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P. E. V A N Z O L I N I

A CONTRIBUIÇÃOZOOLÓGICADOS PRIMEIROSNATURALISTASVIAJANTESNO BRASIL

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um ponto de vista mais profissional.Começo analisando brevemente o estado

da Zoologia como ciência no nosso período.Por acordo unânime de seus praticantes, con-sidera-se que a Zoologia Sistemática comodisciplina começou com a publicação dos tra-balhos de Lineu no século XVIII, resumidose cristalizados na décima edição do SystemaNaturae, de 1758, e estendidos à décima se-gunda, a última publicada em vida de Lineu.

O Systema, compendiando, de maneiraefetiva e original, toda a História Natural dotempo, e implantando o sistema extremamen-te prático da nomenclatura binominal, deter-minou uma como que homogeneização do co-nhecimento zoológico europeu e, assim, umpatamar para o progresso da ciência: bem de-limitadas as fronteiras do conhecido, tornava-se fácil cruzá-las pela simples exploração geo-gráfica de um mundo em boa parte por desco-brir. Assim o Systema Naturae, como toda obraseminal, criou as condições para sua própriaultrapassagem, e isso especialmente por inten-sa atividade faunística, conjugada com a ace-lerada exploração geográfica, envolvendomuitas viagens de circunavegação no fim doséculo XVIII e começo do XIX.

O primeiro quartel do século XIX viu oinício da exploração científica intensiva,profissionalizada, do Novo Mundo (Papavero,1971-73). No caso do Brasil, a entrada depesquisadores foi retardada pela políticaexclusivista de Portugal (Vanzolini, 1981).A fuga, porém, da família real portuguesa,acossada pelos exércitos napoleônicos, parao Brasil em 1810, tendo, como conseqüên-cias imediatas, a abertura dos portos e a vindade ponderável corpo diplomático, abriu o ter-ritório a pesquisadores europeus.

Em 1817 o príncipe herdeiro Dom Pedro(mais tarde Primeiro) casou-se, por procu-ração, com a arquiduquesa imperial da Áus-tria, D. Leopoldina. Esta veio para o Brasilem fins do mesmo ano, trazendo em seuséquito uma boa comissão científica, sele-cionada por E. Schreiber, diretor do Museude Viena (Ramirez, 1968). Esse eventomarca, tanto oficialmente quanto na reali-dade, o início da atividade profissionalzoológica no Brasil. Antes de entrar, po-rém, na história, há dois precursores a con-

1. INTRODUÇÃO

Meu tema é a contribuição substantiva dos primeiros viajantes científicos no Brasil para oprogresso da Zoologia, tanto

sob o aspecto faunístico quanto no campo dasistemática acima do nível de espécie.

Considero substantivas as contribuiçõesintencionais e ponderáveis. Não incluo osinúmeros naturalistas que fizeram coletasincidentais, cujo navio escalou por alguns diasna Bahia, no Rio de Janeiro ou em Floria-nópolis – embora Darwin ele mesmo tenhacoletado uma espécie nova de lagarto no Rio.Levo apenas em conta expedições projetadase realizadas com o fim precípuo de explorara fauna brasileira. Incluo apenas um natura-lista residente, Marcgrave, por ser o primei-ro, e o único pré-lineano. Deixo de incluiroutro residente, Lund, porque o tipo de infor-mação que obteve é sui generis, muito dife-rente (e nisso vejo, aliás, muita grandeza) doque resultava das expedições convencionais.Lund, com Warming, Reinhardt e Winge, éum fenômeno único, idiossincrático, que atéhoje não foi devidamente compreendido. Nãocabe em uma análise comparativa de sedi-mentação de conhecimento.

Cinjo-me à zoologia de vertebrados. É esteo campo que se desenvolvia rapidamente aotempo dos viajantes cuja contribuição foisignificante. Assim, omito Wallace e Bates,com suas esplêndidas coleções de insetos ecom suas idéias teóricas revolucionárias – quenão têm a ver com Zoologia propriamentedita. Omito Auguste de Saint-Hilaire por serbotânico; embora tenha tido grande visãoecológica, e coletado um pouco, suas cole-ções não tiveram personalidade suficientepara causar impacto na profissão. Omitod’Orbigny. Trabalhou próximo ao Brasil, masem outro contexto faunístico; é um autorandino-patagônico, extratropical.

Por razões de certa forma análogas àsque causaram estas omissões, incluo duasexpedições de importância zoológica mui-to pequena, a de Langsdorff e a de Agassiz.Essas expedições adquiriram no meio leigoimportância tão desproporcional à sua con-tribuição real que é útil examiná-las sob

M

P. E. VANZOLINI épesquisador e ex-diretor do Museu deZoologia da USP.

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siderar: Georg Marcgrave no século XVII eAlexandre Rodrigues Ferreira no XVIII.

2. OS PRECURSORES

2.1. Georg Marcgrave

Marcgrave, ou Marcgraf, nascido naSaxônia em 1610, veio para o Brasil em 1638,participando do plano de governo de Maurí-cio de Nassau para o Brasil holandês. Veiocomo astrônomo: para ele fez Maurício cons-truir o primeiro observatório do Novo Mun-do. Sua obra astronômica, dita considerável,parece ter-se perdido na quase totalidade(Taunay, 1942) – Marcgrave passou à poste-ridade por seu trabalho, para ele mesmo apa-rentemente secundário, de naturalista. Escre-veu um dos volumes de uma História Naturaldo Brasil; o volume companheiro foi escritopor Willem Pies (“Piso”). Marcgrave nãoviveu para ver sua obra publicada; viajandopara a África a serviço, morreu em Angolaem 1644. O livro foi publicado por seu ami-go, o belga Johannes de Laet, sob o títuloHistoria Naturalis Brasiliae, em Leiden eAmsterdã, em 1648.

É uma lista de animais (245 espécies devertebrados), contendo o nome vulgar em tupiou português, ou ambos, uma descrição aogosto da época e numerosas ilustrações.

Até o começo do século XIX os métodosde preparação e armazenagem de exemplareszoológicos estavam na infância, e as cole-ções zoológicas constituíam-se em grandeparte de pinturas executadas, quando possí-vel, de modelos vivos. A publicação dessasilustrações era difícil e cara, e por isso nasobras da época elas eram substituídas porxilogravuras. No caso de Marcgrave, as ilus-trações constam de xilografias abertas naHolanda, copiando originais a aquarela ouóleo feitos no Brasil. Os originais são magní-ficos; há debate sobre sua autoria (Taunay,1942; Albertin, 1985). As xilografias, ao con-trário, são cruas. É de fato chocante oconstraste entre a gravura em talha doce,opulenta e barroca, da página de rosto daHistória Natural, e as xilografias, duras,reminiscentes das ilustrações do século XV(Febvre e Martin, 1992). Muitas delas, po-

rém, permitem identificação inequívoca, es-pecialmente nos casos em que os contornosdo corpo são característicos (por exemplo,peixes – Günther, 1880).

Marcgrave era, como dito, astrônomo.Embora tivesse estudado História Natural emRostock (Taunay, 1942) e fosse observadorminucioso, moderado e honesto, falta, comoóbvio para a época, caráter profissional aoseu trabalho. Mesmo assim, este é bem supe-rior aos dos contemporâneos frei Christóvãode Lisboa (livro composto de 1624 a 1627,publicado em 1967), sobre fauna do Maranhãoe, especialmente, Zacharias Wagener (com-posto de 1634 a 1641, publicado em 1964).Este também foi funcionário de Maurício deNassau, era saxão como Marcgrave e escre-veu sobre a mesma fauna. Marcgrave, dizStresemann (1951, p. 36; 1975, p. 34), havia,como viajante científico, adquirido“imorredoura fama”. Sua sobrevivência, con-tudo, deve-se unicamente a Lineu. Na déci-ma edição do Systema Naturae este incluiu1.370 espécies de vertebrados: Marcgrave écitado a respeito de 39 destas, 14 mamíferos,15 aves, 2 répteis e 8 peixes. Em todos oscasos, menos dois, Marcgrave é citado entreoutros autores, inclusive o próprio Lineu, em

“Jaburu”,

xilogravura que

ilustra a Historia

naturalis Brasiliae de

Piso e Marcgrave

(Amsterdam/Leiden,

1648)

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2.2. Alexandre Rodrigues Ferreira

O segundo precursor, nascido em Salva-dor, em 27 de abril de 1756, tomou ordensmenores “na muito baixa idade” (Tavares daSilva, 1947) de 12 anos, mas imediatamenteabandonou a carreira eclesiástica, abraçandoas ciências naturais e doutorando-se, comdistinção, em Coimbra, sob a direção deDomenico Vandelli.

Há indícios de que D. Maria I, rainha dePortugal, ou alguém forte em seu governoiluminista, gostava de História Natural e ti-nha interesse na flora e fauna das colônias(Pinto, 1979, p. 46). Provavelmente por umencontro dessa inclinação com interessesadministrativos e diplomáticos (Moreira Neto,1983), decidiu a corte portuguesa empreen-der uma expedição ao Brasil. Alexandre foiindicado pela universidade para chefiá-la.Veio para o país no segundo semestre de 1783,radicando-se em Belém do Pará.

Há diversas biografias de Alexandre (lis-ta em Goeldi, 1982). Apenas uma delas, po-rém (Corrêa Filho, 1939), obra enfadonha porentusiasta e sacarina, dá indicações claras,confirmadas pelo Roteiro de Alexandre (1933q.v.i.), sobre as funções desempenhadas pelonaturalista no Pará, de outubro de 1783 a se-tembro de 1784, quando partiu para o rioNegro: teriam sido de técnico agrícola, comoque um extensionista de hoje, e de inspetorgeral do serviço público (“vogal nas Juntasde Fazenda e de Justiça”, Pontes, 1858), sobas ordens do governador João Pereira Caldas.Nessas funções visitou a costa de Marajó fron-teira a Belém, a baía de Marajó e o baixoTocantins. Depois seguiu para o Amazonas eMato Grosso.

No que segue utilizo, resumidamente, umestudo paralelo a este que fiz, especificamen-te, do itinerário de Alexandre (Vanzolini, empreparo). De acordo com seu Roteiro partiuele em 19 de setembro de 1784 para o rioNegro. Fez uma viagem relativamente rápidade Belém a Manaus (147 dias), com algumaspoucas digressões, na baía de Portel, no Xingu,no Paru e no Tapajós.

No Amazonas fez base em Barcelos, capitalda capitania. Em uma primeira viagem subiu oNegro até a pedra extrema de Cucuí, entrando,

trabalhos anteriores. Nos dois casos restantes,porém, ele é a única autoridade citada, deven-do assim ser considerado responsável peloconceito lineano da espécie. São elas, o mamí-fero Lepus brasiliensis (atualmente Sylvilagus,família Leporidae), a lebre ou tapiti, e o peixePleuronectes papillosus (agora Syacium), umlinguadinho da família Bothidae.

Depois disso Marcgrave caiu no olvido,até que Lichtenstein (1818-26, 1961), desco-brindo os originais das ilustrações na Biblio-teca de Berlim, atualizou em um longo artigoa identificação das espécies. Levando-se emconta que as formas descritas por Marcgravesão todas comuns, com nomes vulgares fir-mes, e que as descrições são complementadaspor gravuras, compreende-se que nunca te-nha havido qualquer dúvida sobre a identida-de das espécies marcgravianas, especialmen-te aquelas referidas por Lineu – as únicas deimportância prática. Assim, o trabalho deLichtenstein vale apenas por levantar do ol-vido um acervo artisticamente notável. De-pois de Lichtenstein, Schneider (1938) apre-sentou uma excelente nota crítica sobre asestampas e identificou as aves.

Os originais das figuras da História Natu-ral foram vendidos (Rodolfo Garcia, 1922, p.865) por Maurício de Nassau a seu parenteFriedrich Wilhelm, Grande Eleitor deBrandemburgo, na biblioteca de quem foramorganizados pelo médico Christian Mentzelem quatro volumes, Icones Aquatilium, IconesVolatilium, Icones Animalium e IconesVegetabilium. Eventualmente foram pararentre os Libri Picturati da Biblioteca deBerlim, de onde foram apressadamente eva-cuados durante a Segunda Guerra Mundial,ficando desaparecidos por muitos anos, atéque em 1977 o ictiólogo Peter Whiteheaddescobriu a coleção na UniversidadeJagelonsquiana, em Cracóvia. Uma editorabrasileira, Index, publicou em 1993 esseTheatrum Rerum Naturalium Brasiliae, semcomentários científicos mas com uma histó-ria da recuperação da obra. As figuras sãomuito bem reproduzidas e têm grande valorartístico. Zoologicamente, porém, como dito,quase nada acrescentam, e praticamente nãoestão comentadas. Uma discussão técnica dosoriginais é apresentada por Albertin (1985).

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na ida, nos rios Uaupés, Içana e Xié e, na volta,no Cauaburis, no Padauiri e no Aracá.

Entre parênteses, sempre me pareceu, ajulgar pelos itinerários e pelo andamento dasviagens, que Alexandre tinha, remando parasi, a fina flor da indiada. No entanto, CorrêaFilho (1939) conta que por diversas vezes,eespecialmente no Madeira, Alexandre teveque enfrentar duros problemas (comuns nasviagens longas) de motins e de deserçãomaciça de remadores e mesmo de soldados.

A viagem seguinte foi ao vale do rio Bran-co, subindo o Uraricoera (um dos formado-res) até um pouco além da Ilha de Maracá.Subiu também o Maú, rio da fronteiraguianense, e fez uma viagem a pé pelo “lavra-do” de Roraima, a vasta extensão dos chama-dos “campos do Rio Branco”, semelhantes acerrados (Vanzolini e Carvalho, 1991). Le-vou na exploração do Branco 88 dias, voltan-do a Barcelos em 3 de agosto de 1787.

Em agosto de 1787 mudou o teatro de suasoperações, de Barcelos para Vila Bela daSantíssima Trindade, do Negro para o altoGuaporé. Levou 378 dias de percurso, tendoentrado por distâncias várias nos riosAripuanã, Araras (Arauá) e Manicoré.

De Vila Bela viajou por terra às lavras deouro da Serra de São Vicente e de Poconé e àChapada dos Guimarães. Essa empresa toda deMato Grosso tomou dois anos e cinco meses.

A viagem final de Alexandre foi de Cuiabá,rio abaixo, até o Forte de Coimbra, com visitaà Caverna do Inferno, e regresso a Vila Belasubindo o Jauru e levando ao todo 102 dias.

Verifica-se assim que fantástica experiên-cia de campo adquiriu Alexandre, homemminucioso e perspicaz, ao longo de seis anos emeio de viagem, dos quais pelo menos quatroe meio passados efetivamente no campo, ex-plorando majoritariamente mata amazônica,mas também uma certa medida de cerrado. Ascoleções feitas, porém, não foram grandes.

Devemos aqui considerar o problema damissão de Alexandre, que trato em mais deta-lhe em outro artigo (Vanzolini, em preparo). Oatraente título “viagem filosófica” desde sem-pre cativou as imaginações, e Alexandre égeralmente considerado um pesquisador purodesempenhando uma tarefa científica. Pensodiferente. Não tenho dúvida de que os objeti-vos das viagens ao Negro e a Mato Grossoeram antes administrativos e estratégicos, li-gados a questões de fronteiras e de produçãode ouro. O título de “philosophica” pode tersido em parte um disfarce, em parte compla-cência com as inclinações de naturalista deAlexandre, e provavelmente correspondia aosintuitos iniciais da coroa portuguesa. Que te-nha havido intervenção de burocratas envolvi-dos na administração direta do projeto (leia-seJoão Pereira Caldas) é mais que provável. Dequalquer maneira, é fato que, durante as via-gens, Alexandre coletava e mandava desenharanimais, por seus dois “riscadores”, José Joa-quim Freire e Joaquim José Codina, ambosrazoavelmente competentes.

É óbvio que Alexandre tinha recebidoinstruções de duas ordens, política e técnica.Sobre a primeira já comentei que fica para

Joaquim Freire

ou José Codina,

“Crocodilu”,

desenho aquarelado

sobre papel,

Fundação Biblioteca

Nacional,

Rio de Janeiro

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outro artigo (Vanzolini, em preparo). Sobre aparte técnica há uma interessantíssima nota(Mendes, 1946).

As instruções iniciam-se com o que fazerdurante a viagem marítima. Os oito primei-ros dias (a viagem durava dois meses) seriamde feriado, para acomodação geral, inclusivecom o enjôo. Depois disso deveriam os expe-dicionários dedicar-se à coleta de peixesmarinhos, identificando-os (“reduzindo”) edesenhando-os. Também, considerando-se oalto investimento da coroa em artes de pesca(linhas, anzóis, etc.), os peixes não poderiamser desperdiçados, mas sim preparados e con-servados para o Real Gabinete.

No caso das viagens por terra (após ummês e meio, início de férias parareacomodação) tudo era estritamente previs-to e prescrito: a ordem de marcha (os pretose índios na frente, para absorverem ataquesinesperados), o horário e a qualidade das re-feições, o tipo de camas e colchões, etc.

Corrêa Filho (1939) diz que essas instru-ções, de que viu um manuscrito não assinado,são de autoria do próprio Alexandre. Eu du-vido de que um brasileiro nato, homem debom senso comprovado, prescrevesse paraseu próprio uso, em tão impiedoso detalhe, avida quotidiana de uma expedição de muitasdezenas de índios e vaqueanos no meio denenhures. Prefiro crer na velha e honrada tra-dição luso-brasileira de burrice burocrática,interferindo pela primeira vez, mas certamentenão pela última, na profissão científica.

As prescrições sobre a feitura e manuten-ção de diários de campo são também detalha-das e, no geral, sensatas, se bem que ocasio-nalmente difíceis de entender: “denotar humaCarta Geographica do Paíz em que venhãomarcados com sinais chimicos os diferentesminerais e fosseis [...] os habitantes, seuscostumes e sua Religião [...] não omitir lugarnenhum beira mar [...]” (Mendes, 1946).

Os materiais coletados eram, na medidadas possibilidades, despachados para Lisboa,para o Museu da Ajuda.

Nesse mesmo museu passou Alexandre,de volta a Portugal em 1793, a trabalhar comopesquisador, depois de breve período comooficial administrativo. Sua coleção brasileira,apesar dos anos passados no campo, não era

grande. Isso se explica não só por causa dasoutras funções desempenhadas por ele, mastambém pelas próprias limitações da zoologiada época. A ênfase tinha obrigatoriamente queser posta em peles de mamíferos de tamanhomédio, cascos de tartarugas e peças que tais,exigindo pouca delicadeza no preparo e per-mitindo conservação por via seca.

Relatam os biógrafos que, em Lisboa, Ale-xandre entrou em progressiva depressão (“fa-tal melancolia”, Pontes, 1858) e que dela fale-ceu em 1815. O único biógrafo que tentouexplicar essa enfermidade foi Corrêa Filho(1939), e não concordo inteiramente com ele.

Alexandre, mostram seus manuscritosremanescentes, planejava publicar sobre to-das as suas coleções e apontamentos de cam-po, zoológicos e etnográficos. O ambientecientífico em Portugal era, na época, muitoruim. Com exceção do grande e completo (emuito posterior) José Vicente Barboza duBocage (1857-1901), nenhum zoólogo por-tuguês de relevo jamais se ocupou da faunadas colônias. O próprio museu era deficientequanto a coleções e biblioteca. Corrêa Filho(1939, p. 154) dá para as coleções 96 mamí-feros, 1.250 aves (96 do Brasil) e 1.230 pei-xes. A biblioteca contava com 307 volumes,boa parte dos quais (loc. cit.) de história eliteratura. Alexandre lutava para empreenderseus estudos, que andavam devagar. Encon-tram-se na literatura também várias insinua-ções de que Alexandre teria vida difícil nomuseu, sofrendo inclusive sabotagem de seusmateriais, por inimizade de um colega. Estepoderia ter sido o próprio Vandelli (Pires deLima, 1953, p. 29).

