(1993) Traçando Porto Alegre - Luís Fernando Veríssimo

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    L U I S F E R N A N D O V E R I S S I M OJ O A Q U I M D A F O N S E C A.A ' e N 0 0-

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    L u i . .quim d e F t nSlIit r a g ra tcom a cronies de vi g' n d o t ra ca -ra m tres g ran s m tr t a les: N ewY o rk ,P ar is e Rom a. T re s liv ro s d e g ra n-de sucesso que ' nem as v iso s deV erissim o e onseca , ca da urn a seum o do , e m d ife re nte s fo rm as a rtis tic as eta lentos adm i r av e i s .

    Em cada um a da s tres cidades,V erissim o m orou com su a fam ilia porse is m eses, em m ed ia , e nesses per io-d os p ro du ziu se us tex to s, rev ela nd o a sc id ad es , s eu s c ot id ia no s e s eu s d et al he sm ais c ara cteris tico s. A s v is ita s d e Jo a-quim da Fonseca fo ram m ais r a p i d a s ,T em po suficien te, porem , pa ra que eleproduzisse inumera s ob ra s de a rte,m ostr and o a s ruas e os loca is q ue m aism a rc ar am su a se nsib il id ad e d e a rtis ta .

    P ara en cerra r esse cielo muit a svezes n osta lg ico, fa lta va a ind a o utracidad e: P orto A leg re. U ma cidad e queem bo ra sem a pretensa o de com pa ra r-se a s o utra s m etr 6p oles tra ca da s, p od eo rg ul ha r-s e d e s er a e le ita d - Ve r is s imoe Joa quim da Fonse a T r a ' [ In d oP o r to A l e g r e mos t r a ltpila ldos g au h S v Ipropri a lm z

    Verissimo, L U I S FernandoTracando Porto Alegre

    1 1 1 1 11 1 1 1 1 11 1 1 1 11 1 1 1 1 11 1 1 1 1 1 1 1 1 11 1 1 1 1 11 1 1 1 11 1 1 1 1 11 1 1 1 11 1 1 1 1 10000001841

    T R A ~ A N D 0P O R T O A L E G R E

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    o P ar qu e M ar in ha d o B ra si l,qu e ja fo i P ra ia d e B el as ,s e e si en de a te a o c om p le xo e sp or ti vod o s e s td d io s B e i ra - R io .

    V5171 Ver issimo, Luis FernandoTracanco Por to Al egre - 6" edicao / LuisFernando Ver issimo; i lust racces de Joaquim da

    Fonseca. - Por to Alegre: ArIes e Oficios Edi tora,1996.

    144p.: u. 14x21 cmI.Literatura brasileira 2. Cr6nicasI Fonseca, Joaquim da I I. Titulo

    CDU 869.0(81)-94Ficha elaborada pol , lnbhotr c, lia Monica Germany - CRB 10/888

    L U I S F E R N A N D O V E R I S S I M OJ O A Q U I M D A F O N S E C A

    T R A ~ A N D 0P O R T O A L E G R E

    6 i! ED IC ;AO=-

    ~artes@ Oficios

    PORTO ALEGRE-RS1996

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    de Luis Fernando Verissimo e Joaquim da Fonseca, 1994

    Revisao de texto de Claudia LaitanoTexto de Luis Fernando VerissimoLegendas de Joaquim da Fonseca

    Capa, ilustracoes e design grafico de Joaquim da FonsecaComposicao de Padrao Grafico

    Fotolitos de capa de Sheik FotolitosFotolitos de Prismagraf

    Impressao de Grafica Editora PallottiA 18edicao deste livro teve 0 apoio daPrefeitura Municipal de Porto Alegre

    SumarioA cid a de tr a ca d a (Io a qu im da Fon seca ) 7Ma p a d e P o r to A l e g re a t u al .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . 1 0A m a l en tendid a 13A vo lta 21Ceracao 25Os bondes .... 32Doce afl i~ao. . . . . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . 37o Ip a 41As s a do r 46Va ssoura da . . . . . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . 51Gren a l 56Q ua tr o e st ac oe s 63o ini rnigo . . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. 68A feira . . . . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. 73E stia g em ....... 80T ea tr o t ot al: 0 ca so Daud t 84o m a is te r r iv e l 87A lg um a s pesso a s ....................... 90A s no i v a s do P a r t e non .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . 9 7Mane iro 101Ba ixo a u s tr a l 104Os que fic am 108Invasao 11 3T a x ia ndo 117Dup lo sen tido 120T er rinh a 123o d ia do In te lec tu a l 128o ba ca n a 132o sosia 13 5V id a e m o r te P a ss ion a r ia 139

    Reservados todos os direitsde public c 0 1 181ou p rcial pelaARTES E OFICIOS EDITORA LTDARua Henrique Dias. 201

    ~(051) 221-0732e-Mail: [email protected]

    IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZILISBN 85-85-418-25-7

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    A entrada para 0porto,[rente iiAvenida Septiloeda,e 11m dos raros exemplosremanescenies das cstru til ras deferrodo inicio do seculo. .

    R\.-~/J - . A j\-

    ~"",)

    A cid ad e t r acada

    Toda a cidade que tern urn rio e bela. PortoAlegre exagera , esparrama-se ao longo de varies que ,de lambuja, se transformam num lago imenso. Comtoda essa lindeza, gosto de tomar nossa cidade comomodelo e ternatica. Tenho desenhado como ela era,como ela e e como a desejo.

    Pode parecerestranho atr ibuir sexo a uma cidade.Porto Alegre , que tern a lma , eu ve jo feminina. Capri -chosa e temperamental, e a urn so tempo provincianae avancadinha, mantendo habitos reca tados, pore rnsem nunca perder 0 compasso com 0 nosso tempo.Metropole.e neurotica.opiniat ica e exigente. Tarnbemaldeia, e pudica, singela e d6cil .Sensualmente languida, se de ita esti rada no seus inuoso contorno fluvial . Dominadora e envolvente,avanca voraz sobre os morros, pelos vales e pelasplanuras. Impetuosa, lanca-se ao alto em pontas deconcreto. Fogosa, vibra entrelacada por arter ias dina-micas e congestionadas. Carola, reza com fe na Festa

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    d os N a ve ga nte s. P ele ad or a, t ra ba lh a fe ito lo uc a n aso fic in a s d o q ua rt o d is tr it o. C iu m en ta , e sc on de c om 0mu ro s eu p er fil m a is li nd o.

    E fa ce ir a q ua nd o s e v es te c om a s flo re s d o ja ca -ra nda , anuncia ndo a prim aver a e e m anhosa a o sede rre te r no s d ia s to rr id os d e ve ra o. R om an tica , sepinta tod a n os fins d e ta rde , n o o uton o. M alva da ,v en ta fr ia e c in ze nta n as n oite s d e in ve mo .

    Q ua nd o a qu i c he gu ei, n os te m po s d o b on de , d or ol o c om p re ss or e d a s b al as e sp or ti va s, P or to A le g rea inda m an tinha , a o m enos no cent ro, um cer to a rt ra d ic io n al q u e l emb r av a B u en o s A i re s . C om 0 t empo ,f oi s e t or na n do m a is i nt er es se ir a, s ub st it uin do s eu sc a fe s d e e sq uin a p el as a g en da s f in an ce ir as . A le m d ain oc en ci a, p er de u n os u lt im o s a no s m u it o d e s ua id en -tid ad e o rig in al. A s m a rin es e a s a ne do ta s d e r ua , p ore xe m plo , fo ra m s ur nin do , d an do lu ga r a os c or nic esd a te ve . M a s fo i g a n ha nd o o utr as c ois as q ue a fa ze mm oderna , a du lta e m adu ra , com o a Feira do Livro ,e sp a ~o s d e c ult ur a, m u se us , t ea tr os , g a le ria s d e a rt e.

    Tan to 0 L FV c om o e u c on he cem os o ut ra s, e v er -d ad e. M as c ad a u m n a s ua , e le ge m os e ste p or to c om on o ss o p o nt o d e r e fe r en d a. T r a ca - la , p a ra n o s, e l it e ra l-m ente e g ra fic am en te u m a te d e a mo r.

    ci"t::;: ; : : :t:j~. . s : :"(U;:0~(U;::i~.E: ; : : :(U... _; : : , _

    J~;::i"._ i.gt:j'".: 3at:j.8: ; : : :(U~;::i: ; : : :a~a'" 't::;~'13t:j"t::;~._a: ; : : :~;: :1 ::(U

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    J oa qu im d a F on se ca

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    opredio dos Correios e Telegrajo.na Praca da Alfandega,marca 0 tempo da cidade.

    A m a l en ten did a

    P orto A leg re v iv e a b e ir a d e a lg un s m a l-e nte n-didos.P ar a c om ec ar . v iv e a b e ir a d e linio que n ao er io . 0 Gua fb a e linestu a r io , ou com o quer que secham e essa espec ie de a nte -sa la ond e cinco r ios sereu nem pa ra en tra r ju ntos na La goa do s Pa tos. M ast odos 0 c ha ma m d e R io G ua fb a.

    A r ua p rin cip al d a c id ad e n ao e xis te . V o ce r od ar atoda a cida de a procu ra da R ua d a P ra ia e na o ae nc on tra ra , U sa nd o a l6 gica - 0 que e s em p re a rr is -cado , em Por to A leg re - p rocura ra um a rna quema r ge ia 0r io (qu e n ao e r io), o u q ue com ece ou ter -m ine num a pra ia . S e da ra m a l. N ao hi p ra ia s noce ntro d a c id ad e, e n en hu ma ru a a o lo ng o d o fa lso r iose ch am a "d a p ra ia ". F in alm en te , d esco nfia do d e q uea rna pr in cipa l s6 p ade ser aquela que concen tra am aior pa rte d o tra feg o d e pedestre s no cen tro , v oceco nsu l t ara a p la ca e le ra "Rua dos A ndrad as" . M asnin g uem a cham a de R ua dos A ndrad a s, cham am 1 3

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    pe lo nom e an tig o , Rua da P ra ia . Por que da pra ia ?N ing uem sabe . S 6 se sabe que ela va i da Ponta doC asom etro , que na o e m ais Casom etro , a te a P racaDom Feliciano , que todos cham am Praca da Sa n taC asa , pa ssando pe la P ra ca da A lfa ndeg a , que ja fo ip ra~a S enador F lo rencio , m as voltou a ser P raca daA lfandeg a porque ficava na fren te da A lfandeg a -q ue n ao ex is te m ais .

    Confuse, voce ta lvez en tre no pred io da prefe i-t ur a p ar a p ed ir s at is fa co es , s o p ar a d es co br ir q ue e nt ro un o p re dio e rra do . E xis te o utr a p re fe itu ra , a n ov a, a tr asda velha , que por sua vez tern na fren te urna pra~acha ma da nao Por to A leg re m as Mon t e v i d e u ,

    B ra sil. C er ta me nte e 0 m a is b er n c ui da do . I na ug u ra doem 1858, esteve fechado por uns tem pos e fo i m ag ni-fic am en te re sta ur ad o p ar a s ua re in au gu ra ca o M p ou co sanos. Da saca da do seu prim eiro anda r , onde ficam 0foyer e 0 ca fe, voce pode olha r a P raca de c im a . S etiv er so rte, o s ja ca ra nd as esta ra o flo rin do . Do o utrolade da pra~a estao a C a tedra l e 0p ala cio d o g ov er noe st ad ua l, o u P al ac io P ir at in i, e ss e n o e st il o n eo cl as si cofra nces. Du as c oisa s su rp ree nd em a lg un s v isita nte se m P or to A le gre p ela q ua ntid ad e in su sp eita da : a a rq ui-t et ur a n eo cl as si ca e o s ja ca ra nd as .

    S ain do d o T hea tro S ao P ed ro v oce p od e a pro vei-ta r pa ra da r um a olhada na Bib lio teca Publica (ou troe xe mp lo d o e stilo n eo cla ss ic o), e p rin cip alm en te u rn aesp ia da n o se u S ala o M ou risco , r ica me nte d eco ra do .Desca a rua da La deira . Esta bern , a Genera l Camara ,V oce cheg a ra ao cham ado La rg o dos Mede iros e ao ut ro m a l- en te nd id o m u ni ci pa l. o la rg o te rn e ste n om eextra -oficia l em hom ena gem a um ca fe que tinha a li enao tern m ais. N ao , nao se cha mava Ca fe M edeiros,os donos e que se cham avam assim . N a o im porta ,vire a esquerda e sig a pela R ua da P ra ia - dos A ndra -da s! dos A ndra da s! - pa ssando a Praca da A lfand eg a,onde toda s a s prim avera s se rea liza a fa mosa Feira doLiv ro d e P orto A le gre .

