19 Crônicas Interessantes Para Trabalhar Em Sala de Aula Com Turma 9 Ano

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    19 Crônicas interessantes para trabalhar em sala de aulacom turma 9 ano..

      Olá caros professores, esse ano é ano de olimpíada de língua

    portuguesa nas escolas públicas e cada série cará com determinadogênero e quem ensina turmas de 9º ano cará com o gênero“Crnica!"  #pro$eitem professores para dar o mel%or de $ocês, abai&o $ocês$er'o alguns e&emplos de crnicas, $amos trabal%ar nossos alunos e prepara(l)s para um futuro mel%or**  +rof" o'o -atista da .il$a

      A Rua do Ouvidor

      Joaquim Manuel de Macedo A Rua do Ouvidor  contou diversas lojas de perfumarias, e, por consequência, devia ser a

    rua mais cheirosa, mais perfumada entre todas as da cidade do Rio de Janeiro. todavia n!o o era"...Com efeito n!o havia nem h# rua mais opulenta de aromas, de perfumes, de pastilhasodor$feras, de banhas e de pomadas de %timo cheiro& mas tudo isso encerrado emvidrinhos, em frascos e em pequenas cai'as bonitas que mantinham e mantêm a Rua doOuvidor  t!o inodora como as outras de dia.(tualmente de noite observa)se o mesmo fato.

     *aquele tempo, por+m, isto +, nos tempos do Demarais, e ainda depois, a Rua doOuvidor , de f#cil e reta comunica!o com a praia, era uma das mais frequentadas peloscondutores dos repu-nantes barris, das oito horas da noite at+ s de/.( esses barris asquerosos o povo deu a denomina!o -eralmente adotada de ) tigres )

     pelo medo e'plic#vel que todos fu-iam deles.sse ruim costume do passado me tra/ mem%ria informa!o falsa e rid$cula que li, ecaso infeli/ e i-ualmente rid$culo, de que fui testemunha ocular e nasal  em 109, nomeu saudoso tempo de estudante.( informa!o + a se-uinte23m francês 4viajante charlatão5 passou pela cidade do Rio de Janeiro, e demorando)senela al-uns dias, ouviu dos patr$cios da Rua do 6uvidor quei'as dos incômodos ti-resque frequentes passavam ali de noite. 7#bio e consciencioso observador que era, oviajante tomou nota do ato, e poucos anos depois publicou, no seu livro de via-ens, estafamosa not$cia2

    8 Na cidade do Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil, feras terrveis, ostrigraves, vagam, durante a noite, pelas ruas, etc!, etc!""" + assim que escreve a hist%ria"6 caso que observei foi desastroso, mas de nature/a que fe/ rir a todos.:ouco depois das oito horas da noite, um in-lês, trajando casaca preta e -ravata

     branca...ntre parêntese.m 109 ainda era de uso ordin#rio e comum a casaca& o reinado de palet# comeoudepois& muitos estudantes iam s aulas de casacas, e n!o havia senador nem deputadoque se apresentasse desacasacado nas respectivas C;maras2 o palet% tornou)seeminentemente parlamentar de 10echou)se o parênteses.

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    6 in-lês de chap+u de patente, casaca preta e -ravata branca subia pela Rua do Ouvidor ,quando encontrou um ne-ro que descia, levando cabea um tigre para despej#)lo nomar.

    6 pobre africano ainda a tempo recuou um passo, mas o in-lês que n!o sabia recuaravanou outro& o condutor do tigreencostou)se parede que lhe ficava m!o direita, e oin-lês supondo)se desconsiderado por um ne-ro que lhe dava passo esquerda

     pronunciou a ameaadora palavra goodemi, e sem mais tir)te nem -uar)te honrou comum soco brit;nico a face do africano, que perdendo o equil$brio pelo ataque e pela dor,dei'ou cair o ti-re para diante e naturalmente de boca para bai'o.

     Ah" $ue não sei de nojo como o conte"6 %igre ou o barril abismou em seu bojo o chap+u e a cabea e inundou com o seuconte?do a casaca preta, o colete e as calas do in-lês.6 ne-ro fu-iu acelerado, e a v$tima de sua pr%pria imprudência, conse-uindo livrar)sedo barril, que o encapelara, lanou)se a correr atr#s do africano, sacudindo o chap+u em

    estado indi&vel , e bradando furioso2 @ :e-ue ladron" :e-ue ladron"...Mas qual ) pega ladron" )2 todos se arredavam de inocente e malcheiroso ne-ro quefu-ia, e ainda mais o in-lês, tornado ti-re pela inunda!o que recebera.ra -eral o coro de risadas na Rua do Ouvidor .6 in-lês, perdendo enfim de vista o africano, completou o caso com um remate pelomenos t!o rid$culo como o seu desastre. Aoltando rua acima, parou em frente denumeroso -rupo de -ente que testemunhara a cena, e ria)se dela.(inda hoje o estou vendo& o in-lês parou, e sempre a sacudir o chap+u olhou iroso parao -rupo e disse mas disse com or-ulhosa -ravidade brit;nica2

     @ (manh! fa/ quei'a a ministro da Bn-laterra, e h# de ter indeni/a!o de chap+u e decasaca perdidas.(h" u creio que ent!o a melhor das risadas que romperam foi a minha -ostosa, lon-a erepetida risada de estudante feli/ e ale-r!o. in?til di/er que n!o houve quest!o diplom#tica. ( Bn-laterra ainda n!o se tinha feitorepresentar no Drasil por 'r! (hristie, o ?nico capa/ 4depois do jantar5 de e'i-irindeni/a!o do chap+u e da casaca que o patr$cio perdera.

     *!o foi este ?nico desastre que os ti-res ocasionaram, foram muitos e todos mais oumenos -rotescos, e sei de um outro 4al+m da encapela!o do in-lês5 ocorrido na Rua doCarmo hoje 7ete de 7etembro, que de s?bito desfe/ as mais doces esperanas docasamento inspirado e desejado por m?tuo amor.

    6 namorado era estudante, meu cole-a e ami-o& estava perdidamente apai'onado poruma vi?va, viuvinha de de/oito anos, e linda como os amores.3ma noite, a bela senhora estava janela, e lu/ de fronteiro lampi!o viu o namoradoque, aproveitando o ponto do mais vivo clar!o iluminador, lhe mostrava, levando)o aonari/, um raminho de lindas flores, que ia enviar)lhe, quando nesse momento o ce-oapai'onado esbarrou com um condutor de ti-re, e, embora n!o encapelado, foi quase t!oinfeli/ como o in-lês.6 pior do caso foi que a jovem adorada incorreu no erro quase inevit#vel de desatar arir, e lo-o depois de fu-ir da janela por causa do mau cheiro de que se encheu a rua.6 namorado ressentiu)se do rir impiedoso da sua esperanosa e querida noiva& amoroso,

     por+m, como estava, dois dias depois tornou a passar diante das queridas janelas.

     *o erro& a formosa vi?va, ao ver o estudante, saudou)o doce, ternamente, mas levou oleno a boca para dissimular o riso lembrador de rid$culo infort?nio.

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    6 estudante deu ent!o solene cavaco, e n!o apareceu mais bela viuvinha.3m ti-re matou aquele amor.

     'em#rias da Rua do Ouvidor! Rio de Janeiro2 :erseverana, 10E0.

