi tenta encobrir isto, mandando Urias vir da luta em Rabá e enviando-o para casa para se revigorar. Mas, Urias recusa agradar a si mesmo e ter relações sexuais com sua esposa enquanto a Arca e o exército “estão morando em barracas”. Davi, desesperado, manda Urias de volta para junto de Joabe com uma carta que diz: “Ponde Urias na frente das mais fortes cargas de batalha e tereis de retirar-vos de detrás dele, e ele terá de ser golpeado e morto” (11:11, 15). Assim morre Urias. Depois de passados os dias de luto de Bate-Seba, Davi leva-a imediatamente para sua casa, onde ela se torna sua esposa, e nasce o filho deles, um menino.

Isto é mau aos olhos de Deus. Ele envia o profeta Natã a Davi com uma mensagem de julgamento. Natã diz a Davi que havia dois homens, um rico e outro pobre. Um tinha muitos rebanhos, mas o outro tinha uma só cordeirinha que criava como animal de estimação na família e era “como uma filha”. Mas, quando chegou a ocasião de fazer uma festa, o rico não tomou uma ovelha dos seus próprios rebanhos, mas a cordeirinha do homem pobre. Ouvindo isto, Davi fica irado e exclama: “Por Deus que vive o homem que fez isso merece morrer!” Em resposta, vêm as palavras de Natã: “Tu mesmo és o homem!” (12:3, 5, 7). Ele pronuncia então um julgamento profético de que as esposas de Davi serão violadas publicamente por outro homem, a sua casa será flagelada por lutas internas e seu filho, nascido de Bate-Seba, morrerá.

Sinceramente desolado e arrependido, Davi reconhece abertamente sua falta: “Pequei contra Deus” (12:13). Cumprindo-se a palavra de Deus, a criança, fruto da união adúltera, morre depois de sete dias de enfermidade (mais tarde, Davi tem outro filho com Bate-Seba; a este chama de Salomão, nome que se deriva de uma raiz que significa “paz”. Entretanto, Deus manda, por intermédio de Natã, que o chamem também de Jedidias, que significa “Amado de Deus”). Depois desta triste experiência, Joabe chama Davi a Rabá, onde tudo está pronto para o ataque final. Tendo capturado as reservas de água daquela cidade, Joabe, por respeito ao rei, deixa para este a honra de capturar a própria cidade.

F. As dificuldades na família de Davi (13:1-18:33). Começam as dificuldades na casa de Davi quando Amnom, um dos filhos de Davi, se apaixona por Tamar, irmã de seu meio-irmão, Absalão. Amnom finge estar doente e pede que lhe enviem a bela Tamar para cuidar dele. Ele a violenta, e daí a odeia intensamente, de modo que a manda embora em humilhação. Absalão planeja vingança, aguardando um momento oportuno. Cerca de dois anos mais tarde, ele organiza um banquete, ao qual Amnom e todos os demais filhos do rei são convidados. Quando o coração de Amnom está alegre pelo vinho, ele é apanhado de surpresa e morto por ordem de Absalão.

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Temendo o desagrado do rei, Absalão foge para Gesur, onde vive em semi-exílio por três anos. No ínterim, Joabe, o chefe do exército de Davi, trama um meio de reconciliação entre Davi e Absalão. Faz com que uma mulher sábia de Tecoa conte ao rei uma história inventada sobre retribuição, banimento e punição. Quando o rei pronuncia o veredicto, a mulher lhe revela a verdadeira razão de sua presença: é que o próprio filho do rei, Absalão, está banido em Gesur. Davi percebe que Joabe planejou isto, mas dá permissão para que seu filho retorne a Jerusalém. Passa mais dois anos até o rei consentir ver Absalão face a face.

Apesar da benevolência de Davi, Absalão não tarda em conspirar contra seu pai para se apoderar de seu trono. Absalão é extraordinariamente belo entre todos os homens valentes de Israel, e isto contribui para torná-lo ambicioso e orgulhoso. Cada ano, o cabelo que se corta de sua bela cabeleira pesa uns dois quilos e trezentos gramas (14:26, nota – “E, quando tosquiava a sua cabeça (e sucedia que no fim de cada ano a tosquiava, porquanto muito lhe pesava, e por isso a tosquiava), pesava o cabelo da sua cabeça duzentos siclos, segundo o peso real”) Por meio de diversas manobras astutas, Absalão começa a seduzir o coração dos homens de Israel. Por fim, a conspiração é revelada. Absalão, obtendo permissão de seu pai para ir a Hébron, anuncia ali o seu propósito rebelde e pede a ajuda de todo o Israel na sua insurreição contra Davi. Quando grande número de pessoas toma o lado deste seu filho rebelde, Davi foge de Jerusalém com uns poucos apoiadores leais, sendo típico destes Itai, o geteu, que declara: “Por Deus que vive e por meu senhor, o rei, que vive no lugar em que meu senhor, o rei, vier a estar, quer para a morte quer para a vida, lá virá a estar o teu servo!” (15:21).

Ao fugir de Jerusalém, Davi fica sabendo da traição de um de seus conselheiros de maior confiança, Aitofel. Ele ora: “Por favor, transforma em estultícia o conselho de Aitofel, ó Deus!” (15:31). Zadoque e Abiatar, sacerdotes leais a Davi, e Husai, o arquita, são enviados de volta a Jerusalém, para observarem as atividades de Absalão e darem notícias. Nesse meio tempo, no ermo, Davi se encontra com Ziba, o assistente de Mefibosete, que informa que seu amo espera que agora o reino seja devolvido à casa de Saul. Quando Davi passa por lá, Simei, da casa de Saul, amaldiçoa-o e atira pedras nele, mas Davi impede que seus homens se vinguem.

O usurpador Absalão, em Jerusalém, tem relações sexuais com as concubinas de seu pai “sob os olhares de todo o Israel”, seguindo a sugestão de Aitofel. Isto se dá em cumprimento do julgamento profético de Natã (16:22; 12:11). Aitofel aconselha também Absalão a tomar uma força de 12.000 homens e ir perseguir Davi no ermo. No entanto, Husai, que ganhou a confiança de Absalão, recomenda outro plano. E, segundo a oração de Davi, o conselho de Aitofel é frustrado. Semelhante a Judas, o frustrado Aitofel vai para casa e se estrangula. Husai relata secretamente os planos do usurpador Absalão aos sacerdotes Zadoque e Abiatar, que, por sua vez, mandam transmitir a mensagem a Davi que se acha no ermo.

Isto possibilita que Davi atravesse o Jordão e escolha o lugar para a batalha na floresta de Maanaim. Ali, ele desdobra em ordem de combate suas tropas e ordena-lhes que tratem Absalão com bondade. Os rebeldes sofrem derrota esmagadora. Quando Absalão foge num mulo por entre a floresta fechada, a sua cabeça fica presa nos ramos mais baixos de uma grande árvore, e ali fica suspenso no ar. Encontrando-o em tal apuro, Joabe o mata, desconsiderando totalmente a ordem do rei. A profunda tristeza de Davi ao ouvir a notícia da morte de seu filho se reflete na sua lamentação: “Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Oh! que eu, eu mesmo, tivesse morrido em teu lugar, Absalão, meu filho, meu filho!” (18:33).

G. Eventos finais do reinado de Davi (19:1-24:25). Davi continua a lamentar amargamente até que Joabe insta com ele que reassuma a sua devida posição como rei. Ele nomeia agora a Amasa qual chefe sobre o exército, no lugar de Joabe. A caminho de volta, ele é bem acolhido pelo povo, também por Simei, cuja vida Davi poupa. Mefibosete também pleiteia a sua causa, e Davi lhe dá herança igual à de Ziba. Todo o Israel e Judá ficam de novo unidos sob Davi.

Entretanto, novas dificuldades hão de surgir. Seba, um benjamita, proclama-se rei e desvia de Davi a muitos. Amasa, a quem Davi instrui para convocar homens para pôr fim à

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rebelião, encontra Joabe que o assassina traiçoeiramente. Joabe assume então o controle do exército e persegue Seba até a cidade de Abel de Bete-Maacá, sitiando-a. Seguindo o conselho de uma mulher sábia da cidade, os habitantes executam Seba, e Joabe se retira. Por causa de culpa de sangue, não-vingada, em razão de Saul ter matado os gibeonitas, há uma fome em Israel que dura três anos. Para remover essa culpa de sangue, sete filhos da casa de Saul são executados. E, novamente em batalha contra os filisteus, a vida de Davi é salva por um triz por Abisai, seu sobrinho. Seus homens juram que ele não mais deverá sair à batalha com eles “para que não apagues a lâmpada de Israel!” (21:17). Três de seus homens valentes se distinguem, destruindo os gigantes filisteus.

Nesta altura, o escritor insere no relato um cântico de Davi a Deus, que corresponde ao Salmo 18, e que expressa agradecimentos por livrá-lo “da palma da mão de todos os seus inimigos e da palma de Saul”. Com alegria, ele declara: “Deus é meu rochedo, e minha fortaleza, e Aquele que me põe a salvo. Aquele que faz grandes atos de salvação para o seu rei e usa de benevolência para com o seu ungido, para com Davi e para com a sua descendência por tempo indefinido” (22:1, 2, 51). Segue-se, então, o último cântico de Davi, em que admite: “Foi o Espírito de Deus que falou por meu intermédio, e a sua palavra estava na minha língua.” (23:2).

Voltando à narrativa histórica, encontramos alistados os homens poderosos que pertencem a Davi; três dos quais são notáveis. Estes estão envolvidos num incidente que ocorre quando se estabelece um posto avançado dos filisteus em Belém, a cidade natal de Davi. Davi expressa o desejo: “Quem me dera beber da água da cisterna de Belém, que está junto ao portão!” (23:15). Com isso, os três homens valentes irrompem pelo acampamento dos filisteus, tiram água da cisterna e a trazem a Davi. Mas, Davi recusa beber. Em vez disso, derrama-a no chão, dizendo: “É inconcebível, da minha parte, ó Deus, fazer isso! Beberia eu o sangue dos homens que andam arriscando as suas almas?” (23:17). Para ele a água é equivalente ao sangue vital que arriscaram para obtê-la. A seguir são alistados os 30 homens mais poderosos de seu exército, bem como as façanhas.

Por fim, Davi peca por fazer a contagem do povo. Implorando misericórdia a Deus, propõe-se-lhe a escolha entre três tipos de punição: sete anos de fome, três meses de derrotas militares ou três dias de pestilência no país. Davi responde: “Caiamos na mão de Deus, porque são muitas as suas misericórdias; mas não caia eu na mão dum homem” (24:14). A pestilência sobre a nação inteira mata 70.000 pessoas, e só pára quando Davi, agindo segundo as instruções de Deus, que recebe por intermédio de Gade, compra a eira de Araúna, onde oferece a Deus sacrifícios queimados e de participação em comum.

5.2. Importância do Livro de II Samuel Para os Nossos Dias

O leitor de hoje encontrará muita coisa proveitosa em Segundo Samuel! Quase todas as emoções humanas da vida real são retratadas em linguagem viva e muito expressiva. Assim, os resultados desastrosos da ambição, da represália (3:27-30), do desejo ilícito de possuir o cônjuge de outrem (11:2-4, 15-17; 12:9, 10), de atos traiçoeiros (15:12, 31; 17:23), do amor baseado somente na paixão (13:10-15, 28, 29), do julgamento precipitado (16:3, 4; 19:25-30) e da falta de respeito pelos atos de devoção de outrem constituem fortes avisos para nós (6:20-23).

Mas, tiramos proveito muito maior de Segundo Samuel, examinando-o de um ângulo positivo e seguindo seus numerosos e excelentes exemplos de boa conduta e boas ações. Davi é um modelo de alguém que demonstrou devoção exclusiva a Deus (7:22), foi humilde diante de Deus (7:18), enalteceu o nome de Deus (7:23, 26), teve atitude correta na adversidade (15:25), arrependeu-se sinceramente do pecado (12:13), foi fiel à sua promessa (9:1, 7), manteve o equilíbrio sob prova (16:11, 12), teve confiança contínua em Deus (5:12, 20) e demonstrou profundo respeito pelas providências tomadas por Deus e pelasdesignações feitas por ele (1:11, 12). Não é de admirar que Davi tenha sido chamado ‘um homem que agradava ao coração de Deus’! (I Sm 13:14).

Em Segundo Samuel, encontra-se também a aplicação de muitos princípios da Bíblia. Entre estes, os princípios sobre a responsabilidade coletiva (3:29; 24:11-15), que as boas intenções não mudam os requisitos de Deus (6:6, 7), que a chefia estabelecida na

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organização teocrática de Deus deve ser respeitada (12:28), que se requer expiação pela culpa de sangue (21:1-6, 9, 14), que uma pessoa sábia pode evitar que sobrevenha calamidade a muitos (II Sm 20:21, 22; Ec 9:15) e que a lealdade à organização de Deus e a seus representantes precisa ser mantida, “quer para a morte quer para a vida” (15:18-22).

Mas, acima de tudo, Segundo Samuel aponta para o Reino de Deus e dá brilhantes vislumbres desse Reino que Ele estabelece nas mãos do “Filho de Davi”, Jesus Cristo. (Mt 1:1) O juramento que Deus fez a Davi, relativo à permanência de seu reino (7:16), é citado em Atos 2:29-36, com referência a Jesus. Que a profecia: “Eu mesmo me tornarei seu pai e ele mesmo se tornará meu filho” (7:14), aponta realmente para Jesus, é demonstrado em Hebreus 1:5. Isto foi também comprovado pela voz de Deus que falou desde os céus: “Este é meu Filho, o amado, a quem tenho aprovado” (Mt 3:17; 17:5.) Finalmente, o pacto do Reino com Davi é mencionado por Gabriel nas suas palavras dirigidas a Maria, ao falar de Jesus: “Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e ele reinará sobre a casa de Jacó para sempre, e não haverá fim do seu reino.” (Lc 1:32, 33) Quão emocionante parece ser a promessa da Semente do Reino à medida que se vai desenvolvendo cada fase diante de nossos olhos!

6 - I REIS Escritor: anônimo

Lugar da Escrita: Jerusalém e Judá

Escrita Completada: cerca de 560-550 a.C.

Tema: reis de Israel e de Judá

As conquistas de Davi haviam estendido o território de Israel até os limites fixados por Deus, desde o rio Eufrates, no Norte, até o rio do Egito, no Sul (II Sm 8:3; I Re 4:21). Quando Davi já estava morto, e seu filho Salomão reinava em seu lugar, “Judá e Israel eram muitos, em multidão, iguais aos grãos de areia junto ao mar, comendo e bebendo, e alegrando-se” (I Re 4:20). Salomão governava com grande sabedoria, sabedoria esta que ultrapassava em muito a dos gregos da antigüidade. Ele construiu um magnífico templo para Deus. Entretanto, até mesmo Salomão se desviou para a adoração de deuses falsos. Quando morreu, o reino se dividiu em duas partes, e uma sucessão de reis maus nos reinos rivais de Israel e de Judá agiu ruinosamente, acarretando angústia ao povo, precisamente como Samuel predissera (I Sm 8:10-18). Dos 14 reis que reinaram em Judá ou em Israel depois da morte de Salomão, mencionados no livro de Primeiro Reis, apenas 2 conseguiram fazer o que é correto aos olhos de Deus. Então, é este relato ‘inspirado e proveitoso’? Não resta dúvida de que é, conforme veremos, examinando os conselhos dados, as profecias e os tipos contidos, bem como sua relação com o tema do Reino, que predomina em “toda a Escritura”.

O livro de Reis era originalmente um só rolo, ou volume, sendo chamado em hebraico de “Mela·khím” (Reis). Os tradutores da Septuaginta o chamaram de “Ba·si·leí·on”, “Reinos”, e foram os primeiros a dividi-lo em dois rolos, para comodidade. Mais tarde, foram chamados de Terceiro e Quarto Reis, títulos que continuam até o presente em Bíblias católicas. Não obstante, são agora geralmente conhecidos por Primeiro e Segundo Reis. São diferentes de Primeiro e de Segundo Samuel, pois o compilador cita documentos anteriores como fonte de matéria. Nos dois livros, o único compilador se refere 15 vezes ao “livro dos assuntos dos dias dos reis de Judá” e 18 vezes ao “livro dos assuntos dos dias dos reis de Israel”, também ao “livro dos assuntos de Salomão”. (I Re 15:7; 14:19; 11:41) Embora estes antigos escritos tenham sido perdidos por completo, a compilação inspirada existe a narrativa proveitosa de Primeiro e Segundo Reis.

Quem escreveu os livros dos Reis? A ênfase que se dá à obra executada pelos profetas, notadamente por Elias e por Eliseu, indica que foi um profeta de Deus que os escreveu. As similaridades de linguagem, composição e estilo sugerem que o escritor destes livros de Reis é o mesmo que escreveu o livro de Jeremias. Muitas palavras e expressões hebraicas só se encontram nos livros de Reis e em Jeremias, não aparecendo em nenhum outro livro da

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Bíblia. Contudo, se Jeremias escreveu os livros de Reis, por que não é ele mencionado neles? Porque não era necessário, visto que a obra que ele realizou já estava descrita no livro que leva o seu nome. Além disso, os livros de Reis foram escritos para magnificar a Deus e a Sua adoração, não para aumentar a reputação de Jeremias. Na realidade, os livros de Reis e de Jeremias se complementam em grande parte, um fornecendo a informação que o outro omite. Igualmente, há passagens paralelas, como, por exemplo, II Reis 24:18-25:30 eJeremias 39:1-10; 40:7-41:10; 52:1-34. A tradição judaica confirma que Jeremias foi o escritor de Primeiro e Segundo Reis. Foi, sem dúvida, em Jerusalém que ele começou a compilar os dois livros, e parece que o segundo livro foi completado no Egito, por volta de 560 a.C., visto que na conclusão de sua narrativa ele se refere a eventos que aconteceram naquela época (25:27). Primeiro Reis retoma a narrativa da história de Israel donde havia sido interrompida no fim de Segundo Samuel, e prossegue até o ano em que Jeosafá morreu (I Re 22:50).

Primeiro Reis ocupa seu lugar legítimo no cânon das Escrituras Sagradas, sendo aceito por todas as autoridades nesse campo. Além do mais, os eventos relatados em Primeiro Reis são confirmados pela história secular do Egito e da Assíria. A arqueologia confirma igualmente muitas das declarações do livro. Por exemplo, em I Reis 7:45, 46, lemos que foi “no Distrito do Jordão (...) entre Sucote e Zaretã” que Hirão fundiu os utensílios de cobre para o templo de Salomão. Os arqueólogos, escavando o local da antiga Sucote, desenterraram evidência de atividades de fundição ali. Além disso, um relevo sobre a parede do templo em Carnac (a antiga Tebas) exalta a invasão de Judá por parte do rei egípcio Xexonque (Sisaque), mencionada em I Reis 14:25, 26.

As referências de outros escritores da Bíblia e o cumprimento das profecias atestam a autenticidade de Primeiro Reis. Jesus falou dos eventos relacionados com Elias e a viúva de Sarefá como realidades históricas (Lc 4:24-26). Falando sobre João, o Batizador, Jesus disse: “Ele mesmo é ‘Elias, que está destinado a vir’” (Mt 11:13, 14). Jesus se referia aqui à profecia de Malaquias, que falava da mesma forma sobre um dia futuro: “Eis que vos envio Elias, o profeta, antes de chegar o grande e atemorizante dia do Senhor” (Ml 4:5). Jesus confirmou adicionalmente a canonicidade de Primeiro Reis, mencionando o que estava escrito nesse livro sobre Salomão e sobre a rainha do sul (Mt 6:29; 12:42; compare com I Re 10:1-9).

6.1. Conteúdo do Livro

A. Salomão torna-se rei (I Re 1:1-2:46). Primeiro Reis começa na ocasião em que Davi está à beira da morte, perto do fim de seu reinado de 40 anos. Seu filho Adonias, ajudado por Joabe, chefe do exército, e por Abiatar, o sacerdote, conspira apoderar-se do trono. O profeta Natã informa Davi a respeito disto e lembra ao rei indiretamente que este já nomeara Salomão para ser rei após sua morte. Em resultado disso, enquanto os conspiradores celebram a sucessão de Adonias, Davi dá ordens a Zadoque, o sacerdote, para ungir a Salomão como rei. Davi passa então a aconselhar Salomão a ser forte e mostrar-se homem, e a andar nos caminhos do Senhor, seu Deus, após o que Davi morre e é enterrado “na Cidade de Davi” (2:10). Com o tempo, Salomão bane a Abiatar e executa os perturbadores, a saber, Adonias e Joabe. Mais tarde, Simei é executado porque não respeita a misericordiosa provisão feita de se lhe poupar a vida. O reino fica agora firmemente estabelecido nas mãos de Salomão.

