12 e 13 de Outubro de 2007 Organização: Com o apoio de · Através de exercícios de triagem e...

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ACTAS 1º Seminário sobre Conservação e Gestão de Zonas Húmidas 3º Seminário de Sistemas Lagunares Costeiros 12 e 13 de Outubro de 2007 Auditório da Escola Superior de Tecnologia do Mar de Peniche Organização: Com o apoio de:

Transcript of 12 e 13 de Outubro de 2007 Organização: Com o apoio de · Através de exercícios de triagem e...

ACTAS

1º Seminário sobre Conservação e Gestão de Zonas Húmidas

3º Seminário de Sistemas Lagunares Costeiros

12 e 13 de Outubro de 2007 Auditório da Escola Superior de Tecnologia do Mar de Peniche

Organização:

Com o apoio de:

COMUNICAÇÕES

A CONVENÇÃO DE RAMSAR EM PORTUGAL

João Carlos Farinha1, Emília Paula Silva2 e Ana Paula Araújo2

1 Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade, DGAC-ZH Praça da República, 2900-587 Setúbal. Portugal

2 Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade, R. Santa Marta, 55. 1169-294 Lisboa. Portugal

[email protected]

RESUMO

A Convenção sobre Zonas Húmidas constitui um tratado inter-governamental adoptado em 2 de Fevereiro de 1971 na cidade iraniana de Ramsar. Por esse motivo, esta Convenção é geralmente conhecida como "Convenção de Ramsar", e representa o primeiro dos tratados globais sobre conservação.

A Convenção entrou em vigor em 1975 e conta actualmente com 145 países contratantes em todos os continentes. Aproximadamente 1429 sítios foram designados pelas Partes contratantes, cobrindo cerca de 125 milhões de hectares. Segundo o texto aprovado pela Convenção, zonas húmidas são definidas como "zonas de pântano, charco, turfeira ou água, natural ou artificial, permanente ou temporária, com água estagnada ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo águas marinhas cuja profundidade na maré baixa não exceda os seis metros".

Quando um país adere à Convenção de Ramsar está a comprometer-se a criar esforços para assegurar a Conservação das zonas húmidas. O tratado prevê quatro obrigações a acatar pelas Partes Contratantes: 1) Lista de sítios; 2) Utilização sustentável; 3) Reservas e formação; 4) Cooperação internacional. Portugal actualmente conta com 17 sítios Ramsar, a maioria dos quais inseridos em áreas protegidas, e criou recentemente um Comité para as Zonas Húmidas ao nível da Comissão de Coordenação Interministerial para a Biodiversidade, do MAOTDR.

Nos últimos anos, a nível internacional, tem-se verificado um forte envolvimento do ICNB em projectos e organizações relevantes para a conservação das Zonas Húmidas, onde se salienta a representação nacional na Convenção de Ramsar e no Comité para as Zonas Húmidas Mediterrâneas (MedWet/Com), a coordenação do Grupo de Trabalho de Inventários (IWG – Inventory Working Group) deste Comité e o trabalho desenvolvido como ponto focal para todos os temas relacionados com inventários de Zonas Húmidas na Região Mediterrânea, nomeadamente a promoção e divulgação das metodologias MedWet.

Neste âmbito, foi desenvolvida uma base de dados de zonas húmidas, capaz de gerir grandes quantidades de dados e de adaptar-se a diferentes realidades, necessidades e públicos alvo, com ligação a uma base cartográfica através de um SIG de fácil utilização. Tem-se igualmente promovido a preparação de planos de gestão de zonas húmidas, utilizando técnicas de participação informal da população.

DESIGNAÇÃO DE SÍTIOS RAMSAR

NA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES

João Porteiro 1, Luís Costa 2, Luz Paramio 1, Dália Leal 3 e Helena Calado 1

1Universidade dos Açores. Departamento de Biologia. Secção de Geografia Rua da Mãe de Deus, Apartado 1422, 9501-855 Ponta Delgada. Portugal

[email protected] 2Consultor

Av. D. Sebastião, 101, 2825-408 Costa da Caparica. Portugal [email protected]

3 Secretaria Regional do Ambiente e do Mar. Direcção Regional do Ambiente Rua Cônsul Dabney, Apartado 140, 9900-014 Horta. Portugal

[email protected]

RESUMO

A Convenção sobre Zonas Húmidas, conhecida por Convenção de Ramsar, foi assinada, por 18 países, a 3 de Fevereiro de 1971 na cidade de Ramsar (Irão). Consiste no tratado internacional mais antigo sobre uma temática ambiental, tendo como missão “a conservação e a utilização sustentável de todas as zonas húmidas através de acções a nível local, regional e nacional e de cooperação internacional, como contributo para atingir um modelo de desenvolvimento sustentável a nível mundial”.

Os países signatários devem designar sítios para a “Lista de Zonas Húmidas de Importância Internacional”. Os sítios a designar terão que reflectir a aplicação (nacional e regional) de planos de conservação e gestão de zonas húmidas, contribuindo assim para o uso sustentável desses sistemas. Portugal ratificou a Convenção de Ramsar em 1980 (Decreto-lei n.º 101/80, de 9 de Outubro), tendo designado, até à data, 17 Sítios Ramsar, dos quais somente um se localiza nos Açores: as Fajãs dos Cubres e da Caldeira de Santo Cristo em São Jorge, cujo interesse conservacionista depende de duas lagunas costeiras com expressivo significado ambiental e socioeconómico.

Reconhecendo a importância das zonas húmidas do arquipélago dos Açores, o Governo Regional, em colaboração com a Universidade dos Açores, promoveu um trabalho com vista à designação de outros sítios Ramsar, tendo em conta o considerável potencial existente. No contexto da macaronésia, as nove ilhas dos Açores possuem valores hidrológicos singulares, abundantes e diversificados, com interesse estratégico, científico, natural e conservacionista. Essa importância manifesta-se em diferentes tipologias de zonas húmidas e sistemas aquáticos, como sejam pauis, turfeiras, lagoas permanentes e temporárias, nascentes de águas termais, fumarolas, poços, geotérmicos, entre outras manifestações de valor internacional. Note-se que na região macaronésica, espaço biogeográfico onde se integra o arquipélago dos Açores, só existe, além do caso de São Jorge, somente mais um Sítio Ramsar: Saladar de Jandía (Fuerteventura, Canárias).

A identificação de potenciais zonas húmidas a designar foi estabelecida num Workshop que contou com a participação de 21 convidados em representação de diversos organismos regionais e nacionais. Através de exercícios de triagem e validação, dos 57 sítios inicialmente referenciados, foram seleccionados 11 que cumprem os critérios Ramsar, sobretudo os critérios 1, 2 e 3 (respectivamente: exemplo representativo, raro ou único de um tipo de zona húmida natural ou semi-natural na respectiva região biogeográfica; existência de espécies vulneráveis, em perigo ou em estado particularmente crítico, ou comunidades ecológicas ameaçadas; existência de espécies animais e/ou vegetais importantes para a manutenção da biodiversidade da respectiva região biogeográfica).

Após a aprovação das candidaturas dos Açores pelos órgãos da Convenção de Ramsar, Portugal passará de 17 para 28 sítios designados, num total de 86 660 ha, valor que

representa um acréscimo de 12 790 ha, ou seja, mais 14,8 % do que a superfície actual (73784 ha). Concluindo, o estudo em apreço aponta para as seguintes recomendações:

• a proposta para designação, enquanto Zonas Húmidas de Importância Internacional, de 11 sítios potenciais distribuídos pelas 9 ilhas do arquipélago dos Açores;

• a discussão e a consideração da possibilidade de designar mais três sítios (zonas costeiras), importantes sobretudo pelos efectivos significativos de aves marinhas;

• o processo de planeamento dos novos Sítios Ramsar que ainda não disponham de um plano de gestão desenvolvido. Os planos devem seguir as metodologias propostas pela própria Convenção;

• a implementação do Programa de Conservação dos Sítios Ramsar designados;

• a integração de representantes do Governo Regional dos Açores nas reuniões, nacionais e internacionais, relativas aos trabalhos da Convenção de Ramsar.

BIOMARES A LIFE PROJECT TO RESTORE AND MANAGE

THE BIODIVERSITY OF LUIZ SALDANHA MARINE PARK

Alexandra H.Cunha1, Karim Erzini1, Ester Serrão1, Onno Diekmann1, Emanuel Gonçalves2, João Carlos Farinha3, Miguel Henriques3 , Victor Henriques4, Carlos Duarte5 e Núria Marbá5

1 CCMAR Center for Marine Sciences, University of Algarve, Campus de Gambelas, 8005-139 Faro. Portugal

[email protected] 2 ISPA Eco-Ethology Research Unit,

Rua Jardim do Tabaco, 34, 1149 - 041 Lisboa. Portugal 3 ICNB Luiz Saldanha Marine Park,

Pr. da República 2900-587 Setúbal. Portugal 4 IPIMAR, Institute for Marine Fisheries Sciences

5 CSIC - IMEDEA – Mediterranean Institute for Advanced Studies, C/ Miquel Marquès, 2107190 Esporles, Mallorca, Illes Balears. SPAIN.

RESUMO

The Natural Park Luiz Saldanha is the unique Marine Park in Portugal. It is located south of Lisbon and its shallow waters and bays are protected by the Arrábida Sierra. This area is a Nature 2000 site and is considered to be a hot spot for marine biodiversity. Several problems common to other marine parks affect this park as well. In 2005, the management plan of the park was implemented not without several episodes of social turmoil. The fact that the management plan was implemented in the park, and the habitat menaces were discontinued allowed an application to the LIFE – NATURA program. The project was one of the four winners of the Portuguese applications to the LIFE 2006 program. The LIFE-BIOMARES project (LIFE06 NAT/ P/000192) aimed at the restoration and management of the biodiversity of the natural park. Several actions are taking place. The restoration of the seagrass prairies that were destroyed by fisheries and recreational boating is one the most challenging. It includes the transplanting of seagrasses from donor populations, the germination of seagrass seeds for posterior plantation to maintain the genetic diversity of the transplanted area. All the donor areas and the transplanted areas will be mapped and monitored for biodiversity. One of the most popular actions will be the implementation of environmental friendly moorings, and a floating dock to integrate recreational use of the area with environmental protection. Several actions of information and environmental education about the marine park and the project are also planned. For compensating for fishermen loss of fisheries ground and to increase the knowledge of the habitats of the park, the cartography of the park and the surrounding area till the 100 m depth is being made. Fauna and flora monitoring was implemented through the park area. The project coordinator is the Center for Marine Sciences of the University of Algarve. Four more partners share the execution of all the tasks. The project has the consultancy of NOAA/USA and a Cement Company (SECIL) as a co-financer.

CONSERVAÇÃO E GESTÃO DO ESTUÁRIO DO MONDEGO

Miguel Pardal

Imar – Institute of Marine Research Departamento de Zoologia Universidade de Coimbra

Portugal

RESUMO

From 1980 to 2000, the Mondego estuary (Portugal) suffered dramatic changes due to eutrophication, leading to a decline in seagrass beds and changes in community structure, namely a decline in species richness and replacement of herbivores by detritivores. Because the conservation status of the estuary was being compromised, a restoration project was implemented in 1998 in order to restore the original natural seagrass habitat. This project included several restoration/management measures, including the protection of the remaining seagrass patches and improvement of the hydraulic conditions through modifying sluice opening regimes, thereby reducing the nutrient loading in the southern arm of the estuary. In addition, several stakeholder forums were convened to inform local people of the ecological and economic importance of the area. In this presentation we evaluate the success of this management plan as judged by changes in the macrobenthic assemblages (total biomass, species diversity and trophic structure).

