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As longas filas à porta das lojas de produtos académicos são si- nónimo de elevados lucros para as empresas que comercializam o traje académico em Coimbra Ana Coelho Joana Ferreira O comércio do traje é um negócio que rende milhares, todos os anos, às lojas exclu- sivas de produtos académicos em Coimbra. O gerente da loja Tertúlia, Nelson Poeta, es- tima que os lucros da venda da capa e batina rendem “à volta de 100 mil euros por ano”. Das mais de cinco lojas que se dedicam à ac- tividade na cidade, é a única que revela quanto ganha. Quanto a números, vende entre 12 a 15 trajes por dia, em finais de Abril e princípios de Maio. Já a Loja da Associação Académica de Coimbra, só na última semana, vendeu cerca de 20 fatos académicos, adianta a responsá- vel Vânia Pinto. Mas os proprietários destas casas admitem que o pico de vendas acontece nos meses que antecedem a festa dos estu- dantes, entre Março e Abril. A loja Galerias Coimbra comercializa, nestes meses, entre 200 a 300 fatos, revela a responsável Adélia Rocha. Quando questionada sobre se todos os clientes da loja A Toga recebem recibo de venda do traje, a secretária de administração, Ana Isabel Esteves, responde que a empresa “passa sempre recibo a todos os clientes”. Porém, a declaração é contraditória às afir- mações de Raquel Bento e Patrícia Amorim, ambas estudantes de Ciências da Educação na Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra que, por não terem pedido o comprovativo, este não lho foi dado. Por outro lado, o facto de a mesma loja ainda não dispor da modalidade de pagamento por Multibanco obriga os clientes a efectuarem em numerário ou em cheque. Ana Isabel Es- teves adianta não ser ainda possível uma “al- teração no sistema da central telefónica”, de modo a que o Multibanco possa ser instalado. Lojas cheias, apesar da crise Mesmo com estas condicionantes, tem-se verificado a habitual afluência às lojas para a compra do traje académico, nas últimas se- manas. Na generalidade, os responsáveis dizem que, mesmo assim, tem havido um de- clínio do negócio. Muitos estudantes deixam a compra do traje para os últimos dias antes da festa académica. Poucos são os que com- pram capa e batina assim que sabem que en- traram no ensino superior em Coimbra. Os proprietários dizem que o comércio é, cada vez mais, sazonal. Segundo a secretária de administração da loja A Toga, as vendas con- centra-se “fundamentalmente em duas épo- cas: a entrada na faculdade e na altura da Queima das Fitas”. A loja Galerias Coimbra, que vende trajes há cerca de 40 anos, sente a crise de outra maneira. “Há oito, nove anos, com a abertura de outras lojas, notou-se uma quebra das vendas”, afirma Adélia Rocha. “E há quatro anos, a quebra voltou a sentir-se”, lamenta. Na generalidade, as raparigas são os clien- tes mais assíduos. O inverso acontece na Ter- túlia, onde os rapazes são os principais compradores. Já n’ A Toga, as percentagens são equivalentes. O colete, apesar de já não constar do figu- rino feminino para quem estuda na Univer- sidade de Coimbra, continua a ser vendido nas lojas. O gerente da Tertúlia comenta que “do Instituto Politécnico de Coimbra todos os alunos compram, já da universidade 60 a 75 por cento continuam a preferir comprar”. “Não somos polícias. Se deixássemos de ter [o colete], teríamos de deixar de o vender ao politécnico. Assim perderíamos clientes”, ressalva. Nelson Poeta, da Tertúlia, realça que o estudante de Coimbra “não sabe usar o traje”, pelo que “são muitas as pessoas que vêm à loja à espera que lhes ensinemos como se usa, e quais as regras do código”. Lojas ganham milhares com corrida ao traje Já em Setembro as artes ganham uma nova dinâmica na Universidade de Coimbra. O Colégio da Artes pretende chamar à uni- versidade público não académico. O projecto vai situar-se na zona do antigo hospital da universidade. O coordenador da comissão instaladora do colégio, Abílio Hernandez, adianta que estão a ser planeados “seminários, conferências e projectos ligados fundamentalmente à prá- tica artística, que não terão necessariamente que ter uma qualificação universitária”. As portas da universidade vão abrir-se a acadé- micos e população em geral interessada em arte. Até 30 de Setembro deste ano, a comissão organizadora do Colégio das Artes tem de apresentar o plano de actividades para o pró- ximo ano lectivo de 2008/2009. O docente revela a intenção de haver pelo menos duas pós graduações a funcionar tal como activi- dades artísticas, conferências e seminários. A multidisciplinaridade vai ser uma cons- tante nas actividades académicas a nível de pós-graduação, mestrado e doutoramento. Abílio Hernandez não descarta a possibili- dade de haver um futuro cruzamento entre áreas do saber como a Filosofia, Arquitec- tura, Estudos Artísticos e História de Arte. A organização do Colégio das Artes pre- tende conciliar cursos estritamente acadé- micos, que concedem graus com a prática artística, e associando a investigação da do- cência universitária do campo das artes. A criação de novos graus académicos, que pode juntar na mesma formação as várias áreas de saber, vai ser concretizada “sem nunca en- trar em concorrência com as estruturas que já existem na universidade”, ressalva Her- nandez. Carla Santos Arte no colégio para todos os saberes A Associação Académica de Coimbra (AAC) vai continuar com a campanha de alerta e sensibilização sobre a lei de prescri- ções na Universidade de Coimbra (UC) du- rante as próximas semanas. A iniciativa teve início na semana passada naas faculdades e na associação académica e partiu do pelouro de Pedagogia da Direcção-Geral da AAC. Na UC, existem cerca de 2700 alunos em risco de prescrever, segundo dados forneci- dos pela instituição à AAC. A estimativa re- fere-se ao número de estudantes que ficam impedidos de se matricular no ensino supe- rior durante dois semestres consecutivos, caso o seu aproveitamento escolar não cor- responda a um determinado número de cré- ditos ECTS (Sistema Europeu de Transferência e Acumulação de Créditos). A coordenadora do pelouro, Cátia Viana, refere ainda não saber concretamente “que alternativas podem vir a ser criadas [na uni- versidade], porque é um número bastante grande”. O pelouro de Pedagogia acompanhou já vários estudantes em vias de prescrever e or- ganizou, agora, esta iniciativa porque “a maioria não tem noção de como pode vir a ser aplicado o regime de prescrições”, refere a responsável pela pedagogia da DG/AAC. Cátia Viana diz que a maior das dúvidas co- locadas pelos estudantes é saber se a lei se encontra ou não em vigor. A DG/AAC colocou à disposição dos alu- nos um horário de atendimento para res- ponder às questões dos estudantes. Cátia Viana acredita que, “nas próximas semanas, a procura vai aumentar de uma forma mais significativa”, na sequência dos números di- vulgados na campanha de rua junto da co- munidade académica Tânia Santos PUBLICIDADE 6 A CABRA ENSINO SUPERIOR 3ª feira, 29 de Abril de 2008 DG/AAC alerta estudantes para prescrições ILUSTRAÇÃO POR JOSÉ MIGUEL PEREIRA