B. Salomão reina com sabedoria (3:1-4:34). Salomão faz uma aliança matrimonial com o Egito, casando-se com a filha de Faraó. Ele ora a Deus para que lhe dê um coraçãoobediente, a fim de julgar com discernimento o povo de Deus. Em virtude de não solicitar vida longa ou riquezas, Deus promete dar-lhe um coração sábio e discernidor, bem como riquezas e glória. Logo no início de seu reinado, Salomão revela sua sabedoria, quando duas mulheres se apresentam diante dele, ambas sustentando ser seu o mesmo filho. Salomão ordena a seus homens que ‘cortem o menino vivo em dois’ e dêem metade para cada uma delas. (3:25) Nisto, a mãe verdadeira pleiteia pela vida do bebê, dizendo que a outra mulher pode ficar com ele. Assim, Salomão identifica a mãe verdadeira, e ela recebe o filho. Graças à sabedoria de Salomão, dada por Deus, todo o Israel prospera, é feliz e goza de segurança. Pessoas de muitos países vêm ouvir a sua sabedoria.

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C. O templo de Salomão (5:1-10:29). Salomão relembra as palavras de Deus a Davi, seu pai: “Teu filho, a quem porei sobre o teu trono em teu lugar, ele é quem construirá uma casa ao meu nome” (5:5). Por conseguinte, Salomão faz preparativos para isso. Hirão, rei de Tiro, presta ajuda, enviando madeira de cedro e de junípero do Líbano, bem como trabalhadores qualificados. Estes, juntamente com os trabalhadores contratados por Salomão, começam a trabalhar na construção da casa de Deus, no quarto ano do reinado de Salomão, isto é, no 480° ano depois que os israelitas saíram do Egito (6:1). Não se usam martelos, machados nem ferramenta alguma de ferro no local da construção, pois todas as pedras são preparadas e talhadas na pedreira antes de serem levadas ao local do templo para serem assentadas. As paredes internas do templo são primeiro cobertas de cedro e o chão, de junípero, a seguir, todo o interior é belamente revestido de ouro. Fazem-se dois querubins de oleastro, tendo cada um dez côvados (4,5 m) de altura e dez côvados da ponta de uma asa à outra, e estes são colocados no compartimento mais recôndito. São entalhadas nas paredes do templo figuras de outros querubins, de palmeiras e de flores. Finalmente, depois de mais de sete anos de trabalho, o magnífico templo é terminado. Salomão continua o seu programa de construção: uma casa para si mesmo, a Casa da Floresta do Líbano, o Pórtico das Colunas, o Pórtico do Trono e uma casa para a filha de Faraó. Faz também duas grandes colunas de cobre para o pórtico da casa de Deus, o mar de fundição para o pátio, carrocins de cobre, bacias de cobre e utensílios de ouro.

Chega então o tempo para os sacerdotes transportarem a arca do pacto de Deus e a colocarem no compartimento mais recôndito, o Santíssimo, debaixo das asas dos querubins. Quando os sacerdotes saem, ‘a glória do Senhor enche a casa de Deus’, não mais podendo os sacerdotes ficar de pé para ministrar. (8:11) Salomão abençoa a congregação de Israel, bendiz e louva ao Senhor. Ajoelhado e com as mãos estendidas para os céus, ele reconhece em sua oração que nem o céu dos céus pode conter a Deus, muito menos a casa terrestre que construiu. Em sua oração, pede que Deus ouça a todos os que temem a Ele, quando orarem voltados para essa casa, sim, até mesmo ao estrangeiro vindo de uma terra distante, “para que todos os povos da terra conheçam o teu nome para te temer assim como teu povo Israel” (8:43).

Durante a festa de 14 dias que se segue, Salomão sacrifica 22.000 bovinos e 120.000 ovelhas. Deus diz a Salomão que ouviu a sua oração e que santificou o templo, colocando ali o Seu “nome por tempo indefinido”. Agora, se Salomão andar em retidão diante de Deus, otrono de seu reino continuará. Contudo, se Salomão e seus filhos depois dele abandonarem a adoração de Deus e servirem a outros deuses, nesse caso, Deus diz: “Eu vou decepar Israel da superfície do solo que lhes dei; e a casa que santifiquei ao meu nome lançarei para longe de mim, e Israel deveras se tornará uma expressão proverbial e um escárnio entre todos os povos. E esta mesma casa se tornará montões de ruínas” (9:3, 7, 8).

Levou 20 anos para Salomão terminar as duas casas, a casa de Deus e a casa do rei. Daí, ele passa a construir muitas cidades em todo o seu domínio, bem como uma frota de navios para comércio com países distantes. A rainha de Sabá ouve falar da grande sabedoria que Deus deu a Salomão, e ela vem prová-lo com perguntas difíceis. Depois de ouvi-lo e ver a prosperidade e a felicidade de seu povo, ela exclama: “Não se me contou nem a metade” (10:7). Visto que Deus continua a mostrar amor por Israel, Salomão chega a ser “maior em riquezas e em sabedoria do que todos os outros reis da terra” (10:23).

D. Infidelidade e morte de Salomão (11:1-43). Desobedecendo ao mandamento de Deus, Salomão toma muitas esposas de outras nações 700 esposas e 300 concubinas (Dt 17:17). Seu coração é desviado para servir outros deuses. Deus lhe diz que o reino lhe será arrancado, não nos seus dias, mas nos dias de seu filho. Entretanto, parte do reino, uma tribo, além da tribo de Judá, será governada pelos filhos de Salomão. Deus começa a suscitar inimigos a Salomão dentre as nações vizinhas, e Jeroboão, da tribo de Efraim, também se levanta contra o rei. O profeta Aijá diz a Jeroboão que ele reinará sobre dez tribos de Israel, mas Jeroboão foge para o Egito, temendo pela sua vida. Salomão morre depois de reinar 40 anos, e seu filho Roboão torna-se rei no ano 997 a.C.

E. O reino é dividido (12:1-14:20). Jeroboão volta do Egito e junto com o povo vai pedir a Roboão que os alivie de todas as cargas que Salomão colocou sobre eles. Em vez de escutar o conselho sábio dos anciãos de Israel, Roboão escuta os jovens e aumenta o jugo que pesa sobre o povo. Israel se revolta e faz de Jeroboão rei sobre as dez tribos do norte.

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Roboão, ficando com apenas Judá e Benjamim, reúne um exército para combater os rebeldes, mas, às ordens de Deus, ele recua. Jeroboão edifica Siquém como sua capital, mas ainda assim se sente inseguro. Teme que o povo retorne a Jerusalém para adorar a Deus e se submeta novamente a Roboão. A fim de impedir isto, faz dois bezerros de ouro, que coloca um em Dã e o outro em Betel, e designa sacerdotes, não dentre a tribo de Levi, mas dentre todo o povo, para presidirem à adoração.

Enquanto Jeroboão oferece sacrifício no altar de Betel, Deus envia um profeta para avisá-lo de que Ele suscitará um rei da linhagem de Davi, de nome Josias, e que este tomará ação enérgica contra o altar de adoração falsa. Como um portento, o altar é então imediatamente fendido em dois. Mais tarde, o próprio profeta é morto por um leão, pois desobedeceu à ordem de Deus de não comer nem beber durante a sua missão. A adversidade começa então a vir sobre a casa de Jeroboão. Seu filho morre, conforme o julgamento da parte de Deus, e Aijá, profeta de Deus, prediz que a casa de Jeroboão será completamente exterminada, porque ele cometeu o grande pecado de colocar falsos deuses em Israel. Depois de reinar 22 anos, Jeroboão morre e seu filho Nadabe torna-se rei em seu lugar.

F. Roboão, Abijão e Asa, reis de Judá (14:21-15:24). No ínterim, sob Roboão, Judá faz também o que é mau aos olhos de Deus, praticando a adoração de ídolos. O rei do Egito invade e leva muitos dos tesouros do templo. Depois de 17 anos de reinado, Roboão morre, e seu filho Abijão torna-se rei. Ele também continua a pecar contra Deus e morre depois de três anos de reinado. Asa, seu filho, o sucede, e, ao contrário dele, serve a Deus de todo o coração e retira do país os ídolos detestáveis. Há guerra constante entre Israel e Judá. Asa recebe ajuda da Síria, e Israel vê-se forçado a retirar-se. Asa reina 41 anos e é sucedido pelo seu filho Jeosafá.

G. Nadabe, Baasa, Elá, Zinri, Tibni, Onri e Acabe, reis em Israel (15:25-16:34). Que bando de malfeitores! Baasa assassina a Nadabe depois de este ter reinado apenas dois anos, e passa a exterminar a inteira casa de Jeroboão. Continua na adoração falsa e a lutar contra Judá. Deus prediz que eliminará a casa de Baasa como fez com a de Jeroboão. Depois de 24 anos de reinado, Baasa é sucedido pelo seu filho Elá, que é assassinado dois anos depois pelo seu servo Zinri. Logo que se apodera do trono, Zinri destrói a todos os da casa de Baasa. Ouvindo isto, o povo estabelece como rei a Onri, o chefe do exército, e investe contra Tirza, a capital do Rei Zinri. Vendo que tudo está perdido, Zinri queima a casa do rei sobre si mesmo, de modo que morre. Daí, Tibni tenta governar como rei rival, mas, algum tempo depois, os seguidores de Onri apanham a Tibni e o matam.

Onri compra o monte de Samária sobre o qual edifica a cidade de Samária. Segue os mesmos caminhos de Jeroboão, ofendendo a Deus com a adoração de ídolos. Com efeito, ele é pior do que os demais que o precederam. Depois de reinar durante 12 anos, ele morre, e Acabe, seu filho, torna-se rei. Acabe se casa com Jezabel, filha do rei de Sídon, daí ele edifica um altar a Baal em Samária. Excede em iniqüidade a todos os que o precederam. É nessa época que Hiel, o betelita, reconstrói a cidade de Jericó, pagando com a vida de seu filho primogênito e de seu caçula. A verdadeira adoração está em total declínio.

H. A obra profética de Elias em Israel (17:1-22:40). Subitamente, entra em cena um mensageiro de Deus. Trata-se de Elias, o tisbita. É realmente impressionante a sua primeira mensagem ao Rei Acabe: “Assim como vive Deus, o Deus de Israel, perante o qual deveras estou de pé, não ocorrerá durante estes anos nem orvalho nem chuva, a não ser à ordem da minha palavra!” (17:1). De modo igualmente súbito, Elias se retira, sob a ordem de Deus, para um vale ao leste do Jordão. A seca castiga Israel, mas os corvos trazem alimento para Elias. Quando a torrente seca, Deus envia seu profeta a Sarefá, em Sídon, para residir ali. Em razão da bondade que uma viúva demonstra para com Elias, Deus lhe mantém miraculosamente a pequena reserva de farinha e de azeite, assim nem ela nem seu filho morrem de fome. Depois de algum tempo, o filho adoece e morre, mas Elias implora a Deus, e Deus restitui a vida ao menino. Daí, no terceiro ano da seca, Deus envia de novo Elias a Acabe. Este acusa Elias de ter trazido ostracismo sobre Israel, mas Elias responde com firmeza a Acabe: “Foste tu e a casa de teu pai” que o trouxeram, seguindo aos Baalins (18:18).

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Elias vai ter com Acabe para ajuntar todos os profetas de Baal no monte Carmelo. Não mais poderão mancar em duas opiniões. Apresenta-se a questão: Deus contra Baal! Perante todo o povo, os 450 sacerdotes de Baal preparam um novilho, colocam-no sobre a lenha em cima do altar e oram para que desça fogo para consumir a oferta. Desde a manhã até o meio-dia, em vão invocam a Baal, em meio às zombarias de Elias. Gritam e fazem cortes em si mesmos, mas não recebem nenhuma resposta! Daí, o profeta Elias, sozinho, edifica um altar em nome de Deus, prepara a lenha e o novilho para o sacrifício. Manda o povo encharcar a oferta e a lenha três vezes com água, e em seguida ora a Deus: “Responde-me, ó Deus, responde-me, para que este povo saiba que tu, Senhor, és o verdadeiro Deus!” Nisto, desce subitamente fogo do céu, consumindo a oferta, a lenha, as pedras do altar, o pó e a água. Quando todo o povo vê isto, prostra-se imediatamente com o rosto em terra e diz: “Tu Senhor, és o verdadeiro Deus!” (18:37, 39). Morte aos profetas de Baal! Elias cuida pessoalmente da matança de modo a não deixar escapar nenhum. Daí, Deus faz chover, acabando assim a seca em Israel.

Quando as notícias sobre a humilhação de Baal chegam a Jezabel, ela procura um meio de mandar matar Elias. Temendo, ele foge com seu ajudante para o ermo, e Deus o conduz a Horebe. Deus lhe aparece ali não de modo espetacular no meio dum vento, num tremor ou num fogo, mas com “uma voz calma, baixa” (19:11, 12). Deus ordena-lhe que vá ungir a Hazael para ser rei da Síria, a Jeú para ser rei em Israel e a Eliseu como profeta em seu lugar. Ele consola a Elias com a informação de que 7.000 pessoas em Israel não se encurvaram diante de Baal. Elias vai imediatamente ungir Eliseu, lançando sobre ele o seu manto oficial. Acabe ganha agora duas vitórias sobre os sírios, mas é repreendido por Deus por ter feito um pacto com o rei deles, em vez de matá-lo. Daí, vem o caso de Nabote, cujo vinhedo Acabe cobiça. Jezabel trama uma acusação falsa contra Nabote por meio de testemunhas falsas, e faz que ele seja morto de modo a Acabe poder tomar o vinhedo. Que crime imperdoável!

De novo Elias aparece. Diz a Acabe que, no próprio lugar onde Nabote morreu, os cães lamberão igualmente seu sangue, e que sua casa será exterminada tão completamente quanto a de Jeroboão e de Baasa. Os cães comerão a Jezabel no terreno de Jezreel. “Sem exceção, ninguém se mostrou igual a Acabe, que se vendeu para fazer o que é mau aos olhos de Deus, instigando-o Jezabel, sua esposa” (21:25). Entretanto, visto que Acabe se humilha ao ouvir as palavras de Elias, Deus diz que a calamidade não virá nos seus dias, mas nos dias de seu filho. Acabe se junta agora a Jeosafá, rei de Judá, e eles lutam contra a Síria, contrário ao conselho de Micaías, o profeta de Deus. Acabe morre dos ferimentos que recebe na batalha. Enquanto seu carro é lavado junto ao reservatório de Samária, os cães lambem seu sangue, assim como Elias profetizara. Acazias, seu filho, torna-se rei em Israel em seu lugar.

I. Jeosafá reina em Judá (22:41-53). Jeosafá, que acompanhara a Acabe na batalha contra a Síria, permanece fiel a Deus, semelhante a Asa, seu pai, mas não extermina por completo os altos da adoração falsa. Depois de reinar por 25 anos, ele morre, e Jeorão, seu filho, torna-se rei. Ao norte, em Israel, Acazias segue as pisadas de seu pai, ofendendo a Deus com a adoração que presta a Baal.

6.2. Importância do Livro de I Reis Para os Nossos Dias

Pode-se tirar grande proveito das instruções divinas contidas em Primeiro Reis. Vejamos primeiro o assunto da oração, que tão freqüentemente é acentuado nesse livro. Quando confrontado com a tremenda responsabilidade de reinar em Israel, Salomão orou humildemente a Deus, como uma criança. Pediu apenas discernimento e um coração obediente, mas, além de sabedoria em medida superabundante, Deus lhe deu também riquezas e glória (3:7-9, 12-14). Tenhamos nós hoje a certeza de que as nossas humildes orações, pedindo sabedoria e orientação no serviço de Deus, não ficarão sem resposta! (Tg 1:5). Oremos sempre com fervor e de todo o coração, com profundo apreço por toda a bondade de Deus, como o fez Salomão por ocasião da dedicação do templo! (8:22-53). Que nossas orações sejam sempre feitas com total confiança em Deus e dependência dele, a exemplo de Elias que orou em tempo de provação e quando confrontado face a face com

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uma nação que adorava demônios! Deus provê maravilhosamente às necessidades dos que o buscam em oração (I Re 17:20-22; 18:36-40; I Jo 5:14).

Além do mais, o exemplo dos que não se humilharam perante Deus deve constituir um aviso para nós. Como ‘Deus se opõe aos soberbos’! (I Pd 5:5) Houve Adonias, que pensou que pudesse passar por alto a designação teocrática de Deus (I Re 1:5; 2:24, 25); Simei, que pensou que pudesse ultrapassar impunemente os limites (2:37, 41-46); Salomão, cuja desobediência no fim de seus dias, suscitou opositores da parte de Deus (11:9-14, 23-26); e os reis de Israel, cuja religião falsa levou à ruína (13:33, 34; 14:7-11; 16:1-4). Houve também a iniquamente cobiçosa Jezabel, o poder por trás do trono de Acabe, cujo exemplo notório foi usado mil anos mais tarde como base para um aviso à congregação de Tiatira: “Não obstante, tenho contra ti que toleras aquela mulher Jezabel, que se chama profetisa, e ela ensina e desencaminha os meus escravos para cometerem fornicação e para comerem coisas sacrificadas a ídolos.” (Ap. 2:20) Os dirigentes precisam manter as congregações limpas e livres de todas as influências semelhantes às de Jezabel! (veja At 20:28-30).

O poder de profecia de Deus é claramente demonstrado no cumprimento de muitas profecias relatadas em Primeiro Reis. Por exemplo, há a notável profecia, feita com mais de 300 anos de antecedência, segundo a qual seria Josias quem destruiria o altar de Jeroboão, em Betel. Josias fez realmente isso! (I Re 13:1-3; II Re 23:15). Contudo, são ainda mais extraordinárias as profecias sobre a casa de Deus, construída por Salomão. Deus disse a Salomão que o desvio para os deuses falsos resultaria em Ele ‘decepar Israel da superfície do solo, e lançar para longe Dele a casa que santificou ao seu nome’ (9:7, 8). Em II Crônicas 36:17-21, lemos quão exatamente se cumpriu esta predição. Além do mais, Jesus anunciou que o templo que Herodes, o Grande, havia construído mais tarde naquele local teria o mesmo fim, e isso pelo mesmo motivo (Lc 21:6). Quão verídico também isto revelou ser! Devemos lembrar-nos dessas catástrofes e do motivo de terem acontecido, a fim de andarmos sempre nos caminhos do verdadeiro Deus.

A rainha de Sabá veio de seu país distante e se maravilhou da sabedoria de Salomão, da prosperidade de seu povo e da glória do seu reino, também da magnífica casa do Senhor Deus. Entretanto, até mesmo Salomão confessou diante de Deus: “Os próprios céus, sim, o céu dos céus, não te podem conter; quanto menos, então, esta casa que construí!” (8:27; 10:4-9). Séculos mais tarde, porém, Cristo Jesus veio para realizar uma obra de construção espiritual, especialmente relacionada com a restauração da adoração verdadeira no grande templo espiritual de Deus (Hb 8:1-5; 9:2-10, 23). É a este maior do que Salomão que se aplica a promessa de Deus: “Então deveras estabelecerei o trono do teu reino sobre Israel por tempo indefinido.” (I Re 9:5; Mt 1:1, 6, 7, 16; 12:42; Lc 1:32). Primeiro Reis fornece estimulante vislumbre da glória do templo espiritual de Deus, bem como da prosperidade, da alegria e da felicidade indescritíveis de todos os que chegarem a viver sob o sábio domínio do Reino de Deus, por Cristo Jesus. Assim, aumenta cada vez mais o nosso apreço da importância da verdadeira adoração e da maravilhosa provisão feita por Deus, de seu Reino por meio da Semente!

