2 ENCONTRO LUSO-BRASILEIRO de CONSERVAÇÃO e … · Doutora em História Econômica pela USP-SP;...

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1 ENCONTRO LUSO-BRASILEIRO de CONSERVAÇÃO e RESTAURAÇÃO 2 ° Caderno de Resumos: Palestrantes - v.1 São João del Rei - MG 2013

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ENCONTROLUSO-BRASILEIRO de CONSERVAÇÃOe RESTAURAÇÃO

Caderno de Resumos:Palestrantes - v.1

São João del Rei - MG2013

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Biblioteca da Escola de Belas Artes da UFMG, MG, Brasil)

Caderno de resumos: palestrantes - II Encontro Luso-Brasileiro de Conservação e Restauração. (1. : 2013 : São João del-Rei)

2. Encontro Luso-Brasileiro em Conservação e Restauração agosto de 2013. - São João del-Rei: PPGA-EBA-UFMG, 2013- 26p. : ISBN: 978-85-88587-15-1

1. Artes, 2. Conservação-Restauração. I. Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Belas Artes. II. Série

CDD: 700 CDU: 7

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2º Encontro Luso Brasileiro de Conservação e Restauração

Local: Teatro e Anfiteatro da Biblioteca do Campus Santo Antônio - UFSJEndereço: Campus Santo Antônio - Praça Frei Orlando 170 - Centro - São João del-Rei

Coordenação:Yacy-Ara Froner – UFMGLuiz Antônio Cruz Souza – UFMG Gonçalo de Vasconcelos e Sousa

Brasil:Grupos de pesquisa Arche e LacicorCECOREscola de Belas ArtesUniversidade Federal de Minas GeraisPortugal:Departamento de Arte e Restauroda Escola das Artes da UniversidadeCatólica Portuguesa (Porto).CITAR - Centro de Investigação emCiência e Tecnologia das Artes(EA-UCP-Porto).

Realização

Comissão Científica:BrasilAlessandra RosadoAna Panisset Antônio Fernando Batista SantosIsolda Maria de Castro MendesJussara Vitória de Freitas Maria Luisa Ramos de Oliveira Soares Roberto HeidenPortugalCarolina Barata Eduarda Vieira

Página do Evento: http://www.eba.ufmg.br/encontrolusobrasilconserv/

FAPEMIGPAEP- CAPESPro-reitoria de Extensão - UFMGPro-reitoria de Planejamento - UFMGPro-reitoria de Pós-Graduação - UFMGPPGA-EBA - UFMGUniversidade Federal de São João Del ReyUniversidade Federal do Rio de JaneiroUniversidade Federal de Pelotas

Apoio

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Os seres “invisíveis” da conservação e da restauração...

Doutora em História Econômica pela USP-SP; especialista e Arte e Cultura Barroca pela UFOP-MG e em Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis pelo CECOR-UFMG-MG. Atualmente é professora associada e Coordenadora do Curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Coordenadora do grupo de pesquisa ARCHE e membro do LACICOR; orientadora e professora do Programa de Pós-graduação em Artes da Escola de Belas Artes e do Mestrado em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável da Escola de Arquitetura da UFMG.

Conservadores e restauradores são seres invisíveis no meio social, atuam nos bastidores de museus, exposições e coleções. Pela natureza específica do trabalho, a “mínima intervenção”, não deixam marcas de autoria, estilo ou presença. Considerando o locus restrito de acesso, o laboratório ou atelier, por questões de segurança pouco compartilham sua atuação, mesmo no ambiente de trabalho.

Processos de montagem de exposições, planejamento de suportes, vitrinas, controle climatológico e courier, todo um processo de produção e montagem de exposições, são contextos inacessíveis ao público em geral, que nem sempre imagina o que antecede à mostra. Do mesmo modo, pesquisadores de áreas que lidam com a cultura material não fazem ideia das questões específicas que envolvem a catalogação, o acondicionamento, a guarda segura e a gestão do acervo em projetos de Reserva Técnica.

Além do “exercício invisível da profissão”, o caráter interdisciplinar do campo de conhecimento tem transferido para outras áreas – biblioteconomia, arquivologia, museologia, arqueologia – práticas específicas da conservação e da restauração. Com a formação especializada por meio de cursos de graduação, como demarcar as competências especificas de atuação junto aos outros profissionais ligados às áreas de estudo, gestão e preservação de bens culturais? Como se adequar aos critérios de reconhecimento científico junto às agências de fomento e ter acesso aos subsídios necessários às pesquisas e desenvolvimento tecnológico? Essas questões não podem ser banalizadas pela ótica da reserva de mercado, mas pela capacidade de articulação da área com outros atores relacionados ao campo da ciência e da cultura, assim como na busca de visibilidade social no que tange a ação política e científica da preservação.

Yacy-Ara Froner [email protected]

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Conservação-Restauração: saberes, competências e potencial “reserva de mercado”

Doutora em Conservação-Restauração do Patrimônio Histórico pela Universidade Politécnica de Valencia-Valencia-Espanha (2006). Mestre em Ciência da Informação com concentração em Administração da Preservação - Columbia University. School of Library Service- NY-USA (1992). Bolsista do Instituto Getty –Los Angeles-USA (1990).Especialização em restauração de papel pelo International Centre For Study Of Preserv. And Restorat. Of Cult. Property, ICCROMICCROM (Roma-Italia)(1986). Coordenadora do Curso de Conservação-restauração. Escola de Belas Artes da UFRJ

O principal objetivo de nossa apresentação é refletir sobre a atividade do profissional conservador-restaurador no Brasil pós “reconhecimento” profissional e a certificação dos saberes e competências, contribuindo para ampliação do debate entre a sociedade civil e a academia, de forma a repactuar estratégias e iniciar futuras parcerias. Dentre os principais objetivos estão: o reconhecimento de saberes específicos; estudos e analises do potencial mercado de trabalho para os egressos de nossos programas de graduação e a elevação de sua escolaridade e especialização. Desta forma, propondo o diálogo com gestores públicos, museólogos, bibliotecários, arquitetos, arquivistas, e demais profissões afins, com o objetivo de reafirmar a necessidade do reconhecimento desta profissão no mercado de trabalho e potencial participação em programas e editais de preservação de coleções de relevância nacional. Para atingir estes objetivos, é imprescindível estabelecer questões relativas ao “reconhecimento” da identidade profissional.