PROJECTO RIPIDURABLE – GESTÃO SUSTENTADA DE

FLORESTAS RIBEIRINHAS

Dias, P. C.5, Mendes, A. I.1,3; Fernandes, R.3; Céu, J.R.1; Pais, F.2; Menino, H.2; Ferreira, M. T. 3; Fabião, A.3; Espírito-Santo, D.3 Rabaça, J. E.4;Godinho, C.4; Faivre, B.6; Stamatis, Z.7;

Dimopoulos, P.8; Arvanitis, K.9; Prada, M.A.10 , Arizpe, D.10

1 Câmara Municipal de Alpiarça R. José Relvas, nº374, 2090 Alpiarça. Portugal 2 Câmara Municipal de Montemor-o-Novo

Largo dos Paços do Concelho 7050 Montemor-o-Novo. Portugal 3 Instituto Superior de Agronomia, Departamento de Engenharia Florestal

Tapada da Ajuda 1349-017 Lisboa. Portugal

4 LabOr – Laboratório de Ornitologia, Universidade de Évora Apartado 94, 7002-554 Évora. Portugal

5 Centro Nacional de Investigação Científica, CNRS 1919 Route de Mendes 34293 Montpellier. França

6 Universidade de Borgonha 6 Bd Gabriel, 2100 Dijon. França

7 HCMR, Instituto de Águas Interiores 46,7 km Athens-Sounio, P.O. Box 712 GR-19013, Anavissos Attici. Grécia

8 Universidade Ioannina Seferi 2, GR30100 Agrinio. Grécia

9 ETANAM S.A., Agência de Desenvolvimento Local Periochi Ydatopyrgos, Preveza. Grécia

10 CIEF – Banco de Sementes, Generalidade Valenciana, Conselheria do Território e Habitação C/ Francisco Cubells 7, 46011, Valência., Espanha

RESUMO

A vegetação ripícola tem um papel fundamental na manutenção da biodiversidade, sendo considerado um habitat terrestre muito dinâmico, diversificado e complexo. A sua importância como elemento estruturante da paisagem e o seu papel no desenvolvimento de funções ambientais, ecológicas e biofísicas tem sido alvo de diversos estudos, sendo de salientar a sua importância como filtro de poluentes ou como estabilizador de erosão dos solos e o seu uso como corredor ecológico por parte de diversos grupos de fauna. A “Perspectiva de Desenvolvimento Espacial Europeia” integra estes conhecimentos, reconhecendo que a biodiversidade não pode ser preservada apenas por uma rede de zonas protegidas, sendo igualmente importante o desenvolvimento de redes de corredores ecológicos.

Contudo, as entidades gestoras encontram muitas vezes dificuldades na implementação de medidas adequadas, quer por falta de conhecimentos técnicos, quer por falta de plantas apropriadas à reflorestação. A fim de ajudar a preencher esta lacuna, a comunidade científica foi envolvida num projecto Interreg IIIC- co-financiado pela União Europeia, com vista ao desenvolvimento de modelos de gestão adequados a este tipo de habitats. O objectivo principal deste projecto é o desenvolvimento de estratégias integradas de gestão florestal das zonas ripícolas e seu restauro, tendo em consideração o seu potencial económico e as suas características naturais, a sua importância como corredores ecológicos para as aves e o seu potencial para a protecção da qualidade da água.

O termo RIPIDURABLE resulta da contracção de dois vocábulos: “RIPI” - de origem latina, deriva de ripa e significa “ribeira” - e ”DURABLE” - que em francês quer dizer “sustentado”. O termo traduz a ideia fundamental do projecto: “ribeira sustentada”. Por outras palavras, o projecto pretende aliar o potencial económico destas zonas às funções que desempenham na conservação da natureza, da água, do solo e da paisagem, preconizando assim uma gestão racional do espaço no tempo.

O projecto pretende aliar o conhecimento da comunidade científica e as autoridades competentes na gestão dos rios, aglomerando parceiros de diferentes institutos com experiência em avaliação ambiental, restauro de habitats e propagação de espécies florestais com autoridades nacionais e locais que têm competências legais na gestão de rios, resultando na contribuição do desenvolvimento de politicas nacionais para a gestão sustentada de rios. Estão a ser desenvolvidos quatro projectos de restauro de habitats ribeirinhos, estando envolvidas dez instituições de quatro países (Portugal, Espanha, França e Grécia).

Para mais informações contactar: [email protected] ou www.ripidurable.eu

AVES NIDIFICANTES E ESTRUTURA DAS RIPISILVAS

EM DOIS RIOS MEDITERRÂNICOS

(VIDOURLE E RHONE, FRANÇA)

Paula Dias, Jean Roché, Eric Dincuff, Philippe Perret

Centro Nacional de Investigação Científica, CNRS 1919 Route de Mendes 34293 Montpellier. França

[email protected]

RESUMO

Os povoamentos de aves nidificantes ao longo das bermas do Vidourle foram estudados de 2005 a 2007 pelo método dos pontos de escuta (IPA), juntamente com a estrutura das ripisilvas e a presença de obras de melhoramento.

Dois terços dos povoamentos recenseados são espécies de meios florestais puros ou degradados.

As características da ripisilva com mais inluência na composição e riqueza desta avifauna foram altura, largura e estratificação vertical.

As obras de melhoramento empobrecem sobretudo o cortejo de espécies de aves estritamente florestais. As espécies de meios florestais degradados são menos afectadas e de forma mais efémera.

Dados comparativos obtidos sobre o Rhône confirmam as tendências observadas no Vidourle.

GALERIAS RIPÍCOLAS – AS AVES ENQUANTO BIOINDICADORE S

CASO DE ESTUDO – RIBEIRA DE GANDUM

Carlos Godinho1 & João E. Rabaça1

1 LabOr – Laboratório de Ornitologia, Unidade de Biologia da Conservação, Departamento de Biologia, Universidade de Évora, P-7002-554 Évora

[email protected]

RESUMO

A conservação da vegetação ripícola é vital para a manutenção da integridade dos cursos de água em termos biofísicos e biológicos. Previne a erosão das margens, regula leito de cheias e alberga uma elevada diversidade de espécies animais e vegetais. Na Região Mediterrânica o Homem tem ao longo dos séculos, exercido uma elevada pressão sobre estes habitats, conduzindo a que na actualidade se encontrem poucos locais com ecossistemas ripários próximos do natural.

A ribeira de Gandum é um tributário do Rio Almansor (Bacia do Tejo), junto a cidade de Montemor-o-Novo, no Sul de Portugal. Devido à acção humana, esta ribeira encontra-se num elevado estado de degradação, caracterizado pela elevada presença de algumas espécies invasoras como Arundo spp. Numa das acções do projecto RIPIDURABLE (INTERREG IIIC Sud) a Câmara Municipal de Montemor-o-Novo procedeu à reabilitação desta ribeira numa extensão de cerca de 2 Km. Utilizámos as aves como grupo biológico de estudo para aferir o efeito dos processos de reabilitação nas biocenoses da galeria ripícola. Os nossos objectivos foram (1) caracterizar a comunidade de aves nidificantes associada à Ribeira de Gandum antes das acções de reabilitação e (2) proceder à sua monitorização durante e após as intervenções.

Nas épocas de reprodução de 2005 a 2007 monitorizámos 17 localizações na ribeira através de censos realizados pelo método pontual com limite de distância (bandas de 25 e 50m) e duração de 10’. Dos 17 locais seleccionados, os primeiros 13 estiveram sujeitos a acções de reabilitação enquanto os restantes 4 servirão como grupo de controlo. Esta metodologia será repetida anualmente tentando alcançar uma série temporal suficiente para avaliar com precisão o resultado da intervenção.

Numa primeira abordagem aos resultados obtidos, observamos que as espécies mais comuns foram o Melro Turdus merula e o Rouxinol Luscinia megarhynchos e que apenas se registaram 4 espécies migradoras. Decompondo a comunidade de aves associada à ribeira por categorias de habitat, dominam as aves associadas a ambientes florestais/matos e salienta-se a ocorrência de apenas 3% de espécies aquáticas/ripícolas.

SISTEMAS ECOLÓGICOS DE ENGENHARIA NO RESTAURO FLUVI AL

António Oliveira Paula Soares

Logística Florestal, SA Zona Industrial Vale do Alecrim, lote 133; 2950-437 Palmela. Portugal

[email protected]

RESUMO

A probabilidade de ocorrência de processos erosivos em áreas fluviais deve-se a uma conjugação de factores biofísicos, aliados por vezes a uma má planificação e/ou gestão antropogénica. Esses fenómenos erosivos resumem-se na sua maioria a alterações da dinâmica natural das encostas e margens; fenómenos de sedimentação; criação de barreiras sedimentares; diminuição da qualidade da água; criação de ravinamentos nas margens e diminuição da vegetação riparia por diminuição da estabilidade do solo.

Em algumas circunstâncias os danos provocados por estes fenómenos erosivos serão irreversíveis, a menos que seja instalado um sistema de controlo da erosão, e nalgumas situações, um sistema depurativo da qualidade da água (aplicação conjunta de elementos flutuantes e plantas depuradoras).

Esse sistema de controlo da erosão é obtido recorrendo a técnicas de Sistemas Ecológicos de Engenharia, que consistem em técnicas de prevenção ou recuperação da erosão, e de restauro ecológico por excelência, em que o seu objectivo primário é o de potenciarem a sucessão ecológica e a estabilização do solo, mediante a utilização de técnicas de engenharia baseadas em critérios mecânicos, biológicos e ecológicos, que se caracterizam pela utilização conjunta de plantas, inertes e outros componentes biodegradáveis.

O recurso a Sistemas Ecológicos de Engenharia possibilita a elaboração de métodos construtivos que encaixam nas necessidades ecológicas aproximando-se quase na totalidade dos métodos naturais.

GESTÃO DO CANIÇAL NA RESERVA NATURAL DO PAUL DE ARZ ILA

Anabela Simões

Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade, DACZH Reserva Natural do Paul de Arzila, Delegação de Coimbra

Mata Nacional do Choupal, 3000 Coimbra. Portugal Tel:(351) 239 499020, Fax: (351) 239 499029

RESUMO

Os pauis com caniçais, especialmente quando possuem vegetação arbórea dispersa, constituem de entre os vários tipos de Zonas Húmidas, aquelas que suportam uma fauna mais rica e variada.

Na Reserva Natural do Paul de Arzila, a zona paludosa ocupa o fundo do vale e é constituída principalmente por Caniço [Phragmites australis (Cav.) Trin. ex Steudel ssp. australis], Bunho (Scirpus lacustris L. ssp. lacustris), tabúas (Typha sp.), juncos (Juncus sp.) e grande quantidade de espécies herbáceas; ainda nesta zona ocorrem formações arbóreas e arbustivas, compostas por maciços de Salgueiro-preto (Salix atrocinerea Brot.), bosquetes de amieiros (Alnus glutinosa Gaertner) e exemplares algo dispersos de freixos (Fraxinus angustifolia Vahl.), ulmeiros (Ulmus sp.), choupos-negros (Populus nigra L.) e outros salgueiros.(Salix sp.).

O caniçal existente no paul de Arzila encontra-se numa fase acelerada de envelhecimento, tendente a evoluir para um ecossistema terrestre, pelo que se torna necessário controlar/inverter o processo evolutivo de sucessão vegetal. As acções de gestão realizadas têm por objectivo: 1- controlar a expansão exagerada do caniçal e a regressão do bunhal, diversificando os habitats e estabilizando as associações Scirpo-Phragmitetum (comunidade de caniço e bunho) e Typho-Scirpetum (comunidade de bunho e tabúa); 2- a abertura de clareiras, criando superfícies de água livre, melhorando e aumentando os habitats de nidificação e alimentação disponíveis para as espécies faunísticas.

Em paralelo com as acções de rejuvenescimento do caniçal, desenvolveram-se acções com o objectivo de controlar e inverter o processo de sedimentação excessiva que se verifica (a sedimentação constitui um processo de evolução natural de um paul), e que põe em risco o habitat DH 3150 (Lagos eutróficos naturais com vegetação da Magnopotamion ou da Hydrocharition).

IBAS MARINHAS E CRIAÇÃO DE

AREAS MARINHAS PROTEGIDAS

Iván Ramírez

Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Coordenador Programa Marinho e IBAs Avenida da Liberdade, 105 – 2ºEsq., 1250-140 Lisboa. Portugal

Tel.: (351) 213 220 430, Fax: (351) 213 220 439 [email protected] , www.spea.pt

RESUMO

Portugal tem a maior Zona Económica Exclusiva da União Europeia e a décima-primeira do mundo. A responsabilidade nacional do ponto de vista da preservação dos recursos pesqueiros e da conservação das aves marinhas é muito elevada, e torna-se necessário investigar e definir a futura Rede de Áreas Marinhas Protegidas.

O sector das pescas em Portugal tem mudado muito nas ultimas décadas: o tamanho da frota e o número total de descargas nos Portos de Pesca diminuíram de forma constante, e esta tendência ainda hoje se mantém. A situação actual dos recursos pesqueiros é delicada, com algumas espécies em claro retrocesso. Assim, a proliferação das pisciculturas em áreas de elevado valor ecológico, como os estuários, representa o claro exemplo do conflito existente entre a produção industrial e a preservação da biodiversidade natural.

A SPEA, através do seu Programa Marinho, desenvolve actualmente diversos estudos e projectos que vão permitir conhecer com detalhe a distribuição actual das principais espécies de aves marinhas que ocorrem na Zona Económica Exclusiva de Portugal. O objectivo final destes estudos é estabelecer uma rede de IBAs Marinhas (Important Bird Areas, IBA, nas suas siglas em inglês) que depois seja utilizada para a declaração das Zonas de Protecção Especial (ZPE) no âmbito da Rede Natura 2000.

