2 histórico da catalogação

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31 2 HISTÓRICO DA CATALOGAÇÃO Será exposta nas próximas seções, a evolução da catalogação desde a formação de catálogos, iniciativas na elaboração de códigos de catalogação até o uso de tecnologias no processo da catalogação. 2.1 Catálogos, catalogação e códigos de catalogação Historicamente, a primeira escrita a respeito da catalogação ou da relação de obras de uma coleção, apareceu na Biblioteca de Assurbanípal, em Assíria datando entre 668-626a.C. Nos dias de hoje o Museu Britânico de Londres conserva alguns fragmentos de índices desta biblioteca, com escritas rudimentares. Outra manifestação digna de registro foi em Alexandria (260-240a.C.), onde Calímaco realizou, na Biblioteca de Alexandria, a primeira iniciativa para a organização de um catálogo metódico (BARBOSA, 1978). A partir do aperfeiçoamento da imprensa por Gutenberg em meados do século XV, os catálogos tornaram-se chaves importantes para consultas e pesquisas deixando de ser apenas índices bibliográficos ou listas.

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2 HISTÓRICO DA CATALOGAÇÃO

Será exposta nas próximas seções, a evolução da catalogação

desde a formação de catálogos, iniciativas na elaboração de códigos de

catalogação até o uso de tecnologias no processo da catalogação.

2.1 Catálogos, catalogação e códigos de catalogação

Historicamente, a primeira escrita a respeito da catalogação ou da

relação de obras de uma coleção, apareceu na Biblioteca de Assurbanípal,

em Assíria datando entre 668-626a.C. Nos dias de hoje o Museu Britânico de

Londres conserva alguns fragmentos de índices desta biblioteca, com

escritas rudimentares. Outra manifestação digna de registro foi em

Alexandria (260-240a.C.), onde Calímaco realizou, na Biblioteca de

Alexandria, a primeira iniciativa para a organização de um catálogo

metódico (BARBOSA, 1978).

A partir do aperfeiçoamento da imprensa por Gutenberg em

meados do século XV, os catálogos tornaram-se chaves importantes para

consultas e pesquisas deixando de ser apenas índices bibliográficos ou

listas.

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Segundo Mey (1995, p. 9):

[...]. catálogo é um canal de comunicação estruturado, queveícula mensagens contidas nos itens, e sobre os itens, de umou vários acervos, apresentando-as sob forma codificada eorganizada, agrupadas por semelhanças, aos usuários desse(s)acervos(s).

Atualmente, os catálogos mais usados são: manuais (ficha padrão

de 7,5 x 12,5 cm), ou automatizados. Eles também podem ser coletivos, isto

é, permitem a localização de documentos de várias bibliotecas, ou catálogo

específico de uma única biblioteca.

Independentemente do tipo de catálogo adotado pela biblioteca é

necessário que ao se preparar o catálogo preste-se atenção nos seguintes

itens: uniformidade das informações; economia na preparação e na

manutenção economizando recursos e tempo; atualidade, não se esquecendo

que o catálogo deve estar plenamente de acordo com o acervo, sempre

atualizado (MEY, 1995). Além disso, ser de fácil manuseio, consulta e

manutenção e tendo como requisitos, segundo Mey (1995, p. 10):

• flexibilidade, que permite inserção de representações denovos itens; exclusão de representações de itens descartadosou perdidos e mudanças nas representações, quandonecessário;• facilidade de manuseio, que significa, além da facilidade paraser manuseado propriamente, ter boa sinalização – no caso decatálogos manuais, interna e externa; estar em local visível eacessível e apresentar instruções de uso;• portabilidade, que permite ser consultado fora da biblioteca,ou em diferentes locais da biblioteca;• compacidade, que significa ocupar pouco espaço.

Como nada é perfeito, os tipos de catálogos mais usados (manuais

e automatizados) não apresentam todos requisitos citados acima. O catálogo

manual é de difícil mobilidade e o catálogo automatizado está mais sujeito à

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fatores externos. O tipo de catálogo com suas qualidades vai depender do

tipo de biblioteca e com que recursos esta conta (MEY, 1995).

Para que o catálogo contemple as exigências já descritas é

necessário que se realize uma catalogação de qualidade, que segundo

Barbosa (1978, p. 30):

[...] catalogação, isto é, o processo técnico do qual resulta ocatálogo, é a linguagem de descrição bibliográfica, que sópoderá ser um bom instrumento de comunicação à medidaque for normalizado.

E segundo Mey (1995, p. 5)

Catalogação é o estudo, preparação e organização demensagens codificadas, com base em itens existentes oupassíveis de inclusão em um ou vários acervos, de forma apermitir interseção entre as mensagens contidas nos itens e asmensagens internas dos usuários.

A catalogação, segundo o AACR2 pode ser apresentada em três

níveis os quais no momento de sua escolha deve-se levar em consideração o

tipo de catálogo que se quer construir e o tipo de usuário.

Mey (1995) enfatiza, ainda, que as funções da catalogação

inseridas em um catálogo e referentes ao usuário devem:

a) Permitir ao usuário:1. localizar um item específico:2. escolher entre as várias manifestações de um item;3. escolher entre vários itens semelhantes, sobre os quais,inclusive, possa não ter conhecimento prévio algum;4. expressar, organizar ou alterar sua mensagem interna.b) Permitir a um item encontrar seu usuário.c) Permitir a outra biblioteca:1. localizar um item específico;2. saber quais os itens existentes em acervos que não o seupróprio. (p. 7).

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Como a catalogação cumpre essas funções? Com as seguintes

características: “integridade, clareza, precisão, lógica e consistência” (MEY,

1995, p. 7). Sendo que estas características dependem do catalogador, ao

qual cabe a realização de um serviço de qualidade não omitindo nenhum

detalhe que venha prejudicar a recuperação do item documentário pelo

usuário.

