11 de Setembro de 2001

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www.publico.pt PUBLICIDADE QUA12SET 12 de Setembro de 2001 Ano XII • N° 4194 140$00 • 0,70 (IVA incluído) Director JOSÉ MANUEL FERNANDES Director adjunto: NUNO PACHECO e-mail: [email protected] EDIÇÃO LISBOA PUBLICIDADE O ATENTADO QUE MUDOU O MUNDO HOJE AO FINAL DA MANHÃ, EDIÇÃO ESPECIAL DO PÚBLICO COM 32 PÁGINAS

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Jornal Público de 12 de Setembro de 2001.

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QUA12SET12 de Setembro de 2001

Ano XII • N° 4194140$00 • €0,70 (IVA incluído)

Director JOSÉ MANUEL FERNANDESDirector adjunto: NUNO PACHECO

e-mail: [email protected]

E D I Ç Ã O L I S B O A

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O ATENTADO QUE MUDOU O MUNDO

HOJE AO FINAL DA MANHÃ, EDIÇÃO ESPECIAL DO PÚBLICO COM 32 PÁGINAS

Page 2: 11 de Setembro de 2001

DIA DE GUERRA

13h45 (8h45 locais) Um avião embate na torre sul do World Trade Cen-ter, um dos edifícios mais emblemáticos de Nova Iorque, à altura do 80º dos seus 110 an-dares. O avião é identificado pela cadeia te-levisiva CBS como sendo um Boeing 767 da American Airlines (esta companhia aérea da-ria mais tarde como “desaparecido” um avião deste modelo, num voo de Boston para Los Angeles, com 81 passageiros e onze tripulan-tes a bordo).

14h03 Já sob o olhar das câmaras de televisão, 18 minutos depois, um segundo avião colide com a outra das Torres Gémeas do World Trade Center, aproximadamente à al-tura do 40º andar, causando uma devastadora explosão que deixa então os dois edifícios — onde trabalham cerca de 50 mil pessoas — em chamas. O avião é identificado como sen-

do um Boeing 767 da United Airlines (partira de Boston com destino a Los Angeles com 56 passageiros e nove tripulantes a bordo)

14h05 Na Florida, o presidente norte-americano George Bush está a ler para um gru-po de crianças, na Emma E. Booker Elementary School, quando o seu chefe de gabinete, An-drew Card, lhe comunica ao ouvido as notícias do ataque.

14h17 A Administração Federal da Avia-ção norte-americana (FAA) fecha os aeropor-tos de Nova Iorque. O mesmo é feito com todas as pontes e túneis da cidade.

14h20 Surgem relatos, não confirmados oficialmente, de que o FBI estava a investigar casos de aviões que haviam sido desviados antes dos ataques ao World Trade Center.

14h30 Nas primeiras declarações sobre o sucedido, George Bush afirma que os Estados Unidos sofreram “o que parece ser um ataque terrorista”.

14h42 A televisão de Abu Dhabi rela-ta ter recebido um telefonema da Frente De-mocrática da Libertação da Palestina reivin-dicando a responsabilidade dos ataques ao World Trade Center. Mais tarde responsáveis deste movimento negam ter tido qualquer en-volvimento no sucedido.

14h43 Um terceiro avião, muito pro-vavelmente um Boeing 757, (que tinha sido dado como “desaparecido” nessa manhã pela American Airlines, e que saíra de Washington com destino a Los Angeles, com 58 passagei-ros e seis tripulantes a bordo), despenha-se junto ao edifício do Pentágono, em Washing-

ton. O edifício, que é o centro nervoso das forças militares norte-americanas e onde tra-balham cerca de 20 mil pessoas (entre civis e militares), deflagra em chamas com a explo-são e uma boa parte de um dos cinco lados da estrutura acaba por desmoronar menos de meia hora depois.

14h45 A Casa Branca, em Washington D.C., é evacuada. Segue-se de imediato o Ca-pitólio. O mesmo acontece nos edifícios das Nações Unidas, dos Departamentos do Tesou-ro, de Justiça e de Estado.

15h05 A torre sul do World Trade Cen-ter desmorona sobre as ruas em baixo. For-ma-se uma enorme nuvem de pó e detritos que aos poucos se afasta das ruínas da es-trutura. Desde o momento das colisões até à queda da estrutura foram vistas pessoas

C R O N O L O G I A D O S AC O N T E C I M E N TO S

T E R R O R N A A M É R I C A2 D E S TA Q U EPÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

HUBERT MICHAEL BOESL/EPA

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a saltar das janelas do edifício, em fuga do fogo e do fumo e perante a inevitável derro-cada, mas sem qualquer esperança de sal-vamento.

15h10 Um avião Boeing 757 despenha-se em Somerset County, a 80 milhas de Pitts-burgh, no estado da Pensilvânia. É mais tarde identificado pela companhia aérea United Air-lines como tratando-se do voo 93, com destino a São Francisco e tendo partido de Newark, em New Jersey, com 38 passageiros e sete tripulantes a bordo.

15h25 É noticiada a explosão de um carro armadilhado às portas do edifício do De-partamento do Tesouro, em Washington. Mais tarde há um desmentido.

15h26 Todos os voos com destino para

os Estados Unidos são desviados para o Cana-dá, segundo ordens da FAA.

15h27 A torre norte do World Trade Center acaba também por ruir, desabando de cima abaixo como se estivesse a ser descas-cada, largando para o ar uma enorme nuvem de pó e detritos.

15h45 Todos os edifícios federais dos Estados Unidos são evacuados. Todos os ae-roportos do país são evacuados e encerra-dos.

18h04 George Bush garante aos nor-te-americanos que estão a ser tomadas to-das as medidas de segurança. E deixa o avi-so: “Não tenham dúvidas, os Estados Unidos vão caçar os responsáveis por este ata-que”. D.F.

D E S TA Q U E 3PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Caos é uma palavra simples de mais para descrever o que aconteceu, ontem, nos Esta-dos Unidos. Terroristas ain-da não identificados conse-guiram, com uma cadeia de atentados, tornar refém o Governo dos Estados Uni-dos. O Presidente, George W. Bush, foi levado para uma base militar no Nebraska e a Casa Branca foi encerrada. Os principais membros do executivo e do Congresso es-tavam também sem paradei-ro. Em Washington, a capi-tal, foi decretado o estado de emergência e todos os mi-nistérios foram esvaziados e encerrados. Só em tempo de guerra medidas de segu-rança tão draconianas são declaradas.

Outra situação que só acontece quando o país está em guerra: a cúpula militar do Pentágono recolheu, em conselho de urgência, ao “bunker” nos subterrâneos do edifício. Algumas unida-des das Forças Armadas pedi-ram aos seus homens que es-tavam de folga, ou em férias, para voltarem aos quartéis.

“Isto é uma guerra. Foi de-clarada guerra aos Estados Unidos. Ainda é cedo para se tomarem decisões. Primeiro, temos que saber quem fez is-to”, disse Samuel Berger, que foi conselheiro de Seguran-ça Nacional do anterior Pre-sidente, Bill Clinton. “Estes atentados foram uma decla-ração de guerra”, concordou Oliver North.

O inimaginável — é a única palavra possível — começou faltavam cinco minutos para as nove da manhã (quase du-as da tarde em Portugal Con-tinental). Terroristas ataca-ram as duas cidades mais emblemáticas do país: Nova Iorque, o centro económico, e Washington, o centro polí-tico. Não usaram armas, ou bombas, ou mísseis. Os ter-roristas desviaram aviões ci-vis, cheios de passageiros, e atiraram-nos contra edifícios igualmente cheios de gente.

Um avião da American Air-lines, que viajava de Dallas para Los Angeles com 54 pas-sageiros, chocou contra uma das torres gémeas do World Trade Center, na baixa finan-ceira de Manhattan, em No-va Iorque. Durante escassos momentos, a cidade acredi-tou ter acontecido um aci-dente horrível — um apare-lho que se preparava para aterrar no aeroporto de la Guardia, ou no J.F.K., des-viara-se tragicamente da ro-ta. Dezoito minutos depois, a inocência desfez-se: um segundo avião, também da American, também desvia-do, desfez-se contra a segun-da torre. Fazia o percurso en-tre Boston e Los Angeles e levava 81 passageiros.

Durante a hora que se se-guiu, as torres gémeas arde-ram, expelindo fumo negro visível a dezenas de quiló-

metros de distância. Depois, desfizeram-se em pó. Ruiram. Possivelmente com 50 mil pes-soas dentro. Algumas pres-sentiram a derrocada e prefe-riram atirar-se da janela das torres, do que cair com elas. Outros saltaram antes, com os corpos em chamas. Muita gente viu.

Enquanto a tragédia de Nova Iorque corria no re-lógio, materializavam-se ou-tras, noutros lugares. Um ter-ceiro avião desviado — da United, —, era atirado con-tra o Pentágono, o quartel-ge-neral dos militares dos EUA. A ala oeste do edifício ficou destruída. Um quarto avião desviado despenhou-se numa floresta perto de Pittsburgh. Aparentemente, falhou o alvo, que não se sabe qual era. En-tretanto, aconteceu uma ex-plosão perto do Departamen-to de Estado, em Washington. Falou-se de um carro arma-dilhado, depois a notícia foi desmentida.

Perseguidos e castigadosBalanço dos ataques? À hora de fecho desta edição, não ha-via. “Não é possível perceber o impacto desta desgraça”, disse um porta-voz da polícia de Nova Iorque. Acrescentou: “O que queremos, agora, é sal-var quem precisa de ser sal-vo”. Havia 10 mil elementos das equipas de socorros na baixa de Manhattan. Sabe-se que, nos aviões, viajavam pe-lo menos 266 pessoas — um homem num dos voos fechou-se, aterrorizado, na casa de banho e, com um telefone, avi-sou os serviços de emergên-cia do desvio. E que, em Nova Iorque, a estimativa é de pelo menos dez mil mortos.

Todos os aeroportos dos Es-tados Unidos foram fechados. O que significa que os terro-ristas conseguiram parar o Governo dos Estados Unidos.

E, mais do que isso, consegui-ram fechar o país, que ficou isolado do mundo.

“Sofremos um atentado de grandes proporções”, disse George W. Bush, que se en-contrava na Florida quando a cadeia de ataques começou. Os ataques provaram que os Estados Unidos são vulnerá-veis a certo tipo de atentados. Atentados terroristas, come-tidos por suicidários. Atira-ram aviões contra o World Trade Center, contra o Pentá-gono — onde se encontrava o secretário da defesa, Donald Rumsfeld, que não ficou feri-do —, mas poderiam ter elegi-do como alvo a Casa Branca, ou o Congresso.

Já em segurança, o Presi-dente voltou a falar à nação, para dizer: “Não se enganem: os Estados Unidos vão perse-guir, e castigar, os responsá-veis por estes ataques cobar-des. Estou em contacto com os membros do meu gabinete. Vamos mostrar ao mundo que passámos o teste”. Pelas pala-vras de Bush e pelas acções do Pentágono, percebe-se que está montada a máquina da retaliação. Não se sabe é con-tra quem retaliar. O Presiden-te optou por não acusar qual-quer grupo terrorista pelos ataques. Os analistas mostra-ram-se igualmente cautelo-sos, o que é explicável com o “síndrome Oklahoma”, on-de houve um atentado, em 1995, imediatamente atribuí-do a terroristas árabes quan-do, afinal, foi o acto de um homem cidadão dos EUA, Ti-mothy McVeigh, para punir o Governo federal.

Porém, no subtexto de to-das as declarações feitas, es-tá um nome: Osama Bin La-den, o terrorista saudita que declarou guerra aos Estados Unidos e é protegido pelo re-gime dos taliban, no Afega-nistão. �

Um grupo terrorista declarou guerra aos Estados Unidos. Milhares de pessoas morreram em ataques. Não foram usadas bombas,

não foram usados mísseis. As armas dos terroristas foram aviões, cheios de passageiros, desviados e atirados contra edifícios.

Bush foi levado para lugar secreto. Os ministros e os dirigentes políticos também. A América refém dos terroristas, ou em estado de guerra?

Por Ana Gomes Ferreira, Nova Iorque

No total, eram 266 as pessoas transportadas pelos quatro aviões que ontem caíram nos EUA — dois nas torres do World Trade Center, um no Pentágono e outro na Pensilvânia, perto de Pittsburgh. Os quatro aparelhos, das duas maiores companhias de aviação dos EUA, a American (AA) e a United Airlines (UA), levavam a bordo 233 passageiros, 25 tripulantes e oito pilotos. Os aviões envolvidos da AA foram um Boeing 767 (voo 11 de Boston para Los Angeles) com 81 passageiros, nove tripulantes e dois pilotos; e um Boeing 757 (voo 77), que seguia do aeroporto de Washington Dulles para Los Angeles levando 58 passageiros, quatro tripulantes e dois pilotos. Os outros dois aviões eram da UA: um Boeing 757 (voo 93) que seguia de Newark com destino a São Francisco e transportava 38 passageiros, sete tripulantes e dois pilotos; e um Boeing 767 (voo 175) que tinha partido de Boston rumo a Los Angeles, com 56 passageiros, sete tripulantes e dois pilotos. Em Washington, um porta-voz do departamento de defesa norte-americano admitia a morte de “várias pessoas” no Pentágono. Em Nova Iorque não havia também qualquer ideia do número de vítimas. O presidente da Câmara de Nova Iorque, Rudolph Giuliano, falava vagamente de “um número enorme” de mortes. No World Trade Center trabalham 40 a 50 mil pessoas. Ao início da tarde (hora local) tinham sido tratadas nos hospitais da cidade cerca de 600 pessoas, entre as quais 150 feridos graves. M.J.G.

Ainda não há estimativa de vítimas

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T E R R O R N A A M É R I C A4 D E S TA Q U EPÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

EUA

PENSILVÂNIA

NOVAJERSEY

Long Island

Nova Iorque

Filadélfia

Washington D.C.

CONNECTICUT

100 km

MARYLAND

CentralPark

Broadway

GreenwichVillage

Lower East Side

M a n h a t t a n

TimesSquare

WorldTrade Centre

Battery Park

1 km

Bairrofinanceiro

Rio Hudson

REUTERS | PÚBLICO

O QUE ACONTECEU EM NOVA IORQUE

OCEANO ATLÂNTICO

NovaIorque

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13h45 Boeing 767 da American Airlines, que faria o voo 11, entre Boston e Los Angeles, com 92 pessoas a bordo, colide com a torre Norte.

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14h03 Boeing 757 da American Airlines, voo 77, entreWashington Dulles e Los Angeles, com 64 pessoas, embate contra a torre Sul.

WORLD TRADE CENTERPrimeira torre (417 metros de altura) construídaem 1972. Segunda torre concluída em 1973(415 metros). Cada uma tinha 110 andaresde escritórios e acomodava dez mil trabalhadores.

Equipas de emergência tentam evacuar as torres e a área circundante, enquantoos destroços caem sobre as ruas.

15h05 A torre Sul desaba, cobrindo as ruas com toneladas de destroços.

15h27Menos de meia depois, a torre Norte também desmorona.

Ontem de manhã, os auto-carros não andaram na zo-na sul de Manhattan, em No-va Iorque. Os táxis também não. Paravam na rua 14, e re-cusavam avançar. O metro tentou a normalidade, por instantes.

“Senhores passageiros, de-vido a uma situação de emer-gência no World Trade Center, o tráfico está congestionado. temos que parar. Sejam pa-cientes.” No interior da car-ruagem — a primeira carrua-gem —, uma mulher começa a chorar. “O meu marido tra-balha no World Trade Center. Preciso de chegar lá.”

Farto de esperar no cubículo que lhe compete, o condutor do metro decidiu fazer compa-nhia aos passageiros: a mulher à procura do marido, um casal muito bem vestido a caminho do trabalho, que não sabe de nada, um grupo de rapazes de camisa branca. “Já telefonas-te à tua família?” “Não, nem pensei nisso. Assim que ouvi a notícia, meti-me no comboio, só queria chegar lá”. “Vê lá se telefonas, és parvo ou quê?”

O condutor do metro decide ser simpático. Vai ouvindo, pe-lo intercomunicador, as notí-cias. Vai passando as notícias aos passageiros. É boa a inten-ção. É mau o resultado. “Pare-ce que o incêndio é cada vez maior. Parece que há bocados das torres a caír por todo o la-do”. A carruagem volta a me-xer-se. A carruagem volta a parar. “Senhores passageiros, estamos em posição de infor-mar que estão a acontecer ata-ques noutras zonas do país”.

A mulher à procura do ma-rido entra em estado de cho-que (antes, já tinha entrado em estado de choro convulsivo). Quer sair do comboio, parado entre estações. Estar às escuras não ajuda. Os passageiros es-tão nervosos. Começam a con-versar uns com os outros. “Eu, onde é que estava? Em frente à televisão, a tomar o peque-no-almoço. Vi o segundo avião chocar com a torre. Fiquei ar-repiado”. O casal a caminho do trabalho não percebe. “O quê? Não sabem? Os terroris-tas atiraram dois aviões contra o World Trade Center. Está tu-do a arder”. A mulher começa a chorar, o homem enterra as mãos no cabelo.

O condutor faz-se ouvir no-vamente. “Devido à situação de emergência que foi declarada na baixa da cidade, o metro es-tá parado. Queiram sair com cuidado”. Os passageiros sal-tam das carruagens, seguem, escoltados por homens de colete encarnado, pelos túneis negros, até uma saída na Broadway.

“Eu só queria sobreviver”Há milhares de pessoas nas ru-as. Caminham todas na mes-

ma direcção: para Norte, con-forme mandou a polícia, que esvaziou o Sul de Manhattan em tempo recorde. “Eu só que-ria sobreviver, sair dali para fora. Quero ir para casa”, diz um homem com os pés e as pernas cobertos de poeira, e o cabelo salpicado de cinza. “Eu vi. Eu vi. Pelo menos dez pes-soas a saltar daquele inferno. Saltaram mesmo lá de cima, para o chão”, conta uma mu-lher com as meias salpicadas de sangue que não é dela.

De repente, a multidão per-de a ordem. Desata a correr.

Corre o mais depressa que po-de. Alguns atiram-se para o chão. Alguns abrigam-se nas entradas do metropolitano, nas fachadas dos edifícios. Nas portadas das lojas, que estão todas fechadas (e assim fica-rão o resto do dia).

Parece que o tempo andou para trás, que Manhattan se chama Londres e está a ser atacada pelas bombas de Hi-tler. Há pessoas agachadas de mãos a proteger a cabeça. O que se passa? “Olha, olha. Está a cair. Está a cair. Não estou a acreditar no que estou a ver. Isto não é verdade. O World Trade Center está a desapare-cer”. As torres, que foram pra-teadas e um dos símbolos mais reconhecíveis da paisagem de Manhattan, caíram. Uma de cada vez, duplicando o horror dos nova-iorquinos.

O céu mudou de cor. Estava negro, do fumo dos incêndios que consumiram os edifícios. Ficou branco, de pó de tijolo e tinta e todas as coisas de que são feitas os prédios. As torres ruiram ordeiramente, andar por andar. E, durante instan-tes, quando a estrutura não passava de um destroço no chão, a forma, o relevo, per-maneceu, como um fantasma branco, feito de pó. Outros pré-dios, vizinhos, estão condena-dos. É uma questão de tempo. [durante a noite a CNN anun-ciou que o edifício 7 do com-plexo do World Trade Center-tinha acabara de ruir].

As torres gémeas viam-se da Cleveland Plaza. Agora, o es-paço entre arranha-céus onde os gigantes de prata se desta-cavam, está vazio. “Olha, olha, estás a ver. Era ali que estava a primeira. E ali, ali, estás a ver, era ali que estava a segunda”, explica Manuel, apontando pa-ra o vazio e vendo o que já não é possível ver. “O mundo mu-dou. O mundo que conhecia-mos acabou”.

Junto aos destroços, começa a definir-se a ordem. A polícia abre ruas só de entrada para as ambulâncias. Outras só de sa-ída. Faz rotas de fornecimento de água para os socorristas e vítimas. O céu volta a enegre-cer. Os escombros ainda estão a arder. Pelo céu voam papéis, destroços levezinho que ater-ram no outro lado do rio, em Brooklyn.

Uma cidade perfeita para tragédiasDizem os que pairam pelas ru-as que Nova Iorque é uma ci-dade perfeita para tragédias. Está habituada a muita gente, a muita confusão. Os nova-ior-quinos organizaram-se depres-sa. Rumaram para os hospi-tais, onde era preciso sangue. O povo parece estar habitua-do a organizar-se. Rumou aos hospitais, para dar sangue. Os que tinham rádios, levaram-nos para a rua, para se poder ouvir as notícias.

Os que tinham moedas, de-ram-nas a quem tentava tele-fonar das cabines públicas. habituaram-se à música das ambulâncias, que cruzaram a cidade todo o dia. Esvazia-ram o Sul, como lhes foi pedi-do. Pelo caminho, deixaram comentários. “Isto vai come-çar uma guerra. O inimigo é desconhecido, mas é uma guerra. Nunca imaginei que isto pudesse acontecer-nos. Mas aquele tipo não faz na-da de jeito. Nem falar sabe. Ouviu-o falar? Só disse bana-lidades. O Clinton, esse sa-bia falar. O Bush não tem jei-to e só fez porcaria no Médio Oriente. Olhe, sabe o que isto é? É a materialização de um pesadelo.” �

“O mundo que conhecíamos acabou”

Em Nova Iorque, minutos depois das primeiras explosões, o pânico instalou-se. Desesperadas, as pessoas tentavam chegar à parte sul de

Manhattan. Muitos dirigiram-se aos hospitais para dar sangue. Reportagem de Ana Gomes Ferreira, em Nova Iorque

As torres gémeas viam-se da Cleveland

Plaza. Agora, o espaço entre arranha-céus onde os gigantes de prata se destacavam

está vazio. “Olha, olha, estás a ver. Era ali que

estava a primeira. E ali, ali, estás a ver, era ali

que estava a segunda”, explica Manuel,

apontando para o vazio e vendo o que já não é

possível ver.

“Isto vai começar uma guerra. O inimigo é

desconhecido, mas é uma guerra. Nunca

imaginei que isto pudesse acontecer-nos. Olhe, sabe o que isto é? É a materialização de

um pesadelo.”

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D E S TA Q U E 5PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

NUNO PACHECOE D I TO R I A L

Inimigos invisíveis

ivididos entre a increduli-dade e o horror assistimos, ontem, ao que julgávamos impossível: o coração da

América golpeado por inimigos sem rosto. A analogia com Pearl Harbor foi imediata, em muitas das análi-ses produzidas, sobretudo na própria América. Mas, ao contrário do que sucedeu nessa altura, os assassinos de hoje não têm face. Vieram da pró-pria América, em silêncio, infiltran-do-se em voos internos, e consegui-ram aquilo que George W. Bush, na

sua forma excessivamente esquemá-tica de ver o mundo, contava receber um dia em forma de mísseis ou ar-mas biológicas. Enganou-se Bush e engaram-se os que pensavam como ele, aprovando a fabricação de escu-dos protectores para que o solo ame-ricano não fosse de novo pejado de sangue. Foi, e da forma mais bárbara. Isso prova que os Estados Unidos, se quiserem sobreviver nesta nova era de guerras travadas no campo do mais puro terror, têm não só entender melhor o verdadeiro peso dos confli-tos com que lidam (o Médio Oriente em particular) mas aceder à coopera-ção com outras democracias de modo a restaurar um mínimo de dignidade humana num mundo onde ameaça imperar a barbárie. As imagens de gente feliz, verdadeiramente feliz, ao saber dos atentados que mataram um número ainda incalculável de inocen-tes em território americano, é disso exemplo. Que nos devia envergonhar a todos e nos devia fazer reflectir so-bre o estado miserável a que chegá-mos. Não se trata já de apoiar facções adversas em guerra aberta, de atacar ou condenar países onde a violência é lei, mas sim de festejar a morte de milhares de inocentes a troco de nada. Apenas de uma ignominiosa ideia de vingança que só nos conduzirá, a todos, ao abismo.

De nada vale à América dizer, como ontem fizeram alguns analistas, que nenhum grupo de terroristas conse-gue intimidar a maior democracia do mundo. Porque, na guerra que hoje se trava a partir das trevas nenhuma democracia, nem mesmo a ameri-cana, está imune ao mais rude dos golpes. Os deploráveis atentados de ontem provam-no em absoluto. Como o prova o proliferar do terrorismo à escala mundial, num renascer dos piores fantasmas do passado, agora com mais ódio e menos piedade. Per-da da inocência, dizem? Talvez seja mais do que isso. A verdade é que, como se regista nesta edição em vá-rios textos, o mundo jamais será o mesmo. E nenhum de nós terá razões, no futuro, para se orgulhar disso. �

A partir de ontem o mundo jamais será o mesmo.

E ninguém terá razões para se orgulhar disso

D

D I S C U R S O D E G E O R G E W. B U S H

A liberdade foi atacada esta manhã por cobardes sem rosto. E a liberdade será defendida.Quero garantir ao povo americano que

todos os recursos do Governo federal estão empenhados na assistência às autoridades locais no salvamento de vidas e na

ajuda às vítimas destes ataques. Não se iludam: os Estados Unidos perseguirão e punirão os responsáveis por estes actos cobardes.

Tenho estado em contacto regular com o vice-presidente, o secretário da Defesa, a equipa de segurança nacional e o meu

gabinete. Tomámos todas as precauções de segurança apropriadas para proteger o povo americano. As nossas forças militares na América e por todo o mundo estão em estado de

alerta máximo e assegurámos as medidas de segurança necessárias à continuação em funções do vosso governo. Temos

estado em contacto com os líderes do Congresso e com os líderes mundiais para lhes garantir que faremos o que for preciso para proteger a América e os americanos. Peço ao povo americano

que se junte a mim no agradecimento a todos os que têm lutado duramente para resgatar os nossos concidadãos e que reze

comigo pelas vítimas e as suas famílias. O futuro da nossa grande nação está a ser testado. Não se iludam. Mostraremos ao mundo

que passaremos este teste. Deus vos abençoe.

