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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA VITÓRIA GRAZYELLE DE VASCONCELOS OLIVEIRA EMERGÊNCIA MÉDICA EM CONSULTÓRIO ODONTOLÓGICO: PREVENÇÃO E TRATAMENTO João Pessoa - PB 2010

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA

    CENTRO DE CINCIAS DA SADE CURSO DE GRADUAO EM ODONTOLOGIA

    VITRIA GRAZYELLE DE VASCONCELOS OLIVEIRA

    EMERGNCIA MDICA EM CONSULTRIO ODONTOLGICO: PREVENO E

    TRATAMENTO

    Joo Pessoa - PB 2010

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    VITRIA GRAZYELLE DE VASCONCELOS OLIVEIRA

    EMERGNCIA MDICA EM CONSULTRIO ODONTOLGICO: PREVENO E TRATAMENTO

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Curso de Graduao em Odontologia, da Universidade Federal da Paraba em cumprimento s exigncias para concluso.

    ORIENTADOR: Giuseppe A. Scarano Pereira, Doutor em Estomatologia

    Joo Pessoa - PB 2010

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    VITRIA GRAZYELLE DE VASCONCELOS OLIVEIRA

    EMERGNCIA MDICA EM CONSULTRIO ODONTOLGICO: PREVENO E

    TRATAMENTO

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Curso de Graduao em Odontologia, da Universidade Federal da Paraba em cumprimento s exigncias para concluso.

    DATA DE APROVAO____/ ____ / ____

    BANCA EXAMINADORA

    _____________________________________________________________ Prof. Dr. Giuseppe A. Scarano Pereira (Orientador)

    ______________________________________________________________ Prof. Dr. Marcos Antnio Farias de Paiva

    ______________________________________________________________

    Prof. Dra. Laurylene Csar de Souza Vasconcelos

    ______________________________________________________________

    Prof. Dr. Rosimar de Castro Barreto (Suplente)

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    DEDICATRIA

    minha famlia, em especial aos meus pais e minha tia Ftima

    que souberam me transmitir amor, carinho, educao e disciplina.

    Sempre presentes em minha vida, Com amor e carinho, Dedico-lhes

    este trabalho.

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    A Deus, pela vida, paz e tranqilidade em todos os momentos de minha

    vida.

    Aos meus pais Francisca De Ftima e Francisco Zilmar, pelo amor

    incondicional e pela pacincia. Por terem feito o possvel e o impossvel para me

    oferecerem a oportunidade de estudar em Joo Pessoa, longe deles, acreditando

    e respeitando minhas decises e nunca deixando que as dificuldades

    acabassem com os meus sonhos, serei imensamente grata.

    todos os familiares, irmo, tios, tias, primos, pelas oportunidades

    oferecidas, pela confiana, por terem me acolhido e por sempre estenderem os

    braos nas horas de dificuldade, a minha imensa gratido.

    Ao meu orientador Giuseppe A. Scarano pela pacincia e credibilidade,

    obrigada por tudo.

    Aos amigos de sala, em especial Laryza Neves, Lariane Raulino,

    Rinardo lucena, Jlia Medeiros e Suennya Dantas pelas timas histrias

    vividas, pela amizade e por ajudar a tornar a vida acadmica muito mais

    divertida. Agradveis lembranas que sero eternamente guardadas no

    corao, muito obrigado.

    As minhas amigas Amanda Nobre, Polyne Saraiva, Dbora Porto e

    Rafaela Castro sempre presentes em minha vida, muito obrigado pela torcida

    positiva.

  • 5

    Tenho em mim todos os sonhos do mundo.

    Fernando Pessoa

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    RESUMO Objetivou-se com esse trabalho evidenciar a importncia do conhecimento sistmico do paciente, atravs da anamnese e avaliao dos sinais vitais, alm dos protocolos para reduo da ansiedade, assim como, relatar os principais quadros de emergncia em odontologia, incluindo tambm os conceitos e as manobras de suporte bsico de vida (SBV). O mtodo utilizado foi o da pesquisa exploratria, que permite ao mesmo tempo gerar informaes importantes na construo de conhecimentos sobre o tema pesquisado, a fim de promover a capacitao do profissional de odontologia na temtica estudada. Desta forma, foi realizado um levantamento de dados bibliogrficos, que possibilitou a obteno das principais situaes emergenciais em nvel ambulatorial, relacionadas ansiedade, por exemplo, quadro de desmaio, hipertenso, hipoglicemia, entre outros. Nesses principais eventos, o estabelecimento da tranqilidade do paciente e preservao das atividades vitais so as atitudes mais importantes a serem estabelecidas em casos de urgncia e emergncia em nvel odontolgico. Na rotina de atendimento odontolgico o cirurgio dentista pode encontrar-se frente s situaes de urgncia e emergncia em nvel ambulatorial. Assim, se faz amplamente necessria a orientao da classe odontolgica acerca do pronto atendimento emergencial, pois, a dificuldade desde tipo de atitude tem ocorrido de forma constante.

    Descritores: Emergncias Mdicas, Odontologia, Primeiros Socorros.

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    ABSTRACT

    The objective of this study highlight the importance of knowing the patient's systemic, through history and evaluation of vital signs, and protocols to reduce anxiety, as well as reporting of key frames in emergency dentistry, but also including the concepts and maneuvers, basic life support (BLS). The method used was exploratory, allowing simultaneously generate important information to build knowledge about the research subject in order to promote the training of dental professionals in the subject studied. Thus, we performed a survey of bibliographic data, which allowed the collection of key emergency situations on an outpatient basis, related to anxiety, for example, picture fainting, hypertension, hypoglycemia, and others. These major events, the establishment of peace and preserving the patient's vital activities are the most important attitudes that are established in cases of urgent and emergency dental level. During routine dental care dental surgeon may lie ahead for emergencies and emergency outpatients.Thus, it is widely required orientation class about the emergency care dental emergency, then, the difficulty of this type of attitude has occurred steadily.

    Keywords: Medical Emergencies, Dentistry, First Aid

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - A correta posio de um paciente incosciente .......................................... 23

    Figura 2 - Hiperextenso da cabea (ngulo reto entre o mento e o occipital) ......... 23

    Figura 3(a) - Mscara-ambu ..................................................................................... 24

    Figura 3(b) - Mscara RCP descartvel .................................................................... 24

    Figura 4 - Verificao do pulso carotdeo do paciente .............................................. 25

    Figura 5 - Massagem cardaca externa (Compresso dgito palmar da caixa torcica

    de encontro ao corao -2 dedos acima da apfise xifide) ..................................... 26

    Figura 6 - Desfibrilador externo automatizado........................................................... 26

    Figura 7 - Modelo de um esfigmomanmetro ............................................................ 30

    Figura 8 - Oxmetro de pulso ..................................................................................... 32

    Figura 9 - Reao alrgica aps aplicao tpica de iodo-povidine. ......................... 40

    Figura 10 - Manobra de Heimlich .............................................................................. 57

    Figura 11 - Condutas procedimentos e a serem observados em casos de corpos

    estranhos deglutidos ou aspirados durante o tratamento odontolgico .................... 58

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Principais drogas bsicas para manejo de emergncia .......................... 18

    Quadro 2 - Equipamentos bsicos ............................................................................ 19

    Quadro 3 - Valores mximos dos nveis tensionais da presso arterial, para

    indivduos acima dos 18 anos ................................................................................... 31

    Quadro 4 - Benzodiazepnicos: dosagens usuais empregadas para a sedao

    consciente em Odontologia, por via oral ................................................................... 35

    Quadro 5 - Sinais e sintomas da sedao ideal e da sobre-sedao ........................ 37

    Quadro 6 - Protocolo de tratamento sugerido para as reaes alrgicas tardias ...... 39

    Quadro 7 - Sinais e sintomas da reao anafiltica .................................................. 41

    Quadro 8 - Anestsicos locais nas concentraes comumente empregadas no

    Brasil, e suas doses mximas para crianas............................................................. 45

    Quadro 9 - Anestsicos locais nas concentraes comumente empregadas no

    Brasil, e suas doses mximas para adultos saudveis ............................................. 45

    Quadro 10 - Incidncia das situaes de emergncia na prtica odontolgica ......... 68

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    LISTA DE ABREVIATURAS

    ACD - Auxiliar de Consultrio Dentrio

    AINEs - Antiinflamatrios No-Esterides

    ASA - Associao Americana de Anestesiologistas

    Base Medline - National Library of Medicine

    bpm - batimentos por minuto

    CD - Cirurgio Dentista

    CFO - Conselho Federal de Odontologia

    DEA - Desfibrilador Externo Automtico

    EV - Endovenosa

    GABA - cido Gama-Aminobutrico.

    HO - Hipotenso Ortosttica

    IAM - infarto do miocrdio

    IM - Intramuscular

    IV - Intravascular

    MCE massagem cardaca externa

    N2O - xido nitroso

    O2 - oxignio

    PA - Presso Arterial

    PCR - parada cardiorrespiratria

    RCP - reanimao cardiopulmonar

    SAMU - Servio de Atendimento Mvel de Urgncia

    SpO2 - saturao perifrica da hemoglobina arterial

    SBV - Suporte Bsico de Vida

    SEM - Servio de Emergncia Mdica

    SC - subcutnea

    THD Tcnico em Higiene Dental

    VO - via oral

  • 11

    SUMRIO

    1 INTRODUO ....................................................................................................... 13

    2 PROPOSIO... .................................................................................................... 15

    3 REVISO DE LITERATURA.. ............................................................................... 16

    3.1 Urgncia e Emergncia: Conceitos e Particularidade ......................................... 17

    3.2 Primeiros Socorros em Odontologia .................................................................... 21

    3.3 Conhecimento Sistmico do Paciente ................................................................. 27

    3.3.1 Anamnese e Exame Fsico ............................................................................... 27

    3.3.2 Avaliao dos Sinais Vitais ............................................................................... 29

    3.3.2.1 Frequncia Cardaca .................................................................................... 29

    3.3.2.2 Frequncia Respiratria ............................................................................... 29

    3.3.2.3 Presso Arterial ............................................................................................. 30

    3.3.2.4 Temperatura .................................................................................................. 32

    3.3.3 Classificao do estado fisico .......................................................................... 32

    3.4 Reduo da Ansiedade em Odontologia ............................................................. 32

    3.4.1 Sedao Oral Atravs dos Benzodiazepinicos ................................................. 34

    3.4.1 Sedao Consciente Inalatria com xido Nitroso .......................................... 36

    3.5 Intercorrncias Especficas e Tratamento .......................................................... 38

    3.5.1 Anafilxia e Reaes Alrgicas ....................................................................... 42

    3.5.2 Broncoespasmo ............................................................................................... 42

    3.5.3 Crise Asmtica ................................................................................................. 43

    3.5.3 Distrbios Convulsivos ..................................................................................... 48

    3.5.4 Emergncias Cardiovasculares ........................................................................ 50

    3.5.4.1 Crise Hipertensiva ......................................................................................... 50

    3.5.4.2 Hipotenso Arterial ........................................................................................ 51

    3.5.4.3 Arritimias Cardacas ..................................................................................... 52

    3.5.4.4 Dor torcica : Angina pectoris ou Infarto Agudo do Miocrdio? .................... 53

    3.5.5 Hipoglicemia ..................................................................................................... 55

  • 12

    3.5.6 Obstruo das Vias Areas .............................................................................. 56

    3.5.7 Sincope ............................................................................................................ 59

    4 METODOLOGIA .................................................................................................... 61

    5 DISCUSSO .......................................................................................................... 62

    6 CONCLUSO ........................................................................................................ 70

    REFERNCIAS ........................................................................................................ 71

  • 13

    1 INTRODUO

    Na rea de sade, muitas vezes, a interao profissional-paciente no se

    restringe apenas realizao de uma simples anamnese. Geralmente, aps o

    diagnstico, h indicao para realizao de tratamento, implicando assim, na

    adoo de procedimentos farmacolgicos ou puramente tcnicos, mas que

    necessitam ser utilizado com segurana pelo profissional (SILVA, 2006).

