20 ANOS DE CONSTRUÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE 20 años de … JS 2008... · Conferência...

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Tempus - Actas de Saúde Coletiva, v.2 n.1, p.63-86, jul./dez. 2008 63 20 ANOS DE CONSTRUÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE 20 years of building the unified health system 20 años de la construcción del sistema único de salud Jairnilson Silva Paim 1 RESUMO Passados 20 anos da 8ª. Conferência Nacional de Saúde e três décadas da fundação do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, justifica-se uma análise sobre o projeto e o processo da Reforma Sanitária Brasileira. Partindo de tipos de práxis defende-se a tese segundo a qual a Reforma Sanitária Brasileira constitui uma reforma social. O estudo indica que a Reforma Sanitária Brasileira, embora proposta como práxis de reforma geral e teorizada para alcançar a revolução do modo de vida, apresentaria como desfecho uma reforma parcial e setorial. Realizou-se um estudo, tendo como componente descritivo o ciclo idéia-proposta-projeto- movimento-processo, recorrendo ao referencial "gramsciano", particularmente as categorias de revolução passiva e transformismo. Procura-se acentuar a relevância do elemento jacobino, cuja radicalização da democracia contribuiria para a alteração da correlação de forças, desequilibrando o binômio conservação-mudança. Palavras-chave: Movimentos Sociais em Saúde; Reforma Sanitária Brasileira; Sistema Único de Saúde. ABSTRACT Twenty years after the accomplishment of the Eighth National Health Conference and three decades after the foundation of The Brazilian Center for Health Studies it is justified an analysis on the project and process of Brazilian Health Sector Reform. The point of depart are types of praxis. The thesis that is supported is that the Brazilian Health Sector Reform, as a social and historic phenomenon, is a social Reform. The study shows that the Brazilian Health 1 Professor Titular em Política de Saúde do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia. [email protected]

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    20 ANOS DE CONSTRUO DO SISTEMA NICO DE SADE

    20 years of building the unified health system

    20 aos de la construccin del sistema nico de salud

    Jairnilson Silva Paim1

    RESUMO

    Passados 20 anos da 8. Conferncia Nacional de Sade e trs dcadas da fundao do Centro

    Brasileiro de Estudos de Sade, justifica-se uma anlise sobre o projeto e o processo da

    Reforma Sanitria Brasileira. Partindo de tipos de prxis defende-se a tese segundo a qual a

    Reforma Sanitria Brasileira constitui uma reforma social. O estudo indica que a Reforma

    Sanitria Brasileira, embora proposta como prxis de reforma geral e teorizada para alcanar

    a revoluo do modo de vida, apresentaria como desfecho uma reforma parcial e setorial.

    Realizou-se um estudo, tendo como componente descritivo o ciclo idia-proposta-projeto-

    movimento-processo, recorrendo ao referencial "gramsciano", particularmente as categorias

    de revoluo passiva e transformismo. Procura-se acentuar a relevncia do elemento jacobino,

    cuja radicalizao da democracia contribuiria para a alterao da correlao de foras,

    desequilibrando o binmio conservao-mudana.

    Palavras-chave: Movimentos Sociais em Sade; Reforma Sanitria Brasileira; Sistema

    nico de Sade.

    ABSTRACT

    Twenty years after the accomplishment of the Eighth National Health Conference and three

    decades after the foundation of The Brazilian Center for Health Studies it is justified an

    analysis on the project and process of Brazilian Health Sector Reform. The point of depart are

    types of praxis. The thesis that is supported is that the Brazilian Health Sector Reform, as a

    social and historic phenomenon, is a social Reform. The study shows that the Brazilian Health

    1 Professor Titular em Poltica de Sade do Instituto de Sade Coletiva da Universidade Federal da Bahia. [email protected]

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    Sector Reform, even though proposed as a global reform in its praxis and theorized to reach a

    revolution in peoples way of life, has became a partial reform sectorial. The descriptive

    component of the study was the cycle: idea-proposal-project-mouvement-process, based on

    Gramscis theoretical referential, particularly the categories of passive revolution and

    transformism. The importance of the Jacobin compound is discussed. In this case, the

    democratic radicalization would contribute to change the correlation of forces, imbalancing

    the binomen conservation-change.

    Key words: Social Movements in Health; Brazilian Health Reform; Unified Health System.

    RESUMEN

    Despus de 20 aos de la 8. Conferencia Nacional sobre Salud y tres dcadas de la fundacin

    del Centro Brasileo para el Estudio de la Salud, es un anlisis del proyecto y el proceso de la

    Reforma de Salud brasileo. A partir de un tipo de prctica argumentan que es el argumento

    de que la Reforma de Salud de Brasil, es una reforma social. El estudio indica que la Reforma

    de Salud de Brasil, aunque la propuesta de reforma como una prctica general y la teora para

    alcanzar la revolucin del estilo de vida, actuando como un resultado parcial y sectorial de

    reforma. Se realiz un estudio, y como el ciclo de componente descriptivo idea-propuesta-

    proyecto-propuesta-proceso, utilizando las referencias a "gramsciano", en particular las

    categoras de revolucin pasiva y los transformadores. Su objetivo es hacer hincapi en la

    importancia del elemento jacobino, la radicalizacin de la democracia ayudar a cambiar la

    correlacin de fuerzas, desequilibrio en el binomio conservacin-cambio.

    Palabras clave: Los movimientos sociales en la salud; La reforma sanitaria brasilea;

    Sistema nico de Salud.

    INTRODUO

    Na dcada de setenta movimentos sociais combateram a ditadura enquanto defendiam

    a democratizao da sade como parte da democratizao da vida social. De um lado, o

    movimento sanitrio engendrava a idia, a proposta e o projeto da Reforma Sanitria

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    Brasileira (RSB) e, de outro, construa um novo campo cientfico e mbito de prticas: a

    Sade Coletiva.

    A crtica realizada Medicina Preventiva e ao "dilema preventivista" apontava, entre

    outras limitaes, o fato de estarem circunscritos a um movimento ideolgico, no investindo

    na produo de conhecimentos nem na mudana das relaes sociais. Ao serem examinadas

    as possibilidades de superao do dilema identificado, foi proposto o desenvolvimento de

    uma prtica terica e de uma prtica poltica(1).

    Na dcada seguinte foi possvel constatar alguns desdobramentos dessa proposio. A

    partir da crtica Medicina Preventiva ocorreu uma aproximao terico-conceitual com a

    Medicina Social, evoluindo para a constituio da Sade Coletiva, enquanto campo cientfico

    comprometido com a prtica terica(2). De forma equivalente, a idia de uma prtica poltica

    voltada para a mudana das relaes sociais, tomando a sade como referncia, resultou na

    proposta da RSB. Nesse sentido, o 1o. Congresso Brasileiro de Sade Coletiva, realizado no

    Rio de Janeiro em 1986, pode ser reconhecido como um momento privilegiado para a

    identificao do encontro entre as prticas terica e poltica e para demonstrar a organicidade

    entre a Sade Coletiva e a RSB.