Maria Luísa Ramos de Oliveira Soares [email protected]

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As políticas públicas e a formação do conservador-restaurador no Brasil

Professor do Curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis (2009-2013). Professor do Departamento de Museologia e Conservação e Restauro (2009-2013). Professor da Especialização em Memória, Identidade e Cultura Material do ICH/UFPel (2012-2013), Coordenador de Ensino da UFPel (2009-2011), Professor de História da Arte do IAD/UFPel (2006-2008). Coordenador do Curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis do Instituto de Ciências Humanas (ICH) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Este trabalho analisa a influência de algumas políticas públicas implementadas pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Ministério da Cultura (MINC) no Brasil, objetivando perceber como essas políticas contribuem para o processo de formação de conservadores-restauradores em cursos de graduação. Neste sentido, são discutidas as relações entre políticas direcionadas para a educação e/ou a cultura, de modo a compreender como se desenvolvem essas relações e influências entre o campo da educação e o campo do trabalho com o patrimônio cultural, considerando a atuação de conservadores-restauradores. Busca-se também identificar de que forma o conservador-restaurador tem o seu perfil de formação profissional desenhado em parte por essas políticas, de modo a justificar a necessária atenção por parte dos responsáveis pelo trabalho com o patrimônio cultural para a importância dessas políticas, que podem também ser decisivas para os rumos da profissão do conservador-restaurador, especialmente considerando a realidade presente deste profissional no Brasil, em processo de consolidação e reconhecimento social. A partir dessa perspectiva, afirma-se que o investimento em formação acadêmica e qualificação profissional é um horizonte a ser perseguido por todos os sujeitos, direta ou indiretamente envolvidos com a preservação do patrimônio cultural, sobretudo se esses agentes patrimoniais estiverem sob a égide do Estado pois, sujeitos com uma formação voltada para o trabalho com o patrimônio, impulsionam as ações a favor da preservação do mesmo.

Roberto Heiden [email protected]

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A formação do tecnólogo em conservação-restauração em São Paulo

Possui graduação em Licenciatura em Educação Artística pela FAAP (1982), pós-graduação em História da Arte pelo CENAP-FAAP (1990), mestrado em Fisico-Química pelo IQ-USP (2008). É doutoranda em Química Analítica também no IQ-USP, com pesquisa na área de ciência ligada à conservação e restauração do patrimônio artístico cultural. Atualmente é diretora técnica - MRizzo Laboratório de Conservação & Restauração de Bens Culturais Ltda, docente e coordenadora do curso de graduação em Conservação e Restauro da PUC-SP. Implantou o primeiro curso superior de conservação e restauro em São Paulo na PUC/SP.

O curso de graduação em Conservação e Restauro da PUC situa-se em um contexto histórico-cultural marcado, cada vez mais, por uma crescente consciência da importância dos bens culturais para a vida social, política e cultural em âmbito nacional e mundial. No Brasil, essa consciência tem proporcionado ações diversas na busca da preservação do patrimônio cultural artístico por parte dos órgãos governamentais, da iniciativa privada e de várias ONGS. O patrimônio nacional constitui um tema importante, do ponto de vista da sua construção social como conceito e valor, do ponto de vista da cartografia histórico-cultural e da construção das condições técnicas e profissionais para a conservação e gestão dos bens culturais.

A geografia do patrimônio no Brasil e no Estado de São Paulo compõe hoje um campo expressivo que demanda profissionais especializados. Em nível nacional, contamos com 5.000 edifícios tombados, com 2.106 museus e com inúmeros acervos com os mais variados objetos. Segundo dados do IPHAN, o Brasil tem 17 bens reconhecidos pela UNESCO com Patrimônio Mundial. A atual cidade de São Paulo, embora erguida sobre a destruição de ao menos duas cidades anteriores, guarda resquícios dos tempos coloniais e do apogeu da economia cafeeira, o que, na quase totalidade, goza de alguma forma de reconhecimento de seu valor patrimonial. A cidade conta com um número expressivo de museus e de acervos, ligados na sua maioria aogoverno estadual e municipal e à própria igreja católica. Também são expressivos os patrimônios anônimos que sofrem das mais variadas formas de ameaça, por fatores ambientais e sócio-culturais. Nesse segmento podemos incluir as igrejas, os cemitérios, monumentos em praças públicas, sem falar dos acervos privados.

É nesse cenário complexo e promissor que se inscreve o propósito de um Curso focado em conservação e restauro. A carência desse profissional qualificado e habilitado é visível no mercado, ficando muito aquém das necessidades acima descritas. A oferta do Curso de Conservação e Restauro na PUC-SP vem, antes de tudo, contribuir com a construção de uma área de conhecimento no país e com a formação de quadros profissionais habilitados para a conservação e o restauro. A universidade exerce, assim, sua vocação de serviço à comunidade local, sua identidade humanista, bem como de aglutinar seu potencial artístico-cultural em um projeto concreto capaz de produzir outros cursos, publicações e serviços num futuro imediato.

Marcia de Mathias Rizzo [email protected]

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A formação do conservador-restaurador na Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa- Porto.

Professora Auxiliar do Departamento de Arte, Conservação e Restauro da Escola das Artes – Universidade Católica Portuguesa (Porto). Coordenadora do curso de doutoramento em Conservação de Bens Culturais da UCP/Porto. Coordenadora do curso de mestrado em Conservação e Restauro de Bens Culturais da UCP/Porto. Coordenadora da área de investigação em Conservação de Bens Culturais do CITAR. Membro integrado do CITAR. Directora da revista digital ECR- Estudos de Conservação e Restauro.

Actualmente o exercício da profissão de conservador- restaurador em Portugal está regulamentado por legislação específica que tem vindo a evoluir numa tentativa acompanhar o desenvolvimento do sector nos domínio económico, social e cultural. Assim desde o Decreto –Lei nº 55 /2001 que definiu as competências funcionais da carreira de conservador-restaurador no âmbito da Administração Pública ao mais recente Decreto- Lei 140/2009, que incorpora já as recomendações de organismos como E.C.C.O. ou de associações profissionais como a ARP (Associação dos Conservadores-Restauradores de Portugal), uma grande distância separa o universo da formação dos anos 80 do século XX da que se pratica hoje. Actualmente a formação do conservador-restaurador é considerada uma formação académica, de nível superior, sendo apenas essa a validada pelos organismos nacionais e internacionais (ENCoRE e E.C.C.O.).

A adopção do regime de Bolonha no contexto do ensino superior quer em Portugal, quer noutros países da europa comunitária, determinou a necessidade de adaptação dos planos de estudos em função dos níveis de competências e conhecimentos a adquirir pelos futuros profissionais, de modo articulado com as exigências da prática em contexto real de mercado de trabalho. De acordo com as directrizes da E.C.C.O. considera-se o nível 7 como o adequado ao início da actividade, o que implica a realização de um primeiro ciclo de estudos (licenciatura) ao qual se segue um 2º ciclo de especialização (mestrado), findos os quais o candidato deve estar apto a poder aplicar os conhecimentos adquiridos sobre processos de conservação e restauro que domina, a analisar resultados e a ajustar metodologias de intervenção, cruzando os contributos de diversas áreas científicas através da uma praxis interdisciplinar que lhe possibilite um conhecimento global do objecto de estudo, obra de arte ou património integrado.