No ano de 1808, os exércitos napoleô-nicos, comandados por Junot, invadiram Por-tugal. Como de costume, acompanhavam oexército alguns savants franceses, encarre-gados da rapina cultural do país derrotado.Etienne Geoffroy Saint-Hilaire foi o zoólogoque saqueou a Ajuda. (A GrandeEncyclopédie Larousse diz que em 1808Etienne foi encarregado de uma missionscientifique en Espagne et en Portugal.)

Os franceses ao tempo tentavam cobrircom um véu diáfano de legalidade a nudezcrua da expropriação: era celebrado um “tra-tado”, trocadas cartas de intenção, dadas ex-

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plicações, passados recibos e mesmofornecidas duplicatas do Museu de Paris emtroca de doações “voluntárias”, merecendoassim a admiração dos próprios saqueados(Appel, 1987, p. 92; bárbara coragem ou san-ta ingenuidade?). De fato, às vezes, a mano-bra aparentemente funcionava, e os rapinantesacabavam mesmo elogiados por sua modera-ção e civilidade (Silva Carvalho, 1930, p. 903).Neiva (1929, p. 16) transcreve a ordem deserviço do duque de Abrantes, comandantedo exército português, autorizando o museu aretirar das coleções e encaixotar para trans-porte à França 65 espécies (384 exemplares)de mamíferos, 238 (384) de aves, 25 (32) derépteis e 89 (100) de peixes . Existe um casoidêntico, bem documentado, na literatura: osaque “legalizado” das coleções do StadholterGuilherme V da Holanda em 1795(Boeseman, 1930; Pieters, 1980). Para nãofalar no fantástico saque das antigüidades ehistória natural do Egito, pelo mesmoNapoleão Bonaparte e seus savants. Mas aíera um país de pretos.

No fim, o material terminava em Paris,bem estudado mas conservado em um museunão muito melhor que a Ajuda, em termos decuradoria.

Até o fim da vida, Etienne Geoffroy Saint-Hilaire referia-se, com evidentes orgulho esatisfação, a “mon voyage de 1808 au Portu-gal”, do mesmo jeito por que um zoólogobrasileiro poderia referir-se a “minha viagema Marajó em 1958” – uma maravilhosa opor-tunidade de coleta. O mesmo orgulho e satis-fação revelava o filho e sucessor, IsidoreGeoffroy. Foi de fato uma bela excursão,barata e proveitosa.

Não há propósito, a esta altura, em esmiuçarmais este mesquinho episódio, mas deve-se notarque há outros exemplos. Schweigger (1812, p.302), descrevendo a nova espécie Emysgeoffroana (hoje Phrynops) diz: “Vidi specimenin museo Parisiensi, quod ill. Geoffroy Lisbonaein museo regio collegerat”. Gervais (1855b, p.90) menciona o exemplar trazido de Lisboa queservia de tipo para Inia geoffrensis, o boto bran-co ou malhado da Amazônia, originalmentecoletado por Alexandre.

Assim, em vez de Alexandre publicar oresultado de suas pesquisas (isto é, à maneira

da época, as espécies novas), as novidadesforam descritas pelos dois Saint-Hilaire e porAnselme Gaetan Desmarest. Diz E. GeoffroySaint-Hilaire (1809a) terem sido levados daAjuda 66 mamíferos e 275 aves; a discrepân-cia entre esta lista e a de Neiva (1929) é pe-quena, explicável pelas circunstâncias e pelacompetência das duas instituições envolvi-das. Nem tudo, porém, era do Brasil: haviaoutras colônias no meio. No CatalogueMéthodique da coleção de mamíferos de Pa-ris (I. Geoffroy Saint-Hilaire, 1851) encon-tramos 18 espécies de macacos como origi-nárias da famosa viagem de 1808. As seguin-tes são baseadas em exemplares provavelmen-te coletados por Alexandre (sinonímia deacordo com Groves, 1993): 1) Saimiri ustusI. Geoffroy, 1843; 2) Cebus cirrifer E.Geoffroy, 1812 = C. apella (L., 1758); 3)Cebus flavus E. Geoffroy, 1812 = C. albifrons(Humboldt, 1812); 4) Ateles marginatus E.Geoffroy, 1812; 5) Lagothrix canus E.Geoffroy, 1812 = L. lagothricha (Humboldt,1812); 6) Pithecia monachus E. Geoffroy,1812; 7) Jacchus humeralifer E. Geoffroy,1812 = Callithrix humeralifer; 8) Jacchusmelanurus E. Geoffroy, 1812 = Callithrixargentata (L., 1771); 9) Midas labiatus E.Geoffroy, 1812 = Saguinus labiatus.

Assim, a influência do primeiro natura-lista profissional brasileiro no progresso dazoologia pátria foi defletida, passou a indire-ta, limitada a um único grupo (Primates) etrazendo em si uma história das mais repug-nantes. O verdadeiro zoólogo não tem a pai-xão aguda da novidade. Seu serviço consistena construção de sistemas simples e lógicos,em que as espécies se insiram com naturali-dade e se expliquem mutuamente, dentro deum contexto ecológico e geográfico. Ver esseprojeto frustrado, à vista da conclusão, é (pen-sando como zoólogo) causa suficiente para“melancolia fatal”, declínio, misantropia emorte prematura. Essa é a opinião de CorrêaFilho (1939) e também foi a minha, até que olivro de Pires de Lima (1953) atraiu minhaatenção para algumas pistas contidas na lite-ratura, sobre problemas médicos anterioresde Alexandre, indicando que a questão nãoera tão simples.

Em uma carta de 30 de junho de 1784,

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escrita em Belém, a Martinho de Souza eAlbuquerque (Pires de Lima, 1953, pp. 129-32), conta Alexandre seus sintomas (“novelaque diverte a quem ouve porém aflige a quemfigura nella”).

“No parecer do Médico do hospital eu nãotinha outra coisa mais que melancholia:pelo vóto do Commissario delegado doProto-Medicáto eu padesso humacardialgia histerica. [...] No entanto emtoda a cidade, pela qual se espalhou queeu não tinha mais que melancholia humme há tido por scismático, outro pormelancholico, e alguns por pateta [...]”.

Durante as viagens queixa-se Alexandrecontinuamente da saúde. A visita à serra dosCristais, no Rio Branco, havia sido penosa (Pi-res de Lima, 1953, p. 60). A subida do Madeirae do Guaporé, que durara 13 meses e 18 dias,havia sido muito mais dura ainda; um dos ex-pedicionários morrera ao chegar a Vila Bela(Pires de Lima, 1953, pp. 77-8). A visita à Grutadas Onças, em Mato Grosso, resultara em umlongo período de enfermidade para Alexandre(Pires de Lima, 1953, p. 85).

Parece provável, que, ao longo da vida,tenha sofrido Alexandre de uma síndrome dedepressão, talvez de pânico. O peso do trau-ma de 1808 sobre um organismo com tal pas-sado psiquiátrico e tanto depauperamentoorgânico deve ter sido com certeza suficientepara desorganizar a sua psique e levá-lo aoalcoolismo e entrevecimento (Pires de Lima,1953, pp. 22 e 32). O detalhe do alcoolismorealça a relevância da síndrome suspeitada(Lotufo-Neto e Gentil, 1994).

Essa passagem, relatada concisa e digna-mente por Pires de Lima (1953), vem sendocuidadosamente omitida, obviamente pordelicadeza, por todos que escrevem sobreAlexandre. Acho um erro. A condição huma-na não é vergonha; a verdade que não reveladesonestidade não enfeia.

2.2.1. Alexandre RodriguesFerreira como zoólogo

A auto-imagem de Alexandre era a dequalquer sistemata em qualquer tempo: “essa

leve tintura que tenho de alguns EstudosNaturaes” (Pires de Lima, 1953, p. 220), ouseja, ele sabe que não sabe nada – e que oscolegas sabem menos.

Alexandre obviamente não tinha inclina-ção para a Ecologia. Passando pelos lugarespor onde passou, vendo as paisagens que viu,não tomou uma nota ecológica sequer. Deveser antes julgado como sistemata, profissãoem que não havia sido treinado (Vandelli eramuito medíocre), mas para a qual o inclinavaseu espírito meticuloso de alistador emérito(inclusive de alfaias de igreja).

Muito da mitologia que cerca Alexandre,obviamente encorajada pelas peculiaridadesétnicas e pelos infortúnios da carreira,concerne seu valor como cientista. É elecomumente considerado um gênio frustrado;não conheço, porém, uma avaliação fria desua qualidade profissional. As pistas que te-mos para fazê-lo são quatro artigos publica-dos postumamente e, menos diretamente, acoleção de estampas publicada pelo Conse-lho Federal de Cultura em 1971 sob o títuloViagem Filosófica.

Três artigos, publicados em 1903 nosArchivos do Museu Nacional do Rio de Ja-neiro (Rodrigues Ferreira, 1903 a-c), comnotas de rodapé de Alipio de Miranda Ribei-ro, são de pouca importância.

“Sobre o Peixe Pirá-urucu”: curiosamente,uma descrição formal em latim, modelo lineano,enxuta, razoável, sem proposta de nome.

“Sobre o Peixe Boy”: tem muito poucoconteúdo zoológico, mas mostra um aspectointeressante: ao lado dos usuais comentários,feitos por todos os viajantes, sobre tamanho,amamentação e distribuição geográfica, re-vela uma preocupação objetiva (característi-ca de Alexandre) com a conservação da espé-cie, em si e como recurso natural desfrutável.

“Sobre a Yurara-reté”: esta é Podocnemisexpansa, a tartaruga por excelência da Ama-zônia, e Alexandre fez com ela o que nenhumviajante jamais deixou de fazer: descreveu adesova, a pesca e o aproveitamento dos ovos.Mas, além disso, também caracteristicamen-te, deu os primeiros dados estatísticos que setêm da espécie.

“As Pranchas de Animais”: o ConselhoFederal de Cultura publicou excelentes re-

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algumas notórias: a ema (Rhea americana,Rheidae), o nhambu-chintã (Crypturellustataupa, Tinamidae), a perdiz (Rhynchotusrufescens, Tinamidae), a tachã (Chaunatorquata, Anhimidae) e a seriema (Cariamacristata, Cariamidae). Entre os mamíferos, osagüi Callithrix penicillata (Callithrichidae)e o lobo guará (Chrysocyon brachyurus,Canidae). Nove espécies em 115: Alexandreandou por Mato Grosso, mas não coletoumuito. Outras coisas terá feito.

Quanto à execução, as estampas são no geralde valor mediano. Há algumas muito boas (es-pecialmente peixes), outras muito ruins: a dolobo guará, justamente uma das espécies rouba-das de Alexandre, é simplesmente horrível. Otatu-peba está mal desenhado e mal identifica-do (tanto nas estampas quanto na Explicação doConselho Federal de Cultura): não é um peba,é um galinha – Dasypus e não Euphractus.

produções de 147 pranchas da coleção deAlexandre (Rodrigues Ferreira, 1971). Mui-tas têm duas figuras, macho e fêmea da espé-cie ou espécies diferentes. Acompanham umprefácio e uma introdução, ambos um tantoanêmicos, e uma “Explicação das Estampas”,que consta apenas de uma lista, não comenta-da, de identificações e distribuições geográ-ficas generalizadas.

Como projeto de ilustração faunística aescolha das espécies é, no geral, muito razo-ável: Alexandre, afinal, era um zoólogo. Demamíferos são representadas 50 espécies: 1marsupial, 16 macacos, 5 xenartros, 12 carní-voros, o peixe-boi, 3 ungulados, 10 roedorese 2 cetáceos (os botos de água doce). Sente-se falta apenas de morcegos. Nas aves (50espécies), 29 famílias estão representadas, das73 possíveis; a distribuição é muito boa. Arepresentação dos répteis é muito fraca: sãoanimais que na maioria se conservam por viaúmida. São citados 3 lagartos, 1 anfisbênio, 1jacaré e 5 quelônios, incluindo um exemplarbicéfalo de tracajá (Podocnemis unifilis,Pelomedusidae). Não há nenhum anfíbio (denovo o problema da conservação em álcool).Há 58 espécies de peixes fluviais e 7 de pei-xes marinhos. Os invertebrados, na maneirada época, são representados por 4 insetos (in-cluindo larvas e um ninho de vespas), umquilópodo e um molusco (o turu, Teredinidae).

Cabe aqui uma indagação sobre a proce-dência geográfica dos exemplares, nãoexplicitada nas figuras e não registrada noMuseu da Ajuda. Em um trabalho paralelo aeste, sobre as viagens de Alexandre(Vanzolini, em preparo), eu me perguntavasobre a verdadeira missão do naturalista: eraa intenção “filosófica” real e primacial, ou,pelo menos em parte, pretexto e disfarce paraoutras atividades, administrativas e diplomá-ticas. A lista de animais permite uma verifi-cação indireta. Alexandre demorou 29 mesesem Mato Grosso: o que e quanto teria coleta-do aí? Há na lista de animais 9 espécies quesão decididamente extra-amazônicas, restri-tas a formações abertas – no caso, o cerrado.Entre os répteis, o lagarto Hoplocercusspinosus (Hoplocercidae), o conhecidocuviara, e a sucuri da bacia do Paraguai,Eunectes notaeus (Boidae). Entre as aves há

Prinz Maximilian

zu Wied-Neuwied,

“Capitão Bento

Lourenzo Vas de

Abreu Lima”,

aquarela sobre

papel (1816),

Brasilien Bibliothek

der Robert Bosch

Gmebtt, Sttutgart

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Muitos dos desenhos de aves são de exem-plares obviamente taxidermizados, dobrados ecomprimidos. Não fazem boa ilustração. Final-mente, alguns exemplares de aves e mamíferossão representados recém-atirados, o que é indi-cado por delicados sangramentos, que, na rea-lidade, dão um certo encanto perverso.

Todas as pranchas, porém, permitem apronta identificação das espécies; nesse cam-po nada ficam a dever às similares européiasda época, e confirmam o status normalmenteprofissional de Alexandre Rodrigues Ferreira.

“Os mammaes”: a grande monografia deAlexandre, sobre os mamíferos “dos três rios”,Amazonas, Negro e Madeira, foi publicada em1934 pelo Instituto Geográfico e Histórico daBahia, de forma pura e seca, como se fosseobra contemporânea, sem um comentário se-quer de natureza técnica. Carvalho (1965)publicou um comentário, não só sobre estamonografia, mas sobre toda a informaçãomastozoológica de Alexandre, inclusive ma-nuscritos e estampas então inéditos da Biblio-teca Nacional. Esses comentários cingem-seunicamente às identificações, que aparecemuniformemente boas. É, porém, possível ir umpouco mais a fundo. Da leitura da monografiaentende-se bem que Alexandre tinha bom do-mínio da literatura contemporânea e que enca-rava os problemas de identificação e de descri-ção com adequado espírito crítico. Suas descri-ções são profissionais, dentro do padrão comumda época, concentrando-se em feiçõesmorfológicas salientes (número de dígitos, pre-sença ou ausência de barba) e no colorido. Sãodescrições comparáveis às de Etienne Geoffroy,o grande beneficiário das coletas de Alexandre.

Goeldi (1895, 1982), que não gostava debrasileiros, disse que a produção científica deAlexandre é “de pequeno calado científico”.Como discutido acima, não concordo comessa avaliação: antes a aplicaria à produçãodo próprio Goeldi, operoso mas irremedia-velmente medíocre.

Não têm tampouco valor nenhum paramim afirmações do tipo de que os bichos deAlexandre acabaram por ter ficado melhorem Paris do que em Lisboa, por terem caídoassim nas mãos de cientistas mais preparadose melhor equipados (Pinto, 1979, p. 57). Nãotenho dúvida, repito, de que Alexandre teria

feito um trabalho pelo menos tão bom quantoo de Saint-Hilaire, levando ainda sobre este avantagem de ser um homem de bem.

Uma consideração final sobre Alexandrecomo zoólogo diz respeito à etiquetagem dosexemplares e à catalogação na Ajuda. A pri-meira metade do século XIX foi o tempo doinício do alerta quanto aos registros de proce-dência dos exemplares de museu. Foram exa-tamente os grandes zoólogos de campo, Wied,Spix, Natterer, Castelnau, que primeiro com-preenderam a natureza e a problemática dadistribuição geográfica dos animais, e queprimeiro se ocuparam em documentar a pro-cedência dos bichos coletados, etiquetando-os individualmente. Essa preocupação demo-rou ainda um pouco para atingir os gabinetesdos museus, e catálogos de coleção em or-dem só aparecem uma geração mais tarde.

Há, porém, evidência publicada de queAlexandre de alguma maneira etiquetava seumaterial. Na relação (Pires de Lima, 1953) daoitava e última remessa do Negro, expedidada foz do Madeira em 11 de setembro de 1788,lê-se, a respeito do material enviado em fras-cos: “Numero das contas que levão osProductos, pelas quaes, se saberão os nomes,que lhes correspondem”. Cada frasco tem suaseqüência própria; fica claro que Alexandrenão mantinha um catálogo geral, mas se ocu-pava de cada unidade de remessa (caixão,frasco, etc.) individualmente.

Essa etiquetagem perdeu-se. Há comen-tários (Pires de Lima, 1953, p. 33; Tavares daSilva, 1947, p. 165) sobre sabotagem na Aju-da, havendo suspeitas, mas não revelações,sobre os eventuais criminosos. Contudo,mesmo que essa informação tivesse sobrevi-vido, seria de pouca utilidade, pois referia-seapenas ao nome vulgar do bicho e à estaçãode embarque (“Barcellos”, “Rio Negro”, etc.).

Essa própria informação, no caso da Aju-da, nem sempre é firme. Há, por exemplo, nacoleção atribuída a Alexandre (J. BethencourtFerreira, 1923) um exemplar de Caimanlatirostris, identificado por Bocage e, portan-to, provavelmente certo, que não ocorre emnenhuma região onde Alexandre tenha estado.

Quer-me parecer que, com a descrição dosmacacos e com a publicação dos “Mammaes”e das pranchas, encerrou-se um ciclo de apro-

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veitamento dos trabalhos de AlexandreRodrigues Ferreira. Os exemplares e estam-pas estão esgotados, e resta apenas a exegesedos textos, até hoje muito mal aproveitados.

2.2.1.1. As remessasde Alexandre

Pires de Lima (1953) publicou diversaslistas de remessa de animais enviados porAlexandre a Lisboa. Contêm elas algumasespécies que, a julgar pelos nomes vulgares,não foram incluídas na Viagem Filosófica de1971. Essas listas ampliam, portanto, a di-mensão das coleções de Alexandre. Um úni-co caveat é que os nomes vulgares devem serinterpretados. Isto é, contudo, bem menosdifícil do que parece: os nomes de espéciescomuns são firmes e têm vida longa, especi-almente na Amazônia. No caso de Alexandreé possível ainda verificar sua aplicabilidadena comparação com as figuras da Viagem,facilmente identificáveis. No que segue apre-sento uma lista das formas (“productos”) alis-tados nas remessas, com a minha interpreta-ção. Esta se baseia primeiramente em experi-ência pessoal de cerca de cinqüenta anos decoleta na Amazônia; em alguns casos, devi-damente anotados, recorri à literatura, sejaaos catálogos sistemáticos (Pinto, 1938, 1944;Vieira, 1955), seja a obras lingüísticas(Martius; 1867; Tastevin, 1923a-c).

Não usei os nomes vulgares constantes dalista final da Viagem Filosófica (RodriguesFerreira, 1971) porque certamente são devi-dos a quem identificou as estampas, não aAlexandre; ele dificilmente usaria o nomevulgar “mabuia” (p. l60). Também contém essalista erros que Alexandre não cometeria: porexemplo, chamar de “curimbatá” uma espéciede Curimatus, à qual se aplica no Brasil inteiroo nome “saguiru”, sendo curimbatá universalpara o gênero Prochilodus.

PeixesAcará: os peixes pequenos da família

Cichlidae; em geral com um qualificativo (porexemplo, acará-doido).

Acari: os cascudos da família Loricariidae.Anujá: os bagres da família

Trachycoristidae.

Arauanã: Osteoglossum bicirrhosum, fa-mília Osteoglossidae; também aruanã.

Curumará: Lepidosiren paradoxa, famí-lia Lepidosirenidae (Martius, 1867, p. 447)

Jeraqui: Prochilodus brama, famíliaProchilodontidae; hoje jaraqui.