Mas e como fazer a descrição de um documento? Aleatoriamente?

Com certeza não. Para a realização da representação descritiva de um

documento existem regras e códigos, que devem ser seguidos com a

finalidade da normatização e padronização do processo da catalogação para

um futuro intercâmbio de dados. Nesse sentido, a adoção de um código que

esteja em consonância com os objetivos e metas internacionais de

catalogação é uma necessidade.

Atualmente, o Código de catalogação AACR2 é mais usado e aceito

internacionalmente juntamente com o formato de intercâmbio MARC21 para

a catalogação automatizada. Porém, até se chegar a esta aceitação - ainda

com resistência de parte da comunidade biblioteconômica - muitas reuniões,

estudos e discussões aconteceram.

Por volta de 1839 houve um movimento que ficou conhecido como

a Batalha das Regras, pois foi neste momento que sérias discussões a

respeito da catalogação tomaram forma.

Foi quando Anthony Panizzi, bibliotecário, junto com seus

colaboradores, elaboraram 91 regras de catalogação, publicadas em 1839 na

Inglaterra, tendo sua aprovação em 1841 (Rules for the Compilation of the

Catalog – Catalogue of printed books in British Museum), pelos autores do

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Museu Britânico, tendo sua última edição em 1936. Após a publicação, deu-

se início a uma série de discussões entre bibliotecários ingleses. Pode-se

dizer que essas regras influenciaram todas as seguintes. Uma das

características das regras de Panizzi é defendida até hoje: a valorização da

folha-de-rosto. O restante das regras deram margem à discussões.

Em seguida, Charles C. Jewett publicou, em 1853, para a

Smithsonian Institution dos Estados Unidos da América (EUA), um outro

código contendo 33 regras, baseadas largamente nas regras de Panizzi, com

modificações, dando ênfase às obras escritas sob pseudônimo, e à questão

de autoria coletiva. Mas Jewett realmente deixou sua marca pela idéia para

elaboração de um catálogo coletivo das bibliotecas americanas imprimindo-o

por estereotipia mas infelizmente não conseguiu realizar.

Charles Ami Cutter, que segundo Barbosa (1978, p. 28) foi “A

figura mais brilhante do século XIX”, publicou, em 1876, a “Rules for a

printed dictionary catalog” tendo sua última edição (4. ed.) em 1904, quase

coincidindo com a redação do primeiro código da American Library

Association (ALA) em 1908, o qual teve influência e colaboração no seu

desenvolvimento. O código de Cutter continha 369 regras, as quais

causaram inúmeras críticas em relação aos detalhes, tidos como

desnecessários.

As “Instruções Prussianas” (Instruktionen für die Alphabetischen

Kataloge der Preussischen Bibliotheken), resultou das regras compiladas em

1886 por Carl Dziatzko, influenciando países como: a Alemanha (seu país de

origem), Áustria, Hungria, Dinamarca, Holanda e Noruega. Primeiramente foi

reconhecido como “Código da Real Biblioteca”, e em 1899 adotou

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oficialmente, quando foi publicado, o nome de Instruções Prussianas. Sua

segunda edição, em 1908, coincidiu com a publicação do Código da ALA.

Mas somente em 1936, quando as Instruções Prussianas foram usadas na

compilação do Catálogo Coletivo Prussiano e do Catálogo Coletivo da

Alemanha, ficou reconhecido como de caráter internacional.

Algumas das características das Instruções Prussianas eram:

simplificação e a abreviação de entradas, principalmente em relação ao

título, entre outros contrastes encontrados em relação ao Código da ALA. Os

bibliotecários alemães queriam chegar à uma uniformidade de suas regras

com a ALA, sendo constituída então uma Comissão para estudar o caso,

tendo como primeira tarefa a tradução do Código Prussiano para a língua

inglesa, tarefa que coube ao bibliotecário Andrew Osborn, publicada em

1938. Outra tarefa: o estudo comparativo dos códigos, coube à J. C. Hanson,

que foi obrigado a interromper o trabalho devido ao início da Segunda

Guerra Mundial (1939).

Após outras reuniões e baseado na Declaração dos Princípios

(1961), o novo código alemão foi publicado levando-se em consideração:

entradas coletivas e arquivamento de fichas pela primeira palavra do título

não sendo um artigo. A adesão da Alemanha, e de outros países já citados

aqui, contribuiu para a consolidação da cooperação internacional em relação

à bibliografia e à catalogação. As Instruções Prussianas com a devida

autorização da Associação de Bibliotecas Alemãs foram substituídas pelas

“Regeln für die Alphabetische Katalogisierung” (RAK)/1967.

Em 1876 quando foi fundada a ALA, começou-se a cogitar a

elaboração de um código de catalogação para as bibliotecas americanas.

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Participaram da elaboração vários nomes, como: Cutter, que deu imensa

colaboração para os colegas da ALA resultando no código: Catalog Rules:

author and titles entries (1908). Nesse código Panizzi se consagrou pois,

encontrou o que já era o objetivo de suas 91 regras: a cooperação inter-

bibliotecária.

Em 1901, quando a LC começou a imprimir suas fichas

catalográficas para venda, a ALA nomeou uma comissão encarregada de

estudar as regras adotadas pela LC, que por sugestão de Melvil Dewey em

colaboração com a Library Association (LA) da Inglaterra, compilaram-se

algumas regras usadas pela LC, incorporando-as ao Código da ALA (1908).

O Código da ALA foi aceito amplamente, devido ao fato dos nomes

envolvidos em sua elaboração. Como ele foi publicado coincididamente com

a 2. edição das Instruções Prussianas (1908), foram os códigos mais usados

na América e Europa respectivamente. Neste mesmo período, o Código da

Vaticana foi elaborado, baseado no Código da ALA de 1908, tendo ampla

aceitação após sua tradução para vários idiomas da América Latina. Sua 1.

edição (1949), coincidiu com a 2. edição do Código da ALA.

