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6 o ANO 1 o TERMO

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Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho: Geografia, História e Trabalho: 6o ano /1o termo do Ensino Fundamental. São Paulo: Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (SDECT), 2011.il. (EJA – Mundo do Trabalho)

Conteúdo: Caderno do Estudante. ISBN: 978-85-65278-02-7 (Impresso) 978-85-65278-10-2 (Digital)

1. Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Ensino Fundamental 2. Geografia – Estudo e ensino 3. História – Estudo e ensino 4. Trabalho – Estudo e ensino I. Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia II. Título III. Série.

CDD: 372

FICHA CATALOGRÁFICASandra Aparecida Miquelin – CRB-8 / 6090

Tatiane Silva Massucato Arias – CRB-8 / 7262

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação autoriza a reprodução do conteúdo do material de sua titularidade pelas demais secretarias do país, desde que mantida a integridade da obra e dos créditos, ressaltando que direitos autorais protegidos* deverão ser diretamente negociados com seus próprios titulares, sob pena de infração aos artigos da Lei no 9.610/98.

*Constituem “direitos autorais protegidos” todas e quaisquer obras de terceiros reproduzidas neste material que não estejam em domínio público nos termos do artigo 41 da Lei de Direitos Autorais.

Nos Cadernos do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho são indicados sites para o aprofundamento de conhecimentos, como fonte de consulta dos conteúdos apresentados e como referências bibliográficas. Todos esses endereços eletrônicos foram verificados. No entanto, como a internet é um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação não garante que os sites indicados permaneçam acessíveis ou inalterados, após a data de consulta impressa neste material.

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Geraldo AlckminGovernador

Nelson Luiz Baeta Neves Filho Secretário em exercício

Maria Cristina Lopes Victorino Chefe de Gabinete

Ernesto Masselani NetoCoordenador de Ensino Técnico, Tecnológico e Profissionalizante

SECRETARIA DA EDUCAÇÃO

Herman VoorwaldSecretário

Cleide Bauab Eid BochixioSecretária Adjunta

Fernando Padula NovaesChefe de Gabinete

Maria Elizabete da CostaCoordenadora de Gestão da Educação Básica

SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

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Fundação do Desenvolvimento Administrativo – Fundap

Geraldo Biasoto Jr.Diretor Executivo

Lais Cristina da Costa Manso Nabuco de AraújoSuperintendente de Relações Institucionais e Projetos Especiais

Coordenação Executiva do Projeto José Lucas Cordeiro

Coordenação TécnicaImpressos: Selma VencoVídeos: Fernando Moraes Fonseca Jr.

Equipe Técnica e PedagógicaAna Paula Lavos, Dilma Fabri Marão Pichoneri, Lais Schalch, Liliana Rolfsen Petrilli Segnini, Maria Helena de Castro Lima, Silvia Andrade da Silva Telles e Walkiria Rigolon

AutoresArte: Eloise Guazzelli. Ciências: Gustavo Isaac Killner. Geografia: Clodoaldo Gomes Alencar Jr., Edinilson Quintiliano dos Santos e Mait Bertollo. História: Fábio Barbosa. Inglês: Eduardo Portela. Língua Portuguesa: Walkiria Rigolon. Matemática: Antonio José Lopes. Trabalho: Maria Helena de Castro Lima e Selma Venco

Fundação Carlos Alberto Vanzolini

Antonio Rafael Namur MuscatPresidente da Diretoria Executiva

José Joaquim do Amaral FerreiraVice-presidente da Diretoria Executiva

Gestão de Tecnologias em Educação

Direção da ÁreaGuilherme Ary Plonski

Coordenação Executiva do ProjetoAngela Sprenger e Beatriz Scavazza

Gestão EditorialDenise Blanes

Gestão de ComunicaçãoAne do Valle

Gestão do Portal

Luiz Carlos Gonçalves, Sonia Akimoto e

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Equipe de Produção

Assessoria pedagógica: Ghisleine Trigo Silveira

Editorial: Airton Dantas de Araújo, Célia Maria

Cassis, Daniele Brait, Fernanda Bottallo, Mainã

Greeb Vicente, Patrícia Maciel Bomfim, Paulo

Mendes e Sandra Maria da Silva

Direitos autorais e iconografia: Aparecido Francisco,

Beatriz Blay, Priscila Garofalo, Rita De Luca e

Roberto Polacov

Projeto gráfico-editorial: D’Livros Editora e

Distribuidora Ltda e Michelangelo Russo (Capa)

CTP, Impressão e Acabamento

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação

Coordenação Geral do ProjetoJuan Carlos Dans Sanchez

Equipe TécnicaCibele Rodrigues Silva e João Mota Jr.

Concepção do programa e elaboração de conteúdos

Gestão do processo de produção editorial

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Caro(a) estudante,

É com grande satisfação que a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, em parceria com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, apresenta os Cadernos do Estudante do Programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho, em atendimento a uma justa reivindicação dos educadores e da sociedade. A proposta é oferecer um material pedagógico de fácil compreensão, para complementar suas atuais necessidades de conhecimento.

Sabemos quanto é difícil para quem trabalha ou procura um emprego se dedi-car aos estudos, principalmente quando se retorna à escola após algum tempo.

O Programa nasceu da constatação de que os estudantes jovens e adultos têm experiências pessoais que devem ser consideradas no processo de aprendi-zagem em sala de aula. Trata-se de um conjunto de experiências, conhecimen-tos e convicções que se formou ao longo da vida. Dessa forma, procuramos respeitar a trajetória daqueles que apostaram na educação como o caminho para a conquista de um futuro melhor.

Nos Cadernos e vídeos que fazem parte do seu material de estudo, você perceberá a nossa preocupação em estabelecer um diálogo com o universo do trabalho. Além disso, foi acrescentada ao currículo a disciplina Trabalho para tratar de questões relacionadas a esse tema.

Nessa disciplina, você terá acesso a conteúdos que poderão auxiliá-lo na procura do primeiro ou de um novo emprego. Vai aprender a elaborar o seu currículo observando as diversas formas de seleção utilizadas pelas empresas. Compreenderá também os aspectos mais gerais do mundo do trabalho, como as causas do desemprego, os direitos trabalhistas e os dados relativos ao mercado de trabalho na região em que vive. Além disso, você conhecerá algumas estra-tégias que poderão ajudá-lo a abrir um negócio próprio, entre outros assuntos.

Esperamos que neste Programa você conclua o Ensino Fundamental e, pos-teriormente, continue estudando e buscando conhecimentos importantes para seu desenvolvimento e para sua participação na sociedade. Afinal, o conheci-mento é o bem mais valioso que adquirimos na vida e o único que se acumula por toda a nossa existência.

Bons estudos!

Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação

Secretaria da Educação

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Sumário

Geografia .........................................................................................................................7

Unidade 1 O estudo da paisagem 9

Unidade 2 A paisagem rural 19

Unidade 3 A paisagem urbana 41

Unidade 4 Planejamento urbano 59

História ........................................................................................................................... 73

Unidade 1 Por que estudar história? 75

Unidade 2 Capitalismo, trabalho e sociedade 85

Unidade 3 O feudalismo e a transição para o capitalismo 101

Unidade 4 Consumação do capitalismo 121

Trabalho .....................................................................................................................147

Unidade 1 O trabalho na sociedade contemporânea 149

Unidade 2 Para entender o mercado de trabalho 171

Unidade 3 Campo e cidade: diferentes mundos do trabalho? 185

Unidade 4 Organizando-se para a busca por emprego 205

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Caro(a) estudante,

Este Caderno tem por objetivo explicar a você como algumas das características do nosso mundo foram formadas e desenvolvidas. Para que esse estudo seja completo e mais claro, é preciso estudar a história. Esse será o assunto a ser discutido na Unidade 1.

Na sequência, a discussão será sobre o mundo em que vivemos.

Você já ouviu falar em capitalismo? Provavelmente, até já escutou a palavra, mas talvez tenha dificuldade em explicar o que é. O trabalho da Unidade 2 será o de ajudá-lo a compreender o capitalismo, tendo sempre em mente a realidade na qual você vive.

Depois de entender os aspectos básicos do capitalismo, você poderá se perguntar se o mundo foi sempre assim. Uma vez que várias gerações antes da sua já viviam dentro do sistema capitalista, a impressão que pode ter é que ele sempre existiu. Mas a resposta poderá surpreender você! Houve outros sistemas econômicos antes do capitalismo.

Como esse sistema econômico surgiu na Europa, para entender suas origens será necessário estudar um pouco da história europeia. Assim, a Unidade 3 começará com um recuo na história para analisar a sociedade feudal e o feudalismo. Discutindo o feudalismo, você perceberá que já houve sociedades muito diferentes das de hoje, inclusive no aspecto do trabalho. Por exemplo, no feudalismo não havia salário nos moldes como conhecemos atualmente.

À medida que o feudalismo entrou em crise, as formas capitalistas de produção foram lentamente se desenvolvendo. O capitalismo não ocupou imediatamente o lugar do feudalismo, como se fosse uma substituição em um jogo de futebol. Pelo contrário, foi um processo bastante longo, que durou séculos. Ao longo de todo esse período, características do mundo feudal conviveram com novas formas capitalistas que aos pou-cos se formavam. Essa lenta passagem também será assunto da Unidade 3.

E quando podemos dizer que o capitalismo se tornou, de fato, o sistema econômico dominante? Ou, em outros termos, quando o feudalismo terminou? Alguns historiadores sugerem que teria sido no final do século XV. Outros afirmam que foi apenas no final do século XVIII. Nesse caso, três fatores contribuíram para o fim da sociedade feudal e a consequente consolidação do capitalismo: o avanço extraordinário da ciência, a chamada Revolução Industrial na Inglaterra e as revoluções políticas, em especial a Revolução Fran-cesa. Esses assuntos serão tratados na Unidade 4, que encerra este Caderno.

Portanto, você verá na Unidade 4 que a consolidação do capitalismo na Europa foi uma das consequências da Revolução Industrial e da Revolução Francesa. Essas duas revoluções alteraram definitivamente os rumos da história ocidental, cujos refle-xos são sentidos até os dias de hoje, como você terá a oportunidade de estudar.

Bons estudos!

História

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Você já parou para pensar que a história pode ser contada de diferentes formas? Os historiadores dispõem de muitos dados, infor-mações e objetos que revelam como as pessoas viviam e como se relacionavam; tudo é relevante ao historiador. Assim, existem várias maneiras de estudar a história.

A história pode “contar várias histórias”. Ela pode ser produzida a partir de várias perspectivas e relatada sob diversos pontos de vista. É possível privilegiar as relações entre os homens e as mulheres, as questões relativas ao cotidiano, as relações econômicas, as lutas de classe e muitas outras.

Neste momento do curso, você procurará responder a algu-mas perguntas que darão sentido aos temas tratados ao longo deste Caderno: Onde está a história? Para que ela serve, do ponto de vista do estudante?

Para iniciar...

Nosso ponto de partida é uma situação conhecida: jovens e adultos, em geral, já procuraram ou estão procurando trabalho. Nesse processo, eles encontram dificuldades de naturezas diversas que, por vezes, desafiam seu ânimo de buscar emprego.

Pare e reflita: Quais são as dificuldades que você já viveu na busca por trabalho? Por que elas existem?

Atividade 1 O indivíduo e a história

1. Em grupo, compartilhem as dificuldades vividas por vocês para encontrar um trabalho. Após a discussão, selecionem e registrem apenas aquela que considerarem mais significativa.

Dificuldade escolhida: ________________________________________

1 Por que estudar história?

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2. Ainda em grupo, questionem a razão de existir a dificuldade se-lecionada: Por que isso é assim? Por que essa dificuldade existe? Ao final, escrevam as considerações do grupo e compartilhem-nas com a turma.

3. Depois de ouvir a conclusão dos grupos, debata com a classe so-bre as questões a seguir.

a) Quais são as causas das dificuldades levantadas?

b) O que está e o que não está ao alcance da ação individual de cada um para superar essas dificuldades?

De modo geral, aquilo que se revela maior que o indivíduo e está enraizado na sociedade tem explicação histórica. Isso significa que são questões que evoluem com a história. O entendimento delas é complexo, porque a sua origem está relacionada ao modo como uma sociedade se organiza, bem como a suas transformações. Portanto, para entender as questões sociais, é necessário relacioná-las com a sociedade em cada momento histórico.

É possível pensar: Os problemas de uma comunidade indígena são diferentes daqueles enfrentados por trabalhadores urbanos no mundo atual? E os desafios que os trabalhadores brasileiros encon-tram no século XXI são os mesmos que encontravam tempos atrás? Será que existem muitas diferenças entre um trabalhador brasileiro e um alemão ou um japonês?

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4. Agora, responda às questões a seguir:

a) Como você acha que era o trabalho no Brasil há 50 anos? Como eram as condições de trabalho? A grande parte dos trabalhado-res tinha carteira assinada? Havia mais ou menos trabalho na indústria?

b) E como são essas caraterísticas do trabalho nos dias atuais?

c) Quais são as principais diferenças entre as características do trabalho nesses dois períodos?

A dimensão histórica do trabalho

Os problemas de uma sociedade estão relacionados às suas características históricas. Como o Brasil atual é um país capitalista, muitas de suas questões estão ligadas às características do capitalismo. Considerado um país “em desenvolvimento”, diversos problemas brasileiros têm relação com as desigualdades sociais.

As características históricas de uma sociedade estão em perma-nente mudança. No entanto, a velocidade e a direção em que essas mudanças ocorrem não dependem da ação de cada indivíduo. Apenas a ação da sociedade pode alterar o rumo da história. E como o indi-víduo participa dessa ação social? Ele interfere na história quando se organiza coletivamente para a defesa de algum interesse social. É verdade que existem os líderes, mas a atuação deles só tem resultado quando representa os interesses de um coletivo.

Você sabia que o Brasil é também considerado um país “emergente”?

Em 2011, o País ocupou o 6o lugar na economia mundial.

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Como as pessoas têm interesses diferentes, formam-se organiza-ções sociais que defendem objetivos que, com frequência, se chocam. De modo geral, é possível dizer que uns pressionam por mudanças, enquanto outros defendem a permanência de uma situação social. A evolução dessa disputa ao longo do tempo é o que determina a dire-ção e a velocidade que a história toma: o quanto ela muda e o quanto ela se conserva.

Toda ação é política. A disputa pelo rumo da mudança histórica é o que certos historiadores chamam de política.

Atividade 2 Conflitos sociais e política

1. Traga para a sala de aula jornais ou revistas.

2. Em grupo, selecionem e recortem notícias a respeito de conflitos sociais. Em seu caderno, anotem as seguintes informações: o título, o autor e a fonte de cada notícia (o nome da revista ou do jornal e a data de publicação).

3. Que conflitos sociais o grupo identificou? Quais as organizações envolvidas? Elas são atuantes? De que modo?

4. Organizem uma apresentação sobre o que descobriram com base nas notícias e discutam em sala o resultado da pesquisa.

5. Na entrada do prédio da Organização das Nações Unidas (ONU), na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América, encon-tra-se a seguinte frase: “Se o povo liderar, as lideranças seguirão”.

O que essa frase quer dizer? Discuta com seus colegas e registre, a seguir, as conclusões da turma.

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Atividade 3 O que é política?

1. Leia o texto a seguir.

Muitas pessoas consideram que política é sinônimo de eleições e de partidos. Essa é uma parte da política, mas não é o todo. Podemos dizer que toda ativi-dade humana que tem um alcance social, e não apenas particular, possui uma dimensão política. Por exemplo: um diário que uma adolescente escreve é um assunto particular, mas a publicação desse mesmo diário como um livro traz uma dimensão política. Mesmo que o livro não fale diretamente de política, ele traz uma visão de relações humanas, e isso tem implicações políticas. Desse modo, ao falar de relações afetivas, a obra poderá revelar, entre outras coisas, a visão que a autora tem do papel da mulher na sociedade.

Portanto, mesmo que o objetivo de uma atividade social não seja direta-mente político, ela representa um ponto de vista social. E, nesse sentido, sempre defende a mudança ou a permanência de alguma situação social.

2. Escreva com suas palavras o que você entendeu sobre o texto.

3. Agora, pense e escreva alguns exemplos de atividades políticas que não sejam relacionadas a eleições.

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Voltando ao tema “trabalho”...

O desemprego é um problema social. Isso significa que ele tem, ao menos, duas dimensões:

• histórica, relacionada à sociedade em que vivemos; e

• pessoal, ligada às dificuldades que cada trabalhador encontra para superar esse desafio.

Em sua dimensão histórica, o desemprego pode ser enfrentado cole-tivamente, por meio da atuação política. Enquanto isso, aqueles que pro-curam um emprego se deparam com uma série de obstáculos que não podem ser superados mediante sua ação imediata ou individual: o uso da tecnologia como forma de demissão em massa; a não redução da jor-nada de trabalho; o fechamento de uma fábrica que se instala em outra cidade com o objetivo de reduzir custos ou impostos, incentivado pela guerra fiscal; a escassez de terra para o pequeno trabalhador rural etc.

