128646043 Cartilha de Educacao Ambiental Para o Candomble

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Para minha Yá, Olga do Alaketu, minha mãe, Beata deYemanjá, meu irmão Adailton Moreira, AbdiasNascimento, Joel Rufino dos Santos e minhas filhas,Olga e Sade, fontes de minha inspiração.

Agradecimentos:

Coordenação, produção e texto:

Consultoria Religiosa

Fotografia e produção:

Colaboradores de texto:

Capa:Consultoria de Meio Ambiente:

Consultoria em Educação e Cultura:

Consultoria em Arte:

Consultoria em Religião Comparada:

Articulação interinstitucional:

Programação Visual:

A Marcelo Rolinha, Liberac, João Brawne, Yale Garcia,Artur da Cruz, Caboclinho, Lia Maria, e a todos osmeus irmãos de axé.

Aderbal Ashogun

Mãe Beata de Yemonja

Clarisse Mantuano

Lara Moutinho da Costa,Marcelo Prazeres e Denise Alves

Abdias Nascimento

Lara Moutinho da Costa

Ana Cristina Pereira Vieira, Denise Alves e Maria dasGraças de O. Nascimento.

Ronald Duarte

Sérgio Pereira

Sônia Lúcia Peixoto

Leonardo Passos

Tiragem: 15.000Venda Proibida

Fundação Cultural Palmares

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Oxossi, rei das florestas, é um soberanoatento. Seus olhos vigiam todos os cantos doseu espaço sagrado, alertando para qualquerameaça à harmonia necessária à vida.

As águas dos olhos de Oxossi riachos,córregos, lagoas, sereno, neblina curam,acalmam, comunicam e abrem caminhos.Assim, brota do axé das águas dos olhos deOxossi esta cartilha de defesa do meio-ambiente, que busca repor o equilíbrio daação humana junto à natureza na prática donosso culto.

Mais que uma fé, nossa religião é ummodo de viver integrado em todos os passosde nossos dias.Seu primeiro princípio é manter a harmonia eo fluxo de energias entre Aiyê e Orum, ovisível e o invisível, que juntos compõem avida no universo.

A natureza é o espelho material doOrum, portanto nossa missão é cuidar delaem todos os seus aspectos.

Se os valores do “progresso” no mundoglobalizado nos afastam dessa prática, nossatradição sabe se sobrepor e vem nosreorientar, sob a égide da nossa mãe Yemanjá.

À Mãe Beata de Yemonja, da Casa dasÁguas dos Olhos de Oxossi, e a seu filhoAderbal Ashogun, nossas saudações pelainiciativa. Ao povo de santo, nosso abraço deaxé!

Abdias NascimentoElisa Larkin Nascimento

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BEM VINDO-

A cartilha OKU ABO é uma ferramentaeducativa criada pelo projeto OKU ABO -Educação ambiental para Religiões Afro-brasileiras, com o objetivo de resgatar o sabertradicional das religiões afro-brasileiras epromover a preservação do meio ambiente apartir desse resgate.

Iniciativa do terreiro de candomblé IlêOmiojuaro, de Mãe Beata de Yemonjá, emparcer ia com entidades rel ig iosas,ambientalistas, pesquisadores e órgãospúblicos, a cartilha foi elaborada com baseem ensinamentos ancestrais.

Os nossos mais velhos contam queantigamente não encontravam tantosresíduos de vidro, plástico, papelão,compondo as oferendas afro-brasileiras.

O dito progresso do mundo capitalistadeturpou, dentre outras coisas, nossa maneirade tratar o meio ambiente. O povo-de-santoacabou incorporando valores que nada têm aver com a nossa cultura, que nos afastam denossa tradição e que hoje são usados parajustificar mais preconceitos contra as religiõesafro-brasileiras.

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“OMI KOSI, ÉWÈ KOSI, ÒRÌSÀ KOSI”

Segundo a ONU , até 2020 deve faltarágua para cerca de 2/3 da populaçãomundial. Hoje, 20% da população do mundonão tem acesso à água potável e 50% nãopossui saneamento.