    O presente artigo tem como objetivo analisar a construo do Sistema nico de Sade

    (SUS) como parte da proposta da Reforma Sanitria Brasileira (RSB).

    A REFORMA SANITRIA BRASILEIRA E O SUS

    Nas origens da referida articulao entre prtica terica, produtora de conhecimentos,

    e prtica poltica, transformadora de relaes sociais, encontra-se a fundao, em 1976, do

    Centro Brasileiro de Estudos de Sade (CEBES) no minhoco da UnB, durante a realizao

    da 32. Reunio Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia (SBPC). Dez

    anos depois, tal articulao se fortalecia ao se realizar a 8. Conferncia Nacional de Sade,

    apoiada na produo crtica da Sade Coletiva e o 1. Congresso Brasileiro de Sade

    Coletiva, cujo tema central era Reforma Sanitria e Constituinte: garantia do direito

    universal sade. A partir de ento se pode delinear o projeto da RSB, como uma reforma

    social que transcenderia a dimenso setorial dos servios de sade(3).

    Antes, porm, de ser configurado o projeto da RSB na 8. CNS, foi gestada a idia de

    uma Reforma Sanitria pelo CEBES, expressa no editorial da Revista Sade em Debate

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    (RSB) do seu terceiro nmero. Trata-se de desenvolver o CEBES como um rgo

    democrtico e que preconiza a democratizao do setor, recebendo todas as contribuies que

    atendam aos objetivos de uma Reforma Sanitria, que deve ter como um dos marcos a

    unificao dos servios de sade, pblicos e sem fins lucrativos, com a participao dos

    usurios estimulada, crescente, possibilitando a sua influncia nos nveis decisrios e

    ampliando o acesso a servios de sade de boa qualidade(4).

    Esta idia da RSB, inicialmente como reforma setorial, foi transformada em uma

    proposta de democratizao da sade no 1. Simpsio sobre de Poltica Nacional de Sade,

    na Cmara Federal em outubro de 1979, quando o CEBES apresentou o documento

    denominado A Questo Democrtica na rea da Sade(5). Naquela oportunidade, ao defender

    uma Sade autenticamente democrtica, reconhecendo o direito universal e social, o carter

    scio-econmico dessas condies e a responsabilidade parcial das aes mdicas, indicava

    medidas passveis de impedir os efeitos nocivos das leis do mercado na rea, transformando

    os atos mdicos em um bem social e criando um Sistema nico de Sade com as seguintes

    caractersticas: responsabilidade total do Estado na administrao do Sistema; delegao ao

    SUS a tarefa de planificar e executar a poltica nacional de sade; estabelecimento de

    mecanismos eficazes de financiamento; organizao descentralizada; e participao

    democrtica da populao nos diferentes nveis e instncias do sistema(5). Portanto, o SUS

    como componente da proposta da RSB tem quase trs dcadas de existncia.

    Naquele mesmo ano, em setembro, houve a fundao da Associao Brasileira de

    Sade Coletiva(6) que, junto ao CEBES, desempenhou um papel histrico na 8. CNS e no

    processo constituinte, alargando os horizontes da idia e da proposta da RSB. Dessa

    Conferncia nasceu um projeto de reforma social que se apresentava, simultaneamente, como

    uma bandeira de luta e uma totalidade de mudanas com diversas dimenses(7).

    No desenvolvimento da RSB, alm de serem reconhecidos os momentos da idia,

    proposta e projeto, possvel destacar o seu processo em conjunturas distintas e o movimento

    que a engendrou, sustentando-a poltica e ideologicamente. Reconhecendo-se o SUS como um

    dos desdobramentos da RSB, pode-se entend-lo como uma macropoltica de sade que

    encerra polticas especficas (promoo da sade, ateno bsica, regulao, humanizao,

    urgncia e emergncia, sade da mulher, combate ao racismo institucional, reduo da

    morbimortalidade por acidentes e violncias, entre outras), capaz de incidir sobre a

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    reproduo ou redefinio das prticas de sade mediante novos modelos de ateno ou

    modos tecnolgicos de interveno em sade(8).

    As conquistas verificadas no desenvolvimento da RSB a partir das reflexes sobre a

    histria da ABRASCO(6) estimularam a formulao da seguinte pergunta: O que dizer de

    uma gerao de brasileiros que resistiu ditadura lutou pela democracia, organizou o

    movimento sanitrio, inventou o Centro Brasileiro de Estudos de Sade (CEBES), engendrou

    a Sade Coletiva, produziu publicaes, fundou a Associao Brasileira de Ps-graduao em

    Sade Coletiva (ABRASCO), desencadeou a Reforma Sanitria, concebeu e implementou o

    SUS, constituiu novos sujeitos, implantou programas de ps-graduao e pesquisa, criou

    instituies e ampliou a produo cientfica e tecnolgica em sade no pas?(9).

    Poder-se-ia afirmar que esses brasileiros fizeram Histria. Portanto, a histria do SUS,

    como um dos filhos mais diletos da RSB (mesmo no sendo o nico) a partir da sua

    formalizao pela Constituio de 1988, no estranha a esses companheiros e companheiras.

    Mesmo com uma sociedade to desigual como a brasileira e no obstante um Estado to

    descomprometido com o povo, foi possvel implantar um sistema universal, calcado no

    princpio da sade como direito social vinculado cidadania, descentralizado e participativo.

    Todos que acompanharam a concepo, nascimento e implementao desse sistema de

    servios de sade, buscando formas de contornar adversidades e obstculos nesse perodo,

    orgulham-se em enumerar as suas conquistas.

    UM POUCO DE TEORIA PARA A COMPREENSO DA REFORMA SANITRIA

    Como se assinalou no tpico anterior, a Reforma Sanitria, enquanto fenmeno

    histrico e social pode ser descrita e analisada como idia-proposta-projeto-movimento-

    processo. Na delimitao desse objeto (construo terica) pode-se chegar a uma "teoria do

    objeto", identificando conexes da RSB com outros objetos necessrios sua apreenso

    (Estado, estrutura social, ideologia, setor sade, entre outros).

    Ainda em termos tericos, devem ser considerados certos tipos de prxis(10) e suas

    implicaes em relao proposta, ao projeto e ao processo da RSB. Em estudo anterior foi

    possvel reunir, no momento emprico da investigao, material documental relativo RSB,

    dialogando com a contribuio da filsofa hngara e dos que formularam e organizaram o

    saber sobre a Reforma Sanitria no Brasil (3).

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    Tomando como referencial as reflexes da mencionada autora, as perguntas

    formuladas sobre o objeto implicaram indagaes acerca da sociedade brasileira. A partir da

    tese de que a RSB representa uma reforma social, estabeleceu-se a hiptese de que foi

    concebida como reforma geral, tendo como horizonte utpico a revoluo do modo de vida.