Jundihá: bagres pequenos e médios dafamília Pimelodidae, especialmente do gêne-ro Rhamdia; também jandiá.

Mandué: bagres da família Ageneiosidae;mais freqüentemente mandubé.

Mussi (= Mussum): Synbranchusmarmoratus, família Synbranchidae.

Pirá-catimbau: Tastevin (1923c, p. 726)em sua clássica monografia sobre o tupi daAmazônia, incluindo nomes de bichos e plan-tas, oferece a variante pirá-caximbu; os dici-onários modernos de fato dão que caximbu éum cachimbo usado no catimbó. Pensa-se,portanto, em acari-cachimbo, nome aplicadoa diversas espécies de cascudos (Loricariidae)de cabeça comprida e afilada; entre as pran-chas da Viagem há a figura de uma Farlowella,um dos acaris-cachimbo.

Pirá-manha: “Manha” (mãe) é o protetorsobrenatural de cada animal (Tastevin,1923b, p. 628). “Pirá” é peixe. Mais não pudeaveriguar.

Puraquê: Electrophorus electricus, peixeelétrico, família Electrophoridae.

Surubim: os bagres grandes da famíliaPimelodidae, subfamília Sorubiminae.

Tarayraboya (erroneamente alistada comoserpente): Lepidosiren paradoxa, famíliaLepidosirenidae; dita também trairambóia,mais conhecida hoje como pirambóia.

Tareyra: peixes do gênero Hoplias, famí-lia Erythrinidae (traíra).

Tucunaré: espécies grandes do gêneroCichla, família Cichlidae.

Uacary: o mesmo que acari.Uacary pucu: cascudo não identificado;

“pucu” quer dizer comprido (Tastevin, 1923b,p. 655; Martius, 1867, p. 85). Poderia ser umadas espécies grandes de Loricariidae, porexemplo do gênero Pterygoplichthys.

Yacundá piranga: “yacundá” (= jacundá)aplica-se às espécies de Crenicichla (famíliaCichlidae); “piranga” quer dizer “vermelhoencarnado” (Tastevin, 1923b, p. 653); nãoidentifiquei a espécie.

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AnfíbiosAru: Pipa pipa, família Pipidae.Boya assica (erroneamente alistada como

serpente) = boiacica, nome dado na Amazô-nia às espécies de gimnofionos, especialmentedo gênero Siphonops.

Cururu: sapos do gênero Bufo, especial-mente na Amazônia Bufo marinus, famíliaBufonidae.

Cutaca: qualquer anuro pequeno; o equi-valente de perereca.

Répteis: TestudinesCabeçudo: Peltocephalus dumerilianus,

família Pelomedusidae.Jabutim: quelônios do gênero Geochelone,

família Testudinidae; na Amazônia ocorremG. denticulata e G. carbonaria; a pronúnciacorrente é jaboti.

Jabutim juruparigê: Platemysplatycephala (Mittermeier, Medem &Rhodin, 1980).

Jabutim muritinga: não identificado.Martius (1867, p. 72) diz que “morotinga” écoisa branca.

Matamatá: Chelus fimbriatus, famíliaChelidae.

Muntaumatá (= matamatá, v.s.): Alexan-dre dá uma boa diagnose em latim.

Pituí (= pitiú), tartaruga-de-cheiro:Podocnemis sextubercu-lata, famíliaPelomedusidae.

Tartaruga grande: Podocnemis expansa,família Pelomedusidae.

Uirapequê: Podocnemis erythrocephala,família Pelomedusidae; pronúncia correnteirapuca.

Répteis: CrocodyliaJacaretinga: Caiman crocodilus, família

Alligatoridae.

Répteis: SauriaJacuraru: na Amazônia, lagartos do gêne-

ro Tupinambis, família Teiidae.

Répteis: SerpentesAcutiboya: hoje se aplica a Oxybelis

aeneus, família Colubridae. Martius (1867,p. 434), contanto, explica: “qui Cutiaeinsidiatur”, aquele que embosca a cotia, o

que não se aplica a Oxybelis, que se alimentade lagartos e de pequenos anfíbios.

Araraboya: Boa canina, família Boidae.Boya assica: engano; ver Anfíbios.Boya membeca: não identificada; “boya”

é cobra; “membeca” quer dizer, ainda hoje,“mole”; possivelmente um gimnofiono, comoboiacica, ou um peixe-ápodo.

Boya pinima: não identificada; “pinima”quer dizer pintada; possivelmente uma co-bra-coral (q.v.i.), embora este nome seja ex-plicitamente usado por Alexandre. Martius(1867, p. 440) diz “Boi-pinima, Boya pinimai.e. pictus. Elaps”.

Cobra de coral: serpentes das famíliasAniliidae, Colubridae e Elapidae com umpadrão mimético de anéis pretos, brancos evermelhos; numerosas espécies amazônicas.

Cujubi boya: não identificada; cujubi éuma ave (q.v.).

Cururu boya: serpente que come sapo-cururu (Martius, 1867, p. 447). No sul doBrasil aplicado às vezes a Waglerophismerremii, família Colubridae (mais conheci-da por boipeva). Na Amazônia possivelmen-te se refira a uma espécie de Xenodon ou aHydrodynastes gigas, todas da famíliaColubridae.

Giboya: Boa constrictor, família Boidae.Jararaca: Bothrops atrox, família

Viperidae.Parauá boya: Bothrops bilineatus, famí-

lia Viperidae; o nome tupi não sobrevive, massobrevive sua tradução cobra-papagaia(Martius, 1867, p. 467, “serpens colorevariegatus Psittaci”).

Purunupàa-boya: possivelmente a jibóia,Boa constrictor, família Boidae (Tastevin,1923c, p. 742).

Sacahyboya: diversas serpentes ágeis dafamília Colubridae, que se diz açoitarem aspessoas (“surradeiras” – já em Tastevin, 1923,passim).

Sucuruju: Eunectes murinus, famíliaBoidae.

Tarayraboya: engano, é um peixe, q.v.

AvesAcurao: aves das famílias Nyctibiidae e

Caprimulgidae; equivalente a bacurau.Andorinha ou muriny: nome genérico para

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as aves da família Hirundinidae,freqüentemente mal aplicado a outras aves devôo semelhante.

Antim-antim ou gaivota: Tastevin (1923c,p. 693) tem átianti, gaivota; Martius (1867,p. 439) tem “atyaty , Larus, gaivota dos por-tugueses”. Na Amazônia aplica-se a Phaetusasimplex e Sterna superciliaris, famíliaLaridae.

Anum: gênero Crotophaga, famíliaCuculidae.

Araçari: tucanos pequenos dos gênerosPteroglossus e Selenidera, famíliaRamphastidae.

Arapaçu: designação coletiva dos passa-rinhos da família Dendrocolaptidae.

Arara: Psittacídeos grandes dos gênerosAnodorhynchus e Ara.

Arara encarnada: Ara macao, famíliaPsittacidae.

Auapé assoca: Jacana jacana, famíliaJacanidae (Martius, 1867, p. 435,aquapeaçoca).

Caracaraí: Daptrius ater, famíliaFalconidae (Pinto, 1938).

Carará: Anhinga anhinga, famíliaAnhingidae.

Corica (= curica): papagaios pequenos dogênero Amazona, família Psittacidae. O nomequer dizer rouco (Martius, 1867, p. 135, ajuru-curica).

Coroca: Crotophaga major, famíliaCuculidae. Também anu-coroca.

Cujubim: Pipile pipile, família Cracidae.Galo da serra: Rupicola rupicola, família

Cotingidae.Garça: espécies brancas e cinzentas da

família Ardeidae.Gavião: aves das famílias Accipitridae e

Falconidae.Ierena ou corta-água: família

Rynchopidae (Pinto, 1938).Inambu toró: Tinamus major, família

Tinamidae.Itaã (= itã): alistada como ave; conheço

apenas como molusco bivalvo fluvial.Jacamim: gênero Psophias, família

Psophiidae; há na Amazônia três espécies.Japiim: aves do gênero Cacicus, família

Icteridae; há na Amazônia duas espécies.Macucaua: tinamídeos da mata, principal-

mente do gênero Crypturellus, mas tambémTinamus.

Maguary: Ardea cocoi, família Ardeidae.Massarico: designação genérica para a

família Charadriidae.Murucututu: corujas grandes do gênero

Pulsatrix, família Strigidae.Mutum: gênero Crax, família Cracidae;

três espécies na Amazônia.Papagaio corica: ver Corica.Parauá: papagaios, Psittacidae de tama-

nho médio.Parauá-hy: Psittacidae do gênero Pionus

(Pinto, 1938, p. 212, tem a leitura errada“paraná-i”).

Pavão: termo aplicado a diversas avesvistosas; geralmente acompanhado de umdeterminativo (por exemplo, pavão-do-pará).

Pequi (= Ipequi): Heliornis fulica, famí-lia Heliornithidae.

Periquitos: as espécies de Psittacidae depequeno tamanho, especialmente do gêneroForpus.

Picaçu: pomba grande, geralmenteColumba cayennensis, família Columbidae.

Picapau: designação genérica para as avesda família Picidae e, na Amazônia, tambémDendrocolaptidae (pinica-pau).

Piranha-uirá: Tyrannus savanna, famíliaTyrannidae, tesourinha (tradução literal donome: “piranha” é tesoura, Tastevin, 1923b,p. 653).

Quiquiá: não identificado.Sahi: designação aplicada a espécies de

pássaros pequenos de cor azul (Tastevin,1923c, p. 730), especialmente sanhaços, fa-mília Thraupidae (Martius, 1867, p. 473,Thraupis sayaca).

Saracura: designação geral das avespaludícolas da família Rallidae.

Sigana (= cigana): Opisthocomus hoatzin,família Opisthocomidae.

Suiriri: Tyrannus melancholicus, famíliaTyrannidae.

Surucuá: designação coletiva das aves dafamília Trogonidae.

Suriti (= juriti): Leptotila verreauxi, fa-mília Columbidae (na época era freqüente asubstituição de s por j ou x: o rio Xeruini já foiSerevini).

Tamburupará: aves do gênero Monasa,

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família Bucconidae. Outras formas:tangurupará, tango-do-pará, todas derivadas(diz Tastevin, 1923c, p. 736) de tunguri-pará.

Tauató: designação de vários gaviões es-curos da família Accipitridae.

Tayassu-uirá: Martius (1867, p. 478) diz“Tajasu, Tayaçu-uira (guira) isto é, avisDicotylis (Rio Branco) – avis Cozzygus:Natterer”. Aparentemente seria Coccyzusminor, família Cuculidae, que Natterer cole-tou no Pará (Pinto, 1938, p. 170). Tastevin(1923c, p. 740) copia Martius, mas ajunta “ave-pescadora”. Esta espécie habita os manguezaise, como os outros anus, ocasionalmente pesca(Sick, 1984, p. 318). O problema é que Ale-xandre, nesta fase da sua vida, não andou pertode nenhum manguezal. Possivelmente o nomese aplicasse, no interior, a outros cucos.

Tucano: espécies grandes da famíliaRamphastidae.

Tuiuiu: Jabiru mycteria, famíliaCiconiidae.

Uanambé (= Anambé): designação apli-cada a diversas formas da família Cotingidae,geralmente acompanhada de qualificativo(por exemplo, anambé-roxo).

Uanambu-assu (= nambu guaçu):Crypturellus variegatus, família Tinamidae.

Uarirama-assu: Ceryle torquata, famíliaAlcedinidae, martim-pescador-grande,ariramba-açu.

Uirá membu: Cephalopterus ornatus, fa-mília Cotingidae (Pinto, 1944, uiramembi).

Uirá pagé: Piaya cayana, famíliaCuculidae, alma-de-gato (Pinto, 1944).

Uirá tatá: passarinhos vistosos do gêneroPhoenicircus, família Cotingidae (Pinto,1944).

Uru: aves galiformes do gêneroOdontophorus, família Phasianidae; duasespécies na Amazônia.

Urubitinga-y: urubitinga, urubu branco,hoje, na Amazônia a despeito da freqüenteatribuição na literatura a gaviões grandes, é ourubu-rei (Sarcoramphus papa), famíliaCatarthidae. Não sei a que viria o sufixo “y”,diminutivo.

Urubu: as espécies dos gêneros Coragypse Catarthes, família Catarthidae.

Yaçaná (= jaçanã): Jacana jacana, famí-lia Jacanidae.

Yereua (= jereba): urubu (q.v.s.).Yriúa: não identificada.

MamíferosAcutypuru: designação coletiva para os

roedores da família Sciuridae (esquilos,caxixes, caxinguelês, serelepes).

Acutypuru pardo: diversas espécies deSciurus de pele avermelhada.

Acutypuru preto: Sciurus do grupoaestuans.

Acuti-yaua-reté: não identificado.Boto: ocorrem na Amazônia dois cetáceos,

Inia geoffrensis, família Platanistidae, boto-branco, boto-vermelho ou boto-malhado, eSotalia fluviatilis, família Delphinidae, boto-preto ou tucuxi.

Cayarara: Cebus albifrons, famíliaCebidae.

Cutynayas: provável corruptela deacutiwaya, cotia-de-rabo, Myoprocta, famí-lia Dasyproctidae (Tastevin, 1923b, p. 641).

Irara (macaco): Eira barbara, famíliaMustelidae. Obviamente não é um macaco,embora até hoje a confusão seja feita.

Japuçá (= Uapuçá): espécies deCallicebus, família Cebidae; na Amazôniaocorrem diversas.

Jurupixuna: espécies do gênero Saimiri(mico-de-cheiro), família Cebidae, váriasespécies na Amazônia.

Lontra: Lutra longicaudis, famíliaMustelidae.

Macaco de boca preta: ver Jurupixuna.Macaco de prego ou itupuhá: espécies de

Cebus (três na Amazônia), família Cebidae.Macaco Uyapeçá: ver Japuçá.Maracajá: gatos pintados do gênero

Leopardus, família Felidae, desde o pequenoL. tigrinus até a jaguatirica, ou maracajá-açu,L. pardalis.

Mucura: designação coletiva dos marsu-piais da família Didelphidae, especialmentedo gênero Didelphis; na Amazônia, D.marsupialis.

Mucura-xixi: Philander opossum, famí-lia Didelphidae.

Onça pequena: ou jovem de Panthera oncaou adulto de jaguatirica (Leopardus pardalis).

Paca: Agouti paca, família Agoutidae.Parauacu: macacos do gênero Pithecia,

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família Cebidae.Peixe-boi: Trichechus inunguis, família

Trichechidae.Preguiça: designação coletiva dos

Bradypodidae.Preguiça de lato ou ahy-sauiá: “ahy” é

preguiça; “sauiá” (sawiya) é rato (Tastevin,1923c, pp. 691 e 732). A palavra “lato” pode-rá ser um erro de leitura ou de imprensa por“rato”. O bicho não é exatamenteidentificável, com certeza, mas sugere-se umrato-de-espinho, roedor arbóreo do gêneroEchimys, família Echimyidae.

Tamanduá: Myrmecophaga tridactyla,família Myrmecophagidae.

Tamanduahy: Cyclopes didactylus, famí-lia Myrmecophagidae.

Tatu: designação coletiva da famíliaDasypodidae (seis espécies na Amazônia).

Yauara-caá-pera: provavelmente a iraraou papa-mel (Eira barbara, Mustelidae), ouseja, o cachorro (yauara) da caipora (caa-pera) do folclore indígena.

3. SÉCULO XIX

Os dois precursores, Marcgrave e Alexan-dre Rodrigues Ferreira, homens dos séculosXVII e XVIII, têm alto interesse histórico,mas tiveram pouco impacto científico. Estesó começou a ser sentido no primeiro quarteldo século XIX. A Zoologia fez nessa época,dentro da nossa óptica, rápidos progressos,pela interação de dois mecanismos: acelera-ção no conhecimento de faunas, levando tam-bém a uma conscientização zoogeográfica, eaperfeiçoamento da sistemática, por meio deobras no estilo do Systema Naturae, cobrindode forma diagnóstica, seja toda a Zoologia,seja uma classe ou ordem.

O progresso no conhecimento de faunasobviamente se dava de duas maneiras. Porum lado, o simples acúmulo de exemplaresnos grandes museus possibilitava melhoresrevisões sistemáticas. Por outro lado, a pu-blicação dos resultados de expedições ex-tensas e demoradas não só fornecia ricamatéria-prima para revisões, como facilita-va a identificação de materiais, melhorandoo acervo dos museus e ampliando o acesso àpesquisa em sistemática.

Estudaremos sob este ponto de vista cin-co grandes expedições que se realizaram noBrasil no século XIX: Spix e Martius,Maximilian zu Wied-Neuwied, JohannesNatterer e a missão austríaca, Castelnau eDeville. Mencionaremos ainda duas expedi-ções de pouca importância zoológica,Langsdorff e Agassiz.

3.1. Spix e Martius

A expedição de Spix e Martius (para umestudo um pouco mais detalhado, com itine-rário, ver Vanzolini, 1981) foi, como dito, emparte uma conseqüência da invasão de Portu-gal pelos exércitos napoleônicos. A mudançada corte portuguesa para o Brasil (trazendojunto um volumoso e ativo corpo diplomáti-co) tornou impossível a política de fechamentodo país aos estudiosos do mundo. Por exem-plo, Langsdorff, cônsul da Rússia, nesse ca-ráter realizou sua abortada expedição. O epi-sódio fundamental, porém, foi o casamentodo príncipe D. Pedro com a arquiduquesaLeopoldina da Áustria. Não só trouxe ela noseu séquito uma ponderável força-tarefa depesquisa biológica, como também vieram, dearrasto, os dois inexcedíveis naturalistasbávaros. Spix tinha 36 anos ao começar aviagem em 1817, Martius apenas 23. Viaja-ram ininterruptamente por trinta meses, se-guindo o itinerário mais inteligente que sepossa imaginar.

Um aspecto de viagem que não tem mere-cido atenção, e é difícil atacar com os recur-sos de biblioteca do Brasil, é que a leitura dolivro que relata a viagem (a Reise, Spix eMartius, 1823-36, 1938) indica que Martiushavia feito um eficiente estudo de considerá-vel bibliografia, de natureza diversa, que haviana Europa sobre o Brasil.

É necessário também ressaltar, como nocaso de Alexandre Rodrigues Ferreira, aconcomitância de altos interesses científicoscom questões mais mundanas, tais comoagropecuária, comércio e, principalmente,mineração. A Reise contém dentro de si umverdadeiro compêndio de economia brasilei-ra no início do século XIX.

Spix e Martius começaram, como todos,pelos arredores do Rio de Janeiro (trecho

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meira importância das expedições pioneirasresidia na ampliação do conhecimento dasfaunas. Não se estranhe, portanto, a insistên-cia em species novae nos títulos dos livros deSpix: é a constatação de uma realidade. Poresse tempo começa a afirmar-se a consciên-cia da inteireza das faunas e de suas relaçõesecológicas e geográficas, mas Spix neste as-pecto ainda pertence à pré-História: o valorde seu trabalho residia, como ainda reside, naboa descrição e ilustração das espécies e noregistro das localidades-tipo.

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45) Munique foi duramente bombardeada, eas notícias contemporâneas (Lorenz Müller,in litt.) eram de que as coleções estavam emgrande parte perdidas. Mais tarde verificou-se que a situação era menos grave, e que muitosmateriais haviam sobrevivido, em Munique eem outros museus. Notícias detalhadas sãodadas na obra em homenagem a Spix editadapor Fittkau (1983).

3.1.1.1. Mamíferos, Primates

Os macacos são um dos grupos mais pre-cocemente conhecidos no Brasil: das 62 es-pécies reconhecidas hoje (Groves, 1993) 33,ou seja, mais de 50%, já eram conhecidas

muito rico, aliás, da Mata Atlântica), visitan-do especialmente a Fazenda Mandioca, deLangsdorff, na Serra da Estrela. Em seguidavieram para a província de São Paulo, ondepararam em Ipanema (próximo a Sorocaba),como todos os teutófonos, na fundição de ferrooperada por metalúrgicos alemães. Daí se-guiram para as minas de ouro e diamantes emMinas Gerais, atravessando a seguir a Bahiae cortando as caatingas para o norte, até Oeiras,então capital do Piauí. Terminaram o trechoem São Luís do Maranhão, de onde seguiramembarcados para Belém, para iniciar umaúltima fase, de extensa exploração da hiléia,subindo o Amazonas até Tabatinga, o Japuráaté Araracoara, na Colômbia, e o Negro atéBarcelos.