Todos esses são exemplos de problemas que afetam a situação do emprego no Brasil, mas que não podem ser combatidos individual-mente pelo trabalhador.

Mesmo questões que aparentemente estão ao alcance de uma solução individual apresentam uma dimensão histórica. É comum ao trabalha-dor, quando está à procura de emprego, defrontar-se, por exemplo, com: muitos concorrentes para determinadas vagas; experiência profissional como condição para obtenção de trabalho; exigência de determinado nível de escolaridade.

Esses e outros requisitos revelam um desequilíbrio entre o número daqueles que buscam trabalho e a quantidade de empregos oferecidos. Essa situação acaba, muitas vezes, fortalecendo alguns valores na socie-dade, como a competitividade, em lugar da cooperação. Se o trabalha-dor vê seu colega como um “concorrente”, isso pode enfraquecer o sen-timento de coletividade. Essa situação tem origem na forma como se organiza o trabalho no capitalismo, uma realidade dominante no mundo contemporâneo, que não é exclusiva do Brasil.

Entretanto, é importante lembrar a existência das cooperativas. Regulamentadas pela Lei federal no 5.764, de 16 de dezembro de 1971, elas são associações de pessoas com interesses comuns. Orga-nizadas democraticamente, todos os seus membros podem participar livremente, respeitando-se direitos e obrigações de cada um. Uma característica importante é a prestação de serviços sem fins lucrati-vos, o que as diferencia das empresas capitalistas comuns.

Guerra fiscalÉ uma disputa entre municípios ou entre Estados, na qual cada um busca incentivar as empresas a se instalarem em seus territórios. Os incentivos variam, sendo a isenção de impostos a prática mais comum. Mas eles podem envolver até mesmo a oferta da infraestrutura requerida pela empresa, utilizando dinheiro público. Uma das consequências da guerra fiscal é que o setor público abre mão de importantes recursos financeiros originados dos tributos (impostos, taxas e contribuições) em troca de geração de empregos diretos e/ou indiretos na iniciativa privada.

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Atividade 4 Mercado de trabalho

1. Leia atentamente o anúncio a seguir. Depois, responda às ques-tões propostas.

ANÚNCIO DE VAGAFAXINEIRO

CANDIDATE-SE A ESTA VAGAVaga: 1Cidade: SÃO PAULOEmpresa-Nome: SPA1Empresa-Descrição: Spa de tratamentos, terapias e banhos.

Descrição:• Atuar na limpeza de áreas comuns e de circulação, incluindo vestiá-rios, piscinas e demais dependências da empresa.

Exigências ou requisitos:• Experiência em limpeza de pisos, janelas e uso de lavadoras de alta pressão.• Ensino Médio completo.• Curso de limpeza e manutenção de piscinas e/ou higienização de ambientes.

Observações:• Salário: R$ 700,00• Bene�ícios: Vale-transporte• Regime de contratação: CLT • Horário: Escala 6 x 1, horário a combinar.• Informações adicionais: Residir próximo ao local de trabalho – Centro.

a) O que você acha das exigências feitas pela empresa contratante?

b) Por que, na sua opinião, a empresa pede Ensino Médio completo?

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Embora seja anunciado como um benefício, é bom lembrar que o vale-transporte é um direito do trabalhador contratado no regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) garantido pela Lei federal no 7.418, de 16 de dezembro de 1985.

A partir dessa conquista, foi possível a ampliação dos direitos de ir e vir de idosos, portadores de deficiências físicas, gestantes, pessoas obesas e estudantes. Cada um desses casos confere vantagens específicas a seus integrantes.

Na cidade de São Paulo, por exemplo, trabalhadores e pessoas que não se enqua-drem nos casos citados podem utilizar Bilhete único. Com ele, é possível realizar quatro viagens de ônibus dentro do prazo de três horas, pagando-se apenas uma única tarifa. Com isso, trabalhadores que moram longe do local de trabalho conseguem economizar com os gastos de transporte.

No entanto, não são somente essas conquistas relativas ao direito fundamental de ir e vir que devem ser exigidas. A melhoria dos transportes públicos também é um direito a ser perseguido por todos os cidadãos. Exigir melhorias na qualidade de vida é uma postura esperada de qualquer pessoa que queira exercer sua plena cidadania.

2. Imagine que, após dois meses da publicação do anúncio, o empre-gador encontre apenas dois candidatos à vaga. O primeiro não cursou o Ensino Médio, não tem experiência em limpeza e uso de lavadora de alta pressão, nem fez curso de limpeza e manutenção de piscinas. Mora na periferia, mas está interessado no trabalho. O segundo candidato preenche todos os requisitos, mas só aceita o posto se lhe pagarem o dobro: R$ 1 400,00.

Levando em conta seu conhecimento sobre o mercado de trabalho brasileiro, qual dos candidatos você acha que a empresa contrataria? Por quê?

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Ao longo desta Unidade e das próximas, serão sugeridos diversos filmes relacionados aos temas abordados em seus estudos. Ainda que não possam ser exibidos em sala de aula, estas indicações são um convite para aprofundar o contato com a história de um modo diferente, que não seja a leitura.

No entanto, os filmes devem ser assistidos com um olhar atento. Mesmo as produções que se propõem a recontar um evento histórico não o fazem de um modo imparcial. Afinal, um filme também é uma forma de contar uma história. E, como toda forma de narrar uma história, ele expressa o ponto de vista de quem a conta.

A seguir, você encontra a lista de alguns filmes que envolvem o tema do trabalho no mundo de hoje e que estão disponíveis em locadoras de filmes ou na televisão.

• CentraldoBrasil(direção de Walter Salles Jr., 1998).

• Ohomemquecopiava(direção de Jorge Furtado, 2002).

• Ométodo(Elmétodo,direção de Marcelo Piñeyro, 2005).

• Outudoounada(Thefullmonty,direção dePeter Cattaneo, 1997).

Você estudou

O estudo da história não tem uma aplicação prática no sentido técnico da palavra, como um curso de computação pode ter, mas é fundamental para compreender a socie-dade em que vivemos. Olhando para o mundo levando-se em conta sua história, é possí-vel interpretar as possibilidades e os obstáculos à sua transformação.

Para fazer uma comparação: como um médico, a história nos ajuda a fazer um diag-nóstico dos problemas sociais. Como você sabe, um diagnóstico adequado é condição para tratar qualquer doença, mas não significa a sua cura. No caso da sociedade, como você pôde ver, o tratamento das questões sociais depende da política, e a política pode ter diferentes dimensões. Não se esqueça de que a política não é apenas partidária, mas possui um sentido mais amplo, conforme já ressaltado nesta Unidade.

Esta disciplina também ajudará você a compreender como o mundo e o trabalho, historicamente, transformaram-se até a atualidade, e como essa compreensão pode im-pulsionar mudanças na sociedade em que você vive. Assim, o estudo dos assuntos abor-dados neste Caderno apresentará uma dupla função: demonstrar os limites com os quais você poderá se defrontar na tentativa de resolução das questões sociais nos dias de hoje e, ao mesmo tempo, enfatizar que o mundo está sempre em mudança e que depende da relação entre os diferentes interesses sociais.

À percepção dos limites e também das potencialidades da mudança social chamamos formação da consciência histórica. Podemos dizer que uma pessoa que tem a noção de que os problemas sociais têm raízes históricas e estão em constante transformação desenvolveu uma consciência histórica.

Fica a dica

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Pense sobre

Você já assistiu a um dos filmes indicados nesta Unidade? De que forma o tema trabalho foi abordado? Você se identificou em algum momento com um dos personagens do filme? Se sim, de que forma?

A história pode “contar várias histórias”, ser produzida com base em várias perspectivas e, portanto, ser contada a partir de diversos pontos de vista. Esses filmes narram histórias de pessoas que sofre-ram dificuldades, em algum momento de suas vidas, relacionadas ou não aos seus trabalhos. Os diretores escolheram contar essas histórias de uma perspectiva que não a dos vencedores ou a dos heróis. Com relação aos estudos da história, você acha que existe esse tipo de en-foque? Em sua opinião, existiria uma história contada pelos vencidos?

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2 CaPitalismo, trabalho e soCiedade

Depois de refletir sobre o significado do estudo da história, seu primeiro objetivo será compreender o capitalismo. Dessa maneira, você poderá entender por que o mundo em que vivemos é capitalista.

Você começará o estudo sobre o capitalismo pela análise e com-preensão do modo como se organiza a produção na sociedade capi-talista atual. Ou seja, como se organiza o trabalho para produzir os bens e serviços que as pessoas consomem nesta sociedade.

Para isso, será tratado, inicialmente, o tema do trabalho. Em seguida, você poderá analisar as características principais do capita-lismo do ponto de vista do trabalho. Serão abordados, ainda, a rela-ção entre o modo como se organiza o trabalho e outros diferentes temas da vida em uma sociedade.

O trabalho

O que é trabalho? Qual é a característica do trabalho?

O homem começou a trabalhar quando quis transformar a natu-reza para atender às suas necessidades. Quando saiu para caçar ou para coletar frutos, estava trabalhando.

Qual é a diferença, porém, entre o trabalho dos homens e o tra-balho que fazem os animais? Afinal, os animais também realizam atividades para atender às suas necessidades de sobrevivência.

A diferença é que as necessidades humanas evoluem e, com elas, o seu trabalho. O homem tem a capacidade de transformar a natureza de maneira planejada, não apenas usando seu instinto. Como é capaz de planejar, pode desenvolver instrumentos que o ajudam a realizar um trabalho. Por causa desse planejamento, ele é capaz de fazer um trabalho que o ajudará a realizar outro de forma melhor. Em outras palavras, cria meios de trabalho.

A criação desses meios de trabalho é uma característica que dife-rencia o trabalho humano da atividade animal. O cientista e político estadunidense Benjamin Franklin (1706-1790) definiu essa característica

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afirmando que “o homem é um animal que faz ferramentas”. Sobre a diferença entre o trabalho humano e o dos animais, leia o que Karl Marx (1818-1883) escreveu:

Uma aranha realiza operações semelhantes às de um tecelão, e uma abelha pode envergonhar um arquiteto na construção de seus alvéo-los. Mas o que distingue o pior arquiteto da mais hábil das abelhas é que o arquiteto planeja a estrutura em sua imaginação antes de construí-la na realidade.

Fonte: MARX, Karl. Capital: A critique of political economy, vol. I. 1. ed. Moscou: Progress Publishers, 1887. Disponível em: <http://www.marxists.org/archive/marx/

works/1867-c1/index.htm>. Acesso em: 13 jan. 2012. Tradução: Eloisa Pires.

Para uma pessoa realizar um trabalho, são necessárias duas condi-ções: os meios de produção e o trabalho propriamente dito, a chamada força de trabalho.

São denominados meios de produção originais tudo o que o homem usa na forma como encontra na natureza, como a água, a madeira, o peixe e a própria terra. Quando uma pessoa realiza algum trabalho sobre esses meios de produção para utilizá-los em um novo processo produtivo, eles tornam-se matéria-prima.

A mesma madeira pode servir de lenha para um camponês ou ser matéria-prima para a fabricação de papel. No primeiro caso, ela é um objeto de trabalho, porque foi lenhada por trabalho humano no bos-que. Já no segundo caso, a madeira será uma matéria-prima, porque será empregada em um novo processo de trabalho.

Para transformar uma matéria-prima em produto, o homem emprega diversos instrumentos e recursos. Tudo o que o trabalhador utiliza para modificar seu objeto de trabalho de acordo com a finali-dade que planeja é denominado meio de trabalho.

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O processo produtivo é constituído pelos meios de produção (por exemplo, máquinas como os tratores) e o trabalho realizado pelo homem.

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Resumindo: os objetos e os meios de trabalho constituem meios de produção – matérias-primas, instrumentos e estruturas empregadas pelo homem para fabricar produtos. Mas o processo produtivo só se realiza quando for ativado pelo trabalho humano.

Atividade 1 O que é capitalismo?

1. Em grupo, discutam:

a) O que é capitalismo? E o que é mercadoria?

b) Vivemos em uma sociedade capitalista. Por quê?

As máquinas, a eletricidade para movê-las e um prédio para abrigar todo o material são alguns dos meios de trabalho necessários para a produção de papel.

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2. Organizem uma exposição de colagens com recortes de revistas.

Metade da classe, dividida em grupos, fará uma colagem com o tema capitalismo. A outra metade, também em grupos, fará uma colagem com o tema mercadoria.

3. Troquem os grupos!

Quando estiverem finalizadas, cada grupo que fez a colagem so-bre capitalismo se juntará a um grupo que fez a colagem sobre mercadoria. Os grupos apresentarão o seu trabalho para a turma. Observem diferenças e semelhanças entre as colagens. Existe rela-ção entre capitalismo e mercadoria?

Atividade 2 O trabalho humano

1. Relacione os termos às suas respectivas definições.

a) Meios de trabalho

b) Meios de produção originais

c) Força de trabalho

d) Matéria-prima

( ) Elementos naturais usa-dos pelo homem na forma como estão na natureza.

( ) Elemento da natureza em-pregado em um novo pro-cesso de trabalho.

( ) Trabalho humano.

( ) Instrumentos e recursos que modificam o trabalho e ajudam na realização de outro trabalho.

2. Qual das atividades a seguir necessita da menor quantidade de meios de trabalho? Por quê?

a) Fabricação de fibra óptica.

b) Produção de lã.

c) Montagem de automóvel.

d) Coleta manual de hortaliças.

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O capitalismo

Capitalismo é o modo como a produção e o trabalho estão orga-nizados em quase todos os países do mundo, hoje. A característica fundamental do capitalismo é transformar todos os bens produzidos em mercadoria. Isto é, em bens que devem ser vendidos e comprados mediante um preço determinado. Em uma sociedade na qual toda a produção é trocada por dinheiro, o trabalhador é também obrigado a conseguir uma remuneração em espécie para comprar o que precisa para viver. Mas como ele pode ganhar dinheiro?

Do ponto de vista do trabalho, o capitalismo é uma sociedade dividida em duas classes fundamentais: capitalistas e trabalhadores – empregadores e empregados. Os capitalistas são aqueles que detêm a propriedade dos meios de produção, ou seja, de tudo o que é necessá-rio para produzir mercadorias. Do outro lado, estão os trabalhadores, que dispõem de um único recurso para empregar na produção: sua força de trabalho.

Assim, os trabalhadores são levados a nego-ciar sua força de trabalho com aqueles que pos-suem os meios de produção. Como o capitalista depende dos trabalhadores para transformar os meios de produção em mercadorias para ter lucro e acumular riqueza, ele precisa comprar força de trabalho. Assim, o trabalhador vende sua força de trabalho e o que recebe pela venda é o salário.

A busca pelo lucro é o motor do capitalismo, e a empresa privada é sua unidade básica: todos os aspectos da produção estão subordinados a essa finalidade máxima. O sistema capitalista, cujo motor não pode parar, é complexo e realiza diferentes funções sociais: produção, circulação e consumo da riqueza. Assim, pode acontecer de uma empresa desrespeitar as leis trabalhistas, falhar em cumprir metas de responsabilidade social ou parar de patrocinar um evento cultural, mas, na lógica do sistema capitalista, ela jamais pode deixar de gerar lucro. Caso contrário, fechará suas portas.

Qualquer empresa está sujeita à falência, por diversos motivos. Entretanto, se a dificuldade em lucrar atingir simultaneamente a maior parte das empresas, ocorrerá uma crise capitalista. Quando isso acontece, os capitalistas recorrem a diferentes estratégias para recuperar a lucratividade dos seus negócios, como: redução de custos; demissão; mudança de cidade, Estado ou país; alteração na tecnolo-gia; entre outras.

Os trabalhadores são essenciais para a manutenção do sistema capitalista.

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Atividade 3 Capitalismo e mercadoria

1. Você e seus colegas realizaram uma atividade sobre o que consi-deravam ser o capitalismo. Agora, retome o debate com base nos estudos desta Unidade. Sua opinião mudou? Por quê?

2. Em grupo, revejam e ampliem as respostas anteriores:

a) O que é capitalismo?

b) O que é mercadoria?

c) Vivemos em uma sociedade capitalista. Por quê?

3. Agora, individualmente, elabore um pequeno texto sobre o tema O capitalismo e a mercadoria.

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Atividade 4 Capitalismo como sistema

1. Em grupo, observem a ilustração e discutam as questões:

a) Quais são as semelhanças entre o sistema capitalista e o corpo hu-mano?

b) O que equivale à cabeça do siste-ma? Aos membros? Ao coração? Ao sangue?

c) Quais outros órgãos do corpo hu-mano têm semelhança com o siste-ma capitalista?

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d) Quais são as “doenças” que afetam o sistema capitalista?

2. Apresentem à turma as conclusões a que chegaram.

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Se o lucro é o motor do capitalismo, como a empresa privada gera lucro?

O trabalho é a fonte que gera toda riqueza, porque tem a capaci-dade de transformar os meios de produção em um novo bem ou ser-viço. Mesmo em uma linha de produção automatizada são necessários trabalhadores para operar e fazer a manutenção das máquinas.