      Falemos das flores (25 de novembro de 1855)  Jos+ de (lencar >alemos das flores.6 que + uma florF7er# esta cria!o ve-etal que na primavera se abre do bot!o de uma plantaF

     *!o2 a flor + o tipo da perfei!o, + a mais sublime e'press!o da bele/a, + um sorrisocristali/ado, + um raio de lu/ perfumado.:or isso h# muitas esp+cies de flor.G# as flores do vale ) mimosas criaturas que vivem o espao de um dia, que sealimentam de orvalho, de lu/ e de sombras.G# as flores do c+u ) as estrelas, ) que brilham noite no seu manto a/ul, como os olhos

    de uma linda pensativa.G# as flores do ar ) as )or)oletas, ) que têm nas suas asas li-eiras as mais belas cores do

     prisma.G# as flores da terra ) as mulheres, ) rosas perfumadas que ocultam entre as folhas osseus espinhos.G# as flores dos l#bios ) os sorrisos, lindas boninas que o menor sopro desfolha.G# as flores do mar ) as pérolas, ) filhas do oceano que saem do seio das ondas para seaninharem no seio de uma mulher morena.G# as flores da poesia ) os versos, ) s ve/es t!o cheios de perfumes e de sentimentoscomo a mais bela flor da primavera.G# as flores dHalma ) os sentimentos, ) flores a que o cora!o serve de vaso, e asl#-rimas de orvalho.G# as flores da reli-i!o ) as preces, ) modestas violetas que perfumam a sombra e oretiro.G# as flores da harmonia ) os gorjeios ) que brincam nos l#bios mimosos de uma

     boquinha sedutora.G# as flores do esp$rito ) os &igue&agues, ) que nascem sobre o papel como rosassilvestres e sem cultura.4*!o falo dos nossos &igue&agues, que, quando muito, s!o flores murchas5.G# enfim uma esp+cie de flor que + t!o rara como a tulipa ne-ra de (le'andre Iumas,como o cravo a/ul de Jean)Jacques, como o cris;ntemo a/ul de eor-e 7and.

    a flor da vida, este sonho dourado, este puro ideal a que todos aspiram e de que t!o poucos -o/am.:orque a flor da vida apenas vive um dia, como as rosas da manh! que a brisa da tardedesfolha. quando murcha, dei'a dentro dHalma os seus perfumes, que s!o essas recordaKesqueridas que nos sorriem ainda nos ?ltimos tempos da e'istência.:ara uns a flor da vida nasce nos l#bios de uma mulher& para outros no seio de umami-o.>eli/ do caminhante que beira do bosque por onde passa colhe esta flor/inha a/ul,esp+cie de ur/e cin-ida de uma coroa de espinhos.Muitas ve/es, depois de muitas fadi-as, quando j# tem as m!os feridas dos espinhos, e

    que vai colher a flor, ela se desfolha.6 vento soprou sobre ela, ou um verme roeu)lhe os estames.

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    (t+ aqui os meus leitores têm visto o mundo pelo prisma de uma flor& mas n!o sedevem iludir com isso.(l-um velho pol$tico de cabelos brancos lhes dir# que isto s!o simples devaneios deuma ima-ina!o e'altada.( flor  + a poesia, mas o fruto + a realidade, + a ?nica verdade da vida.

    nquanto pois os poetas vivem busca de flores, os homens s+rios e -raves, os homens pr#ticos s% tratam de colher os frutos.les veem desabrochar as flores, e'alar os seus perfumes, e esperam como o hortel!oque che-ue o outono e com ele o tempo da colheita. na verdade, a flor encerra sempre o -erme de um fruto, de um pomo dourado, queoutrora perdeu o homem, mas que + hoje a sua salva!o.( e'plica!o disto me levaria muito lon-e, se eu n!o me lembrasse que at+ a-ora aindan!o escrevi uma linha de revista, e ainda n!o dei aos meus leitores uma not$cia curiosa.Mas, a falar a verdade, n!o me a-rada este papel de noticiador de coisas velhas, que omeu leitor todos os dias vê reprodu/idas nos quatro jornais da corte, em primeira,se-unda, e terceira edi!o.

    :oderia di/er)lhe que depois da epidemia vai)se revelando uma outra epidemia dedivertimentos, realmente assustadora.>ala)se em clu)e artstico, em baile mascarado no teatro l$rico, em passeios de m#scaras

     pelas ruas, numa companhia francesa de vaudevilles, e em mil outras coisas quetornar!o esta bela cidade do Rio de Janeiro um verdadeiro para$so.

     *este tempo + que os folhetinistas bater!o as asas de contentes, e n!o ter!o trabalho deescrever tiras de papel& preferir!o ir ao baile, ao passeio, ao teatro, colher as flores deque h!o de formar o seu )ou*uet  de domin-o.nquanto por+m n!o che-a esta bela quadra, essa primavera dos nossos salKes, esseabril florido da nossa sociedade, n!o h# rem+dio sen!o contentarmo)nos com o quetemos, e em ve/ de rosas, apresentar ao leitor as folhas secas do ano.

    ( respeito de teatro, n!o falemos& + uma casa em cujo p%rtico 4di-o p%rticofi-uradamente5 a prudência parece ter -ravado a inscri!o de Iante2 @ +uarda e passa.7e despre/ais o aviso e entrais, da$ a pouco tereis ra/!o de arrepender)vos.7entai)vos em uma cadeira qualquer2 a vossa direita est# um -ru$sta& a vossa esquerdaum chartonista.Levanta)se o pano2 representa)se a Norma ou a idan&ata (orsa& canta uma das duas

     prima)donas, uma das duas prediletas do p?blico. @ Dravo" -rita o -ru$sta entusiasmado.

     @ ue e'a-era!o" di/ o chartonista estirando o beio. @ Iivino" @ 6h" + demais" @ 7ublime" @ Bnsuport#vel" assim neste crescendo continuam os dois dilettanti, de maneira que o vosso ouvidodireito est# sempre em completa oposi!o com o vosso ouvido esquerdo.Cai o pano.

     *o intervalo conversai um pouco com os vossos vi/inhos. @ preciso ser completamente i-norante, di/ o -ru$sta com o aplom) de um maestro, para n!o se apreciar a sublimidade do talento desta mulher"

    A%s, meu leitor, que n!o quereis assinar um termo de i-norante, n!o tendes rem+diosen!o confessar)vos -ru$sta, e em lu-ar de dois pontos de admira!o dais três.

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     @ Com efeito, + uma artista e'$mia"""(penas acabais a palavra, quando o chartonista vos interro-a do outro lado.

     @ poss$vel que um homem de -osto e de sentimento admita semelhantese'a-eraKesF>icais embatucado& mas, se n!o quereis passar por homem de mau -osto, deveis

    imediatamente responder2 @ Com efeito, n!o + natural.Ia$ a um momento o vosso vi/inho da direita retruca2

     @ Aeja, todos os camarotes da

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    no prato r%sea. 3m lim!o/inho em cima, um pedacinho de p!o e viva o terceiro mundo, visto l# de cima

    do apartamento do Morumbi. *o mesmo dia, de noite, fui ao peemedebista Dar *abuco, debai'o de frondosas sibipirunas da :raa

    Ailaboim e estava l#, no card#pio, toda sem)ver-onha, a mortadela brasileira. (chei que estavacomeando bem o ano. Aai ser um (no Dom, como se di/ia anti-amente. 7e os novos)ricos do :MID

    est!o comendo mortadela, nem tudo est# perdido. *o ar-alhada Dar mais para :N, h# um e'celentesandu$che de mortadela., nas boas padarias do ramo você ainda encontra a verdadeira mortadela, aquela que che-a no balc!o,feita na chapa, sem queimar muito, servida em p!e/inhos sa$dos do forno.

    Aamos dei'ar o primeiro mundo para l#. Aamos, este ano, tomar cachaa e comer mortadela. muitomais barato ser pobre. Iei'emos que o primeiro mundo e'ploda entre eles, mesmo tomando u$sque

    escocês e comendo queijo fedido.:or favor senhores brasileiros primeiro)mundistas, vamos dei'ar de frescura. Mortadela + o que h#. um

     barato.>eli/ 9< para todos vocês. Muita cachaa e muita mortadela. (pesar de tudo, o primeiro mundo + triste e

    melanc%lico. Continuemos feli/es e ale-res com a nossa cachaa e a nossa -ostosa mortadela.

    que os candidatos presidência deste nosso pa$s do terceiro mundo n!o se esqueam que o J;niosempre se ele-eu comendo 8mortandela e n!o caviar do primeiro mundo.:ublicada no jornal O -stado de .! /aulo, =Q1Q199

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    S...T

    quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e di/2 8A%",seu cora!o estala de felicidade, como p!o ao forno.

    S...T(t+ as coisas ne-ativas se viram em ale-rias quando se intrometem entre av% e neto2 o bibelô de

    estima!o que se quebrou porque o menininho ) involuntariamente" ) bateu com a bola nele. st#quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordaKes2 os cacos na m!o/inha, os olhosarre-alados, o beio pronto para o choro& e depois o sorriso malandro e aliviado porque 8nin-u+m se/an-ou, o culpado foi a bola mesmo, n!o foi, A%F ra um simples boneco que custou caro. Goje +

    rel$quia2 n!o tem dinheiro que pa-ue...Elenco de cronistas modernos. O1P ed. Rio de Janeiro2 Jos+ 6lUmpio, OVV=. 

    Conformados e realistas

    (Nost!o5 >ernando Cala/ans e poucos outros jornalistas esportivos têm sido cr$ticos e realistas

    sobre a qualidade e o futuro do futebol brasileiro, da 7ele!o e dos clubes. :enso damesma forma. stamos preocupados. J# a numerosa turma do oba)oba, tamb+mchamada de otimista, acha que somos muito pessimistas.6s conformados, os que têm pouco senso cr$tico e tamb+m os modernistas, que s!omuito bem preparados cientificamente, di/em que o futebol moderno + esse a$. Nemosde en-oli)lo. Nocar a bola e esperar o momento certo para tentar fa/er o -ol virousinônimo de lentid!o. Confundem modernidade com mediocridade.