Na presente comunicação caracterizar-se-á a formação de 1º e 2º ciclos ministrada na Escola das Artes da UCP (Porto), na sua adequação aos parâmetros já enunciados, dado que integramos a rede ENCoRE, dando igualmente a conhecer as especificidades dos cursos, os projectos em curso e a articulação com a comunidade a diversos níveis, por forma a facilitar a criação de sinergias que possibilitem consolidar a projecção social do trabalho dos futuros licenciados.

Eduarda Vieira [email protected]

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A Conservação e Restauro no Instituto Politécnico de Tomar: conhecimento, competências e aptidões

Doutor em Geociências pela Universidade de Aveiro. Iniciou a actividade docente no Instituto Politécnico de Tomar (IPT) no ano de 1991, tendo obtido a categoria de Professor Coordenador em 2002. Foi, de 2003 a 2010, director do Departamento de Arte, Conservação e Restauro. Actualmente, dirige a Escola Superior de Tecnologia de Tomar e pertence desde 2011 ao Conselho Geral do Instituto Politécnico de Tomar. Como professor do IPT lecciona, no curso de Licenciatura e no mestrado em Conservação e Restauro, no âmbito dos materiais pétreos e cerâmicos, alteração e alterabilidade, e monitorização e controlo ambiental. Colabora também com várias Universidades Nacionais e Estrangeiras.

A Conservação e Restauro é uma actividade com características próprias que exige um conjunto de conhecimentos específicos, competências próprias e aptidões particulares para poderem ser abordadas de forma autónoma quando se elencam as actividades associadas ao Património Cultural, nomeadamente no domínio da sua salvaguarda, conservação e valorização, tal como perpetuado no documento de Nara (UNESCO, 1994).

Com quase 25 anos na formação em Conservação-Restauro, os planos de estudo foram evoluindo de acordo com a experiência adquirida, com as exigências impostas pela Declaração de Bolonha (1999) e em paralelo aos preceitos definidos por organizações internacionais e nacionais, como: United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO), Internacional Council of Museums – Commitee for Conservation (ICOM-CC), a European Network for Conservation-Restoration Education (ENCoRE), a European Confederation of Conservator-Restorers (ECCO) e a Associação Profissional de Conservadores-Restauradores de Portugal (ARP).

Neste contexto, pretende-se apresentar a evolução curricular da formação em Conservação e Restauro, ministrada no Instituto Politécnico de Tomar, os fundamentos que a sustentaram e os princípios adoptados. Especial atenção será dada às relações que foram sendo desenvolvidas com os nossos parceiros que permitem que a extensa formação prática em conservação e restauro seja efectuada sobre bens culturais, em laboratório, no domínio do património móvel, e “in situ” do domínio do património integrado.

João Freitas Coroado [email protected]

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Ciências da Conservação na Licenciatura, Mestrado e Doutoramento em Conservação e Restauro. Uma experiência pedagógica.

Professor Catedrático de Química e presidente do Departamento de Conservação e Restauro da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Autor de cerca de 180 papers citados na base de dados web of knowledge (h-index-33) e 10 capítulos de livros. A sua atividade tem sido maioritariamente na área da fotoquímica. Obteve o Prémio Gulbenkian de Ciência “ Ciências Aplicadas e Tecnologias” 1998 com o trabalho “Sistemas Fotocrómicos em Memórias Ópticas. Um olhar sobre a Química como Fonte de Informação” o Prémio Estímulo à Excelência, Fundação para a Ciência e Tecnologia, 2004; Prémio Ferreira da Silva, (2010) atribuído pela Sociedade Portuguesa de Química de dois em dois anos, ao Químico que nos cinco anos anteriores mais tenha contribuído para o desenvolvimento da Química em Portugal.

As Ciências da Conservação são o suporte científico do Conservador-Restaurador: desde o diagnóstico do estado de conservação dos objetos artísticos, aos métodos de restauro e à conservação preventiva. A atividade do conservador restaurador é cada vez mais exigente e implica uma formação pluri-disciplinar que passa pelas ciências sociais e humanas, em particular a história da arte, e pelas ciências exatas e naturais, desde a química, física, geologia biologia, bioquímica entre outras. A conservação e restauro não pode ser um parente pobre das outras ciências, antes pelo contrário, porque obriga a um conhecimento transversal. A afirmação científica das ciências da conservação passa pela investigação científica, pelos doutoramentos. Nesta comunicação iremos apresentar o projeto que nestes últimos anos tem sido desenvolvido na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.

Fernando Pina [email protected]

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A cor da iluminura medieval portuguesa: um estudo interdisciplinar com história, ciência e conservação

Maria João Melo é doutorada em Química-Física pela Universidade Nova de Lisboa (1995), efectuando o postdoc no CNR, em Florença, em Conservação do Património. É Prof. Associada com Agregação no Departamento de Conservação e Restauro da UNL, onde coordenada o Mestrado e o Programa de Doutoramento em Conservação e Restauro. É autora de mais de 50 publicações em revistas cotadas no ISI, para além de outras, em actas de congressos e de divulgação científica. Constitui um seu actual desafio, o cruzamento de saberes em áreas que se consideram distintas, como as ciências exactas, ciências sociais e humanas e a arte. Nesse sentido efectuou recentemente uma estadia de licença sabática no MIT, onde o cruzamento de todo o conhecimento humano é estimulado e posto em prática.

A iluminura românica portuguesa encontra-se intimamente ligada ao mundo monástico, particularmente aos mosteiros de São Mamede do Lorvão, Santa Cruz de Coimbra e Santa Maria de Alcobaça, centros estratégicos que acompanham a formação da nacionalidade e assumem o protagonismo artístico no reino. É neste universo cultural, rico de referências religiosas, políticas e artísticas que nos propomos estudar a cor e o seu significado. A cor surge como um elemento fundamental na organização do códice, dando-lhe sentido e beleza. O uso e produção da cor na iluminura portuguesa, durante o séc. XII e o 1º quartel do séc. XIII, foi tanto uma consequência da tecnologia disponível como uma opção cultural e artística. Assim, para caracterizar os scriptoria, a cor é estudada simultaneamente de um ponto de vista da história da arte e das ciências moleculares. A caracterização a nível molecular revela-se ainda indispensável para o estudo dos principais fenómenos de degradação que afectam particularmente a cor laranja obtida com minio (p.e., Apocalipse do Lorvão) e extensamente a cor verde. Por fim, e através do mapeamento sistemático das áreas relativas das principais cores usadas, apresentaremos as paletas que caracterizam os três scriptoria, discutiremos o significado das cores dominantes, e como este conhecimento contribuirá para determinar o legado das influências das culturas árabe judaica e cristã que coexistiam no Portugal Românico.

