1411063203 ARQUIVO Seminario Do ICHS Libre

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O QUE É A NOVA LEITURA DE MARX? Joelton Nascimento 1 The skyisfalling Humanracethatwerun It left me crawling Staringstraightatthesun [O céu está caindo A corrida humana que corremos Me deixou rastejando Encarando diretamente o sol] Josh Homme, Nick Oliveri (Queens ofthe Stone Ages) INTRODUÇÃO Neste artigo temos a pretensão de apresentar em linhas gerais a ruptura e, ao mesmo, o desenvolvimento da crítica marxiana que encontramos em O Capital, naquela que ficou conhecida como a “Nova Leitura de Marx”. A vertente desta releitura peculiar da obra de Marx, de matiz notadamente alemã, produziu uma série de outros ganhos e avanços teóricos para o anticapitalismo que ainda não foram devidamente avaliados e, por isso, ampliados. Comecemos por explicitar o que entendemos por “anticapitalismo”. Como todo “anti”, o anticapitalismo se define por aquilo contra o que ele se opõe. Uma teoria anticapitalista, portanto, só pode ser assim considerada como tal quando for possível a definição elementar do que seja a realidade social que se encontra sob a denominação de capitalismo. A palavra “capitalista” começa a ser utilizada pela primeira vez no século XVIII por economistas, para designar a figura do detentor de bens e valores que os emprega para obter lucros. Foi usado nesse sentido por Adam Smith (1723-1790) e por Anne Turgot (1727-1781), por exemplo. Se nos restringíssemos à definição dada por estes autores capitalismo significaria o sistema econômico que tem em seu centro a figura do capitalista. Anticapitalismo, neste contexto, seria apenas a teoria e a prática que combateriam a figura do capitalista. Esta definição, todavia, seria extremamente problemática, uma vez que para muitos dos autores deste período, como François Quesnay (1694-1774) e o próprio Turgot, o representante mais exemplar de capitalista é o 1 Professor Adjunto no Departamento de Sociologia e Ciência Política da UFMT. Mestre em Estudos de Cultura Contemporânea pela UFMT e Doutor em Sociologia pela UNICAMP. E-mail: [email protected]

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  • O QUE A NOVA LEITURA DE MARX?

    Joelton Nascimento1

    The skyisfalling

    Humanracethatwerun

    It left me crawling

    Staringstraightatthesun

    [O cu est caindo A corrida humana que corremos

    Me deixou rastejando Encarando diretamente o sol]

    Josh Homme, Nick Oliveri (Queens ofthe Stone Ages)

    INTRODUO

    Neste artigo temos a pretenso de apresentar em linhas gerais a ruptura e, ao mesmo, o

    desenvolvimento da crtica marxiana que encontramos em O Capital, naquela que ficou conhecida

    como a Nova Leitura de Marx. A vertente desta releitura peculiar da obra de Marx, de matiz

    notadamente alem, produziu uma srie de outros ganhos e avanos tericos para o anticapitalismo

    que ainda no foram devidamente avaliados e, por isso, ampliados.

    Comecemos por explicitar o que entendemos por anticapitalismo. Como todo anti, o

    anticapitalismo se define por aquilo contra o que ele se ope. Uma teoria anticapitalista, portanto, s

    pode ser assim considerada como tal quando for possvel a definio elementar do que seja a

    realidade social que se encontra sob a denominao de capitalismo.

    A palavra capitalista comea a ser utilizada pela primeira vez no sculo XVIII por

    economistas, para designar a figura do detentor de bens e valores que os emprega para obter lucros.

    Foi usado nesse sentido por Adam Smith (1723-1790) e por Anne Turgot (1727-1781), por exemplo.

