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ROCHA, Dcio. Representar e intervir: linguagem, prtica discursiva e performatividade. Linguagem em (Dis)curso LemD, Tubaro, SC, v. 14, n. 3, p. 619-632, set./dez. 2014.
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http://dx.doi.org/10.1590/1982-4017-140310-4513
REPRESENTAR E INTERVIR: LINGUAGEM, PRTICA
DISCURSIVA E PERFORMATIVIDADE
Dcio Rocha
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, Brasil
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
Resumo: A partir do conceito de prtica discursiva (MAINGUENEAU, 1989), visto como a
simultnea produo de textos e de uma comunidade, em um encontro marcado por uma
relao de reciprocidade na qual uma comunidade produz textos que, por sua vez,
garantem visibilidade a essa mesma comunidade, este artigo tem por objetivo explorar o
tipo de relao que se estabelece entre linguagem e realidade. Para fins de abordagem de
duas notcias da mdia, a anlise da natureza performativa das aes relatadas (AUSTIN,
1975) e a explicitao de singularidades do ilocutrio (DELEUZE; GUATTARI, 1995)
sero dispositivos aos quais se recorrer para sustentar a tese segundo a qual, antes de
representar o mundo, o discurso uma forma de nele intervir.
Palavras-chave: Prtica discursiva. Representao e interveno. Performativo.
Ilocucionrio. Notcia.
1 DO DISCURSO PRTICA DISCURSIVA: UM CONCEITO QUE GANHA CORPO
Este trabalho tem por objetivo propor uma reflexo voltada para o encontro entre
linguagem e realidade, explicitando o lugar que reservamos para a performatividade no
quadro da perspectiva discursiva que vimos praticando e incluindo nesse debate a
singularidade da noo de prtica discursiva (MAINGUENEAU, 1989). Dando
continuidade a um debate iniciado pelo autor em trabalho anteriormente publicado (cf.
ROCHA, 2013), o artigo busca responder a duas questes complementares, sem
dvida , a saber: (i) que tipo de relaes podemos estabelecer entre a perspectiva
discursiva que pretendemos sustentar e a noo de performatividade?; (ii) como dar
visibilidade ao conceito de prtica discursiva, entendido como reformulante de
discurso?
Este artigo uma releitura de texto publicado em Intersignos, v. 6, n. 1 (2013), verso na qual o crpus,
mais restrito, no foi reproduzido na ntegra, o que impediu a compreenso das anlises feitas. Na verso
atual, alm de um crpus expandido e reproduzido em sua totalidade, figuram avanos mais recentes de
pesquisa: autores como J. Butler, G. Deleuze e F. Guattari vm se articular ao quadro terico de base,
reforando a interseo entre pragmtica e perspectiva discursiva; a performatividade passa a ser
reconhecida tambm em nomes substantivos; aprofunda-se a diferena entre performativos e palavras
indicativas de ao realizada verbalmente; ganha posio central nas anlises o conceito de prtica
discursiva.
Professor Associado. Doutor em Lingustica Aplicada. Email: [email protected].
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ROCHA, Dcio. Representar e intervir: linguagem, prtica discursiva e performatividade. Linguagem em (Dis)curso LemD, Tubaro, SC, v. 14, n. 3, p. 619-632, set./dez. 2014.
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A especificidade da primeira questo prende-se em parte diversidade de
definies que podemos encontrar para o conceito de discurso. No propsito meu no
momento tematizar tal diversidade e, por essa razo, restrinjo-me a lembrar trs
definies de discurso dentre as vrias que aqui poderiam figurar - definies que
representam formas antagnicas de pensar o conceito, se considerarmos a clssica
diviso entre tendncias anglo-americanas e tendncias francesas. Quanto segunda
questo, ela representar um esforo que fao para concretizar um possvel modo de
atualizao da noo de prtica discursiva, recorrendo a dispositivos que buscaro dar
conta de sua singularidade e de sua produtividade na anlise de textos variados.
Inicio, deste modo, lembrando uma definio inaugural de discurso, a saber, a
definio oferecida por Z. Harris em Discourse Analysis, obra publicada em 1952. Nela,
Harris tematiza duas questes em estreita inter-relao: uma compreenso de discurso
entendido como sucesso de frases, unidade de anlise que ultrapassa o limite da
frase, e como o lugar de encontro da lngua com a cultura, ou seja, ponto de interseo
entre o comportamento lingustico e o no lingustico. Na referida obra do autor, a
expresso discourse analysis remete a um mtodo para investigar a coeso de
enunciados falados e escritos. Essa primeira definio de discurso fornecida por Harris
parece hoje mais compatvel com o campo de investigaes da Lingustica textual, e no
da Anlise do Discurso.