Maria João Melo [email protected]

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Manuscritos iluminados modernos: Possibilidades de pesquisa

Doutora em História Social da Cultura e Especialista em Conservação de Papel. Professora do Curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da Escola de Belas Artes (EBA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Vice-líder do grupo de pesquisa “A modernidade ibero-americana e a capitania de Minas Gerais (séculos XVII-XVIII) – Espaços, Poder, Cultura e Sociedade” e membro do grupo de pesquisa “Elementos materiais da cultura e patrimônio”.

O campo da conservação-restauração é essencialmente interdisciplinar, abraçando a multiplicidade do olhar sobre os objetos culturais a partir de variados paradigmas de análise. Uma das importantes demandas é a pesquisa sobre a história das técnicas, dos materiais e das práticas do fazer. Apesar do grande avanço que se tem mostrado em algumas áreas, as pesquisas sobre a história técnica dos objetos produzidos sobre papel – sejam livros, documentos ou obras de arte – ainda prescinde de produções acadêmicas sistemáticas, especialmente no que tange à pertinência teórica da análise material para fundamentação dos estudos históricos das sociedades.

A pesquisa que está em desenvolvimento tem por objetivo a reflexão teórica-metodológica acerca da preservação de documentos pintados, tendo em vista as possibilidades da análise material como fonte de pesquisa histórica, extrapolando o âmbito da abordagem artística. As fases da pesquisa incluem: estudo teórico-metodológico sobre a materialidade dos documentos como fonte de pesquisa histórica (em colaboração com o Departamento de História da UNICAMP); análise formal, estilística e iconográfica de documentos pintados; identificação do conhecimento teórico, das fontes modelares e das técnicas usadas por profissionais na América portuguesa; exames físico-químicos para determinação dos elementos constitutivos dos suportes e tintas utilizados, assim como a avaliação dos graus de degradação (em colaboração com o Departamento de Química da UFMG); restauração de um grupo específico de documentos (em colaboração com o CECOR/UFMG); desenvolvimento de metodologia de intervenção que preserve não só a estrutura estética e físico-química dos documentos, mas também os vestígios materiais a eles incorporados, essenciais à pesquisa histórica.

Márcia Almada [email protected]

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História da Arte Técnica: uma reflexão sobre o emprego da História da Arte e Ciência no estudo de pinturas

Doutora em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), professora do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Belas Artes da UFMG. Trabalha na área de Artes e Ciência da Conservação, com ênfase em Conservação Preventiva, Restauração, Análise de Materiais e Técnicas Artísticas, atuando principalmente nos seguintes temas: História da Arte Técnica, Arqueometria, escultura colonial mineira em cedro, laudos técnicos de obras de arte (materiais, técnicas, estado de conservação) gerenciamento e análise de riscos para conservação de acervos, conservação e restauro de acervos, inventário de bens móveis e integrados e educação patrimonial. É pesquisadora do Laboratório de Ciência da Conservação da Escola de Belas Artes da UFMG e filiada ao ICOM.

Nesse trabalho, procura-se analisar as metodologias inscritas nas práticas de historiadores e cientistas que compete aos estudos dos materiais e técnicas, aos processos de restauração e à autenticação de pinturas sobre tela. Pelo exposto, este estudo prima pela análise dos vínculos existentes entre as práticas de cunho histórico e científico nos processos de análise empregados na História da Arte Técnica.

O restaurador contemporâneo é ciente da impossibilidade de dissociação entre o pensamento lógico e o subjetivo no campo das artes. Sabe também que as interpretações dos trabalhos de arte que utilizam apenas um determinado ramo das ciências podem fornecer a pista certa para o esclarecimento de determinadas hipóteses, mas, de modo geral, não conduzem a conclusões aprofundadas.

Estas informações têm alto valor para o incremento das atividades interdisciplinares da pesquisa acadêmica em arte. Assim, evitando-se um simples agregar de disciplinas, busca-se a proposição da implementação da abordagem integrada (exemplificada no diagrama, FIG.1), usada na Historia da Arte Técnica, para que a mesma possa, de modo abrangente, constituir benefício específico nos estudos de pinturas sobre tela e de outras demandas na área de estudos artísticos e de patrimônio cultural.

Na História da Arte Técnica, a metodologia de análise de um objeto de arte aborda sistematicamente critérios de julgamento subjetivos (discursos proferidos, por exemplo, por críticos, historiadores da arte, peritos na atribuição de estatuto de arte a um objeto, que perpassam o julgamento puramente técnico) e de julgamentos que primam pelo rigor científico, desejo de objetividade (categorias de classificação formais e estilísticas, análises documentais, históricas e físico - químicas). Esse silogismo, efetuado por uma leitura interdisciplinar, admite, portanto, uma análise mais aprofundada da obra que, apesar de complexa, permite a compreensão das especificidades do fazer artístico – considerado todo um conjunto de elementos como: técnica, ruptura estilística, sensibilidade, sociedade, comércio etc.

Alessandra Rosado [email protected]

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Patrimônio azulejar e a pesquisa científica: contribuições para entender os processos de degradação microbiológica

É professora da FAU/UFPA e do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo /UFPA. Coordenadora do Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação (LACORE) da UFPA. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Conservação e Restauração, atuando principalmente nos seguintes temas: azulejaria; memória e preservação de monumentos históricos; materiais tradicionais; técnicas retrospectivas; patologias da edificação; mineralogia aplicada; intemperismo tropical e teoria e tecnologia da conservação e da restauração.

A ciência da conservação e da restauração envolve a especial interação entre as diversas áreas do conhecimento de modo a aprofundar e a fortalecer a reflexão teórica e crítica, assim como as investigações científicas e tecnológicas voltadas à salvaguarda do Patrimônio Cultural. No caso da azulejaria, ela desempenha um papel primordial frente aos desafios mais recentes que recaem em complexos sistemas de alteração, envolvendo fenômenos físicos, mineralógicos e químicos, e a relação destes com as ações intempéricas. Esta comunicação tem por objetivo explicar o processo de alteração microbiológica em azulejos antigos por meio da investigação laboratorial utilizando técnicas instrumentais analíticas. Esta pesquisa se desenvolve no Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação (LACORE) do Instituto de Tecnologia em parceria com laboratórios do Instituto de Geociências, ambos da Universidade Federal do Pará.