    Se nos restringssemos definio dada por estes autores capitalismo significaria o sistema

    econmico que tem em seu centro a figura do capitalista. Anticapitalismo, neste contexto, seria

    apenas a teoria e a prtica que combateriam a figura do capitalista. Esta definio, todavia, seria

    extremamente problemtica, uma vez que para muitos dos autores deste perodo, como Franois

    Quesnay (1694-1774) e o prprio Turgot, o representante mais exemplar de capitalista o

    1 Professor Adjunto no Departamento de Sociologia e Cincia Poltica da UFMT. Mestre em Estudos de Cultura

    Contempornea pela UFMT e Doutor em Sociologia pela UNICAMP. E-mail: [email protected]

  • fazendeiro e no o empreendedor da indstria (JESSUA, 2011). Seria preciso uma ideia consistente

    sobre o que o capitalismo para que sua crtica intelectual e prtica possa ter tambm consistncia.

    neste sentido que dizemos que a teoria anticapitalista consistente nasceu junto com o

    trabalho e a prtica de Karl Marx (1818-1883) e seus colaboradores. E isto pela simples razo de

    que antes dele ainda no era possvel vislumbrar com nitidez os contornos do que seria

    capitalismo. Do ponto de vista descritivo, a princpio, poderamos considerar o capitalismo como

    a grande indstria, movimentada pela economia monetria do trabalho assalariado, regulada pelo

    estado-nao.

    Poder-se-ia dizer que bem antes de Marx j havia ideias comunistas rondando a

    modernidade, como as do publicista francs Franois NolBabeuf. perfeitamente possvel

    considerar Babeuf um comunista (ainda que um comunista primitivo ou proto-comunista) pois

    com ele que pela primeira vez se torna claro um programa poltico e social de igualitarismo de

    tipo comunista (VOVELLE, 2000); trata-se de um poltico e intelectual que se junta longa

    corrente daqueles que fizeram de suas prprias vidas uma batalha pela justia e pela equidade.

    Contudo, dificilmente poderamos cham-lo de anticapitalista, uma vez que a ordem social erguida

    pela grande indstria, movimentada pela economia monetria do trabalho assalariado e regulada

    pelos estados-nao, ainda no tinha se desenvolvido a ponto de delinear suas feies mais bsicas.

    Talvez ele pudesse ser considerado anticapitalista no sentido que a palavra capitalista

    tinha para Quesnay, isto , no sentido de um sistema econmico centrado na figura do capitalista

    individual, cujo exemplar mais tpico o fazendeiro. E, de fato, a mais contundente das teses de

    Babeuf contra a propriedade privada da terra, que, segundo ele, deveria ser inteiramente

    nacionalizada e redistribuda equitativamente; imposta apenas como propriedade coletiva. A

    propriedade privada, todavia, no um princpio capaz de abarcar nenhum dos pilares principais do

    capitalismo mencionados em nossa descrio do capitalismo dada acima.

    Com Marx nasce uma teoria anticapitalista como delineamento de uma prtica comunista

    concreta, para alm de objees morais e de idealizaes acerca de uma sociedade futurista.

    1. ELEMENTOS CENTRAIS DO MARXISMO TRADICIONAL

    Ajudado pelo afastamento histrico, Ingo Elbe (2013)2 resumiu de modo formidvel as

    leituras da teoria marxiana centrais at ento realizadas. Segundo ele, depois dos escritos de Marx, 2Todas as citaes deste artigo de Elbe foram traduzidas pelo autor deste artigo.

  • temos em nosso acervo crtico o marxismo, ou o marxismo tradicional, isto , as interpretaes dos

    escritos de Marx ligados primariamente aos partidos polticos e representativos de trabalhadores.

    Temos, ainda, os marxismos, ou modos dissidentes de leitura dos textos de Marx.

    O marxismo tradicional fundamentalmente aquele canonizado nas obras de Engels e

    Kautstky e que serviram de base para o assim chamado marxismo-leninismo. Esta leitura se

    acostumou e se adaptou inteiramente aos esquemas cannicos de leitura voltados para as camadas

    exotricas das obras de Marx, isto , os textos do filsofo e lder operrio que serviam sobretudo

    para a divulgao e para a agitao poltica3. Os marxismos dissidentes, em especial o denominado

    marxismo ocidental e a Nova Leitura de Marx (a neue Marx-Lektre), se detiveram em uma leitura

    do Marx esotrico, isto , nos textos marxianos com maior densidade e alcance analtico e crtico.

    Outrossim, os marxismos dissidentes se desenvolveram amide fora dos partidos e mesmo

    de grandes instituies de pesquisa (exceo a Escola de Frankfurt) na condio sobretudo de um

    marxismo underground.

