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    Yves CohenI

    POR QUE CHAMAR O SCULO VINTE DE O

    SCULO DOS CHEFES?

    I cole des Hautes tudes en Sciences Sociales (EHESS), Paris, Fr ana

    [email protected]

    UM FENMENO DO SCULO VINTE

    Uma coisa que me surpreendeu quando eu comecei a trabalhar sobre os quatro

    pases da minha pesquisa (Cohen 2013) a Frana, a Alemanha, os Estados Uni-

    dos e a Unio Sovitica , foi que eles haviam conhecido o mesmo fenmeno

    mais ou menos no mesmo momento. Em cada um deles formou-se, no final do

    sculo dezenove e incio do sculo vinte, um novo discurso sobre o comando,

    sobre o chefe, sobre a autoridade, sobre o domnio das massas, acompanhan-

    do a construo de formas hierrquicas novas em todos os domnios. Longe

    de envolver apenas pases totalitrios ou autoritrios, a emergncia dessas

    prticas, formais e operacionais em alguns casos, e discursivas em outros,

    ocorreu igualmente nos pases liberais e capitalistas. No se trata apenas da

    questo da autoridade dos grandes chefes, mas do aumento do valor opera-

    cional e simblico de todos os ttulos intermedirios de portadores de alguma

    parcela de autoridade, mesmo nos nveis mais baixos das fbricas, exrcitos,

    administraes ou mesmo da famlia e da escola. Trata-se de uma maneira de

    construir e de nomear o social no sculo vinte.

    Uma mudana lingustica ocorre em cada um dos pases estudados:

    nos Estados Unidos, a palavra leadership mal existia no final do sculo XIX. s nesse novo momento que o termo comea a ser usado na poltica, na

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    educao, na indstria, na ao moral e na psicologia. Woodroow Wilson, um

    jovem professor de direito e futuro presidente estadunidense tenta, nos anos1890 conceitualizar o termo leadership em poltica. Em 1904, o primeiro autor

    americano na rea de psicologia da liderana considera ser este o problema

    crucial da economia. Em 1915 um economista v a administrao dos negcios

    como sendo a arte de manejar os homens (the art of handling men) pela qual

    se formar em leadership(Collins, 1910; Jones 1915; Wilson, 1952; Terman, 1904).

    Desse ponto de vista, a palavra leadership menos uma palavra da lngua in-

    glesa do que uma palavra estadunidense. De modo ainda mais surpreendente,

    a velha palavra alem Fhrerera usada, ainda no final do sculo dezenove,

    apenas para funes menores como a de guia turstico ou de condutor de m-

    quina. O modelo de autoridade o modelo monrquico. Os primeiros manuaisde gerenciamento industrial, na mesma poca, dizem que o empreendedor

    sozinho deve reinar. A partir do comeo do sculo vinte isso se inverte. o

    Kaiser que deve ser um bom Fhrer, o Fhrerdo desenvolvimento. Em 1913, um

    historiador liberal declara o seguinte a respeito do Kaiser: Ns reivindicamos

    um Fhrerpelo qual atravessaramos o fogo (Emminghaus, 1868;Kohlrausch,

    2005). Os autores russos tambm colocam em prtica antigas palavras para

    lhes dar um sentido moderno e mais geral, como vozd, que significa guia ou

    chefe, e que no deve mais servir apenas para o tzar ou os grandes generais,

    mas para toda a escala de dirigentes polticos. Mesmo do lado do movimentosocialista, escuta-se Lenin exigir em 1902 que o partido social-democrata seja

    uma organizao de chefes na qual cada militante seja ele mesmo um che-

    fe (Lenin, 2006; Pobedonostsev, 1898). Em francs,a palavra chefassume tam-

    bm um valor geral no incio do sculo vinte. Antigamente ela se referia ape-

    nas aos ocupantes do topo das instituies: presidentes, monarcas, generais,

    empreendedores etc. Sem deixar de funcionar nesse sentido, cheftorna-se uma

    palavra que designa os portadores de autoridade em todos os nveis das ad-

    ministraes e das organizaes (Fayol, 1916; Foch, 1903; Saint-Fuscien, 2011).