Washington, uma capital ajoelhada

Pentágono atingido por um avião ficou em chamas e parcialmente destruído,

provocando o caos na capital norte-americana

JOANA AMADO

A capital dos Estados Unidos viveu um dia de caos, ficou sitiada, pa-rou. A capital da nação mais pode-rosa do planeta ajoelhou-se depois de um avião se ter despenhado con-tra o Pentágono, o centro nevrál-gico da defesa norte-americana.

Ontem ao fim do dia não era conhecida ainda a verdadeira di-mensão dos estragos, nem o núme-ro exacto de pessoas que se encon-travam no edifício, nem o número de feridos e mortos causados pela tragédia. Num dia normal, e se-gundo as agências, trabalham nas instalações do Pentágono cerca de 24 mil pessoas. O avião sacrificado era, julga-se, um Boeing 757 com 58 passageiros e seis tripulantes a bordo.

No momento em que o avião em-bateu no edifício de cinco andares, muitos curiosos rondavam a zona porque já tinha sido declarado um incêndio no Pentágono depois da explosão de um provável — mas não confirmado — engenho explo-sivo. O número de vítimas mortais poderá ter sido consideravelmen-te reduzido porque, na altura em que o avião se despenhou, as ins-

talações do Pentágono já tinham começado a ser evacuadas.

A meio do dia uma imensa co-luna de fumo negro agigantava-se ainda nos céus de Washington. As televisões mostram parte do edifício do Pentágono a ruir. Por esta altura já todos os edifícios ofi-ciais, Casa Branca, departamento de Estado, departamento do Te-souro, e mesmo Congresso norte-americano tinham sido evacua-dos. O estado de Emergência foi declarado. Sucederam-se notícias, não confirmadas e mesmo des-mentidas, de explosões aqui e car-ros armadilhados ali.

“Nunca nada será como dan-tes”, disse à AFP um funcioná-rio do departamento de Estado, a tremer da cabeça aos pés. “É uma viragem da história da Améri-ca”, lançou, antes de se afastar do edifício de oito andares em passo de corrida ordenado, jun-tamente com centenas de outros funcionários.

No Centro da cidade, uma outra coluna de fumo elevou-se perto da Casa Branca. Dezenas de car-ros de bombeiros, com as sirenes histéricas, aceleram pela Pensyl-vannia Avenue, em direcção à re-sidência oficial do Presidente dos EUA. Ao início da noite ainda nin-guém percebia o que se tinha pas-sado exactamente.

Os homens do Secret Service corriam para todo o lado, afastan-do toda a gente e cintando a Casa

Branca com uma fita amarela. A pé e de moto dezenas de polícias afastam os turistas, muitos deles velhotes, que faziam bicha para visitar a casa por onde passaram Roosevelt, Kennedy, Nixon,...

“Pouco a pouco é o caos”, afir-mou Dave Loeb, arrumando as cadeiras do seu restaurante pa-ra fechar as portas. Já não ia ter mais clientes. “É uma loucura, toda a gente corre em todas as di-recções ninguém sabe o que vai acontecer, o melhor mesmo é ir-me embora daqui”.

Nas ruas vizinhas o pânico ia-se contagiando. Milhares de pessoas saíam a correr dos prédios de es-critórios. “Vou para casa...tenho muito medo”, disse uma mulher à porta do banco onde trabalha. Os prédios foram ficando vazios: Banco Mundial, Fundo Monetá-rio Internacional, Arquivos Nacio-nais, os museus, o Mall — o relva-do entre o Congresso e o Lincoln Memorial — onde normalmente se passeiam multidões de pessoas, ficou vazio.

A sede do FBI foi evacuada e a sede do organismo da Segurança Nacional dos Transportes, que tem por missão investigar as catástro-fes aéreas, também ficou deserta. Por questões de segurança o Pre-sidente não está no seu posto. No ar, um avião militar e vários heli-cópteros sobrevoam a capital. Os olhares para cima eram de medo. Ninguém se sentia seguro. �

O voo que não chegou ao alvoNão se sabe e talvez nunca se venha a saber para onde é que se dirigia o voo 93 da Uni-ted Airlines (UA) que ontem se despenhou numa floresta no estado da Pensilvânia, a mais de 100 quilómetros de Pittsburg. A bordo seguiam 45 pessoas segundo números citados pelas agências e for-necidos pela companhia aé-rea. Não há sobreviventes.

O Boeing 757 da UA voava de Newark para São Francis-co, mas duas horas depois de levantar voo despenhou-se no meio de lado nenhum. Já pas-sava das 10h da manhã (ho-ra local). Já o World Trade Center tinha sido ferido de morte. E já o poderoso Pen-tágono se tinha desmorona-do parcialmente. Segundo a CNN um passageiro que se-guia a bordo do aparelho terá feito um telefonema a dizer que o avião tinha sido desvia-do. Por quem? Qual seria o alvo? �

Ú LT I M A H O R A

Explosões em Cabul

Às 23h, hora de Lisboa, Nic Robertson, o correspondente da CNN em Cabul, deu conta em directo de explosões e incêndios na capital do Afeganistão, provavelmente na

zona do aeroporto, e de mísseis a sobrevoarem a cidade.

Page 6: 11 de Setembro de 2001

INÊS NADAIS

Em finais dos anos 70, no auge da pa-ranóia alimentada pela Guerra Fria, a CIA elaborou uma lista dos edifí-cios mais sujeitos a atentados terro-ristas: do top constava, obviamente, o imponente complexo nova-iorquino do World Trade Center, que oferecia um potencial de número de vítimas praticamente imbatível. Vinte e tantos anos depois, as estatísticas falam por si: aos cerca de 50 mil trabalhadores do complexo, há que somar o fluxo de 150 mil a 200 mil visitantes que diariamen-te procuravam o terraço do 110º andar da Torre 2 para alcançar a melhor vista sobre Manhattan. Desde 1970 que as Twin Towers (“Torres Gémeas”) domi-navam o horizonte de Nova Iorque.

O World Trade Center foi um ca-valo de batalha do banqueiro David Rockefeller, que passou a década de 50

a tentar convencer os poderes públicos a alterar de vez a imagem de degrada-ção do West Side através da instalação do maior e mais concentrado centro comercial do mundo. A ideia era cen-tralizar em 406 mil metros quadrados a actividade das mais importantes empresas e agências governamentais com uma palavra a dizer no comércio mundial, estimular o desenvolvimen-to das áreas metropolitanas adjacen-tes e garantir a reanimação económi-ca do extremo sudoeste de Manhattan. A Administração do Porto de Nova Iorque e New Jersey encarregou-se do assunto e acabou por entregar ao arquitecto Minoru Yamasaki a tarefa de mudar a face do distrito financeiro da cidade sem ultrapassar um tecto orçamental de 500 milhões de dólares: o projecto desenvolvido pela Yamasaki and Associates, em colaboração com a Emery Roth and Sons, acabou por

privilegiar a construção de duas tor-res, cujo tamanho a Administração do Porto foi esticando até aos 410 metros, para satisfazer plenamente as suas metas de rentabilidade.

Na altura, as Torres Gémeas bate-ram todos os recordes de altitude, que-brados em 1974 pela Torre Sears de Chicago. A estrutura do complexo de sete edifícios consumiu 200 mil tone-ladas de aço, chegou a absorver uma mão-de-obra estimada em 3500 operá-rios da construção civil e demorou sete anos a ficar pronta. Depois, pas-sou a abrigar mais de 500 empresas e sociedades comerciais, agências go-vernamentais diversas, um centro co-mercial, terminais de metropolitano e comboio e um gigantesco parque de estacionamento. Entre as entidades que ali assentaram arraiais, encon-travam-se o Deutsche Bank, o Bank of America, o Crédit Suisse, a Embai-xada da Tailândia, um hotel com 250 quartos, serviços alfandegários, áreas de exposições, o gabinete de emergên-cia da cidade e a autoridade de trânsito nova-iorquina. A terra escavada para acolher os alicerces do complexo foi depositada no rio Hudson e serviu para alargar artificialmente para oes-te o perímetro da cidade, abrindo ca-minho à instalação de outro projecto megalómano: o complexo habitacio-nal do Battery Park e o vizinho World Financial Center, a que o World Trade Center estava ligado por uma ponte.

As últimas notícias sobre o World Trade Center davam conta da imi-nência de uma milionária operação que colocaria o complexo nas mãos da Vornado Realty Trust: a empresa ultimara um contrato de aluguer por 99 anos a troco de 3,12 mil milhões de dólares, mas nada tinha sido ainda assinado. � com ANTÓNIO MELO

T E R R O R N A A M É R I C A6 D E S TA Q U EPÚBLICO•QUARTA -FEIRA, 12 SET 2001

Twin Towers, “ex-líbris” por 31 anos

Pentágono, o coração militar dos EUA

Washington é uma cidade cal-ma, calma co-mo a Bona do romance poli-cial de John Le Carrè. Eu estava a dois quilómetros do Pentágono on-tem de manhã quando as Twin Towers, em No-va Iorque, e o próprio Pentágo-no foram alvo do maior ataque terrorista na história dos Esta-dos Unidos.

Entrevistava para o PÚBLI-CO um responsável da Federal Communications Commission, a entidade que atribui licenças de rádio e de televisão nos EUA, quando alguém interrompeu dizendo que um avião chocara com uma da torres em Nova Ior-que. Não houve qualquer evacu-ação. Passados minutos, sou-bemos do segundo ataque às Twin Towers — e, poucos minu-tos depois, levaram-me a uma sala onde uma dezena de pesso-as olhava para o Pentágono em chamas. O vento levava o fumo para Leste, mesmo em frente à sede da FCC onde me encontra-va. Tinha começado a guerra.

O edifício continuou em fun-cionamento, mas toda a gente saía para a rua. Saí também. As ruas de Washington estavam cheias de carros e de gente a pé. As pessoas largaram os empre-gos e partiram para casa.

Dirige-me para o National Press Building, a três quartei-rões da Casa Branca. O centro comercial dos primeiros an-dares estava fechado. Os ele-vadores não funcionavam. As centrais telefónicas estavam tão sobrecarregadas que só foi possível fazer chamadas locais durante mais de uma hora. Só então tomei conhecimento da dimensão da tragédia em No-va Iorque, de onde tinha saí-do domingo ao fim da tarde, ao mesmo tempo que a minha família terminava as férias e regressava a Lisboa num voo do Aeroporto JFK, em Queens, Nova Iorque.

Estive no sábado nas Twin Towers. Eram dois edifícios ma-ravilhosos, de linhas perfeitas e simples: toda a sua força deri-vava da altura a que se levanta-vam, mais de 110 andares. Não precisavam de mais arquitec-tura que a simplicidade. Eram um dos mais poderosos símbo-los de Nova Iorque, os edifícios mais altos da cidade e os mais altos depois do Sears Building em Chicago.

A arquitectura das torres re-alçava uma transparência inte-rior. A estrutura de suporte fora projectada nas paredes exterio-res, pelo que no interior havia amplos espaços, o que não suce-de em muitos outros arranha-céus. Talvez por isso, por esta-rem suportados principalmente pela estrutura das paredes ex-teriores, as Twin Towers eram mais susceptíveis a um ataque vindo de fora do que a partir

de bombas no seu interior.

As torres dominavam toda a zona baixa de Ma-nhattan. Esti-ve ali num con-certo ao ar livre, junto de uma das tor-

res, no sábado, e tomei depois o metropolitano numa estação subterrânea debaixo do World Trade Center. Os edifícios re-presentavam o comércio livre e, por isso, o capitalismo, e em consequência, simbolizavam o “inimigo” americano. Não ha-via, segundo creio, nenhum de-partamento oficial nos edifícios. Apenas empresas privadas.

As primeiras horas nas tele-visões locais mostravam o hor-ror dos ataques e o silêncio das autoridades. A perplexidade foi total. O presidente só apareceu às 13h15 locais, e a mensagem era gravada.

Com o Departamento de Es-tado evacuado (houve boatos de um carro-bomba explodin-do no edifício, a poucos quar-teirões daqui), este edifício onde estou, o National Press Building, foi transformado em centro de imprensa. Os cor-respondentes de todas as esta-ções e agências noticiosas ins-talaram-se nos gabinetes aqui disponibilizados pelas pessoas que aqui trabalham.

A sala de imprensa trans-formou-se em poucos minutos num improvisado palco para as habituais conferências de imprensa do State Department, no caso de haver uma comuni-cação aos jornalistas, o que po-derá não acontecer. Colin Po-wel, o Secretário de Estado, estava esta manhã no Peru e não deverá fazer sombra à equipa do Presidente, que é também o chefe das Forças Ar-madas e o responsável máximo pela segurança interna.

A maior parte dos canais de televisão centraram as su-as emissões em Nova Iorque e Washington. As imagens de Lower Manhattan mostram uma região devastada por uma guerra terrível. A esta hora (14h00 locais) o Pentágono — outro símbolo da América — continua em chamas.

Com os aeroportos fechados, os comboios parados, as esco-las fechadas, os edifícios pú-blicos evacuados, o corredor entre Nova Iorque e Washing-ton está refém do terror e do ambiente de guerra. Porque é um ambiente de guerra. Foi o que senti nas ruas: olhei rece-oso para o céu de Washington, como os outros apressados tra-seuntes, quando ouvi o ruído de um avião passando por ci-ma do centro da cidade. Esta-ria eu em Pearl Harbour? E, en-quanto entrava no edifício da imprensa, pensei: o que acon-teceria se os terroristas trou-xessem armas nucleares nos seus ataques suicidas?

EDUARDO CINTRA TORRES

E se fossem armas nucleares?

LUIS MIGUEL QUEIRÓS

“O Pentágono é o símbolo das convic-ções e do poder dos Estados Unidos”, resumiu o actual secretário da Defesa norte-americano, Colin Powell, num discurso proferido em 1993, por oca-sião das comemorações do 50º aniver-sário da construção do edificio.

Erguido em plena Segunda Guerra Mundial, para reunir num só local todos os departamentos do então Mi-nistério da Guerra, o Pentágono, onde trabalham 23 mil pessoas, entre milita-res e civis, transformou-se num verda-deiro sinónimo do Departamento da Defesa nele sediado. Projectado pelo

arquitecto George Edwin Bergstrom, o estranho edifício de cinco corpos dispostos em torno de um pátio cen-tral em forma de pentágono, começou a ser construído em 1941 e foi inau-gurado no dia 15 de Janeiro de 1943. Custou cerca de 90 milhões de contos. Inicialmente previa-se que tivesse três andares, mas, logo após o ataque a Pe-arl Harbour, em Dezembro de 1941, foi decidido acrescentar-lhe mais dois.

Localizado ligeiramente a sul de Wa-shington, mas já no estado da Virgínia, do outro lado do rio Potomac, é um dos maiores edifícios de escritórios do mundo, com uma área útil três vezes maior do que a do Empire State Buil-

ding. Cada uma das suas cinco faces exteriores mede quase 300 metros. Os seus corredores totalizam perto de 30 quilómetros de comprimento, mas foi concebido de modo a que não se-jam precisos mais de dez minutos para percorrer a distância entre quaisquer dois pontos do edifício.

Os serviços de apoio que coexistem, no interior, com as instalações dos vários ramos das forças armadas e do gabiente do secretário da Defesa, incluem um gigantesco restaurante, seis snack-bars e duas cafetarias. E um outro serviço que poderá ter sido gravemente afectado pelo ataque de ontem: uma livraria com 300 mil vo-lumes e colecções de 1700 publicações periódicas de todo o mundo.

Uma estatística oficial calcula em 4.500 as chávenas de café servidas dia-riamente no Pentágono. É apenas uma média. O número terá sido bastante superior em algumas ocasiões críti-cas, a começar pelos último anos da Segunda Guerra Mundial, quando serviu de quartel-general a Eisenho-wer e Marshall.

Foi no interior do Pentágono — na “Sala de Guerra” dos chefes de Estado-Maior — que se traçaram estratégias para as guerras da Coreia e do Viet-name, para a invasão de Granada ou do Panamá, e, mais recentemente, se desenhou a operação “Tempestade no Deserto”, contra o Iraque. � L.M.Q.

Um dos símbolos de Nova Iorque ...

Trabalham 23 mil pessoas no Pentágono

HYUNGWON KANG /REUTERS

MIKE SEGAR /REUTERS

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D E S TA Q U E 7PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

... e o que restou depois do ataque

O Pentágono foi atacado às 14h43 (hora de Lisboa)

PETER MORGAN /REUTERS

WILLIAM PHILPOTT /REUTERS

1. Foi prova-velmente Chris Patten, o comissá-rio europeu para as questões exter-nas, quem usou as palavras mais simples e, porven-tura, mais certas para resumir o sig-nificado do aten-tado terrorista contra os Estados Unidos. “Este é um dos raros dias sobre os quais se pode dizer sem risco de exagero que mudaram o mundo.”

Talvez fosse esta também a úni-ca certeza dos analistas interna-cionais, parcos em palavras e em comentários, confirmando com o seu silêncio e a sua prudência a verdade contida nas palavras do comissário britânico.

Em que cenário encaixa o que ontem se passou na América? Em que visão do mundo pós-guerra fria? Em que filme de ficção produ-zido em Hollywood?

2. Bastou, no entanto, observar as reacções generalizadas dos go-vernos mundiais e, em particular, dos governos europeus para que a dimensão da mudança de que fa-lou Chris Patten começasse a ga-nhar os seus primeiros contornos. Não tanto nas palavras de repúdio, de condenação e de solidariedade, mas sobretudo nos actos.

Sucederam-se as reuniões de emergência em Londres, Paris, Berlim, Roma, Praga, Atenas... As forças armadas e de segurança da França, de Itália, do Reino Unido, de todos os países, foram colocadas em alerta máximo. O tráfego aéreo suspenso ou desviado do centro das grandes cidades europeias. A segurança reforçada em todos os edifícios públicos.

Não se trata apenas da natural preocupação dos governos com uma eventual generalização dos atentados contra os aliados da América. Trata-se da necessidade de contrariar de qualquer forma o terrível sentimento de insegu-rança e de vulnerabilidade que ontem abalou as democracias eu-ropeias, do topo à base, do primei-ro responsável ao mais anónimo dos cidadãos.

Como disse Patten, a agenda in-ternacional vai mudar e vai desde agora ser dominada pela combate a uma nova espécie de terrorismo para o qual as democracias ociden-tais não estão preparadas. A União Europeia enfrentará agora, inexo-ravelmente, o seu momento da ver-dade para saber que mundo quer e o que pode fazer pelo mundo.

3. O “International Herald Tri-bune” escrevia há dias na sua pri-meira página: “Jogos de guerra tranquilizam o Pentágono”. O jor-nal informava que “um exercício de guerra” conduzido pelos altos comandos americanos concluira que, com os actuais recursos em tropas e armamento, as forças ar-madas americanas estavam em condições de dominar um adver-sário e de parar ao mesmo tempo a ofensiva de um segundo agressor.

A “batalha” em favor do novo sis-

tema de defesa an-ti-míssil (MD) lan-çada em todas as latitudes pela no-va administração americana é justi-ficada pela amea-ça que constituem para os EUA e pa-ra os seus aliados os chamados “Es-

tados-párias” como a Coreia do Norte, com capacidade para dispa-rarem mísseis.

Nem o “exercício virtual” do Pentágono nem a nova “guerra das estrelas” puseram a América ao abrigo do verdadeiro “massacre” que ontem se abateu sobre ela.

Hoje, a confiança dos america-nos no seu governo, no seu poder, na inviolabilidade do seu território — onde nunca se travaram guerras — terá provavelmente atingido o grau zero.

4. Também nos últimos dias, a imprensa americana dava conta das críticas generalizadas à inca-pacidade da nova administração para dar um rumo à sua política externa. A revisão da política externa que George W. Bush anunciou com fanfarras logo que chegou à Casa Branca estava a re-velar-se errática, no meio de uma “guerra” ainda não resolvida en-tre as várias “escolas” pelo lugar preponderante junto do Presiden-te. Colin Powell e o departamento de Estado contra os velhos “fal-cões” do vice-Presidente Cheney e os novos “falcões” do Conselho Nacional de Segurança.

A imprensa fazia o retrato de um Presidente ainda à procura de uma linha, de um estilo, de uma forma de se relacionar com o mundo. O pior dos momentos para Bush en-frentar o tremendo desafio à sua capacidade de liderança que o aten-tado constitui.

Não será uma retaliação dura e rápida contra os principais sus-peitos da barbárie que ontem se abateu contra a América — e que certamente ocorrerá — que pode restabelecer a confiança dos ame-ricanos na sua administração.

5. A tentação será, provavel-mente, a da segurança em todos os azimutes, alimentando a percep-ção da América contra um mundo hostil, fechada na sua frágil cara-paça de hiperpotência solitária. Os arautos do unilateralismo — o isolacionsimo dos tempos moder-nos que Roosevelt venceu quando respondeu a Pearl Harbour — e no “diktat” internacional vão ganhar provavelmente um novo alento.

“Há uma reflexão a fazer sobre a forma como as democracias oci-dentais (...) mas sobretudo os EUA subestimaram o agravamento da crise do Médio Oriente e o desespe-ro de alguns povos do mundo”, disse o Presidente da Comissão dos Ne-gócios Estrangeiros do Parlamen-to francês, François Loncle, citado pela AFP. Um comentário que, ten-do todo o fundamento, aponta para outro caminho. O “engagement” da América é provavelmente a única resposta que pode afastar o cenário impossível que ontem aconteceu.

TERESA DE SOUSA

O cenário impossível

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T E R R O R N A A M É R I C A8 D E S TA Q U EPÚBLICO•QUARTA -FEIRA, 12 SET 2001

JOANA AMORIM, LURDES FERREIRA E ROSA SOARES

Ainda é cedo para avaliar as consequências económicas, era a frase mais ouvida da boca dos economistas poucas horas depois dos “aparentes atentados terroristas” nos Es-tados Unidos da América.

“Ainda não consegui pen-sar sobre o assunto. O medo que existe é grande, mas nin-guém tem a ideia das conse-quências económicas. Admi-to que os americanos sejam capazes de reagir mais de-pressa que o resto do mundo. Agora o que se vai passar na economia mundial, não faço ideia. Pode ser um ataque de um conjunto de fundamenta-listas e não ter muitos efei-tos. Mas, se for um ataque vin-do do Médio Oriente, então os efeitos serão muito graves, concretamente a nível do pe-tróleo”, resumiu ao PÚBLICO Alberto de Castro, o professor catedrático da Universidade Católica doi Porto que, recen-temente, recusou um convite de Guterres para ministro da Economia.

No plano imediato, as bol-sas vão cair, o dólar vai en-

fraquecer e o petróleo irá disparar, previu. Os núme-ros parecem dar-lhe razão. Os mercados accionistas vi-veram horas difíceis, o que motivou a suspensão da nego-ciação em alguns mercados, incluindo Lisboa. A bolsa de Frankfurt, que encerrou uma hora antes do fecho normal devido a uma ameaça de bom-ba, esteve a perder chegado a perder 11 por cento. Paris recuou mais de sete por cen-to e Amesterdão 6,9 por cen-to. Melhor estiveram Londres (menos 5,4 por cento), Madrid (menos 4,5 por cento) e Lisboa (menos 4,3 por cento).

Contudo, os analistas recu-sam a ideia de “crash”, prefe-rindo acreditar que se esteja perante uma reacção emotiva. “Não é uma situação de pâni-co, o que aconteceu na bolsa é inferior ao crash de 1987 e a queda do dólar é relativamen-te insignificante”, desdramati-za Miguel Beleza, ex-ministro das Finanças e ex-governador do Banco de Portugal.

Quanto ao mercado cam-bial, o professor universitá-rio e consultor do Banco Co-mercial Português reconhece que a valorização de dois por

cento do euro face ao dólar é “bastante”, mas nota que “é preciso ter em conta que a moeda europeia está subva-lorizada e, por isso, é normal que suba”.

No que diz respeito ao pe-tróleo, Miguel Beleza frisa que a Organização dos Paí-ses Exportadores de Petróleo (OPEP) já garantiu que não haverá rupturas e que os pa-íses ocidentais têm grandes “stocks”. Há bem pouco tem-po o petróleo esteve a níveis bem mais elevados, recordou ainda. “Para já, o comporta-mento dos mercados não pa-rece sugerir perigos de adia-mento da recuperação dos Estados Unidos”, conclui o ex-governante.

“Mais turbulência”A não ser que haja uma re-acção psicológica, “do ponto de vista dos mecanismos eco-nómicos não há razão para o atentado afectar a economia”, corrobora o economista José da Silva Lopes, citado pela Lu-sa. Houve milhares de milhões de dólares de prejuízo e haverá gastos de milhares de milhões de dólares em segurança e ou-tras despesas, o que poderá es-

timular a economia, explica o presidente do Comité Econó-mico e Social.

“Os ataques terroristas po-derão dar ao presidente Bush a oportunidade de aumentar a despesa com o sector de defesa, criando uma expansão fiscal que tornará mais moderada a recessão americana”, precisou ao PÚBLICO o economista Sér-gio Rebelo, a viver e leccionar actualmente nos EUA. Para o economista, o ataque terroris-ta de ontem criará “mais tur-bulência numa altura em que a economia americana atraves-sa uma reestruturação doloro-sa com o redimensionamento do sector de tecnologias de in-formação”.

Se a quebra do dólar face ao euro e a subida do ouro são efeitos evidentes de curto pra-zo, Sérgio Rebelo considera já ser difícil prever o prazo de impacto sobre a economia, em geral, e sobre os preços das acções e do imobiliário, em particular. Quanto à Eu-ropa e Portugal, o efeito prin-cipal virá de “uma redução do fluxo de turismo dos EUA”, considera.