O capitalista compra no mer-cado tudo o que precisa para pro-duzir uma mercadoria: os meios de produção (matérias-primas, máqui-nas, equipamentos) e a força de tra-balho. No entanto, apenas reunir esses elementos não gera um valor novo. Se alguém juntar farinha, fer-mento, batedeira e um padeiro na mesma sala, não ganhará dinheiro com isso, a menos que o padeiro tra-balhe. Nesse caso, produzirá diversos pães, cujo valor será superior à soma dos seus ingredientes, porque houve a incorporação da força de trabalho.

Em outras palavras, o trabalha-dor produz valor somente quando transforma os meios de produção em mercadoria. É como se a sua força de trabalho desse vida aos meios de produção e se incorporasse ao bem produzido. O trabalho, por-tanto, dá valor ao artigo fabricado. E, por haver trabalho incorporado, esse valor não será igual à soma dos meios de produção utilizados; será sempre maior: o trabalho gerou um novo valor.

E o que acontece com esse novo valor?

O trabalhador recebe uma parte na forma de salário. A outra parte converte-se no lucro. Pensando em termos do tempo de trabalho, é como se a jornada do trabalhador fosse dividida em dois segmentos: um deles é destinado à produção da riqueza que pagará seu salário e o outro gerará a riqueza que é a fonte do lucro do dono da empresa.

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Atividade 5 O samba do operário

Leia atentamente a letra da canção O samba do operário, inter-pretada por Cartola (1908-1980).

Universal Music Publishing MGB Brasil Ltda.

Abafa-se a voz do oprimidoCom a dor e o gemidoNão se pode desabafar

Trabalho feito por minha mãoSó encontrei exploraçãoEm todo lugar

O samba do operário

Alfredo Português/Cartola/Nelson Sargento

Se o operário soubesseReconhecer o valor que tem seu diaPor certo que valeriaDuas vezes mais o seu salário

Mas como não quer reconhecerÉ ele escravo sem serDe qualquer usurário

1. O que você compreendeu da mensagem desse samba?

2. Em grupo, discutam a opinião de cada um de vocês sobre essa canção.

3. Organizem uma apresentação criativa para a turma.

Como, no capitalismo, a fonte básica do lucro é a diferença entre o que o capitalista paga ao trabalhador e o valor produzido (descon-tados o salário e os custos de produção)...

Lucro = valor do bem produzido – ( salário + custos de produção )

... um dos recursos para aumentar o lucro ou recuperá-lo em momen-tos de crise é pressionar os ganhos dos trabalhadores, por meio da redução da massa salarial (que é a soma de todos os salários que uma empresa paga no ano), da intensificação do trabalho etc.

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Quando se estuda a história, percebe-se que nem sempre os tra-balhadores aceitaram essas imposições dos empregadores. Por essa razão, pode-se afirmar que a evolução do capitalismo não é natural, mas um processo social, que depende da relação entre capitalistas e trabalhadores em cada contexto histórico.

Atividade 6 Crise e trabalho

1. Leia atentamente a notícia a seguir.

Com crise, bancos podem cortar mais de 100 mil vagas

GENEBRA – Os maiores bancos vol-tam a sofrer com a crise, recorrem a empréstimos para manter a liquidez de suas operações e promovem demis-sões para tentar reequilibrar suas con-tas. Em 2011, as projeções apontam que mais de 100 mil pessoas serão demitidas no setor financeiro inter-nacional, no que promete ser o pior ano para os bancos desde a quebra do Lehman Brothers, em 2008. Nesta semana, as ações dos bancos sofreram as maiores perdas em três anos.

Nos últimos dias, outro sinal preo-cupante foi registrado. O Banco Central Europeu (BCE) indicou que emprestou em menos de uma semana 7,7 bilhões

a mais para os bancos comerciais euro-peus para garantir sua liquidez.

Nem mesmo os bancos suíços, conhecidos por sua estabilidade, foram poupados. No caso do UBS, os planos apontam para uma redução de 5 mil trabalhadores – quase 10% do total de pessoal – para permitir uma econo-mia anual de US$ 1,2 bilhão. Ontem, as ações do Credit Suisse chegaram a um valor inferior ao que foi registrado nos dias da quebra do Lehman Brothers.

Segundo estudo da Bloomberg Indus-tries, os 50 maiores bancos do mundo já demitiram 60 mil pessoas desde o início do ano. Pelo planejamento anunciado, cortarão mais 50 mil. [...]

CHADE, Jamil. Com crise, bancos podem cortar mais de 100 mil vagas.OEstadodeS.Paulo. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/neg%C3%B3cios,com-crise-

bancos-podem-cortar-mais-de-100-mil-vagas,79550,0.htm>. Acesso em: 13 jan. 2012.

Notícia 1: Mundo

a) Segundo a notícia, quantas demissões foram projetadas pelos bancos em 2011?

O EstadO dE s. PaulO – Economia & NegóciosSão Paulo, 10 de agosto de 2011

Jamil Chade, Correspondente – AGêNCIA ESTADO

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2. Leia esta outra notícia:

Rio de Janeiro, 7 de dezembro de 2008 O GlObO – Abalo Global

Crise aumenta demissões, e desemprego no Brasil pode atingir média de 9% em 2009

Geraldo Doca

As dispensas e as férias coletivas anunciadas nas últimas semanas não deixam dúvidas de que a crise global já atingiu fortemente a economia real brasileira e a maior vítima são os traba-lhadores da indústria, o chamado chão de fábrica. De acordo com matéria do repórter Geraldo Doca, publicada no jornal O Globo deste domingo, o movi-mento vai continuar, encerrando a fase de quatro anos de bonança do mercado de trabalho.

Segundo a matéria, as projeções apontam elevação forte da taxa de desemprego, que encerrou outubro a 7,5% e deverá registrar percentual médio de até 9% no próximo ano. Isso significa que, em 2009, mais 365 mil brasileiros vão procurar uma vaga, ele-vando a 2 160 milhões o contingente de desempregados nas seis maiores regiões metropolitanas do país.

Diante da deterioração de vários indicadores macroeconômicos – como a queda na produção industrial –, já se estima que o Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzi-dos no país) poderá apresentar retração no último trimestre do ano, na compa-ração com o período anterior. Isso ante-cipa uma desaceleração severa que era esperada apenas para o período entre janeiro e março.

Economistas já começam a elevar suas projeções de desaceleração do aque-cimento no mercado de trabalho bra-sileiro. No próximo ano, o desemprego deverá subir progressivamente. Além do recuo no número de vagas no Brasil em 2009, a matéria confirma que a redução do emprego já começou este ano, desde outubro, mais cedo do que se esperava, em um mês de crise aguda, quando as demissões foram generalizadas.

Notícia 2: Brasil

DOCA, Geraldo. Crise aumenta demissões e desemprego no Brasil pode atingir média de 9% em 2009. OGlobo, 7 dez. 2008.

a) Segundo a notícia, quantas pessoas perderam o emprego no Brasil, em razão da crise de 2008 até aquele momento?

b) Ainda de acordo com o texto, qual seria o número total de desempregados no Brasil, segundo a estatística?

3. Compare as duas notícias:

a) Quais são as semelhanças no impacto da crise para os traba-lhadores no mundo e no Brasil?

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b) Por que você acha que as demissões acontecem?

c) Qual é sua opinião sobre demitir trabalhadores em um con-texto de crise? Por quê?

Organização do trabalho e da sociedade

A forma como se organiza o trabalho em uma sociedade repercute em todos os aspectos da vida: nas relações sociais, culturais, políticas e pessoais. O trabalho no capitalismo é caracterizado por competição, eficiência e disciplina, deixando sua marca em todas as instituições do cotidiano, inclusive na escola, na família e no Estado. Essa influência aconteceu por causa da importância que o trabalho adquiriu na orga-nização da vida humana.

As relações de trabalho estão em permanente mudança, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, tanto do ponto de vista das tecnologias como das suas formas de organização. É importante lembrar que o trabalho possui tanto aspectos técnicos como cultu-rais, que são inseparáveis.

Você sabia que a palavra “Estado” pode ter significados diferentes?

Estado é o conjunto das instituições que administram uma nação. O governo, as Forças Armadas e as empresas estatais, entre outras instituições, constituem o Estado brasileiro. Mas Estado também é cada uma das divisões geográficas e político- -administrativas de uma nação. Por exemplo: o Estado de São Paulo possui um território delimitado e conta com um governador e deputados.

Uma cena como essa, que retrata o trabalho escravo, jamais seria admitida nos tempos atuais. Caso um serviço dessa natureza fosse prestado, seria certamente mediado por uma relação assalariada, de prestação de serviço ou algo do tipo, e jamais como uma atividade submissa e imposta àqueles que a executam. [Jean-Baptiste Debret. Retorno,àvila,deumproprietáriodechácara, 1835. Litografia da obra ViagempitorescaehistóricadoBrasil. Versão colorizada. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro (RJ).]

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De imediato, é possível apontar que as dificuldades enfrenta-das pelo brasileiro para conseguir trabalho estão marcadas pela realidade histórica em que se vive. Isso significa que um peda-ço desse desafio não depende da capacidade individual de cada trabalhador. Em alguma medida, ele não tem responsabilidade por sua situação, pois o desemprego tem raí zes históricas mais profundas e complexas do que qualquer história de vida.

Do mesmo modo, ainda que alguém consiga trabalho, solu-cionando o seu problema individual, o desemprego continuará atingindo milhões de outros trabalhadores enquanto não houver uma ação coletiva que mude essa história.

De qualquer forma, na esfera individual, há muitas coisas que alguém que está procurando emprego pode fazer. Uma delas é matricular-se em cursos de qualificação profissional gratuitos, ofertados pelo governo. Outra é entrar em contato com o maior número possível de pessoas para divulgar suas intenções de que está buscando trabalho, pois, assim, maiores serão as chances de ficar sabendo de alguma vaga aberta em sua área de atuação.

Tecnicamente, as condições de trabalho em todo o mundo foram sendo modificadas pelo uso de novas tecnologias, como a energia elé-trica. Essa invenção transformou profundamente a maneira como as mercadorias são produzidas. Culturalmente, a condenação moral da escravidão, por exemplo, serve para ilustrar uma mudança que aju-dou a transformar definitivamente as relações de trabalho.

Contudo, mesmo tendo havido melhorias técnicas e culturais nas relações de trabalho, não significa que os trabalhadores atuais tenham superado todas as dificuldades do cotidiano dos trabalhadores de antigamente, nem que não tenham surgido novas dificuldades.

Ou seja: as condições de trabalho de qualquer indivíduo estão mar-cadas pelo momento histórico em que ele nasce, quer do ponto de vista cultural, quer técnico. O trabalho escravo, por exemplo, é inconcebível sob qualquer circunstância técnica, e não se pode desconsiderar a diferença que a energia elétrica trouxe para a produção.

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Atividade 7 Como o capitalismo interfere na minha vida?

Imagine a seguinte situação: novos trabalhadores foram contra-tados na empresa onde você trabalha. Depois de um tempo, uma crise econômica se abateu sobre o Brasil, e a empresa foi obrigada a demitir metade de seus funcionários. Ela começará as demissões pelos empregados mais antigos, pois são os que ganham maiores salários.

Em grupo, discutam e registrem:

1. Qual é a opinião do grupo sobre a decisão da empresa?

2. De que forma vocês poderiam agir para evitar a demissão?

3. Na opinião do grupo, essa situação afeta o relacionamento dos antigos funcionários com os novos? Por quê?

Comparando aspectos básicos do feudalismo e do capitalismo

Atualmente, a forma como se organiza o trabalho no Brasil e na maioria dos países do mundo está condicionada pelo capitalismo. Mas nem sempre foi assim.

Para dar uma noção concreta das mudanças que ocorreram com o capitalismo, vale mencionar alguns assuntos que serão tratados com detalhes nas próximas unidades. Um rápido contraste entre o feuda-lismo e o capitalismo ajudará a ilustrar como a evolução das relações de trabalho caminhou lado a lado com mudanças da própria mentalidade de uma sociedade.

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A sociedade feudal na Europa era dividida por critérios sociais completamente distintos da nossa, que valorizavam a condição de nascimento e a religião. As relações de trabalho naquela época não eram capitalistas nem escravas: o que existia era a servidão, que será estudada na próxima unidade.

Vale dizer, por agora, que os servos eram responsáveis por todo o trabalho braçal e que eles jamais pertenceriam à nobreza, pois essa condição era determinada pelo nascimento. Aos nobres atribuía-se o dever de proteção aos servos.

Por quase todo o tempo que durou o feudalismo, praticamente não houve trabalho assalariado, tal como o conhecemos hoje. A relação de trabalho baseava-se em uma série de obrigações dos ser-vos para com os seus senhores, entre as quais trabalhar na terra dos nobres e pagar tributos em forma de produtos.

Essas relações econômicas que envolviam a prestação de traba-lho estavam misturadas com as relações religiosas, na medida em que as ideias que justificavam essa divisão social eram formuladas pela Igreja. Assim, por maiores que fossem as diferenças entre os grupos sociais que compunham a sociedade feudal, eles estavam uni-dos pelo cristianismo.

Na Idade Média, o mundo ocidental era dividido entre os fiéis (os adeptos do cristianismo) e os infiéis (aqueles que não eram adeptos do cristianismo). Como resultado dessa divisão, a sociedade medie-val produziu guerras expansionistas contra os infiéis que habitavam as margens do continente europeu, conhecidas como cruzadas.

O capitalismo formou-se inicialmente na Europa e aos poucos estendeu-se para o resto do mundo. Do ponto de vista das relações de trabalho, sua característica principal é o assalariamento (o tra-balho pago em dinheiro), que é a base das relações de trabalho no capitalismo. O critério de discriminação social também mudou com esse sistema, não sendo mais hereditário ou religioso, mas econômico. No Brasil de hoje, por exemplo, isso significa dizer que um cobrador de ônibus permitirá a viagem de qualquer pessoa independentemente de cor, sexo ou religião, desde que ela pague a passagem.

No feudalismo era diferente. A identidade social de um indivíduo estava fortemente marcada pela religião. Portanto, pessoas de reli-giões distintas dificilmente conviveriam em um mesmo espaço. Isso não significa, contudo, que no capitalismo a religião tenha perdido a sua importância, mas sim que ela passou a ser um assunto privado.

NobrezaClasse de pessoas que, por nascimento ou concessão do soberano, gozam de certos privilégios ou possuem títulos que as diferenciam das demais pessoas. No feudalismo, a nobreza era privilegiada, assim como o clero, pois recebia dos reis muitas regalias, como terras e isenção de tributos.

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Você estudou

Nesta Unidade, você pôde observar que o capitalismo é o modo dominante da organização da produção e do trabalho no mundo atual. Sua característica principal é uma tendência a transformar as relações sociais em mercadorias. Na sociedade capitalista, a produção da riqueza e o próprio trabalho conver-tem-se em mercadoria. Seu preço, negociado com o capitalista, é o salário do trabalhador.

O motor do capitalismo é o lucro. Quando há problemas graves de lucratividade, ocorre uma crise. O desfecho de cada crise depende das relações de poder na sociedade, em uma rea-lidade em que o interesse dos capitalistas e o dos trabalhadores quase nunca coincide.

No capitalismo, a mercantilização que caracteriza as rela-ções de trabalho está presente em todas as dimensões da vida social. Embora isso não signifique que tudo seja mercadoria, é importante constatar que existe uma relação entre a forma como se organiza o trabalho e os valores dominantes em uma sociedade.

Pense sobre

Pense em uma sociedade indígena isolada do mundo moderno. Os índios trabalham? Se essa sociedade não conhece o dinheiro, como o trabalho é pago?

Pense agora na sociedade em que você vive. A chamada dona de casa trabalha?

Discuta em sala a diferença entre trabalho pago e trabalho não pago.

Em nossa sociedade, qual é a forma de trabalho mais comum?

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3 o feudalismo e a transição Para o CaPitalismo

Depois de discutir e perceber que a sociedade em que você vive é capitalista, você pode se perguntar: O capitalismo sempre existiu? A resposta é não.

Então, como surgiu o capitalismo? Desde quando vivemos nesse sistema ou modo de produção?

Para responder a essas perguntas, você vai estudar, nesta Unidade, a organização social anterior ao capitalismo na Europa: o feudalismo. O objetivo será duplo:

• entender como funcionava o feudalismo e como se organizava a sociedade naquela época; e

• perceber os aspectos que foram alterados e aqueles que permane-ceram ao longo da história.

Traçando esse caminho, será possível compreender que a socie-dade na qual você vive também está mudando, mesmo que não se saiba exatamente em qual direção ela segue.

Você estudará sobre a Europa, porque foi nesse continente que o capitalismo foi formado. E, a partir de lá, ele se espalhou pelo mundo.

Com essas informações, você já pode traçar sua rota para esta Unidade. Assim, o trajeto que você fará tem como ponto de partida o feudalismo e como ponto de chegada a Revolução Industrial, ou seja, o início do capitalismo. Em termos geográficos, o centro dessa história será a Europa.