     *in-u+m + t!o in-ênuo para achar que se deve jo-ar hoje no estilo dos anos WV. 6 quequeremos + ver mais qualidade. *!o podemos nos contentar com um futebol med$ocre,quase s% de jo-adas a+reas e de muita falta e correria. 6 encanto do futebol + outro.6s jo-adores s!o produ/idos em s+rie, para e'porta!o, como uma f#brica de parafusos.

    6s atletas de talento s!o colocados na mesma linha de produ!o dos med$ocres. G#mercado para todos. (umentou a quantidade e diminuiu a qualidade.

     *os ?ltimos 1< anos, a (r-entina -anhou cinco mundiais sub)OV 4acontecem de dois emdois anos5, al+m de duas medalhas de ouro nas 6limp$adas. 6 time que derrotou oDrasil tem sete jo-adores da equipe campe! mundial sub)OV em OVV=.Muitos v!o di/er, com um %timo ar-umento, que nesse per$odo, o Drasil -anhou duascopas do mundo e mais um vice, enquanto a (r-entina n!o venceu nada. ( ra/!o disso +%bvia. ( (r-entina n!o teve um ?nico fenômeno nesses 1< anos, at+ che-ar Messi. J# oDrasil teve Rom#rio, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e XaY#. Nodos os cinco -anharam ot$tulo de melhor do mundo.6s fenômenos, em todos os esportes, dependem muito menos das condiKes em que s!otreinados. les n!o têm e'plica!o. Mas n!o se pode depender tanto deles. precisocriar boas estruturas e estrat+-ias para formar um n?mero maior de e'celentes atletas.sses têm diminu$do no futebol brasileiro.Muitos treinadores brasileiros conhecem tudo de esquema t#tico, de estat$sticas, dosadvers#rios, por+m conhecem pouco as sutile/as e subjetividades. *!o s!o bonsobservadores.uem n!o sabe ver n!o sabe nada. les se preocupam mais com seus esquemas t#ticosque com a qualidade do jo-o e se os melhores jo-adores est!o nos lu-ares certos.G# e'ceKes. nfim, apareceu um t+cnico brasileiro que colocou Carlos (lberto na

     posi!o certa, se movimentando na frente, por todos os lados, e mais perto do -ol, onde

     pode e deve driblar. (ssim ele jo-ou no :orto com Jos+ Mourinho. Carlos (lberto n!o +armador, or-ani/ador, como atuava.

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    >elip!o estava louco para ver Robinho no Chelsea porque precisa de um atacanter#pido, habilidoso, que jo-a melhor pelos lados e que + capa/ de marcar no pr%priocampo e aparecer com facilidade no ataque. Robinho + um desses raros jo-adores. 7e>elip!o fosse treinador da 7ele!o, certamente faria o mesmo.

    O /ovo Online, VQ0QOVV0. Iispon$vel em

    Z[[[.opovo.uol.com.brQopovoQcolunasQtostaoQ01WVortale/a, a nossa rua se chamava do (la-adio2 eralar-u$ssima, uma lon-a sucess!o de ch#caras com jardim frente, imenso quintal atr#s.4...5  Io outro lado da rua, defronte ao poste do bonde, ficava a escola p?blica da IonaMaria Jos+. 4...5 *ela estudava o meu tio >elipe, que era quase da minha idade.4...5 eu,que che-ara um mês antes do :ar#, tinha loucura pra freq]entar a escola, mas nin-u+m

    consentia. Minha m!e e meu pai alimentavam id+ias particulares a respeito de educa!oformal2 desde que eu j# sabia ler @ aprendi so/inha pelos cinco anos @ e tinha livrosem casa, jornais, revistas 46 Nico)Nico"5, o resto ficava para mais tarde. u ent!o fu-ia,atravessava o trilho para espiar a escola. :rincipalmente nos dias de sabatina, quando ameninada toda formava uma roda, cantando a tabuada, a professora com a palmat%ria nam!o. :rimeiro era em coro, se-uido2 8W^W, 1O" W^E, 1" 6 mais dif$cil era a tabuada demultiplicar, principalmente nas casas de sete pra cima e entrando no salteado2 8E'9, =W&0'9, EO" ($ a palmat%ria comia e os bolos eram dados pelo aluno que acertava,corri-indo o que errava. eram aplicados na propor!o do erro. Nabuada de sete a noveera fo-o. 6 pior era um aluno -randalh!o @ iria pelos 1< anos @ que n!o acertavanunca. Che-ando a ve/ dele, a roda cantava2 80'EF ( roda esperava e ele -a-uejava,ficava da cor de um piment!o e comeava a chorar. :almat%ria nele. u, que espionavada janela e j# tinha aprendido a tabuada, de tanto ver sabatina, soprava de l#2 8=W"Iona Maria Jos+, se ouvia, levantava os olhos pra cima e at+ sorria. Mas o pobre nuncaentendia o sopro. 3ma ve/ caiu de joelhos. Mas n!o perdoavam2 bolo nele" no diase-uinte ele vinha pra aula de m!o amarrada num pano, sempre sujo.  (s pessoas s!o cru+is. Menino + muito cruel. (-ora me lembrei que chamavamo coitado de _+ rand!o. *unca deu pra nada, nem pra cai'eiro de bode-a @ n!oconse-uia anotar direito as compras no borrador. le mesmo, mais tarde, nos contouisso.  4...5

      :or isso me ficou a convic!o, l# no fundo da alma2 s% se pode mesmo vencer navida aprendendo tabuada de cor e salteado. :rincipalmente as casas altas de multiplicar.  3BR6_, Rachel de. As terras"s#eras ` Crônicas.  7. :aulo2 d.7iciliano, 199. 

    $er brotin!o :aulo Mendes Campos

    7er brotinho n!o + viver em um p$ncaro a/ulado2 + muito mais" 7er brotinho + sorrir bastante dos homens e rir interminavelmente das mulheres, rir como se o rid$culo,

    vis$vel ou invis$vel, provocasse uma tosse de riso irresist$vel.

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    7er brotinho + n!o usar pintura al-uma, s ve/es, e ficar de cara lambida, os cabelosdesarrumados como se ventasse forte, o corpo todo apa-ado dentro de um vestido t!o de

     prop%sito sem -raa, mas lanando fo-o pelos olhos. 7er brotinho + lanar fo-o pelosolhos. viver a tarde inteira, em uma atitude esquem#tica, a contemplar o teto, s% para poder

    contar depois que ficou a tarde inteira olhando para cima, sem pensar em nada. passarum dia todo descala no apartamento da ami-a comendo comida de lata e cortar o dedo.7er brotinho + ainda possuir vitrola pr%pria e perambular pelas ruas do bairro com um ar sonso)va-aroso, abraada a uma por!o de elepês coloridos. di/er a palavra feia

     precisamente no instante em que essa palavra se fa/ imprescind$vel e t!o inteli-ente esuperior. tamb+m falar legal  e )0r)aro com um timbre t!o por cima das v!s a-itaKeshumanas, uma infle'!o t!o certa de que tudo neste mundo passa depressa e n!o tem amenor import;ncia.7er brotinho + poder usar %culos enormes como se fosse uma decora!o, um adjetivo

     para o rosto e para o esp$rito. esva/iar o sentido das coisas que os coroas levam as+rio, mas + tamb+m dar sentido de repente ao v#cuo absoluto. (-uardar na paciente

