130-268-1-SM

download 130-268-1-SM

of 7

description

Sim, isso mesmo

Transcript of 130-268-1-SM

  • 256

    On-line http://revista.univar.edu.br/ Interdisciplinar: Revista Eletrnica da Univar (2011) n. 6 p. 256 - 262ISSN 1984-431X.

    1. INTRODUOMesmo conscientes da multiplicidade

    das culturas, do presente e do passado, em cadauma delas reconhecemos uma parte de nsmesmos. Ao reconhecermos que somos oresultado do encontro de incontveisantepassados e culturas, empreendemos oprimeiro passo para respondermos a duasquestes importantssimas para construo denossa Histria, e que so respectivamente deonde viemos e por que estamos aqui.Demonstraremos neste artigo informaesacerca da ocupao de Barra do Garas, desde opassado mais remoto at meados dos anos 1960.1.1 Ocupaes iniciais da Regio.

    Os nossos antepassados mais remotostm como bero a frica, de l que h quatromilhes de anos atrs o homem, iniciou suacaminhada sobre o planeta Terra. entrecinqenta mil e quinze mil anos atrs, quesegundo historiadores como Nide Guidon, asAmricas comearam a ser ocupadas, por povosvindos da sia, Oceania e segundo teorias maisrecentes da frica. O Brasil tm um passadoPr-histrico riqussimo investigado porarquelogos do porte de Nide Guidon, querepresenta uma incansvel defensora dessepatrimnio, ainda to carente de investimentos eproteo.

    O Centro-Oeste brasileiro guardauma enorme quantidade de vestgios deixadospelos povos que primeiramente ocuparam estasparagens. Podemos perceber isto nos diversosstios arqueolgicos j identificados no Vale doAraguaia. Os estudos cientficos destes stiosiniciaram-se nas dcadas de 1970 e 1980, comoafirma Jorge Eremites de Oliveira e Sibli

    Aparecida Viana no artigo chamado: Pr-histria da Regio Centro Oeste do Brasil: ocentro oeste exceo do pantanal oscaadores e coletores 1 Parte Ciudad Virtualde Antropologia e Arqueologia, para tantoafirmam que:

    Na regio, o desenvolvimento de pesquisasarqueolgicas sistemticas e contnuas teveincio em Gois, atravs da execuo deprojetos de pesquisa junto UniversidadeCatlica de Gois (UCG) e UniversidadeFederal de Gois (UFG), respectivamenteem 1971 e 1974. Posteriormente, sobretudoa partir da dcada de 80, pesquisas destanatureza foram realizadas em Mato Grosso eMato Grosso do Sul, em sua maioria porarquelogos brasileiros vinculados ainstituies de ensino superior. (OLIVEIRAe VIANA, 2000, p. 06)

    Desta maneira, estes pesquisadoresconstruram teorias acerca da ocupao daregio centro-oeste e que hoje norteiam aquelesque enveredam por esta rea da produoacadmica. Podemos compreender na fala deOliveira e Viana a base destas teorias quandoestes dizem que:

    Ao que tudo indica, as primeiras ocupaeshumanas do Centro-Oeste esto vinculadas presena de grupos caadores-coletores quese estabeleceram na regio entre o final doPleistoceno e o incio do Holoceno, entre12.000 e 10.000 A.C. Existem, todavia,datas mais antigas, mas que, em sua quasetotalidade, ainda devem ser vistas comcautela. (OLIVEIRA e VIANA, 2000, p. 11)

    O ESPAO E O CONTEXTO HISTRICO DE BARRA DO GARAS: CONHECENDO ASHISTRIAS DE OCUPAO DO LUGAR

    Alessandro Matos do NascimentoRESUMOHistria de Barra do Garas. Divises da Histria local. Os primeiros habitantes, a histria grafa. Expediesbrancas no Vale do Araguaia bandeirantismo. Populaes indgenas locais: Bororo e Xavante. Aventureiros noAraguaia o Coronel Fawcett.Palavras chave: Araguaia, Fawcett, Barra do Garas