Do ponto de vista do tempo, verá que a passagem do feudalismo para o capitalismo não foi um acontecimento do dia para a noite, mas um longo processo que durou séculos. Assim, seu estudo se dividirá em três partes:

• o feudalismo na Europa;

• a longa transição do feudalismo para o capitalismo na Europa;

• a consumação do capitalismo na Europa e no mundo.

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Esses assuntos, em uma linha do tempo, podem ser organizados da seguinte forma:

• o feudalismo é muitas vezes identificado com a Idade Média, período da história europeia entre o fim do Império Romano do Ocidente, no século V, e o início das descobertas marítimas, no século XV;

• no entanto, a passagem do feudalismo para o capitalismo se estende do século XV até a Revolução Industrial, no final do século XVIII (Idade Moderna). Nesse período, conviveram elementos de ambos os modos de produção;

• a partir do século XIX, já na Idade Contemporânea, considera-se que parte importante da Europa é capitalista. De lá, o capitalismo se espalhou para o mundo.

Você sabia que o termo “média” é utilizado no sentido de “estar no meio”?

Os historiadores adotaram o termo Idade Média para referir-se à sociedade europeia existente entre a Antiguidade clássica (o mundo grego e romano) e o mundo moderno, quando se inicia a passagem para o capitalismo. Usar o termo Idade Média é o mesmo que dizer “Idade ou Europa Medieval”.

Conforme essa divisão da história em quatro “idades” (Antiga, Média ou Medieval, Moderna e Contemporânea), a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, que serão estudadas na Unidade 4, inauguram a era mais recente, a Idade Contemporânea.

Os historiadores debatem intensamente o alcance geográfico e a duração do feudalismo. Alguns acham difícil precisar o que era feudalismo: restringem suas características a uma área da França atual, durante alguns séculos. Outros defen-dem que houve feudalismo nas Américas, implantado pelos europeus no contexto das navegações, e até mesmo no Japão. Neste material, assume-se que as caracte-rísticas do feudalismo, analisadas nas próximas páginas, prevaleceram na Europa Ocidental durante os séculos genericamente identificados como Idade Média, mas se estenderam até a Idade Moderna. Houve variações no tempo e no espaço, mas foi a crise das determinações gerais da sociedade medieval que abriu espaço para a formação do capitalismo.

Para iniciar...

1. Sobre o cotidiano durante o feudalismo, debata em grupo:

a) Você já assistiu a filmes que têm castelos?

b) Quem morava nos castelos?

c) Como você imagina que era a vida dos moradores desses cas-telos? Eles trabalhavam?

d) Quem construía os castelos? Onde essas pessoas moravam?

e) Que atividades econômicas existiam naquela época?

Passagem do feudalismo para o capitalismo

Consumação do capitalismo

XIV XV XIX

Passagem do feudalismo para o capitalismoCrise do feudalismo

Feudalismo

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2. Com base nas discussões levantadas no exercício anterior, elabore em seu caderno um texto contando a história desse período, tal como você imagina que era.

3. Com os elementos dos textos que forem indicados pelo professor, a turma poderá organizar uma dramatização sobre como era a vida das pessoas da época.

Atividade 1 A vida no feudalismo1. Em grupo, leiam o texto a seguir.

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REDUTO NOBRE Lar do senhor feudal e de sua família. O senhor era dono das terras, dos instrumentos de trabalho e de boa parte da produção do feudo. Ele defendia militarmente a propriedade.

TERRAS DO SENHOR A produção do “manso senhorial” pertencia ao senhor. Toda a labuta cabia aos servos, obrigados a trabalhar alguns dias da semana nessa área (quase metade das terras cultiváveis).

CANTEIRO DOS POBRES No “manso servil”, a terra também pertencia ao senhor feudal, mas aqui os servos podiam trabalhar em benefício próprio, desde que pagassem os impostos devidos.

ZONA NEUTRA Os pastos e os bosques – as “terras comunais” – eram de posse coletiva, usados tanto em benefício do senhor quanto dos servos. Aqui se praticava a caça e se extraía madeira.

ABRIGO PLEBEU Aqui viviam os servos, a maior parte da população feudal. Eram a mão de obra local, altamente explorados e dependentes da estrutura e da proteção disponibilizadas pelo senhor.

LAVOURA SANTA Quando não era ela mesma a dona do feudo – o que não era raro –, a Igreja Católica costumava ter a própria porção das plantações, cedida pelo senhor feudal.

CASA DE DEUS A Igreja Católica era a mais influente instituição do período. Ela monopolizava o acesso à cultura e legitimava a existência das camadas sociais por meio da doutrina religiosa.

O feudoA palavra feudalismo vem de “feudo”. Um feudo era uma grande propriedade de terra, que servia como o

centro da política no sistema feudal. Na Europa medieval, não havia Estados ou países como os que conhece-mos atualmente. O poder estava dividido entre milhares de feudos, e a autoridade máxima era exercida pelos donos dessas terras: os senhores feudais.

Então, no feudalismo:

Fonte: Guia do Estudante História Vestibular + Enem 2011. 4. ed. São Paulo: Abril, 2010.

Veja como era a estrutura de um feudo, quem vivia onde e como se dava a produção

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A base da economia feudal era agrária. A maioria dos trabalhadores vivia no campo e trabalhava na terra. Como o feudalismo prevaleceu durante séculos na Europa, isso significou que, por muito tempo, houve mais gente trabalhando no campo e vivendo nas suas aldeias do que nas cidades.

As cidades que havia na Europa durante o feudalismo eram muito pequenas se comparadas com as atuais. Foi apenas com a Revolução Industrial (que será estudada na Unidade 4), ocorrida há cerca de 200 anos, que o mundo foi se urbanizando. Portanto, considerando-se a história desde o começo da humanidade, a vida em grandes cidades é algo muito recente.

Cada feudo tinha um castelo, onde os nobres moravam; uma igreja, que representava o poder espiritual naquela sociedade; e uma aldeia, onde viviam os servos, que trabalhavam as terras do senhor feudal. A socie-dade feudal seguia uma rígida divisão social em três estamentos: nobreza (classe da qual faziam parte os senhores feudais), clero (a Igreja) e servos (trabalhadores da terra).

O castelo fortificado, onde morava a família do senhor feudal, geralmente era construído na parte mais alta do feudo. Abaixo e ao redor dele ficavam as terras produtivas, nas quais, em troca da proteção conferida pelo senhor e do direito de poderem trabalhar em suas próprias terras, os camponeses dedicavam dias de trabalho por ano, além de dividirem com o senhor feudal parte do que produzissem.

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Nas sociedades estamentais, a mobili-dade social era bastante reduzida. As pes-soas nasciam em determinada condição e permaneciam nela para o resto de sua vida. Ou seja, o nascimento determinava a posição social das pessoas. Quem nascia nobre mor-reria nobre; assim como quem nascia servo morreria servo. Quando se diz que os nobres têm “sangue azul”, é uma forma de dizer que o lugar deles na sociedade está assegurado pelo parentesco, pelo sangue (consanguini-dade): como não é possível trocar de famí-lia, a posição social também não pode ser mudada. Sendo assim, um servo não se tor-naria um nobre, assim como um nobre jamais perderia sua condição social.

Do ponto de vista econômico, a nobreza e o clero tinham uma característica em comum: eram sustentados pelo trabalho da maioria da população, os servos.

Em termos da produção, os feudos eram divididos em três partes: o domínio, o manso servil e a terra comum.

O domínio era formado pelas terras cuja produção destinava-se exclusivamente ao senhor feudal e seus dependentes. Os ser-vos trabalhavam neles durante três dias na semana. Essa obrigação era chamada de corveia.

O manso servil era o terreno cedido aos servos para a sua subsistência. Geralmente, ele era dividido em pequenos lotes denomi-nados “glebas”, onde cada família trabalhava. Metade da produção dos lotes era entregue ao senhor, como uma espécie de imposto pelo uso da terra. Essa obrigação era deno-minada talha.

A terra comum servia para a retirada de lenha e madeira para as construções de todos os habitantes do feudo, assim como de pasto para os animais.

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Você sabia que no feudalismo as cidades eram geralmente muito pequenas?

Nos primeiros séculos, as cidades dificilmente ocupavam mais do que 1 km2. A população também era reduzida: uma cidade medieval típica tinha entre 250 a 500 habitantes. Mesmo as maiores e mais importantes cidades da época geralmente não possuíam mais do que 50 mil habitantes até o século X. Embora antigamente não se elaborassem estatísticas precisas como se faz hoje, estima-se que a maior cidade europeia no começo da Idade Média foi Veneza, com cerca de 70 mil habitantes. Calcula-se que essa cidade italiana atingiria 100 mil pessoas por volta do ano 1200, mas nessa época Paris já tinha mais de 150 mil habitantes. Alguns séculos depois, Londres se tornaria a maior cidade do continente. Estima-se que em 1500 cerca de 12 cidades na Europa tinham mais de 50 mil habitantes. Fora da Europa, Constantinopla (atual Istambul), Pequim e outras cidades na China e na Índia ultrapassavam essa marca, assim como a capital do Império Asteca na época da chegada dos espanhóis (atual Cidade do México).

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Carcassone, cidade francesa do período medieval, reformada no século XIX.

2. Observem, a seguir, as imagens de um castelo e de habitações de servos. Reflitam sobre as características do trabalho no feudalismo, indicadas no texto, e respondam à pergunta proposta.

Castelo de Warwick, Inglaterra, construído pelo rei Guilherme, o Conquistador, em 1068. A partir da década de 1980, o castelo passou por amplas obras de restauro, inclusive com a instalação de um relógio, visível na imagem.

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• Que relação vocês acham que pode ser estabelecida entre as características do trabalho na sociedade feudal e as diferentes habitações apresentadas nas imagens?

Desenho que representa uma habitação de servos, no período feudal.

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3. Se essas construções fossem utilizadas ainda hoje, quem habitaria cada uma delas?

4. O que explicaria a diferença entre elas nos dias atuais?

Sociedade feudal

A corveia e a talha eram algumas das obrigações dos servos na sociedade feudal em relação ao senhor para o qual trabalhavam. E quais eram as obrigações do senhor feudal na sociedade medieval?

Para os servos, o senhor feudal oferecia proteção e a possibilidade de trabalhar as terras do feudo.

• Proteção significava que defenderiam o feudo de ataques externos (de outros senhores), mas também a possibilidade de ajudar os servos em casos de emergência.

• Possibilidade de trabalho significava que os servos poderiam arar o campo. Embora não existisse a propriedade privada da terra na forma como é entendida hoje, já que ela não era comercializada, a terra do feudo estava sob a autoridade do senhor feudal.

De um modo geral, era a nobreza que exercia o poder político e militar no feudalismo. Na relação entre os nobres, um senhor feudal podia ceder um território a outro nobre em troca de fidelidade militar, estabelecendo uma relação que tinha o nome de suserania e vassalagem.

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Geralmente, o suserano era um grande proprietário rural que pre-tendia aumentar seu potencial guerreiro. O vassalo era um nobre que necessitava de terras e de camponeses para trabalhar nelas.

Assim, você pode observar diferentes relações entre as classes no feudalismo.

• As relações entre a classe dominante se davam pelos vínculos de suserania e vassalagem (entre suseranos e vassalos).

• As relações entre classe dominante e os camponeses eram caracte-rizadas pela servidão.

• As relações dos servos entre si eram do tipo comunitário, ou seja, de proximidade e ajuda mútua, mesmo não sendo parentes.

Em uma sociedade na qual a terra era a fonte de riqueza, e con-sequentemente de prestígio, as guerras para conquistar novas terras eram um meio comum para tentar expandir o poder.

Apenas os nobres tinham o direito de utilizar cavalos e armamen-tos completos (espada, escudo, elmo, armadura). Portanto, as histó-rias e lendas de cavaleiros medievais de que você pode já ter ouvido falar, como a do Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda, retra-tam personagens da nobreza.

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A RELAÇÃO ENTRE O SUSERANO E O VASSALO

DEVERES DO VASSALO

Auxílio militar ou monetárioFidelidade e conselho

DEVERES DO SUSERANO

ProteçãoConcessão do feudo

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Você sabia que, segundo a história inglesa original, Robin Hood não era um ladrão errante que vivia em florestas?

A história começa quando Robin of Locksley, filho de um nobre, o Barão Locksley, integra uma cruzada, viajando com o Rei Ricardo Coração de Leão para expandir seu poder e catequizar infiéis. Ele é feito prisioneiro, mas consegue fugir e retornar à Inglaterra. No entanto, ao chegar em casa percebe que muitas coisas aconteceram.

Aproveitando a ausência do Rei Ricardo, o príncipe John, o segundo herdeiro direto, assumiu seu trono, aumentou os impostos e matou o pai de Robin, destruindo também seu castelo. Não tendo onde morar, Robin Hood encontra um grupo de homens que mora na floresta e o lidera em uma batalha contra o príncipe. Ele quer reaver sua posição na nobreza e também ajudar aos que se tornaram pobres graças à ganância de John.

Na história, Robin Hood vence o príncipe John e casa-se com Maid Marian, sobrinha de Ricardo. Ele ganha o apelido por usar um hood (tipo de chapéu com pena). No fim da história, o Rei Ricardo reaparece após sua derrota em terras estrangeiras e nomeia Robin Hood cavaleiro, tornando-o nobre novamente.

Desde a adoção do catolicismo pelo Império Romano, no século IV, até a Reforma Protestante iniciada por Martinho Lutero no século XVI, a religião foi um assunto praticamente exclusivo da Igreja Católica na Europa. Muitas das igrejas e cultos que conhecemos no Brasil hoje são comparativamente recentes.

Fica a dica

RobinHood (RobinHood, direção de Ridley Scott, 2010). Este filme é uma adaptação da história original.

E qual era o papel da Igreja? Na Europa medieval, dominava a Igreja Católica. Não havia igrejas protestantes, mas, na parte oriental do continente, existiam os cristãos ortodoxos, que se separaram dos apostólicos romanos no século XI. Havia também os muçulmanos, que ocupavam principalmente parte da Península Ibérica, território onde hoje existem Espanha e Portugal. O mundo dividia-se entre fiéis (os cristãos) e infiéis (em especial, os muçulmanos). Visando ampliar seus domínios e espalhar a fé católica, os nobres medievais promo-veram diversas guerras contra os povos muçulmanos que viviam nas fronteiras da Europa. Essas expedições militares foram chamadas cru-zadas em referência à cruz, símbolo do cristianismo.

Já na Primeira Cruzada (1096-1099), os cruzados consegui-ram conquistar Jerusalém, que estava sob o domínio muçulmano. Porém, em 1189, os muçulmanos, liderados por Saladino, retoma-ram a Cidade Santa. A reconquista da cidade, considerada sagrada para cristãos e muçulmanos, seria o objetivo de muitas expedições militares europeias frustradas nos anos seguintes.

Atividade 2 As cruzadas

1. Nas próximas páginas, leia o texto Cruzadas, e observe os ma-pas que ilustram o percurso da Primeira e da Oitava (e última) Cruzada.

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CruzadasPor Demercino Júnior Graduado em História

Equipe Brasil Escola

De 1096 a 1270, expedições foram formadas sob o comando da Igreja, a fim de recuperar Jerusalém (que se encontrava sob o domínio dos turcos seldjúcidas) e reunificar o mundo cristão, dividido com a “Cisma do Oriente”. Essas expedições ficaram conhecidas como cruzadas.

A Europa do século XI prosperava. Com o fim das invasões bárbaras, teve início um período de estabili-dade e um crescimento do comércio. Consequentemente, a população também cresceu. No mundo feudal, apenas o primogênito herdava os feudos, o que resultou em muitos homens para pouca terra. Os homens, sem terra para tirar seu sustento, se lançaram na criminalidade, roubando, saqueando e sequestrando. Algo precisava ser feito.

Como foi dito anteriormente, o mundo cristão se encontrava dividido. Por não concordarem com alguns dogmas da Igreja Romana (adoração a santos, cobrança de indulgências etc.), os católicos do Oriente fun-daram a Igreja Ortodoxa. Jerusalém, a Terra Santa, pertencia ao domínio árabe e até o século XI eles per-mitiram as peregrinações cristãs à Terra Santa. Mas no final do século XI, povos da Ásia Central, os turcos seldjúcidas, tomaram Jerusalém. Convertidos ao islamismo, os seldjúcidas eram bastante intolerantes e proibiram o acesso dos cristãos a Jerusalém.

Em 1095, o papa Urbano II convocou expedições com o intuito de retomar a Terra Sagrada. Os cruzados (como ficaram conhecidos os expedidores) receberam esse nome por carregarem uma grande cruz, prin-cipal símbolo do cristianismo, estampada nas vestimentas. Em troca da participação, ganhariam o perdão de seus pecados.

A Igreja não era a única interessada no êxito dessas expedições: a nobreza feudal tinha interesse na conquista de novas terras; cidades mercantilistas como Veneza e Gênova deslumbravam com a possibili-dade de ampliar seus negócios até o Oriente e todos estavam interessados nas especiarias orientais, pelo seu alto valor, como: pimenta-do-reino, cravo, noz-moscada, canela e outros. Movidas pela fé e pela ambi-ção, entre os séculos XI e XIII, partiram para o Oriente oito cruzadas.