Menos optimista é a visão dos gabinetes de estudo do

Banco Português de Investi-mento e do Banco Espírito Santo (BES): Os atentados nos EUA “aumentam as possibili-dades de a economia mundial cair em recessão”, defendeu o economista chefe banco con-trolado pela família Espírito Santo, Miguel Frasquilho, em declarações à Lusa. Para o analista “ainda é cedo para tirar as conclusões, mas os atentados terão decerto um efeito de diminuição da con-fiança dos agentes económi-cos”, um factor fundamental para a economia. A queda dos mercados bolsistas e a subida em flecha dos preços do petró-leo, que hoje se verificaram, “são reacções a quente, que poderão não se prolongar”, dependendo das “acções que se seguirem”, ressalvou o eco-nomista.

Recuperação mais lentaMas “trata-se, sem dúvida, de um acontecimento nega-tivo para a economia mun-dial”, garantiu Miguel Fras-quilho, frisando a ausência de informação detalhada sobre os acontecimentos nos EUA. Os ataques terroristas “farão disparar os preços do petró-

leo, com as consequentes im-plicações a nível do índice de preços”, comentou por seu turno a economista chefe do BPI, Cristina Casalinho. O aumento do preço do petró-leo, um dos principais “mo-tores” da inflação, terá um impacte directo tanto na eco-nomia norte-americana, co-mo na europeia, precisou a analista.

A juntar a este factor há ainda a “instabilidade que os ataques causarão nos merca-dos accionistas, que já se en-contravam em dificuldades”, acrescentou.

Todos estes factores pode-rão “implicar uma maior de-mora na recuperação econó-mica” ou, até mesmo, “uma recessão económica”, admi-tiu Cristina Casalinho. Para a União Europeia, além do im-pacte directo por via do pre-ço do petróleo, os atentados poderão significar também uma “menor procura dirigida à Europa, por parte dos EUA, afectando as relações comer-ciais externas”, referiu, subli-nhando que se “tratam de me-ras conjecturas, por ser ainda prematuro avaliar as conse-quências” dos ataques. �

RISCOS DE RECESSÃO MUNDIAL AUMEN COM ATENTADOS AO CORAÇÃO DO CAPITA Antes dos “aparentes ataques terroristas” a situação económica internacional era má, mas os economistas alimentavam esperanças de poder escapar à

recessão. Agora, o mínimo que se pode dizer é que essas esperanças diminuíram. O primeiro balanço revela estragos consideráveis no dólar e nos mercados accionistas, em especial nos seguros e aviação. Os investidores procuraram portos mais seguros como o franco suíço, o ouro e o petróleo

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D E S TA Q U E 9PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

TAMLISMO.

Prejuízo depende das coberturas contra actos

terroristas. Resseguradoras americanas, londrinas e das ilhas Bermudas deverão ser

as mais afectadas

CLARA TEIXEIRA

Os estragos físicos e a perda de vi-das humanas causados pela des-truição das torres gémeas do World Trade Center, em Nova Iorque, e do edifício do Pentágono, em Washing-ton, representam certamente uma despesa de milhares de milhões de dólares para as seguradoras e res-seguradoras ao nível internacio-nal, mas para já é impossível fazer cálculos com um mínimo de fiabi-lidade.

O presidente da Associação Por-tuguesa de Seguradores (APS), An-tónio Reis, disse ontem ao PÚBLICO que, numa situação como a que ocor-reu nos Estados Unidos, “os seguros respondem quando há coberturas adicionais para actos terroristas”. Mas, conforme lembrou, o World Trade Center foi alvo de um ataque terrorista em 26 de Fevereiro de 1993, causando na altura grande prejuízo a algumas das maiores segurado-ras mundiais. “Não sei se terão con-seguido fazer um novo seguro com essa cobertura”, afirmou António Reis.

De acordo com a lógica de funcio-namento dos resseguros entre os

grupos do sector, as empresas de se-guros formam uma espécie de ca-deia que lhes permite repartir, umas com as outras, o risco financeiro nor-malmente associado a grandes ca-tástrofes. Por isso, António Reis não descura “a existência de uma crise no sector nos Estados Unidos, mas a nível mundial talvez não”.

Uma das áreas mais afectadas se-rá certamente o ramo vida, uma vez que os EUA são um dos países onde a “cultura” dos seguros de vida é mui-to forte. O presidente da APS cal-cula que a maior parte das pessoas que morreram no interior dos edifí-cios destruídos “teriam seguros de vida individuais”. Assim sendo, as empresas de seguros do ramo vida “irão ter certamente prejuízos avul-tados”, acrescentou.

Nos Estados Unidos, um dos res-ponsáveis do Instituto de Informa-ção dos Seguros, Robert Hartwig, estimou os prejuízos em “milhares de milhões de dólares”, explicando

que nas contas finais — cujo apura-mento pode demorar anos — entra-rão, não apenas os estragos causados no World Trade Center, mas também nos edifícios contíguos, assim como as despesas da sua reparação ou re-construção. A somar a essa factura, as seguradoras terão ainda de pagar o realojamento das empresas que ali tinham as suas sedes.

Estima-se que as seguradoras e resseguradoras mais afectadas se-jam, além das norte-americanas, as grandes empresas com sede em Lon-dres e nas ilhas Bermudas. As maio-res resseguradoras mundiais são a alemã Munich Re e a suíça Swiss Re, cujos títulos foram ontem fortemen-te penalizados nas bolsas europeias, contribuindo para que o índice Dow Jones European Stoxx para o sector dos seguros caísse 11,5 por cento. A Loyd’s of London, alojada na City londrina e ontem obrigada a evacu-ar as suas instalações por precau-ção, não fez qualquer comentário sobre eventuais prejuízos, mas a sua exposição ao mercado da aviação comercial é elevada.

No meio de tantas incertezas, sa-be-se apenas que os acontecimen-tos de ontem em Nova Iorque e Wa-shington poderão significar que acaba de ser quebrado um triste recorde no sector internacional dos seguros, envolvendo pagamentos aos três mil milhões de dólares (3,3 mil milhões de euros), em 1998, quando da explosão da plataforma petrolífera Piper Alpha na Grã-Bre-tanha. �

Entre as 14h e as 18h foram feitas 283 mil tentativas de

estabelecimento de ligação de Portugal para os Estados Unidos

As tentativas de comunicação telefónica entre Portugal e os Estados Unidos aumentaram consideravelmente ao longo da tarde de on-tem, com taxas de concretização muito baixas, não só por causa da sobrecarga das linhas mas, também, porque o funcionamento das redes de telecomunicações nos EUA foi par-cialmente afectado pelas consequências dos ataques terroristas registados em Nova Iorque e em Washington. De acordo com dados ofi-ciais da Portugal Telecom (PT), o tráfego nor-mal para os Estados Unidos é de 2300 chama-das tentadas por hora na rede fixa, com uma taxa de concretização (sempre que alguém do outro lado da linha atende o telefone) de 65 por cento.

Ontem, registou-se um acréscimo médio de 2500 por cento nas tentativas de chamadas, com taxas de concretização que, na cidade de Nova Iorque, por exemplo, desceram para os oito por cento do total. Entre as 14h e as 18h foram feitas 283 mil tentativas de estabeleci-mento de ligação para os EUA, registando-se um pico de utilização, entre as 15h e as 16h, em que o número de tentativas ascendeu a 93 mil por hora. Desse total, apenas 9 por cento foram concretizadas (8670 chamadas).

Embora sem valores absolutos, que só fica-rão disponíveis hoje, a rede de Internet do grupo PT registou uma duplicação das tenta-tivas de acesso a “sites” internacionais.

Muitos deles, tanto em Portugal como nos EUA, foram abaixo momentaneamente devido ao aumento não previsto do número de utili-zadores. Na rede móvel da TMN, a informação disponível apontava para um aumento de três vezes e meia no número de chamadas. � C.T.

Chamadas para os EUA aumentaram

2500 por cento

Sector segurador dos EUA pode entrar

em crise

Nos Estados Unidos, um dos responsáveis

do Instituto de Informação

dos Seguros, Robert Hartwig, estimou

os prejuízos em “milhares de milhões

de dólares”

G A N H A D O R E S

Petróleo

Títulos de rendimento fixo, sobretudo dívida pública de curto prazo

Metais preciosos como ouro, prata e platina

Divisas alternativas ao dólar como euro, iene e franco suíço

P E R D E D O R E S

Dólar

Acções, sobretudo de companhias de seguros e agências de viagens

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ROSA SOARES

“Nada vai ser como dantes!” Esta frase foi dita ontem por um operador contactado pelo PÚ-BLICO, numa reacção a quen-te e emotiva ao descalabro dos mercados accionistas. As horas que se seguiram ao atentado terrorista nos Estados Unidos foram de pânico para operado-res e investidores, especialmen-te pela ausência de dados que permitissem descortinar o que é que se vai passar a partir de hoje. Os mercados accionistas reagem mal a atentados terro-ristas e este atingiu o coração financeiro norte-americano. A reacção emotiva, de pânico, fi-cou visível em todos os mer-cados que estavam em fun-cionamento, especialmente na Europa, mas também na Amé-rica Central e do Sul. As bolsas de Nova Iorque não chegaram a arrancar, apenas os futuros estavam em funcionamento, o que evitou maiores perdas nos restantes mercados.

A Bolsa de Frankfurt chegou a perder mais de 11 por cento, tendo a negociação sido inter-rompida uma hora antes do seu encerramento devido a uma ameaça de bomba que se veio a revelar infundada e fechando

com uma queda de 8,4 por cen-to. A praça de Londres fechou a perder 5,4 por cento. A queda de Paris ultrapassou os sete por cento e a de Amesterdão 6,9 por

cento. Madrid e Lisboa encer-raram com as menores quedas da Europa, respectivamente 4,5 e 4,3 por cento.

Algumas bolsas europeias chegaram a suspender, por cur-to período de tempo, a nego-ciação, mas isso não evitou o sentimento de pânico de mui-tos investidores, o que se tradu-ziu na forte venda de títulos de

empresas seguradoras (como a Allianz e a Axa), ou de avia-ção, e num “refúgio” em com-panhias petrolíferas, ou nou-tros produtos financeiros de menor risco, como as obriga-ções do tesouro.

Apesar da forte queda dos mercados, alguns analistas e economistas parecem rejeitar a ideia de que se está perante um dia de “crash” — que tec-nicamente designa uma que-da superior a cinco por cento —, argumentando que os mer-cados não apresentaram um volume de transacções muito acima do que é normal. Se os mercados norte-americanos es-tivessem abertos, se algumas das grandes casas de investi-mento não tivessem sido direc-tamente afectadas pelo atenta-dos — como a Morgan Stanley, que era uma das maiores “in-quilinas” de uma das torres do World Trade Center —, a queda teria sido muito superior.Por isso, existe uma grande ex-pectativa a propósito da aber-tura dos mercados norte-ame-ricanos. Ontem, existia alguma “esperança” de que nos pró-ximos dias as bolsas de Nova Iorque possam estar encerra-das, na medida em que existia a indicação de que o sistema de compensação financeira só reabriria na próxima segunda-feira. Por enquanto há a confir-mação de que as bolsas norte-americanas estarão encerradas hoje. �

T E R R O R N A A M É R I C A10 D E S TA Q U EPÚBLICO•QUARTA -FEIRA, 12 SET 2001

O dólar foi um dos grandes per-dedores dos atentados de ontem em Nova Iorque e Washington, ao desvalorizar-se contra todas as moedas, desde o euro ao iene, passando pelo franco suíço. No caos que se seguiu “aos aparen-tes ataques terroristas”, aque-las divisas funcionaram como moedas de refúgio, um papel normalmente reservado ao bi-lhete verde em épocas de ins-tabilidade, resumiu um analis-ta citado pela Agência France Presse.

Antes de os dois aviões terem atingido as torres do World Tra-de Center, em Nova Iorque, o dólar trocava-se por 1,114 euros, 121,88 ienes e 1,6882 francos su-íços. Depois do atentado, o pâ-nico instalou-se e o bilhete ver-de caiu para 1,096 euros, 119,15 ienes e 1,6510 francos suíços. Nesta altura, operadores ame-ricanos afirmavam que o mer-cado estava “louco” e que era “o pânico a comprar [divisas alternativas ao dólar]”.

Tratou-se de um reacção “psicológica” aos atentados e ao clima de insegurança e des-confiança entretanto instalado nos mercados, concordam espe-cialistas portugueses contacta-dos pelo PÚBLICO, realçando o

fraco volume de transacções.Ultrapassada a “loucura”

pós-atentado, o bilhete verde acabaria por recuperar ligeira-mente, cotando-se a 1,093 euros, 119,06 ienes e 1,6420 francos su-íços. Feitas as contas no final do dia, o dólar tinha perdido quase um por cento face à moeda úni-ca europeia e cerca de 1,5 por cento contra a divisa nipóni-ca. A queda mais expressiva foi relativamente ao franco suíço (menos 8,2 por cento), que atin-giu máximos de sete meses.

Os operadores cambiais re-ceiam que os ataques empur-rem a maior economia do mundo para a recessão, expli-cam os analistas. A provar que os receios são fundados, a Re-serva Federal (Fed) dos EUA fez saber que iria garantir a liquidez dos mercados durante a crise americana. “A Fed está aberta e a funcionar. Estamos disponíveis para emprestar di-nheiro aos bancos às taxas de desconto em vigor”, garantiu o banco central norte-america-no em comunicado. Esta atitu-de da Fed, que visa satisfazer a procura de activos mais líqui-dos por parte dos investidores, foi seguida pelo Banco Central Europeu. � J.A.

“Agora só queremos comprar ouro e petróleo, tudo o resto será para vender”. Esta foi a di-visa adoptada pelos mercados após os atentados que abala-ram a América. Mal o primeiro avião embateu numa das tor-res do World Trade Center, o preço do barril de Brent para entrega em Outubro disparou, em Londres, para os 31,05 dóla-res, o valor mais alto desde 1 de Dezembro de 2000 — mais 13,1 por cento — e o maior ganho diário desde Março de 1998. Va-lor que contrasta com os 27,26 dólares a que era transaccio-nado antes dos atentados. A memória não deve, no entanto, ser curta, sendo conveniente relembrar que, há um ano, o Brent para entrega em Outu-bro chegava a cotar-se a 35,19 dólares.

Especialistas contactados pe-los PÚBLICO justificam esta alta na cotação do petróleo com base no medo generalizado de um aumento das tensões no Médio Oriente, região que é o maior produtor mundial de crude. Entretanto, o secretá-rio-geral da Organização dos Países Exportadores de Petró-leo (OPEP), Ali Rodriguez, afir-mou que o cartel de que fazem parte os principais produtores da região irá garantir ao mun-do “estabilidade de preços” e “provisões de petróleo suficien-tes”. A OPEP, que cortou recen-temente a produção em um mi-lhão de barris por dia, reúne-se no próximo dia 26.

Apesar de os analistas con-siderarem que “as reacções a quente que hoje determinaram

a subida do crude podem não se prolongar”, o ouro negro mais caro aumenta as pressões inflacionistas.

Em alta transaccionou-se também o “verdadeiro” ouro. Após os atentados a “onça troy” — 31,103481 gramas — disparou, em Londres, para 287 dólares, contra 271,40 regista-dos na abertura da sessão. Com o decorrer da sessão o ouro ain-da subiu mais, testou os 293 dó-lares, mas acabaria por recuar para 291 dólares no fecho. Em Portugal, o grama de ouro fino cotou-se a 1951,30 escudos, em alta ligeira face aos 1949,00 es-cudos registados na segunda-feira.

Na altura dos atentados o mercado de ouro americano, New York Comex, ainda não estava a transaccionar, o que veio a fazer mais tarde, mas apenas durante alguns minu-tos. Localizado nas imediações das torres gémeas, o New York Comex não deverá funcionar hoje. O mesmo não acontecerá com o mercado londrino, pois o Banco de Inglaterra informou que hoje haverá transacções, até porque, conforme explicou um analista à Reuters, “tirar 20 toneladas de ouro do mercado iria fazer com que os preços da onça subissem acima dos 300 dólares”.

Ainda no mercado de me-tais, a platina também fechou, em Londres, em alta, valendo a onça 445 dólares, contra os 438 dólares registados na segunda-feira. A prata seguiu tendência idêntica, fechando em alta. � JOANA AMORIM

Corrida ao petróleo e ao ouro

Dólar perde papel de refúgio

O dilema da suspensãoNos momentos de grande instabilidade dos mercados, há investidores que entram em pânico e tentam vender as suas posições a qualquer preço, enquanto outros parecem ter verdadeiros “nervos de aço” e entram a comprar. Só mais tarde se percebe se os primeiros per-deram uma fortuna ou se os segundos fizeram um bom negócio. Por isso, as opiniões dividem-se sobre a legi-timidade da suspensão temporária dos mercados, como ontem aconteceu na Bolsa de Lisboa por meia hora, pouco depois do atentado terrorista em Nova Iorque.A medida de suspensão também foi tomada em Espa-nha, França e Holanda, aparentemente sem que a deci-são tenha sido concertada entre estas praças. Uma hora antes de encerrar, a Bolsa de Frankfurt, a que mais caiu na Europa, também suspendeu a negociação.Na América Latina, São Paulo e Buenos Aires também interromperam a cotação e, no Extremo Oriente, a Bolsa de Taiwan fez saber que hoje não abrirá.A Comissão Executiva da Bolsa de Lisboa justificou a decisão como uma medida que pretendeu dar “algum tempo” aos investidores e agentes do mercado para se aperceberam do que se estava a passar. Esta interrup-ção não agradou a alguns operadores, que alegam que uma suspensão cria maior insegurança e expectativa, referindo que isso foi visível no agravamento das que-das, que eram de três por cento antes da suspensão. E, após a reabertura, chegaram aos cinco por cento, recuperando pouco antes do encerramento. R.S.

Os mercados accionistas viveram horas de pânico. Os analistas preferem acreditar que se está perante uma reacção emotiva, rejeitando,

para já, a ideia de um “crash” profundo

DERROCADA NAS PRINCIPAIS

BOLSAS INTERNACIONAIS

RALPH ORLOWSKI/REUTERS

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D E S TA Q U E 11PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

o atingirem o coração dos Estados Uni-dos pela pri-

meira vez na história, os horríveis atentados terroristas de ontem abrem uma nova fase na vida internacional. No plano económico e financeiro, foi tre-mendamente abalada a convicção de que os EUA estariam ao abrigo das perturba-ções sociais e políticas que, por vezes, têm afectado outros países desenvol-vidos, em particular na Europa. Tal convicção era uma das razões que fa-ziam afluir à América capitais de todo o mundo. Coincidindo esse abalo com a quase recessão económica que já ali se fazia sentir, torna-se agora bem real o risco de uma saída em massa de dinheiro dos EUA, com o dólar em baixa, tendo como consequência gra-ves perturbações financeiras inter-nacionais.

Mas serão políticos os efeitos mais profundos da tragédia de ontem. Os americanos sentem-se hoje muito vul-neráveis, até porque não estavam ha-bituados a este tipo de atentados em sua casa. A grande preocupação era um ataque de mísseis por parte de um país “terrorista”. Essa era, pelo menos, a justificação apresentada por Washington para avançar com o sis-tema de defesa anti-míssil, violando o tratado ABM e preocupando russos, chineses e europeus. Aquele siste-ma parecia oferecer tranquilidade

aos americanos, pro-tegidos por um escudo anti-míssil — situação ideal para as tendên-cias isolacionistas ho-je prevalecentes em Washington. Ora essa visão foi ontem brutal-mente desmentida.

Os americanos des-cobriram que não es-tão ao abrigo de coisa alguma, não obstante

serem a única superpotência no mun-do. E talvez descubram também que, hoje, ninguém, nenhum país, pode viver isolado, por muito forte que seja ou julgue ser. Toda a política unilate-ralista de George W. Bush fica, assim, posta em causa. Os EUA precisam da cooperação internacional, até para combaterem eficazmente o terroris-mo. Não podem continuar a rasgar tratados internacionais nem a despre-zar as organizações políticas e econó-micas multilaterais. Pearl Harbour, há sessenta anos, acordou a América para a necessidade de cooperar com os aliados europeus no combate ao nazismo. Tenho esperança de que este segundo Pearl Harbour, não menos trágico do que o primeiro, ponha um travão nas tendências isolacionistas e unilateralistas que se acentuaram com a nova administração Bush e leve Washington a liderar a edificação de uma globalização politicamente enquadrada. Se assim acontecer, ao menos algo de positivo poderá emer-gir da tragédia de ontem. Tal como há sessenta anos.

AFRANCISCO

SARSFIELD CABRAL C O M E N T Á R I O

Pearl Harbour II

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T E R R O R N A A M É R I C A1 2 D E S TA Q U EPÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Milionário saudita, que tem as suas bases

no Afeganistão, é o principal suspeito

ALEXANDRA PRADO COELHO

Há três semanas, Osama bin Laden, o milionário saudita considerado o inimigo núme-ro um dos Estados Unidos, avisou que iria lançar um ata-que sem precedentes contra interesses norte-americanos pelo apoio que Washington dá a Israel, revelou ontem à Reu-ters Abdel-Bari Atwan, editor do jornal “al-Quds al-Arabi”, baseado em Londres.

“Pessoalmente recebemos informação de que ele estava a planear ataques muito, mui-to grandes contra interesses americanos”, disse Atwan, que já entrevistou Bin Laden e mantém contactos próxi-mos com alguns dos seus se-guidores.

O Egipto também tinha avi-sado os EUA para a possibili-dade de atentados terroristas se a actual política americana no Médio Oriente — evitar um envolvimento directo, apoiar incondicionalmente Israel — continuasse. “Se os EUA não encontrarem uma solução pa-ra a violência [no Médio Orien-te], esta poderá transformar-se em terrorismo”, tinha dito, no dia 26 de Junho, o Presi-dente egípcio, Hosni Mubarak. No dia 18 do mês seguinte, Washington lançou um alerta contra riscos de atentados vi-sando interesses americanos na península arábica. Osama bin Laden esteve sempre sob suspeita.

No início de Fevereiro, a CIA divulgou o seu relatório anual sobre as ameaças à segurança dos EUA, em que considerava o milionário de origem saudita (actualmente a viver no Afe-ganistão sob a protecção dos ultra-fundamentalistas islâmi-cos que governam o país, os taliban) como “a mais imedia-ta e séria ameaça à segurança nacional”.

“Desde 1998, Bin Laden de-clarou todos os cidadãos norte-americanos como alvos legíti-mos para um ataque”, disse na altura o chefe da CIA George Tenet, recordando que “como ficou demonstrado pelos aten-tados nas nossas embaixadas em África em 1998 [Quénia e Tanzânia], ele é capaz de pla-near ataques múltiplos com pouco ou nenhum aviso”.

Mas o plano de guerra glo-bal de Bin Laden não data de 1998. Vem de muito antes. Segundo uma investigação publicada pelo “New York Times”, foi em 1987 que o mi-lionário saudita “teve uma vi-são”. “O momento tinha che-gado, disse aos amigos, para iniciar uma ‘jihad’ [guerra

Bin Laden tinha ameaçado ataque sem precedentes

Taliban negam envolvimento do seu “hóspede”Os taliban convocaram uma conferência de imprensa no Paquistão poucas horas depois dos atentados nos EUA, para negarem veementemente o envolvimento do seu “hóspede” Osama bin Laden. “Osama é apenas uma pessoa, ele não tem os meios para fazer este tipo de actividades”, afirmou o embaixa-dor dos taliban (grupo ultrafundamentalista islâmico, no poder no Afeganistão) em Islamabad, Abdul Salam Zaeef. “Queremos dizer ao povo americano que o povo afegão partilha a sua dor. Esperamos que os terroristas sejam apanhados e julgados”, disse o diplomata, subli-nhando mais uma vez que as autoridades afegãs “não permitem que Bin Laden use o território do Afeganis-tão contra outro país”.A mesma ideia foi depois repetida em Cabul pelo porta-voz dos taliban Abdul Hai Mutmaen: “O que aconteceu nos EUA não é obra de pessoas vulgares. Pode ter sido obra de um governo. Mas Osama bin Laden não podia ter feito isto. Nem nós.” Interrogado sobre se o Afega-nistão receia uma retaliação americana, o embaixador Zaeef disse esperar que “a América não tome uma medida tão rápida e trágica sem completar uma investi-gação”. Em 1998, após os atentados contra as embaixa-das no Quénia e na Tanzânia, os EUA bombardearam o Afeganistão e o Sudão.

santa] global contra os gover-nos seculares corruptos do Médio Oriente e as potências ocidentais que os apoiam”.

A estratégia é utilizar os seus campos no Afeganistão, convidando guerrilheiros de todo o mundo para se treina-rem para uma guerra santa. Com este projecto, Bin Laden quer reunir as forças disper-sas em conflitos desde as Fili-pinas à Argélia e concentrá-los num único objectivo. Desta “visão” nasceu o grupo “Al Qa-eda”, árabe para “a base”.

Este grupo atraiu malaios, argelinos, filipinos, argelinos, palestinianos, egípcios, que têm em comum a vontade de combater em nome do Islão e o ódio aos EUA. “As políticas nacionais estão por detrás do que eles fazem, mas é muito mais visionário do que isso”, explica Robert Blitzer, um an-tigo especialista do FBI em contraterrorismo. “Isto é à es-cala global”.

Os cálculos da CIA apon-tam para que “Al Qaeda” pos-sua uma dúzia de campos no Afeganistão, onde já foram treinados mais de cinco mil combatentes, que, quando re-gressam aos respectivos paí-ses, criam células ligadas ao grupo-mãe. Deverão existir pelo menos 50 destas células. Os homens de Bin Laden têm à disposição a mais moderna tecnologia de comunicações e, segundo peritos, estarão a de-senvolver armas químicas. Os atentados são planeados du-rante meses ou mesmo anos, e o grupo usa “submarinos”, ou seja, agentes infiltrados entre a população local.