    ABSTRACTHistory of the Barra do Garas. Division of Local History. The first inhabitants, the unwritten history. Expeditionsin white Vale do Araguaia - bandeirantismo. The local indigenous populations: Xavante and Bororo. Adventurousin Araguaia - Coronel Fawcett.Keywords: Araguaia, Fawcett, Barra do Garas

  • On-line http://revista.univar.edu.br/ Interdisciplinar: Revista Eletrnica da Univar (2011) n. 6 p. 256 - 262ISSN 1984-431X

    257

    comum encontrarmos na regio de Barrado Garas, relatos de agricultores que ao prepararem aterra para o plantio, localizaram restos de ferramentas,cermicas e ossadas dos primeiros habitantes destasparagens. Vrios colonos ainda guardam em casavestgios dos habitantes pr-histricos de Barra doGaras, acreditando terem poderes curadores eprotetores, como aqueles que guardam as pedras deraio, ou seja, machadinhos de pedra que, segundo osmoradores mais antigos, protegeriam a casa contraqueda de raio. neste contexto que percebemos noimaginrio local uma busca em conectar-se ao passado,mesmo que este contato estabelea-se de maneira queos nativos atuais dem sentidos mticos aos vestgiosdeixados na terra e na pedra pelos primeiros habitantesda regio.

    Mais recentemente temos na pesquisada Professora Mestre Nina Tereza de OliveiraDolzan (2006) realizada em grande parte noVale do Araguaia, o suporte terico paraconhecermos e entendermos os primeiroshabitantes da regio. A base de sua pesquisa oestudo das pinturas e gravuras rupestres,confeccionadas pelos grupos que habitaram aSerra do Roncador e suas proximidades. Esteimportante estudo tem como principal objetivoconscientizar os habitantes desta regio, danecessidade de lutarmos pela preservao desteriqussimo patrimnio histrico cultural pormeio da Educao Patrimonial. Nina afirma isto,quando em seu artigo, Educao Patrimonial,denuncia a urgente preservao das pinturasrupestres abertas visitao pblica na regiocentral do Vale do Rio Araguaia.

    Urge proteger esse acervo do passado para opresente e para o futuro. H um conjunto deleis pertinentes, mas aes mais diretasdevem ser realizadas, para que ofreqentador dos stios arqueolgicos, almde visit-los, possa conhec-los para am-lose preserv-los. A Educao Patrimonialpresta-se a esse objetivo com eficienteenvolvncia, preparando o ser humano emformao, para que possa sempre estarbuscando a sua identidade e preservando oseu patrimnio cultural. (DOLZAN, 2006, p.34 )

    Alm disso, Nina Dolzan nos chamaa ateno em seu estudo, para o potencialturstico dos stios da Serra do Roncador.Notamos isto quando ela afirma :

    A arte rupestre, notadamente as pinturas,compe um dos mais visveis e famosos

    vestgios da Pr-histria. Proporcionam umentendimento da mente pr-histrica, comonenhum outro vestgio poderia permitir aohomem moderno. Admiradas por leigos eestudiosos, so um dos principais balastreseconmicos do potencial turstico do localonde se localizam. . (DOLZAN, 2006, p. 39)

    FIGURA 2- Arte rupestre da pr-histriaencontrada na Gruta dos Pezinhos naSerra Azul em Barra do Garas.

    .Fonte: Marcelo Uemura, 2007.

    Alguns milhares de anos se passarame aqueles primeiros grupos humanos que aquideixaram inmeros vestgios, seja nas pinturasrupestres, nos acampamentos e nas ferramentasde pedra polida, migraram para outras regies,ou desapareceram? S a continuao daspesquisas poder futuramente dizer.1.2 Grupos Indgenas da Regio.

