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EstânciaPlanaltina

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Biblioteca Vinicius de Moraes: local de referência para as ações pedagógicas

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s alunos da Escola Classe Estância de Planaltina nem precisam to-mar o famoso pó de pirlimpimpim para viajar pela Grécia Antiga com os personagens do Sítio do Picapau Amarelo. Todos os dias eles têm um pon-to de embarque certo na Biblioteca Vinicius de Moraes, onde escolhem os roteiros e saem pelo Brasil e mundo afora. Muitos já chegam lá com o destino definido. “Eu gosto mesmo é dos livros do Monteiro Lobato”, conta o pequeno campeão de leitura da escola, Rodrigo Lima de Oliveira, que se embrenhou nas aventuras de Pedrinho, Emília e do Visconde pelos mistérios da humanidade e só larga o autor preferido para pegar as histó-rias da Turma da Mônica. “Acho bem interessantes os contos dele sobre a Grécia, porque explicam o que é mitologia, como é a história da Medusa” [que tinha os cabelos de serpentes e o poder de transformar quem a olhava

Biblioteca Vinicius de MoraesEscola Classe Estância de Planaltina

Localizada em região de alta vulnerabilidade, a biblioteca se tornou essencial para que a escola

possa investir na qualidade da educação e em ações que integram aluno e comunidade[ ]

– Vou mandar o Visconde fabricar o pó de pirlimpimpim necessário. (...)Pedrinho explicou ao Visconde os seus planos de nova viagem pelos tempos heróicos da Grécia Antiga. – Vamos nós três, eu, você e Emília.– Emília já sabe do projeto?– Já, e está atropelando tia Nastácia para que lhe arrume uma canastrinha nova. Diz que desta vez vai completar o seu museu com mil coisas gregas.

(Os doze trabalhos de Hércules, de Monteiro Lobato)

Liberdade para

O

viajar

Aproximação: aberta à comunidade, a biblioteca

ajudou a criar uma aliança com os moradores

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em pedra, diz a lenda]. O menino pega, em média, três títulos por mês e já levou Os doze trabalhos de Hércules para casa duas vezes. “É muito legal. Eu não sabia o que eram esses doze trabalhos, agora já sei, já posso dizer.”

Quando o assunto é leitura e biblioteca, a palavra “saber” é presença certa nas observações de Rodrigo. Para o pequeno campeão, o que importa é o conhecimento que aqueles títulos diferentes espalhados pelas estantes coloridas podem lhe dar. Com apenas nove anos, Rodrigo já revela uma preocupação de adulto: não deixar as perguntas que lhe fazem sem res-posta. Também já entendeu que ler muito e sempre é o caminho para ser preparado como o Visconde de Sabugosa, o personagem do Sítio que sabe tudo e foi descrito pela espevitada Emília como “um sabugo de milho que em vez de ter grãos de milho por fora, tem grãos de ciência por dentro”.

“Alguma pessoa na vida um dia vai me perguntar quem é o Minotauro (o monstro da ilha grega de Creta, metade homem, metade touro) e eu tenho que saber responder. Não posso ficar parado, pensando, pensando, e aí dizer ‘eu não sei o que é’. Por isso é muito importante ler, sim”, explica Rodrigo. Aluno do terceiro ano, ele diz que a leitura também “facilita para a redação” e se orgulha por se destacar na matéria preferida, o português. “Sou o primeiro a terminar e sempre acerto quase tudo.”

Curioso e também esforçado, Vitor não se aperta quando esbarra em alguma palavra difícil que o sábio Visconde não havia sido convocado para explicar nos livros do Monteiro Lobato. “Olho no dicionário e, quando não encontro, pergunto pra alguma pessoa e depois vejo com a professora se está correto ou não.” O mesmo faz a sorridente Giulia Ferreira, do terceiro ano, que já no segundo se acostumou a levar livros para casa e a pesquisar as palavras desconhecidas.