    Na prtica odontolgica segura e consciente, considera-se de vital importncia

    o conhecimento e o manejo de pacientes portadores de doenas sistmicas pr-

    existentes j diagnosticadas, ou ainda no diagnosticadas. Assim a anamnese e o

    exame clnico quando bem dirigido, so essenciais para o diagnstico preciso e para

    um plano de tratamento adequado, que venha de encontro s necessidades

    individuais de cada paciente (CAPUTO, 2009).

    Atualmente, o nmero de pacientes portadores de doenas sistmicas que

    procuram tratamento odontolgico, aumentou consideravelmente, reflexo direto da

    maior expectativa de vida. Desta forma, temos um aumento nos consultrios

    odontolgicos de indivduos diabticos, hipertensos, cardiopatas, asmticos ou

    portadores de desordens renais e hepticas, obrigando o profissional a adotar certas

    precaues antes de iniciar o tratamento clnico propriamente dito (ANDRADE;

    RANALI, 2004).

    Embora no sejam comuns, as situaes de emergncia mdica podem ocorrer

    na prtica odontolgica de modo imprevisvel, sem obedecer a regras ou padres

    definidos (MARZOLA; GRIZZA, 2001; MONAZZI et al., 2001; HUPP, In: PETERSON

    et al.,2005).

    Dentre as urgncias e/ou emergncias mdicas que podem ocorrer no

    consultrio odontolgico, pode-se citar: sncope, convulso, reao alrgica,

    obstruo de vias areas, hipoglicemia, emergncias cardiovasculares e crise de

    asma como possveis situaes que exigem correo imediata.

    Malamed (2003) argumentou que as situaes de emergncias mdicas podem

    acontecer a qualquer momento em um consultrio odontolgico, no s durante o

    tratamento, mas tambm na sala de espera, por exemplo. Desta forma, acometem

    qualquer pessoa, no importando idade ou sexo. Em vista disso, no s o

  • 14

    profissional odontlogo, mas toda a equipe de suporte do consultrio deve estar

    preparada para atuar no caso de uma situao emergencial.

    Portanto, o cirurgio-dentista (CD), deve estar preparado para reconhecer e

    adotar medidas de pronto atendimento na ocorrncia das situaes emergenciais.

    Em outras palavras, imperativo que seja treinado para executar as manobras de

    Suporte Bsico de Vida (SBV), bem como manusear certos medicamentos,

    acessrios e equipamentos empregados nas emergncias mdicas (ANDRADE;

    RANALI, 2004).

    Por estas razes, neste trabalho de reviso de literatura, destacamos a

    importncia do CD e da equipe de suporte de consultrio o conhecimento sobre os

    principais quadros de emergncias mdicas na prtica odontolgica, e seus

    respectivos tratamentos, incluindo tambm os conceitos e as manobras de suporte

    bsico de vida, se faz necessrio e de grande importncia para a odontologia.

    Assim, como a importncia do conhecimento sistmico do paciente, atravs da

    anamnese e avaliao dos sinais vitais, alm dos protocolos para reduo da

    ansiedade se fazem necessrio para uma segurana clnica no atendimento

    diminuindo de forma significativa incidncia das situaes de emergncia mdica.

  • 15

    2 PROPOSIO

    Esse trabalho tem por objetivo realizar uma reviso da literatura atravs de

    pesquisa bibliogrfica sobre emergncia mdica em consultrio odontolgico, com

    nfase em conhecimento sistmico do paciente, atravs da anamnese e avaliao

    dos sinais vitais, assim como apresentar uma descrio sucinta sobre os principais

    quadros de emergncia que possam acontecer na prtica odontolgica, incluindo

    tambm os conceitos e as manobras de suporte bsico de vida.

  • 16

    3 REVISO DE LITERATURA

    3.1 Urgncia e Emergncia: Conceitos e Particularidades

    As situaes de emergncia e urgncia se caracterizam pela necessidade de

    um paciente ser atendido em um curtssimo espao de tempo. A emergncia

    caracterizada como sendo a situao onde no pode haver uma protelao no

    atendimento, o mesmo devendo ser imediato. Na urgncia, o atendimento deve ser

    prestado em um perodo de tempo que, em geral, considerado como no superior

    a duas horas. As situaes no urgentes podem ser referidas para o pronto-

    atendimento ambulatorial ou para o atendimento ambulatorial convencional, pois no

    tem a premncia que as j descritas anteriormente (ERAZO, 2002).

    Malamed (2003) afirma que o medo de dentista existe, est sempre presente, e

    fonte de aumento da ansiedade, que leva ao estresse. O aumento do estresse

    pode levar ao aumento do nmero da ocorrncia de emergncias mdicas.

    A situao de tratamento odontolgico potencialmente ansiognica para

    todos os envolvidos. Do ponto de vista do paciente, aspectos clnicos - em especial

    os invasivos, tais como, a injeo da anestesia - e aspectos relacionados aos

    instrumentais e comportamentos do profissional podem gerar ansiedade e respostas

    de esquiva ao tratamento (POSSOBON et al., 2007; AESCHLIMAN et al., 2003).

    Uma resposta do organismo ao stress o aumento da liberao de

    catecolaminas (epinefrina e norepinefrina), a partir da medula adrenal no sistema

    cardiovascular. Isso resulta em um aumento da carga para o corao, ou seja,

    aumento da freqncia cardaca e da fora de contrao do miocrdio e um

    aumento na exigncia de oxignio no miocrdio (MALAMED, 2010).

    O paciente com sinais de ansiedade pode ser identificado pelo seu

    comportamento e avaliao ou reconhecimento de alguns sinais fsicos, como a

    dilatao das pupilas, palidez da pele, transpirao excessiva, hiperventilao

    tremores, tonturas, boca seca, fraqueza, dificuldade respiratria, aumento da

    presso arterial e freqncia cardaca (KANEGANE et al., 2003; RANALI;

    RAMACCIATO; MOTTA, 2006).

  • 17

    Para Guimares (2001), o estresse e o medo so as principais causas de

    urgncias e emergncias no consultrio odontolgico. O paciente pode apresentar

    um quadro de angina ou infarto por estresse e medo. conveniente conversar com

    o paciente e explicar as etapas do tratamento isso pode evitar muitos problemas. O

    importante lembrar que atravs de uma anamnese detalhada, o CD poder evitar

    uma srie de eventos indesejveis durante o tratamento dos pacientes, como sofrer

    colapsos ou males sbitos.

    Malamed (1993) apresentou dois levantamentos epidemiolgicos realizados

    com 4.309 dentistas americanos que relataram 30.608 episdios de emergncias

    mdicas durante um perodo de 10 anos, deste total, grande parte foram

    manifestaes freqentemente associadas falta de controle do estresse: 15.407

    lipotmias e sncope vasopressora, 1.326 casos de hiperventilao e cerca de 3.000

    alteraes cardiovasculares. Neste mesmo estudo, tambm foi observado que a

    maioria das emergncias mdicas (54,9%) aconteceu durante ou logo aps a

    anestesia local, momento mais estressante do tratamento para a maioria dos

    pacientes.

    Alguns dados levantados nos EUA mostram que 4.309 CDs, durante um

    perodo de 10 anos, relataram 30.602 ocorrncias de emergncias. Esses dados

    revelam que, em mdia, pode e deve ocorrer uma emergncia por ano em cada

    consultrio odontolgico, podendo variar de uma simples sncope, at um infarto

    fulminante (S DEL FIOL; FERNANDES, 2004).

    A incidncia das emergncias mdicas pode ser mais alta em pacientes

    recebendo cirurgia oral ambulatorial quando comparados com aqueles recebendo

    tratamento no-cirrgico devido a trs seguintes fatores: (1) a cirurgia

    freqentemente provoca mais estresse emocional; (2) em geral, um nmero maior

    de medicaes tipicamente administrado aos pacientes no perodo trans-operatrio

    e, (3) consultas longas podem ser necessrias quando se realiza cirurgia (HUPP,In:

    PETERSON et al., 2005).

    Outros fatores como a idade do paciente (pacientes muito jovens ou muito

    idosos apresentam maiores riscos), a habilidade da medicina em manter pacientes

    com doenas sistmicas importantes sob controle no ambulatrio, alm da crescente

    variedade das drogas que os cirurgies dentistas CDs administram em seus

    consultrios, influenciam o aumento dos episdios de emergncias mdicas nesse

    ambiente (CAPUTO, 2009).

  • 18

    Atualmente, consenso que, no atendimento odontolgico de pacientes

    portadores de doenas cardiovasculares, em especial por ocasio de intervenes

    mais invasivas, deve-se considerar o uso de um protocolo de reduo do estresse

    cirrgico, por meio de tcnicas de condicionamento psicolgico, muitas vezes

    complementadas pela sedao farmacolgica com os benzodiazepnicos. Esta

    importante conduta tem o intuito de controlar a liberao endgena de

    catecolaminas e seus efeitos diretos no sistema cardiovascular (MALAMED, 1993).

    Pacientes portadores de doena cardiovascular, em especial os hipertensos e

    coronariopatas, podem apresentar durante o procedimento odontolgico,

    complicaes graves, como a manifestao de arritmias, angina instvel, crises

    hipertensivas e at mesmo infarto agudo do miocrdio (CONRADO et al., 2007).

    Uma vez que os pacientes que so propensos a desenvolver emergncias

    mdicas sejam reconhecidos, o Cirurgio-Dentista poder evitar muitos problemas

    modificando a maneira como o tratamento oferecido, prevenindo-se assim,

    qualquer problema que possa vir a ocorrer (MARZOLA; GRIZZA. 2001).

    Pacientes que experimentam situaes de emergncia so tomados por

    ansiedade, experimentando um medo real e apavorante da morte, da mutilao, da

    imobilizao, dentre outros ligados sua integridade pessoal e corporal. Aqueles

    que prestam assistncia ao paciente devem agir com segurana e competncia a fim

    de contriburem para a reduo da ansiedade excessiva. Numa situao de

    emergncia, muitas decises devem ser tomadas e estas, exigem um julgamento

    slido embasado na compreenso do quadro gerador da emergncia e de seu efeito

    sobre o indivduo (S DEL FIOL; FERNANDES, 2004).