    Ainda segundo Elbe, o marxismo tradicional tem como um de seus cnones mais

    importantes a obra Anti-Dhring[1877] (1976) de Engels. Kautsky nunca escondeu o fato de que

    todos os intelectuais sua volta liam O Capital de Marx pelas lentes deste livro de Engels; em

    grande medida pode-se dizer que o marxismo tradicional um engelsianismo (2013, p. 2/13).

    Trs so os pilares do marxismo tradicional, segundo Elbe: 1) a tendncia ao determinismo

    ontolgico; 2) a interpretao historicista do mtodo formal-gentico e 3) a crtica do estado restrita

    ao contedo. Veremos a seguir rapidamente cada um destes pilares.

    2.1 A tendncia ao determinismo ontolgico

    A tendncia ao determinismo ontolgico fruto bastante direto da busca engelsiana de

    forjar a dialtica como um mtodo para se compreender, inclusive em termos de determinao de

    causa e efeito, tanto os fenmenos da natureza quanto os fenmenos de ordem social e histrica. A

    dialtica dividida drasticamente em dois conjuntos de leis, a partir de onde se pode concluir que

    o pensamento ou a conscincia entendida como uma imagem mental passiva do mundo externo.

    So pelo menos trs os desvios e pode-se dizer, distores da concepo marxiana de prxis

    3Segundo Marcel Van der Linden (1997, p. 448) o primeiro a propor a distino entre um Marx exotrico e um Marx esotrico foi Stefan Breuer (1977). Distino esta que exerceu um papel crucial em Robert Kurz ([1998], 2005) e nos demais autores da NCV.

  • realizadas pelo engelsianismo e que so fundadores do marxismo tradicional.

    1) Segundo Marx, no s o objeto mas tambm a observao do objeto historicamente

    e praticamente mediada, e portanto no externa ao modo de produo. Engels, por seu turno,

    enfatiza que a observao da natureza tal e qual j constitui uma observao materialista. O

    realismo ingnuo da teoria do reflexo sistematizada por Lenin e outros que resta presa aparncia

    reificada do imediao daquilo que socialmente mediado, do fetichismo de um em-si daquilo que

    existe apenas em uma estrutura de atividade humana historicamente determinada recebe seus

    fundamentos j nos escritos de Engels (ELBE, 2013, p. 2/13). Assim, uma viso pseudo-

    materialista relaciona crua e no-mediadamente pensamento e ser, conscincia e realidade material.

    2) Em A Ideologia Alem (1845-46), junto com Marx, Engels expressou o conceito de

    derivao natural [Naturwchsigkeit] como algo negativo, isto , ali eles enunciaram a ideia de

    superao das noes e leis sociais que permaneciam ocultas no inconsciente dos agentes coletivos

    como se naturais fossem. J no Engels de Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clssica alem

    (1886) desaparece este carter negativo, para ele agora era preciso apenas aplicar conscientemente

    no mundo social as leis gerais de movimento do mundo externo.

    3) Se nas Teses sobre Feuerbach (1845) Marx dizia que Todos os mistrios que

    orientam a teoria para o misticismo encontram sua soluo racional na prtica humana e na

    compreenso desta prtica (MARX, 1990, p. 34), Engels reduziu praxis atividade experiental das

    cincias naturais. De modo geral, Engels embrulhou junto [do marxismo] o cientificismo de sua

    poca, pavimentando o caminho para concepo mecanicista e fatalista do materialismo histrico,

    mudando o enfoque de uma teoria social da prxis para uma doutrina, uma teoria-reflexo

    contemplativa do desenvolvimento (id.).

    Reduzida ainda mais s trs leis da dialtica e aos cinco modos de produo, a

    doutrina engelsiana do desenvolvimento foi elevada categoria de doutrina oficial de estado pelo

    stalinismo. A potncia do estado sovitico era constantemente proclamada como advinda da

    capacidade de seus dirigentes de aplicar conscientemente e de acelerar os movimentos da

    histria com base no conhecimento de suas leis, em um misto paradoxal de voluntarismo e

    determinismo: a vontade tudo pode na medida em que se conhece e aplica o conhecimento sobre as

    leis de movimento da realidade objetiva independente dos agentes envolvidos nesta.

    2.2 A interpretao historicista do mtodo formal-gentico

  • Segundo Ingo Elbe, neste tpico o marxismo-leninismo , ainda mais explicitamente,

    engelsianismo. A interpretao de Engels da simultaneidade histrica e lgica do livro 1 de O

    Capital a dominante nos cem anos que sucederam a primeira publicao deste livro.