    -eladeira o momento e'ato de ir forra da falsa ami-a. ter a bolsa cheia de pedacinhos de papel, recados que os anacolutos tornam misteriosos, anotaKescripto-r#ficas sobre o tributo da nature/a feminina, uma c+dula de dois cru/eiros comuma sentena herm+tica escrita a batom, toda uma bio-rafia esparsa que pode ser atiradade s?bito ao vento que passa. 7er brotinho + a inclina!o do momento. telefonar muito, demais, revirando)se no ch!o como danarina no deserto estendidano ch!o. querer ser rapa/ de ve/ em quando s% para va-uear so/inha de madru-ada

     pelas ruas da cidade. (char muito bonito um homem muito feio& achar t!o simp#ticauma senhora t!o antip#tica. fumar quase um mao de ci-arros na sacada doapartamento, pensando coisas brancas, pretas, vermelhas, amarelas.7er brotinho + comparar o ami-o do pai a um pincel de barba, e a -ente vai ver est#certo2 o ami-o do pai parece um pincel de barba. sentir uma vontade doida de tomar

     banho de mar de noite e sem roupa, completamente. ficar euf%rica vista de umacascata. >alar in-lês sem saber verbos irre-ulares. ter comprado na feira umvestidinho -o/ado e bacan+rrimo. ainda ser brotinho che-ar em casa ensopada de chuva, ?mida cam+lia, e di/er para am!e que veio andando deva-ar para molhar)se mais. ter sa$do um dia com uma rosavermelha na m!o, e todo mundo pensou com piedade que ela era uma louca varrida. ir sempre ao cinema, mas com um jeito de quem n!o espera mais nada desta vida. teruma ve/ bebido dois -ins, quatro u$sques, cinco taas de champanha e uma de cin/anosem sentir nada, mas ter outra ve/ bebido s% um c#lice de vinho do :orto e ter dado um

    ve'ame modelo -rande. o dom de falar sobre futebol e pol$tica como se o presentefosse passado, e vice)versa.7er brotinho + atravessar de ponta a ponta o sal!o da festa com uma indiferena mortal

     pelas mulheres presentes e ausentes. Ner estudado )allet  e desistido, apesar de tantostelefonemas de Madame 7aint)uentin. Ner tra/ido para casa um -atinho ma-ro quemiava de fome e ter aberto uma lata de salm!o para o coitado. Mas o bichinho comeu osalm!o e morreu. ficar pasmada no escuro da varanda sem contar para nin-u+m amiser#vel trai!o. (manhecer chorando, anoitecer danando. manter o ritmo namelodia dissonante. 3sar o mais caro perfume de blusa -rossa e )lue1jeans. Ner horrorde -ente morta, ladr!o dentro de casa, fantasmas e baratas. Ner compai'!o de um s%mendi-o entre todos os outros mendi-os da Nerra. :ermanecer apai'onada a eternidade

    de um mês por um violinista estran-eiro de quinta ordem. ventualmente, ser brotinho +como se n!o fosse, sentindo)se quase a cair do -alho, de t!o amadurecida em todo o seu

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    ser. fa/er marca!o cerrada sobre a presun!o incomensur#vel dos homens. Nomaruma pose, ora de soneto moderno, ora de minueto, sem que se dissipe a unidadeessencial. policiar parentes, ami-os, mestres e mestras com um ar son-amon-a dequem nada vê, nada ouve, nada fala.7er brotinho + adorar. (dorar o imposs$vel. 7er brotinho + detestar. Ietestar o poss$vel.

    acordar ao meio)dia com uma cara horr$vel, comer somente e lentamente uma frutameio verde, e ficar de pijama telefonando at+ a hora do jantar, e n!o jantar, e ir devorarum sandu$che americano na esquina, t!o estranha + a vida sobre a Nerra.O cego de Ipanema. Rio de Janeiro2 ditora do (utor, 19WV.

     

    A última crônica >ernando 7abino

    ( caminho de casa, entro num botequim da #vea para tomar um caf+ junto ao balc!o. *a realidade estouadiando o momento de escrever. ( perspectiva me assusta. ostaria de estar inspirado, de coroar com

    ê'ito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irris%rio no cotidiano de cada um. u pretendia apenasrecolher da vida di#ria al-o de seu disperso conte?do humano, fruto da convivência, que a fa/ mais di-na

    de ser vivida. Aisava ao circunstancial, ao epis%dico. *esta perse-ui!o do acidental, quer num fla-rantede esquina, quer nas palavras de uma criana ou num acidente dom+stico, torno)me simples espectador e

     perco a no!o do essencial. 7em mais nada para contar, curvo a cabea e tomo meu caf+, enquanto o

    verso do poeta se repete na lembrana2 8assim eu quereria o meu ?ltimo poema. *!o sou poeta e estousem assunto. Lano ent!o um ?ltimo olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem umacrônica.

    (o fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar)se, numa das ?ltimas mesas de m#rmore aolon-o da parede de espelhos. ( compostura da humildade, na conten!o de -estos e palavras, dei'a)se

    acrescentar pela presena de uma ne-rinha de seus três anos, lao na cabea, toda arrumadinha no vestido

     pobre, que se instalou tamb+m mesa2 mal ousa balanar as perninhas curtas ou correr os olhos -randesde curiosidade ao redor. Nrês seres esquivos que compKem em torno mesa a institui!o tradicional dafam$lia, c+lula da sociedade. Aejo, por+m, que se preparam para al-o mais que matar a fome.

    :asso a observ#)los. 6 pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o-arom, inclinando)se para tr#s na cadeira, e aponta no balc!o um pedao de bolo sob a redoma. ( m!e

    limita)se a ficar olhando im%vel, va-amente ansiosa, como se a-uardasse a aprova!o do -arom. steouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê)lo. ( mulher suspira, olhando para

    os lados, a reasse-urar)se da naturalidade de sua presena ali. ( meu lado o -arom encaminha a ordemdo fre-uês. 6 homem atr#s do balc!o apanha a por!o do bolo com a m!o, lar-a)o no pratinho ) um bolo

    simples, amarelo)escuro, apenas uma pequena fatia trian-ular.( ne-rinha, contida na sua e'pectativa, olha a -arrafa de Coca)Cola e o pratinho que o -arom dei'ou

    sua frente. :or que n!o comea a comerF Aejo que os três, pai, m!e e filha, obedecem em torno mesaum discreto ritual. ( m!e reme'e na bolsa de pl#stico preto e brilhante, retira qualquer coisa. 6 pai se

    mune de uma cai'a de f%sforos, e espera. ( filha a-uarda tamb+m, atenta como um animal/inho. *in-u+m mais os observa al+m de mim.

    7!o três velinhas brancas, min?sculas, que a m!e espeta caprichosamente na fatia do bolo. enquanto elaserve a Coca)Cola, o pai risca o f%sforo e acende as velas. Como a um -esto ensaiado, a menininha

    repousa o quei'o no m#rmore e sopra com fora, apa-ando as chamas. Bmediatamente pKe)se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos2 8:arab+ns pra

    você, parab+ns pra você.... Iepois a m!e recolhe as velas, torna a -uard#)las na bolsa. ( ne-rinha a-arrafinalmente o bolo com as duas m!os sôfre-as e pKe)se a comê)lo. ( mulher est# olhando para ela comternura @ ajeita)lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. 6 pai corre os

    olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebra!o. I# comi-ode s?bito, a observ#)lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constran-ido @ vacila, ameaa

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    abai'ar a cabea, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

    (ssim eu quereria minha ?ltima crônica2 que fosse pura como esse sorriso.Elenco de cronistas modernos. O1P ed. Rio de Janeiro2 Jos+ 6lUmpio, OVV=.

      %eladas 

    (rmando *o-ueirasta pracinha sem aquela pelada virou uma chatice completa2 a-ora, + uma bab# que passa, empurrando,sem afeto, um bebê de carrinho, + um par de velhos que troca silêncios num banco sem encosto.

    , no entanto, ainda ontem, isso aqui fervia de menino, de sol, de bola, de sonho2 8u jo-o na linha" eusou o Lula"& no -ol, eu n!o jo-o, tô com o joelho ralado de ontem& vou ficar aqui atr#s2 entrou aqui, j#

    sabe. 3ma -ritaria, todo mundo se escalando, todo mundo querendo tirar o selo da bola, bendito fruto deuma suada vaquinha.6ito de cada lado e, para n!o confundir, um time fica como est#& o outro jo-a sem camisa.

    J# reparei uma coisa2 bola de futebol, seja nova, seja velha, + um ser muito compreensivo que danaconforme a m?sica2 se est# no Maracan!, numa decis!o de t$tulo, ela rola e qui# com um ar dram#tico,

    mantendo sempre a mesma pose adulta, esteja nos p+s de +rson ou nas m!os de um -andula.

    m compensa!o, num racha de menino nin-u+m + mais sapeca2 ela corre para c#, corre para l#, quica nomeio)fio, para de estalo no canteiro, lambe a canela de um, dei'a)se espremer entre mil canelas, depois

    escapa, rolando, doida, pela calada. :arece um bichinho.(qui, nessa pelada inocente + que se pode sentir a pure/a de uma bola. (final, trata)se de uma bola

     profissional, uma n?mero cinco, cheia de carimbos ilustres2 8Copa Rio)6ficial, 8>B>( @ special.3ma bola assim, toda de branco, coberta de condecoraKes por todos os -omos 4-omos he'a-onais"5,

     jamais seria barrada em recep!o do BtamaratU. *o entanto, a$ est# ela, correndo para cima e para bai'o, na maior farra do mundo, disputada, maltratada

    at+, pois, de quando em quando, acertam)lhe um bico, ela sai /arolha, vendo estrelas, coitadinha.Racha + assim mesmo2 tem bico, mas tem tamb+m sem)pulo de craque como aquele do Nona, que

    empatou a pelada e que lava a alma de qualquer bola. 3ma pintura.