    Assim, nas lnguas de quatro pases diferentes nota-se a busca seme-

    lhante de uma nova linguagem hierrquica que permita pensar mais ampla-

    mente a sociedade. Ora, em cada um desses pases, a passagem para o sculo

    vinte marcada pela afirmao de uma revoluo industrial, a instalao de

    empresas cada vez maiores que empregam um corpo de funcionrios cada vez

    mais numeroso e a formao de sindicatos, eles prprios, de massa. Instala-

    -se uma poltica de massa organizada por partidos que, s vezes, porm, no

    detm mais eles prprios o controle sobre as multides que amedrontam as

    elites. A guerra se torna ela mesma de massa, como j o caso da guerra civil

    americana, mas, sobretudo, da Primeira Guerra mundial, que conta com um

    nmero inaudito de mortos e engaja a mobilizao total dos diferentes pa-ses (Mosse, 1990). A escolaridade obrigatria faz da escola uma administrao

    de numerosas parcelas da populao. Trata-se de controlar as multides, de

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    fazer com que as massas obedeam, de orient-las na boa direo no plano

    poltico, no plano produtivo e na guerra, diante de armas de uma potnciajamais vista. Faz-se um imenso esforo para convencer as multides e as mas-

    sas de que elas tm necessidade de chefes. Este problema comum a Lenin,

    a Woodroow Wilson e a Gustave Le Bon, o autor francs de um best-seller

    internacional publicado em 1895, A psicologia das multides. Na Frana, surge

    o projeto de reunir as qualidades dissociadas dos chefes para perceber em

    sua unidade o tipo humano: chef. Quem o prope o fundador da ergonomia

    francesa e o autor de uma primeira Psicologia do chefe, em 1916. Ele se faz

    ouvir por gerentes que tambm tinham o projeto de esboar a fisionomia

    dos chefes. No existem chefes antigos e um chefe moderno. O chefe, como

    figura simblica e social, um ttulo oferecido a quem queira se promover emdireo aos altos nveis hierrquicos, um dos traos da modernidade do s-

    culo vinte. Le Corbusier, um dos principais criadores da arquitetura moderna,

    era um grande amador de chefes (Cohen, 1987). Henry Ford considerado um

    dos mais importantes lderes estadunidenses do sculo vinte (Bogardus, 1924).

    O chefe como figura sociossimblica vem preencher o vazio deixado

    desde fins do sculo dezoito pela desvalorizao irresistvel da aristocracia

    como classe natural de comando e tambm do rei como modelo de governan-

    te. Nos Estados Unidos e nas democracias europeias, no se pode comandar

    cidados como se comandavam servos. No exrcito, a ameaa de punio no mais suficiente para manter na linha de fogo as massas de recrutas (Lyautey,

    1891). Nas empresas, o gerenciamento mo de ferro passa a ser desconsi-

    derado tambm, como mostra o desenvolvimento do taylorismo (Taylor, 1957).

    Empreendem-se programas de educao dos operrios para a revoluo. O

    comando se torna uma cincia.

    PSICOLOGIA, SOCIOLOGIA

    A psicologia sem dvida a cincia social que participa mais ativamente desse

    movimento. A questo da multido e do chefe est no fundamento da psico-

    logia social. A obra de Le Bon sobre a psicologia das multides imediata-

    mente traduzida em numerosas lnguas, ingls, alemo, russo, portugus (Le

    Bon, 1895). O mpeto de transformar as formas de comando e desenvolver

    o discurso do leadership e do chefe um fenmeno multiplamente nacional.

    Mas tambm um fenmeno transnacional e de circulao: circulao entre

    os pases, mas, tambm, entre os domnios de atividade e de saber (Raj, 2007;

    Cohen, 2010). Le Bon adaptado a todas as situaes possveis. Quem entre os

    responsveis em todos os domnios no foi um leitor de Le Bon no incio do

    sculo vinte? A leitura de A psicologia das multides fortemente perceptvelna segunda parte da obra Que fazer?, de Lenin. Diz-se que Hitler ofereceu a

    primeira edio de A psicologia das multides a Mussolini quando ambos se

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    de selecionar os chefes de que a Alemanha tinha grande necessidade naquele

    momento. nessa conjuntura que Weber concebe a idia de um presidenteeleito diretamente pelo povo e que fosse dotado das qualidades carismticas

    profundas que fazem os chefes (Weber, 2011). Ainda que tenha sido publi-

    cada quando Weber ainda era vivo e tambm aps sua morte, sua teoria do

    chefe carismtico ficou um tanto quanto restrita Alemanha e ao domnio

    da sociologia at o final dos anos 1930, quando suas obras passam a ser dis-

    seminadas por socilogos alemes, frequentemente judeus, que se dispersam

    pelo mundo e particularmente nos Estados Unidos. V-se bem que essa teoria

    s pode ser plenamente compreensvel no seu tempo, mas tambm que ela

    plenamente atuante nesse perodo (Bendix, 1956; Michels, 1911).