    Existem numerosas emergncias mdicas e numerosas protocolos a

    seguir. Idealmente, o dentista e membros da sua equipe de suporte, auxiliar de

    consultrio dentrio (ACD), tcnico em higiene dental (THD) e recepcionista devem

    ter o conhecimento sobre todos eles (HASS, 2010).

    Gonzaga et al. (2003) afirmaram que todos os profissionais da rea da sade,

    inclusive os CDs, devem estar bem preparados para atender e colaborar em casos

    de emergncias mdicas. Alm do treinamento bsico em tcnicas de reanimao,

    assim como, respirao boca-boca, combinada com a massagem cardaca, outros

    procedimentos podem ser teis. Os CDs devem ter em mos, e serem bem

    treinados para usar um laringoscpio, tubo orofarngeo, mscara de ambu, balo de

    oxignio e drogas, tal como, adrenalina.

  • 19

    Para S Del Fiol e Fernandes (2004), o reconhecimento, diagnstico e

    tratamento de uma situao de emergncia devem fazer parte do conhecimento

    tcnico do profissional dentista, pois durante uma situao no consultrio, ele

    quem tomar as decises e dar o encaminhamento do tratamento, muitas vezes,

    determinando a vida de um paciente.

    Rosenberg (2010) afirma que os dentistas tambm devem ser capazes de

    diagnosticar e tratar problemas emergentes comuns (por exemplo, sncope ou

    sndrome de hiperventilao), bem como responder de forma eficaz a determinadas

    emergncias com risco de vida, menos comum, ou mesmo rara, especialmente

    aqueles que possam surgir como resultado do tratamento odontolgico (por

    exemplo, choque anafiltico, reao a um medicamento administrado).

    Para Haas (2010) pode acontecer uma emergncia sem que o diagnstico no

    seja claro. No entanto, este problema pode ser contornado, seguindo um princpio

    fundamental. O objetivo mais importante de quase todas as emergncias mdicas no

    consultrio para prevenir ou corrigir oxigenao insuficiente do crebro ou do

    corao.

    No ADA Council on Scientific Affairs (2002), foi avaliado que o primeiro e mais

    importante passo no gerenciamento de uma emergncia mdica a habilidade de

    providenciar um SBV efetivo ao paciente. recomendado um treinamento regular

    em SBV para todos os dentistas, pois estes conhecimentos so mantidos atravs de

    repeties.

    O papel do dentista na gesto de qualquer emergncia mdica comea com a

    preveno, para isso toda a equipe envolvida CD, ACD, THD e recepcionista devem

    est preparados para as possveis intercorrncias mdicas (HASS, 2010).

    De acordo com Hass (2010) e Reed (2010) na maioria das vezes, gesto de

    emergncias mdicas no consultrio odontolgico limitado a apoiar as funes

    vitais dos pacientes at a chegada do servio de emergncia mdica (SEM), no caso

    do Brasil, o Servio de Atendimento Mvel de Urgncia (SAMU).

    Embora muitas emergncias mdicas possam ser tratadas corretamente sem

    drogas, cada consultrio odontolgico deve ter um kit de emergncia bsico que

    contm drogas (Quadro 1) e equipamentos adequados (Quadro 2) para as diversas

    intercorrncias que possam surgir (HASS, 2006; MALAMED, 1997; ROSENBERG,

    2010).

  • 20

    Droga Indicao Apresentao e

    Administrao

    Adrenalina

    Anafilaxia; asma que no responde ao salbutamol

    Ampolas de 1ml em soluo injetvel na proporo 1:1.000 por via subcutnea (SC).

    Ansioltico

    Ansiedade aguda; crise convulsiva e choque anafiltico

    Diazepam. Ampola 2ml. 5mg/ ml. Uso intramuscular (IM)

    Anti-histamnico

    Quadros leves e moderados de reaes alrgicas tardias

    Prometazina. Ampola 25mg/ ml. Uso 25 a 50mg por via IM

    Broncodilatador

    Broncoespasmo e crise aguda por asma

    Sabultamo (aerolin). Uso em splay (aerosol).

    Corticoesterides

    Reaes alrgicas agudas.

    Dexametasona. Uso pela via parenteral- IM: 8 a 16 mg.

    Glicose

    Hipoglicemia

    Ampola 10ml de soluo de glicose a 25%. Uso pela via intravenosa (IV)

    Dinitrato de isossorbida

    Angina pectoris e infarto do miocrdio

    Isordil. Uso sublingual de comprimido 5mg.

    Quadro 1: Principais drogas bsicas para manejo de emergncia Fonte: Adaptado de: (BARRETO; PEREIRA, 2008).

  • 21

    Equipamentos bsicos para o manejo de emergncias

    Esfignomanmetro

    Estetoscpio

    Ambu

    Mscara facial

    Cnulas orofarngeas

    Seringas

    Cilindro de oxignio e acessrios

    Material para acesso venoso (escalpe, torniquete, cateter)

    Equipamento de suco

    Medidor de glicemia

    Quadro 2: Equipamentos bsicos Fonte: Adaptado de: (HASS, 2006).

    Desta forma, o CD deve estar sempre se atualizando tanto de forma tcnica

    como cientificamente para evitar possveis problemas de ordem tica e legal.

    Destaque-se ainda, que este sujeito no s s leis que regulamentam a profisso,

    mas como qualquer cidado, passvel de enquadramento de acordo com as leis

    constantes no Cdigo Civil, no Cdigo Penal e no Cdigo de Proteo e Defesa do

    Consumidor, como prestador de servios, sobretudo, no que preconiza a

    Constituio e demais leis que regem nossa nao (SANTOS; RUMEL, 2006).

    Outro destaque deve ser dado realizao anual de cursos de educao

    continuada e simulaes de emergncia no consultrio odontolgico, que

    possibilitam uma resposta rpida e eficaz a situaes de emergncia (GUIMARES,

    2001; HASS, 2010; ROSENBERG, 2010).

    3.2 Primeiros Socorros em Odontologia

    De acordo com Carvalho (2003) os princpios bsicos referentes aos primeiros

    socorros em odontologia podem ser assim relacionados:

  • 22

    salvar vidas;

    evitar o agravamento antes da instituio de um tratamento definitivo;

    procurar ajuda qualificada.

    Ainda de conformidade com esse autor, na odontologia, o objetivo dos

    primeiros socorros tem sido proporcionar o SBV, sendo considerado como elemento

    fundamental para manter o paciente vivo at a chegada do socorro mdico. Assim, o

    CD dever estar preparado para manter a sade e a vida de seu paciente,

    necessitando promover um sistema de alerta para que todos do consultrio

    paralisem as suas atividades e se inicie um processo de emergncia, seguindo a

    seguinte seqncia:

    chamar a ambulncia;

    ter em mos o kit de emergncia;

    observar os sinais vitais;

    administrar e prescrever as medicaes;

    auxiliar a respirao com ambu;

    efetuar o suporte bsico de vida e se necessrio dar inicio as manobras

    de reanimao cardiopulmonar (RCP).

    Seguindo essa linha de pensamento, Feitosa Filho et al. (2006) afirma que o

    SBV consiste na oxigenao e na perfuso dos rgos vitais, atravs de manobras

    simples e mantidas continuamente.

    Assim, como procedimento inicial deve-se verificar a responsividade do

    paciente. As recomendaes feitas podem ser observadas de duas formas: se o

    paciente estiver consciente - este deve sentar em qualquer posio que seja

    confortvel e; se estiver inconsciente - o paciente deve ser deitado com as pernas

    elevadas ligeiramente em aproximadamente 10 a 15 (Figura 1). Esta posio

    facilita o fluxo sanguneo para o crebro contribuindo assim para corrigir qualquer

    deficincia na entrega de oxignio. Dessa forma, necessrio chamar por ajuda,

    sendo utilizado essencialmente o desfibrilador e material de suporte avanado

    (FEITOSA FILHO et al., 2006; HASS, 2010; MALAMED, 1997).

  • 23

    Figura 1: A correta posio de um paciente incosciente

    Fonte: (HASS, 2010)

    Segundo Andrade e Ranali (2004), o suporte bsico de vida ou o ABC da vida

    deve ser usado em todas as emergncias mdicas, seguindo as seguintes etapas:

    A consiste em proporcionar a abertura das vias areas superiores, onde se

    deve remover qualquer objeto da cavidade oral, que possa obstruir a passagem do

    ar, realizar em seguida a hiperextenso da cabea, pois esta a principal causa de

    obstruo das vias areas em pessoas inconscientes, por acarretar na queda da

    lngua (Figura 2).

    Figura 2: Hiperextenso da cabea (ngulo reto entre o mento e o occipital) Fonte: (HASS, 2010)

  • 24

    B significa boa ventilao, pois, consiste em ver, ouvir e sentir a respirao

    do paciente, atravs da expanso do trax ou encostando o ouvido perto do nariz e

    da boca do paciente, porm, caso o paciente no esteja respirando, executar a

    ventilao artificial atravs dos seguintes procedimentos: respirao boca-a-boca -

    onde dever ocorrer a obstruo nasal para que o ar insuflado na boca no saia

    pelas narinas; ventilao com mscara-amb (Figura 3(a)), mscara RCP

    descartvel (Figura 3(b)) ou mscara-amb-cilindro de oxignio; intubao

    orotraqueal e por ltimo nos casos de obstruo severa das vias areas e/ou edema

    de glote, executar o acesso por via cirrgica, atravs da cricotireostomia.

    Figura 3(a): Mscara-ambu Figura 3(b): Mscara RCP descartvel Fonte: http://www.almedical.com.br Fonte: http://www.almedical.com.br

    C - corresponde verificao da circulao do paciente, realizada atravs da

    verificao do pulso carotdeo do paciente (Figura 4), que se situa entre a traquia e

    o msculo esternocleidomastideo, porm, caso o pulso esteja presente, controle-o

    atentamente concomitantemente com a respirao, e aguarde a recuperao

    completa do paciente e/ou aguarde o socorro avanado. A ausncia do pulso

    carotdeo pode significar parada cardiorrespiratria (PCR), significando assim, que

    temos um tempo mdio de 3 minutos para reanimarmos o paciente e mant-lo vivo

  • 25

    at a chegada do socorro avanado. Nesta situao temos que abrir mo das

    manobras de massagem cardaca externa (MCE).

    Figura 4: Verificao do pulso carotdeo do paciente Fonte: (HASS, 2010)

    O diagnstico necessrio para se ter como parmetro se o CD dever ou no

    dar incio as manobras de reanimao cardiopulmonar ser fornecido pela ausncia

    de pulso, e a RCP dever perdurar por um perodo de tempo mximo de 4 a 6

    minutos, para assim evitar danos cerebrais, tendo como seu maior objetivo fornecer

    suporte cardaco e respiratrio at a chegada de socorro avanado (ANDRADE;

    RANALI, 2004).