O caminho para a padronização de regras usadas por muitas

pessoas não é livre de críticas e opiniões e, foi assim com o código da ALA em

sua 1. edição. As principais críticas eram em relação ao excesso de detalhes

principalmente à parte descritiva. Reconhecendo a validade das críticas, a

ALA nomeou uma comissão para a revisão do código juntamente com a LA. A

comissão tinha como presidente Charles Martel, bibliotecário da LC. Com o

início da Segunda Guerra Mundial (1939), somente foram acatadas as

decisões da ALA, uma vez que a Associação Inglesa teve que se afastar.

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Em 1941 publicou-se a 2. edição preliminar do Código da ALA, em

duas partes: Entradas e cabeçalhos e Descrição do Livro.

Novas críticas surgiram, dando destaque à crítica feita pelo

bibliotecário Andrew Osborn em seu artigo “The crisis of cataloguing”, que

enfatizava dois pontos: o abandono de princípios que fundamentassem as

regras e o afastamento do principal objetivo da catalogação, que segundo ele

é o de: atender às necessidades dos usuários através dos catálogos

(BARBOSA, 1978). Novamente a ALA se conscientizou das críticas feitas e

montou uma Comissão de Revisão do Código, dividindo suas recomendações

em duas partes: uma referente à entradas, que era considerada satisfatória;

e outra sobre catalogação descritiva, a qual seria entregue à LC para ser feita

uma revisão de acordo com as regras adotadas por ela, isto porque a LC

vinha atuando amplamente na difusão de suas fichas para o

desenvolvimento da catalogação cooperativa, fazendo com que esse motivo,

entre outros, como: a publicação periódica e regular de seus catálogos,

fizesse com que grande parte dos bibliotecários americanos e estrangeiros

aceitassem sua prática de catalogação.

Em 1949 em substituição à 2. edição preliminar foi publicada a 2.

edição do Código da ALA em dois volumes:

Volume 1: ALA cataloging rules for author and title entries, editado por

Clara Beeth, referente à entradas e cabeçalhos, este volume era identificado

como “Red Book”, devido à sua capa vermelha.

Volume 2: identificado como “Green Book”, pela sua capa verde era

intitulado como: “Rules for descriptive cataloging in the LC”, relativo à parte

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descritiva. Este segundo volume surgiu como uma inovação por trazer:

introdução, com os objetivos da catalogação descritiva e os princípios em que

se devia fundamentar sua aplicação. Foi sucesso absoluto.

Em relação ao primeiro volume (Red Book) não tardaram, nem

faltaram críticas, principalmente entre bibliotecários americanos. Pedia-se

que se aplicasse às entradas e cabeçalhos a simplificação adotada à parte

descritiva, pois no primeiro volume ainda haviam muitos detalhes da 2.

edição preliminar. A LC pela importância do trabalho realizado em sua

Central, viu essas críticas como de interesse nacional. Luther Evans, diretor

geral da LC, convidou Seymour Lubetzky que verificou que essa análise

merecia uma notada e profunda atenção, apresentando então um relatório à

Comissão de Revisão do código de catalogação, que foi julgado pela LC e por

consultores especializados em Biblioteconomia, bem como por catalogadores

especializados de renomada experiência, resultando assim na obra:

“Cataloging rules and principles: a critique of ALA rules for entry and a

proposed design for their revision”, publicado em 1953. Tida como uma obra

de grande importância também pela ALA , foi indicado para servir de base

para a revisão da 2. edição do Código da ALA. Lubetzky faz inúmeras críticas

ao Código da ALA na obra acima como :

[...] conclui mencionando o custo dos trabalhos decatalogação, razão da urgente necessidade de um código maissimplificado e de fácil aplicação, o que certamente contribuiriapara a economia daqueles trabalhos. (BARBOSA, 1978, p. 38).

Lubetzky publicou uma obra sobre o caso das autorias,

restringindo drasticamente as regras, intitulado como: “Code of cataloguing

rules; autor and title entry. Un unfinished draft for a new edition of

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cataloging rules” (1960). Seguidamente em 1961, publicou: “Additions,

revisions and changes”, que contribuiu de maneira decisiva para a

preparação de um novo código (BARBOSA, 1978).

Movimentos fortes haviam nesta época, por parte de bibliotecários

de todos os países, para que se estabelecesse acordos internacionais de

normalização, o que era, e é, uma exigência para a catalogação realizada em

ações cooperativas, tidos como uma das soluções para a normatização em

âmbito internacional. Uma outra solução seria a conscientização dos

profissionais catalogadores desta necessidade.

Um outro passo para a criação de regras usadas e aceitas

internacionalmente foi dado com a Conferência de Paris realizada em 1961,

em que o Conselho Geral da Federação Brasileira de Associações de

Bibliotecários (FEBAB), compôs um grupo com oito catalogadores que

tinham as seguintes atribuições: colocar os princípios da catalogação de

forma internacionalmente aceita; escrever um relatório o qual deveria ser

seguido para princípios a serem observados nas entradas de obras anônimas

e de autoria coletiva.

O principal objetivo da Conferência Internacional sobre os

Princípios de Catalogação era o de uniformizar as regras de entradas e

cabeçalhos principais. Dois anos antes da Conferência de Paris, países do

mundo inteiro tiveram a oportunidade de analisar diferentes documentos,

para fazerem críticas e indicarem sugestões com antecedência e se

designasse delegados de cada país, os quais teriam direito à voto. A

representante do Brasil foi Maria Luisa Monteiro da Cunha. Eis algumas das

resoluções da Conferência de Paris:

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a) que os delegados e comissões nacionais promovessem, emseus, países, a maior publicidade possível para o Texto dosPrincípios, não só entre bibliotecas, mas também entreeditoras, livreiros e autoridades responsáveis;b) que países pertencentes à mesma área lingüística deveriamelaborar seus códigos ou rever os já existentes, de acordo comos Princípios estabelecidos, e adotar esses mesmos Princípiosna elaboração de suas bibliografias nacionais. (BARBOSA,1978, p. 42).