    Depois de um a cur ta cam inhada voce cheg a raa o a ntig o H otel M ajestic, h oje b elissim am en te tra ns-fo rm a do na Ca sa de Cultu ra Mar io Quin tana , comte atro s, c in em as e sa la s p ara c urs os e e xp os ic oe s, V alea pena en tra r pa ra ve r 0 que fo i feito do velho hotel ei r a te 0C afe C on certo n a su a p ar te su per io r, o u en ta od eix ar p ara v olta r la n a h ora d o p or-d o-so l. U rn p ou com ais ad ian te na m esm a R ua da P ra ia , a s ua e sq u er d a,voce vera a ig re ja N ossa S enhora da s Dores, com um a 1 5

    N a pre fe itu ra cer ta ta lvez the d ig am pa ra ir sequeixa r ao bispo , tendo q ue, pa ra isto , sub ir a R ua daLade ira a te a P ra ca da M atr iz, onde fica a C atedra l.Desis ta . V oce nao encon tra ra a R ua da Lade ira , quehoje se cham a (s6 ela se cha ma , porque ning uem m aisa cha ma assim ) Genera l C am ara , e a P raca da M atr izna verdade e a P ra ca M arecha l Deodoro , em bora pou-c os p or to -a le gr en se s s ai ba m d is to .

    A unica van tag em de toda esta confusao e quev oc e p re cis ar a d e m uito te mp o p ar a ir d ec ifr an do P or toA leg re, a o co ntra rio d o q ue a co ntec e em cid ad es p re -v is iveis e sem g ra~a com o Pa r is, Rorna , etc., ondetu do te m 0m esm o nom e M seculos - e ir deg usta n-d o-a a os p ou co s. A ch o q ue n ao se d ecep cio na ra ,

    V en cid os o s p rim eiro s m al-en ten did os e lo ca li-zada , por ex em plo , a "Praca da Ma tr iz" , voce podefazer um a visita ao T hea tro sao Pedro , um dos org u-lhos da c idade com seu pred io em estilo ba rrocoportug ues e sua pequena pla teia em form a de fer ra -dura . H a quem dig a que e 0 tea tro m ais bonito do4

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    g ra nde e sca da r ia n a fr en te . A fa ch ada e a esca da rias a o i lum i na d a s a no ite , e um a da s b on ita s v is6es d ac i dade .

    V e lte pe la m esm a R u a da P ra ia em d irec a o aoc e nt ro . A o c h eg a r a A v e ni da B o rg e s d e M e de ir os , p e gu ea esque rda e desca a te 0 M erca do P ub lic o, pe rto d ap refe itu r a e da ja c ita da P ra ca M on te vid eu , onde es taa g ra cio sa F on te d e T ala ve ra d e la R ein a, u m p re se nted a c om u nid ad e e sp an ho la a c id ad e. P a ss eie d en tr o d om er ca do e v eja a s su as "b an ca s" e sp ec ia liz ad as, c om oa que ven de v a r ies tipos d ife ren tes de erva pa ra 0ch ima r r a o , Os m ora ng os com na ta ba tid a da Ba nca 43s a o f am o s os .o per -do -so l na o pode ser re iv ind ica do com oa tr ac ao tu ris tic a d e P or to A le g re , ja q ue t ec nic am e nt ee le a con tec e fo r a d os lim ite s es tr ito s do m un ic ip io ,m as sa ber se co loca r pa ra a ssist i- lo e um a da s a rtes dac ida de . 0 novo C afe C oncer to , na cupu la do an t ig oH ote l M aje st ic , c om u ma v ista d ese mp ed id a d o "r io "e do poen te , ja tem seu s a dep to s , m as 0 p on to t ra d i-d ona l dos cr epu scu lista s e 0 m ira n te do Morro deS an ta T eresa . V oce p re cisa ra d e tr a nspo r te pa ra ir docen t ro a te la e se fo r d e ta x i, p a ra ev ita r ou tro m al-en ten d id o , d ig a a o m oto r ista que q uer ir a o "Mor roda T ele visa o" . Do m esm o m ir a nte voc e te ra a m elh orv ista d a c id ad e, c uja to po gra fia ja fo i c om pa ra da a desa o F r a nc isco na C alifo rn ia . E ver a , h i em ba ixo , 0i m po ne n te e s t ad io d o g r an de S p or t C lu b I nt em a c io na l.

    Ou tro bo rn lu g ar pa ra se o lha r a c id a de e 0 po r -d o- so l e 0M orro do T ur is ta . P ar a che ga r la voce p re-c isa ped ir pa ra se r leva d o ao M orro da Po lic ia . E 0m esm o m or ro .

    A os dom ing os pe la rna n ha , boa p a r te da popu -la ~a o de P or to A leg re va i a o "Brique d a R ed enca o",

    a ss im cha ma do po rque fica no P arque F ar ro up ilh a .C alm a. 0 P a rque F arroup ilh a , u rn dos m aio re s pa r-que s u rba nos do m undo , e conhecido pelo s p o r to -a leg renses com o P arque da R ed enca o, O u, suc in ta -m en te , "a R ed enca o". "Br iqu e", na ling ua g aucha , eo encu r tam en to de "b r iq ueab ra q ue" e e um a fe ira dea nt ig uid ades em q ue tud o, a te rev is ta da sem ana p as-sa da , e c on sid er ad o antiguidade, Mas em m eio a sp o rc a r ia s a s sum i da s , ha lo u ca s e p ra ta r ia s, li vr os v a li o-so s, se lo s e m oeda s e p rinc ipa lm en te m uita g en tev en de nd o, c om pr an do o u so p as se an do .o p ar qu e s e c ha m a F arro up ilh a e m h om en ag ema r evo luc ao do m esm o nom e que os g auc hos fize ra me m 1 83 5 c on tr a 0 im p er io , p ro cla m a nd o a R ep ub lic aR io -g ra nd ense . M as, em bora todo m undo aqu i ho jec om em ore a in su rre ic ao , P or to A le gre m a nte ve -s e fie la o g ov ern o c en tra l e p or isto m ere ce u 0 ti tu lo d e " le ale v alo ro sa c id ad e" c on fe rid o p elo im pe ra do r P ed ro II ,e q ue e sta no seu b ra sa o .

    O u tr o m a l -e n te n d id o ,

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    Do alto doMorro Santa Teresa,d ai s s ew l os coniemplama Guaiba e a perfil da cidade.

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    A volta

    A g en te vo lta va d a p ra ia e tinha u rn cho g uec om P or to A le gr e. Q ue c id ad e g ra nd e! D ep ois d e d oisou t res m eses e m T orre s - que n aque la epoc a fica vabern rna is long e d o qu e fica ho je - P or to A leg re er au rn a s so m b ro n o h o ri zo n te , a p rim e ir a , f ul gu ra n te v is a ode Dam asco pa ra u rn pe rd ido no de ser to . N um diac la ro d e m arco seu s m ina re te s p od ia m ser v is to s delo ng e, d a c id ade m ag ica d e Gra va ta i. 0 te mp o cu s-ta va a pa ssa r en tr e S an to A nton io da R apa du ra eG ra va ta i, m a s e m C ra va ta i 0 co r a ca o sa bia qu e emm eia ho r a es ta ria em P orto A leg re , e g ue n ao se r iau rn a m ir ag em . A civil izacao, Bo nd e s! A s f al to . F i lm e snovos . 0 m ila g re de descob r ir q ue a ca sa e sta va n om e sm o lu g a r, m e s m o q u e n os so q ua r to p a re c es se e st ra -nham en te rnen o r d o que rne ses a n tes . A p r a ia e rab or n m a s a c id ad e g ra nd e e s ua s p ro m es sa s e ra m e lh or .E n a n os sa fre nte e ste nd ia -s e a gu ela im en sid ao , u rnn ov o a no ! 2 1

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    M as h av ia 0 la do som brio da volta . A esco la .N a o e ra u m a p er sp ec tiv a c om p le ta m en te d es an im a -d o ra p o rq u e me smo e st e t er ro r tinha suas compensacoes.

    P ou ca s s en sa co es n a v id a s e c o mp ar av am a o p ra -zer d e escrev er a s p rim eira s le tra s n a p rim eira lin had a p rim eira fo lh a d e ur n c ad er no n ov o, le mb ra ? S en -t ir , p or t ras d a p rim eir a fo lh a, 0 firm e v olu me d aso ut ra s. T o da s v a zi as , l im p a s, i nt oc ad a s, e xp ec ta n te s,cu rio sa s. Q uem m an eja ria a p en a o u 0 l ap is nQ2 qu een ch er ia m su as p au ta s? U rn g en io o u ur n b ur ro , u rna sceta o u u rn relaxado? E ra u rn m om en ta simbolico,o ca dern o esp era nd o p ara conhece-lo e v oc e, recem-c he ga do d as ferias, f az en do u rn ju ra m en to s il en ci os odia nte da sua prim eira pa gina : este a no , vou ca pri-c ha r. V ou s er ur n a lu no ex em pla r, v ou ser d ig no d osm eu s c ad er no s. A lis an do a p ag in a - d ep ois d e c he ir a-la b ern , c la ro - e p en sa nd o em co mo era , a fin al, a su av ida a li, a ber ta na sua fren te , espera ndo pa ra vocef a ze r d e la 0 que de c id i ss e .

    A s ferias t in ha m fic ad o p ar a t ras , era a hora daser ied ad e, d o co mp ro misso . M in ha v id a sera cla ra ,o rdena da e bonita com o a m inha ca lig ra fia . M inhav id a n ao tera b orro es o u fo lh as q ue p recisa rei a rra n-ca r e jo ga r fo ra a ntes q ue a lg uem a s v eja . M in ha v id an ao t er a b on ec os d es en ha do s n as m a rg en s, n em g ra n-d es e sp a ~o s d es pe rd ic ad os c om b a ta lh a n a va l o u e sb o-co s d e b ilh et es a m or os os , ja m ais m a nd ad os , a u c om 0t im e id ea l p ar a 0 C olo ra do o u a s a ve nt ur as e ro tic asdo Capitao C a ce te . M in ha v id a s er a ur n cade rno impe-cave l a te a u lt im a fo lh a. M eu c ad er no s er a p er fe it o a tea U ltim a p au ta . Q ua nd o eu term in ar co m ele, d oa reia o M useu N acio na l d o Bo rn A lu no , p ara in sp ira r asg e r a c o e s futuras.

    V oce h esita va a ntes d e fa zer a p rim eira le tra d ap rim eir a p ala vr a, le mb ra ? F az ia u rn p eq ue no flo re io .F ic a va i nd e ci so : u s o l uv a b r an c a? Nao, b o ba g em . N o v oflo reio . E com eca va a escrever . C om o se fosse urntex to m ed iev al e v oce, n aqu ela id ad e, u rn m on ge d eme t icu los idade .o cu id ad o d ura va d ua s, tres p ag in as, Q ua tro n om axim o. N a seg unda sem ana de a ula voce ja esta vausando a s fo lha s pa ra lim pa r a s mao s sem tira r doc ad er no . M as n aq ue le p rim eir o m o me nt a v oc e e ra u rnv ir tu os o, e 0c ad er no n ov o e ra 0s eu c et ro , e 0mundoe 0 a na le tiv o se o ferecia m a sua co nq uista co moc am in h os i lum i na d o s.

    E f or a d a e sc o la e x is ti a P o r t o A l eg r e, a q u el a me t r6 -p ole . E o ic e-c re am d e c ho co la te d a J an n.

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    Geracao

    No que ro rea cend er v elha s d iscussoe s m asha via , s im , q ua rto s n a boa te "M aipu ". S ub ia -se p ora qu ela esc ad a a te 0 sa la o. d ep ois t in ha o ut ra esc ad aig ua l p ara o s q ua rto s. O nd e se a ca ba va d e fa ze r 0 q uese tinh a co r nec ad o no sa la o , 56 q ue sem a m usic a .F req iien te i o s qua rto s do "M aipu" . E na o era m qua r-t os s ec re te s, s 6 p a ra a rn ig o s d a c as a e c lie nt es e sc olh id o s.E u e ra um freqiientador co mu m, se m n ad a, in fe liz-m en te , qu e ju s t ifica sse um tra tam en to e specia l d ag er en cia o u d as m u lh er es. O lh av a c om u m a c er ta a dr ni-r ac ao o s a ssid uo s, g er alm en te c om c ab elo " ab ot oa do "a tra s e c a sa co a cin tu ra do , que m ereciam os p riv ile-g io s d o lug ar . E s tes 56 d anca vam qua nd o 0 " jazz"p a r a va e en t ra v am a " tip ica " e 0 t a ng o. T oda s a sb oa te s da c id ade tinh am um "ja zz " e um a "t ip ic a " ,q ua nd o n ao tin ha m ta mb er n u m "re gio na l" . M as su bira s esc ada s p ara um qua rto do "M aipu" na o e ra p r iv i-le g io de n ing ue rn . E ra so com bina r com a m oca . 2 5

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    o U lt im o b onde pa ssa va pelo A br ig o a li pe lau ma d a m ad ru ga da . A os sa ba do s, tin ha u rn m ais ta rd e.A os s abados a g e nte saia da sessao da meia-noite do sc in em a s e c or ria p ara MO perder 0 U lt im o b on de . A sse ss6 es d a m eia -n oite , m uita s v ez es, e ra m d e film es"c ie nt ific os" ,le mb ra ? E ra a sa ca na ge m q ue a in da n aoo us av a d iz er s eu n om e . S es s6 es s ep ar ad as p ar a h om e nse mu l he r es . O s a d o le s ce n te s q u e hoje p od em e sc olh eren t r e "T ara das q ue d ao d e o ua iro " eliTe la mb o iod a"p ara v er e m q ua lq ue r c in em a e te rn se xo e m p ro fu sa on a r ev is ta d a fa rr ulia n ao s ab em 0q ue e ra a n ossa lu tad ese sp era da p ela m ulh er n ua . A m ulh er n ua e ra ra cio -na da . A pa rec ia u rn se io da M ar tinne C aro l no O per ae n6s esta va mos fa ze ndo fila na p r im e i ra sessa o data rde . A s coxa s da S ilv a na M ang ano no R ex e co rr ia -m os pa ra la o T inham os va g as no tic ia s de r ev ista sd in am a rq ue sa s q ue m o st ra va m T ud o, m a s o nd e e nc on -tr a -la s? N a o m e le m br o b er n d o q ue tr ata va m o s " film e sc ie nt ific os " m a s a ch o q ue e ra m a le rta s c on tr a a s d oe n-ca s venere as, com dem onstr a coes g ra fica s da s su asc on se qu en cia s, e p or ta nt o m a is b ro ch an te s q ue q ua l-q ue r o utr a c ois a. M as q ue m b ro ch av a n aq ue la e po ca ?M e le mb ro d a a do le sc en cia c om o u ma e re ca o in in te r-r up ta . B or n, n ad a. E ra u rn m a rtir io .