    Ainda, estes autores afirmam que a tcnica para execuo das manobras de

    RCP segue o seguinte protocolo: liberao as vias areas superiores, com a

    desobstruo de qualquer corpo estranho na regio de orofaringe; promoo da

    ventilao s custas da respirao artificial boca a boca, insuflando o ar por via oral

    aos pulmes, recomenda-se tambm a utilizao de mscaras oronasofacial,

    quando em presena de oxignio; colocar o paciente sobre uma superfcie rgida e

    horizontal; realizar a hiperextenso cervical e dar incio as manobras. As manobras

    para a realizao da MCE (Figura 5) devero ser feitas idealmente numa velocidade

    de 100 vezes por minuto e a relao compresses, ventilaes deve ser de 30:2.

    necessrio deixar que o trax seja deprimido em 4 a 5 cm e que volte

    completamente sua posio de repouso aps cada compresso.

  • 26

    Figura 5: Massagem cardaca externa (Compresso dgito palmar da caixa torcica de encontro ao corao -2 dedos acima da apfise xifide) Fonte: http://resgate2005.tripod.com/rcp.htm

    Recomenda-se que haja um revezamento da pessoa que comprime a cada 5

    ciclos (2 minutos), visando evitar que o cansao diminua a eficcia das

    compresses. Se caso no houver retorno do pulso deve-se continuar a MCE at o

    momento da chegada do desfibrilador (Figura 6) e do suporte avanado de vida

    (ANDRADE; RANALI, 2004).

    Figura 6: Desfibrilador externo automatizado Fonte: http://www.almedical.com.br

    O SBV peditrico, destinado a crianas de um a oito anos, obedece mesma

    seqncia do adulto, mas apresenta algumas particularidades. A cabea no deve

    ser hiperestendida como no adulto, apenas faz se uma extenso da cabea, a

    ventilao deve ter uma insuflao, de 1 a 1,5 segundos e dever ser mais suave,

  • 27

    as compresses realizadas com apenas uma das mos, mas em mesmo nmero

    que adultos, ou seja, 30 compresses para 2 ventilaes. Em crianas devemos

    realizar cinco ciclos para depois proceder a uma nova avaliao dos sinais

    (MALAMED, 2003).

    O desfibrilador externo automtico (DEA), um equipamento que foi

    desenvolvido para ser utilizado at por leigos, devidamente treinados. Sendo este de

    fcil manuseio, com mensagem de texto e comando de voz, seguro para o

    socorrista, com sensibilidade e especificidade elevadas. Assim nesse entendimento

    todo consultrio odontolgico deveria dispor de um DEA (ROSENBERG, 2010).

    O atendimento da parada cardiorrespiratria considerado conhecimento

    prioritrio de todo profissional de sade, independente de sua especialidade

    (FEITOSA FILHO et al., 2006).

    Gonzaga et al. (2003) afirmam que aproximadamente 3% dos profissionais

    brasileiros mencionam a ocorrncia de parada cardiorrespiratria em seu

    consultrio. Por outro lado, pode ser considerados como sintomas de parada

    cardaca, alm da dificuldade de respirao, a ausncia de pulso, cianose, dilatao

    das pupilas e ausncia de reflexo pupilar, a cessao da hemorragia na ferida

    cirrgica e um aspecto relativamente escuro do sangue (MARZOLA; GRIZZA, 2001).

    A interrupo sbita das funes cardiopulmonares se constitui num tipo de

    problema que sempre foi um desafio para as equipes mdicas. Esta uma

    emergncia mdica extrema, cujos resultados sero a leso cerebral irreversvel e a

    morte, se as medidas adequadas para restabelecer o fluxo sangneo e a ventilao

    no forem tomadas. Assim, at o perodo em que o diagnstico correto da causa da

    parada cardiorrespiratria seja determinado, a equipe de ressuscitao deve

    preocupar-se basicamente em manter o bombeamento sangneo e a funo

    respiratria (ERAZO, 2002).

    3.3 Conhecimento Sistmico do Paciente

    3.3.1 Anamnese e Exame Fsico

    Segundo Andrade e Ranali (2004), a anamnese ou exame subjetivo

    considerado um importante pr-requisito de uma consulta odontolgica. Durante a

    realizao da anamnese se obtm diversas informaes teis, no somente para o

  • 28

    diagnstico, mas tambm para identificar experincias desagradveis ocorridas em

    tratamentos odontolgicos anteriores, que devero ser cuidadosamente analisadas

    para prevenir sua recorrncia. Alm disso, a anamnese permite identificar os

    medicamentos que o paciente faz uso, muitas vezes de forma contnua, e que

    podem interagir de forma indesejvel com as solues anestsicas locais ou

    frmacos de uso comum na prtica odontolgica, causando reaes adversas,

    algumas delas de carter emergencial.

    Hupp (2005) considera as fichas de histria da sade (questionrios), um meio

    efetivo de coletar inicialmente a histria mdica do paciente. O profissional de sade

    oral deve descobrir a existncia ou a histria de problemas mdicos que possam ter

    algum impacto na segurana do tratamento odontolgico dispensado.

    O diagnstico precoce das condies sistmicas de extrema importncia para

    reduo de possveis emergncias clnicas durante o tratamento odontolgico. A

    anamnese jamais dever ser negligenciada, parte integrante do exame clnico e

    contribuir na identificao de patologias de relevncia ao tratamento (MALAMED,

    2010; HUPP, In: PETERSON et al.,2005).

    Durante a anamnese, necessrio que se busque informaes a respeito do

    paciente ser alrgico a determinadas substncias qumicas. O profissional deve

    estar preparado para prevenir, diagnosticar e tratar complicaes decorrentes de

    reaes alrgicas que possam ocorrer no consultrio odontolgico (MARTINS FILHO

    et al., 2010).

    Nesse entendimento, Malamed (2010) afirma ser importante a realizao de

    uma minuciosa histria mdica, onde uma avaliao fsica do paciente e exames

    laboratoriais mostra a realidade do estado geral de sade dos pacientes e com isso

    se obter um mtodo de diagnstico de possveis emergncias que possa aparecer.

    Segundo Hupp (2005), no exame fsico do paciente de odontologia se focaliza a

    cavidade oral e em menor grau toda a regio maxilofacial. O procedimento deste

    exame deve ser iniciado pela tomada dos sinais vitais, com o paciente em repouso,

    incluindo a avaliao da freqncia cardaca, da freqncia respiratria, presso

    arterial e temperatura, sendo os dados anotados no pronturio clnico.

    Desta forma, alm da justificativa de ordem legal, esta uma conduta que

    mostra ao paciente que as mnimas precaues esto sendo tomadas para sua

    segurana, aumentando sua confiana no profissional (ANDRADE; RANALI, 2004).

  • 29

    3.3.2 Avaliao dos Sinais Vitais

    Andrade e Ranali (2004), afirmaram que a avaliao dos sinais vitais faz parte

    do exame fsico e em toda consulta inicial deve ser realizada, ou em cada sesso de

    atendimento, principalmente, nos casos de portadores de doenas cardiovasculares.

    Apesar de ser um procedimento negligenciado pelos CDs, a obteno de valores

    relativos ao pulso carotdeo, freqncia respiratria, presso arterial (PA) e

    temperatura, com o paciente em repouso, deve constar no pronturio odontolgico.

    Assim, importante que se faa um levantamento da histria mdica completa,

    juntamente com informaes de base sobre os sinais vitais, considerado como um

    componente essencial do pronturio mdico. Este procedimento no s auxilia na

    avaliao do estado clnico do paciente, mas tambm serve de referncia durante a

    monitorizao intra-operatria. Dessa forma, considera-se como ideal a informao

    colhida durante a entrevista quando provavelmente o paciente se encontra menos

    apreensivo ao tratamento (BECKER, 2009).

    3.3.2.1 Freqncia Cardaca

    De acordo com Porto (2005), a freqncia cardaca pode ser definida como

    sendo o ritmo do corao e o nmero de batimentos por minuto (bpm). A freqncia

    cardaca ou pulso pode ser medida por meio de qualquer artria acessvel.

    Comumente, so consideradas as mais empregadas a artria radial, localizada na

    posio ventral e distal do pulso, a artria braquial, que se situa na linha mediana da

    fossa antecubital e a artria cartida, que pode ser palpada no ngulo da mandbula.

    Ainda segundo esse autor, para se determinar a freqncia, conta-se um

    minuto inteiro. Normalmente, em pessoas adultas, vai de 60 a 100 bpm.

    3.3.2.2 Freqncia Respiratria

    A taxa de respirao geralmente medida quando uma pessoa est em

    repouso. Implica na contagem do nmero de respiraes por minuto, em uma

    contagem de quantas vezes o trax sobe. A freqncia respiratria, para adultos, se

    situa entre 12-20 respiraes por minuto e crianas apresentam de 16-25

    respiraes por minuto (PORTO, 2005).

  • 30

    3.3.2.3 Presso Arterial

    Porto (2005), afirmou que a mensurao da presso ou tenso arterial o ato

    mdico bsico que deve ser realizado em toda consulta. Est relacionado com o

    trabalho do corao e traduz o sistema de presso vigente na rvore vascular

    arterial. Segundo o mesmo autor, a mensurao clnica da presso arterial

    razovel, e espera-se um erro mdio de mais ou menos 8 mmHg para as presses

    sistlica e diastlica. Ainda de acordo com Andrade e Ranali (2004), o

    esfigmomanmetro de coluna de mercrio o ideal para essas medidas. Os

    aparelhos do tipo aneride (eletrnicos ou no), quando empregados, devem ser

    periodicamente testados e calibrados (Figura 7).

    Figura 7: Modelo de um esfigmomanmetro Fonte: http://www.ortobig.com.br

    Segundo Porto (2005), o Conselho Brasileiro para tratamento da hipertenso

    arterial, definiu como valores mximos para indivduos acima dos 18 anos, os

    seguintes nveis tensionais (Quadro 3).

  • 31

    Presso

    diastlica

    Valor

    referencial

    Presso sistlica

    Valor

    referencial

    Normal

    < 90 mm Hg

    Normal

    at 140 mmHg se a presso diastlica estiver menor que 90 mmHg.

    Hipertenso Arterial Leve Hipertenso Arterial Moderada

    90 - 105 mmHg 106 - 120 mmHg

    Hipertenso sistlica:

    acima de 140 mmHg.

    Quadro 3: Valores mximos dos nveis tensionais da presso arterial, para indivduos acima dos 18 anos. Fonte: Adaptado de: PORTO (2005, p.437).

    Segundo Andrade e Ranali (2004), importante certificar-se de que o paciente

    no praticou exerccios fsicos, no ingeriu caf, bebidas alcolicas, drogas ou

    fumou, 30 minutos antes da avaliao da presso arterial.

    Miyake et al. (2003) afirmaram que a oximetria de pulso um mtodo no

    invasivo de mensurao da saturao perifrica da hemoglobina arterial (SpO2) e da

    pulsao cardaca, apresentando baixo custo, segurana e rpida resposta para o

    profissional. Assim, respirando o ar ambiente (onde a porcentagem de oxignio na

    ordem de 21%), a saturao de oxignio normalmente fica na faixa de 96 a 100%

    (Figura 8). Por outro lado, a leitura da oximetria de pulso tem preciso limitada na

    presena de metemoglobina, carboxihemoglobina, anemia, vasoconstrio perifrica

    (por frio, por exemplo), esmalte de unha, luz fluorescente e movimentao (MIYAKE

    et al., 2003).