    Nesses cinco sculos registra-secontra os nativos amerndios, no apenas todasorte de agresses, ameaas, escravizaes egenocdio, como tambm a resistncia e aconfiana destes no futuro, atravs de lutas paraassegurar seus territrios, sua cultura, suasidentidades.

    Conforme relato do ConselhoIndigenista Missionrio (CIMI) de 2000, MatoGrosso, atualmente abriga uma surpreendente

  • On-line http://revista.univar.edu.br/ Interdisciplinar: Revista Eletrnica da Univar (2011) n. 6 p. 256 - 262ISSN 1984-431X

    258diversidade de 38 povos indgenas somando umapopulao de 23 mil pessoas, aproximadamente.Apesar de toda a violncia cometida contra osindgenas ao longo dos 500 anos, constatamosuma enorme resistncia por parte dos povosindgenas. Inclusive registra-se um aumentodemogrfico considervel alm de umapreocupao no campo da educao escolar.Basicamente em todas as aldeias h escolasassumidas por professores indgenas, os quais,em sua maioria, esto em processo de formao,uns cursando o Magistrio, outros cursando oensino superior (SECRETARIA DAEDUCAO DE BARRA DO GARAS,2004). Dentre os povos que retomam o seucrescimento populacional e que fazem parte dahistria de Barra do Garas encontram-se ospovos Bororo e Xavante. Pela primeira vez nahistria esboam-se garantias legais voltadaspara o futuro dos ndios, abrangendo oreconhecimento de direitos territoriais.FIGURA 3 - Grupo indgena Xavante

    Fonte: Otavio Firmino, 2008.O grupo indgena Bororo

    estabeleceu-se ainda no Brasil pr-colonial naregio do Vale do Araguaia e sem duvidaalguma, um dos povos indgenas maisconhecidos do Brasil e do mundo como ressaltao livro Os Bororos na Histria do Centro-OesteBrasileiro 1716-1986, escrito por membros daMisso Salesiana de Mato Grosso, relata aseguinte passagem.

    Podemos afirmar que a tribo bororo umadas mais conhecidas do mundo. Estudiososbrasileiros e estrangeiros escreveram livrossobre os Bororos. Lembramos alguns: ossalesianos Colbacchini, Tonelli, Albisetti eVenturelli, autores estes da EnciclopdiaBororo da qual foram editadas at agora umtotal de 2596 pginas; Claude Lvi Strauss,Christopher Croker, Cndido MarianoRondon, Manuel Cruz, Carlos Drumond.Seria demais enumerar vrias teses dedoutorado de alunos de antropologia deuniversidades estrangeiras e brasileiras,

    especialmente da USP. (BORDIGNON,1986, p. 41)

    Na cidade de Barra do Garas ainda possvel encontrar vestgios de aldeias bororosque existiram ali, at fins do sculo XIX,inclusive quando da construo da instituiopblica chamada Departamento Nacional deestradas e Rodagens (DNER) no centro dacidade na dcada de 1970, foram encontradasvrias urnas funerrias bororo, que na pocaforam encaminhadas a Universidade federal deMato Grosso (UFMT) em Cuiab para seremestudadas e posteriormente devolvidas acomunidade barragarcensse, o que at a presentedata no ocorreu.

    H ainda na memria coletiva umasrie de histrias que fazem aluso aos primeiroscontatos entre bororos e brancos na regio doMdio Araguaia, uma destas se refere a ummassacre dos indgenas comandados por umfazendeiro no fim do sculo XIX e que assimnarrado por Bordignon.

    Em 1897 os Bororos assaltaram a fazendaTatu, perto de Araguaiana, matando osfamiliares do fazendeiro Clarismundo. Emrepreslia, ele organizou uma expedio commuitos homens fortemente armados e foiperseguir os Bororos. Encontrou-os nocrrego Aldeia afluente do rio Garas, ematou mais de cem. Outras barbaridadesforam levadas a efeito contra os ndios,lembradas at hoje pelos habitantes daregio. (BORDIGNON, 1986, p. 29)

    Na atualidade os Bororos destaregio vivem em reserva pertencente cidade deGeneral Carneiro e segundo Bordignon esto naseguinte situao.