     *ova sa$da.ntra na praa batendo palmas como quem en'ota -alinha no quintal. um velho com cara de -uarda)livros que, sem pedir licena, invade o universo infantil de uma pelada e vai e'pulsando todo mundo.

     *um instante, o campo est# va/io, o mundo est# va/io. *!o deu tempo nem de desfa/er as traves feitas decamisas.

    6 espantalho)-ente pe-a a bola, viva, ainda, tira do bolso um canivete e d#)lhe a primeira espetada. *ose-undo -olpe, a bola comea a san-rar. m cada -omo o cora!o de uma criana.Os melhores da crônica brasileira. Rio de Janeiro2 Jos+ 6lUmpio, 19EE.

      O amor acaba :aulo Mendes Campos

    6 amor acaba. *uma esquina, por e'emplo, num domin-o de lua nova, depois de teatro e silêncio& acabaem caf+s en-ordurados, diferentes dos parques de ouro onde comeou a pulsar& de repente, ao meio do

    ci-arro que ele atira de raiva contra um autom%vel ou que ela esma-a no cin/eiro repleto, polvilhando decin/as o escarlate das unhas& na acide/ da aurora tropical, depois duma noite votada ale-ria p%stuma,

    que n!o veio& e acaba o amor no desenlace das m!os no cinema, como tent#culos saciados, e elas semovimentam no escuro como dois polvos de solid!o& como se as m!os soubessem antes que o amor tinha

    acabado& na insônia dos braos luminosos do rel%-io& e acaba o amor nas sorveterias diante docolorido ice)erg , entre frisos de alum$nio e espelhos mon%tonos& e no olhar do cavaleiro errante que

     passou pela pens!o& s ve/es acaba o amor nos braos torturados de Jesus, filho crucificado de todas asmulheres& mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse ener-ia& no andar diferente da irm! dentro de

    casa o amor pode acabar& na epifania da pretens!o rid$cula dos bi-odes& nas li-as, nas cintas, nos brincos

    e nas silabadas femininas& quando a alma se habitua s prov$ncias empoeiradas da sia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar& na compuls!o da simplicidade simplesmente& no s#bado, depois

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    de três -oles mornos de -im beira da piscina& no filho tantas ve/es semeado, s ve/es vin-ado por

    al-uns dias, mas que n!o floresceu, abrindo par#-rafos de %dio ine'plic#vel entre o p%len e o -ineceu deduas flores& em apartamentos refri-erados, atapetados, aturdidos de delicade/as, onde h# mais encanto

    que desejo& e o amor acaba na poeira que vertem os crep?sculos, caindo impercept$vel no beijo de ir e vir&em salas esmaltadas com san-ue, suor e desespero& nos roteiros do t+dio para o t+dio, na barca, no trem,

    no ônibus, ida e volta de nada para nada& em cavernas de sala e quarto conju-ados o amor se eria eacaba& no inferno o amor n!o comea& na usura o amor se dissolve& em Dras$lia o amor pode virar p%& noRio, frivolidade& em Delo Gori/onte, remorso& em 7!o :aulo, dinheiro& uma carta que che-ou depois, oamor acaba& uma carta que che-ou antes, e o amor acaba& na descontrolada fantasia da libido& s ve/es

    acaba na mesma m?sica que comeou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes& e muitas ve/esacaba em ouro e diamante, dispersado entre astros& e acaba nas encru/ilhadas de :aris, Londres, *ova

    Borque& no cora!o que se dilata e quebra, e o m+dico sentencia imprest#vel para o amor& e acaba no lon-o p+riplo, tocando em todos os portos, at+ se desfa/er em mares -elados& e acaba depois que se viu a bruma

    que veste o mundo& na janela que se abre, na janela que se fecha& s ve/es n!o acaba e + simplesmenteesquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem ra/!o at+ que al-u+m, humilde, o

    carre-ue consi-o& s ve/es o amor acaba como se fora melhor nunca ter e'istido& mas pode acabar com

    doura e esperana& uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor& na verdade& o #lcool& de manh!, detarde, de noite& na flora!o e'cessiva da primavera& no abuso do ver!o& na disson;ncia do outono& noconforto do inverno& em todos os lu-ares o amor acaba& a qualquer hora o amor acaba& por qualquer

    motivo o amor acaba& para recomear em todos os lu-ares e a qualquer minuto o amor acaba.1. *o sentido liter#rio, epifania + um momento privile-iado de revela!o quando ocorre um evento que

    8ilumina a vida da persona-em.O amor acaba - Crônicas líricas e existenciais. OP) ed. Rio de Janeiro2 Civili/a!o Drasileira, OVVV.

      Um caso de burro Machado de (ssis

    uinta)feira tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa t!o interessante, que determinei lo-o de

    comear por ela esta crônica. (-ora, por+m, no momento de pe-ar na pena, receio achar no leitor menor-osto que eu para um espet#culo, que lhe parecer# vul-ar, e porventura torpe. Releve a import;ncia& os-ostos n!o s!o i-uais.

    ntre a -rade do jardim da :raa uin/e de *ovembro e o lu-ar onde era o anti-o passadio, ao p+ dostrilhos de bondes, estava um burro deitado. 6 lu-ar n!o era pr%prio para remanso de burros, donde

    conclu$ que n!o estaria deitado, mas ca$do. Bnstantes depois, vimos 4eu ia com um ami-o5, vimos o burrolevantar a cabea e meio corpo. 6s ossos furavam)lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam)se de

    quando em quando. 6 infeli/ cabeceava, mais t!o frou'amente, que parecia estar pr%'imo do fim.Iiante do animal havia al-um capim espalhado e uma lata com #-ua. Lo-o, n!o foi abandonado

    inteiramente& al-uma piedade houve no dono ou quem quer que seja que o dei'ou na praa, com essa?ltima refei!o vista. *!o foi pequena a!o. 7e o autor dela + homem que leia crônicas, e acaso ler esta,

    receba daqui um aperto de m!o. 6 burro n!o comeu do capim, nem bebeu da #-ua& estava j# para outroscapins e outras #-uas, em campos mais lar-os e eternos.Meia d?/ia de curiosos tinha parado ao p+ do animal. 3m deles, menino de de/ anos, empunhava umavara, e se n!o sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espert#)lo, ent!o eu n!o sei conhecer

    meninos, porque ele n!o estava do lado do pescoo, mas justamente do lado da anca. Ii-a)se a verdade&n!o o fe/ @ ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos. sses poucos minutos, por+m,

    valeram por uma hora ou duas. 7e h# justia na Nerra valer!o por um s+culo, tal foi a descoberta que me pareceu fa/er, e aqui dei'o recomendada aos estudiosos.

    6 que me pareceu, + que o burro fa/ia e'ame de consciência. Bndiferente aos curiosos, como ao capim e #-ua, tinha no olhar a e'press!o dos meditativos. ra um trabalho interior e profundo. ste remoque

     popular2 por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princ$pio o

    viram& o pensamento n!o + a causa da morte, a morte + que o torna necess#rio. uanto mat+ria do pensamento, n!o h# d?vidas que + o e'ame da consciência. (-ora, qual foi o e'ame da consciência

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    daquele burro, + o que presumo ter lido no escasso tempo que ali -astei. 7ou outro Champollion,

     porventura maior& n!o decifrei palavras escritas, mas ideias $ntimas de criatura que n!o podia e'primi)lasverbalmente.

    diria o burro consi-o28:or mais que vasculhe a consciência, n!o acho pecado que merea remorso. *!o furtei, n!o menti, n!o

    matei, n!o caluniei, n!o ofendi nenhuma pessoa. m toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, issomesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que + apanhare calar. uando ao /urro, usei dele como lin-ua-em. 3ltimamente + que percebi que me n!o entendiam, econtinuei a /urrar por ser costume velho, n!o com ideia de a-ravar nin-u+m. *unca dei com homem no

    ch!o. uando passei do t$lburi ao bonde, houve al-umas ve/es homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa n!o era minha, + que nunca se-ui o cocheiro na fu-a& dei'ava)me estar a-uardando

    autoridade.8:assando ordem mais elevada de aKes, n!o acho em mim a menor lembrana de haver pensado sequer 

    na perturba!o da pa/ p?blica. (l+m de ser a minha $ndole contr#ria a arruaas, a pr%pria refle'!o me di/que, n!o havendo nenhuma revolu!o declarado os direitos do burro, tais direitos n!o e'istem. *enhum

    -olpe de estado foi dado em favor dele& nenhuma coroa os obri-ou. Monarquia, democracia, oli-arquia,

    nenhuma forma de -overno, teve em conta os interesses da minha esp+cie. ualquer que seja o re-ime,ronca o pau. 6 pau + a minha institui!o um pouco temperada pela teima que +, em resumo, o meu ?nicodefeito. uando n!o teimava, mordia o freio dando assim um bonito e'emplo de submiss!o e

    conformidade. *unca per-untei por s%is nem chuvas& bastava sentir o fre-uês no t$lburi ou o apito do bonde, para sair lo-o. (t+ aqui os males que n!o fi/& vejamos os bens que pratiquei.