Esse itinerário deu-lhes a oportunidadede ver quase toda a diversidade ambiental doBrasil: mata atlântica, cerrado, caatinga ehiléia. Deixaram de ver os pinheirais e aspradarias mistas do Rio Grande do Sul; tra-tando-se, porém, de faixas extratropicais demenor expressão geográfica, essa lacuna nãoprejudicou a extraordinária sistematizaçãofeita por Martius das paisagens maiores doBrasil – sistematização que ainda constitui,na sua inteireza, a base dos conceitos corren-tes de domínios morfoclimáticos (Ab’Sáber,1977; Seibert, 1983).

Spix foi o responsável pelos relatórios zoo-lógicos da viagem. Morreu em 1826, debilitadopelas moléstias tropicais contraídas na Amazô-nia, sem ver a obra completamente publicada:o fiel Martius encarregar-se-ia disso.

3.1.1. As obras de Spix

Spix publicou sobre mamíferos: macacose morcegos (1823), sobre aves (1824a), sobreanfíbios (1824b, 1840a) e, entre os répteis,sobre quelônios (1824b, 1840b), crocodilianos(como lagartos) e lagartos (1825). As serpen-tes e anfisbenas foram descritas por JohannWagler (Spix, 1824c) e os peixes por LouisAgassiz (Spix, 1829), com parte das espéciesespecificamente atribuída a Spix.

Convém neste ponto explicitar os crité-rios aqui usados para avaliação da contribui-ção dos viajantes ao progresso da Zoologiabrasileira. Como ficou dito, e é obvio, a pri-

Litografia

aquarelada do livro

de Johann Baptiste

von Spix Simiarum

et Vespertilionum

Brasiliensium

species novae...

(Munique, 1823),

Biblioteca

do IEB- USP

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quando da publicação do livro de Spix. É fácilde compreender: são animais diurnos,arborícolas, gregários, altamente conspí-cuos. São visualmente orientados, o que tor-na fácil seu reconhecimento pelo homem, tam-bém um primata visualmente orientado. (Émais difícil a sistemática de animais orienta-dos pelo som, como os anuros, ou por senti-dos químicos, como certos peixes.) O tama-nho dos exemplares e a boa resistência daspeles dos símios facilitam a preparação, ain-da mais que os nativos de regiões florestadascostumam ter prática de coureá-los.

Cinco autores apenas eram responsáveispelas 33 espécies de macacos então conheci-das: Lineu (1758, 1766) com 10 espécies;Hoffmansegg (1807), com 3; EtienneGeoffroy Saint-Hilaire (1806, 1809a,b, 1812),com 10, Humboldt (1812) com 8; e Kuhl(1820), com 2 espécies.

De acordo com as Regras Internacionaisde Nomenclatura Zoológica, deve fazer parteda descrição de qualquer nova espécie a de-signação de um exemplar “tipo”. O termo éinfeliz, pois pode levar a crer que se trata deum exemplar que de alguma maneira“tipifique” a espécie. Não se trata disso: otipo é um exemplar que ancora o nome daespécie. Qualquer dúvida a qualquer temposobre a aplicabilidade de um nome deve serresolvida por referência ao tipo. Nos casosem que, no passado, a designação tenha sidoomitida, há mecanismos para designação su-pletiva. Os tipos são especialmente impor-tantes no caso de espécies antigas, sumáriaou insuficientemente descritas, ou sem loca-lidade explícita.

Kraft (1983) reviu os tipos restantes demacacos de Spix; infelizmente, baseou-sefundamentalmente, para atualização dataxonomia, na lista de Cabrera (1958), que éespecialmente insegura no que diz respeito asubespécies de mamíferos tropicais, assuntode que Cabrera não tinha experiência pesso-al. Revisando o material à luz de literaturarecente (especialmente Groves, 1993), pode-mos dizer que Spix descreveu como novas 28espécies de macacos; citou 7 como de descri-ção alheia, mas coletadas e reconhecidas porele. Das 28 espécies descritas como novas, 8são hoje válidas e 20 consideradas sinôni-

mos. Não se pode atribuir esse alto número desinônimos a desconhecimento da literatura:as obras relevantes eram de amplo conheci-mento geral e os cientistas mantinham boasrelações pessoais. A elevada sinonímia deveser antes atribuída a dificuldades intrínsecasdos grupos (variação sexual, ontogenética eresidual da coloração da pelagem) e à falta deilustrações nas descrições originais. Relati-vamente ao problema da variabilidade dasformas, Spix descreveu sob 4 nomes diferen-tes a espécie Cebus apella (L., 1758) e sobdois nomes Cebus albifrons (Humboldt,1812). Até hoje, porém, não existe nenhumarevisão suficiente de Cebus, gênero sobre oqual não há consenso (Groves, 1993).Adicionalmente, Spix descreveu Lagothrixlagothricha (Humboldt, 1812) como duasespécies novas, bem como Pithecia monachae Callicebus personatus (E. Geoffroy, 1812).Callicebus e Pithecia são gêneros difíceis atéhoje; Lagothrix nem tanto.

Pode-se resumir a contribuição de Spix àprimatologia neotropical dizendo-se que ajun-tou 8 espécies às 33 então conhecidas, o quecontribuiu sensivelmente, pela qualidade desuas descrições e ilustrações, para a melhoriado nível da pesquisa.

3.1.1.2. Mamíferos, Chiroptera

Os morcegos constituíam um grupo difí-cil para o zoólogo do início do século XIX.São animais voadores de vida noturna, difí-ceis de capturar antes do aparecimento dasmist nets: das 15 espécies coletadas por Spix,6 foram obtidas dentro de habitações huma-nas. A taxidermia deforma bastante partesmoles dos morcegos importantes para a siste-mática, tais como o focinho e as orelhas. Osexemplares taxidermizados são frágeis e so-frem na coleção (Lawrence e Genett, 1988).Acresce que é um dos grupos em que oscaracteres externos e a fisionomia são menosúteis à identificação, os melhores caracteresresidindo no crânio e, principalmente, nadentição – isso apenas começava a ser perce-bido no tempo de Spix.

Sob outro ponto de vista, muitas espéciesde morcegos têm vagilidade extrema, migran-do por longas distâncias (Eptesicus) ou ocu-

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pando territórios muito grandes (Myotis).Estes fatos levam o zoólogo a erros, decor-rentes de óptica regional: julga serem novasespécies já anteriormente descritas de outrasáreas, às vezes remotas. Na realidade, a siste-mática dos morcegos neotropicais ainda estálonge da saturação, ocorrendo a todo instantedescrição de espécies novas e reajustes dasistemática, tanto no nível específico quantono genérico.

Segundo Koopman (1993), ocorrem noBrasil cerca de 120 espécies de quirópteros:28 já eram conhecidas ao tempo de Spix, quedescreveu como novas 9, das quais subsistem5: Tonatia bidens, Trachops cirrhosus,Diphylla ecaudata, Thyroptera tricolor ePromops nasutus. A revisão dos tipos de Spixpor Kraft (1983) nada ajunta ao dito acima.

Além das dificuldades inerentes ao gru-po, deve-se ainda relevar que a literatura so-bre morcegos era muito dispersa: as 28 espé-cies haviam sido descritas em 15 trabalhos,de variada natureza, por 11 autores. O únicoa descrever mais que Spix foi EtienneGeoffroy de Saint-Hilaire, que descreveu 10espécies em 4 trabalhos.

3.1.1.3. Aves

A sistemática tradicional de aves difereda de todos os demais grupos de vertebrados(menos talvez da dos anfíbios) pela falta decaracteres objetivos. É baseada em peles semossos, e os caracteres importantes não sãoenumeráveis ou (com exceção de algum rarobico ou tarso) mensuráveis. Os gêneros sãodefinidos por consenso – na realidade é umacuriosidade para os zoólogos em geral o con-senso que existe na Ornitologia. Há poucosestudos da estrutura geográfica das assimchamadas subespécies reconhecidas: há queaceitá-las na base da confiança.

Estabelecidos estes caveats, podemos di-zer, grosseiramente, que ao tempo de Spix cer-ca de 30% eram conhecidos das aproximada-mente 2.400 formas de aves aceitas hoje para oBrasil. Haviam escrito, antes de Spix, autoresde amplo compasso: além de Lineu, houveVieillot, Gmelin, Temminck, Boddaert, P. S.Müller, Latham e alguns outros de menor volu-me. No que segue baseio-me no artigo de

Hellmayr (1906) sobre os tipos de Spix, atuali-zado na medida do possível. A revisão dos tiposspixianos por Reichholf (1983) e a lacônicaavaliação publicada na mesma obra por Sick(1983) pouco ajuntam à história que se podecolher da literatura geral, começando com aprimeira revisão (Hellmayr, 1906) dos tipos.

Spix ilustrou e descreveu 326 espécies deaves, uma das mais ponderáveis contribuiçõesde qualquer tempo. Oitenta e nove formas eramanotadas como não sendo suas; às vezes a atri-buição é explícita, às vezes precisamos recor-rer a Hellmayr (1906). Das 237 formas descri-tas como novas, temos informação segura so-bre 220, das quais 67 (30%) são hoje conside-radas válidas e 153 (70%) caíram na sinonímia(Sick, 1983). É uma excelente porcentagempara a época; o valor da contribuição é realça-do pela qualidade da ilustração.

3.1.1.4. Répteis e anfíbios

Houve um problema inicial com a cole-ção de Spix ao regressar à Europa (Vanzolini,1981): insinuaram-se nela três espécies eu-ropéias de serpentes, uma de anfisbenídeo euma de tartaruga. Todas foram descritascomo brasileiras e como novas, a tartarugapor Spix, as cobras e o anfisbenídeo porWagler (uma delas duas vezes). Das 35 es-pécies de serpentes brasileiras realmentepresentes, cinco eram de outros autores, umacom proposta de nome novo. Das 34 espé-cies descritas por Wagler como novas 16eram válidas, 4 eram as formas européias jámencionadas, 12 são consideradas sinôni-mos e sobre 2 há dúvidas. Ainda misturadocom as serpentes havia um gimnofiono, umaespécie de Mikan (q.v.i.), não explicitamen-te citada mas reconhecível.

Trinta e oito espécies de lagartos são alis-tadas por Spix, sendo 3 declaradamente deoutros autores. Das 35 que ele se atribui 11são válidas (2 descritas 2 vezes cada) e asdemais sinônimas. Spix na realidade descre-veu 7 espécies duas vezes consecutivas, 1espécie três vezes e uma espécie cinco vezes.

Dos 4 jacarés listados apenas um é válido:exatamente o jacaré-açu, Melanosuchus niger.

Quanto aos sapos, 53 espécies estão alis-tadas, das quais 20 são realmente novas; as

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Água doce Marinha

Válidas 25 21 46

Sinônimas 14 15 29

39 36 75

ilustrações são de qualidade regular. Aquitambém Spix descreveu algumas formas maisde uma vez como novas: duas vezes (trêscasos), quatro vezes (dois casos) e cinco ve-zes (um caso).

De um modo geral, pode-se dizer que acontribuição herpetológica de Spix eWagler, embora incluindo algumas espé-cies importantes, é de qualidade apenas me-diana. Militam muito contra o não teremreconhecido espécies européias comuns eas múltiplas descrições sinônimas de for-mas muito características: Iguana iguanarecebeu cinco nomes, Bufo marinus rece-beu quatro. O que realmente restou do seutrabalho foram as espécies protegidas pelanovidade da fauna.

Os tipos remanescentes foram estudadospor Hoogmoed e Gruber (1983). Mais umavez lembro que as poucas novidades que re-sultam da revisão dos tipos de Spix testemu-nham a boa qualidade de suas descrições; osnecessários ajustes foram sendo feitos a seutempo, sem necessidade de recurso aos tipos.

3.1.1.5. Peixes

Como dito, as espécies novas de peixessão atribuídas explicitamente a Agassiz ou aSpix – 54 e 21 espécies respectivamente.Agassiz é responsável por 34 das 36 espéciesmarinhas – a primeira contribuição ao campono Brasil – infelizmente sem dados de distri-buição geográfica. Das espécies de água doce,Spix descreveu 19 e Agassiz 20. Dez espéci-es são de outros autores, mais ou menos cla-ramente citados, e sobre 8 não consegui in-formação suficiente.

Terofal (1983) dá uma lista das espéciesdescritas por Spix e Agassiz, com as atribuiçõescorrentes. É uma lista útil, mas nada adicionaaos catálogos de Fowler (1941, 1948-54).

Seria de esperar que o número de espéciesválidas fosse relativamente maior para águadoce que para o mar, dadas as possibilidadesde endemismos em bacias diversas. As espé-cies marinhas, ao contrário, e especialmenteas pelágicas, têm no geral ampla distribuição,com a decorrente maior probabilidade de jáhaverem sido descritas de outras paragens.Isso no entanto não se dá:

O valor de χ2 para esta tabela é .0758,obviamente não significante: não há associa-ção entre o ambiente das espécies e a propor-ção de validez.

A contribuição de Spix e Agassiz àictiologia mundial e brasileira não é fácil aoleigo de julgar; os especialistas, contudo,consideram-na muito importante.

3.1.1.6. Invertebrados

A citada obra editada por Fittkau (1983)contém diversos interessantes capítulos so-bre as coleções de invertebrados feitas porSpix e Martius. Seu interesse para mim resideprincipalmente no fato de demonstrarem quea simples disponibilidade de materiais não ésuficiente para o progresso da pesquisa. Éindispensável um certo grau de maturidade: adespeito das coleções reunidas, nada foi feitona época com respeito aos invertebrados quese compare ao estudo dos vertebrados.

Há uma interessante característica da obrade Spix, que concorre com o dito na introdu-ção deste trabalho, ou seja, que nenhum dosviajantes trouxe contribuição conceitual oumetodológica à Zoologia. Spix pertencia(Stresemann, 1951, p. 176; 1975, p. 175) àescola idealista germânica daNaturphilosophie. Publicou trabalhos dentrodessa orientação, nenhum, porém, relaciona-do com a viagem ao Brasil: o trabalho decampo modera as fantasias do homem inteli-gente.

3.2. Maximilian,Príncipe de Wied-Neuwied

Maximilian Alexander Phillip, Prinz zuWied-Neuwied (Prinz Max para os colegaszoólogos), foi um nobre da Renânia que, aos32 anos de idade, terminadas as guerrasnapoleônicas, trocou a carreira das armas pela

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vida científica. Influenciado por Humboldt,como tantos outros, decidiu empreender umaexpedição ao Brasil, recém-aberto a pesqui-sadores estrangeiros.

A expedição durou de 1815 a 1817. Sain-do do Rio de Janeiro, subiu ao longo da costaaté Ilhéus, onde cortou para o interior, nadireção de Vitória da Conquista, voltando aoRio através do estado de Minas Gerais. Entreo Rio de Janeiro e Vitória no Espírito Santocontou com a colaboração de Georg WilhelmFreyreiss e Friedrich Sellow, coletores pro-fissionais a soldo de vários museus da Euro-pa, principalmente do de Berlim (Papavero,1971, p. 58).

Wied coletou vertebrados terrestres epublicou sobre eles. Teve a particularidadede publicar muitas espécies novas no livroque escreveu sobre a viagem (Reise, 1820-21). Não se trata de descrições formais, po-rém de diagnoses curtas (nenhuma espécie,porém, é duvidosa), enriquecidas pelo con-texto geográfico e ecológico. Entre a publi-cação da Reise (1820-21) e os subseqüentestrabalhos de Wied decorreram alguns anos,durante os quais outros autores, combinados(v.i.) ou não com Wied, publicaram diversasespécies do príncipe como novas. Assim,“salvaram-se” aquelas descritas na Reise,“perderam-se” as das Beitraege (q.v.i.).

Publicou também Wied (por exemplo,1820) alguns artigos nas revistas científicasdo tempo. A massa estruturada das observa-ções, porém, foi publicada de 1825 a 1833 emum livro de quatro volumes, Beitraege zurNaturgeschichte Brasiliens, uma das maisricas e mais agradáveis obras zoológicas ja-mais escritas sobre a América do Sul. O livrofoi publicado parceladamente e acompanha-do por uma série autônoma de estampas (1822-31), “Abbildungen zur NaturgeschichteBrasiliens”, algumas das quais contêm a des-crição de espécies novas. Essas estampasconstituem um certo problema bibliográfico:não são numeradas nem datadas. Sua seqüên-cia só pode ser restabelecida acompanhandoas notícias e recensões da imprensa científicacontemporânea, especialmente a revistapublicada em Jena por Lorenz Oken, a famo-sa Isis von Oken. Algumas das pranchas deWied, como dito, são acompanhadas por um

texto, de desenvolvimento vário, às vezescontendo informações relevantes. Como sevê, a bibliografia de Wied não é simples. Opresente artigo funda-se nas Beitraege, a obrade síntese.

Abramos um parêntese para dizer que essaviagem ao Brasil, o sonho dourado do Wiedmilitar, matou nele o zoólogo. Sua convivên-cia com os índios do Espírito Santo e Bahiaacendeu uma insopitável paixão antropológi-ca. Assim que terminou a publicação dos re-sultados brasileiros, embarcou para os Esta-dos Unidos, onde realizou, de 1832 a 1834,uma longa e justamente famosa expedição decunho puramente etnográfico. Não voltou àsregiões tropicais e não voltou à zoologia.

Wied morreu aos 85 anos, em 1867, apa-rentemente lúcido e ao corrente do movimen-to científico: pouco antes de morrer, prova-velmente prevendo que os materiais seriamvendidos após a morte, preparou listas (coma sistemática atualizada) de suas coleções,que mantinha no castelo da família. Eu traba-lhei com o catálogo dos répteis: a letra é firmee legível, e não se encontram erros.

Quero começar a apreciação da influênciado príncipe por um aspecto de ordem geral,usualmente negligenciado. Ele foi um pionei-ro da zoogeografia ecológica no âmbitointracontinental. A Mata Atlântica estende-seda Paraíba (cerca de 07º30’S) ao norte do RioGrande do Sul (cerca de 30º30’S): aproxima-damente 2.500 quilômetros, 23 graus de latitu-de. É óbvio que a temperatura deve ser o fatorpredominante na distribuição das espéciesanimais, uma vez que a precipitação é unifor-memente alta (é o que permite que exista mataatlântica). Nas Beitraege Wied ocupa-sefreqüentemente dos limites latitudinais dasespécies. Diz, por exemplo (1825, p. 118) quea iguana não ultrapassa o paralelo de 14ºS, eque Enyalius catenatus (p. 136), outro lagarto,é limitado pelo paralelo de 16ºS. Não querodizer que ele tenha estudado sistematicamenteas distribuições, ou que tenha resolvido algu-ma questão corológica maior. Apenas quedemonstrou clara consciência de uma proble-mática nova para o tempo, cuja apreensão ti-nha que ser muito dificultada pelo seu sistemade trabalho, viajando para a frente e pegandopoucos bichos.

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Antes de analisar numericamente a con-tribuição de Wied à faunística do Brasil, faz-se necessária uma pequena digressão. Nãosei se o fato é conhecido fora da esfera profis-sional, mas as todo-poderosas “regras denomenclatura zoológica”, publicadas pelaInternational Commission on ZoologicalNomenclature (última edição 1985), não têmconteúdo intelectual nenhum. Muitas vezes asua aplicação agride o senso estético e o pró-prio bom senso dos pesquisadores sujeitos aelas. São, porém, indispensáveis à boa ordemda casa zoológica. É por isso que são univer-salmente adotadas, com resmungos e recla-mações (como estes), mas sem nunca ter ha-vido cisma ou dissidência. Ao contrário, nu-merosos zoólogos escrevem, sobre e em tor-no delas, trabalhos que talvez até julguem serde pesquisa.