No que respeita às espécies de aves marinhas, ocorrem em Portugal 14 espécies incluídas no Anexo I da Directiva Aves, das quais 4 se encontram globalmente ameaçadas. Espécies como a Freira da Madeira ou o Painho apresentam uma distribuição no mar muito dispersa. As dificuldades em conhecer a sua distribuição fora das colónias, têm restringido as medidas de protecção existentes ao combate das ameaças às zonas de nidificação em terra. Com o objectivo de ultrapassar estes problemas metodológicos, a SPEA tem vindo a utilizar diversas técnicas, que vão desde censos realizados em barcos e aviões ao seguimento individual de algumas espécies através de dispositivos electrónicos. O conjunto destes dados é depois analisado e relacionado com diversas variáveis ambientais, que vão permitir estabelecer um critério de definição dos limites das áreas marinhas mais relevantes para a migração, alimentação e repouso das espécies prioritárias.

Nesta comunicação serão apresentados os últimos dados recolhidos pela equipa do projecto, incluindo análises preliminares sobre as áreas que serão incluídas no inventário de IBAs Marinhas a publicar em 2008.

AMBIENTES LAGUNARES PARCIALMENTE FECHADOS DA

ESTREMADURA E ALENTEJO – ESTUDO COMPARATIVO

M.C. Freitas 1*; A. Cruces 2*;C. Andrade3* e M. J. Carvalho4**

*Laboratório de Processos Costeiros, Centro e Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa,

Bloco C6, 3º Piso, Campo Grande, 1749-016 Lisboa. Portugal

** Centro de Investigação do Mar e do Ambiente, da Faculdade de Ciências do Mar e do Ambiente da universidade do Algarve,

Campus de Gambelas, 8005 Faro. Portugal 1 [email protected] ; 2 [email protected]; 3 [email protected]; 4 [email protected]

RESUMO

O litoral português é muito diversificado em termos geológicos e geomorfológicos, resultado da variabilidade de diversos factores, naturais e antrópicos, e inclui arribas e plataformas de abrasão, praias, tômbolos, restingas e ilhas-barreira, formações dunares, estuários e lagunas, com sapais e rasos de maré. Os sistemas lagunares ocorrem em Portugal nas fachadas ocidental e sul, nos troços correspondentes às bacias meso-cenozóicas. Se, por um lado, têm características comuns, como sejam a presença de uma depressão costeira e a existência de um sistema de barreira e barra de maré, por outro, cada um deles difere dos restantes quer do ponto de vista morfológico, quer funcional; as diferenças envolvem fundamentalmente as dimensões e forma do espaço lagunar e a envergadura da barreira, a amplitude de maré, a contribuição dos rios tributários, o clima local, o número e a dimensão dos canais intra-lagunares, a natureza e quantidade do sedimento disponível, a natureza e a origem da depressão, e as modalidades de construção e de evolução da barreira. Da variação destes factores estruturantes resultam diferenças na velocidade das correntes, diferenças no quimismo e estruturação da água lagunar, geologia e ecologia, que dificultam generalizações aplicáveis à maioria das lagunas.

As lagunas parcialmente fechadas possuem uma barreira, construída por acção das ondas e das correntes de deriva litoral que as isola do oceano e onde é aberta periodicamente uma barra de maré. Exemplos de lagunas deste tipo no litoral da Estremadura e do Alentejo são a Lagoa de Óbidos, S. Martinho do Porto (com barreira rochosa), lagoas de Albufeira, de Melides e de Sto. André. Algumas delas funcionam como lagunas fechadas, sem contacto com o mar durante uma boa parte do tempo, e onde os processos mais importantes são a acção do vento e o galgamento esporádico. À excepção de S. Martinho do Porto, tiveram origem em estuários formados durante a trangressão holocénica, em consequência da subida generalizada do nível do mar (desde - 120m há 18 000 anos) que alcançou a cota actual há aproximadamente 3000 anos; o estado lagunar foi atingido há 6000-5000 anos atrás, quando a velocidade de subida do nível do mar diminuiu significativamente e a taxa de acrecção da barreira passou a excedê-la. São sistemas de pequenas dimensões (superfícies inundadas variáveis entre 0.4 e 6 km2), para os quais drenam áreas também diminutas (inferiores a 500 km2), havendo uma correlação directa entre a área lagunar e a área da bacia de drenagem (r2=0,96). No geral são pouco profundas (profundidades inferiores a 5 m, à excepção da Lagoa de Albufeira que pode ter 15 m), sendo os valores máximos atingidos maioritariamente nos canais principais, por vezes à custa de dragagens; há uma excelente correlação, também directa, entre a profundidade lagunar e a área da bacia hidrográfica (r2=0,999) ou da laguna (r2=0,96) se excluirmos a Lagoa de Albufeira, o que parece sugerir um controle diferente (tectónico) para o grande encaixe desta laguna.

Entre Fevereiro e Junho de 2003, foram realizadas campanhas de campo nas lagunas de Albufeira, Melides e Santo André, e em Agosto de 2004 na Lagoa de Óbidos, permitindo efectuar um estudo sedimentológico e geoquímico comparativo. Todas elas apresentam uma elevada heterogeneidade textural dos sedimentos de fundo: as areias limpas estão unicamente presentes na proximidade da barra de maré e as areias vasosas, aqui e nas desembocaduras fluviais; as vasas arenosas ocorrem nos depocentros e zonas mais confinadas, apenas

existindo vasas puras (% areia < 5%) na Lagoa de Óbidos. Os teores de matéria orgânica, baixos ou nulos nas areias, aumentam significativamente nos sedimentos vasosos; no entanto, são muito mais elevados em Melides e Santo André (onde podem ultrapassar os 20%) do que na Lagoa de Albufeira (onde o valor máximo ronda 7% e pode estar relacionado com a presença da miticultura) e na Lagoa de Óbidos (valores inferiores a 4%); o desenvolvimento de macrófitas, favorecido nos primeiros casos pelas pequenas profundidades e à penetração da luz solar até ao fundo, pode explicar estas diferenças. Os teores em CaCO3, que reflectem directamente a quantidade de bioclastos, são mais baixos em Melides que em Albufeira, Santo André e Óbidos.

Em relação aos metais pesados (Cr, Ni, Cu, Zn e Pb), os sedimentos destas lagunas são limpos ou ligeiramente contaminados, de acordo com a legislação que regulamenta os materiais dragados (DR II, nº. 141, 21/6/1995). Os teores mais elevados estão, como seria de esperar, associados aos sedimentos mais finos. Os valores de Cr e Pb são muito semelhantes, encontrando-se valores máximos mais baixos na Lagoa de Óbidos; no entanto, enquanto o primeiro é semelhante aos padrões internacionais (“average shale” e “sandstone”), o segundo é sempre superior, sugerindo enriquecimento neste metal. O Ni e o Cu são superiores na Lagoa de Santo André e este último também em Óbidos, associados a sedimentos enriquecidos em matéria orgânica, e mais elevados que os padrões internacionais em ambos estes casos. O Zn é mais abundante nos materiais de fundo da Lagoa de Albufeira (Lagoa Grande) mas todas as lagunas mostram enriquecimento em Zn relativamente aos padrões internacionais.

Foram calculadas taxas de sedimentação nas lagunas de Albufeira, Melides e Santo André, com base na determinação do excesso natural de 210Pb e do radionuclido artificial 137Cs em sedimentos de sondagens curtas recolhidas nos seus depocentros. Com base no primeiro, determinaram-se valores médios de 4,8 mm/ano em Albufeira, 3,0 mm/ano em Melides e 2,8 mm/ano em Santo André. Os resultados obtidos com o segundo, permitem-nos determinar variações no ritmo de deposição sedimentar, entre 1954 (primeira evidência deste radionuclídeo) e 1963 (máximo de deposição atmosférica) e entre 1963 e a actualidade. Na laguna de Santo André, parece ainda ocorrer o pico datado de 1986, relacionado com o acidente de Chernobyl. Os resultados obtidos sugerem taxas de sedimentação anual de ordem centimétrica entre 1954 e 1963 e milimétrica nos tempos mais recentes, admitindo que não ocorreu migração vertical do 137Cs ao longo do perfil.

ANÁLISE INTEGRADA DE PROCESSOS FÍSICOS E DE

QUALIDADE DA ÁGUA EM LAGUNAS

Anabela Oliveira1, André Fortunato, Xavier Bertin e Marta Rodrigues

Núcleo de Estuários e Zonas Costeiras, Departamento de Hidráulica e Ambiente, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Av. do Brasil, 101, 1700-066 Lisboa. Portugal

[email protected], http://www.dha.lnec.pt/nec/portugues/actividade.html

RESUMO

As lagunas caracterizam-se pela grande variabilidade temporal da sua embocadura, a qual resulta da acção conjunta da agitação marítima, das correntes de maré e dos caudais fluviais. Estas solicitações conduzem frequentemente à migração e ao assoreamento das embocaduras, e até à interrupção temporária da ligação das lagunas ao mar. A hidrodinâmica, a morfologia e a capacidade de renovação destes sistemas é assim fortemente variável, a nível sazonal e a escalas de tempo mais curtas, o que dificulta a previsão da sua evolução e a sua monitorização e gestão. Esta variabilidade torna também as lagunas particularmente vulneráveis, já que as consequências de descargas poluentes dependem muito da capacidade de renovação de água do sistema.

O estudo detalhado do funcionamento destes sistemas, assim como a capacidade de prever os impactos de pressões antropogénicas, coloca desafios de natureza multidisciplinar que requerem a combinação de diferentes abordagens e áreas do conhecimento. Por exemplo, os processos físicos e de qualidade da água em zonas costeiras estão frequentemente interligados. A agitação marítima gera correntes que se sobrepõem às correntes de maré, contribuindo ambas para o transporte de sedimentos e de substâncias dissolvidas. Por sua vez, a dinâmica sedimentar altera as correntes, afectando assim o transporte. A resolução de problemas de engenharia e de gestão costeira requer por isso frequentemente o acoplamento de vários modelos que simulem diferentes processos naturais, o que nem sempre é devidamente tido em consideração. Em particular, a influência das evoluções batimétricas nos processos de transporte é frequentemente ignorada.

Apresenta-se nesta comunicação um sistema integrado de modelação em desenvolvimento no LNEC, o qual é parte da metodologia geral de abordagem multidisplinar integrada para estudo de lagunas costeiras. Este sistema inclui modelos hidrodinâmicos, de propagação de agitação marítima, de transporte de sedimentos e de qualidade da água, e as interacções entre os vários módulos (Oliveira et al., 2007).

A importância de modelar os vários processos relevantes de forma acoplada é depois ilustrada através de uma aplicação à Lagoa de Óbidos. Esta aplicação mostra como a migração e o assoreamento dos canais da embocadura (Oliveira et al., 2006) afectam os tempos de residência e a contaminação fecal no interior da laguna.

Referências

Oliveira, A., Fortunato, A.B. e J. Rego, 2006. Effect of morphological changes on the hydrodynamics and flushing properties of the Óbidos lagoon (Portugal), Cont. Shelf Research, 26/8: 917-942

Oliveira, A., A.B. Fortunato, M. Rodrigues e A. Azevedo, 2007. Integration of physical and water quality models, Houille Blanche, 4: 40-46.

Agradecimentos

Este trabalho foi parcialmente financiado pela FLAD, projecto “Towards a nowcast-forecast system for estuarine and coastal water quality” e pela Comissão Europeia, projecto "IMMATIE Improvement of a morphodynamic modeling system applied to tidal inlets". Os autores agradecem também aos Profs. António M. Baptista e Joseph Zhang pelo modelo ELCIRC.

INFLUÊNCIA DA QUALIDADE DA ÁGUA NAS

COMUNIDADES FITOPLANCTÓNICAS DE LAGOAS COSTEIRAS

DO ALGARVE (FOZ DE ALMARGEM E SALGADOS)

S.E.Coelho1, S. Gamito1 e A. Pérez-Ruzafa 2

1 Faculdade de Ciências do Mar e Ambiente - Universidade do Algarve Campus de Gambelas, 8000-117 Faro. Portugal

[email protected], [email protected] 2 Dpto. Ecologia e Hidrobiologia, Facultad de Biologia - Universidad de Múrcia

Campus Universitario de Espinardo, 30100 Murcia. Espanha

[email protected]

RESUMO

O presente estudo teve por objectivo caracterizar as comunidades fitoplanctónicas de duas lagoas costeiras sujeitas a diferentes fontes de poluição orgânica e averiguar qual a relação entre as variações sazonais destas comunidades e a qualidade da água das lagoas.

Durante o período de amostragem (Junho 2001 – Julho 2002), as lagoas estiveram isoladas por uma barreira arenosa, ficando temporariamente em conexão com o mar aquando do rompimento do cordão dunar. A avaliação da qualidade da água foi feita com base em parâmetros físico-químicos e as comunidades fitoplanctónicas foram analisadas em termos de biomassa, abundância, composição, diversidade e riqueza de taxa.

