12 badaladas de um relógio // Maria Magdalena da Costa

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12Badaladas deumrelógio Maria Magdalena da Costa

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Livreto de crônicas da jornalista mineira Maria Magdalena da Costa. Produzido por Xikão Xikão, em Junho de 2015

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12 Badaladas de um relógio

Maria Magdalena da Costa

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Textos : Maria Magdalena da CostaIlustrações e Projeto Gráfico : Francisco L Costa, mais conhecido como Xikão Xikão.

Belo Horizonte, Junho de 2015

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O mais triste que existe na memória são essas marchinhas dos carnavais distantes...

Mário Quintana

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COTIDIANO

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Fios e mais fios, chaves e mais chaves

Fios e mais fios, chaves e mais chaves que não se conectam a lugar nenhum que a gente não sabe de onde são e para que servem, mas que você foi juntando ao longo do tempo. E a quantidade de pés de geladeira velhos, parafusos que você nunca usou e com certeza mais vai usar? Você já reparou nas xícaras e mais “xicrinhas” que vai colecio-nando e juntando,apesar de trincadas e quebradas nas asas, mas que eram de sua mãe e você tem receio de jogar fora, de deixar para trás? Para que servem tantas revistas e livros que ocupam caixas e mais caixas? E os papéis e jornais que você foi juntando, esquecendo-se de que você nunca os con-sultou em momento algum da vida.As vasilhas de inox que você comprou e guardou para usar, um dia, em uma casa? Ou apartamento? Que não fosse provisória. E os apetrechos da culinária japonesa, que você não vê há tempos? E as cartas,os telegramas, que já nem se usa mais mandar e você fez questão de guardar em cima da estante? Mudar é isso? Deixar para trás as lembranças ou carregar as caixas que se acumulam em cada cômodo? E pensar que você tem de pa-gar por todos os serviços que já tinha, mas que eles cobram de novo.

Mudar é começar de novo?

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Grades e Cortinas

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamento dos fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas logo se acostuma a acender cedo a luz.E à medida que se acostuma, esquece o sol,o ar, a amplidão. A sorrir para as pessoas sem receber, as vezes, um sorriso de volta e ser ignorado quando preci-sava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. A gente se acostuma a coisas demais, para não so-frer. Tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui,um ressentimento ali, enganando a si mesmo. \E se no fim da semana ou feriados não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado. A gente se acostuma para poupar a vida.

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Dietas e Delícias

Eu e meu filho estamos na guerra da dieta. Po-demos chamar assim esse processo, pois batalhamos a todo momento para se defender da gula. Ontem mesmo, quase fomos dominados pela tentação, pois tudo gira em torno da comida. O paladar desperta sensações que, muitas vezes, estão arma-zenadas na memória. De repente, você sente o cheiro de uma comida que o transporta para uma outra época, uma viagem em algum lugar ou um momento especial. São sensações que entram pela boca, pelo nariz, pelos olhos, ouvidos e ficam impregnadas na história de cada um. Certas comidas desper-tam os nossos desejos, mexem com a gente. É por isso que é tão difícil fazer dieta num mun-do que convida a gente ir num restaurante, numa festa de aniversário, num almoço com cardápio diferente.Tudo está relacionado com a comida. Há um menu de recordações que têm início na infância e ficam guardadas para sempre, na memória afetiva. Essa gordura, digamos assim, “desorgani-zação estética do corpo”, traz tantos prejuízos até para o lazer: ir à praia, piscina, nem pensar! Como fiscal de nossa própria dieta, a gente pretende perder todo ou quase todo excesso de peso, sem a ajuda de receitas e regimes mágicos de astros e estrelas do mundo artístico. Quando se recusa de pedir uma pizza no sábado à noite ( foi o nosso caso) naquele momento em todos os pensamentos clamam por uma comida,òbviamente nada light. E diante de tantas delicias, lembrar que o sacrifício vai compensar para o sucesso fu-turo. Em tempo; não esquecer da penosa contagem de calorias.