    Os b on de s. A q ue le c he ir o m e ta lic o d os b on de s,o b aru lh o q ue e le s fa zia m , o s g em id os, 0 " ps ch t" d osfr eio s. N os sa a dm ir ac ao p elo s fis ca is q ue p ula va m d eu rn b on de e m m ov im en to p ara o ut ro , fa ze nd o a no ta -~ 6 es m i s te rio sa s n a s s ua s p la n ilh a s. 0 b on de P e tr 6p ol is ,d epo is de v ir nu rna boa veloc ida de pela O sw aldoAranha , p a ss a do p e lo P r o nt o S o c or r o, p e lo mu r o d a q ue laa rea r eserva da a u rn H osp ita l de C lin ic as que nuncae ra c on str uid o, p elo c in em a R io B ra nc o, p elo b ar q uefica va no pe da rua que da va no C oleg io A merica noe, la em cim a, no IP A , e tinha 0 m elh or s orv ete d a

    c id a de , c om e c av a a s ub ir ,le nt am e n te , a P ro ta s io A lv es .C om o era len ta a sub i d a do bonde Pe tr6po lis pe laProtas io A lv es . M a s na o m e lem bro de a cha r que er au rna perda de tem po . Aproveitava-se pa ra pensa r nav ida , a u no que pa ssa va p o r v ida na a do lescen cia .N ada com o urn bonde len to pa r a m ed ita r sob re 0sig nific ad o d e to da s a s c oisa s. S em pre im ag in ei q uese a linha Pet rop6 lis fo sse u rn pouco m ais long a eut e r ia d e c if r a d o 0Univer so .

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    Descer do bonde em m ov im en to e ra um a ob ri-g a~ao da juven tude , qua se um a p rova de m acheza .M a s 0 de sa fio m aio r e ra sub ir no bonde em m ov i-m e nto . C or ria -s e d e c os ta s a o la do d o b on de , a g ar ra va -se com um a m ao a ba rr a ver tica l da po r ta , pu la va -seg i r ando 0 co rpo no a r e ca ia -se com urn pe n o e s tr ib o ,v ira do p ar a a fre nte . A lg un s c aia m e m b aix o d o b on de ,m as quem diz que na p rov inc ia MO h a v ia a v e nt u ra ?A s rna t ines de dom ing o no Im pe ria l, se gu ida sde u rn "ice c re am " n a C on fe ita ria C en tra l. N as m a ti-n es , a nte s d e c om ec ar 0 f ilm e, o s ra pa ze s fic av am d ep e n as f ile ira s, v ir ad os p ara tr as, p ar a v er em a s m en i-n as e s er em v is to s. D e g ra va ta , p os to q ue e ra d om in go ,e com 0 G urn ex b rilh an do n o c ab elo . C ha ve iro c omc or re ntin ha . A c or re nt in ha s en do e nr ola da e d es en ro -la da no dedo , com o um a helice . A s p ia da s, depo isq u e c om e c av a 0f ilm e. M ulh er b on ita n a te la e ra se m-p re r ec eb id a c om 0som do a r sendo sug ado po r toda sa s boc as m ascu lin as da p la te ia , m enos dos que esta -vam com a nam ora da . E a s v ez es a te e st es , s e a m u lh ere ra ir re sis tiv el o u 0 dec ote er a m aio r . Beijo s e ra msaudado s com urn g rito de "GoI!" . E 0 m ax im o doh um o r s of is tic a do e ra e sp a nt ar 0 p as sa ro d a a pr es en -ta ~a o da C ondo r F ilm es . A lg o m udou na nossa a lm aq ua nd o p ara m os d e e sp an ta r 0 c on do r. E no s film es 2 7

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    mu s ic a is , s e m p re q u e a lg u em c o rn e ca v a a c a nt ar , p a s-sa va u rn m u rm u rio d e im p ac ie nc ia p ela p la te ia . A sm u sic as n ao e ra m b em -v in da s n os film es m u sic aise m P o rt o A le gr e.

    E sem pre a p ro cu ra do sexo . 0 ca b a re e ra 0U ltim o r ec ur so . A C ab o R oc ha e a P an ta le ao T elle se ra m a s z on as d o c ha m ad o " ba ix o m e re tr ic io ", o n dei a rn o s c om 0 e n te n di m en to t ac it e d e q u e p o de ri am o s ,u rn d ia , d eix ar 0 p en is g an gr en ad o e m a lg um r alo .N o s c ab ar es a s m u lh er es e ra m d e u m a c er ta d asse , a sv e z es a t e a r g e n t in a s .M a s a g 1 6 r ia e r a c o n s e g u ir m u l h ers em p ag a r. Q ue m t in ha a ut om 6 v el " ga rc ea va ", le m -b ra ? 0 s on ho e ra t er u rn " ch at ea u" , u rn a pa rt am e nt os6 p a ra l ev a r a s m i na , c om l uz i nd ir et a, e le tr o la e r u mpa r a 0 C ub a L ib re . 0 q ue m a is h av ia n a v id a?

    E ssa ep oca to da a ca bo u n um a m ad ru ga da d osa no s 60 , c om a c ar a d en tr o d a so pa d o T re viso .

    E , com o no poem a do John U pd ik e , no s nems ab ia m os q ue e ra m os u m a g er ac ao .

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    o Viadllfo Otcivio Rochas~bre a Aver:ida Borge d e Medeiros,fa ta l 0cartiio postal oticia! da cidade.

    I'"I i i ',I.

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    DESTREZA,CORAGEM E AUTOCONFIAN~A- C erta mente 0 p er io do m ais im po rta nte d a m in hav ida fo id edi c ado 11p r ep a r ac ao p s ico l6g i ca p a r a a minhap rim e i ra g ra nd e p ro va d e b ra vu ra (e , p en sa nd o b erna ultim a): subir no estr ibo com 0 b on de a nd an do .Co rr es po nd e ri a a o p rimei ro e nc on tr o s ol it ar io c om u rnb is ao d a p la nfc ie d o G ur i d e N ea nd ert ha l. U rn r itu ald e p as sa ge m. D ep ois d o feit o, v oc e e ra u rn h om em .N ao p re cis av a t er n in gu em o lh an do . E ra u rn t riu nfop e ss oa l e s ec re te , e d ep o is 0 mun do n un c a m ais e ra 0mesmo . Des ce r c om 0 bon de em m ovim en to na o eran ad a, um a m en in a f ar ia . B as ta va c on ti nu ar c or re nd odepois de toca r com os pes no chao . E pula r pa ra ac a lc ad a a n te s q ue 0 c a rr o q ue v ie ss e a t ra s f iz es se v o cev oa r. F ac il. S ub ir c om 0 b onde a nda ndo era ou trah is to ri a. L ev ei u ns d oi s me se s p a ra c ri ar c or ag em a n te sd o m e u p rime ir o p ul o. N a o f alh ei . N u nc a fa lh ei . E umorg ulh o que eu ca rreg o no bolso a te hoje com o u rnamuleto.

    O s b o n d e s

    Falam q ue os bondes pod em volta r. Qu e vo l-t er n o s b on de s. D iz em q ue o s b on de s s ao e co nom ic os ,q ue o sb o nd es n a o p o lu em , q ue o sb on de s n un ca d e vi amt er a ca ba do . N ao se i. Q ue p e~a m d es cu lp as a os b on -des e o s c oloquem na linh a de no vo.

    M as a e co nom ia e a m e no r d as v ir tu de s d o b on de .A im porta ncia cultura l d o bon de va i m uito a lem dasua utilidade. 0 bonde fo i um a li~ao de vida pa raa lg umas g e ra c oe s. Fo i uma p a rt e impo rt an te d a m i nh aed uca ca o e, se h oje tenho um pouco d e equilibrioemoc io na l, b o ns r ef le xo s e 0 m in im o d e c ar ate r p ar ana o da r na vista , devo tudo a o P etr6p olis a te fim dal in ha o u J . A bb ot t. 0 d es va ir io d a ju ve ntu de a tu al s eexpl ica fac ilmente : e ru to d e u ma in fa nc ia s em b on -d es . Q ue v ol tem o s b on de s, a nt es q ue s eja t ar de .

    O s b on d es e n si na v am t ud o.

    RESPEITOAO PROFISS IONAL,A IMPORTAN" -OA DE UM OBJET IVONA NOSSA EX IS TENOA -Fora 0 T es ou rin ha e d oi s o u t re s p e rs on ag en s d o C l a b oluvenil, m eu her6i da inta rcia era 0 f is ca l d e b on d e.A qu ele c ar a q ue p ula va d e u m b on de e m m ov im en topara 0 o ut ro , s em n un ca p er de r 0 q ue p e, o lh a va p a rao m ar ca do r d o b on de e fa zia m ist er io sa s m ar ca s n ump ap el v er de c om u rn c ar im bo v erm elh o q ue t ira va d ob ol so . D ur an te a lg um t em p o h es it ei e nt re s er a vi ad oro u f is ca l d e b on de q ua nd o c re sc es se . D ec id i s er fi sc ald e bonde . S e o sb o n de s v ol ta r em , t er ei a m i nh a c ha n ce . 3 32

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    HONESTIDADE E CONF IANC;ANO PROXIMO- 0 co bra dor p assa va pelo corred or , perg un ta ndo :"[a pa gou?'. 0 m undo era m ais sim ples, en ta o. E ap as sa g em m a is b a ra ta .

    As t on es g em ea s d a I g re ja SliD Pedro,n a A u en id a C r is t6 vi io Co lom b o,SliD 0coracdo d o b a ir ro Floresta.

    C ON TR OL EMUS CU LA R - A nd ar n a p arte d et ra s d e u rn b on de g a io la , n a d esc id a, s em s eg ur ar e mnada , 5 6 n o j og o d e p er n a, p r ep a ra v a 0 i n d iv i duo pa r at od os o s p er ca lc os . D iz ia m q ue q ua nd o 0 S a o J o se i ajo g ar n os E uc ali pt os , 0 t im e en tra va em form a nav ia g em d e g a io la .

    Q ue v ol te m o s b on de s.

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    - - ... , . : :, . . . . "",.,;J",=q'r"~~:;J,1, , ~ ~ = ~ . _ ~ - : : - - ~

    ~ d ~ ~ ~ < ~ ~ ~ : ~- = - -'7't'lr.!; !~"';il;~~;~~t:~ ~ . Iw r~ :.r: 1,;,. ; . - u . . . : ' . .. . :

    ,~~T~ . : .= . ;pqJ' fE~3. i .1fr - .~~;;~~~i;:~~A Travessa dos Venezianos,na Cidade Baixa,e tesiemunho nostdlgicode outros tempos.

    r Dace a f l i c aoN minha j uven t ude (ali p e la R e na sc en ca ) n a m o-

    r ar era c om o u ma len ta c on qu is ta d e ter r it6 rio s h os t is .A v an ca mo s n o d esco nh ec id o c om o d esb ra va do res d oN ov o M un do . C en tim et re a ce nt im et re , m en tira a m en -lir a. E m n en hu m a o utr a a tiv id ad e h um a na , s alv o, t alv ez ,a d ip lo ma cia , se m en t ia ta nto com o n um na moro . E 0o b je tiv o e ra 0 m esm o da d ip lo mac ia , con seg uir compa l a v r a s 0 que na o se con seg uia com a fo r ca . N eg o -c ia va -se c ad a p alm o .

    - Pode, m as s6 a te a qu i.- E s ta be r n .- Ju ra ?- Ju ro .- V oce p asso u! V oce m en tiu !- M e d is t ra i .N a v erd ad e, n ao m en tia mo s p ara v oc es , m en tia -

    m os p o r vo ce s . Da vam os a vo ce s to dos os a lib is . 0q ue q ue r q ue a co nte ce sse , e ra p or n ossa in sis te nc ia ,n ao p or qu e v oc es t am b er n q ue ria m . C alh or da e ra q ue m 3 7

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    dizia, abjetamente, a verdade, e nao fazia 0 que juravaque nao ia fazer, e voces queriarn que fizesse. Cava-lheiros eram os que diziam que s6 queriam ver, naoiam tocar, e tocavam.