Um dos pilares básicos das “regras” é oprincípio de prioridade, que diz que, exceptisexcipiendis, o único nome válido de toda equalquer forma animal é o mais antigo nomelegalmente aceitável, proposto após 1o de ja-neiro de 1758, data convencionada de publi-cação do Systema Naturae. Nomes são de fatoessenciais à comunicação; sua estabilidade éfundamental, e toda a ênfase da nomenclatu-ra (como o nome indica) recai sobre nomes,não sobre conceitos.

O princípio de prioridade estabeleceu-seem 1842, em um primeiro conjunto de regrasde nomenclatura proposto pelo ornitólogoinglês Hugh E. Strickland e adotado inicial-mente na Inglaterra. Foi o germe das presen-tes “regras” (Stresemann, 1951, p. 266; 1975,p. 263). Até essa época não havia consenso,e cada um agia de acordo com sua própriacabeça.

A cabeça do príncipe era caracteristica-mente liberal e generosa. Comunicava-seabertamente com colegas, trocava informa-ções e exemplares – e cada um publicava li-vremente. Este último detalhe resultou emalguma confusão. Por exemplo, Wied certavez mandou a seu amigo, o ilustre BlasiusMerrem, de Marburg, que Wied muito res-peitava na sistemática acima do nível de es-pécie, um exemplar da cobra-coral venenosada Mata Atlântica, sem dúvida chamando suaatenção sobre tratar-se de uma espécie nova

e das mais lindas. Merrem concordou, e am-bos concordaram ainda que, desde que se tra-tava de uma cobra-coral, o nome corallinuscaberia muito bem. Os dois publicaram: amesma espécie, com o mesmo nome, basea-do no mesmo exemplar, e quase na mesmadata (Roze, 1966). Um sinônimo-homônimo!Os amantes da nomenclatura vibram comesses casos; as pessoas sensatas aplicam comnaturalidade o princípio de prioridade(Merrem publicou um pouco antes e a espé-cie é atribuída a ele) e não se impressionamdemais com a autoria nomenclatural. Todosconhecem a história, todos sabem que o con-ceito original é de Wied, que foi ele quemcoletou o tipo e reconheceu, no campo, a novaespécie. Aliás, todos os pesquisadores daépoca, despreocupados de formalismoslegalistas, atribuíam a espécie a Wied. Narealidade, sobre ela, dadas as particularida-des, não poderia haver dúvida alguma a nãoser quanto à prioridade.

Quando, no começo deste século, desen-cadeou-se na nomenclatura um forte movi-mento legalista – em parte por ser realmentenecessário, em parte pela muleta psicológicaque representa para os praticantes – todosesses velhos casos foram resolvidos pelaComissão Internacional de NomenclaturaZoológica, que publicou, com abundância,suas decisões. Os nomes foram atribuídosestritamente de acordo com as “regras”, las-timando-se mas nada se fazendo em casoscomo o da cobra-coral.

Dessa exata maneira “perdeu” Wied inú-meras espécies novas, que havia comunicadoa amigos que estavam preparando obras decaráter geral, nas quais ele achava que asnovidades deveriam ser incluídas. Pelos aca-sos das datas de publicação perdeu ele espé-cies para Merrem, para Schinz e paraTemminck – espécies que ele mesmo depoispublicou como novas. Não eram novas, em-bora sem dúvida fossem dele, uma distinçãoque, já foi dito, no tempo não existia. Essassinonímias não representam incompetênciade Wied, apenas ângulos especiais de ummomento histórico. Por isso, no que segue,pensando na influência de Wied, não presta-rei atenção à autoria formal das espécies, mas,apenas, à prioridade na obtenção das cole-

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ções e no reconhecimento das formas: à parteconceitual de preferência à formal.

Considero uma vergonha que até hoje nãose haja feito no Brasil um estudo estruturadoda obra zoológica de Wied. Biografias nãofaltam (Ratzel, 1885 – a melhor; Amaral,1931; Baldus, 1941; Karl Viktor Prinz zuWied, 1954; Schaden, 1955; Rocha, 1971;Hartmann, 1975; Cascudo, 1977). Quanto àzoologia, porém, há apenas três trabalhos: asrevisões dos tipos de aves, por Allen (1889),dos tipos de mamíferos, por Avila-Pires(1965) e dos tipos de répteis e anfíbios, porVanzolini e Myers (em publicação). As espé-cies descritas na Reise, especialmente as deaves, foram identificadas e brevemente co-mentadas por Pinto na edição brasileira (1940)da obra. Uma boa análise das Beitraege, comsua imensa riqueza, porém, ainda é devida.Para este artigo tive que usar ampla e dispersaliteratura e, na realidade, não me satisfiz.

O itinerário de Wied foi analisado porBokermann (1957). As lacunas desse traba-lho foram na maior parte supridas porVanzolini (1992).

Wied passou algum tempo nas caatingasda Bahia e nos “campos gerais” (cerrados) deMinas Gerais, mas a maior parte de sua ativi-dade desenvolveu-se na Mata Atlântica, e estadeve preponderar na avaliação do seu impac-to científico.

3.2.1. Mamíferos

Na área da Mata Atlântica onde Wied co-letou ocorrem cerca de 110 espécies de mamí-feros. A sistemática de quase todos os gruposé firme, restando dúvidas (poucas) quanto amorcegos e (muitas) quanto a ratos-do-mato(família Muridae, subfamília Sigmodontinae).Excetuando os ratos (de que Wied descreveuuma espécie importante, Wiedomyspyrrhorhinus) são relevantes cerca de 80 espé-cies, das quais ele descreveu 58, o que mostraa qualidade do seu trabalho faunístico; deve-se lembrar que o único instrumento de coletaera a espingarda de carregar pela boca. Das 27espécies cujo primeiro conhecimento Wiedatribui a si mesmo, 18 são válidas: 9 são atri-buídas formalmente a ele, 6 foram “perdidas”como comentado acima, e 3 receberam dele

nomes pré-ocupados. (Como a correspondên-cia entre nome e espécie, de acordo com as“regras”, deve ser biunívoca, ou seja, um e umsó nome para cada espécie, um nome utilizadoinadvertidamente pela segunda vez no mesmogênero, dito “homônimo”, deve ser automati-camente substituído, a autoria da espécie pas-sando para o autor da substituição: é outramaneira de “perder” uma espécie.)

Nove formas descritas por Wied comonovas eram sinônimos “puros”, isto é, ele nãotinha conhecimento de que tivessem sidoanteriormente descritas e nomeadas, ou co-meteu enganos de julgamento sobre o valorde diferenças percebidas. Como de costume,Cebus apella aparece 4 vezes; outras 3 espé-cies aparecem com 2 sinônimos cada; sãocasos (Callicebus personatus e Nasua nasua)que só foram resolvidos recentemente. Restacomo engano puro o caso de 2 nomes paraNoctilio leporinus.

3.2.2. Aves

Vimos que Wied foi bom mastozoólogo;veremos abaixo que se deu bem naHerpetologia. Seu melhor campo de trabalhofoi, porém, a Ornitologia.

Joel Asaph Allen (1889), na sua revisãodos tipos de aves de Wied, conservados des-de 1870 no American Museum of NaturalHistory, em Nova York, diz:

“Maximilian, for the time in which he livedand worked, was an excellentornithologist, combining ample fieldexperience with a good technicalknowledge of his subject. He not only tookcareful measurements, and notes of thecolor of the eyes, bill and feet, etc., fromthe freshly-killed bird, but his publisheddescriptions, in respect to minuteness ofdetail and the careful discrimination ofnice points, are not excelled, and rarelyequaled, in our best modern works”.

Os volumes de aves das Beitraege cons-tituem um dos mais completos e equilibradoslevantamentos faunísticos jamais feitos. Onível técnico é superior; além dos aspectoscitados por Allen, que são pontos relevantes

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para a Sistemática, há uma riqueza de obser-vações em outros campos. Sobre a biologiadas espécies são citados dados de reprodu-ção, conteúdo estomacal, canto (expresso nopentagrama), etc. Não se trata de achadosocasionais, mas de uma filosofia de trabalho:por exemplo, Wied às vezes lamenta não terencontrado o ninho de uma determinada es-pécie, apesar de tê-lo buscado. A única coisade caráter esporádico são notas anatômicas,obviamente eventuais. Analisaremos portan-to também a contribuição de Wied preferen-cialmente sob o ponto de vista da faunística.

A sistemática de aves ainda está em evo-lução no âmbito de família e gênero. Adoteipara este estudo um esquema relativamenteconservador, que me permite usar sem gran-des traumatismos os catálogos de Pinto (1938,1944, 1978) e de Schauensee (1966). Ocupo-me apenas das aves continentais, excluindoas marinhas (sem significado regional), dasquais Wied tratou 14 espécies.

Dentro desse esquema, ocorrem na regiãotrabalhada por ele 65 famílias de aves. Des-sas deixou de coletar representantes de 4:Colymbidae, Oxyruncidae, Cyclarhidae eCompsothlypidae.

As 61 famílias coletadas por Wied variamem número de espécies presentes na região, des-de muitas famílias com apenas uma espécie, atéTyrannidae com 59. Fiz uma regressão, tomandocomo variável independente (x) o número deespécies de cada família, e como variável depen-dente (y) o número de espécies daquela famíliacoletadas por Wied. Se a amostragem fosse per-feita, cada y seria igual ao correspondente x, eteríamos uma linha reta passando pela origem(a da equação da reta, y’ = a + bx, igual a zero),com coeficiente de regressão b igual a 1 e coe-ficiente de determinação, r2, também igual a 1.Obtive uma reta, passando pela origem (a =.754 + ou – .888), mas com coeficiente de re-gressão (b = .589 + ou – .0263) significantementemenor que 1.0. O coeficiente de determinação,r2 = .8948, é muito bom. Como se vê pelo gráfi-co, duas famílias de bom porte numérico tive-ram representação completa, Accipitridae (21espécies) e Psittacidae (19 espécies). Uma fa-mília, Trochilidae, mostrou o maior déficit (12sobre 35).

Esses dados estão de acordo com as expec-

tativas. O coeficiente de regressão menor que1 indica que, quanto mais espécies contenha afamília, menor a probabilidade de ser comple-tamente representada, o que é intuitivo. Asfamílias de melhor amostragem (Accipitridaee Psittacidae) são representadas por aves cons-pícuas, grandes e bem conhecidas dos caçado-res regionais. Os beija-flores são na realidadedifíceis de coletar, especialmente com espin-garda de carregar pela boca.

Passando ao nível de espécie, Wied des-creveu nas Beitraege 444, das quais 63 (14%)das caatingas e campos da Bahia e de Minas.Incluiu portanto 381 espécies da Mata Atlân-tica. O número máximo aproximado para aárea seria de 500: ele obteve mais que 3/4 dafauna regional – um resultado excelente.

Na Reise e nas Beitraege são propostascomo novas 125 espécies, quase um terço dototal estudado. Dessas mantêm-se como váli-das 58; 59 são sinônimos claros; 8 não sãoidentificáveis, principalmente por se teremperdido os tipos (Allen, 1889).

Finalmente, consideremos o aspecto dassinonímias múltiplas, ou seja, o insucesso noreconhecimento de espécies, com a conse-qüente atribuição de mais de um nome a cadauma. Este é um indicador seguro da compe-tência do zoólogo, embora a competência deum mesmo indivíduo possa variar de grupopara grupo. Já tivemos ocasião de ver, porexemplo, quanto se iludiram os zoólogos, detodos os tempos, com a variação de pelagemdo macaco-prego, Cebus apella. No caso deWied, pode-se aprofundar um pouco mais aanálise, com base nos dados de Allen (1889)sobre os tipos sobreviventes.

Sete vezes descreveu Wied a mesma es-pécie de ave sob 2 nomes, nenhuma sob 3 oumais. Em 3 dos 7 casos foi traído por fases deplumagem ou por mudanças ontogenéticas;em 1 caso tratava-se de um albino; em 1 casoo problema era de dimorfismo sexual. Enga-no puro e simples ocorreu em 2 casos. Sobre444 espécies, uma performance admirável: oque se chama “um sistemata nato”.

3.2.3. Répteis

Ocorrem quatro espécies de tartarugasmarinhas nas costas do Brasil. Wied alista as

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quatro, mas comete um engano: sua Cheloniamydas é Caretta caretta, como se pode ver nadescrição de uma bela gravura na Reise (Wiedde roupa social e cartola, olhando a tartarugadesovar) e pelo fato de que C. mydas nãodesova no Brasil. As outras três espécies es-tão corretas.

Quanto aos cágados (Chelidae) Wied in-cluiu Emys depressa (Merrem) = Phrynopsgeoffroanus (Schweigger) e Emys radiolata(Mikan) (Acanthochelys). Faltou-lhe apenasuma espécie, Phrynops tuberculatus. Descre-veu um dos jabotis, Geochelone denticulata (L.).

O jacaré, claramente Caiman latirostris(Daudin), está mal identificado comoCrocodilus sclerops = Caiman crocodilus(L.).

No que segue não farei comparações nu-méricas, pois a Mata Atlântica é avara de seusrépteis e uma viagem como a de Wied, sem-pre para a frente, não permite boasamostragens.

A contribuição ao estudo dos lagartos éfraca. Inclui 16 nomes, representando ummáximo de 14 espécies. Hemidactylusmabouia é descrito duas vezes (Gekkoincanescens e Gekko armatus); na discussãoWied mostra ter-se convencido da individu-alidade das formas, iludido pela variação dopadrão de colorido. O macho (Anolis gracilis)e a fêmea (A. viridis) de A. punctatus sãodescritos como espécies diferentes. OCnemidophorus incluído (Teius cyanomelas)não é reconhecível, nem as duas espécies (seforem) de Mabuya, alistadas como Scincussloanei e S. striatus, ambas de Daudin. ComoGymnophthalmus quadrilineatus é apresen-tada a espécie mais tarde descrita comoMicrablepharus maximiliani (Reinhardt &Luetken). Polychrus marmoratus (L.),Enyalius pictus (Wied), Enyalius catenatus(Wied), Tropidurus torquatus (Wied),Tupinambis teguixin (L.), Ameiva ameiva (L.)e Kentropyx striata (Daudin) são apresenta-dos, às vezes sob outros nomes, mas reconhe-cíveis.

Dois anfisbenídeos são incluídos entre asserpentes: Amphisbaena punctata (Wied) =Leposternon microcephalum (Wagler) e A.flavescens = A. alba (L.).

De nível muito superior é a contribuição

ofiológica. Seis espécies de outros autoressão descritas e imediatamente reconhecíveis:Boa constrictor (L.), Boa cenchria (L.)(Epicrates), Boa aquatica (L.) = Eunectesmurinus (L.), Coluber nattereri (Mikan)(Thamnodynastes), Dipsas cenchoa (L.)(Imantodes), Crotalus horridus (Daudin) (en-gano por C. durissus ssp. – engano aliás na-tural para a época). A serpente descrita comoScytale coronata (Merrem) estava malidentificada e foi descrita mais tarde comoPseudoboa neuwiedii (Duméril, Bibron eDuméril). (Era, e ainda é costume, quandocorrigindo um colega, homenageá-lo com adedicação de um nome.)

Dezesseis espécies de cobras foram des-critas como novas e como tal se mantêm:Coluber poecilostoma (Pseustes sulphureuspoecilostoma), C. liocercus (Leptophisahaetulla liocercus), C. bicarinatus(Chironius), C. pyrrhopogon (Chironius), C.laevicollis (Chironius), C. carinicaudus(Helicops), C. plumbeus (Clelia), C.undulatus (Liophis), C. merremii (Liophismiliaris merremii), C. rabdocephalus(Xenodon), C. poecilogyrus (Liophis), C.formosus (Oxyrhopus), C. venustissimus(Erythrolamprus), Lachesis rhombeata,Cophias jararaca (Bothrops), Cophiasbilineatus (Bothrops).

Oito espécies descritas como novas reve-laram-se sinônimos: Coluber variabilis =Spilotes pullatus (L.); C. lichtensteinii =Mastigodryas bifossatus (Raddi); C.acuminatus = Oxybelis aeneus (Wagler); C.dictyodes = Liophis miliaris (L.); C. pileatuse C. herbeus, ambos Philodryas olfersii(Lichtenstein); C. saurocephalus = Xenodonseverus (L.); C. doliatus, o jovem de Liophispoecilogyrus (Wied); Elaps corallinus, sinô-nimo e homônimo de Micrurus corallinus(Merrem), como comentado acima; Elapsmarcgravii = Micrurus ibiboboca (Merrem),caso idêntico ao anterior.

Cabem aqui duas observações. Coluberaeneus só recentemente veio a substituirOxybelis acuminatus. As razões são puramen-te nomenclaturais, tendo o conceito da espé-cie se formado e aperfeiçoado em torno donome de Wied. C. doliatus, como dito, é ojovem de C. poecilogyrus; Wied desconfiou

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do caso, mas acabou cometendo sua únicadupla sinonímia em serpentes.

Finalmente, há 7 nomes de Wied cujostipos não sobreviveram e cujas descriçõesoriginais não resultaram em caracterizaçãode espécies: Coluber testaceus, C. modestus,C. collaris, C. marginatus, C. erythrogaster,Cophias holosericeus, Typhlops leucogaster.

Tive, como dito, recentemente a oportu-nidade de rever os répteis sobreviventes dacoleção de Wied no American Museum ofNatural History. É realmente impressionantea precisão das medidas e das contagens deescamas feitas por Wied e a qualidade dasilustrações, quanto aos detalhes técnicos.Reconhece-se sem a menor dificuldade qual-quer exemplar descrito nas Beitraege.

3.2.4. Anfíbios

Como se poderia esperar de uma viagempara a frente, feita antes do advento da lanter-na elétrica, a coleta de anfíbios de Wied foifraca, e ele pouco se dedicou à coleção. Nãose preocupou sequer com a citação cruzadaentre Beitraege e Reise, tão cuidada e tão útilno caso das aves.

Apenas 16 espécies são citadas, compre-endendo Mata Atlântica e regiões interiores;10 são propostas como novas. Destas, 6 per-manecem: Bufo crucifer, Hyla faber, H.crepitans, H. elegans (Scinax), Ceratophrysboiei (Proceratophrys). Os 4 sinônimos sãoBufo fuliginosus = B. ictericus (Spix); B.cinctus = B.crucifer (Wied); Ceratophrysdorsata = C. aurita (Raddi) e Rana sibilatrix= Leptodactylus fuscus (Schneider). Asinonímia entre B. cinctus e B. crucifer é aúnica sinonímia dupla de Wied em anfíbios.Em resumo, um finíssimo zoólogo.

3.3. A missão austríaca

Por ocasião do casamento de D. Pedro(futuro Primeiro) com D. Leopoldina, em1817, veio ao Brasil no séquito da noiva umaluzida comissão técnica – aliás, três luzidascomissões técnicas. Um conjunto de valorcomensurável com o da nova imperatriz.

O grupo mais numeroso, o austríaco, eraconstituído pelo naturalista tcheco Johann

Christian Mikan, pelos coletores JohannNatterer e Dominick Sochor, pelo jardineiro(encarregado da introdução de plantas vivasna Europa, uma tarefa de primeira importân-cia na época) Heinrich Schott, pelos pintoresThomas Ender, Franz Joseph Frübeck eJohann Buchberger, e pelo bibliotecário ecurador de coleções Rochus Schüch, ninguémmenos que o futuro primeiro barão deCapanema (Ramirez, 1968).

O segundo grupo, bávaro, era o já comen-tado de Spix e Martius, imensamente superi-or aos demais. O terceiro grupo constavaunicamente do naturalista italiano GiuseppeRaddi.