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MEMÓRIAS

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Daquela tarde cinzenta

Ainda me lembro daquela tarde cinzenta. A garoa caia bem fina. Eu andava em “passos largos” – com minhas perninhas curtas –de mãos dadas com minha mãe. O cora-ção batia acelerado. A merendeira e a pasta novinha em folha (comprada com muito amor e sacrifício) me traziam de certa forma, um pouco mais de segurança. Era o meu primeiro dia na escola. Será que eu suportaria ficar uma tarde inteirinha sozinha, no meio de tanta gente estranha, longe da mamãe? No por-tão de entrada, um grupo de crianças da minha idade e na mesma situação que a minha dava um escândalo junto às mães. Tive vontade de fazer o mesmo. Mas não ficaria bem eu, com toda minha classe me prestar a esse vexame! Ah, mas só Deus tinha conhecimento como se encontra-va o meu coração. Mamãe se despediu com um beijo. Do lado de dentro passei horas pulando corda e cantigas de roda... Os meus colegas até que eram legais. E sabe que o tempo passou voando! À tardinha, mamãe foi me buscar (o caminho ainda era estranho,digamos um pouco complicado para mim) .Sentí-me forte como uma heroína por ter conhecido um novo mundo. Um abraço apertado foi minha valiosa recompensa.E os anos se passaram. Jamais me esqueci das primeiras pro-fessoras... E hoje, n’um arquivo em fim guardo cartões,fotos e lembranças de todas as aventuras felizes que vivi na es-cola. É evidente que,ali, não caberia n’em a metade de todas as minhas emoções, de todos os meus sorrisos.

A escola é o caminho para a vida!

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Minha Infância Saudade da minha infância! Insisto na lembrança e com ela vou conversar. Vamos: fala-me da terra,do rio, dos amiguinhos das eras. Fala-me da figura popular de nossas ruas “Maria dos cachorros”, da árvore papudo que diziam tomar dimensões enormes no meio da noite nas estradas da fazenda , do papai Noel que às vezes não chegava à tempo por causa da chuva e por isso não podia trazer o presente tão desejado. Não se esqueça também da artista do circo que eu invejava e sonhava também um dia brilhar no palco e receber aplausos. Vou ouvir com carinho pois são figuras que povoaram minha infância. Fala-me das mangueiras – das mangas doces de Ubá, da jambosa e dos araçás. Lembra--me do medo que a gente sentia quando a noite nos pegava distraídos nos fundos do quintal e o desespero ao deparar com um acampamento de ciganos que poderiam nos levar com eles para um lugar bem longe. Conta-me de como eu aguar-dava o meu aniversário em vão, pois nunca acontecia a tão sonhada festinha. Hoje eu descobri que o maior presente eu recebi ao nascer que veio envolvido em laços de muito amor,carinho,proteção,afeto; os meus pais. Fala-me das minhas peraltices e manhas.Lembra-me de minhas avós (a paterna mais humilde, mais simples)e a materna com sua maneira de gostar, mas cheia de repres-sões com a gente. Fala-me das minhas tentativas de fugas, digamos assim uma aventura, quando eu me cobria com um chapéu de palha e um pedaço de ripa,talvez para minha defesa,simulando um cajado,fazia parte de minha bagagem ao tentar “fugir para outras terras,outros lugares”, cami-nhando pouco adiante de minha casa. Fala-me do pequeno tablóide “Folha do Povo”,cuja impressora já zumbia no meu ouvido quando criança e deixou em mim,algo do jornalismo.

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Lembra-me de quando eu pegava os livros já destru-ídos pelo tempo, construía uma mesa com tijolos e uma peque-na tábua e dizia ser professora. Fala-me daquele perfume que só a gente sente e sabe,que exalava em nossa infância e o cheiro especial das guloseimas com sabor de felicidade.

Convença-me de que o instante não é uma realida-de entre dois nadas. Ensina-me que o passado não é aos pedaços e que ele nos acompanha inteiro a cada instante. Diga-me que as coisas duram e fluem, assim, de se viver de novo quando a gente quer. Fala-me de meus irmãos Zuleika e Maurício pela sua presença em minha vida. Fala-me de meus pais Bertholdo e Geralda que envelheceram e morre-ram na paz do Senhor,unidos por um amor que cresceu dia a dia,através do sofrimento vivido com fé e força de ânimo. Assim falo ao meu filho: quando um dia eu já não estiver mais aqui,peço a Deus que envie um anjo para con-tar coisas sobre minha infância e minha vida aos meus netos,bisnetos, trinetos, tataranetos e por aí continua...

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Velha Fazenda

É um sentimento forte, poderoso e permanente: gosta-ria de chegar, dizer “ô de casa”, bater palmas, ouvir pas-sos de alguém, possivelmente uma velha mulher caminhando harmoniosamente, sem pressa, aparecer dizendo bom dia ou boa tarde e me convidar a entrar, sentar, me oferecer água ou café e depois começar a falar do passado. Fantasio essa mulher dizendo coisas com os olhos voltados para longe, citando nomes, datas, desfilando histórias, enxugando lá-grimas, suspirando fundo, sorrindo e segurando o coração por dentro e por fora, sem ser interrompida... É. Eu queria descobrir tudo, tudo saber e registrar e não tenho a menor idéia de que me serviria aquilo, se ouvisse. Mas é assim. Sempre foi assim. Todas às vezes - assim. Sempre foi assim. Todas às vezes – e são centenas e centenas delas, nesses anos da minha vida quando percorro estradas e avisto ve-lhas fazendas adormecidas ao sol, sinto aquela pancada interior que não sei onde bate. Só sei que bate tudo e forte, como se eu fosse uma parte arrancada de velhas paredes, de janelas sombrias e distantes de pomares centenários, de conforto, onde gerações e gerações de mulheres cozinharam e choraram e talvez morreram sem um mínimo de vaidade. Queria e quero saber dessas mulheres, onde cresceram e atravessaram a mocidade, como foi seu primeiro romance e casamento, que penas suportaram, que esperanças tiveram ou não tiveram, quais foram seus caminhos e os caminhos de sua gente, quem viveu na propriedade antes e depois delas, como é a vida ali naquele mundo tão recuado, tão devagar e tão triste...Essa eterna curiosidade ou necessidade de in-vestigação é mais do que um impulso: é anseio mesmo. Não me importa contemplar uma bela propriedade brilhando de nova, lotada de conforto e modernismos, ostentando antenas de TV e vias de acesso invejáveis. Um lugar assim aprecio-o como ideal para se viver e trabalhar.