A Primeira (1096-1099) não tinha participação de nenhum rei. Formada por cavaleiros da nobreza, em julho de 1099, tomou Jerusalém. A Segunda (1147-1149) fracassou em razão das discordâncias entre seus líderes, Luís VII, da França, e Conrado III, do Sacro Império. Em 1189, Jerusalém foi retomada pelo sultão muçulmano Saladino. A Terceira Cruzada (1189-1192), conhecida como “Cruzada dos Reis”, contou com a participação do rei inglês Ricardo Coração de Leão, do rei francês Filipe Augusto e do rei Frederico Barba-Ruiva, do Sacro Império. Nessa cruzada foi firmado um acordo de paz entre Ricardo e Saladino, autorizando os cristãos a fazerem peregrinações a Jerusalém. A Quarta Cruzada (1202-1204) foi finan-ciada pelos venezianos, interessados nas relações comerciais. A Quinta (1217-1221), liderada por João de Brienne, fracassou ao ficar isolada pelas enchentes do Rio Nilo, no Egito. A Sexta (1228-1229) ficou mar-cada por ter retomado Jerusalém, Belém e Nazaré, cidades invadidas pelos turcos. A Sétima (1248-1250) foi comandada pelo rei francês Luís IX e pretendia, novamente, tomar Jerusalém, mais uma vez retomada pelos turcos. A Oitava (1270) e última Cruzada foi um fracasso total. Os cristãos não criaram raízes entre a população local e sucumbiram.

As cruzadas não conseguiram seus principais objetivos, mas tiveram outras consequências, como o enfraquecimento da aristocracia feudal, o fortalecimento do poder real, a expansão do mercado e o enri-quecimento do Oriente.

JÚNIOR, Demercino. Cruzadas.BrasilEscola. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historiag/cruzadas.htm>. Acesso em: 13 jan. 2012.

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Primeira Cruzada (1096-1099)

Oitava Cruzada (1270)

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Túnis

Igreja Ortodoxa Grega

Islamismo

Igreja Catolica RomanaN

455 km

2. Em grupo, discutam as questões a seguir. Registre suas conclusões.

a) Quais eram os objetivos das cruzadas?

Fonte: PENNINGTON, Ken. TheCrusadesintheMediterraneanWorld,1070-1500. Disponível em: <http://faculty.cua.edu/pennington/Crusades1070-1500.html>. Acesso em: 13 jan. 2012.

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A Primeira Cruzada, liderada por nobres, tomou Jerusalém em 1099. Até aquele momento, essa cidade estava sob domínio dos turcos.

Na Oitava (e última) Cruzada, comandada pelo rei Luís IX, o exército francês foi derrotado em Túnis (atual capital da Tunísia), na África.

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b) Quais eram as promessas feitas aos que aderiam às cruzadas?

c) Como eram organizadas as cruzadas?

d) As cruzadas atingiram seus objetivos iniciais? Por quê?

Como na Europa medieval não havia Estados como os que conhe-cemos atualmente, os reis eram apenas uma espécie de suserano mais importante. Então, se não havia Estados nacionais, o que unia os dife-rentes senhores feudais? A Igreja era a instituição que unificava o feudalismo em torno da fé cristã.

A Igreja tinha um papel fundamental na cultura medieval. Ela centralizava o estudo e a produção do conhecimento em seus mostei-ros e universidades, ditava a produção artística, organizava o calen-dário dos dias festivos, entre outros.

De modo geral, ela também determinava o conjunto das normas que orientava o comportamento social. Até o tempo cotidiano era, de certa forma, regido pela Igreja: em uma época em que não existiam relógios de pulso, eram as badaladas dos sinos das igrejas que marca-vam a passagem do tempo.

O clero tinha um poder muito grande na sociedade feudal. Prati-camente toda a produção cultural, artística e de conhecimento estava vinculada à Igreja. Por isso, as principais obras de arte da época abor-davam temas religiosos.

Você sabia que a contagem dos anos no calendário que usamos hoje começa com o ano atribuído ao nascimento de Jesus Cristo?

Embora não seja uma criação medieval, sua permanência reflete a força da Igreja desde o Império Romano.

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As construções mais impo-nentes eram, além dos castelos, as igrejas e catedrais, como a cate-dral de Lincoln, na Inglaterra. Os livros mais importantes escritos durante o feudalismo, como a Suma Teológica, de São Tomás de Aquino (1225-1274), foram escri-tos religiosos.

O alto clero era composto do estrato superior da Igreja. Era integrado principalmente por nobres, pessoas privilegiadas por sua condição de nascimento na sociedade feudal.

Embora a Igreja fosse o maior poder espiritual da Idade Média, ela não era indiferente aos assun-tos materiais e também manejava uma considerável riqueza. Como tinha vastos territórios sob sua responsabilidade, pode-se afirmar que o trabalho dos servos susten-tava não somente a nobreza, mas também o clero.

As representações artísticas religiosas eram inúmeras na Idade Média. Como a população quase toda não era alfabetizada, as imagens tinham a função de ensinar sobre a vida de Cristo e dos santos. [Anônimo. FrontãodosApóstolosdeLaSeud’Urgell, século XII. Painel, 102,5 cm x 151 cm x 6 cm. Museu de Arte da Catalunha, Barcelona, Espanha.]

Por ter acumulado muitas riquezas, a Igreja Católica mandou construir edifícios grandiosos como a catedral de Lincoln (1256-1280), na Inglaterra, no século XIII. Naquele período, muitos reis eram coroados nessas catedrais.

Fica a dica

OnomedaRosa (DerNamederRose, direção de Jean-Jacques Annaud, 1986). Filme baseado no romance de mesmo título, do crítico literário italiano Umberto Eco.

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As relações de trabalho no feudalismo

Como você observou, no feudalismo as relações de trabalho não estavam baseadas no assalariamento, mas envolviam um conjunto de obrigações. Em troca de proteção e da possibilidade de trabalhar um pedaço de terra para si, os servos deviam trabalhar para o senhor feu-dal. Esse trabalho acontecia de forma direta e indireta.

Trabalhar diretamente para o senhor feudal significava arar os campos que eram considerados do senhor, e todo o produto gerado por esse trabalho também pertencia a ele.

O trabalho indireto ocorria quando o camponês entregava parte do produto do trabalho que realizava na sua própria gleba para o senhor feudal.

Além da corveia e da talha, existia um conjunto de obrigações menores que extraíam quase toda a produção dos servos.

No feudalismo, os trabalhadores tinham suas próprias ferramen-tas de trabalho, embora não pudessem dispor da terra, que era o ele-mento mais importante da produção na sociedade.

Em uma sociedade onde não havia trabalho assalariado, a circu-lação de moeda era limitada. Embora sempre existisse um pequeno comércio, a maioria dos bens necessários para a subsistência de nobres e servos era produzida dentro do próprio feudo, e as trocas eram feitas diretamente entre os produtores, sem a utilização de dinheiro.

Por isso, dizemos que a economia feudal era considerada:

• natural, uma vez que se baseava em trocas diretas, sem a interfe-rência do comerciante, pois os produtos eram trocados entre os produtores;

• de subsistência, porque procurava atender às necessidades por meio de produção própria;

• desmonetarizada, já que não utilizava dinheiro.

Em outras palavras, a sociedade feudal não era uma sociedade de mercado. A maioria dos bens produzidos e a própria força de trabalho não se transformavam em mercadoria. Como a produção não estava orientada para o mercado, não existia a mentalidade do lucro. Afinal, para quem passa a vida sem comprar e vender, a ideia de lucro não faz sentido.

Pense na sua rotina: Quais foram as últimas vezes que gastou dinheiro? E as últimas vezes que ganhou dinheiro? Como seria passar um mês sem comprar nem vender?

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A ilustração mostra simplificadamente o trabalho de um mestre artesão com seu aprendiz e seu artífice em sua oficina, no período feudal.

Entre os trabalhadores, além dos campo-neses (em sua maioria servos que trabalha-vam na terra), havia os artesãos. Eles viviam nos núcleos urbanos e realizavam diversas atividades especializadas: carpinteiros, fer-reiros, vidreiros etc. Os artesãos reuniam-se de acordo com o seu ofício formando corpo-rações de trabalho chamadas guildas.

Os trabalhadores mais experientes das guildas eram chamados mestres. Além de rea-lizar o seu trabalho, os mestres tinham a res-ponsabilidade de ensinar a profissão aos mais jovens, chamados aprendizes.

Após um período que poderia variar entre dois e quatro anos, dependendo do ofício, os aprendizes eram promovidos a “artífices”, uma espécie de auxiliar do mestre. Como as oficinas muitas vezes fun-cionavam na moradia dos trabalhadores, era comum que os conheci-mentos da profissão passassem de pai para filho.

Camponeses e artesãos tinham uma coisa em comum: possuíam seus instrumentos de trabalho e conheciam e dominavam todas as etapas do processo produtivo em que estavam envolvidos. Assim, um carpinteiro saberia confeccionar uma a uma todas as peças para fazer variados móveis: mesas, cadeiras, armários etc. Além de dominar o processo de trabalho, ele seria responsável por todas as etapas da pro-dução, desde a compra da madeira até a venda do móvel.

De modo similar, o camponês possuía suas ferramentas de traba-lho e dominava as diferentes etapas da produção no campo.

Como a economia feudal era voltada para a autossuficiência, um camponês não apenas trabalhava na terra, mas realizava por conta própria a maioria das atividades necessárias para a sua vida: cons-truía sua casa, confeccionava as próprias roupas e utensílios domés-ticos etc. Isso significava que não se pagava um pedreiro, nem se comprava uma roupa: o trabalhador procurava fazer tudo por conta própria.

Um camponês no regime de servidão (servo) não tinha liberdade para mover-se de um feudo a outro e trocar de senhor feudal: as obri-gações que assumia com seu senhor feudal o amarravam àquela terra. Como decorrência, de forma geral, a vida de um camponês era restrita ao seu feudo e às pessoas com quem convivia no campo e na aldeia.

Você sabia que há um grande debate entre historiadores sobre o que é ser camponês?

De modo geral, entende-se que um camponês é alguém que vive de trabalhar na terra, com algum nível de autonomia na gestão do campo e com a propriedade dos meios de trabalho. No feudalismo, a maioria dos camponeses eram servos, mas nem todos: havia, por exemplo, os vilões, que embora também tivessem obrigações com os senhores feudais, eram livres para deixar o feudo.

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Atividade 3 Feudalismo x capitalismo

1. Elabore um quadro comparativo, colocando em uma coluna as ca-racterísticas do trabalho no feudalismo e, na outra, no capitalismo.

Capitalismo Feudalismo

Pagamento pelo trabalho

Tipo de contrato

Obrigações no trabalho

Propriedade das ferramentas/meios de produção

Domínio sobre o processo de trabalho

Existência de liberdade e autonomia

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2. O servo não tinha liberdade de movimento, pois era obrigado a trabalhar nas terras do senhor. Pensando sobre essa situação, debata com seus colegas as afirmações a seguir.

a) O trabalhador moderno pode escolher livremente para quem vai trabalhar.

b) Nem sempre o trabalhador dos dias de hoje encontra trabalho.

Anote as conclusões a que vocês chegaram em seu caderno.

Crise do feudalismo

Na medida em que chegava o século XIV, esgotavam-se as pos-sibilidades de expansão territorial da Europa medieval. As cruzadas, além de não conseguirem se impor na região do atual Oriente Médio, foram perdendo territórios para os muçulmanos.

Esse processo culminou com a tomada da cidade de Constantino-pla (atual Istambul, na Turquia) pelas tropas do Império Turco-Oto-mano, no ano de 1453. Para alguns historiadores, essa data marca o fim da Idade Média na Europa.

Vista em perspectiva da cidade de Constantinopla. [Georg Braun e Franz Hogenberg. CivitatisOrbisTerrarum, 1572. Xilogravura colorida. Biblioteca Nacional Braidense, Milão, Itália.]

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Você sabia que se fala tanto em “queda” quanto em “tomada” de Constantinopla em 1453?

A questão é que há, comumente, interpretações da história. Nesse caso, uma versão dos vencidos e outra dos vencedores. Ou seja, as opções indicam que o registro da história não é neutro e que o conhecimento veiculado reproduz as visões e as opções políticas de alguns historiadores.

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De qualquer forma, não foi a ascensão do Império Turco-Oto-mano que causou o fim do feudalismo. Ele ruiu em razão de questões internas.

A derrota dos cruzados e o fim do feudalismo são acontecimentos relacionados, mas não idênticos. Para entender essa relação, é pre-ciso lembrar que a forma encontrada pela economia feudal para se expandir foi a conquista territorial. No momento em que se fecharam as possibilidades de conquista, o feudalismo não teve como crescer economicamente.

Como resultado, intensificaram-se os conflitos entre os senho-res feudais, que acabaram disputando terras e poder uns contra os outros, em vez de se unirem para lutar fora dos territórios dominados pela cristandade.

O outro lado dessa disputa foi o aumento das rebeliões camponesas. Os senhores feu-dais intensificavam a exploração sobre os servos, pois intenciona-vam fortalecer suas tropas em um momento de crise. E, como o trabalho dos servos era a fonte da riqueza feudal, acabou por recair sobre eles o peso da crise.

No entanto, os camponeses não aceitaram essa situação pas-sivamente. Como resultado, a Europa atravessou um período de constante agitação popular, que pressionava por mudanças sociais.

Nas fendas que iam se abrindo no sistema feudal, o comércio ganhava força. Con-forme assinalado, apesar de nunca ter deixado de existir, ele tinha um papel secundário durante a Idade Média. Até que, no final desse período, essa situa-ção começou a mudar e o comér-cio passou a ser uma força deci-siva para a transformação social que se preparava.

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Gravura do século XIX representando a destruição de castelo por camponeses, na França, em 1358, na insurreição que ficou conhecida como a Revolta dos Jacques.

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História – Unidade 3

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Os comerciantes, apoiados pelos Estados que começavam a se constituir, tomaram a iniciativa de procurar alternativas de expan-são econômica. Uma dessas alternativas foram as navegações, cujo resultado mais conhecido, para nós, foi a chegada dos europeus à América e ao território que hoje é o Brasil, tema que será estudado em outro ano/termo.

Com a ascensão do comércio, projetou-se um estrato social que vivia nas cidades e que não se integrava aos estamentos feudais: a burguesia. Assim, o crescimento do comércio não foi a causa da deca-dência do feudalismo, mas funcionou como um ácido que corroeu as estruturas que estavam em crise.

Nesse processo, tudo estava ligado: o fim da conquista de territó-rios, a rivalidade entre os senhores feudais, as rebeliões camponesas, o crescimento das cidades, o aumento do comércio, a ascensão da bur-guesia. Isso significa que a crise do feudalismo não teve apenas uma causa, mas resultou de muitos fatores conectados entre si.

A ligação próxima entre esses fatores revela que:

• as causas da crise vieram de pressões internas e externas ao feu-dalismo;

• seria preciso mudar vários aspectos da sociedade, uma vez que foram muitos os fatores que levaram à crise do feudalismo.

Atividade 4 Feudalismo em crise

Identifique o assunto que unifica os termos relacionados no quadro a seguir. Depois, componha um pequeno texto, articulando esses termos.

Cruzadas Tomada de ConstantinoplaFim das conquistas territoriais Rebeliões camponesasAumento da exploração sobre os servos Renascimento comercial

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Você estudou

Nesta Unidade você pôde ver que o feudalismo foi o modo de produção que surgiu antes da formação do capitalismo na Europa. No feudalismo, a relação de trabalho fundamental era a servidão. A servidão envolvia um conjunto de obrigações e tributos que o servo pagava por meio do trabalho agrícola nas propriedades do senhor feudal.

O trabalho dos servos sustentava a nobreza e o clero, em uma sociedade na qual o poder político e o poder religioso se misturavam. No feudalismo, crescimento econômico implicava expansão territorial. Quando essa possibilidade se esgotou, foi desencadeada a crise desse sistema.

A expansão comercial foi uma das saídas encontradas para solucionar a crise do sistema feudal. O desdobramento mais fa-moso dessa expansão foi a colonização da América.

O fim do feudalismo não foi rápido; e, ao mesmo tempo que esse sistema se desagregava, outro novo se formava: o capitalismo.

Pense sobre

A maneira pela qual a sociedade feudal se organizava era baseada em critérios muito rígidos. Nela, grande parte dos trabalhadores não conseguia alcançar níveis de vida melhores.

Pensando nisso, quais são as chances reais de um trabalhador dos dias atuais melhorar sua condição de vida? O que é necessário que ele faça para alcançar uma posição mais elevada na escala socioeco-nômica? Que efeitos essa evolução pode trazer para ele e sua família? Como um trabalhador pode se unir a outros em busca de melhores condições de trabalho e de remuneração?

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4 Consumação do CaPitalismo

Depois de estudar a vida e o trabalho no feudalismo e analisar alguns elementos da passagem desse modo de produção para o capi-talismo, você vai se aproximar do ponto de chegada do nosso trajeto: a consolidação do capitalismo.