    Hoje, pelo que me contarn, nao M mais estecerimonial. Desgracadarnente, as coisas comecaram amudar justarnente quando eu entrei para esta ordemreligiosa, ados mon6gamos. A revolucao sexual, queurn dia ainda vai ser comemorada como a RevolucaoFrancesa, corn a invencao da pflula correspondendo aqueda da Bastilha e 0 fim do sutia ao fim da monar-quia absoluta - e 0 termo "sans culote", claro,adquirindo novos significados - desobrigou 0 homema mentir para proteger a reputacao da mulher. Alias,ouvi dizer que agora a mentira mais usada pelo hornemdurante urn narnoro e "Hoje nao, querida, estou corndor de cabeca".Mas s6 quem viveu antes da revolucao sabe asdelicias da repressao. Esta geracao jamais conhecera adoce aflicao de tentar desengatar urn sutia corn dedostrernulos, e finalmente conseguir quando jii se come-cava a pensar num macarico, s6 para ter que engata-10de novo as pressas porque a mae de1avinha vindo.Acho que foi isso que nos tornou mais fortes.

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    OIPA

    No outro dia 0 parceiro Scliar homenageou,merecidamente, 0Julinho, onde ele estudou, mas medeixou obrigado a mencionar 0 IFA, onde eu estudei ,so para manter 0 equil ibr io afetivo desta coluna. Senao reajo, qualquer dia 0 Scliar estara nos conven-cendo que 0Cruzeiro nao apenas existe como e melhordo que 0 Intemacional.

    Na verdade, 0 Julinho nao era 0 rival do IPA.Nosso inimigo era 0 Rosario. Acima de todos nosficava 0 Anchieta, onde estudava a eli te responsavel.o IPA tarnbem pegava urn pouco da elite - lembrodo Ismaelzinho Chaves Barcellos, com seus quinzeanos, chegando na escola de conversivel - mas divi-dia com 0Rosario, 0 Cruzeiro do Sui e a lguns out rosa preferencia da classe media. Uma classe media maisba ixa, e mais brilhante e pol itizada, ia para. 0Julinho.Onde 0 IPA - com sua enfase nos esportes e seues ti lo mais americanamente informal- era vis tocomo 4 1

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    co leg io de v a g abundo . N o que n a o es tav am m uitoe rra do s, a ju lg ar p or p elo m en os u rn d os se us a lu no s.

    L em b ro u rn a na in te ir o e m q ue s ub st it ui a s a ula sd e L at im d o R u as p or p as se io s a te 0p r ad o ( qu e f ic av aonde ho je e 0 P ar ca o, c ria nc as ), p ar a v er o s c av alo st r e ina rem. S e a o m en os t iv esse a pr ov eita do e ste a nad e o bse rv ac oe s r na tin ais p ar a m e to rn ar u rn e xp ertem tu r fe ho je es ta r ia m ais r ico do que 0 F e r n a ndoW e sp h al en . N a o a p ro v ei te i e 0 r es ult ad o e q ue p er dio a na e 0m e u L at im p or n ad a. Q ua nd o m e a pr es en te ip a r a 0 e xa me o ra l c om 0 R ua s, n o fim d o a no , a ch oq ue e le a per to u a m in ha m a o e d isse "M uito p ra ze r" .o IP A p ro du ziu a lg um a s p er so na lid ad es ilu s-t r es e v ito r io sa s m as se voce qu ise r conhece r 0v er da de ir o e sp fr ito d a e sc ola p er gu nte p ar a u rn e x-a luno 0 q ue e le m a is a pr ov eito u d os se us a no s so br eo " Mo rr o M ile na r" . S e e le r e sp o n d er /IA s sa id as d oC o le g io Am e r ic a no ", e u r n v er d ad e ir o i pa e ns e.

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    o L a rg o G l i~ n ioP e r e s, e s pa c o e n tr ea Prefe i tura, 0M e rc ad o P ub lic o e a P ra ca 1 5,i! a n os sa p ra ca d os iris poderes:a municipal , 0g as tr on o mi co e o d o s c am e lo s.

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    Pois "X " era urn pessim o m arido m as urn assa-d or in co mp ar av el S ua m ulh er tin ha to da s a s q ue ix asd ele c om o c on ju ge , p ai e p ro ve d o r, m as r ec onh ec ia :"Faz U M chur rasco . .." A coisa n a c asa d e "X " chegoua urn ponto ern que e l e , qua ndo apa recia na m esa doc af e, e ra v aia do p elo s f ilh os . A muI he r p en sa ra v ar ia sv ez es e rn e s g u e la - l o , 5 6 n a o 0f iz er a p el a m e sm a r a z a oque nao 0 e xp ulsa va d e c asa . P elo c hu rr asc o. C om e-c a v a a p en sa r n as s ua s c os te lin ha s d e p or co e p er do av atu do . O ut ro m a rid o s er ia f a c i l d e a rr an ja r. U rn am an teo u p ai m e l h o r, f a c il , Out ro a ss ad or c omo a q u e l e , nunca.M as e ra i m p o s s i v e l c on tin ua rem a v iv er ju nt os .

    C he ga ra m a u rn a co rd o. S e s ep ar ar ia m . E ia n aoe xig ir ia n ad a. P en sa o, n ad a. 56 im po ria u rn a c on di-~ao. Todos os dom ingos ele tinha que volta r pa rafazer 0 churrasco.

    - Voce compra a ca rne?- Eu pago e voce compra .Meta de do seg redo do born a ssa dor, ela sa bia , e

    a e sc olh a d a c ar ne . T od os o s d om in go s, "X" deveriapa ssa r no seu a ~oug ue preferido, escolher a ca rne,le va r p ar a su a e x-c as a , fa zer 0 c hu rr as co e ir emb or a.N ao p rec isa ria n em fa la r c om r un gu em , fo ra 0 essen-c ia l. "Qu em que r 0 tostado I","Olha 0co rd e ir inho" , e t c.

    A s it ua c ao e st a a ss im . "X " te ve q ue in te rr om pe r -seu ca rna val na cidade e ir fa zer churra sco para a ex-m ulher e os f i l h o s , em Capao A mulher e s t a noiva e"X" tern tenta do ensina r a o outro os seus seg redos,p ar a s e liv ra r d o e nc ar go . S em s uc es so ..0no ivo pa r ece 4 7ser urn des~~~rites no a s s u n t o .

    Onde quer que as pessoas se reunam em tornod e u rn a c hu rr as qu eir a e f iq uem e sp er an do , c aip ir in hana mao, que sa ia 0 c hu rr as co . f ala -s e n os g ra nd esa ss ad or es . S u as t e c n i c a s e s eu s t ri un fo s.

    F ala -se ern lenda rios m estres do espeto, seresm is tic os q ue f az em 0 fog o ba ixa r com urn olha r e 0matambre f i c a r m ac io c om u rn toq ue d e d ed o. F a l a - s eem reis do sa l g rosso que sabem a hora de vira r apica nha pelo chia do e 0 ponto da costela pelo ha lo.M ag os d o s als ic ha o, se nh or es d o t alh o c er to , d ou to re sd o a lc at re e fi1 6s of os d o v az io .

    H a o s p ur is ta s q ue a b om in am 0x ix o e s ua s v a ri a-~ oe s e s ao c a te g 6r ic os :

    _ C o r a ca o de g alinha e pra velha ou vea do.H a o s q ue e xp er im en ta m e d es co br em c or te s q ue

    nem 0b oi c on he cia . C om o n as r elig io es, e nt re o s a ss a-dores h a o rto do xo s e r ev is io nis ta s, c on se rv ad or es er e fo r rn is ta s , a s ce t as ( "s a la d a e d iv er si on ismo" ) e s an -t os . U rn d es te s e 0 a ssa do r q ue c ha ma re mo s a pe na sd "X " S ' "X ". ao .

    A s s a d o r

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    F a z p er gu n ta s e st ra n ha s.- T ern d ife ren ca , p or q ue la de da cam e se en fia

    o e s pe to ?A verda de e que 0 n oiv o fa z u rn ch ur ra sco p as-

    sa ve l. M as n ad a pa rec ido co rn 0 c hu rr as co d o / I X " .A q ue la s c os te li nh a s d e p or co , e nt ao ... D es co n fi a- se a tequ e 0 n oiv o tenh a sid o encora jad o a ca sa r co rn a ex -m u lh er d e " X " p ela p ers pe ctiv a d os fa nta sti co s c hu r-r as co s q u e " X " s er a o b ri ga d o a f az er , t o do s o s d om in g os ,a te qu e a m or te os sep are .

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    A aria que se estendeda ponta do Gasometroate ao Morro Santa Teresafoi extra fda do rio.

    Vassourada

    Com 0 t empo , 0 c as al d es en vo lv eu u rn c 6d ig opa r a se com un ica r d e lon g e num a reun ia o socia l.Q ua nd o e le e sf re g av a 0 n ar iz q ue ria d iz er "V am ose m bo ra q ue e u n ao a g ue nt o m a is ". Q ua nd o e la p ux av ao l6 bu lo d a o re lh a e sq ue rd a q ue ria d iz er " Cu id ad o" ,g e ra lm e nt e u rn a vis o p ar a e le m u da r d e a ss u nt o. P ux aro 1 6b ulo d a o re lh a d ir eit a s ig nific av a " Pa re d e b eb er ".S e e le e nta o g ira sse a a lia nc a n o d ed o, e ra p ara d iz er" Na o c ha te ia ". S e d ep ois e la c oc as se 0 q u ei xo , e ra" Vo ce m e p ag a".

    N a qu ela n oite , h ou ve c on fu sa o n os s in ais . M a ista rde , em ca sa , e la g rita va : "V oce na o m e v iu qua sea r ra n ca r a o re lh a e sq u er da , nao?!" E ra p ara e le m ud ard e a ss un to , m a s e le t in ha b eb id o ta nto q ue c on fu nd ir aa o r e lha esquerda de la com a d ir e ita e pe nsa ra q ue am ensa gem era na o be ber m ais. E , e nqua nto g ira va aa lia nc a a cin to sa m en te n a d ir ec ao d ela , c on tin ua ra acon t a r 0 c aso q ue t inha ouv ido , a s g arg alha da s. 0c a so d a s v a ss ou ra d as . 5 1

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    Acontecera no camaval. A mulher voltara dapraia de surpresa, na quinta de noite, e cruzara naporta da casa com 0marido, que saia de sarongue. Senao estivesse de sarongue ele teria inventado umahist6ria. Uma subita vontade de comer urn bauru, urnamigo doente, qualquer coisa. 0 sarongue inviabili-zava qualquer desculpa. Urn sarongue nao se disfarca,nao se explica, nao se nega. 0 sarongue e 0 limite dodialogo civilizado. E como 0dialogo era impossivel, amulher partira para a agressao. Correra com 0homempara dentro de casa - a vassouradas!

    - Voce nao sabia que foi com eles que aconte-ceu?Comos donos da casa?- gritava agora a mulher.E completava: - Seu pamonha?

    - Como e que eu ia saber? Me contaram a his-t6ria mas nao me deram os nomes!

    - E eu puxando a orelha feito uma doida!Mais tarde, ja na cama, ele racionalizou:- Bern feito.- 0 que?- Pra ela. Nao se bate num homem com uma

    vassoura.- Ah, e? E 0 sarongue?- Nao interessa. Nada justifica a vassourada.- Sei nao ...- Podia bater. Mas nao com vassoura.E indignado, como se estabelecesse urn dogma:- Vassoura naolAi a mulher disse que 0mal ja estava feito e 0

    melhor que eles tinham a fazer era treinar c6digo,para que nao se repetisse.

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    A ponte mouel da Trauessia Regis Bittencouri(que ja se chamou iambem Ge~ulio Vargas)eo traco deuniiio entre a Capitaleo interior do Estado.

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    G r e n a l

    V ou, ou ia , a fu tebol d esde os m eus nove anos ,m ais o u m en os, e ten ho a lg um as p re cio sid ad es en trem inha s m em 6ria s de a rq uiba nca da . V i jog ar a quelea ta que d o R ea l M ad rid q ue tin ha C op pa , Di S te fa no ,Puska s e Gento . V i jog os decis ivos en tre S an tos eM ila n e S an to s e Boca Junio r n o M ara ca na e g ra ndesa tu aco es d o P ele, n o tem po e m q ue 0Ma ra ca n a e nc hi apa ra v e-lo co mo se todo s no R io to rcessem pelo S an-to s. A inda no R io , peg uei a g ra nde fa se do Bo ta fog od e Ga rr in c ha .

    A qui, lem bro be rn de to dos o s esta dios de a nti-g am ente - inc lusive dos que so e ram cham ados de" es ta dio " p or fa vo r. A C ha ca ra d as C am el ia s, d o N a ci o-na I. A Ba ixa da , do Grem io , ond e, se 0 j og o e st iv e ss em uito a borr ecido , voce pod ia se d istra ir o lha nd o a scorr ida s no P rado . 0 cam po do Renner , 0 temive l"W at er lo o d a R ua S er t or io ", 0 d o C ru zeiro , n a C olin aM ela ncolic a , ond e voce podia subir num ba rra nco eter u ma visa o m ag nifica d o ca mpo, s6 prejud ica da

    pela possib ilidade de ca ir la de cim a e m o rrer . AT im ba uva , do Forca e Luz, 0 m elho r g r am ado dac id a de , O s E u ca l ip t os .