Empregando o critério de relevância zoo-lógica, podemos descartar de início Mikan(1820-25) e Raddi (1820, 1822). Publicaramalguns poucos trabalhos sem expressão, con-tendo espécies novas, mas sem impacto que sediga. Do ponto de vista zoológico o homemforte da expedição foi Natterer. Por 18 anoscoletou ele no Brasil quase inteiro (Vanzolini,1993) acompanhado por Sochor, até que estemorreu de malária em Mato Grosso, em 1826.Natterer continuou firme até 1835, quandovoltou (casado naturalmente com brasileira) àÁustria, para estudar seu material – uma dasmelhores e mais bem preparadas coleções ja-mais feitas no mundo. Natterer foi não só umbom taxidermista (ver exemplos de suas peçasem Schifter, 1983), mas, mais importante, foium dos introdutores de anotar-se, em uma eti-queta individual para cada espécime, localida-de, data, sexo, medidas e informações sobre acor das partes moles (Stresemann, 1975, p. 209;estranhamente não encontro este trecho nooriginal alemão; talvez se trate de umainterpolação silenciosa de G. W. de Cottrell, ocomentador da tradução de 1975.)

Natterer não viveu para descrever seusmateriais; o que publicou foi pouco e semgrande importância. Aparentemente não eratão bom no museu quanto no campo. Alémdisso, havia passado 18 anos longe da civili-zação, longe do movimento científico, justa-mente durante uma fase explosiva do conhe-cimento das avifaunas. Deve ter perdido ocontato. Morreu em 1843, tendo publicadoapenas dois trabalhos. Um, em colaboraçãocom L. Fitzinger (Natterer, 1840), sobre os

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jacarés do Brasil, lindamente ilustrado e con-tendo dados principalmente de biologia e dis-tribuição (Vanzolini, 1977, p. 60). O outrotrabalho (Natterer, 1837) versa sobre apirambola, que havia sido descrita porFitzinger (1836) com base em um exemplarcoletado por Natterer (ver também Fitzinger,1837).

Jacob Heckel (1840) publicou uma pri-meira memória (sem continuidade) sobre ospeixes fluviais de Natterer. Ocupou-se ape-nas de uma fração da coleção: 50 espécies,das quais 48 de Cichlidae, 1 de Sciaenidae e1 de Polycentridae. Quarenta e nove espéciessão descritas como novas.

É muito ilustrativo considerar o problemadas sinonímias de Heckel. Nenhuma de suasespécies é sinônimo de forma anteriormentedescrita. Por outro lado, sua sinonímia inter-na é desoladora. Duas espécies receberam 5nomes cada; duas receberam três; nove rece-beram dois nomes. Vê-se que era uma faunanova e muito individualizada, estudada porum autor inexperiente.

As localidades não eram muitas: rio Ne-gro (sem mais), Marabitanas, Manaus, RioBranco (sem mais), rio Guaporé em Vila Bela,rio Paraguai em Cáceres, Cuiabá.

Os demais peixes, os répteis e os anfíbiosdas coleções de Natterer foramparceladamente estudados por diversos auto-res, especialmente Kner (peixes) eSteindachner.

Coube a August von Pelzeln desfrutar ascoleções brasileiras de aves e mamíferos,publicando aqueles em 1868-70 e estes em1886. Os artigos de Pelzeln são compactos eproficientes; colocam ordem em um beloacervo de 12.293 peles de aproximadamente1.200 espécies. Dá ele sempre escrupulosa-mente crédito a Natterer por espécies que estetenha deixado reconhecidas em notas de cam-po. Levantou inestimáveis dados sobre os iti-nerários. Infelizmente, ao saírem os artigos,estava quebrado o fio do pioneirismo. Asfaunas já estavam bem caracterizadas; a ne-cessidade passara a ser de trabalhos de cará-ter monográfico, não-faunístico e, principal-mente, faunísticos de uma área tão grande eheterogênea quanto o Brasil. Pelzeln, indis-pensável à ornitologia brasileira, sequer é

mencionado na História da Ornitologia deErwin Stresemann (1951,1975).

3.4. Castelnau

Francis de la Porte, conde de Castelnau,misto de diplomata de carreira e naturalista,veio à América do Sul chefiando uma missãocientífica oficial do governo francês, parte dogrande ciclo de explorações geográficas em-preendido pela França. Completavam a equi-pe Émile Deville, preparador do Museu deParis e zoólogo, Eugène Osery, engenheirode minas (morto no Peru pelos índios jeberos),e Hugh A. Weddell, botânico.

O extenso itinerário (“do Rio de Janeiro aLima, e de Lima ao Pará”) teve duas fasesbrasileiras (Papavero, 1971). A primeira, entreo Rio de Janeiro, que deixaram em outubro de1843, e a entrada na Bolívia, por Casalvasco,próximo a Vila Bela da Santíssima Trindade,em fins de junho de 1845. As etapas foram: (i)do Rio de Janeiro a Belo Horizonte; (ii) aGoiás Velho; (iii) ao rio Araguaia, descendoo rio Crixás a partir da vila de Crixás, emGoiás; (iv) descendo o Araguaia até a conflu-ência com o Tocantins e subindo este atéPeixe; (v) volta por terra a Goiás Velho; (vi)a Cuiabá; (vii) descendo os rios Cuiabá eParaguai até Forte Olimpo, no Paraguai; (viii)subindo o rio Paraguai até Cáceres; (ix) a VilaBela da Santíssima Trindade; (x) porCasalvasco à Bolívia. Ao todo pouco mais devinte meses.

Na Bolívia a expedição subiu os Andesvia Potosi e Oruro até La Paz e o lago Titicaca,realizando, além dos trabalhos de histórianatural, importantes explorações arqueológi-cas pioneiras. Do altiplano boliviano segui-ram para Puno, no Peru; daí por Arequipapassaram à costa, onde separaram-se em doisgrupos; um seguiu para Lima embarcado, ooutro por terra.

De Lima seguiram para Cuzco, pelo anti-go caminho dos Incas. De Cuzco desceram orio Urubamba e, sucessivamente, o Ucayali eo Amazonas até Belém, que alcançaram emmeados de março de 1847.

Considero a reentrada em nossa área deinteresse (segunda fase brasileira) como acon-tecendo em Sarayacu, no Ucayali, importan-

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tíssima localidade-tipo da expedição (inclu-indo a vizinha Pampa del Sacramento, naestrada Pucallpa-Tingo Maria), e lugar defauna francamente amazônica; excluo destasnotas apenas o material puramente andino.Depois de uma parada em Pebas, no Solimões,pouco foi coletado até Belém, de onde a ex-pedição seguiu para as Guianas, e destas paraas Antilhas, regressando a Paris em julho de1847, gastos cerca de 49 meses no campo.

Castelnau voltou ao Brasil pouco depois,como cônsul da França em Salvador, de ondeainda mandou a Paris material herpetológico,como narrado abaixo. Aí teria ainda(Papavero, 1971) escrito a narrativa da via-gem, cujo primeiro volume foi publicado em1850. São ao todo seis volumes, os quatroprimeiros dedicados ao Brasil; o sexto, porWeddell, relata suas pesquisas, principalmen-te paleontológicas, na Bolívia.

A narrativa de Castelnau (1850-51, 1949)é precisa e minuciosa; não deixa dúvidasquanto aos lugares visitados e contém sólidainformação ecológica.

Depois de Salvador, Castelnau assumiuoutros postos consulares, na África do Sul ena Austrália, tendo publicado sobre os peixese os insetos de ambas as regiões. Morreu naAustrália em 1880.

O outro zoólogo da expedição, ÉmileDeville, após publicar alguns artigos científi-cos em Paris, voltou ao Brasil, e morreu em1853 no Rio de Janeiro, de febre amarela,moléstia que pretendia estudar (Des Murs,1855-56, p. 2).

A publicação dos resultados da expedi-ção seguiu o então novo modelo adotado pelosgrandes empreendimentos franceses, ou seja,caráter enciclopédico, com a colaboração denumerosos especialistas. (Para uma idéia maisprecisa, ver British Museum, 1904, sob“France [Voyages &c.]”.) Note-se, especial-mente (do ponto de vista do Brasil), a inclu-são, pela primeira vez, de um forte contin-gente de zoologia de invertebrados: insetos,aracnídeos, crustáceos, miriápodos, moluscose outros grupos marinhos.

Como dito, os quatro primeiros volumestratam da viagem. Há na série volumes espe-ciais sobre vues et scènes, arqueologiaincaica, geologia, geografia (inclusive iti-

nerários) e botânica. A parte da viagem re-ferente ao Brasil foi publicada pela“Brasiliana” (Castelnau, 1949) em traduçãosimples, sem comentários.

Em outubro de 1844 Castelnau havia es-crito uma carta ao ministro da Instrução Pú-blica, relatando suas viagens em Goiás, des-cendo o Araguaia e subindo o Tocantins; esserelatório foi publicado pelo Instituto Históri-co e Geográfico Brasileiro em 1866.

A proclamação da República francesa emfevereiro de 1848 e o golpe de Napoleão IIIem dezembro de 1852, com inevitável pertur-bação da ordem pública, atrasaram a publica-ção da obra. Por isso os zoólogos da equipepublicaram em revistas parte dos resultadoszoológicos: Deville (1849, 1851, 1852a,1852b); Deville e Des Murs (1849a, b);Deville e Sclater (1852); I. Geoffroy Saint-Hilaire (1850, 1851a); I. Geoffroy Saint-Hilaire e Deville (1848). Des Murs (1855-56,p. 1) queixa-se da antecipação das descriçõesoriginais de espécies.

Um detalhe é que, no tratamento conjun-to, nem sempre a ordem dos autores é a mes-ma que no título do trabalho em revista. Tam-bém Castelnau recebe freqüente crédito portrabalhos que não assinou.

Os dois volumes da obra total, publicadosem livraisons em 1855 e 1856, tinham comotítulo geral Animaux Nouveaux ou RaresRecueillis Pendant l’Expédition dans lesParties Centrales de l’Amérique du Sud, deRio de Janeiro a Lima, et de Lima au Para;Exécutée par Ordre du GouvernementFrançais Pendant les Années de 1843 a 1847,sous la Direction du Comte Francis deCastelnau. As datas das livraisons foram re-cuperadas por Sherborn e Woodward (1901),que acompanho aqui.

O primeiro volume contém os mamíferose as aves.

3.4.1. Mamíferos

Isidore Geoffroy e Deville publicaram em1848 oito novas espécies de macacos (note-se mais uma vez a ênfase da época, nos ma-cacos e morcegos). Das oito espécies sobre-vive Chiropotes albinasus, o cuxiú. Em 1850Isidore publicou mais três espécies. Uma,

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como podemos dizer, “de costume”, é sinôni-mo de Cebus apella, e duas de Saguinusfuscicollis – completando três sinônimos(double employ) de Isidore para esta espécie,que ocorre no Brasil.

Deville descreveu em 1849 um macaconovo da Bolívia, sinônimo também deSaguinus fuscicollis e em 1852 um gênero eespécie novos de roedores (Lasiusomysvillosus), sinônimo de Isothrix histriata(Wagner).

Na obra geral o tratamento dos mamífe-ros é mal organizado e confuso. Sou forçadoa dar uma tabela explicativa.

“ANIMAUX NOUVEAUX OU RARES,TOME PREMIERAnatomie (P. Gervais)

Recherches sur les mammifères fossilesde l’Amérique du Sud (P. Gervais) [apalavra ‘fossiles’ é omitida no índice].

Description ostéologique de l’Hoazin, duKamichi, du Cariama et du Savacou,suivie de remarques sur les affinitésnaturelles des oiseaux (P. Gervais).

Ostéologie de la tête du Vastrès et duMylétès (P. Gervais).

Remarques ostéologiques sur les genresBrachyure et Callitriche de la tribu dessinges américains (P. Gervais).

Anthropologie, Note explicative desplanches consacrées à l’Anthropologie (P.Gervais).

Mammifères (P. Gervais).

Primates (Isidore Geoffroy Saint-Hilaire)Documents zoologiques pour servir à lamonographie des Cheiroptères sudaméricains (P. Gervais).

Description des trois espèces de dauphinsqui vivent dans la région du haut Amazone(P. Gervais).

Sur quelques points de l’histoire

zoologique des Sarigues, et, plusparticulièrement, sur leur systèmedentaire (P. Gervais).

Description d’un nouveau genre deRongeurs, sous le nom de Lasiuromys (E.Deville).

Énumeration des principales espèces deMammifères recueillis pendantl’expédition dans les parties centrales del’Amérique du Sud (P. Gervais)”.

O trabalho de Gervais sobre mamíferosfósseis, baseado principalmente em uma belacoleção feita por Weddell, não nos concerneaqui, mas é muito bonito e importante.

As descrições do Hoazin, etc., tratando-se de aves, serão tratadas no contexto.

O “Vastrès” (pirarucu) e o “Mylétès”(pacu) são peixes e ficam também para a oca-sião.

Os gêneros Brachyurus (= Cacajao) eCallitrix (= Callicebus) são cebídeos, e asnotas de Gervais são importantes. (No índicedo volume está grafado, por engano,“Lagotriche” em vez de “Callitriche”.)

As pranchas antropológicas são de crâni-os indígenas, com exceção de uma, linda, deuma cabeça mumificada pelos índiosmundurucus. É característico do pensamentoeuropeu da época as raças indígenas seremestudadas por mamalogistas.

O capítulo de Isidore Geoffroy sobreprimatas encaixa os macacos da expediçãoem um sistema genérico baseado emcaracteres externos. Vinte e uma espécies sãoalistadas; nenhuma é descrita como nova, asnovidades já havendo sido apresentadas porGeoffroy e Deville (1848). É um trabalho semimportância.

Os “documentos zoológicos” são umpródromo da sistemática dos morcegos sul-americanos. São comentadas, em diversasprofundidades, 55 espécies, apenas 13coletadas na viagem; dessas, 4 descritas comonovas. Duas subsistem: Micronycteris minu-ta e Lasiurus ega.

No trabalho sobre botos, Gervais reco-nhece corretamente Inia geoffrensis (“ledauphin rapporté de Lisbonne”, ver acima

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Cochlearius cochlearius). São aves de posi-ção sistemática peculiar, pertencentes a gru-pos monoespecíficos, cujas relações só po-dem ser analisadas à luz da anatomia. A pró-pria consideração dos resultados parciais le-vantou problemas de ordem geral, interes-sando a todo o sistema das aves e levando amudanças e aperfeiçoamentos. Paul Gervaisera eminentemente qualificado para a tarefa(paleontólogos são tradicionalmente finososteologistas), mas o discernimento em pla-nejar e executar as coletas e preparar os ma-teriais foi obviamente dos zoólogos decampo. Não está claro quem tenha realizadoas dissecções; provavelmente Deville, que erapreparador de seu ofício. Os dados, porém,foram colocados à disposição dos sistematas,para uso eficiente.

3.4.3. Répteis

A coleção de répteis da expedição deCastelnau não é de primeira ordem, seja pelaquantidade, pela qualidade, ou pelo tratamen-to. Inclui 10 espécies de tartarugas, uma dejacaré, 26 de lagartos e 40 de serpentes. Des-sas espécies, 10 não foram coletadas durante

Alexandre Rodrigues Ferreira) e descreveduas vezes como novo o tucuxi, Sotaliafluviatilis.

O artigo sobre “sarigues” (didelphídeos)é uma excelente contribuição ao estudo dosmarsupiais sul-americanos ao nível de gê-nero.

O trabalho de Deville (já então falecido)sobre Lasiuromys é uma republicação do ar-tigo de 1852.

Finalmente, a enumeração das 11 “espé-cies importantes” coletadas é acompanhadade comentários sem grande interesse.

3.4.2. Aves

A coleção de aves de Castelnau é nume-ricamente modesta, especialmente conside-rando-se que ele viajou durante mais de qua-tro anos por mata atlântica, cerrado, panta-nal, pré-cordilheira e cordilheira andinas,costa do Pacífico e hiléia. Des Murs, o res-ponsável pela obra de conjunto em aves, alis-ta 73 espécies, das quais 62 do Brasil ou deregiões assimiladas (preponderantemente deSarayacu, no Ucayali). Parece ter havido per-das de material em viagem (Guichenot, 1855-56, p. 1).

Dessas 62 espécies 28, quase a metade,foram descritas como novas e 18 assim semantêm. Há apenas um caso de sinonímiainterna (uma mesma espécie descrita duasvezes como nova). É um resultado cientifica-mente bom, embora faunisticamente pobre.

Há, porém, na coleção e na obra deCastelnau, três aspectos não-faunísticos muitofortes: observações ecológicas, dissecçõesanatômicas, no campo, de peças frescas, ecoleção de esqueletos completos.

As observações ecológicas, incidentais edesprovidas ainda de orientação teórica, nãosão importantes em si, mas marcam uma ten-dência. Ao contrário, os estudos anatômicos,rigorosamente na escola de Cuvier, são im-portantes. Deles resultaram contribuiçõesexpressivas à sistemática acima do nível deespécie. Refiro-me aqui principalmente aoestudo sobre a cigana (“hoazin”,Opisthocomus hoatzin), a anhuma (“kami-chi”, Anhima cornuta), a seriema (“cariama”,Cariama cristata) e o arapapá (“savacou”,

Litografia do livro

Expéditions dan les

parties centrales de

l’Amerique du

Sud... , do conde de

Castelnau(Paris,

1850-59),

Biblioteca do

IEB- USP

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havido confusão com B. moojeni, que viria aser descrita muito mais tarde. No caso doLeposternon também poderia ter havido con-fusão com L. infraorbitale; o gênero é difícil.Nos demais casos, porém, não é crível que oMuseu de Paris errasse as identificações; nocaso de P. hilarii, sobretudo, há no livro umalinda prancha que não deixa dúvida sobre adeterminação, além do que o tipo está emParis. Somos obrigados a crer em confusãode localidades na coleção de Castelnau. Alémdisso, há 27 espécies (34% do total de 79)sem localidade ou (o que dá no mesmo) coma localidade vaga “Brésil”.

3.4.4. Anfíbios

Não houve publicação prévia sobre anfí-bios de Castelnau; há apenas o tratamento porGuichenot, no mesmo capítulo dos répteis.São alistadas poucas espécies (15), todascomuns e plausíveis, nenhuma nova. Não hácomentário de significância; é um capítulomuito bem ilustrado e morto.

Tenho a impressão de que, após o pontoalto representado pela Erpétologie Généralede Duméril e Bibron, este capítulo deGuichenot marca o início da decadência daherpetologia francesa no século XIX.

3.4.5. Peixes

A coleção de peixes de Castelnau, quenão foi objeto de publicação prévia, e que foitratada na obra de conjunto pelo próprioCastelnau, é tão grande que só é possível, noslimites deste trabalho, tratá-la estatisticamen-te. Aliás, isto em si já é um comentário sobrea importância do material.

São alistadas 264 espécies; 5 são de fora denossa área e 30 não consegui identificar; oscálculos abaixo são feitos sobre 229 espécies.

São descritas como novas 95 (41%), dasquais 35 (37%) consideradas correntementecomo válidas. São números consistentes comos dos grandes viajantes da época.

Os sinônimos apresentam alguns aspec-tos interessantes. Há apenas 7 espécies des-critas duas vezes e uma descrita três vezes,Geophagus brasiliensis, o acará mais comume mais amplamente distribuído do Brasil.

a viagem, mas enviadas posteriormente daBahia por Castelnau. Duas foram coletadasna Guiana, mas são aqui incluídas por teremampla distribuição no Brasil.

Guichenot (1855-56, p. 1), como dito,refere perda de materiais em viagem. Nãoentendo, porém, Castelnau ter atravessado oaltiplano da Bolívia sem fazer chegar a Parissequer um Liolaemus do grupo multiformis.

Nas publicações anteriores à obra de con-junto, quatro espécies novas haviam sidodescritas sobre materiais da viagem: Anolistransversalis (Duméril e Duméril, 1851);Apostolepis flavotorquata (Duméril, Bibrone Duméril, 1854); Bothrops castelnaudi(Duméril, Bibron e Duméril, 1854) e Bothropsalternatus (Duméril, Bibron e Duméril, 1854).Na obra de conjunto a parte herpetológicaficou a cargo de A. Guichenot, herpetologistade vôo mediano, que descreveu três espéciesnovas: Gymnodactylus (= Gonatodes)humeralis; Enyalus (= Enyalioides) laticepse Enyalus planiceps, sinônimo da anterior, eda mesma localidade.

Há alguns problemas aborrecidos. As es-pécies nominais Salvator merianae e S.nigropunctatus são explicitamente ditas ocor-rerem em simpatria em “várias localidades”brasileiras (não especificadas). Salvator é umsinônimo de Tupinambis e não há localidadebrasileira onde dois Tupinambis sejamsimpátricos.