Nas unidades anteriores, você estudou que o capitalismo não se formou rapidamente. Ao contrário, foi uma longa gestação. É impor-tante reparar que, a despeito do surgimento de uma nova fase na história, algumas características do feudalismo permanecem em nossa sociedade.

Alguns aspectos continuam os mesmos apenas na aparência, como no caso de alguns países da Europa que ainda têm reis e rainhas. No entanto, o poder político que lhes cabe é diferente do que havia no feu-dalismo. Também é diferente daquele do período de transição entre o feudalismo e o capitalismo, quando o poder da monarquia absolutista atingiu seu apogeu.

Elizabeth II é a atual rainha da Inglaterra. No entanto, seu poder está subordinado à Constituição, pois hoje o país é uma monarquia constitucional.

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Monarquia absolutistaAuge do processo de centralização do poder monárquico, ocasionado pelas transformações geradas no contexto de transição do feudalismo para o capitalismo. França e Inglaterra são exemplos desse sistema de governo.

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Isso tudo indica que, na passagem do feudalismo para o capita-lismo, houve aspectos da sociedade que mudaram, enquanto outros guardaram a marca do passado.

A consumação do capitalismo foi marcada por dois processos revolucionários, que serão o assunto desta Unidade: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa.

Inicialmente, será enfocada a Revolução Industrial, em que se dis-cutirá a evolução da divisão social do trabalho – a divisão de tarefas mais específicas, como no caso de uma pessoa que só corta a madeira e de outra que só aperta o parafuso –, motor desse processo. Em seguida, será analisada a sua evolução nas três etapas que marcaram os aspectos econômicos da formação do capitalismo: a cooperação, a manufatura e a grande indústria.

Em um segundo momento, serão reconstituídas as linhas gerais da Revolução Francesa, como começou e que movimento seguiu. Depois, será analisada a importância do legado que essa revolução deixou para o mundo de hoje, sintetizado no lema adotado pelos revolucio-nários: liberdade, igualdade e fraternidade.

Apesar de as duas revoluções (a Industrial e a Francesa) terem acontecido em lugares distintos, a primeira na Inglaterra e a segunda na França, esses processos apontam para uma mesma direção: o ama-durecimento do capitalismo na Europa.

Para iniciar...

O historiador inglês Eric Hobsbawm (1917-) refere-se a palavras como testemunhas de eventos históricos que, em alguns momentos, falam mais do que muitos registros escritos ou documentais.

Algumas palavras surgiram ou ganharam seu significado atual em função das revoluções que estudaremos a seguir: a Industrial e a Francesa. Durante esse período começaram a ser usados termos como “capitalismo”, “socialismo”, “indústria”, “fábrica”, “greve”, “classe média”, “classe trabalhadora”, “jornalismo”, entre outros. Isso não significa que antes não havia trabalho coletivo, protesto dos traba-lhadores, notícias, classes sociais, sistemas econômicos etc., mas sim que esses termos e expressões mudaram, ganhando o significado que conhecemos hoje.

Discutam em sala de aula:

RevoluçãoSoma de vários aspectos políticos, sociais, econômicos e culturais que ocorrem ao mesmo tempo e promovem mudanças profundas na sociedade.

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• Como era a organização do trabalho antes da fábrica? Essa situa-ção era melhor, pior ou igual às que existem hoje na sociedade?

• Como eram as formas de protesto dos trabalhadores antes da greve?

• Como circulavam as notícias antes dos jornalistas?

A Revolução Industrial

Na transição do feudalismo para o capitalismo, os comerciantes tiveram um papel fundamental para a expansão econômica. Entre outros feitos, impulsionaram as navegações e a colonização da América. Você aprendeu que nesse período o comércio era o principal motor da eco-nomia. Por esse motivo, a época dessa transição é chamada por alguns historiadores de capitalismo comercial.

O triunfo da Revolução Industrial aconteceu quando o capita-lismo comercial deu lugar ao capitalismo industrial. Isso significa que quem passou a comandar a atividade econômica não eram mais comerciantes, mas industriais. Ou seja: o motor da economia era o desenvolvimento industrial. E como os industriais empregavam tra-balhadores livres, surgiu a figura do operário.

Como isso aconteceu? Diferentemente de outras revoluções, a Revolução Industrial não teve uma data certa para começar ou termi-nar. Foi um processo longo, que teve como centro geográfico a Ingla-terra. Seu resultado foi a consolidação de uma economia baseada na grande indústria.

Nesse processo, o campo também sofreu transformações. A agri-cultura passou a ser uma atividade comercial, tornando-se mercanti-lizada. A maioria dos trabalhadores rurais deixou de produzir para a subsistência e passou a fazê-lo para vender no mercado. Como conse-quência, muitos deles tornaram-se assalariados.

A Revolução Industrial acabou estabelecendo uma crescente divi-são do trabalho. Isso quer dizer que os trabalhos feitos na sociedade foram se dividindo em partes cada vez menores, ficando cada vez mais especializados. Se, antes, um artesão em sua oficina fazia carrua-gens, passou a fabricar apenas rodas de carruagem, enquanto outros profissionais fabricavam as outras partes. Na linha de montagem da grande indústria atual, o operário já nem sequer fabrica uma roda completa. Seu trabalho resume-se a poucas operações iguais, repetidas inúmeras vezes.

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E por que o trabalho foi se especializando? Essa foi uma conse-quência do crescimento da importância do mercado na sociedade.

Os produtores, quando produziam para a subsistência, tendiam a fazer tudo o que precisavam. Mas, ao produzirem para o mercado (e não mais para a subsistência), começaram a trabalhar com alguns poucos artigos, que pretendiam vender. Depois, compravam no mer-cado as outras coisas de que precisavam para seu sustento. Traba-lhando com menos artigos, seu trabalho tornou-se cada vez mais especializado. Essa especialização, por outro lado, também permitiu que se produzissem maiores quantidades de um mesmo bem – para, assim, atender ao mercado, que foi ficando cada vez maior.

Em lugar de examinar uma situação particular, você estudará como a divisão do trabalho evoluiu em toda a sociedade. Esse pro-cesso está na raiz da Revolução Industrial, pois transformou, gradati-vamente, toda a organização da produção. Você poderá analisar essa transformação em três momentos principais: cooperação, manufatura e grande indústria.

Atividade 1 Divisão do trabalho

1. Pense em diferentes trabalhos. O trabalho de uma pessoa por 20 horas é igual ao trabalho de 20 pessoas por uma hora? Qual é mais produtivo?

2. Debata em classe:

a) Exemplos concretos de trabalhos que necessitam ser realiza-dos por um conjunto de pessoas (trabalho coletivo).

b) Exemplos de trabalhos que podem ser realizados inteiramente por uma única pessoa.

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Cooperação – trabalhar juntos

O ponto de partida da produção capitalista é a reunião de um grupo de trabalhadores:

• ao mesmo tempo;

• no mesmo lugar;

• para produzir a mesma mercadoria;

• sob o comando do mesmo empregador.

A situação acima descrita pode parecer-lhe familiar, mas, no feu-dalismo, ela seria completamente estranha. Você se lembra do que viu na Unidade 3 sobre os artesãos no feudalismo? Eles produziam de maneira independente de outros artesãos e contavam apenas com assistentes e aprendizes – pessoas que, no futuro, se tornariam, por sua vez, produtores independentes.

O primeiro passo na direção da produção capitalista é que ela acontece de forma coletiva e sob um mesmo comando. Chamamos essa organização do trabalho de “cooperação”.

Na cooperação, as técnicas e as ferramentas que eram usadas na produção artesanal continuavam sendo as mesmas. O que mudou foi a forma como o trabalho acontecia, ou seja, as condições do pro-cesso de trabalho. Quando se juntam diversos trabalhadores para realizar uma mesma produção, a capacidade produtiva deles é maior do que a soma de suas forças de trabalho individuais. Isso ocorre por diversos motivos:

• Há uma economia de meios de trabalho: prédio e demais instala-ções servem a um número maior de trabalhadores, que produzem mais mercadorias, sem aumentar esse gasto.

• A força mecânica dos trabalhadores reunidos possibilita a realiza-ção de trabalhos que um trabalhador isolado não pode fazer, tais como levantar uma carga, girar uma manivela pesada ou remover um obstáculo.

Atenção: o que chamamos cooperação não é a mesma coisa que uma coopera-tiva. Cooperar significa simplesmente fazer um trabalho em conjunto. Uma coo-perativa é uma organização produtiva sem patrão, onde todos são associados. Aqui, falamos de “cooperar” no sentido de “trabalhar junto”, como acontece em uma fábrica.

Você sabia que uma pedra aproximadamente do tamanho de uma bola de futebol pode ser levantada por um grupo de pessoas usando apenas a ponta dos dedos?

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• Existe a possibilidade de combinar trabalhos e trabalhadores para otimizar a execução de tarefas. Dessa forma, uma fila de seis tra-balhadores pode transportar, em uma hora, mais tijolos do que um único trabalhador em seis horas.

A capacidade produtiva aumenta quando diversas pessoas se unem para realizar o mesmo trabalho, que é finalizado em um tempo bem menor.

• O próprio contato social estimula os trabalhadores, podendo ele-var seu rendimento individual. Quando está rodeado de pessoas realizando a mesma tarefa, o ser humano tende a se motivar e a trabalhar mais focado.

• A execução de qualquer trabalho coletivo requer uma direção. Essa direção é mais um fator que otimiza a capacidade de pro-dução. Um violonista pode reger a si mesmo, mas uma orquestra precisa de um maestro para que o conjunto toque melhor.

No capitalismo, a função de direção era realizada originalmente pelo proprietário dos meios de produção. Contudo, com o crescimento da empresa capitalista, essa tarefa foi transferida a outros assalariados.

Atividade 2 Natureza social do homem

1. Leia com atenção a frase a seguir, escrita pelo filósofo alemão Karl Marx, e responda às perguntas.

MARX, Karl. Capital: A critique of political economy, vol. I. Library of Economics and Liberty. Disponível em: <http://www.econlib.org/library/YPDBooks/Marx/mrxCpA13.html>.

Acesso em: 13 jan. 2012. Tradução: Eloísa Pires.

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[...] Esse poder emana da cooperação. Quando o trabalhador coopera sistema-ticamente com outros trabalhadores, ele remove os entraves de sua individuali-dade e desenvolve as habilidades de sua espécie.

a) O que Marx pretendeu afirmar com essa frase?

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b) Quais seriam as habilidades da espécie humana citadas na frase?

A manufatura

A cooperação capitalista desenvolveu-se na manufatura. A manu-fatura era uma unidade produtiva que fabricava uma grande quanti-dade de mercadorias de forma padronizada e em série. Isso significa que se dedicava a produzir mercadorias iguais, de modo continuado.

Na manufatura, o trabalho também tornou-se cada vez mais uma operação repetitiva. Considerada historicamente, a manufatura se ori-ginou de duas maneiras:

• Com a concentração, em uma mesma oficina, de diversas ativi-dades que antes se realizavam separadamente. Por exemplo: uma carruagem era o produto do trabalho de numerosos artesãos in-dependentes, como o carpinteiro, o serralheiro, o torneiro, o vi-dreiro, o pintor, o envernizador, o dourador etc. A manufatura de carruagens reuniu esses artesãos em uma mesma fábrica, onde todos trabalhavam ao mesmo tempo, colaborando uns com os ou-tros. Não se pode pintar uma carruagem antes de ela estar pronta. Mas, como muitas carruagens são feitas ao mesmo tempo, umas podem ser pintadas enquanto outras estão começando a ser fa-bricadas. O importante é observar que, nessa etapa, os artesãos conheciam todo o processo do trabalho.

• Com a reunião de indivíduos realizando um mesmo trabalho, que passou a ser dividido em diferentes fases. Nesse caso, o tra-balho era dividido em muitas partes e, em vez de executarem todas as etapas da confecção de um objeto, os trabalhadores especializaram-se em apenas uma ou outra operação específica. No final do século XVIII, a fabricação de alfinetes, por exemplo, podia ser dividida em cerca de 18 operações, possibilitando uma produção muito superior à de indivíduos isolados.

Nessa nova etapa, o trabalho tornou-se mais repetitivo e mais sim-plificado. Antes dessa divisão, o artesão conhecia todo o processo de trabalho. Mas, a partir desse momento, ele perdeu a compreensão sobre o todo do trabalho. Por consequência, ficou mais fácil substi-tuí-lo, pois a tarefa que passou a executar tornou-se mais simples.

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A especialização do trabalho

A especialização do trabalho em uma única operação faz que ela seja feita de forma mais simples. Com isso, seu trabalho torna-se mais intenso, repetitivo e preciso. Com o objetivo de conseguir maior eficiência, o trabalhador criará novas ferramentas para fazer aquela operação particular.

Essas ferramentas ajudam a realizar com maior eficácia o que o trabalhador até então fazia usando somente as suas mãos. Como foi criada pelo trabalhador, podemos dizer que essa ferramenta contém a sabedoria que ele desenvolveu fazendo o seu trabalho.

No entanto, ao “transferir seu conhecimento” para a ferramenta, o trabalho do operário simplificou-se, até ter se tornado uma ativi-dade mecânica e repetitiva. Aos poucos, o trabalho passou a não mais depender da habilidade manual e da criatividade do trabalhador.

Como resultado, pode-se dizer que a especialização do trabalho na manufatura dividiu o próprio trabalhador, pois sua execução passou a exigir cada vez menos conhecimento específico e iniciativa. Em outras palavras, passou a exigir uma parcela menor do que o trabalhador seria capaz de executar.

Na manufatura, o produto comum de “trabalhadores parciais” transformou-se em mercadoria. Com isso, o trabalhador individual já não mais produzia mercadoria. Ele tornou-se uma parte, uma engre-nagem de um mecanismo de produção maior, como se a produção resultasse de um “trabalhador coletivo”.

SANDRONI, Paulo. Novíssimodicionáriodeeconomia.São Paulo: Record, 2010. p. 284.

Nessas imagens do início do século XX, podem ser observadas características do trabalho industrial.

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Eficiência e eficácia Muitas vezes usados como sinônimos, esses termos guardam diferenças entre si.Eficiência diz respeito à forma de fazer algum trabalho. “Se um trabalhador realizar uma tarefa de acordo com as normas e padrões preestabelecidos, ele estará realizando de forma eficiente.”Eficácia “significa fazer o que necessita ser feito para alcançar determinado objetivo”.“[...] um trabalhador pode produzir um produto adequado [de forma eficaz], mas, se não realizar as tarefas correspondentes com eficiência, o resultado final não será apropriado.”

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Atividade 3 A especialização do trabalho na manufatura

1. Leia o texto a seguir, escrito em 1776 pelo escocês Adam Smith (1723-1790).

[...]

Para tomarmos um exemplo, portanto, de uma manufatura bem simples, uma em que a divisão do trabalho tem sido frequentemente notada, é o trabalho do produtor de alfinetes.

Um trabalhador não especializado nesse ramo (cuja divisão de trabalho tem rendido destaque como negócio), nem familiarizado com o uso do maquinário nele empregado (invenção que provavelmente forneceu as bases para a divisão de trabalho), mal poderia, talvez, por mais industrioso que fosse, produzir um alfinete por dia e, certamente, não conseguiria fazer 20 deles.

Mas da maneira pela qual esse negócio é gerido, não apenas o trabalho como um todo tornou-se uma indústria, como também está dividido em ramos, dos quais a maior parte é feita de trabalhos específicos. Um homem puxa o cabo, outro o endireita, um terceiro faz o corte, um quarto faz a ponta, um quinto faz a raspagem para que o alfinete receba sua cabeça; e para fazer a cabeça, outras duas ou três operações diferentes são necessárias; inseri-las também é um traba-lho específico, o branqueamento dos alfinetes outro tipo de trabalho; até mesmo colocá-los na embalagem é também um tipo de trabalho. E o importante negócio da manufatura de alfinetes torna-se, assim, dividido em aproximadamente 18 operações, as quais, em algumas manufaturas, são realizadas por mãos distintas, ainda que, em outras, o mesmo homem fará, algumas vezes, duas ou três delas.

Eu já visitei pequenas manufaturas desse tipo onde dez homens apenas eram empregados e, consequentemente, alguns deles realizavam duas ou três ope-rações distintas. Mas apesar de serem muito pobres e, portanto, designados de maneira indistinta ao maquinário necessário, eles conseguiam, quando se esfor-çavam em conjunto, produzir cerca de doze libras-peso de alfinetes por dia.

Em uma libra-peso há pelo menos 4 mil alfinetes de tamanho médio. Essas dez pessoas podem, portanto, produzir em conjunto mais de 48 mil alfinetes em um dia. Cada pessoa, portanto, produzindo a décima parte de 48 mil alfinetes, pode ser considerada produtora de 4 800 alfinetes em um dia.

Mas, se todos eles tivessem trabalhado isoladamente, sem nenhum trei-namento para esse trabalho, cada um deles certamente não teria conseguido produzir 20 ou mesmo um único alfinete em um dia. Ou seja, certamente não teriam produzido a 240a fração, talvez nem mesmo a 4 800ª parte daquilo que são capazes de produzir atualmente, consequência da divisão e combinação adequada de suas diferentes operações.