O LACORE atua, desde 2006, na salvaguarda do patrimônio arquitetônico, por meio da caracterização de materiais históricos de construção; da identificação dos processos de degradação; da verificação de materiais de restauro; e do desenvolvimento de novas tecnologias. Como resultados desta comunicação, serão apresentados dados referentes à caracterização dos azulejos, aos processos de colonização e aos agentes microbiológicos existentes nas peças de modo a explicar como ocorre a colonização por microrganismos. O entendimento desse processo permite proceder adequadamente no tratamento da biodegradação e sugere caminhos para impedir novas colonizações.

Thais A. B. Caminha Sanjad [email protected]

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De como a investigação analítica pode apoiar os historiadores e os conservadores-restauradores: alguns exemplos no campo dos azulejos históricos

Coordenador do Núcleo de Materiais Pétreos e Cerâmicos; Licenciatura em Engenharia Mecânica / Termodinâmica Aplicada (Instituto Superior Técnico 1974/75). Estágio em aerodinâmica subsónica na Universidade de Delft, 1974. Grau de Especialista do LNEC obtido com uma dissertação sobre transmissão do calor, LNEC, 1986. Pós-graduação em Gestão Industrial e Empresarial, ISCTE, 1995. Habilitação para a coordenação de investigação obtida com uma dissertação sobre a certificação de materiais de referência e a sua utilização no estabelecimento da rastreabilidade dos resultados experimentais, LNEC, 2000.

Existe em muitos campos, e em particular no do restauro dos painéis azulejares, uma dissociação entre os domínios complementares da investigação científica e da aplicação à prática da obra. E é assim que alguns restauradores já nos falaram sobre o seu conhecimento da prática do restauro com uma ponta de desdém pela investigação científica sobre as causas das degradações que motivaram a intervenção a que se referem. No entanto, os resultados de uma tal investigação poderiam ter-lhes permitido uma intervenção mais adaptada a cada caso, porque cada caso é um caso diferente.

Também se encontra uma certa separação quase estanque entre campos que poderiam ser complementares. Considere-se, por exemplo, o caso de investigadores que realizam pesquisa documental em arquivos sobre as antigas oficinas de azulejaria e investigadores cujos meios técnicos lhes permitiriam realizar um estudo semelhante aplicando métodos instrumentais aos próprios azulejos: aos primeiros falha a corroboração objectiva que os segundos poderiam dar; aos segundos faltam conhecimentos históricos que permitam limitar o domínio da procura e estabelecer as hipóteses a testar.

O Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Lisboa tem vindo a explorar desde 2009 linhas de investigação direccionadas à caracterização dos azulejos históricos; à determinação das causas da degradação; e à avaliação de materiais de restauro. Esta palestra irá mostrar como dos resultados desse trabalho se pode esperar induzir técnicas de intervenção potencialmente mais ajustadas a determinados casos concretos. Iremos também exemplificar maneiras como a análise instrumental pode contribuir decisivamente para o avanço da investigação histórica.

João Manuel Mimoso [email protected]

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iLAB: documentação científica por imagem do Patrimônio Cultural: competências e desafios

Professor de Fotografia do Departamento de Fotografia, Teatro e Cinema da Escola de Belas Artes (EBA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com atuação também na área de Documentação Científica por Imagem. Doutor em Artes Visuais com ênfase em Tecnologia da Imagem (2011) pela Escola de Belas Artes na UFMG, Graduado em Engenharia Mecânica (1993) pelo Centro Federal de Tecnologia – CEFET/MG. Membro do CECOR – Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis. Coordenador do iLAB – Laboratório de Documentação Científica por Imagem da EBA/UFMG.

A realização de Documentação Científica por Imagem do Patrimônio Cultural é relativamente nova no Brasil, sendo objeto de estudo nesse artigo uma abordagem sucinta do início de sua realização, as técnicas mais utilizadas e o uso de novas tecnologias aplicadas à área.

Este trabalho conta com uma breve abordagem histórica do uso de imagens científicas vinculadas ao trabalho do conservador-restaurador no Brasil, onde serão apresentados alguns relatos e imagens, como exemplo. Dentre as técnicas de imagem mais utilizadas para a área de Bens Culturais estão a Fotografia de Luz Visível, onde se insere, principalmente, o uso de gerenciamento de cores, imagem com luz rasante, luz reversa e imagens de detalhes; as técnicas com luzes especiais, sendo as mais utilizadas no Brasil, Fluorescência de Ultravioleta, Infravermelho e luz de Vapor de Sódio; e por fim imagem por Radiografia X.

Existem diversas tecnologias de imagem que são utilizadas em outras áreas, como, por exemplo, na medicina, na engenharia, na biologia, e em outras, que poderiam colaborar com a área de Patrimônio Cultural. Além de outras técnicas de geração de imagens, é preciso dedicar importante atenção para a área de processamento de imagens digitais. As imagens podem conter informações importantes que somente são visíveis após o devido processamento, pois muitas informações presentes nas imagens, somente serão mais bem interpretadas pelos profissionais da área de Conservação-Restauração se estas estiverem com qualidade para a devida “leitura”. A área de Documentação Científica por Imagem do Patrimônio Cultural tem como premissa básica atender, ou seja, ser útil, para os profissionais da área de Conservação-Restauração, da mesma forma que a imagem científica na área da saúde o é para o médico, servindo como documento e como importante ferramenta diagnóstica.

Alexandre Cruz Leão [email protected]

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Pinturas do Acervo do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo: Pesquisa, Documentação, Restauração e Exposição.

É doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural do Instituto de Ciências Humanas da UFPEL (2013). Possui Mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2003), Especialização em Conservação e Restauração de Bens Culturais pela Universidade Federal de Minas Gerais (2001), Especialização em Patrimônio Cultural: Conservação de Artefatos pela Universidade Federal de Pelotas (1997). Atualmente é Professora do Departamento de Museologia e Conservação e Restauro do Instituto de Ciências Humanas, da Universidade Federal de Pelotas atuando nos cursos de Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais e na Especialização em Memória, Identidade e Cultura Material. Coordenando o Laboratório de Conservação e Restauração de Pintura /ICH/UFPel.

Este trabalho se propõe a apresentar parte das ações realizadas no Projeto Pinturas do Acervo do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo da Universidade Federal de Pelotas, uma proposta interdisciplinar que foi fundamentada nos pilares da Universidade que são: ensino, extensão e pesquisa.

A identidade do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG) do Centro de Artes da UFPEL é fortemente marcada pela produção do seu patrono, portanto, neste projeto foram selecionadas 14 pinturas pertencentes ao acervo do museu, 12 delas de autoria do artista pelotense Leopoldo Gotuzzo e duas de outros artistas, todos doadas pelo patrono para formação do museu em sua carta testamento datada de 1983.