    Todas as aldeias tm atendimento de sade,por parte da FUNAI ou da Misso salesiana.A educao que recebem dos pais e da tribo ainda bastante eficiente. (...) hoje oproblema mais srio dos Bororos oalcoolismo. No passado usavam algumasbebidas levemente alcolicas. Com osbrancos conheceram a aguardente que,muitas vezes dada gratuitamente, originouuma aguda dependncia por parte dos ndios.O problema agrava-se cada vez mais pelafacilidade de comunicao que existe naregio. (...) a nao brasileira no podeesquecer a histria dos Bororos, acontribuio que estes lhe deram e o preoque pagaram, especialmente no Centro-

  • On-line http://revista.univar.edu.br/ Interdisciplinar: Revista Eletrnica da Univar (2011) n. 6 p. 256 - 262ISSN 1984-431X

    259Oeste. Acreditamos que os inmerosmrtires bororos no morreram em vo e queos poucos que sobreviveram continuaro atrabalhar para manter e relembrar suacultura, num ambiente de paz e auto-suficincia. (BORDIGNON, 1986, p. 47-49)

    Ainda no sculo XVIII iniciou-se asaga da migrao dos ndios Xavante que ataquele momento viviam em Gois, onde hoje oEstado de Tocantins. Para fugir do contato comos no-ndios os Xavantes empreenderam fugapara o interior do Centro-Oeste, desta forma,chegam regio que ficaria conhecida comoVale do Araguaia. Esta chegada marcada peloconfronto com outros grupos indgenas, jestabelecidos, como os Bororos. Para conquistarespaos, os Xavantes guerreavam e eramconsiderados, pelos bandeirantes que andavamatrs de ouro, os ndios mais temidos. Dessemodo, o grande grupo faz a travessia para oMato Grosso fixando-se nas redondezas do Riodas Mortes. Sempre s margens deste rio, sedeslocaram periodicamente at chegarem sterras do atual municpio de RibeiroCascalheira. Em 1957, dividiram as aldeias, emseis Reservas. Fundaram a aldeia SantaTerezinha que mais tarde chamou-se aldeiaCachoeira. Nessa aldeia viveram vrios anos,todos juntos, s mais tarde comearam a dividir-se em outras aldeias menores.

    No imaginrio culturalbarragarcensse a etnia Xavante tem significativarepresentatividade. Ao entendermos mesmo quesuperficialmente quem este povo, quais soseus costumes, suas vivncias, e ainda a suaimportncia na construo da culturabarragarcensse, estaremos preenchendoimportante lacuna da historiografia regional.

    O Relatrio do Projeto TUCUM(1),de 1995, descreve o povo Xavante cujaautodenominao Auwe, que significa "genteverdadeira", como um povo que pertence aogrupo lingstico J.

    Atualmente eles vivem em seis reasindgenas que so: So Marcos, Parabubure,Sangradouro, Couto Magalhes, Rio das Mortese Arees, localizadas na regio entre os RiosAraguaia e Batovi, no leste mato-grossense.Juntamente com os Xerente do Norte de Goisformam o ramo central da Famlia lingsticaMacro-J. Hoje, eles so aproximadamente12.400 pessoas distribudas emaproximadamente 104 Aldeias, em dezMunicpios: gua Boa, Nova Nazar, Barra doGaras, Canarana, Campinpolis, Novo SoJoaquim, Paranatinga, Poxoru, GeneralCarneiro e Ribeiro Cascalheira . Sete destesmunicpios j pertenceram a Barra do Garas emum passado recente. Essa populao representa

    quase metade da populao Indgena do Estadode Mato Grosso.