    Para as cincias durkheimianas, da mesma forma, a autoridade est noprincpio do social. Trata-se de uma autoridade moral que se exerce sobre ca-

    da ato individual e que se exerce, entre outras formas, atravs das ordens. Esta

    autoridade provm das crenas e das prticas sociais constitudas que se

    impem a cada um. Este , para Durkheim, o problema central da sociologia.

    Como ele afirma em As formas elementares da vida religiosa : O problema socio-

    lgico se que podemos dizer que existe um problema sociolgico consiste

    em buscar nas diferentes formas de coero exterior as diferentes formas de

    autoridade moral que a elas correspondem, e em descobrir as causas que de-

    terminaram estas ltimas. E essas foras morais falam ao homem, segundoele, no tom do comando (Durkheim, 1990: 298).

    Essas cincias sociais alimentam e reforam, portanto, uma viso hie-

    rrquica da sociedade na qual uma das formas principais do vnculo social

    a obedincia de uns s ordens ou s prescries dos outros.

    Nos Estados Unidos, toda uma nova disciplina universitria e profissio-

    nal que se forma desde os anos 1920 para avaliar as qualidades ou os traos da

    personalidade dos melhores lderes (Van Fleet & Yukl, 1989). surpreendente,

    contudo, notar a disperso desses estudos. Desde 1930 levantam-se dvidas

    sobre a capacidade da psicologia de identificar de maneira certeira as qualida-

    des que fazem os bons chefes (Metcalf, 1931: 4). Como se constata, at mesmo

    a inteligncia, que objeto de muitas pesquisas, no chega a se tornar um dos

    critrios mais importantes. O lder apenas um pouco mais inteligente do que

    a mdia do grupo. Se no se podem selecionar os lderes por suas qualidades,

    ser que seria possvel faz-lo pelo seu comportamento? O behaviorismo ganha

    espao com o fracasso da psicologia dos traos da personalidade, sem conseguir

    se mostrar mais convincente segundo seus especialistas (Jago, 1982: 315). A

    partir dos anos 1930 diz-se que a qualidade da lideranano depende tanto do

    lder, mas dos seguidorese tambm da situao (Metcalf, 1931: 3). A liderana

    seria ento um tringulo formado pelo encontro entre os lderes, os seguidorese a situao. Para alguns, trata-se de um fenmeno objetivo; para outros, a de-

    finio da situao por seus participantes faz parte da situao e, mais do que

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    isso, ela contribui para constitu-la (Case, 1933: 510-513). surpreendente que

    o mesmo discurso tenha se mantido vigoroso mesmo depois que o behavio-rismo e a teoria da situao colocaram em cheque a existncia de qualidades

    universais da liderana. Pode-se supor ento que uma das razes fundamentais

    desse discurso no o estudo cientfico, mas sim o reforo dos lderes. O que

    importa lhes dizer que eles so lderes e que tm razo em s-los.

    No estamos, pois, diante de uma lideranaobjetiva, antiga ou a-his-

    trica, mas de uma liderana construda deliberadamente desde o incio do

    sculo vinte como objeto de estudo, de discurso e de prticas organizacionais

    e sociais (Grint, 1997, 2000). A sociedade inteira est envolvida uma vez que o

    social formado por hierarquias de todos os tamanhos animadas em todos os

    nveis por chefes e por lderes. Nesse quesito Lenin partilha da mesma repre-sentao dos idelogos da liderana. Para defender sua concepo do partido

    contra os comunistas alemes que criticam a ditadura dos chefes, o dirigente

    bolchevista generaliza sua proposio em 1920 na obra Esquerdismo: doena

    infantil do comunismo: Todos sabem que as massas se dividem em classes [...];