[...]

SMITH, Adam. Aninquiryintothenatureandcausesofthewealthofnations. Library of Economics and Liberty. Disponível em: <http://www.econlib.org/library/Smith/smWN1.html#B.I, Ch.1,

Of the Division of Labor>. Acesso em: 13 jan. 2012. Tradução: Eloísa Pires.

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2. Em grupo, reflitam e anotem no quadro a seguir quais as vanta-gens e desvantagens do processo de especialização do trabalho, de dois pontos de vista: o do proprietário da manufatura de alfinetes e o dos operários dessa manufatura.

Vantagens Desvantagens

Para o proprietário da manufatura

Para os operários

3. Discuta com a turma: A balança das vantagens e desvantagens é equilibrada? Por quê? Registrem as conclusões da classe.

A grande indústria

Se o ponto de partida das mudanças na manufatura foi a força de trabalho, na grande indústria a principal transformação ocorreu nos meios de produção. O foco das transformações não esteve mais no trabalhador, mas nos seus instrumentos. A ferramenta se trans-formou em máquina e, na grande indústria, foram as transformações na máquina que determinaram, em grande medida, a evolução das condições do trabalho.

O que é a máquina? Originalmente, uma máquina nada mais é do que ferramentas impulsionadas por uma força motriz.

Força motrizForma de energia que movimenta ferramentas ou máquinas: o vento, a água, a tração animal e a energia elétrica são exemplos de forças motrizes.

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Em outras palavras, a máquina executa operações anteriormente realizadas pelo homem utilizando ferramentas movidas por sua pró-pria energia vital. Quando a ferramenta foi transferida do homem para um mecanismo, criou-se a máquina.

Diferentemente do homem, a máquina pode operar diversas fer-ramentas ao mesmo tempo. Portanto, ela substitui o trabalhador, que maneja apenas uma ferramenta por vez.

As descobertas de novas forças motrizes, como a energia elétrica ou a máquina a vapor, não desencadearam a Revolução Industrial. Ao contrário, foram as criações das máquinas-ferramentas que tornaram necessária a invenção da máquina a vapor. Com isso, o trabalho liber-tou-se das restrições impostas pelo limite físico do corpo humano.

A partir desse momento, o aumento da produtividade não estava mais atrelado aos limites da natureza, mas dependia da evolução das máquinas. Esse processo culminou com a produção de máquinas que fabricavam outras máquinas. Nesse ponto, é possível afirmar que a grande indústria se firmou sobre “seus próprios pés”.

Ao multiplicar a capacidade produtiva, a máquina superou de uma vez por todas a produção artesanal. O artesanato sobreviveu apenas em atividades que exigiam uma habilidade particular ou nas regiões onde o capitalismo tardou a se desenvolver.

Do ponto de vista econômico, os artesãos não podiam competir com a produção industrial em escala. A grande indústria decretou, assim, o fim da dominância da produção artesanal. Foi o triunfo da Revolução Industrial e a consolidação do capitalismo.

Você sabia que a tecnologia e a ciência ajudaram a impulsionar as indústrias no século XIX?

A ciência começava, então, a se tornar um dos aspectos mais valorizados da sociedade.

Os avanços em áreas como a química, a energia (elétrica e térmica) e o transporte (naval e ferroviário) forneceram novas bases para o desenvolvimento industrial.

Grandes máquinas são típicas do processo industrial em larga escala. Repare que apenas uma pessoa opera uma única máquina, não sendo mais necessário contratar muitos trabalhadores.

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Atividade 4 A lâmpada e a jornada noturna de trabalho

1. Um historiador comentou que, quando a Revolução Industrial inventou a lâmpada, o capitalista criou a jornada noturna de tra-balho. Em grupo, discutam:

• O que esse comentário revela sobre o capitalismo?

• Qual é o impacto dessa observação em sua vida hoje?

2. Desenvolva um texto sobre a reflexão que a turma fez sobre o comentário.

As condições de trabalho na grande indústria

Para melhor compreender o capitalismo, é importante refletir sobre o tempo. As máquinas passaram a determinar a velocidade com que o trabalho precisava ser feito, e os donos dos meios de produção também ditavam a quantidade de horas a ser trabalhadas diariamente. Ficava

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a cargo de cada empregador estabelecer a jornada de trabalho diária, pois, no começo do capitalismo industrial, não havia lei que regulasse os dias e as horas de trabalho.

Nesse novo contexto, o homem não mais comandava a máquina, era a máquina que controlava o trabalho humano. O trabalho coti-diano do operário começou a depender do ritmo e da característica da máquina com a qual ele operava.

Entretanto, os trabalhadores passaram a reagir diante do esgotamento físico imposto pelo ritmo de trabalho. Com base nesse descontenta-mento, surgiu na Inglaterra um movimento contestador, comandado pelos próprios operários, chamado de movimento ludista.

As primeiras leis trabalhistas na Inglaterra

As condições extremas de exploração dos trabalhadores no iní-cio do capitalismo geraram resistência, como o ludismo. Alguns anos depois, em 1833, foi aprovada uma das primeiras leis que regula-mentavam o trabalho nas fábricas da Inglaterra. Veja alguns de seus pontos:

• proibiu o trabalho das crianças menores de 9 anos (exceto nas fábricas de seda);

• limitou o tempo de trabalho de crianças entre 9 e 13 anos a 48 horas por semana ou ao máximo de 9 horas por dia;

• limitou o trabalho de jovens entre 14 e 18 anos a 69 horas por semana ou ao máximo de 12 horas por dia;

• fixou um mínimo de uma hora e meia de descanso para as refei-ções e proibiu o trabalho noturno para menores de 18 anos;

• instituiu a frequência escolar obrigatória de duas horas por dia para todas as crianças menores de 14 anos.

Em decorrência da crescente organização dos trabalhadores ingle-ses, os sindicatos, que já existiam desde o começo do século XVIII, foram ganhando importância. O aumento crescente do número de trabalhadores facultou o desenvolvimento sindical, que lhes garantiu, gradualmente, novos direitos e proteções trabalhistas.

LudismoMovimento social ocorrido na Inglaterra entre os anos de 1811 e 1812, foi uma forma de protesto contra a exploração sofrida pelos trabalhadores na aurora da Revolução Industrial. Os integrantes do ludismo mobilizaram operários para diversas ações radicais. Eles invadiram fábricas, quebraram máquinas e destruíram propriedades de donos de fábricas. Por esse motivo, a memória desse movimento é comumente associada a uma oposição dos trabalhadores aos avanços tecnológicos trazidos pela Revolução Industrial.

Fica a dica

Assista aos filmes:

Germinal (Germinal, direção de Claude Berri, 1993).

Temposmodernos (Moderntimes, direção de Charles Chaplin, 1936).

Pesquisa: Você conhece a legislação trabalhista atual no Brasil? Compare esses pontos com a legislação trabalhista atual. O que você observa? Na sua opinião, o que causou as mudanças?

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Atividade 5 O começo do capitalismo

1. A seguir, leia três trechos de jornais e livros ingleses citados em um livro de Friedrich Engels (1820-1895).

Nessa parte da cidade não há esgotos, banheiros públicos ou latrinas nas casas; por isso, imundícies, detritos e excrementos de pelo menos 50 mil pessoas são jogados todas as noites nas valetas, de sorte que, apesar do trabalho de limpeza das ruas, formam-se massas de esterco seco das quais emanam miasmas que, além de horríveis à vista e ao olfato, representam um enorme perigo para a saúde dos moradores. (p. 79)

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Xilogravura que representa mulheres trabalhando em oficina de fiação em Saulxures, atual França, 1862. [Biblioteca das Artes Decorativas, Paris, França.]

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A pobreza e o desrespeito à dignidade humana eram comuns na Inglaterra do século XIX. Gravura representando rua em Whitechapel, em Londres, Inglaterra, no ano de 1872. [Do livro London, apilgrimage (Londres,umaperegrinação), de Blanchard Jerrold e Gustave Doré, 1872.]

M. H., de vinte anos, tem duas crianças; a menor é um bebê, que fica aos cuidados do mais velho; ela sai para a fábrica pouco depois das cinco horas da manhã e retorna às oito da noite; durante o dia, o leite escorre-lhe dos seios, ensopando-lhe o vestido. M. W. tem três crianças; sai de casa por volta das cinco horas da manhã de segunda-feira e só retorna no sábado, às sete horas da noite; no seu regresso, tem tanto a fazer pelas crianças que não pode se dei-tar antes das três horas da manhã; às vezes, a chuva parece molhar-lhe até os ossos e ela trabalha nesse estado; afirma: “Meus seios me causam dores terrí-veis e com frequência escorrem a ponto de me deixa-rem molhada”. (p. 182)

Antes de chegar a Leeds, nunca constatei essa singular deformação das partes inferiores do fêmur. Inicialmente, pensei tratar-se de raquitismo; mas o grande número de pacientes que chegavam ao hospi-tal de Leeds, a incidência da doença numa idade (oito a catorze anos) em que os jovens geralmente não são mais sujeitos ao raquitismo e, enfim, o fato de a enfer-midade só ter se manifestado a partir do emprego dos jovens nas fábricas, isso me levou a logo mudar de opi-nião. Até o presente, já examinei cerca de cem desses casos e posso afirmar, categoricamente, que são con-sequência do excesso de trabalho. Tanto quanto sei, todos os casos eram apresentados unicamente por crianças empregadas em fábricas e elas próprias veem no trabalho a origem de seu mal. O número de casos de escoliose da coluna vertebral que constatei, provo-cada evidentemente por uma longa permanência numa posição ereta, não deve ser inferior a trezentos (doutor Loudon, evid. p. 12-13). (p. 190)

ENGELS, Friedrich. AsituaçãodaclassetrabalhadoranaInglaterra. Tradução: B. A. Schumann. São Paulo: Boitempo, 2008.

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2. Em grupo, discutam o que vocês compreenderam dos trechos lidos.

3. Agora, responda:

a) Você acha que, desde o tempo em que foi escrito esse livro, a situação dos trabalhadores mudou? Por quê?

b) Quais são os aspectos que ainda hoje permanecem?

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A Revolução Francesa

A fase final da longa passagem do feudalismo para o capita-lismo foi marcada por duas revoluções. Como você viu, a Revolução Industrial, na Inglaterra, ditou o ritmo das transformações econô-micas que logo se difundiriam pelo planeta. Já a Revolução Fran-cesa, iniciada no final do século XVIII, preparou o terreno político e cultural para que se enraizasse a sociedade capitalista. Embora tenha acontecido em um só país, o processo francês foi referência para as mudanças que logo avançariam nos países onde germinava o capitalismo. Neste tópico, serão abordadas as características da Revolução Francesa, para em seguida analisar-se a sua importância para o mundo.

Antes da consolidação do capitalismo, a França, como grande parte da Europa, era governada por uma monarquia absolutista. Nesse sistema de governo, havia um rei e um Estado centralizado, que exerciam o poder político sobre um território, e predominavam as relações de servidão.

Comparado com o auge do feudalismo, no Estado absolutista o poder dos nobres decresceu, porque passaram a se subordinar à autoridade central do rei. Por outro lado, a importância econômica dos mercadores e habitantes das cidades, genericamente chamados burgueses, estava em ascensão. Nesse contexto, o poder absoluto do rei funcionava como uma espécie de garantia do equilíbrio de forças entre nobres e burgueses.

BurguesesHabitantes do burgo, cidade comercial que se desenvolvia fora das muralhas senhoriais. Não havia, naquela época, a noção que hoje se atribui ao termo. Como muitos moradores das cidades se dedicavam à atividade comercial, generalizou-se uma associação entre “burgueses” e “comércio”. Mais adiante, no capitalismo, a associação será entre “burgueses” e “propriedade”, ou riqueza de modo geral. O burguês, no capitalismo, será aquele que comanda o trabalho, em oposição ao operário.A Revolução Francesa representou o fim do Estado absolutista. Em linhas gerais, a burguesia, querendo igualar seu poder político com seu já consolidado poder econômico, aliou-se às camadas mais pobres, que clamavam pelo fim da servidão. Juntos, esses dois grupos enfrentaram a resistência do rei e dos aristocratas que, por causa de seus fortes laços com o passado feudal, resistiam às mudanças.

A Revolução foi um processo que durou muitos anos e não foi linear. Nem todas as propostas revolucionárias foram realizadas de imediato, ao passo que houve conquistas que depois se perderam. No conjunto, contudo, seu resultado é claro: foi o fim do Estado absolu-tista e das instituições feudais e o triunfo do capitalismo.

Diferentemente da Revolução Industrial, os historiadores apon-tam uma data que marca o começo da Revolução Francesa: é o dia 14 de julho de 1789 (feriado nacional na França), quando a população tomou, em Paris, a prisão da Bastilha, conhecida por encarcerar os oponentes da monarquia.

Povo Burguesia Rei Aristocracia+ x +

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A tomada (ou queda) da Bastilha simbolizou a radicalização popular de um processo que já estava em andamento. Esse processo iniciou-se em 1778, quando a França apoiou os Estados Unidos con-tra a Inglaterra na Guerra da Independência, como estratégia para enfraquecer os ingleses, seu principal rival europeu. Com esse apoio, a França contraiu dívidas importantes, ficando com graves problemas financeiros.

Na tentativa de reverter esse quadro, o então rei da França, Luís XVI, convocou, em 1789, os Estados Gerais, uma espécie de assem-bleia dos influentes que não era acionada havia mais de 150 anos. Os estados (ou estamentos) reunidos nessa assembleia eram o clero e a nobreza (aristocracia), além do chamado Terceiro Estado, integrado pela burguesia e por outras camadas da população.

Para desgosto do rei, os debates rapidamente se complicaram. Os representantes da burguesia recusaram-se a aumentar sua contri-buição financeira ao Estado sem um aumento correspondente do seu poder político. A discussão atingiu um impasse, e o Terceiro Estado se rebelou, formando uma reunião independente chamada Assembleia Nacional Constituinte. Nessa assembleia, foi proposta uma monar-quia constitucional que limitava o poder do rei, subordinando-o à Constituição Nacional, mas isso só se tornaria realidade alguns anos mais tarde.

Diante da intransigência do rei e da nobreza em negociar, o pro-cesso radicalizou-se. Em 14 de julho, ocorreu a tomada da Bastilha e, em 26 de agosto, a Assembleia Nacional Constituinte decretou o fim dos privilégios associados ao feudalismo e aprovou a Declara-ção dos Direitos do Homem e do Cidadão, que rompia com a visão feudal de que a sociedade era dividida em estamentos e de que a condição de nascimento determinava os direitos de cada um. Em seu lugar, propunha a igualdade jurídica dos homens, de acordo com a ideia de que todos têm os mesmos direitos perante a lei. Nascia, assim, a noção contemporânea de cidadão.

Simultaneamente, a França vivia uma alta no preço dos alimen-tos provocada por uma crise agrícola. Nesse contexto, o desconten-tamento popular somou-se à rebelião burguesa, desencadeando um tortuoso processo revolucionário.

Em 1791, Luís XVI e a família real fugiram em busca do auxílio de outras monarquias para tentar conter a revolução, mas foram capturados

EstadoNeste contexto, a palavra “estado” é uma referência aos estamentos que dividiam a sociedade feudal. Geralmente, considera-se que o feudalismo era dividido em “estamentos” (ou “estados”) e o capitalismo é dividido em “classes”. A diferença, como já visto, é que os estamentos são determinados por nascimento, enquanto a classe social depende da situação econômica.

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e presos. Após esse episódio, finalmente foi estabelecido o fim da monar-quia absolutista. O rei passou a ficar formalmente subordinado a uma Constituição que representava a soberania do povo.

Em 1792, após sucessivas mobilizações de massa, o rei foi destro-nado e convocou-se uma Convenção Nacional. A França foi decla-rada uma república una e indivisível. Era uma mudança radical em relação à monarquia – quando o poder do rei era hereditário e vitalí-cio –, uma vez que, em uma república, todo o poder deve vir do povo: o chefe do Estado deve ser eleito pelos cidadãos, e seu mandato deve ter uma duração limitada.

A partir desse ponto, e até 1795, a revolução entraria em sua fase mais radical, conhecida justamente como “Terror”, sob a liderança dos jacobinos, o grupo mais radical da Revo-lução Francesa, firmes oponentes da nobreza, da monarquia e do clero. O rei foi julgado e condenado à morte, sendo decapitado na guilhotina em 1793. Os inimigos da revolução foram perseguidos implacavelmente, incluindo os de outros grupos burgueses, como os girondinos.

Na sequência dos acontecimentos, exércitos da Áustria e da Prússia atacaram a França, temendo que as ideias radi-cais antimonárquicas se espalhassem. A medida impeliu uma maior organização revolucionária. Para resistir, os revolucio-nários (burguesia e trabalhadores das cidades) foram obriga-dos a se unificar. Organizaram, assim, o primeiro exército nacional popular da história europeia.

No exército popular, a promoção era determinada pela competên-cia. Dessa maneira, um homem de origem pobre poderia alcançar a patente de general, rompendo com a tradição aristocrática, segundo a qual a guerra era comandada pelos nobres.