    E sta a i, n unca fui no cam po do S ao Jose, pora lg u ma r az ao .

    E ra ra ro m ulh er ir a os esta dios e a s que a pa re-dam se a rr iscavam a leva r la ra nja . Mas era com uma lg uern o lha r em volta an tes d e g rita r u rn pa lavraop ara v er se n ao tin ha "fa m ilia " p or p er to . O u a lg uem ,a o o uv ir u rn p ala vra o, a dv er t ir , p reo cu pa do , "o lh a a sfa m ilia ". H o je , c la ro , a s fa nu li as s e u ne m n o p ala vr aog rita do em coro,

    N o ca so d e urn tim e esta r do mina ndo a pa rt ida ,s em d ei xa r 0 a dv er sa rio c on tr a-a ta ca r, a lg ue m i nv a-r ia velm en te g rita va "A lu ga -s e m eio ca m po !". Ba la opar a 0 a lto? "V iv a S a o [oao !" E tinha um a fra se queeu g osta va m uito . Qua ndo urn jo ga dor a pe la va pa raurn a jo g ada m ais tosca , m alt ra ta ndo a bola ou urna d v er sa r io , o u v ia - se 0g r it o i nd ig n ad o : " Ol ha 0recur-s o! " S ig n if ic av a q ue f al ta v a r ec ur so t ec ni co a o jo g a do r,por isso ele e sta va com etendo a que la ba rb ar ida de."Olha 0 re curso!" era urn cha ma mento a os br ios doj og a d o r. A f in a l 0fu te bo l e st a c he io d e r ec ur so s. Q ue mjo ga va feio e ra p orque na o os tinha e n em devia esta re m c am p o.

    De sc o nf io q u e IIolha 0 r ec ur so !" c aiu e m d es us op orq ue h oje n ao se g rita ria o utra co is a d ura nte a m aio -r ia d os jo go s, e n ao a dia nta ria n ad a.

    5 6 On tem pa ssei na rua por urn p reto e urn bra ncoq ue d is cu ti am , o bf ja m e nt :e , .futebol e ouvi 0 pre to 5 7

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    dizer : "E a ran ca ? E a ra nca ?" J a e sta va lo ng e dadu pla q ua ndo m e dei con ta . 0 c olo ra do a cu ad o p elagozacio g re m is ta e st av a in vo ca nd o 0 "r an kin g", aclassi f icacao d os c lu be s b ra sile ir os s eg u nd o a s ua p er -fo rmance G a que estam os fa la ndo bra siles) emc am pe on ato s n ac io na is, e n a q ua l 0 In ternaciona l elid er . U m p ar co c on so lo p ar a e st es d ia s d e f ru st ra ca oe d e se jo s a ss a ss in a do s, m a s um c o ns ol o a s si m m e sm o .o Gremio ta mb em e sta m uito bem no ranca - se na ome e n g an o , e 0 t er ce ir o, d ep ois d o F la m en g o - e issose de ve a m esm a r iv alid ad e q ue a ba ste cia 0 duelov er ba l, q ue tin ha to do 0je ito d e te r comecado ho r a sa n t es e c e r tam en te i a d u r ar s em a n a s, d o s d o is t o rc e d or e s.

    U ma r iva lida de que tem a lg o de se lva gem , nam ed id a em qu e 0 su ce ss o d e u m na o a p en a s d e sc o n-c er ta m a s a rr as a 0o ut ro , m a s q ue e a r esponsavel po rto da s a s c on qu is ta s d e G re m io e I nt er na cio na l n es te sul t imos a n os . C o st um a - se a tr ib u ir o s b o ns r es ul ta d osdo fu tebol g aucho em re lacao ao re sto do Bra s il ac ois as c om o c lim a , fo rm a ca o e tn ic a a a te a b r avu r aa t a vi c a d e st a raca d e m a ch os , tche, embo r a el e t enhacomecado a se im por no r an ca ju stam en te qu andocomecou a im p or ta r jo g ad or es . M a s na o s om o s b on sp orq ue som os m ais eu rop eu s ou m ais fo r te s, so mo sb o ns p o rq u e 0 I nt er n ac io n al p r ec is a s er m e lh o r q u e 0G rem io q ue pre cisa ser m elho r qu e 0 In ternaciona lque m orre se n ao fo r m elho r do que 0 G rem io . S e 0que m ove 0 cap i t a l i smo e a fom e do lu cro , 0 quemov e 0 i rr a ci on a l f ut eb o l d e P o rt o A l eg r e e a fom e da la uta . H a r iv alid ad es p ar ec id as n o r es to d o B ra sil,m a s d uv id o q ue h aja o utr a ig ua l.

    N o fim ca im os n a q ue sta o d o n osso c ara te r, n an os sa h is to ric a a fe ic ao a d ic ot om ia s ir reconciliaveis ,N o fu te bo l, e sta p ola riz ac ao m a lu ca le va a e mo co es

    so c om pa ra veis a s d a m on ta nha -russa : p assa -se d op ic o a o a bis m o em s eg u nd os . Ai es t a 0 In temaciona l ,a p en a s t res jo g os d ep ois d a e uf or ia , m e rg u lh ad o n um an eg r a c ris e d e a uto -e st im a . E o G re m io , q ue ha s ema -na s p e ns av a em t om a r f orm ic id a , n um p iq u e p ri m av e ri l.E tu do p ode m ud ar o utr a v ez em do is la nces . A to da se sta s, n os m a nte mo s n o r an ca .

    - S abe com o e que eu quero ? U m a zero .- Gol c om a m ao ...- E m im ped im ento .- A os cinquen ta do seg undo tem po .- Com a lguern s en ta d o n o g o le ir o .- A i, na o se i n a o . ..- A lg uem s en ta do n a cabeca d o g o le ir o e o ut ro s

    d o is s eg u ra nd o a s p er na s!- E spera u m p ou qu in ho ...- 0t im e de les co m oito e n os c om do ze .- Com o, com doze?- E ntrou u m cla nd es tin o.- Mas 0b a n d ei ri n ha d e ix o u ?- N ao q ue ria d eix ar . A i p in t o u d i nh e ir o .- E o ju iz d a federa cao?- T am be rn levou 0dele .- Ma s espe ra a i, S e e ntr a u m , e ntr a m a is .- E sta b em . 0 tim e de le s com oito e 0 nosso

    c om q u at or ze .- Com o e que 0 t im e d ele s f ic ou c om o it o?- 0 ju iz expu lsou 0 c en tr oa va nt e d ele s n o p ri-

    m eir o se gu nd o d e jo go .- P o r que? 5 98

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    - A leg a que ele deu a sa ida com a m ao.- E o s o u tr o s?- Deu ca r tao am arelo pro g ole iro na pr im eira

    bo la que ele p eg ou com a m ao.- Fora d a g ra nde a rea ?- Dent ro da pequen a . N a seg unda , d eu 0 ve r -me lho . 0 cap itao d eles ve io rec lam ar e ta rnbem foi

    expulso .-Po r que?- Ma d i ccao ,- Isso tudo com . ..- C inco m inu tos de jo g o .- Mas nem assim nos fizem os g o l.- N ao , U rn sofr im en to . 0 nosso tim e em cim a,

    ma r t e l ando .- Manda ndo bola na a rea de les .- E m ar te lo s, ta mb em . P ed ra s, m ela ncia s, tu do .- Dez pena ltis a nosso favo r.- 0 ju iz n ao deu rna is p ra nao da r n a v ista .- Isso . 0 b a n co d e le s comeca a r e cl a m ar , "T a na

    ho ra ! T a na he ra !" e 0 ju iz m an da a B rig ad a le ib ate rem to do m un do .

    - F in alm en te , a co nte ce .- 0 gol .- Quem m a rca e 0 p r 6p r io j ui z.- Tam bem nao vam os exag e ra r . 0 ju iz e 0 qu e

    e sta s en ta do n a c ab ec a d o g ole ir o.- Com o eo g ol?- U m a ce ntra d a d o b an deir in ha .- N osso cen tro av an te p eg a a b ola , p oe e mb aix o

    do b ra ce e en tra com ela no g ol.- Enfim ...- Que g anhe 0melhor .

    Na tarde das sextas-jeiras,o grupo dejaponeses joga cricketaope doMonumento aos Expediciondrios,no Parque Farroupilha.

    o n6 1

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    Quatro es tacoes

    N ada mais imprevisivel do que 0 tempo, salvoalguns setores do PMDB, mas ha lugares no mundoem que as estacoes seguem urn certo protocolo. Saolugares tao civilizados que 0verao, por exemplo, nuncachega sem se fazer anunciar com algurna anteceden-cia, para que as pessoas se preparem para recebe-losem correrias. Urn dia, para 0fim da primavera, chegaurn aviso discreto de que ele esta a caminho e aspessoas comentam "Hm, 0 verao de novo", e come-cam os preparativos. Aqui, na (mica regiao do paisque tern as quatro estacoes, ainda nao ficou bern claroquando termina uma e comeca a outra, apesar detodos os anos que tiveram para se organizar, e 0calen-dario parece feito pela C B F . Agora mesmo 0 veraochegou a cidade de sopetao, Eu sei que 0 certo e"supetao" mas me refiro a outra coisa, urna especiede veiculo que usa a energia do gasogenio ou devaries cachorros, 0que fizer mais barulho, e chega na 6 3casa da gente de uma hora para outra e sem qualquer

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    a d v er te n ci a . Qu a nd o me n os s e e sp e ra , e n co s ta sope -ta o n a ca lca da e d esce 0 v er ao , s ua nd o, b ufa nd o e s etra qu ea nd o. M as v oce n ao a viso u q ue v in ha l E eu h is ab ia q ue d ia ia ch eg a r? N in gu em e nt en de r na is n ad an e st e g o v emo .

    C h eg a d e p a pa e m e v e um a s c e rv eja s. N a o a d ia n tav oc e p ro te st ar q ue n ao e st a p re pa ra do p ar a 0 ve r ao ,q ue a p ri m av er a a in da n a o d es oc up ou 0 q u a rt o . E l e j ae nt ro u n a c as a, ja b olin ou a e mp re ga da e ja r ec la m oud o v e nt il a do r q u eb r ad o . S e u c o ns o lo e q u e, a s sim c omoele pode na o sa ir m ais a te m arco , qua ndo cheg a 0outono - pelo m enos e 0 q ue e st a n o o rg a no gr am a- ele pode sa ir no dia seg uin te , quando encosta ro utro so peta o n a p or ta e d ele d escer (su rp resa !) 0i nv er no , e xp li ca n do q ue e sq ue ce u a s l uv a s.

    A Ponta da Cuica, em Belem Novo,marco da zona sui que aoanca para a Guaiba.

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    6 6 o chale da Praca 15de Nouembro e iambem sede ueranistados inteleciuais da S.A.P.A., a Sociedade dos Amigos dePorto A7egre.

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    o inimigo

    D o n a C ic a t ra t a 0 i nv er no c om o u rn i nim ig o . Eso com eca r a esfria r que ela poe 0 c ha le n as c osta sco mo u ma m och ila , e d iz:

    - A i v ern E le de novo.-,- M as rec em e o uto no , d on a Cica,- O uto no e d isfa rce . A rra s v ern E le.T od os a s a no s E le v er n e c erca a v elh a ca sa . N as

    m anhas de inverno, dona Cica espia a rua pa r um afresta n a ja nela , c om o se fo sse u rn a sete ira . E stu da ad is po si ca o d o i nim ig o . S e ve g eada nos canteiros en uv en s n eg ra s a va nc an do d o su l, sa be q ue a sitio v ai. s e r l on g o.- V am os p ra rua , vo v6. H oje tern sol.- E truque . N a rua E le n ao m e p eg a.

    A s c ria nc as fa ze m tr oc a d a v elh a. 56 S ue li , n etade cria cao, e su a a liad a na g uer ra . Quand o com eca av en ta r, d on a C ica rec ru ta S ueli e a s d ua s p erc orrem ac a sa p a ra i ns p ec io n a r s ua s d e fe sa s . Dona C ic a n a f re n te ,

    d e b ra ce s c ru za do s e o m br os e nc ur va do s, s ua p osic aod e b ata lh a. 5 ue li a tr as , d o m esm o je ito .