    8( mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o t$lburi e o namorado casa danamorada @ ou simplesmente empacando em lu-ar onde o moo que ia ao bonde podia mirar a moa que

    estava na janela. *!o poucos devedores terei condu/ido para lon-e de um credor importuno. nsineifilosofia a muita -ente, esta filosofia que consiste na -ravidade do porte e na quieta!o dos sentidos.

    uando al-um homem, desses que chamam patuscos, queria fa/er rir os ami-os, fui sempre em au'$liodeles, dei'ando que me dessem tapas e punhadas na cara. m fim...

     *!o percebi o resto, e fui andando, n!o menos alvoroado que pesaroso. Contente da descoberta, n!o podia furtar)me triste/a de ver que um burro t!o bom pensador ia morrer. ( considera!o, por+m, de que

    todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fe/)me ver que os que ficavam n!o seriam menose'emplares do que esse. :or que se n!o investi-ar# mais profundamente o moral do burroF Ia abelha j#

    se escreveu que + superior ao homem, e da formi-a tamb+m, coletivamente falando, isto +, que as suasinstituiKes pol$ticas s!o superiores s nossas, mais racionais. :or que n!o suceder# o mesmo ao burro,que + maiorF

    7e'ta)feira, passando pela :raa uin/e de *ovembro, achei o animal j# morto.Iois meninos, parados, contemplavam o cad#ver, espet#culo repu-nante& mas a inf;ncia, como a ciência,

    + curiosa sem asco. Ie tarde j# n!o havia cad#ver nem nada. (ssim passam os trabalhos deste mundo.7em e'a-erar o m+rito do finado, fora + di/er que, se ele n!o inventou a p%lvora, tamb+m n!o inventou a

    dinamite. J# + al-uma coisa neste final de s+culo. Re*uiescat in pace.Iispon$vel em Z[[[.eea-orajose.Yit.netQestilosQcroassisburro.htm\.

      Cobrança MoacUr 7cliar 

    la abriu a janela e ali estava ele, diante da casa, caminhando de um lado para outro. Carre-ava um

    carta/, cujos di/eres atra$am a aten!o dos passantes2 8(qui mora uma devedora inadimplente. @ Aocê n!o pode fa/er isso comi-o @ protestou ela.

     @ Claro que posso @ replicou ele. @ Aocê comprou, n!o pa-ou. Aocê + uma devedora inadimplente. eu sou cobrador. :or diversas ve/es tentei lhe cobrar, você n!o pa-ou.

     @ *!o pa-uei porque n!o tenho dinheiro. sta crise...

     @ J# sei @ ironi/ou ele. @ Aocê vai me di/er que por causa daquele ataque l# em *ova orY seusne-%cios ficaram prejudicados. :roblema seu, ouviuF :roblema seu. Meu problema + lhe cobrar. + o

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    que estou fa/endo.

     @ Mas você podia fa/er isso de uma forma mais discreta... @ *e-ativo. J# usei todas as formas discretas que podia. >alei com você, e'pliquei, avisei. *ada. Aocê

    fa/ia de conta que nada tinha a ver com o assunto. Minha paciência foi se es-otando, at+ que n!o merestou outro recurso2 vou ficar aqui, carre-ando este carta/, at+ você saldar sua d$vida.

     *este momento comeou a chuviscar. @ Aocê vai se molhar @ advertiu ela. @ Aai acabar ficando doente.le riu, amar-o2

     @ da$F 7e você est# preocupada com minha sa?de, pa-ue o que deve.

     @ :osso lhe dar um -uarda)chuva... @ *!o quero. Nenho de carre-ar o carta/, n!o um -uarda)chuva.

    la a-ora estava irritada2 @ (cabe com isso, (ristides, e venha para dentro. (final, você + meu marido, você mora aqui.

     @ 7ou seu marido @ retrucou ele @ e você + minha mulher, mas eu sou cobrador profissional e você +devedora. u a avisei2 n!o compre essa -eladeira, eu n!o -anho o suficiente para pa-ar as prestaKes. Mas

    n!o, você n!o me ouviu. a-ora o pessoal l# da empresa de cobrana quer o dinheiro. 6 que quer você

    que eu faaF ue perca meu empre-oF Ie jeito nenhum. Aou ficar aqui at+ você cumprir sua obri-a!o.Chovia mais forte, a-ora. Dorrada, a inscri!o tornara)se ile-$vel. ( ele, isso pouco importava2 continuavaandando de um lado para outro, diante da casa, carre-ando o seu carta/.O imaginário cotidiano. 7!o :aulo2 lobal, OVV1.

      O ca&ueiro  Rubem Dra-a6 cajueiro j# devia ser velho quando nasci. le vive nas mais anti-as recordaKes de minha inf;ncia2 belo,imenso, no alto do morro atr#s da casa. (-ora vem uma carta di/endo que ele caiu.

    u me lembro do outro cajueiro que era menor e morreu h# muito tempo. u me lembro dos p+s de pinha,do caj#)man-a, da -rande touceira de espadas)de)s!o)jor-e 4que n%s cham#vamos simplesmente 8tala5 e

    da alta saboneteira que era nossa ale-ria e a cobia de toda a meninada do bairro porque fornecia centenasde bolas pretas para o jo-o de -ude. Lembro)me da tamareira, e de tantos arbustos e folha-ens coloridas,

    lembro)me da parreira que cobria o caramanch!o, e dos canteiros de flores humildes, 8beijos, violetas.Nudo sumira& mas o -rande p+ de fruta)p!o ao lado da casa e o imenso cajueiro l# no alto eram como

    #rvores sa-radas prote-endo a fam$lia. Cada menino que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco,a cica de seu fruto, o lu-ar melhor para apoiar o p+ e subir pelo cajueiro acima, ver de l# o telhado das

    casas do outro lado e os morros al+m, sentir o leve balanceio na brisa da tarde. *o ?ltimo ver!o ainda o vi& estava como sempre carre-ado de frutos amarelos, trêmulo de sanhaos.

    Chovera2 mas assim mesmo fi/ quest!o de que CarUb+ subisse o morro para vê)lo de perto, como quemapresenta a um ami-o de outras terras um parente muito querido.

    ( carta de minha irm! mais moa di/ que ele caiu numa tarde de ventania, num fra-or tremendo pela

    ribanceira& e caiu meio de lado, como se n!o quisesse quebrar o telhado de nossa velha casa.Ii/ que passou o dia abatida, pensando em nossa m!e, em nosso pai, em nossos irm!os que j# morreram.Ii/ que seus filhos pequenos se assustaram& mas foram brincar nos -alhos tombados.>oi a-ora, em fins de setembro. stava carre-ado de flores.

    7etembro, 19=ernando Aerissimo6 pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o pra/er que sentira ao -anhar a sua primeira bola do

     pai. 3ma n?mero = sem tento oficial de couro. (-ora n!o era mais de couro, era de pl#stico. Mas era uma

     bola.6 -aroto a-radeceu, desembrulhou a bola e disse 8Le-al". 6u o que os -arotos di/em hoje em dia

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    quando -ostam do presente ou n!o querem ma-oar o velho. Iepois comeou a -irar a bola, procura de

    al-uma coisa. @ Como e que li-aF @ per-untou.

     @ Como, como + que li-aF *!o se li-a.

    6 -aroto procurou dentro do papel de embrulho. @ *!o tem manual de instru!oF6 pai comeou a desanimar e a pensar que os tempos s!o outros. ue os tempos s!o decididamenteoutros.

     @ *!o precisa manual de instru!o. @ 6 que + que ela fa/F

     @ la n!o fa/ nada. Aocê + que fa/ coisas com ela. @ 6 quêF

     @ Controla, chuta... @ (h, ent!o + uma bola.