    Contra o pano de fundo de sua concepo de reflexo, Engels interpreta o primeiro captulo de O Capital como uma apresentao simultaneamente lgica e histrica da produo simples de mercadorias que se desenvolve no sentido das relaes de trabalho assalariado capitalista, apenas despido de sua forma histrica e desviando das ocorrncias casuais. O termo lgico neste contexto no significa basicamente nada alm de simplificado (ELBE, 2013, p. 5/13)4.

    A interpretao engelsiana da crtica da economia poltica marxiana como uma obra

    fundamentalmente histrica, apenas refletindo logicamente o desenvolvimento histrico o

    fundamento da tese de Hilferding de que de acordo com o mtodo dialtico, a evoluo conceitual

    corre em paralelo com a evoluo histrica (HILFERDING apud ELBE, 2013, p. 5/13). Mesmo

    um dos marxismos dissidentes, o chamado marxismo ocidental, seguiu em grande medida esta tese

    de Engels-Hilferding.

    O principal resultado desta tese a visada ao passado com categorias e conceitos prprios

    das sociedades capitalistas. Toda a histria humana passa a, indiferentemente, ser uma histria da

    apropriao do trabalho alheio. Entretanto, a especificidade das categorias valor e dinheiro so

    inteiramente subestimadas e a distino marxiana entre valor e forma valor fica inteiramente

    obscurecida5.

    At os anos 60, os teoremas de Engels continuam a ser transmitidos sem disputas. Junto com sua frmula (uma vez mais tirada de Hegel) da liberdade como sendo a conscincia da necessidade, e os paralelos esboados entre as leis naturais e os processos sociais, eles deram sustentao para um conceito de emancipao scio-tecnolgico de acordo com a seguinte premissa: a necessidade social (sobretudo a lei do valor), que opera anarquicamente e descontroladamente no capitalismo ser, por meio do marxismo como cincia das leis objetivas da natureza e da sociedade, gerenciadas e aplicadas de acordo com um plano. No o desaparecimento das determinaes de forma capitalistas, mas, antes, seu uso alternativo o que caracteriza este socialismo de adjetivos (termo de Robert Kurz) e esta economia poltica socialista (ELBE, 2013, p. 5/13).

    2.3 A crtica do estado restrita ao contedo

    4 As aspas indicam citaes de Engels de sua resenha Contribuio Crtica da Economia Poltica (1859) de Marx. 5 A observao de Marx em uma nota de O Capital (1996, p. 205, n. 119) contra Smith e Ricardo, caberiam, pois, como uma luva para o prprio Engels e seus seguidores.

  • Observaes engelsianas sobre o estado tambm encontramos em Anti-Dhring, Ludwig

    Feuerbache Origens da famlia, da propriedade privado e do Estado (1884). Estes trabalhos so os

    cnones do marxismo tradicional a respeito do tema, sendo tanto tomados como chaves da leitura

    para os textos do prprio Marx quanto amalgamados indiferentemente com estes6.

    Em Ludwig FeuerbachEngels afirma que o fato de todas as necessidades nas sociedades de classe serem articuladas atravs da vontade do estado o aspecto formal do tema aquele que autoevidente. A questo principal para uma teoria materialista do estado, entretanto, qual o contedo desta vontade meramente formal? A resposta desta questo, baseada puramente baseada em contedo, concernente vontade do estado para Engels o reconhecimento de que na histria moderna a vontade do estado , como um todo, determinada pelas necessidades cambiantes da sociedade civil, em face da supremacia desta ou daquela classe, em ltima anlise pelo desenvolvimento das foras produtivas e das relaes de troca (ELBE, 2013, p. 5/13)7.

    GertSchfer (1990, p. 99) j havia compreendido bem os limites desta concepo

    engelsiana:

    Mais tarde [em relao a 1886, JN] Engels assegurou que ns todos colocamos e tnhamos que colocar o acento principal na deduo das ideias polticas, jurdicas e semelhantes, bem como nas aes mediadas atravs destas ideias, a partir das relaes econmicas bsicas. E ao fazer isto descuidamos do lado formal em benefcio do contedo: o modo como estas ideias, representaes, etc., surgem. Engels considerou esta falta de mediao entre contedo e forma (sempre dei por esta falta post festum) como um dos lados da coisa, a qual... todos ns descuidamos, muito mais do que ela merecia (Engels a Franz Mehring, 14/07/1893).