“Ele não quer negociar”O inspirador desta poderosa rede é um homem magro, de

aspecto calmo, turbante na ca-beça e longa barba. Osama bin Laden nasceu em Riad em 1975 e foi o 17º dos 52 filhos de um rico construtor civil da Arábia Saudita. Apesar de ter nascido numa família religiosa, na sua juventude Osama não era pro-priamente um exemplo. Nos seus tempos de estudante, em Beirute, antes da guerra civil, era mais visto nos bares do que nas mesquitas. Discreto, vesti-do à ocidental e sem barba, vi-via na sombra de um dos seus irmãos mais velhos.

Mas aos 22 anos, a sua vida conheceu uma mudança ra-dical. Aconselhado pelo chefe dos serviços secretos sauditas e ajudado pela fortuna da famí-lia, começou a treinar comba-tentes para lutar contra os so-viéticos no Afeganistão. Com o tempo, e o fim da guerra afe-gã, foi-se afastando cada vez mais da Arábia Saudita (que o expulsou em 1991 e acabou por lhe retirar a nacionalida-de em 1994), acusando-a de se ter vendido à América. Bin La-den refugiou-se no Sudão, mas, pressionadas pela comunidade internacional, as autoridades de Cartum expulsaram-no. Os taliban afegãos abriram-lhe então as portas.

Olivier Roy, um especialista francês em islamismo citado pelo “New York Times” afir-ma que o maior trunfo da Al Qaeda é o facto de milhares de combatentes espalhados pe-lo mundo já não encararem a sua luta como nacional, mas sim global, o que os torna “imunes” a pressões políticas e militares normais. As ac-ções de Bin Laden, diz Roy, “não são a continuação da po-lítica por outros meios”. Bin Laden é diferente. “Ele não quer negociar”. �

RAHIMULLAH YOUSAFAZI/REUTERS

Osama bin Laden

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D E S TA Q U E 1 3PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Antes do ataque de ontem, o pior atentado em território dos EUA fora levado a cabo não por um grupo terrorista estrangeiro mas por um ci-dadão americano: Timothy McVeigh. Em 1995, McVeigh (e cúmplices como Terry Nichols, ainda à espera de sentença) mataram 168 pes-soas num edifício federal em Oklahoma City.

O atentado de McVeigh cha-mou a atenção sobre as milí-cias paramilitares extremis-tas que existem nos Estados Unidos. McVeigh, um antigo soldado, estava ligado a esse movimento de grupos que consideram que as liberdades individuais dos cidadãos nor-te-americanos estão a ser pos-tas em causa por uma conspi-ração do Governo federal.

A ideologia destes extremis-tas é confusa e variada, mas o que eles têm em comum é a crença de que o poder central norte-americano, aliado às Na-ções Unidas e/ou a uma cons-piração sionista internacional, querem impor um “Governo sombra” nos EUA, que toma-ria medidas como proibir o di-reito de porte de armas.

McVeigh, como outros ex-tremistas, agiu para se vin-gar de acções das forças poli-ciais federais como os cercos de Waco (em que morreram vários membros de uma seita religiosa radical) ou de Ruby Ridge (em que morreu a fa-mília de um radical de extre-ma-direita, Randy Weaver). E vingou-se atacando um edifí-cio federal. Este ano, foi exe-cutado pelo crime.

Poderão os ataques de on-tem ser novas ofensivas des-

tas milícias? Não é provável. Bruce Hoffman, analista nor-te-americano, disse à BBC que “depois de Oklahoma, os media inflacionaram o poder [das milícias], atribuiram-lhes uma força que elas nunca tiveram”.

Com efeito, o acto mais es-pectacular destas milícias — o atentado de Oklahoma — foi levado a cabo por um in-divíduo solitário ou por um pequeno grupo, e com meios

relativamente rudimentares; nenhuma milícia alguma vez mostrou capacidade logística para organizar ataques da di-mensão do de ontem.

Além disso, alguns dos alvos dos ataques de ontem não se enquadram nos objectivos das milícias: a luta dos paramilita-res radicais é contra o Governo federal, não contra a iniciativa privada (o World Trade Center) ou a política externa america-na (o Pentágono).

Sobretudo, as milícias pa-ramilitares entraram clara-mente em decadência depois de Oklahoma. Segundo o Sou-thern Poverty Law Center, que faz o acompanhamento deste fenómeno nos EUA, as milícias aumentaram no pe-ríodo imediatamente após o atentado de McVeigh: chegou a haver 858 grupos conheci-dos em 1996.

Mas depois, seja por desi-lusão e desinteresse dos seus

membros, seja pela acção do FBI que atacou fortemente o movimento de milícias, o número caiu para apenas 194 actualmente. E a maioria destes grupos distanciou-se do acto de McVeigh, renun-ciando a acções violentas. Os seus protestos contra o Go-verno federal resumem-se a actos simbólicos como não registar as matrículas dos seus carros ou não pagar im-postos. � P.R.

Os Estados Unidos são a única superpotência mundial. O seu papel nas relações internacio-nais criou-lhes muitos inimigos, alguns dos quais terão sorrido com a notícia do ataque de ontem em Washington e Nova Iorque. Alguns tal-vez até gostassem de ter estado por trás do ata-que — mas teriam capa-cidade para isso?Na lista de suspeitos da responsabilidade deste ataque, a primeira pista é islâmica — Osama bin-Laden, o “inimigo núme-ro um” da América. Mas, no Médio Oriente, os EUA têm outros ini-migos. Saddam Hussein é o mais óbvio: derrota-do na Guerra do Golfo por uma aliança inter-nacional liderada pelos EUA, o ditador do Iraque vitupera regularmente o “grande Satã” de Wa-shington. Desde há dez anos que o Iraque vive no isolamento, e as suas instalações militares são periodicamente bombar-deadas por aviões norte-americanos.O apoio dos Estados Uni-dos em Israel valeu-lhes o ódio do mundo árabe, particularmente dos en-volvidos no conflito isra-elo-palestiniano. As or-ganizações radicais armadas que defendem a causa palestiniana de-votam a Washington o mesmo tipo de hostilida-de que a Israel; mas tra-dicionalmente os movi-mentos palestinianos Jihad Islâmica, Hamas ou FPLP, ou o libanês He-zbollah, não incluem nos seus métodos ataques a objectivos americanos fora do Médio Oriente. Moammar Khadafi, o lí-der da Líbia, também é um inimigo fidagal dos EUA. O enigmático e im-previsível Khadafi está, no entanto, num proces-so de reaproximação ao mundo ocidental. O mes-mo se pode dizer de ou-tro dos países que fazem parte da lista americana de “estados-párias”, a Coreia do Norte — não é provável que o regime estalinista de Kim Jong-il optasse por uma acção deste tipo, particular-mente numa altura em que Pyongyang tem mostrado abertura ao exterior.Na Colômbia, os norte-americanos têm uma forte presença militar, no âmbito do seu com-bate à luta contra as drogas. Aí enfrentam os cartéis de droga de Medellin e Cali, e as guerrilhas (também as-sociadas ao tráfico) das FARC e do ELN. No en-tanto, é duvidoso que estes movimentos te-nham capacidade para organizar um ataque com a amplitude do de ontem. P.R.

Milícias – o inimigo interno

Os inimigos da América

As torres gémeas do World Trade Center foram reduzidas a cinzas

O atentado de Oklahoma chamou a atenção sobre as milícias paramilitares extremistas que existem nos EUA

DOUG KANTER/EPA

JEFF MITCHELL/REUTERS

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T E R R O R N A A M É R I C A14 D E S TA Q U EPÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

África, América, Médio Oriente ou Ásia, não há praticamente nenhum can-to do mundo onde um qualquer grupo ou guerrilha não tenha aparecido de surpresa a dizimar sem olhar a nada. Um dos últimos ocorreu em Angola, no dia 10 de Agosto, quando a UNITA, o movimento que combate o Governo do Presidente José Eduardo dos Santos, atacou um comboio que circulava a Sul de Luanda, matando 252 pessoas — um dos piores incidentes da longa guerra civil angolana. Antes desse ataque, no dia anterior, um palestiniano suicida tinha matado cinco pessoas e ferido outras 90 em Jerusa-lém, no âmbito do levantamento palesti-niano que começou há quase um ano e tem sido farto de atentados do mesmo tipo. Como o de dia 1 de Junho, quando um outro combatente palestiniano tam-bém se matou a si próprio e a outras 21 pessoas num clube de Telavive. O ano passado viu dois grandes atenta-dos à bomba, um no dia 12 de Outubro, contra um “destroyer” dos Estados Uni-dos no porto de Áden, no Iémen, em que morreram 17 marinheiros, e outro, em Fevereiro, em Ozamis, nas Filipinas, on-de as vítimas mortais ascenderam a 45. 1999 tinha sido pior: 110 mortos — e 400 feridos — num ataque, em Outubro, contra um mercado da capital, Grozni, nunca se soube muito bem perpetrado por quem, e 276 outros noutras acções

com explosivos no mês anterior, dois em Moscovo e um em Buynaksk, no Da-guestão, além de centenas de feridos. Em Março, meia centena de pessoas ti-nham morrido na explosão de um carro armadilhado num mercado de Vladika-vkaz, no Sul da Rússia. O ano de 1998 tinha ficado marcado pelo mais violento dos atentados na Irlanda do Norte nos últimos trinta anos, em Omagh, em que morreram 29 pessoas, assinado pelo Real IRA, dissidência ra-dical do Exército Republicano Irlandês, e pelos que mataram, nas embaixadas norte-americanas em Nairobi e Dar-es-Salam, 224 pessoas e feriram milhares de outras. Quanto a 1996, atentados mataram quase todos os meses: 300 mortos no estado indiano de Assam em Dezem-bro, 125 no desvio de um Boeing 767 etíope ao largo das Comores em No-vembro, 21 em Multan, no Paquistão, em Setembro, 78 no Sri Lanka em Ju-lho, 200 feridos num atentado do IRA, em Manchester, em Junho, 26 em Je-rusalém em Fevereiro, mais 31 no Sri Lanka em Janeiro. 1995 foi o ano do atentado com gás no metro de Paris, onde morreram oito pessoas e ficaram intoxicadas outras 86, e do de Oklahoma, que causou 168 mor-tos. 1994 o da explosão da comunidade mutualista judaica em Buenos Aires, onde uma bomba matou 96 pessoas.

O primeiro acto terrorista contra o

World Trade Center ocorreu em 1993,

causando seis mortos e mais de mil feridos

MARCO VAZA

A 26 de Fevereiro de 1993, uma carrinha estacionada na ga-ragem de uma das torres do World Trade Center explodiu, causando a morte a seis pes-soas e ferimentos a mais de mil, para além de ter provo-cado mais de 300 milhões de dólares (330 milhões de euros) em prejuízos, naquele que foi o primeiro acto terrorista internacional a ocorrer em território norte-americano. A explosão abriu uma enorme cratera na zona subterrâneo das “Twin Towers”, provocan-do o colapso dos cinco primei-ros andares (do qual resulta-ram as seis vítimas mortais), e, consequentemente, um visível abanão das torres.

O xeque egípcio Omar Ab-del Rahman, chefe religioso de uma mesquita em Nova Ior-que, e nove outros militantes islâmicos, um grupo onde se incluiam cidadãos do Sudão, Egipto e Jordânia, foram con-denados em 1995 a prisão per-pétua por conspiração e outras acusações ligadas ao atenta-do. Três anos depois, o alegado cérebro da operação, Ramzi Yousef, de nacionalidade in-determinada (possivelmente iraquiana), foi também conde-nado a prisão perpétua.

Quando a América deixou de ser invulnerável

Na sexta-feira do atentado, a polícia de Nova Iorque re-cebeu várias chamadas de or-ganizações diferentes a rei-vindicar a responsabilidade do atentado, incluindo a auto-proclamada Frente de Liber-tação da Sérvia, e as suspei-tas iniciais apontavam para uma acção relacionada com o conflito na Jugoslávia. Mas a “pista balcânica” foi rapida-mente abandonada e as aten-ções concentraram-se numa possível autoria de terroris-tas islâmicos.

A investigação conduziu as autoridades norte-america-nas à captura dos suspeitos, que já estariam a preparar atentados contra a sede do FBI, da ONU e de pontes e túneis que ligam Nova Ior-que e New Jersey, no seu pró-prio território, confirmando as suspeitas que apontavam para a existência de uma re-de clandestina formada por fundamentalistas islâmicos destinada a espalhar o terror pelo país.

Mais difícil foi a “caça” a Ramzi Yousef, que fugiu na noite a seguir ao atentado e chegou a ter a cabeça a prémio, tendo sido, inclusi-vamente oferecida uma re-compensa de dois milhões de dólares (2,2 milhões de euros). Só em 1995, depois de uma perseguição que se estendeu por vários países (passou pe-las Filipinas, onde estaria a preparar o assassínio do Papa João Paulo II), é que Yousef foi capturado em Islamabad, no Paquistão.

“As torres do World Trade

Anos de bombas e mortos

TRINTA ANOS DE ATENTADOS NA AMÉRICA

1970Agosto, 24 — Um investigador universitário que trabalhava para o Exército é morto em Madison, no Wisconsin, num atentado assinado por militantes ditos “pacifistas”

1975Janeiro, 24 — Uma explosão num café de Nova Iorque causa quatro mortos. É um dos 49 atentados atribuídos entre 1974 e 1977 ao grupo nacionalista das Forças Armadas de Libertação Nacional de Porto Rico

Dezembro, 29 — Atentado à bomba no aeroporto La Guardia, de Nova Iorque: 1 morto e 75 feridos

1981Maio, 16 — Explosão no terminal do aeroporto Kennedy assinado pela “Resistência Armada Porto-Riquenha”

1993Fevereiro, 26 — Ataque contra uma das torres gémeas do World Trade Center, em Nova Iorque: seis mortos e mil feridos. Quatro islamistas integristas de um grupo liderado pelo xeque Omar Abdel Rahman, guia espiritual de uma organização egípcia, são condenados em Maio de 1994 a um total de 240 anos de prisão pela autoria do ataque

1995Abril, 19 — Um atentado com uma viatura armadilhada contra um edifício de Oklahoma causa 168 mortos e mais de 600 feridos. Autor: Timothy McVeigh, um antigo combatente da guerra do Golfo, simpatizante de milícias e pequenos grupos hostis ao Governo federal

Outubro, 9 — Um comboio que assegura a ligação Miami-Los Angeles descarrila na sequência de um atentado reivindicado por um grupo desconhecido — “Os Filhos da Gestapo”. Uma pessoa morre e 80 outras ficam feridas. As autoridades relacionam a acção com o drama de Waco, no Texas, em Abril de 1993

1996Julho, 27 — Explosão de bomba no Parque do Centenário, em Atlanta, na Geórgia, durante os Jogos Olímpicos: dois mortos e 110 feridos

1998 Therodore Kaczynski, conhecido por “Unabomber”, é condenado a prisão perpétua em Maio de 1998 por ter conduzido uma cruzada anti-modernista através de cartas armadilhadas que em três anos matou três pessoas e feriu outras 23

Center não estariam de pé se eu tivesse dinheiro e explo-sivos suficientes”, terá dito Ramzi Yousef a um agente do FBI quando regressava aos EUA para ser julgado. A in-vestigação levada a cabo na altura chegou à conclusão de

que com uma maior quanti-dade de explosivos e com a colocação de duas carrinhas armadilhadas em locais es-tratégicos as consequências poderiam ter sido bem pio-res, tendo em conta a hora (12h18) a que ocorreu o aten-

tado. “Em vez dos seis mortos, o atentado teria posto em ris-co a vida de 70 mil pessoas”, referiu na altura Robert Ku-pperman, especialista em ter-rorismo do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington. �

O atentado de 1993 contra o World Trade Center causou mais de 330 milhões de euros de prejuízos

EVY MAGES/REUTERS

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D E S TA Q U E 15PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

19 DE ABRIL DE 1995,9 HORAS E 03 MINUTOS

Kathy olhou na direcção do infantário,

onde deviam estar Chase e Cole, e eles

não estavam lá

FERNANDO SOUSA

A penúltima vez que uma bomba fez tremer os Estados Unidos foi a 19 de Abril de 1995, em Oklahoma. O autor do atentado, Timothy McVei-gh, foi depois condenado à morte. Morreu por injecção letal há três meses.

Era, como ontem, também manhã, os americanos acor-davam e preparavam-se pa-ra a escola ou o trabalho. De repente, passavam três mi-nutos das nove, o edifício fe-deral Alfred P. Murrah, des-fazia-se em pedaços.

“Eu e a minha filha fomos para a rua. Havia vidros a vo-ar, carros a rebentar. Olhei para o infantário e não esta-va lá. Percebi logo que era mau, que as duas crianças tinham morrido”, recordou mais tarde Kathy McVeigh. Os dois miúdos eram Chase e Cole, os netos, de dois e três anos, duas das duas víti-mas mortais do desastre, em que ficaram feridas outras 500 pessoas.

O atentado mexeu com os americanos, tomados de as-salto por especulações sobre altas conjuras internacio-nais, talvez neonazis, talvez árabes. Não tinha sido um árabe, Omar Abdel Rahman, o mentor do atentado, dois anos antes, em Fevereiro de 1993, contra o World Trade Center?

Depois, porém, acabaram por ter de admitir que o cri-me partira do interior, de um dos seus, para mais um jovem condecorado na guer-ra do Golfo cheio de ódio às instituições. Ao ponto de se abandonar à sentença de morte. Questionado pelo juiz sobre se tinha alguma coisa a dizer em sua defesa, respon-deu seco: “A este tribunal, ne-nhuma!”

Com base num acervo do-cumental de 25 mil folhas e 137 testemunhas, a acusação provou que Timothy McVei-gh, de 26 anos de idade, um antigo sargento do Exército, organizou e realizou o aten-tado, com a ajuda de outra pessoa, mediante um camião que tinha alugado no Kan-sas com um nome falso e que encheu com uma mistura de mais de 2 mil quilos de ex-plosivos, incluindo nitrato de amónio, enfurecido com o cerco de Waco, Texas, pela polícia, durante o qual mor-reram 86 pessoas da seita dos davidianos.

Os sobreviventes de Oklahoma City, uma cidade que se queixava de ali nun-ca acontecer nada, disseram que queriam ver McVeigh “desaparecer”, para poderem “seguir em frente”. �

Os ataques da Tanzânia, Quénia, Iémen

A 7 de Agosto de 1998 uma violenta explosão atingiu a embaixada norte-americana em Nairobi, capital do Qué-nia. Minutos depois, ou-tra explosão produziu um caos e um pânico idênticos em frente a ou-tra embaixada america-na, desta vez em Dar es-Salam, capital da Tanzânia. Mais de 200 pessoas morreram e pelo menos cinco mil ficaram feridas. Nos Estados Unidos, o então Presidente Bill Clinton preparava-se pa-ra ser interrogado pelo Grande Júri sobre a sua relação com a estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky. O escândalo, que se arrastava há me-ses, deixara o Presidente profundamente fragili-zado. A América sentia-se humilhada, dentro e fora das suas fronteiras. Os taliban afegãos avisa-ram imediatamente Wa-shington para que não tentasse capturar o mi-lionário saudita Osama bin Laden, a viver em território afegão e consi-derado o principal sus-peito do duplo atentado. Mas a 20 de Agosto, Clin-ton ordenava uma dupla retaliação: aviões norte-americanos atacaram al-vos no Afeganistão e no Sudão. Este segundo pa-ís era suspeito de estar a desenvolver um progra-ma de armas químicas numa fábrica que foi ar-rasada pelos aviões, e que, segundo os sudane-ses, nunca produzira mais do que produtos farmacêuticos (mais tar-de os americanos admiti-ram o erro). Bin Laden tinha mostra-do a sua força e a sua ca-pacidade de lançar ata-ques coordenados. A América elevou-o à cate-goria de inimigo número um. Mas o milionário voltaria a atacar — ou pelo meno seria suspeito de outro atentado. A 12 de Outubro de 2000, uma pequena embarcação carregada de explosivos colidiu com o contra-torpedeiro norte-americano “Cole”, que se encontrava no porto de Áden, capital do Ié-men. Dezassete mari-nheiros americanos morreram. A Administração ameri-cana apontou novamen-te o dedo a Bin Laden, e o Pentágono discutiu a hipótese de lançar um “ataque preventivo” con-tra a organização. Mas Clinton parece ter deci-dido adiar a punição pa-ra não provocar a fúria dos muçulmanos e não prejudicar aquele que era o seu objectivo prio-ritário, um acordo de paz no Médio Oriente.A.P.C.

Era também manhã em Oklahoma

Milhares de pessoas prestaram homenagem às vítimas do atentado de Oklahoma

JEFF MITCHELL/REUTERS

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T E R R O R N A A M É R I C A16 D E S TA Q U EPÚBLICO•QUARTA -FEIRA, 12 SET 2001

ALEMANHA SCHROEDER CONDENA “ACTO DE TERROR CONTRA O MUNDO CIVILIZADO”A Alemanha parou, literalmente, à medida que as terríveis notícias chegavam, via tele-visão, do World Trade Center, em Nova Ior-que, e de Washington. Imediatamente a ses-são parlamentar do Bundestag (Parlamento) foi suspensa, o chanceler alemão, Gerhard Schroeder, convocou o conselho de segurança nacional alemão e decretou o “grau de alerta máximo”.

Numa primeira reacção, o chanceler con-denou o ataque terrorista contra os EUA e expressou a “solidariedade ilimitada” da Ale-manha. “Todos os alemães estão indignados com este acto. Trata-se de uma declaração de guerra contra o mundo civilizado”, afirmou Schroeder, “o povo alemão está nesta hora difícil ao lado dos norte-americanos”. “Quem protege os terroristas viola todas as normas que regem as relações internacionais”.

A seriedade dos acontecimentos do outro lado do Atlântico levou a que em todos os edifícios públicos germânicos as bandeiras fossem colocadas a meia haste em sinal de respeito pelas vítimas. Inúmeras festividades por todo o país — como a abertura prevista para amanhã do salão automóvel de Frank-furt, IAA — assim como espectáculos tea-trais e musicais foram cancelados. No maior aeroporto alemão, Frankfurt, as medidas de segurança foram reforçadas e todos os voos transatlânticos para os Estados Unidos anulados ou desviados.

O Presidente alemão, Johannes Rau, en-viou ao seu homólogo George W. Bush um te-legrama de condolências, no qual expressava a “consternação e indignação” dos alemães. Todas as forças políticas representadas no Bundestag se manifestaram chocadas pela barbárie do acto e apresentaram condolên-cias familiares das vítimas. A embaixada norte-americana em Berlim foi encerrada (e barricada), assim como a israelita. Também as bases militares norte-americanas em solo alemão foram colocadas em estado de alerta máximo.

Ao longo de toda a tarde de ontem as tele-visões emitiram edições especiais a acompa-nhar o desenvolvimento dos acontecimentos no Word Trade Center onde foi possível ver jornalistas com dezenas de anos de experiên-cia profissional com a voz embargada.

Na Alemanha, os centros de crise criados (no Ministério dos Negócios Estrangeiros e no Gabinete Federal) estão apreensivos não só relativamente à segurança de edifícios norte-americanos e israelitas, mas também, segun-do um comentador do canal televisivo públi-co, ARD, em relação à segurança do próprio ministro dos Negócios Estrangeiros, Joschka Fischer, pelo seu empenho na tentativa de pacificação do conflito no Médio Oriente. � HELENA FERRO DE GOUVEIA, em Frankfurt

REINO UNIDOTERRORISMO É O NOVO “FLAGELO DIABÓLICO”Na qualidade de aliado privilegiado dos Es-tados Unidos, também o Reino Unido refor-çou ontem o estado de alerta em todos os edifícios governamentais — civis e militares —, bem como em todas as representações diplomáticas britânicas no estrangeiro, se-gundo anunciou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jack Straw.

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, convocou ontem para o número 10 de Downing Street uma reunião do comité de urgência do seu governo, baptizado como o nome de “Co-bra”. Para além de Straw, também o ministro do Interior, David Blunkett, e da Defesa, Geoff Hoon, foram convocados para a reunião onde estiveram presentes os responsáveis máximos militares e dos serviços secretos britânicos. “As pessoas vão tentar pesar se o Reino Unido é vulnerável a ataques semelhantes e o que pode fazer para os evitar ou enfrentar”, disse

à Reuters o analista de defesa Paul Beaver.Por respeito às vítimas dos atentados norte-

americanos, Blair anulou o seu discurso pre-visto frente ao congresso anual dos sindicatos britânicos, em Brighton. Segundo a AFP, a voz do primeiro-ministro britânico estava trémula quando se declarou “terrivelmente chocado” pela série de atentados contra os EUA.

Blair transmitiu “as mais profundas con-dolências ao presidente Bush e ao povo ame-ricano da parte do povo britânico” e condenou “o terrorismo em massa que é o novo flagelo diabólico no nosso mundo actual, que foi per-petrado por fanáticos que são completamen-te indiferentes ao carácter sagrado da vida humana”.

Para o primeiro-ministro britânico é o dever das democracias “unirem-se e combaterem em conjunto para erradicar totalmente este flagelo” que é o terrorismo contemporâneo. “Não conseguimos imaginar a carnificina que se passou lá [em Nova Iorque e Washington] e o número muito, muito elevado de inocentes que perderam a vida”. Jack Straw ofereceu aos EUA “toda a ajuda possível” do Reino Unido para encontrar os autores do atentado.

O quotidiano da vida de Londres também foi afectado pelo ambiente de ameaça gene-ralizada que se viveu ontem em todo o mun-do ocidental. A bolsa de Londres foi evacu-ada, bem como as torres de Canary Wharf, nas Docklands. A companhia aérea British Airways anulou todos os voos de e para os Estados Unidos e as medidas de segurança foram reforçadas nos três principais aero-portos da capital britânica: Heathrow — que

continua a ser o aeroporto internacional mais movimentado de todo o mundo —, Ga-twick e Stansted. � J.A.