Muitos dos trabalhos da vertente anglo-americana da Anlise do Discurso no se
afastaro significativamente dessa primeira concepo de discurso, sendo a nfase
colocada na extenso das unidades de anlises (sempre superiores frase) e no fato de
lidarem invariavelmente com enunciados em situao de uso. Alguns autores ainda
iluminaro um outro aspecto caracterstico de tal entendimento de discurso, a saber, o
carter interdisciplinar que assumem as pesquisas na rea1. Acrescentemos, para
concluir, que uma outra marca dos estudos realizados nessa vertente a nfase no
planejamento intencional das trocas verbais por seus atores. No fragmento transcrito a
seguir, a diferena estabelecida pelo autor entre texto e discurso explicita essa
dimenso consciente de um projeto de comunicao: Chapter 1, Language in use,
distinguishes between text (a communicative unit) and discourse (the meaning the text
producer intends to communicate and the receiver has to interpret). (WIDDOWSON,
2007).
Passemos a uma outra perspectiva para definir discurso, recuperando, desta vez, a
posio defendida ao final dos anos 60 por Michel Pcheux, filsofo considerado como
o fundador da Anlise do Discurso na Frana. Sua orientao terica se configurou em
forte oposio aos trabalhos que se desenvolviam poca sob o marco da Anlise de
Contedo de base behaviorista, americana, em desenvolvimento j desde o incio do
sculo XX2.
De modo conciso, diremos que Pcheux privilegia a articulao entre Lingustica,
Histria e Psicanlise para dar conta de fatores como o ideolgico e o sujeito na
1 Em seu Discourse Analysis, Brown e Yule (1983) fazem referncia a uma interseo entre disciplinas
to diversas quanto a sociolingustica, a psicolingustica, a lingustica filosfica e a lingustica
computacional. 2 Para um maior detalhamento dos trabalhos em Anlise de Contedo, ver Rocha e Deusdar (2006).
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produo de efeitos de sentido. Aqui, a linguagem mostra-se como no transparente:
preciso ensinar a ler o real sob a superfcie opaca, ambgua e plural do texto
(ORLANDI, 2005, p. 10). Sua concepo de discurso vem desestabilizar o tradicional
esquema da comunicao, segundo o qual o emissor transmite uma mensagem a seu
receptor, por intermdio de um canal adequado e de um cdigo comum a ambos. Com
efeito, distanciando-se de tal perspectiva informacional e problematizando a noo de
condies de produo, Pcheux recusa a ideia de mensagem como transmisso de
informao entre A e B; em seu lugar, prefere a noo de discurso como efeito de
sentido entre A e B (PCHEUX, 1969, p. 18). Desde sempre fica claro que A e B no
representam a presena fsica de organismos humanos individuais, e sim lugares
passveis de uma descrio sociolgica (o lugar do patro, do operrio, etc.) que se
apresentam alterados em uma srie de formaes imaginrias referentes imagem que
fazem de si e do outro, assim como do referente (isto , o contexto ou a situao em que
tem lugar o discurso). Estabelecem-se, desse modo, relaes entre as situaes (que so
objetivamente definidas, coincidindo com a realidade fsica) e as posies (que so
representaes dessas situaes, objetos imaginrios) segundo uma lgica particular: o
indivduo interpelado em sujeito pelas formaes discursivas (que representam na
materialidade lingustica as formaes ideolgicas que lhes correspondem) sustentar
processos discursivos, entendidos como sistema de relaes de substituio, parfrases,
sinonmias, etc., que funcionam entre elementos lingusticos significantes em uma
formao discursiva dada (PCHEUX, 1988, p. 161). Desse modo, o sentido no
poder ser localizado na materialidade do significante, situando-se, antes, na
dependncia de uma formao discursiva, isto , segundo a posio sustentada pelo
sujeito que enuncia. A dependncia de uma formao discursiva com relao ao
interdiscurso , no entanto, dissimulada por intermdio da transparncia do sentido que
a se produz, o que confere forma-sujeito uma propriedade que lhe constitutiva, a
saber, o duplo esquecimento: esquecimento das determinaes que lhe designam
precisamente o lugar que ele ocupa e o esquecimento de que ele seleciona um enunciado
(e no um outro) que j se encontra previsto no campo da formao discursiva
considerada (forma de esquecimento que lhe confere a liberdade que lhe possvel
alcanar).
Como se percebe, a reflexo de Pcheux se distancia, e bastante, dos critrios
utilizados regularmente pela vertente anterior. Sua proposta nada tem a ver com a
extenso das unidades de anlise ou com qualquer modalidade de sujeito intencional,
psicolgico, que se revele senhor de seu dizer. O sujeito somente tem acesso a parte de
seu dizer. Com efeito, a interpelao do indivduo em sujeito do ideolgico implica o
apagamento da lngua na histria, da resultando o efeito de evidncia do sentido e a
iluso de transparncia da linguagem. Essa iluso tambm refora a iluso de um
sujeito-origem do que dito, dissimulando o fato de que o sujeito se define, antes, como
posio, isto , como lugar do qual lhe lcito enunciar.
A terceira e ltima acepo de discurso que apresento referendada por D.
Maingueneau. Em um sentido amplo, discurso designar no tanto um campo de
investigao passvel de ser circunscrito, mas principalmente um certo modo de
apreenso da linguagem, que pressupe a atividade de sujeitos inscritos em contextos
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ROCHA, Dcio. Representar e intervir: linguagem, prtica discursiva e performatividade. Linguagem em (Dis)curso LemD, Tubaro, SC, v. 14, n. 3, p. 619-632, set./dez. 2014.
