1296--Dietoterapia Na Doenca Celiaca
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GANEP – GRUPO DE APOIO NUTRIÇÃO ENTERAL E
PARENTERAL
NATHÁLIA SANTOS TEIXEIRA
DIETOTERAPIA NA DOENÇA CELÍACA
BELO HORIZONTE - MG
2010
1
NATHÁLIA SANTOS TEIXEIRA
DIETOTERAPIA NA DOENÇA CELÍACA
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado como requisito parcial
para obtenção de título de
Especialista em Nutrição Clínica pelo
Curso de Pós-graduação da
Instituição GANEP – Grupo de Apoio
Nutrição Enteral e Parenteral – Belo
Horizonte – MG.
Orientadora: Dra. Maria de Lourdes
Teixeira da Silva
Coorientadora: Ma. Daniela Resende
de Moraes Salles
BELO HORIZONTE - MG
2010
2
Dedicatória
A todos que desejam informações no intuito de
contribuir para o conhecimento e troca de
experiências.
3
Agradecimentos
A Deus, fonte de toda sabedoria, pela força e pela coragem que me
concedeu, e por me permitir este momento especial de crescimento.
À minha mãe pelo incentivo constante à busca do conhecimento.
A orientadora Dra Maria de Lourdes pela simpatia e presteza em fornecer
materiais que contribuiu com a pesquisa bibliográfica da presente monografia. Sem a
sua ajuda este trabalho teria sido muito mais árduo.
A coorientadora Ma. Daniela, pela gentileza de suas orientações e
sugestões.
4
“A saúde depende da escolha dos alimentos”
Cláudio Galeno 130 – 210 D.C
5
RESUMO
Introdução - A doença celíaca (DC) é definida como enteropatia imune
caracterizada por hipersensibilidade intestinal progressiva desencadeada pela
ingestão do glúten, levando a graus variados de alterações na mucosa intestinal. A
chave para o tratamento da doença celíaca é ao longo da vida aderência à dieta
rigorosa livre de glúten, como terapia usual. O glúten está presente em cereais como
trigo, centeio e cevada e deve ser excluído da alimentação. Objetivo - Contribuir ao
tratamento da doença celíaca, demonstrando a importância da dietoterapia nesta
patologia. Métodos - Revisão de artigos nacionais e internacionais, indexados no
Index Medicus e Lilacs, pertencentes ao Medline, no período compreendido entre
2005 a 2009. Conclusão - A comunidade científica têm se esforçado na tentativa de
buscar as melhores estratégias terapêuticas que culminem em melhor qualidade de
vida e diminuição da morbi-mortalidade do paciente com doença celíaca. Entretanto,
até o momento, o único tratamento disponível para os celíacos é a dieta isenta de
glúten e requer do paciente a adesão para toda a vida já que a DC não tratada está
associada a significante aumento na morbidade e mortalidade.
Descritores: doença celíaca; glúten; dietoterapia.
6
ABSTRACT
Introduction – Celiac disease (CD) is an immune enteropathy characterized by a
progressive intestinal hypersensitivity triggered by the ingestion of gluten. It causes
different degrees of alterations in the intestinal mucosa. The key to treat this disease
is a severe diet free from gluten during all life, as an usual therapy. Gluten is present
in grains such as wheat, rye and barley and it must be excluded from meals.
Objective – To cooperate with the treatment of celiac disease showing how
dietotherapy is important to this pathology. Methods – Reviewing of national and
international articles indexed in Index Medicus and Lilacs, from Medline, in the
period between 2005 and 2009. Conclusion – The scientific community has been
working hard to discover the best therapeutic strategies to improve life quality and
reduce morbimortality in patients with celiac disease. However, today, the only
treatment available to these patients is a diet free from gluten during all their lives,
since a non-treated CD is associated with a significant increasing in morbility and
mortality.
Key words: celiac disease, gluten, dietotherapy.