Mais de 50% dos rios da Terra estãopoluídos ou sendo extintos devido à máutilização dos seus recursos. Apenas 1/3 dosrecursos hídricos do planeta pode seraproveitado.

As águas poluídas afetam a saúde decerca de 1,2 milhão de pessoas e contribuempara a morte de cerca de 15 milhões decrianças com menos de 5 anos. Em cem anos,a população mundial dobrou e o consumo deágua cresceu sete vezes.

O Brasil possui cerca de 8% da águadisponível no planeta e aproximadamente80% está localizada na região amazônica.

Cerca de 16% do esgoto é tratado e oresto é jogado “in natura” na natureza. Aquino Brasil 40% da água é desperdiçada. Issosignifica que, em cada 200 litros utilizados, 80poderiam ter sido poupados. Aproxima-damente 45% da população brasileira nãotem acesso à água tratada e 96 milhões depessoas vivem sem saneamento básico.

“Sem água, sem folha, sem orixá.”1

ABO - água que curaOMI ERO - água que acalmaOMI TUTU - água fresca, que abre os caminhosOMI OLISSA - águas de Oxalá (ritual dedicado aOxalá, que inicia ou finaliza o calendário religioso)OMI IBONA - água quente que relaxa.

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Ditado iorubano que ratifica a consciência ecológica das religiões afro-brasileiras.1

2Fonte: www.educacional.com.br

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ORIXÁÉ NATUREZA

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“Meu filho, orixá é tudo isso que está aí... É oprincípio da vida, está em todas as coisas. Porisso, tome muito cuidado, pois quando vocêmexe em uma coisa, desequilibra outra”.

“O homem não percebe que ele não é nada. Agente está aqui de passagem. A terra vai comertudo isso...”

“Está vendo essas mazelas que acontecem nomundo? É a natureza. São os orixás serevoltando com a agressão do homem a ela.”

A intolerância é crime que pode serenquadrado no art. 140, § 3º , do CódigoPenal, e sua prática é contrária à liberdade decrença assegurada pela Constituição Federal,que em seu art. 5º, inciso VI, dispõe: “ éinviolável a liberdade de consciência e decrença, sendo assegurado o livre exercíciodos cultos religiosos e garantida, na forma dalei, proteção aos locais de culto e suasliturgias.”

(Ensinamentos da minha Yá, Olga do Alaketu)

ARGUMENTOS QUEGARANTEM NOSSOS DIREITOS

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Quando cheguei em Miguel Couto, oterreno que adquiri para fundar o Ilê OmiOjuaro não tinha nenhuma árvore ou ervas, ea primeira coisa que fiz foi andar pelasredondezas do bairro e colher as plantas queeram necessárias para os diversos usos,fossem religiosos ou terapêuticos. Eu mesmaas plantei e adubei a terra, preparando o solopara o que é hoje a minha roça decandomblé. Pelo fato de ter aprendido aolongo dos anos, o saber e o conhecimento daservas, hoje me sinto muito mais segura, poistenho dentro do terreiro muitas plantas quenão encontro mais no bairro.

Podemos fazer de nossas comunidadesterreiros, núcleos de preservação do verde,verde que em outras épocas era tão comumem nossos espaços e que, nos dias de hoje, jánão é tão fundamentado em nossas casas deaxé.

Temos de resgatar e preservar osensinamentos de nossos ancestrais que nosdiziam que “sem folhas não haveria orixá".Conseqüentemente este dito africano não serefere somente às ervas tão indispensáveis,mas, também, aos outros elementos de nossaplaneta. Planeta este, em que os nossos orixásainda vêm se confraternizar com os homens.Para isso, devemos ser multiplicadores emantenedores desta idéia primordial deprotetores de nossa mãe terra, para salvar onosso planeta e obviamente nossa tradiçãoreligiosa e o legado de nossos ancestrais.