O sorriso da menina se abre quando ela aponta, sem hesitar, as histórias preferidas. Mais uma vez, quem domina a cena é Monteiro Lobato. “São as da Emília, porque ela é uma boneca de pano que engoliu uma pílula e adora falar”, diz Giulia, que lê com desenvoltura e uma entonação sur-preendente. Alegre como ela, a colega de turma Isabela Silva também faz bonito com a segurança na leitura e o sorriso espontâneo na hora de contar por que, sempre que pode, corre para a biblioteca. “Ah, venho aqui todo dia, porque é uma forma de aprendizado, eu pego e levo pra casa”, revela. “Mas só gosto de livro grande.”

Isabela nasceu na vizinha região de Sobradinho, como Giulia, e tem apenas um irmão de dezoito anos, “já casado”. Na família, é a única que tem o hábito de ler. As duas amigas e Rodrigo estão entre os 22% de mo-radores de Planaltina na faixa de zero a catorze anos de idade. Na cidade

de 189.412 habitantes, o percentual de mulheres, 51,10%, supera o de ho-mens, 48,90%, e a renda per capita é de 1,19 salário mínimo, como apurou a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD 2015), da Compa-nhia de Desenvolvimento do Planalto Central (Codeplan).

Falante como a boneca Emília, Giulia explica que lê devagar, “para aprender”, e que faz anotações sobre o livro, mesmo se a professora não pedir. “Quando chego em casa, leio e aí eu mesma faço as perguntas e vou anotando no caderno.” E ela não conta só com o acervo da biblioteca. “Meu pai compra pra mim. Peço sempre livros de contos e não gosto dos peque-nininhos, porque termino muito rápido.”

O suporte da família para ampliar o universo de leitura da menina é uma das exceções entre os alunos da escola, localizada no bairro Condomí-nio Estância Planaltina, que surgiu do loteamento irregular de uma fazen-da e cresceu desordenadamente, sem planejamento, nos anos 1980. Sem infraestrutura e equipamentos públicos, os moradores eram obrigados a tirar água de poço e a usar velas ou lamparinas no lugar da luz elétrica, que só foi instalada em 1992.

As primeiras salas de aula começaram a funcionar em 1986, improvisa-das em um galpão da comunidade, e dois anos depois foram transferidas para a capela Santa Luzia, da Paróquia São Sebastião, instalada na região. A escola classe só foi inaugurada mesmo em dezembro de 1993. Para cons-truir o projeto educacional adotado pela escola no período de 2014 a 2016, a equipe se debruçou sobre essa realidade. Levou à prática a lição de que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”, deixada pelo mestre Paulo Freire, e ouviu a comunidade.

As entrevistas eram o caminho para atender melhor as crianças “de di-ferentes níveis”, num contexto, segundo o projeto educacional, em que “os filhos, por vários motivos, não têm os pais presentes no seu dia a dia ou até mesmo em suas vidas, acarretando com isso dificuldades no processo en-sino-aprendizagem”. Quando saem da escola, à tardinha, aponta o projeto, muitas crianças ficam com parentes, amigos ou vizinhos, “sem o acompa-nhamento e educação familiar adequada nem os pré-requisitos essenciais para seu desempenho escolar e social como ser humano”.

A maioria das famílias é formada por mãe e filhos, com renda em torno de um salário mínimo. As situações de desestruturação familiar (a maioria por desemprego, baixa renda e quadros como violência doméstica e alcoo-lismo) transformaram a escola no espaço que se impunha para agregar as crianças. E foi na própria comunidade que o desafio de construir o futuro pelo conhecimento ganhou um importante aliado. Na pesquisa, os profes-

Alguma pessoa um dia vai me perguntar quem é o Minotauro e eu tenho que saber responder. Não posso ficar parado, pensando, e aí dizer ‘eu não sei o que é’. Por isso é muito importante ler, sim”, explica Rodrigo, aluno do terceiro ano