    De outra perspectiva, conceitos gramscianos tm sido acionados para o esboo de uma

    teoria da Reforma Sanitria, desde as suas origens(11). O filsofo da prxis ofereceu grandes

    contribuies para a teoria marxista no sentido de apreender a realidade como totalidade: Se

    cincia poltica significa cincia do Estado e Estado todo o complexo de atividades prticas

    e tericas com as quais a classe dirigente no s justifica e mantm seu domnio, mas

    consegue obter o consenso ativo dos governados, evidente que todas as questes essenciais

    da sociologia, no passam de questes da cincia poltica(12).

    Apesar dessa perspectiva ampla de anlise o autor no ignorava as mediaes entre os

    elementos de uma dada totalidade, recusando posies dogmticas, economicistas e

    mecanicistas do marxismo vulgar. Gramsci no toma o marxismo como doutrina abstrata,

    mas como mtodo de anlise concreta do real em suas diferentes determinaes. Debrua-se

    sobre a realidade enquanto totalidade, desvenda suas contradies e reconhece que ela

    constituda por mediaes, processos e estruturas(13).

    Na medida em que a determinao econmica insuficiente para construo do

    conceito de classe social e para o exame do papel e das funes do Estado contemporneo,

    cabe considerar a determinao poltica e ideolgica, a partir das relaes sociais. As

    relaes de produo correspondem, nas relaes sociais, s relaes sociais de produo;

    mas tambm se poder falar com todo o rigor das relaes 'sociais' polticas e relaes 'sociais'

    ideolgicas(14).

    Da a relevncia de adicionar um outro elemento para a anlise da RSB e do SUS, em

    particular: a noo de bloco histrico(15). Este conceito, atribudo a Georges Sorel (1847-

    1922), pensador socialista, apreenderia a unidade entre estrutura e superestrutura estabelecida

    pelo marxismo. A estrutura e as superestruturas formam um 'bloco histrico', isto , o

    conjunto complexo e contraditrio das superestruturas o reflexo do conjunto das relaes

    sociais de produo(16).

    Dois outros conceitos mostraram-se pertinentes na anlise da RSB: revoluo passiva

    e transformismo. O primeiro, referido a Vincenzo Cuoco por Gramsci, diz respeito s

    modificaes ocorridas na Itlia a partir das guerras napolenicas, perodo conhecido como

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    Risorgimento. Como conceito foi elaborado para analisar o movimento poltico dirigido

    unificao nacional e formao do Estado italiano, sendo acompanhado de outras expresses

    como "riscossa nacional" e "riscatto nacional": todos expressam o conceito de retorno a um

    estado de coisas j havido no passado, ou de 'retomada' ofensiva (ricossa) das energias

    nacionais dispersas em torno de um ncleo militante e concentrado, ou de emancipao de um

    estado de servido para retornar primitiva autonomia (riscatto). So difceis de traduzir [...]

    de modo que se concebe a nao italiana como 'nascida' ou 'surgida' com Roma, pensa-se que

    a cultura greco-romana tenha 'renascido', a nao tenha 'ressurgido', etc.(17).

    Designa, portanto, um processo de restaurao-revoluo verificado na histria

    italiana durante o Risorgimento ou ressurgimento na lngua portuguesa, caracterizado nos

    seguintes termos: As exigncias que encontraram na Frana uma expresso jacobino-

    napolenica foram satisfeitas em pequenas doses, legalmente, de modo reformista,

    conseguindo-se assim salvar a posio poltica e econmica das velhas classes feudais, evitar

    e reforma agrria e, notadamente, evitar que as massas populares atravessassem um perodo

    de experincias polticas similares s da Frana nos anos do jacobinismo, em 1831, em

    1848(16).

    Esta conservao-mudana, verificada no Risorgimento revelada, portanto, no

    conceito de revoluo passiva. Tambm chamada de "revoluo pelo alto" ou "revoluo sem

    revoluo, a revoluo passiva difere da contra-revoluo, essa, sim, uma reao manifesta

    mudana social(18). Segundo um estudioso de Gramsci no Brasil, a revoluo passiva pode

    ser definida do seguinte modo: um processo de transformao que excluiu a participao das

    foras democrticas e populares do novo bloco do poder, das foras interessadas na completa

    erradicao dos restos feudais, e, como tal, numa revoluo agrria que integrasse os

    camponeses na economia capitalista moderna e os atrasse para a defesa da hegemonia

    burguesa e democrtica(19).

    No caso do transformismo trata-se do fenmeno pelo qual se unificaram os partidos do

    Risorgimento, trazendo luz o contraste entre civilizao, ideologia, etc., e a fora de

    classe.(12). No exerccio do transformismo personalidades ou partidos dos grupos subalternos

    mudam de lado e passam a engrossar as fileiras das classes dominantes.

    Portanto, o Estado e seus aparelhos de hegemonia(11,20) so espaos de disputa entre as

    classes fundamentais e grupos sociais, bem como de construo da revoluo passiva e do

    exerccio do transformismo. Nesse sentido, a hegemonia no se confunde com coero, pois

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    envolve o consenso ativo entre os governados, o que supe uma direo tica, poltica e

    cultural. A democracia, enquanto uma modalidade plural de exerccio do poder poltico

    passa a ser vista como o espao ideal de formulao de uma contra-hegemonia, ampliando o

    campo e alianas das camadas populares, de sorte que os intelectuais oriundos das classes

    mdias e da burguesia vm a ser um aliado fundamental neste processo de formulao de um

    projeto poltico e cultural dos setores dominados(11).

    Na perspectiva gramsciana, um grupo subalterno pode construir a hegemonia antes

    mesmo de ser dirigente. Desse modo, a sade pode ser admitida como "um meio em que a

    ambivalncia representa a condio de possibilidade de construo de um bloco histrico" (11).

    Ao se privilegiar as relaes presentes na estrutura social no se dispensa a pergunta

    de que Estado e de que sociedade se est examinando. No caso da RSB, trata-se do Estado

    brasileiro, adjetivado de "burocrtico-autoritrio" desde que se discutia o "modelo poltico"

    durante a ditadura. Entender o 'modelo poltico' do Brasil consiste, antes de mais nada, em

    explicitar a forma estatal, a organizao estatal, a ideologia do estado, as polticas por ele

    engendradas. Ao faz-lo, explicitam-se os que mandam, os que so beneficiados, os que so

    excludos e os que participam(21).

    Mesmo no perodo desenvolvimentista esse Estado manteve o seu carter autoritrio:

    o Estado desenvolvimentista brasileiro foi predominantemente autoritrio(22). Assim, diante

    de uma sociedade considerada patriarcal e atrasada alguns autores reconheciam no Estado

    brasileiro o carter de Estado demiurgo. Se a sociedade inocente, logo se depreende que

    o Estado se defronta com uma misso excepcional: constituir, orientar, administrar ou tutelar

    a sociedade, isto , o povo, os setores sociais subalternos. Justifica-se que o Estado seja

    patriarcal, oligrquico, benfeitor, punitivo, deliberante, onisciente, ubquo(23).