As comunidades fitoplanctónicas diferiram consideravelmente nas duas lagoas, assim como a qualidade da água. Nos Salgados observou-se uma maior abundância e biomassa de fitoplâncton e a dominância de Cyanophyceae, em alternância com Bacillariophyceae e algas pico-nano flageladas, enquanto que na Foz de Almargem dominaram as Dinophyceae, Bacillariophyceae e algas pico-nano flageladas. As principais diferenças na abundância, biomassa e composição de taxa das comunidades estão relacionadas com as maiores concentrações de fosfatos, fósforo total, nitritos, amónia, azoto inorgânico total e sólidos suspensos totais nos Salgados, e uma razão N:P superior na Foz de Almargem.

Em ambas as lagoas foram identificados taxa potencialmente tóxicos, cuja abundância se correlaciona significativamente com as concentrações de compostos azotados e fosfatados.

A ocorrência destes taxa e o desenvolvimento de florescências é particularmente preocupante na lagoa dos Salgados, quer em termos de saúde pública quer em termos de impacte na fauna piscícola e avifauna locais.

UMA METODOLOGIA DE APOIO À DECISÃO NA GESTÃO DE

SISTEMAS LAGUNARES COSTEIROS

Pedro Duarte1, António Pereira2 , Luís Paulo Reis2

1 Universidade Fernando Pessoa, CIAGEB, Praça 9 de Abril, 349, 4249-004, Porto. Portugal

[email protected] 2 Faculdade de Engenharia - Universidade do Porto, NIAD&R – LIACC

Rua Dr. Roberto Frias, s/n 4200-465 Porto. Portugal {amcp, lpreis}@fe.up.pt

RESUMO

A gestão de sistemas lagunares costeiros envolve diversos actores com opiniões por vezes divergentes quanto às opções de gestão mais adequadas, em função do seu conhecimento, dos seus interesses e da sua sensibilidade para diferentes problemas ambientais, económicos, sociais e culturais. Um dos problemas fulcrais é a capacidade de prever o resultado de diversos cenários possíveis de gestão, tais como a construção de infra-estruturas portuárias, a realização de operações de dragagem, etc. Outro problema central é a definição dos indicadores adequados para avaliar os efeitos ambientais, económicos e sociais dos diferentes cenários. Uma vez definidos os indicadores, podem ser utilizados modelos matemáticos para avaliar os efeitos de diferentes cenários nos mesmos. No entanto, é necessário dispor de uma metodologia que permita ponderar os diferentes indicadores permitindo classificar qualitativamente os cenários. Nesta comunicação será apresentado um conjunto de ferramentas destinadas à simulação de ecossistemas costeiros, à avaliação dos resultados obtidos com o simulador (EcoDynamo), mediante um Sistema de Apoio à Decisão baseado na metodologia “Analytical Hierarchical Process”, e à optimização de diversas opções de gestão recorrendo a Agentes Inteligentes. Serão demonstradas e discutidas aplicações recentes da metodologia apresentada.

BIOINDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL EM ECÓTONOS D E

ZONAS HÚMIDAS COSTEIRAS:

A PARTICULARIDADE DOS SISTEMAS DEPENDENTES DE AQUÍF EROS

Paula C. Tavares e Luís T. Ribeiro

CVRM / Centro de Geo-Sistemas - Instituto Superior Técnico Av. Rovisco Pais, 1049-001 Lisboa. Portugal

Tel.: (351) 218 417 247, Fax: (351) 218 417 442, [email protected]

RESUMO

As zonas húmidas costeiras são caracterizadas por extensas áreas de interface entre o meio terrestre e o meio aquático e também entre a água doce e a água salgada. No caso das zonas húmidas que estão ligadas a aquíferos existem também áreas de interface entre as águas superficiais e as águas subterrâneas. Estas zonas húmidas fazem parte dos chamados “Groundwater Dependent Ecosystems” ou GDEs, e às referidas interfaces estão associados grupos ecológicos específicos definindo ecótonos.

São várias as perturbações que podem afectar a qualidade ambiental destes GDEs, nomeadamente a disponibilidade e a qualidade da água nos aquíferos. A utilização de bioindicadores é uma ferramenta muito importante na avaliação da qualidade da água. As comunidades de invertebrados são constituídas por algumas espécies sensíveis a alterações nas condições fisico-quimicas da água. Contudo várias questões permanecem pouco esclarecidas.

É necessário conhecer melhor o contributo das águas subterrâneas para a alimentação das águas superficiais de cada uma destas zonas, sendo que este pode variar sazonalmente e entre anos, devido à acção de vários factores entre os quais o clima. Por outro lado, ainda pouco se conhece sobre o papel das zonas de interface e seus ecótonos na regeneração das águas após perturbações por intervenção nos habitats ou devido ao clima.

A Convenção sobre a Protecção e a Utilização dos Cursos de Água Transfronteiriços e dos Lagos Internacionais exigiu a monitorização de diferentes tipos de água (superficial, subterrânea e salgada). Desde então a União Europeia incorporou a monitorização das águas subterrâneas, mas a integração entre os diferentes tipos de água não foi ainda conseguida, em particular no que diz respeito às zonas de interface.

A integração de bioindicadores de diferentes ecótonos e diferentes níveis tróficos permitirá integrar os efeitos da poluição em diferentes escalas espaciais e temporais. Os invertebrados de águas subterrâneas e águas superficiais, bem como parte dos seus predadores, p.ex. as aves, podem ser integrados em índices de avaliação da qualidade ambiental destas zonas húmidas. Estes bioindicadores, quando integrados, podem indicar a capacidade de recuperação de um aquífero após elevadas extrações de água, a eficiência de práticas de reabilitação nestas zonas húmidas, ou os impactos da recarga artificial. Contribuem por isso, para uma melhor gestão destas zonas húmidas no sul da Europa, onde a acção do clima pode ser potenciadora da sua degradação.

SISTEMAS LAGUNARES SUJEITOS A PRESSÕES ANTROPOGÉNIC AS

Graça Cabeçadas1, M. José Brogueira e Marta Nogueira

IPIMAR, Departamento de Ambiente Aquático Av. de Brasília 1449-006 Lisboa. Portugal

Tel.: (351) 213 027 000, 1gc@ ipimar.pt

RESUMO

Estudos conduzidos pelo IPIMAR nos estuários do Tejo e Sado forneceram informação relevante em termos do seu funcionamento biogeoquímico. Estes sistemas, ambos mesotidais, de tipo lagunar, sujeitos a pressões antropogénicas e localizados geograficamente apenas a cerca de 50 km de distância, apresentam, contudo, características ecológicas diferentes, fortemente dependentes da sua morfologia e, sobretudo, hidrodinâmica.

Efeitos de fontes pontuais de nutrientes e carbono de origem antropogénica, foram detectados nos respectivos estuários, observando-se zonas de impacto bem diferenciadas. A nível de emissão de biogases com efeito de estufa, nomeadamente CO2 e N2O, registaram-se fluxos, para a atmosfera, mais elevados em zonas específicas, o que revela a existência de pressões externas acentuadas. Eventuais efeitos de alterações climáticas no estuário do Sado durante um período de seca relativamente prolongado, são ainda abordados.

Finalmente, é discutida a evolução do estado trófico dos dois sistemas. A implementação de um considerável número de Sistemas de Tratamento de Águas Residuais, ETARs, na bacia hidrográfica do rio Tejo tem contribuído para a melhoria da qualidade da água do estuário, reflectindo-se no menor desenvolvimento de fitoplancton. Esta situação contrasta com a verificada no estuário do Sado nos últimos anos, caracterizada pelo aparecimento periódico de proliferações de microalgas acompanhado da redução do índice de diversidade. Também, a ocorrência de episódios esporádicos de desequílibrio na estrutura física e biogeoquímica pode indicar estar em curso um processo de eutrofização, em particular na zona superior do estuário.

Dinâmica de recrutamento e migrações de peixes na Ria Formosa

Jorge M.S. Gonçalves

FCMA/CCMAR-CIMAR Laboratório Associado Universidade do Algarve

Campus de Gambelas, 8005-139 Faro. Portugal Tel. +351. 289800900 Ext. 7242/3

RESUMO

A Ria Formosa é um importante sistema lagunar da costa portuguesa, que providencia habitats essenciais para muitas espécies de peixes marinhos, destacando-se a sua função de viveiro para muitas espécies com valor comercial. Com o intuito conhecer a dinâmica de recrutamento e as migrações destas espécies, têm vindo a realizar-se estudos sobre a distribuição e abundância da ictiofauna e sobre os movimentos associadas ao seu ciclo de vida. De modo a atingir estes objectivos, foram efectuadas amostragens biológicas com redinhas, arrasto de vara e chalrão, em mais de 50 locais da Ria Formosa (canais, margens e esteiros) e estão a ser efectuadas marcações utilizando marcas convencionais e marcas acústicas. As distribuições das frequências de comprimento permitiram a identificação e progressão das cohortes dos juvenis e consequentemente a determinação da época de recrutamento. As espécies comerciais (Sparidae e Moronidae) entram na Ria principalmente na Primavera ou final do Inverno, crescem rapidamente durante o Verão e saem da Ria para a zona costeira durante o Inverno, antes de completarem o primeiro ano de vida. Do estudo de marcação clássica, observou-se uma grande fidelidade dos juvenis aos locais (e.g. Safia, Diplodus vulgaris), com a maioria dos peixes recapturados a pequenas distâncias ou mesmo nos mesmos locais onde haviam sido marcados e libertados. Pelo recurso à telemetria foi possível observar que espécies como as Douradas (S. aurata) têm a capacidade de regressar ao mesmo local depois de libertadas a alguma distância, denotando uma maior actividade durante o período diurno. A monitorização contínua da ictiofauna da Ria Formosa tem providenciado informações vitais na dinâmica de recrutamento e possíveis alterações devidas ao aquecimento global e aos impactos devidos a actividades humanas.

http://www.ualg.pt/fcma/cfrg/ http://www.projectoarade.org/ http://www.ualg.pt/ccmar/

GRANDES BRANQUIÓPODES” EM PORTUGAL:

ESTÓRIAS DE VIDAS EM CHARCOS TEMPORÁRIOS!

Luís Cancela da Fonseca

FCMA, Universidade do Algarve, Campus de Gambelas, 8005-139 Faro. Portugal Laboratório Marítimo da Guia/Centro de Oceanografia (FCUL),

Av. N. Sra. do Cabo, 939, 2750-374 Cascais. Portugal

RESUMO

Os charcos ou lagoas temporárias são corpos de água pequenos, pouco profundos e vulneráveis a um grande número de actividades humanas (subtracção de água e perturbação das águas subterrâneas, drenagem e recuperação para o desenvolvimento agrícola ou urbano, colmatação por lixo ou desperdícios, poluição por fertilizantes, pesticidas ou lixo, agricultura não sustentável ou produção de gado...). Frequentemente negligenciados, estão presentemente a desaparecer a um ritmo elevado. A Directiva Habitats (92/43/CEE) veio relembrar a sua importância através da classificação, entre outros, dos “Charcos Temporários Mediterrânicos” como habitats de conservação prioritária. Refere-se amiúde a diversidade e peculiaridade da sua flora, mas também o interesse que têm para os anfíbios e, por vezes, para as aves. E os invertebrados, que apresentam nestes ambientes adaptações extraordinárias e espécies únicas? É o caso das espécies de crustáceos conhecidas por “grandes branquiópodes” (CGB’s), a maioria dos quais habita exclusivamente charcos temporários, cuja sobrevivência depende de um banco de ovos resistentes que se acumula na camada superficial dos seus sedimentos e que, regra geral, necessita de um período a seco. Neste âmbito, dos 11 taxa referenciados para Portugal, 6 merecem particular atenção (Branchipus schaefferi, Streptocephalus torvicornis, Tanymastix sp, Maghrebestheria maroccana, Cyzicus grubei e Triops mauritanicus). Cada espécie tem necessidades ecológicas particulares (área total, profundidade, duração do hidroperíodo…). Tal como os anfíbios, os CGB’s necessitam distintos períodos de inundação para que as diferentes espécies possam completar os ciclos de vida respectivos (oscilando de 20 – Branchipus schaefferi – a mais de 120 dias – Cyzicus grubei). A conservação destas espécies passa pela preservação destes biótopos, para os quais urgem decisões relativas à sua gestão. Mas que parâmetros usar para proceder a essa gestão? Entre outros, têm que considerar-se obrigatoriamente os aspectos fundamentais da bio-ecologia das espécies que os habitam, nomeadamente os ciclos de vida dos CGB’s, como fundamento de medidas e processos de gestão que permitam a conservação de habitats cuja verdadeira riqueza reside nas espectaculares adaptações das suas flora e fauna às condições extremas, nomeadamente ao ritmo e alternância dos períodos secos e alagados, destes ambientes. Todavia estes revestem-se de um valor e utilidade difíceis de avaliar e, à semelhança do que acontece com todo o território, não deve perder-se de vista que a acção continuada do Homem, que ao longo dos tempos moldou o espaço de acordo com as suas necessidades, marcou profundamente estas áreas. O seu papel como reservas de água e de pasto fresco em muitas regiões secas e áridas foi (e continua a ser) relevante na economia humana. E isso tem valido à preservação dos charcos (e à das respectivas espécies). Os novos paradigmas da utilização da água (barragens, canalização e distribuição, irrigação...) puseram em risco a respectiva conservação.