7 - II REIS Escritor: anônimo

Lugar da Escrita: Jerusalém e Judá

Escrita Completada: cerca de 560-550 a.C.

Tema: reis de Israel e de Judá

O Livro de Segundo Reis continua a traçar o curso turbulento dos reinos de Israel e Judá. Eliseu tomou o manto de Elias e foi abençoado com duas parcelas do espírito de Elias, realizando 16 milagres, em comparação com os 8 de Elias. Ele continuou a profetizar a condenação do Israel apóstata, onde apenas Jeú forneceu um breve lampejo de zelo por Deus. Os reis de Israel se afundaram cada vez mais na iniqüidade, até que finalmente o reino setentrional caiu diante da Assíria. No meridional reino de Judá, alguns reis de destaque, notavelmente Jeosafá, Jeoás, Ezequias e Josias, detiveram a onda de apostasia

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por algum tempo, mas, por fim, Nabucodonosor executou o julgamento de Deus por devastar Jerusalém, seu templo, e a terra de Judá. Assim se cumpriram as profecias de Deus e se vindicou a sua palavra!

Visto que Segundo Reis fazia originalmente parte do mesmo rolo que Primeiro Reis, o que já foi mencionado relativo a ser Jeremias o escritor se aplica igualmente aqui, assim como as provas da canonicidade e autenticidade do livro. Foi completado por volta de 560 a.C., e abrange o período que começa com o reinado de Acazias, de Israel e termina no 37°ano do exílio de Joaquim (1:1; 25:27).

As descobertas arqueológicas que apoiam o registro de Segundo Reis dão evidência adicional de sua genuinidade. Por exemplo, há a famosa Pedra Moabita, cuja inscrição fornece a versão do rei moabita Mesa sobre a guerra entre Moabe e Israel (3:4, 5). Há também o obelisco de basalto negro do assírio Salmaneser III, exibido atualmente no Museu Britânico, em Londres, que menciona o Rei Jeú, de Israel, por nome. Há as inscrições do Rei Tiglate-Pileser III (Pul), da Assíria, que cita o nome de diversos reis de Israel e Judá, incluindo Menaém, Acaz, e Peca (15:19, 20; 16:5-8).

Uma prova clara da autenticidade do livro se acha na extrema candura com que este descreve a execução dos julgamentos de Deus sobre seu próprio povo. Ao passo que primeiro o reino de Israel e daí o reino de Judá se desmoronam em ruínas, salienta-se-nos a poderosa força do julgamento profético de Deus em Deuteronômio 28:15-29:28. Na destruição desses reinos, “acendeu-se (...) a ira de Deus contra essa terra, trazendo sobre ela a inteira invocação do mal escrita neste livro” (Dt 29:27; II Re 17:18; 25:1, 9-11). Outros eventos registrados em Segundo Reis são elucidados em outras partes das Escrituras. Em Lucas 4:24-27, depois de Jesus se referir a Elias e à viúva de Sarefá, passa a falar de Eliseu e Naamã, mostrando por que ele próprio não foi aceito como profeta em seu próprio território. Assim, demonstra-se que tanto Primeiro como Segundo Reis são parte integrante das Escrituras Sagradas.

7.1. Conteúdo do Livro

A. Acazias, rei de Israel (1:1-18). Sofrendo uma queda em casa, este filho de Acabe adoece. Ele envia mensageiros para consultar Baal-Zebube, deus de Ecrom, sobre se há de sarar. Elias intercepta os mensageiros e os envia de volta ao rei, repreendendo-o por não consultar o verdadeiro Deus, e dizendo-lhe que, por não se ter voltado para o Deus de Israel, positivamente morrerá. Quando o rei envia um chefe com 50 homens para apanhar Elias e trazê-lo ao rei, Elias invoca fogo do céu para devorá-los. O mesmo ocorre a um segundo chefe com seus 50. Um terceiro chefe com 50 homens são enviados, e desta vez Elias poupa a vida deles em virtude do apelo respeitoso do chefe. Elias vai com eles ao rei e declara outra vez a sentença de morte sobre Acazias. O rei morre assim como Elias disse que sucederia. Daí, Jeorão, irmão de Acazias, torna-se rei sobre Israel, pois Acazias não tem filho varão para sucedê-lo.

B. Eliseu sucede a Elias (2:1-25). Chega o tempo de Elias ser levado. Eliseu acompanha-o de perto em sua viagem de Gilgal a Betel, até Jericó, e finalmente atravessando o Jordão. Elias divide as águas do Jordão por golpeá-las com seu manto oficial. Ao observar um carro de guerra, de fogo, e cavalos de fogo se interporem entre ele e Elias, e ver Elias subir num vendaval, Eliseu recebe as prometidas duas parcelas do espírito de Elias. Ele logo mostra que “o espírito de Elias” pousa sobre ele (2:15). Apanhando o manto caído de Elias, usa-o para dividir outra vez as águas. Daí, torna saudáveis as águas ruins de Jericó. A caminho de Betel, garotos começam a zombar dele: “Sobe, careca! Sobe, careca!” (2:23). Eliseu invoca a Deus, e duas ursas saem da floresta e matam 42 desses delinqüentes juvenis.

C. Jeorão, rei de Israel (3:1-27). Este rei persiste em fazer o que é mau aos olhos de Deus, apegando-se aos pecados de Jeroboão. O rei de Moabe vinha pagando tributo a Israel, mas agora se revolta, e Jeorão obtém a ajuda do Rei Jeosafá, de Judá, e do rei de Edom em ir contra Moabe. A caminho para o ataque, seus exércitos chegam a uma região onde não há água, e estão prestes a perecer. Os três reis descem a Eliseu para consultar a Deus, seu Deus. Por causa do fiel Jeosafá, Deus os socorre e lhes dá a vitória sobre Moabe.

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D. Outros milagres de Eliseu (4:1-8:15). Uma vez que os credores da viúva de um dos filhos dos profetas estão prestes a tomar-lhe os dois filhos como escravos, ela busca a ajuda de Eliseu. Este multiplica milagrosamente o pequeno suprimento de azeite em sua casa, de modo que ela consegue vender o suficiente para pagar as dívidas. Certa sunamita reconhece Eliseu como profeta do verdadeiro Deus, e ela e o marido preparam um quarto para ele usar sempre que passar por Suném. Por causa da bondade dela, Deus a abençoa com um filho. Alguns anos mais tarde, o filho adoece e morre. A mulher recorre imediatamente a Eliseu. Ele a acompanha à sua casa, e, pelo poder de Deus, ressuscita o filho dela. Retornando aos filhos dos profetas em Gilgal, Eliseu remove milagrosamente a “morte na panela” (4:40) por tornar inócuas as bagas venenosas. Daí, alimenta cem homens com 20 pães de cevada, contudo restam “sobras” (4:40, 44).

Naamã, o chefe do exército sírio, é leproso. Uma mocinha israelita cativa diz à esposa de Naamã que há um profeta em Samária que pode curá-lo. Naamã viaja para ir ter com Eliseu, mas, em vez de atendê-lo pessoalmente, Eliseu simplesmente manda dizer-lhe que vá banhar-se sete vezes no rio Jordão. Naamã fica indignado diante de tal aparente falta de respeito. Não são os rios de Damasco melhores do que as águas de Israel? Mas é persuadido a obedecer a Eliseu, e fica curado. Eliseu se recusa a aceitar um presente como recompensa, porém, mais tarde seu assistente Geazi corre atrás de Naamã e pede um presente em nome de Eliseu. Quando volta e tenta enganar Eliseu, Geazi é acometido de lepra. Ainda outro milagre é realizado quando Eliseu faz o ferro dum machado flutuar.

Quando Eliseu avisa o rei de Israel sobre uma trama dos sírios para matá-lo, o rei da Síria envia uma força militar a Dotã para capturar Eliseu. O assistente de Eliseu, vendo a cidade cercada por exércitos da Síria, fica temeroso. Eliseu o assegura: “Não tenhas medo, porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles.” Daí, ora a Deus para que permita a seu assistente ver a grande força que está com Eliseu. ‘E eis que a região montanhosa está cheia de cavalos e de carros de guerra, de fogo, em torno de Eliseu’ (6:16, 17). Quando os sírios atacam, o profeta ora outra vez a Deus, e os sírios são acometidos de cegueira mental e conduzidos ao rei de Israel. Em vez de entregá-los à morte, porém, Eliseu diz ao rei que lhes ofereça um banquete e os despeça para casa.

Mais tarde, o Rei Ben-Hadade da Síria sitia Samária, e ocorre uma grande fome. O rei de Israel culpa a Eliseu, mas o profeta prediz uma fartura de alimentos para o dia seguinte. Durante a noite, Deus faz com que os sírios ouçam o barulho de um grande exército, de modo que fogem, deixando todas as suas provisões para os israelitas. Depois de algum tempo, Ben-Hadade adoece. Ao ouvir a notícia de que Eliseu chegara a Damasco, envia Hazael para perguntar-lhe se ele se restabelecerá. A resposta de Eliseu indica que o rei morrerá e que Hazael se tornará rei em seu lugar. Hazael se certifica disso por ele próprio matar o rei e assumir a realeza.

E. Jeorão, rei de Judá (8:16-29). Nesse meio tempo, em Judá, o filho de Jeosafá, Jeorão, é agora rei. Ele não demonstra ser melhor do que os reis de Israel, fazendo o que é mau aos olhos de Deus. Sua esposa é filha de Acabe, Atália, cujo irmão, também chamado Jeorão, reina em Israel. Com a morte de Jeorão, de Judá, seu filho Acazias torna-se rei em Jerusalém.

F. Jeú, rei de Israel (9:1-10:36). Eliseu envia um dos filhos dos profetas para ungir a Jeú como rei de Israel e comissioná-lo a eliminar a inteira casa de Acabe. Jeú não perde tempo. Vai atrás de Jeorão, rei de Israel, que está em Jezreel recuperando-se de ferimentos sofridos na guerra. O vigia vê a movimentada massa de homens aproximando-se, e por fim informa o rei: “O guiar é como o guiar de Jeú, neto de Ninsi, pois é com loucura que ele guia o carro” (9:20). Jeorão, de Israel, e Acazias, de Judá, indagam sobre a intenção de Jeú. Jeúresponde por perguntar: “Que paz pode haver enquanto há as fornicações de Jezabel, tua mãe, e as suas muitas feitiçarias?” (9:22). Quando Jeorão se vira para fugir, Jeú atira uma flecha que lhe traspassa o coração. Seu corpo é lançado ali no campo de Nabote, como retribuição adicional pelo sangue inocente derramado por Acabe. Mais tarde, Jeú e seus homens perseguem a Acazias, ferindo-o, de modo que morre em Megido. Dois reis morrem na primeira campanha-relâmpago de Jeú.

Agora é a vez de Jezabel! Quando Jeú entra triunfantemente em Jezreel, Jezabel aparece na janela, deslumbrantemente maquiada. Jeú não se deixa impressionar. “Deixai-a

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cair!”, diz ele a alguns assistentes. Ela despenca, e seu sangue salpica o muro e os cavalos que a pisoteiam. Quando vão enterrá-la, só encontram o crânio, os pés e as palmas das mãos dela. Isto ocorre em cumprimento da profecia de Elias, ‘os cães a comeram, e ela se tornou estrume no lote de terreno de Jezreel’ (2 Reis 9:33, 36, 37; 1 Reis 21:23).

A seguir, Jeú ordena a matança dos 70 filhos de Acabe, e amontoa as cabeças deles à entrada de Jezreel. São mortos em Jezreel todos os subservientes de Acabe. Daí, segue para a capital de Israel, Samária! A caminho, encontra os 42 irmãos de Acazias, que viajam para Jezreel, não estando a par do que ocorre. Eles são apanhados e mortos. Mas, agora há outra espécie de encontro. Jonadabe, filho de Recabe, sai ao encontro de Jeú. À pergunta de Jeú: “É teu coração reto para comigo assim como o meu próprio coração é para com o teu coração?”, Jonadabe responde: “É.” Então, Jeú o faz ir junto no carro, para ver em primeira mão como ele ‘não tolera rivalidade para com Deus’ (2 Reis 10:15, 16).

Ao chegar a Samária, Jeú aniquila tudo que resta de Acabe, segundo a palavra de Deus a Elias (1 Reis 21:21, 22). Todavia, que dizer da detestável religião de Baal? Jeú declara: “Acabe, por um lado, adorou um pouco a Baal. Jeú por outro lado, o adorará muitíssimo” (10:18). Convocando todos esses adoradores de demônios à casa de Baal, manda-os pôr suas vestes de identificação e se certifica de que não haja entre eles nenhum adorador de Deus. Daí, manda seus homens entrar e golpear a todos eles. A casa de Baal é demolida, e o lugar é transformado em latrinas, que existem até os dias de Jeremias. ‘Assim aniquila Jeú a Baal em Israel’ (10:28).

Entretanto, até o zeloso Jeú falha. Em quê? No sentido de que continua a seguir os bezerros de ouro que Jeroboão estabeleceu em Betel e Dã. Ele não ‘cuida em andar na lei de Deus, o Deus de Israel, de todo o seu coração’ (10:31). Mas, por causa de sua ação contra a casa de Acabe, Deus promete que seus descendentes reinarão sobre Israel até a quarta geração. Nos seus dias, Deus começa a decepar a parte oriental do reino, trazendo Hazael da Síria contra Israel. Depois de reinar 28 anos, Jeú morre e é sucedido pelo seu filho Jeoacaz.

G. Jeoás, rei de Judá (11:1-12:21). A rainha-mãe, Atália, é filha de Jezabel, na carne e no espírito. Ao saber da morte de Acazias, seu filho, ordena a execução da inteira família real e apodera-se do trono. Somente o filho bebê de Acazias, Jeoás, escapa da morte ao ser escondido. No sétimo ano do reinado de Atália, Jeoiada, o sacerdote, faz com que Jeoás seja ungido rei e manda matar Atália. Jeoiada dirige o povo na adoração de Deus, instrui o jovem rei nos seus deveres perante Deus, e providencia o conserto da casa de Deus. Por meio de presentes, Jeoás faz retroceder um ataque de Hazael, rei da Síria. Depois de governar por 40 anos em Jerusalém, Jeoás é assassinado por servos seus, e Amazias, seu filho, começa a reinar em seu lugar.

H. Jeoacaz e Jeoás, reis de Israel (13:1-25). Jeoacaz, filho de Jeú, continua na adoração de ídolos, e Israel vem a estar sob o poder da Síria, embora Jeoacaz não seja destronado. Com o passar do tempo, Deus liberta os israelitas, mas estes continuam na adoração do bezerro, estabelecida por Jeroboão. Com a morte de Jeoacaz, seu filho Jeoás toma seu lugar como rei em Israel, enquanto o outro Jeoás reina em Judá. Jeoás, de Israel, continua na adoração de ídolos de seu pai. Quando morre, seu filho Jeroboão se torna rei. É durante o reinado de Jeoás que Eliseu adoece e morre, depois de proferir sua profecia final de que Jeoás golpeará a Síria três vezes, o que se cumpre devidamente. O milagre final atribuído a Eliseu ocorre após sua morte, quando um homem morto é lançado na mesma sepultura, levantando-se vivo assim que toca nos ossos de Eliseu.

I. Amazias, rei de Judá (14:1-22). Amazias faz o que é reto aos olhos de Deus, mas deixa de destruir os altos usados para adoração. É derrotado na guerra por Jeoás, de Israel. Após reinar por 29 anos, é morto numa conspiração. Azarias, seu filho, é constituído rei em seu lugar.

J. Jeroboão II, rei de Israel (14:23-29). O segundo Jeroboão a ser rei em Israel continua na adoração falsa de seu antepassado. Reina em Samária por 41 anos e tem êxito em recuperar os territórios perdidos de Israel. Zacarias, seu filho, o sucede no trono.

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L. Azarias (Uzias), rei de Judá (15:1-7). Azarias governa por 52 anos. É reto perante Deus, mas deixa de destruir os altos. Mais tarde, Deus o flagela com lepra, e seu filho Jotão cuida dos deveres reais, tornando-se rei ao morrer Azarias.

M. Zacarias, Salum, Menaém, Pecaías e Peca, reis de Israel (15:8-31). Segundo a promessa de Deus, o trono de Israel permanece na casa de Jeú até a quarta geração, Zacarias (10:30). Por conseguinte, este se torna rei em Samária, e seis meses depois um assassino o mata. Salum, o usurpador, dura apenas um mês. A adoração falsa, o assassínio e a intriga continuam a afligir Israel durante os reinados sucessivos dos reis Menaém, Pecaías e Peca. Durante o reinado de Peca, a Assíria fecha o cerco para o derradeiro ataque. Oséias assassina Peca, tornando-se o último rei de Israel.

O. Jotão e Acaz, reis de Judá (15:32-16:20). Jotão pratica a adoração pura, mas permite que os altos continuem. Acaz, seu filho, imita os reis do vizinho Israel por praticar o que é mau aos olhos de Deus. Quando atacado pelos reis de Israel e da Síria, solicita a ajuda do rei da Assíria. Os assírios vêm em seu socorro, capturando Damasco, e Acaz vai para lá ao encontro do rei da Assíria. Vendo o altar de adoração ali, Acaz manda erigir um em Jerusalém segundo o mesmo modelo, e passa a oferecer sacrifícios nele em vez de no altar de cobre do templo de Deus. Seu filho Ezequias torna-se rei de Judá qual sucessor seu.

P. Oséias, o último rei de Israel (17:1-41). Israel vem a estar agora sob o poder da Assíria. Oséias se rebela e busca a ajuda do Egito, mas no nono ano de seu reinado, Israel é conquistado pela Assíria e levado cativo. Assim termina o reino das dez tribos de Israel. Por quê? “Porque os filhos de Israel pecaram contra Deus, seu Deus (...) E continuaram a servir a ídolos sórdidos, a respeito dos quais Deus lhes dissera: ‘Não deveis fazer tal coisa’; por isso Deus ficou muito irado com Israel, de modo que os removeu da sua vista” (17:7, 12, 18). Os assírios trazem pessoas do leste para se estabelecerem no país, e estas se tornam “tementes de Deus”, embora continuem adorando seus próprios deuses (17:33).

Q. Ezequias, rei de Judá (18:1-20:21). Ezequias faz o que é correto aos olhos de Deus, segundo tudo o que Davi, seu antepassado, havia feito. Desarraiga a adoração falsa e despedaça os altos, e até destrói a serpente de cobre feita por Moisés, porque agora o povo a venera. Senaqueribe, rei da Assíria, invade Judá e captura muitas cidades fortificadas. Ezequias tenta suborná-lo por meio de pesado tributo, mas Senaqueribe envia seu mensageiro Rabsaqué, que vai até os muros de Jerusalém exigindo a rendição e zombando de Deus diante dos ouvidos de todo o povo. O profeta Isaías reanima o fiel Ezequias com uma mensagem de ruína contra Senaqueribe. “Assim disse Deus: ‘Não tenhas medo’” (19:6). Ao passo que Senaqueribe continua a ameaçar, Ezequias implora a Deus: “E agora, ó Senhor, nosso Deus, salva-nos, por favor, da sua mão, para que todos os reinos da terra saibam que somente tu, ó Senhor, és Deus”(19:19).

Responde Deus esta oração altruísta? Primeiro, por meio de Isaías, envia a mensagem de que “o próprio zelo do Senhor Deus dos exércitos” fará o inimigo recuar. (19:31) Daí, naquela mesma noite, ele envia seu anjo para golpear 185.000 no acampamento dos assírios. De manhã ‘todos eles são cadáveres’ (19:35). Senaqueribe volta derrotado e passa a morar em Nínive. Ali, seu deus Nisroque lhe falha mais uma vez, pois é enquanto está prostrado em adoração que seus próprios filhos o matam, em cumprimento da profecia de Isaías (19:7, 37).

Ezequias fica doente a ponto de morrer, mas Deus ouve outra vez a sua oração e prolonga-lhe a vida por mais 15 anos. O rei de Babilônia envia mensageiros com presentes, e Ezequias se atreve a mostrar-lhes toda a sua casa do tesouro. Isaías profetiza, então, que tudo em sua casa será um dia levado para Babilônia. Ezequias morre então, famoso pelo seu poder e pelo túnel que construiu a fim de trazer para dentro da cidade o abastecimento de água de Jerusalém.