Éwè o ÒsanyìnMãe Beata de Yemonja

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OS ESPAÇOSSAGRADOS

Todo o espaço é sagrado para asreligiões afro-brasileiras.

Èsù (Exú) - Caminhos, trilhas e encruzilhadas

Ògún (Ogum) - Ferro

Ò s ó ò s ì (Oxossi) - Florestas

Òsanyìn (Ossain) - Segredo das folhas

Obalúayé (Obaluaiê / Omolu) - Terra

Òsùmàrè (Oxumarê ) - Arco- íris

Sàngó (Xangô) - Raios, trovões e pedras

Irókò (Irôco) - A força física dopovo de santo

Oya (Oiá/ Iansã) - Chuva, tempestade, vento

Ò s u n (Oxum) - Rios, cachoeiras

Yemonja (Iemanjá) - Mares e rios

Obà (Obá) - Grutas, cavernas eencontro das águas

Yewa (Euá) - Cosmos, mata virgem

Nàná (Nanã) - Pântanos e mangues

Òòsàálà (Oxalá) - Harmonia da natureza

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Tudo o que o homem já encontrou naTerra se chama Natureza. Tudo o que ohomem acrescentou à Natureza, com seutrabalho e pensamento, chama-se Cultura.Sendo quase tudo que existe hoje na Terraacrescentado pelo homem, a Cultura é muitomaior que a Natureza, mas não é mais forte.

Conforme a Cultura se desenvolveu, aNatureza ficou mais importante. A Natureza éo Fundamento do homem e é também o seuDestino. Dela viemos e para ela voltaremos.

Cultura Popular é tudo o que os homenspobres fazem para melhorar o mundo. Otrabalho, o saber, os desejos, os sonhos, ascrenças dos homens pobres são a CulturaPopular.

A Cultura Popular é mais profunda que asoutras, porque reconhece o Poder daNatureza. Um exemplo dessa cultura é aTradição dos Orixás. A Tradição dos Orixás dáaos homens pobres Fundamento e Destino.

Cultura de Massa é tudo o que é feitopela Indústria Cultural. Ela só tem umafinalidade: ganhar dinheiro com as outrasculturas. São exemplos da Cultura de Massa atelevisão, a roupa de marca, a fama dascelebridades, a moda musical. A Cultura deMassa só cria homens velozes e vazios.

A Cultura Popular trava, o tempo todo,uma luta contra a Cultura de Massa. Umexemplo dessa luta é a Tradição dos Orixás,enfrentando diariamente as mentiras efutilidades da Cultura de Massa.

Joel Rufino dos Santos

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CONSELHO

“Como Ialorixá, eu oriento meus filhos de santo equem me procura para que tenham semprepreocupação com nossas práticas religiosas noambiente em que vivemos. Aconselho todos ossacerdotes a fazerem o mesmo.”

(Mãe Beata de Yemonja).

Áreas de Proteção Ambiental - APAs

APAs são locais onde você pode realizarlivremente suas oferendas. Servem paradiminuir os impactos nas reservas e parques,através de práticas sustentáveis, como:

• utilize recipientes biodegradáveis;

• não deixe sacos plásticos e embalagensnas APAs;

• rio e cachoeira: não coloque oferendasdentro do rio ou cachoeira e cuidadopara não prejudicar a vegetação damargem do rio, porque é ela que omantém vivo;

• apresente sua oferenda, reze, faça seupedido e depois a coloque fora damargem;

• mar: use materiais biodegradáveis,derrame os líquidos de garrafas e frascosde perfumes e retorne com objetos tipoespelho, pente, sabonete, bijuterias,garrafas, etc.;

• rua, caminhos e encruzilhadas: nãocoloque oferendas no asfalto, mas nocanteiro. Além de ficarem muitoexpostas, veículos geralmente passampor cima delas e quebram os recipientes,podendo causar acidentes;

• pedreiras: raspe a parafina das velas ecoloque -a no lixo.