    Retomando as observaes de Schfer, Elbe percebe que, para Engels, o estado e seus

    desdobramentos polticos e jurdicos passam a ser explicados quase que inteiramente pelo seu

    respectivo poder e pertencimento de classe. A partir deste modo de considerar o estado histrico-

    universalmente fixado no contedo, pode-se deduzir que Engels perde de vista a questo realmente

    interessante, nomeadamente, sobre o porqu do contedo de classe no capitalismo tomar a forma

    especfica da autoridade pblica (2013, p. 5/13).

    6 Para um estudo marxolgico que separa cuidadosamente as consideraes de Marx das de Engels a respeito do estado, cf. TamyPogrebinschi (2009), para um estudo confrontando os textos de Marx e os de Engels, cf. Norman Levine (1975). 7 As aspas indicam citaes de Engels de Ludwig Feuerbach.

  • O resultado mais importante desta viso estreita do marxismo tradicional que ele concebe

    o planejamento econmico estatal e a socializao direta como equivalentes. A tarefa do movimento

    operrio passaria a ser comandar o poder centralizador, planejador e monopolizador advindo do

    desenvolvimento mesmo do capitalismo, alterando-lhe somente o contedo classista, que, ademais,

    seria uma consequncia natural da obsolescncia da classe burguesa. E aqui novamente, caberia

    uma longa mas crucial observao de GertSchfer:

    Engels (tambm Hilferding e Lenin) confunde a sociabilidade especfica da produo capitalista de mercadorias e o seu modo caracterstico de planejamento com a produo imediatamente social. A produo capitalista privada no desaparece pelo simples fato de ser um capital da sociedade, produo para a conta associada de muitos capitalistas. No se elimina a inexistncia de planificao no capitalismo a partir do momento em que os trusts e outras formas semelhantes de organizao do capital passam a conceber planos em larga escala. De fato, Engels tinha empregado um conceito de produo privada que se referia quilo que hoje chamamos de capitalismo do empresrio, e a falta de planejamento era entendida por ele num sentido limitado; no seu entender, o fim da falta de planejamento dar-se-ia atravs do controle de mercados tal como exercitado nos trusts, o qual permite um planejamento de vendas, das quantidades e dos preos, o que coloca em cheque a ideia de que a livre concorrncia constitui a forma nica e absoluta de movimentar o capital. Entretanto, Engels passou ao largo do problema decisivo, que o da relao da lei do valor com as novas formas assumidas pela monopolizao e pela interveno estatal; e mais tarde Lenin identificou falsamente a anarquia do modo capitalista de produo com a efetividade desenfreada da anarquia do mercado, com o assim chamado capitalismo da concorrncia (SCHFER, 1990, p. 132-133).

    O estado, concebido apenas por intermdio de uma fixao de contedo, passa a ser

    determinado inteiramente pela classe social que tem dominncia sobre seu aparelhos, sendo as

    classes, por sua vez, determinadas sobretudo pela propriedade privada dos meios de produo;

    sendo esta ltima determinao, no obstante, inelutavelmente jurdica ela prpria.

    Lenin escrevia com toda clareza em 1917 que para ele transio socialista significava

    que todos os cidados se tornam empregados e operrios de um s truste universal de Estado, e

    assim, a sociedade inteira no ser mais do que um grande escritrio e uma grande fbrica, com

    igualdade de trabalho e igualdade de salrio (LNIN, 2011, p. 153). Este pode ser visto como um

    desenvolvimento poltico-prtico da crtica engelsiana do estado.

    2. ELEMENTOS CENTRAIS DOS MARXISMOS DISSIDENTES

  • Os anos 20 do sculo XX assistiram a uma forte retomada criativa da crtica anticapitalista

    e, no seu ensejo, de leituras mais prximas dos textos de Marx e que abririam novas chaves para sua

    leitura. Quatro obras se destacam como representativas deste momento: Histria e Conscincia de

    Classe (1923) de GeogLukcs, Marxismo e Filosofia (1923) de Karl Korsch, A Teoria Geral do

    Direito e o Marxismo, de EvgenyPachukanis (1924) e A Teoria Marxista do Valor (1924) de

    IsaakIlitch Rubin.