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Mas, são as outras fazendas sem nada, onde até a paisagem machuca, que me arrastam, fustigam e intrigam. É nelas que vejo uma espécie de alma errante e contundente, uma força que vem de muito longe e que por entranhada e acumulada em tudo, alcança as pessoas como garra e insinua episódios de todos os tipos, quase como um clamor ou busca de platéia ante a dor da própria agonia. Passo muitas ve-zes e paro só para ver, reparar e depois ir embora. E tudo aquilo dança nos meus sentimentos como apelo ou queixa, nem sei dizer. Acontece sempre. Nos pomares velhos, nos es-tábulos encardidos e estragados pelo tempo, no piar sotur-no dos passarinhos que parecem ser os mesmos de outrora, imutáveis e imortais- eu estou. Como? Eu não sei, mas estou. Sofro por casas e paredes, por janelas vazias e por vozes que nunca ouvi. E se vejo alguém caminhar em redor,seja em que direção for, caminho junto. Se um chamado ferir o ar, é a mim que chamam e eu vou, mas nada ouço e nem também falo. Faço parte. Não de uma velha fazenda soluçando ao longe, mas de todas elas que lembram o passado, mesmo que tenham boa aparência e revelem mimos e cuidados. É uma dor que dói e que não consigo fora em lugar algum. Vive comigo e não é uma simples vizinha. É uma hóspede efetiva e cordata: não aborrece, não exige nada, mas fica e mora. E todas as ve-zes que uma antiga casa de fazenda vista “nas quebradas” o seu silêncio trespassante me é apresentado como patrimônio meu, assunto meu. E nesses momentos, a idéia retorna impe-riosa e impregnada de fantasia: chegar, gritar “ô de casa”, bater palmas, ouvir passos de alguém, falar e desvendar to-dos os mistérios que cada uma dessas casas conserva, n’uma conversa longa e detalhada que jamais acontecerá...

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Tempos do Colégio

Acabo de chegar do Colégio Nossa Senhora do Monte Calvário onde meu filho estudou do pré-primário (a esco-linha) ao 1º ano do ensino médio. Já o 2º e 3º seguinte ele completará no Colégio Marista Dom Silvério. Ele entrou lá ontem mesmo, aprendendo e conhecendo as primeiras letras e agora sai rumo à faculdade. Fui lá buscar a transferência como também o currículo e boletim. Disfarçadamente e emocionada me despedir. Afinal, foram onze anos pra lá e pra cá,as vezes no escolar da tia Norma, ás vezes no meu velho ”fusca” que depois não resistindo a ação do tempo não participou mais de nossa jornada, deixando eu e o meu filho à mercê de outros transportes alternativos – o que não foi nada fácil. Ao me despedir da diretora, agora, Irmã Ana Lúcia, lem-brando das demais anteriores (Irmã Clorinda, Irmã Patrí-cia, Irmã Zilda )professores e funcionários sob cujos olhos e cuidados ele cresceu por dentro e por fora,tive certeza de que um ciclo estava se cumprindo. E outro, novo e desconhe-cido se iniciando. Abro a porta de casa pensando no colégio onde duran-te onze anos meu filho correu,brincou,dançou,chorou,lutou e onde eu vivi momentos de emoção, amizade e participação em toda sua atividade escolar. Mesmo sabendo que um novo tempo se anuncia, sinto uma certa melancolia, aquela provocada pela sensação de que certas coisas, por mais freqüentes e rotineiras, um dia se despedem e a despedida não tem volta.

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Todos os retratos que tenho de minha mãe

Todos os retratos que tenho de minha mãe, não me dão nunca a verdadeira fisionomia que eu guardo dela- a doce fisionomia daquele seu rosto, daquela melancólica beleza de seu olhar. Horas inteiras eu fico a pintar o retrato des-sa mãe,com as cores que tiro da imaginação. A minha memória guarda detalhes bem vivos que o tempo não conseguirá des-truir. A morte de minha mãe me encheu a vida inteira de uma melancolia desesperada. Fotos e lembranças, fazem parte de nós,cujo resul-tado nos traz acontecimentos e sonhos que se sucederam no decorrer de nossas vidas e que nos deixa saudade.