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determinados (MAINGUENEAU, 1998, p. 43). Em uma acepo mais pontual,
discurso poder ser compreendido como um uso mais restrito que se faz do sistema
lngua, e sobre essa segunda acepo que incide nosso interesse, tendo em vista sua
produtividade no que diz respeito diversidade de critrios para a constituio de
crpus3 a serem submetidos investigao. A ttulo de exemplificao, cito alguns dos
critrios que vm permitindo fracionar para fins de anlise o universo discursivo,
traduzindo-o em domnios ou campos discursivos que j representam uma escolha feita
pelo pesquisador: ao se falar de discurso comunista ou discurso socialista,
privilegiamos, como critrio de classificao, a construo de um certo posicionamento
no interior do campo discursivo referente a ideologias polticas, critrio esse que j no
o mesmo que nos autoriza a falar de discurso jornalstico ou discurso cientfico,
designaes que colocam em cena um certo modo de configurao da ao do homem
situada na histria. Com base na mencionada diversidade de critrios a servio de uma
tipologizao dos discursos, poderemos ainda falar de discurso do professor ou de
discurso do operador de telemarketing, quando o enfoque recair sobre uma dada
categoria de locutores; e, seguindo a mesma ordem de raciocnio, de discurso
polmico ou discurso prescritivo, quando justamente se desejar enfatizar uma dada
funo da linguagem.
A produtividade da noo de discurso que acolhemos s se deixa perceber quando
nos damos conta de que, seja qual for o critrio que adotemos, a apreenso de uma dada
identidade discursiva sempre estar na dependncia de seu outro, isto , de uma forma
qualquer de alteridade. Em outras palavras, apenas por fora de uma estratgia de
facilitao pedaggica podero ser dissociadas noes como as de discurso e
alteridade, discurso e interdiscurso entendendo-se por interdiscurso o conjunto das
unidades discursivas com as quais um discurso particular entra em relao implcita ou
explcita (MAINGUENEAU; CHARAUDEAU, 2004, p. 286). Assim, nessa
perspectiva, falar de discursos comunistas s ganha sentido quando, no interior de um
dado campo, outros tantos perfis discursivos no comunistas seriam possveis4, no
como mera presena de um real naturalizado, mas precisamente como aquilo que abre a
possibilidade de sua constituio como alteridade no plano enunciativo (RODRIGUES;
ROCHA, 2010).
A relao que aqui se estabelece entre ato de enunciao e produo textual vem
caracterizar a concepo de discurso defendida por Maingueneau. Com efeito, para o
autor, discurso (ou prtica discursiva) uma noo que se refere a uma dupla produo
que tem lugar simultaneamente: a produo de textos e a produo de uma comunidade
discursiva. Dito em outras palavras, a constituio de uma dada comunidade discursiva
e a produo textual so as duas faces de uma mesma moeda, no havendo qualquer
possibilidade de se estabelecer uma relao de causalidade linear entre ambas. Como se
3 Dada a frequncia de uso do termo na rea dos estudos da linguagem, penso ser adequado contribuir
para que crpus (forma nica no singular e no plural, a exemplo de lpis) alcance a condio de palavra da lngua portuguesa a ser dicionarizada. Alis, uma rpida busca da grafia crpus no Google acadmico j nos indica ser essa uma iniciativa apoiada por muitos. 4 Posio que no isenta de problemas e que ser preciso repensar, se for considerado que uma srie de
excluses intervm na produo de toda estrutura binria, e essas excluses nunca encontram espao no
discurso racional (BUTLER, 2005, p. 24).
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ROCHA, Dcio. Representar e intervir: linguagem, prtica discursiva e performatividade. Linguagem em (Dis)curso LemD, Tubaro, SC, v. 14, n. 3, p. 619-632, set./dez. 2014.
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percebe, o que est em questo, portanto, a natureza da relao entre os textos e as
assim chamadas condies de produo desses textos: os modos de organizao dos
homens e de seus discursos so indissociveis, as doutrinas so inseparveis das
instituies que as fazem emergir e que as mantm. (CHARAUDEAU;
MAINGUENEAU, 2004, p. 105).
Como justificar tal concepo de discurso? Devemos lembrar um dos aportes
fundamentais da pragmtica: a linguagem como forma de ao sobre o mundo. Ora,
assim como os homens se organizam em sociedade, trabalham, modificam a ordem das
coisas que os rodeiam, eles tambm produzem linguagem, produzem textos, o que seria
uma outra forma de atuar sobre esse mundo. A investigao das interaes verbais tem
contribudo para reafirmar uma tal perspectiva, na medida em que a palavra
desempenha um papel de regulao/construo do vasto leque de relaes que se
estabelecem entre os homens: relaes de dominao, de enfrentamento, de definio de
identidades, de produo de diferentes modos de subjetivao.