ESPANHA EM ESTADO DE ALERTATodos os serviços de segurança espanhóis estão em alerta máximo após os atentados co-metidos nos Estados Unidos. A meio da tarde de ontem, a embaixada norte-americana em Madrid, na calle Serrano, estava protegida por forças especiais da polícia espanhola e rodeada por blindados da Guarda Civil. O presidente do Governo espanhol, José Maria Aznar, que iniciava uma viagem a três países bálticos, regressou urgentemente a Espanha. Numa conferência de imprensa em Tallin, capital da Estónia, Aznar atacou “a loucura terrorista”.

“Disse várias vezes que não devemos dis-tinguir entre terroristas, o terrorismo é igual em todo o lado e os terroristas devem ser per-seguidos onde quer que estejam”, sintetizou o “premier” espanhol. Um discurso com evi-dente sinal político interno, uma referência indirecta de Madrid ao terrorismo etarra.

Na capital espanhola, a “célula de crise”, intregrada pelos ministros da Defesa, Interior e Negócios Estrangeiros, continuava reunida à hora do fecho desta edição, e a diplomacia madrilena é parca em declarações, para além da óbvia condenação dos brutais atentados. Em 1991, na era dos Governos de Felipe Gon-zález, a Espanha foi anfitriã e inspiradora da

Conferência de Paz sobre o Médio Oriente e que recentemente Aznar afirmou a disponi-bilidade para a realização de uma iniciativa idêntica.

Apesar desta postura e das tradicionais bo-as relações que Madrid mantém com várias capitais árabes, incluindo com o Presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat, tudo indicia que a Espanha tomará a mesma posi-ção que os seus parceiros da União Europeia. Mas também é difícil admitir que haja uma alteração radical da sua posição de querer aproximar Israel do mundo árabe e suscitar a paz na região.

Ontem, nas delegações diplomáticas acre-ditadas em Madrid, como na sociedade e nos responsáveis políticos, vivia-se surpresa, in-dignação e sob o signo de uma segurança re-forçada nas instalações diplomáticas norte-americana e israelita, bem como nas bases dos Estados Unidos em solo espanhol. As eventu-ais repercussões políticas e diplomáticas do 11 de Setembro de 2001 só serão conhecidas mais tarde. � NUNO RIBEIRO, em Madrid

FRANÇA“PIOR DO QUE PEARL HARBOR”“A história do mundo está a mudar perante os nossos olhos. O atentado do World Trade Center tem o impacto histórico de Pearl Har-bor, mas é pior do que Pearl Harbor, porque o alvo é civil e o inimigo sem rosto”: este co-mentário do presidente do partido centrista UDF, François Bayrou, resumia o sentimento predominante na classe política francesa em reacção aos atentados que abalaram ontem os EUA.

A embaixada americana foi imediatamente fechada e rodeada pelas forças da ordem. Nas ruas de todas as cidades francesas, centenas de pessoas aglutinavam-se em torno nos cafés com televisões, ou em frente das montras de lojas de electrodomésticos — e a pergunta incessante era: “Paris será também visada?”

Rapidamente, o governo francês reactivou o plano Vigipirate para limitar os riscos de atentados terroristas em França, mesmo se o ministro do Interior, Daniel Vaillant, conside-ra que “não há ameaças identificadas contra a França”. Este plano mobiliza o Exército, as forças de polícia e da “gendarmerie” (guarda republicana) em patrulhas de rua. O Vigipira-te foi concebido em 1995, depois dos atentados terroristas atribuídos ao GIA (Grupo Islâmi-co Armado, argelino) e que fez oito mortos e centenas de feridos.

De tarde, houve uma reunião de crise de todas as polícias, dos serviços secretos e da contra-espionagem, mas nenhuma informa-ção foi divulgada. Quatro patrulhas da força aérea vigiam permanentemente o céu da re-gião parisiense.

O Presidente Jacques Chirac terminou de imediato uma deslocação à Bretanha pa-ra regressar a Paris: “É com uma emoção imensa que a França toma conhecimento dos atentados monstruosos que abalam os Estados Unidos”, reagiu o chefe de Estado francês, que assegurou a “solidariedade” do povo francês para com o povo americano “nesta tragédia”.

Em Matignon, o primeiro-ministro Lionel Jospin condenou “o recurso abominável à violência terrorista”. Numa conferência de imprensa improvisada, o chefe do governo ma-nifestou a “emoção profunda” e o “sentimento de horror” que lhe inspira “esta violência inaceitável”.

Ao cair da noite, Jospin apelou aos france-ses para “manterem a calma”. Um Conselho de Ministros restrito, com os ministros dos Negócios Estrangeiros, do Interior, da De-fesa e dos Transportes, foi organizado no Eliseu ao fim da tarde. O Presidente Chirac prometia falar ao país de noite. “Mudámos de mundo. Nada será como antes do ataque contra o World Trade center”, preconiza o de-putado gaullista Pierre Lelouch, especialista de questões estratégicas e antigo cronista da revista americana “Newsweek”. � ANA NAVARRO PEDRO, em Paris

A Europa em estado de choque

Um pouco por todo a Europa o drama de Nova Iorque foi seguido com espanto

BORIS ROESSLER/EPA

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E S P E C I A L 17PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

15h10 Um avião Boeing 757 despenha-se em Somerset County, a 80 milhas de Pitts-burgh, no estado da Pensilvânia. É mais tarde identificado pela companhia aérea United Air-lines como tratando-se do voo 93, com destino a São Francisco e tendo partido de Newark, em New Jersey, com 38 passageiros e sete tripulantes a bordo.

15h25 É noticiada a explosão de um carro armadilhado às portas do edifício do De-partamento do Tesouro, em Washington. Mais tarde há um desmentido.

15h26 Todos os voos com destino para os Estados Unidos são desviados para o Cana-dá, segundo ordens da FAA.

15h27 A torre norte do World Trade Center acaba também por ruir, desabando de

cima abaixo como se estivesse a ser descas-cada, largando para o ar uma enorme nuvem de pó e detritos.

15h45 Todos os edifícios federais dos Estados Unidos são evacuados. Todos os ae-roportos do país são evacuados e também encerrados.

18h04 O Presidente norte-americano, George Bush, garante à nação, numa inter-venção televisiva, que estão a ser tomadas todas as medidas de segurança. E deixa o aviso: “Não tenham dúvidas, os Estados Uni-dos vão caçar os responsáveis por este ata-que.”

16h02 O “mayor” Giuliani pede aos no-va-iorquinos que fiquem em suas casas e or-dena a evacuação do Sul de Manhattan.

18h27 É declarado o estado de emer-gência em Washington D.C.

19h30 A FAA anuncia que todos os voos comerciais norte-americanos estarão suspen-sos pelo menos até ao meio-dia (hora de Nova Iorque) de quarta-feira — a primeira vez que tal medida é tomada na história dos EUA.

20h55 Karen Hughes, directora de comu-nicações da Casa Branca, diz que o Presidente está “em local secreto”; apura-se depois que George W. Bush estava numa base aérea do Nebraska (Oeste dos EUA).

22h20 Um edifício de 47 andares junto ao World Trade Center desaba.

23h Ouvem-se explosões em Cabul, capital do Afeganistão. Mais tarde, os Estados Uni-

dos negam qualquer envolvimento, dizendo que não se tratou de uma retaliação pelos ataques; a oposição afegã ao regime dos taliban reivin-dica as explosões.

23h54 George W. Bush regressa a Wa-shington.

0h02 A CNN anuncia que um outro edi-fício próximo do World Trade Center está em risco de desabar.

0h45 A polícia de Nova Iorque anuncia que mais de 70 polícias e 200 bombeiros estão desaparecidos.

1h30 O Presidente George W. Bush fala à nação e promete que os EUA e os seus aliados “juntos, irão vencer a guerra contra o terroris-mo”. D.F./P.R.

REUTERS

ALEX FUCHS/EPA

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T E R R O R N A A M É R I C A18 D E S TA Q U EPÚBLICO•QUARTA -FEIRA, 12 SET 2001

IMODIVOR - SOCIEDADE IMOBILIÁRIA, S.A.Sede: Lugar do Espido, Via Norte, Maia

Capital Social: 5.000.000$00Matriculada na C.R.C. da Maia sob o n.º 3030

Pessoa Colectiva n.º 502 979 330

ANÚNCIONos termos e para os efeitos do disposto nos nrs. 1 e 2 do art. 16.º do DL. 343/98de 6/11, dá-se conhecimento que esta sociedade, face ao aprovado na AssembleiaGeral Anual realizada em 28 de Março de 2001, vai redenominar as accções re-presentativas do seu capital social, da seguinte forma:*IDENTIFICAÇÃO DOS VALORES MOBILIÁRIOS A REDENOMINAR: 10.000accções, sendo 5.000 representativas da totalidade do capital social desta socie-dade que é de Esc. 5.000.000$00, e as outras 5.000 através da emissão de novasacções, para adaptação ao capital social mínimo de 50.000 euros.

*FONTE NORMATIVA EM QUE ASSENTA A DECISÃO: Decreto-Lei n.º 343/98 de 6de Novembro;

*TAXA DE CONVERSÃO: 200$482;*MÉTODO DE REDENOMINAÇÃO E O NOVO VALOR NOMINAL: método nãopadrão fixando-se: o valor nominal de cada accção em 5 euros e o capital socialem 50.000 euros representado por 10.000 accções;

*DATA DA REDENOMINAÇÃO: 25 DE OUTUBRO DE 2001.*DATA PREVISTA PARA O PEDIDO DE INSCRIÇÃO DA REDENOMINAÇÃO NOREGISTO COMERCIAL: 25 DE OUTUBRO DE 2001.

Matosinhos, 10 de Setembro de 2001

Pelo Conselho de Administração

“Sinto que estou num sonho. Nunca acreditei que um dia os Estados Unidos viriam a pagar um preço pelo seu apoio a Israel”, disse Mus-tapha, um palestiniano de 24 anos, contente, de arma ao ombro. Com ele, em Nablus (Cisjor-dânia), estiveram centenas de palestinianos na rua para celebrar os atentados mortíferos de ontem contra o Pentágono e o World Trade Center, nos Estados Unidos.

Em Jerusalém oriental, dezenas de jovens também celebraram e quem ouvisse as buzinas dos carros ira pensar que se tratava de um cortejo de casamento ou de uma vitória num qualquer jogo de futebol. “Estamos tão conten-tes por a América ter sido atingida. A Améri-ca está contra nós ao apoiar Israel”, afirmou Suleiman à Reuters, para quem os amigos de Israel são os inimigos do povo oprimido da Palestina.

Nos campos de refugiados palestinianos do Líbano também se celebrou com tiros para o ar. Em Ain-El-Ailweh, no sul do país e em Chatila

(Beirute, já era hora da sesta quando a notícia dos atentados chegou. Muitos palestinianos saíram para a rua, alguns de pijama, para dis-parar as suas armas como sinal de vitória e alegria. Segundo a AFP também se ouviu fogo de artifício e muitos jovens gritaram, dançan-do, “os americanos são todos porcos”. � J.A.

DISCURSO DE KOFI ANNAN

“Estamos todos traumatizados com esta ter-rível tragédia. Não sabemos ainda quantas pessoas foram mortas ou feridas, mas inevi-tavelmente o número será alto. Os nossos primeiros pensamentos e orações têm de ser para eles e para as suas famílias. Quero ex-pressar-lhes as minhas profundas condolên-cias, bem como ao povo e ao governo dos Es-tados Unidos.

Não pode haver dúvidas de que estes ata-ques são actos dliberados de terrorismo, cui-

dadosamente planeados e coordenados, e co-mo tal condeno-os firmemente. O terrorismo tem de ser combatido resolutamente onde quer que surja. Em momentos como este um julgamente frio e racional é mais necessário do que nunca. Não sabemos quem está por detrás destes actos ou que objectivo espera alcançar. O que sabemos é que nenhuma cau-sa justa pode ser conseguida pelo terror.”

MEDIDAS DE SEGURANÇA NA RÚSSIA...

As forças de defesa antiaérea da Rússia adop-taram medidas antiterroristas e as tropas do ministério do Interior foram colocadas em estado de alerta. O Presidente Putin reuniu no Kremlin os ministros responsáveis pela segurança e transmitiu diversas ordens sobre o reforço da segurança nacional.

... E NA POLÓNIA, GRÉCIA E CHINA

A polícia polaca reforçou a protecção das re-presentações diplomáticas dos EUA e de Is-rael, e dos aeroportos polacos. Na Grécia, o chefe da polícia, general Photis Nasiakos, or-denou o reforço das medidas de segurança nos aeroportos do país e em redor dos edifícios norte-americanos. A China também adoptou idênticas medidas, à semelhança de muitos outros países do mundo.

CANADÁ SUSPENDE TRÁFEGO AÉREO

À semelhança dos EUA, o vizinho Canadá tam-bém decidiu suspender todo o tráfego aéreo, à excepção dos voos com objectivo humanitário. Na Europa, o Eurocontrol, organização que supervisiona a circulação aérea no espaço aé-reo europeu, decidiu suspender todos os voos europeus em direcção aos Estados Unidos.

CONSELHOS DE EMBAIXADAS DOS EUA

A embaixada dos EUA em Paris avisou os cida-dãos norte-americanos em França para man-terem “low profile” e evitarem falar inglês em público. “Aconselhamos a que tenham muito cuidado, vejam a CNN e televisões locais e tenham em atenção o que se passa. Tentem manter a máxima discrição possível, evitem falar inglês nas ruas. Nunca se sabe”, referiu a embaixada. E a representação norte-ameri-cana em Moscovo também emitiu conselhos similares. Em Vilnius, capital da Lituânia, procedeu-se à evacuação da embaixada norte-americana. Israel decidiu ainda evacuar o

pessoal das suas representações diplomáticas nos EUA, por receio de eventuais ataques.

CENTRAIS ELÉCTRICAS E GASODUTOS EM ALERTA

Nos EUA, as centrais de energia eléctrica e os gasodutos foram colocados em alerta máximo, numa medida definida como “de precaução”. O rei Abdallah II da Jordânia decidiu anular a visita programada aos EUA, enquanto as autoridades norte-americanas da aviação civil (FAA) ordenaram a suspensão de todos os voos comerciais em território norte-americano. Os voos transatlânticos foram desviados para o Canadá.

APELO DE ROBERTSON

O secretário-geral da NATO, George Robert-son, apelou ao “pessoal não essencial” para abandonar o edifício e “não se apresentar quarta-feira [hoje]”. As bases militares norte-americanas da NATO na Itália foram ainda rodeadas por medidas de segurança, á seme-lhança das instalações do quartel-general da zona sul da NATO (AFSOUTH) em Nápoles.

AL GORE ANULA CONFERÊNCIA

O antigo vice-presidente dos EUA, Al Gore, anulou uma conferência onde deveria partici-par na noite de ontem em Viena e preparava-se para regressar ao país. “O senhor Gore, que estava muito chocado, anulou todos os seus compromissos”, declarou um dos orga-nizadores do encontro. “Preparamos o seu regresso aos EUA para se juntar à família o mais depressa possível”, concluiu.

CUBA OFERECE AJUDA E SOLIDARIEDADE AOS EUA

O ministro cubano dos Negócios Estrangei-ros, Felipe Perez Roque expressou ontem, em nome do governo de Havana, “solidaridade” e “dor” pelos ataques contra Washington e Nova Iorque e ofereceu ajuda médica e aérea aos Estados Unidos. “Lamentamos profun-damente a perda de vidas humanas, e nossa posição é de total rejeição deste tipo de ata-ques terroristas”, declarou Roque, conside-rando “bárbara” a ideia de alguém sugerir o envolvimento do governo cubano.

Palestinianos celebram com tiros de alegria

Nos campos de refugiados no Líbano, festejou-se os ataques de Nova Iorque e Washington; por todo o mundo houve reacções, na sua maioria de pesar

No campo de Ain al-Hiylweh, crianças, velhos e guerrilheiros festejaram o ataque

ALI HASHISHO7REUTERS

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D E S TA Q U E 19PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

ISRAEL

O ministro da Defesa israelita, Benjamin Ben Eliezer, denunciou a ameaça sobre o mundo do que definiu por “Islão extremista”. O Governo de Ariel Sharon ordenou o encerramento do espaço aéreo do país. A Força Aérea entrou em estado de alerta, segundo referiu a televisão pública.

AUTORIDADE PALESTINIANA

O Presidente da Autoridade Palestiniana, Yasser Arafat, através de uma declaração, emitiu as “condolências do povo palestiniano ao Presidente americano [George W.] Bush, ao seu Governo e ao povo americano por este acto terrível”, afirmou em Gaza. “Conde-namos totalmente esta grave operação [...] Estamos completamente chocados. É inacre-ditável, inacreditável, inacreditável”, subli-nhou.

FPLP

A Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), a partir da sua sede em Damasco, rejeitou qualquer envolvimento na série de atentados. “Não temos nada a ver com estas explosões”, referiu Maher Taher, porta-voz e membro da direcção da FPLP. A 27 de Agosto, após o assassínio do chefe da FPLP Abu Ali Mustafa num ataque de mísseis lançado por Israel na Cisjordânia, Taher tinha apelado a “acções contra os interesses americanos”.

JIHAD ISLÂMICA

Em Gaza, um alto responsável do movimento radical palestiniano Jihad Islâmica conside-rou que os atentados nos EUA são uma conse-quência “da política americana na região mais quente do mundo”, numa referência ao Médio

Oriente, mas rejeitou qualquer envolvimento da sua organização.

HAMAS

O Hamas, outro movimento radical palesti-niano, também negou qualquer relação com os atentados. “A estratégia do Hamas consiste em lutar contra o ocupante sionista na Palestina e não fora da Palestina, seja nos Estados Unidos ou noutro local”, declarou um responsável do Hamas em Gaza, Ismaïl Haniyé. Na sua perspectiva, e após os atentados de ontem, “Washington deveria rever seriamente a sua política no mundo”.

EGIPTO

O Presidente Hosni Mubarak condenou os ataques “horrendos” que conduzem “à morte de um grande número de vítimas inocentes”. “Foi com tristeza e pesar que recebi as notícias dos ataques criminosos”, prosseguiu Muba-rak, que ofereceu a ajuda do seu país aos EUA e disse que os atentados “foram horrorosos e para além da imaginação”.

RÚSSIA

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, en-viou um telegrama ao Presidente George W. Bush onde afirma que “semelhantes actos terroristas e bárbaros não devem ficar impu-nes” e apelou à “coordenação internacional” contra o terrorismo. Numa missiva iniciada com a expressão “Caro George”, Putin solici-ta que “transmita as nossas mais sinceras simpatias aos familiares das vítimas desta tragédia e à totalidade do povo americano em sofrimento”. “Compreendemos a sua mágoa e dor, tal como a Rússia já sofreu com o terro-rismo. Toda a comunidade internacional deve unir-se na luta contra o terrorismo”, refere o texto divulgado em russo pelo Kremlin.

R E AC Ç Õ E S O F I C I A I S

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T E R R O R N A A M É R I C A2 0 D E S TA Q U EPÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

O desvio dos milhares de aviões que se encontravam no

espaço aéreo dos EUA foi uma operação sem

precedentes e arriscada

JOSÉ BENTO AMARO

O desvio dos aviões do espaço aéreo norte-americano para o Canadá — principalmente pa-ra as cidades de Toronto e Ota-va —, efectuado nas horas que se seguiram aos atentados ter-roristas, foi a maior operação mundial de sempre na história da aviação. Avançar com um número relativo às aeronaves implicadas era, ontem, impos-sível, uma vez que aos apare-lhos de carreiras regulares ha-via ainda que somar os muitos pequenos aviões privados.

“Para se ter uma pequena ideia da grandiosidade de uma operação do género [o desvio do tráfego aéreo dos EUA para o Canadá] basta referir que em qualquer aeroporto médio ame-ricano descolam e aterram, num período de 45 minutos, en-tre 35 e 40 aviões”, explicou ao PÚBLICO um técnico ligado ao sector da aviação civil.

A juntar a estes números sur-gem depois os voos de milha-res de aeronaves de menores di-

mensões, sobretudo aparelhos de empresas. “Qualquer aeró-dromo que recebe voos deste ti-po tem, em média três ou quatro centenas de pequenos aviões. É, portanto, natural, que todos estes aparelhos, tentando ater-rar de emergência, provoquem o caos”, adiantou o mesmo res-ponsável. Qualquer um destes aeródromos tem mais movi-mento do que a Portela, o prin-cipal aeroporto português.

A complicar ainda mais toda a gestão do espaço aéreo sur-giu depois o aviso das autori-dades norte-americanas: qual-quer avião detectado a voar a menos de 5000 pés (cerca de 1500 metros) seria abatido.

Mas, apesar da prontidão das ordens para que muito do tráfe-go aéreo dos Estados Unidos fos-se encaminhado para o Canadá, esta foi uma operação classifi-cada como “muito arriscada”. É que tal significou que determi-nados corredores aéreos (uma espécie de estradas por onde se deslocam os aviões) sofressem um congestionamento fora do comum. “É sempre uma ope-ração complicada e arriscada. Com o aumento do número de aeronaves em determinados cor-redores diminuiu, obrigatoria-mente, a distância de cada avião em voo e, por consequência, au-mentaram as hipóteses de aci-dentes. Os corredores aéreos al-

ternativos ficaram saturados.”A maior parte dos aviões des-

viados para o Canadá são apa-relhos de quatro reactores, os quais têm maior autonomia e, portanto, podem manter-se por mais tempo no ar sem terem de aterrar de emergência em pis-tas dos EUA. No entanto, mui-tos outros de apenas dois moto-res, como o Airbus 310 da TAP que ontem, pelas 9h45, saiu de Lisboa com destino a Nova Ior-que, também foram desviados para o país vizinho. No caso do aparelho em causa, acabou por aterrar em Halifax.

Um outro voo da TAP, com destino a Nova Iorque (um Air-bus 340), que deveria ter partido de Lisboa às 14h45, foi cancela-do. O cancelamento dos voos, de e para os Estados Unidos foi, aliás, uma regra comum a to-das as companhias de aviação mundiais. Acontece que, quan-do aconteceram os atentados, alguns aviões internacionais tinham como pistas mais próxi-mas as das ilhas Terceira e San-ta Maria, nos Açores. Foi para este segundo aeroporto que fo-ram encaminhados 12 aviões, ficando o controlo do tráfego aéreo na região a cargo dos mi-litares americanos.

A pista das Lajes (Terceira), onde se situa uma base norte-americana, ficou reservada a aparelhos militares. �

A maior operação aérea de toda a história

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D E S TA Q U E 2 1PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

INÊS SEQUEIRA

Com três ou quatro coman-dos terroristas dentro de um avião, “os pilotos não têm qualquer hipótese” de resis-tência, acredita um coman-dante de aviação civil. Quan-to à possibilidade de terem sido as próprias tripulações a dirigirem as aeronaves sob coacção dos “piratas do ar”, as opiniões dos pilotos on-tem contactados pelo PÚ-BLICO foram unânimes: “É mais fácil acreditar que al-guém abateu o piloto e to-mou o controlo do avião”, afirmou o presidente da As-sociação Portuguesa de Pilo-tos de Linha Aérea, coman-dante Salvador Sottomayor.

Quem vai nos comandos do “cockpit” “não é res-ponsável por ver se alguém entra dentro do aparelho armado”, referiu aquele res-ponsável, acrescentando que isso compete aos aeroportos. E quais as capacidades de re-sistência de um piloto, quan-do coagido? Por óbvias re-gras de segurança, nenhum dos elementos da tripula-ção entra armado dentro de uma aeronave, referiu por seu turno o comandante An-tónio Ramalho, porta-voz do Sindicato dos Pilotos de Aviação Civil. A regra prin-cipal é apenas uma: “Nun-ca contrariar as ordens dos ‘piratas do ar’, embora pa-ra isto não haja preparação possível”, indicou outro co-mandante de longo curso, Ângelo Felgueiras.

E quanto à capacidade ne-cessária para embater uma aeronave de grande porte contra um alvo específico? “Um avião vai para todo

o lado, é preciso é que o saibam levar”, disse Sot-tomayor Cardia. E, para o saberem levar, depois do aparelho estar já em voo, o necessário “são conheci-mentos básicos”: conhecer o que é uma manche e como funciona, controlar a altitu-de do aparelho... Num caso destes, reconhece António Ramalho, “nem é preciso sa-ber aterrar”. Hoje em dia ti-rar um curso de pilotagem de aviões de grande porte pode ser caro, mas está fa-cilmente ao alcance de uma organização com meios eco-nómicos para isso.

Indo um pouco mais lon-ge, um dos pilotos compa-rou os aviões naquela si-tuação a um autocarro em andamento. “Imagine um carro com a quinta mudan-ça metida e um miúdo de dez anos a conduzi-lo, pode dirigi-lo facilmente sem pre-

cisar de saber meter as mu-danças”.

“A rotina leva ao desleixo”“Todos os sistemas são falí-veis, nós todos somos alvos fáceis”, indicou uma outra fonte do mesmo sector, sa-lientando que “a rotina leva ao desleixo” nos aeroportos. Todos os pilotos concordam sobre um aspecto: “Depois do que sucedeu, muita coisa vai ter de mudar nos sistemas de segurança”, afirmaram. “Isto vai obrigar a uma refle-xão profundíssima sobre o dinheiro que se gasta”.

O ditado “tempo é dinhei-ro” impera hoje na aviação: a partir do momento em que pára um avião na pista e sa-em os passageiros, inicia-se uma corrida contra o tempo para manter o aparelho em terra o menor tempo possí-vel. Entram a equipa de lim-peza, os serviços de ‘catering’ (refeições a bordo), os téc-nicos de manutenção. Como controlar todos? Existem os sistemas de detecção raios X, mas são “dezenas de pessoas que passam todos os dias, às mesmas horas, pelos mesmos sistemas de segurança e os mesmos guardas”.