7
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 08
2 OBJETIVOS.......................................................................................................... 09
2.1 Geral..................................................................................................................... 09
2.2 Específicos........................................................................................................... 09
3 MÉTODO.............................................................................................................. 10
4 REVISÃO DA LITERATURA.............................................................................11
4.1Definição............................................................................................................... 11
4.2 Prevalência........................................................................................................... 12
4.3 Formas de apresentação da doença...................................................................... 12
4.4 Diagnóstico.......................................................................................................... 14
4.5 Complicações....................................................................................................... 15
4.6 Dietoterapia.......................................................................................................... 16
4.6.1 Legislação......................................................................................................... 18
5 CONCLUSÃO...................................................................................................... 20
REFERÊNCIAS.......................................................................................................21
8
1 INTRODUÇÃO
A doença celíaca (DC) é definida como enteropatia imune caracterizada
por hipersensibilidade intestinal progressiva desencadeada pela ingestão do glúten,
levando a graus variados de alterações na mucosa intestinal. Se desenvolve em
indivíduos geneticamente predispostos, e possui severidade variável, apresentando
amplo espectro clínico ( Morón et al., 2008).
O glúten é uma substância albuminóide, insolúvel em água e dividido em
duas proteínas: a gliadina, solúvel em álcool etílico, e a glutelina, solúvel em ácido
ou base diluídos. A gliadina é um componente do glúten que inicia o dano da mucosa
em indivíduos com uma predisposição genética. O glúten esta presente no trigo,
centeio, cevada e aveia. Constitui, portanto, a massa coesiva que permanece quando
a pasta de farinha dos cereais é lavada para se removerem os grânulos de amido. A
doença por sensibilidade ao glúten pode ser definida como um estado de resposta
imunológica, tanto celular como humoral, ao glúten dos cereais citados (Kotze, 2006;
Casemiro, 2006).
A DC pode ser considerada, mundialmente, um problema de saúde pública
principalmente devido à alta prevalência, freqüente associação com morbidade
variável e não-específica e, em longo prazo, à probabilidade aumentada de
aparecimento de complicações graves (Silva et al., 2006). Apesar das múltiplas
características histológicas relacionadas à DC, para que se estabeleça um diagnóstico
definitivo, ainda é fundamental a melhora clínica e sorológica com a dieta isenta de
glúten (Casemiro, 2006).
A chave para o tratamento da doença celíaca é ao longo da vida aderência à
dieta rigorosa livre de glúten, como terapia usual. O glúten está presente em cereais
como trigo, centeio e cevada e deve ser excluído da alimentação (Rauen, Back,
Moreira, 2005).
9
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
O objetivo deste trabalho é contribuir ao tratamento da Doença Celíaca,
demonstrando a importância da dietoterapia nesta patologia.
2.2 Específicos
Realizar uma revisão de literatura sobre a doença celíaca.
Revisar aspectos da doença destacando conceitos, prevalência, formas de
apresentação da doença, diagnóstico e complicações.
Capacitar o leitor a identificar recentes avanços a respeito do tratamento
dietoterápico da doença celíaca.
10
3 MÉTODO
Este trabalho foi conduzido a partir das informações obtidas de uma revisão de
artigos nacionais e internacionais, indexados no Index Medicus e Lilacs, pertencentes
ao Medline, no período compreendido entre 2005 a 2009. Também se revisaram
publicações anteriores ao período, em busca de conhecimentos que contribuíssem na
construção do mesmo. Os descritores utilizados para a obtenção das informações dos
artigos foram: doença celíaca, glúten, dietoterapia, enfermedad celíaca, celiac disease
e diet theraphy.
11
4 REVISÃO DA LITERATURA
4.1 Definição
A doença celíaca (DC) é uma enteropatia imuno-mediada que ocorre pela
ingestão do glúten, a palavra celíaca possui origem grega, significa “abdominal” e foi
escolhida para nominar esta moléstia pela dominância dos sintomas gastrointestinais
(Chand, Mihas, 2006).
Na literatura, termos como enteropatia sensível ao glúten, esprue celíaco,
esprue não tropical, má absorção intestinal primária, esteatorréia idiopática, também
são encontrados para designar a doença, sendo que a denominação doença celíaca é a
mais usual (Casemiro, 2006).
A DC envolve intestino delgado, é caracterizada por processos inflamatórios,
especialmente no intestino delgado proximal. Isso faz com que altere a arquitetura
preservada, em indivíduos geneticamente susceptíveis, reduzindo a área de superfície
de absorção resultando em deficiência de absorção de macro e micronutrientes.
Caracteriza-se por variáveis graus de atrofia das vilosidades do intestino delgado e
má absorção em resposta à ingestão de proteínas de cereais glúten e afins.