  • 32

    Figura 8: Oxmetro de pulso Fonte: Adaptado de:

    3.3.2.4 Temperatura

    Porto (2005) afirmou que a temperatura do interior do corpo permanece quase

    constante, dentro de uma variao de mais ou menos 0,6 C, mesmo quando

    exposto ao extremo de frio ou de calor, graas ao aparelho termorregulador. A

    temperatura habitualmente tomada na axila (35,5 a 37C), boca (36 a 37,4C) e

    reto (36 a 37,5 C).

    3.3.3 Classificao do estado fsico do paciente

    De acordo com Hupp (2005), os resultados da avaliao mdica, somados a

    avaliao dos sinais vitais, so usados para atribuir uma classificao do estado

    fsico do paciente. Em 1962 a Associao Americana de Anestesiologistas (ASA)

    desenvolveu um estudo e passou a classificar o estado de sade dos pacientes em

    classe de I a IV.

    ASA I - Paciente com sade normal.

    ASA II - Paciente com doena sistmica leve ou fator de risco de sade

    insignificante.

  • 33

    ASA III - Paciente com doena sistmica grave, mas no incapacitante.

    ASA IV - Paciente com doena sistmica grave, incapacitante, que uma

    constante ameaa a vida.

    Geralmente, os dentistas em consultrio particular atribuem a maioria dos

    pacientes (85%) para ASA 1 ou ASA 2, cerca de 14% para ASA 3 e o restante ASA

    4 (REED, 2010).

    Desta forma, quando o dentista tiver incerteza sobre o grau de risco para o

    paciente, ele pode solicitar um encaminhamento para uma consulta mdica. A

    consulta mdica no necessria, nem recomendada para todos os pacientes

    clinicamente comprometidos. Em todo caso, os clnicos devem ter em mente que a

    consulta um pedido de informaes especificas do paciente ou do processo da

    doena (MALAMED, 2010).

    Neste entendimento, antes de tratar um paciente clinicamente comprometido, o

    dentista ou um membro da equipe deve acompanhar e registrar os sinais vitais do

    paciente (presso arterial, freqncia e ritmo cardaco e freqncia

    respiratria). Comparando estes sinais vitais do pr-operatrio com os valores

    registrados em uma visita anterior, estes so referncias de um indicador do estado

    fsico e emocional do paciente naquele dia (MALAMED, 2010). Para Hupp (2005)

    uma vez determinada a classificao do estado fsico da ASA, o cirurgio dentista

    estar em condies de decidir se o tratamento proposto poder ser realizado de

    forma segura em ambiente ambulatorial.

    3.4 Reduo da Ansiedade em Odontologia

    Para Kanegane et al. (2003) o medo uma reao protetora especifica frente a

    um estimulo que ameaa a vida do individuo. No entanto, a ansiedade uma

    emoo subjetiva voltada para uma ao futura. A ansiedade pode provocar

    modificaes fsicas, psquicas e comportamentais como: taquicardia, respirao

    mais rpida, tremores, apreenso, inquietao, insegurana. O medo e a ansiedade

    exacerbam a percepo da dor.

    Assim, um dos grandes desafios para a Odontologia moderna o controle do

    medo e ansiedade, sentimentos geradores de estresse e, conseqentemente

    manifestaes adversas de comportamento e alteraes sistmicas potencialmente

    perigosas. Portanto, o controle destes fenmenos deve nortear o atendimento

  • 34

    odontolgico, proporcionando real qualidade de atendimento e conforto ao paciente

    durante o procedimento clnico (CALDAS; GAMBA, 2004).

    No Brasil o controle farmacolgico do estresse e ansiedade em Odontologia

    pode ser feito atravs de duas formas: pela administrao de medicamentos

    ansiolticos por via oral (benzodiazepnicos) ou, atravs da utilizao da via inalatria

    com a mistura dos gases xido nitroso/oxignio (RANALI; RAMACCIATO; MOTTA,

    2006).

    Segundo Malamed (1993), o uso de ansiolticos para a reduo de ansiedade

    se mostra efetivo no seu papel na preveno das chamadas situaes de

    emergncia, como a lipotmia e a sndrome da hiperventilao, pois parece estar

    bem estabelecido que a incidncia dos quadros emergenciais seja mais

    representativa em pacientes com ansiedade e apreenso mal controladas.

    3.4.1 Sedao Oral Atravs dos Benzodiazepnicos

    A sedao consciente uma depresso mnima do nvel de conscincia

    produzida por mtodos farmacolgicos ou no-farmacolgicos (ou sua combinao),

    onde so mantidos a respirao espontnea, os reflexos protetores e a capacidade

    de resposta a estmulos fsicos e comandos verbais diferenciando-se da anestesia

    geral, que um estado induzido de depresso generalizada do sistema nervoso

    central, levando inconscincia, perda total ou parcial dos reflexos protetores,

    incapacidade de respirao espontnea (devendo o paciente estar entubado) e

    incapacidade de resposta a estmulos fsicos e comandos verbais (AMERICAN

    HEART ASSOCIATION GUIDELINES, 2007).

    Para Cogo et al. 2006, o uso de benzodiazepnicos, por via oral, se constitui

    uma boa alternativa para obteno da sedao consciente, em Odontologia, por

    apresentar uma ampla margem de segurana clnica, rpido incio de ao, pequena

    incidncia de reaes adversas, facilidade de administrao, baixo custo e

    capacidade de diminuir a ansiedade sem causar sedao profunda. A seguir

    encontra-se as dosagens usuais de benzodiazepnicos empregadas (Quadro 4),

    para a sedao consciente em Odontologia por via oral (COGO et al., 2006).

  • 35

    Nome

    genrico

    Nome

    comercial

    Dosagem em

    crianas

    Dosagem em

    adultos

    Dosagem em

    idosos

    Diazepam Valium 0,2 a 0,5 mg/Kg 5 a 10 mg 5 mg

    Lorazepam Lorax No

    recomendado

    1 a 2 mg 1 mg

    Alprazolam Frontal No

    recomendado

    0,25 a 0,75 mg 0,25 mg

    Midazolam Dormonid 0,3 a 0,5 mg/kg 7,5 a 15 mg 7,5 mg

    Triazolam Halcion No

    recomendado

    0,125 a 0,25

    mg

    0,06 a 0,125

    mg

    Quadro 4: Benzodiazepnicos: dosagens usuais empregadas para a sedao consciente em

    Odontologia, por via oral. Fonte: Adaptado de: Cogo et al., (2006).

    Os benzodiazepnicos agem potencializando o efeito do cido gama-

    aminobutricona (GABA) na inibio das sinapses neuronais, particularmente no

    sistema lmbico, o GABA um neurotransmissor endgeno liberado com o objetivo

    controlar as reaes somticas e psquicas aos estmulos geradores de estresse,

    sendo assim considerado como o calmante ou ansioltico natural do organismo. As

    principais vantagens podem ser destacadas: diminuio do metabolismo basal,

    retardando a absoro dos anestsicos locais; reduo do fluxo salivar e o refluxo

    do vmito; relaxamento da musculatura esqueltica; nos pacientes hipertensos ou

    diabticos, ajudam a manter a presso arterial ou a glicemia, respectivamente, em

    nveis aceitveis; podem induzir a amnsia (BARRETO; PEREIRA, 2008).

    O midazolam a droga de escolha para a sedao de pacientes adultos e

    peditricos, na maioria dos procedimentos odontolgicos, principalmente em casos

    de urgncia, por possuir rpido incio de ao, menor tempo de meia-vida e induzir

    amnsia antergrada, j para pacientes idosos, apesar do maior tempo de latncia

    (incio de ao), deve-se dar preferncia ao Lorazepam, por proporcionar uma

    menor incidncia de efeitos paradoxais (COGO et al., 2006).

    De acordo com o Barreto e Pereira (2008) os benzodiazepnicos, so contra-

    indicados nas seguintes situaes:

    gestantes (primeiro trimestre e ao fim da gestao);

    Pacientes portadores de glaucoma ou miastenia grave;

  • 36

    alcolatras crnicos, pois o lcool alm de potencializar o efeito depressor

    dos ansilolticos, induz a uma maior metabolizao heptica desses

    compostos;

    pacientes com hipersensibilidade aos benzodiazepnicos.

    Deve-se ficar atento, ainda para a possibilidade de interao dos

    benzodiazepnicos com outros medicamentos, o que pode causar diminuio do

    efeito do ansioltico quando este administrado juntamente com indutores da

    metabolizao, como a carbamazepina, fenitona e fenobarbital, ou aumento do

    efeito quando a administrao feita com inibidores do citocromo P450, como

    alguns antimicrobianos, bloqueadores de canais de clcio e antifngicos (BARRETO;

    PEREIRA, 2008).

    3.4.2 Sedao Consciente Inalatria com xido Nitroso

    Segundo Orlando (2003), a sedao consciente com xido nitroso, ocorre

    atravs da aspirao de uma mistura dos gases xido nitroso (N2O) com oxignio

    (O2) onde ao ser inalado, o transportado pelo sangue, atuando no nvel do crtex

    cerebral, produzindo suave depresso. A sedao consciente atravs do N2O

    apresenta como principais vantagens: no se combina com nenhuma estrutura do

    sangue ou do corpo humano, fato este por ser praticamente insolvel; rpida

    reversibilidade sedatria e mnima possibilidade de efeitos colaterais; odor agradvel

    e adocicado, sendo imediatamente eliminado sem ser metabolizado, com pico de

    sedao de trs a cinco minutos. A proporo mdia dos gases de 50 a 70% de

    N2O e 30% de O2, garantindo que o paciente no receba mais N2O do que suporta e

    nem O2 do que precisa. A aparelhagem que a tcnica da sedao consciente requer

    composta de: Fluxmetro, oxmetro de pulso, vlvulas reguladoras de presso,

    mscaras inalatrias, mangueiras, cilindros de O2 (comercialmente no Brasil,

    apresenta-se com a cor verde) e N2O (com a cor azul), e por ltimo, aparelho de

    presso.

    O protocolo para sedao inicia-se pela administrao de 100% de oxignio ao

    paciente, para pacientes adultos o volume inicial varia entre 5 a 6L/min, para

    crianas cerca de 4L/min, e aps trs minutos inicia-se o fornecimento do xido

    nitroso em incrementos, normalmente de 10% a cada 1 (hum) minuto, at que o

    nvel de sedao ideal seja observado e o paciente relate sensao de relaxamento

  • 37

    e bem-estar. A concentrao para a sedao ideal individualizada para cada

    paciente, respeitando-se o limite mximo de 70% de N2O. (RANALI; RAMACCIATO;

    MOTTA, 2006).