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sores descobriram “um povo ordeiro e solidário”, cuja expectativa é de que a escola passe “bons ensinamentos e educação para os filhos” e trabalhe com eles na busca de soluções para os problemas da comunidade.

cinco regiões administrativas de Brasília de “vulnerabilidade muito alta”, ao lado de Brazlândia, Fercal, Samambaia e Estrutural. “Os jovens desse grupo estão mais vulneráveis à maternidade infantil, evasão escolar e baixa renda”, alerta o estudo Vulnerabilidade Juvenil na Área Metropolitana de Brasília, da Codeplan.

De acordo com a pesquisa, apresentada em 2015, esse grupo registra a maior proporção de garotas entre quinze e dezessete anos já com vida conjugal e de jovens na faixa dos quinze aos 29 anos com renda familiar per capita inferior a meio salário mínimo. O quadro só é pior nas regiões que integram o grupo de “vulnerabilidade altíssima” – Ceilândia, Paranoá e Recanto das Emas, onde há índices maiores de violência. A exposição a riscos de gravidez precoce, evasão escolar, violência e baixa renda familiar chega a ser mais forte nas regiões da periferia de Brasília do que nos muni-cípios goianos da área metropolitana, conclui o documento.

“Aqui há meninas que são mães ainda crianças, aos doze, treze anos”, confirma Lúcio, que usa a metodologia da reposição para investir na quali-dade da educação e de ações que integram aluno e comunidade. O esforço deve contribuir para alterar esses índices. “Acreditamos que a informação e o cuidado ajudam a criança a se defender dessas influências. Precisamos fazer com que ela seja valorizada como ser pertencente à comunidade, com o querer melhorar o seu bairro, a sua própria vida.”

O trabalho de nivelamento começou em 2015, com as turmas do quarto e quinto ano. Os resultados foram animadores e no ano seguinte a equipe estendeu o trabalho a todas as crianças. “Foi uma experiência emocionan-te. Tivemos uma situação que nos empolgou, de uma aluna que não capta-va os conteúdos. Ensinávamos de manhã e à tarde ela já havia esquecido”, conta Lúcio. A metodologia despertou o potencial da menina. “A profes-sora Domingas chegou a chorar quando viu a alegria daquela criança na hora que compreendeu como se fazia, se desenvolvia um raciocínio, que percebeu que ela também era capaz de aprender.”

Para o diretor, a biblioteca tem um papel especial nessas conquistas. “Deu outra visão, trouxe um incentivo muito forte, o professor se sente valorizado, o aluno e a comunidade também”, pondera. “Esse espaço tem uma grande magia, a começar pelo visual. A sala de informática teve im-pacto para os alunos, mas é outra coisa poder pegar, as crianças querem sentir o livro, tocar, passar as folhas”, compara. Com um acervo muito amplo, o espaço, segundo Lúcio, é muito bom também para os adultos e atraiu os concurseiros do bairro. “Fico pensando: se não fiz nada pela escola, deixei esse caminho; a Cascol [patrocinadora do projeto] me pro-porcionou fazer isso.”

“E o futuro é uma astronave/Que tentamos pilotar/Não tem tempo nem piedade/Nem tem hora de chegar”, canta o poeta carioca Vinicius de Mo-raes, que dá nome à 101ª unidade do projeto Bibliotecas do Saber, nos ver-sos de Aquarela, uma das preciosidades do vasto legado cultural que o fez famoso e querido no Brasil e no mundo. Mas, naquele espaço batizado em homenagem ao Poetinha, como Vinicius é carinhosamente chamado pelos brasileiros, o futuro tem, sim, hora certa. Ele chega no momento em que o aluno é acolhido e já começa a ser capacitado para lá na frente, ao terminar o quinto ano, enfrentar o momento de seguir para outra escola.