Tradicionalmente considerada uma doença da infância, agora, cada vez mais
diagnosticada na idade adulta (Freeman, 2008; Patel et.al, 2005).
Glúten é uma substância albuminóide, insolúvel em água, que, junto com o
amido e outros compostos, se encontra na farinha de trigo, centeio, cevada e aveia.
Constitui, portanto, a massa coesiva que permanece quando a pasta de farinha dos
cereais é lavada para se removerem os grânulos de amido. A doença por
sensibilidade ao glúten pode ser definida como um estado de resposta imunológica,
tanto celular como humoral, ao glúten dos cereais citados (Kotze, 2006).
A porção antigênica da proteína do glúten para os pacientes celíacos é
predominantemente a gliadina do trigo, que apresenta alto teor dos aminoácidos
glutamina e prolina, bem como a hordeína da cevada e a secalina do centeio.
Também há potencial antigênico da avenina da aveia, que apresenta um teor
intermediário dos aminoácidos glutamina e prolina, e que pode determinar DC em
casos de ingestão intensiva do cereal (Baptista, 2006).
12
4.2 Prevalência
A DC é um transtorno de longa vida, afeta 0.5-1% da população mundial em
geral, principalmente os adultos. Nos últimos 25 anos o surgimento de cada vez
mais confiáveis marcadores sorológicos, tais como anti-gliadina, anti-endomísio, e
anticorpos anti-transglutaminase permitiu o diagnóstico precoce de forma atípica, ou
mesmo silenciosa da doença e muito contribuíram para o reconhecimento
generalizado de que a prevalência de DC é maior do que se pensava anteriormente
(Catassi et.al, 2007; Almeida et.al, 2008). Estudos têm demonstrado alta prevalência
desta doença, tanto em crianças como em adultos aparentemente saudáveis.
Entretanto, a sua prevalência é muito variável de país para país (Silva et al., 2006).
Décadas atrás, pensava-se que na Europa tivesse uma em 1.500 pessoas, com
alta prevalência na Irlanda (1:300). Nos Estados Unidos, era considerada uma doença
rara, que envolveu apenas um de cada 3.000 indivíduos. Atualmente, uma
prevalência estimada na Grã-Bretanha e Estados Unidos é de cerca de um por 110. A
idéia corrente é que uma em cada 300 pessoas no mundo todo são portadores desta
condição, o que significaria 15 milhões de pessoas afetadas no planeta (Varela,
2006).
No Brasil, os dados de prevalência disponíveis são ainda escassos, mas é
provável que a prevalência em nosso país não esteja muito afastada das prevalências
encontradas no Velho Mundo. Estudos levam a crer que a prevalência da DC no
Brasil, se não for similar à encontrada na Europa, aproxima-se em muito dela
(Pratesi, Gandolfi, 2005).
A alta prevalência (10%) da DC entre parentes de primeiro grau de pacientes
celíacos indica importante participação de fatores genéticos na gênese da doença.
Aproximadamente 98% dos pacientes celíacos apresentam os antígenos de
histocompatibilidade (heterodímeros) HLA-DQ2 (codificado pelo DQA1*05 e
DQB1*02) ou HLA-DQ8 (DQA1*03 e DQB1*0302), percentual elevado quando
comparado com 30%, verificado nas populações caucasianas (Baptista, 2006).
4.3 Formas de apresentação da doença
13
Nas duas últimas décadas tem se observado ampla variação nas formas de
apresentação clínica da DC, tornando seu diagnóstico um desafio (Baptista, 2006). O
modo de apresentação difere com a idade: mais exuberante na criança e mais discreta
no adulto. Raramente se apresenta por complicação, como perfuração ou linfoma
(Kotze, 2006).
A DC apresenta quatro padrões de apresentação clínica: clássica, não-
clássica, assintomática e latente (Silva et.al, 2006).
A DC clássica é o padrão mais freqüente e manifesta-se nos primeiros anos de
vida, mas também pode ser encontrada no adulto. Decorrente da má absorção de
nutrientes, com quadros clínicos de diarréia crônica, vômitos, irritabilidade, anorexia,
emagrecimento, comprometimento variável do estado nutricional, déficit de
crescimento, diminuição do tecido celular subcutâneo e palidez por anemia ferropriva
(Rauen, Back, Moreira, 2005; Silva et.al, 2006). Na criança, a distensão abdominal e
a intensa redução de massa glútea são dados que chamam a atenção (Kotze, 2006).