Ainda para a escolha e a forma de cabeçalhos de entradas

estabeleceu-se doze itens:

a) Objetivos;b) Funções do catálogo;c) Estrutura de um catálogo;d) Tipos de entrada;e) Uso de entradas múltiplas;f) Funções dos diferentes tipos de entrada;g) Escolha do cabeçalho uniforme;h) Autor pessoal e individual;i) Entrada coletiva;j) Autoria múltipla;l) Obras que entram pelo título;m)Cabeçalhos de entrada para autores individuais. (BARBOSA,1978, p. 43).

A questão das entidades coletivas - como deve ser feita a entrada

em catálogos - foi uma questão, e é, até hoje, difícil de se normatizar.

Atualmente, ainda é possível encontrar um documento com várias formas de

entradas o que acarreta em duplicação de serviço e no prejuízo na

recuperação da informação. Mesmo contando com o código AACR2, o

profissional bibliotecário ao fazer a entrada de um documento ainda se

depara com dúvidas; talvez fossem precisos encontros anuais entre

catalogadores pelo menos em âmbito nacional, onde seriam elaborados

relatórios para serem disponibilizados internacionalmente.

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O que se necessitava era de um código de catalogação aceito

internacionalmente. Mas não seria preciso ser elaborado um novo código,

bastaria rever a parte de entradas e cabeçalhos do Código da ALA (Red Book)

de forma sucinta e manter a parte descritiva (Green Book). Quando a ALA

começou suas atividades para a reelaboração de seu código, deu-se conta de

que a LA da Inglaterra, também estava determinada a rever a 2. edição de

1949 do Código da ALA. Firmou-se então, acordo entre ambas as partes para

a coordenação dos trabalhos, a fim de se manter um intercâmbio das

decisões, regras, projetos e atas das reuniões. A Canadian Library

Association também participou ativamente no trabalho de reelaboração.

Com o trabalho e a responsabilidade destas três instituições foi

publicado em 1967 o AACR. Infelizmente, as associações inglesas e

americanas não chegaram a um acordo total quanto ao código devido à

inúmeras divergências, dificultando a aplicação de regras que viesse ao

encontro das expectativas sendo, então, elaborado dois códigos em língua

inglesa: um publicado nos Estados Unidos e outro na Inglaterra.

O AACR foi bastante difundido e adotado em vários lugares do

mundo, talvez por ser considerado o mais próximo das resoluções da

Conferência de Paris.

Mesmo com o AACR sendo adotado amplamente não havia, ainda,

chegado à uma padronização na catalogação, sendo este um dos motivos da

Reunião Internacional de Especialistas em Catalogação (RIEC), em 1969, na

cidade de Copenhague, que tinha os seguintes objetivos:

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1) Conciliar em um texto único os textos norte-americano ebritânico de 19672) Incorporar ao texto único todas as emendas e mudanças jáaprovadas e implementadas por mecanismos anteriores3) Considerar a possibilidade de incluir no AACR todas aspropostas de emenda em discussão no momento entre aAmerican Library Association, a Library Association, a LC e aCanadian Library Association; qualquer nova propostaapresentada por estas entidades e pelo British Library; equalquer proposta de comissões nacionais de outros países emque o AACR fosse adotado4) Suscitar interesse pelo AACR, a nível internacional,facilitando seu uso em outros países além dos Estados Unidos,Canadá e Reino Unido. Este objetivo final foi reforçado maistarde quando o Concil on Library Resources o estabeleceucomo condição para financiar esta edição, com o intuito decontribuir para o desenvolvimento de um código internacionalde catalogação. (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 1983, p.xiv-xv).

Eis as resoluções mais importantes desta reunião segundo

Barbosa (1978, p. 55-56):

a) a criação de um grupo de trabalho, [...], para estudar oproblema da autoria coletiva;b) a criação de um grupo de trabalho para estudar a ISBD(M);c) a criação de um sistema internacional de permuta deinformações que estabelecia que a produção bibliográfica decada país deveria ser feita e distribuída através de umaagência nacional. Os meios de divulgação seriam fichas oufitas magnéticas. Para esse fim, deveria haver o máximo denormalização tanto na forma quanto no conteúdo da descriçãobibliográfica;d) a criação de uma Secretaria de Catalogação, com sede naFIAB, [Federação Internacional de Associações deBibliotecários] que se concretizou em 1971.

Na época, mesmo o AACR sendo criticado, este teve sua aceitação

por motivos como:

a) facilidade da língua inglesa, considerado como idiomainternacional de comunicação;b) influência dos Estados Unidos, com ajuda da UNESCO, nacriação de universidades em países como a Coréia, Índia, etc;c) o envio regular de pessoas para se profissionalizarem ou seaperfeiçoarem em universidades americanas e inglesas,principalmente oriundas de países onde não existem escolasde biblioteconomia. (BARBOSA, 1978, p. 150).