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Sabemos que nossa tradição se baseia natroca, na generosidade, por isso nossos rituaissão sempre muito ricos e fartos. Porém,lembre-se que orixá é simples, come no chão.

Então, nunca devemos confundir riquezacom dinheiro e fartura com desperdício. Issosão valores da sociedade de consumo e nãoda tradição afro-brasileira.

Para os orixás e encantados a qualidadedas oferendas é muito mais importante que aquantidade. As porções das oferendas e ebósdevem ser proporcionais àquelas destinadas auma pessoa (200g a 500g).

A oferenda começa desde a hora dopreparo. Compartilhe o axé com seu orixá.

Na tradição afro-brasileira não sedesperdiça nada. Podemos observar que atéhoje, em muitas casas, todas as partes dosanimais sacrificados e as comidas sãoconsumidas. Cerca de 10%, o axé do santo, éconsumido pelos iniciados, e o restante édestinado ao público.

Ainda é comum nos candomblés, quetodas as comidas de santo - omolocu, farofade azeite de dendê, feijão preto temperadocom azeite e camarão, xinxin de galinha,caruru, vatapá e o famoso acarajé - sejamservidas ao público.

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Todas as religiões realizam oferendas. Oscatólicos dão a hóstia e o vinho; os judeussacrificam um cordeiro na páscoa; osorientais dão alimentos e objetos; ou seja, nãosomos diferentes de ninguém. Por isso, fiquetranqüilo ao realizar sua oferenda.

• As oferendas devem ser realizadasdentro do terreiro, sempre quepossível.

• Os alimentos cozidos devem serconsumidos ou enterrados após otempo mínimo de exposição. O quesobra pode e deve ser enterrado ouencaminhado para a compostagem,para produção de adubo orgânico.Isso é uma prática utilizada inclusivena África, berço dessa religião.

• Consulte a autoridade religiosa do seuterreiro sobre o tempo mínimo depermanência de exposição.

• Recolha sempre todos os resíduos desuas oferendas religiosas do meio-ambiente.

• Cantar, tocar, dançar são opções deoferendas que não deixam lixo.Podemos realizá-las em qualquerespaço, exceto nas reservas biológicas.

• Pergunte sobre restrições ao uso desom. Atabaques podem causar umforte impacto em determinadas áreas,como grutas e cavernas. Já em outras,não.

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Dê sempre preferência a materiaisbiodegradáveis na prática do culto. Minimizeo impacto causado na natureza.

• Alguidares, louças, copos e garrafasquebram com facilidade e causamferimentos em pessoas e animais.

• Copos e garra fas podem sersubstituídos por cabaças, cuias de cocoou bambu.

• Para substituir os recipientes de louçaou barro, uma alternativa é o uso defolhas.

• Bananeira, mamona ou morim, podemforrar o fundo dos alguidares e louças.

• Após o ritual, deixe as folhas com asoferendas e retorne com osrecipientes.

• Lembre-se de recolher todos osresíduos após o tempo mínimo depermanência.

Isso tudo pode alterar a estética daoferenda, mas o resultado final compensa.

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O PERIGO DOFOGO

O fogo é um elemento imprescindívelpara as religiões afro-brasileiras, porém deve-se usá-lo com muita cautela, devido ao seupoder devastador.

• Antes de depositar sua oferenda nanatureza, acenda as velas no terreiro.

• Se tiver que acender uma vela, faça-osomente em locais onde você possa seresponsabilizar. Espere até que ela seapague.

• Aproveite o tempo para rezar e sentir aenergia do ambiente em volta.

• Não deixe velas acesas nos pés dasárvores. Você pode causar incêndio,além de causar dor nas árvores, poiselas são seres vivos.

• A questão não é religiosa. Provocarincêndio é proibido por lei e você podeser preso por isso.