VEGETAÇÃO E DINÂMICA DOS CHARCOS E

LAGOAS DO SUDOESTE ALENTEJANO

Carla Pinto-Cruz

Universidade de Évora, Departamento de Biologia Apartado 94, 7002-554 Évora. Portugal

[email protected]

RESUMO

Os charcos e lagoas temporários são ecossistemas sazonais que estão sujeitos a condições ecológicas extremas e variáveis devido à sua característica de alternância entre períodos de encharcamento e de total ausência de água. As espécies vegetais desenvolveram uma série de mecanismos de adaptação ao encharcamento, que se verifica na sua época de desenvolvimento (Primavera). Este período de encharcamento sazonal previne também o estabelecimento de espécies características de zonas secas. O carácter efémero desta flora, bem como as variações climáticas, explicam o facto deste tipo de habitats estar pouco estudado e conhecido.

Na região Sul de Portugal os charcos e lagoas temporários estão localizados quer ao longo de todo o planalto costeiro, quer, no interior, sob sistemas de montado. Nesta região, ao longo dos anos, a conservação dos charcos temporários tem sido compatível, e até mesmo favorecida, com as tradicionais actividades agrícolas, nomeadamente, com o pastoreio. No entanto, as técnicas da agricultura moderna conduzem à drenagem das áreas onde os charcos temporários se situam, ou então à sua conversão em reservatórios de água permanentes. A industrialização e o desenvolvimento do turismo também representam, actualmente, uma ameaça para estes ecossistemas.

O estudo realizado é baseado numa aproximação ecológica da espécie à comunidade. Foram realizados inventários florísticos em diferentes tipologias deste habitat, resultantes de diferentes tipos de substrato, morfologia e tipo de uso do solo. As comunidades vegetais foram monitorizadas sazonal e anualmente, ao longo de 3 anos, de modo a obter uma melhor compreensão da dinâmica destes habitats temporários. Esta periodicidade na recolha de dados é importante para amostrar e interpretar as variações inter e intra anuais.

A classificação das comunidades vegetais combina uma abordagem fitossociológica com a análise numérica classificativa e ordenativa.

O impacto dos diferentes tipos de uso do solo nos parâmetros ecológicos, tais como: as características físico-químicas do solo, tipo e profundidade da camada impermeável, duração e tipo de encharcamento, foram avaliados e monitorizados para cada tipo de charco.

Os dados da monitorização permitirão desenvolver ferramentas de gestão e protocolos para assegurar a sustentabilidade destes frágeis habitats, dentro do contexto agrícola.

CONSERVAÇÃO DE LAGOAS TEMPORÁRIAS E INTENSIFICAÇÃO AGRÍCOLA:

O CASO DO APROVEITAMENTO HIDROAGRÍCOLA DO MIRA

Pedro Beja

ERENA - Ordenamento e Gestão de Recursos Naturais, Lda Rua Robalo Gouveia, 1 – 1ª, 1900-392 Lisboa. Portugal

[email protected]

RESUMO

Na União Europeia, muitos dos valores naturais estão associados a sistemas agrícolas e pastoris extensivos. Nas últimas décadas, estes sistemas têm vindo a sofrer transformações profundas, com o abandono de zonas marginais e a intensificação de zonas mais produtivas, resultando na degradação de habitats sensíveis e declínios populacionais de espécies características de ambientes agrícolas. Este processo também afecta as Zonas Húmidas, constituindo a compatibilização com os usos agrícolas um dos desafios centrais para a conservação de alguns sistemas particularmente ameaçados. Na presente comunicação apresentam-se alguns dos problemas e potenciais soluções para a conservação de zonas húmidas em paisagens agrícolas, utilizando como caso de estudo as lagoas temporárias existentes no Aproveitamento Hidroagrícola do Mira. Com base nas respostas das populações reprodutoras de anfíbios, demonstra-se que a intensificação agrícola tem uma forte influência negativa nas lagoas temporárias, provocando a degradação e mesmo a destruição destes sistemas. A conversão de lagoas temporárias em charcas para irrigação, a introdução de predadores exóticos, e a transformação de pastagens em culturas anuais irrigadas são alguns dos factores que demonstraram efeitos mais negativos. No caso das alterações dos usos do solo, verificou-se que os efeitos se fazem sentir à escala de várias centenas de metros em torno da lagoa, o que demonstra a necessidade de gerir estes sistemas à escala da paisagem. Em função dos resultados obtidos são avaliadas várias opções para a conservação de lagoas temporárias em áreas agrícolas, discutindo-se nesta perspectiva a utilidade dos mecanismos agro-ambientais.

CAMPANHA DE ANILHAGEM DURANTE A MIGRAÇÃO PÓS-NUPCIA L

NO PAUL DE TORNADA, 2005-2007

Helder Cardoso

Associação PATO Apartado 171 - 2501 Caldas da Rainha. Portugal Tel.: (351) 262 881 790, [email protected]

RESUMO

Desde 2005 que têm sido realizadas sessões diárias de anilhagem de aves, entre 15 de Julho e 31 de Agosto, no Paul da Tornada. Um dos objectivos principais passa pela monitorização da migração pós-nupcial das várias espécies que utilizam o local como ponto de paragem na sua rota migratória. O esforço de captura foi dirigido aos pequenos passeriformes, onde em cada indivíduo foi colocada uma anilha metálica distribuída pelo ICNB/CEMPA e medidas várias biometrias sendo em seguida libertado. Foram assim recolhidos dados sobre um vasto leque de espécies migradoras, contribuindo para a compreensão da sua biologia, estratégias migratórias e importância do Paul da Tornada na migração pós-nupcial.

O LAGOSTIM VERMELHO AMERICANO, PROCAMBARUS CLARKII,

EM LAGOAS TEMPORÁRIAS DO SUL DE PORTUGAL:

IMPACTOS E MEDIDAS DE CONTROLO

Rui Rebelo1, Maria João Cruz1 e Miguel Tejedo2

1 Centro de Biologia Ambiental, Dep. Biologia Animal, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Campo Grande, Edifício C5, 1149-016 Lisboa. Portugal

Tel.: (351) 327 510 000, Fax: (351) 217 500 169, [email protected] 2 Departamento de Biologia Evolutiva, Estação Biológica de Donhana, Sevilha, Espanha

RESUMO

As lagoas e charcos temporários são habitats especiais, possuindo uma fauna e flora únicas, em muitos casos dependentes da ausência de peixes. Em biomas áridos e semiáridos, estes habitats são autênticas ilhas de biodiversidade, permitindo a sobrevivência de inúmeras espécies.

A introdução de espécies exóticas é uma das principais causas para a crise da biodiversidade a nível mundial. Em Portugal são bem conhecidos os efeitos da introdução de peixes alóctones em habitats dulçaquícolas permanentes. No entanto, há espécies exóticas que conseguem também colonizar os habitats temporários. Nesta apresentação são apresentados alugns impactos de uma delas – o lagostim-vermelho-americano, P. clarkii. A monitorização de 129 pontos de água na margem esquerda do Sado durante 3 anos permitiu-nos avaliar o impacto de P. clarkii sobre as 14 espécies de anfíbios desta região. Este impacto foi negativo para todas as espécies, especialmente para as dependentes de lagoas ou charcos temporários, tais como os tritões, o sapo-de-unha-negra ou o sapinho-de-verrugas-verdes.

Foi também possível modelar a distribuição de P. clarkii nesta região e numa área fisiograficamente semelhante em Espanha, o Parque Natural de Doñana. Os resultados indicam que a colonização de um corpo de água temporário está dependente do tipo de terreno e da distância à população de P. clarkii mais próxima. É assim possível desenhar “mapas de risco” de colonização de um dado corpo de água, assim como identificar locais-chave para o controlo da expansão desta espécie. Serão também apresentados os resultados de trabalhos de erradicação desta espécie em lagoas temporárias.

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E ZONAS HÚMIDAS COSTEIRAS

C. Andrade, M.C. Freitas

Laboratório de Processos Costeiros, Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Bloco C6, 3º Piso, Campo Grande, 1749-016 Lisboa. Portugal.

[email protected]; [email protected]

RESUMO

As alterações climáticas perspectivadas para o horizonte temporal de finais do século XXI centram-se muito em torno do aquecimento da atmosfera e do oceano, cujas consequências se traduzirão, entre outras, pela modificação do regime de ventos e da precipitação, bem como do clima de agitação marítima, e pela elevação do nível médio do mar. Nesta apresentação discutem-se impactos expectáveis destas modificações, com incidência particular naquelas que, de forma directa ou indirecta, afectarão plausivelmente ambientes lagunares e estuarinos do território nacional; alguns impactos serão preferencialmente sentidos na fronteira mais externa destes ambientes de transição, enquanto outros afectarão essencialmente o espaço intertidal localizado ao abrigo dessas barreiras. No estado actual do conhecimento, não é possível aplicar modelos deterministas para prever com rigor a evolução futura destes ambientes. Mas é possível esquematizar cenários e projectar tendências de evolução que enquadrem a realidade futura. Com recurso a esta última metodologia apresentam-se cenários de evolução dos espaços estuarinos e nacionais no presente século, no contexto das relações com a evolução do forçamento induzido pelas alterações climáticas, com ênfase nos balanços erosão-sedimentação, terrestrialização-inundação e variação da erosão costeira.

INTEGRAÇÃO DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E DAS BARRAGEN S

NA GESTÃO DOS ESTUÁRIOS E ZONAS COSTEIRAS:

O EXEMPLO DO GUADIANA

Luis Chicharo1, Maria Alexandra Chícharo, Radhoune Ben-Hamadou e Pedro Morais

Universidade do Algarve, Centro de Ciências do Mar do Algarve Campus de Gambelas, 8005-139 Faro. Portugal

Tel.: (351) 289 800 051, Fax: (351) 289 800 069, [email protected], [email protected]

RESUMO

As alterações climáticas têm consequências a nível de fenómenos de grande escala, como a oscilação no Atlântico Norte (NAO), que afecta o clima em Portugal continental. A tendência dos últimos 30 anos, bem como cenários resultantes de modelos, sugerem a predominância da ocorrência de períodos de secas prolongados (NAO+). Nessas condições, a gestão da água é fundamental e será previsível a construção de mais barragens ou uma maior retenção da água, nas já existentes. Neste estudo, analisou-se o impacto que a alteração do caudal pode ter sobre as funções e produtividade dos estuários e sobre as pescas na zona costeira, como base para a previsão de futuros impactos e desenho das possíveis soluções. Analisou-se a zona do Guadiana que, com a construção da barragem de Alqueva, constitui um caso de estudo sobre as consequências da alteração no regime e volume as descargas de água doce no estuário e zona costeira adjacente. Verificou-se, no estuário, a redução da produtividade primária e o aumento da distribuição e abundância de espécies invasiva. Na zona costeira, ocorreu uma alteração das comunidades de peixes com consequência nos desembarques da pesca comercial. A integração das alterações climáticas e das barragens na gestão das bacias hidrográficas e zonas costeiras é fundamental como forma de assegurar a existência de reservas de água para consumo humano e a sustentabilidade dos ecossistemas costeiros, através de um bom estado ecológico da água. A utilização de pulsos de água doce, nalguns períodos do ano, pode constituir uma estratégia para a sustentabilidade da biodiversidade e dos usos e serviços associados aos ecossistemas estuarinos e costeiros, como as pescas.

TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS RECENTES NA REGIÃO OESTE

João Vasconcelos, Roberto Gamboa, Nuno Rodrigues

Escola Superior de Tecnologia do Mar (Peniche), Campus 4 Santuário Nossa Senhora dos Remédios, Apartado 126, 2524 - 909 Peniche - Portugal

Tel.: (351) 262 783 607, Fax: (351) 262 783 088 , [email protected]

RESUMO

As zonas húmidas são áreas de grande valor ambiental que se encontram muito frequentemente associadas a um importante património cultural cujo equilíbrio importa conservar. As actuais ameaças às zonas húmidas estão intrinsecamente associadas à acção humana, como a excessiva exploração dos recursos, a poluição, a pressão urbana e a alteração do balanço energético do globo cuja consequência mais mediática é o aquecimento global. Estima-se que os principais impactes das alterações climáticas nas zonas húmidas se faça sentir ao nível da erosão costeira e dos habitats, do aumento da salinidade e contaminação dos aquíferos, da alteração das faixas intertidais e no transporte de sedimentos e nutrientes assim como no aumento de episódios de cheias e inundações. As principais dificuldades em estimar o impacte das alterações climáticas nas zonas húmidas prendem-se com a incerteza da modelação climática a uma escala regional e com a compreensão ainda insuficiente das respostas do meio. Para resolver estas questões é necessário, por um lado desenvolver sistemas computacionais cada vez mais complexos e robustos no sentido de diminuir a incerteza e aumentar a fiabilidade da previsão e, por outro lado, fomentar a constante monitorização e avaliação do ambiente. Neste contexto, foi procurado identificar algumas evidências no sentido de uma mudança dos padrões climáticos, tomando como referência os dados meteorológicos da estação do Cabo Carvoeiro e através da temperatura da água do mar junto à costa obtidas através de imagens de satélite. Foi portanto analisada a evolução da temperatura média mensal da água do mar desde a última década através de imagens de satélite NOAA - AVHRR; foi analisada a evolução da precipitação e da temperatura do ar desde o início dos anos 40 utilizando dados fornecidos pelo Instituto de Meteorologia e, com estes dados, foi ainda calculado um índice de conforto aplicado ao Turismo, tendo sido analisada a sua evolução estival em Peniche desde 1980. Como tendência mais marcante pode ser referida a diminuição dos quantitivos pluviométricos anuais e a diminuição da precipitação no Inverno e na Primavera, nomeadamente a partir de 1970, acompanhada por um aumento da precipitação durante o Outono. Foi igualmente possível identificar o aumento médio da temperatura mínima do ar de 0,2ºC por década, valor que é semelhante ao citado para outras partes do globo. Verificou-se ainda um aumento, embora mais reduzido, da temperatura média do ar assim como um ligeiro aumento na temperatura média da superfície da água do mar, nos meses de Verão, de 1996 a 2006. Para integrar as tendências da informação meteorológica e estimar o eventual aumento da pressão humana sobre o ambiente foi ainda calculado um índice de conforto proposto por Mieczkowski, denominado habitualmente por TCI, tourism climatic índex. Este índice foi calculado para os meses de Verão no período de 1980 a 2006 e permitiu identificar uma evolução positiva nos últimos anos, nomeadamente a partir de 2001, tendo em conta a tendência de aumento do número de meses considerados “ideais” para o turismo na região. Esta evolução poderá contribuir a curto e médio prazo para um aumento da “atractividade” turística da região. Por fim, foram ainda observadas nas Berlengas algumas espécies marinhas até agora não referenciadas para esta latitude, o que poderão fornecer pistas adicionais sobre as tendências climáticas recentes na região Oeste.

POSTERS

REQUALIFICAÇÃO AMBIENTAL E PAISAGÍSTICA DA PATEIRA –

1ª FASE: REMOÇÃO DO JACINTO-DE-ÁGUA DA LAGOA

Célia M. Laranjeira

Câmara Municipal de Águeda Praça do Município, 3750 – 500 Águeda. Portugal.

Telf.: (351) 234 610 070 (ext. 427) [email protected];

RESUMO

A Pateira de Fermentelos é das maiores lagoas naturais da Península Ibérica (cerca de 529 ha), estando localizada no triângulo Águeda, Aveiro, Oliveira do Bairro, antes da confluência do Rio Cértima com o Rio Águeda. Integrada na Zona de Protecção Especial da Ria de Aveiro (PTZPE0004), é “uma importante e extensa zona húmida” (cit. ICN, 2006), classificada pela Directiva Aves (Directiva 79/409/CEE), sendo particularmente importante pela sua componente ornitológica e tipologia de habitats.

Contudo, entre os diversos factores de ameaça, do equilíbrio ambiental e ecológico da lagoa e ecossistemas associados, está a ocorrência da espécie exótica infestante comummente designada por jacinto-de-água (Eichhornia crassipes). Nos últimos anos, as massas de jacinto-de-água cobriam já mais de 50% da superfície da lagoa, sendo este, potencialmente, um dos principais factores que contribuiria para a degradação das condições ecológicas, económicas e sociais desta zona húmida e, numa pior análise, do sistema lagunar da Ria de Aveiro.

Neste contexto, a Câmara Municipal de Águeda, em parceria com outras entidades, iniciou em Dezembro de 2006 a remoção mecânica (com recurso a uma ceifeira-aquática) das extensas massas de jacinto-de-água que cobriam a lagoa da Pateira, visando assim contribuir para a melhoria da sustentabilidade do sistema e cumprimento ao disposto no Decreto-lei nº 565/99, de 21 de Dezembro.

Desde o início da intervenção, a ceifeira-aquática removeu já cerca de 15 500 m3 de massa vegetal da lagoa, tendo esta sido transportada, ao abrigo da legislação em vigor, para uma antiga exploração de inertes, contribuindo desta forma para a requalificação ambiental da mesma. Actualmente o espelho de água da lagoa encontra-se limpo de grandes massas de jacinto-de-água, permitindo não só a navegabilidade do mesmo, como a manutenção das actividades tradicionais.

Paralelamente a este processo decorre ainda a monitorização da qualidade da água da lagoa em diversos pontos, de forma a acompanhar a evolução do sistema, bem como a planificação de acções e estudos que visam a sustentabilidade da Pateira.

CARTOGRAFIA GEOREFERENCIADA DA VEGETAÇÃO

DO ESTUÁRIO DO GUADIANA

W. Simonson

Associação A Rocha

RESUMO

O Estuário da Guadiana tem um património natural de grande importância. A vegetação da zona faz parte desta riqueza, cumprindo um papel essencial no funcionamento e bom estado deste ecossistema. Como parte dos objectivos globais do projecto Megasig, para criar uma ferramenta de gestão ambiental (Boski et al, 2006a), quer como recurso para fins de educação ambiental (Boski et al, 2006b), decorreu o mapeamento da vegetação da zona estuarina.

O mapa da vegetação foi desenvolvido em plataforma SIG (ArcView 8.3), através da fotointerpretação de ortofotomapas à escala 1:5000, provenientes dos vários parceiros, e integrando dados já disponíveis para a área de estudo. A categorização de vegetação foi baseado no esquema adoptado pela Directiva Europeia de Habitats, sendo uma proporção significativa da área de estudo abrangida por legislação específica de sítios Natura 2000. A realização de visitas ao campo permitiu verificar as categorias de vegetação presente, e para recolher outros dados, tais como a presença de espécies alóctones, e evidência de pertubações e ameaças. Com base nas observações de campo e registos publicados foi compilado inventário de espécies vegetais e desenvolvida uma biblioteca de imagens das plantas vasculares e comunidades de plantas.

Uma área com 4605 ha de habitats estuarinos foi cartografada. O inventário de espécies contem 420 espécies, incluindo algumas com importância para a conservação. Exemplos como a Cistanche phelypaea (Orobanchaceae) e Limonium algarvense (Plumbaginaceae), endémica na Península Ibérica e Marrocos e uma das mais de 100 espécies deste género na Península Ibérica. Uma grande parte da zona é dominada por quenopodiáceas e outras ‘halófitas’, sobretudo os arbustos suculentos Arthrocnemum macrostachyum e Sarcocornia. Encontrou-se uma zonação topográfica típica, desde as colónias da gramínea Spartinia maritima (Morraça), frequentemente inundada pelas marés nas margens dos esteiros, passando pelas Sarcocornias e Haliminone portulacoides de sapal médio, para as plantas de sapal alto como Arthrocnemum, Suaeda vera (Valverde-dos-sapais) e Limoniastrum monopetalum, que também formam uma comunidade distinta nos topos dos muros das salinas e tanques de piscicultura. No entanto quase 25% destes sapais (mais de 1000 ha) estão também afectados pela presença da gramínea competitiva alóctone Spartina densiflora (originária da América do Sul), que diminui a diversidade florística. Esta cartografia pode ser usado para desenvolver um plano de controle para esta planta invasora e, além disso, pode servir como base para monitorizar as condições da vegetação de sapal para o futuro.

Boski, T., Terefenko, P., SIGENERIS, Loureiro, C., Albardeiro, L., Camacho, S., Pereira, L., Amaral, A., Nieto, J., Rodriguez, J., Salas, L, Gonzalez-Villa, F., Pérez, J., Simonson, W. (2006a) Sistema de Informação Geográfica para o Estuário do Rio Guadiana. SIG GUADIANA versão 1.1 DVD. Projecto MEGASIG. Programa INTERREG IIIA.

Boski, T., Sousa, C, Loureiro, C., Limpo, S., Albardeiro, L., Camacho, S., Pereira, L., Amaral, A., Nieto, J., Rodriguez, J., Salas, L, Gonzalez-Villa, F., Pérez, J., Simonson, W., Lima, A. (2006b) Como funciona um estuário? Aplicação didáctica. GUADID, versão 1.1 CD-ROM Projecto MEGASIG, Programa INTERREG IIIA.

CONSTRUÇÃO DE UM BANCO DE GERMOPLASMA E CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DA FLORA ENDÉMICA DA RESERV A

NATURAL DAS BERLENGAS POR RAPD

Maria João Mendes, Núria Lopes, Ana Capitão, Daniela Gomes, Alexandra Cruz, Teresa Margarida Mouga, Clélia Neves e Maria Manuel Sampaio

Escola Superior de Tecnologia do Mar (Peniche), Campus 4

Santuário Nossa Senhora dos Remédios, Apartado 126, 2524 - 909 Peniche - Portugal Tel.: (351) 262 783 607, Fax: (351) 262 783 088 ,

[email protected]

RESUMO

O Arquipélago das Berlengas é constituído por três grupos geográficos distintos: o da Berlenga, o das Estelas e o dos Farilhões-Forcadas. O arquipélago localiza-se a cerca de 5,7 milhas da costa continental Portuguesa e pertence à Rede Nacional de Reservas Protegidas tendo sido identificadas 128 espécies vegetais distintas (Cunha et al., in press; Gomes et al., 2004). Existem presentemente no arquipélago 3 espécies endémicas que merecem especial atenção: Armeria berlengensis, Herniaria berlengiana e Pulicaria microcephala (Gomes et al., 2004; Reiner e Santos, 2002). Neste trabalho descrevemos a implementação de um banco de Germoplasma da flora endémica das Berlengas e a utilização de técnicas de RAPD na caracterização genética de algumas espécies. Para a construção do banco de germoplasma é necessário ter em conta todos os factores que podem contribuir para a perda de viabilidade das sementes, procurando minimizar as perdas ao longo do tempo de armazenamento. A criação e manutenção de um inventário e registo de todas as espécies recolhidas são também de importância fulcral. A caracterização genética por RAPD é feita utilizando folhas ou sementes das espécies endémicas seleccionadas, sendo o DNA é extraído de acordo com o protocolo de Doyle e Doyle, (1990) e sendo utilizados diferentes oligonucleótidos aleatórios. Os resultados obtidos são submetidos a análise filogenética (Martinelli, 2007; Matos, 2007) e comparados ao mesmo tempo com espécies presentes na península de Peniche, nomeadamente a Armeria welwitschii e a Herniaria maritima.

Cunha, F., Gomes, C., Teixeira, A., Flora da Berlenga. ICN. Portugal.

Gomes, C.T., Draper, D., Marques, I., Rosselló-Graell, A., 2004. Componente Vegetal do Plano de Ordenamento da Reserva Natural das Berlengas. Jardim Botânico, Lisboa, Portugal.

Reiner, F., Santos, R.J., 2002. Berlengas: A História e as estórias. Intermezzo-Audovisuais, Lda. Lisboa.

Doyle, J.J., e Doyle, J.L., 1990. Isolation of plant DNA from fresh tissue. Focus 12 (1), 13–15.

Martinelli, B., 2007. Marcadores moleculares e o melhoramento genético de espécies florestais. http://www.ufv.br/dbg/bioano01/div39.htm.

Matos, J., 2007. Marcadores genéticos e de que modo podem ser úteis. Unpublished results.