“Entra-se na rotina”, os rostos tornam-se conhecidos e a atenção diminui. Para mais, actualmente nos Esta-dos Unidos, como em muitos outros países, “trata-se um avião como um autocarro”: as passagens são a preços re-duzidos, os passageiros che-gam ao aeroporto e embar-cam no espaço de meia hora. Como exercer um controlo apertado? Em Portugal, por exemplo, apenas no caso de transportarem o Presidente da República é que as malas das tripulações entram no aeroporto de véspera para serem revistadas. E estender esse procedimento a todos os voos? “Seria inviável. Ne-nhum aeroporto tem capaci-dade para isso”, lembrou a mesma fonte. �

“Um avião vai para todo o lado, só é preciso é que o levem”, diz um comandante da TAP

“Pilotos não têmqualquer hipótese”

SEGURANÇA NOS AEROPORTOS QUESTIONADAOs comandantes de aviões portugueses

sentem-se especialmente atingidos pela tragédia ocorrida. E lembram que

“todos os sistemas são falíveis”

Passageiros retidos no aeroporto de Lisboa

vivem horas de angústia e incerteza

CATARINA GOMES

Megan, uma estudante da Ca-rolina do Norte de 22 anos, ga-nhou um cruzeiro de sonho na Internet. Teve uns relaxan-tes quinze dias, passando pela Inglaterra e por França, para finalizar em Lisboa. Foi com a descontracção de umas fé-rias bem passadas, à borla, que fez o “check in”, se sentou no avião da TAP que a levava de volta a Nova Iorque, e daí à Ca-rolina do Norte.

Poucos minutos depois, foi convidada, ela e mais cerca de 140 passageiros, a regressar à sala de embarque por causa de ataques terroristas. E voltou o “stress”, misturado com o medo, com o desnorteamento: o seu pai é piloto, não sabe se ia num dos aviões, não conse-que fazer um único telefone-ma para os Estados Unidos.

Foi o que aconteceu aos ou-tros seis americanos, que só ficaram a saber pelo PÚBLICO os pormenores dos ataques. Margery, uma agente de turis-mo e participante no cruzei-ro, lembra-se de ter vivido a II Guerra Mundial — o seu ma-rido esteve no Pacífico — mas nunca de os próprios Estados Unidos serem alvo de tama-nhos ataques. Pergunta-se co-mo podem entre eles especular sobre a autoria dos atentados se nem os serviços secretos adivinharam nada...

No avião com destino a No-va Iorque seguiam também vários emigrantes portugue-ses. Leonilde está no aeroporto desde as 5 da manhã, depois de 10 horas na “carreira” vin-da de Chaves. Há quem aposte numa pausa forçada de três dias, há quem aponte em se-manas. Leonilde é das optimis-tas e recusa-se a voltar a Cha-ves. Fica à beira do aeroporto, na residencial Terminus, à es-pera que a televisão lhe diga

que a situação normalizou e pode reencontrar toda a sua família. Os únicos passageiros a quem a TAP paga estadia, no hotel Altis Park, são os que vinham de outros destinos e faziam escala em Lisboa.

Artur Rodrigues, residente nos Estados Unidos desde os cinco anos, só quer que lhe de-volvam Joshua e Jack, os fi-lhos que enviou no voo da TAP para regressarem às aulas a tempo. Desde o cancelamen-to do voo até à sua aparição aguardou durante mais de du-as horas, com escassas infor-mações por parte da TAP. À pergunta que se foi repetindo: quando poderão apanhar um voo de volta?, todos receberam a mesma resposta dos funcio-nários: “Vá vendo televisão!”

Nível máximo de segurança nos aeroportos portuguesesDurante o dia de ontem, hou-ve dois voos para Nova Iorque que partiram durante a ma-nhã, um da TAP e outro da Continental Airlines, que teve que aterrar no Canadá, e ou-tros dois foram cancelados, o segundo da TAP e um outro da Sata para Boston, que par-tia de Ponta Delgada. Vindos dos EUA chegaram durante a manhã três voos.

O ministro da Administra-ção Interna, Nuno Severiano Teixeira, ordenou a instaura-ção do nível máximo de segu-rança nos aeroportos, embora não tenha suspendido o espa-ço Schengen. Ao contrário da Itália e da Alemanha, que deci-diram encerrar os aeroportos ao tráfego, o Gabinete Coorde-nador de Segurança reuniu-se de emergência ontem à tarde e decidiu impor o grau três de medidas de segurança. Esta determinação implica a revis-ta de todos os passageiros, a conferência dos passaportes e o exame através de raio X de todas as bagagens de porão.

O cenário de voos cancela-dos de e para os Estados Uni-dos repetiu-se um pouco por todo o mundo, desde todo o espaço europeu a África e à América latina. �

Um cruzeiro de sonho,

um regresso de medo

EXPECTATIVA NAS LAJES

Se houver retaliação, a base açoriana terá grande importância

estratégica no reabastecimento

de caças

NUNO MENDES

A Base das Lajes, na ilha Ter-ceira, passou o dia de ontem em “Alerta Delta”, com to-dos os edifícios civis encer-rados e os militares norte-americanos aconselhados a não abandonarem as insta-lações. Ao mesmo tempo, foi reforçada a vigilância em to-do o perímetro militar, ten-do, contudo, a parte civil do aeroporto continuado a fun-cionar, se bem que com um maior controlo, dentro da normalidade.

O fecho dos edifícios e o aumento da vigilância cons-tituíram os únicos registos de anormalidade ao longo do dia. Segundo uma fonte mi-litar contactada pelo PÚBLI-CO, o movimento de aviões foi “o que se pode considerar dentro do habitual”, até por-que o “a nível de actuação da base não faria supor outra coisa”.

As Lajes são utilizadas, normalmente, sempre que os Estados Unidos decidem ac-tuar no Médio Oriente ou na Europa, o que “não é o caso”. Assim sendo, acrescentou a mesma fonte, “só é de admi-tir que o aumento do tráfego aéreo caso o Governo norte-americano decida retaliar”. Nestas circunstâncias, o ae-roporto açoriano será de extrema utilidade “para a circulação dos aviões que reabastecem caças sobre o Atlântico”.

Durante quase todo o dia as atenções dos militares americanos colocados nas Lajes estiveram, à falta de missões a realizar, concen-tradas no que se estava a passar nos Estados Unidos, já que a rádio que serve a ba-se esteve todo o dia a trans-mitir informações em direc-to de outras emissoras dos “States”. A falta de um ini-migo, explicou uma fonte contactada pelo PÚBLICO, “leva a que neste momento a postura seja mais de expec-tativa”.

Ainda durante o dia, uma reunião, realizada a meio da tarde, entre norte-america-nos e portugueses serviu pa-ra decidir a forma de actu-ação conjunta. Este tipo de encontros, explicou a mes-ma fonte, “é comum sempre que é necessário reforçar a segurança na base, uma vez que alguns dos procedimen-tos ficam a cargo dos milita-res portugueses”.

Tal como na base, também nos aeroportos do arquipéla-go foi reforçada a segurança. O “check in” e o embarque só eram realizados com a iden-tificação de todos os passa-geiros. Passou também a ser exercida uma maior vigilân-cia sobre as bagagens. �

Num caso destes, reconhece o comandante

António Ramalho, “nem é preciso saber

aterrar”. Hoje em dia tirar um curso de pilotagem de aviões

de grande porte pode ser caro, mas está facilmente ao

alcance de uma organização com

meios económicos para isso

MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

DAVID CLIFFORD

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T E R R O R N A A M É R I C A2 2 D E S TA Q U EPÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Clarisse Frias e José Gonçalves, dois

portugueses a viver na América, tinham razões

especiais para a sua revolta: ela trabalha numa empresa com sede no World Trade

Center, ele trabalhou na sua reconstrução depois

do atentado de 1993

LUÍSA PINTO e SANDRA SILVA COSTA

Primeiro foi a estupefacção e a incredulidade. Depois o terror e o pânico contido. Por fim, a tentativa de contactar pessoas que pudessem estar na área dos atentados, mas sem su-cesso. As comunicações não funcionavam; as linhas telefó-nicas, fixas e móveis, não esta-vam disponíveis: o World Tra-de Center era a principal base de todas as antenas de comuni-cações. Os transportes foram cortados, apenas a ligação náu-tica do ferry poderia trazer “notícias” da outra margem, mas durante longas horas sem sucesso. A consternação apo-derou-se de toda a gente, por-que todos conheciam alguém que trabalhasse ou se deslocas-se diariamente para a zona sul de Manhattan. Uns limitaram-se a aglomerar-se junto à saída do ferry à espera de ver chegar os seus; outros colaram-se aos televisores, a chorar.

“Está toda a gente em estado de choque. Ninguém consegue acreditar. É impossível perce-ber como tudo isto pôde acon-tecer”. Algumas horas depois do primeiro ataque às torres do World Trade Center, em No-va Iorque, estas foram as pri-meiras palavras que Clarisse Frias conseguiu balbuciar em declarações ao PÚBLICO. Mo-radora em New Jersey, esta corretora financeira cuja em-presa tinha os escritórios mãe numa das torres desapareci-das, só pensou em ir buscar os filhos à escola. “Uma loucura! Os telefones não funcionavam, e não foi propriamente a sensa-ção de perigo imediato que nos assolou. Mas perante o cená-rio tão trágico e inimaginável que as televisões começaram a mostrar, só temos vontade de reunir toda a gente que nos é querida e fecharmo-nos nal-gum sítio”, afirmou.

Comunidade lusa assistiu incrédula aos atentados nas margens de New Jersey

José Nunes, um funcioná-rio de uma empresa de distri-buição de sinal televisivo por cabos, que trabalha e reside na mesma ilha de New Jer-sey, viu da sua janela os avi-ões a embater nas torres, e posteriormente os edifícios a ruir. “Não dá para acreditar. Olhamos para Manhattan e as Twin Towers já não estão lá. Ter visto aquele colosso a desabar é uma experiência in-descritível”. Ao contrário de Clarisse, que só quando soube do embate do segundo avião começou a pensar em “aten-tados”, Nunes nunca teve dú-vidas. A sua estupefacção vai toda para o facto de a “maior tragédia de sempre” ter acon-

A notícia da tragédia levou familiares de

turistas a procurarem

informações e muitos passageiros

trataram de cancelar viagens

A tragédia nos Estados Uni-dos reflectiu-se de imediato nos operadores turísticos e agências de viagens portu-guesas, que foram inunda-das com telefonemas a in-dagar sobre a situação dos familiares a gozar uns dias de férias em Nova Iorque. Numa ronda que o PÚBLI-CO efectuou na tarde de on-tem junto de mais de duas dezenas de operadores, não havia registo de portugue-ses entre as vítimas. No en-tanto, algumas dessas agên-cias não tinham conseguido ainda contactar com os seus clientes hospedados em Ma-nhattan.

Um dos operadores que conseguiu falar com Nova Iorque pouco tempo depois dos atentados foi a Carlson Wagons. Segundo informa-ções de um responsável des-ta empresa, os 27 portugue-ses que viajaram para os EUA através da agência “en-contravam-se todos bem”. Na Cosmos e na Abreu, dois dos maiores operadores tu-rísticos portugueses, não foi possível obter informações quer quanto ao número de portugueses que se encon-tram em Nova Iorque com programas de férias, quer no que diz respeito à sua si-tuação.

Na Star não foi também possível obter qualquer in-formação porque os escri-tórios deste operador tu-rístico foram evacuados na sequência da ameaça de bomba no hotel Porto Palá-cio, no World Trade Center do Porto (ver notícia nes-tas páginas). Mas o PÚBLI-CO sabe que o voo utilizado por alguns clientes da Star, que ontem viajaram para os Estados Unidos, acabou por ser desviado para Gan-der, uma pequena cidade ca-nadiana próxima do Que-beque, isto por força do encerramento do espaço aé-reo nos EUA.

O anúncio nas televisões de que os aeroportos na Eu-ropa estavam também a fe-char provocou uma outra onda de telefonemas junto das agências de viagens, com dezenas de clientes a cancelar os respectivos vo-os marcados para os próxi-mos dias com destino a di-versas cidades europeias, especialmente para Lon-dres e Paris. � R.A.

CHUVA DE TELEFONEMAS NAS AGÊNCIAS

DE VIAGENS

Clínicos participavam em reuniões científicas

O grupo de médicos que se desloca-ram aos Estados Unidos para parti-cipar em várias reuniões científicas não sofreram qualquer consequên-cia dos acidentes ocorridos ontem em Nova Iorque e Washington. “Es-tão todos bem, não houve qualquer problema com eles”, adiantou à Lu-

sa uma fonte da Sociedade Portu-guesa de Cardiologia (SPC).

A SPC informou também que os 37 clínicos, que viajaram para os Estados Unidos a fim de assistir a congressos ligados à área da cardiologia, foram repartidos por dois grupos: uns esta-vam em Washington, outros em No-va Iorque. A fonte citada pela Lusa garantiu que os hotéis onde se encon-tram instalados são muito afastados dos locais afectados.

O laboratório farmacêutico Novar-tis foi uma das entidades organizado-ras do congresso. “Falei há poucos minutos com um colega que está em Nova Iorque e ele garantiu-me que estava tudo bem com toda a gente”, disse ao PÚBLICO, ao final da tarde, Maria João Dias, assessora de impren-sa do laboratório, acrescentando ter recebido informações que apontavam para que o congresso estivesse a de-correr “dentro da normalidade possí-

vel”. Maria João Dias assegurou que o congresso está a decorrer no York Hilton & Towers, na 13-35 Avenue of Americas, “a uma longa distância do World Trade Centre”. Pelo lado da No-vartis partiram 13 médicos, todos com destino a Nova Iorque.

Até à hora de fecho desta edição, o PÚBLICO apenas conseguiu apurar que pelo menos três dos médicos par-ticipantes exercem funções no Hospi-tal de Setúbal. � S.S.C.

Médicos portugueses saíram ilesos do ataque

tecido no país “que tem uns serviços secretos apuradíssi-mos” e que devia estar alerta “porque tem já sofrido várias ameaças de terroristas”. “Há três semanas, alguém avisou de que algo de colossal iria acontecer contra a América. Aí está”, apontou.

Também José Manuel Gon-çalves, presidente da Casa do Benfica em Newark e supervi-sor de uma poderosa empresa de construção civil que desen-volveu, entre outros, os traba-lhos de recuperação das Twin Towers depois do atentado de 1993, pensou desde o início no pior. A trabalhar actualmen-te nas obras de ampliação do aeroporto de JFK — de onde consegue avistar Manhattan — sentiu um avião a passar por uma área que sempre lhe esteve proibida. Olhou para os céus e viu o que nunca poderia ter imaginado. “Ninguém con-segue descrever como é que o povo se está a sentir. Portugue-ses e americanos”, sublinhou. Com muitos operários portu-gueses, e outros conhecidos, a trabalhar na construção de tú-neis na zona mais afectada por atentados, Gonçalves continu-ava sem notícias de ninguém. E à hora de fecho desta edição,

ainda não sabia como é que ia voltar para casa, em New Jer-sey. Sabia apenas que todos os seus familiares se encontra-vam bem.

José Carvalheira, um por-tuguês de Gouveia “profunda-mente religioso”, lembrou-se imediatamente das palavras de Deus: “Um dia haveis de ver coisas que nunca pensa-rias ver”. Aquilo que viu de manhã, pouco antes de aban-donar a sua casa de Elisabeth de onde tem “uma vista per-feita sobre Nova Iorque intei-ra”, pareceu-lhe “o princípio do fim”. “Saí porta fora para espreitar o que se passava. Mas vim-me logo embora a chorar, porque achei que não valia a pena estar ali a ver aquela mi-séria. A minha senhora até se sentiu mal. Foi uma tragédia muito grande”, contou ao PÚ-BLICO ao final da tarde. Nes-sa altura, o agente imobiliário de 70 anos ainda desconhecia o paradeiro de uma afilhada. “Ela trabalha dois edifícios abaixo das torres, mas tenho uma grande fé de que ela está bem”. “Deus disse-nos que de-vemos perdoar, mas isto não tem perdão. Morreram mi-lhares de inocentes”, afirmou Carvalheira. �

“Está tudo em estado de choque. É impossível perceber como pôde acontecer”, comenta-se nas comunidades

CARLOS LOPES

Aquilo que José Carvalheira viu de

manhã, pouco antes de abandonar a sua casa de Elisabeth, de onde

tem “uma vista perfeita sobre Nova

Iorque inteira”, pareceu-lhe “o

princípio do fim”

O Ministério dos Ne-gócios Estrangeiros português emitiu on-tem um comunicado em que informava não se ter verificado até às 19h15 (hora de Lisboa) a existência de qualquer portu-guês entre as vítimas dos atentados nos Es-tados Unidos da Amé-rica. O MNE colocou ainda à disposição do público dois telefo-nes para a recolha e obtenção de infor-mações (213946406/ /213946420). Para monitorizar o de-senrolar da situação o ministério montou uma “célula de acom-panhamento”, a qual ficou em ligação per-manente com a Em-baixada e os consula-dos de Portugal nos Estados Unidos.

MNE em ligação com embaixada nos EUA

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D E S TA Q U E 2 3PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

ÁLVARO VASCONCELOSO P I N I Ã O

s ataques terroristas contra Nova Iorque e Washington são o último hediondo mar-co no processo de emergência do naciona-lismo e da barbárie que caracteriza a segu-

rança internacional no pós-guerra fria, de transformação dos civis em vítimas privilegiadas das acções de guerra e de terror. É, em tudo, um acto semelhante aos que afectaram já muitas centenas de milhares de vidas nos Balcãs, na Argélia e em muitas regiões da Ásia, como em Timor. Se os perpe-tradores de actos de terror são por vezes difíceis de identifi car, a ideologia que os anima é conhecida: os seus componentes são o ódio, o extremismo iden-titário, religioso e étnico, o desrespeito absoluta pelos direitos da pessoa humana, a recusa de que existem limites à utilização da força, e a consequen-te violência total contra os civis. Um dos elementos do ressurgimento do nacionalismo extremo é o anti-americanismo primário.

Os acontecimentos dos últimos meses na Palesti-na, a utilização da força sem regra nem limites éti-cos ou políticos por Sharon e pelos islamistas radi-cais, não podem ter deixado de contribuir para a cultura de violência total que se desenvolve, e de alimentar também o antiamericanismo.

O isolacionismo pós-Clinton, o “lavar daí as mãos”, não é solução para a resolução dos problemas de segu-rança que hoje se colocam e que, como se sabe desde a Bósnia, são essencialmente de natureza interna, embora tenham muitas vezes uma componente exter-na. O mundo está sem defesas perante o atentismo

americano, a fragilidade da União Europeia no domí-nio da defesa e segurança, e a impotência das Nações Unidas, fragilizadas pelo unilateralismo de Bush. Nova Iorque e Washington são o Pearl Harbour da nova situação internacional. Mostram que, ao contrá-rio do que pensava a administração Bush, os EUA não podem isolar-se dos graves problemas que enfrentam as diferentes regiões do mundo. Os horrores das Bós-nias deste mundo não afectam apenas os outros. Nu-ma outra megadimensão, o que aconteceu em Nova Iorque e Washington tem paralelo e precedente nos ataques terroristas contra prédios de habitação em Moscovo, ou no sinistro ataque de Oklahoma.

A resposta à tragédia não pode ser mais unilatera-lismo, mais isolacionismo, mas sim a consciência de que o nacionalismo e a barbárie identitária, onde quer que se alojem, são uma ameaça para todos, uma ameaça que só pode ser prevenida ou contra-riada através de respostas globais.

Pode ser que a primeira reacção americana seja um ataque fulminante contra um alvo externo de-terminado, embora a identifi cação de um inimigo preciso deva ser extremamente difícil, dada a carac-terística fragmentária da acção terrorista. E uma tal retaliação não resolverá certamente o problema. Espera-se que, ainda assim, num segundo momen-to, os Estados Unidos, em parceria com a União Eu-ropeia, ocupem de novo o seu lugar como actores fundamentais na resolução dos problemas interna-cionais e na defi nição de uma nova ordem multilate-ral — começando pela questão do Médio Oriente, que como se sabe há muito tempo é o paiol do mun-do. A paz, como ainda hoje afi rmou o ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, Celso Lafer, “é uma esquiva conquista da razão política”.

A resposta à tragédia não pode ser mais unilateralismo, mais isolacionismo, mas sim a consciência de que o nacionalismo e a barbárie identitária, onde quer que se alojem, são uma ameaça para todos, uma

ameaça que só pode ser prevenida ou contrariada através de respostas globais

O

A barbárie que a todos afecta

DANIEL ROCHA

António Guterres apelou à união da comunidade internacional para se unir na luta efectiva contra o terrorismo

Governo e oposição repudiam atentadosnos Estados Unidos

PAULO CORREIA E SÃO JOSÉ ALMEIDA

Portugal está totalmente disponível para “participar em qualquer esforço conjun-to acrescido que venha ser acordado a nível interna-cional”, anunciou ontem o primeiro-ministro, António Guterres.

Numa conferência de im-prensa realizada três horas depois dos atentados, o líder do Governo português afir-mou que se deve condenar “com toda a energia” a “ir-racionalidade” manifestada através de “formas violentas, imprevisíveis e totalmente impiedosas”.

António Guterres subli-nhou que “este é o momento em que é dever da comunida-de internacional, indepen-dentemente das suas diferen-ças, se unir integralmente

não apenas na condenação, mas na luta efectiva contra o terrorismo”.

Apesar de ser ainda “pre-maturo dizer que formas vai revestir uma cooperação internacional acrescida”, o primeiro-ministro garantiu que Portugal está disponível para estudar e participar em quaisquer acções conjuntas que possam reforçar a segu-rança a nível mundial”.

António Guterres apelou ainda, repetidamente, aos “portugueses para que pos-

sam exprimir um sentimen-to de unidade, de tranquili-dade e de segurança”.

Também o presidente do PSD, Durão Barroso, conde-nou, “sem qualquer reser-va”, o atentado terrorista, que, acrescentou, deve “in-dignar toda a comunidade internacional”. Expressan-do a sua “total solidariedade ao Governo e ao povo norte-americano”, o antigo minis-tro dos Negócios Estrangei-ros sublinhou: “Este não é apenas um ataque aos

Classificou o ataque como o mais grave de sempre, mas escusou-se a dizer o que fazer para punir os terroristas. Foi esta a resposta do Presidente da República, Jorge Sampaio, quando as notícias che-gadas do outro lado do Atlântico eram ainda escassas. Depois de expressar às autoridades e ao po-vo americano a “total solidarieda-de” e o “sentimento de profundo pesar e revolta”, o Presidente da República classificou o sucedido ontem como um atentado de uma “gravidade sem precedentes”, aproveitando para “reafirmar, com toda a clareza e determina-ção, a mais veemente condenação do terrorismo”. Jorge Sampaio recusou, contudo, fazer qualquer comentário sobre que medidas deveriam ser adoptadas contra os autores dos ataques. Para o Presi-dente, esta era a hora de “cuidar dos vivos e enterrar os mortos”, tendo a comunidade internacio-nal muito tempo para decidir o que fazer. Antes disso o Presiden-

te tinha já exprimido o seu “pro-fundo choque e incredulidade pe-rante os bárbaros ataques terroristas”. Numa comunicação feita ao país a partir do Palácio de Belém, o chefe de Estado portu-guês começou por falar na “hora de luto” que sentia ser também de todos os portugueses. “Não pode-mos deixar de nos sentir directa-mente atingidos com a brutalida-de do que presenciámos e a dimensão da tragédia.” O Presi-dente da República apelou ainda à calma de todos: “Estou seguro que os portugueses saberão viver estes momentos difíceis com cal-ma e serenidade.” O chefe de Es-tado disse estar em “permanente contacto” com o primeiro-ministro, António Guterres, con-firmando terem sido “accionados todos os meios para acautelar a sua [dos portugueses] seguran-ça.” Para o fim deixou uma espe-rança: “Que nenhum dos nossos compatriotas tenha sido vítima destes trágicos acontecimentos.”

Atentado de uma “gravidade sem precedentes”, diz Sampaio

Portugal disponível para “esforço conjunto acrescido”

CARLOS LOPES

f

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T E R R O R N A A M É R I C A2 4 D E S TA Q U EPÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

EUA — é um ataque con-tra os valores da nossa civi-lização.” Barroso, que ontem mesmo falou com o primeiro-ministro, sustentou porém que, apesar da gravidade da situação, “não há razões para medidas de carácter alarmis-ta” em Portugal.

O líder do CDS-PP, Paulo Portas, condenou igualmen-te a “barbaridade” dos aten-tados, manifestou solidarie-dade para com as vítimas e defendeu uma punição firme para os responsáveis. Em fa-ce das “vidas ceifadas e do horror generalizado” hoje vi-vido, “todos nos sentimos no-va-iorquinos”, disse Paulo Portas em conferência de im-prensa; observou que com o fim da guerra fria as ame-aças ao “mundo livre” vêm hoje de “grupos e Estados ex-pressão de fundamentalis-mos políticos ou religiosos capazes de violência extre-ma”. E defendeu que a “su-perioridade moral” das de-mocracias obriga a que as “nações livres” não conti-nuem a “oferecer tolerância” a terroristas.

O facto de os “polícias do mundo” terem sofrido um ataque desta dimensão pro-va a “vulnerabilidade” das “nações livres” e o “grau de insegurança de um mundo em efectiva desordem” e sem “organização política consis-tente”, considerou Paulo Por-tas; defendeu ainda que os Estados Unidos devem “pu-nir os criminosos” responsá-veis pelos ataques com “fir-meza,” mas também com a “equidade” necessária para que civis inocentes não te-nham que pagar por eles.