2 LINGUAGEM-REPRESENTAO E LINGUAGEM-INTERVENO:
QUANDO DIZER INVENTAR
A concepo de discurso que acolhemos apresenta a vantagem de permitir a
relativizao do poder da linguagem de representar o mundo para o sujeito. Com efeito,
retomando Latour (2001), preciso superar a crena em uma certa correspondncia
entre palavras e estados de coisas, ou seja, superar a crena naquilo que fundamenta o
que o autor denomina o acordo modernista, a saber, a ideia de que haveria um mundo
l fora ao qual uma mente tentaria obter acesso. (LATOUR, 2001, p. 133).
Na verdade, a novidade inaugurada nesse debate reside na possibilidade de
perceber que a temos um desafio que em muito ultrapassa as fronteiras da Lingustica,
tal como esta se definiu ao incio do sculo XX. Entramos, por essa via, no debate
relativo articulao entre linguagem e cognio.
Tendo definido discurso como prtica discursiva (MAINGUENEAU, 1989),
definio que pressupe, como vimos, uma reversibilidade essencial entre as duas
faces, social e textual, do discurso (MAINGUENEAU, 1989, p. 56), devemos afastar
como inadequada qualquer interpretao que reduza o conceito mera sequncia de
palavras ou a um contraponto do mundo emprico5. Afinal, no estamos diante de
uma polarizao entre mundo real e palavras e textos: palavras tambm so
produo do mundo, o que j se verifica desde o exemplo dos filsofos analticos da
linguagem dos anos 60, quando, com Austin, se afirma a noo de performatividade da
linguagem. Afinal, fazemos coisas quando produzimos textos: ao dizer obrigado,
realizo a ao de agradecer algo; ao dizer prometo te trazer o livro, engajo-me
efetivamente numa promessa, tornando-me devedor de algum.
5 Alis, no foi por outra razo que o autor preferiu a denominao prtica discursiva a discurso:
para evitar a clssica confuso entre discurso e texto.
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Se discurso tudo isso simultaneamente produo textual e produo de uma
comunidade , ento, no possvel supor que ele mantenha uma relao de mera
representao com o mundo: o discurso no pode simplesmente represent-lo porque ele
no est distanciado do mundo, ou seja, ele tambm participa desse mundo. Seria,
talvez, prefervel assumir que a linguagem tem, sim, algum poder de representao, mas
o mundo j no coincidiria exatamente com a representao desse mundo por
intermdio da linguagem, uma vez que, ao fazer referncia a esse mundo, a linguagem
congela o tempo, altera distncias, oferecendo-nos um retrato sempre parcial de um
dado momento, o retrato de uma realidade passada e/ou de uma nova paisagem que no
coincide com as coordenadas geogrficas de tudo o que pode ser verificado no mundo
ao vivo. Lembro que evidncias como essas se aproximam da posio assumida pelo
bilogo Francisco Varela, que, rejeitando uma dimenso ontolgica do conceito de
representao (isto , recusando o conceito em seu sentido forte, segundo o qual o
mundo tem uma existncia que antecede o momento de seu conhecimento) aceita,
contudo, uma acepo fraca (ou pragmtica) do conceito, segundo a qual a
representao do mundo remete a uma construo ou interpretao desse mundo
sempre temporria e aberta a problematizaes. Em outras palavras, uma atividade de
representao que compreende em sua atualizao um processo de inveno (VARELA;
THOMPSON; ROSCH, 2003, p. 144). precisamente a essa dimenso de inveno que
chamei em outros trabalhos, seguindo a lio deixada por Deleuze e Guattari (1995), de
interveno no mundo: os enunciados s representam o mundo no sentido de
produzirem uma certa verso desse mundo, ou seja, de intervirem nesse mundo
(ROCHA, 2006).
3 NOTCIAS QUE TEMATIZAM O QUE PODE UMA PALAVRA
Quero tematizar a relao (problemtica) entre discurso e representao,
recuperando a noo de prtica discursiva (MAINGUENEAU, 1989) para proceder a
uma leitura que considero relevante de textos que circulam na mdia. Pretendo com isso
retomar um debate voltado para os estudos da performatividade da palavra, conferindo,
segundo espero, uma maior concretude ao conceito de prtica discursiva.
Tendo por meta o que ora anuncio, convido o leitor a tomar conhecimento dos
textos que figuram em anexo, versando sobre o episdico movimento Cansei, nome
pelo qual ficou conhecido popularmente o Movimento Cvico pelo Direito dos
Brasileiros6. No anexo 1, reproduzimos uma notcia publicada no caderno O Pas do
jornal O Globo de 17/08/2007, intitulada Governador do Piau protesta contra
declaraes do presidente da Phillips. Muito resumidamente, trata-se da reao de
descontentamento manifestada pelo governador do Piau diante de declarao prestada
por Paulo Zottolo, presidente da Philips, ao jornal Valor Econmico: apoiando o
movimento Cansei e desejando remexer no marasmo cvico do Brasil, Zottolo
6 Trata-se de movimento surgido em julho de 2007, logo aps o acidente com o voo 3054 da TAM. O
Cansei se declarava apartidrio e tinha por objetivo a reflexo sobre os motivos do que considera a
desordem da administrao pblica no governo Lula. Intelectuais de esquerda apontaram o movimento
como elitista.