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Ana Coelho Joana Ferreira Lojas cheias, apesar da crise Mesmo com estas condicionantes, tem-se verificado a habitual afluência às lojas para a compra do traje académico, nas últimas se- manas. Na generalidade, os responsáveis dizem que, mesmo assim, tem havido um de- clínio do negócio. Muitos estudantes deixam a compra do traje para os últimos dias antes da festa académica. Poucos são os que com- PUBLICIDADE ILUSTRAÇÃO POR JOSÉ MIGUEL PEREIRA

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As longas filas à porta das lojasde produtos académicos são si-

nónimo de elevadoslucros para as empresas que

comercializam o trajeacadémico em Coimbra

Ana CoelhoJoana Ferreira

O comércio do traje é um negócio querende milhares, todos os anos, às lojas exclu-sivas de produtos académicos em Coimbra.O gerente da loja Tertúlia, Nelson Poeta, es-tima que os lucros da venda da capa e batinarendem “à volta de 100 mil euros por ano”.Das mais de cinco lojas que se dedicam à ac-tividade na cidade, é a única que revelaquanto ganha. Quanto a números, vendeentre 12 a 15 trajes por dia, em finais de Abrile princípios de Maio.

Já a Loja da Associação Académica deCoimbra, só na última semana, vendeu cercade 20 fatos académicos, adianta a responsá-vel Vânia Pinto. Mas os proprietários destascasas admitem que o pico de vendas acontecenos meses que antecedem a festa dos estu-dantes, entre Março e Abril. A loja GaleriasCoimbra comercializa, nestes meses, entre200 a 300 fatos, revela a responsável AdéliaRocha.

Quando questionada sobre se todos osclientes da loja A Toga recebem recibo de

venda do traje, a secretária de administração,Ana Isabel Esteves, responde que a empresa“passa sempre recibo a todos os clientes”.Porém, a declaração é contraditória às afir-mações de Raquel Bento e Patrícia Amorim,ambas estudantes de Ciências da Educaçãona Faculdade de Psicologia da Universidadede Coimbra que, por não terem pedido ocomprovativo, este não lho foi dado. Poroutro lado, o facto de a mesma loja ainda nãodispor da modalidade de pagamento porMultibanco obriga os clientes a efectuaremem numerário ou em cheque. Ana Isabel Es-

teves adianta não ser ainda possível uma “al-teração no sistema da central telefónica”, demodo a que o Multibanco possa ser instalado.

Lojas cheias, apesar da criseMesmo com estas condicionantes, tem-se

verificado a habitual afluência às lojas para acompra do traje académico, nas últimas se-manas. Na generalidade, os responsáveisdizem que, mesmo assim, tem havido um de-clínio do negócio. Muitos estudantes deixama compra do traje para os últimos dias antesda festa académica. Poucos são os que com-

pram capa e batina assim que sabem que en-traram no ensino superior em Coimbra. Osproprietários dizem que o comércio é, cadavez mais, sazonal. Segundo a secretária deadministração da loja A Toga, as vendas con-centra-se “fundamentalmente em duas épo-cas: a entrada na faculdade e na altura daQueima das Fitas”.

