1_Karen G. Amar Tipos de Museu e Espaços Culturais_a Cidade Como Espaço...

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1 TIPOS DE MUSEU E ESPAÇOS CULTURAIS, A CIDADE COMO ESPAÇO CULTURAL Karen Greif Amar O museu, de acordo com o Instituto Brasileiro de Museus, é “uma instituição permanente, aberta ao público, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, que adquire, conserva, pesquisa, expõe e divulga as evidências materiais e os bens representativos do homem e da natureza, com a finalidade de promover o conhecimento, a educação e o lazer”. Considerando a história dos museus e outros fatos relacionados a sua criação, muitos dos aspectos citados acima se mantêm até os dias atuais desde sua origem. A palavra museu (do grego mouseîon) designava, na Grécia Antiga, “o templo das musas”, as quais incentivavam a criatividade de artistas e intelectuais, sendo este um local de inspiração divina onde eram cultuadas as artes e as ciências. Em meados dos séculos 16 e 17, surge o Gabinete de Curiosidades, lugar que tinha como característica o agrupamento de diferentes objetos com o intuito de criar uma coleção. Na tentativa de abarcar a diversidade do mundo através das explorações e descobertas realizadas nas viagens, os achados como, por exemplo, espécies da flora e fauna ou mesmo certos artefatos considerados curiosos, diferentes, avançados para a época ou mesmo exóticos, eram reunidos, organizados como troféus da nobreza. Ainda que restritos à elite, também mantinham o caráter de culto e admiração à ciência e às artes, podendo ser considerados como os antecessores dos museus. Com o surgimento dos museus, as coleções, antes reservadas à nobreza, foram abertas também ao público. No Brasil a instituição surge por iniciativa de D. João VI, no século 19. O Museu Real, atual Museu de Belas Artes, no Rio de Janeiro, inicialmente abrigava uma pequena coleção de arte trazida por ele de Portugal. Pensando no caráter artístico, científico, antropológico, histórico, tecnológico, os museus permanecem com este sentido de valorar a arte, abrigando algumas coleções reunidas em um ambiente construído pelo homem com esta finalidade, se constituindo como um espaço privilegiado, apresentando um desejo humano de busca pelo conhecimento e o seu compartilhamento, de forma a ampliar saberes e fomentar o imaginário através do ato de procurar, selecionar, fruir e colecionar. No Brasil podemos encontrar mais de 2500 museus espalhados pelos diferentes estados e regiões que apresentam uma variedade tipológica, abrangendo distintas possibilidades de acervo: Museus de Arte, com acervos de cultura popular, arte clássica, moderna, contemporânea, regional, nacional e internacional, contendo obras nas diferentes linguagens da arte, como objetos, pinturas, desenhos, colagens, gravuras, esculturas, instalações, registros de performances; Museus Históricos, com acervos que remetem a diferentes momentos da história e cultura regionais, nacionais ou do mundo, contendo documentos, trajes, veículos, objetos, tesouros arqueológicos, mobiliário de épocas diversas, fotografias ou filmes;

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Apresenta tipos de museus

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    TIPOS DE MUSEU E ESPAOS CULTURAIS, A CIDADE COMO ESPAO CULTURAL

    Karen Greif Amar

    O museu, de acordo com o Instituto Brasileiro de Museus, uma instituio permanente, aberta ao pblico, sem fins lucrativos, a servio da sociedade e de seu desenvolvimento, que adquire, conserva, pesquisa, expe e divulga as evidncias materiais e os bens representativos do homem e da natureza, com a finalidade de promover o conhecimento, a educao e o

    lazer.

    Considerando a histria dos museus e outros fatos relacionados a sua criao, muitos dos aspectos citados acima se mantm at os dias atuais desde sua origem. A palavra museu (do grego mouseon) designava, na Grcia Antiga, o templo das musas, as quais incentivavam a criatividade de artistas e intelectuais, sendo este um local de inspirao divina onde eram

    cultuadas as artes e as cincias.

    Em meados dos sculos 16 e 17, surge o Gabinete de Curiosidades, lugar que tinha como caracterstica o agrupamento de diferentes objetos com o intuito de criar uma coleo. Na tentativa de abarcar a diversidade do mundo atravs das exploraes e descobertas realizadas nas viagens, os achados como, por exemplo, espcies da flora e fauna ou mesmo certos artefatos considerados curiosos, diferentes, avanados para a poca ou mesmo exticos, eram reunidos, organizados como trofus da nobreza. Ainda que restritos elite, tambm mantinham o carter de culto e admirao cincia e s artes, podendo ser considerados

    como os antecessores dos museus.

    Com o surgimento dos museus, as colees, antes reservadas nobreza, foram abertas tambm ao pblico. No Brasil a instituio surge por iniciativa de D. Joo VI, no sculo 19. O Museu Real, atual Museu de Belas Artes, no Rio de Janeiro, inicialmente abrigava uma pequena coleo de arte trazida por ele de Portugal. Pensando no carter artstico, cientfico, antropolgico, histrico, tecnolgico, os museus permanecem com este sentido de valorar a arte, abrigando algumas colees reunidas em um ambiente construdo pelo homem com esta finalidade, se constituindo como um espao privilegiado, apresentando um desejo humano de busca pelo conhecimento e o seu compartilhamento, de forma a ampliar saberes e fomentar o imaginrio atravs do ato de procurar, selecionar, fruir e colecionar. No Brasil podemos encontrar mais de 2500 museus espalhados pelos diferentes estados e regies que

    apresentam uma variedade tipolgica, abrangendo distintas possibilidades de acervo:

    Museus de Arte, com acervos de cultura popular, arte clssica, moderna, contempornea, regional, nacional e internacional, contendo obras nas diferentes linguagens da arte, como objetos, pinturas, desenhos, colagens, gravuras, esculturas, instalaes, registros de

    performances;

    Museus Histricos, com acervos que remetem a diferentes momentos da histria e cultura regionais, nacionais ou do mundo, contendo documentos, trajes, veculos, objetos, tesouros

    arqueolgicos, mobilirio de pocas diversas, fotografias ou filmes;

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    Museus de Histria Natural, que apresentam elementos relacionados com a natureza, como

    animais, plantas e minerais;

    Museus de Cincia, com acervo que apresenta essa rea do conhecimento, contendo experimentos de tecnologia, astronomia, medicina, mquinas antigas e atuais, objetos,

    fotografias e filmes;

    Museus Biogrficos, com acervos que exibem a histria de uma nica pessoa, como um artista ou escritor, por exemplo, contendo objetos pessoais, mobilirio, documentos, fotografias e

    obras originais, sendo muitos destes museus locados na casa onde essas pessoas viveram;

    Museus Temticos, com acervo que aborda um nico tema relevante para a sociedade ou comunidade onde est inserido, como a energia, o caf, o telefone, contendo objetos,

    fotografias e documentos relativos ao tema.

    Ser curioso, observar, querer guardar para compreender e ressignificar o mundo atravs do conhecimento so aes inerentes ao homem. Assim criamos nossa coleo de imagens mentais, como um museu particular, formado pelas investidas de cada um ao que considera valioso para si, mobilizando o olhar nessa busca peculiar, particular, lendo e analisando o mundo que o cerca. De acordo com Anamelia Bueno Buoro, o homem compreende seu contexto e relaciona-se melhor com ele atravs da arte, produzindo e fruindo, considerando que o conhecimento do meio bsico para a sobrevivncia, e represent-lo faz parte do prprio processo pelo qual o ser humano amplia seu saber. A arte, portanto, permite construir conhecimento sobre si e sobre o mundo, e o museu, como instituio, proporciona um olhar diferente para a complexidade da arte, favorecendo essa construo ao agrupar,

    organizar e apresentar sua coleo ao pblico.

    Aspectos fundamentais do museu, como o acesso cultura e ao conhecimento, esto presentes nos espaos culturais espalhados pelas cidades. Com objetivos que dialogam diretamente com os museus e buscando um contato direto com o pblico atravs de seu acervo ou ao educativa, os espaos culturais ampliam sua rede de atuao na medida em que se configuram tambm como espaos da cidade. Diferentemente dos museus, muitos espaos culturais acontecem em alguns pontos da cidade, locais frequentados pela populao, que atingida diretamente pelas manifestaes ocorridas ali acabaram entrando em contato direto com a dimenso cultural que vem ocorrendo nos grandes centros urbanos. Percebe-se ento um aumento dos espaos onde manifestaes artsticas ocorrem, de alguma maneira, ampliando o mbito do espao expositivo do museu para as comunidades, j que muitos dos espaos culturais surgem da prpria iniciativa comunitria. Considerando que o museu muitas vezes inibe o grande pblico a frequentar e a dialogar em seus espaos, muitas vezes por um resqucio histrico ligado nobreza, o carter amplo das manifestaes artsticas que vem ocorrendo nos espaos culturais amplia a possibilidade de relao entre arte e pblico, favorecendo uma integrao entre esses espaos pela cultura, tornando-a algo

    pertencente a todos.

    Em sntese, ao se identificar, atravs das manifestaes que despontam nos espaos da cidade, o pblico sente-se estimulado e busca se apropriar da cultura que produzida e compartilhada socialmente. Os espaos culturais na cidade favorecem essa integrao e promovem uma

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    incessante troca cultural artstica, indo em direo a uma interlocuo com os museus, que cada vez mais recebem o grande pblico atravs das visitas educativas e dos convnios com escolas municipais e estaduais. Esse fato pode e deve ser potencializado na escola que, atravs da sistematizao dos contedos envolvidos, repertoria os alunos a compreender a cidade como potncia cultural, pronta para oferecer e receber os alunos propiciando todo tipo de relacionamento com a cultura que e foi produzida pela sociedade. Permitir frequentar, interagir, dialogar, atuar e construir novos conhecimentos sobre a singularidade e o conjunto da arte em um mundo saturado, em constante movimento cultural, objetivo primeiro da

    cidade e da escola.

    Referncias Bibliogrficas

    BUORO, Anamelia Bueno. O olhar em construo: uma experincia de ensino e aprendizagem da arte na escola. 6. ed. So Paulo: Cortez, 2003. JULIO, Letcia. Apontamentos sobre a histria do museu. Disponvel em: . Acesso em: 27 fev. 2015. MUSEUS e Casas Histricas. Disponvel em: . Acesso em: 27 fev. 2015. PEREIRA, Rosa Maria Alves. Gabinetes de curiosidades e os primrdios da ilustrao cientfica. II ENCONTRO DE HISTRIA DA ARTE IFCH / Unicamp. Disponvel em: . Acesso em: 27 fev. 2015. Site

    CENTRO Cultural So Paulo. Disponvel em: . Acesso em: 27 fev. 2015.