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afirmou que "no se pode pensar que o pas um Piau, no sentido de que tanto faz
quanto tanto fez. Se o Piau deixar de existir ningum vai ficar chateado". Quanto ao
anexo 2, intitulado Episdio do preconceito ao Piau, trata-se de fragmento de um
texto maior localizado na internet que tematiza o movimento Cansei, caracterizando-o
em seus traos gerais.
Sobre que fato(s) exatamente se fala nessas notcias? Se tomarmos o exemplo da
primeira delas, reproduzida no anexo 1, veremos que se trata, na realidade, de algo que
j se anuncia no ttulo e no subttulo: algum declara algo, e essa declarao gera
reaes de protesto. Eis o que aqui se anuncia como acontecimento: duas aes que se
realizam exclusivamente pela linguagem, a saber, as aes de declarar algo e protestar
contra algo dito. Alis, ambas remetem a um tipo de ao que parece ser a tnica de
todo o texto, como se verifica ao se recuperar tudo o que dito na notcia:
(1) o presidente da Philips apoia o movimento Cansei;
(2) o presidente da Philips concede entrevista ao jornal Valor Econmico;
(3) o presidente da Philips debocha do Piau em sua declarao;
(4) o governador do Piau protesta em uma nota contra o deboche do presidente da Philips;
(5) o governador cobrar em ofcio posicionamento do presidente Lula e do Congresso;
(6) o presidente da Philips desculpa-se por telefone com o governador do Piau;
(7) o governador aceita as desculpas;
(8) o governador solicita retratao pblica;
(9) o presidente da Philips promete desculpar-se em nota a ser divulgada;
(10) um site piauiense prope campanha de boicote aos produtos da Philips;
(11) o site piauiense alega algo como justificativa de sua proposta;
(12) o presidente da Philips no consideraria importante o mercado piauiense.
Listando-se as doze aes que constituem a notcia veiculada, algo se percebe em
comum: todas se caracterizam ou como performativas, ou como aes cuja realizao
remete a um ato de natureza verbal. Com efeito, aes como declarar, protestar,
desculpar-se, aceitar desculpas, pedir retratao pblica, prometer retratar-se, alegar
possuem em comum o fato de realizarem um ato pelo simples fato de serem enunciadas;
por sua vez, apoiar movimento cvico contra o governo, entrevistar, conceder entrevista,
debochar, redigir ofcio, cobrar posicionamento, propor campanha de boicote so aes
que se concretizam por intermdio do uso da palavra.
Se passamos agora a um outro fragmento de texto tambm veiculado pela mdia
na mesma ocasio (anexo 2), poderemos ainda ter acesso a uma srie de outras aes
cujo denominador comum permanecer sendo esse mesmo carter verbal das aes
realizadas. Vejamos:
(13) o presidente da Philips no Brasil concede entrevista ao jornal Valor Econmico;
(14) o presidente da Philips afirma que, ao apoiar o movimento Cansei, deseja remexer no
"marasmo cvico" do Brasil;
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(15) o presidente da Philips afirma que "no se pode pensar que o pas um Piau, no
sentido de que tanto faz quanto tanto fez. Se o Piau deixar de existir ningum vai ficar
chateado";
(16) o presidente da Philips pede desculpas ao povo do Piau em entrevista Folha de S.
Paulo;
(17) o presidente da Philips diz que seu comentrio foi "infeliz";
(18) o presidente da Philips se desculpa por "deboche" sobre o Piau;
(19) o presidente da Philips diz ao governador Wellington Dias (PT) que visitar o Piau;
(20) divulga-se para a imprensa uma informao: a visita o presidente da Philips ao Piau;
(21) estudantes quebram dois aparelhos da Philips durante manifestao pblica em uma
praa de Teresina;
(22) na manifestao, distribuda uma nota de repdio ao presidente da Philips;
(23) na nota, diz-se que a afirmao do presidente da Philips foi uma "demonstrao clara
do preconceito que a elite paulistana tem contra nordestinos";
(24) UNE e UBES tambm assinam a nota de repdio;
(25) a Assemblia Legislativa do Piau aprova um decreto considerando o presidente da
Philips persona non grata no estado;
(26) a presso pblica faz com que o decreto seja aprovado;
(27) o ttulo de persona non grata impede que qualquer instituio do poder pblico no
Piau conceda homenagens ao presidente da Philips;
(28) as declaraes do presidente da Philips tambm repercutem na Assemblia Legislativa
do Cear;
(29) o deputado Toms Figueiredo Filho (PSDB) prope uma moo de repdio contra o
presidente da Philips;
(30) o deputado Yala Sena diz que "somos Estados nordestinos e estamos cansados dessa
discriminao".
Assim como era o caso do texto anterior, diversos performativos so localizados
neste segundo texto, o que vem ratificar a compreenso de que se trata de mais uma
notcia em que a palavra coincide com a ao realizada. Se se perguntasse o que
acontece neste segundo texto, seria possvel responder que acontecem aes que se
realizam por intermdio da palavra, a exemplo de aes como pedir desculpas /
desculpar-se, dizer, divulgar, propor, que so inequivocamente performativos.