Justifica-se o projeto pela importância de Leopoldo Gotuzzo para a cidade de Pelotas e para as artes plásticas do Rio Grande do Sul. No que se refere à obra de Gotuzzo em virtude do seu “domínio do desenho, pelo tratamento da cor e da luz, pelo equilíbrio da composição” e amadurecimento de sua obra, recebeu premiações em importantes Salões de Arte Brasileiros sendo assim legitimada sua obra.

O objetivo geral deste projeto era a restauração destas obras que estavam em estado precário de conservação e por este motivo muitas nunca haviam sido expostas no museu e assim foram recuperadas através desta inciativa.

O trabalho de pesquisa, documentação, restauração e exposição foi um trabalho interdisciplinar entre organismos UFPEL que se uniram para realização deste projeto. O projeto foi realizado de forma que permitisse que a história do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo possa ser lembrada através de seu acervo. As pinturas que agora foram entregues a comunidade passaram por um minucioso processo: a documentação fotográfica, realização de exames, processo de intervenção nas obras, montagem da exposição e preparação do vídeo. Os alunos da disciplina de Conservação e Restauro de Pintura II, do Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis, puderam aplicar na prática os conhecimentos teóricos adquiridos ao longo do curso. Este projeto cumpre papel importante na consolidação do Laboratório de Conservação e Restauração de Pintura do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas.

Andrea Lacerda Bachettini [email protected]

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Os Doze Trabalhos de HERCULES

Antonio Candeias: Químico, Licenciado em Química Tecnológica e Pós-graduado em Quími-ca aplicada ao Património Cultural pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e Doutorado em Química pela Universidade de Évora. Professor Auxiliar do Departamento de Química da Escola de Ciências e Tecnologias da Universidade de Évora. Membro do Cen-tro de Química de Évora. Diretor do Laboratório HERCULES – Herança Cultural, Estudos e Salvaguarda e Coordenador Científico do Laboratório José de Figueiredo da Direcção Geral do Património Cultural. Desenvolve investigação nas áreas de rebocos antigos e pinturas murais de edifícios históricos, pintura de cavalete e escultura policroma, têxteis históricos e materiais arqueológicos, nomeadamente cerâmicas e vidros, e optimização e aplicação de técnicas analíticas.

O Património Cultural é hoje em dia considerado um pilar fundamental para o desenvolvimento sustentável das regiões e para a consequente melhoria da sua qualidade de vida. A reabilitação e valorização do património e a revitalização de técnicas e saberes tradicionais podem ter um impacto directo nas populações, contribuindo para as áreas de planeamento territorial e urba-no e para a criação de postos de trabalho em serviços, turismo e pequenas empresas, proven-do de identidade cultural e memória, a comunidade. Consciente do valioso legado patrimonial de Portugal e do seu papel enquanto pólo científico e cultural, a Universidade de Évora criou em 2009, o Laboratório HERCULES – Herança Cultural, Estudos e Salvaguarda, cujos principais objectivos podem ser agrupados em cinco grandes linhas de acção: (1) coordenação e desen-volvimento de projectos de investigação de património cultural, em colaboração com parceiros a nível regional, nacional e internacional; (2) estudo do património cultural, diagnóstico do seu estado de conservação e desenvolvimento de projectos integrados de conservação e restau-ro; (3) valorização dos recursos endógenos, nomeadamente técnicas e saberes tradicionais; (4) formação avançada através da coordenação e promoção de cursos de 2º e 3º ciclos e summer courses e workshops; (5) promoção do património e das técnicas tradicionais e artísticas at-ravés da planificação e execução de diversas actividades junto da população e de produção de conteúdos educativos conducentes à sua sensibilização para temáticas relacionadas com a cultura e o património

Esta infra-estrutura científica é composta por uma equipa multidisciplinar que envolve técni-cos e especialistas em conservação e património compreendendo diferentes áreas do conhec-imento, como, história, história de arte, conservação-restauro, química, geologia, geofísica e bioquímica divididos em 3 unidades diferentes (Unidade de Salvaguarda, Unidade de Investi-gação de Materiais e Unidade de Recursos Educativos) que funcionam de forma integrada. Des-de a sua criação, e com um investimento na infraestrutura superior a 3,5 Meuros, o Laboratório HERCULES é hoje em dia uma unidade científica de referência no espaço nacional, equipada com equipamentos de ponta, encontrando-se os seus membros fortemente empenhados em reforçar este estatuto, com a fomentação e participação em redes de âmbito nacional e inter-nacional.

António Candeias [email protected]

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O CECOR e sua atuação na formação, pesquisa e extensão

Possui graduação em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1980) e mestrado em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais (1998). É doutoranda pelo PPGA e Diretora do CECOR. Atualmente é professor assistente da Universidade Federal de Minas Gerais, atuando no Curso de Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis. Tem experiência na área de Conservação-Restauração, atuando principalmente nos seguintes temas: restauração, conservação, papel, preservação e formação.

Pioneira no ensino e na pesquisa da conservação-restauração no Brasil, em 1978 a EBA criou o Curso de Especialização em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis. Esse curso, inicialmente financiado pelo Programa de Cidades Históricas (PCH) da Secretaria de Planejamento da Presidência da República, com a participação de professores convidados do Brasil e do Exterior, tornou-se marco referencial da formação de restauradores no país. O referido curso passou a funcionar em ambiente mais adequado às suas especificidades a partir de 1980, com a criação do CECOR. Sua sede foi construída em convênio com a Secretaria de Planejamento da Presidência da República e ampliada posteriormente por meio de parceria com o Ministério da Cultura (MinC). A experiência com o curso de especialização em conservação-restauração abriu caminho para que fossem criados o mestrado, em 1995, e o doutorado, em 2006. O Programa de Pós-Graduação em Artes foi reconhecido com a nota cinco na última avaliação trienal da CAPES, em 2010, consolidando o ciclo da pós-graduação da Escola.

Considerando a experiência e a infraestrutura construídas ao longo de trinta anos, a Escola de Belas Artes da UFMG reforçou sua iniciativa pioneira com a criação do Curso de Bacharelado em Conservação - Restauração de Bens Culturais Móveis. Este foi o primeiro curso do Programa de Reestruturação das Universidades Federais (REUNI), autorizado através da Resolução nº 14/2007 do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFMG (CEPE), implantado no vestibular de 2008. A criação deste Bacharelado, pioneiro no Brasil, institucionalizou e consolidou esta área do conhecimento no ambiente acadêmico universitário.

Atualmente, o CECOR comporta diversos laboratórios de ensino e pesquisa, dando suporte de infraestrutura ao Curso de Conservação; inclui no campo de suas atividades estágios, residências internacionais e nacionais, além de prestação de serviços de análise e intervenção de obras públicas e privadas.

