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Página | 48 REALENGO: A CONSTRUヌテO DE UM BAIRRO E AS CORRENTES QUE DIVERGEM SOBRE A ORIGEM DE SEU NOME Por Elizabeth Bertoldi e Nathália Guimarães Professora Martha de Almeida Nogueira da Silva, em seu Trabalho de Conclusão do Curso de Licenciatura Plena em História, concluído em 2008, na Instituição de Ensino Faculdades Integradas Simonsen, sob o título “A Reconstrução da História de um Bairro: uma análise sobre diferentes correntes existentes sobre a origem do nome do bairro Realengo e a influência das mesmas na identidade cultural e local de sua população”, apresenta o resultado de suas pesquisas, nas quais como um dos principais objetivos está explanar o significado e a origem do nome Realengo, atribuído a um bairro que foi palco de importantes fatos históricos. Seu trabalho, feito a partir de fontes bibliográficas e narrativas reminiscentes de antigos moradores, é composto de seis capítulos nos quais ela conceitua a palavra bairro; situa geográfica e administrativamente a região; apresenta a origem histórica do bairro; relata o resultado de sua pesquisa referente ao significado da palavra Realengo, seu principal foco; e traça o perfil atual do bairro. Segundo a Professora Martha, as correntes que explicam o significado e a origem do nome Realengo são: “Aquilo que está abandonado”; “terras reais ou tudo aquilo que for realeza, ou proveniente dela”; “junção da palavra real com a abreviação da palavra engenho” – Real Engコ – a mais utilizada pelos moradores do bairro; e “palavra de origem germânica cujo significado é terras distantes do poder real”. Houve por parte da professora Martha a preocupação em examinar isoladamente cada uma dessas correntes. Os resultados de suas pesquisas serão utilizados aqui para elucidar os leitores. Antes, vamos ilustrar brevemente a origem histórica das denominadas Terras Realengas. A partir de 27 de junho de 1814 pela carta Régia, D. João concedeu em sesmaria, ao Senado da Câmara do Rio de Janeiro, os terrenos situados em Campo Grande, chamados realengos por pertencerem ao Rei de Portugal, a partir daí as terras passam a ser públicas, onde sua venda e alienação seriam proibidas. Contudo, em 1815, foram constatadas instalações de algumas casas no local através de vendas de lotes, na iminência de abusos foram estabelecidas dimensões A Brasão de Realengo: criado em conjunto com o Professor Carlos Wenceslau, Almira Damasceno e Marinês Seabra (desenhista). Descrição das cores: Azul - Lealdade (Manto de Nossa Senhora); Branco – Paz; Cinza – autoridade do Príncipe D. João; Elementos –Cabeça de Boi – Pastagem (vindos do Arquipélago dos Açores); Cana de Açúcar e Laranja – Principais produções do povoamento na época do Brasil Colônia, na Zona Oeste. Fonte: http://historia-de-realengo.blogspot.com.br

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REALENGO: A CONSTRUÇÃO DE UM BAIRRO E AS

CORRENTES QUE DIVERGEM SOBRE A ORIGEM DE SEU NOME

Por Elizabeth Bertoldi e Nathália Guimarães

Professora Martha de Almeida Nogueira daSilva, em seu Trabalho de Conclusão do Cursode Licenciatura Plena em História, concluídoem 2008, na Instituição de Ensino Faculdades

Integradas Simonsen, sob o título “A Reconstrução daHistória de um Bairro: uma análise sobre diferentescorrentes existentes sobre a origem do nome do bairroRealengo e a influência das mesmas na identidadecultural e local de sua população”, apresenta oresultado de suas pesquisas, nas quais como um dosprincipais objetivos está explanar o significado e aorigem do nome Realengo, atribuído a um bairro quefoi palco de importantes fatos históricos.

Seu trabalho, feito a partir de fontesbibliográficas e narrativas reminiscentes de antigosmoradores, é composto de seis capítulos nos quais elaconceitua a palavra bairro; situa geográfica eadministrativamente a região; apresenta a origemhistórica do bairro; relata o resultado de sua pesquisareferente ao significado da palavra Realengo, seuprincipal foco; e traça o perfil atual do bairro.

Segundo a Professora Martha, as correntesque explicam o significado e a origem do nomeRealengo são: “Aquilo que está abandonado”; “terrasreais ou tudo aquilo que for realeza, ou provenientedela”; “junção da palavra real com a abreviação dapalavra engenho” – Real Engº – a mais utilizada pelosmoradores do bairro; e “palavra de origem germânicacujo significado é terras distantes do poder real”.

Houve por parte da professora Martha apreocupação em examinar isoladamente cada umadessas correntes. Os resultados de suas pesquisas serãoutilizados aqui para elucidar os leitores.

Antes, vamos ilustrar brevemente a origemhistórica das denominadas Terras Realengas.