Para alm desses performativos explcitos, ainda se encontram aes cuja
realizao remete a algo que, no contexto, somente poder ocorrer por intermdio da
palavra. Explico-me. A ao de apoiar algo pode ser executada por intermdio de um
gesto fsico, em casos como, por exemplo, ele apoiou a mo sobre a mesa. No
entanto, sua natureza verbal evidente em ele apoiou o movimento Cansei. O mesmo
parece ocorrer com enunciados em que se apresentam sintagmas como os seguintes:
conceder entrevista, remexer no "marasmo cvico", assinar nota, aprovar decreto,
conceder homenagem, impedir que se conceda homenagem todas elas aes que, no
contexto em que figuram, s podem se realizar por um ato verbal.
At aqui, ratifica-se o j conhecido no texto do anexo 1, em que a linguagem no
pode ser considerada como cumprindo a funo de proceder a mero relato de algo
anteriormente ocorrido, caracterizando-se, antes, como a prpria ao que se realiza.
Com efeito, se algo acontece no texto 1, sempre algo que remete a uma ao da
palavra sobre o mundo: debochar de algum, declarar algo, desculpar-se, alegar algo,
etc.
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Contrariando essa onipresena de aes que se atualizam pela palavra, quero aqui
retomar duas ltimas aes que, ao que tudo parece indicar, realizam-se por um gesto
fsico de natureza no verbal: (20) o presidente da Philips visitar o Piau; (21)
estudantes quebraram dois aparelhos da Philips. Como se percebe, visitar uma cidade ou
quebrar aparelhos so aes que se praticam agindo-se diretamente sobre o mundo
circundante, por meio de um deslocamento fsico no espao para visualizar algo (visitar
um local), ou de uma determinada fora que se aplica sobre um objeto de modo a
danific-lo (quebrar algo). Contudo, parece que, mesmo nesses casos, a dimenso verbal
no foi suprimida: ainda que seja bastante plausvel perceber nessas duas aes sua
natureza, digamos, no linguageira, preciso reconhecer que ambas se atualizam e se
legitimam - em um contexto eminentemente verbal. Com efeito, a visita ao Piau se
anuncia em um contexto que remete a um pedido de desculpas por parte do presidente
da Philips; o mesmo se d em relao ao ato de quebrar aparelhos da Philips, que tem
lugar em meio a uma manifestao pblica de repdio ao que declarara o presidente da
empresa sobre o Piau. Logo, ambas as aes podem ser consideradas como
emblemticas de um gesto maior de desculpas ou de acusao que ganha sentido
apenas por intermdio da linguagem, explicitando-se, desse modo, o ilocutrio, que
remete quilo que se faz quando se fala: o ilocutrio, por sua vez, explicado por
agenciamentos coletivos de enunciao, por atos jurdicos, equivalentes de atos
jurdicos, que coordenam os processos de subjetivao ou as atribuies de sujeitos na
lngua, e que no dependem nem um pouco dela. (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p.
16)
Quero ainda registrar uma outra singularidade do texto do anexo 2 no que diz
respeito natureza linguageira das aes que se praticam: para alm dos verbos,
substantivos como comentrio, deboche, informao, manifestao pblica, nota de
repdio, afirmao, decreto, presso pblica, declarao, moo de repdio,
discriminao, mantm preservados os traos de uma certa categoria de eventos que se
atualizam na (e pela) linguagem.
Diante da significativa presena de tal categoria de acontecimentos na notcia
acontecimentos de natureza discursiva, que recuperamos na superfcie dos textos por
meio de verbos e nomes -, no nos resta seno reconhecer que a funo da linguagem
aqui no pode ser propriamente representar uma certa conformao de mundo, isto ,
contar o que acontece no mundo, como se primeiramente se produzisse uma ao (no
linguageira) qualquer que apenas mais tarde seria reportada por meio das palavras;
antes, sua funo parece coincidir com a prpria produo e inveno desse mundo,
uma vez que tudo o que ocorre so ... proferimentos de acusao, de indignao, de
retratao, de proposio, etc.
Para finalizar este breve exerccio de anlise, quero observar que a referida
produo/inveno de uma determinada configurao de mundo pressupe
necessariamente um certo arranjo ou uma certa qualidade de relaes entre os sujeitos
que dele participam, instituindo-se, desse modo, alianas e oposies em meio
polmica criada. No outra coisa o que encontramos quando deparamos com notcias
como as que compem esse crpus: pistas para trabalhar os embates e as alianas que se
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ROCHA, Dcio. Representar e intervir: linguagem, prtica discursiva e performatividade. Linguagem em (Dis)curso LemD, Tubaro, SC, v. 14, n. 3, p. 619-632, set./dez. 2014.