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A partir do encontro em Copenhague foi criada uma Comissão

Executiva Conjunta para a revisão do Código de Catalogação Anglo

Americano – Joint Steering Committee for the Revision of the Anglo

American Cataloguing Rules (JSCAACR), no ano de 1975 em uma reunião

com a Comissão de Catalogação da IFLA, a JSCAACR propôs uma revisão do

código AACR, resultando no AACR2 em 1978, propondo também a criação

de uma General International Standard Bibliographic Description /Descrição

Bibliográfica Internacional Normalizada (Geral) (ISBD (G)), que contemplasse

diversos formatos de materiais presentes nas coleções das bibliotecas, dando

ênfase à pontuação que precede cada informação – campo de descrição

bibliográfica. Existem na totalidade nove3 tipos de International Standard

Bibliographic Description / Descrição Bibliográfica Internacional Normalizada

(ISBDs): International Standard Bibliographic Description for Older

Monographic Publications (Antiquarian) (ISBD(A)), International Standard

Bibliographic Description for Computer Files (ISBD(CF)), International

Standard Bibliographic Description for Cartographic Materials (ISBD(CM)),

International Standard Bibliographic Description for Serials and Other

Continuing Resources (ISBD(CR)), International Standard Bibliographic

Description for Electronic Resources (ISBD(ER)), International Standard

Bibliographic Description for Monographic Publications (ISBD(M)),

International Standard Bibliographic Description for Non-Book Materials

(ISBD(NBM)), International Standard Bibliographic Description for Printed

Music (ISBD(PM)), International Standard Bibliographic Description for

Serials (ISBD(S)), para monografias, obras gerais, publicações seriadas,

3 http://www.ifla.org/VI/3/nd1/isbdlist.htm

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material cartográfico, material não bibliográfico, partituras musicais, obras

raras, obras analíticas, arquivos de computador (CONTROLE

BIBLIOGRÁFICO UNIVERSAL – CBU, 1999).

O JSCAACR era constituído por 5 representantes das 5 entidades

que o representavam, sendo um com direito a voto e outro não, designando 2

coordenadores, um de cada lado do Atlântico. As funções do JSCAACR eram

a de: considerar todas as propostas vindas de outros países e juntamente

com os coordenadores de cada país manter um diálogo sobre os princípios

da catalogação, a avaliação para posterior aprovação das regras formuladas

pelos coordenadores e preparação do texto final para publicação.

Entre as diretrizes do JSCAACR estavam, segundo American

Library Association (1983, p. xv):

1) Manter compatibilidade, em geral, com os Princípios deParis de 1961, tal como aparecem na primeira edição2) Dar atenção particular à evolução do processamentoautomatizado dos registros bibliográficos3) Continuar a se compatibilizar com a ISBD(M) como basepara a descrição bibliográfica de monografias e comprometer-se a seguir o princípio de normalização da descriçãobibliográfica para todos os tipos de materiais4) Determinar o tratamento de materiais não-livro tomandoem consideração, principalmente, as regras de catalogaçãopublicadas pela Canadian Library Association, pela LibraryAssociation e pela Association for EducationalCommunications and Thechnology, bem como a revisão docapítulo 12 do texto de 1967, elaborado pela ALA.

Após a publicação das ISBD(M) (1971), para monografias, vários

códigos de catalogação incluindo o AACR e o RAK fizeram reuniões de modo

à compatibilização com as ISBDs. Na próxima seção veremos como se deu o

uso do AACR no Brasil, de outros códigos e as iniciativas para a elaboração

de códigos brasileiros.

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2.1.1 Iniciativas para a construção de códigos brasileiros

Todas as iniciativas para a elaboração de um código de catalogação

brasileiro não obtiveram sucesso.

Jorge Duarte Ribeiro, em 1934, elaborou um trabalho denominado

“Regras bibliográficas (ensaios de consolidação)”, não propriamente um

código mas uma tentativa de normalização das entradas de nomes pessoais.

Regras gerais de catalogação e redação de fichas foram

apresentadas, em 1941 pela Associação Paulista de Bibliotecários (APB) e,

aprovadas pelo Conselho Bibliotecário do Estado de São Paulo. Naquele ano,

o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) nomeou uma

Comissão composta por pessoas do próprio DASP, do Instituto Nacional do

Livro (INL) e da Biblioteca Nacional (BN), para a elaboração das Normas para

organização de um catálogo dicionário de livros e periódicos (Projeto de um

Código de Catalogação), publicado em 1943. Estes trabalhos não foram

adotados em nenhuma biblioteca pelo fato de que parte dos bibliotecários

estavam acostumados a usar o Código da Vaticana que teve a tradução de

sua segunda edição em 1962 , e o Código da ALA.

Maria Luisa Monteiro da Cunha, ao terminar seu mestrado,

apresentou o trabalho “Nomes brasileiros, um problema na catalogação”,

enfatizando no referido trabalho que o problema existia devido à fatores

como:

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a) falta de um código nacional de catalogação;b) tratamento inadequado de assuntos nos códigos existentes;c) falta de precisão e caráter contraditório das fontes bibliográficas;d) inexistência de bibliografias brasileiras correntes. (BARBOSA, 1978, p. 58).

Fatos como: a criação, em 1954, do Instituto Brasileiro de

Bibliografia e Documentação (IBBD), atualmente denominado Instituto

Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e o acontecimento

do Primeiro Congresso Brasileiro de Biblioteconomia em Recife, fizeram com

que novamente se pensasse nos assuntos “códigos de catalogação” e “nomes

brasileiros.”

Edson Nery da Fonseca apresentou neste evento o trabalho

“Normas brasileiras de catalogação, entrada de autores coletivos e nomes

brasileiros”, abordando o assunto que era e, ainda continua sendo de difícil

entendimento por parte de bibliotecários catalogadores.

Algumas recomendações deste evento foram:

a) criação de um código de catalogação brasileiro;b) organização, pelo Instituto Nacional do Livro, de uma comissão de bibliotecários formada, de preferência, porprofessores de catalogação e por catalogadores experientes;c) escolha da entrada de nomes brasileiros e portugueses deacordo com o critério universalmente aceito de respeitar-se avontade do autor, o uso local e a tradição literária. (BARBOSA,1978, p. 59).

