1579 vygotskyeaeducacaoespecial
-
Upload
rodrigo-de -
Category
Documents
-
view
50 -
download
0
Transcript of 1579 vygotskyeaeducacaoespecial
A EDUCAÇÃO ESPECIAL NA CONCEPÇÃO
VYGOTSKYANA
Tania Mara Zancanaro PieczkowskiUNOCHAPECÓ
Incluir é promover aprendizagens significativas
“Prezados Senhores, Meu irmão Daryl, 18 anos, portador de deficiência
mentalsevera, freqüenta escola há doze anos. Nunca foi
atendidoem nenhum outro ambiente.
Recebe há vários anos atendimento no ensino especial e tem
aprendido a fazer muitas coisas! Daryl pode agora, fazer muitas coisas que antes não
conseguia: pode colocar 100 pinos num tabuleiro em menos de
dezMinutos, com 95% de exatidão; porém não consegue
colocarmoedas na máquina de refrigerantes;
diante de instrução verbal, pode tocar o nariz, o ombro, o pé, os cabelos, a orelha; porém não consegue assoar o nariz quando necessário;
pode armar um quebra-cabeça de 12 peças com 100% de
precisão e colorir um desenho sobre a páscoa dentro dolimites; porém prefere música, mas nunca o ensinaram
a usarum rádio de pilhas ou um toca disco;
pode dobrar papéis em 4 partes iguais; porém não consegue
dobrar sua roupa; pode ordenar blocos de papel por cor em dez cores
diferentes; porém não consegue separar a roupa branca da roupa colorida para lavar;
pode fazer bonitos trabalhos com argila; porém não pode
amassar a massa de pão e fazer biscoito; pode enfiar contas coloridas alternadamente num fio,
conforme o modelo apresentado num cartão, porém, não
consegue amarrar os seus próprios sapatos;
pode repetir o alfabeto e dizer o nome das letras quando
lhe é pedido; porém não consegue distinguir o banheiromasculino do feminino quando vamos ao McDonald’s;
pode responder se um dia está nublado e até desenhar no
quadro uma nuvem cinza; porém sai na chuva sem um abrigo ou
guarda-chuva; pode contar até 100; porém não consegue contar o
dinheiropara pagar o cachorro-quente;
pode sentar-se num círculo com comportamento adequado e
cantar canções infantis; porém, nada mais próprio de sua
idade é capaz de fazer;
Espero sinceramente, que alguém que se encontre na mesma
situação de Daryl, tenha tido a oportunidade de aprender
coisas diferentes.Lewis, P. (1987).
Carta endereçada para o Centro de Educação Especial Ann
Sullivann, em Lima no Peru, de um irmão de um rapaz com
deficiência mental.
CORDE/ 2002
O AUTOR
AFIRMA QUE
A DEFICIÊNCIA NÃO É TANTO DE CARÁTER BIOLÓGICO COMO
SOCIAL.
UMA CRIANÇA CUJO DESENVOLVIMENTO ESTÁ
COMPLICADO POR UM “DEFEITO”, NÃO É SIMPLESMENTE MENOS
DESENVOLVIDA QUE AS CRIANÇAS NORMAIS DA SUA IDADE, MAS É
UMA CRIANÇA QUE SE DESENVOLVE DE OUTRO MODO.
QUALQUER DEFEITO ORIGINA ESTÍMULOS PARA FORMAR A COMPENSAÇÃO. SE ALGUM ÓRGÃO,
POR UMA DEFICIÊNCIA FUNCIONAL OU MORFOLÓGICA, NÃO CUMPRE POR COMPLETO SUAS FUNÇÕES, ENTÃO O SISTEMA NERVOSO CENTRAL E O APARATO PSÍQUICO DO HOMEM
ASSUMEM A TAREFA DE COMPENSAR O FUNCIONAMENTO DEFICIENTE DO ÓRGÃO.
LER COM OS OLHOS E LER COM AS MÃOS SÃO PROCESSOS PSICOLÓGIOS DIFERENTES, APESAR
DE CUMPRIR A MESMA FUNÇÃO CULTURAL.
A CRIANÇA CEGA OU SURDA PODE ALCANÇAR TUDO O QUE ALCANÇA
A CRIANÇA NORMAL, MAS POR VIAS DIFERENTES. NO ENTANTO,
TAMBÉM AS CRIANÇAS “NORMAIS”, COM MUITA FREQÜÊNCIA NÃO PÕEM EM PRÁTICA DURANTE A
EDUCAÇÃO TODAS AS SUAS POSSIBILIDADES.
A EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS COM “DEFEITO” ESTÁ DEBILITADA PELAS
TENDÊNCIAS DA LÁSTIMA E DA FILANTROPIA.
APESAR DOS MÉRITOS, A ESCOLA ESPECIAL ENCERRA SEU EDUCANDO
( cego, surdo, deficiente mental), NO ESTREITO CÍRCULO DO COLETIVO
ESCOLAR, CRIA UM MUNDO PEQUENO, SEPARADO E ISOLADO, EM QUE TUDO ESTÁ ADAPTADO E ACOMODADO AO
“DEFEITO” DA CRIANÇA.