    Durante todo o sculo XIX e noincio do sculo XX, os Xavantes permaneceramhostis para com os forasteiros e com qualquertentativa de contato pacfico a ser estabelecidocom eles.

    Na dcada de 30 e no incio dadcada de 40, tanto o Servio de Proteo aondio (SPI), como os Missionrios Salesianosfizeram tentativas infrutferas para estabelecercontatos amigveis com os mesmos.

    Como as presses aumentaram narea do Rio das Mortes, os Xavante sesubdividiram em trs grupos bsicos, sendo quecada grupo experimentou tipos diferentes decontato com a sociedade branca. Alm domais, estes mesmos grupos tiveramrelacionamentos histricos distintos com oterritrio que atualmente ocupam. A populaoXavante foi estimada entre 1500 e 2000 pessoas,quando todos os grupos foram contatados, noincio da dcada de 50. Naquela poca,entretanto, eles sofreram um considerveldecrscimo populacional devido a epidemias echoques com habitantes locais.

    (1) O projeto TUCUM foi idealizado pelaSecretaria de Educao do Estado de MatoGrosso e realizado com o apoio da FUNAIem 1994. O projeto TUCUM, cujo nome homenagem a uma palmeira da regiomuito utilizada pelos indgenas, tem comoobjetivo formar e capacitar professoresindgenas em nvel de magistrio, levandoem considerao no s as teorias, como asexperincias prticas da vida indgena. Estacaracterstica alia ao processo deconhecimento as experincias prticas davida indgena.

    Os primeiros Xavantes queestabeleceram contato pacfico com agentes doSPI em 1946 foram aqueles que permaneceramna rea do Rio das Mortes, contato esselongamente procurado por aquele rgo. Estegrupo subsequentemente dividiu-se em doisgrupos que, na atualidade habitam as terrasIndgenas de Pimentel Barbosa e Arees.

    Ainda hoje, os Xavantes mantmuma organizao social e cultural muito fortecom danas, cantos, narrativas, pintura corporale cerimnias coletivas. um povo fisicamenteforte e se destaca pelo esporte tradicional,principalmente a corrida da tora de buriti,atrao aguardada ansiosamente por vrios anosnas comemoraes de aniversrio da cidade deBarra do Garas, quando os brancos assistiamextasiados aquela demonstrao de fora e arte.Outro destaque que merece ateno so as lutas

  • On-line http://revista.univar.edu.br/ Interdisciplinar: Revista Eletrnica da Univar (2011) n. 6 p. 256 - 262ISSN 1984-431X

    260corporais muito presentes na cultura Xavante.So ativos, determinados, hbeis corredores,gostam de jogar futebol, foram campees nosjogos indgenas do Vale do Araguaia em 2008.O primeiro deputado federal indgena brasileiro,Mrio Juruna (eleito pelo Rio de Janeiro),pertencia comunidade Xavante.

    Ao procurar a educao escolar osXavantes no estavam preocupados em se tornarinstrudos e sim aprender a falar portugus como intuito de se defender do "branco", para noser enganado. Atualmente, querem a escolacomo uma aliada para tentar fortalecer suastradies e seus costumes. Segundo eles, osXavantes precisam viver e conviver com aproximidade de culturas diferenciadas, semperder a deles. Os ndios mais velhos tm medode perder a sua cultura tradicional.(Hirtiwat, 2008)

    Acima de tudo, e em qualquercircunstncia, defendemos que se d umaateno especial diversidade cultural existenteem nosso pas e principalmente quando se tratadas manifestaes culturais do Xavante, porquetemos muito a aprender com eles. Estaconcepo est muito clara na carta-discursoescrita por um Xavante licenciado em Histriachamado Roberto Hi'rtiwat.