    A sedao ideal caracterizada por alguns sinais e sintomas e nem todos os

    pacientes relatam todos os possveis efeitos do gs. A observao constante do

    paciente de grande valor para detectar o nvel de sedao que este apresenta,

    evitando situaes de sobre-sedao e efeitos desagradveis. As principais

    informaes com respeito ao que diferencia os sinais e sintomas da sedao ideal e

    sobre-sedao, esto discriminadas no Quadro 5 (RANALI; RAMACCIATO; MOTTA,

    2006).

    Sedao ideal Sobre- sedao

    Paciente responsivo Sonolncia (fechar de olhos e boca)

    Relaxamento Euforia

    Vibrao pelo corpo Mal-estar

    Reduao do refluxo de nsia Nusea e vmito

    Movimento reduzido dos membros Inquietude

    Movimento palpebral reduzido Confuso visual, olhar parado

    Analgesia dos tecidos moles Sensao de perda de controle

    Perda de noo de tempo e espao Letargia

    Formigamento de lbios, mos e ps Risos, delrios e sonhos

    Taxa respiratria normal Aumento da taxa respiratoria

    Sensao de calor, rubor facial Transpirao excessiva

    Lacrimejamento (olhos brilhantes) Lacrimejamento excessivo

    Sons parecem distantes Sensao de zumbidos nos ouvidos

    Quadro 5: Sinais e sintomas da sedao ideal e da sobre-sedao Fonte: Adaptado de: RANALI; RAMACCIATO; MOTTA, (2006).

    Caso o paciente apresente algum sinal clnico de aprofundamento da sedao,

    a conduta inicial reduzir imediatamente a quantidade de xido nitroso, e na

    persistncia dos sintomas, deve-se abortar a sedao e o procedimento clnico e

    manter o paciente por um perodo de cinco a oito minutos de oxignio a 100%

    (CALDAS; GAMBA, 2004).

  • 38

    A tcnica da sedao consciente com xido nitroso contra-indicada nos

    seguintes casos: pacientes com obstruo das vias respiratrias; pacientes

    portadores de doenas pulmonares obstrutivas crnicas; pacientes psicticos;

    pacientes que utilizam medicao psicotrpica e paciente com problemas

    comportamentais severos (ORLANDO, 2003).

    Para Cogo et al. (2006) a tcnica de sedao consciente pela mistura de N2O

    e O2 apresenta algumas vantagens em relao ao uso dos benzodiazepnicos, por

    proporcionar um rpido incio de ao e pela dosagem ser obtida de forma

    incremental. Por outro lado, a habilitao para o emprego dessa tcnica e a

    aquisio de equipamentos e acessrios exige um investimento considervel por

    parte do profissional

    Assim, nenhuma das tcnicas de sedao perfeita, apresentando limitaes e

    indicaes especficas para cada situao clnica. Para o profissional bem informado

    e capacitado so opes distintas de escolha, e o perfil do paciente e do

    procedimento odontolgico deve ser considerado para determinar a escolha do

    mtodo (RANALI; RAMACCIATO; MOTTA, 2006).

    3.5 Intercorrncias Especficas e Tratamento

    3.5.1 Anafilaxia e Reaes Alrgicas

    O nmero de pacientes que desenvolvem reaes alrgicas aos produtos de

    usos odontolgicos e tambm aos medicamentos prescritos pelos dentistas, cada

    vez maior, principalmente, as reaes de sensibilidade ao cido acetilsaliclico, aos

    antiinflamatrios no hormonais, aos analgsicos, aos anestsicos e aos

    antibiticos, sobretudo, as penicilinas naturais (BARRETO; PEREIRA, 2008). O

    ndice de ocorrncia em consultrio odontolgico em torno de 8,45% (MONNAZI et

    al, 2001).

    As reaes alrgicas podem se manifestar atravs dos anestsicos locais,

    embora esta incidncia tenha diminudo desde a introduo dos anestsicos, do tipo

    amida, na dcada de 1940. Ultimamente, tm-se relatado reaes alrgicas ao

    bissulfito ou metabissulfito de sdio, agente estabilizante e antioxidante presente nos

    tubetes de anestsico local de uso odontolgico que contm vasoconstrictores

    (CAMPBELL; MAESTRELLO; CAMPBELL, 2001).

  • 39

    As reaes de hipersensibilidade decorrem da re-exposio de um organismo a

    um determinado alrgeno, apresentando-se na forma de uma reao lesiva aos

    tecidos, denominada de reao alrgica (PORTO, 2005).

    As reaes alrgicas compreendem um amplo espectro de manifestaes

    clnicas, podendo variar de respostas leves e tardias at reaes imediatas e letais

    que se desenvolvem segundos aps a exposio ao alrgeno (MARTINS FILHO et

    al., 2010).

    Os sinais e sintomas relacionados s manifestaes alrgicas tardias so

    mediados primariamente pela liberao de histamina, que, atuando ao nvel de pele,

    estimula as terminaes nervosas nuas, provocando pruridos. Alm disso, a

    histamina produz vasodilatao arteriolar e aumento da permeabilidade capilar,

    causando edemas localizados e, em alguns casos, generalizados (SINGI, 1998 apud

    MARTINS FILHO et al., 2010).

    O tratamento das manifestaes alrgicas (Quadro 6) tardias baseia-se na

    severidade do quadro apresentado pelo paciente, que geralmente varia de leve a

    moderado (MARTINS FILHO et al., 2010).

    Quadro 6 - Protocolo de tratamento sugerido para as reaes alrgicas tardias. Fonte: Adaptado de: MARZOLA, 1999 apud MARTINS FILHO et al., (2010).

    Quadros Leves (Leses urticariformes discretas)

    Quadros Moderados

    (Leses urticariformes difusas e/ou angioedema de face, sem

    manifestaes sistmicas associadas)

    Prometazina 01 ampola (50mg), intra-muscular (IM)

    Adrenalina 1:1000; 0,2 a 0,3ml subcutnea (SC) Prometazina 01 ampola (50 mg), IM Hidrocortisona 01 ampola (100mg), IM

    Dexclorfeniramina 01 comprimido (2mg) - 06/06 horas, VO

    Dexclorfeniramina 01 comprimido (2mg) - 06/06 horas, VO

  • 40

    A ilustrao (Figura 9) de um caso de alergia por contato aps uso de

    iodopovidine para anti-sepsia extra-oral, com tratamento base de prometazina

    intramuscular (IM) em dose nica e dexclorfeniramina, via oral (VO) durante 02 dias,

    onde a paciente desenvolveu um quadro de eritema e prurido na regio de contato

    com o produto (MARTINS FILHO et al., 2010).

    Figura 9: Reao alrgica aps aplicao tpica de iodo-povidine. Fonte: Martins-Filho et al., (2010)

    O choque anafiltico ou reaes imediatas oriundo da hipersensibilidade do

    tipo I, ou seja, da reao imunolgica a antgenos mediada por anticorpos em

    indivduos previamente sensibilizados. A reao rpida, ocorrendo minutos aps o

    contato com o antgeno. O termo "choque anafiltico" empregado no meio mdico

    para indicar a manifestao culminante dessa reao de hipersensibilidade, ou seja,

    anafilaxia (ELLIS; DAY, 2003).

    A patogenia para essa reao explicada do seguinte modo: anticorpos do tipo

    IgE j produzidos contra o antgeno so estimulados por ele a se prender na

    membrana plasmtica dos mastcitos, o que provoca a liberao de mediadores

    qumicos produzidos por essa clula (histamina, heparina e fator quimiottico para

    neutrfilos). Esses mediadores atuam diretamente na parede vascular, promovendo

    um aumento da permeabilidade e intensa exudao plasmtica, o que leva a

    edemas generalizados (plpebras, lbios, pavilho auricular, conduto auditivo

    externo). Instaura-se, assim, um quadro de hipotenso grave, com falncia da

    circulao perifrica. Manifesta-se tambm dificuldade respiratria, devido ao

    espasmo da musculatura bronquial e do edema que se desenvolve na mucosa

  • 41

    brnquica e na glote. Prurido cutneo generalizado oriundo dos altos graus de

    liberao de histamina tambm est presente. Ainda, podem ocorrer alteraes

    cardiovasculares, parada cardiorrespiratria e morte (ELLIS; DAY, 2003). A seguir

    listam-se os principais sinais e sintomas anafilticos (Quadro 7) dominantes nos

    diversos sistemas envolvidos.

    Sistemas Manifestaes

    Neurolgico

    Convulses, torpor, sncope

    Olhos

    Prurido, lacrimejamento

    Vias ereas Superiores

    Congesto nasal, estridor, edema larngeo, tosse, obstruo

    Vias ereas Inferiores

    Dispnia, broncoespasmo, cianose, parada respiratria

    Cardiovascular

    Taquicardia, hipotenso, isquemia miocrdica, parada cardaca

    Pele

    Eritema, prurido, urticria, angioedema, rash maculopapular

    Gastrointestinal

    Nuseas, vmitos, dor abdominal, diarria

    Quadro 7: Sinais e sintomas da reao anafiltica. Fonte: Adaptado de: ELLIS; DAY, (2003).

    O tratamento do choque anafiltico comea com a reclinao e ventilao

    (6lt/min) do paciente, monitorando os seus sinais vitais. Administrao de adrenalina

    em soluo milisemal nas reaes brandas (0,1 a 0,3 ml subcutnea (SC) ou IM) e

    severas (0,1 a 0,5 IM ou endovenosa (EV), repetir a aplicao a cada 5 a 10

    minutos at um mximo de 3 doses). Deve-se ainda promover acesso venoso e

    administrar soro (fisiolgico ou glicosado). No caso de parada cardiorrespiratria,

  • 42

    iniciar procedimento de reanimao, considerando a possibilidade de cricotireotomia

    e solicitar auxlio mdico (ANDRADE; RANALI, 2004).

    3.5.2 Broncoespasmo e Crise Asmtica

    Trata-se da obstruo parcial e temporria das vias areas intrapulmonares

    caracterizadas pela constrio da musculatura lisa dos bronquolos terminais. Esta

    constrio por sua vez reduz a ventilao pulmonar com a conseqente diminuio

    da difuso de oxignio para o sangue resultando uma hipoxemia. Configura-se em

    4,5% das urgncias que acontecem em clnica odontolgica (MONAZZI et al., 2001).

    Na clnica odontolgica, a situao de natureza alrgica mais freqente

    associada ao broncoespasmo observada em pacientes asmticos com histria de

    sensibilidade ao bissulfito de sdio, ou nos indivduos alrgicos aspirina ou aos

    antiinflamatrios no-esterides (AINEs). Os dois principais sinais do

    broncoespasmo so: chiado respiratrio e o uso de msculos acessrios da

    respirao (BARRETO; PEREIRA, 2008).

    O tratamento sugerido interromper o atendimento odontolgico; manter o

    paciente calmo; monitorizar vias areas; aferir pulso e presso; e ministrar

    broncodilatador, tal qual: Sabultamol (Aerolin spay) (MONAZZI et al., 2001).