Contamos hoje com a Rede Bibliodata que tem um catálogo

normatizado de entradas de nomes e entidades para as bibliotecas não

cooperantes e cooperantes.

Após as recomendações deste evento, o IBBD, por meio do Serviço

de Intercâmbio de Catalogação (SIC), se empenhou para a simplificação de

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regras de catalogação, organizando juntamente com o INL uma Comissão de

Estudos de Catalogação, divididas em duas subcomissões: paulista e

carioca, que tinham como missão escrever um anteprojeto do código

nacional. Vale ressaltar que as bibliotecas cariocas nunca quiseram cooperar

com o SIC alegando divergência no uso de códigos, ALA e Vaticana

respectivamente. O trabalho que foi realizado no SIC será enfatizado na

seção 3.1.3.

A subcomissão paulista ficou encarregada da tradução das regras

de catalogação descritivas da LC, que foram incluídas como segunda parte

do Código de 1949 da ALA. A subcomissão carioca se encarregou da parte de

entradas de autor.

Nenhuma das subcomissões conseguiram com seus trabalhos a

satisfação dos catalogadores. A tradução realizada pela subcomissão

paulista das regras da ALA poderia ser adotada com modificações mas não

houve aceitação. A subcomissão carioca não conseguiu solucionar o fato de

grande problema: a escolha de entradas de nomes brasileiros e portugueses.

Houve a tentativa de que o SIC relacionasse algumas de suas regras mais

usadas, distribuindo-as para o estudo da Comissão mas não houve acordo e

o assunto e as reuniões foram encerradas.

O Instituto Brasileiro para Educação, Ciência e Cultura (IBECC) a

pedido da UNESCO, em 1954, tentou escrever um projeto denominado

“Projeto de catalogação para nomes de autores brasileiros e portugueses.”

Irene de Menezes Dória, quando exercia o cargo de Secretária da Comissão

de Bibliografia, já havia preparado um anteprojeto, trabalho que não foi dado

continuidade.

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Podemos verificar que a maioria das iniciativas tentava solucionar

o problema de pontos de acesso para nomes portugueses e brasileiros. A

respeito deste assunto existiam duas opiniões bem distintas:

preferência da adoção como entrada, pela última parte dos

sobrenomes;

preferência por respeitar a forma preferida pelo autor em suas

obras, isto é, o seu nome literário (BARBOSA, 1978).

Podemos dar destaque aos trabalhos publicados em relação ao

assunto:

Redação da Regra 38A de Calazans Rodrigues, do código da

Vaticana;

o livro de Antonio Caetano Dias: O problema da catalogação dos

nomes portugueses e brasileiros;

e o livro de Maria Luisa Monteiro da Cunha: Nomes brasileiros,

um problema na catalogação (BARBOSA, 1978).

Foi então, criada oficialmente, a Comissão Brasileira de

Catalogação, filiada à FEBAB, que conseguiu resolver graves problemas de

regras já obsoletas e seu uso em diversas bibliotecas do país, bem como as

divergências vindas do uso de códigos diversos ou de adaptações de caráter

particular. Era presidente desta Comissão Maria Luisa Monteiro da Cunha,

50

que exerceu seu cargo até seu pedido de exoneração, em 1966, extinguindo a

Comissão.

O III Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação em

1961, no Paraná, contribuiu para a reunião da Comissão Brasileira de

Catalogação a fim de discutir os seguintes trabalhos: “Projeto de regras de

catalogação para os nomes brasileiros e portugueses”, elaborado pela

subcomissão carioca e “A catalogação de autores brasileiros e portugueses”,

de autoria de Maria Antonieta Requião Piedade.

Tanto esses documentos como alguns anteriores contribuíram para

que Maria Luisa Monteiro da Cunha elaborasse um trabalho denominado

“Nomes brasileiros e portugueses: problemas e soluções”, o qual foi

submetido à apreciação pelas subcomissões da Comissão Brasileira de

Catalogação, sendo aprovado como edição preliminar. Esta edição foi

“Enviada à comissão organizadora da Conferência de Paris, sendo aceita

como Documento n. 13 e incluída na edição brasileira de 1969 do AACR

como Apêndice n. VIII.” (BARBOSA, 1978, p. 61).

Mesmo com essa aprovação, Maria Luisa Monteiro da Cunha

realizou uma revisão no documento, enviando-o para os cursos de

Biblioteconomia e para professores de catalogação. Foi então aprovado este

documento, quando a maioria dos bibliotecários presentes na votação do VIII

Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação, Brasília, 1975,

votou para que a entrada de nomes fosse feita pela última parte do

sobrenome, forma esta que é utilizada até hoje.

A APB efetuou um trabalho importante na área de processamentos

técnicos, tentando chegar a uma padronização nacional, sem a qual não

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haveria nenhuma troca de informação em nível internacional. Essa

associação criou uma comissão de catalogadores e classificadores,

designando como presidente Maria Luisa Monteiro da Cunha.

Considerando-se todas as iniciativas apresentadas até aqui,

observamos que houve um amadurecimento por parte dos bibliotecários

catalogadores, sendo que mesmo assim nenhum código de catalogação

brasileiro foi elaborado que pudesse ser usado e considerado capaz de

permitir a troca de informações em âmbito internacional.

O estudo da Biblioteconomia começou na década de 30 em São

Paulo e na década de 40 no Rio de Janeiro. São Paulo era considerado o

pioneiro no ensino de Biblioteconomia por conta da orientadora norte

americana Muriel Geldes, do primeiro curso de Biblioteconomia no colégio

Mackenzie. No Rio de Janeiro a BN mantinha um curso de Biblioteconomia

visando a formação apenas de seus funcionários, quando então o DASP

instituiu cursos intensivos para a formação de profissionais para atuação em

outras bibliotecas.