    que as classes so, geralmente e na maioria dos casos (pelo menos nos pases

    civilizados modernos), dirigidas por partidos polticos; que os partidos polti-

    cos so dirigidos, via de regra, por grupos mais ou menos estveis de pessoas

    que renem o mximo de autoridade, de influncia, de experincia, aladas

    pela via da eleio aos cargos de maior responsabilidade e chamadas de chefes[a palavra utilizada em russo vozd no plural] (Lenin, 1920: s.p.). Todavia, so

    os Estados Unidos e a Alemanha de Weimar os principais pases nos quais se

    desenvolve uma psicologia da liderana. J a Alemanha nazista, inspirada por

    seu Fhrer nico, no tem nada a fazer de uma psicologia. A Unio Sovitica,

    por seu turno, desconfia dos crculos de psiclogos ligados aos debates trava-

    dos no estrangeiro. Alm do mais, ela espera que a teoria marxista responda a

    todas as necessidades do pensamento. Na Frana, a psicologia das multides

    impediu a formao de uma psicologia especializada do chefe e do comando.

    Esta ganhar fora somente depois da Segunda Guerra Mundial.

    TRAJETRIAS NACIONAIS

    Como se pode notar, cada pas v se desenvolver uma trajetria nacional para

    esta preocupao com a questo do comando e do chefe. Todos tm em comum

    uma mesma frmula que dita da mesma maneira em todas as lnguas em

    jogo: ns temos necessidade de chefes (Cohen, 2012). Mas h variaes entre

    os pases: depois da derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, ouve-se

    um grito em direo ao Fhrer (ein Schrei nach dem Fhrer). Um autor pr-

    ximo dos nazistas diz no incio dos anos 1930: A guerra s pde terminar em1918 do jeito que terminou porque nos faltou um grande chefe poltico (Geyer,

    1926: 10; Grabein, 1933: 5). Mais do que a necessidade de Fhrers no plural, a

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    necessidade de um Fhrer no singular que se exprime. Mas h que se precisar

    que a discusso comeou antes que existisse um partido nacional-socialista: antes um debate da sociedade alem com ela mesma, como tambm o ca-

    so em outros pases. Assim, no mundo industrial, desenvolvem-se formaes

    sobre como conduzir dos homens. Os empregadores estabelecem centros de

    formao para os engenheiros e tambm para os operrios qualificados. Trata-

    -se de ensinar tcnicas de conduo dos homens, tanto no plano psicolgico

    quanto no plano tcnico ou no plano administrativo. Os testes da psicotcnica

    so introduzidos nas fbricas para selecionar e orientar os operrios e os tc-

    nicos. Todo um debate muito vivo se desenvolve na Alemanha para saber at

    que ponto a psicologia poderia servir diretamente aos interesses do capital ou

    como ela poderia ser um instrumento justo de regulao do trabalho (Nolan,1994; Rabinbach, 1995). Quando Hitler chega ao poder, essas formaes de

    Menschenfhrung so reorganizadas no quadro do novo regime. Cada fbrica

    deve ter o seu Fhrer. O Fhrerprinzip deve reinar ao mesmo tempo na socie-

    dade e na economia. Mesmo se se observa certa resistncia nas empresas da

    parte dos empreendedores e gerentes, o Fhrerprinzip se instala. Ele no vale

    seno para os alemes de raa. Cada alemo pode se tornar um Fhrer, nem

    que seja dirigindo o trabalho de judeus e outras sub-raas, como se passar

    durante a guerra. Mas mesmo para os alemes, a condio para participar do

    Fhrerprinzip de se subordinar inteiramente ao Fhrer supremo. Este nopode seno ser Hitler, que no o representante do povo, mas o prprio po-

    vo (Jouanjan, 2006: 148-149; Neesse, 1940: 54). A Alemanha se torna uma nao

    de chefes: todos devem a eles obedecer e, com a condio de serem alemes,

    todos devem comandar.