Na realidade, há diversos outros proble-mas sérios de localidades na coleção. As lo-calidades peruanas de Pebas e Nauta são maisde uma vez atribuídas ao Brasil. Na descriçãooriginal de Bothrops castelnaudi (Duméril,Bibron e Duméril, 1854, p. 1511) é declaradoque a localidade-tipo não era conhecida;Guichenot (1855-56, p. 76) diz que o exem-plar vem de Goiás; a espécie não ocorre emGoiás. Outras espécies são assinaladas emáreas onde se sabe que não ocorrem: Platemyshilarii do rio Amazonas; Neusticurusbicarinatus de Nauta; Leposternonscutigerum do rio Araguaia; Anilius scytale eXenodon severus da Bahia; Bothrops jararacade Mato Grosso e Goiás. Essas discrepânciaspodem dever-se, no geral, a dois tipos de cau-sa: erros de identificação ou de rotulagem (mácuratoria). No caso de B. jararaca poderia ter

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ta plástico Aimé-Adrien Taunay e a rápida ecompleta deterioração mental de Langsdorff,que terminou a viagem louco e inválido.

Langsdorff, que tinha conhecido o Brasilde passagem, como membro da viagem deKrusenstern (Papavero, 1971, p. 50), conse-guiu o lugar de cônsul russo no Rio de Janeiro(falava português por ter servido como médi-co militar em Portugal) com a intenção de teracesso contínuo à natureza tropical. Chegouem 1813 e ficou, em uma primeira fase, até1820. Tinha uma confortável casa na cidadee, principalmente, uma finíssima casa de cam-po, a fazenda Mandioca, na rampa da Serrados Órgãos, em plena Mata Atlântica. Alirecebia com generosidade e em ambiente cultoos viajantes científicos que começavam aafluir ao Brasil; praticamente todos se refe-rem ao fato em suas memórias de viagem. Foina casa de Langsdorff que o príncipe de Wiedconheceu os coletores Freyreirs e Sellow(Papavero, 1971, p. 58).

Contei em Sherborn (1902) 42 nomesespecíficos homenageando Spix, 36Langsdorff, 9 Max zu Wied-Neuwied e 6Castelnau. Parece-me óbvio um forte com-ponente afetivo nas homenagens a Langsdorff,em número tão desproporcional a sua impor-tância científica.

Langsdorff ficou no Rio de Janeiro de 1813a 1820, quando voltou à Europa. Veio de novoao Brasil em 1822, saindo para umalongamente sonhada expedição em 1826,depois de diversos adiamentos e peripécias.Nesse ínterim realizou duas excursões demédia duração a Minas Gerais, seguindo aestrada real daqueles tempos, por Juiz de Forae Barbacena a Ouro Preto, capital da provín-cia. Em junho de 1826 deu a saída à expedi-ção propriamente dita.

O itinerário (Papavero, 1971) foi dos maisinteressantes, e vem descrito com muitocharme por Hercules Florence (1875-76,1929, 1941). Uma primeira fase foi de PortoFeliz em São Paulo a Cuiabá no Mato Grosso.Previamente, de Porto Feliz fizeram uma di-gressão pela estrada das tropas até Castro noParaná. Não deixaram, como bons alemães,de visitar a fábrica de ferro de Ipanema. Emseguimento, a expedição fez o velho caminhodas monções paulistas: descendo o Tietê até

Dezesseis nomes são sinônimos de es-pécies cujos tipos estavam no Museu de Paris.Penso que isso reforça a hipótese de queCastelnau não tenha escrito sua obra no museu.

Sendo esta a única coleção de Castelnauque tem interesse faunístico, é necessárioconsiderar as localidades.

No caso de peixes marinhos apenas duaslocalidades são citadas: Rio de Janeiro, o iní-cio da expedição, e Bahia, sem dúvida a faseconsular de Castelnau em Salvador. São alista-das 124 espécies, pertencentes a 14 famí-lias. Vinte são descritas como novas, 8 sãoválidas.

Quanto às localidades fluviais, o Amazo-nas é mencionado a respeito de 50 espécies,a bacia do Araguaia 47 vezes, o Ucayali (in-cluindo o Urubamba) 22 e o Tocantins 13.Houve alguma coleta de água doce na Bahia(6 espécies) e coleta ocasional em localida-des de Minas Gerais (bacias do São Franciscoe do Paraná).

Como se vê, uma contribuição fundamental.O capítulo (Gervais, 1856) sobre a anato-

mia craniana do pirarucu (Arapaima gigas) ede um pacu grande (Colossoma bidens) épuramente descritivo, sem contribuição àanatomia comparada ou à sistemática.

3.4.6. Comentário

A contribuição de Castelnau mostra trêsfaces distintas. Os mamíferos e aves têm pou-ca importância faunística, ou seja, para oconhecimento da fauna sul-americana; a con-tribuição à sistemática acima do nível de es-pécie é importante. Os peixes têm grandeimportância faunística, comparável à de Spixe Agassiz, mas não ensejaram outros tipos deestudo. Os répteis e anfíbios são medíocressob ambos aspectos.

3.5. Langsdorff

A expedição do barão alemão e cônsulrusso Georg Heinrich (ou Grigori Ivanovich,como preferiam os soviéticos) Langsdorfftornou-se notória por diversas razões, nenhu-ma delas zoológica. A história da viagem seriaaté pitoresca, não fossem dois dolorosos acon-tecimentos, a morte no campo do jovem artis-

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o Paraná, subindo este e entrando pelo Pardoaté as cabeceiras do pequeno afluenteCamapuã, passando por terra (duas léguas emeia no carro-de-boi) para as cabeceiras doCoxim e por ele abaixo, e pelo Taquari, até orio Paraguai; subindo sucessivamente este, oSão Lourenço e o Cuiabá até a cidade.

Em Cuiabá pararam dez meses, sendoempreendida uma viagem colateral porCáceres até Vila Bela da Santíssima Trinda-de. Durante esta viagem Taunay afogou-seno alto Guaporé. Riedel, que estava com ele,desceu o Guaporé e o Mamoré até o Madei-ra, para o Amazonas e Belém. O resto daexpedição, com Langsdorff, tomou de novoo caminho dos bandeirantes, descendo oPreto, a partir de Diamantino (no divisor deáguas entre as bacias do Amazonas e doPrata) e depois o Arinos, o Juruena e oTapajós até Santarém.

Havia um propósito de seguir paraManaus e subir o Negro, saindo nas Guianas(Garcia, 1922, p. 885), mas as condições desaúde de Langsdorff não permitiram. EmSantarém foi dada a expedição por termina-da, em primeiro de julho de 1828.

Langsdorff, por todos testemunhos, umhomem culturalmente muito interessante, teve(não simultaneamente) a colaboração de trêsexcelentes ilustradores, Johann MoritzRugendas, Aimé-Adrien Taunay e HerculesFlorence. As obras desses artistas, desdemanchas e esboços até retratos acabados,constituem um inapreciável documentário,social e etnográfico, daquele Brasil desco-nhecido – isso sem mencionar a fina qualida-de artística. Em 1988, a Academia de Ciênci-as da então União Soviética fez publicar essaiconografia, em três álbuns, um para cadaartista, com um excelente histórico da via-gem por Boris N. Komissarov (ver também1988) e farta bibliografia (ver, na Bibliogra-fia abaixo, Expedição Langsdorff ao Brasil,1821-1829).

A expedição contava com um astrônomo(na conjuntura com funções de geógrafo), N.G. Rubsov, que não entra na nossa história;com um botânico, Ludwig Riedel, homemmetódico e cumpridor, que coletou muito e,quando exigido, assumiu as responsabilida-des de Langsdorff enfermo; tampouco parti-

cipa da saga zoológica. Esta é a província deEdouard Ménétriès e dos ilustradores.

Ménétriès foi contratado como zoólogo daexpedição ainda na Rússia. Veio com Langsdorffao Brasil, onde, antes da expedição, trabalhoubastante nos estados do Rio de Janeiro e MinasGerais. No Rio desentendeu-se com Langsdorffe, em fevereiro de 1825 (Pinto, 1952, p. 6) vol-tou à Rússia, onde se estabeleceu até a morte.Para substituí-lo na expedição foi contratadoChristian Hasse. Este, contudo, meteu-se emcomplicações amorosas (a moça casou-se comFlorence e entroncaram uma família ilustreem Campinas) e abandonou a expedição(Garcia, 1922, p. 886). Langsdorff cruzou oBrasil sem zoólogo.

Na década de 1980, como dito, houve umcurioso e intenso esforço propagandístico dogoverno soviético, de toda maneira promo-vendo a expedição, com exposições interna-cionais, acompanhadas por combativos inte-lectuais, edição de catálogos e panfletos, cul-minando na publicação da obra acima referi-da, em três volumes (ver também Chur, 1981).A apresentação desses álbuns começa da se-guinte maneira: “A expedição Langsdorff(1821-29) representa um dos mais importan-tes acontecimentos culturais e científicos doBrasil [...]”. Zoologicamente falando, nadamais errado. Ressalvado o valor dos dese-nhos e aquarelas, o demais da expedição foium triste fracasso.

Strauch (1889) escreveu, por ocasião doqüinquagésimo aniversário, uma detalhadahistória e descrição do museu de SãoPetersburgo. Langsdorff é mencionado trêsvezes, por “valiosas” (“beträchtlich”, um ter-mo convencional) coleções de peles(“Bälgen”) de mamíferos, aves e peixes (pp.147, 172, 205). Komissarov (1988, p. 33)afirma que há no museu cerca de mil exem-plares coletados por Langsdorff. Acredito,mas o relevante no presente contexto é saberque uso foi feito desses materiais, em épocaútil, para adiantar a pesquisa zoológica.

Tanto quanto pude averiguar, foram pu-blicados dois artigos de pesquisa sobre mate-riais zoológicos de Langsdorff. Um é a revi-são das aves do grupo das Myiotherinae (en-tão na família Formicariidae) por Ménétriès(1835). O outro é um trabalho de Brandt

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O mesmo Hellmayr (1924, p. 27) descartaCuiabá como localidade-tipo de outra espé-cie de Ménétriès, Conopophagamelanogaster, e propõe que seja substituídapor “rio Madeira”. A tolice aqui é dupla. Anova localidade é de novo proposta sem dis-cussão dos eventuais indícios que a tornari-am, senão provável, ao menos aceitável.Quem desceu o Madeira foi Riedel (o resto daexpedição desceu o Tapajós); não há docu-mentação publicada de sua viagem. Não sesabe, por exemplo, sequer, se esse botânicocoletou aves. Em segundo lugar, o rio Madei-ra não é uma “localidade”: tem cerca de 1.300km de extensão. Cientistas dogmáticos, comoHellmayr, por mais competentes que sejam,acabam cometendo disparates desses.

O artigo de Brandt (1835) é heterogêneo,tanto quanto à abrangência sistemática (in-clui várias subordens de roedores) quanto àgeográfica (cobre 4 continentes). Das 17 es-pécies tratadas 11 são sul-americanas, 6 des-critas como novas. A autoria de uma delas éexplicitamente atribuída a Langsdorff, emuma carta escrita de Ipanema – que eu saibao único testemunho da competência científi-ca de Langsdorff. Essa carta não mais existe(N. Komissarov, comunicação pessoal). Umadas espécies novas é válida, a presente Galeaflavidens. Um novo gênero proposto,Holochilus, é válido, embora a espécie-tiposeja um sinônimo. Os materiaisdeclaradamente atribuídos à coleção deLangsdorff referem-se a 8 espécies. Uma éválida (a citada Galea) e uma tem situaçãocomplicada até hoje (Mus anguya, umOryzomys). Ménétriès contribuiu com umaespécie. Não é muito.

3.5.1. Comentário

Curiosamente, a literatura sobreLangsdorff é muito sectária, apaixonada emdesproporção com a importância científicada contribuição. Contudo, nem os mais exal-tados defensores (em 1985 um dosdebatedores russos quase me agrediu fisica-mente) sustentam que a expedição tenha tra-zido algum sensível progresso às ciênciasnaturais. Alguns alegam que os materiaisconservados em São Petersburgo ainda têm

(1835), diretor do museu de São Petersburgo.Em sua revisão (que abrange, na verdade,

por critérios atuais, três famílias) Ménétrièsdescreveu onze espécies novas. Seu trabalhofoi revisto por Chrostowski (1921) e Hellmayr(1924). São consideradas válidas oito dessasformas, uma excelente proporção. É óbvioque todos os exemplares vieram da coleçãode Langsdorff, mas não obrigatoriamente daexpedição propriamente dita. Muitos devemter sido coletados por Langsdorff e Ménétrièsdurante a estada do primeiro como cônsul noRio de Janeiro.

De fato, as localidades-tipo são Cuiabá (3espécies), Rio de Janeiro (2), São João delRei (1) e Minas Gerais (2), sem mais. Comexceção de Cuiabá as localidades indicamclaramente coleta anterior à expedição, du-rante a residência de Langsdorff no Rio deJaneiro.

Quanto a Cuiabá, que seria uma localida-de normal, dado que a expedição lá demoroudez meses, há problemas. Aparentemente,alguns dos exemplares atribuídos porMénétriès a essa localidade pertencem a for-mas que aí não ocorrem. Reinhardt (1870, p.366) acompanhado por Hellmayr (1924, p.204) pensa que “Cuyaba” no caso não seja acidade mato-grossense, mas uma mina de ouro“não longe” de Sabará (na realidade emCaeté), onde Langsdorff possivelmente tives-se estado. Acho essa hipótese fraquíssima.

A existirem razões ornitológicas muitofortes para duvidar da localidade-tipo, é sem-pre preferível deixá-la como duvidosa a subs-tituí-la por outra, proposta engenhosamentemas sem apoio factual, ou seja, sem referên-cia a um exemplar-tipo. Aliás, se a localidadenão fosse a cidade de Cuiabá, de todos conhe-cida, e sim uma obscura mina em outro esta-do, Ménétriès, que conhecia muito bem oBrasil, teria sido o primeiro a chamar a aten-ção para o fato.

Para mim este caso significa apenas quenão se pode ter confiança completa naetiquetagem. Ou, é claro, em Hellmayr. Fi-nalmente, esse tipo de mudança de localida-de-tipo não tem valor junto às “regras”. Lo-calidade-tipo é a localidade do tipo, e o tipoé um indivíduo físico, é um exemplar, não umconceito.

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terços das espécies ainda eram desconheci-dos da ciência. A diferença entre peixes deum lado e mamíferos e aves, do outro, é alta-mente significante (χ2 = 40.777 para 2 grausde liberdade, probabilidade menor que .001).

Quanto às localidades, as espécies assimse distribuíam: bacia do Prata, 36 (Alto Paraná,20, Alto Paraguai, 16), bacia do Amazonas(Tapajós), 9. Uma distribuição das mais pro-missoras, pois a ictiologia da alta bacia doPrata era desconhecida na época. Vemos as-sim que, pelo menos nos peixes, teria tidoLangsdorff, se ajudado pela sorte, uma boaoportunidade de contribuir para o conheci-mento da fauna brasileira.

3.5.2. Conclusão

A contribuição de Langsdorff ao conhe-cimento da fauna brasileira não está no nívelda dos demais zoólogos aqui discutidos.Amadorismo e má sorte conspiraram paraque a aventura quase nada representasse zo-ologicamente. Uma interessante liçãocolateral que se tira é que coleções têm seutempo de maturação; ultrapassado este, ovalor decai e acaba por desaparecer. A cole-ção ictiológica de Langsdorff, estudada notempo certo, poderia ter sido valiosa. Hojenão é mais; nem valor histórico tem. Há in-dícios de que a coleção de mamíferos tam-bém pudesse ter tido algum interesse. Estáigualmente ultrapassada.

Ménétriès cita localidades exatas anterio-res à expedição; Brandt não. Qual era a práti-ca da expedição ficamos sem saber, e esse éum elemento importante na avaliação daspotencialidades, especialmente tendo em vis-ta os dados geográficos de Spix, de Wied e deCastelnau.

Não sabemos o tamanho da coleção. Te-mos apenas uma lista dos exemplares dese-nhados, e não há informação sobre o destinodesses exemplares após a coleta (coleção,panela ou volta ao rio), nem sobre que por-centagem da pesca para fins de coleção elesrepresentavam. Uma coisa, porém, sabemos:por maior que seja o número de exemplaresem São Petersburgo (e não tem como ser gran-de), a coleção remanescente não passa hoje deuma curiosidade científica.

grande valor potencial para eventuais estu-dos sobre a evolução (ou depauperação) dafauna brasileira. A hipótese é remota. O pro-blema das potencialidades da expedição pode,porém, mesmo frente à magreza da publica-ção científica, ser até certo ponto analisadocom base nas aquarelas e desenhos dos ál-buns de 1988.

A qualidade e a quantidade das ilustra-ções zoológicas e botânicas indicam queLangsdorff pretendia publicar pelo menos umlivro sobre a história natural da viagem. Ostrês desenhistas ilustraram 156 espécies devertebrados, uma quantidade apreciável.Como não existe inventário do material deLangsdorff, publico (Tabela 1) a lista dos ál-buns. Dessas 156 espécies, 140 podem seridentificadas sem hesitação. Aceitando (comduas exceções estatisticamente insignifican-tes) as identificações dos álbuns, fica possí-vel verificar que importância teriam tido ascoleções, no campo da faunística, se adequa-damente estudadas.

Das 140 espécies identificáveis, 100 jáhaviam sido anteriormente descritas. Assimteria tido Langsdorff em mãos um máximo de40 espécies novas de vertebrados, quase 30%das identificáveis, uma proporção normal paraa época.

Pode-se tirar mais alguma informação dodesdobramento desses dados. A Tabela 2mostra que, como de costume, a contribuiçãodos anfíbios é mínima. Estavam esperando olampião de querosene para começar a com-parecer.

Verifica-se também como estava relati-vamente adiantada a sistemática de aves: 92%das espécies ilustradas já não eram novas.Nota-se entre elas a ausência de pequenospasseriformes: possivelmente não ofereces-sem atrativos pictóricos (pouco provável, háespécies lindas) ou fossem de mais difícilcoleta e preparação.

Os mamíferos também já estavam relativa-mente bem conhecidos na época: 83% das es-pécies já eram descritas. Não há diferença esta-tística com relação às aves (χ2 = .524 para 1 graude liberdade, probabilidade cerca de .50).