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travam ininterruptamente. o que se atesta ao se reler o texto do anexo 1, por exemplo,
no qual podemos identificar sucessivos estgios de alianas e de afrontamentos7:
Movimento Cansei x governo Lula
Presidente da Philips + movimento Cansei x governo Lula
Jornal Valor Econmico + presidente da Philips
Governador do Piau + piauienses x presidente da Philips
Governador do Piau + presidente Lula + Congresso
Presidente Lula + Congresso x presidente da Philips
Presidente da Philips + governador do Piau
Presidente da Philips + piauienses
Piauienses x presidente da Philips
Tais alianas e oposies entre diferentes agentes so a contrapartida do estado de
coisas criado por todo o conjunto de aes (de natureza verbal) exercidas nesse
universo. Ora, a esse respeito, o crpus sobre / com o qual trabalhamos oferece-nos um
caminho bastante seguro como acesso a uma noo que considero central na perspectiva
discursiva de Maingueneau: a noo de prtica discursiva. Como j definida
anteriormente, a prtica discursiva traduz a indissociabilidade constitutiva que se
verifica entre uma dada produo de textos e a constituio de grupos que, por um lado,
produzem esses textos e, por outro, so a seu turno tambm por eles produzidos. Como
vemos, uma breve leitura da notcia do anexo 1 capaz de nos oferecer o que
denominamos pistas para trabalhar embates e alianas. Se estendssemos nosso
crpus, incorporando outros textos publicados na ocasio pela mdia8, teramos ainda
acesso a outras tantas informaes que s fariam alargar esse crculo de alianas e
afrontamentos: como aliados do presidente da Philips e do movimento Cansei
incluiramos a Ordem dos Advogados de So Paulo, Distrito Federal e Mato Grosso do
Sul, o Conselho Regional de Medicina, a FIESP, a Associao Brasileira de
Odontologia, artistas (Regina Duarte, Hebe Camargo, Ivete Sangalo, Lo Jaime, dentre
outros), etc.
A partir das referidas pistas, dois procedimentos poderiam, ento, ser adotados: (i)
produo de um novo crpus constitudo no mais por textos da mdia versando sobre o
movimento Cansei, mas por textos em que os prprios participantes dessa rede de
alianas e embates tomassem a palavra, a exemplo da entrevista concedida pelo
presidente da Philips Folha de S. Paulo, de depoimentos prestados por atores diversos,
etc.; (ii) levantamento de hipteses acerca do modo como se constituem tais redes,
traando-se um breve perfil das comunidades que, no contexto da noo de prtica
discursiva segundo formulao de Maingueneau, so a contrapartida daquela produo
textual9.
7 Nos enunciados que se seguem, o sinal x indica uma relao de oposio; o sinal +, uma relao de
aliana. 8 Por exemplo, buscar nas referncias a meno ao MOVIMENTO Cvico pelo Direito dos brasileiros,
documento do qual foi extrado o anexo 2. 9 Penso que a deciso de trabalhar com textos enunciados pelos prprios atores que constituem a rede de
alianas e afrontamentos traria maior legitimidade a uma investigao interessada pelo conceito de prtica
discursiva.
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O que ora se verifica que (quase) nada acontece no mundo relatado nessas
notcias que no passe pela palavra. pela palavra que se atualizam as aes e, por isso,
a palavra o agente mesmo que intervm, que modifica, que produz e altera relaes no
mundo apresentado.
4 (IN)CONCLUSES: A LINGUAGEM COMO TRANSMISSO DE PALAVRAS DE ORDEM10
Como vimos, ao se rejeitar a verso forte de representao, rejeita-se, por
extenso, um certo entendimento de cognio vista como mera recognio, que consiste
no exerccio concordante de todas as faculdades sobre um objeto suposto como sendo
o mesmo: o mesmo objeto que pode ser visto, tocado, lembrado, imaginado,
concebido (KASTRUP, 1999).
J ao se relacionar linguagem e representao na acepo fraca da palavra,
assegura-se uma dimenso produtiva de coengendramentos do sujeito e do mundo por
intermdio da palavra. A linguagem no seria mero instrumento disposio de uma
mente para re(a)presentao de um mundo l fora espera de ser descoberto,
garantindo-se, desse modo, uma boa dose de inveno nessa nova modalidade de
representao. Linguagem para alm da informao e da comunicao, funcionando a
palavra que se enuncia como palavra de ordem.
Concluo este artigo refletindo sobre por que opto por uma perspectiva discursiva
de base enunciativa e por que pretendo reservar um lugar de destaque para a noo de
prtica discursiva. De modo conciso, trabalhar numa perspectiva enunciativa,
assumindo um compromisso com a alteridade, com o heterogneo, contribui no sentido
de fazer implodirem as vises totalizantes sobre o real, possibilitando repensar os
grandes esteretipos com os quais convivemos; contribui tambm no sentido de
desnaturalizar o que pode efetivamente ser apreendido como efeito discursivo, em
posio plenamente compatvel com uma viso performativa da linguagem, entendida
como essa dimenso do discurso que tem a capacidade de produzir o que ele nomeia.
(BUTLER, 2005, p. 17)
Refletir sobre tais questes implica, sem dvida, um compromisso social que nos
reenvia definio de uma tica do profissional interessado pelo campo da linguagem.