    Este Estado brasileiro durante a transio democrtica teve de dar conta da dinmica

    contraditria introduzida pelas determinaes situadas ao nvel das lutas polticas na esfera da

    reproduo e dos valores e ideologias que se reproduzem no campo da sade(11).

    EMERGNCIA DA PROPOSTA DA REFORMA SANITRIA BRASILEIRA

    Na conjuntura de transio democrtica iniciada com o Governo do General Geisel

    produzia-se um discurso social diante dos impasses econmicos e polticos do regime que se

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    configurava no II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND). Ao mesmo tempo o governo

    prometia uma abertura poltica lenta, segura e gradual(24).

    Algumas das respostas do Estado nessa conjuntura foram a criao do Ministrio da

    Previdncia e Assistncia Social (MPAS) e o envio do projeto de lei ao Congresso Nacional,

    instituindo o Sistema Nacional de Sade (Lei 6629 de 17/7/1975). Diante das dificuldades de

    regulamentar essa lei o governo investiu nos Programas de Extenso de Cobertura (PECs) que

    se caracterizavam como propostas dominadas por referncia ao conjunto das polticas de

    sade e ao modelo mdico-hospitalar dominante, mas representavam uma "estratgia de

    reserva" do Estado face crise do setor.

    Essa crise do setor sade se expressava pela baixa eficcia da assistncia mdica, pelos

    altos custos do modelo mdico-hospitalar e pela baixa cobertura dos servios de sade em

    funo das necessidades da populao(25), convivendo com a falncia do "milagre

    econmico", com a crise do capitalismo mundial do incio dos setenta e com o decrscimo de

    legitimidade do autoritarismo, evidenciado pelos resultados das eleies de 1974. Diante

    dessa crise de hegemonia surgia um espao de luta para as foras progressistas.

    Nesse contexto apontava-se para a limitao das iniciativas governamentais no setor,

    destacando-se na anlise da situao de sade a composio da "morbidade moderna" com a

    "morbidade da pobreza". No que se refere s respostas sociais a esse quadro sanitrio

    ressaltava-se a incapacidade de soluo de problemas bsicos com a tecnologia moderna.

    Uma medicina de baixa densidade de capital e grande extenso social precariamente

    organizada, e um setor de alta densidade de capital, pequeno alcance social e, no entanto,

    padro internacional(25).

    Assim, no interior da sociedade civil surgiu em 1976 o Centro Brasileiro de Estudos

    de Sade (CEBES) que, naquele contexto, congregou diferentes segmentos sociais que vieram

    a compor o movimento sanitrio com os seguintes elementos: a) bases universitrias e

    "academia" - departamentos de medicina preventiva e social, Programa de Estudos

    Econmicos e Sociais (PESES), cursos de ps-graduao em Sade Coletiva; b) movimento

    estudantil; c) o movimento mdico - Movimento dos Mdicos Residentes, Movimento

    Renovao Mdica (REME); d) projetos institucionais (Projeto Montes Claros, Programa de

    Interiorizao das Aes de Sade e Saneamento do Nordeste (PIASS)(26-27).

    Esse movimento de pessoas e idias tinha no CEBES uma pedra fundamental,

    embora no a nica, do movimento sanitrio como movimento social organizado(26). Desse

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    modo, vrios estudos tomaram a criao do CEBES e o incio da publicao da revista Sade

    em Debate como marcos histricos do movimento sanitrio e, conseqentemente, da RSB. O

    CEBES utilizou na construo de identidades a democratizao da sade, construindo sua

    plataforma ao redor das denncias da iniqidade da organizao econmico-social e da

    perversidade do sistema de prestao de servios de Sade privatizado e anti-social; como

    estratgia, a luta pela democratizao do Pas e pela racionalidade na organizao das aes e

    servios de Sade. Assim as polticas formuladas, alm de um componente racionalizador,

    apresentavam um carter democratizante. Associava a luta poltica a propostas tcnicas.

    Apesar de inicialmente contar com a influncia de militantes do antigo Partido Comunista

    Brasileiro (PCB) e de reunir profissionais de sade, caracterizava-se pelo suprapartidarismo e

    pelo no corporativismo(28).

    Esta organizao da sociedade civil defendeu o reconhecimento do direito sade e a

    proposta da Reforma Sanitria desde 1977 e, pela primeira vez, concebeu a proposta de um

    Sistema nico de Sade, apresentando-a no 1. Simpsio de Poltica Nacional de Sade na

    Cmara dos Deputados em 1979(5). Ao mesmo tempo, seus militantes, simpatizantes e

    colaboradores atuaram por dentro do Estado, contribuindo na formulao e/ou na

    implementao do Programa Nacional de Servios Bsicos de Sade (PREV-SADE), do

    Plano de Reorientao da Assistncia Sade no mbito da Previdncia Social (Plano do

    CONASP) e das Aes Integradas de Sade(29).

    A 8. CNS COMO SISTEMATIZAO DO PROJETO DA RSB

    Foi na preparao e discusso da 8a. Conferncia Nacional de Sade (8. CNS) que o

    CEBES e, especialmente, a ABRASCO transformaram a idia e a proposta no projeto da

    RSB. Naquela oportunidade examinou-se a noo de direito sade com referncia doutrina

    dos direitos humanos, justificando os esforos para a promoo, proteo, recuperao e

    reabilitao da sade. Criticou-se a concepo liberal de sade pblica, admitindo-se um novo

    relacionamento entre Estado e sociedade civil no Brasil capaz de avanar o processo de

    democratizao da sociedade sem ignorar o fato de que na base de sua estratificao

    encontra-se a estrutura de classes da sociedade brasileira, com distintos mecanismos e padres

    de consumo mdico, e tambm com diferentes possibilidades de presso poltica(30).

  • 20 anos de construo do sistema nico de sade

    Tempus - Actas de Sade Coletiva, v.2 n.1, p.53-86, jul./dez. 2008 73

    A sade como direito inerente cidadania, ou seja, como parte dos direitos sociais a

    serem reconhecidos pelo Estado, j era cogitada antes mesmo dessa Conferncia no Editorial

    do nmero 2 da Revista Sade em Debate. Desse modo, o direito sade passou a compor o

    conjunto de proposies registrado no Relatrio Final da 8. CNS(31) que sistematiza o corpo

    doutrinrio da RSB.

    Nessa Conferncia foram discutidos, ainda, a Reformulao do Sistema Nacional de

    Sade e o Financiamento do Setor. No caso da reorientao do sistema de servios de sade

    verificou-se uma maior quantidade de contribuies, alm da intensidade nos debates. Nossa

    concepo do futuro Sistema Nacional de Sade a adotada pela Reunio de Trabalho sobre

    as Aes Integradas de Sade, realizada em Curitiba, em agosto de 1984, sob patrocnio do

    CEBES e da ABRASCO: a de um Sistema Unificado e Federado de Sade(32).