    - A li. U m a fr esta . T ap a c om jo rn al.- E esta porta , v6?- T raz a lingu i~a .A lin gu ica e u rn sa co c om prid o e fin o e ch eio d e

    a re ia . P ar a v ed ar a fr est a d eb aix o d a p or ta p rin cip al,u rn d os p on to s d e in filtr ac ao p re fe rid os d o i nim ig o.o filho m ais velho de dona Cica , que m ora noR io , ja t en to u l ev a- la p ar a l a v a ri as vezes, E l a s e r ec u sa .S eria co mo en tr eg ar a cid ad ela , T am bem se rec usa aaq uecer a ca sa . A id eia de aqu ecim ento cen tra l lhep ar ec e a te in de ce nte . Um a v io la ca o d as c on ve nc oe sque reg em sua an tig a guerra com 0 i nv er no . D on aC ic a lu ta lim p o. 56 u sa b ra se ir o, jo rn ais e lin gu ic a. 5 6r ec en te m en te a d ot ou a e st uf a e le tr ic a n o s q u a rt os . C oma lg um a r el ut an ci a. P re fe re a g u er ra c on ve nc io n al .o terror de dona C ica sa o as correntes de a r .Dona Cica cu lpa a s correntes p ela m or te de va riespa r ent e s. Ex i st em co r re n t es m i s te r io s a s den tr o da g r a ndec as a d e t eto s a lto s. D on a C ic a ja m ais d esc ob riu su aso rig en s, em bo ra d ed ica sse su a v id a a p ro cu ra -la s, AGra nd e C or ren te d a S ala , p or ex em plo . C om eca n in -g uem sab e o nde, corre p ela pa rede sul a te a juncaoco m a p ar ed e le ste e d ep ois c ru za a sa la em d ia go na l,p erd en do -se n a sa la d e ja nta r. A C orren te d a C op a -q ue a s c ria nc as a pe lid ar am d e IIA Sub ideira " - fa z av olta n a co pa e so be a esca da .

    E e xiste a te rr iv el C or re nte d o C or re do r d e C im a .E sta p eg a a p es so a tr ai co eir am en te n a sa id a d o b an hoe s6 na o dizim ou a fam ilia a inda po rque dona C ican un ca d eix a d e r ec om en da r a q ue m e ntr a n o b an he ir o:

    - T e a gasa lha an tes de sa ir dai , O lh a a C o rr en te ! 6 98

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    N o p ro pr io b an he ir o e xis te u m a a flu en te d a C or -r en te d o C o rr ed or d e C im a , a C o rr en ti nh a d o b an he ir o,m as e sta e d esp re za da p or to do s. E mb ora do na C ic ad es co nf ie q ue f oi e la a c a us a d a b ro nq uit e d a n et a m e no r.

    U rn d ia a Sueli cheg ou correndo na sa la com anot icia:

    - Desc obri u ma co rre nte no va !Don a C ica p ulo u da c ade ira , e sp alha ndo co ber -ta s p ar a to do s o s la do s.- Onde?- N a cozinha !- Meu Deus do ceu .E hi fo ra m a s du as insp ecion ar a b re cha .

    omisterioso casielinhoda rua Fernando Machado,no Alto da Bronze, inciia a iinaginacdod os qu e p assam e de quem escreoe.

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    A F e i r a

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    Nao e bai r ri smo visual , nao, N en hu rn lu ga r d om un do ter n esta lu z de p rim av er a, q ue n ao e igual alu z d e n en hu rn a o utr a p ar te e ta mb em n ao ter n n ad aa ver corn a luz do outono aqui m esm o. No nossoo ut on o a lu z p ar ec e p ou sa r n as c ois as . N a p rim a ve rae la p en et ra , e d a a im pr es sa o d e c he ga r in to ca da p orq ua lq ue r filt ro , fo rt e e p ur a c omo n o p rim eir o d ia d at er ra . O nt em fo i u rn d ia a ss im . C or n e st a lu z d efin i-tiv a, a lu z q ue se fez n o comeco q ua nd o o s a n im ais ea s co isa s se a pr esen ta ra rn p ar a g an ha r u rn n om e. ED eu s d is se , a qu i e 0 Gu afb a, e a qu i e 0 Mo rr o d aP ol ic ia , e a q ui s e e rg u er a u rn a e st ra n ha c id ad e ma lt ra -tada pelos homens e pelo tempo, mas tudo serape rdoado po rque haver a j a ca r andas e e le s f lo r esce r ao .N ao s ou me te or ol og is ta ma s n em por i st o p os so s ab erq ue tip o d e d ia esta fa zen do h oje. 56 sei q ue a F eir ad o L iv ro me re ci a c ome ca r n ur n d ia c omo 0 de on tem.A F eir a, e st e a no , c he go u m eio e rn s eg re do . N ao s eis e e u e st av a d is tr aid o o u s e e ia r ea lm en te fo i m en osa nu nc ia da q ue d e c os tume . P od e t er s id o es tr at eg ia . 7 3

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    Com o co stum a chov er n a a b er tu r a da Fe ir a - e um ad a s t r a d icoe s da n o ssa p r im av er a - a F e ir a ta lv ezte nh a p refe rid o c heg ar se m a la rd e p ara na o p rov oc aro d eus d as c hu va s, qu e na o e n ece s s a r iamen t e 0me smod eu s da s liv ra ria s e do s ed ito r e s. S o b a ch uv a o u soba luz , n o e nta nto , a i es ta a F eira , a i e st ao o s j ac a ra n da sf lo rid o s, a lv is sa ra s e h os an as .

    com o v elh os sa t ir es . P o is d e sco n fio qu e a F e ir a d oL iv ro so bre viv er a a o liv ro . N os reu nir e mo s jun to a oba r d e a lg um neto do Dirceu pa ra ce leb r a r 0 fa to d ee s ta r m o s r e un id o s.

    A lg u er n p ro te st ar a "Mas na o ha liv ro s!" e s er as ep ulta do p or "ssshhhs" e o lh a re s cr i t icos, Encon t r a -r em os o utro p re te xto . O u, no c aso , po s-te xto .

    A g en te a ca ba t r a ns fe rin do p ar a a F eir a do L iv ro

    o m esm o c oqu ete l de se ntim en to s q ue te rn a r esp eitod o li vr o. 0liv ro e u m p rod uto ind ust r ia l c om o q ua l-q ue r o u t ro e na o e a pen as o ut ro p rod uto in dus t r ia l. AFe ir a e so u rn em preend im en to com erc ia l e e m ais d oq ue is so . T a nto 0 liv ro q ua nto a F eir a sa o, m is te rio sa -m e nte , m a is d o q ue a s om a d as su as im p os sib ilid ad es .E u d ir ia qu e os d o i s te rn um a a lm a in dep en d en te d asua m a te r ia se n ao co rr esse 0 r isco d e se r a cu sa do delir ism o, p o r isso n ao d ig o. M a s te rn . T an to 0 l ivroq u an to a F eir a sa o tr a ta d os com um a cer ta deferenciap ro te to r a : sa o d o is m au s neg oc io s q u e to do m undoc om bin ou na o d en un cia r, e 0 f in g im e nt o e ta o c on vin -c en te qu e o s d o is sob rev ivem e a te p ro spe r am . S eu sp oe ta s sa o ta o in sis te nte s qu e s im ula m co m perfeicaoo suce sso q ue na v erd a d e te rn .o c ar in ho u rn p ou co ir ra cio na l q ue to do s se nte mp e la F e ira , m esm o um a F eir a qu e na o e m ais cr i anca ,se p are ce c om 0 a fe to n un ca b er n e xp lic ad o, m is tu rad e venera cao e v on ta d e de b o lin a r , q ue n os a t r a i a oliv ro . M as im ag ine qu e qu an d o a ca b em a s flo r e sta s eo p a pe l e 0 u nic o te xto d isp on iv el fo r 0 v id e o te x t o ,q ue na o te rn vo lum e n em ch eiro , a in da n os r eu n ir e -m os to d os os a nos so b ja ca ra n d a s s in te tic o s , en tr eb ar ra ca s v az ia s, e le m br ar em o s 0 p a ss a d o, s a li va n do4

    E le n ao fa z ju lg am en to s r a pid os , S en ta , te sta 0a ss en to c om d isc re to s m o vim e nto s d o c or po , a a l t u r ad a m e sa , e tc . 56 d ep ois s e d ed ic a a o e ss en cia l. A b eb id a ,o s a c om p a n ha m e n to s , 0 s er vic e e 0 que e le g os ta dec ha ma r d e "g era l" . Isto inc lu i co isa s v ag as m as defi-n it iv a s c o m o "0amb i en t e " , e 0" se nt im e nt o d o lu g ar ".E le na o fa la em "a s t r a l" po rqu e e u rn v elh o b ebed o re te rn um a ce r ta im pa c ienc ia com a juv en tud e e su am eta f is ic a . S em pre d iz q u e d ep o is d e tr es d ia s p o ded ar u m diagnost ico, e na o e r ra . O n te m , f in a lm e n te , f al ou :

    - C o ste i.O s o ut ro s na m esa no ta r am um a ce r ta fa lta d e

    e nt us ia sm o , m a s el e exp l i cou :- A lg um as co isa s a ind a p rec is am se r tes ta d a s.

    A local izacao, p or e xe m plo , N ao se i . . .O utra d as su as im plic anc ia s e b ar a o a r liv re . E le

    a ch a q ue b eb er na o deve ser se g red o , m as u rn cer tore ca to a ju da . E b eb er d en tr o d e c as a e, s ei l a, m a i s s er io .

    - M a s isto a qu i esta bo nito - d isse a lg ue m.-A s a rv or es ...

    - A rvo res? - d isse e le .56 e nta o n oto u o s j ac ar a nd as. E nta o e ra p or is so

    qu e c a fa m a que la s co isa s ro xa s, d en t ro d o seu co p o .E ra m, c om o e m esm o 0n om e ? F lo re s. H m m m . A qu ilo 7 5

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    t ir av a p on to s d o " ge ra l" ._ A go ra , n o in vern o v ai se r im po ssiv el v ir a qu i- d isse .

    O s o u tr o s s e e n tr eo l ha r am ._ M as no in ve rno 0 b ar n ao v ai m a is e sta r a qu i.

    Q ua nd o a ca ba r a Feira , e le f ec h a .- Que feira ?- Do liv ro .F ic ou s ab en do q ue 0 ba r e ra da Fe ira d o L ivro .

    O lh ou e m v olta . L a esta va m a s b ar ra ca s ch eia s d el iv r os . C om o e q ue e le n ao tinha n ot ad o a n te s? T o r-nou a enche r 0 c ap o c om c erv eja . Da ria u ma v oltap ela fe ira , u m d ia . 0 b ar e sta va o tim o, m as n ao t in haa q ue m ais in tere ssa a u m b om b eb ed or . A qu ela se n-sa ca o d e p ere nid ad e. De q ue a s m esa s n ao tern pes ,t e rn r a iz e s.- N ota sete - dec re tou .

    7 6A Capela da 9pnta Casa de Miseric6rdia,na Praca Dom Feliciano.Anos airds, teoe em sua fachadauma imponente escadaria. 7 7

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    - A ponte da Auenida [odo Pessoasabrea Anoia Dihivio Ii11 nicaCOIl1 suas oito palmciras.

    .. ...-...- .~ "_.. _ ...I' .. . & . . . .l .. tl7 9

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    E s t i a g e m

    S en ho ra , t er n d o.Do H20 ficou 0 6ana gua virou "an" e saguao ficou I/ 6"e esta mos sua ndo p6.N in gu em a gu en ta 0 l ei te i n te g ra le s6 as b ol in ha s d a m in er al.A h, q ue s au da de d e r alo en tu pid o,d e r ua a la ga da , a qu ele a la rid o.A h, a nda r outra vez de ca lquep ela a ve nid a P ad re C ac iq ue ...S en ho ra , d iz a i p ro H or neque Manda -Chuva na o e so u rn n om e.Ou E le d esem pen ha su a fu nca oo u en ta o ... n ao sei n ao ,o povo aguen ta (o u enta ) e na o chiaf il a, r ou ba lh ei ra e c ar es ti a.P re si de nt e q ue r ec ru de sc ee a te previa do PDS.E nta p aco te e p ata da- mas nao sem beber nada!S en ho ra , s e v ale 0 parentescom a nd a u rn r efr es co .Mand a e ig u a t on ic a.P od e ser bionicaA g ua b en taou chul ebent a .E rn t er np es ta de , b or ra sc a o u t orm en ta .Umagaroaja e urna b o a .

    N o ss a S enho r a d os N ave ga n te s,fa la c om 0 G ur iou com 0 DMAE d aip ar a m a nd ar aguaMuita a g u aAgua s p a ra d as , a g u a s p a s s a d a sas aguas de m a r c o ad ian tada s . ..A gua do jeito que d erque ja ta o tom and o m ate d e colh ere b an hoe ur n t r o c o estranho.

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    Jei tern g ente que ri d e qu em fa z xixie fa z t r o c a de q uem tern r o c a ,V e se cu ra esta s ecu rapO e a g u a ne st a f ervu ra !E st a t ao g ra nd e 0 estioque "pa u d'a gua " e elog io.A gua no jo elho na o e desdouroe b a rr ig a d 'a g u a e tesouro. 8 1

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    ( p .S . - S e q ua nd o r ec eb er e sta jat iv er m a nd ad o u rn t em p or al d es co ns id er eo a viso , e na o 0 le ve a m a l.)

    A Praia daPedra Redondaja foi terminal de um bucolico irenzinhoque partia do certo da cidade.

    Meia - a g u a o u a g ua in te ir ad esd e q ue p asse e m to me ir a.E m g ota s o u em d ra gea sd es de q ue , a s a lm a s, la ve -a s.C a n ta r o s, p o te s , g am e la st o n ei s, d e d a is , p a n e la s . ..A s b ic as r on ca m s em s uc es soc om o p o li ti co e m r ec es so .M e la n c ol ic o s s a o o s c h a fa r iz e sc om o r et ra to s d e v elh as a tr iz es .E q uan do p enso em com id a qu e n ao se ja p oucam e d a, m eu D eu s, po eir a n a bo ca .N a o e a rn ea ca , S en ho ram a s p re cisa mo s d e a gu a a go ra .Senaoa p r ox im a p ro c is sa osa i com a m esm a fem as a pe.