    A trajetria sovitica marcada por uma tenso entre a democracia e o

    governo dos chefes. Na realidade, a democracia foi uma fachada, seja o centra-

    lismo democrtico decretado pela Terceira Internacional em 1919 para todos

    os partidos comunistas do mundo ou a constituio dita democrtica de

    1936 na qual o partido comunista reconhecido como fora dirigente do pas,

    escapando assim a todo controle democrtico. Desde 1922 quadros do partido

    vm Moscou unicamente para obedecer s ordens de Stalin. Eles esto nas

    mos de Stalin, como disse um deles (Khlevniuk, 2008). Quando a desordem

    reina numa organizao, diz-se que porque no h um chefe e que tudo

    iria melhor se houvesse um secretrio geral (que o t tulo de Stalin) (Pascal,

    1982: 11). A lngua russa tem uma palavra para se referir ao guia equivalente a

    de Duce ou Fhrer. Lenin faz uso dela para dizer que todo membro do partido

    social-democrata deve ser um vozd. Depois a palavra utilizada de maneira

    muito intensa pelo prprio Lenin. Mesmo se os bolchevistas dizem recusar

    todo poder pessoal, bem ele que se instala desde 1917 com a preeminnciano disputada de Lenin sobre todos os seus outros camaradas. Mas sobretudo

    pela tomada de todos os poderes por Stalin em 1928 e 1929 que a atribuio

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    do ttulo de Vozd passa a ser feita sistematicamente (Davies, 1997). Alis, hie-

    rarquias de toda ordem se desenvolveram no pas 1917. Na economia e tam-bm no aparelho administrativo do partido e do Estado, v-se desdobrar uma

    organizao funcional, imitando as empresas americanas. Esta organizao

    multiplica as funes de conselho que no tm um papel hierrquico direto.

    O partido exerce, alis, cada vez mais seu papel dirigente. Outras hierarquias

    (o controle do Estado, a polcia poltica e a justia) se inserem ainda no seio

    das instituies sociais. O conjunto das hierarquias paralelas se torna to

    complexo que o governo stalinista suprime a organizao funcional em 1934

    e declara a necessidade de se apoiar sobre os chefes, o nachalstvo(Shearer,

    1996). A partir de ento, a palavra nachalnik se espalha por toda a sociedade.

    Nos filmes soviticos dos anos 1930 e depois, ouve-se frequentemente Da,

    tovarichtch nachalnik, Sim, camarada chefe. Tudo se mede a partir de agora

    em funo da subordinao s ordens de Stalin.

    Nos Estados Unidos o desenvolvimento do leadership se tornou progres-

    sivamente um assunto de profissionais. O primeiro colquio mundial consa-

    grado unicamente ao leadership ocorre em 1927. Mais orientado liderana

    industrial, ele rene gerentes, especialistas do gerenciamento, oficiais supe-

    riores, representantes das grandes escolas de comrcio, especialistas de edu-

    cao e psiclogos. Isso marca o carter multidisciplinar da pesquisa sobre a

    liderana, colocando lado a lado universitrios e representantes da economiae do exrcito; mas marca, mais ainda, o interesse amplamente suscitado pelo

    aparecimento dessa noo que parece oferecer uma chave de interpretao da

    sociedade e ao mesmo tempo um meio de ao (Moore, 1927). A propsito, uma

    grande parte dos estudos de psicologia e de sociologia sobre a lideranafaz-se

    no contexto escolar. Com efeito, uma idia amplamente difundida a de que

    o ensino deve permitir selecionar lderes desde a infncia e form-los para a

    liderana, ao mesmo tempo em que para serem teis. Detectar crianas-lderes

    torna-se uma aposta nacional (Russel, 1930: 314). Mais amplamente, nos es-

    tudos de psicologia, a criana considerada como o modelo do adulto. A pro-

    dutividade dessa nova cultura da liderana marcada por um acontecimento

    em escala nacional, que a eleio de Franklin Roosevelt presidncia dos

    Estados Unidos em 1932, no momento mais dramtico da Grande Depresso.

    Muito mais do que seus predecessores, em seu pronunciamento inaugural

    Roosevelt se apresenta como o salvador em quem o povo americano confiou a

    lideranado pas. Em doze minutos, a palavra leadership aparece sete vezes.

    Primeiro presidente americano a ser acompanhado por um conselheiro em re-

    laes pblicas, Roosevelt tambm o inventor de bate-papos ao p da lareira

    (fireside chats), que ele pratica regularmente ao longo de suas presidncias.