    De acordo com Porto (2005) a asma a diminuio do calibre das vias areas,

    em conseqncia a diversos estmulos, sendo reversvel espontaneamente ou em

    resposta ao tratamento. Sua intensidade pode ser variada de leve e pouco

    sintomtica a severa insuficincia respiratria. Alguns sinais indicam a gravidade da

    crise, como cianose, confuso mental e fala interrompida por dispnia. Os fatores

    precipitantes ou agravantes da crise podem ser: exposio alrgenos ou irritantes

    inalotrios, infeces, manuteno inadequada da terapia, retirada sbita de

    cortiesterides, exerccios, estresse emocional e outros. No tratamento na crise

    asmtica, os pacientes devero utilizar agentes beta-2 adrenrgicos por via

    inalatria. Quando a crise classificada como grave/muito grave, imediatamente

    oxignio administrado e corticosteride sistmico indicado. Tambm deve ser

    considerado o uso de aminofilina e brometo de ipratrpio.

    Segundo Erazo (2002) o paciente em crise asmtica ansioso, dispnico

    (principalmente dificuldade expiratria) e prefere a posio sentada, numa tentativa

    de melhorar sua ventilao alveolar pelo uso de msculos acessrios de respirao.

  • 43

    Cianose pode ou no estar presente. Taquicardia comum, assim como, tendncia

    hipertenso sistlica. As jugulares podem ficar ingurgitadas expirao. Pode

    estar presente tosse, com expectorao de aspecto varivel, dependendo da

    presena ou no de processo infeccioso secundrio.

    A ansiedade e/ou stress associado ao tratamento dental pode precipitar um

    ataque de asma. A combinao destes fatores pode resultar em um episdio agudo

    de asma e, eventualmente, risco de vida para o paciente (GUGGENHEIMER;

    MOORE, 2009).

    O dentista deve estar atento e preparado para lidar com um episdio agudo de

    asma. Qualquer paciente com histria de asma deve fornecer ao dentista uma

    descrio da gravidade da doena, que inclui a freqncia dos episdios, fatores

    precipitantes, e grau de controle, tais como: taxa de uso do inalador e, episdios que

    necessitaram de internao hospitalar (GUGGENHEIMER; MOORE, 2009).

    So estratgias de preveno evitar medicamentos conhecidos por induzirem

    episdios asmticos, como a aspirina, AINEs e o controle do medo e da

    ansiedade. O uso de drogas depressoras, como sedativos ou opiides em pacientes

    com asma grave devem ser administrados com cautela (GUGGENHEIMER;

    MOORE, 2009).

    Segundo ANDRADE e RANALI (2004), devem-se administrar salbutamol em

    aerossol, oxigenoterapia com fluxo de 5 a 7 l/min e no havendo regresso do

    quadro, administrar por via SC, 0,3ml de adrenalina 1:1000 (ampolas com 1ml).

    3.5.3 Complicaes Anestsicas

    As solues anestsicas locais so as drogas mais empregadas na prtica

    odontolgica, apresentando uma grande margem de segurana clnica (MONTAN et

    al., 2007).

    As complicaes quando ocorrem, podem ser divididas em psicognicas e no-

    psicognicas. As primeiras independem do anestsico e esto relacionadas ao

    estado de estresse do paciente. As no-psicognicas so raras, estando

    relacionadas tcnica de administrao inadequada, superdosagem ou a uma

    reao alrgica ao anestsico (PAIVA; CAVALCANTI, 2005).

    Alguns dos eventos adversos relacionados anestesia local so

    potencialmente srios e at mesmo letais, tendo como causa mais comum a super

  • 44

    dosagem, absoluta ou relativa dos agentes empregados, pela falta de conhecimento

    das doses mximas dos anestsicos e/ou uso incorreto das tcnicas anestsicas por

    parte de alguns profissionais (MEECHAN, 1998; VALLEJO; VALLEJO, 2004).

    As principais complicaes advindas da anestesia local so sncope, angina

    pectoris, hipotenso postural, broncoespasmo, reao anafiltica e infarto do

    miocrdio. Quanto percentagem das emergncias mdicas e tipo de tratamento

    dental ocorrem 54,9% durante e aps a anestesia local, 22% durante o tratamento e

    1,5% logo aps o tratamento (VASCONCELOS et al., 2002).

    Ainda, de acordo com estes autores, deve ser dada ateno especial quando

    da administrao dos anestsicos locais com vasoconstrictor em pacientes

    asmticos cortico-dependentes, devido a um maior risco de desenvolvimento de

    reaes alrgicas imediatas e severas, geralmente apresentam alergia aos sulfitos

    encontrados nas solues contendo aminas simpatomimticas, sendo nesse caso

    indicado solues com felipressina.

    A injeo de uma dose muito elevada de anestsicos locais (overdose de

    anestsico) dificilmente acontece. A incidncia de ocorrncia de aproximadamente

    0,67% (MONAZZI et al., 2001)

    Montan et al. (2007) afirmam que no Brasil, as recomendaes quanto ao

    emprego de anestsicos locais para crianas e adultos saudveis (Quadro 8 e 9), se

    refere a quantidade, como dose limite, levando em considerao a idade, peso e

    fatores constitucionais do paciente.

  • 45

    Anestsico

    local

    Quantidade

    presente em um tubete

    Dose mxima (por kg peso

    corporal)

    Nmero de

    tubetes (1,8ml)(criana

    com 20kg)

    Lidocana 2%

    36mg

    4,4mg

    2,4

    Mepivacana 2%

    36mg

    4,4mg

    2,4

    Mepivacana 3%

    54mg

    4,4mg

    1,6

    Prilocana 2%

    54mg

    6mg

    2,2

    Articana 4%

    72mg

    5mg

    1,3

    Bupivacana 0,5%

    Contra-indicado em odontopediatria devido ao longo

    tempo de durao da anestesia Quadro 8. Anestsicos locais nas concentraes comumente empregadas no

    Brasil, e suas doses mximas para crianas. Fonte: Adaptado de: Montan et al., (2007).

    Anestsico

    local

    Dose mxima (por kg peso

    corporal)

    Nmero de

    tubetes (1,8ml) (adulto com 60

    kg)

    Mximo absoluto (independente do

    peso

    Lidocana 2%

    4,4mg

    7,3

    300mg

    Mepivacana 2%

    4,4mg

    7,3

    300mg

    Mepivacana 3%

    4,4mg

    4,8

    300mg

    Prilocana 2%

    6mg

    6,6

    400mg

    Articana

    7mg

    5,8

    500mg

    Bupivacana

    1,3 mg

    8,6

    90mg

    Quadro 9: Anestsicos locais nas concentraes comumente empregadas no

    Brasil, e suas doses mximas para adultos saudveis. Fonte: Adaptado de: Montan et al., (2007).

    Segundo Andrade e Ranali (2004), a superdosagem do sal anestsico ocorre

    quando a concentrao plasmtica encontra-se acima de 7,5 g/ml, podendo gerar

    convulses tnico-clnicas, seguida de depresso generalizada do SNC, com queda

  • 46

    da presso arterial, freqncias cardaca e respiratria. Nestes casos a conduta

    emergencial consiste em colocar o paciente em posio confortvel e semi-inclinada;

    administrao de oxignio; solicitao do socorro mdico de urgncia e instituir o

    suporte bsico de vida. Caso ocorra convulso prolongada, aps cessar o episdio,

    administrar uma ampola de diazepam 10 mg intravascular (IV), em injeo lenta.

    A superdosagem do vasoconstritor consiste geralmente em reaes que so

    transitrias e de curta durao, pois sua metabolizao pelo organismo muito

    rpida, tendo como principais sinais e sintomas: dor de cabea pulstil,

    principalmente na regio temporal; tremor e fraqueza; sudorese; elevao abrupta

    da presso arterial, principalmente a sistlica; elevao da freqncia cardaca e

    possveis arritmias cardacas. Nestes casos a conduta emergencial a ser realizada

    limita-se a colocar o paciente sentado, para diminuir a presso intracraniana e a

    sobrecarga cardaca, monitorar os sinais vitais, administrar oxignio e caso

    necessrio instituir o suporte bsico de vida (ANDRADE; RANALI, 2004).

    Quando administrados em doses excessivas a prilocana, a articana e a

    benzocana podem induzir um quadro de metahemoglobinemia. Estes agentes, bem

    como vrias preparaes a base de nitritos e nitroglicerina, o antimicrobiano

    dapsona, agentes sulfonamida, e o analgsico fenacetina, podem causar a oxidao

    do tomo de ferro dentro da hemoglobina, produzindo metemoglobina. Quando a

    concentrao de metemoblogina se torna superior a 15%, instala-se a chamada

    metahemoglobinemia, cujo quadro clnico caracterizado por cianose que ocorre na

    ausncia de anormalidades cardacas e/ou respiratrias, podendo ser congnita ou

    adquirida. Os anestsicos que mais a causam devem ser evitados em grandes

    cirurgias, portadores de insuficincia cardaca, respiratria ou doenas metablicas e

    em gestantes, por causa do risco do feto vir a contrair a doena. O paciente se

    apresenta letrgico, com os leitos ungueais e as mucosas cianticas, dificuldades

    respiratrias e a pele em tons cinza plido. O seu tratamento se d atravs da

    administrao intravenosa de azul-de-metileno a 1% (1,5mg/Kg), podendo a dose

    ser repetida a cada 4 horas at a cianose ser debelada (MOORE, 1999).

    A realizao da aspirao previamente administrao e a injeo lenta so

    essenciais, pois podem evitar a injeo intravascular acidental e conseqente super

    dosagem relativa, administrao em bolo (MONTAN et al., 2007)

    Ainda segundo estes autores so raros os casos fatais decorrentes do uso

    incorreto de solues anestsicas locais. Casos de morbidade sem bito muitas

  • 47

    vezes ficam restrito ao conhecimento do profissional e do paciente envolvidos no

    caso, sem se tornarem pblicos, reaes adversas associadas anestesia local

    acontecem. Neste sentido, no perodo compreendido de 1964 a 2005, uma pesquisa

    realizada na Base Medline (National Library of Medicine), teve como resultado, um

    total de 16 casos de mortalidade atribudos ou associados anestesia local em

    clnica odontolgica, sendo sete deles ocorridos em adultos e os nove restantes em

    crianas.

    Na presena de doena cardiovascular controlada ou ainda em idosos, a dose

    mxima de anestsico contendo epinefrina 1:100.000 no deveria exceder o contido

    em dois tubetes e a de felipressina 0,03UI/mL (vasoconstritor associado prilocana)

    deveria ser de no mximo o equivalente a trs tubetes (MONTAN et al., 2007).

    O emprego rotineiro de anestsicos locais com vasoconstritores em

    consultrios odontolgicos requer cuidados e avaliao cuidadosa por parte do

    cirurgio-dentista, visto que existem contra-indicaes absolutas para o uso de

    vasopressores particularmente nos cardiopatas de alto risco. Na literatura, alguns

    trabalhos so encontrados e, no demonstraram, sistematicamente, presena de

    isquemia miocrdica nas avaliaes durante procedimentos odontolgicos,

    reafirmando que o benefcio do uso desses anestsicos maior que o risco de

    alguma complicao cardaca quando realizada com boa tcnica anestsica e

    manuteno do tratamento farmacolgico prescrito pelo cardiologista (CONRADO et

    al., 2007; LOPES et al., 2006; NEVES et al., 2007; GERLACH; SANTOS e

    ESCOBAR, 1998).