A forma não-clássica ou atípica apresenta-se mais tardiamente e as
manifestações digestivas estão ausentes ou, quando presentes, são pouco relevantes.
Essa forma da doença pode ser de dois tipos. O atípico digestivo, com sintomas
digestivos mais discretos ou constipação intestinal, e o atípico extradigestivo, onde
os indivíduos acometidos podem apresentar manifestações isoladas como: baixa
estatura, anemia por deficiência de ferro refratária à ferroterapia oral, artralgia ou
artrite, hipoplasia do esmalte dentário, tetania, osteoporose e esterilidade (Kotze,
2006; Silva et.al, 2006).
Já a forma assintomática ou silenciosa da doença ocorre entre familiares de
celíacos com anticorpos positivos no soro, é a condição na qual os pacientes
apresentam alterações mais ou menos graves do quadro histopatológico do intestino
delgado proximal, mas número aumentado de LIE, porém sem sintomatologia
(Kotze, 2006; Silva et.al, 2006).
É definida DC latente ou potencial quando o paciente tem uma biópsia
intestinal normal ou com alterações mínimas (Grau Marsh I), mas cuja sorologia
positiva ou mucosa pode potencialmente agravar-se com uma sobrecarga de glúten,
ou ao longo do tempo. A forma latente, após a recuperação da mucosa intestinal com
a dieta isenta de glúten, pode persistir por anos antes do desenvolvimento de uma
recidiva histológica. Estes conceitos de DC potencial e latente são relativamente
14
recentes, e ainda não há um consenso por parte dos autores quanto ao uso destes
novos termos para as formas clínicas da DC (Varela, 2006; Baptista, 2006).
Os pacientes com DC ativa, com manifestações de forma clássica, não
clássica, assim como os portadores de formas assintomáticas, caracterizam-se por
apresentar mucosa jejunal com alterações características, com atrofia subtotal das
vilosidades intestinais, que revertem à normalidade com a introdução da dieta isenta
de glúten (Casemiro, 2006).
4.4 Diagnóstico
O diagnóstico da DC é baseado em concordância dos testes sorológicos, a
biópsia do intestino delgado, e resolução dos sintomas através da retirada do glúten
da dieta. O exame histopatológico do intestino delgado, preferencialmente da junção
duodenojejunal, é imprescindível para o diagnóstico da DC. A microscopia revela
mucosa anormal do intestino delgado proximal, com vilosidades atrofiadas ou
ausentes, aumento no comprimento das criptas e no número de linfócitos
intraepiteliais (Silva et.al, 2006).
Houve avanço importante na investigação diagnóstica da DC, inicialmente
com a identificação sorológica dos anticorpos antigliadina, e atualmente com os
anticorpos anti-endomísio e anti-transglutaminase que, em conjunto, atingem
praticamente 100% de sensibilidade e especificidade. A biópsia intestinal permanece
imprescindível para o diagnóstico A sorologia para DC incluem anti-EMA IgA e
anti-tTG IgA e IgG. Testes Anti-AGA não são recomendadas devido à sua
sensibilidade e especificidade [anti-AGA IgA sensibilidade 75% -95%,
especificidade de 80% -95%; anti-AGA IgG sensibilidade de 57% -100%,
especificidade de 47% -94%]. O padrão-ouro para diagnóstico é o histopatológico
avaliação de 4-8 espécimes da biópsia da mucosa do intestino delgado obtidas
quando o paciente está em uma dieta contendo glúten (Baptista, 2006; Mikesh et.al,
2008).
A DC é uma doença auto-imune que pode potencialmente afetar qualquer
órgão, e não tão somente o trato gastroentérico, como previamente se supunha. A sua
eclosão e o aparecimento dos primeiros sintomas podem se dar em qualquer idade. A
ampla gama de possíveis sintomas varia consideravelmente entre indivíduos,
15
inclusive no mesmo indivíduo em diferentes fases da doença, o que sobremaneira
dificulta o diagnóstico (Pratesi, Gandolfi, 2005).