    Trata-se de falar com cada um e no a todos. A operao depende de tcni-cas de comunicao. Roosevelt coloca um dente falso antes de cada gravao

    para evitar que se oua um ligeiro assobio devido falta de um dente em sua

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    dentio. Sabendo que sua voz de bate-papo diferente de sua voz ordinria,

    ele impede a difuso radiofnica de alguns de seus discursos naturais (Schi-velbusch, 2006: 56-58). Em todo caso, essa deliberada apresentao como lder

    uma maneira de conciliar a lideranae a democracia, como na proposio

    weberiana, mas ao contrrio da verso nazista para a qual o advento do Fhrer

    supe a destruio da democracia (Weber, 2011).

    A preocupao com o chefe e o comando na Frana no menos pro-

    funda que nos trs primeiros pases evocados, mas ela sem dvida mais di-

    fusa, menos estrondosa e menos encarnada. Reformar o comando no exrcito

    e na fbrica, refletir sobre o papel do presidente do conselho em relao ao

    parlamento, desenhar a figura do chefe em geral e aquela do grande chefe em

    particular, proclamar que as hierarquias so naturais so atos que ocupamcada vez mais o mundo a partir dos anos 1890 (Barthlemy, 1906). Duas figuras

    se destacam, primeiro aquela de Gustave Le Bon, de quem j falei, que era um

    personagem pblico, diretor de uma clebre coleo de literatura cientfica,

    polgrafo que escrevia sobre todos os assuntos, inclusive o tomo, organizador

    de um salo frequentado pelas elites da Terceira Repblica. Edepois aquela

    de Hubert Lyautey, marechal da Frana em 1921, cuja influncia foi imensa e

    quem para muitos franceses foi o grande exemplo do Chefe (Tarde, 1959). Um

    pequeno livro de Lyautey, publicado em 1891, marcou, na Frana, os primrdios

    dessa reflexo moderna sobre o chefe e o comando. Trata-se do Papel social dooficial: tendo em vista o ento recente alistamento obrigatrio no servio mi-

    litar, pelo perodo de trs anos, Lyautey pede que os oficiais conheam melhor

    os seus homens do que os seus cavalos. Ele pensa na batalha, mas, tambm,

    no papel de pacificao social que cabe ao exrcito. Esta obra imediatamente

    seguida de outras de mesmo ttulo e de muitas do tipo O papel social do en-

    genheiro veja-se, por exemplo, Cheysson (1897), Ebener (1901), Donop (1908),

    Foulon (1908) e Lamirand (1932).O papel do chefe discutido tanto na em-

    presa quanto no Estado, no exrcito como na escola. Aps a Primeira Guerra

    Mundial, ser um chefe torna-se uma honra social invejada por alguns, mas

    tambm motivo de zombaria para os que desprezam as formas de autoridade.

    A atmosfera se torna mais tensa na Frana e em outros pases a partir de 1933

    e 1934, como se se tratasse de um fenmeno mundial. Em 1934, manifestaes

    de extrema direita inquietam todo o espectro poltico. A Frente Popular de

    esquerda ganha as eleies em 1936. Aps um grande movimento de greve, a

    temtica do chefe, bastante defendida pelos liberais,se refora nas fbricas e

    em poltica. Tudo isso termina na guerra. Esta uma histria de populaes

    mobilizadas, de territrios ocupados, de mortes de massa, de genocdios, de

    bombardeamento de civis, e tambm uma histria de chefes: na Frana, o

    Chefe de Estado francs, o marechal Ptain, ope-se ao chefe da Frana livre,o general de Gaulle.

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    O ESTUDO DAS PRTICAS

    Toda a primeira parte de meu livro consagrada exposio da emergncia

    dessa nova cultura, dessas prticas discursivas e dessas novas prticas hierr-

    quicas. O conjunto se enquadra bem no perodo entre 1990 e 1940, mas traa

    tambm uma trajetria que, pode-se dizer, vai at os anos 68, isto , at 1968

    e os anos seguintes. Desde o incio do sculo vinte, uma crise da autoridade

    diagnosticada nesses pases, desencadeando sempre a mesma resposta: mais

    chefes. E, efetivamente, o enquadramento hierrquico das empresas, das admi-

    nistraes e, em geral, das organizaes muito se intensificou, multiplicando

    aquilo que em francs chamamos de os quadros superiores (Barnard 1938,

    1997; Boltanski 1982). O fenmeno do sculo vinte no , portanto, apenas oque apareceu mais fortemente, isto , o culto do chefe, com suas formas extre-

    mas na Alemanha, na Itlia e na Unio sovitica. tambm uma modalidade

    de transformao do social em todos os domnios de atividade.