MICROPROPAGAÇÃO DE ESPÉCIES NATIVAS

DA PENÍNSULA DE PENICHE

Vânia Pires 1, Inês Matos 1, Alexandra Cruz 1, Teresa Margarida Mouga1, Maria Manuel Sampaio 1, Sérgio Leandro1,2,3 e Clélia Neves 1

1 Escola Superior de Tecnologia do Mar - Instituto Politécnico de Leiria, [email protected]

2 CESAM & Departamento de Biologia, Universidade de Aveiro 3 Câmara Municipal de Peniche

RESUMO

Os sistemas dunares costeiros são a principal barreira natural de defesa contra as marés e acção dos ventos fortes. Sem estas barreiras as zonas costeiras sofrem severas agressões ficando seriamente ameaçadas. A flora vascular nativa não é afectada directamente pelas águas marinhas, com excepção de situações extremas, como sejam tempestades muito fortes. É, porém, condicionada indirectamente por um conjunto de factores cuja origem assenta na proximidade com o meio marítimo, como sejam os aerossóis salinos, a penetração das camadas freáticas por água do mar, a deposição das areias marinhas, a temperatura elevada e a extrema secura do Verão. É sobejamente conhecida a degradação generalizada dos sistemas dunares em Portugal fruto de factores que se prendem com a actividade humana: as plantas nativas são facilmente destruídas pelo pisoteio e tráfego de veículos e o excesso de azoto favorece espécies invasoras em detrimento das nativas. Estes e outros factores conduzem à degradação dos habitats costeiros e à redução da biodiversidade. Existe ainda a ameaça de invasão de espécies não-nativas muito agressivas como a Acacia melanoxylon, Myoporum tetrandum e Carpobrotus edulis. Na zona de Peniche, existem ecossistemas dunares muito degradados sendo urgente proceder ao repovoamento das dunas com espécies autóctones ao mesmo tempo que se deve proceder à eliminação progressiva de espécies invasoras. No entanto, uma vez que estes sistemas dunares se encontram em regressão, não é conveniente a colheita continuada de espécimens de uns locais para repovoamento de outros locais mais deteriorados, dado o risco de diminuição do coberto vegetal. É, portanto, de todo o interesse proceder à micropropagação das espécies alvo, de forma a produzir quantidades significativas de espécimens para repovoar zonas especialmente sensíveis, procurando-se a recuperação gradual destes habitats de uma forma sustentada e estável.

MOBILIDADE DE METAIS PESADOS EM SEDIMENTOS DE SAPAL COLONIZADOS POR Spartina maritima (Estuário do Tejo, Portugal)

Rosa Reboreda, Sílvia Pedro & Pedro Raposo Almeida & Isabel Caçador*

Instituto de Oceanografia, Faculdade de Ciências,

Universidade de Lisboa, Campo Grande, 1749-016 Lisboa, Portugal * autor para correspondência e-mail: [email protected]

RESUMO

Determinaram-se as associações químicas do Zn, Pb, Cu, Co e Cd em sedimento colonizado por Spartina maritima usando um procedimento de extracção sequencial em sedimentos provenientes de três sapais do estuário do Tejo colonizados por esta espécie: Rosário, Corroios e Pancas. Foram também analisadas as concentrações dos mesmos metais nas partes aérea e radicular de Spartina maritima, bem como no sedimento colonizado pela planta. As concentrações de metais no sedimento mais elevadas foram encontradas nos sapais perto de áreas industriais e urbanas, enquanto as concentrações de metais nas plantas não apresentaram diferenças significativas entre locais. Pensa-se que esta será uma consequência das diferenças observadas na biodisponibilidade dos metais: os metais em Pancas, a localização menos poluída, estavam fortemente associados a fracções facilmente acessíveis para serem adquiridos pelas plantas, provavelmente como resultado do baixo teor em matéria orgânica e elevada fracção arenosa do sedimento. S. maritima conseguiu induzir concentrações de metais entre as suas raízes nos três sapais. Os resultados obtidos neste estudo indicam que esta espécie pode ser útil para induzir fitoestabilização, de metais nos sedimentos, apesar da eficácia na modificação das associações químicas estar largamente dependente dos parâmetros existentes no sedimento e portanto ser possível obter resultados diferentes dependendo da localização da área de intervenção.

CONTRIBUTO DO ECOTURISMO PARA A GESTÃO SUSTENTÁVEL DE ZONAS HÚMIDAS: O CASO DAS ACTIVIDADES DO FIGUEIRA EXPLORE®

H. Carvalho1, V. Carvalho2, I. Henriques3, P. Morais2, I. Nunes1, J. Palhas1, S. Pais3, F. Seiça1, M. Silveira1

1 Sinergiae, Lda., Departamento de Ecoturismo e Planeamento;

R. Pedro Hispano n.º12, 3030-289 Coimbra 2 Escola Superior Agrária de Coimbra; Bencanta. 3040-316 Coimbra

3 Câmara Municipal da Figueira da Foz, Divisão de Cultura; Paços do Concelho, Av. Saraiva de Carvalho, 3084-501 Figueira da Foz

RESUMO

O Ecoturismo, entendido como uma forma de Turismo Sustentável (ou Responsável), pode ter um papel fundamental na conservação de Zonas Húmidas. O presente trabalho aplica-se ao estuário do Mondego (sítio Ramsar, IBA), e resulta da actuação do grupo Figueira Explore® da empresa Sinergiae, Lda., em parceria com a Câmara Municipal da Figueira da Foz, na dinamização da Rota das Salinas numa perspectiva de Ecoturismo. A rota das Salinas é uma actividade interpretativa que possibilita um maior usufruto dos espaços visitados e a compreensão da relação entre as actividades humanas e o ecossistema do estuário e a sua evolução ao longo dos tempos, contribuindo para o desenvolvimento local e para a conservação do património natural e cultural. Partindo da premissa, defendida por diversos autores, que a manutenção da actividade das salinas tradicionais no estuário contribui largamente para a conservação do Património da área envolvente (cultura do sal, aves migradoras é particularmente importante toda a contribuição para a manutenção ou a recuperação da actividade salineira artesanal. De facto, esta área de salinas, que se insere numa zona húmida tão rica (natural e culturalmente) quanto sensível, apresenta sérios problemas de abandono e de pressão da sua conversão em tanques de piscicultura. São aqui apresentados os resultados do trabalho desenvolvido na Rota das Salinas até ao momento, referindo quais os pressupostos base, as estratégias e actividades adoptadas de modo a se conseguirem impactes positivos na conservação do estuário, bem como na ligação do trabalho desenvolvido ao conceito de Ecoturismo. Fazem-se ainda algumas revelações sobre as apostas definidas para a continuação destas actividades num futuro próximo. Este poster finaliza com a discussão sobre o papel destas actividades ecoturísticas no estuário do Mondego e o seu contributo efectivo quer para o desenvolvimento local, quer para a conservação do vasto património natural e cultural associado a esta zona húmida da Figueira da Foz.

CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA E SEX-RATIO DAS POPULA ÇÕES DE Mauremys leprosa E Emys orbicularis DO PAUL DE TORNADA:

RESULTADOS PRELIMINARES

Capinha, C.; Ferreira, A.; Cardoso, H.; Dias, M.J.

Associação de Defesa do Paul de Tornada – PATO

RESUMO

O Paul de Tornada apresenta-se como uma zona húmida com cerca de 46 hectares situada no Litoral Oeste de Portugal. Compreendendo uma enorme diversidade faunística e florística, aqui ocorrem em simpatria as duas espécies de tartarugas de água doce conhecidas para a Península Ibérica, Mauremys leprosa e Emys orbicularis. As populações destas duas espécies na área têm sido relativamente pouco estudadas, desconhecendo-se aspectos como o estado de conservação, abundâncias ou eventuais características morfométricas particulares. Em Agosto de 2007 deu-se inicio a um estudo que visava sobretudo conhecer a abundância relativa de uma espécie em relação à outra, obter os sex-ratios e estrutura etária das duas populações. Para levar a cabo esta tarefa foram implantadas na área de estudo diversas armadilhas do tipo “galricho” semi-emersas, tendo estas capturas sido complementadas com diversas outras realizadas através de redes do tipo “camaroeiro”. Além da identificação da espécie foram registados os seguintes parâmetros: comprimento recto da carapaça (CRC); largura recta da carapaça (LRC); comprimento curvo da carapaça(CCC); sexo do individuo e local de captura para capturas com camaroeiro. Para complementar a estimação das razão de abundância entre as duas populações foram também anotadas todas as observações em que se procedeu à identificação inequívoca da espécie assim como a descrição do seu local de ocorrência e marcação dos indivíduos capturados. Até a data foram capturados 89 indivíduos, (82 M. leprosa e 7 E. orbicularis) e feitas 36 identificações (30 M. leprosa e 6 E. orbicularis). O reduzido número de capturas de E. orbicularis impossibilita ainda a análise da grande maioria dos parâmetros objectos de estudo neste trabalho para esta espécie. Além dos resultados referentes aos objectivos do trabalho, outro aspecto digno de destaque prende-se com a captura de vários indivíduos da espécie M. leprosa com valores de CRC considerados bastante elevados, tendo sido capturado um exemplar com 231mm, sendo aparentemente o exemplar de maior comprimento até agora registado para esta espécie (Segurado et al., 1996). A comparação das ocorrências registadas para cada uma das espécies revela uma abundância de cerca de 1/9 de E. orbicularis comparativamente a M. leprosa. O sex-ratio apresenta uma maior frequência de machos registando o valor de 1,33, este valor, no entanto, não difere significativamente da frequência esperada de 1:1 (�2 = 1,61 ; p = 0,204). As dimensões para cada sexo desta espécie apresentam também bastante variação, sendo que para os indivíduos adultos as fêmeas apresentam um valor médio mais elevado nas três medições efectuadas. As fêmeas adultas apresentam um valor médio de CRC de 199 mm, de CCC 214 mm e de LRC 150 mm sendo que os machos adultos apresentam 171 mm, 186 mm e 124 mm respectivamente. A estrutura etária da população de M. leprosa definida de acordo com Araújo et al. (1997) aparenta apresentar-se ligeiramente envelhecida ocorrendo uma frequência de juvenis de 32%, 1% de subadultos e 67% de indivíduos adultos.

Este valores são ainda preliminares, uma vez que na tentativa de aumentar o número de E. orbicularis capturados a campanha se prologará até que o seu número se considere suficiente para a obtenção dos resultados pretendidos.

Araújo, P. R.; Segurado, P., Santos, N. R., 1997. Bases para a Conservação das tartarugas de água doce (Emys orbicularis e Mauremys leprosa). ICN, Lisboa, 72 pp.

Segurado, P., Araújo, P. R., Raimundo, N., 1996. Estudo de alguns parâmetros demográficos do Cágado-mediterrânico (Mauremys leprosa) e do Cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis) em Portugal. In: Abst. IV Congresso Luso-Espanhol de Herpetologia. Porto.

A DIVERSIDADE DE ESPÉCIES DO PAUL DE TORNADA

Capinha, C.; Cardoso, H.; Dias, M. J.; Ferreira, A.

Associação de Defesa do Paul de Tornada – PATO

RESUMO

O Paul de Tornada é uma zona húmida, localizada na faixa litoral Oeste do país, na localidade de Tornada, a cerca de 5km de Caldas da Rainha. O Paul possui uma área de cerca de 46 ha, 25 dos quais permanentemente alagados. É uma das poucas zonas apaludadas existentes na região, o que faz com que assuma um papel relevante no contexto de conservação das espécies características destes habitats. O reconhecimento da sua importância permitiu a sua inclusão como “Sitio Ramsar” desde Outubro de 2001. Dotado de flora e fauna de importância considerável, sobretudo no que respeita às aves, verifica-se também uma grande diversidade de outros grupos assim como a ocorrência de diversas espécies com estatuto de conservação desfavorável. Grande parte do actual conhecimento acerca da diversidade faunística e florística nesta zona húmida provém do trabalho de Martins & Gabriel (1988). Este trabalho apontava então a identificação de 86 aves, 2 peixes, 2 anfíbios, 7 répteis, 11 mamíferos e 267 espécies de flora para o Paul de Tornada. Desde então vários outros trabalhos foram publicados no sentido de melhor dar a conhecer a riqueza especifica da área, p. ex.: Gabriel & Martins (1989); Leite (2001). A par destes, diversos trabalhos de campo têm também complementado a base de dados de espécies, assumindo particular destaque as sistemáticas campanhas de anilhagem que têm sido levadas a cabo no Paul nos anos mais recentes. Para uniformizar e concentrar as identificações provenientes de todas estas fontes a Associação PATO decidiu criar uma listagem onde reúne toda a diversidade de espécies conhecida para a área. A par desta têm sido ainda realizadas diversas acções de campo abertas ao público ou em colaboração com escolas para se proceder à identificação de novas espécies para a área. Esta lista conta agora com 134 espécies de aves, 12 de mamíferos, 5 de anfíbios, 9 de répteis, 6 de ictiofauna, 11 de lepidópteros e 267 de flora.

Martins, M. C. C., & Gabriel, R. M. A., 1988. Contribuição para o estudo ecológico do Paul

de Tornada. Policopiado, 383 pp. Martins, M. C. C., & Gabriel, R. M. A., 1989. Paul de Tornada – Recurso para as aves. Pp.

33-44 in: Livro de actas do 1º Encontro Ornitológico do Paul de Tornada. Policopiado, 96 pp.