    Sou da etnia Xavante me chamo RobertoHi'rtiwat. O meu povo acredita que tudocomeou a partir do surgimento do homemXavante. Pois os mitos Xavante soinmeros e o sentido de vida neles contidosso bastante significativos. Percebe-se noseu contedo, o valor que os Xavante do afora e a coragem. Ns Xavante vivamosnesta terra muito antes dos brancos aquichegarem. Por um bom tempo fomosdesrespeitados, hoje queremos respeito etambm respeitar.Somos diferentes, nem inferiores, nemsuperiores. Geneticamente somos iguais,ndios, negros e brancos, e esta diferenaque pode nos unir, pois podemos aprenderuns com os outros, e crescermos juntos.Cada cultura nica e dessa forma rica. OVale do Araguaia nossa casa, a natureza nossa me, ns Xavantes e os brancos somosirmos. necessrio aprendermos aconviver e nos respeitar.A maior riqueza que o Brasil tem a suadiversidade cultural, que ns saibamosaproveitar este potencial e crescermosjuntos.Respeitar preciso. (Depoimento realizadoem Barra do Garas, 2009).

    Ns no-ndios temos muito aaprender com as comunidades indgenas, bastaabrirmos o dilogo cultural, pois nadiversidade que enriquecemos e quem sabe,encontraremos uma soluo para minimizar asdesigualdades sociais do Brasil.

    Acreditamos tambm, sobretudo, que nosso dever colocarmo-nos disposio dascomunidades indgenas para auxili-las na lutapela reafirmao cultural. Uma maneira de faz-lo seria, talvez, ajudar a re-escrever sua histria,seus cantos, seus mitos, ressaltando que adiversidade o que enriquece, e na diversidadeque nos complementamos e assim, podemosajudar-nos mutuamente.1.3 A presena dos Brancos no Vale doAraguaia.1.3.1 As primeiras expedies em busca deriquezas.

    Nos ltimos 300 anos, outroshomens fizeram desta terra de Barra do Garas,ponto de passagem e explorao. Entre estesencontramos nos sculos dezessete e dezoito, osBandeirantes Paulistas. Estes, naquele momentohistrico, enxergaram na caa ao negro daterra, ou melhor, na captura dos nativosamerndios a soluo para as dificuldadesfinanceiras que vivenciavam.

    "Buscar o remdio para a suapobreza", "buscar o seu remdio", "buscar suavida", "o seu modo de lucrar", expressescomuns em testamentos de bandeirantes,expressam os objetivos da expanso bandeirante.

    Pelos rios, principalmente os da baciado Tiet, as bandeiras alcanaram o interiorhabitado pelos nativos, chegando aos atuaisEstados de Minas Gerais, Gois, Mato Grosso eMato Grosso do Sul e s regies onde selocalizavam as aldeias jesuticas.FIGURA 4 - Bandeirantes do sculo XVIII.

    .Fonte: Ilustrao presente no livro Histria deMato Grosso: Da ancestralidade aos dias atuaisde Elizabeth Madureira Siqueira. (2002)

  • On-line http://revista.univar.edu.br/ Interdisciplinar: Revista Eletrnica da Univar (2011) n. 6 p. 256 - 262ISSN 1984-431X

    261Impossibilitados de adquirir escravos

    negros, os paulistas lanaram-se ao apresamentode ndios. Na verdade, o uso do trabalho escravoera objetivo comum dos colonos portugueses.Tanto os ndios, "os negros da terra", usadospelos paulistas, como os negros africanos de quese valiam os senhores de engenho do Nordeste,significavam mo-de-obra escrava. Sem ela oscolonos no conseguiriam produzir, nem "sesustentar na terra".