A biblioteca se tornou ferramenta essencial nesse processo de “recom-posição”, a metodologia que a Escola Classe Estância de Planaltina adotou para preparar os alunos para as séries sequenciais, do sexto ano em diante. Com treze salas de aula, a escola oferece exclusivamente o segundo pe-ríodo da educação infantil e a primeira etapa do ensino fundamental, do primeiro ao quinto ano, e atende crianças na faixa dos cinco aos onze anos de idade, que representa a maior demanda por educação do bairro.

Em regime de tempo integral, das 8h às 16h30, as crianças têm as au-las regulares na parte da manhã, com o professor da turma. Almoçam na escola e, à tarde, são acompanhadas por outro educador, responsável por aulas de reforço e atividades como leitura, contação de história, atividades físicas, jogos. Quando terminam o quinto ano, elas são transferidas. “É o momento em que eles vão enfrentar outra metodologia, terão oito ou até mais professores diferentes, e precisam ser preparados para isso”, justifica o diretor Flávio Lúcio da Rocha.

A metodologia foi criada para evitar desigualdades nesse momento de transição. “O objetivo é garantir aos alunos um nível padrão, para que en-trem no sexto ano sem defasagem de aprendizagem e tenham condições de assimilar os novos conteúdos”, explica Lúcio. “O nivelamento que bus-camos é o da capacidade de aprender, de compreender.” Sem essa conquis-ta, as crianças terão dificuldades de progresso a partir do sexto ano e riscos de engrossar as taxas de evasão escolar entre os jovens do país.

A preocupação de preparar os alunos para vencer esse desafio vai ao encontro de pesquisas científicas que apontam Planaltina no grupo das

Capacidade de aprender

Tivemos uma aluna que não captava os conteúdos. Ensiná-vamos de manhã e à tarde ela já havia esquecido. A professora chegou a chorar quando viu a alegria daquela criança na hora que percebeu que ela também era capaz de aprender”

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“A biblioteca é uma ferramenta importante”, concorda a monitora da turma de terceiro ano Maria Cláudia Pereira de Oliveira. As matérias, se-gundo ela, caminham juntas; se o aluno não entende o que lê, não assi-mila os conteúdos. “Sem a leitura, não tem como ensinar matemática. As notas sempre melhoram quando os alunos usam a biblioteca. Matemática é interpretação”, observa a jovem brasiliense, que faz curso superior da matéria e escolheu, como tema da monografia, o papel do professor de matemática na construção crítica do aluno.

A inspiração veio do educador e escritor Paulo Freire. “É o meu referen-cial. Desde que li A pedagogia da esperança busco a matemática na inclusão de outras atividades, como artes, literatura. E a biblioteca permite isso”, diz Maria Cláudia. A proposta de Freire é contribuir para criar a escola “em que se pensa, em que se cria, em que se fala, em que se adivinha, a escola que apaixonadamente diz sim à vida”. De acordo com o diretor, a equipe elaborou o documento “pensando na responsabilidade que temos diante da sociedade”. O projeto pedagógico expressa a intenção da escola de formar agentes de transformação. Abrir a escola para a comunidade foi o primeiro passo para criar uma aliança com os moradores na busca de condições de vida melhores para todos.

As prateleiras repletas de livros dão suporte para essa aproximação. Lúcio cedeu salas para que o projeto Amigos do Concurso, bancado por professores voluntários, pudesse oferecer aulas gratuitas, à noite, aos mo-radores que sonhavam disputar uma vaga no serviço público mas não ti-nham condições de pagar um cursinho. A biblioteca Vinicius de Moraes virou referência para os concurseiros, um porto seguro para quem buscava silêncio para se concentrar e títulos para pesquisar. A parceria foi tão bem--sucedida que em três anos o número de alunos disparou de oito para 120.