Anteriormente, acreditava-se que a doença ocorria apenas em crianças; agora,
porém, têm-se conhecimento que é uma condição comum que pode ser diagnosticada
em qualquer fase da vida. Pode surgir no lactente, relacionando-se com a época do
desmame e/ou introdução de cereais na alimentação. Se persistir sem tratamento
pode regredir parcialmente na adolescência; não é comum apresentar-se pela
primeira vez nesta fase, a não ser que haja fator desencadeante. Pode aparecer ou
reaparecer na idade adulta, geralmente na terceira ou na quarta década,
principalmente durante gestações. Surgir na idade adulta ou geriátrica desencadeada
ou não por algum fator, como cirurgias, infecções etc (Kotze, 2006).
Os clínicos devem manter estado de alerta aumentado para DC também em
idosos, onde a prevalência da condição parece ser ainda maior do que em pessoas
mais jovens. Por causa dos sintomas sutis e um aumento do risco de complicações, a
sorologia deve ser amplamente aplicada para detecção de casos da doença celíaca
nos idosos. Anteriormente, Sabe-se que hoje 20% dos casos diagnosticados
acometem pacientes com mais de 60 anos de idade. No entanto, os dados sobre a
freqüência de detecção diagnosticada DC na população idosa são escassos (Vilppula
et.al, 2008).
O diagnóstico da DC é desafiador e depende, principalmente, de sua suspeita,
e acima de tudo, na ausência do quadro clínico clássico, uma vez que, atualmente, as
formas clínicas da doença vêm se modificando e, cada vez formas atípicas,
monossintomáticas ou mesmo silenciosas são as mais freqüentemente encontradas.
Portanto, percebê-las exige o envolvimento, não somente do gastroenterologista, mas
também, de vários outros profissionais da saúde.
(Pratesi, Gandolfi, 2005; Rauen, Back, Moreira, 2005).
4.5 Complicações
Está bem documentada a associação da doença celíaca com outras
enfermidades. A dermatite herpetiforme, dentre as doenças dermatológicas, é a mais
intimamente relacionada à intolerância ao glúten, podendo até ser considerada como
uma variante da própria DC. A quase totalidade dos casos de dermatite herpetiforme
16
apresenta anormalidades na avaliação histológica da mucosa do intestino delgado,
contudo apenas 10% dos pacientes têm manifestações clínicas de má-absorção
(Casemiro, 2006).
A DC não tratada manifesta-se, freqüentemente, de forma monossintomática,
através de anemia resistente ao tratamento, dermatite herpetiforme, que pode ser
considerada a expressão dermatológica da doença, menarca tardia,
hipertransaminasemia, osteoporose e hipoplasia do esmalte dentário (Baptista, 2006).
Tendo em conta as prováveis complicações de uma DC não diagnosticada e
tratada, é importante identificar os membros da família, principalmente aqueles com
uma forma silenciosa da doença para oferecer-lhes o benefício da dieta isenta de
glúten. (Almeida et.al, 2008).
As manifestações clínicas da DC variam com a idade do paciente, a duração e
extensão da doença e com a presença de problemas extra-intestinais. As razões pelas
quais a expressão clínica da doença é tão variável, podendo ocorrer em qualquer
época da vida ainda não está bem esclarecida (Catassi et.al, 2007).
Existe a possibilidade de predispor o indivíduo a várias complicações quando a
doença não é tratada, tais como: anemia relacionada à má absorção, osteopenia ou
deficiência de ferro (decorrentes de uma ou mais de ferro, ácido fólico e deficiência
de vitamina B12), e alguns associados ao processo auto-imune subjacente, como
diabetes tipo 1 e tireoidite (Baptista, 2006).
Outras complicações relatadas são atraso a puberdade, menopausa precoce,
infertilidade, abortos de repetição, depressão, bem como distúrbios comportamentais
como o autismo, e desordens neurológicas (epilepsia com calcificações cerebrais,
ataxia e neuropatia periférica). No entanto, a complicação mais temida é o
desenvolvimento de neoplasias do trato gastrointestinal, principalmente o linfoma
não-Hodgkin, que é a razão mais provável para o aumento da mortalidade em
pacientes celíacos não-tratados (Almeida et.al, 2008).
4.6 Dietoterapia
O tratamento possível e eficaz para DC, em todas as formas clínicas, é o
dietético, devendo-se excluir o glúten da alimentação durante toda a vida, tanto dos
17
indivíduos sintomáticos, quanto assintomáticos, o que leva à remissão dos sintomas e
restauração da morfologia normal da mucosa (Rauen, Back, Moreira, 2005).