Implica tambm a construo de um caminho a ser percorrido pelo analista do discurso
para proceder sua leitura de um dado entorno social, leitura essa autorizada em grande
parte pelo recurso noo de prtica discursiva, uma vez que ela que nos permite
fazer hipteses acerca do modo como textos e grupos se interdelimitam. Eis a uma
tarefa inadivel nos dias de hoje, quando tanto se fala em subjetividades no
identitrias, mas nunca para retraar um caminho de desnaturalizao dessas
identidades, explicitando, assim, o processo de sua produo em prticas de diversas
ordens linguageiras ou outras. E se dizemos tratar-se de uma tarefa inadivel, porque
ela apenas refora o compromisso tico acima referido.
10
Por palavra de ordem entendo a relao de qualquer palavra ou de qualquer enunciado ... com atos de fala que se realizam no enunciado, e que podem se realizar apenas nele. (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 16)
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ANEXO 1
O Globo Caderno O Pas, p. 9 - Sexta-feira, 17 de agosto de 2007
ANEXO 2
Episdio do preconceito ao Piau
Em entrevista ao jornal Valor Econmico, o presidente da Philips no Brasil, Paulo Zottolo
afirmou que, ao apoiar o movimento Cansei, desejava remexer no "marasmo cvico" do
Brasil, e afirmou: "No se pode pensar que o pas um Piau, no sentido de que tanto faz
quanto tanto fez. Se o Piau deixar de existir ningum vai ficar chateado". Mais tarde,
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Zottolo pediu desculpas ao povo do Piau em entrevista a Folha de S. Paulo, dizendo que
seu comentrio foi "infeliz". Mnica Bergamo.
"Presidente da Philips se desculpa por "deboche" sobre o Piau". Folha de S. Paulo. 16 de
agosto de 2007. Acessado em 6 de outubro de 2007.No dia 17 de agosto, Zottolo disse ao
governador Wellington Dias (PT) que visitaria o Piau. Aps divulgada tal informao para
a imprensa, estudantes quebraram dois aparelhos da Philips durante manifestao pblica
em uma praa de Teresina. Cerca de 50 manifestantes estavam presentes e uma nota de
repdio a Zottolo foi distribuda. Um trecho do texto, assinado por entidades como UNE e
UBES, diz que a afirmao do presidente da Philips foi uma "demonstrao clara do
preconceito que a elite paulistana tem contra nordestinos."Jos Eduardo Rondon e Simone
Iglesias.
"Estudantes do Piau fazem ato contra Philips; "Cansei" critica o governo no Sul". Folha de
S. Paulo. 18 de agosto de 2007. Acessado em 6 de outubro de 2007.Devido presso
pblica, a Assemblia Legislativa do Piau aprovou um decreto considerando Zottolo
persona non grata no estado. O ttulo apenas simblico, mas impede que qualquer
instituio do poder pblico no Piau conceda homenagens a Zottolo. As declaraes de
Zottolo tambm repercutiram na Assemblia Legislativa do Cear. O deputado Toms
Figueiredo Filho (PSDB), props uma moo de repdio contra o presidente da Philips.
"Somos Estados nordestinos e estamos cansados dessa discriminao", disse o deputado
Yala Sena.
Fonte:
Recebido em: 02/12/13. Aprovado em: 21/10/14.
Title: Representing and intervening: language, discursive practice and performativity
Author: Dcio Rocha
Abstract: Based on the concept of discursive practice (MAINGUENEAU, 1989), which sees
it as the simultaneous production of texts and of a community in a reciprocal relationship
in which that community produces texts that in turn give visibility to it, this paper explores
a key point of contact between language and reality. In order to approach two media news,
the analysis of the performative nature of reported actions (AUSTIN, 1975) and the
explicitation of singularities of the illocutionary (DELEUZE; GUATTARI, 1995) will be a
device to argue that, before representing the world, speech is a way of intervening in it.
Keywords: Discursive practice. Representation and intervention. Performative.
Illocutionary. News.
Ttulo: Representar e intervenir: lenguaje, prctica discursiva y performatividad
Autor: Dcio Rocha
Resumen: Desde el concepto de prctica discursiva (MAINGUENEAU, 1989), visto como
la produccin simultnea de textos y de una comunidad en un encuentro marcado por una
relacin de reciprocidad en la cual una comunidad produce textos que, a su vez,
garantizan visibilidad a esa misma comunidad, este artculo tiene por objetivo explorar el
tipo de relacin que se establece entre lenguaje y realidad. Para fines de abordaje de dos
noticias de medios de comunicacin, el anlisis de la naturaleza performativa de las
acciones relatadas (AUSTIN, 1975) y la explicitacin de singularidades del ilocucionario
(DELEUZE; GUATTARI, 1995) sern dispositivos a los cuales se recorrer para sostener
la tesis segundo la cual, antes de representar el mundo, el discurso es una manera de en
ello intervenir.
Palabras-clave: Prctica discursiva. Representacin e intervencin. Performativo.
Ilocucionario. Noticia.