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Hoje o lixo recolhido nas cidades édepositado em lixões ou em aterrossanitários, mas dentro de poucos anos não vaimais existir lugar para colocá-lo. Esta é umadas razões por que a quantidade de lixoproduzido deve ser reduzida ao máximo,principalmente a partir da diminuição doconsumo de uma forma geral.

Reduzir, reciclar e reutilizar o lixo sãocaminhos que um número crescente de casasreligiosas vêm adotando com muito sucesso.Além de contribuírem para a proteção domeio ambiente e para a promoção daqualidade de vida, estes procedimentosreduzem custos e até podem gerar renda.

Coleta seletiva é a coleta de lixo feitaapós separação prévia, de acordo com o tipode lixo. Esta separação é feita em função dapossibilidade de reciclagem de determinadosmateriais, como plásticos, metais, vidros,papéis e materiais orgânicos, que deverão serdescartados em recipientes diferenciados.Você pode começar a separar seu lixo eajudar o planeta nesta batalha contra apoluição e gerar renda com a comercializaçãodesse material.

A reciclagem prolonga a utilidade dosrecursos naturais, além de reduzir o volumedo lixo. E quanto maior a quantidade de lixoreciclado, menor a quantidade de recursosnaturais consumidos.

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O que não puder ser reaproveitado com omesmo fim, deve ser reciclado, ganhar novaroupagem e novo uso.

A louça usada nas oferendas pode serlavada, fervida e reutilizada como recipiente denovas oferendas ou como utensílio no terreiro.

Já os alguidares, por serem de barro eporosos, são de fácil contaminação para seremreutilizados na culinária e no ritual. Devem serfervidos e podem ser reciclados se foremtriturados e usados como terra. Também podemganhar uma pintura decorativa e você podefazer três furos no fundo deles, transformando-os em vasos de planta. A questão é usar acriatividade a serviço do bem comum.

• Barro curado: 10 anos• Celofane: cerca de 100 anos• Cerâmica vitrificada: cerca de 500 anos• Filtro de cigarro: 10 anos• Madeira: 10 anos• Metais: 100 anos• Moedas: 200 a 500 anos• Papelão: 2 a 4 meses• Plástico: cerca de 500 anos• Tecido de algodão: 10 anos• Velas: até 3 anos

Veja o tempo de decomposiçãode alguns materiais:

Atenção: o mercúrio (azougue) é cancerígeno e não podeser manipulado sem proteção.

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Tenha responsabilidade com a limpeza dosespaços sagrados. Mantê-los limpos coloca-oem permanente contato com o axé dos orixás.

• Se tentarmos destruir a natureza, nós éque morreremos.

• Nunca deixe sacos plásticos, garrafas,velas e recipientes na natureza.

• Antes de realizar sua oferenda, façasempre uma faxina na área, retirandorestos de outras oferendas, embalagens eoutros resíduos, seja a área na naturezaou no próprio terreiro.

• Leve sempre sacos de lixo e luvasplásticas para a coleta de resíduos. Senão encontrar coletores, feche os sacos etransporte-os para o coletor maispróximo.

• Organize mutirões de limpeza com suacomunidade ou participe de grupos devoluntários dos parques e das reservaspróximos a sua casa.

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RACISMOAMBIENTAL

Racismo ambiental se configura como injustiçassociais e ambientais que afetam diretamente etniasvulnerabilizadas.

Nós, afro-descendentes, entendemos que asolução para o uso religioso de áreas florestais eunidades de conservação, por parte dos povosindígenas e afro-brasileiros, é viável, pois suasreligiões sempre preservaram o meio ambiente.Agora buscamos formas de adaptação de nossaspráticas para ampliar esta preservação a partir dossaberes tradicionais, em que temos como referênciaos Orixás, que são a própria natureza.

Assim, o povo de santo vem em direção aoconhecimento ecológico, com resultados muitoanimadores para o exercício da consciênciaecológica entre os afro-descendentes. Os órgãosambientais responsáveis por áreas protegidas nostratam de maneira discriminatória, apesar do papelhistórico dos negros e índios na manutenção de áreasnaturais.