O tratamento padrão da DC envolve o consumo de uma dieta completamente
desprovida de proteínas do glúten, a chamada dieta sem glúten (Catassi et.al, 2007).
Embora seguir uma dieta estritamente isenta de glúten possa parecer simples, na
prática evidencia-se uma série de dificuldades na manutenção desta não somente por
parte do paciente, como também de seus familiares, pois consiste em uma mudança
radical do hábito alimentar, especialmente durante a adolescência (Silva et.al, 2006).
Os objetivos do tratamento consiste em, eliminar as alterações
fisiopatológicas intestinais, facilitar e favorecer a absorção dos nutrientes, normalizar
o trânsito intestinal, recuperar o estado nutricional do paciente e melhorar a
qualidade de vida dos pacientes (Kotze, 2006).
Retirando-se o glúten da dieta, a resposta clínica é rápida, havendo
desaparecimento dos sintomas gastrintestinais com restauração da morfologia normal
da mucosa, dentro de dias ou semanas (Silva et.al, 2006). Já a normalização
funcional e histológica da mucosa intestinal pode demorar de 6 a 19 meses, podendo
ainda estar incompleta em alguns casos entre 24-48 meses. Concomitante a melhora
histológica intestinal ocorre à redução dos títulos dos anticorpos antigliadina,
antiendomísio e antitransglutaminase (Casemiro, 2006).
Ao planejar o tratamento dietoterápico deverão ser considerados os seguintes
fatores: situação fisiopatológica e necessidades nutricionais que se relacionam com a
idade do paciente, etapa evolutiva da DC e estado de gravidade do doente. A
ampliação da dieta deve ser progressiva e individualizada, apesar da resposta
terapêutica rápida, pois há retrocessos na evolução intimamente ligados a técnicas
dietéticas inadequadas. O glúten não é uma proteína indispensável e pode ser
substituída por outras proteínas vegetais e animais (Kotze, 2006).
O glúten deve ser excluído da dieta, evitando-se a ingestão de trigo, cevada,
centeio, aveia e de grãos híbridos desses cereais, como o Triticale sp. Em relação à
aveia, ainda é discutível seu efeito, já que ela não produz reações na maioria dos
pacientes celíacos, e alguns estudos mostram que alguns pacientes podem tolerar seu
consumo em função da estrutura de sua fração protéica e da baixa quantidade de
aveninas presente no grão. (Silva et.al, 2006).
18
É importante fornecer ao paciente uma lista de alimentos que não contenham
glúten. São considerados alimentos permitidos na dieta: arroz, grãos (feijão, lentilha,
soja, ervilha, grão de bico), gorduras, óleos e azeites, legumes, hortaliças, frutas,
ovos e carnes (de vaca, frango, porco, peixe) e leite. O glúten poderá ser substituído
pelo milho (farinha de milho, amido de milho, fubá), arroz (farinha de arroz), batata
(fécula de batata), e mandioca (farinha de mandioca, polvilho) (Kotze, 2006).
Os produtos lácteos também devem ser evitados inicialmente no tratamento
pelo fato dos pacientes celíacos freqüentemente apresentarem deficiência secundária
à lactose. No entanto, podem ser re-introduzidos após um período de 3 a 6 meses.
Outra opção que pode ser temporariamente benéfica é, até a completa recuperação da
mucosa, fazer uso de suplementação de lactase. (Casemiro, 2006).
Uma grande atenção deve ser dada aos alimentos e produtos farmacêuticos
que utilizam amido de trigo como ingrediente em suas formulações, o paciente
celíaco deve estar atento à composição dos medicamentos prescritos para ele, pois o
glúten pode estar presente como excipiente nas cápsulas, comprimidos ou suspensões
orais (Silva et.al, 2006).
Quanto maior o grau de conhecimento da doença e de seu tratamento por
parte dos pacientes celíacos, maior a obediência à dieta isenta de glúten (Silva et.al,
2006). A exclusão do glúten da dieta não cura a alergia, mas remite a alteração
intestinal e suas complicações (Baptista, 2006).