    Outra motivao para a realizaodas expedies bandeirantes era a concretizaode um antigo sonho dos portugueses, acalentadodesde que estes tomaram posse de nossoterritrio, ou seja, o sonho de encontrar, comohaviam feito os espanhis do outro lado daLinha de Tordesilhas, o Eldorado. A busca pelosmetais preciosos na Amrica portuguesa tinhaainda um nome: a Serra dos Martrios. Estalendria serra foi inicialmente buscada porBartolomeu Bueno da Silva o Anhanguera, eperpetuada por seu filho, o segundo BartolomeuBueno da Silva e Antnio Pires de Campos, odescobridor de Cuiab. Estes voltaram aointerior do Brasil e teriam sido os primeiroshomens brancos a passar pela regio doAraguaia, como afirma Pedro Juc em seu livroDirio Histrico de Mato Grosso, quando estediz:

    Antnio Pires de Campos localizava a Serrados Martrios na regio do RioAraguaia, que assim descrevia: "(...)Seguindo pelo mesmo abaixo, se avistamuns morros azuis, e nestes acharam a taperados Aras, onde chegamos com meu pai, queDeus haja, e achamos vrias cunhs comfolhetas pelo pescoo e braos, e destasfolhetas mandou meu pai fazer umresplendor para a Sua Virgem, e tambmuma coroa do mesmo ouro, que pesaquarenta e tantas oitavas, para a VirgemSenhora do Carmo do Hospcio de It. E,perguntando aos ditos ndios aondetinham achado aquelas folhetas, respondeu ocacique que foi naqueles morros depois dachuva. Isto foi o que vi, e no foram cousascontadas. Na volta que fizemos nosencontramos com o pai do capito-morBartolomeu Bueno (da Silva), e ouvindo ameu pai todo o referido. (JUC, 1992, p.54)

    A regio onde hoje est localizadaBarra do Garas comeou a ser explorada em1673, quando o bandeirante Manoel de CamposBicudo teria iniciado uma busca pelas lendriasMinas (Serra) dos Martrios. Segundo algunsestudiosos, esta serra poderia ser o local que nadcada de 1970, ganhou o nome de Serra

    Pelada, de onde se extraram toneladas de ouroe que se localiza atualmente no sul do estado doPar.

    Sabemos assim que o bandeirantismofoi responsvel pelo desbravamento brancodas terras localizadas no Centro-Oeste brasileiro.Vrias estrias so contadas pelos moradores dolocal sobre as experincias que os bandeirantestiveram na busca do ouro e do diamante.Selecionamos uma que faz meno aexploradores do sculo XIX, como sendo aindaherdeiros da cultura bandeirante. Assim narraAparcio Miranda do Nascimento que:

    Contam os mais velhos que Barra e regioforam ponto de passagem dos bandeirantes.Aqui no chamado travesso das Pitombastem uma fazenda, que tem segundo dizem,um local que servia de acampamento paraele. L j acharam garrafes, cachimbos epratos de barro que dizem ser daquela poca,chegando a General Carneiro tambm temuma fazenda que acharam componentes dearcabuz, como gatilhos e espoletas. O maisinteressante que dizem terem achado aquiem cima da Serra Azul na entrada de umacaverna os restos de uma espada e de umapistola daquelas de carregar pela boca.(Entrevista realizada em Barra doGaras, 2010)

    No incio do sculo XX, encontramosna intrigante histria do Coronel Fawcett (overdadeiro Indiana Jones), mais uma narrativasobre uma expedio branca dirigida regio deBarra do Garas e Serra do Roncador.

    Um texto, conhecido comoDocumento 512, achado em 1838 naBiblioteca Nacional do Rio de Janeiro, descreveuma enorme cidade perdida na Bahia. Estadescrio foi motivao que trouxe em 1925uma expedio ao interior do Brasil, maisprecisamente a Mato grosso.

    Na Serra do Roncador o exploradorCel. Percy Harrison Fawcett, seu filho Jack e umamigo desapareceram. Eles j haviam dito quedescobriram tneis na serra que levavam cidades subterrneas. Certa vez outro filho doexplorador, que no foi na expedio, recebeuuma carta de um soldado alemo dizendo queseu pai estava vivo e morando numa dessascidades. Fawcett levava consigo, quandodesapareceu, um pequeno dolo negroencontrado numa viagem anterior regio o que,para o ingls, era uma das provas da existnciade no apenas runas, mas de uma civilizaosobrevivente ainda hoje, isolada por completodo resto do mundo.