    As prticas dos chefes se transformam tambm no decorrer deste s-

    culo. A segunda parte do livro baseada nos arquivos que se mantm o mais

    prximo das pessoas a fim de seguir suas aes em detalhes. Trs captulos

    dizem respeito gesto industrial. Os dois captulos franceses acompanham o

    diretor das fbricas Peugeot durante os anos 1930. Eles so escritos a partir dos

    arquivos pessoais deste engenheiro: notas de servios, a correspondncia emque justifica e explica sua ao em particular famlia Peugeot, manuscritos

    de conferncias, vrias autobiografias profissionais inditas. Este diretor um

    dos grandes engenheiros tayloristas na Frana, um dos primeiros organizado-

    res da linha de montagem dos automveis (Cohen, 2001). Ele conduz sua ao

    em funo de planos. Ora, o plano em geral o assunto por excelncia do chefe,

    ele detm uma autoridade na medida em que concebido para mobilizar os

    esforos de cada um em vista de um projeto comum. Esses arquivos permitem,

    portanto, uma boa explorao do que conceber planos e trabalhar em funo

    deles. H outro aspecto que objeto de outro captulo. Estamos no incio da

    era dos gerentes (Berle & Means, 1932; Burnham, 1941; Rizzi, 1976). A gesto

    industrial se faz cada vez mais distncia. Ora, este engenheiro no cessa de

    proclamar que o diretor da produo deve conservar uma prtica de ateli

    e permanecer em contato permanente com todos os participantes, desde os

    operrios at os quadros superiores. A reflexo sobre o interesse e as tcnicas

    do comando distncia uma das caractersticas desta poca.

    Um primeiro captulo russo baseado numa fonte frequentemente en-

    contrada nos arquivos soviticos, mas pouco encontrada em outros lugares: os

    estenogramas das reunies entre os quadros dirigentes. Pode-se seguir ento

    quase ao vivo a ao que consiste na troca de argumentos para orientar a aonos escritrios e nos prprios atelis. Ora, uma parte desses estenogramas

    produzida justamente a partir das discusses sobre o que ser um chefe na

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    construo do socialismo. Podemos ento acompanhar essas discusses na f-

    brica Putilov de Leningrado, uma grande usina de mecnica fundada na pocados tzares. Os estenogramas utilizados so centrados no ano de 1930, ao longo

    do qual possvel perceber dois fenmenos: de um lado, os efeitos do ataque

    de Stalin aos engenheiros ditos especialistas burgueses, por terem sido for-

    mados sob o antigo regime, e de outro, o esforo dos quadros dirigentes da

    fbrica para se tornarem gerentes eficazes, se inspirando nos Estados Unidos,

    s que em meio s condies extremamente difceis da Unio Sovitica.

    O ltimo captulo centrado em Stalin. Ele baseado em seus arquivos

    de trabalho, suas cartas manuscritas de comando no incio dos anos 1039, suas

    notas, seus rascunhos, seus rabiscos quando ele estava refletindo sobre algu-

    ma coisa, todo o seu material de informao em suma. Stalin no era apenaso objeto de seu prprio culto, mas um chefe praticante muito experimentado,

    um mestre do comando indiferente a qualquer preocupao democrtica. Em

    primeiro lugar, Stalin ensinava a seus prximos companheiros como ser um

    chefe. Podemos seguir todo o seu trabalho de ensino da ao atravs das suas

    cartas e daquelas que ele recebia de seus amigos, em particular a partir de

    uma inspeo que ele faz na Sibria em janeiro de 1928 para retirar fora a

    farinha dos camponeses. O corao dos seus ensinamentos a poltica que

    se diz da preferncia repressiva, isto , aquela segundo a qual a soluo dos

    problemas que sempre favorecida a de uma represso orientada ao mesmotempo contra uma frao da populao e contra os membros do partido que

    hesitam frente a esta poltica. O captulo segue assim outras aes conduzidas

    por Stalin, como a concepo de uma lei que, em plena onda de fome no sul

    da Rssia e da Ucrnia, condena morte ou a no mnimo dez anos de campo

    de concentrao aqueles que violam a propriedade socialista: nenhum m-

    nimo indicado por quantidade roubada. Como os camponeses famintos se

    serviam de sua prpria produo, eles foram presos em funo desta lei que

    se chamou a lei das trs espigas de milho. Examino ainda como Stalin dirige

    pessoalmente o terror de massa dos anos 1937 e 1938.