R. Manassés, Amom e Josias, reis de Judá (21:1-23:30). Manassés sucede seu pai, Ezequias, e reina 55 anos, fazendo em grande escala o que é mau aos olhos de Deus. Restabelece os altos de adoração falsa, erige altares para Baal, constrói um poste sagrado assim como Acabe fez, e transforma a casa de Deus num lugar de idolatria. Deus prediz que trará calamidade a Jerusalém assim como fez a Samária, ‘esfregando-a e emborcando-a’. Manassés também derrama sangue inocente “em quantidade muito grande” (21:13, 16). É

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sucedido por seu filho Amom, que continua a fazer o que é mau durante dois anos, até ser morto por assassinos.

O povo constitui então a Josias, filho de Amom, como rei. Durante seu reinado de 31 anos, reverte por pouco tempo o avanço de Judá rumo à destruição, por “andar em todo o caminho de Davi, seu antepassado” (22:2). Começa a fazer reparos na casa de Deus, e ali o sumo sacerdote encontra o livro da Lei. Este confirma que a destruição sobrevirá à nação por sua desobediência a Deus, mas Josias é assegurado de que, por sua fidelidade, esta não ocorrerá nos seus dias. Purifica a casa de Deus e o país inteiro da adoração de demônios e estende sua atividade de despedaçar ídolos até Betel, onde destrói o altar de Jeroboão, em cumprimento da profecia de 1 Reis 13:1, 2. Institui outra vez a Páscoa do Senhor Deus. “Antes dele não se mostrou haver nenhum rei igual a ele que voltasse a Deus de todo o seu coração, e de toda a sua alma, e de toda a sua força vital, segundo toda a lei de Moisés” (23:25). Não obstante, a ira de Deus ainda continua por causa das ofensas de Manassés. Josias morre num confronto com o rei do Egito, em Megido.

S. Jeoacaz, Jeoiaquim e Joaquim, reis de Judá (23:31-24:17). Depois de reinar por três meses, Jeoacaz, filho de Josias, é levado cativo pelo rei do Egito, e seu irmão Eliaquim, cujo nome é mudado para Jeoiaquim, é colocado no trono. Este segue o proceder errado de seus antepassados e se torna vassalo de Nabucodonosor, rei de Babilônia, mas se rebela contra ele três anos depois. Com a morte de Jeoiaquim, seu filho Joaquim começa a reinar. Nabucodonosor sitia Jerusalém, captura-a, e leva os tesouros da casa de Deus para Babilônia, “assim como Deus falara” por intermédio de Isaías (24:13; 20:17). Joaquim e milhares de seus súditos são levados ao exílio em Babilônia.

T. Zedequias, o último rei de Judá (24:18-25:30). Nabucodonosor faz do tio de Joaquim, Matanias, rei, e muda-lhe o nome para Zedequias. Este reina 11 anos em Jerusalém e continua a fazer o que é mau aos olhos de Deus. Rebela-se contra Babilônia, de modo que no nono ano de Zedequias, Nabucodonosor e seu inteiro exército sobem e constróem um muro de sítio em toda a volta de Jerusalém. Após 18 meses, a cidade é assolada pela fome. Abrem-se então brechas nos muros, e Zedequias é capturado ao tentar fugir. Seus filhos são mortos diante dele, e ele é cegado. No mês seguinte, todas as principais casas da cidade, incluindo a casa de Deus e a do rei, são incendiadas e os muros da cidade são demolidos. A maioria dos sobreviventes é levada cativa a Babilônia. Gedalias é nomeado governador sobre os poucos humildes que restam na zona rural de Judá. Todavia, ele é assassinado, e o povo foge para o Egito. Assim, o país fica totalmente desolado. As palavras finais de Segundo Reis falam do favor que o rei de Babilônia mostra a Joaquim no 37° ano de seu cativeiro.

7.2. Importância do Livro de II Reis Para os Nossos Dias

Embora abranja o declínio fatal dos reinos de Israel e Judá, Segundo Reis reluz com muitos exemplos da bênção de Deus sobre os que demonstraram amor a ele e aos seus justos princípios. A sunamita, semelhante à viúva de Sarefá antes dela, foi muito abençoada pela hospitalidade que demonstrou para com o profeta de Deus (4:8-17, 32-37). A capacidade de Deus, de sempre prover do necessário, foi demonstrada quando Eliseu alimentou cem homens com 20 pães, assim como Jesus havia de realizar mais tarde milagres similares (2 Re 4:42-44; Mt 14:16-21; Mc 8:1-9). Note como Jonadabe recebeu uma bênção ao ser convidado a ir junto, no carro de Jeú, para ver a destruição dos adoradores de Baal. E por quê? Porque tomou ação positiva em sair para saudar o zeloso Jeú. (2 Reis 10:15, 16) Finalmente, há os exemplos esplêndidos de Ezequias e Josias, em sua humildade e devido respeito pelo nome e pela Lei de Deus (19:14-19; 22:11-13). Estes são exemplos esplêndidos para seguirmos.

Deus não tolera o desrespeito a seus servos oficiais. Quando os delinqüentes zombaram de Eliseu, como profeta de Deus, este trouxe velozmente retribuição (2:23, 24). Ademais, Deus respeita o sangue dos inocentes. Seu julgamento pesou muito na casa de Acabe, não só por causa da adoração de Baal, mas também por causa do derramamento de sangue que a acompanhava. Assim, Jeú foi ungido para vingar “o sangue de todos os servos de Deus da mão de Jezabel”. Quando o julgamento foi executado contra Jeorão, Jeú lembrou-se da pronúncia de Deus de que foi por causa do ‘sangue de Nabote e do sangue de

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seus filhos’ (9:7, 26). Da mesma forma, foi a culpa de sangue de Manassés que finalmente selou o destino funesto de Judá. Manassés, em adição ao pecado da adoração falsa, ‘encheu Jerusalém de sangue de ponta a ponta’. Embora Manassés se arrependesse mais tarde de seu proceder mal, a culpa de sangue permaneceu (2 Cr 33:12, 13). Nem mesmo o bom reinado de Josias, e exterminar ele toda a idolatria, puderam retirar a culpa de sangue comunal, remanescente do reinado de Manassés. Anos depois, quando passou a trazer seus executores contra Jerusalém, Deus declarou que foi por Manassés ter ‘enchido Jerusalém de sangue inocente, e Deus não consentiu em dar perdão’ (21:16; 24:4). De modo similar, Jesus declarou que a Jerusalém do primeiro século a.C. tinha de perecer porque seus sacerdotes eram filhos daqueles que derramaram o sangue dos profetas, ‘para que viesse sobre eles todo o sangue justo derramado na terra’ (Mt 23:29-36). Deus adverte o mundo de que vingará o sangue inocente que tem sido derramado, especialmente o sangue ‘dos que foram mortos por causa da palavra de Deus’ (Ap 6:9, 10).

A certeza infalível com que Deus cumpre seus julgamentos proféticos também é demonstrada em Segundo Reis. Três destacados profetas nos são trazidos à atenção: Elias, Eliseu e Isaías. As profecias de cada um tiveram notável cumprimento, segundo se mostra (9:36, 37; 10:10, 17; 3:14, 18, 24; 13:18, 19, 25; 19:20, 32-36; 20:16, 17; 24:13). Elias é também comprovado como profeta verdadeiro, em virtude de aparecer junto com o profeta Moisés e Jesus Cristo, na transfiguração no monte (Mt 17:1-5). Referindo-se à magnificência dessa ocasião, Pedro disse: “Por conseguinte, temos a palavra profética tanto mais assegurada; e fazeis bem em prestar atenção a ela como a uma lâmpada em lugar escuro, até que amanheça o dia e se levante a estrela da alva, em vossos corações” (II Pd 1:19).

Os eventos registrados em Segundo Reis revelam claramente que o julgamento de Deus contra todos os que praticam a religião falsa e todos os que deliberadamente derramam sangue inocente é a exterminação. Contudo, Deus mostrou favor e misericórdia a seu povo “por causa do seu pacto com Abraão, Isaque e Jacó” (2 Reis 13:23). Preservou-os “por causa de Davi, seu servo” (8:19). Demonstrará misericórdia similar para com os que hoje se voltarem para ele. À medida que recapitulamos o registro e as promessas da Bíblia, com que confiança, cada vez mais profunda, aguardamos o Reino do “filho de Davi”, Jesus Cristo, a Semente prometida, em que não haverá mais derramamento de sangue nem perversidade! (Mt 1:1; Is 2:4; Sl 145:20).

8 - I CRÔNICAS Escritor: Esdras (?)

Lugar da Escrita: Jerusalém (?).

Tempo da Escrita: c. 460 a.C.

É Primeiro Crônicas simplesmente uma lista insípida de genealogias? É mera repetição dos livros de Samuel e Reis? Longe disso! Eis aqui uma parte esclarecedora e essencial do registro divino importante para os dias em que foi escrito, na reorganização da nação e de sua adoração, e essencial e proveitoso em apresentar um padrão de adoração divina para dias posteriores, inclusive os dias atuais. Primeiro Crônicas contém algumas das mais belas expressões de louvor a Deus encontradas em toda a Escritura. Proporciona maravilhosos vislumbres do Reino de justiça de Deus, e estudá-lo será de proveito para todos os que aguardam esse Reino. Os dois livros de Crônicas foram prezados tanto pelos judeus como pelos cristãos através das eras. Jerônimo, tradutor da Bíblia, tinha um conceito tão elevado sobre Primeiro e Segundo Crônicas, que os considerou um “resumo do Velho Testamento” e afirmou que “são tão momentosos e importantes, que quem julga estar familiarizado com os escritos sagrados, e não os conhece, apenas engana a si mesmo”.

Os dois livros de Crônicas eram, pelo visto, originalmente um só livro, ou rolo, dividido mais tarde para conveniência. Por que se escreveu Crônicas? Considere a situação. O exílio em Babilônia terminara uns 77 anos antes. Os judeus tinham sido restabelecidos na sua terra. Entretanto, existia a tendência perigosa de se desviarem da adoração de Deus no templo reconstruído em Jerusalém. Esdras fora autorizado pelo rei da Pérsia a nomear juizes e instrutores da lei de Deus (bem como da do rei) e a embelezar a casa de Deus. Eram

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necessárias listas genealógicas exatas para garantir que apenas pessoas autorizadas servissem no sacerdócio e também para confirmar as heranças tribais, das quais o sacerdócio recebia seu sustento. Em vista das profecias de Deus sobre o Reino, era também vital ter um registro claro e fidedigno da linhagem de Judá e de Davi.

Esdras tinha o desejo sincero de tirar os judeus restabelecidos de sua apatia e incutir neles o entendimento de que eles eram, deveras, herdeiros da benevolência pactuada de Deus. Em Crônicas, portanto, apresentou-lhes uma narrativa completa da história da nação e da origem da humanidade, remontando até o primeiro homem, Adão. Visto ser o reino de Davi o ponto focal, ele ressaltou a história de Judá, omitindo quase inteiramente o registro absolutamente irredimível do reino das dez tribos. Descreveu os maiores reis de Judá como estando empenhados em construir ou restaurar o templo e em liderar zelosamente a adoração de Deus. Apontou os pecados religiosos que levaram à derrubada do reino, salientando também, ao mesmo tempo, as promessas de Deus de restauração. Frisou a importância da adoração pura, focalizando a atenção nos muitos pormenores concernentes ao templo, seus sacerdotes, os levitas, os mestres de canto, e assim por diante. Deve ter sido muito animador para os israelitas terem um registro histórico que enfocava o motivo de sua volta do exílio a restauração da adoração de Deus em Jerusalém.

Qual é a evidência de que Esdras escreveu Crônicas? Os dois versículos finais de Segundo Crônicas 36:22, 23 são iguais aos primeiros dois versículos de Esdras (Ed 1:1, 2), e Segundo Crônicas termina no meio duma sentença que é concluída em Esdras 1:3. Portanto, o escritor de Crônicas deve ter sido também o de Esdras. Isso é ainda mais comprovado pelo estilo, pela linguagem, pela fraseologia e pela grafia das palavras, que são iguais em Crônicas e Esdras. Algumas das expressões nesses dois livros não são encontradas em nenhum outro livro da Bíblia. Esdras, que escreveu o livro de Esdras, também deve ter escrito Crônicas. A tradição judaica apoia essa conclusão.

Ninguém melhor do que Esdras podia compilar esta história autêntica e exata. “Pois o próprio Esdras tinha preparado seu coração para consultar a lei de Deus e para praticá-la, e para ensinar regulamento e justiça em Israel.” (Ed 7:10) Deus o ajudou com Espírito Santo. O governante mundial persa reconheceu a sabedoria de Deus em Esdras e concedeu-lhe amplos poderes civis no distrito jurisdicional de Judá. (Ed 7:12-26) Assim revestido de autoridade divina e imperial, Esdras pôde compilar sua narrativa com base nos melhores documentos disponíveis.

Esdras era um pesquisador extraordinário. Pesquisou antigos registros da história judaica que haviam sido compilados por fidedignos profetas contemporâneos daquelas épocas, bem como os compilados por escrivães oficiais e pelos que guardavam os registros públicos. Alguns dos escritos que consultou talvez fossem documentos de estado tanto de Israel como de Judá, registros genealógicos, obras históricas escritas por profetas, e documentos pertencentes a chefes tribais ou familiares. Esdras cita pelo menos 20 de tais fontes de informações. Mediante tais citações explícitas, Esdras deu honestamente aos seus contemporâneos a oportunidade de verificar suas fontes se assim o desejassem, e isto acrescenta considerável peso ao argumento a favor da credibilidade e autenticidade de sua palavra. Nós podemos ter hoje confiança na exatidão dos livros de Crônicas pelo mesmo motivo que os judeus do tempo de Esdras tinham tal confiança.

Visto que Esdras “subiu de Babilônia” no sétimo ano do rei persa Artaxerxes Longímano, que ocorreu em 468 a.C., e Esdras não registra a importante chegada de Neemias em 455 a.C., a escrita de Crônicas deve ter sido completada entre essas datas, provavelmente por volta do ano 460 a.C., em Jerusalém. (Ed 7:1-7; Ne 2:1-18) Os judeus dos dias de Esdras aceitavam Crônicas como parte genuína de ‘toda a Escritura que é inspirada por Deus e proveitosa’. Chamavam-no de “Div·réh Hai·ya·mím”, que significa “Os Assuntos dos Dias”, isto é, a história dos dias ou dos tempos. Uns 200 anos mais tarde, os tradutores da Septuaginta grega também incluíram Crônicas como sendo canônico. Dividiram o livro em duas partes e, supondo ser suplementar a Samuel e Reis, ou à inteira Bíblia daquele tempo, chamaram-no de “Pa ra·lei·po·mé·non”, significando “Coisas Passadas por Alto (não ditas; omitidas).” Embora o nome não seja exatamente apropriado, contudo a atitude deles mostra que encaravam Crônicas como Escritura autêntica, inspirada. Ao preparar a Vulgata latina, Jerônimo sugeriu: “Podemos chamar [a esses] mais significativamente de “Khro·ni·kón” da inteira história divina.” É disto que o título “Crônicas”

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parece ter-se originado. Crônica é um registro de acontecimentos na ordem em que ocorreram. Depois de alistar as genealogias, Primeiro Crônicas se concentra principalmente no tempo do Rei Davi, de 1077 a.C. até sua morte.

8.1. Conteúdo do Livro

Este livro de Primeiro Crônicas se divide naturalmente em duas partes: os primeiros 9 capítulos, que tratam primariamente de genealogias, e os últimos 20 capítulos, que abrangem eventos durante os 40 anos desde a morte de Saul até o fim do reinado de Davi.

A. As genealogias (1:1-9:44). Estes capítulos alistam a genealogia desde Adão até a linhagem de Zorobabel (1:1; 3:19-24). As versões de muitas traduções levam a linhagem de Zorobabel até a décima geração. Uma vez que ele retornou a Jerusalém em 537 a.C., não haveria tempo suficiente para tantas gerações terem nascido até 460 a.C., quando Esdras evidentemente completou a escrita. Entretanto, o texto hebraico é incompleto nesta parte, e não se pode determinar qual era o parentesco da maioria dos homens alistados com Zorobabel. Assim, não há motivo para se favorecer uma data mais tardia para a escrita de Crônicas, como fazem alguns.

Primeiro, fornecem-se as dez gerações desde Adão até Noé, e depois as dez gerações até Abraão. São alistados os filhos de Abraão e sua prole; a posteridade de Esaú e de Seir, que residia na região montanhosa de Seir; e os primitivos reis de Edom. A partir do segundo capítulo, porém, o registro trata dos descendentes de Israel, ou Jacó, a partir de quem se traça primeiro a genealogia através de Judá e, daí, por dez gerações até Davi (2:1-14). São alistadas também as demais tribos, com referência especial à tribo de Levi e aos sumos sacerdotes, terminando com uma genealogia da tribo de Benjamim, como forma de apresentar o Rei Saul, um benjamita, com quem começa então, em sentido estrito, a narrativa histórica. Às vezes, talvez pareça haver contradições entre as genealogias apresentadas por Esdras e outras passagens bíblicas. Todavia, é preciso lembrar que certas pessoas eram também conhecidas por outros nomes, e que a língua se transforma, de modo que com o passar do tempo a grafia de alguns nomes podia mudar. Um estudo cuidadoso elimina a maioria das dificuldades.

Esdras intercala as genealogias, aqui e ali, com um pouco de informações históricas e geográficas que servem de esclarecimento e lembretes importantes. Por exemplo, ao alistar os descendentes de Rubem, Esdras acrescenta uma importante informação: “E os filhos de Rubem, primogênito de Israel pois era o primogênito; mas por profanar o leito conjugal de seu pai deu-se o seu direito de primogênito aos filhos de José, filho de Israel, de modo que não foi registrado genealogicamente para o direito de primogênito. Porque o próprio Judá mostrou-se superior entre os seus irmãos e o líder procedia dele; mas a primogenitura era de José” (5:1, 2). Estas poucas palavras explicam muita coisa. Ademais, é apenas em Crônicas que ficamos sabendo que Joabe, Amasa, e Abisai eram todos os sobrinhos de Davi, o que nos ajuda a avaliar os diversos eventos que os envolveram (2:16, 17).

B. A infidelidade de Saul resulta em sua morte (10:1-14). A narrativa começa com o avanço do ataque dos filisteus na batalha do monte Gilboa. Três dos filhos de Saul, incluindo Jonatã, são mortos. Daí, Saul é ferido. Não desejando ser capturado pelo inimigo, insta com seu escudeiro: “Puxa a tua espada e traspassa-me com ela, para que não venham estes incircuncisos e certamente abusem de mim.” Quando seu escudeiro se recusa a fazê-lo, Saul se mata. Assim morre Saul por agir “sem fé contra Senhor, referente à palavra de Deus que não guardou e também por pedir a um médium espírita que fizesse uma consulta. E não consultou a Deus” (10:4, 13, 14). Deus dá o reino a Davi.

C. Davi é confirmado no reino (11:1-12:40). Com o tempo, as 12 tribos se reúnem a Davi em Hebron e o ungem rei sobre todo o Israel. Ele captura Sião e prossegue ‘ficando cada vez maior, porque o Senhor dos exércitos está com ele’ (11:9). Homens poderosos são colocados no comando do exército, e por meio deles, Deus salva “com uma grande salvação” (11:14). Davi recebe apoio unido ao passo que os homens de guerra se reúnem unanimemente para torná-lo rei. Há festejo e regozijo em Israel.

D. Davi e a arca do Senhor (13:1-16:36). Davi consulta os líderes nacionais, e estes concordam em mudar a Arca de Quiriate-Jearim, onde já está há cerca de 70 anos, para

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Jerusalém. No caminho, Uzá morre por irreverentemente desconsiderar as instruções de Deus, e a Arca é deixada por algum tempo na casa de Obede-Edom (Nm 4:15). Os filisteus recomeçam suas incursões, mas Davi os derrota esmagadoramente duas vezes, em Baal-Perazim e em Gibeão. Instruídos por Davi, os levitas seguem então o procedimento teocrático ao transportar a Arca com segurança a Jerusalém, onde é colocada numa tenda que Davi havia armado para ela, em meio a dança e regozijo. Oferecem-se sacrifícios e cânticos, o próprio Davi contribuindo com um cântico de agradecimento a Deus pela ocasião. Este atinge seu grandioso clímax no seguinte tema: “Alegrem-se os céus, e jubile a terra, e digam entre as nações: ‘O próprio Deus se tornou rei!’” (16:31). Que ocasião emocionante e inspiradora de fé! Mais tarde, este cântico de Davi é adaptado como base para novos cânticos, um dos quais é o Salmo 96. Outro é registrado nos primeiros 15 versículos do Salmo 105.