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TEMPO

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Túnel do Tempo

Todo dia passo pelo túnel do tempo onde está parte da minha linhagem.Da cozinha para os quartos,entre os ba-nheiros e o corredor,eles me vigiam,mesmo que fiquem sempre olhando para o mesmo ponto. Nenhum deles pisca,quando passo para lá e para cá, entre um afazer e outro. Eles es-tão eternamente mais jovens,o tempo não passou para eles emoldurados no porta-retrato. Ao me perder no túnel do tempo, lembro-me de meu pai contar seus casos,suas histórias.Quando o túnel do tempo me suga, me vejo em minha mãe e ela sorri com os olhos. E ela está ali, ao lado de meu pai.Mas faço o tempo andar nesse tú-nel da vida e lembro-me dela com suas preocupações com to-dos nós, a lavar., cozinhar e nos amar. No túnel do tempo ,ela não envelhece nunca, nem morre.Vive para sempre na foto e nas lembranças minhas e de meu filho.E agora,nesse túnel do tempo está lá para mostrar que os doces,bolos,biscoitos e almoço em família existiu um dia mesmo,não é apenas fanta-sia. No túnel do tempo também estou lá com fita nos cabelos e um ar de quem não sabe o que a vida me reservaria. Nessa caminhada de lutas,decepções e experiências, não conse-guiram tirar de mim aquela avalanche de sentimentos que um dia desabrochariam como flores e amor em toda minha vida. Dignidade e reconhecer o sentido da honestidade foi o legado que os meus pais me deixaram.

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Aposentar

Aposentei! O que é aposentar? A vida é feita de ciclos e quando entendemos esse desígnio que a nossa existência nos impõe, simplesmente ficamos em paz com a gente mesmo e com os outros. Mais um ciclo de minha vida se encerra e em nenhum momento pensei na possibilidade de me contra-por ou de resistir a ele. A vida segue em frente e renovar é preciso. Lembre-se; Ontem é história. Amanhã é mistério e Hoje é uma dádiva. Por isso se chama “Presente”. Vivam o presente com muita energia! Li em algum lugar, algo mais ou menos assim; Tudo é feito de areia.Mais cedo ou mais tarde, a onda virá e irá desfazer o que levamos tanto tempo para cons-truir. Só o que permanece é o nosso relacionamento com as outras pessoas,ou seja,ter mãos amigas para segurar.

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Morrer

Morrer é este vazio? Foi a pergunta que fiz depois de entrar em casa,após o velório de minha mãe.Percorro os cômodos, esbarro nas lembranças da figura materna, que partira naquele dia 22 de Dezembro de 1999;deixando para trás saudades e toda herança familiar,deixando vazio ou-tros vazios profundos.É um vazio danado ! A casa que ela construiu com todo o amor: ali nada morreu,nem mesmo as lembranças escondidas nas gavetas, que vão se revelando aos poucos. No sonho,onde vivo momentos maravilhosos nos en-contros com minha mãe e ela sempre preocupada dizendo que é hora de cuidar de vocês: a vida continua. Façam de tudo para que as melhores lembranças continuem intocáveis. Na nossa casa hoje só há orgulho do filho que tenho. Olho a imagem de Nossa Senhora e o ciclo da vida está ali: início e fim. O poeta Mário Quintana sabia disso e escreveu” Esta vida é uma estranha hospedaria,de onde saímos quase sem-pre ás tontas,pois as nossas malas nunca estão prontas e a nossa conta nunca está em dia”.

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O tempo correu e o dia chegou

O tempo correu e o dia chegou...E agora, e agora? Onde estão os sonhos?E os ideais? Alguns se perderam,não é certo? Ao curso da marcha,na curva da estrada, nos caminhos do tempo. Mas, restam fé e esperança que representam a arma-dura indispensável, não só ao desempenho profissional,mas ao próprio “viver”. O tempo correu e o dia chegou. Dia ou noite da forma-tura? Talvez dia, pela claridade que invade a alma. Pelo transbordamento das ânsias e emoções. Pela alegria das cores e pessoas. Talvez noite, pela seriedade da sagração. Melhor; dia-noite. Metade dia, metade noite. Marcando o com-passo da vida. O fim da caminhada. O marco da chegada. Que não é bem chegada, pois é começo do recomeçar. Início de uma nova partida. Para que? Para onde? O tempo correu e o dia chegou... É hora de pensar, de refletir. Por que todo o esforço e tanta renúncia? Porque somente chega quem caminha!

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