Os pacientes e familiares devem ser alertados quanto a transtornos clínicos e
histológicos com o consumo esporádico de glúten. O seguimento da dieta pelo
paciente celíaco depende, fundamentalmente, dos familiares no que tange às
substituições dos alimentos proibidos. Portanto, é extremamente importante saber
educar os doentes (Kotze, 2006).
4.6.1 Legislação
Uma dieta totalmente isenta de glúten de contaminação seria, evidentemente,
ideal, mas hoje parece ser irrealista, mesmo naturalmente sem glúten produtos podem
conter quantidades significativas de glúten (Mäki, Kaukinen, 2007).
O tratamento com uma dieta sem glúten é a terapia usual para pacientes
celíacos, no entanto, as proteínas dos cereais são um aditivo onipresente na maioria
dos setores da indústria de alimentos preparados. Assim, um método analítico que
19
mede a toxicidade dos produtos alimentares para os pacientes de DC deve identificar
a presença de peptídeos de cereais potencial. Anticorpos que reconhecem os
peptídeos da fração de glúten atualmente estão no mercado, mas eles não foram
especificamente concebidos para o peptídio tóxico. (Morón et.al, 2008).
O limiar de glúten "é tema atualmente em avaliação pelo Codex
Alimentarius, o WHO / FAO comissão que é responsável pela definição de normas
alimentares a nível internacional. Estabelecer um limite seguro de consumo de
glúten para pacientes celíacos é uma questão de grande importância para a saúde
pública, particularmente à luz dos recentes relatórios sobre a alta prevalência (Catassi
et.al, 2007).
Em virtude das dificuldades para garantir a prática da dieta isenta de glúten, é
lei que haja menção se o produto CONTÉM GLÚTEN ou NÃO CONTÉM
GLÚTEN. Em alguns países há o símbolo característico. Foi promulgada, no Brasil,
a Lei Federal número 10.674 de 16 de maio de 2003, obriga a advertência “contém
glúten” ou “não contém glúten” nos rótulos de todos os alimentos comercializados. A
certificação da ausência de glúten declarada nos rótulos dos alimentos, essencial para
seguir uma dieta segura, requer a avaliação dos produtos supostamente livres de
glúten. Assim, os portadores de DC podem identificar os alimentos que não devem
consumir (Kotze, 2006; Silva et.al, 2006).
20
5 CONCLUSÃO
A doença celíaca é uma condição crônica que afeta principalmente o intestino
delgado, caracteriza-se por uma intolerância permanente ao glúten, uma proteína
encontrada no trigo, centeio, cevada e aveia. Atualmente é considerada problema de
saúde pública a nível mundial devido à alta prevalência encontrada em diversas fases
da vida. É uma doença de etiologia multifatorial e depende de fatores ambientais,
genéticos e imunológicos para sua manifestação. A complexa interação entre estes
fatores dificulta sua identificação e impõe limites à completa compreensão dos
mecanismos patogênicos da doença. Os conhecimentos atuais mostram o glúten
como um fator ambiental precipitante.
A comunidade científica têm se esforçado na tentativa de buscar as melhores
estratégias terapêuticas que culminem em melhor qualidade de vida e diminuição da
morbi-mortalidade do paciente com doença celíaca. Entretanto, até o momento, o
único tratamento disponível para os celíacos é a dieta isenta de glúten e requer do
paciente a adesão para toda a vida já que a DC não tratada está associada a
significante aumento na morbidade e mortalidade.
21
REFERÊNCIAS
Almeida PL, Gandolfi L, Modelli IC, Martins RC, Almeida RC, Patresi R.
Prevalence of celiac disease among first degree relatives of brazilian celiac patients.
Arq Gastroenterol, jan./mar. 2008. v. 45.nº1.
Baptista ML. Doença celíaca: uma visão contemporânea. Pediatria (São Paulo)
2006;28(4):262-71.
Casemiro JM, Adesão à dieta sem glúten por pacientes celíacos em acompanhamento
no hospital universitário de Brasília [dissertação]. Brasília: Faculdade de Medicina,
Universidade de Brasília; 2006.
Catassi C, Fabiani E, Iacono G, D’Agate C, Francavilla R, Biagi F, et al. A
prospective, double-blind, placebo-controlled trial to establish a safe gluten threshold
for patients with celiac disease1–3
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Chand N, Mihas AA. Celiac Disease Current Concepts in Diagnosis and Treatment. J
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December 7; 14(45): 6911-6914.
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