E. Davi e a casa de Deus (16:37-17:27). Existe agora um arranjo incomum em Israel. A arca do pacto reside numa tenda em Jerusalém onde Asafe e seus irmãos assistem, ao passo que alguns quilômetros a noroeste de Jerusalém, em Gibeão, Zadoque, o sumo sacerdote, e seus irmãos oferecem no tabernáculo os sacrifícios prescritos. Tendo sempre presente exaltar e unificar a adoração de Deus, Davi indica seu desejo de construir uma casa para a arca do pacto de Deus. Mas, Deus declara que não será Davi, e sim seu filho quem construirá uma casa para Ele, e que Ele ‘há de estabelecer firmemente o seu trono por tempo indefinido’, mostrando benevolência como de pai para filho (17:11-13). Esta promessa maravilhosa de Deus este pacto para um reino eterno comove a Davi. Seus agradecimentos transbordam na petição para que o nome de Deus ‘se mostre fiel e se torne grande por tempo indefinido’ e para que Sua bênção esteja sobre a casa de Davi (17:24).

F. As conquistas de Davi (18:1-21:17). Mediante Davi, Deus cumpre agora Sua promessa de dar a inteira Terra Prometida à semente de Abraão (18:3). Numa rápida série de campanhas, Deus dá “salvação a Davi” onde quer que ele vá (18:6). Em esmagadoras vitórias militares, Davi subjuga os filisteus, abate os moabitas, derrota os zobaítas, obriga os sírios a pagar tributo e conquista Edom e Amom, bem como Amaleque. Contudo, Satanás incita Davi a fazer o recenseamento de Israel e assim pecar. Deus envia uma pestilência como punição, mas misericordiosamente põe fim à calamidade na eira de Ornã, depois de 70.000 terem sido executados.

G. Os preparativos de Davi para o templo (21:18-22:19). Davi recebe um aviso angélico por meio de Gade no sentido “de erigir um altar ao Senhor Deus na eira de Ornã, o jebuseu” (21:18). Depois de comprar o local de Ornã, Davi obedientemente oferece sacrifícios ali e invoca a Deus, que lhe responde “com fogo desde os céus sobre o altar da oferta queimada” (21:26). Davi conclui que Deus deseja que Sua casa seja construída ali, e inicia o trabalho de modelar os materiais e reuni-los, dizendo: “Salomão, meu filho, é moço e delicado, e a casa a ser construída para Deus é para ser extremamente magnífica em belo destaque para todas as terras. Então, deixa-me fazer preparativos para ele” (22:5). Explica a Salomão que Deus não lhe permitiu construir a casa, por ter ele sido homem de guerras e sangue. Exorta seu filho a ser corajoso e forte neste empreendimento, dizendo: “Levanta-te e age, e que Deus mostre estar contigo” (22:16).

H. Davi faz preparativos para a adoração de Deus (23:1-29:30). Faz-se um recenseamento, desta vez pela vontade de Deus, para reorganizar o sacerdócio e os serviços levíticos. Os serviços levíticos são descritos aqui com mais pormenores do que em qualquer outra parte das Escrituras. A seguir, delineiam-se as divisões do serviço do rei.

Perto do fim de seu reinado cheio de eventos, Davi congrega os representantes da inteira nação, “a congregação de Deus” (28:8). O rei se põe de pé. “Ouvi-me, meus irmãos e meu povo.” Ele lhes fala então sobre o desejo do seu coração, ‘a casa do verdadeiro Deus’.28:12 Na presença deles, ele comissiona a Salomão: “E tu, Salomão, meu filho, conhece o Deus de teu pai e serve-o de pleno coração e de alma agradável; porque Deus sonda todos os corações e discerne toda inclinação dos pensamentos. Se o buscares, deixar-se-á achar por ti; mas se o deixares, deitar-te-á fora para sempre. Vê agora, porque o próprio Deus te escolheu para construíres uma casa como santuário. Sê corajoso e age” (28:2, 9, 10, 12). Ele dá ao jovem Salomão os projetos arquitetônicos pormenorizados recebidos por inspiração de Deus e contribui uma imensa fortuna pessoal para o projeto de construção 3.000 talentos de ouro e 7.000 talentos de prata, que havia economizado com

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este propósito. Diante de tal exemplo esplêndido, os príncipes e o povo reagem doando ouro no valor de 5.000 talentos e 10.000 dáricos e prata no valor de 10.000 talentos, bem como muito ferro e cobre (29:3-7). O povo se regozija com tal privilégio.

Davi louva, então, a Deus em oração, reconhecendo que toda esta oferta abundante procedeu realmente de Sua mão, e pedindo que Sua contínua bênção esteja sobre o povo e sobre Salomão. Esta oração final de Davi atinge sublimes apogeus ao exaltar o reino de Deus e Seu glorioso nome: “Bendito sejas, ó Senhor, Deus de Israel, nosso pai, de tempo indefinido a tempo indefinido. Tuas, ó Senhor, são a grandeza, e a potência, e a beleza, e a excelência, e a dignidade; pois teu é tudo nos céus e na terra. Teu é o reino, ó Deus, que te ergues como cabeça sobre todos. As riquezas e a glória existem por tua causa e tu dominas sobre tudo; e na tua mão há poder e potência, e na tua mão há a capacidade para engrandecer e para dar força a todos. E agora, ó nosso Deus, te agradecemos e louvamos o teu belo nome” (29:10-13).

Salomão é ungido uma segunda vez e começa a sentar-se no “trono do Senhor” em lugar do idoso Davi. Após um reinado de 40 anos, Davi morre “numa boa velhice, saciado de dias, de riquezas e de glória” (29:23, 28). Esdras conclui então Primeiro Crônicas em tom majestoso, frisando a superioridade do reino de Davi sobre todos os reinos das nações.

8.2. Importância do Livro de I Crônicas Para os Nossos Dias

Os co-israelitas de Esdras tiraram muito proveito de seu livro. Tendo esta história compacta com seu ponto de vista revigorante e otimista, apreciaram as amorosas misericórdias de Deus para com eles, em virtude da lealdade dele ao pacto do Reino feito com o Rei Davi, e por causa do Seu próprio nome. Encorajados, puderam empreender a adoração pura do Senhor Deus com renovado zelo. As genealogias fortaleceram sua confiança no sacerdócio que oficiava no templo reconstruído.

Primeiro Crônicas foi também de grande proveito para a primitiva congregação cristã. Mateus e Lucas puderam recorrer às suas genealogias para provar claramente que Jesus Cristo era o “filho de Davi” e o Messias com direito legal. (Mt 1:1-16; Lc 3:23-38) Ao concluir seu testemunho final, Estevão falou sobre o pedido de Davi de construir uma casa para Deus, e de Salomão executar a construção. Daí, mostrou que “o Altíssimo não mora em casas feitas por mãos”, indicando que o templo dos dias de Salomão prefigurava coisas celestiais muito mais gloriosas (At 7:45-50).

A. Que dizer dos verdadeiros cristãos hoje? Primeiro Crônicas deve edificar e estimular nossa fé. Há muitas coisas que podemos copiar do brilhante exemplo de Davi. Por sempre consultar a Deus, quão diferente foi ele de Saul, que não tinha fé! (10:13, 14; 14:13, 14; 17:16; 22:17-19) Ao trazer a arca de Deus para Jerusalém, em seus salmos de louvor, em organizar os levitas para o serviço e em seu pedido para construir uma gloriosa casa para Deus, Davi mostrou que Deus e Sua adoração estavam em primeiro lugar em sua mente (16:23-29). Ele não era queixoso. Não procurava privilégios especiais para si, mas procurava apenas fazer a vontade de Deus. Assim, quando Deus designou a construção da casa ao seu filho, instruiu de todo o coração ao filho e deu de seu tempo, sua energia e sua riqueza na preparação da obra que começaria após sua morte (29:3, 9). Deveras, um esplêndido exemplo de devoção! (Hb 11:32).

Depois, há os culminantes capítulos concludentes. A linguagem magnificente com que Davi louvou a Deus e glorificou seu “belo nome” deve inspirar em nós alegre apreço pela honra que temos hoje de dar a conhecer as glórias de Deus e seu Reino por Cristo (29:10-13). Seja a nossa fé e a nossa alegria sempre como a de Davi, ao passo que expressamos gratidão pelo Reino eterno de Deus (17:16-27). Deveras, Primeiro Crônicas faz cintilar mais belamente do que nunca o tema da Bíblia sobre o Reino de Deus por meio de Sua Semente, deixando-nos na expectativa de mais revelações emocionantes dos propósitos de Deus.

9 - II CRÔNICAS Escritor: Esdras (?)

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Lugar da Escrita: Jerusalém (?)

Escrita Completada: c. 460 a.C.

Visto que Primeiro e Segundo Crônicas evidentemente eram originalmente um só livro, os argumentos apresentados no capítulo anterior, quanto ao fundo histórico, ao escritor, ao tempo da escrita, à canonicidade e à autenticidade, aplicam-se a ambos os livros. Segundo a evidência apresentada, Esdras completou Segundo Crônicas por volta de 460 a.C., provavelmente em Jerusalém. O objetivo de Esdras era preservar matérias históricas que corriam o perigo de ficar perdidas. A ajuda do Espírito Santo, conjugada com sua capacidade qual historiador de colher e selecionar pormenores, habilitou Esdras a produzir um registro exato e permanente. Preservou para o futuro aquilo que considerou ser fato histórico. O trabalho de Esdras foi muitíssimo oportuno, visto que era então necessário compilar também o conjunto inteiro dos escritos sagrados hebraicos que haviam sido registrados através dos séculos.

Os judeus dos dias de Esdras tiraram grande proveito da crônica inspirada de Esdras. Foi escrita para a instrução deles e para incentivar a perseverança. Mediante o consolo das Escrituras, podiam ter esperança. Eles aceitaram o livro de Crônicas como parte do cânon da Bíblia. Sabiam que era fidedigno. Podiam conferi-lo com outros escritos inspirados e com numerosas histórias seculares citadas por Esdras. Embora permitissem que as histórias seculares não-inspiradas desaparecessem, preservaram cuidadosamente Crônicas. Os tradutores da Septuaginta incluíram Crônicas como parte da Bíblia hebraica.

Jesus Cristo e os escritores das Escrituras Gregas Cristãs aceitaram-no como autêntico e inspirado. Jesus, sem dúvida, tinha em mente incidentes tais como o registrado em 2 Crônicas 24:21, quando denunciou Jerusalém como matadora e apedrejadora dos profetas e dos servos de Deus (Mt 23:35; 5:12; 2 Cr 36:16). Quando Tiago mencionou Abraão como “amigo de Deus”, talvez se referisse à expressão de Esdras em 2 Crônicas 20:7 (Tg 2:23). O livro contém também profecias que se cumpriram infalivelmente ( 20:17, 24; 21:14-19; 34:23-28; 36:17-20).

A arqueologia também testifica a autenticidade de Segundo Crônicas. Escavações no local da antiga Babilônia desenterraram tabuinhas de argila, datadas do período do reinado de Nabucodonosor, uma das quais cita o nome “Yaukin, rei da terra de Yahud,” isto é, “Joaquim, o rei da terra de Judá”. Isto se harmoniza bem com o registro da Bíblia sobre Joaquim ser levado cativo a Babilônia no sétimo ano do reinado de Nabucodonosor.

O registro de Segundo Crônicas narra eventos em Judá desde o reinado de Salomão, até o decreto de Ciro para a reconstrução da casa de Deus em Jerusalém. Nesta história de 500 anos, o reino das dez tribos é mencionado somente quando fica envolvido nos assuntos de Judá, e a destruição daquele reino setentrional não é nem mesmo mencionada. Por que se dá isso? Porque o sacerdote Esdras se preocupava primariamente com a adoração de Deus em seu lugar legítimo, Sua casa em Jerusalém, e com o reino da linhagem de Davi, com quem Deus havia feito Seu pacto. Assim, é no reino meridional que Esdras concentra sua atenção, em apoio à verdadeira adoração e na expectativa do governante que viria de Judá. Gn 49:10.

Esdras adota um ponto de vista edificante. Dentre os 36 capítulos de Segundo Crônicas, os primeiros 9 são devotados ao reinado de Salomão, e 6 destes inteiramente à preparação e dedicação da casa de Deus. O registro omite a menção do desvio de Salomão. Dos 27 capítulos restantes, 14 tratam dos cinco reis que basicamente seguiram o exemplo de Davi, de devoção exclusiva à adoração de Deus: Asa, Jeosafá, Jotão, Ezequias e Josias. Mesmo nos demais 13 capítulos, Esdras cuida de destacar os pontos bons dos reis maus. Sempre frisa eventos relacionados com a restauração e a preservação da adoração verdadeira. Quão estimulante isto é!

9.1. Conteúdo do Livro

A. A glória do reinado de Salomão (2 Crônicas 1:1-9:31). No início de Segundo Crônicas, vemos Salomão, filho de Davi, crescer em força no reinado. Deus está com ele e continua ‘a fazê-lo extraordinariamente grande’. Quando Salomão oferece sacrifícios em

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Gibeão, Deus lhe aparece à noite, dizendo: “Pede! Que te devo dar?” Salomão pede conhecimento e sabedoria para governar o povo de Deus de modo correto. Por causa deste pedido altruísta, Deus promete dar a Salomão, não só sabedoria e conhecimento, mas também riquezas, bens e honra “tais como nenhum rei anterior a ti veio a ter, e tais como nenhum depois de ti virá a ter”. Tão grande é a riqueza que flui para a cidade que, com o tempo, Salomão faz que “a prata e o ouro em Jerusalém [se tornem] iguais às pedras” (1:1, 7, 12, 15).

Salomão recruta trabalhadores para a construção da casa de Deus, e o Rei Hirão de Tiro coopera enviando madeira e um artífice talentoso. ‘No quarto ano do reinado de Salomão’, começa a construção, e esta é completada sete anos e meio mais tarde. (3:2) Na frente do próprio templo há um grande pórtico que se eleva a 120 côvados (53,4 m) de altura. Há, diante do pórtico, duas imensas colunas de cobre, uma chamada Jaquim, que significa “Que Deus Estabeleça Firmemente”, e a outra chamada Boaz, que pelo visto significa “Em Força” (3:17). A casa em si é relativamente pequena, tendo 60 côvados (26,7 m) de comprimento, 30 côvados (13,4 m) de altura, e 20 côvados (8,9 m) de largura, mas asparedes e o teto são revestidos de ouro; o compartimento mais recôndito, o Santíssimo, é elaboradamente decorado com ouro. Este contém também os dois querubins de ouro, um em cada lado do recinto, cujas asas estendidas se tocam no centro.

No pátio interno, há um enorme altar quadrado de cobre, de 20 côvados (9 m) de cada lado e 10 côvados (4,5 m) de altura. Outro objeto impressionante no pátio é o mar de fundição, imensa bacia de cobre apoiada nas costas de doze touros de cobre posicionados de forma divergente, três em cada direção. Este mar tem capacidade para “três mil batos” (66.000 l) de água, que é usada pelos sacerdotes para se lavarem (4:5). Há também no pátio dez pequenas bacias de cobre apoiadas sobre carrocins de cobre ornamentados, e nesta água são enxaguadas as coisas relacionadas com as ofertas queimadas. São cheias com a água do mar de fundição e conduzidas para onde quer que haja necessidade. Além disso, há os dez candelabros de ouro e muitos outros utensílios, alguns de ouro e alguns de cobre, para a adoração no templo.

Finalmente, depois de sete anos e meio de trabalho, a casa de Deus é completada (I Re 6:1, 38). O dia de sua inauguração é ocasião para se colocar o símbolo da presença de Deus dentro do recinto mais recôndito desse magnífico edifício. Os sacerdotes levam “a arca do pacto de Deus para dentro, ao seu lugar, ao compartimento mais recôndito da casa, ao Santíssimo, debaixo das asas dos querubins”. O que acontece então? À medida que os cantores e músicos levitas louvam e agradecem a Deus em cântico unido, a casa se enche de uma nuvem, e os sacerdotes não agüentam ficar ali para ministrar, porque “a glória do Senhor” enche a casa do verdadeiro Deus (5:7, 13, 14). Assim, Deus mostra a sua aprovação do templo e indica sua presença ali.

Construiu-se uma tribuna de cobre, de três côvados (1,3 m) de altura para a ocasião, e esta é colocada no pátio interno, perto do enorme altar de cobre. Nessa posição elevada, Salomão pode ser visto pelas vastas multidões que estão reunidas para a dedicação do templo. Após a manifestação milagrosa da presença de Deus, mediante a nuvem de glória, Salomão se ajoelha diante da multidão e faz uma comovente oração de agradecimento e louvor, que inclui uma série de humildes petições de perdão e bênção. Em conclusão, roga: “Agora, ó meu Deus, por favor, mostrem-se os teus olhos abertos e os teus ouvidos atentos à oração concernente a este lugar. Ó Senhor Deus, não faças recuar a face do teu ungido. Lembra-te deveras das benevolências para com Davi, teu servo” (6:40, 42).

Será que Deus ouve esta oração de Salomão? Assim que Salomão termina de orar, desce fogo dos céus e consome a oferta queimada e os sacrifícios, e “a própria glória de Deus” enche a casa. Isto impele todo o povo a se prostrar e agradecer a Deus, “porque ele é bom, pois a sua benevolência é por tempo indefinido” (7:1, 3). Faz-se, então, enorme sacrifício a Deus. A festa de dedicação que dura uma semana é seguida pela Festividade do Recolhimento de uma semana de duração e de um sábado de abstinência de trabalho. Após esta celebração feliz e espiritualmente fortalecedora de 15 dias, Salomão dispensa o povo para seus lares, alegres e sentindo-se bem de coração (7:10). Deus também está satisfeito. Confirma novamente a Salomão o pacto do Reino, advertindo ao mesmo tempo sobre as conseqüências funestas da desobediência.

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Salomão executa agora extensivos trabalhos de construção em todo o seu domínio, edificando não só um palácio para si mesmo, mas também cidades fortificadas, cidades-armazéns, cidades para os carros e cidades para os cavaleiros, e tudo quanto deseja construir. É um período de gloriosa prosperidade e paz, porque tanto o rei como o povo estão cientes da adoração de Deus. Até mesmo a rainha de Sabá, de uma distância de mais de 1.900 quilômetros, ouve falar da prosperidade e da sabedoria de Salomão, e empreende a longa e penosa viagem para ver com seus próprios olhos. Fica ela decepcionada? De modo algum, pois confessa: “Eu não tive fé nas suas palavras até que vim ver com os meus próprios olhos, e eis que não me foi contada nem a metade da abundância da tua sabedoria. Ultrapassaste as notícias que ouvi. Felizes são os teus homens e felizes são estes servos teus” (9:6, 7). Não há outros reis na terra que superem a Salomão em riquezas e em sabedoria. Ele reina 40 anos em Jerusalém.

B. Os reinados de Roboão e Abias (10:1-13:22). O governo cruel e opressivo de Roboão, filho de Salomão, provoca a revolta das dez tribos do norte, sob Jeroboão. Entretanto, os sacerdotes e levitas de ambos os reinos tomam o partido de Roboão, colocando a lealdade ao pacto do Reino acima do nacionalismo. Roboão logo abandona a lei de Deus, e o Rei Sisaque, do Egito, invade, tomando de assalto a Jerusalém e saqueando os tesouros da casa de Deus. Quão triste é que, mal se haviam passado 30 anos desde sua construção, estes belamente decorados edifícios são despidos de sua glória! O motivo: a nação se tem “comportado de modo infiel para com Deus”. Bem a tempo, Roboão se humilha, de modo que Deus não traz a completa ruína sobre a nação (12:2).