A partir de 27 de junho de 1814 pela cartaRégia, D. João concedeu em sesmaria, ao Senado daCâmara do Rio de Janeiro, os terrenos situados emCampo Grande, chamados realengos por pertenceremao Rei de Portugal, a partir daí as terras passam a serpúblicas, onde sua venda e alienação seriam proibidas.Contudo, em 1815, foram constatadas instalações dealgumas casas no local através de vendas de lotes, naiminência de abusos foram estabelecidas dimensões

A

Brasão de Realengo: criado em conjunto com o ProfessorCarlos Wenceslau, Almira Damasceno e Marinês Seabra

(desenhista).

Descrição das cores: Azul - Lealdade (Manto de NossaSenhora); Branco – Paz; Cinza – autoridade do PríncipeD. João; Elementos –Cabeça de Boi – Pastagem (vindos

do Arquipélago dos Açores); Cana de Açúcar e Laranja –Principais produções do povoamento na época do Brasil

Colônia, na Zona Oeste.

Fonte: http://historia-de-realengo.blogspot.com.br

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para estes usos e exigência de posse de títulos parapermanência nas terras. Sua ocupação se deu atravésde diversas formas, iniciando-se pelo estabelecimentode uma Zona Militar, cujo ápice foi a fundação daEscola Preparatória e Tática e do 1º Batalhão deEngenheiros em 1897, porém seus primeirospovoadores foram escravos e imigrantes portuguesesque se dedicavam à agricultura e pastagem devido aosgrandes espaços vazios existentes no local.

Voltando às correntes interpretativas daorigem do topônimo Realengo e, com base nosresultados das pesquisas da Professora Martha,concluímos que em tempos remotos, antes mesmo dosurgimento da região, o termo já era usado paradesignar tudo aquilo que se originasse da realeza oupertencente à mesma. Constatado através dedocumentos de fontes primárias, inclusive dedicionários dos séculos XVIII e XIX.

Somente a partir do século XX é que algunsdicionários adicionaram ao termo o significado de“terras abandonadas”, o que também foi assimiladopela população local.

Com relação à junção da palavra real com aabreviação da palavra engenho, a pesquisadora colocaque as consultas em diversos livros apontaram, comcerteza, a existência de engenho na região, sendo omesmo de propriedade da família Fernandes Barata enão dos reis, como conta a população ao longo dosséculos, fazendo a relação por uma dedução lógica:“ora, se existia engenho e o mesmo estava em terrasreais, ele só poderia ser real”. Outra constatação foi aexistência da Fazenda Piraquara, mais conhecida pelapopulação como Fazenda dos Barata.

A corrente Real Engº é atribuída à tradiçãopopular. Conforme o depoimento do Sr. Aloysio Fialho,nascido e criado no bairro, oitenta e três anos (quandoa pesquisa foi elaborada – 2008), jornalista e dono dojornal “A Voz de Realengo”, que circulou por mais decinquenta anos:

“Acredito nesta versão porque aqui em Realengohavia muitas fazendas e mesmo aquelas que não tinhama moenda (...) era composta por plantações de cana,polo pomar, pela lavoura de subsistência, pela casagrande onde morava o proprietário e sua família, acapela, a senzala e até mesmo a floresta (...). Sei que asfazendas ou engenhos não pertenciam aos reis, masnesta época as terras ainda eram realengas”.

Segundo a Professora Martha, a versão deque a palavra Realengo vinha abreviada nos bondes –uma tradição oral – não pode ser comprovada

historicamente por não haver fotos, documentos e pelofato de que os trens vieram antes dos bondes. Nãohavia linha de bondes em Realengo.

Ela conclui também que mesmo as terrasrealengas tendo sido doadas por D. João, a partir doséculo XIX, a população não incutiu em sua identidadelocal e nem cultural esta nova situação, considerandoaté hoje como terras pertencentes aos reis, como umaforma de manter viva a história de sua origem.

Sua pesquisa finaliza destacando queRealengo é uma palavra de origem neolatina utilizadano vocabulário português para adjetivar lugares,animais, objetos, etc., como reais, sendo dado, pelapopulação, um novo significado a ela que foi passadaatravés da tradição oral, no intuito de preservação damemória que no bairro é muito valorizada.

Sugerimos aos leitores interessados em obtermais informações sobre o bairro Realengo queacessem, no Facebook, a página do CMRP – Centro deMemória de Realengo e Padre Miguel. A fundação doCMRP partiu da iniciativa da Professora MarthaNogueira, moradora e apaixonada pela região. Ointuito é resgatar, preservar e divulgar a memória, ahistória de Realengo, de Padre Miguel, dos moradorese de sua ligação com a História do Rio de Janeiro. OCMRP funciona como uma artéria que alimenta aprodução da História. Cada vez que as lembranças sãoreveladas elas fortalecem nossa identidade.

Elizabeth Bertoldi e Nathália Guimarães: São

Graduandas em História pelas Faculdades Integradas

Simonsen e Pesquisadoras do Centro de Memória de

Realengo e Padre Miguel.