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    Teatro total : 0 caso Daudt

    a tra en te , p ois a le m d e sa tisfa ze r n ossa c urio sid ad ep o r v id a s a lh ei as , 0g o st o u n iv e rs al p e la f of oc a , r ef or can ossa fa nta sia d e q ue urn d ia a in da esta rem os so breo p alc o, c om o ela . Os c el eb re s s ao a n os sa c or te . C oma v an ta ge m d e q ue e sta e u m a c or te a be rta , a ce ssiv el,p or ta nto m a is h urn an a e p ro xim a d o n osso c otid ia no .P ara ch eg ar la e so fica r co nh ec id o. E en qua nto n aoc he ga mo s la n os e ntr ete mo s c om 0 s e u e s pe ta c u lo c-e c om su as in tr ig as . G osta mo s d e p en sa r q ue e ntre a sd el ic ia s d a c or te e st a u m a c er ta in es ca pa ve l d ep ra va -~a o , 0 q u e a u rn en ta 0 seu fa scin io a o m esm o tem poq ue n os c on so la p or n ao e sta rm os n ela . E a m ora l dose xc lu id os , q ue p od e se r f ur io sa .

    In de pe nd en te d e to da a d or q ue ja c a us ou , e a in d av a i c au sa r , 0 caso D au dt e u rn a pe tito so ex em plo d ac la sse c ele br e c om o tea tro . F osse u rn c rim e n a v ila ea pena s sa cud ir iam os a ca baca com a v io lenc ia dosnossos d ia s e a s seque la s da m ise ria . Ma s fo i u rnc rim e n a c or te . E c om o 0 c r im i n o so e r a d e sc o nh ec id oe e ntr e o s a tra tiv os d o c aso esta va u ma in vest ig ac aoq ue rev elo u h ab ito s e co stu mes q ue a pen as co nfir -m a m n oss as p io re s s us pe it as s ob re o s c el eb re s, t em o so tea t ro to ta l. T ea tro co mo en treten im en to , em q uen ao fa lta a c la ss ica situ aca o d o p olicia l q ue d esa fia ed o su sp eito q ue m an te rn 0 s eu a lib i. T ea tr o a dm o ni-to rio , po is ex is te a sug esta o de que Daud t teve ar et ri bu ic ao m o r al q u e p r oc ur a va . T e at ro p o li ti co , p o isen vo lv e p olit ico s n ur na e po ca e m q ue q ua lq ue r t ip od e p aix ao a ca ba sen do p olit ica . T ea tro so cia l, p oisa fin a l e a cla sse a lta que es ta em cena pa ra 0 nossoju lg am en to , e to do s qu erem sa ber se 0 c a st ig o s er aig u al a o q ue e sp er ar ia 0c rim in os o d a v il a. M a l p os so 8 5espera r 0 f i lme .

    A c 1a sse a lta e 0 te atr o d as c la sse s b aix as: Q ue mdisse (m ais ou m enos) isso esta va fa la ndo de um aepoca em que as pam pa s da co rte e ram a s un ica ss up e rp ro d uc o es q u e 0 p ov o c on he ci a e o s b em -n as ci-dos v iv iam a aven tu ra soc ia l com que a ra le m a lp od ia so nh ar . A a scen sa o d a b urg uesia c r io u e litessem pudo res da sua r iqueza e dos seus p riv ileg io sc om o te at r o, o u c irc o, p ar a a m a ssa , m as c om 0 t empoa "a lta so cied ad e" fo i se t ra nsfo rm an do em a pen astea t ro p ara si m esm a. H oje h erd eiro s ex cen tr ico s ed ebu ta ntes n ao te rn m ais q ua lq uer in teresse p ara aim ag ina ca o popu la r - no Bra sil nunca tive ram - an ao se r q ua nd o d ao 0 cu rto p asso q ue sep ara a n oto -r ie da de d o e sc an da lo . M a s 0 c r es c im e n to d a i n d us tr iad e c om u nic ac oe s c rio u o ut ro s uc ed an eo d e a ri sto cr a-c ia , q ue e a c la sse c ele bre . A c ele brid ad e n ao p re cisas er b em -n a sc id a , o u m u it o r ic a , o u s eq u er m u it o im po r -ta nte . B asta se r ce le bre . 0 p ro pr io fa to d e se r a lg ue mc om o v oc e e e u, m as u ng id o p ela c ele br id ad e, a to rn a4

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    o ma is te r riv e l

    o m a is t er riv el n ao e ra a m e n in a m e c ha m an dode "t io " e p ed ind o um tro ca do , ela de p e n o cha o n oa sfa lto e eu n o m eu ca rro d e b aca na . 0 m ais te r r ive lna o e ra eu esco lh endo a ca ra e a voz p a ra d ize r quen a o t in h a t ro c ad o , d e sc ul pe , c om o s e a v e rg o nh a t iv e ss eu rn p ro to co lo q ue a a bso lv esse . 0 m a is te rr iv el n aofo i n em a n atu ra lid ad e c om q ue e la cu sp iu n a m in hac ara . 0 m ais te rr iv el fo i q u e e la e ra ta o p eq uen a q uea c usp ar ad a n ao m e a tin giu .

    S om os b oa s p esso as , b on s c id ad ao s e b on s p ais ,m a s s om o s t io s r ela ps os. N o ss as so br in ha s e n os so ss ob rin ho s e nc he m a s r ua s d as n os sa s c id ad es , c er ca mn osso s c ar ro s, in va dem n ossa s v id as e in sis te m q uesa o d a n ossa fa m ilia , e n ao tem o s n ad a p ar a lh es d aro u d iz er , a le m d e esm o la o u "d esc ulp e" . N a fa m iliab r as il ei ra " ti os " e s ob r in h os t er n um d ia lo g o d e a m e a~ ae m e d o, r ev o lt a e r em o r so , e p o uc a s p a la v ra s. N e n humc o n so l o p o s si v el , n e n hu r n a e sp e r an ~ a , n e n h um a e x p li -cacao , 0 que d izer a um a sob r inha cu ja ca b eca m alchega a ja ne la d o ca rro e ten ta cu sp ir n a ca ra d o tio ? 8 7

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    F eio . F a lta d e e du ca ca o, P ap ai d o c eu c as ti ga . P ac ie n-c ia , m i nh a f il ha , e st e e a pe na s u rn c ic io e co no mico e an ossa g era ca o fo i a e sc olh id a p ara e ste v ex am e, v oc eai d esse ta ma nh o p ed in do esm ola e e u a qu i sem n ad ap a ra te d ize r , a g ora a fa s ta que a br iu 0 s in al. N a op erg un te a o ti tio qu em fez a esco lha , e tu do m u it oco mp lica do e , m esm o, v oc e n ao e nte nd er ia a te or ia .V a c he ir ar c ola , p ar a p ass ar o V a m o rr er , p ar a e sq ue -c er . a u v a c re sc er , p ar a m e m a ta r n a p ro xim a e sq uin a.

    A h is to ri a, d iz em , t er m in o u, e o s m o ci nh o s g a nh a -ra m . a s r ea lis ta s, o s a ntiu to pic os , o s r ac io na is . F ic oup ro v ad o q u e a s ol id a ri ed a de e a ntin atu ra l e q ue c ad aurn dev e cu ida r d os ap et ite s do s seu s. au seja : n in-g u em e " tio" de ninguem, A fa m ilia h um a na e ur nmi t o , 0 s o fr im e n to a lh e io e u rn e sto rv o e se a m ise riaa tu a v olta te in co mo da , co mp ra u ma a nte na p ara b6 -l ic a . N i ng uem e in se nsi ve l, d iz em o s m o cin ho s, m a s ac om pa ix ao n ao fu ncio na . T od os e sse s a no s d e co nv i-v enc ia com a dor do s ou tro s, qu e deviam te r nosed uc ad o p ara a c om pa ix ao , n os e du ca ra m p ara a a uto -d efesa , p ara c usp ir p rim eiro . a s b on s se ntim en to sfa li ra m , d iz em o s m o cin ho s. C on fie m os 0 fu tu ro a om er ca do , q ue n ao te rn s en tim en to s, q ue tr it ur a g er a-~ 6e s e n tr e s eu s d ed os in vis iv eis , p ra q ue s e e nv olv er ?A fa sta d o ca rro q ue a br iu 0 sinal.

    M as m ais te r r iv el do que tudo e eu fica r aqu i,e sc olh en do fr as es p ar a e nc he r p ap el, a te c uid an do 0est i lo, j a que e do ming o. C om o se fizesse a lg um ad ife re nca , C om o s e is so fo ss e n os s alv ar , 0 t io da su aim po te nc ia e c um plicid ad e e a so br in ha a no nim a d os eu d e st in e , D e sc u lp e .

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    A lguma s p ess oa s

    n a o t ra ir 0q ue s e e sp er av a d ela , p ar a n ao s er in fie l a oseu tip o. E m e d ei c on ta q ue a p io r m a ne ira d e e sc re -v er s ob re a G ild a e c om n os ta lg ia . E la p o dia l am e nt arq ue P or to A le gre n ao e stiv esse m a is a a ltu ra d e se ut ip o m a s n a o e ra u m a n o st alg ic a . A o c on tr ar io , c on ti-n uo u a te 0f im u r na m u l he r con t empor a ne a , N i n g u emjam ais p en sou em sen ta r a o s pes d a G ild a e ouv irr em i ni sc en ci as d o s eu s t em p o s d e m o c a. S e us t em p o sd e m o ca fo ra m a te a nt eo nte m .

    E u es ta va pen sa ndo n o que esc reve r sob r e aG ild a M a ri nh o e , c om o c os tu m a a c on te ce r d ep oi s d eu rn a c er ta i da d e, c a l n u r na n o st alg ia r es se n tid a . P e n-se i em com o o s g ra nd es tipo s d a c id a de est a o sea c ab a nd o e e m c o m o n o ss a p a is ag e m s en ti m en ta l f ic ac ad a v ez m a is p ob re .

    P en se i em com o a Gild a - a te po r m or a r on dem or av a, n o c en tro tra dic io na l d a cid ad e, n o v elh oO ub e d o C o me rc io e m fr en te a v elh a P ra ca d a A lfa n-d eg a - r ep re se nta va u m a e sp ec ie d e u lt im a c id ad elad a P o r to A l e g re d o s g r a n de s t ip o s. S u a e x ce n tr ic id a d ee s ua e xu be ra n cia e st av a m u rn p ou co n is so , d e c on ti-n ua r a se r, se m c on ce ss6 es , u rn tip o d a v elh a P or toA le gre , e mb or a a v elh a P or to A le gre n ao e xis t is sem a is . A G ild a e ra , a o m e sm o t em p o , a g r a- fin a le va d aq ua se a p ar od ia n os se us p ara m et re s e no s se us g os-to s, e a p er so nif ic ac ao , c o m a su a in te lig en cia e b omh um o r, d a ir re ve re nc ia d ia nt e d a p re te nsa o so cia l ed a b e st ei ra . Ha p es so as q ue n ao q ue r em e nv elh ec erp or v aid ad e. A G ild a se r ecu so u a e nv elh ec er p ara

    A p ro pr ia G ild a c on ta va q ue , c om c in co a no s,a ind a em P elo ta s, a s v ezes su sp ir a v a fundo , e su am a e p e rg u n ta v a 0 q ue e ra . E a G ild a:

    - S au da de d e P ar is ...

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    Qua n do eu soube da m or te do P a u lo A morimn um a c id ad e e nt or pe cid a p elo d om in go , p en se i: e lef oi d is cr eto a te 0 fim . F oi d isc re to n a su a a go nia ,m i se r ic o rd io s am e n te r a p id a , e f ug i u d is c re ta m e n te d eh om en ag en s fu neb re s m aio re s , m er ec id a s com od e m on st ra c ao d o g r an d e a fe to q u e a s p es so a s t in h amp or e le , m a s q ue c er ta m en te 0 e r nb a r ac a ri am . Umh om em d e m u it os t al en to s, p rin cip a lm e nt e 0 t a l en top ar a f az er a m ig o s e in flu en cia r a v id a d os o utr os, 0P au lo e ra a cim a d e tu do u rn h om em re se rv ad o c ujam o d es tia q u as e s em p re s e m a n if es ta v a n a s ua g r an d ec ap ac id ad e d e r ir d e s i m esm o. E ra u rn h om em in te -lig e nt e, m u it as v ez es b ril ha n te n a s ua b em h um o ra d ao b se r va c a o d e a c o nt ec im e n to s e p e ss o as , m a s p r ef er ius emp re 0 s eg u nd o p la n o, a e fic ie n ci a e a c on cili ac a oe m v ez d a n o to rie da d e. 9 1

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    F oi ele q ue m e trou xe p ara 0 jo ma lism o, p ar a aant iga Z e r o H o r a , no tem po em que era d ir ig ida po rA ry d e C arva lh o e 0P au lo t in ha a h er oica fu nca o d ef az er f un ci on a r u rn a e ng r en a gem im pr ov a ve l, q u e n a opod ia da r ce rto e , com a m ed ia ca o do Pau lo , da va .N ao p osso p en sa r n o P au lo se m le mb ra r a qu ela e po caa o m es mo t em p o te rr iv el e e stim u la nt e e m q ue a g en teg a n h av a e sp o r ad i came n te m a s , d e ci d id ame nt e, s e d i v e r-t ia .