    No obstante certas resistncias contra as AIS diante da possibilidade dessa estratgia

    ser usada como pretexto para retardar a implantao do SUS, vrios autores e atores(32, 34, 30) a

    defendiam como um caminho para a construo do novo sistema de sade. As AIS vo

    passando de simples racionalizao para embrionar um sistema de sade moderno e social, na

    medida do avano e consolidao da Democracia em nosso pas(33).

    No que tange municipalizao, as propostas eram muito cautelosas na poca, de

    modo que numa primeira etapa seria limitada s cidades de porte mdio, prosseguindo para os

    demais municpios depois de uma avaliao(33). Mesmo um dos autores mais entusiastas da

    municipalizao questionava a descentralizao para os municpios pequenos: A

    municipalizao dos servios, que inquestionvel para os municpios de grande e mdio

    portes, discutvel para os pequenos municpios(34).

    No caso do financiamento do setor as recomendaes apresentadas na 8. CNS no

    tiveram a abrangncia e solidez das proposies relativas aos demais temas centrais. De

    qualquer modo, parte significativa das contribuies apresentadas naquele evento histrico

    foram sintetizadas pelo Prof. Guilherme Rodrigues da Silva (USP) no relatrio final(31) que

    serviu de referncia para a Comisso Nacional da Reforma Sanitria (CNRS) elaborar os

    documentos para a Assemblia Constituinte iniciada em fevereiro de 1987.

    A anlise do processo constituinte sob a perspectiva da sade j foi feita de forma

    exaustiva em outros estudos, contemplando documentos produzidos pelas distintas

    comisses(35, 28). Como destaque merece ser mencionada a emenda popular apresentada pelo

    movimento sanitrio(36). Outra emenda "popular" foi encaminhada por representantes do

  • Jairnilson Silva Paim

    74 Tempus - Actas de Sade Coletiva, v.2 n.1, p.63-86, jul./dez. 2008

    capital na sade, a exemplo da Federao Brasileira de Hospitais (FBH), Associao

    Brasileira de Medicina de Grupo (ABRAMGE) e Federao Nacional dos Estabelecimentos

    de Sade, contando com cerca de setenta mil assinaturas, talvez dos prprios funcionrios da

    rea hospitalar privada(35).

    No mbito do Executivo, um decreto presidencial transformou a estratgia das AIS no

    Sistema Unificado e Descentralizado de Sade (SUDS), propiciando um conjunto de

    desdobramentos tcnico-institucionais como a formulao de planos de sade, implantao de

    distritos sanitrios e organizao de conselhos de sade(29). Essas iniciativas possivelmente

    refletiram na distribuio do poder setorial. O Inamps d incio a uma profunda reforma na

    linha da descentralizao e de repasse de poder, ou seja, o superintendente do Inamps perde

    poder e os secretrios de sade assumen-no(37).

    No mbito do movimento sanitrio, alm da atuao do CEBES e da ABRASCO,

    outra instncia foi organizada para a ao poltica - a Plenria da Sade. O nome Plenria

    Nacional de Sade, com a sua conformao, surgiu depois da 8a. CNS. [...] Da Plenria

    participavam partidos polticos, sindicatos, movimentos populares, universidades, pessoas,

    personalidades. Da sua coordenao participavam a Andes, o CFM, a CUT e representantes

    de vrios movimentos(37).

    Contudo, enquanto a Constituio de 1988 era elaborada novos problemas polticos no

    setor sade apareceram: demisses de dirigentes da Secretaria de Vigilncia Sanitria do

    Ministrio da Sade; perseguio aos sanitaristas que questionavam os rumos da poltica

    estadual de sade em So Paulo; e demisso do Professor Hesio Cordeiro da presidncia do

    INAMPS, cujo cargo passou a ser ocupado por um mdico amigo do Presidente da Repblica.

    Embora o processo da RSB tenha sido desencadeado a partir da realizao da 8a. CNS

    e, especialmente, com os trabalhos da Comisso Nacional da Reforma Sanitria (CNRS),

    somente com a promulgao da Constituio de 1988 torna-se possvel analisar, de modo

    mais consistente, a implantao da RSB e a construo do SUS. Nesse particular, foi

    retardado o envio do projeto da Lei Orgnica da Sade ao Congresso Nacional, apesar dos

    esforos de professores e pesquisadores da UnB na sua elaborao e das articulaes polticas

    construdas pela Plenria da Sade.

  • 20 anos de construo do sistema nico de sade

    Tempus - Actas de Sade Coletiva, v.2 n.1, p.53-86, jul./dez. 2008 75

    TRS MOMENTOS DA CONSTRUO DO SUS

    Na conjuntura ps-constituinte possvel identificar trs momentos da Reforma Sanitria

    relacionados com a construo do SUS: 1) "anos de instabilidade" (1989-1994); 2) a "social

    democracia conservadora" do perodo de 1995 a 2002(38); 3) conservao-mudana do

    governo Lula.

    1. Anos de instabilidade

    Nesse primeiro momento, a Lei Orgnica da Sade (Lei 8080/90) foi sancionada pelo

    Presidente da Repblica, dispondo sobre as condies para a promoo, proteo e

    recuperao da sade, bem como a organizao e o funcionamento dos servios

    correspondentes. Regula, em todo o territrio nacional, as aes e servios de sade

    executados, isolada ou conjuntamente, em carter permanente ou eventual, por pessoas

    naturais ou jurdicas de direito pblico ou privado. Ou seja, todos os prestadores de servios

    esto subordinados a esta Lei e no apenas os integrantes do SUS. Trs meses depois este

    dispositivo legal foi complementado pela Lei 8142/90, dispondo sobre a participao social e

    os mecanismos de repasse financeiro no SUS.

    Durante o Governo Itamar, a sade era ameaada pela proposta de reviso

    constitucional, no obstante o passo adiante efetuado pela Norma Operacional Bsica 01/1993

    (NOB 93): Integrante originrio do movimento pela democratizao da sade, hoje da

    Reforma Sanitria [...] o CEBES no poderia deixar de se manifestar sobre a candente questo

    [...]. Deve-se, pois, repudiar toda tentativa explcita ou camuflada de imploso da Seguridade

    Social, assim como da reverso da doutrina do Sistema nico de Sade, que vm sendo

    ensaiadas por propostas oficiais de separao/especializao das fontes de custeio da

    Seguridade Social e, no caso da Sade, por setores que se consideraram perdedores no

    processo constituinte 87/88. [...] o sexto Ministro da Sade depois da promulgao da

    Constituio, sem contar dois interinos, fato por demais preocupante, numa etapa crtica da

    implantao do SUS. Alis, nada mudou, uma vez que o MS tem sido usado de forma

    reiterada e irresponsvel como troco nas barganhas polticas(39).