Carlos Carvalhas, secre-tário-geral do PCP, assumiu também a “clara condena-ção” dos atentados que “sa-crificaram muitas centenas de vítimas inocentes” e apre-sentou condolências às fa-mílias das vítimas e ao povo norte-americano. Conside-rou que os ataques se inse-rem numa “escalada de vio-lência a nível mundial”. Já antes o secretariado do PCP emitira um comunicado em que este organismo do comi-té central do PCP condenava os atentados terroristas nos Estados Unidos e lamenta-va o “sacrifício de vidas de cidadãos inocentes”, expri-mindo condolências aos fa-miliares e ao povo america-no. O secretariado do PCP não deixou de considerar que a “espiral de violência em que estes atentados se in-serem só agrava a situação mundial”.

Por sua vez, o Bloco de Es-querda manifestou a sua “ab-soluta consternação” e a “so-lidariedade com as famílias das vítimas e as comunida-des atingidas pela tragédia”. Sustentou que “o terror dos atentados” e “o número de vítimas, que se projecta pa-ra dimensões atrozes, fazem deste dia uma marca de bar-bárie”. O Bloco apela à mo-bilização da comunidade in-ternacional e da ONU para a “condenação da jornada de terror” e a “contenção da sua espiral”, já que, faz notar, “a escalada militarista seria a pior resposta aos actos in-qualificáveis” de ontem. �

Em Portugal,o atentado reflectiu-se

num reforço policialà porta das

representações israelita e norte-americana, que a PSP tentou minimizar

NUNO SÁ LOURENÇO

Reforço policial? Qual refor-ço policial? Era esta a respos-ta que o PÚBLICO recebia de cada vez que se aproximava de um dos polícias à porta da embaixada dos Estados Unidos ou de Israel. O apara-to, no entanto, desmentia a desdramatização feita pelos agentes. À porta da represen-tação israelita estavam três carros-patrulha e, pelo me-nos, um agente de pistola-me-tralhadora em punho. Quan-to à embaixada dos EUA, teve direito à presença de um subcomissário.

Dentro das embaixadas reinava uma serenidade que, aparentemente, a polícia por-tuguesa teve dificuldade em manter durante a tarde de ontem. A embaixada nor-te-americana permaneceu “funcional”, com excepção dos serviços de atendimento ao público. Quem quer que se tenha deslocado a Sete Rios durante a tarde de on-tem para receber um visto ou qualquer outro documen-to de identificação obtinha a mesma resposta: a embai-xada não tratava de mais ne-nhum assunto até aviso em contrário. Os serviços essen-ciais, contudo, permanece-ram em funcionamento como habitualmente.

O único pormenor que des-toava no cenário era a pre-

sença de um maior número de agentes da Polícia de Se-gurança Pública (PSP). Perto da porta da embaixada dos EUA estava estacionado um carro-patrulha a que se jun-tavam quatro agentes e o sub-comissário Fernandes Dias. “Não se pode falar em refor-ço”, dizia vezes sem conta o subcomissário aos jornalis-tas presentes no local. “O que se passa é que eu mandei pa-rar aqui um carro-patrulha que ia a passar, mais nada”, explicava Fernandes Dias à medida que repetia que não havia razões para alarme.

Nem mesmo quando o PÚ-BLICO lhe perguntou se a pa-trulha habitual à embaixada norte-americana costumava incluir a presença de um sub-comissário o responsável mu-dou de discurso. “Eu estou sempre na rua”, afirmou an-tes de lembrar que fazia parte da 2ª esquadra das instalações diplomáticas.

A presença policial à vol-ta da representação israe-lita era ainda mais visível. E o nervosismo dos agentes também. Para além dos três carros-polícia estacionados, encontravam-se seis agen-

tes nas imediações que ten-tavam impedir que fossem recolhidas imagens da em-baixada. Enquanto uns pro-curavam tapar as objectivas das câmaras, outros pediam satisfações aos jornalistas por estarem ali.

Os agentes no local nega-vam também que tivesse sido levado para junto da missão diplomática qualquer tipo de reforço, dizendo ser “nor-mal” a presença de um agen-te de pistola-metralhadora e de três carros ali, por existir uma esquadra perto.

Mas a vigilância não se li-

mitava às embaixadas. As escolas americanas e britâ-nicas na zona de Lisboa esta-vam também sob protecção policial. Segundo uma fonte policial, as medidas de re-forço de segurança previstas para várias instituições bri-tânicas e americanas incluí-ram a Saint Julian’s School, na zona de Cascais, e a Es-cola Americana, no Linhó. Medidas que a Polícia de Se-gurança Pública achou por bem estender aos serviços da companhia de aviação TWA, próximo do Marquês de Pom-bal, em Lisboa. �

Embaixadas com segurança envergonhada

A segurança das embaixadas dos EUA, Israel e OLP em Lisboa foi de imediato reforçada após os atentados

CARLOS LOPES

Edifício no coração da cidade onde estava

hospedada a equipa da Juventus teve de ser evacuado

ANTÓNIO ARNALDO MESQUITA

Um forte dispositivo policial foi montado na Avenida da Boavista, a meio da tarde de ontem, na sequência de uma mensagem anónima anun-ciando a existência de um engenho explosivo no World Trade Center, que funciona num edifício do Grupo Soane e é contíguo ao Porto Palace Hotel. O alarme terá sido fei-to cerca das 15h30 e ambas as instalações foram evacu-adas 15 minutos depois por inicitiva da PSP, obrigando a equipa da Juventus, que hoje defronta o FC do Porto, a antecipar em três horas a sua deslocação para o Está-dio das Antas.

Os primeiros operacionais a chegar ao local foram ele-mentos das brigadas à paisa-na daquela força, acabando por entrar em acção quase

uma hora após o alarme, is-to é, às 16h.38. “É para ir para onde?”, indagava um agente empunhando uma “shot-gun”. “Para a parte de-trás”, aconselhou o superior hierárquico. Dois minutos depois, era apertada ainda mais a malha: “Ninguém en-

tra no hotel e no World Trade Center”, ordenava. Em liga-ção com o comando, o mes-mo comissário dava conta da situação:”Estamos à espera das ‘minas e armadilhas’ pa-ra passar tudo a pente fino”.

Pelas 16h57 chegam os sa-padores que iam apurar a

consistência do aviso anóni-mo. O atraso, apurámos, ter-se-á ficado a dever ao facto de terem previamente esquadri-nhado as instalações do con-sulado dos Estados Unidos, situado a algumas centenas de metros do local. Enquanto a brigada da Equipa de Inacti-

vação de Esplosivos (EIE) ins-peccionava o hotel, no exte-rior agentes da PSP criavam um cordão de segurança, afas-tando os mirones do local e cortando o trânsito na via ascendente da avenida. Um porta-voz do estabelecimen-to hoteleiro explicara antes à comunicação social que a evacuação se verificou por de-cisão da polícia. “Estamos a obedecer a ordens”, esclare-ceu. O hotel foi reaberto pelas 18h34, quando os especialis-tas da PSP concluíram que a denúncia anónima não tinha fundamento.

“Entra tudo pela porta prin-cipal”, era a ordem recebida pelas dezenas de trabalhado-res do hotel, que pouco depois reiniciaram as suas tarefas. Ao lado, a entrada do WTC continua vigiada por agentes da PSP. “Ninguém passa!”, intimava um cívico, na por-ta principal do centro de ne-gócios, acrescentando que a brigada da EIE estava a ins-peccionar o local, após ter cumprido a sua missão no Pa-lace Hotel, apesar do WTC ter sido o alvo anunciado no tele-fonema anónimo. �

Ameaça de bomba no WTC do Porto

Mensagem anónima levou PSP a evacuar edifício do World Trade Center no Porto

NÉLSON GARRIDO

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D E S TA Q U E 2 5PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Ministério da Defesa centraliza informações

sobre a crise

HELENA PEREIRA

As informações sobre a resposta militar em Portugal aos atentados terroristas dos EUA estão a ser cen-tralizadas pelas relações públicas do Ministério da Defesa Nacional. “Estão a ser tomadas todas as medi-das normais nesta situação”, afir-mou ao PÚBLICO um elemento do MDN, evitando pormenorizar es-sas medidas e remetendo quais-quer dúvidas para a declaração do primeiro-ministro.

As medidas no plano defensivo, no entanto, podem passar pela acti-vação dos comandos operacionais das forças, pelo reforço das unidades e pela prontidão de meios na defesa de pontos sensíveis não militares, entre os quais os governamentais. No plano ofensivo, pelo aumento do grau de prontidão dos meios.

Em termos de estruturas da Aliança Atlântica em Portugal, o Comando Atlântico do Sul (Cinc-southlant), em Oeiras, reforçou a sua segurança, na sequência dos atentados. Mas o grau de ameaça calculado — e as medidas tomadas em função deste — não foi um dos mais elevados. A percepção é a de que os alvos estão em solo norte-americano. A preocupação, em Oei-ras, contudo, vai para a seguran-ça dos militares norte-americanos

que ali estão colocados. O Cincsou-thlant é um comando regional que está directamente sob a dependên-cia orgânica do Comando Aliado Supremo do Atlântico (Saclant), em Norfolk, EUA.

O Centro de Operações Aéreas Combinadas 10 (CAOC 10) da NATO, que funciona nas instalações da For-ça Aérea em Monsanto, é que regis-tou um grande aumento de activida-de. O CAOC faz o controlo do espaço aéreo do Atlântico e aqui reúnem-se

todas as informações sobre os voos comerciais e não comerciais. On-tem, estiveram em trânsito cerca de duas dezenas de voos comerciais com destino aos EUA. Alguns tive-ram que ser desviados, para o Cana-dá, por exemplo, outros regressaram ao aeroporto de origem.

No âmbito da reforma das estru-turas da NATO, o CAOC 10, que está instalado em Portugal há algumas décadas, corre o risco de vir a ser encerrado. � H.P.

Forças Armadas de prevenção em Portugal

“Choque”, “horror”. Es-tas são as palavras que alguns americanos de passagem em Lisboa, entrevistados pelo PÚ-BLICO no Hotel da La-pa, mais usaram para descrever o que senti-ram, face à onda de atentados nos Estados Unidos. José Wehnes, de viagem a Portugal por razões profissionais — trabalha numa editora americana especializa-da em assuntos de medi-cina — tem familiares em Nova Iorque, embo-ra não viva lá, mas ex-plicou que conseguira falar com eles e estavam bem. “Estou aliviado por isso, mas muito cho-cado com o que aconte-ceu”, explicou.O PÚBLICO tentou per-ceber se, para este cida-dão americano, os aten-tados têm algo que ver com a política externa do actual Presidente, George W. Bush. “As coi-sas podiam ser diferen-tes, realmente”, admi-tiu Whenes, lembrando, no entanto, que já hou-ve outro atentado con-tra o World Trade Cen-ter. “Talvez os culpados sejam os mesmos”, aventou. “Estou zangada, muito zangada”, afirmou por sua vez Toni Lindstedt, também americana, de visita a Lisboa igual-mente por razões profis-sionais. “Agora fiquei cheia de medo de viajar, não sei como vou regres-sar a casa”, disse, mos-trando-se também preo-cupada por não ter conseguido contactar com ninguém das suas relações em Nova Ior-que, onde vive. “Não te-nho família, apenas ami-gos, mas não consigo telefonar-lhes. Isto é tu-do um horror.” “Não acredito, não acre-dito”, diziam sem parar uma para a outra, aba-nando a cabeça de incre-dulidade, duas turistas americanas, instaladas no Hotel da Lapa. Am-bas moram na zona de Nova Iorque e tinham acabado de regressar de um passeio de um dia in-teiro por Lisboa. Chega-ram ao hotel carregadas de compras e dirigiram-se de imediato para jun-to de uma televisão, para tentar perceber o que se passava, ficando coladas ao aparelho, a ouvir as notícias da CNN.“Não sabíamos de nada. Quando vínhamos no tá-xi, percebemos que acontecera qualquer coisa grave, só que não entendemos o quê, não percebemos a língua. Não conseguimos acre-ditar nisto”, explicou uma delas. I.B.

Americanos em Lisboa em estado de choque

AUDIÊNCIAS ADIADASForam adiadas, em princípio para segunda ou terça-feira, as audiências do primeiro-ministro, António Guterres, com os partidos da oposição que estavam marcadas para ho-je. Os encontros destinavam-se à preparação da discussão parlamentar do Orçamento do Estado para 2002. Adiado foi também o encontro entre as delegações do grupo parlamentar do PS e do PSD, chefiadas pelos respectivos líderes parlamentares, Francis-co Assis e António Capucho, que iria servir para acertar os contornos finais da revisão constitucional em curso. Este encontro de-verá ocorrer na segunda-feira. Para ama-nhã, foi transferida a conferência de líderes parlamentares que estava marcada para ontem à tarde.

GOVERNO NA ARO secretário de Estado dos Negócios Estran-geiros e Cooperação, Luís Amado, reúne-se hoje à tarde com a comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros, para analisar a situação criada ao nível da política interna-cional e das relações externas portuguesas pelos atentados terroristas contra os EUA. A reunião contará também com a presença do presidente da Assembleia da República, António de Almeida Santos. Em comunicado assinado pelo seu presidente, Luís Marques Mendes, a comissão parlamentar dos Negó-cios Estrangeiros assumia ontem que esti-vera reunida para “exprimir publicamente a sua viva condenação pelos graves atentados terroristas ocorridos nos Estados Unidos, os quais atingiram trágicas proporções e traduzem acções absolutamente intoleráveis para toda a humanidade”.

LINHA DE EMERGÊNCIAOs serviços diplomáticos e consulares por-tugueses nos Estados Unidos estão a desen-volver “todos os esforços no sentido de obter elementos relativos a portugueses envolvi-dos nos atentados”, informou um comunica-do do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) e do gabinete do secretário de Estado das Comunidades Portugueses. Para tal, a embaixada portuguesa em Washington e os consulados-gerais em Boston e Nova Iorque estão a procurar obter informações sobre as listas de passageiros dos voos envolvidos nos atentados e sobre a identidade das víti-mas. Em Lisboa, o MNE montou uma linha telefónica, a funcionar 24 horas por dia, através da qual é possível obter informa-ções sobre a situação dos cidadãos portu-gueses nos Estados Unidos. Quem quiser saber dos seus familiares ou amigos neste país deve ligar para os números 213946406 ou 213946420.

GAMA NO UZBEQUISTÃOOs atentados nos Estados Unidos apanharam o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama, de surpresa, no Uzbequistão, onde se encontrava de visita, para preparar a presi-dência portuguesa da Organização para a Segurança Europeia (OSCE). Gama tentou de imediato apanhar um avião de regresso a Lisboa, mas foi impedido de o fazer pelo encerramento do espaço aéreo da União Eu-ropeia e da Federação Russa, informou o seu porta-voz, Horácio César. Quando soube das notícias, o ministro, que viaja num Falcon da Força Aérea Portuguesa, encontrava-se em Tashkent, capital do Uzbequistão, tendo cancelado então as deslocações que tinha pre-vistas às outras ex-repúblicas soviéticas do Tajiquistão, Quirguistão e Turquemenistão. Gama tentará regressar hoje a Portugal, mas não a tempo de participar no Conselho Extra-ordinário dos ministros dos Negócios Estran-geiros da União Europeia, marcado também para hoje, em Bruxelas, pelo que será substi-tuído pela secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Teresa Moura.

Portugal não está livre de ser um dia vítima de

ataques como os de ontem nos EUA, disseram ao PÚBLICO dois

generais portugueses

HELENA PEREIRAE JOÃO PEDRO HENRIQUES

Dois generais portugueses especia-listas em análise estratégica — um no activo, outro na reserva — con-sideraram ontem, em declarações ao PÚBLICO, que Portugal não está livre de um dia ser vítima de ata-ques de origem semelhante à dos que ontem atingiram os EUA. “Po-de acontecer-nos a nós”, disse o general Garcia Leandro, director do Instituto de Defesa Nacional. “A própria Europa pode ser alvo de atentados, incluindo Portugal”, acrescentou Loureiro dos Santos, ex-chefe do Estado-Maior do Exér-cito, actualmente na reserva.

Para Garcia Leandro é impossível prevenir militarmente ataques co-mo o de ontem. “Não há capacidade para conseguir uma protecção total contra ataques deste género, não há nenhuma capital que não seja vulnerável”, afirmou este general do Exército. Segundo acrescentou, “é a lógica do sistema de relações internacionais que está a levar a isto”. Para o general, a globalização gerou lógicas de exclusão de muitos milhões de pessoas. “A globalização

gerou muita gente desesperada e as pessoas mais perigosas são as deses-peradas. Não têm nada a perder.”

Já para Loureiro dos Santos, Por-tugal deve a partir de agora alterar “radicalmente a sua política de in-vestimentos na Defesa e deixar de sonhar com grandes meios conven-cionais, como os navais, e investir em meios aéreos, por exemplo, para responder ao terrorismo, em agen-tes infiltrados, em operações de projecção de forças que actuem em áreas de situações de crise e que defina num conceito estratégico as verdadeiras ameaças”.

O antigo chefe do Exército portu-guês disse ao PÚBLICO estar “con-

vencido que os EUA estavam pre-venidos” para o ataque. Mas “deve ter havido uma falha nos serviços de informação”. E o “mais estra-nho” são as “falhas nos sistemas de segurança de centros vitais dos EUA, como o Pentágono e mesmo o World Trade Center”. “Os atenta-dos são surpreendentes pelos alvos atingidos, os meios utilizados e a sua amplitude”, afirmou. No seu entender, “os atentados são uma sequência de toda uma série de acções terroristas quer contra in-teresses norte-americanos, quer contra a Europa e mesmo contra a Rússia. A Rússia vem alertando para isto há muito tempo”. �

Militares alertam Governo sobre riscos para o país

Segurança de militares americanos em Portugal é prioridade

Garcia Leandro Loureiro dos Santos

ADRIANO MIRANDA

Page 26: 11 de Setembro de 2001

O mundo dos negócios andava nervoso, irritadiço e impaciente com o evoluir da conjuntura. Na manhã de ontem, quando chegou ao conhecimento do mundo o ataque a um dos símbolos da pujança económica da América, o World Trade Center, e ao ícone do seu poderio militar, o Pentágono, a descrença abateu-se sobre os mercados, que registaram pesadas perdas, e a histeria, como sempre, provocou uma intensa corrida aos metais de refúgio. Não há, nem pode haver, certezas a frio sobre o impacte da vaga terrorista que abalou o principal centro financeiro internacional e deixou os cidadãos da maior economia do planeta atónitos com a dimensão do horror. Mas que o acontecimento vai ter sérias repercussões na já de si periclitante situação da economia mundial, disso já poucos têm dúvidas.

Sabe-se pela experiência do passado recente que a economia, seja pelo lado dos mercados, dos

investidores ou dos consumidores, não se dá bem com o imprevisto. Todos os dias milhares de analistas olham a realidade, e se muitas

vezes as suas previsões saem ao contrário — há apenas um ano muito poucos ousariam imaginar o forte abrandamento da economia que afecta os três grandes blocos, os EUA, o Japão e a Europa —, quando ocorrem ataques como o de ontem tudo pode acontecer. E o que ontem aconteceu é motivo para nos preocuparmos: o petróleo ultrapassou novamente a barreira dos 30 dólares, as bolsas europeias reagiram com fortes quedas — felizmente Nova Iorque esteve fechada — e se o afastamento de cenários de recessão parecia uma possibilidade real apenas ontem, hoje os seus fantasmas voltam a impor-se.

No segundo trimestre do ano a economia americana cresceu uns tímidos 0,2 por cento. Nas últimas semanas a taxa de desemprego registou um agravamento, mas a confiança dos consumidores, em boa parte instigada pelos sucessivos cortes nas taxas de juro, deixavam antever perspectivas, no mínimo, razoáveis de recuperação. Com a manifestação de vulnerabilidade do sistema de segurança dos Estados Unidos e com a consequente quebra de confiança dos agentes económicos, dificilmente sobrará margem para grandes optimismos. E se a economia norte-americana entrar em definitivo em recessão, o resto do mundo sentirá certamente os seus efeitos.

Para além de todas as perdas humanas e materiais que o inominável ataque terrorista ontem provocou, vai também ser necessário contabilizar os danos económicos que se farão sentir nos próximos tempos. Os bancos centrais poderão e deverão reagir com celeridade para reforçar os estímulos à economia, mas muitos investidores dificilmente esquecerão tão cedo o horror de ontem. Para que o longo ciclo de prosperidade que vem dos anos 90 se prolongue, não basta agora encarar as dificuldades do contraciclo: será também necessário vencer o espírito de insegurança e de depressão que os actos terroristas de ontem deixaram no ar. MANUEL CARVALHO

Editorial

As cartas destinadas a esta secção — incluindo as remetidas por e-mail — devem indicar o nome e a morada do autor, bem como um número telefónico de contacto. O PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e eventualmente reduzir os textos recebidos. Não se devolvem os origi-nais dos textos não solicitados, nem se prestará informação postal ou telefónica sobre eles.

Endereço electrónico:[email protected]

A justiça em Portugal

De entre os problemas de que enfer-ma a justiça em Portugal não tenho visto ser debatido aquele que diz res-peito à possibilidade de o advogado de uma causa actuar de forma lesiva dos interesses e dos direitos da parte que teoricamente deve defender e que lhe paga para isso. Afinal, parece que é uma situação que está longe de ser pouco comum e dela, estranhamente, pouco se fala.

Da minha experiência concluo que é muito difícil, senão impossível, conse-guir um advogado que se encarregue de levar a tribunal outro advogado, acusado de procedimento ilícito no desempenho das suas funções. Corre-se Ceca e Meca e não se encontra um advogado disponível que queira encar-regar-se de tal causa, nem mesmo os mais mediáticos paladinos da defesa da cidadania, militantes em partidos de extrema-esquerda.

A situação completa-se com o que parece ser uma prática usual das se-cretarias dos tribunais, que só aos ad-vogados facultam o acesso aos proces-sos, tornando impossível o controlo pelo interessado da actuação do ad-vogado. No meu caso foi-me dito que não se sabia onde estava o processo que pretendia consultar, nem sabiam quando estaria disponível. A quem pode recorrer o cidadão numa situa-ção destas?

Será possível que num Estado que se diz de direito não seja possível fazer prevalecer a lei?

Há, afinal, pessoas neste país, que na prática, se situam acima da lei?

Do ponto de vista dos direitos do cidadão isto é um atentado gravíssi-mo. A coberto da impunidade que es-ta prática garante, o advogado não cumpridor permite-se achincalhar o próprio conceito de justiça, reduzir a papel higiénico a Constituição e pôr

em frangalhos o ideal de Estado de direito.

Sendo o advogado um intermediá-rio do cidadão perante a justiça, indis-pensável na prática ao seu funciona-mento, esta deveria ser exigentíssima na punição dos delitos cometidas no exercício das suas funções, propor-cionando ao cidadão apoio para avan-çar com causas destas de um modo simples e o mais possível isento de formalidades processuais.JOÃO COSTACacém

“Um dinossauro entalado nas arribas de Torres Vedras”

Em relação ao excelente artigo de divulgação da paleontologia, de que o PÚBLICO constitui um exemplo notável, “Um dinossauro está enta-lado nas arribas de Torres Vedras” (21/08/01), é referido por Bruno Silva que “o osso (de saurópode) apresenta marcas que revelam que, depois de o animal estar morto, insectos se ali-mentaram da cartilagem na zona dos tendões. Fizeram pequenas depres-sões no osso”. E o dr. Pedro Dantas salienta que “só encontrou referên-cias a ossos (de dinossáurios) perfu-rados por insectos em fósseis achados na Mongólia, com 83 a 72 milhões de anos”.

De facto, existe pelo menos uma re-ferência à existência de perfurações/escavações em ossos de dinossáurios, igualmente do Jurássico final, in-cluindo ossos de saurópodes, terópo-des e stegossáurios, provavelmente produzidas por insectos. Estas per-furações, circulares a elípticas, com diâmetro variando entre 0,5 e 5,0 mm, surgem em vários elementos esque-léticos de dinossáurios dos grupos referidos encontrados nas jazidas de Carnegie no Monumento Nacional dos Dinossáurios (Utah), de Cleve-land Lloyd (Utah), na jazida de “Big Al” (Wyoming) e na jazida de Bone Cabin (Wyoming). Vários investiga-dores sugeriram que estas perfura-ções evidenciam comportamentos de necrofagia e reprodutor e terão sido provavelmente produzidas por adul-tos e larvas (pupas) de coleópteros

dermestídeos, depois da morte dos animais, mas antes de as carcaças destes terem sido enterradas.

Mas, como é evidente, o “dinossauro de Porto Novo” continua a ser “excep-cional”.CELESTINO COUTINHOPaço de Arcos

Que confi ança, sr. primeiro-ministro?

Parece inverosímil o senhor primei-ro-ministro deixar o seu país chegar a uma tal caótica situação de penúria, por falta de meios pecuniários, tendo recebido, diariamente e durante anos, milhões de contos, acumulados com mais 24 milhões de vendas de imóveis estatais, prejudicando o ensino públi-co, inclusive o superior, faltando às co-memorações de eventos históricos na-cionais, como Aljubarrota, diminuindo funções das Forças Armadas, colocan-do em sobressalto a função pública, etc., etc. Mas o mais grave tem sido o logro devido ao mesmo primeiro-mi-nistro, ao assegurar à população que tudo estava bem e pedindo a sua con-fiança, enquanto economistas de reno-me já há bastante tempo se vinham preocupando e divulgando informa-ção sobre o agravamento da situação económica do país e da premente ne-cessidade de uma reforma fiscal. No entanto, o “estúpido” imposto da sisa continua e o trabalho do dr. Sá Fernan-des foi para a gaveta. Assim se gere a confiança. (...)