    E ntre i n o j or na l e m fin s d e 196 6 q ua nd o a in da sep od ia ser jo rn alista sem te r d ip lo ma . M e b ota ra m n am en or m esa d e u ma co le ca o a glo mer ad a e m to rn o d oMa r cosFa e rman , s e cr e ta r i o de redacao, As ou tr a s m e s ase ra m o cu p ad a s p el os d ia g ra m a do re s, 0 Ben d at ti e 0E ra ld o, e p elo d ese nh is ta Jo rg e I va n, q ue , q ua nd o n aoe st av a fa ze nd o v in he ta s p ar a 0j om a l , f a zi a c a ri ca tu -ra s da reda ca o in te ir a . Do P illa V a res, ed ito ri nt em a ci on a l. D o Ma rc o A u re li o G ar ci a, e di to r n a ci o-n al. D o C arlo s C oe lh o. D o C am po s N etto . D o P lin ioD en ti ce . D o W ilm o Med ei ro s. D o S id n ey S h es ta ts ky .56 m es es m a is ta rd e 0Jo rg e Iv an m e m ostr ou a c ar i-c at ur a q ue fe z d e m im n om e u p rim e ir o d ia d e c o p y d e s k ,a p re nd en d o c om 0Marc ie 0q u e e ra , e xa ta m en te , s eru rn c o p y d e s k . E u p a re ci a m e io a ss us ta d o.

    A red aca o ficav a na S ete d e S etem bro , em cim ad o cin em a R ex . C om o se n ao b asta sse 0 pa g amen t op ouco e in ce rto e a s in quie tu des d aq ue les an os d ec hu m bo , tr ab al ha va m os e m m e io a o c he ir o d e fr itu rado ba r que ocupava boa pa rte do a perta do rec in to .M as era d iv ert id o. E m po uco tem po p asse i de c o p y -d e s k a edito r de frescu ra s. Ba ixava as pag ina s dev arie da des e co mec ei a re dig ir u ma se ca o q ue se ch a-m a y a P r o gr am in h a , um a r e la c a o d e b a r es e r e st a ur a nt esda cid ade . De v ez em q uan do , in ventav a u rn b ar o u

    r es ta ur an te , ta o d ife re nte q ue, a ch av a e u, n in gu emp od ia pensa r q ue fo sse d e v erda de . M as u rn dia v ie -r am m e d iz er q u e v a n o s l ei to re s t i nh a m s ai do a p ro cu ra ru rn C fG er ot ic a n a C av alh ad a, q ue eu a nu nc ia ra . E ram elh or p ara r . T am bem m e d ei m al co mo astrolo go,C om o n em se mp re so br av a tem po p ar a fa ze r 0heros -c op o , e u a s v ez es a p en a s t ro ca v a a s p re vi s6 e s d e s ig n o,n a sup osica o d e qu e ca da lei tor so lia 0 s eu . H o u vep ro te sto s. A ch o q ue m e co nv id ara m p ar a fic ar c om acolun a d o Jo ck ym an, qu an do ele fo i p ara a C ald asJ un io r, p a ra e vi ta r m a is c on fu s6 es . A n te s, n o e nt an to ,c he g ue i a s er e di to r n a ci on a l e e di to r i nt er na ci on a l-p or a lg un s d ia s. N a Z e r o H o r a d a qu el es t em p o s a g e nt efic av a v ete ra no em p ou co te mp o. E a go ra a qu i es ta -m o s n o s, a n ti -s ep ti co s d ig it ad o re s c om 0pa g amen t oem dia . A Z e r o Hom decididam en te na o e m ais am e sm a. A h, e p osso a sseg ur ar q ue 0h or osco pe e d am a i o r c o n fi an c a .o qu e 0 P au lo A m orim fe z p or m im c erta me ntenao e d as p arte s m ais im po rta ntes d a su a b io gr afia ,m as e urn ex em plo d o q ue ele fez p or m uitos o utro s,s em p re a s ua m a ne ir a d isc re ta .

    F oi u rn a m ig o .

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    M eu p ai dizia q ue 0 Ma ur ic io R o se n bl at t e ra t aob er n e du ca do q ue a gu en ta ria u rn en fa rte d e p e, semp isc ar , s o p ar a n ao p ar ec er d es at en ci os o c om a lg u em .F iq ue i p en sa nd o e m c om o e le se sen tir ia c on stra n-g id o, p or se r a c au sa d a c on st er na ca o e d o m o vim e nt od e t an ta g e nt e, o n te m , n o v el or io e n o e n te rr o. D u ra n teo e nter ro , o lh ei e m v olta e se nt i q ue fa lta va a lg uerna li, n o m eio de ta nta s ca ra s a mig as. Depo is m e d ei 9 3

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    conta que faltava 0Mauricio. Ele comparecia, as vezescom sacrificio, a enterros, com a mesma assiduidadesolidaria com que estava no aeroporto, quando qual-quer urn de nos embarcava ou chegava. Uma vezalguem disse uma rase sobre 0Mauricio que 0 des-crevia com perfeicao, Era a unica pessoa no mundoque, quando perguntava "Como vai?" queria mesmosaber como voce ia. Com 0 seu lucido ceticismo, como seu amor desesperancado pelo livro, pela arte e peloconvivio civilizado, 0Mauricio tentava convencer quea especie humana nao tern mais jeito, se e que algumdia teve. Mas ele era 0 seu proprio desmentido. Seujeito de ser amigo, de ser essa coisa urn pouco vaga,que a gente sopode definir com exemplos, urn homemdecente, provava que a humanidade ainda tern algumaesperan

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    A s n oiv as do P ar ten on

    Todo homem casado precisa ter urna noiva noPartenon. Note que 1130 falo em amante. Nao penseem algo clandestino, com pantufas e alabastros. Nao.As noivas do Partenon sao de uma castidade semremorso. 56 deixam pegar na mao e assim mesmocom recomendacoes, Aquele rnontinho na base dodedao, por exemplo, so depois de casados. Voce levaduas semanas para encostar, 1130 nela, no portae. S epegar no seu cotovelo toea urn alarme dentro de casaeo irmao ex-para-quedis tavern ver 0que esta havendo.Urn hornem casado que tern uma noiva no Partenone rnais fiel do que a sua rnulher rnerece. E quaseindispensavel para 0born funcionarnento de urn casa-mento que 0 hornern tenha urna noiva no Partenon, ea visi te diariamente, das 5 as 6h. A 1130 ser as quintasquando ela tern aula de piano.

    Como explicar 0 fascinio das noivas do Parte-non?Nao ha , na sua relacao comela,nenhuma prornessasexual. Com sorte, depois de urn ana e meio, voce 9 7

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    m order a a sua o re lha , e e la ped ir a que voce nunc am ais fa ca is so p orqu e ela sen te m uita s c6c eg as e o lhaai , q ua se perdeu u rn b r inc o. U rn d ia , n a qu erm esse daIg re ja , voce co nseg uir a in tr om eter um a m ao n erv osaen t r e 0 seu b r a ce nu e a b Iusa , a te q ua se em cim a ,m as a i e Ia a per ta ra 0 b ra ce c om fo rca e voce te rnerap eIa g an gr en a n os d ed os .

    E a sua conv ersa ? A co isa m ais in t im a que ela jap erg un to u pa ra voce fo i:- A com pa nha s a Ig um a novela ?V o ce te nta in sin ua r a ss un to s d e m a is c or se qu en -

    c ia s . liE s c ium en ta ?" o u , a fo itam en te , "Qua l e teusa bo ne te ?" . M as e la r ep ele to da s a s te nta tiv as d e a pr o-funda r 0 d ia log o e r i m uito q uando voce ten ta se rp oe ti co , p o m ba .

    - E sta ho ra , este c re pusc ulo , se i la ...E la se d ob ra d e ta n to r ir . E a m ae apa r ece n um a

    ja ne la p ar a v er se v oc e n ao a va nc ou n a o re lh a o u t r a v ez .A v ig ila nc ia e c on sta nte . 0 p ai d eIa , a po se nta do ,

    e sp ir itu alista , u sa u rn c old re se mp re p re so a o c in to . 0co ld r e e sta va zio m as 0 seu ta ma nho e eloque nte : ema Ig um lug a r es ta g ua rda d a a g ra nde a rm a com quee le z ela p eIo se u p at r irn cn io , in clu id o a v irg in da de d afilh a e u rna co leca o e nca derna da do M alb a T ah an . N au nic a v ez e m q ue c on ve rs ou c om e le v oc e f ic ou s ab en doq ue e le ja e xp eliu 17 p ed ra s p ela u re tra e fo i rn ilita nteda UDN , cu id a do . A m ae te rn b ig o de e va r ize s e osseus o lh os na ja n e la sa o com o os fa ro is que g uiam av ir tu de d o P a rt en on p ar a a c ar na , in ta ct a, t od as a s n oite s.

    A s no iva s do P ar teno n te rn u rn irm ao m eno r quese d iv er te te nta ndo chu ta r v oce na s ca ne la s. U rn d iae le e rr a, a ce rt a 0 m uro , e va i cho r a nd o d izer pa ra am ae que vo ce the ba teu . E um a p ro va ca o no iva r no

    P a r te non . Po r que voce in siste? A s no iva s do P a r te -non te rn am ig a s que pa ssam em bando pe la ca lca d ado ou tro la de da rna r indo , voce nao te rn a m eno rdu vid a, de voc e. E d em ais . V oce na o p rec isa d isso . 0ca sa men to esta fo ra de que sta o. V oce ja e c as ad o, o uen ta o te rn o utr a no iva em ou tro ba ir ro onde a v ig ila n-c ia e m eno r, a p r im aver a e a m esm a e 0pa dre , em vezde q uerm esse , a presen ta fu nk no po r a o da Ig re ja . M aso fa sc in io e ir r esist iv e l. A s se is em pon to a m ae de laa ce nd e a lu z d o a lp en dre , e o sin aI p ara v oc e ir e mb ora .V oce ju r a que nun ca m ais vo lta . M as a l e la g osp e fo r ao c hic le e p er gu nt a:

    - Am anha tu vern?E tu va i.

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    1 0 0A Avenida Osvaldo Aranha,na esquina do Ocidenie,lugar preierido pelos "plinks"e pela conira-culiura da cidade.

    Maneiro

    E le en sa ia a po se e 0 s or ris o n a re nt e d o e sp elh o,N a o e 0 A l P a cin o m as ta mb er n n ao e n en h um B o te lh o .Acha - se 0max imo .C a nh a 0m in im o .T em t ud op ara se r a to r.P en a te r n asc id o n o C ris to R ed en to r.o p a i e in at iv o. T er n u ma h ern ia q ue c re sc e.56 leva nta pa ra ir a o IN PS .A m a e e a ti va , f az d o ce s, c o st ur a.S usp iro s, c hu lia da s, a v id a a to rtu ra .U rn irm ao fa z b isca te , a irm a ca sou m al.A h, se r a me ric an o, e sa ir n o jo rn al...o n om e n ao im po rta , te ria 0m e sm o c he ir o.M as podem the ch am ar d e T ony M anero .Se r i a 0 re i d a d isc ote ca , m an eiro , a m il.S e h ou vesse d isc ote ca s n a A ven id a A ssis B ra sil .E sq ue ce u fu te bo l, c ar na va l, o s g ib is .Pe lo som , pe lo "so ul" , ro ck p esad o e os Bee Gees.o mundo e 0 seu pen te e u rn ra d inho de pilh a . 1 0 1

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    E u rn a ca lca d e b rim q ue a pe rta a v ir ilh a.A c asa e no s fu nd o s, seise en to s p or m esoA h, ser d o Bro ok ly n e d an ca r e m in gles .O s a pla us os , o s v iv as, o s p ed id os d e b is !U rn dia , q uem sa be , co m a a ju da do P IS ...N o espe lho ele ensa ia a po se e 0 pen t eado .M as a i do sa fa do que 0 c ha m ar d e v ea do .V iu 0 film e d ez v ez es e c ho ro u n o fin al.Q ue e ois a m a is tr iste , q ue e ois a le ga l!U rn d ia a in da te rn u ma ea misa e str ia da .U rn p asso so d ele , u rn sh ow n a ca lca da .U rn d ia 0m un do va i sa be r da su a v id a."D ev o tu do a os rn eu s p ais e a m i nh a c id ad e q u er id a! "Ja m ais e sq ue ce ra o s a m ig os d a e sq uin a.o Loueo-Louco, 0B ate ra , o s d o p eito , a m in a."Qu an do fo r fa mo so p en sa rei so e m tiL uc id el ia S a nt os S il va , d o l A P! ."S ua v on ta de e fu gir e v ol ta r c om o m ito .o f il ho m a is p r6 di go d o Q ua rt o D is tr it o.M as v ai m