    Entretanto, alguns fatos novos ocorridos nesse momento pareciam reforar o SUS:

    influncia da sociedade civil na poltica de sade atravs do Conselho Nacional de Sade,

  • Jairnilson Silva Paim

    76 Tempus - Actas de Sade Coletiva, v.2 n.1, p.63-86, jul./dez. 2008

    bem como nos conselhos estaduais e municipais; municipalizao da sade reconhecendo a

    diversidade das situaes (NOB 93); experimentao de modelos assistenciais alternativos por

    governos municipais; reativao de certos movimentos da cidadania (luta contra a fome e a

    misria, defesa da vida e contra a violncia, etc.). Curiosamente, um dos fatos produzidos de

    maior significncia poltica (a extino do INAMPS) foi menos debatido que a NOB 93.

    Enfim, a batalha pelo fim da poltica representada pelo INAMPS demorou tanto a ser ganha

    que hoje a morte do adversrio no implica na sua derrota. Digamos que se trata de uma

    escaramua com acentuado componente de diversionismo(40).

    E atrs desse aparente diversionismo poltico encontravam-se a expanso da

    assistncia mdica supletiva (AMS), as presses da indstria farmacutica e o clientelismo

    poltico de sempre. No perodo em que estive no INAMPS, pouco antes de sua extino

    coordenada pelo Carlos Mosconi, eu atendia, na maior parte do tempo, a deputados e

    governadores, basicamente para auxiliar na aprovao de emendas parlamentares de obras e

    empreitadas e aumento do nmero de AIH, geralmente com fins eleitorais(37).

    A NOB 93, ao condicionar o repasse de recursos federais a existncia e funcionamento

    dos conselhos estaduais e municipais de sade, possibilitava um controle pblico sobre os

    aparelhos de Estado e a experimentao de novas prticas de gesto. [...] se pode verificar o

    poder dos conselhos de impor novas prticas que vo de encontro ao clientelismo, ao

    nepotismo e aos arranjos da troca de favores e apoios entre os governantes. uma mudana

    radical que atinge as formas patrimonialistas de se gerir a coisa pblica(37).

    Assim, o processo da Reforma Sanitria continuava encontrando dificuldades. No

    final do governo o movimento sanitrio, atravs de um dos seus intelectuais coletivos

    apresentava as seguintes recomendaes aos seus militantes: [...] Convidamos todos aqueles,

    comprometidos com o iderio da Reforma Sanitria, a adotar uma postura aberta, mas alerta, e

    a no hesitar em refletir, criticar e cobrar diuturnamente a aplicao das propostas de governo

    do ento candidato Fernando Henrique(41).

    Conseqentemente, os anos de instabilidade da RSB e o cenrio que se configurava

    para as eleies presidenciais de 1994 no permitiam algum otimismo para o

    desenvolvimento do SUS naquela conjuntura.

  • 20 anos de construo do sistema nico de sade

    Tempus - Actas de Sade Coletiva, v.2 n.1, p.53-86, jul./dez. 2008 77

    2. Momento da "social democracia conservadora"

    No perodo do Presidente Fernando Henrique Cardoso a situao no foi mais

    confortvel, persistindo o drama estratgico da RSB e do SUS, em particular: [...] No

    nossa inteno aqui sermos vangloristas uma vez que a realidade geral bem dramtica e

    ainda no conseguiu ser transformada pela Reforma Sanitria e pelo SUS(42).

    No entanto, ao adotar 1997 como O Ano da Sade no Brasil, o Governo FHC

    afirmava que o Brasil precisaria se conscientizar de sua capacidade de promover a sade de

    sua gente, com nfase na preveno. A partir dessa constatao declarava: Estamos

    decididos a mudar a dura realidade da sade pblica no Brasil. J comeamos a mud-la.2

    J o movimento sanitrio, ao completar vinte anos de CEBES, realizou um balano de

    suas prticas tericas e polticas apresentando, atravs de vrios dos seus militantes e

    intelectuais, muito crticas, novas pautas e algum desalento e perplexidade. No conjunto,

    'leva-se a vida'. Emprego e segurana parecem ser temas que calam mais fundo no corao

    das pessoas. Talvez, por isso, um certo sentimento de vazio e, at mesmo, uma certa

    perplexidade(43).

    O autor mencionava, naquela oportunidade, um discurso do Presidente do CEBES,

    para ilustrar tal sentimento: O CEBES segue profundamente preocupado com a relativa

    desmobilizao do movimento sanitrio brasileiro no perodo que sucedeu a nova

    Constituio e Lei Orgnica da Sade. Muitos companheiros que participavam diretamente

    desse movimento esto hoje atarefados com administraes municipais, estaduais e at

    federais, restando pouco tempo para a velha militncia que sempre foi o motor da luta por

    melhores condies de sade e vida no pas. No Brasil, poucas coisas funcionam se no existe

    participao, controle e presso. E nesse momento a participao est sendo pequena e a

    presso, muito pequena(43).

    Outro autor/ator da RSB ainda era mais incisivo, ressaltando os aspectos poltico-

    partidrios possivelmente relacionados com tal situao: O antigo movimento sanitrio se

    esfrangalhou [...] em tendncias partidrias ou semi-partidrias zelando por currais onde

    poucos aceitam encerrar-se(44).

    2 BRASIL. Ministrio da Sade. A Sade no Brasil. Braslia, mar. 1997. p.13.

  • Jairnilson Silva Paim

    78 Tempus - Actas de Sade Coletiva, v.2 n.1, p.63-86, jul./dez. 2008

    Apesar da contundncia desse trecho, este professor no deixava de formular

    alternativas, sublinhando as caractersticas e os modos de atuao usuais do Estado brasileiro:

    Talvez construir uma plataforma operacional, diretrizes mais concretas que permitissem a

    neoconstruo do SUS. Relevar as diferenas; revelando-as, entretanto. Cuidar com carinho

    das nossas incertezas, abri-las ao sol do debate livre [...]. Ademais, no h como desconhecer

    que o Estado brasileiro - estado operado por atores sociais realmente existente, como

    identidade bem marcada - vem ele prprio impedindo a efetiva implantao do SUS.

    Primeiro, porque no o financia de modo conveniente; segundo, porque, ao gerenci-lo, no

    tem buscado qualidade e eficcia da ateno; terceiro, porque no realiza reformas da

    mquina administrativa e assistencial sem as quais o SUS no conseguir passar do papel(44).

    Assim, uma nova pauta de propostas para a RSB passava a ser ensaiada no livro

    intitulado A Luta do CEBES(45). Assim, um prximo perodo de vitalidade do movimento da

    Reforma Sanitria e do CEBES deve construir sua pauta em torno de algumas questes que

    hoje no esto resolvidas conceitual e tecnicamente, necessitando, tanto de estudos e

    avaliaes de experincias, quanto de repactuao entre vrios segmentos do movimento, hoje

    bastante esgarado. Entre essas questes, encontram-se: a proposio e aprovao da

    legislao que assegure a complementao do processo de implantao do SUS, em especial

    disciplinando melhor as relaes com o setor privado, tanto o contratado, quanto o

    'autnomo'; tambm a relativa ao sangue e hemoderivados, aos medicamentos (genricos,

    organizao farmacutica, etc.); a reabertura da discusso dobre o financiamento da Sade

    [...]; a abertura de discusses, no movimento e com o Congresso e o Executivo, de novas

    estratgias de gesto pblica [...] assim como uma priorizao de novas polticas de

    valorizao do trabalho, hoje absolutamente secundarizadas [...]; a radicalizao do processo

    de descentralizao, com reviso profunda das funes e estrutura do nvel federal do

    SUS(35).