     @ Claro que + uma bola.

     @ 3ma bola, bola. 3ma bola mesmo. @ Aocê pensou que fosse o quêF @ *ada, n!o.

    6 -aroto a-radeceu, disse 8Le-al de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da tevê, com a bolanova do lado, manejando os controles de um video-ame. (l-o chamado Monster Da?, em que times de

    monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de bip eletrônico na tela ao mesmo tempo quetentavam se destruir mutuamente.

    6 -aroto era bom no jo-o. Ninha coordena!o e racioc$nio r#pido. stava -anhando da m#quina.6 pai pe-ou a bola nova e ensaiou al-umas embai'adas. Conse-uiu equilibrar a bola no peito do p+,

    como anti-amente, e chamou o -aroto. @ >ilho, olha.

    6 -aroto disse 8Le-al, mas n!o desviou os olhos da tela. 6 pai se-urou a bola com as m!os e a cheirou,tentando recapturar mentalmente o cheiro de couro. ( bola cheirava a nada. Nalve/ um manual de

    instru!o fosse uma boa ideia, pensou. Mas em in-lês, para a -arotada se interessar.Comédias para ler na escola. Rio de Janeiro2 6bjetiva, OVV1.

      São Paulo: as pessoas de tantos lugares  Milton Gatoum primeira vista, 7!o :aulo assusta. (os poucos, o susto cede ao fasc$nio, surpresa da descoberta de

    muitos lu-ares escondidos ou ocultados numa metr%pole da qual a nature/a parece ter sido banida. Bsto s%em parte + verdade. G# v#rios parques e jardins @ (clima!o, Ailla)Lobos, Durle Mar', -ua Dranca e

    tantos outros @, sem contar o Bbirapuera, que simboli/a uma promessa de urbanismo mais civili/ado, ou

    de um processo urbano mais humani/ado, interrompido pela -an;ncia das construtoras e da especula!oimobili#ria em conluio com o poder p?blico municipal.sse urbanismo desastroso e desumano + uma das caracter$sticas das cidades brasileiras, em que os bons

    arquitetos n!o participam da interven!o na paisa-em urbana. (pesar das adversidades, um morador de7!o :aulo aprende a -ostar da metr%pole. J# quase n!o se vê o c+u de 7ampa, mas h# bairros que s!o

     pequenas cidades, h# ruas com um casario de uma outra +poca, com um ritmo de vida pr%prio, como seoutro tempo resistisse ao cerco dos arranha)c+us horrorosos e ao mundo das finanas e do consumo

    desenfreado.osto de passear pelo Cambuci, Delen/inho, :enha& Dr#s, Mooca, Natuap+ e 7antana ainda revelam

    muitos encantos, assim como a sta!o da Lu/ e o Mercado Municipal. *o mundo -randioso dametr%pole, pode)se descobrir uma s+rie de recantos2 pequenas praas, um recorte de paisa-em, um beco,

    um conjunto de casas neocl#ssicas, uma anti-a vila oper#ria, um boteco ou restaurante. Recantos queencerram um outro modo de vida, como se a metr%pole fosse um palimpsesto a ser descoberto em cada

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    andana. 6 oposto disso s!o edif$cios dotados de clube e shopping centers, que separam seus moradoresdo resto da cidade, -erando uma nova forma de se-re-a!o do espao, ainda mais radical que oscondom$nios.

    G# pouco tempo, uma ami-a carioca me disse que -ostava cada ve/ mais de 7!o :aulo. uis saber porque. :orque fi/ boas ami/ades na metr%pole vi/inha, ela disse.

    7enti isso quando me mudei para c# em 19EV. Morei num quarto de pens!o na Liberdade. 3m dos cole-asdessa pens!o era outro mi-rante, um rapa/ de Londrina que passava o dia estudando m?sica e que setornou, al+m de um -rande m?sico, um -rande ami-o2 (rri-o Darnab+.ntendi que 7!o :aulo era uma meca para onde conflu$am pessoas de todos os quadrantes, as latitudes e

    as ori-ens& talve/ seja este o maior encanto desta metr%pole que une o culto ao trabalho com promessasde ami/ade. ( diversidade +tnica de 7!o :aulo reitera a mestia-em brasileira, uma das nossas maiores

    rique/as. *!o h# um ?nico paulistano que n!o reclame do tr;nsito, da polui!o, da violência e das filas

    intermin#veis, mas as relaKes de trabalho e afeto, que s!o formas poderosas de inser!o social, servemde contrapeso ao caos e aos males da metr%pole.

    Milton Gatoum, ==, escritor, autor de 2rfãos do -ldorado e Dois irmãos 4ambos pela Companhia das

    Letras5, entre outros t$tulos. Ne'to publicado na Revista da olha, O=QV=QOVV0.

     Sobre a crônica 

    Bvan n-elo3ma leitora se refere aos te'tos aqui publicados como 8reporta-ens. 3m leitor os chama de 8arti-os.3m estudante fala deles como 8contos. G# os que di/em2 8seus coment#rios. 6utros os chamam de

    8cr$ticas. :ara al-uns, + 8sua coluna.st!o erradosF Necnicamente, sim @ s!o crônicas @, mas... >ernando 7abino, vacilando diante do campo

    aberto, escreveu que 8crônica + tudo o que o autor chama de crônica.( dificuldade + que a crônica n!o + um formato, como o soneto, e muitos duvidam que seja um -ênero

    liter#rio, como o conto, a poesia l$rica ou as meditaKes maneira de :ascal. Leitores, indiferentes aonome da rosa, d!o crônica prest$-io, permanência e fora. Mas vem c#2 + literatura ou + jornalismoF 7eo objetivo do autor + fa/er literatura e ele sabe fa/er...

    G# crônicas que s!o dissertaKes, como em Machado de (ssis& outras s!o poemas em prosa, como em:aulo Mendes Campos& outras s!o pequenos contos, como em *elson Rodri-ues& ou casos, como os de>ernando 7abino& outras s!o evocaKes, como em Irummond e Rubem Dra-a& ou mem%rias e refle'Kes,

    como em tantos. ( crônica tem a mobilidade de aparências e de discursos que a poesia tem @ efacilidades que a melhor poesia n!o se permite.

    st# em toda a imprensa brasileira, de 1=V anos para c#. 6 professor (ntonio Candido observa2 8(t+ se poderia di/er que sob v#rios aspectos + um -ênero brasileiro, pela naturalidade com que se aclimatou aqui

    e pela ori-inalidade com que aqui se desenvolveu.

    (le'andre ul#lio, um s#bio, e'plicou essa ori-em estran-eira2 8 nosso familiar essa3, possui tradi!ode primeira ordem, cultivada desde o amanhecer do periodismo nacional pelos maiores poetas e prosistasda +poca. Aeio, pois, de um tipo de te'to comum na imprensa in-lesa do s+culo gBg, af#vel, pessoal,

    sem)cerimônia e, no entanto, pertinente.:or que deu certo no DrasilF Mist+rios do leitor. Nalve/ por ser a obra curta e o clima, quente.

    ( crônica + fr#-il e $ntima, uma rela!o pessoal. Como se fosse escrita para um leitor, como se s% com eleo narrador pudesse se e'por tanto. Conversam sobre o momento, c?mplices2 n%s vimos isto, n!o +, leitorF,

    vivemos isto, n!o +F, sentimos isto, n!o +F 6 narrador da crônica procura sensibilidades irm!s.7e + t!o anti-a e $ntima, por que muitos leitores n!o aprenderam a cham#)la pelo nomeF que ela tem

    muitas m#scaras. Recorro a a de ueir%s, mestre do estilo anti-o. la 8n!o tem a vo/ -rossa da pol$tica, nem a vo/ indolente do poeta, nem a vo/ doutoral do cr$tico& tem uma pequena vo/ serena, leve e

    clara, com que conta aos seus ami-os tudo o que andou ouvindo, per-untando, esmiuando.( crônica mudou, tudo muda. Como a pr%pria sociedade que ela observa com olhos atentos. *!o +

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     preciso comparar -rande/as, botar Rubem Dra-a diante de Machado de (ssis. mais e'ato apreci#)la

    desdobrando)se no tempo, como fe/ (ntonio Candido em 8( vida ao r+s do ch!o2 8Creio que a f%rmulamoderna, na qual entram um fato mi?do e um toque humor$stico, com o seu *uantum satis de poesia,representa o amadurecimento e o encontro mais puro da crônica consi-o mesma. (inda ele2 8m lu-arde oferecer um cen#rio e'celso, numa revoada de adjetivos e per$odos candentes, pe-a o mi?do e mostra

    nele uma -rande/a, uma bele/a ou uma sin-ularidade insuspeitadas.lementos que n!o funcionam na crônica2 -randiloquência, sectarismo, enrola!o, arro-;ncia,

     proli'idade. lementos que funcionam2 humor, intimidade, lirismo, surpresa, estilo, ele-;ncia,solidariedade.