Quando Roboão morre, um de seus 28 filhos, Abias, torna-se rei. O reinado de três anos de Abias é marcado por guerra sangrenta com Israel, no norte. Judá é menos numeroso, havendo dois contra um, 400.000 soldados contra os 800.000 de Jeroboão. Nas tremendas batalhas que se seguem, os guerreiros de Israel são reduzidos a menos da metade, e meio milhão de adoradores de bezerro são destruídos. Os filhos de Judá se revelam superiores porque se estribam “em Deus, o Senhor de seus antepassados” (13:18).

C. O Rei Asa, temente a Deus (14:1-16:14). Abias é sucedido por seu filho Asa. Asa é paladino da adoração verdadeira. Faz campanha para purificar o país da adoração de imagens. Mas, eis que Judá é ameaçado por uma força militar sobrepujante de um milhão de etíopes. Asa ora: “Ajuda-nos, ó Senhor, nosso Deus, porque em ti nos estribamos e em teu nome viemos contra esta massa de gente.” Deus responde dando-lhe uma vitória esmagadora (14:11).

O Espírito de Deus vem sobre Azarias para dizer a Asa: “Deus está convosco enquanto mostrardes estar com Ele; e se o buscardes, deixar-se-á achar por vós” (15:2). Grandemente encorajado, Asa reforma a adoração em Judá, e o povo faz um pacto de que todo aquele que não buscar a Deus deverá ser morto. Todavia, quando Baasa, rei de Israel, levanta barreiras para impedir a afluência de israelitas a Judá, Asa comete um grave erro ao contratar Ben-Hadade, rei da Síria, para lutar contra Israel, em vez de buscar a ajuda de Deus. Por esse motivo Deus o repreende. Apesar disso, o coração de Asa se mostra “pleno em todos os seus dias” (15:17). Morre no 41° ano de seu reinado.

D. O bom reinado de Jeosafá (17:1-20:37). Jeosafá, filho de Asa, continua a combater a adoração de imagens e inaugura uma campanha educativa especial, os instrutores viajando por todas as cidades de Judá, ensinando o povo no livro da Lei de Deus. Segue-se um tempo de grande prosperidade e paz, e Jeosafá continua “a progredir e a tornar-se grande num grau superior” (17:12). Mas, daí, faz aliança matrimonial com o iníquo Rei Acabe, de Israel, e desce para ajudá-lo a lutar contra o crescente poder da Síria, desconsiderando o profeta de Deus, Micaías, e escapando por um triz da morte quando Acabe é morto na batalha de Ramote-Gileade. Jeú, profeta de Deus, censura Jeosafá por unir forças com o iníquo Acabe. Depois disso, Jeosafá nomeia juizes em todo o país, instruindo-os a executar seus deveres no temor de Deus.

Chega então o clímax do reinado de Jeosafá. As forças combinadas de Moabe, Amom, e da região montanhosa de Seir avançam contra Judá com poderio sobrepujante. Avançam em grande número através do ermo de En-Gedi. O temor se apodera da nação. Jeosafá e todo o Judá, com “seus pequeninos, suas esposas e seus filhos”, estão de pé perante Deus e o buscam em oração. O Espírito de Deus vem sobre Jaaziel, o levita, que clama às multidões

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reunidas: “Prestai atenção, todo o Judá e vós habitantes de Jerusalém, e Rei Jeosafá! Assim disse Deus: ‘Não tenhais medo nem fiqueis aterrorizados por causa desta grande massa de gente; pois a batalha não é vossa, mas de Deus. Descei amanhã contra eles (...) Deus será convosco.’ ” Levantando de manhã cedo, Judá marcha, tendo os cantores levitas na liderança. Jeosafá os encoraja: “Tende fé em Deus (...) Tende fé nos seus profetas e mostrai-vos assim bem sucedidos.” Os cantores louvam alegremente a Deus, “pois a sua benevolência é por tempo indefinido” (20:13, 15-17, 20, 21). Deus manifesta sua benevolência de modo maravilhoso, armando uma emboscada contra os exércitos invasores, de modo que se aniquilam mutuamente. Chegando à atalaia do ermo, os exultantes habitantes de Judá só encontram cadáveres. Deveras, a batalha é de Deus! Até o fim do seu reinado de 25 anos, Jeosafá continua a andar fielmente diante do Senhor.

E. Os reinados maus de Jeorão, Acazias e Atalia (21:1-23:21). Jeorão, filho de Jeosafá, começa mal por matar todos os seus irmãos. Entretanto, Deus o poupa por causa do Seu pacto com Davi. Edom começa a se revoltar. De algum lugar, Elias envia uma carta, avisando a Jeorão de que Deus desferirá grande golpe à sua casa e que ele terá uma morte horrível (21:12-15). Fiel à profecia, os filisteus e os árabes invadem e saqueiam Jerusalém, e o rei morre duma repugnante doença intestinal, após um reinado de oito anos.

O único filho sobrevivente de Jeorão, Acazias (Jeoacaz), o sucede, mas é influenciado para o mal por sua mãe, Atalia, filha de Acabe e Jezabel. Seu reinado é interrompido após um ano pelo expurgo da casa de Acabe, feito por Jeú. Nesta altura, Atalia assassina seus netos e usurpa o trono. Entretanto, um dos filhos de Acazias sobrevive. É Jeoás, de um ano de idade, que é levado às escondidas para a casa de Deus por sua tia Jeosabeate. Atalia reina por seis anos, e daí o marido de Jeosabeate, o sumo sacerdote Jeoiada, toma corajosamente o jovem Jeoás e faz com que ele seja proclamado rei, como um dos “filhos de Davi”. Chegando à casa de Deus, Atalia rasga suas vestes e clama: “Conspiração! Conspiração!” Mas em vão. Jeoiada manda que ela seja expulsa do templo e seja morta (23:3, 13-15).

F. Os reinados de Jeoás, Amazias e Uzias começam bem, mas terminam mal (24:1-26:23). Jeoás reina por 40 anos, e enquanto Jeoiada vive para exercer boa influência, ele faz o que é correto. Até se interessa pela casa de Deus e manda reformá-la. Quando Jeoiadamorre, porém, Jeoás é influenciado pelos príncipes de Judá a desviar-se da adoração de Deus para servir aos postes sagrados e aos ídolos. Quando o Espírito de Deus impele Zacarias, filho de Jeoiada, a repreender o rei, Jeoás manda que o profeta seja apedrejado até morrer. Logo depois, pequena força militar dos sírios invade, e o exército muito maior de Judá é incapaz de fazê-la retroceder, porque ‘abandonaram ao Senhor, o Deus de seus antepassados’ (24:24). Então, os próprios servos de Jeoás se insurgem e o assassinam.

Amazias sucede a seu pai Jeoás. Começa bem seu reinado de 29 anos, mas, mais tarde decai do favor de Deus por estabelecer e adorar os ídolos dos edomitas. “Deus resolveu arruinar-te”, adverte-lhe o profeta de Deus (25:16). Entretanto, Amazias se torna jactancioso e desafia Israel, ao norte. Fiel à palavra de Deus, ele sofre humilhante derrota às mãos dos israelitas. Após tal derrota, conspiradores se insurgem e o matam.

Uzias, filho de Amazias, segue as pisadas do pai. Reina bem na maior parte dos 52 anos, granjeando fama como gênio militar, como construtor de torres, e como “amante da agricultura” (26:10). Equipa e mecaniza o exército. Contudo, sua força se torna sua fraqueza. Torna-se altivo e atreve-se a assumir o dever sacerdotal de oferecer incenso no templo de Deus. Por causa disso, Deus o fere com lepra. Em resultado disso, tem de viver isolado, longe da casa de Deus e também longe da casa do rei, onde seu filho Jotão julga o povo em seu lugar.

G. Jotão serve a Deus (27:1-9). Dessemelhante de seu pai, Jotão não ‘invade o templo de Deus’. Em vez disso, ‘continua fazendo o que é direito aos olhos de Deus’ (27:2). Durante seu reinado de 16 anos, realiza muitas construções e tem êxito em derrotar uma revolta dos amonitas.

H. O perverso Rei Acaz (28:1-27). Acaz, filho de Jotão, revela-se um dos mais perversos dos 21 reis de Judá. Vai ao extremo de oferecer seus próprios filhos como sacrifícios queimados a deuses pagãos. Consequentemente, Deus o abandona, por sua vez, aos exércitos da Síria, de Israel, de Edom e da Filístia. Assim, Deus humilha a Judá, porque

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Acaz ‘deixa aumentar o desenfreio em Judá, e age-se com grande infidelidade para com Deus’ (28:19). Indo de mal a pior, Acaz faz sacrifícios aos deuses da Síria porque os sírios se mostram superiores a ele na batalha. Fecha as portas da casa de Deus e substitui a adoração de Deus pela adoração de deuses pagãos. Nem um pouco prematuramente, o reinado de Acaz termina após 16 anos.

I. O fiel Rei Ezequias (29:1-32:33). Ezequias, filho de Acaz, reina 29 anos em Jerusalém. Seu primeiro ato é reabrir e reparar as portas da casa de Deus. Daí, reúne os sacerdotes e os levitas e lhes dá instruções no sentido de limparem e santificarem o templo para o serviço de Deus. Declara que deseja concluir um pacto com Deus para aplacar a Sua ira ardente. A adoração de Deus é retomada de modo grandioso.

Planeja-se uma extraordinária Páscoa, mas, visto não haver tempo para prepará-la no primeiro mês, aproveita-se a provisão da Lei, de modo que é celebrada no segundo mês do primeiro ano do reinado de Ezequias (II Cr 30:2, 3; Nm 9:10, 11). O rei convida, não só todo o Judá para comparecer, mas também a Israel, e, embora alguns em Efraim, Manassés eZebulon zombem do convite, outros se humilham e vão a Jerusalém junto com todo o Judá. Após a Páscoa, realiza-se a Festividade dos Pães não Fermentados. Que jubilante festividade de sete dias! Foi, deveras, tão edificante, que toda a congregação estende a festividade por mais sete dias. Há “grande alegria em Jerusalém, pois desde os dias de Salomão, filho de Davi, rei de Israel, não houve nada igual a isso em Jerusalém” (30:26). O povo espiritualmente restabelecido passa a empreender vigorosa campanha para acabar com a idolatria tanto em Judá como em Israel, ao passo que Ezequias, de sua parte, restabelece as contribuições materiais para os levitas e os serviços do templo.

Daí, Senaqueribe, rei da Assíria, invade Judá e ameaça Jerusalém. Ezequias toma coragem, repara as defesas da cidade, e desafia os escárnios do inimigo. Confiando inteiramente em Deus, persiste em orar por ajuda. Deus responde dramaticamente à sua oração de fé. Passa a “enviar um anjo e a eliminar todo homem poderoso, valente, e todo líder e chefe no acampamento do rei da Assíria” (32:21). Senaqueribe volta para casa envergonhado. Nem mesmo os seus deuses podem ajudá-lo a salvar a dignidade, pois é morto mais tarde no altar deles, pelos próprios filhos (II Re 19:7). Deus prolonga milagrosamente a vida de Ezequias, e este chega a ter grandes riquezas e glória, todo o Judá honrando-o na sua morte.

J. Manassés e Amom reinam iniquamente (33:1-25). Manassés, filho de Ezequias, retrocede para o proceder iníquo de Acaz, seu avô, desfazendo todo o bem realizado durante o reinado de Ezequias. Reconstrói os altos, ergue os postes sagrados, e até sacrifica seusfilhos a deuses falsos. Finalmente, Deus traz o rei da Assíria contra Judá, e Manassés é levado cativo a Babilônia. Ali se arrepende dos seus erros. Quando Deus mostra misericórdia, restituindo-o à realeza, ele se esforça a exterminar a adoração demoníaca e a restabelecer a religião verdadeira. Todavia, quando Manassés morre após um longo reinado de 55 anos, seu filho Amom ascende ao trono e defende outra vez, iniquamente, a adoração falsa. Depois de dois anos, seus próprios servos o matam.

L. O reinado corajoso de Josias (34:1-35:27). O jovem Josias, filho de Amom, faz uma corajosa tentativa de restabelecer a adoração verdadeira. Providencia que os altares dos Baalins e as imagens entalhadas sejam demolidos, e conserta a casa de Deus, onde “o livro da lei de Deus, pela mão de Moisés”, sem dúvida o original, é encontrado. (34:14) Não obstante, o justo Josias é informado de que a calamidade sobrevirá ao país por causa da infidelidade já ocorrida, mas não nos seus dias. No 18° ano do seu reinado, ele programa notável celebração da Páscoa. Após um reinado de 31 anos, Josias morre numa inútil tentativa de impedir que as hostes egípcias passem pelo país a caminho do Eufrates.

M. Jeoacaz, Jeoiaquim, Joaquim, Zedequias e a desolação de Jerusalém (36:1-23). A perversidade dos últimos quatro reis de Judá leva rapidamente a nação ao seu desastroso fim. Jeoacaz, filho de Josias, governa apenas três meses, sendo removido pelo Faraó-Neco, do Egito. É substituído por seu irmão Eliaquim, cujo nome é mudado para Jeoiaquim, em cujo reinado Judá é subjugado pela nova potência mundial, Babilônia (II Re 24:1). Quando Jeoiaquim se rebela, Nabucodonosor sobe a Jerusalém para puni-lo, mas Jeoiaquim morre, depois de reinar 11 anos. É substituído por seu filho Joaquim, de 18 anos. Após reinar por pouco mais de três meses, Joaquim se rende a Nabucodonosor e é levado cativo a Babilônia.

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Nabucodonosor coloca então no trono um terceiro filho de Josias, Zedequias, tio de Joaquim. Zedequias reina pessimamente por 11 anos, recusando ‘humilhar-se por causa de Jeremias, o profeta, às ordens de Deus’. (36:12). Havendo infidelidade em grande escala, tanto os sacerdotes como o povo profanam a casa de Deus.

Finalmente, Zedequias se rebela contra o jugo de Babilônia, e desta vez Nabucodonosor não mostra misericórdia. A ira de Deus é completa, e não há cura. Jerusalém cai, seu templo é saqueado e incendiado, e os sobreviventes do sítio de 18 meses são levados cativos para Babilônia. Judá fica desolado. Assim, nesse mesmo ano, começa a desolação “para se cumprir a palavra de Deus pela boca de Jeremias (...) para cumprir setenta anos” (36:21). O cronista passa então por alto esta lacuna de cerca de 70 anos, para registrar, nos últimos dois versículos, o decreto histórico de Ciro. Os judeus cativos hão de ser libertados! Jerusalém precisa erguer-se outra vez!

9.2. Importância do Livro de II Crônicas Para os Nossos Dias

II Crônicas fornece valiosas informações suplementares que não se encontram nas outras histórias canônicas, como por exemplo nos capítulos 19, 20 e ; 29 a 31. A matéria selecionada por Esdras frisou os elementos fundamentais e permanentes da história daquela nação, tais como o sacerdócio e seu serviço, o templo e o pacto do Reino. Isto foi proveitoso para manter a nação coesa na esperança do Messias e do seu Reino.

Os versículos finais de Segundo Crônicas (36:17-23) fornecem prova conclusiva do cumprimento de Jeremias 25:12.

Segundo Crônicas contém admoestações poderosas para os que andam na fé cristã. Tantos dos reis de Judá começaram bem, mas depois mergulharam num mau caminho. Quão vigorosamente este registro histórico ilustra que o êxito depende da fidelidade a Deus! Portanto, devemos dar-nos por avisados para não sermos “dos que retrocedem para a destruição, mas dos que têm fé para preservar viva a alma” (Hb 10:39). Até mesmo o fiel Rei Ezequias tornou-se altivo ao se restabelecer de sua enfermidade, e foi só porque se humilhou logo que pôde evitar a indignação de Deus. Segundo Crônicas magnifica as maravilhosas qualidades de Deus e exalta Seu nome e Sua soberania. A história toda é apresentada do ponto de vista da devoção exclusiva a Deus. Ao dar ênfase também à linhagem real de Judá, fortalece nossa expectativa de ver a adoração pura ser exaltada sob o Reino eterno de Jesus Cristo, “filho de Davi” (Mt 1:1; Atos 15:16, 17).

10 - ESDRAS Escritor: Esdras

Lugar da Escrita: Jerusalém

Data: c. 450 - 420 a.C.

Tema: Restauração de um Remanescente

Ao fim dos profetizados 70 anos da desolação de Jerusalém sob Babilônia. É verdade que Babilônia tinha a reputação de nunca soltar seus cativos, mas a palavra de Deus se provaria mais forte do que o poderio de Babilônia. Estava à vista a libertação do povo do Senhor. O templo de Deus, que havia sido arrasado, seria reconstruído, e o altar de Deus receberia de novo os sacrifícios de expiação. Jerusalém conheceria outra vez o brado e o louvor do verdadeiro adorador do Senhor Deus. Jeremias havia profetizado a duração da desolação, e Isaías havia profetizado como se daria a libertação dos cativos. Isaías até chamara a Ciro, da Pérsia, de ‘o pastor do Senhor ’ que derrubaria a altiva Babilônia de sua posição como terceira potência mundial da história bíblica (Is 44:28; 45:1, 2; Jr 25:12).

O livro de Esdras relata como Deus cumpriu sua promessa profética através de Jeremias (Jr 29:10-14), no sentido de restaurar o povo judeu depois de setenta anos de exílio, ao trazê-lo de volta à sua própria terra (1:1). O colapso de Judá como nação e sua deportação para Babilônia ocorrera em três levas separadas. Na primeira (605 a.C.), a

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nobreza jovem de Judá, inclusive Daniel, foi levada ao exílio; na segunda (597 a.C.), foram mais 11.000 exilados, inclusive Ezequiel; e na terceira leva (586 a.C.), o restante de Judá, menos Jeremias e os mais pobres da terra foram levados. Semelhantemente, a restauração do remanescente exílico, em cumprimento à profecia de Jeremias, ocorreu em três levas. Na primeira (538 a.C.), 50.000 exilados voltaram, liderados por Zorobabel e Jesua; na segunda (457 a.C.), mais de 17.000 voltaram conduzidos por Esdras; e na terceira leva (444 a.C.), Neemias e seus homens levaram de volta o restante do povo. Cerca de dois anos depois da derrota do império babilônico pelo império persa (539 a.C.), começou o retorno dos judeus à sua pátria. O livro de Esdras registra a primeira e a segunda levas de repatriados abrangendo três reis persas (Ciro, Dário e Artaxerxes) e cinco líderes espirituais de destaque: (1) Zorobabel, que conduziu os primeiros exilados; (2) Jesua, um sumo sacerdote piedoso que auxiliou a Zorobabel; (3) Ageu e (4) Zacarias, dois profetas de Deus que encorajavam o povo a concluir a reconstrução do templo; e (5) Esdras, que conduziu o segundo grupo de exilados de volta a Jerusalém, e a quem Deus usou para restaurar o povo, espiritual e moralmente. Se Esdras escreveu esse livro, como é geralmente aceito, ele compôs a sua obra sob a inspiração do Espírito Santo mediante consulta aos arquivos oficiais (e.g., 1:2-4; 4:11-22; 5:7-17; 6:1-12), genealogias (e.g., 2.1-70), e memórias pessoais (e.g., 7:27—9:15). O livro foi escrito em hebraico, a não ser 4:8-6:18 e 7:12-26, trechos que foram escritos em aramaico, a língua oficial dos exilados em Babilônia.

O nome hebraico Esdras significa “Ajuda; Auxílio”. Os livros de Esdras e Neemias eram originalmente um só rolo (Ne 3:32). Mais tarde, os judeus dividiram este rolo e o chamaram de Primeiro e Segundo Esdras. As modernas Bíblias hebraicas chamam os dois livros de Esdras e Neemias, assim como outras Bíblias modernas. Parte do livro de Esdras (4:8 a 6:18 e Ed 7:12-26) foi escrita em aramaico e o restante em hebraico, sendo Esdras versado em ambos os idiomas.

Hoje, a maioria dos estudiosos aceita a exatidão do livro de Esdras. Quanto à canonicidade de Esdras, W. F. Albright escreve em seu tratado The Bible After Twenty Years of Archaeology (A Bíblia Depois de Vinte Anos de Arqueologia): “Os dados arqueológicos têm assim demonstrado a originalidade substancial dos Livros de Jeremias e de Ezequiel, de Esdras e de Neemias além de contestação; têm confirmado o quadro tradicional dos eventos, bem como a ordem deles”.