    Em 2000 foi aprovada a Emenda Constitucional 29 (EC-29) quando o CONASEMS

    desempenhou um importante papel na mobilizao: Aprovem o PEC da sade: mais verba

    para o SUS! O Brasil precisa, o povo merece!3. Esta foi a exortao exposta no seu jornal,

    quando divulgava o histrico das iniciativas adotadas, nessa perspectiva, desde 1993. Trs

    meses depois anunciou que o PEC, enfim, chega ao plenrio4.

    3 Ver: Jornal do CONASEMS, 59, fev. 2000. 4 Ver: Jornal do CONASEMS, 62, maio 2000.

  • 20 anos de construo do sistema nico de sade

    Tempus - Actas de Sade Coletiva, v.2 n.1, p.53-86, jul./dez. 2008 79

    Apesar dessa conquista, a Reforma Sanitria no se apresentava na agenda do

    governo, nem nos debates das eleies presidenciais de 1998, perdendo prioridade at mesmo

    na atuao e no discurso do movimento sanitrio5. Somente ao finalizar a era FHC a

    ABRASCO voltou a reforar a defesa da RSB, rejeirando a tese do esgotamento do seu

    projeto. A agenda poltica da Reforma Sanitria Brasileira no se encontra esgotada. Cumpre

    incluir novos sujeitos sociais no seu desenvolvimento e incidir politicamente em cada

    conjuntura no sentido de reafirmar princpios e diretrizes, alm de construir alianas e pactos

    comprometidos com a radicalidade da proposta de democratizao da sade(46).

    Ao realizar uma breve avaliao do movimento da RSB o documento ressaltava:

    Uma das conquistas desse movimento foi a implantao do Sistema nico de Sade (SUS) e

    a implementao de polticas descentralizantes e democratizantes, ampliando o controle

    pblico sobre o Estado, seus aparelhos e sua tecno-burocracia sanitria. Durante a dcada de

    noventa, a Reforma Sanitria, enquanto processo, sofreu avanos e retrocessos, mas

    conquistou novos atores sociais(46).

    E conclua reconhecendo a distncia entre as promessas do SUS e a realidade

    analisada. Por isso a Nao espera dos seus dirigentes maior comprometimento com a

    garantia do direito universal sade, a implementao de polticas pblicas voltadas para a

    promoo e proteo da sade, bem como o respeito s diretrizes formuladas pela sociedade

    organizada durante as conferncias de sade para que o SUS possa ser aquilo que

    prometeu(46).

    Essas iniciativas foram saudadas pelo CEBES como retomada do debate sobre a

    Reforma Sanitria(47). A partir de ento, a ABRASCO e o CEBES insistiram na defesa do

    projeto original da Reforma Sanitria durante as eleies de 2002, postulando a "radical

    implementao da Reforma Sanitria" e explicitando para a Nao as suas posies. O

    movimento da Reforma Sanitria Brasileira sempre pretendeu produzir uma mudana cultural

    na sociedade brasileira tendo a sade como eixo de transformao, assim como modificar as

    polticas do Estado Brasileiro sem limitar-se a mudanas setoriais ou polticas de governo.

    Consideramos a Reforma Sanitria como a nica reforma democrtica do Estado brasileiro,

    com carter processual e ainda inconclusa. Esse processo exige a permanente reflexo sobre

    os rumos, resultados e procedimentos. A Reforma Sanitria engloba uma multiplicidade de

    5 Ver: Agenda Poltica Brasil em Defesa da Sade como Direito da Cidadania e como Bem Pblico. Seminrio Nacional Reformas do Estado, Sade e Equidade no Brasil. Rio de Janeiro, 20 jun. 2000, p.7-9.

  • Jairnilson Silva Paim

    80 Tempus - Actas de Sade Coletiva, v.2 n.1, p.63-86, jul./dez. 2008

    objetos e concepes que ultrapassam as tarefas de organizao do Sistema nico de Sade

    [...]. chegado o momento de recuperar a Reforma Sanitria em sua amplitude, com as

    propostas de relaes sociais e humanas contidas no projeto original emanado da 8a.

    Conferncia Nacional de Sade(48) e plasmado na Constituio da Repblica Federativa do

    Brasil (1988). [...] A Reforma Sanitria Brasileira tem como princpio orientador a promoo

    da justia social [...]. Concebemos Sade como componente indissocivel da Seguridade

    Social [...] As polticas nacionais de Cincia e Tecnologia e Industrial em Sade so

    componentes fundamentais da Reforma Sanitria [...]. A defesa da Reforma Sanitria [...]

    significa o envolvimento na promoo de uma cultura de paz e tolerncia por meio de

    manifestaes permanentes e de aes regulares que intervenham nos determinantes e

    condicionantes da violncia em todos os seus mbitos e aspectos(49).

    A perspectiva de uma nova correlao de foras, aps as eleies presidenciais de

    2002, representava uma oportunidade de o projeto da RSB ser retomado e reinserido na

    agenda das polticas pblicas do pas.

    3. A conservao-mudana do Governo Lula.

    O terceiro momento da anlise corresponde ao perodo que se inicia em 2003, quando

    novas expectativas estiveram voltadas para a realizao da 12a. Conferncia Nacional de

    Sade. O tema central "Sade: um direito de todos e dever do Estado; a Sade que temos, o

    SUS que queremos" foi subdividido nos seguintes eixos temticos: Direito Sade; A

    Seguridade Social e a Sade; A Intersetorialidade das Aes de Sade; As Trs Esferas de

    Governo e a Construo do SUS; A Organizao da Ateno em Sade; Controle Social e

    Gesto Participativa; O Trabalho na sade; Cincia e Tecnologia e Sade; O Financiamento

    da Sade; Comunicao e Informao em Sade6. Desse modo, as proposies e diretrizes

    apontavam para possveis prioridades das polticas de sade do novo governo.

    A ABRASCO e o CEBES voltaram a defender uma "radical implementao da

    Reforma sanitria" 7 de modo que, depois de um jejum de trs conferncias (9., 10. e 11.), a

    expresso Reforma Sanitria voltou a aparecer no relatrio final da 12a. Conferncia

    Nacional de Sade Srgio Arouca.

    6 Ver: Compreendendo o temrio da Conferencia. Radis, 12, ago. 2003, p.10-11. 7 ABRASCO. CEBES. Sade, Justia & Incluso Social. Rio de Janeiro; Braslia, dez. 2003.