    As duas primeiras obras, do jovem Lukcs e a Korsch foram fundadoras daquilo que

    Merleau-Ponty chamou de marxismo ocidental (2006)8. A redescoberta das duas ltimas obras

    nos anos 60 foram propulsoras de outra vertente de marxismo dissidente, a Nova Leitura de Marx

    que, por seu turno, recebeu forte influncia do marxismo ocidental.

    Intelectuais como Georg Lukcs (1895-1971), Ernst Bloch (1885-1977), Karl Korsch

    (1886-1961), Antonio Gramsci (1891-1937), Max Horkheimer (1895-1973), Theodor Adorno

    (1901-1969), Herbert Marcuse (1889-1979), Alfred Sohn-Rethel (1899-1990), Lucio Coletti (1924-

    2001), Henri Lefebvre (1901-1991), Galvano Della Volpe (1895-1968) e Louis Althusser (1918-

    1990) tm em comum o fato de que propuseram novas leitura e fronteiras para o pensamento

    anticapitalista que iam alm dos cnones do marxismo-leninismo.

    Gramsci, por exemplo, criticava a uso da Revoluo Russa de Outubro como paradigma de

    revoluo para o ocidente. Lukcs esclareceu em grande medida a real posio terico-crtica de

    Marx a respeito da dialtica e do materialismo, para alm de algumas das distores e redues do

    engelsianismo, tarefa tambm que se deu Karl Korsch. Alguns importantes aspectos do marxismo-

    leninismo, porm, permaneceram no chamado marxismo ocidental, como por exemplo, em

    Lukcs e Gramsci a centralidade do papel revolucionrio para o proletariado fabril (ELBE, 2013, p.

    6/13).

    Para Elbe, entretanto, o marxismo ocidental pode ser caracterizado tambm pelo que ele

    silenciou sobre:

    A caracterstica geral desta formao marxista sua sensibilidade para o legado hegeliano e o potencial crtico-humanista da teoria de Marx, a incorporao de abordagens burguesas contemporneas para elucidar a grande crise do movimentos dos trabalhadores, a orientao para a metodologia, a sensibilizao para os fenmenos psicossociais e culturais em conexo com a questo referente s

    8 A expresso marxismo ocidental, como lembra Elbe, parece ter vindo logo que Histria e Conscincia de Classe foi publicado. Ela serve como referncia geral mas j foi bastante e acertadamente criticada como referncia a um conjunto de teses ou uma escola. O uso da expresso foi consagrado por Perry Anderson (1976)

  • razes para a falha da revoluo no ocidente - prov a estrutura para um novo tipo de exegese restrita de Marx. Esta se caracteriza essencialmente pela negligncia em relao aos problemas da poltica e da teoria do estado, uma seletiva recepo da teoria do valor de Marx, e a predominncia de uma ortodoxia silenciosa concernente crtica da economia poltica. () At meados dos anos 60 parece que nenhum marxista ocidental extendeu seu debate com as tradicionais interpretaes de Marx para o domnio da teoria do valor (ELBE, 2013, p. 6/13).

    De acordo com o competente estudo panormico realizado pela revista/coletivo Endnotes,

    das retomadas da leitura de Marx, em especial de O Capital nos anos 609, se destacam aquelas

    realizadas pela Nova Leitura de Marx [neue Marx-Lektre] na Alemanha. As principais razes para

    a vantagem da releitura alem de Marx, segundo Endnotes que:

    o grande recurso cultural que Marx usava na crtica da economia poltica o idealismo clssico alemo no estava sujeito aos mesmos problemas de recepo do pensamento hegeliano que em outros pases. Assim, enquanto na Itlia e na Frana as novas leituras de Marx tendiam para um preconceito anti-Hegel como reao em face dos modismos hegelianos anteriores e contra o marxismo hegeliano, os debates alemes conseguiram esboar um quadro mais matizado e informado do vnculo Marx-Hegel. Um fato crucial foi que eles viram que ao descrever a estrutura lgica da totalidade real das relaes capitalistas, Marx em O Capital ficou em dvida no tanto com a concepo de Hegel de histria dialtica, mas com a dialtica sistemtica da Lgica. Assim, o novo marxismo crtico, algumas vezes denominado depreciativamente de Kapitallogik tinha menos em comum com o marxismo crtico anterior de Lukcs e de Korsch do que com o de Rubin e Pachukanis. A Nova Leitura de Marx no era uma escola homognea mas uma abordagem crtica envolvendo srios argumentos e discordncias que no obstante compartilhavam um certo direcionamento (ENDNOTES, 2010, p. 5/17)