    Este livro , portanto, um estudo da fabricao ativa da sociedade como

    reunio de hierarquias dirigidas por chefes. Esses chefes so quase que total-

    mente homens. Todo esse discurso dito estritamente no masculino, como se

    ser chefe fosse um atributo normal da virilidade. Pouqussimos livros associam

    a liderana s mulheres ou contm captulos a respeito - Espey (1915) foi o

    nico livro que pude identificar a este respeito nos quatro pases estudados.

    Quando se considera o comando exercido por mulheres, ele exclusivamente

    pensado como se exercendo apenas sobre outras mulheres e no sobre ho-

    mens (Tead, 1935). o que j ocorria nas fbricas txteis francesas no sculo

    XIX com as contramestras. O mundo dos chefes aquele em que as relaesse do entre pessoas do mesmo sexo. E, a propsito, a frequncia de assdio

    sexual entre chefes e subordinadas bem documentada nas recomendaes

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    de reserva e de conteno encontradas em diversos manuais (ver, por exemplo,

    Pezeu, 1920: 133).Uma idia subjacente a de que a hierarquia natural, ainda que a

    antropologia tenha mostrado que as sociedades mais arcaicas trabalhavam

    ativamente para evitar a formao de hierarquias perenes. Os chefes no de-

    veriam procurar se instalar definitivamente como chefes (Clastres, 2007). O

    sculo vinte acentuou fortemente uma via contrria, como se todo grupo social,

    independentemente de qual fosse o tipo de agrupamento, no pudesse no ter

    o seu chefe. A psicologia social disse s multides que elas tinham necessi-

    dade de mestres, de chefes, de condutores. Com exceo de alguns libertrios,

    tal discurso foi retomado por todos, desde o campo poltico at os empreen-

    dedores e gerentes. Atualmente esse discurso bem mais difcil de ser sus-tentado. O sculo vinte no teria efetivamente terminado? No encontramos

    hoje em dia novamente o esforo para que no se criem chefes? Num certo

    nmero de pases, as empresas buscam, como elas mesmas dizem, esmagar

    as hierarquias, isto , reduzir a quantidade de nveis hierrquicos. Mas so

    especialmente os movimentos sociais que experimentam novas formas de ao

    e de sociabilidade militante horizontal. Numerosos movimentos de protesto

    buscam antes de qualquer coisa a cooperao e a igualdade. Podemos acom-

    panhar essa busca desde pelo menos 1968. Ela est presente no movimento

    antiglobalizao, por exemplo, quando de sua interveno no frum mundialde Porto Alegre. Eu assisti greve da USP em 2009: a reitoria ficou muito in-

    quieta com o fato de no existir algum com quem falar. Em nvel mundial,

    uma nova etapa foi percorrida com o movimento democrtico na Tunsia em

    2010, seguido da primavera rabe e de todos os outros movimentos. Nesse

    sentido, as Jornadas de Junho no Brasil foram uma experincia emblemtica.

    Tratou-se de se dirigir ao poder atravs da presena na rua, de apresentar

    demandas precisas, recusando no apenas partidos e chefes, mas tambm

    toda vontade de tomar o poder. Alm disso, esses movimentos so urbanos,

    tm caractersticas estticas de apresentao corporal comuns e se apoiam

    em tcnicas de comunicao que favorecem a horizontalidade e a agilidade.

    Ou seja, mesmo que o apelo ao chefe no tenha desaparecido completamente,

    poderamos pensar que entramos num sculo que no ser como o sculo

    vinte, isto , um sculo de chefes.

    Recebido em 24/11/2014 | Aprovado 23/06/2015

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    Yves Cohen historiador e professor na cole des Hautes tudes en

    Sciences Sociales, em Paris. Publicou em 2013 Le sicle des chefs: une histoire

    transnationale du commandement et de lautorit (1890-1940) , uma histria

    das prticas de autoridade, da figura do chefe e do leadershipcomo culturae discurso na Frana, Alemanha, Unio sovitica e Estados Unidos. A

    sua pesquisa atual sobre uma histria transnacional das prticas da

    influncia e sobre os movimentos sociopolticos dos anos 2010.

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