Embora o livro de Esdras não seja citado ou mencionado diretamente pelos escritores das Escrituras Gregas Cristãs, não há dúvida quanto ao seu lugar no cânon da Bíblia. Leva o registro dos tratos de Deus com os judeus até o tempo de se compilar o catálogo hebraico,obra esta realizada principalmente por Esdras, segundo a tradição judaica. Outrossim, o livro de Esdras vindica todas as profecias relativas à restauração, provando assim ser parte integrante do registro divino, com o qual se harmoniza também inteiramente. Além disso, honra a adoração pura e santifica o grande nome do Senhor Deus.

10.1. Conteúdo do Livro

A. Um restante retorna (1:1-3:6). Sendo o espírito de Ciro, rei da Pérsia, incitado por Deus, ele emite o decreto para que os judeus retornem e construam a casa de Deus em Jerusalém. Insta com os judeus que ficarem em Babilônia para que contribuam liberalmente para o projeto, e toma providências para que os judeus que retornam levem de volta os utensílios do templo original. Um líder da tribo real de Judá, e descendente do Rei Davi, Zorobabel (Sesbazar), é nomeado governador para conduzir os libertados, e Jesua (Josué) é o sumo sacerdote.(Ed 1:8; 5:2; Zc.3:1) Um restante, que pode ter totalizado 200.000 servos fiéis de Deus, incluindo homens, mulheres e crianças, fazem a longa viagem. No sétimo mês, segundo o calendário judaico, estão estabelecidos em suas cidades, e se reúnem em Jerusalém para oferecer sacrifícios no local do altar do templo, e para celebrar a Festividade das Barracas. Assim findam com precisão os 70 anos de desolação!

B. A reconstrução do templo (3:7-6:22). Reúnem-se os materiais, e, no segundo ano de seu retorno, lança-se o alicerce do templo de Deus entre brados de alegria e o choro dos homens idosos que tinham visto a casa anterior. Os povos vizinhos, adversários, oferecem-se para ajudar na construção, dizendo que estão buscando o mesmo Deus, mas o restante judeu recusa terminantemente qualquer aliança com eles. Os adversários procuram

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continuamente enfraquecer e desanimar os judeus e frustrar a sua obra, desde o reinado de Ciro até o de Dário. Finalmente, nos dias de “Artaxerxes” (Bardiia ou possivelmente um mago conhecido como Gaumata), conseguem forçar a paralisação da obra por ordem real. Esta proscrição continua “até o segundo ano do reinado de Dário, rei da Pérsia”, mais de 15 anos depois de se ter lançado o alicerce (4:4-7, 24).

Deus envia então seus profetas Ageu e Zacarias para incitar Zorobabel e Jesua, e a construção é empreendida com renovado zelo. Os adversários se queixam outra vez ao rei, mas a obra continua com o mesmo vigor. Dário I (Histaspes), depois de mencionar o decreto original de Ciro, ordena a continuação da obra sem interferência, e até manda que os opositores forneçam materiais para facilitar a construção. Com encorajamento contínuo da parte dos profetas do Senhor, os construtores completam o templo em menos de cinco anos. Isto se dá no mês de adar do sexto ano de Dário, a inteira construção levou praticamente 20 anos (6:14, 15). A casa de Deus é então inaugurada com grande alegria e com sacrifícios apropriados. Daí, o povo celebra a Páscoa e passa a realizar “com alegria a festividade dos pães não fermentados por sete dias”. (6:22) Sim, alegria e regozijo marcam a dedicação deste segundo templo para o louvor do Senhor Deus.

C. Esdras retorna a Jerusalém (7:1-8:36). Passam-se quase 50 anos, no sétimo ano de Artaxerxes, rei da Pérsia, (conhecido por Longímano por ter a mão direita mais comprida do que a esquerda). O rei concede ao destro copista Esdras “tudo o que solicitou” com respeito a uma viagem para Jerusalém, a fim de prestar ali mui necessitada ajuda (7:6). Ao autorizá-lo, o rei incentiva os judeus a acompanhá-lo, concedendo a Esdras vasos de prata e de ouro para uso no templo, bem como provisões de trigo, vinho, óleo e sal. Isenta os sacerdotes e os trabalhadores do templo de pagar impostos. O rei incumbe Esdras de ensinar o povo, e declara ser ofensa capital qualquer pessoa deixar de cumprir a lei de Deus e a lei do rei. Agradecendo ao Senhor esta expressão de sua benevolência por intermédio do rei, Esdras age imediatamente em cumprimento de sua incumbência.

Neste ponto, Esdras inicia sua narrativa como testemunha ocular, escrevendo na primeira pessoa. Reúne junto ao rio Aava os judeus que estão retornando, a fim de dar-lhes instruções finais, e acrescenta alguns levitas ao grupo de cerca de 1.500 varões adultos já reunidos. Esdras reconhece os perigos da rota a ser tomada, mas não pede ao rei uma escolta, receando que isso seja interpretado como falta de fé no Senhor Deus. Em vez disso, proclama um jejum e lidera o acampamento em fazer solicitação a Deus. Esta oração é respondida e a mão do Senhor prova estar sobre eles durante toda a longa viagem. Assim, conseguem levar seus tesouros (que eqüivaleriam hoje a mais de 43 milhões de dólares) em segurança para a casa do Senhor em Jerusalém (8:26, 27).

D. Purificação do sacerdócio (9:1-10:44). Mas nem tudo correu bem durante os 69 anos em que residiam no país restaurado. Esdras fica sabendo de condições perturbadoras, pois o povo, os sacerdotes e os levitas formaram alianças matrimoniais com os cananeus pagãos. O fiel Esdras fica chocado. Apresenta o assunto a Deus em oração. O povo confessa seu erro e pede que Esdras ‘seja forte e aja’ (10:4). Ele providencia que os judeus despeçam as esposas estrangeiras que tomaram em desobediência à lei de Deus, e a impureza é eliminada em questão de uns três meses (10:10-12, 16, 17).

10.2. Importância do Livro de Esdras Para os Nossos Dias

O livro de Esdras é proveitoso, em primeiro lugar, por mostrar a infalível exatidão com que as profecias de Deus são cumpridas. Jeremias, que predissera com tanta exatidão a desolação de Jerusalém, predisse também sua restauração após 70 anos. (Jr 29:10) Bem na hora, Deus mostrou sua benevolência ao trazer o seu povo, um fiel restante, de volta à Terra da Promessa, a fim de praticar a adoração verdadeira.

O templo restaurado exaltou novamente a adoração de Deus entre o seu povo, e permaneceu qual testemunho de que ele abençoa maravilhosa e misericordiosamente os que se voltam para ele com o desejo de praticar a adoração verdadeira. Embora lhe faltasse a glória do templo de Salomão, cumpriu sua finalidade, em harmonia com a vontade divina. Não constava mais ali o esplendor material. Era também inferior em tesouros espirituais, faltando-lhe, entre outras coisas, a arca do pacto. Tampouco foi a inauguração do templo de

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Zorobabel comparável à inauguração do templo dos dias de Salomão. Os sacrifícios de touros e ovelhas não representaram nem um por cento dos sacrifícios oferecidos no templo de Salomão. Nenhuma glória semelhante a nuvens encheu a casa posterior, como se deu na anterior, tampouco desceu fogo da parte de Deus para consumir as ofertas queimadas. Ambos os templos, porém, serviram ao importante propósito de exaltar a adoração do Senhor, o verdadeiro Deus.

O templo construído por Zorobabel, o tabernáculo construído por Moisés, e os templos construídos por Salomão e por Herodes, junto com suas particularidades, eram prefigurativos ou representativos. Representavam a “verdadeira tenda, que Deus erigiu, e não algum homem” (Hb 8:2) Este templo espiritual é o arranjo para se chegar a Deus em adoração à base do sacrifício propiciatório de Cristo (Hb 9:2-10, 23). O grande templo espiritual é superlativo em glória e incomparável em beleza e agradabilidade; seu esplendor é imarcescível e superior ao de qualquer estrutura material.

O livro de Esdras contém lições que são do mais alto valor para os cristãos hoje. Lemos nele sobre o povo de Deus fazer ofertas voluntárias para a Sua obra (Ed 2:68; II Co 9:7). Somos encorajados por aprendermos sobre a provisão infalível e a bênção de Deus sobre as assembléias para o Seu louvor (Ed 6:16, 22). Vemos o excelente exemplo dos netineus e de outros crentes estrangeiros, ao acompanharem o restante para apoiar de todo o coração a adoração do Senhor (2:43, 55). Considere também o humilde arrependimento dopovo quando aconselhado sobre seu proceder errado de formar alianças matrimoniais com vizinhos pagãos (10:2-4). Más associações acarretaram a desaprovação divina (9:14, 15). O zelo alegre pela sua obra resultou em sua aprovação e bênção (6:14, 21, 22).

Embora não mais houvesse um rei sentado no trono de Deus em Jerusalém, a restauração suscitou a expectativa de que Deus, no devido tempo, produziria seu prometido Rei da linhagem de Davi. A nação restaurada estava agora em condições de guardar as pronunciações sagradas e a adoração do Senhor Deus até o tempo do aparecimento do Messias. Se este restante não tivesse agido com fé, no que tange a retornar à sua terra, a quem viria o Messias? Deveras, os eventos do livro de Esdras são parte importante da história que conduz ao aparecimento do Messias e Rei! É de máximo proveito para o nosso estudo hoje.

11 - NEEMIAS Escritor: Neemias.

Lugar da Escrita: Jerusalém.

Escrita Completada: cerca de 430 - 420 a.C.

Tema: Reedificação dos muros de Jerusalém.

Neemias, cujo nome significa “Deus Consola”, era servo judeu do rei persa Artaxerxes (Longímano). Era copeiro do rei. Esta era uma posição de grande confiança e honra, e desejável, pois dava acesso ao rei em ocasiões em que este estava de espírito alegre e disposto a conceder favores. Entretanto, Neemias era um daqueles fiéis exilados que preferiu Jerusalém acima de qualquer “causa de alegria” pessoal (Sl 137:5, 6). Não era posição ou riqueza material que ocupava o primeiro lugar nos pensamentos de Neemias, mas, antes, a restauração da adoração de Deus.

Em 456 a.C., os “que remanesceram do cativeiro”, o restante judeu que retornara a Jerusalém, não estavam prosperando. Estavam numa situação lamentável (1:3). A muralha da cidade era um entulho, e o povo era um vitupério aos olhos de seus adversários sempre presentes. Neemias estava pesaroso. Contudo, era o tempo determinado do Senhor Deus para que se fizesse algo a respeito das muralhas de Jerusalém. Com ou sem inimigos, Jerusalém com sua muralha protetora precisa ser construída como marco no tempo, em conexão com uma profecia que Deus dera a Daniel sobre a vinda do Messias (Dn 9:24-27). Por conseguinte, Deus guiou os eventos, usando o fiel e zeloso Neemias para executar a vontade divina.

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Neemias é, sem dúvida, o escritor do livro que leva seu nome. A declaração inicial: “As palavras de Neemias, filho de Hacalias”, e o uso da primeira pessoa no texto provam claramente isto (1:1). Originalmente os livros de Esdras e Neemias eram um só livro, chamado Esdras. Mais tarde, os judeus dividiram o livro em Primeiro e Segundo Esdras, e ainda mais tarde, Segundo Esdras veio a ser conhecido como Neemias. Há um intervalo de cerca de 12 anos entre os eventos finais de Esdras e os eventos iniciais de Neemias, cuja história abrange então o período do fim de 456 a.C. até depois de 443 a.C. (1:1; 5:14; 13:6.).

O livro de Neemias se harmoniza com o restante da Escritura inspirada, da qual faz legitimamente parte. Contém numerosas alusões à Lei, fazendo menção de assuntos tais como alianças matrimoniais com estrangeiros (Dt 7:3; Ne 10:30), empréstimos (Lv 25:35-38; Dt 15:7-11; Ne 5:2-11) e a Festividade das Barracas (Dt 31:10-13; Ne 8:14-18). Ademais, o livro marca o início do cumprimento da profecia de Daniel de que Jerusalém seria reconstruída, mas não sem oposição, “no aperto dos tempos” (Dn 9:25).

Que dizer da data de 455 a.C. para a viagem de Neemias a Jerusalém, a fim de reconstruir a muralha da cidade? Evidências históricas fidedignas de fontes gregas, persas e babilônicas apontam para 475 a.C. como o ano da ascensão de Artaxerxes e para 474 a.C. como seu primeiro ano de reinado. Isto faz com que seu 20° ano seja 455 a.C. Neemias 2:1-8 indica que foi na primavera setentrional daquele ano, no mês judaico de nisã, que Neemias, o copeiro real, recebeu do rei permissão para restaurar e reconstruir Jerusalém, sua muralha e seus portões. A profecia de Daniel declarava que se passariam 69 semanas de anos, ou 483 anos, “desde a saída da palavra para se restaurar e reconstruir Jerusalém até o Messias, o Líder” — uma profecia que se cumpriu de modo notável, se harmoniza tanto com a história secular como com a bíblica (Dn 9:24-27; Lc 3:1-3, 23). Deveras, os livros de Neemias e Lucas se harmonizam notavelmente com a profecia de Daniel em indicar ao Senhor Deus como o Autor e Cumpridor de profecias verdadeiras! Neemias faz realmente parte das Escrituras inspiradas.

11.1. Conteúdo do Livro

A. Neemias é enviado a Jerusalém (1:1–2:20). Neemias fica grandemente perturbado com o relato de Hanani, que retornou a Susã, vindo de Jerusalém, trazendo notícias sobre os grandes apuros dos judeus ali, e sobre o estado derrocado da muralha e dos portões. Ele jejua e ora ao Senhor como o “Deus dos céus, o Deus grande e atemorizante, guardando o pacto e a benevolência para com os que o amam e que guardam os seus mandamentos” (1:5). Confessa os pecados de Israel e pede que Deus se lembre do Seu povo por causa do Seu nome, assim como prometera a Moisés (Dt 30:1-10). Quando o rei pergunta a Neemias sobre o motivo de seu semblante triste, Neemias lhe conta sobre a condição de Jerusalém e pede permissão para voltar e reconstruir a cidade e sua muralha. Seu pedido é concedido, e ele viaja imediatamente a Jerusalém. Após uma inspeção noturna da muralha da cidade, para se familiarizar com o trabalho à frente, revela seu plano aos judeus, frisando a mão de Deus no assunto. Diante disso, dizem: “Levantemo-nos, e temos de construir” (2:18) Quando os vizinhos samaritanos e outros ficam sabendo que o trabalho foi iniciado, começam a zombar e escarnecer.

B. A muralha reconstruída (3:1–6:19). O trabalho na muralha começa no terceiro dia do quinto mês, participando unidamente na labuta os sacerdotes, os príncipes e o povo. Os portões da cidade e as muralhas entre estes são consertados rapidamente. Sambalá, o horonita, escarnece: “Que fazem estes judeus decrépitos? (...) Acabarão num dia?” A isto, Tobias, o amonita, acrescenta seu escárnio: “Mesmo aquilo que estão construindo, se uma raposa subisse contra aquilo, certamente derrocaria a sua muralha de pedras.” (4:2, 3) Quando a muralha atinge a metade de sua altura, os adversários associados ficam furiosos e conspiram vir lutar contra Jerusalém. Mas Neemias exorta os judeus a lembrar-se de “Deus, o Grande e o Atemorizante”, e a lutar por suas famílias e por seus lares (4:14) O trabalho é reorganizado de modo a enfrentar a situação tensa; alguns ficam de guarda com lanças, ao passo que outros trabalham com a espada sobre o quadril (4:18).

Todavia, há também problemas entre os próprios judeus. Alguns deles cobram usura dos co-adoradores de Deus, contrário à Sua lei (Ex 22:25) Neemias corrige a situação, aconselhando contra o materialismo, e o povo aquiesce voluntariamente. O próprio Neemias,

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durante todos os seus 12 anos de governo nunca reclama o pão devido a ele como governador, por causa do trabalho pesado a que o povo está sujeito.

Os inimigos tentam então táticas mais sutis para interromper a construção. Convidam Neemias a descer para uma conferência, mas este replica que não pode largar o grande trabalho que está realizando. Sambalá acusa Neemias de rebelião e de planejar fazer-se rei de Judá, e contrata secretamente um judeu para amedrontar a Neemias, para que este se escondesse indevidamente no templo. Neemias não se deixa intimidar, e calma e obedientemente prossegue com sua incumbência dada por Deus. A muralha é terminada “em cinqüenta e dois dias” (6:15).

C. Instruindo o povo (7:1–12:26). Há bem poucas pessoas e casas na cidade, porque a maioria dos israelitas reside fora, segundo suas heranças tribais. Deus orienta Neemias a reunir os nobres e todo o povo, a fim de registrá-los genealogicamente. Ao fazer isso, consulta o registro dos que voltaram de Babilônia. Convoca-se, a seguir, uma assembléia de oito dias na praça pública, junto ao Portão das Águas. Esdras inicia o programa, de pé num estrado de madeira. Bendiz a Deus e daí lê o livro da Lei de Moisés, desde o amanhecer até o meio-dia. É habilmente assistido por outros levitas, que explicam a Lei ao povo e continuam ‘a ler alto no livro, na Lei do verdadeiro Deus, fornecendo-se esclarecimento e dando-se o sentido dela; e continuam a tornar a leitura compreensível’ (8:8). Neemias exorta o povo a festejar e a se regozijar, e a apreciar a força das palavras: “O regozijo do Senhor Deus é o vosso baluarte” (8:10).

No segundo dia da assembléia, os cabeças do povo realizam uma reunião especial com Esdras, para se inteirarem da Lei. Ficam sabendo da Festividade das Barracas que deve ser celebrada nesse sétimo mês, e tomam imediatamente providências para armar barracas para essa festa para Deus. Há “muitíssima alegria” enquanto residem por sete dias em barracas, ouvindo dia após dia a leitura da Lei. No oitavo dia, realizam uma assembléia solene, “segundo a regra" (Ne 8:17, 18; Lv 23:33-36).

No 24° dia do mesmo mês, os filhos de Israel se reúnem outra vez e passam a se separar de todos os estrangeiros. Ouvem a leitura especial da Lei e então a recapitulação escrutinadora dos tratos de Deus com Israel, apresentada por um grupo de levitas. Esta tem como tema: “Levantai-vos, bendizei ao Senhor, vosso Deus, de tempo indefinido a tempo indefinido. E bendigam o teu glorioso nome, que é enaltecido acima de toda bênção e louvor” (9:5). Passam então a confessar os pecados de seus antepassados e pedem humildemente a bênção de Deus. Isto se dá na forma duma resolução atestada pelo selo dos representantes daquela nação. O inteiro grupo concorda em abster-se de formar alianças matrimoniais com os povos do país, em guardar os sábados, e em manter o serviço do templo e os trabalhadores. Uma pessoa de cada dez é selecionada por sorte para residir permanentemente em Jerusalém, dentro das muralhas.

D. A dedicação da muralha (12:27–13:3). A dedicação da recém-construída muralha é um tempo de canto e felicidade. É ocasião de outra assembléia. Neemias providencia dois grandes coros de agradecimento e procissões para andarem sobre a muralha em direções opostas, encontrando-se finalmente para oferecer sacrifícios na casa de Deus. Fazem-se arranjos para contribuições materiais para o sustento dos sacerdotes e dos levitas no templo. Uma leitura adicional da Bíblia revela que os amonitas e os moabitas não devem ter permissão de entrar na congregação, e, assim, começam a separar toda a mistura de gente de Israel.