    Trs so os autores mais expressivos deste primeiro momento da Nova Leitura de Marx:

    Hans-Jrgen Krahl10 (1943-1970) cujos escritos mais importantes foram recolhidos em Constituio

    e Luta de Classes ([1971], 2008), Hans-Georg Backhaus, cuja obra principal, que foi gestada desde

    esses anos Dialtica da forma-valor ([1997], 2011) e Helmut Reichelt, o mais conhecido deles,

    cuja obra Sobre a estrutura lgica do conceito de capital em Karl Marx (2013) , pode ser apontada

    como a mais importante da primeira rodada de debates da Nova Leitura de Marx. Krahl,

    Backhaus e Reichelt significam tanto uma ruptura quanto um desenvolvimento da reflexo

    9Outras releituras importantes deste momento foram as de Tronti e do obreirismo na Itlia e a do estruturalismo de Althusser na Frana, que, todavia, esto mais prximas das tentativas de releitura de Marx do marxismo ocidental e de seus limites. 10Curiosamente, Krahl foi um dos lderes do movimento estudantil antiautoritrio que interrompeu uma aula de Adorno em protesto, e Adorno, em resposta, chamou a polcia em um polmico episdio que antecedeu sua morte em 1969. Krahl morreu em um acidente de carro no ano seguinte.

  • filosfico-crtica da Escola de Frankfurt. Mais ainda: a Nova Leitura de Marx rompeu

    definitivamente com os limites engelsianos que comprimiam a leitura dos textos de Marx e as

    crticas do capitalismo delas derivadas.

    Nos debates alemes, e subsequentemente internacionais, a autoridade de Engels assim como do marxismo tradicional que dela dependiam foi compreensivamente desafiada. A Nova Leitura de Marx argumentava que nem a interpretao engelsiana, nem qualquer uma das modificaes a ela propostas fez justia ao movimento por trs da ordem e do desenvolvimento das categorias em O Capital. Em lugar de um avano partindo de um estgio no-capitalista, ou um modelo simplificado hipoteticamente da produo mercantil simples at chegar a uma etapa posterior, ou um modelo mais complexo de produo capitalista de mercadorias, era preciso captar o movimento de O Capital como uma apresentao da totalidade capitalista desde o princpio, que se movia do abstrato ao concreto. Em Sobre a estrutura lgica do conceito de capital de Karl Marx Helmut Reichelt desenvolveu uma concepo que, de um modo ou outro, agora fundamental para os tericos da dialtica sistemtica: que a lgica do conceito de capital como processo autodeterminado corresponde a ir para alm de si do conceito da Lgica de Hegel. De acordo com este ponto de vista o mundo do capital pode ser considerado como objetivamente idealista: por exemplo, a mercadoria como uma coisa suprassensvel ainda que sensvel. A dialtica da forma-valor mostra como, partindo da forma-mercadoria mais simples, os aspectos materiais e concretos do processo da vida social esto dominados pelas formas sociais abstratas e ideais do valor (ENDNOTES, 2010, p. 6/17).

    Sado diretamente do debate aberto pela Nova Leitura de Marx, o assim chamado debate

    derivacionista recolocou em questo o problema do estado, de um modo profundamente divergente

    do modo engelsiano-leninista. O modo distinto conforme o qual Pachukanis colocou o problema foi

    redescoberto. Lembremos da proposio pachukaniana:

    O conceito de direito aqui [em Plekhanov] considerado exclusivamente do ponto de vista de seu contedo; a questo da forma jurdica enquanto tal no colocada. Contudo no h dvida de que a teoria marxista no deve apenas examinar o contedo concreto dos ordenamentos jurdicos nas diferentes pocas histricas, mas fornecer tambm uma explicao materialista do ordenamento jurdico como forma histrica determinada. Se renunciarmos anlise dos conceitos jurdicos fundamentais, obteremos apenas uma teoria jurdica explicativa da origem do ordenamento jurdico a partir das necessidades materiais da sociedade e, consequentemente, do fato de que as normas jurdicas correspondem aos interesses de tal ou qual classe social. Mas o prprio ordenamento jurdico permanece sem ser analisado enquanto forma, apesar da riqueza do contedo histrico que introduzimos neste conceito (PASUKANIS, 1988, p. 18-19).