Leite, R. D. M., 2001. Diversidade algológica do Paul de Tornada. Tese de licenciatura em Biologia pela Universidade de Coimbra. Policopiado. 44 pp.

UM ACORDO VOLUNTÁRIO PARA A GESTÃO E CONSERVAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ROAZES DO ESTUÁRIO DO SADO

Carina Silva

Centro de Oceanografia da FCUL Laboratório Marítimo da Guia

RESUMO

A população de roazes (Tursiops truncatus) do estuário do Sado, que constitui um dos poucos exemplos de populações residentes a nível europeu, encontra-se em declínio, cenário que apenas será contrariado com a melhoria das condições ambientais actuais.

Para que o cenário referido se inverta, e antes da melhoria das condições ambientais, é necessária uma caracterização exaustiva das principais ameaças, para que estas possam ser posteriormente eliminadas/minimizadas. È também fundamental identificar as fontes antropogénicas das ameaças, reunindo os principais agentes económicos com impactes negativos directos e indirectos sobre a população de roazes, numa acção global, multiparticipada e de curto prazo, que vise a conservação da população de roazes e uma gestão integrada do estuário do Sado.

A implementação de acordos voluntários apresenta-se como um instrumento de gestão privilegiado, no qual diversos agentes (públicos e/ou privados) se comprometem voluntariamente a melhorar o seu desempenho ambiental, assumindo um papel mais activo na resolução dos problemas ambientais, e promovendo uma atitude preventiva na defesa do ambiente.

A proposta de um acordo voluntário entre os principais agentes interventores, para a conservação da população de golfinhos-roazes do Sado, num panorama de múltiplos interesses económicos, políticos e sociais, inclui a definição de medidas concretas que visam a melhoria das condições ambientais que a população de roazes enfrenta actualmente.

AVALIAÇÃO DO ESTADO DA QUALIDADE AMBIENTAL TERRESTR E E AQUÁTICA NA RNPB. USO DE BIOINDICADORES (Hymenopter a)

NA VERTENTE TERRESTRE, ESTUDO DA DIVERSIDADE TRÓFIC A DE MACROINVERTEBRADOS AQUÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM A PO LUIÇÃO

PRESENTE NA ÁGUA.

Silva, M. R.(1); Rebelo, M. T.(2); Oliveira, N. G.(3)

(1) Departamento de Biologia Animal, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa; [email protected]; (2) CBA/Departamento de Biologia Animal, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa; [email protected]; (3)

AmBioDiv- Valor Natural; [email protected]

RESUMO

A Reserva Natural do Paul do Boquilobo (RNPB) é uma zona húmida e uma área protegida de importância internacional, sendo actualmente a única área protegida de Portugal com o estatuto de Reserva da Biosfera. Esta reserva está inserida num contexto principalmente agrícola estando sujeita a um conjunto de pressões negativas, pelo que se torna urgente uma avaliação do estado da qualidade ambiental. Serão estudadas as guildes tróficas de Hymenoptera (indicador de biodiversidade presente) para avaliar o efeito da perturbação do habitat (ambiente terrestre) na diversidade deste grupo; será determinado um índice biótico (BMWP’) e realizadas análises à água para avaliar o possível impacto dos poluentes (orgânicos e inorgânicos) nas comunidades de macroinvertebrados aquáticas. Este estudo pretende contribuir para a conservação e gestão sustentada dos recursos desta reserva. Palavras chave: Zona húmida; Qualidade ambiental; Bioindicador; Hymenoptera; Macroinvertebrados aquáticos; Poluição aquática.

O PROJECTO COASTWATCH

Lurdes Soares

[email protected]

RESUMO

O Coastwatch é um projecto de âmbito europeu, que consiste na caracterização ambiental da faixa costeira, contando com a participação dos colaboradores interessados. Surgiu na Irlanda, (onde se encontra a coordenação internacional), em 1988, e tem-se desenvolvido actualmente em vários países da Europa. A realização da campanha ocorre em simultâneo nos diferentes países durante os meses de Outubro a Dezembro, período pós balnear. O projecto Coastwatch Europe, tem como principais objectivos melhorar o conhecimento da situação ambiental do litoral português e, sobretudo, sensibilizar as escolas, outras instituições e população em geral para os problemas resultantes dos impactos da actividade humana na faixa litoral. Dentro deste quadro a sensibilização dos mais jovens relativamente a esta problemática é fundamental, sendo este facto o fundamento principal do projecto. Objectivos Gerais:

• Recolher dados, a partir do preenchimento de um questionário relativos a vários aspectos ambientais do litoral português;

• Sensibilizar e informar o público, de forma a tornarem-se activamente envolvidos na protecção do litoral;

• Armazenar e analisar os dados obtidos de uma forma facilmente utilizável na gestão costeira e na protecção do litoral;

• Disponibilizar os dados, a todos os interessados e participantes no projecto; e • Contribuir para o inter-associativismo e para a criação de sinergias entre

instituições ligadas ao ambiente e à gestão costeira. • Objectivos específicos: • Sensibilizar e informar o público escolar, nomeadamente, o que reside no

litoral, para os problemas actuais desta área; • Envolver os jovens, em idade escolar, em actividades de ar livre e

sensibilização ambiental, de complemento curricular e de alternativa ocupacional;

• Desenvolver técnicas de observação; • Desenvolver o espírito científico e espírito crítico; • Desenvolver técnicas de trabalho de campo; • Aumentar os conhecimentos sobre os aspectos ambientais, nomeadamente

sobre os ecossistemas litorais. A CAMPANHA EM ACTIVIDADE O levantamento da informação obtém-se a partir do preenchimento de um questionário, em trabalho de campo, desenvolvido entre os meses de Setembro a Dezembro, por unidade (troços de 500m), em blocos contínuos de 5km. Esta metodologia desenvolve-se um pouco por todo o litoral com a estreita colaboração de ONGA, autarquias, escolas e outras entidades distribuídas de norte a sul do país, em interacção directa com as escolas locais e colaboradores interessados. Após a implementação da campanha no terreno, os elementos retirados dos questionários são introduzidos numa base de dados alfanumérica e submetidos a tratamento estatístico com vista à identificação da importância dos diferentes

parâmetros que interferem na qualidade ambiental da costa portuguesa, e posteriormente divulgados, em Seminário, a todos os participantes. Pretende-se também, através desta acção, divulgar os trabalhos realizados pelas escolas e coordenadores regionais, principais intervenientes no processo. COORDENAÇÃO DO PROJECTO COASTWATCH O GEOTA - Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente - é uma associação de defesa do ambiente de âmbito nacional, aberta à participação de todos os interessados. Constituiu-se legalmente em 1986, mas a sua existência enquanto grupo de reflexão e educação na área do ambiente remonta a 1981. Conta actualmente com perto de dois milhares de associados, residentes ao longo de todo o País, incluíndo as regiões autónomas. Estatisticamente, verifica-se uma predominância de jovens (perto de 65% dos associados têm menos de 30 anos), muitos com formação universitária. A divulgação da iniciativa Coastwatch, a impressão dos documentos necessários, a logística de todo o projecto em Portugal e o relacionamento com a coordenação internacional, estão a cargo do GEOTA, que assegura também a coordenação nacional. Resumo da comunicação: “O litoral, espaço geográfico de interface entre o meio marinho e terrestre, reune múltiplos recursos que têm vindo a ser explorados ao longo dos tempos de uma forma cada vez mais intensa. A crescente ocupação humana das áreas litorais nos últimos 50 anos é disso claro exemplo, chamando cada vez mais a atenção de entidades e especialistas de vários domínios científicos, para a necessidade de disciplinar e ordenar a exploração dos sistemas litorais” (Silva, 2002). O resultado desta crescente ocupação tem induzido, em maior ou menor escala, ao panorama actual da erosão costeira em Portugal. Muito embora os factores naturais, como por exemplo a subida do nível médio do mar e as alterações climáticas - causa e consequência um do outro - sejam deveras importantes, a verdade é que os factores antrópicos, como a diminuição dos sedimentos nas praias devido à construção de barragens e de grandes obras de engenharia (e.g. esporões, pontões e outras estruturas transversais à linha de costa), a destruição de dunas e de outros sistemas costeiros e a construção massiva em muito têm contribuído para o actual cenário. Na sua 17ª campanha, o Projecto Coastwatch corroborou os efeitos das intervenções do homem no litoral assim como as suas consequências – independentemente de à priori e/ou à posteriori do processo de erosão as causas naturais estarem subjacentes. Os resultados obtidos, apesar das condições climatéricas sentidas no auge da campanha (Outubro-Dezembro), são significativos. Estiveram envolvidos na campanha 2006/07, 4774 participantes, distribuídos por associações, escolas, agrupamentos de escu(o)teiros, autarquias, participantes individuais e outros (onde estão incluídos pequenos grupos recreativos de estudantes, ecotecas, estas sedeadas nos Açores. No total estiveram ao serviço do coastwatch 168 entidades de Norte a Sul do País e dos dois arquipélagos. Compondo esta equipa estiveram ainda os 38 coordenadores regionais, que mais ou menos activamente contribuíram para o fruto d campanha, que se traduziu em 832,5km de costa monitorizada. As escolas e grupos de escu(o)teiros continuam a liderar o número de entidades envolvidas no projecto, todavia, as autarquias têm aderido cada vez mais ao Coastwatch, utilizando-o como ponto de partida para a divulgação e sensibilização da educação e cidadania ambiental Das disciplinas que mais aderem ao projecto, destacam-se as Ciências Naturais/Ciências da Terra e da Vida seguidas de Geografia e Biologia/Geologia -respectivamente, 27%, 10,3% e 9,3%. O interesse destas disciplinas pelo Coastwatch pode se justificado por estarem mais directamente ligadas ao ambiente. As outras disciplinas envolvidas, embora não relacionadas directamente com a temática ambiental, mostram-nos uma sensibilidade para com a Natureza (e.g.

Educação Física, Educação Visual, Matemática, Línguas e áreas não curriculares: Formação Cívica, Área de Projecto e Estudo Acompanhado). O grupo clube do ambiente, é por excelência um bom meio para dinamizar projectos desta génese, não sendo propriamente uma disciplina, reúne um conjunto de docentes de diferentes áreas curriculares. O seu papel tem vindo a aumentar em cada campanha. No que respeita à percentagem de cobertura por NUT III, Pinhal Litoral, Baixo Mondego, Grande Lisboa e Oeste atingem valores de monitorização acima dos 50%, sendo que, Pinhal Litoral, tal como tem ocorrido em todas as campanhas, alcança a maior taxa de cobertura, com 94% de unidades cobertas. O principal tipo de utilização da Zona Interior contígua (ZIC) continua a ser, ao nível do coberto natural, Rocha/areia e Dunas. Em relação à artificialização, área habitacional; estância turística; área em construção; transportes, estradas, cais de embarque, etc. foram referenciadas num número considerável de unidades. O (mau) uso que a maioria dos cidadãos faz com os resíduos que produz continua a ser um problema. Há muito que o abandono de objectos de grande dimensão, materiais de construção civil, sacos plásticos amontoados com restos de lixo doméstico, entre outros objectos, ao longo das margens dos rios, estuários ou praias, deveria estar extinto. Contudo, a ausência de comportamentos cívicos aliada a uma inoperância das entidades responsáveis, gera este espectáculo desolador. Invernos mais chuvosos, como o de 2006 vêm agravar a situação. As margens dos rios transbordam levando todo o lixo aí acumulados que acabam por vir ter à praia, caso não encontrem nenhum obstáculo no seu caminho. A campanha 2006/07 contabiliza em números absolutos 102 212 resíduos e um número médio de 61,4 por unidade monitorizada. Garrafas e sacos de plástico apresentam um padrão tipo, em cada campanha são os géneros de resíduos mais assinalados. As questões que se prendem com o Risco Efectivo e Ameaças Iminentes reflectem o observado e a percepção de cada participante. A erosão marinha e a pressão turística são, em cada campanha, o Risco e Ameaça com maior peso no cômputo geral das hipóteses a assinalar. Porém, mas o facto da erosão ter sido um tema muito mediatizado, talvez tenha influenciado o interesse e a postura dos participantes face ao litoral. Como refere Silva “Se a prática de planeamento territorial caminha no sentido da efectiva integração das populações com o seu espaço, então o estudo dos seus comportamentos e a auscultação das suas expectativas através de estímulos à participação pública, apresentam-se como elementos imprescindíveis à pretendida gestão integrada” (2002). O projecto Coastwatch orgulha-se de andar há 17 anos a sensibilizar, alertar e incentivar os cidadãos para a participação pública. A 18ª Campanha é dedicada às Comunidades Ribeirinhas. Uma das maiores aspirações que o GEOTA tem no momento é divulgar e implementar o Coastwatch Lusofonia. Contamos com a vossa ajuda. A Coordenadora Nacional Coastwatch: Lurdes Soares