E. Purificação da impureza (13:4-31). Depois de passar algum tempo em Babilônia, Neemias retorna a Jerusalém e descobre que se infiltraram entre os judeus novos atos condenáveis. Quão rapidamente as coisas mudaram! O sumo sacerdote Eliasibe chega a fazer um refeitório no pátio do templo para o uso de Tobias, um amonita, um dos inimigos de Deus. Neemias não perde tempo. Lança fora a mobília de Tobias e manda purificar todos os refeitórios. Descobre também que as contribuições materiais para os levitas foram descontinuadas, de modo que eles estão saindo de Jerusalém para ganhar a vida. Grassa o comercialismo na cidade. O sábado não é guardado. Neemias lhes diz: “Acrescentais à ira ardente contra Israel, profanando o sábado” (13:18). Ele fecha os portões da cidade no sábado para manter fora os negociantes, e ordena-lhes que fiquem longe da muralha da cidade. Mas há um mal pior do que este, algo que haviam concordado solenemente em não

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fazer de novo. Trouxeram esposas estrangeiras, pagãs, para dentro da cidade. Já a prole de tais uniões não mais fala o idioma judaico. Neemias lhes faz lembrar que Salomão pecou por causa de esposas estrangeiras. Devido a este pecado, Neemias manda embora o neto de Eliasibe, o sumo sacerdote. Daí, organiza o sacerdócio e o trabalho dos levitas.

Neemias termina seu livro com o simples e humilde pedido: “Lembra-te deveras de mim, ó meu Deus, para o bem” (13:31).

11.2. Importância do Livro de Neemias Para os Nossos Dias

A devoção piedosa de Neemias deve servir de inspiração para todos os que amam a adoração correta. Ele abandonou uma posição favorecida para se tornar humilde líder entre o povo de Deus. Recusou até mesmo a contribuição material a que tinha direito, e condenouterminantemente o materialismo como um laço. Seguir e guardar zelosamente a adoração de Deus foi o que Neemias advogou para a inteira nação (5:14, 15; 13:10-13). Neemias foi um esplêndido exemplo para nós por ser inteiramente altruísta e discreto, um homem de ação, destemido em favor da justiça em face do perigo. (4:14, 19, 20; 6:3, 15) Tinha o correto temor de Deus e estava interessado em edificar seus conservos na fé (13:14; 8:9). Aplicou vigorosamente a lei de Deus, especialmente no que tange à adoração verdadeira e à rejeição de influências estrangeiras, tais como os casamentos com pagãos (13:8, 23-29).

Em todo o livro se evidencia que Neemias tinha um bom conhecimento da lei de Deus, e que fez bom uso disso. Invocou a bênção de Deus por causa da promessa em Deuteronômio 30:1-4, tendo plena fé de que Deus agiria lealmente para com ele (1:8, 9). Programou diversas assembléias, principalmente para familiarizar os judeus com as coisas escritas anteriormente. Ao ler a Lei, Neemias e Esdras foram diligentes em tornar a Palavra de Deus compreensível para o povo, e em dar seqüência a isso por colocá-la em prática (8:8, 13-16; 13:1-3).

A completa confiança de Neemias em Deus, e seus humildes pedidos devem incentivar-nos a desenvolver uma atitude similar de devota dependência de Deus. Note como suas orações glorificavam a Deus, indicavam o reconhecimento dos pecados do seu povo, e solicitavam que o nome do Senhor fosse santificado (1:4-11; 4:14; 6:14; 13:14, 29, 31). Que este zeloso líder era fonte de força para o povo de Deus se demonstra na prontidão com que seguiram a sua direção sábia, e na alegria que derivaram de fazer a vontade de Deus junto com ele. Deveras um exemplo inspirador! Entretanto, na ausência dum líder sábio, quão rapidamente se infiltraram o materialismo, a corrupção, e a crassa apostasia! Isto certamente deve inculcar em todos os dirigentes do povo de Deus hoje a necessidade de estarem ativos, alertas e zelosos no tocante aos interesses de seus irmãos cristãos, e de compreensão e firmeza ao guiá-los nos caminhos da verdadeira adoração.

Neemias mostrou forte confiança na Palavra de Deus. Não só foi instrutor zeloso das Escrituras, mas também as usou para estabelecer as heranças genealógicas e o serviço dos sacerdotes e dos levitas entre o povo restaurado de Deus (Ne 1:8; 11:1–12:26; Js 14:1–21:45). Isto deve ter sido de grande encorajamento para o restante judeu. Fortaleceu a confiança deles nas grandiosas promessas feitas previamente, relativas à Semente e à restauração maior a vir sob Seu Reino. É a esperança na restauração do Reino que estimula os servos de Deus a lutar corajosamente pelos interesses do Reino e a estar ocupados na edificação da verdadeira adoração em toda a terra.

12 - ESTER Escritor: desconhecido

Lugares da escrita: Susã, Elão

Escrita completada: c. 465 a.C.

Tempo abrangido: 483-c. 475 a.C.

Tema: o cuidado providencial de Deus

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Depois da derrota do império babilônico e sua conquista pelos persas em 539 a.C., a sede do governo dos exilados passou à Pérsia. A capital Susã, é o palco da história de Ester, durante o reinado de do rei Assuero (seu nome hebraico, também chamado Xerxes I (seu nome grego) ou Khshyarshan ( seu nome persa), que reinou entre 486-465 a.C. O livro de Ester abarca os anos 483-473 do reinado de Assueiro.

De maneira simples, eis aqui a história de Assuero, rei da Pérsia, tido por alguns como Xerxes I, cuja esposa desobediente, Vasti, é substituída pela judia Ester, prima de Mordecai. O agagita Hamã trama a morte de Mordecai e de todos os judeus, mas é enforcado em sua própria estaca, ao passo que Mordecai é promovido ao cargo de primeiro-ministro e os judeus são libertados.

Naturalmente, há os que dizem que o livro de Ester não é nem inspirado nem proveitoso, mas simplesmente uma bela lenda. Baseiam sua afirmação na ausência do nome de Deus. Embora seja verdade que Deus não é mencionado diretamente, parece haver no texto hebraico quatro casos distintos de acrósticos do Tetragrama, as letras iniciais de quatro palavras sucessivas que formam YHWH. Estas iniciais são destacadas de modo especial em pelo menos três manuscritos hebraicos antigos, e são também marcadas na Massorá com letras vermelhas.

No decorrer do registro todo há forte evidência de que Mordecai tanto aceitava a lei de Deus como obedecia a ela. Negou-se a curvar-se para honrar um homem que provavelmente era amalequita; Deus determinara o extermínio dos amalequitas (Et 3:1, 5; Dt 25:19; I Sm 15:3). A expressão de Mordecai em Ester 4:14 indica que aguardava uma libertação da parte de Deus e que tinha fé na direção divina do inteiro curso dos eventos. O jejum de Ester, junto com a ação similar dos demais judeus, durante três dias antes de esta entrar perante o rei, indica confiança em Deus (4:16). Que Deus manobrou os eventos é indicado por Esterachar favor aos olhos de Hegai, o guardião das mulheres, e pela insônia do rei na noite em que pediu para ver os registros oficiais e descobriu que Mordecai não fora honrado pelo seu bom feito no passado (2:8, 9; 6:1-3; compare com Pv 21:1). Há, sem dúvida, referência a orações nas palavras “os assuntos dos jejuns e de seu clamor por socorro” (9:31).

Muitos fatos comprovam o registro como autêntico e fatual. Era aceito pelo povo judeu, que chamava o livro simplesmente de o Meghil·láh, que significa “rolo; rolo escrito”. Parece ter sido incluído no cânon hebraico por Esdras, que certamente teria rejeitado uma fábula. Os judeus guardam até hoje a festa de Purim, ou Sortes, celebrando a grande libertação do tempo de Ester. O livro apresenta modos e costumes persas de forma realística, e em harmonia com os fatos conhecidos da história e as descobertas arqueológicas. Por exemplo, o livro de Ester descreve com exatidão o modo de os persas honrarem um homem (6:8). Escavações arqueológicas revelaram que as descrições do palácio do rei, conforme apresentadas no livro de Ester, são exatas até nos mínimos detalhes (5:1, 2).

Nota-se essa mesma exatidão também no próprio relato, na maneira cuidadosa em que menciona os oficiais e os assistentes da corte, fornecendo até mesmo o nome dos dez filhos de Hamã. A linhagem de Mordecai e Ester é remontada a Quis, da tribo de Benjamim (2:5-7). Fazem-se referências aos registros oficiais do governo persa (2:23; 6:1; 10:2). A linguagem do livro é o hebraico posterior, com o acréscimo de muitas palavras e expressões persas e aramaicas, cujo estilo combina com o de Crônicas, Esdras e Neemias, harmonizando-se assim inteiramente com o período em que foi escrito.

Acredita-se que os eventos de Ester se desenrolam nos dias em que o poderoso império persa encontrava-se no seu apogeu, e que abrangem cerca de 18 anos do reinado de Assuero (Xerxes I). O período que se estende até cerca de 473 a.C. é indicado pelo testemunho de fontes gregas, persas, e babilônicas. Mordecai, testemunha ocular e um dos principais personagens do relato, foi mui provavelmente, o escritor do livro; o relato íntimo e pormenorizado indica que o escritor deve ter vivenciado esses eventos no palácio de Susã. Embora não seja mencionado em nenhum outro livro da Bíblia, não há dúvida de que Mordecai foi personagem real da história. É interessante que se encontrou um texto cuneiforme não datado, descrito por A. Ungnad, da Alemanha, como se referindo a Mardukâ (Mordecai?) qual alto oficial da corte de Susa (Susã) durante o reinado de Xerxes I. Foi ali

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em Susã que Mordecai sem dúvida completou o registro dos eventos de Ester, assim que ocorreram, isto é, por volta de 473 a.C.

12.1. Conteúdo do Livro

A. Deposta a Rainha Vasti (1:1-22). É o terceiro ano do reinado de Assuero. Ele realiza um lauto banquete para os oficiais do seu império, mostrando-lhes as riquezas e a glória do seu reino durante 180 dias. A seguir, há um grandioso banquete de sete dias para todo o povo de Susã. Ao mesmo tempo, Vasti, a rainha, dá um banquete para as mulheres. O rei se jacta de suas riquezas e glória e, estando alegre com vinho, manda chamar Vasti para vir mostrar sua beleza ao povo e aos príncipes. A Rainha Vasti persiste em se recusar a ir. Seguindo o conselho dos oficiais da corte, que argumentam que este mau exemplo poderá fazer com que o rei perca prestígio em todo o império, Assuero remove Vasti da posição de rainha e emite documentos convocando todas as esposas a ‘dar honra a seu dono’ e todos os maridos a ‘agir continuamente como príncipes na sua própria casa’ (1:20, 22).

B. Ester torna-se rainha (2:1-23). Mais tarde, o rei nomeia comissários para procurar as mais belas virgens em todas as 127 províncias do império e trazê-las a Susã, onde deverão receber um tratamento de beleza para serem apresentadas ao rei. Entre as jovens selecionadas acha-se Ester. Ester é órfã judia, “bonita de figura e bela de aparência”, que foi criada por seu primo, Mordecai, um oficial em Susã (2:7). O nome judaico de Ester, Hadassa, significa “Murta”. Hegai, o guardião das mulheres, se agrada de Ester e lhe dá tratamento especial. Ninguém sabe que ela é judia, pois Mordecai instruiu-a a guardar sigilo sobre isso. As jovens são levadas à presença do rei, uma de cada vez. Ele seleciona Ester como sua nova rainha, e realiza-se um banquete para celebrar sua coroação. Pouco depois, Mordecai fica sabendo de uma conspiração para assassinar o rei, e manda Ester informá-lo disso “em nome de Mordecai” (2:22). A trama é descoberta, e os conspiradores são enforcados, fazendo-se registro disso nos anais reais.

C. A conspiração de Hamã (3:1–5:14). Decorrem cerca de quatro anos. Hamã, pelo visto descendente do rei amalequita Agague, a quem Samuel matou, torna-se primeiro-ministro (I Sm 15:33). O rei o exalta e ordena que todos os seus servos no portão do rei se curvem diante de Hamã. Estes incluem Mordecai. Entretanto, Mordecai recusa-se a fazer isso, tornando conhecido aos servos do rei que ele é judeu (compare com Ex 17:14, 16). Hamã fica cheio de furor, e, ao descobrir que Mordecai é judeu, vê nisto a grande oportunidade de se livrar de Mordecai e de todos os judeus de uma vez por todas. Lança-se a sorte (pur) para determinar um bom dia para aniquilar os judeus. Hamã, valendo-se do seu favor junto ao rei, acusa os judeus de serem anárquicos e pede que a destruição deles seja ordenada por escrito. Hamã oferece uma contribuição de 10.000 talentos de prata (o equivalente a cerca de US$ 66.060.000) para financiar a matança. O rei consente, e enviam-se a todo o império ordens escritas seladas com o anel do rei, marcando o dia 13 de adar para o genocídio dos judeus.

Ao saberem da lei, Mordecai e todos os judeus pranteiam de serapilheira e cinzas. Há “jejum, e choro, e lamento” (4:3). Ao ser informada por Mordecai sobre a situação crítica dos judeus, Ester hesita, de início, em interceder. A penalidade por comparecer perante o rei sem ser convidado é a morte. Todavia, Mordecai mostra fé no poder de Deus, declarando que, se Ester falhar para com eles, ela morrerá de qualquer forma, e o livramento ‘procedente de outro lugar, por-se-á de pé para os judeus’. Ademais, quem sabe se não foi “para um tempo como este” que Ester se tornou rainha? (4:14). Vendo a questão, ela concorda em correr o risco, e todos os judeus em Susã jejuam com ela durante três dias.

Daí, Ester comparece diante do rei, vestida de seus mais requintados trajes reais. Ela obtém favor aos olhos dele, de modo que este lhe estende o cetro de ouro, poupando-lhe a vida. Ela convida então o rei e Hamã para um banquete. Durante o banquete, o rei insta-a a revelar seu pedido, assegurando-lhe de que será concedido, “até a metade do reinado”, após o que ela convida os dois para outro banquete no dia seguinte (5:6). Hamã sai alegre. Mas,junto ao portão da casa do rei se acha Mordecai! Este se recusa outra vez a prestar honra a Hamã ou a tremer diante dele. A alegria de Hamã transforma-se em furor. Sua esposa e seus amigos sugerem que ele construa um madeiro de 50 côvados (22,3 m) de altura e

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obtenha uma ordem do rei para enforcar Mordecai nele. Hamã manda construir a estaca imediatamente.

D. Inversão na situação (6:1–7:10). Naquela noite, o rei não consegue dormir. Manda que lhe seja trazido e lido o livro dos registros, e descobre que não recompensou a Mordecai por salvar sua vida. Mais tarde, o rei indaga sobre quem está no pátio. É Hamã, que veio pedir ao rei autorização para executar Mordecai. O rei pergunta a Hamã sobre como deve ser honrado alguém de quem o rei se agrada. Hamã, imaginando que o rei estivesse pensando nele, delineia um pródigo programa de honras. Mas o rei lhe ordena: “Faze assim a Mordecai, o judeu!” (6:10). Hamã não tem alternativa senão vestir a Mordecai de esplendor régio, colocá-lo no cavalo do rei e conduzi-lo pela praça pública da cidade, clamando diante dele. Humilhado, Hamã se apressa em ir para casa, pranteando. Sua esposa e seus amigos não têm nenhum consolo a oferecer. Hamã está condenado!

Agora é hora de Hamã comparecer ao banquete com o rei e Ester. A rainha declara que ela e seu povo foram vendidos para serem destruídos. Quem se atreveu a perpetrar tal iniqüidade? Ester diz: “O homem, o adversário e inimigo, é este mau Hamã” (7:6). O rei se levanta enfurecido e sai para o jardim. Hamã, sozinho com a rainha, implora que lhe poupe a vida, e o rei, ao retornar, fica ainda mais furioso ao ver Hamã sobre o leito da rainha. Sem demora, ordena que Hamã seja enforcado no mesmo madeiro que Hamã havia preparado para Mordecai! (Sl 7:16).

E. Mordecai é promovido, os judeus são libertados (8:1–10:3). O rei dá a Ester todos os pertences de Hamã. Ester informa a Assuero seu parentesco com Mordecai, a quem o rei promove à posição anteriormente ocupada por Hamã, dando-lhe o anel com o sinete real. Novamente, Ester arrisca a vida ao comparecer perante o rei para solicitar a anulação do decreto escrito de destruição dos judeus. Contudo, “as leis da Pérsia e da Média” não podem ser anuladas! (1:19) O rei dá, portanto, a Ester e a Mordecai autoridade para redigir uma nova lei e selá-la com o anel do rei. Esta ordem escrita, enviada a todo o império do mesmo modo como a anterior, concede aos judeus o direito de ‘congregar-se e tomar posição pelas suas almas, para aniquilar e matar, e destruir toda a força do povo e do distrito jurisdicional que lhes mostre hostilidade, pequeninos e mulheres, e para saquear o seu despojo’, no mesmo dia em que a lei de Hamã entra em vigor (8:11).

Chegando o dia designado, 13 de adar, nenhum homem consegue resistir aos judeus. A pedido de Ester ao rei, a luta prossegue em Susã até o dia 14. Ao todo, 75.000 dos inimigos dos judeus são mortos em todo o império. Outros 810 são mortos em Susã, o castelo. Entre estes se acham os dez filhos de Hamã, que são mortos no primeiro dia e pendurados no madeiro no segundo dia. Não se toma despojo. No dia 15 de adar, há descanso, e os judeus passam a banquetear-se e a regozijar-se. Mordecai dá então instruções por escrito para que os judeus guardem essa festa de “Pur, isto é, a Sorte”, todos os anos nos dias 14 e 15 de adar, e isto fazem até hoje (9:24). Mordecai é exaltado no reino, e se vale de sua posição, como o segundo depois do Rei Assuero, “para o bem de seu povo e falando paz a toda a descendência deles” (10:3).

12.2. Importância do Livro de Ester Para os Nossos Dias

Embora nenhum outro escritor da Bíblia faça qualquer citação direta de Ester, o livro se harmoniza plenamente com o restante das Escrituras inspiradas. De fato, fornece ilustrações esplêndidas de princípios bíblicos declarados mais tarde nas Escrituras Gregas Cristãs e que se aplicam a adoradores de Deus de todas as épocas. Um estudo das seguintes passagens, não só comprovará isso, mas será edificante para a fé cristã (Et 4:5 com Fp 2:4; Et 9:22 com Gl 2:10). A acusação feita contra os judeus, de que não obedeciam às leis do rei, é similar à acusação levantada contra os primitivos cristãos (Et 3:8, 9; At 16:21; 25:7). Os verdadeiros servos de Deus enfrentam tais acusações com destemor e confiança, com orações, no poder divino de os livrar, segundo o esplêndido modelo de Mordecai, Ester e seus co-judeus (4:16; 5:1, 2; 7:3-6; 8:3-6; 9:1, 2).

Quais cristãos, não devemos achar que nossa situação difere da de Mordecai e Ester. Também vivemos sob “autoridades superiores” num mundo do qual não fazemos parte. Desejamos ser cidadãos acatadores da lei em qualquer país em que vivamos, mas, ao

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mesmo tempo, desejamos traçar corretamente a linha demarcatória entre ‘pagar de volta a César as coisas de César e a Deus as coisas de Deus’ (Rm 13:1; Lc 20:25). O primeiro-ministro Mordecai e a Rainha Ester deram bom exemplo de devoção e obediência na execução de seus deveres seculares (2:21-23; 6:2, 3, 10; 8:1, 2; 10:2). Todavia, Mordecai traçou destemidamente a linha demarcatória quanto a obedecer à ordem real de curvar-se diante do desprezível agagita, Hamã. Ademais, cuidou de que se fizesse um apelo para a obtenção duma solução legal quando Hamã conspirou destruir os judeus (3:1-4; 5:9; 4:6-8).

Toda a evidência indica que o livro de Ester faz parte da Bíblia Sagrada, “inspirada por Deus e proveitosa”. Mesmo sem mencionar diretamente Deus ou seu nome, fornece-nos excelentes exemplos de fé. Mordecai e Ester não foram meros frutos da imaginação de algum novelista, mas foram servos reais de Deus, pessoas que depositaram confiança implícita no poder salvador de Deus. Embora vivessem sob “autoridades superiores” num país estrangeiro, empregaram todos os meios legais para defender os interesses do povo de Deus e sua adoração. Nós podemos seguir hoje o exemplo deles em “defender e estabelecer legalmente as boas novas” do libertador Reino de Deus (Fp 1:7).

BIBLIOGRAFIA BÁSICA UNGER, Merril F. Arqueologia do Velho Testamento. São Paulo: Editora Batista Regular, 2004.