  • On-line http://revista.univar.edu.br/ Interdisciplinar: Revista Eletrnica da Univar (2011) n. 6 p. 256 - 262ISSN 1984-431X

    262 bem provvel que Fawcett estava,

    na verdade, em busca de riquezas, pois, nestapoca haviam ocorrido grandes descobertasarqueolgicas no Egito e Peru, trazendo fama enotoriedade aos seus descobridores. Estasdescobertas com certeza tambm serviram demotivao ao Coronel, para a realizao de suaaventura em busca da tal cidade perdida no MatoGrosso, mais precisamente na Serra doRoncador.

    H quem diga que Fawcett encontroua tal cidade e resolveu morar l, junto comhabitantes do local, um povo de tez branca elongos cabelos negros, que teriam poderesparanormais. Mais curioso ainda que gruposmsticos acreditam que seja uma cidadeintraterrena, portanto localizada no interior daterra, dificultando ainda mais a sua localizao.

    Porm, parece que Orlando Villas-Boas, o famoso sertanista, conseguiu decifrar oenigma em 1951 ao constatar que ndioskalapalos (etnia do Alto Xingu) teriam matadoFawcett e os outros dois estrangeiros numa brigae enterrado seus corpos.

    Outras teorias surgiram, mas o mitocontinua, e em seus rastro muitos turistas epesquisadores continuam a seguir. A partir destemomento, ou seja, na dcada de 1920 inicia-se aocupao garimpeira de Barra do Garas, e deste momento que continuaremos a seguir emoutro artigo.

    2. CONSIDERAES FINAISEntende-se que a preservao da memria de umapopulao acontece na medida em que aqueles que sedizem pesquisadores desenvolvem trabalhos quevalorizem a multiplicidade de discursos presentes noseio da sociedade estudada. Desta maneira entendemosestar realizando uma parte do importante trabalho depreservao da memria de Barra do Garas.4. CONCLUSOAo trmino deste artigo compreendemos a necessidadede continuarmos o caminho da pesquisa e davalorizao da memria local, pois papel dohistoriador trabalhar em prol da ressignificao dahistria e dos agentes da mesma, ou seja, as pessoascomo um todo.

    3. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BORDIGNON ENAWURU, Mario. Os Bororos naHistria do Centro-Oeste Brasileiro. Campo Grande:Grfica e Editora Cedro, 1986.

    DOLZAN, Nina Oliveira. Educao Patrimonial.Goinia, 2006.FERREIRA FILHO, Manuel. O (Des)encanto doOeste. Goinia: Editora da UFG, 2001.HALBWACHS, Maurice. A Memria Coletiva. SoPaulo: Centauro Editora, 2008.JUC, Pedro Rocha. Dirio Histrico de Mato Grosso.Cuiab: Editora Memrias Cuiabanas, 2002.LE GOFF, Jacques. Histria e Memria 11 volumeMemria. Lisboa Portugal: Edies 70, 1982.OLIVEIRA, Jorge Eremites de; VIANA, SibliAparecida. Pr-histria da Regio Centro Oeste doBrasil: o centro oeste exceo do pantanal oscaadores e coletores 1 Parte.. Artigo publicado naRevista Ciudad Virtual de Antropologia e Arqueologia,2000.SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. Histria de MatoGrosso: Da ancestralidade aos dias atuais. Cuiab:Entrelinhas Editora, 2002.VARJO, Valdon. Aragaras: Portal da Marcha Para oOeste. Braslia: Centro Grfico do Senado Federal,1989._______________. Barra do Garas: Do Passado oPresente. Braslia: Centro Grfico do Senado Federal,1992.