Já naquela época a língua inglesa constituía uma barreira para os

alunos dos cursos e tendo o Código da Vaticana sido traduzido para o

espanhol, uma língua mais fácil de ler, foi adotado pelos cursos do DASP e

pela BN. O Código da Vaticana teve duas versões em língua portuguesa:

1949, editada em São Paulo pelo DASP;

1962, editada pelo IBBD, com a inclusão de regras da ALA e

modelos de fichas padronizadas.

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No momento em que o IBBD inicia os estudos para a 3. edição, foi

publicado o AACR em 1967, que foi traduzido para a língua portuguesa em

1969, com a devida permissão do “Office of Rigths and Permissions” (órgão

da IFLA, com o título Código de Catalogação Anglo Americano, com algumas

regras adaptadas para a realidade brasileira, incluindo o Documento nº 13

elaborado pela Profª Maria Luisa Monteiro da Cunha apresentado na

Conferência de Paris e ainda a inclusão da Norma Brasileira nº 60 (NB-60)

para Abreviaturas brasileiras no Apêndice III.

Em 1971, quando Maria Luisa Monteiro da Cunha, era presidente

da Comissão Brasileira de Documentação em Processos Técnicos (CBDPT) –

órgão da FEBAB, tomou conhecimento do programa da IFLA para a ISBD

que lançou em 1971 a edição preliminar da ISBD(M), já intuindo pela

aceitação que esta teve em outros países, que seria uma forma para:

[...] a realização de trabalhos cooperativos de formanormalizada, contribuindo para o desenvolvimento do ControleBibliográfico Universal (CBU), que este sistema iriarevolucionar a Catalogação nas bibliotecas. (AMERICANLIBRARY ASSOCIATION, 1983, p. viii).

Quando a ISBD(M) foi traduzida para o português em 1975, Maria

Luisa Monteiro da Cunha, divulgou-a para a classe de bibliotecários

catalogadores.

Maria Luisa Monteiro da Cunha desde a publicação do AACR2,

começou a ter contatos com a ALA para a permissão de sua tradução, a qual

foi concedida em 1980, concedendo também os direitos autorais à FEBAB.

Infelizmente Cunha veio a falecer dois meses após o início dos trabalhos.

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Este percalço vencido, a nova presidente do CBDPT, Regina

Carneiro deu continuidade aos trabalhos juntamente com a equipe formada

por especialistas em catalogação.

Ao decorrer da tradução percebeu-se que não conseguiriam

terminar dentro do prazo estabelecido pela ALA, fazendo com que a FEBAB

solicitasse autorização para a tradução em dois volumes – com o volume 1

contendo: Parte descritiva – com índice de A à D mais o índice

correspondente ao texto; e o volume 2: Pontos de acesso, glossário e

apêndice (cabeçalhos, títulos uniformes e remissivas).

Além do fator tempo para a tradução em dois volumes, seguiram-se

outros como:

1. O AACR2 baseia-se no conceito de que o catalogador deve,em primeiro lugar, proceder à descrição normalizada dodocumento (objeto físico), seja ele qual for, mediante dadoscontidos em geral no próprio documento, para depoisestabelecer os pontos de acesso (cabeçalhos e títulosuniformes). O código, segundo os autores, é considerado umacontinuação do anterior, uma vez que foram observados “osmesmos princípios e objetivos fundamentais da primeiraedição”2. A Parte I, introduzindo a ISBD para a Descrição, contém asmaiores mudanças em relação ao AACR1, aquelas que podemcausar impacto na catalogação tradicional, sem provocar,contudo, problemas para a organização dos catálogos, pois quepodem perfeitamente coexistir formas diferentes de descriçãobibliográfica sem interferência em sua ordenação ealfabetação. Constitui, também, o aspecto do código mais aptoa auxiliar o processamento automatizado dos registrosbibliográficos, cuja implantação tem tido considerável impulsoem importantes bibliotecas do país. (AMERICAN LIBRARYASSOCIATION, 1983, p. viii).

Após várias reuniões e estudos ficou decidido no Primeiro

Encontro dos Grupos de Trabalho em Processos Técnicos da FEBAB, São

Paulo, 1976, que a adoção do AACR era essencial, em virtude de seu caráter

internacional.

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A edição brasileira do AACR se apresenta em dois volumes com

datas diferentes de tradução:

1º volume: tradução realizada em 1983 → parte descritiva – com

índice de A à D mais o índice corresponde ao texto.

2º volume: tradução realizada em 1985 → Pontos de acesso,

glossário e apêndice (cabeçalhos, títulos uniformes e remissivas).

Em 1993 é publicada pela ALA a 2. edição revisada.

O AACR2 é um código usado de forma internacional e atualmente

em uso conjunto com o formato MARC, favorece o intercâmbio de dados

bibliográficos e catalográficos em nível internacional. Como se deu essa

união veremos na seção a seguir.

2.2 Tecnologias e catalogação → catalogação automatizada

O uso de tecnologias nos serviços de uma biblioteca vem crescendo

de forma constante especialmente no que diz respeito a construção de

formas de representação descritiva agilizando processos e facilitando a

recuperação da informação.

Tecnologia pode ser definida como “[...] o meio pelo qual os dados

são transformados e organizados para uso das pessoas [...].” (LAUDON;

LAUDON, 1999, p. 6).

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No processo da catalogação são retirados de um documento dados

os quais são transformados em uma ficha catalográfica ou em um registro

em formato MARC para a formação de um catálogo e para posterior

recuperação pelo usuário.