Bethania Reis Veloso [email protected]

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LACICOR: A aplicação da espectroscopia de fluorescência de raios-X na investigação de materiais arqueológicos e artísticos

Mestrado (1994) e Doutorado (2007) em Ciências com ênfase em química inorgânica, e Pós-doutorado (2008-2009) pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atua na área de Conservação e Restauração de Bens Culturais com foco em materiais e na área de bio-inorgânica. Membro da Sociedade Brasileira de Química - SBQ, da Associação Brasileira de Cristalografia - ABCr e do Internacional Council of Museums - ICOM. RECICOR, ARCHE e INOFAR. Colaboradora do CECOR - Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis na área de análise de materiais.

Inicialmente criado em 1980 para dar suporte científico às atividades de conservação-restauração do CECOR – Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis – e também como espaço didático para a disciplina Fundamentos Científicos da Restauração, ministrada no Curso de Especialização em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis, o LACICOR – Laboratório de Ciência da Conservação – apresenta hoje um perfil diferenciado e um espectro mais amplo de atividades relativamente às suas características originais. A partir da década de 1990, o LACICOR passou também a funcionar como um polo de pesquisa e formação na área de conservação-restauração de bens culturais através da formação ao nível de pós-graduação (Especialização latu sensu, até 2006, Mestrado a partir de 1998, e doutorado a partir de 2006), com alunos orientados inicialmente pelo Professor Luiz Antônio Cruz Souza, e atualmente pelos demais docentes membros do grupo de pesquisa LACICOR e da rede RECICOR, devidamente qualificados e comprometidos com a pós-graduação. O equipamento de espectrometria de raios-X adquirido pelo LACICOR através de projeto financiado pela Finep, em 2008, é atualmente o equipamento mais avançado, no mundo, nesta área de análises, extensamente utilizado em instituições como o Getty Conservation Institute, o Courtald Institute of Art, em Londres, e a National Gallery of Art, também em Londres.Esta palestra discutirá a técnica de Fluorescência de Raios-X e sua utilização na área de conservação e restauração de obras de arte e do patrimônio. Através de estudos de caso, apresentando o valor da determinação de composição química confiável, da identificação de elementos traço em materiais arqueológicos e históricos e de tecnologias de fabricação, além de determinação de materiais não originais. Explorando a importância de métodos não destrutivos, ressaltando os diferenciais da técnica de fluorescência de raios-X associada à portabilidade e capacidade analítica dos equipamentos.

Isolda Maria de Castro Mendes [email protected]

Mestrado (1994) e Doutorado (2007) em Ciências com ênfase em química inorgânica, e Pós-doutorado (2008-2009) pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atua na área de Conservação e Restauração de Bens Culturais com foco em materiais e na área de bio-inorgânica. Membro da Sociedade Brasileira de Química - SBQ, da Associação Brasileira de Cristalografia - ABCr e do Internacional Council of Museums - ICOM. RECICOR, ARCHE e INOFAR. Colaboradora do CECOR - Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis na área de análise de materiais.

Luiz Antônio Cruz Souza [email protected]

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A linha de pesquisa em Criação, Crítica e Preservação da Imagem no PPGA-EBA-UFMG – estudos no campo da Conservação

Possui Especialização em Conservação-Restauração (1990) e Mestrado(1997) no Programa de Pós-Graduação em Artes da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais e doutorado em História/Patrimônio pela Universidade Estadual de Campinas- UNICAMP (2006). Atualmente é professora do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Belas Artes com atuação no Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis. Foi Coordenadora do Curso de Graduação em Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis da Escola de Belas Artes- UFMG de 2008 a 2011. Atua no Programa de Pós Graduação da EBA/UFMG e é vice-presidente do Centro de Estudos da Imaginária Brasileira- CEIB.

Em 1978, a Escola de Belas Artes- EBA implantou o Curso de Especialização em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis desenvolvido no Centro de Conservação Restauração de Bens Culturais Móveis (CECOR), abrindo caminho para que em 1995 fosse criado o Mestrado em Artes e que, em 2006, fosse implantado o Doutorado em Artes, completando assim o ciclo de pós-graduação da EBA/UFMG. Considerando a experiência e a infra-estrutura construídas ao longo de trinta anos, a Escola de Belas Artes reforçou sua iniciativa pioneira no Brasil com a criação do Curso de Bacharelado em Conservação - Restauração de Bens Culturais Móveis. Este foi o primeiro curso do Programa de Reestruturação das Universidades Federais (REUNI) implantado no vestibular 2008 na UFMG.

O Programa de Pós-graduação em Artes da EBA possui grande abrangência contemplando as áreas de: Artes Plásticas, Conservação - Restauração, Cinema, Ensino de Arte, Artes Cênicas e Artes Digitais. A área de concentração ARTE E TECNOLOGIA DA IMAGEM, se desdobra em três Linhas de Pesquisa: Criação, Crítica e Preservação da Imagem para as área de estudo (Artes plásticas, Ensino de Arte e Conservação-Restauração); Criação e Crítica da Imagem em Movimento para a áreas de estudos (Cinema e Artes digitais) e Artes Cênicas: Teorias e Práticas para a área de estudo (artes cênicas), todas elas abordando o conceito de trânsito e interdisciplinaridade.

A área de conservação-restauração pioneira na pesquisa e na pós graduação na Escola de Belas Artes da UFMG oferece inúmeras monografias de especialização desde o início da década de 1980, dissertações de mestrado desde 1997, teses de doutorado a partir de 2010, além é claro de todo o trabalho acadêmico produzido pelos alunos que passaram por esta instituição e ocuparam cargos importantes na política de preservação no Brasil, bem como docentes que hoje atuam no nosso curso de graduação e que também tiveram capacitações variadas no Brasil e exterior.

Maria Regina Emery Quites [email protected]

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Estudos pós graduados e a Ciência da Conservação – alguns trabalhos em curso na Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa

Professora Assistente da licenciatura em Arte, Conservação e Restauro da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa (EA/UCP) e do mestrado em Conservação de Bens Culturais, na especialização de Escultura/Talha. Em fase final do doutoramento em Geociências da Universidade de Aveiro (UA). Membro integrado do Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes da EA/UCP (CITAR) desde 2007 e membro colaborador do Centro Geobiotec da UA desde 2009.

A licenciatura em Arte, Conservação e Restauro, iniciada na EA/UCP em 2002, constitui um primeiro ciclo de estudos que fornece ao aluno uma formação generalista, de carácter teórico-prático e enquadrada por uma visão multidisciplinar.

Durante o mestrado em Conservação de Bens Culturais, cuja primeira edição data de 2007, os alunos têm a oportunidade de desenvolver a vertente da investigação associada a uma intervenção de conservação e restauro sobre uma obra. Este segundo ciclo permite a especialização numa área específica e, simultaneamente, ascender à categoria de conservador-restaurador, no quadro dos requisitos estabelecidos pela rede Europeia para a Educação em Conservação e Restauro (ENCORE) que a nossa universidade integra.