NOSSA ESCOLA ESPECIAL TEM CONVERTIDO A CRIANÇA EM UMA
VÍTIMA DA CEGUEIRA, DA SURDEZ, DA DEFICIÊNCIA FÍSICA OU MENTAL,... A
ESCOLA NÃO TEM NOTADO AS EFICIÊNCIAS DA CRIANÇA. ISTO, ELA RECEBEU DE HERANÇA DA ESCOLA
ESPECIAL EUROPÉIA, A QUAL, É POR INTEIRO BURGUESA, FILANTRÓPICA E RELIGIOSA. AFIRMA: “um ponto do sistema braille tem feito mais pelos
cegos do que milhares de filântropos”.
É IMPORTANTE CONHECER NÃO SÓ O DEFEITO QUE TEM AFETADO UMA CRIANÇA, MAS QUE CRIANÇA TEM TAL DEFEITO, OU SEJA, QUE LUGAR OCUPA A DEFICIÊNCIA NO
SISTEMA DA PERSONALIDADE, QUE TIPO DE REORGANIZAÇÃO
OCORRE, COMO A CRIANÇA DOMINA SUA DFICIÊNCIA.
A ESCOLA TEM SEGUIDO A LINHA DA MENOR RESISTÊNCIA, ACOMODANDO-SE E ADAPTANDO-SE AO “RETARDO”
DA CRIANÇA. COMO A CRIANÇA RETARDADA MENTAL APESENTA DIFICULDADES PARA DOMINAR O RACIOCÍNIO ABSTRATO, A ESCOLA
EXCLUI DO SEU TRABALHO TUDO O QUE EXIGE O ESFORÇO DO PENSAMENTO
ABSTRATO E FUNDAMENTA SEU ENSINO NO CARÁTER CONCRETO E NA
VISUALIZAÇÃO.
AO TRABALHAR EXCLUSIVAMENTE COM
REPRESENTAÇÕES CONCRETAS E VISUAIS, FREIAMOS E
DIFICULTAMOS O DESENVOLVIMENTO DO
PENSAMENTO ABSTATO, CUJAS FUNÇÕES NÃO PODEM SER
SUBSTITUÍDAS POR NENHUM PROCEDIMENTO VISUAL.
A TAREFA DA ESCOLA CONSISTE EM NÃO ADAPTAR-
SE AO DEFEITO, MAS EM VENCÊ-LO. A CRIANÇA
“RETARDADA MENTAL” PRECISA, MAIS QUE A
CRIANÇA NORMAL, QUE A ESCOLA DESENVOLVA OS
GÉRMENS DO PENSAMENTO.
O DESENVOLVIMENTO DAS FUNÇÕES PSICOLÓGICAS
SUPERIORES TEM ORIGEM SOCIAL,
TANTO NA FILOGÊNESE COMO NA ONTOGÊNESE.
A PEDAGOGIA ANTIGA LIMITOU A CRIANÇA “RETARDADA MENTAL”
QUANTO AO SEU DESENVOLVIMENTO. APLICOU MÉTODOS DE TREINAMENTO
SENSÓRIO-MOTOR, TREINAMENTO DOS OLHOS, DOS OUVIDOS, DA
DIFERENCIAÇÃO DAS CORES, ... OS RESULTADOS DESTES TREINAMENTOS
SÃO POBRES. AS INVESTIGAÇÕES TEÓRICAS E EXPERIMENTAIS
MOSTRARAM QUE O OLFATO, POR EXEMPLO, SE DESENVOLVE MUITO
POUCO. JÁ AS FUNÇÕES SUPERIORES E OS PROCESSOS SUPERIORES SÃO
EDUCÁVEIS.
[...] desde os primeiros anos de vida a criança que apresenta uma deficiência ocupa uma certa posição social especial, e as suas relações com
o mundo começam a transcorrer de maneira diferente das que envolvem as crianças
normais. Junto com as características biológicas (núcleo primário da deficiência), começa a
constituir-se um núcleo secundário, formado pelas relações sociais. As interações que
constituem o núcleo secundário são responsáveis pelo desenvolvimento das funções
especificamente humanas e surgem das transformações das funções elementares
(biológicas). Isso é possível porque a criança interage com um mundo mediado por signos e
vai transformando as relações interpsicológicas em intrapsicológicas (VYGOTSKY,apud
MONTEIRO 1998, p.74).
REFERÊNCIAS
MONTEIRO, Mariângela da Silva. A educação especial na perspectiva de Vygotsky. in Vygotsky:
um século depois. FREITAS, Maria Teresa de Assunção (Org). Juiz de Fora: EDUFJF, 1998.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
_________. Fundamentos da Defectologia: obras completas, tomo V. Ciudad de La Habana:
Pueblo y Educación, 1989. (síntese da obra elaborada por rosalba m. c. garcia, da ufsc-1997).