Com a demanda cada vez maior, o cursinho precisou buscar outro espa-ço, porque as salas da escola não comportavam tanta gente. Nos três anos de intensa troca, a biblioteca levou auto-estima para o bairro. “Um dos alunos foi aprovado em um concurso do Corpo de Bombeiros e criou-se uma cultura de que o espaço era importante para a comunidade”, revela o diretor. No caminho de mão dupla do envolvimento com os moradores, a escola também saiu ganhando.

“O que nos trouxe a Cláudia (a monitora Maria Cláudia) foi esse espa-ço para pesquisar, estudar. Da mesma forma, as crianças ganharam a Zel-ma, que agora é a organizadora do projeto Soletrando”, orgulha-se Lúcio. Maranhense, nascida na cidade de Imperatriz, a monitora Zelma Carvalho dos Santos se mudou ainda na adolescência para Brasília e encontrou, no cursinho noturno da escola, o caminho para o seu futuro profissional.

Ela quer ser “concursada da Secretaria de Educação” e começou a auxi-liar a escola enquanto se preparava, à noite, para disputar uma vaga. Zelma mira no exemplo dos professores voluntários do projeto Amigos do Con-curso e se empolga ao lembrar como tudo começou. “A escola foi muito importante para mim”, comenta. “O Lúcio disponibilizou todos os espaços para o cursinho, a sala de informática, e isso ajudou muito. A biblioteca é um incentivo pra estudar, tirar as dúvidas.”

Hoje, diz Zelma, o projeto “já é famoso” e além de sair para um local maior acabou se expandindo. Um dos professores, morador de Samam-baia, abriu turmas lá para atender a sua cidade também. Mas a mudança não afastou a monitora do objetivo de conquistar a sonhada vaga de pro-fessor assistente da rede pública. Determinada, ela concilia o horário do cursinho em Planaltina com as atividades na escola classe e avisa que não vai desistir. “Ainda não cheguei onde quero, mas vou seguir até conseguir.”

Determinadas como Zelma, as amigas do terceiro ano Giulia Ferreira e Isabela Silva têm apenas nove anos de idade e ainda não sabem, como a monitora, onde querem chegar. Mas, com a ajuda dos livros, elas já estão descobrindo o que não querem ser. Depois de trocar ideia com Giulia e pe-gar Por que só as princesas se dão bem?, de Thalita Rebouças, na biblioteca, Isabela comenta que nunca vai querer ser princesa. “Não é nada bom, a gente não pode fazer as coisas que gosta, o cabelo tem que pentear bastan-te pra ficar liso, não pode ter cachinhos, tem que ser magra...”, enumera a menina, que já havia lido a história em casa.

Giulia também é categórica. “Eu gosto desse livro porque ela (a perso-nagem), no final, fala pra mãe dela que não queria ser princesa. Ela vê que não era nada fácil como pensava, que era obrigada a fazer um monte de coisa que não queria, tinha que fazer chapinha no cabelo e tudo.” E você, o que acha disso? “Eu? Eu também não quero nunca ser princesa. É muito melhor ser você mesma.”

Tudo como gostava o grande Poetinha, que cativou o público infantil com obras-primas que ganharam o mundo, como A Arca de Noé, e encan-tou jovens e adultos ao exaltar sobretudo o amor e a liberdade. Em Pátria minha, disse ele: “Mais do que a mais garrida a minha pátria tem/Uma quentura, um querer bem, um bem/Um libertas quae sera tamen/Que um dia traduzi num exame escrito:/‘Liberta que serás também’/E repito!”

Nos três anos de intensa troca, a biblioteca levou auto-estima para o bairro. ‘Um dos alunos foi aprovado em um concurso do Corpo de Bom-beiros e criou-se uma cultura de que o espaço era importante para a comunidade’, re-vela o diretor”

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Giulia (esq.) e a amiga Isabela não querem ser princesas: “É muito melhor ser você mesma”

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Incentivo ao estudo: acervo amplo atende crianças da

escola, jovens e adultos que se preparam para concursos

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Refúgio para as crianças: escola atende alunos de cinco a onze anos em turno integral