No caso dos peixes fluviais (só 4 espéciesmarinhas comuns são ilustradas, porRugendas), as proporções são inversas: dois

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Tabela 1VERTEBRADOS ILUSTRADOS PELOS DESENHISTAS DE LANGSDORFF

Peixes

Paratrygonidae Artista fig. pág.Potamotrygon cf. castexi Cast. e Yagolk., 1969 Taunay 34 35

TetragonopteridaeSchizodon isognathus Kner, 1859 Florence 47 36Leporinus obtusidens Valenciennes, 1847 Taunay 31 33Leporinus octofasciatus Steindachner, 1917 Florence 33 29Leporinus striatus Kner, 1859 Florence 36 30Abramites hypselonotus (Günther, 1868) Florence 43 34Curimatus modestus F.-Yepes, 1948 Taunay 30 32Salminus maxillosus Valenciennes, 1840 Florence 31 28Cynopotamus kincaidi Schultz, 1950 Florence 52 38Acestrorhynchus altus Menezes, 1969 Florence 44 35Acestrorhynchus lacustris Reinhardt, 1874 Taunay 33 34Boulengerella cf. lucia (Cuvier, 1817) Florence 60 40Brycon cf. hilarii (Valenciennes, 1849) Taunay 33 34Triportheus sp. Florence 43 34

ErythrinidaeHoplias malabaricus (Bloch, 1794) Taunay 29 31

SerrasalmidaeSerrasalmus nattereri (Kner, 1860) Taunay 35 36Piaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887) Florence 42 33Myloplus sp. Florence 59 40

GymnotidaeGymnotus carapo L., 1758 Florence 39 32

ApteronotidaeApteronotus sp. Florence 32 29

RhamphichthyidaeEigenmannia virescens (Valenciennes, 1847) Taunay 32 33

AgeneiosidaeAgeneiosus brevifilis (Valenciennes, 1840) Florence 49 36

DoradidaePlatydoras costatus (L., 1766) Florence 41 32

PimelodidaePimelodella sp. Taunay 37 37Pimelodus maculatus Lacépède, 1803 Taunay 30 32Pimelodus ornatus Kner, 1857 Florence 47 36Pseudopimelodus cf. zungaro (Humboldt, 1833) Florence 50 37Rhamdia sp. Taunay 27 30Hemisorubim platyrhynchus (Valenciennes, 1840) Florence 45 36Phractocephalus hemiliopterus (Schneider, 1801) Florence 58 40Pseudoplatystoma coruscans Agassiz, 1829 Florence 38 31Pseudoplatystoma fasciatum (L., 1766) Florence 45 36Steindachneridion sp. Taunay 36 36

CetopsidaePseudocetopsis sp. Florence 56 39

CallichthyidaeCallichithys callichthys (L., 1758) Florence 37 30

LoricariidaeHemiodontichthys acipenserinus (Kner, 1853) Florence 54 39Hypostomus cf. regani (R. von Ihering, 1905) Taunay 37 37Ancistrinae sp. Florence 56 39

HemiramphidaeHyporamphus sp. Rugendas 13 81

ExocoetidaeExocoetus volitans L., 1758 Rugendas 12 81

CarangidaeNaucrates ductor (L., 1758) Rugendas 10 81

CichlidaeCrenicichla cf. lepidota Heckel, 1840 Florence 35 30Crenicichla vittata Heckel, 1840 Florence 44 35

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Crenicichla sp. Florence 53 38Cichlidae indeterminado Florence 34 30

DiodontidaeChilomycterus spinosus (L., 1758) Rugendas 11 81

Anfíbios

BufonidaeBufo ocellatus Günther, 1859 Florence 62 42

LeptodactylidaeProceratophrys boiei (Wied, 1825) Rugendas 14 82

CeciliidaeSiphonops annulatus (Mikan, 1820) Florence 69 45

Répteis

ChelidaePhrynops geoffroanus (Schweigger, 1812) Florence 67 44

IguanidaeIguana iguana (L., 1758) Taunay 47 45

TeiidaeAmeiva ameiva (L., 1758) Taunay 38 38Tupinambis teguixin (L., 1758) Taunay 39 39Teiidae não identificado ? Rugendas 16 84

AnguidaeDiploglossus fasciatus (Gray, 1831) ? Rugendas 15 83Ophiodes striatus (Spix, 1824) Taunay 45 44

AmphisbaenidaeAmphisbaena alba L., 1758 Florence 72 45Leposternon microcephalum (Wagler, 1824) ? Rugendas 18 85

BoidaeEpicrates cenchria (L., 1758) Taunay 42 41Eunectes notaeus Cope, 1862 Florence 64 43

ColubridaeApostolepis assimilis (Reinhardt, 1861) Florence 68 44Apostolepis erythronota Peters, 1880 Florence 71 45Chironius bicarinatus (Wied, 1820) ? Rugendas 21 87Erythrolamprus aesculapii (L., 1758) ? Rugendas 19 86

? Rugendas 44 43Hydrodynastes gigas Duméril, Bibron eDuméril, 1854 Florence 65 43Imantodes cenchoa (L., 1758) Taunay 43 42Liophis almadensis (Wagler, 1824) Florence 70 45Liophis miliaris (L., 1758) ? Rugendas 20 86Liophis poecilogyrus (Wied, 1825) ? Rugendas 17 84

Taunay 44 43Mastigodryas bifossatus (Raddi, 1820) Taunay 41 41Oxyrhopus trigeminus Duméril, Bibron eDuméril, 1854 Taunay 44 43Spilotes pullatus (L., 1758 ) ? Rugendas 18 85

ElapidaeMicrurus corallinus (Merrem, 1820) ? Rugendas 18 85

ViperidaeBothrops jararaca (Wied, 1825) ? Rugendas 48 85Bothrops jararacussu Lacerda, 1884 Taunay 46 44Bothrops moojeni Hoge, 1966 Florence 63 42Bothrops neuwiedi Wagler, 1824 Taunay 40 40Crotalus durissus L., 1758 Florence 66 43

Aves

ArdeidaeCasmerodius albus (L., 1758) Taunay 69 59Tigrisoma lineatum (Boddaert, 1783) Florence 75 47

Florence 98 58

CiconiidaeEuxenura maguari (Gmelin, 1789) Florence 74 47

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ThreskiornithidaePhimosus infuscatus (Lichtenstein, 1823) Florence 86 52

AnhimidaeAnhima cornuta (L., 1758) Taunay 78 64Chauna torquata (Oken, 1816) Florence 85 51

AnatidaeAmazonetta brasiliensis (Gmelin, 1789) Taunay 64 55Cairina moschata (L., 1758) Florence 76 48

CathartidaeSarcoramphus papa (L., 1758) Taunay 23 27

77 63

AccipitridaeChondrohierax uncinatus (Temminck, 1822) Florence 88 53

89 53Gampsonyx swainsonii (Vigors, 1825) Florence 96 57Rosthramus sociabilis (Vieillot, 1817) Taunay 62 53

MomotidaeMomotus momota (L., 1766) Florence 24 25

Florence 77 49

BucconidaeNystalus maculatus (Gmelin, 1788) Florence 24 25

RamphastidaePteronotus castanotis Gould, 1833 Taunay 70 59Ramphastos toco P. L. S. Müller, 1776 Taunay 68 58

Taunay 76 62Ramphastos tucanus L., 1758 Florence 99 59

PicidaeDryocopus lineatus (L., 1766) Taunay 59 52Melanerpes cruentatus (Boddaert, 1783) Taunay 74 60

FurnariidaeFurnarius rufus (Gmelin, 1788) Florence 84 50Schoeniophylax phryganophila (Vieillot, 1817) Florence 87 52

FormicariidaeFormicivorus colma Boddaert, 1783 Taunay 48 46

RhinocryptidaeMelanopareia torquata (Wied, 1831) Taunay 72 59

Taunay 79 65

FalconidaeHerpetotheres cachinnans (L., 1758) Florence 94 55Milvago chimachima (Vieillot, 1816) Taunay 60 53Polyborus plancus (Müller, 1777) Taunay 55 50

CracidaeOrtalis canicollis (Wagler, 1830) Florence 81 50Penelope ochrogaster Pelzeln, 1870 Florence 82 50Penelope superciliaris Temminck, 1815 Taunay 56 50Pipile grayi (Pelzeln, 1879) Florence 79 49

PhasianidaeOdontophorus capueira (Spix, 1825) Taunay 56 50

RallidaeMicropygia schomburgkii (Schomburgk, 1848) Taunay 71 59

Taunay 79 85Porphyrula martinica (L., 1758) Taunay 61 53

HeliornithidaeHeliornis fulica (Boddaert, 1780) Florence 80 49

CharadriidaeVanellus chilensis (Molina, 1782) Taunay 63 54

RynchopidaeRynchops nigra L., 1758 Florence 73 46

Florence 97 58

ColumbidaeColumba speciosa Gmelin, 1789 Florence 93 54Uropelia campestris (Spix, 1825) Florence 95 56

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PsittacidaeAnodorhynchus hyacinthinus (Latham, 1790) Florence 83 50Brotogeris sp. Taunay 65 66Pionus maximiliani (Kuhl, 1820) Florence 78 49

TytonidaeTyto alba (Scopoli, 1769) Florence 90 54

Taunay 67 57

StrigidaeOtus choliba (Vieillot, 1817) Taunay 57 51Speotyto cunicularia (Molina, 1782) Taunay 58 51

TrochilidaeLophornis magnifica (Vieillot, 1817) Taunay 54 49

AlcedinidaeChloroceryle inda (L., 1766) Florence 91 54

CotingidaeCephalopterus ornatus Et. Geoffroy, 1809Procnias nudicollis (Vieillot, 1817) Taunay 53 49

TyrannidaePyrocephalus rubinus (Boddaert, 1783) Taunay 52 49

ThraupidaeStephanophorus diadematus (Temminck, 1823) Taunay 49 47Tangara peruviana (Desmarest, 1806) Taunay 50 48

Mamíferos

DidelphidaeCaluromys philander (L., 1758) Rugendas 23 89Chironectes minimus (Zimmermann, 1780) Rugendas 22 88Didelphis albiventris Lund, 1840 Taunay 89 72Didelphis aurita Wied, 1826 ? Rugendas 28 93Gracilinanus microtarsus (Wagner, 1842) Taunay 82 67Monodelphis domestica (Wagner, 1842) Florence 102 60Philander opossum (L., 1758) Taunay 90 73

DasypodidaeCabassous tatouay (Desmarest, 1804) Taunay 86 70Dasypus novemcinctus L., 1758 ? Rugendas 24 90

PhyllostomidaeArtibeus lituratus (Olfers, 1818) Florence 103 61Chiroderma doriae Thomas, 1891 ? Rugendas 29 95Platyrrhinus lineatus (Et. Geoffroy, 1810) Taunay 83 68

CallithrichidaeCallithrix argentata (L., 1771) Taunay 91 75Callithrix aurita (Et. Geoffroy, 1812) Rugendas 9 79

Rugendas 32 96Callithrix geoffroyi (Humboldt, 1812) Rugendas 33 97

CebidaeAlouatta fusca (Et. Geoffroy, 1812) Taunay 87 71

Taunay 88 71Cebus albifrons (Humboldt, 1812) Taunay 92 75

CanidaeCerdocyon thous (L., 1766) Florence 104 61

FelidaePanthera onca (L., 1758) Florence 101 60

ProcyonidaeNasua nasua

CervidaeMazama sp. Taunay 84 69Ozotocerus bezoarticus (L., 1758) Florence 100 60

DasyproctidaeDasyprocta azarae Lichtenstein, 1823 Taunay 81 67

EchimyidaeEuryzygomatomys spinosus (G. Fischer, 1814) Taunay 85 69

LeporidaeSylvilagus brasiliensis (L., 1758) Taunay 80 67

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Tabela 2 ESPÉCIES IDENTIFICÁVEIS DE VERTEBRADOS REPRESENTADAS NOS ÁLBUNS DE LANGSDORFF:

ÉPOCA DE DESCRIÇÃO

Antes de 1830 Depois de 1830

Peixes fluviais 9 (28.1%) 23 (71.9%) 32

Anfíbio 2 1 3

Répteis 20 (71.4) 8 (26.6) 28

Aves 46 (92.0) 4 (8.0) 50

Mamíferos 20 (83.3) 4 (16.7) 24

97 (70.8) 40 (29.2) 137

extensão territorial possível, dividiu sua equi-pe em subgrupos e distribuiu-os pelo país(Dick, 1977). Ficaram no campo até meadosde 1866, cerca de 14 meses ao todo.

O grosso das coleções foi conseguido naAmazônia, com total preponderância dospeixes, único grupo a que Agassiz se dedi-cou. Não se coletaram aves nem mamíferos:o preparador da expedição era fraco, os assis-tentes tinham tarefas e interesses próprios.Não havia no grupo um botânico, e não hápraticamente notas ecológicas, apenas obser-vações casuais de Agassiz, que via por todolado vestígios de recentes glaciações (um doserros mais egrégios da pesquisa no Brasil).

A meu ver, nunca zoólogo nenhum teveas condições de trabalho de que gozouAgassiz. Previamente avisados pela corte, osgrandes fazendeiros faziam construir tanquese estocá-los com os peixes da região. Hospe-davam a expedição. Agassiz escolhia osexemplares e seu artista, James Burkhardt,desenhava-os vivos. Essas aquarelas inédi-tas, da melhor qualidade, adornam hoje asparedes da diretoria do MCZ.

Na Amazônia, onde não havia fazendei-ros ricos desejosos de agradar o imperador,teve Agassiz o concurso de um extraordiná-rio oficial brasileiro, o major de engenheirosJoão Martins da Silva Coutinho. Vaqueano,pois tinha desempenhado missões militaresna Amazônia (Garcia, 1922, p. 897), experi-ente, fino, dedicado, era um gerente ideal ecompanheiro de viagem ainda melhor. OsAgassiz referem-se a ele na narrativa da via-gem com muito carinho.

Uma digressão. A narrativa é assinadapelo casal (Agassiz e Agassiz, 1868), mas foi

3.6. Agassiz

O encontro de Louis Agassiz e D. PedroII foi uma convergência: um imperador queamava a intimidade dos sábios, e um sábioque amava a intimidade dos imperadores(pelo menos, dos ricos).

Agassiz, suíço-francês, começou a vidacomo geólogo, especificamente comoglaciologista: ganhou rapidamente reputaçãopor estudos pioneiros sobre as glaciações al-pinas. Ainda muito jovem fez os peixes daexpedição bávara, com o brilho que se sabe.A seguir publicou, entre 1833 e 1843, umtratado fundamental sobre peixes fósseis. Em1850 emigrou para os Estados Unidos, ondefundou, na Universidade de Harvard, oMuseum of Comparative Zoology (MCZ)que, apesar do nome sem sentido, foi e é umainstituição muito importante.

Agassiz era um conferencista abundantee apreciado. Tinha vida social intensa e man-tinha relações pessoais com os grandes dapolítica e, especialmente, das finanças. Des-de o tempo em que, muito jovem, com seus20 anos, estudara a coleção de Spix, acalen-tava o sonho de vir ao Brasil fazer pesquisaictiológica de primeira mão. Acabou pormontar uma expedição, custeada pelo milio-nário Nathaniel Thayer (o nome oficial era“Thayer Expedition to Brazil”) e contandocom entusiástico endosso de D. Pedro II. Veioem 1865.

Trouxe consigo um grupo de assistentesjovens e ainda inexperientes. (Alguns saírampara a fama, como o grande geólogo FrederickC. Hartt; os demais tiveram desempenhomenor.) Com a intenção de cobrir a maior

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obviamente escrita pela mulher, ElisabethCary Agassiz, intelectual de seu próprio di-reito, fundadora do famoso e pioneiroRadcliffe College para moças, hoje fundidocom a Universidade de Harvard. É uma nar-rativa clara, singela, simpática, mas tambémalgo turística e muito convencional. É umestilo que não satisfaz o biólogo: quer-se algocom mais carne e sangue, e cheiro de chão.Por isso havia entre os zoólogos brasileirosum grande desejo de descobrir o “baú” domajor Coutinho – seu arquivo pessoal, prova-velmente contendo diários ou notas de cam-po, que se previam francos e interessantes.

Na década de 80 o baú foi descoberto, e afamília, generosamente, permitiu a publica-ção do inventário (ver, na bibliografia, Inven-tário...). Foi uma terrível decepção. Não ha-via uma única nota sobre a expedição; em vez,farto material sobre estradas de ferro, aparen-temente uma paixão do major. A Amazôniafora apenas “missão cumprida”.

Como dito, os assistentes de Agassiz eraminexperientes – aliás, ele também era. As co-leções, por motivos que nunca me foram ex-plicados, foram recebidas e desempacotadasno museu, em Cambridge, Massachusetts, por

um grupo de estudantes de Teologia. Diz atradição oral no MCZ que nessa ocasião fo-ram cometidas grandes barbaridades quantoà rotulagem dos exemplares.

Incorporada à seção de Ictiologia do MCZ,a coleção nunca foi estudada como um todo.Apenas uso eventual, tardio e pouco, foi feitode seus exemplares (por exemplo, Garman,1913; Eigenmann, 1917). Na verdade, sómuito recentemente o material recebeucuradoria adequada. Quando eu era aluno depós-graduação no MCZ, o diretor do museue meu orientador de tese, dr. A. S. Romer,contratou-me para dar um primeiro trato àslocalidades de Agassiz. Fiquei horrorizado,mas também fascinado. Havia, por exemplo,e entre muitos, um registro “Sarruarruhaia”;alguém escreveu “samambaia” com caligra-fia angulosa, e o seminarista interpretou.

Como as coleções de Langsdorff, não ten-do sido objeto de um estudo firme, que lhemarcasse a personalidade, a coleção de pei-xes de Agassiz tem hoje o mesmo valor quequalquer material avulso daquele tempo. Dasregiões visitadas existem agora coleções bempreparadas e bem documentadas. A “ThayerExpedition”, apesar de Agassiz e de D. PedroII, perdeu a vez na história.

4. CONCLUSÃO

A extensão e a duração das viagens dosprimeiros naturalistas, compensando as defi-ciências técnicas da época, resultaram em umasedimentação relativamente rápida do conhe-cimento da fauna brasileira. Por volta do ter-ceiro quarto do século XIX os vertebrados doBrasil estavam melhor cadastrados do que,por exemplo, os dos Estados Unidos. A im-portância dos viajantes para a Zoologia emnível global foi das maiores.

Esse conhecimento não trouxe, porém,contribuição direta ao país. Não havia sequergerme de história natural, e esses materiaiscarreados para fora saíram da circulação cul-tural do Brasil. A zoologia brasileira veio aestabelecer-se no começo do século XX, fun-dada nos “Catálogos do Museu Britânico” –que devidamente incorporavam a contribui-ção dos viajantes, diluída, porém, no trata-mento catalográfico.

Jacques Burkhardt,

“Peixes

Brasileiros”,

aquarelas sobre

papel(1868),

Museum of

Comparative

Zoology, Harvard

University,

Cambridge

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Hübschmann. 1824a, Vol. 1: (8) + 90 p., 91 pls.; Vol. 2: (4) + 85 p., 109 pls.———. Animalia nova sive species novae Testudinum et Ranarum quas in itinere per Brasiliamannis MDCCCXVII-MDCCCXX jussu et auspiciis Maximiliani Josephi I. Bavariae Regis susceptocollegit et descripsit Dr. J. B. de Spix. Monachii, Franc. Seraph. Hübschmann, 1824b, 53 p., 17 +22 pls.———. Serpentum Brasiliensium species novae ou Histoire Naturelle des Serpens, recueillies etobservées pendant le voyage dans l’intérieur du Brésil dans les années 1817, 1818, 1819, 1820,exécuté par ordre de Sa Magesté le Roi de Bavière, publiée par Jean de Spix, écrite d’après lesnotes du voyageur par Jean Wagler. Monachii, Franc. Seraph. Hübschmann, 1824c, viii + 75 p., 26pls.———. Animalia nova sive species novae Lacertarum quas in itinere per Brasiliam annisMDCCCXVII-MDCCCXX jussu et auspiciis Maximiliani Josephi I. Bavierae Regis sucepto collegitet descripsit Dr. J. B. de Spix. Leipsig, T. O. Weigel, 1825, 26 p., 28 pls.———. Selecta genera et species Piscium quos in itinere per Brasiliam annis MDCCCXVII-MDCCCXX jussu et auspiciis Maximiliani Josephi I. Bavariae Regis Augustissimi peracto collegitet pingendos curavit Dr. J. B. de Spix, digessit, descripsit et observationibus anatomicis illustravitDr. L. Agassiz, praefactus est et edidit itineris socius Dr. C. F. Ph de Martius. Monachii, C. Wolf,1829, xvi + ii + 136 p., pls 1-76, A-F.———. Species novae Ranarum quas in itinere annis MDCCCXVII-MDCCCXX per Brasiliamjussu et auspiciis Maximiliani Josephi I. Bavariae Regis Augustissimi suscepto collegit et descripsitDr. Joannes Bapt. de Spix. Operis a Spixio anno MDCCCXXIV primum editi tabulas revisit, denuoimprimendas et emendatis coloribus imbuendas curavit Dr. Car. Frid. Phil. de Martius. Monachii,Impensis Editoris, 1840a, 29 p., 22 pls.———. Species novae Testudinum quas in itinere annis MDCCCXVII-MDCCCXX per Brasiliamjussu et auspiciis Maximiliani Josephi I. Bavariae Regis Augustissimi suscepto collegit at descripsitDr. Joannes Bapt. de Spix. Operis a Spixio anno MDCCCXXIV primum editi tabulas revisit, denuoimprimendas et emendatis coloribus imbuendas curavit Dr. Car. Frid. Phil. de Martius. Monachii,Impensis Editoris, 1840b, 24 p., 17 pls.

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