    Ainda que no se mostre consciente disso, Pachukanis colocou as premissas engelsianas

  • em cheque, de um modo muito semelhante quele de Isaak Rubin (1980) ao tratar dos problemas da

    crtica da economia poltica11. por esta picada que avanam os autores dos debates

    derivacionistas, dentre os quais se destaca Joachim Hirsch (1990, 2010)12.

    Baseando-se na obra pioneira de Pachukanis, os participantes do debate da derivao do estado captaram a separao entre o econmico e o poltico como elemento prprio da dominao capitalista. Isto implicava que, longe de ser considerada como o estabelecimento de uma economia socialista e de um estado obreiro, como preconizava o marxismo tradicional, a revoluo devia ser entendida como destruio tanto da economia como do Estado. Apesar do carter abstrato (e as vezes acadmico) destes debates, comeamos a ver agora como na Alemanha o retorno crtico a Marx sobre a base das lutas do final dos anos sessenta teve consequncias concretas (e muito radicais) para a forma que concebemos a superao do modo de produo capitalista (ENDNOTES, 2010, p. 7/17)

    CONSIDERAES FINAIS

    O debate aberto pela Nova Leitura de Marx, que pode ser caracterizado pelo recurso

    dialtica sistemtica da forma valor se espalhou a seguir por vrios pases, sem que necessariamente

    possamos encontrar nisso uma relao de influncia direta, mas de simultaneidade. Diversos autores

    mais ou menos ligados a movimentos sociais e mais ou menos acadmicos, se detiveram nas

    questes postas pela crtica marxiana das formas sociais do valor. Estes autores podem ser

    relacionados aqui no que segue (de modo no exaustivo): Roman Rosdolsky (2001), Cristopher

    Arthur (2004), Alfredo Saad-Filho (2002), Werner Bonefeld (1992), Michael Eldred (2010),

    Michael Heinrich (2004), Patrick Murray (2005), GeertReuten (2005), Fred Moseley (2004),

    FeltonShortall (1994), Ruy Fausto (1983, 2002), Tony Smith (1993), Claudio Napoleoni (1980,

    1988), Jean-Marie Vincent (1987), Ingo Elbe (2010, 2013), Massimo De Angelis (2007), e, a nosso

    juzo, em destaque: Slavoj iek (2012, 2013), MoishePostone (2006, 2014), John Holloway (2003,

    2013) e KojinKaratani (2003, 2014), alm da Nova Crtica do Valor, com autores como Robert Kurz

    (1993, 1997, 2003, 2004, 2005a, 2005b) e AnselmJappe (2006, 2013) para nomear apenas dois.

    11 Como faz notar Endnotes (2010, p. 16/17, n. 51), Rubin pouco influenciou os debates alemes inicialmente. 12 Para materiais sobre o debate derivacionista cf. (HOLLOWAY & PICCIOTO, 1978).

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  • RESUMO

    Neste artigo temos a pretenso de apresentar em linhas gerais as teses defendidas pela

    Nova Crtica do Valor (NCV), alm de referncias sobre alguns de seus precursores. Pela

    designao NCV entendemos uma frente da batalha de ideias anticapitalistas, que surgiram e se

    desenvolvem em torno de coletivos tericos que se apresentam publicamente sobretudo por

    intermdio de publicaes abertas, em especial as revistas alems Krisise Exit!.

    Palavras-chave: Crtica do valor, crtica do trabalho, ps-marxismo.

    ABSTRACT

    In this article we claim to present an overview of the theses defended by the New Critique

    of Value (NCV), and references to some of their precursors. By NCV we mean a field of the battle

    for anti-capitalist ideas that emerged and developed around theoretical groups that present

  • themselves publicly through open publications, in particular the German journals Krisis and Exit!.

    Key-words: Critique ofValue, critique of labor, post-Marxism.