    Cronista mesmo n!o 8se acha. (s crônicas de Rubem Dra-a foram vistas pelo sa-a/ professor Iavi(rri-ucci como 8forma comple'a e ?nica de uma rela!o do u com o mundo. Muito bem. Mas Rubem

    Dra-a n!o se achava o tal. Respondeu assim a um jornalista que lhe havia per-untado o que + crônica2 @ 7e n!o + a-uda, + crônica.

    1. Dlaise :ascal 41WO)1WWO5, matem#tico, fil%sofo e te%lo-o francês, autor de /ensamentos.O. 8nsaio familiar. -nsaio + um -ênero inau-urado por Michel de Montai-ne 41=)1=9O5& vem da

     palavra francesa essa3er  48tentar5. 3m ensaio + um te'to onde se encadeiam ar-umentos, por meio dosquais o autor defende uma ideia.. m latim, 8a quantidade necess#ria.Veja São a!lo, O=Q

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    corpo todo treme e sua, at+ que ela me estende o brao.

     @ Aem, papai"6 peso dos meus invernos e minhas banhas causa breve hesita!o. Mas ali estamos, eu e a senhorita

    Re-ina Celi, uma menina que ainda pe-o no colo e aqueo com meu amor e o meu carinho, quando elatem medo do mundo ou de n!o saber os afluentes da mar-em esquerda do rio (ma/onas na hora do

    e'ame. la me chama e me perdoa.nt!o, aumento o volume do som, espero o tal do 3O dar um -rito hist+rico e medonho ) e esqueo ocheque, a vida e a faina humana rebolando este cansado corpo)pasto de espantos ) at+ que o fôle-o e o 3Oacabem na manh! e no som.

    Crônicas para se ler na escola. Rio de Janeiro2 6bjetiva, OVV9.

      Considerações em torno das avesbalas Bvan n-elo

    Dalas perdidas transformam)se em not$cia por todo o pa$s.

    Iesde que isso comeou @ n!o fa/ muito tempo, nem pouco @ mais de uma centena de pessoas foram

    atin-idas s% na cidade do Rio de Janeiro. m 7!o :aulo n!o se conta, ou perde)se a conta. m DeloGori/onte, elas sinistramente trabalham em silêncio. m 7alvador s!o abafadas pelo baticum dostambores. 7em nenhum bairrismo elas voam -eral, irrompem num circo, num ônibus, numa janela de sala

    de estar, numa padaria, em muitas escolas, numa praa, num banco, numa rua e se alojam num corpo. ($se livram da sua caracter$stica principal @ a de perdidas @ e se acham, s!o achadas.

    :or que se di/ perdidaF :erdida + a bala que n!o se encontra nunca, s!o as que voam at+ perder a fora etombam, e'austas e sem -l%rias de Jornal Nacional , num mato qualquer.( bala perdida2 quem a perdeuF ( lin-ua-em tem sempre uma l%-ica. uem perdeu a bala perdidaF 6atiradorF :ior para quem a achou.

    3ma pessoa quando perdida, n!o tem rumo. 7e di/2 desorientada. 3ma bala n!o. ( bala perdida se-ue retae velo/ como quem sabe aonde vai. B-ual/inho s outras, suas irm!s, que levam endereo certo.

    :erdida, ent!o quer di/er o quêF IesperdiadaF ( lin-ua-em nem sempre tem l%-ica. uem perdeu a bala perdidaF 6 atiradorF :ior para quem achou.

    uando acha um corpo a bala pode ainda se chamar perdidaF ( que acha, mesmo n!o sendo aquele corpoque buscava, ser# menos desperdiada do que as outras, que esbarram em uma simples paredeF

     *in-u+m procura balas perdidas. *em quem as perdeu, nem quem as encontrou, sem querer. 7!oindesejadas, e quanto mais o sejam, mais ansiosas parecem por alojar)se. ssas balas voadoras, libertas da

    sua casca, s% s!o realmente perdidas se nin-u+m nunca mais as viu. nt!o s!o tamb+m in?teis, pois isso +a ne-a!o da sua essência mortal.

    3ma bala, quando ?til, fere, mata. criadora2 cria %rf!os, vi?vas, pais inconsol#veis. uem a dispara sabedisso. uem fabrica e vende sabe disso. uem recolhe impostos sobre ela sabe muito bem. :orque elan!o serve para mais nada, para isso foi feita.

    7eria pr%prio chamar de desaparecidas essas in?teisF *o pa$s das balas perdidas, perdem)se tamb+mcrianas, chamadas desaparecidas. Mas esta j# + outra hist%ria.

     *!o, a essas balas n!o se poderia chamar de desaparecidas porque nin-u+m sabia delas antes de selibertarem de sua casca, ainda pac$ficas, -uardando para si sua capacidade voadora e mortal. 7% depoisque e'plodem + que voam, e ent!o se perdem ou n!o.

    6 poeta Jo!o Cabral de Melo *eto deu um lindo nome a essas balas sem dono2 ave)bala. *o poema8Morte e vida 7everina, o retirante per-unta aos que levam um defunto2 8$uem contra ele soltou 5 essaave1)ala6! a resposta2 7Ali é difcil di&er 5 Irmão das almas, 5 .empre h0 uma )ala voando 5desocupada.ramos um povo acostumado arma branca, pei'eira, ao punhal, ao fac!o& herdamos a tradi!o ib+ricade san-rar, cortar o pescoo, capar. Meninos j# tinham seu canivete de ponta. Malandros riscavam o ar

    com navalhas. Mulheres da vida brandiam -iletes. *uma arruaa, quem metia a m!o numa cara, davarasteiras. m al-um momento o 8te meto a faca virou 8te meto a bala, aquele 8te meto a m!o na cara

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    virou 8te meto uma bala na cara. Comearam a voar as aves)balas.

    6 que aconteceu no meioF Nalve/ o cinema, o faroeste, os gangsters, a NA, -uerras sujas, -uerrilhas,terrorismo, dro-as proibidas. *asceu o culto da pontaria certeira. DillU the Xid, John aUne, Randolph

    7cott, >ranY e Jesse James, 7ch[ar/ene--er, 7talone, Matri'. 8*o século do progresso 5 o rev#lver teveingresso 5 pra aca)ar com a valentia @ cantou *oel Rosa nos anos 19V. 7ur-iu outro tipo de valente, o

    que fica atr#s do rev%lver. *!o + preciso arriscar)se, che-ar perto para ferir. 8 'ais garantido é de )ala 5 'ais longe fere, di/ o poeta Jo!o Cabral. *in-u+m pense que a influência estran-eira + justificativa. *!o, n!o importamos a violência, ela + mais nossa que o petr%leo. Bmportamos foi a cultura da arma defo-o.

     *o pa$s das balas perdidas, perdem)se tamb+m crianas, nem sempre desaparecidas. Muitas delas, talve/a maioria, v!o mais tarde brincar por a$ de soltar aves)balas, nem sempre perdidas.

    O comprador de a"ent!ras e o!tras crônicas. 7!o :aulo2 tica, OVVV. Cole!o :ara ostar de Ler, v.O0.

      Pavão 

    Rubem Dra-au considerei a -l%ria de um pav!o ostentando o esplendor de suas cores& + um lu'o imperial. Mas andei

    lendo livros, e descobri que aquelas cores todas n!o e'istem na pena do pav!o. *!o h# pi-mentos. 6 queh# s!o min?sculas bolhas d#-ua em que a lu/ se fra-menta, como em um prisma. 6 pav!o + um arco)$ris

    de plumas. u considerei que este + o lu'o do -rande artista, atin-ir o m#'imo de mati/es com o m$nimode elementos. Ie #-ua e lu/ ele fa/ seu esplendor& seu -rande mist+rio + a simplicidade.

    Considerei, por fim, que assim + o amor, oh" minha amada& de tudo que ele suscita e esplende e estremecee delira em mim e'istem apenas meus olhos recebendo a lu/ de teu olhar. le me cobre de -l%rias e me

    fa/ ma-n$fico. #i de ti$ Copacabana. Rio de Janeiro2 ditora do (utor, 19WV.Postado por Prof. João Batista às 02:55 

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