  • 20 anos de construo do sistema nico de sade

    Tempus - Actas de Sade Coletiva, v.2 n.1, p.53-86, jul./dez. 2008 81

    Entre as inovaes da 12a. CNS registradas no seu Relatrio Final pode-se mencionar

    o destaque para os determinantes sociais de sade. Como conseqncia dessa compreenso a

    intersetorialidade foi uma das diretrizes enfatizadas, vinculando os princpios constitucionais

    e a aes intersetoriais ao processo da RSB.

    Nessa conferncia, cuja antecipao foi proposta por Srgio Arouca, depositavam-se

    muitas expectativas para a retomada do processo da RSB e, sobretudo, para ampliar a

    participao social em sade. O CEBES, naquela oportunidade, procurava orientar as tarefas

    postas pela conjuntura. Tempos diferentes de elaborao e de respostas a confluncia, que

    confere a caracterstica central do Movimento da Reforma Sanitria: a convergncia das

    prticas poltica, cientfica e ideolgica para a transformao das condies de sade e de

    ateno sade da populao brasileira. [...] preciso fazer chegar o iderio da Reforma

    Sanitria ao cidado no seu dia-a-dia. Essa , ao nosso ver, a nossa tarefa e a tarefa do

    governo(50).

    Aps a realizao da 12. CNS comeou a tomar corpo a conscincia das

    ambigidades da gesto participativa no Governo Lula. Agora, a gente comea a ver uma

    retomada num outra relao e a h uma coisa que nos 'pegou de calas curtas', digamos

    assim. a questo de ter um governo que tem as suas origens justamente nesses que

    construram esse processo(37) .

    Assim, os movimentos sociais da sade aprofundaram as contradies do controle

    social e do SUS, a partir do governo Lula. Eu acho que isso levou a um certo 'defensismo' do

    movimento, uma paralisia, uma certa imobilizao, porque o pessoal tem medo de desgastar o

    governo, porque quer dar um crdito de confiana, uma chance maior. Ento, a militncia do

    PT e dos partidos da base ficam um pouco defensivos e isso tem levado a uma dificuldade de

    rearticulao do movimento(37).

    O atrelamento de parte do movimento sanitrio ao governo comea a ser superado

    durante o 8o. Simpsio de Poltica Nacional de Sade, realizado na Cmara dos Deputados

    em 2005. Assim, a natureza suprapartidria desse movimento possibilitou, mais uma vez, a

    participao ativa dos seus militantes, contribuindo na formulao da Carta de Braslia. Neste

    documento considerava-se o processo da RSB como um projeto civilizatrio que: pretende

    produzir mudanas dos valores prevalentes na sociedade brasileira, tendo a sade como eixo

    de transformao e a solidariedade como valor estruturante(51).

  • Jairnilson Silva Paim

    82 Tempus - Actas de Sade Coletiva, v.2 n.1, p.63-86, jul./dez. 2008

    Posteriormente, foi lanado um manifesto8 realando a Carta de Braslia e criticando a

    concepo de "SUS pobre para os pobres", mas defendendo a premente "intensificao da

    realizao da Reforma Sanitria Brasileira" e a redefinio da poltica econmica. O

    Movimento da Reforma Sanitria alinha-se propositivamente s mobilizaes sociais e

    polticas, pela imediata ruptura com os rumos vigentes e pelo incio j da reconstruo da

    poltica econmica, rumo construo de polticas pblicas universalistas e igualitrias, eixo

    bsico estruturante da garantia dos direitos sociais e redistribuio da renda!9 .

    Portanto, movimentos moleculares de resistncia e de crtica, a exemplo do 8o.

    Simpsio de Poltica Nacional de Sade e da criao do Frum da Reforma Sanitria

    Brasileira permitiram a retomada da defesa do projeto e do processo da RSB, reforando as

    iniciativas anteriores da ABRASCO e do CEBES, particularmente entre 2000 e 2003. A

    "refundao do CEBES"(52) tem estimulado novas mobilizaes e articulaes para o

    fortalecimento do movimento sanitrio. O projeto do SUS uma poltica de construo da

    democracia que visa ampliao da esfera pblica, incluso social e reduo das

    desigualdades. Se a Reforma Sanitria a expresso do nosso desejo de transformao social,

    sua materializao institucional no SUS a resultante do enfrentamento desta proposta com as

    contingncias que se apresentaram nessa trajetria. Em outras palavras, expressa a correlao

    de foras existente em uma conjuntura particular.10

    As dificuldades observadas no movimento sanitrio durante a realizao da 13 CNS

    ilustram parte dessas contingncias. Entretanto, o fortalecimento do seu elemento jacobino

    pode contribuir para a radicalizao da RSB no sentido de desequilibrar a tendncia da

    revoluo passiva, superando o transformismo de parte dos seus atores(3).

    CONCLUSO

    No presente texto buscou-se analisar o desenvolvimento da Reforma Sanitria e do

    SUS a partir de contribuies marxistas. Esta reflexo terica sobre um fenmeno histrico e

    social pode fomentar um debate para ampliar as bases poltica e social da RSB e do SUS,

    constituindo um novo bloco histrico. Foi possvel destacar a fundao do CEBES no corao

    8 Reforma Sanitria Brasileira. Manifesto Reafirmando Compromissos pela Sade dos Brasileiros. Braslia, 23 nov. 2005. 4p. (subscrito pelo CEBES, Abrasco, ABRES, Rede Unida e AMPASA). 9 Ver: Reforma Sanitria Brasileira. Manifesto Reafirmando Compromissos pela Sade dos Brasileiros. Braslia, 23 nov. 2005. p.4. (subscrito pelo CEBES, Abrasco, ABRES, Rede Unida e AMPASA). 10 Ver: Centro Brasileiro de Estudos de Sade: Em defesa do movimento sanitrio. Radis, 51, nov. 2006, p.7.

  • 20 anos de construo do sistema nico de sade

    Tempus - Actas de Sade Coletiva, v.2 n.1, p.53-86, jul./dez. 2008 83

    da UnB, em 1976, e o registro da idia da Reforma Sanitria, em 1977. Este mesmo CEBES

    props a criao do Sistema nico de Sade, em 1979, e vibrou com a promulgao da

    Constituio Cidad em 5 de outubro de 1988. Mais recentemente, a sua refundao aps o

    8. Simpsio de Poltica Nacional de Sade abre novas perspectivas para o movimento

    sanitrio.

    Portanto, a Reforma Sanitria Brasileira no acabou. Foi concebida como reforma

    geral, tendo como horizonte a revoluo do modo de vida, ainda que seu processo tenha-se

    confinado, at o presente, a uma reforma parcial centrada na construo do SUS. lcito

    celebrar seus 20 anos de formalizao e comemorar, em 2009, as conquistas dos movimentos

    sociais em trs dcadas de luta, mas sem esquecer a crtica. Somente esta pode reduzir os

    riscos do triunfalismo e da acomodao, to presentes no transformismo e na revoluo

    passiva que tm marcado a Histria do Brasil.

    REFERNCIAS

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