Esperamos o reconhecimento da nossaimportância, já marcada no nome de cachoeiras,caminhos e vales, pelo uso tradicional destas áreas naforma de espaços sagrados das religiões afro-brasileiras. Não podemos aceitar que seja impedida aliberdade de praticar nossas crenças! Isso é, antes demais nada, inconstitucional!

Apesar do Governo Federal, através doMinistério do Meio Ambiente, indicar diretrizes maisinclusivas, buscando a participação social na tomadade decisões, o que se observa de fato é a manutençãode práticas preconceituosas e excludentes.

Por todos esses motivos, nós, das comunidadesde terreiros, posicionamo-nos contrários a estaspráticas, acreditando que o poder público e asociedade em geral devem reconhecer o legado dacultura afro-descendente e sua importância naformação da identidade brasileira. Assim,ajudaremos a colocar um fim aos preconceitos,principalmente no uso dos espaços públicos, efomentaremos uma efetiva inclusão social.

Aderbal Moreira Costa (Ashogun)Mãe Beata de Yemonja.

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19Disponível em http://www.mma.gov.br/port/sbf/dap/leisnuc.html1

É uma área protegida por lei específica, porsua beleza, biodiversidade, ou por suaimportância histórica e cultural. Por isso, nestesambientes há muitas restrições de acesso e deuso do solo. O SNUC, Sistema Nacional deUnidades de Conservação, estabelecido pelaLei 9.985/00 , apresenta as diferentes unidadesde conservação, seus objetivos e limitações.

As unidades de conservação servem para semanter preservadas ecossistemas importantes,fauna e flora, para as gerações presentes efuturas. Podem ser de comoreservas biológicas e parques, onde sãoproibidas populações residentes, ou de

, como as APAs -Áreas de Proteção Ambiental.

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Proteção Integral,

Desenvolvimento Sustentável

ImagensCapa

Páginas

Página

Página:

Página:

Página:

Página:

Páginas

Abdias Nascimento. O Santo Guerreiro Contra o Dragãoda Maldade: Ogum. Búfalo, NY, EUA, 1971. Acrílico s/tela, 106 x 155 cm (excerto).

• : 2, 14, 15, 16, 17 e 19Iraci Carisi. Livro: Trajes e Adornos, pág. 141 e 151.

• . 20Henry Druval and John Mason, Beads, Body and Soul.

• 3Goya Lopes, Batik, Pelourinho Bahia.

• 4, 12, 18Angela Fisher, Coroa Arabá pág 99 Livro: Trajes eAdornos.

• 6Abdias Nascimento, Oxum em Êxtase. Búfalo, NY, EUA,1975. Óleo e Acrílico s/ tela, 106 x 157 cm (excerto).

• 7Abdias Nascimento, Tema para Léa Garcia: Oxunmaré.Nova York, NY, EUA, 1969. Acrílico s/ tela, 111 x 157 cm(excerto).

• : 5, 8, 9, 10, 11, 13, 17Acervo Mãe Beata de Yemonja - Ilê Omiojuaro

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Aderbal Ashogun é baiano,nascido no terreiro do Alaketu.Promove ações afirmativas comomúsico, ativista ambiental e produtorcultural. Participou da ECO 92,quando comecou a coordenar oprojeto OKU ABO. É consultor doIBAMA para Práticas Religiosas emUnidade de Conservação. Realizouoficinas internacionais de cultura afro-brasileira em Madri e Londres (1998),produziu e tocou no cd Cantigas deCandomble (2000), gravando 57cantigas na língua ioruba, com intuítode preservá-las.

Pa r t i c ipou do Fórum deEspiritualidade e Sustentabilidade daÁgua, em Taiwan, 2004. Foipalestrante em inúmeros seminários,entre eles o 9º Congresso Mundial deTradição e Cultura de Orixá (UERJ,2005) e o Iº Seminário contra oRacismo Ambiental (UFF, 2006).

[email protected]

CEAP