A loja Galerias Coimbra, que vende trajeshá cerca de 40 anos, sente a crise de outramaneira. “Há oito, nove anos, com a aberturade outras lojas, notou-se uma quebra dasvendas”, afirma Adélia Rocha. “E há quatroanos, a quebra voltou a sentir-se”, lamenta.

Na generalidade, as raparigas são os clien-tes mais assíduos. O inverso acontece na Ter-túlia, onde os rapazes são os principaiscompradores. Já n’ A Toga, as percentagenssão equivalentes.

O colete, apesar de já não constar do figu-rino feminino para quem estuda na Univer-sidade de Coimbra, continua a ser vendidonas lojas. O gerente da Tertúlia comenta que“do Instituto Politécnico de Coimbra todos osalunos compram, já da universidade 60 a 75por cento continuam a preferir comprar”.“Não somos polícias. Se deixássemos de ter[o colete], teríamos de deixar de o vender aopolitécnico. Assim perderíamos clientes”,ressalva. Nelson Poeta, da Tertúlia, realçaque o estudante de Coimbra “não sabe usaro traje”, pelo que “são muitas as pessoas quevêm à loja à espera que lhes ensinemos comose usa, e quais as regras do código”.

Lojas ganham milhares com corrida ao traje

Já em Setembro as artes ganham umanova dinâmica na Universidade de Coimbra.O Colégio da Artes pretende chamar à uni-versidade público não académico. O projectovai situar-se na zona do antigo hospital dauniversidade.

O coordenador da comissão instaladora docolégio, Abílio Hernandez, adianta que estãoa ser planeados “seminários, conferências eprojectos ligados fundamentalmente à prá-tica artística, que não terão necessariamenteque ter uma qualificação universitária”. Asportas da universidade vão abrir-se a acadé-micos e população em geral interessada emarte.

Até 30 de Setembro deste ano, a comissãoorganizadora do Colégio das Artes tem deapresentar o plano de actividades para o pró-ximo ano lectivo de 2008/2009. O docenterevela a intenção de haver pelo menos duas

pós graduações a funcionar tal como activi-dades artísticas, conferências e seminários.A multidisciplinaridade vai ser uma cons-tante nas actividades académicas a nível depós-graduação, mestrado e doutoramento.Abílio Hernandez não descarta a possibili-dade de haver um futuro cruzamento entreáreas do saber como a Filosofia, Arquitec-tura, Estudos Artísticos e História de Arte.

A organização do Colégio das Artes pre-tende conciliar cursos estritamente acadé-micos, que concedem graus com a práticaartística, e associando a investigação da do-cência universitária do campo das artes. Acriação de novos graus académicos, que podejuntar na mesma formação as várias áreas desaber, vai ser concretizada “sem nunca en-trar em concorrência com as estruturas quejá existem na universidade”, ressalva Her-nandez. Carla Santos

Arte no colégio para todos os saberesA Associação Académica de Coimbra

(AAC) vai continuar com a campanha dealerta e sensibilização sobre a lei de prescri-ções na Universidade de Coimbra (UC) du-rante as próximas semanas. A iniciativa teveinício na semana passada naas faculdades ena associação académica e partiu do pelourode Pedagogia da Direcção-Geral da AAC.

Na UC, existem cerca de 2700 alunos emrisco de prescrever, segundo dados forneci-dos pela instituição à AAC. A estimativa re-fere-se ao número de estudantes que ficamimpedidos de se matricular no ensino supe-rior durante dois semestres consecutivos,caso o seu aproveitamento escolar não cor-responda a um determinado número de cré-ditos ECTS (Sistema Europeu deTransferência e Acumulação de Créditos).

A coordenadora do pelouro, Cátia Viana,refere ainda não saber concretamente “que

alternativas podem vir a ser criadas [na uni-versidade], porque é um número bastantegrande”.

O pelouro de Pedagogia acompanhou jávários estudantes em vias de prescrever e or-ganizou, agora, esta iniciativa porque “amaioria não tem noção de como pode vir aser aplicado o regime de prescrições”, referea responsável pela pedagogia da DG/AAC.Cátia Viana diz que a maior das dúvidas co-locadas pelos estudantes é saber se a lei seencontra ou não em vigor.

A DG/AAC colocou à disposição dos alu-nos um horário de atendimento para res-ponder às questões dos estudantes. CátiaViana acredita que, “nas próximas semanas,a procura vai aumentar de uma forma maissignificativa”, na sequência dos números di-vulgados na campanha de rua junto da co-munidade académica Tânia Santos

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6 A CABRA ENSINO SUPERIOR 3ª feira, 29 de Abril de 2008

DG/AAC alerta estudantes para prescrições

ILUSTRAÇÃO POR JOSÉ MIGUEL PEREIRA