A necessidade de elevar este domínio da investigação ao nível académico levou a EA/UCP a criar, em 2007, o Curso de Doutoramento em Conservação de Bens Culturais. No âmbito deste terceiro ciclo de estudos, já integrados no CITAR e na linha de investigação de Estudo e Conservação do Património Cultural, criada no mesmo ano, os investigadores desenvolvem estudos aprofundados sobre uma técnica artística, autor ou coleção de bens culturais, nas diferentes vertentes histórica, técnica e conservativa, e beneficiando do apoio de diferentes entidades com as quais foram estabelecidos protocolos de colaboração.

Com esta apresentação pretende-se apresentar alguns dos trabalhos atualmente em curso ao nível do segundo e terceiro ciclos da formação em Conservação de Bens Culturais da EA/UCP integrados no CITAR.

Carolina Barata [email protected]

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A trajetória do CECRE

Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (1992) e Doutora em Historia de la Arquitectura, Historia Urbana pela Universidad Politécnica de Cataluña (1998). Realizou o Pós-Doutorado na Universidad Politécnica de Cataluña (2007-2008). É Professora Titular da Universidade Federal da Bahia. Foi Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFBA (2004-2006) e coordenadora do MP-CECRE - Mestrado Profissional em Conservação e Restauração de Monumentos e Núcleos Históricos (2008-2012).

O MP-CECRE é fruto da experiência das 15 edições do CECRE como curso de especialização, um curso de excelência que foi reconhecido pela UNESCO e IPHAN como um dos melhores programas mundiais de formação na área de preservação cultural. O curso, ao longo desses anos, formou alguns dos principais quadros na área de Conservação e Restauração do Brasil e dos países latino-americanos, além de profissionais da África e Europa. O CECRE se constituiu em um marco na história da formação de recursos humanos para a área da preservação dos bens culturais na América Latina, não só pela quantidade e qualidade dos profissionais que tem preparado, mas também pela constante atualização e incorporação de novos conteúdos e conceitos ao seu universo de trabalho. O nível da abrangência e do aprofundamento dos conteúdos abordados na estrutura curricular do curso proporcionou a formação de quadros altamente capacitados. Alguns destes foram responsáveis pela deflagração de processos de implantação de políticas de preservação em locais onde estas eram inexistentes, especialmente em alguns países latino-americanos e africanos.

Os ex-alunos do CECRE hoje ocupam posições de destaque em diversas organizações oficiais ligadas ao ensino, à pesquisa e às políticas de preservação dos bens culturais, no Brasil e no exterior, assumindo inclusive postos de comando e posições de liderança na discussão e proposição de políticas de preservação nestas e em outras instâncias estaduais e municipais, no Brasil e em outros países da América Latina.

O CECRE deu origem à área de concentração em “Conservação e Restauro” do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – área de Conservação e Restauro – da UFBA (PPG/AU) que compreende Mestrado e Doutorado (grau A pela avaliação da CAPES) mantendo profunda integração com o mesmo e desenvolvendo diversas atividades conjuntas. Ao ser reconhecido pela CAPES em 2009 como Mestrado Profissional, o CECRE busca dar seguimento a esta formação de qualidade, contando com um maior aprofundamento das questões teóricas e práticas, visando colocar no mercado novos mestres ainda mais qualificados para atuar no campo da preservação do Patrimônio Arquitetônico e Urbanístico, sem dúvida, uma área fundamental dentre as políticas publicas contemporâneas. Este curso é dirigido, exclusivamente, para arquitetos urbanistas e engenheiros civis.

Eloisa Petti Pinheiro [email protected]

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Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável: interdisciplinaridade e pesquisa

Arquiteto-urbanista (1986), com doutorado em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (2000) e pós-doutorado junto ao Getty Conservation Institute (GCI) em Los Angeles (2001) e a Universidad Politécnica de Madrid (2009/2010). Atualmente é Professor Titular da Universidade Federal de Minas Gerais e, desde setembro de 2012, Vice-Presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação Interdisciplinar em Sociais e Humanidades (ANINTER-SH).

O Curso de Mestrado em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável tem como objetivo formar pessoal de alto nível para o exercício profissional e de atividades de ensino, pesquisa e extensão neste campo interdisciplinar, bem como desenvolver estudos aprofundados e pesquisas inovadoras que integrem escalas diversas do ambiente construído enquanto patrimônio, resgatando os processos de interação com o ambiente natural, que lhe serve como substrato, e com a sociedade, que fundamenta o reconhecimento do seu valor. É também objetivo do Programa desenvolver e/ou aprofundar as interfaces entre áreas distintas, tais como ciências sociais aplicadas, artes e engenharias, e construir ferramentas metodológicas e educacionais, no enfoque do ambiente construído enquanto patrimônio humano e suas condições de sustentabilidade. Nesse processo de aprofundamento das interfaces, pretende-se consolidar no Programa uma estruturação de trabalho em rede, o que permite agrupamentos flexíveis, sem uma hierarquia a priori, possibilitando introduzir - como necessitamos - referências cruzadas em todas as áreas de conhecimento envolvidas e nas linhas de pesquisa propostas. Espera-se poder contribuir na recomendação de políticas públicas, através da análise e avaliação das ações de desenvolvimento implementadas em níveis regional e local.

A estrutura curricular deste Curso de Mestrado é composta de dois blocos de disciplinas, em regime semestral. O primeiro bloco abrange um conjunto de disciplinas, de caráter obrigatório, denominado de Núcleo Integrador. Esse conjunto de disciplinas, em função da diversidade na formação acadêmica dos ingressantes, visa a proporcionar aos alunos um patamar mínimo e comum dos fundamentos básicos do método científico e de pesquisa e, concomitantemente sensibilizá-los para a necessidade de uma abordagem complexa e multidisciplinar das questões relacionadas ao meio-ambiente construído e patrimônio sustentável. No segundo bloco de disciplinas, denominado de Núcleo Temático, oferece-se um conjunto de disciplinas optativas visando ao aprofundamento da formação acadêmica dos alunos, mas pautado pelo diálogo multi- (e inter) disciplinar de seus conteúdos programáticos. São disciplinas que visam ao desenvolvimento do conhecimento vertical das bases conceituais das linhas de pesquisa, sem perder de vista a horizontalidade interdisciplinar. Estas disciplinas garantem as exigências próprias do grau de Mestre em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável, oferecendo aos alunos e professores orientadores maior flexibilidade em termos de adequação à sequência ideal de conteúdos, podendo contemplar plenamente os objetivos específicos pretendidos por cada aluno.

Leonardo Castriota [email protected]