    Para Gerlach; Santos e Escobar (1998) deve-se avaliar a necessidade de cada

    paciente, ter segurana e boa compreenso do uso de medicamentos e suas

    interaes no organismo. O cuidado durante a avaliao pr-anestsica, o

    conhecimento do quadro clnico do paciente, o domnio da farmacologia dos

    anestsicos locais e a correta tcnica anestsica, tornam possvel a utilizao de

    vasoconstritores adrenrgicos em muitas situaes.

  • 48

    3.5.4 Distrbios Convulsivos

    A crise convulsiva a forma mais freqente de manifestao epilptica. A

    epilepsia (palavra grega que significa tomar de surpresa) pode ser definida como

    um distrbio cerebral de incio e fim bruscos (paroxsticos), com durao de

    segundos a minutos, e repetitivo, raramente, de longa durao, neste caso, deve-

    se estar atento possibilidade de outro diagnstico (histeria, ttano, intoxicao

    exgena etc (ERAZO, 2002).

    Ainda segundo esse autor pode ou no haver perda de conscincia, no

    entanto, esta ocorrncia quase sempre observada. Podem ser citadas ainda: a

    convulso febril, encefalopatias, hipoglicemia, intoxicao medicamentosa e

    tumores. A administrao intravascular inadvertidamente de anestsico local

    produzir convulses dentro de poucos minutos aps a injeo (S DEL FIOL;

    FERNANDES, 2004)

    Estima-se que de 2 a 3% da populao mundial apresente algum tipo de

    epilepsia, e que cerca de 10% da populao mundial j tenha experimentado alguma

    crise convulsiva durante sua vida (S DEL FIOL; FERNANDES, 2004).

    As convulses podem ser resultados de abstinnica de lcool, febre alta,

    hipoglicemia, dano cerebral por traumas ou idiopticas (HUPP, In: PETERSON et al.,

    2005).

    As convulses epilticas podem ser classificadas em convulses do grande mal

    e convulses do pequeno mal. As convulses do grande mal apresentam as

    seguintes caractersticas: o paciente perde subitamente a conscincia, podendo ou

    no ter aura ou grito precedendo a crise, bem como viso de luzes ou cores,

    sensaes de mau cheiro, ou sons, ou vegetativas. Outro ponto a ser destacado,

    que em seguida a este quadro, apresenta contraes musculares bruscas e

    repetidas, simtricas, podendo haver mico ou defecao involuntria, trismo com

    mordedura da lngua e sialorria, seguindo-se estados de sonolncia e/ou

    confusional, geralmente com cefalia, podendo ocorrer vmitos. No entanto, a

    convulso do pequeno mal se manifesta apenas com ausncia episdica, olhar vago

    (ERAZO, 2002; MALAMED, 1993; MONAZZI et al., 2001; HUPP, In: PETERSON et

    al., 2005).

  • 49

    Para Monazzi et al (2001) e Santos e Rumel (2006) este tipo de problema

    apresenta um percentual de ocorrncia de 5,21% e aproximadamente 8%,

    respectivamente.

    O protocolo para atendimento nas convulses deve ser institudo da seguinte

    maneira: interrompa o tratamento; afaste qualquer instrumento perfuro-cortante do

    raio de ao do paciente; no tente colocar qualquer instrumento ou mordedor de

    borracha entre as arcadas, pois o risco de aspirao de fragmentos grande,

    procure apenas conter delicadamente os movimentos do paciente (principalmente os

    da cabea), cessada a convulso, mantenha o paciente em repouso por 5 a 10

    minutos, administre oxignio (3L/min) e monitorize os sinais vitais (ANDRADE;

    RANALI, 2004; ERAZO, 2002).

    As convulses muito prolongadas ou muito repetidas, onde a recuperao do

    paciente no ocorre entre os ataques, constituem o que se denomina estado

    epilptico. o tipo mais comum de desordem convulsiva que causa mortalidade

    (ANDRADE; RANALI, 2004; HUPP, In: PETERSON et al., 2005; S DEL FIOL;

    FERNANDES, 2004).

    O protocolo para atendimento no estado epilptico inclui a adoo de medidas

    j descritas juntamente com administrao de benzodiazepnicos. Os

    benzodiazepnicos injetveis, solveis em gua, tais como o midazolam, so uma

    boa alternativa, pois a injeo intramuscular resultar em uma resposta mais rpida

    se comparada injeo de benzodiazepnicos, insolveis em gua, como o

    diazepam, que devem ser administrados via intravenosa, o que pode ser difcil no

    paciente em convulso se o acesso venoso no estiver disponvel de antemo

    (ANDRADE; RANALI, 2004; MONAZZI et al., 2001; HUPP, In: PETERSON et al.,

    2005).

    O profissional que est administrando benzodiazepnicos para convulso deve

    estar preparado para prover SBV, pois os pacientes podem ter um perodo de

    apnia aps receber uma dose rpida e em grande quantidade de

    benzodiazepnicos (HUPP, In: PETERSON et al., 2005).

    Outro ponto a ser destacado, que o cirurgio dentista deve ter conhecimento

    atravs da anamnese se h controle adequado das convulses para decidir se o

    procedimento odontolgico pode ser realizado com segurana. extremamente til

    saber quaisquer fatores que possam precipitar a convulso, se o paciente concorda

  • 50

    e faz uso regular de sua medicao e a freqncia recente dos episdios de

    convulso (ANDRADE; RANALI, 2004; HUPP, In: PETERSON et al., 2005)

    Para Li et al. (2005) a maioria dos profissionais de sade no se sente segura

    no manejo das pessoas com epilepsia, assim de grande a necessidade de se

    treinar os profissionais para o tratamento adequado dos pacientes com epilepsia.

    3.5.5 Emergncias Cardiovasculares

    3.5.5.1 Crise Hipertensiva

    A hipertenso arterial uma sndrome caracterizada basicamente por aumento

    dos nveis pressricos, tanto sistlico quanto diastlico. uma das mais importantes

    enfermidades do mundo moderno, pois 10 a 20% da populao adulta mundial so

    portadoras de hipertenso arterial, sendo a causa direta ou indireta de elevado

    nmero de bitos (PORTO, 2005).

    A crise hipertensiva caracteriza-se por uma elevao rpida, inapropriada,

    intensa e sintomtica da presso arterial, com ou sem risco de deteriorao rpida

    dos rgos-alvo (corao, crebro, rins e artrias), que pode conduzir a um risco

    imediato ou potencial de vida. Os nveis tensionais esto elevados, levando-se em

    considerao a presso arterial diastlica, geralmente maior que 120 mmHg

    (MARTIN, 2004).

    Na prtica, a crise hipertensiva pode se manifestar pelo sangramento gengival

    excessivo ps-manipulao pelo dentista ou na forma de hemorragia nasal, com

    sintomas iniciais de dor de cabea, tontura e mal-estar, at quadros mais graves que

    levam a encefalopatia hipertensiva, caracterizada por confuso mental, agitao ou

    estado de coma superficial, podendo atingir o extremo do acidente vascular cerebral

    e convulses. Alm da ansiedade e da dor, a injeo intravenosa acidental de

    anestsicos locais que contm vasoconstritores adrenrgicos, pode desencadear a

    crise hipertensiva (ANDRADE; RANALI, 2004).

    O tratamento das emergncias hipertensivas tem como objetivo cessar o

    processo de dano vascular para manter a viabilidade dos tecidos, onde as drogas

    parenterais no esto indicadas no tratamento das urgncias hipertensivas, sendo

    assim, sua abordagem inicial consiste no uso de medicaes orais de ao rpida,

    para reduzir a presso arterial a nveis aceitveis, com objetivo de normaliz-la em

  • 51

    um perodo de 24 a 48 horas. Assim, uma srie de drogas pode ser utilizada, no

    entanto, a droga de escolha atualmente o Captopril de 6,25 mg administrado por

    VO, aumentada em 30 minutos ou mais se no houver resposta, tendo inicio da

    ao em 15 a 30 minutos (ANDRADE; RANALI, 2004).

    3.5.5.2 Hipotenso Arterial

    Os nveis pressricos abaixo do normal so chamados de hipotenso arterial.

    Admitem-se os valores mnimos de 80 a 90 mmHg para a presso sistlica. A

    hipotenso arterial s se caracteriza um problema clnico quando indica diminuio

    do dbito cardaco, da volemia e/ou da resistncia perifrica. Essas alteraes

    ocorrem em vrias circunstncias, como insuficincia cardaca, desidratao,

    hemorragias, septicemias. Nestas condies o paciente apresenta-se com nveis

    pressricos baixos acompanhados de diminuio da amplitude ou desaparecimento

    dos pulsos perifricos, taquicardia e sinais de m perfuso tecidual (PORTO, 2005).

    Outra situao em que ocorre hipotenso arterial e que representa um

    problema mdico importante, principalmente entre os idosos, o que se chama

    Hipotenso Ortosttica (HO) ou Hipotenso Postural. Esta pode ser definida como

    uma queda na presso arterial de 20 mmHg ou mais na presso sistlica e/ou 10

    mmHg ou mais na diastlica ao passar-se da posio supina para a posio

    sentada ou em p (SCLATER; ALAGIAKRISHNAN, 2004). No entanto, Monazzi et

    al. (2001) relatam um percentual de ocorrncia de 8,09% de HO.

    Por outro lado, a posio supina resulta numa srie de respostas posturais

    reflexas, reguladas pelos ramos do sistema nervoso autnomo e baroreflexos

    arteriais e mecanoreceptores cardiopulmonares, na tentativa de compensao do

    efeito da gravidade na distribuio do volume sanguneo. Nestas patologias existe

    uma resposta inapropriada mudana da posio corporal de decbito para supino.

    A resposta adaptada mudana de posio do corpo humano consiste na

    estabilizao das variveis hemodinmicas para a posio supina em

    aproximadamente 60 segundos. Durante este processo, a freqncia cardaca

    aumenta cerca de 10 a 15 bpm, a presso diastlica aumenta cerca de 10 mmHg,

    com apenas uma ligeira flutuao da presso sistlica. A passagem posio

    supina (ortosttica) tambm influencia uma resposta neuro-humoral, levando a

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    alteraes nos nveis de vasopressina, renina, angiotensina e aldosterona todas

    elas envolvidas na regulao da presso arterial (PORTO, 2005).

    Sclater e Alagiakrishnan (2004) afirmam que para detectar a posio supina

    preciso obedecer seguinte tcnica: a) determinar a presso arterial do paciente em

    decbito dorsal, depois de 2 a 3 minutos de repouso; b) em seguida, com o paciente

    sentado e aps ficar de p, com intervalo de 1 a 3 minutos.

    Os sintomas geralmente associados hipotenso ortosttica so: fadiga

    excessiva; intolerncia ao esforo; sncope recorrente ou pr-sncope; tonturas;

    nusea; taquicardia; palpitaes; alteraes visuais; viso turva; tremores; fraqueza

    mais intensa nos membros inferiores; mal estar torcico indefinido; enxaquecas e