Diante dessa nova realidade, a unidade dos franceses não pode-ria mais ser feita em torno do rei ou da religião, como acontecia até aquele momento.

Em 1794, Robespierre, principal líder dos jacobinos, foi deposto e guilhotinado. No ano seguinte, instalou-se o Regime do Diretório, que procurou amenizar a situação ao adotar políticas sociais conser-vadoras, marcando o fim de uma etapa de mudanças radicais. A alta burguesia retomou o poder, e o exército teve seu prestígio aumen-tado, baseado nas vitórias militares no exterior.

Você sabia que classificar a política em direita e esquerda tem relação com a Revolução Francesa?

Os jacobinos, assim chamados por se reunirem no convento de Saint- -Jacques, defendiam ideias mais radicais e a democracia revolucionária. Esse grupo sentava-se à esquerda nas assembleias e reuniões políticas.

Por sua vez, os girondinos, assim conhecidos por serem do partido político da Gironda, sentavam-se à direita e defendiam os interesses da burguesia.

Pela disposição espacial desses grupos nas assembleias, o mundo distingue a atuação política, até os dias de hoje, de esquerda e de direita, associando-as aos mesmos valores: os que defendem o povo e os que defendem os interesses da burguesia.

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Conflitos internos e guerras internacionais abriram espaço para a ascensão dos militares, cujo poder se consolidou com um golpe de Estado em 1799, liderado por Napoleão Bonaparte. Muitos historia-dores consideram que esse momento marca o fim da revolução, pois o povo não era mais o ator principal dos eventos, e sim o exército francês.

Sob a liderança de Napoleão, que se fez coroar imperador em 1804, o exército francês iniciou uma fase de expansão militar. As bata-lhas desse período ficaram conhecidas como campanhas napoleônicas.

Nessas campanhas, somavam-se duas motivações que não se har-monizavam: de um lado, a França difundia seus valores republicanos e igualitários. Por esse motivo, o exército francês era recebido como libertador em alguns lugares. De outro lado, Napoleão pretendia transformar a França no principal poder europeu. Por essa razão, ele era visto como um invasor.

Em outras palavras, existia uma contradição entre os valores universais da Revolução Francesa (como a república, a liberdade, a igualdade e a fraternidade) e os interesses de Napoleão como chefe do Estado francês.

Após grandes conquistas territoriais, Napoleão foi finalmente der-rotado e preso em 1814. Chegou a retomar a liderança francesa no ano seguinte, mas foi vencido definitivamente pelos ingleses na Bata-lha de Waterloo, na Bélgica, em junho de 1815.

A partir de 1815, as monarquias europeias articularam uma aliança conservadora, com o objetivo de conter a expansão do processo revo-lucionário: a chamada Santa Aliança, que será estudada no 7o ano/2o termo. Esse movimento contrarrevolucionário teve algum sucesso em um primeiro momento, e a monarquia foi reinstalada na própria França.

O fim da revolução e a derrota de Napoleão, porém, não signifi-caram a decadência das ideias da Revolução Francesa. Ao contrário, elas se espalharam pelo mundo e motivaram muitas revoluções no século que estava começando.

Na América Latina, foi uma influência ideológica decisiva para as lutas de independência em todo o continente, inclusive no Brasil. Os ideais expressos no lema “liberdade, igualdade e fraternidade” esta-vam destinados a se impor ao longo do século.

Fica a dica

Assista aos filmes:

Danton (direção de Andrzej Wajda, 1982).

Casanovaearevolução (LanuitdeVarennes, direção de Ettore Scola, 1982).

Você sabia que, depois da deposição de Napoleão, alguns artistas franceses vieram para o Brasil? No reinado de D. João VI, Nicolas-Antoine Taunay, antes pintor de retratos históricos napoleônicos, Jean-Baptiste Debret, Grandjean de Montigny e outros artistas, todos ligados a Napoleão, ofereceram seus serviços ao rei de Portugal, que havia transferido a corte para sua colônia na América, o Brasil.Acostumados com as paisagens europeias, com materiais mais sofisticados, com batalhas e cenas históricas grandiosas, esses artistas tiveram muitas dificuldades para representar a natureza dos trópicos ou mesmo as construções modestas das vilas e cidades brasileiras. Além de tudo, ainda tinham de lidar com a presença dos escravos.

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Os protagonistas da Revolução Francesa

Georges Jacques Danton (1759-1794): carismático líder

das massas populares em Paris (conhecidos como sans-culotte – em

português, sem-culote –, porque não usavam uma calça típica da

nobreza, o culotte). Danton teve um papel importante para radicalizar

a revolução nos seus primeiros anos, mas acabou guilhotinado por defender posições moderadas no

período jacobino.

Jean-Paul Marat (1743-1793): inflamado líder radical, notabili-zou-se pelos artigos publicados

no jornal OAmigodoPovo. Mesmo sem assumir um partido, participou ativamente da política nos primeiros

anos da revolução. Acabou assassinado em uma banheira

por sua amante, simpatizante dos girondinos, que faziam oposição

aos jacobinos.

Maximilien Robespierre (1758-1794): um dos personagens mais importantes e controvertidos

da revolução. Foi o líder máximo dos jacobinos, considerada a ala radical

da revolução (a mesma de Marat) em oposição aos girondinos. Homem de integridade reconhecida até mesmo

por seus inimigos, Robespierre foi guilhotinado quando os jacobinos perderam a liderança do processo

revolucionário.

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Atividade 6 Fatos da Revolução Francesa

1. Recorra ao texto sobre a Revolução Francesa e complete o quadro abaixo. Se necessário, complemente sua pesquisa na biblioteca ou na internet:

Ano O que aconteceu? Quais foram as consequências desse fato?

1778

1787

1789

1791

1792

1793

1794

1795

1799

2. Em seu caderno, escreva com suas palavras o que compreendeu sobre a Revolução Francesa.

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Atividade 7 Surge um mundo novo

1. Leia o texto a seguir. Em grupo, respondam às questões propostas.

SCHILLING, Voltaire. Ojulgamentodorei. Disponível em: <http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/rev_francesa_dois4.htm>. Acesso em: 13 jan. 2012.

a) Por que a decapitação do rei é considerada revolucionária?

b) Vocês acham que esse julgamento contradiz a concepção me-dieval de que o poder do rei tinha uma origem divina?

Após responder às questões, apresentem suas conclusões à turma.

O julgamento do reiVoltaire Schilling

Expulsos os estrangeiros, contida ainda que temporariamente a contrarrevolução, assegurada a república revolucionária, chega a hora do acerto de contas da Convenção com a monarquia, do povo com o seu rei trai-dor. Ninguém mais podia salvar Luís XVI de um julgamento, marcado finalmente para o 14 de janeiro de 1793. No universo jurídico absolutista em que seus advogados de defesa, liderados por Malesherbes, ainda pensa-vam viver, o julgamento era um justiçamento. Não havia jurisdição precedente que autorizasse na França o povo, ou sua representação, a julgar o soberano. Nem a Constituição de 1791 previra tal situação, porque o rei, ao deter o direito do veto, estava acima da lei. Na Europa, o único exemplo anterior de julgamento de um rei ocorrera durante a Revolução Puritana de 1649, quando o Parlamento inglês levou Carlos I às barras do tri-bunal, executando-o em seguida. Porém, como se vira na França, a revolução se legitimara aos olhos do povo e a Convenção, então transformada em representante máxima da nação, chamara a si o direito de julgar o rei.

Foi uma sessão e tanto. A Convenção inteira, ocupando o prédio central do Palácio das Tulherias, com mais de 700 representantes, transformara-se numa gigantesca sala de júri. Coube a Danton encaminhar a demanda pela condenação de Luís Capeto, assim chamado de acordo com as novas normas que o tratamento republicano impunham. Três quesitos deveriam ser respondidos:

1) O rei era culpado de conspiração contra a liberdade pública e de atentados contra a segurança nacional?

2) O julgamento deveria ser submetido à sanção do povo?

3) Qual seria a pena imposta ao rei?

Após 37 horas exasperantes e tensas de discursos e deliberações, com as galerias tomadas por populares, regados a rodadas de vinho, que davam urras a cada manifestação pela condenação à morte, 387 votos parla-mentares determinaram por enviar o rei ao cadafalso, enquanto 334 se negaram a fazê-lo. O voto que causou mais espanto foi o do primo do rei, Felipe-Égalité, ligado à Montanha[1], que, com medo de se ver ameaçado das tribunas pelo público presente, pronunciou: je vote pour la mort! (eu voto pela morte!)

No 21 de janeiro de 1793, um dia de inverno, Luís XVI foi levado ao cadafalso para ser decapitado por Sanson, o carrasco oficial da república convencional. Por toda a Europa, os reis tremeram. A cabeça cortada e sangrada do rei, erguida na praça pública lotada, foi o aviso que a França revolucionária enviou aos soberanos do velho continente, junto com o grito “Morte aos tiranos!”.

[1] Montanha era o nome pelo qual também eram conhecidos os jacobinos, que estavam no poder quando aconteceu o julgamento do rei Luís XVI [nota do editor].

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2. Leia o último artigo da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, proclamada em 26 de agosto de 1789 na França. Depois, em pequenos grupos, discutam as questões a seguir.

Você sabia que muitos dos países que conhecemos hoje não existiam há 200 anos? Os territórios das atuais Itália e Alemanha eram divididos em dezenas de principados independentes. Nessas, e em outras regiões da Europa, conviviam várias línguas. Com a unificação dos Estados Nacionais, as línguas também se unificaram, ainda que algumas delas tenham sobrevivido, como o catalão e o basco, na Espanha.

Art. 17o – Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente compro-vada o exigir e sob condição de justa e prévia indenização.

a) Há alguma contradição entre esse princípio da propriedade e o ideal da igualdade?

b) Qual é a relação entre esse artigo e o capitalismo?

Compartilhem a opinião do grupo com o resto da classe.

A burguesia e o Estado Nacional

A Revolução Francesa promoveu um conjunto de reformas sociais que resultou da convergência momentânea dos interesses entre dois grupos, a burguesia e o povo. Como a burguesia foi a condutora do processo, muitos autores dizem que foi uma revolução burguesa.

O denominador comum dessa aliança era a intenção de superar o feudalismo. Os burgueses desejavam uma parcela do poder político, condizente com o seu poder econômico e com o seu objetivo de esta-belecer as condições para o desenvolvimento do capitalismo. O povo desejava abolir a servidão e as obrigações feudais, estabelecendo a igualdade natural como um direito para todos.

Podemos dizer que a Revolução Francesa aliou propostas de desenvolvimento nacional a mudanças sociais radicais. A democrati-zação social e política que ela promoveu foi a base para a formação da nação francesa, na qual a fidelidade ao rei foi superada pelo senti-mento de pertencer a uma mesma nação.

A criação de uma bandeira e de um hino nacionais são manifestações dessa profunda transformação. O exército nacional e o sistema público de educação são outros frutos bastante importantes da revolução.

Daí em diante, o Estado Nacional tornou-se o instrumento de ges-tão do poder político no capitalismo, estando geralmente associado à democracia representativa e à república. Ao longo dos séculos XIX e XX, na medida em que o capitalismo se desenvolvia, a maioria dos países adotou essa organização política.

Disponível em: <http://www.senado.gov.br/noticias/agencia/quadros/qd_360.html>. Acesso em: 15 jan. 2012.

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A herança da Revolução Francesa

Diversos conceitos, hoje utilizados no dia a dia, foram forjados e consagrados durante a Revolução Francesa. A seguir, são apresen-tados alguns deles.

República

A palavra república vem do latim res publica, que significa “coisa pública”, ou seja, aquilo que pertence a todos. Assim, na concep-ção política inaugurada pela Revolução Francesa, o poder vem do conjunto da população. O mandato do chefe de Estado não é mais divino, mas delegado pelo povo.

Liberdade

A liberdade na Revolução Francesa tem vários sentidos.

• O destino dos homens não está subordinado à vontade divina; os homens têm liberdade de escrever a sua história. Assim, um governo considerado injusto deve ser substituído.

• A razão emerge como critério não apenas da investigação científica, mas também da organização social. Por isso, a so-ciedade deve ser organizada segundo princípios racionais e não divinos.

• A liberdade de movimentação, consequência da abolição da servidão e dos compromissos que atrelavam os camponeses a um mesmo pedaço de terra.

Igualdade

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão propõe a igualdade natural dos homens. A condição do nascimento não é mais um critério de divisão social. Portanto, todas as pessoas têm direitos iguais. Surgia a noção contemporânea de cidadania.

Fraternidade

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão coloca-se como universal, sendo válida para todos os lugares, pois tem a pretensão de abranger todos os homens. Nesse sentido, considera todos iguais e o mundo uma mesma “fraternidade”.

Você sabia que a França foi o primeiro país ocidental a adotar uma bandeira e um hino nacional?

As cores da bandeira (azul, branco e vermelho) representam a liberdade, a igualdade e a fraternidade: o lema da Revolução Francesa. Também simbolizam, respectivamente, os poderes legislativo e executivo e o povo.

A canção intitulada AMarselhesa foi composta pelo oficial Claude Rouget de Lisle, em 1792. Durante a Revolução Francesa, tornou-se o hino nacional francês.

Esses dois símbolos (bandeira e hino) fizeram parte do processo de formação da ideia de nação, tal como conhecemos hoje, e do nacionalismo, conceitos com importantes implicações para a história do mundo dos séculos XIX e XX.

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Atividade 8 Como nossos pais?

1. Leia a letra da canção Como nossos pais. Se tiver oportunidade, ouça a música.

Como nossos pais

Belchior

Não quero lhe falarMeu grande amorDas coisas que aprendiNos discos...

Quero lhe contarComo eu viviE tudo o queAconteceu comigoViver é melhor que sonharE eu sei que o amorÉ uma coisa boaMas também seiQue qualquer cantoÉ menor do que a vidaDe qualquer pessoa...

Por isso cuidado meu bemHá perigo na esquinaEles venceram e o sinalEstá fechado prá nósQue somos jovens...

Para abraçar meu irmãoE beijar minha meninaNa ruaÉ que se fez o meu lábioO meu braçoE a minha voz...

Você me perguntaPela minha paixãoDigo que estou encantadoComo uma nova invenção

Vou ficar nesta cidadeNão vou voltar pr’o sertãoPois vejo vir vindo no ventoO cheiro da nova estaçãoE eu sinto tudoNa ferida vivaDo meu coração...

Já faz tempoE eu vi você na ruaCabelo ao ventoGente jovem reunidaNa parede da memóriaEsta lembrançaÉ o quadro que dói mais...

Minha dor é perceberQue apesar de termosFeito tudo, tudo, Tudo o que fizemosAinda somos os mesmosE vivemosAinda somos os mesmosE vivemosComo nossos pais...

Nossos ídolosAinda são os mesmosE as aparênciasNão enganam nãoVocê diz que depois delesNão apareceu mais ninguémVocê pode até dizer

Que eu estou por foraOu entãoQue eu estou enganando...

Mas é vocêQue ama o passadoE que não vêÉ vocêQue ama o passadoE que não vêQue o novo sempre vem...

E hoje eu seiEu sei!Que quem me deu a ideiaDe uma nova consciênciaE juventudeEstá em casaGuardado por DeusContando seus metais...

Minha dor é perceberQue apesar de termosFeito tudo, tudo, tudoTudo o que fizemosAinda somosOs mesmos e vivemosAinda somosOs mesmos e vivemosAinda somosOs mesmos e vivemosComo nossos pais...

© 1976 by Fortaleza Editora Musical Ltda.

2. Em grupo:

a) Discutam o significado da letra dessa canção e respondam: Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais?

b) Conversem sobre o trabalho dos pais dos membros do grupo e observem as mudanças e as permanências.

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Você estudou

Nesta Unidade, você analisou o final da transição do feuda-lismo para o capitalismo, que se expressou por meio de duas re-voluções: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Esses dois processos aconteceram na mesma época e em dois lugares distintos da Europa: a Inglaterra e a França. No entanto, suas consequências projetaram-se para muito além desses países.

A Revolução Industrial desencadeou as transformações eco-nômicas que estão na base do mundo em que vivemos: a socie-dade industrial.

A Revolução Francesa colocou em pauta os temas sociais e políticos que marcaram a história desde então, baseados no lema “liberdade, igualdade e fraternidade”.

O ponto em comum dos dois processos é o fato de ambos te-rem marcado o fim do feudalismo, estabelecendo o modo de pro-dução que, da Europa, se difundiria para o mundo: o capitalismo.

Analisando esse processo no seu conjunto, você perceberá que o capitalismo tem uma origem histórica e uma dinâmica. Considerando que esse dinamismo não se encerrou com a for-mação do capitalismo, pode-se deduzir que a história está sem-pre em movimento.

Pense sobre

Procure pensar nas características da Revolução Industrial e da Revolução Francesa. De que forma os acontecimentos aqui estudados moldaram a realidade atual? Como o trabalho passou a ser organi-zado depois dessas duas revoluções? Quais são as semelhanças e as diferenças em relação ao trabalho na atualidade?

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