Tivemos uma progressão do uso de tecnologias sempre procurando

maneiras para facilitar a inserção de novos registros em catálogos, a

elaboração de um registro e a rapidez de acesso à um documento. Sem a

tecnologia na catalogação não haveria por exemplo meios para a elaboração

de um catálogo coletivo. E pode ser considerada:

[...] uma valiosa ajuda às bibliotecas: elimina diversas tarefasrepetitivas, facilita procedimentos administrativos, aumenta apotencialidade dos catálogos, se adequadamente utilizada.Mas isto não a torna solução definitiva aos problemas dacatalogação. Nada mais é do que um canal físico ágil e potente.(MEY, 1987, p. 8).

Uma das tecnologias aliadas à catalogação para a construção de

um catálogo coletivo foi a estereotipia, idéia de Jewett (1846) que:

[...] propunha gravar cada registro bibliográfico em uma chapade estereotipia individual, para facilitar atualização do catálogo(ou seja, a inserção de chapas referentes a novas obras semcomprometimento da ordem alfabética. Pensava que se todasas bibliotecas dos Estados Unidos adotassem o mesmoprocesso, a produção de um catálogo coletivo impresso emforma de livro seria facilitada e sucessivamente barateada,pois o custo inicial das chapas de estereotipia iria sendoamortizado a cada nova edição [...]. (BALBY, 1995, v. 4, n. 1, p.29-30).

A tecnologia aliada à catalogação também serve para baratear os

custos. Mesmo que se gaste com a automação da biblioteca, deve-se ter em

mente que este gasto será reposto, quando por exemplo, a adoção de um

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formato a nível internacional e a adoção de um programa de catalogação,

permitirem que um documento não seja recatalogado.

O uso de tecnologias requer “ [...] a necessidade de atualização

constante junto ao mercado e as evoluções tecnológicas [...]” (PEREIRA;

SANTOS, 1998, v. 7, n. ½, p. 122), permitindo também:

• o rápido acesso à informação: proporcionado a economia detempo e espaço;• a mutação crescente das terminologias; [...]• contenção de custos• normalização das informações em padrões internacionais.(PEREIRA; SANTOS, 1998, v. 7, n. 1/2, p.122).

Após a estereotipia, a LC deu continuidade à esta idéia lançando o

processo tipográfico: jogos de fichas catalográficas que eram vendidas “por

preço de custo + 10%” (BALBY, 1995, v. 4, n. 1, p. 30), às bibliotecas que

demonstrassem interesse pelo serviço.

A LC, em 1960, deu início a um projeto para o intercâmbio de

informações padronizadas, denominado formato MARC. Segundo Barbosa

(1978, p. 199) formato é o:

[...] Método de organizar dados, de tal forma que um registrobibliográfico e os dados nele contidos possam ser identificadospelo computador. A existência de um formato é essencial paraa catalogação legível por computador.

O formato MARC e o código de catalogação AACR2 se completam.

O AACR serve como padrão externo para inserir conteúdo no formato MARC.

As áreas do AACR contemplam os campos do MARC. Portanto diante à uma

planilha vazia do MARC, com o código de catalogação na mão e a formação

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de bibliotecário, é possível realizar a descrição física de um material sem

grandes transtornos.

O formato MARC abrange documentos do tipo: livros, materiais de

arquivo e manuscritos, arquivos de computador, mapas, músicas, matérias

áudio- visuais e periódicos. O projeto piloto da LC distribuía os registros às

bibliotecas participantes da catalogação cooperativa e teve resultados como:

a) um formato padrão para o intercâmbio de todas as formasde dados bibliográficos;b) um conjunto generalizado de programas para a criação deregistros bibliográficos em forma legível por computador naLibrary of Congress, ec) o desenvolvimento de um serviço de distribuição para taisregistros (BARBOSA, 1978, p. 199).

Sua implementação se deu com dezesseis bibliotecas, as quais

foram selecionadas segundo características, como: natureza, localização

geográfica, disponibilidade de pessoal, equipamentos e orçamento. O projeto

estava inicialmente cronometrado para término em 1967 sendo prorrogado

até 1968 para que as bibliotecas participantes pudessem adquirir mais

experiência. Os resultados deste projeto foram, segundo Barbosa (1978, p.

203):

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a) distribuição aproximada de 50.000 registros (livros emlíngua inglesa) legíveis em computador;b)conhecimento, em profundidade, dos procedimentosnecessários para converter dados catalográficos em formalegível em computador resultando em:• planejamento de uma estrutura de formato (MARCII), capazde conter informações bibliográficas para todos os tipos dematerial (livros, publicações seriadas, mapas, música, etc.);• planejamento de um conjunto ampliado de caracteres paraos alfabetos das línguas românicas, e formas romanizadaspara os alfabetos das línguas não-românicas:c) grande interesse despertado, entre os responsáveis pela“British National Bibliography” (BNB), em desenvolver umprojeto piloto MARC para o Reino Unido e, entre osbibliotecários de outros países, quanto à necessidade de umformato padrão para intercâmbio de dados bibliográficos, entravárias organizações. Estes acontecimentos exerceram profundainfluência no planejamento do formato MARCII.

Após uma extensa análise sobre os resultados da implantação do

MARC foi elaborado o MARCII contendo três elementos: estrutura,

designadores de conteúdo e conteúdo bibliográfico. Tem como norma

International Organization for Standardization (ISO) 2709/1996.

Em meados do final do século XX a British Library (BL), a LC e a

National Library of Canadá (NLC), iniciaram uma revisão em seus formatos

de intercâmbio, US Machine Readable Cataloging (USMARC), MARCII e

Canadian Marc (CAN/MARC) respectivamente, para chegarem em um único

formato. Após estudos e revisões nos formatos atingiram o objetivo da

elaboração de um único, publicando em 1999 o MARC21, acoplando à sigla

o número 21 devido ao fato do século XXI estar próximo e de destacar mais

uma vez o caráter internacional do formato.

No próximo capítulo trataremos dos sistemas de alimentação de

catálogos e bases de dados e será possível perceber o papel do AACR2 e do

MARC.