Afirmou o sr. primeiro-ministro que tudo iria ser esclarecido quanto à “fundação Vara” (FPS). Conclusão? Nada de concreto e a confiança no primeiro-ministro é mais longínqua. Após as férias, apelou de imediato à confiança dos portugueses. Será que já estava a pensar em lançar mão dos 700 milhões do Fundo de Capitaliza-ção de Pensões, deixando de render juros para passar à ordem e serem ra-pidamente consumidos? Que confian-ça, sr. engº Guterres, com medidas destas, para não falar na dualidade de critérios quanto à co-incineração em que a própria confiança socialista também sofreu grande erosão relati-vamente a si?LANÇA BRITOParede

FANTASMA DA RECESSÃO REGRESSOU

B a r t o o n

C a r t a s a o D i r e c t o r

LUÍS AFONSO

E-mail: [email protected] LISBOA: Rua Viriato, 17 – 1069-315 Lisboa; Telef.: 210111000 (PPCA) Fax:

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Tiragem média total do mês de Agosto72.388 exemplaresASSOCIAÇÃO PORTUGUESA

DO CONTROLO DE TIRAGEM

contribuinte nº 502265094depósito legal nº 45458/91registo ICS nº 114410

Para além de todas as perdas humanas e materiais que o inominável ataque terrorista ontem provocou, vai também ser necessário contabilizar os danos económicos que se farão sentir nos próximos tempos

2 6 E S PA Ç O P Ú B L I C OPÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

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D i z - s e“Tenho a imodéstia de achar que nenhum daqueles senho-res que por aí apareceram fa-rá melhor que eu. Todos eles têm a cabeça noutro lado. (...) O amor por Lisboa tem de ser um amor exclusivo.”JOÃO SOARES“A Capital“, 11-9-01

“De facto, tanto o PCP como o PP querem casamentos de conveniência, o chamado gol-pe do baú, com o PS e o PSD, respectivamente.”JOÃO PAULO GUERRA“Diário Económico”, 11-9-01

“Como alternativa a esta mistela ideológica e políti-ca resta a alternância, sem penduras, entre o partido-cara e o partido-coroa do bloco central.”Idem, ibidem

“Mas... o que fazer para mu-dar esta sensação de frustra-ção que mina o país? Duas medidas de esplendoroso al-cance político: correr com Boloni no Sporting e com o Toni do Benfi ca...”CARTOON DE MAIA“24 Horas“, 11-9-01

“Se os resultados não me-lhorarem nas próxima uma/duas semanas, não lhe dou [a Boloni] mais tempo.”CARLOS MONJARDINO“24 Horas“, 11-9-01

“O Benfi ca quer mesmo avan-çar com a construção do es-tádio. O problema continua a ser o PDM. O PDM, sempre o PDM. Esses idiotas que in-ventaram o planeamento e o urbanismo deviam ser todos presos!”LUÍS AFONSOCartoon “A Bola“, 11-9-01

“O desporto é, e tem de con-tinuar a ser, festa e alegria para todos e nunca motivo para confrontos ou instru-mento ao serviço de estraté-gias de forças obscuras que, não tendo outros meios ao seu alcance, se servem dele para alcançar os seus fi ns ilegítimos.”JORGE COELHO“O Jogo“, 11-9-01

“A corrupção está institu-cionalizada e é uma en-grenagem demasiado com-plexa. (...) Não é possível [acabar com ela]. Tornou-se controlável porque entrou no convívio das pessoas e sociedades.”JOSÉ EDUARDO PINTO DA COSTA“Diário Económico“, 11-9-01

“O tráfi co de infl uências é o tipo de corrupção mais mo-derna e mais difícil de detec-tar e de controlar.”Idem, ibidem

ou professora de Matemática do ensino secundário, há mais de 20 anos, e tenho estado desagradavelmente perturbada

com as reacções que o ranking dos resultados dos exames nacionais, publicado há dias, tem suscitado! Todas, ou quase todas as interven-ções que li (parabéns ao José Soeiro, que é uma excepção!) se referem às notas dos exames na-cionais, ou melhor a umas médias, de alguns dos exames, calculadas de formas muito discu-tíveis (como aliás já foi escrito), como se elas medissem algo que é objectivo e claro, mas que ainda ninguém disse o que é! Pois eu afi rmo que aquilo que os exames medem é muito pouco relevante, e que não é, com toda a certeza, a qualidade do ensino nas escolas, ou o nível cul-tural dos alunos, ou o seu futuro sucesso como cidadãos e profi ssionais.

Os exames podem medir a quantidade de in-formação que um aluno foi capaz de memori-zar, de entre a que “vem para o exame”, e a sua capacidade em processar essa informação rapi-damente. Mas não medem, com toda a certeza, a capacidade de memorizar e processar outras informações provavelmente mais interessan-tes para muitos jovens, mas menos valorizadas pelo sistema, isto é, pela cultura academicista e liceal que preside à elaboração dos nossos programas. Os exames também não medem a capacidade dos alunos de encontrar a informa-ção necessá-ria noutros suportes — li-vros, internet, especialistas — e de a pro-cessar então, em condições de trabalho normais, e com a pos-sibilidade de interagir com outras pessoas, co-mo acontece na vida real, em todas as activida-des humanas.

Os exames medem também o domínio que os alunos têm dos códigos linguísticos, e por vezes éticos e estéticos, utilizados nos enunciados, e que são muito próximos dos códigos utilizados socialmente e em família, em alguns grupos, mas que não são nada próximos das linguagens utilizadas nos grupos sociais da maior parte dos jovens que actualmente frequentam o se-cundário.

Os resultados dos exames são infl uenciados, como é testemunhado por todos os que já passa-ram por essa situação, pela capacidade que ca-da um tem de dominar algumas emoções como a ansiedade e a angústia provocadas pelo facto de se ser posto à prova, sabendo às vezes que o seu desempenho naquele momento tem conse-quências importantíssimas para o seu futuro, sobretudo se as suas famílias não podem pagar universidades privadas.

Enfi m, em última análise os exames medem também o empenho que foi colocado pelo alu-no e pelo professor na sua preparação e reali-zação. Mas ensinar é muito mais do que prepa-rar para exames, e também muito diferente. Como dizia Eduardo Veloso (PÚBLICO, 13/8), o dilema entre preparar para exames ou ensi-nar realmente o que é importante, com todas as limitações e os objectivos ambiciosos que temos, é um dos grandes entraves a um ensino de qualidade.

Os exames não medem qualidades que hoje sabemos serem importantíssimas num cidadão e num profi ssional, como o rigor, a honestida-de, a abertura a outros saberes, o respeito pelo outro, a persistência em alcançar objectivos, o espírito democrático, a curiosidade científi ca, etc. No entanto, todos os dias trabalhamos no sentido de promover essas qualidades.

Os exames não podem medir capacidades de raciocínio, de formulação e resolução de pro-blemas, de comunicação, de refl exão e crítica, de colaboração, de liderança. No entanto, todos os estudos têm apontado para que estas são capacidades importantíssimas no desempenho de qualquer actividade, académica ou profi s-sional.

Os exames não medem o empenho dos alunos em integrar-se numa prática, seja ela profi ssio-nal, académica, artística, desportiva ou até de defesa dos seus ideais.

Finalmente, os exames não medem o futuro sucesso profi ssional dos alunos, como todos os estudos têm demonstrado. Várias são as gran-des fi guras da nossa praça, que confessam ter tido insucesso a algumas disciplinas na escola; discute-se a efectividade do sistema de acesso à universidade por se constatar que os médicos que estão a ser formados nem sempre estão vocacionados para o exercício da profi ssão, apesar das notas altíssimas que tiveram nos exames do 12º ano; todos nós conhecemos exemplos de pessoas que tiveram insucesso na escola e no entanto são óptimos profi ssionais ou vice-versa.

Parece-me que há uma grande confusão que tem que ser desfeita: a função primeira da esco-la é ensinar, proporcionar experiências de aprendizagem que façam com que os nossos alunos sejam pessoas felizes numa sociedade melhor. Infelizmente, a certa altura foi necessá-rio que a escola cumprisse também outra fun-ção – a de seleccionar – e para isso criaram-se

os exames nacionais. Da forma como as ques-tões estão a ser colocadas, estamos a correr o risco de esquecer a função de ensinar para nos concentrarmos apenas na de seleccionar, o que me parece extremamente perigoso e anti-democrático!

Por outro lado, gostaria aqui de lembrar que a função de educar não pertence exclusivamen-te à escola, muito pelo contrário: há grandes responsabilidades que têm que ser assumidas pelas famílias, comunicação social e sociedade em geral. Há outros indicadores e números que poderiam e deveriam servir de base de refl exão para avaliarmos a forma como estamos a edu-car os nossos jovens, e sugiro apenas alguns, no que respeita à população juvenil:

— os níveis de audiência dos vários progra-mas de televisão, por exemplo dos “reality sho-ws”, comparativamente com outros programas de informação, divulgação artística, literária e científi ca;

— a frequência de exposições, teatros, mu-seus, e outros acontecimentos culturais;

— a frequência com que lêem jornais, livros, etc.

— os que têm acesso a tecnologias de infor-mação e comunicação e a outros bens cultu-rais.

Estes também são números indicadores do nível de cultura dos jovens. Porque é que a co-municação social não os divulga em letras gor-das? Talvez vá chegar à conclusão que há mui-tos jovens interessantes e interessados, esclare-cidos, a fazer coisas interessantes e a trabalhar para uma sociedade melhor. Eu apostaria nis-so, já que trabalho todos os dias com eles, e tenho conhecido muitos como o José Soeiro (Público On Line, 29/8, Redutor e Simplista), que, apesar dos seus 17 anos, mostrou ter uma capacidade crítica muito mais apurada do que alguns grandes nomes da nossa praça. � Profes-

sora da Escola António Arroio, Lisboa

Exames são bons instrumentos de medida? De quê?

RITA BASTOS

S

Ele fazia 52 anos no dia em que se conhece-ram, mas não foi esse o tema de conversa, apesar de ter sido uma das primeiras coi-sas que lhe anunciara. Estavam sentados lado a lado no avião, a sobrevoar o Atlânti-co, depois de quase duas horas de espera fechados num aparelho que teimava em não levantar voo, quando Gilberto, brasi-leiro, desatou a falar de Lisboa, de Portu-gal, do Alentejo, do Minho e das ajudas da União Europeia. Naquele exacto momento, ela queria apenas ter a certeza de que as difi culdades iniciais não prenunciariam mais complicações nas seis horas de voo que faltavam, mas era óbvio que tinha um interlocutor à espera.O homem tinha o seu relógio de ouro, dois mil trabalhadores numa empresa de cana-de-açúcar de que era um dos directores, fi lhos jovens, dinheiro — “certamente mais do que merecia”, segundo o próprio — e uma curiosidade imensa em saber como é que estava a política portuguesa. Era a per-gunta de quem visita o país várias vezes por ano e tem observado as mudanças — “Vocês mudaram muito desde que entra-ram para a Comunidade Europeia. Vê-se na construção, nas estradas, na qualidade de vida...”Recordava-se de em 1972, era ainda jovem, entrar num café em Portugal e o emprega-do, de ar triste, só lhe falar da vontade de emigrar — de “sair daqui”. Naquele tempo, era um desejo que ele ouvia a muitas pesso-as, e entendia-o como uma falta de futuro.Ela lá lhe ia dizendo que o sr. Sampaio e o sr. Guterres iam bem de saú-de, eram, sem dúvida, políti-cos da geração do sentimento, avessos ao ris-co e a grandes expressões de autoridade, até que ele lhe per-guntou pelo es-tado da econo-mia, queria sa-ber se éramos mais europeus do que ele ima-ginava: “Bom, vocês estão na Europa, mas há coisas em que estão muito longe dela. A gente entra numa aldeia do interior e dá logo para ver.” Bom, que quanto à econo-mia, continuava ela, as coisas não iam bem, muitas famílias estavam em difi culdades, e os nossos compromissos com a Europa andavam periclitantes, o Estado gastava cada vez mais; que as reformas nunca mais apareciam e que a sociedade discutia hoje muito a fraude e a corrupção.A ironia de um “Querida, só vocês é que parece não verem que já são assim há mui-tos anos” foi desconfortável, mas provido de realismo. A medida de Gilberto para provar o seu argumento eram as ajudas europeias, porque — dizia — o muito inves-timento enviado para o país deveria ter da-do mais resultados e mais desenvolvimento do que os que estão à vista, nas empresas e nas cidades. “Foram muitos milhões.”Não era a crítica que a incomodava, mas a repentina perspectiva de que o assunto, depois de gastos milhões de decibéis de dis-cussões e de toneladas de tinta, pudesse banalizar-se, ser aceite como parte inte-grante da vida e concluir (algures no futu-ro, com o mesmo conformismo de Gilberto) que, “infelizmente, o nosso país só funcio-na assim”.

Distância

LURDES FERREIRAO U S I M O U S O PA S

Não era a crítica que a incomodava, mas

a repentina perspectiva de que o assunto, depois de gastos milhões

de decibéis de discussões e de toneladas

de tinta, pudesse banalizar-se, ser

aceite como parte integrante da vida

AQUILO QUE OS EXAMES MEDEM é muito pouco relevante, e não é, com toda a certeza, a qualidade do ensino nas escolas, ou o nível cultural dos alunos, ou o seu futuro sucesso como cidadãos e profi ssionais

E S P A Ç O P Ú B L I C O 2 7PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

“Enquanto a questão do or-çamento para 2002 não esti-ver resolvida, o ambiente po-lítico em Portugal será um pântano com os seus limos escorregadios e seus cheiros pestilentos.”JOSÉ MEDEIROS FERREIRA“Diário de Notícias“, 11-9-01

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M U N D OPÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SETEMBRO 2001

T I M O R O N A S C I M E N T O D E U M A N A Ç Ã O

Em declarações ao PÚBLICO, Mari Alkatiri, o líder da Fretilin que

será chefe do Governo e ministro da Economia, admite ainda

divergências com Sérgio Vieira de Mello e Xanana Gusmão

Dos nossos enviados LUCIANO ALVAREZ (textos)

e FERNANDO VELUDO(foto), em Díli

“Não haverá titularidade para estrangeiros” na terra da futura República Democrática de Timor-Leste (RDTL) independente. Quem o assegura é Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin e futuro chefe de Governo, cargo que acumulará com a pasta de Economia no segundo Executivo de transição das Nações Unidas. Isto, se as negociações com Sérgio Vieira de Mello, administrador da ONU no ter-ritório, chegarem a bom porto, o que, ontem, ainda não estava garantido. “Não temos pressa para formar Governo, ou as coisas são como nós queremos ou vamos só para a assembleia”, afirma, acrescentando logo a seguir que “se alguém disser que já há acordo [para a forma-ção do Executivo] está a mentir”.

No dia em que o partido que venceu as elei-ções do passado dia 30 festejou a maioria abso-luta e o 27º aniversário da sua fundação, Mari Alkatiri falou ao PÚBLICO sobre alguns dos assuntos mais quentes no momento, tais como a formação do futuro Governo de transição e o papel de Xanana Gusmão até à indepen-dência e a sua candidatura à Presidência da República. Abordou ainda alguns dos temas mais polémicos que se vão colocar no dia em que oficialmente nascer o primeiro país do século XXI, como a posse da terra. E assegura desde já que só cidadãos timorenses terão direito a ela.

Determinado, Mari Alkatiri deixa claro

que não teme um confronto com a Adminis-tração das Nações Unidas nos tempos mais próximos, nem com Xanana se a sua candida-tura à presidência não se revelar totalmente independente.

A TREMIDA FORMAÇÃO DO GOVERNOSérgio Vieira de Mello tem afirmado que tudo está a correr bem nas negociações com a Fre-tilin para formação do segundo Governo de transição, tendo mesmo dado a entender na passada segunda-feira que já havia acordo. A versão de Mari Alkatiri é, porém, bem diferen-te. “Se alguém disser que já há acordo está a mentir”, assegura.

Para já, segundo o secretário-geral da Freti-lin, só há concordância em relação ao chefe do Governo — Mari Alkatiri, que ontem revelou ao PÚBLICO que também ocupará a pasta da Economia — e às personalidades independen-tes. Ou seja, Ramos-Horta para os Negócios Estrangeiros, Filomeno Jacob para a Educação, e o médico Rui Araújo, para a pasta da Saúde.

Mari Alkatiri continua a dizer que a políti-ca do seu partido é a de um Governo de inclu-são, “com pessoas de competência e íntegras”, e “não um Governo de unidade nacional ou coligação”. “Se estes critérios fossem assimi-lados como deve ser, não haveria a tendência de se propor à cabeça nomes de pessoas que já se sabia que a Fretilin iria recusar. O pro-blema é que quando se quer incluir, muitas vezes se está a excluir”, diz, referindo-se a Vieira de Mello.

O secretário-geral da Fretilin afirma, porém, que talvez a viagem a Jacarta que ontem ini-ciou na companhia de Sérgio Vieira de Mello, Xanana Gusmão e Ramos-Horta “ajude a re-solver as coisas”. Se não ajudar, Alkatiri não tem dúvidas: “Não temos pressa de formar governo. Se não houver acordo, se as coisas não forem de acordo com a nossa política, a

Fretilin fica de fora, porque este Governo é da responsabilidade da UNTAET.”

Um dos pomos da discórdia já está, porém, resolvido, o que leva Alkatiri a dizer que “as coisas já começam a correr melhor” e a ad-mitir mesmo a possibilidade de se chegar a

Fusão da ASDT na Fretilin já foi acordadaA fusão da nova Associação Social-De-mocrata Timorense (ASDT) de Xavier do Amaral na Fretilin está já assegu-rada, o que garantirá ao partido que ganhou as eleições do passado dia 30 de Agosto a maioria de dois terços ne-cessária para aprovar a Constituição sem ter que fazer qualquer aliança ou cedência a outra força partidária.Xavier do Amaral, também fundador, em 1974, da primeira ASDT, partido que pouco tempo depois daria lugar à Fre-tilin, de que foi primeiro presidente, es-teve ontem no aniversário da Fretilin e com lugar de destaque. Perdoado está o facto de se ter “passado” no final dos anos 70 para o lado integracionista, o que levou à sua expulsão da Fretilin.Para já, os dois partidos vão ocupar os seus lugares separados na Assembleia Constituinte, embora Xavier do Amaral continue a deixar claro que “estará sem-pre ao lado da Fretilin”. Num “futuro próximo” será feito o acordo institucio-nal de fusão que, tal como o PÚBLICO já tinha noticiado, garantirá à Fretilin um total de 62 deputados (56 seus e seis vindos da ASDT) num total 88 eleitos. “Em termos emotivos já está tudo acor-dado, falta só o lado institucional”, disse ontem Mari Alkatiri.

Estrangeiros sem direito a titularidade sobre a terra

em Timor independente

Alguns timorenses manifestaram o seu apoio à Fretilin usando autocolantes com a fi gura do líder do partido, Mari Alkatiri

A D E R R O TA

O pior resultado dos trabalhistas

noruegueses desde 1924O Partido Trabalhista da Noruega sofreu a sua mais grave derrota desde 1924 de-pois de uma campanha eleitoral domi-nada pelo descontentamento popular pelos elevados impostos e inadequados serviços públicos num país que o petró-leo tornou rico. Ontem, com 98 por cento dos votos contados, o Labour conseguira apenas cerca de 24 por cento — menos do que os 35 por cento obtido nas últimas eleições gerais há quatro anos. Esperam-se agora semanas de negociações para que três partidos possam formar Gover-no e três políticos tentem ser nomeados primeiro-ministro, observou a BBC. As previsões são as de que os trabalhistas irão ocupar 43 lugares entre os 165 do Parlamento — na anterior assembleia contavam com 65. Os conservadores fi-caram em segunda posição com 21 por cento, o que lhes dá 38 deputados. O pe-queno Partido do Progresso (extrema-direita) terá subido de 20 assentos para 26. A coligação de três partidos liderada pelos cristãos-democratas caíu de 42 para 34 lugares. O primeiro-ministro cessante, Jens Stoltenberg, que chefiava um Exe-cutivo trabalhista minoritário, admitiu que esta foi “uma má eleição”, mas avi-sou: “Não nos vamos agarrar ao poder a qualquer preço mas seria um erro ab-dicarmos das novas responsabilidades governamentais.”

A F I G U R A

Presidente Museveni prendeu a mulher do rival

Winnie Byanyima, deputada da oposição no Uganda, foi presa ontem, duas sema-nas depois de o seu marido, Kizza Besi-gye — que concorreu (e perdeu) contra o Presidente Yoweri Museveni nas eleições de Março último — ter fugido para os Estados Unidos. A primeira justificação para a detenção da senhora Byanyima foi a de que ela agiu como “fiadora” de um correligionário político entretanto desaparecido. Posteriormente, a polícia acusou-a de posse ilegal de uma arma, que terá sido encontrada na sua resi-dência. Byanyima, deputada eleita pelo município de Mbarara, no Ocidente do Uganda, pagou uma “fiança política” para que Deus Bainomugisha, activista que fez campanha pelo seu marido, fosse libertado depois de ter sido detido, no dia 2 deste mês, por possuir “informações perigosas”. Agora, ele está em paradeiro desconhecido.

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M U N D O 2 9PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

um acordo. Sérgio Vieira de Mello queria co-locar o Partido Social-Democrata (PSD) no Governo, a Fretilin estava contra, mas Mário Carrascalão, líder do PSD, acabou por resolver a contenda, decidindo que não queria entrar no Executivo.

Escolhido está já também o presidente da Assembleia Constituinte: “Isso é claríssimo, vai ser Lu-Olo [presidente da Fretilin].”

O PAPEL DE XANANA GUSMÃO E A SUA CANDIDATURA À PRESIDÊNCIAPrimeiro que tudo, “face a alguns equívocos que surgiram”, Mari Alkatiri faz questão de esclarecer que Xanana Gusmão “não ocupa-rá nenhum cargo no Governo”. E, de facto, isso não acontecerá. O líder histórico, como também já afirmou Sérgio Vieira de Mello, ficará, até à independência, responsável pela áreas de defesa e planeamento estratégico, respondendo apenas ao administrador tran-sitório e funcionando como uma espécie de elo de ligação entre o Governo de transição e a administração da ONU nessas áreas.

Um cargo sem funções executivas que é vis-to, quer pela UNTAET, quer pelos principais dirigentes políticos, como de preparação do eventual futuro chefe de Estado da RDTL.

Em relação à candidatura de Xanana Gus-mão à Presidência da República é que a Fre-tilin ainda não tem todas as certezas. Mari Alkatiri continua a afirmar que Xanana não será o candidato da Fretilin, embora possa vir contar com o apoio do partido. Porém, para que tal aconteça, “é necessário que Xa-nana Gusmão surja inequivocamente como candidato independente”. “Se Xanana surgir como candidato de algum partido, como esta-mos a ver que alguns se preparam para fazer, teremos de analisar a situação”, acrescenta Mari Alkatiri.

A ausência do líder histórico da resistên-cia, ontem de manhã, na festa da vitória da Fretilin, partido a que pertenceu, foi muito notada. Mari Alkatiri continua, no entanto, a dizer que não há ruptura entre o seu partido e Xanana e justifica a ausência na festa da seguinte forma: “A culpa não é de Xanana, que até não foi avisado para vir. Nós não queremos forçar o Xanana a tomar atitudes que possam levar as pessoas a dizer que ele se está a querer adaptar à realidade.”

A TERRA SÓ NAS MÃOS DOS TIMORENSES E DE QUEM A TRABALHAA pertença da terra é uma das questões que promete levantar mais polémica após a inde-pendência, até porque muitos dos empresá-rios, alguns verdadeiros aventureiros, que estão em Timor-Leste não se cansam de falar no assunto, disparando críticas a torto e a direito, por não estarem a conseguir assegurar desde já direitos.

Não conseguem, não vão conseguir até à independência. A UNTAET tentou, até para atrair desde logo algum investimento estran-geiro, começar durante a sua administração a fazer algumas concessões mediante uma aná-lise que será feita por uma espécie de tribunal independente. Só que os dirigentes timorenses não o permitiram, deixando escrito, como lei da administração da ONU, que a pertença da terra só será decidida pelos dirigentes do futuro Estado independente.

Ontem, Mari Alkatiri revelou que a questão da terra “ficará clara na futura Constituição”, deixando para já uma certeza em nome do seu partido: “Não haverá titularidade de terra pa-ra cidadãos estrangeiros.” Significa isto que todos os cidadãos ou entidades estrangeiras que tenham adquirido terra no passado, fosse durante o período do colonialismo português, fosse durante a ocupação indonésia, vão perder esses direitos, que vão passar a ser pertença do futuro Estado independente.

“A terra será só de cidadãos timorenses, mas também não queremos terra cansada. A terra é para produzir e quem a quiser trabalhar terá a sua parte”, acrescenta.

Quando a divergências entre timorenses pela posse da terra, Mari Alkatiri diz que haverá um período para cada um reclamar o que é seu, sendo essas reclamações analisadas pelo Estado. “Tudo o que não for reclamado pelos timorenses passará para o Estado.” �

C r ó n i c a

A velha bandeira de um novo paísLUCIANO ALVAREZ

Quando a bandeira começou a subir o mas-tro, com os seus amarelo, vermelho e preto vibrando ao vento, todas as vozes se calaram. Todos olharam, num silêncio impressionante e emocionado, alguns sem conseguir segurar as lágrimas, para aquela bandeira de três cores apenas adornada com uma pequena estrela branca de cinco pontas que subia lentamente o mastro.

Para a maioria dos presentes não era ape-nas uma bandeira. Subia lentamente aquele mastro branco o símbolo de uma luta, o so-nho da liberdade aguardada durante tantos anos, o rosto de muitos dos que morreram em sua defesa. Subia lentamente o mastro a recordação do dia 28 de Novembro de 1975, quando sob aquela bandeira muitos dos que ontem voltavam a olhar para ela declararam Timor independente.

“É o dia por que esperámos durante mui-tos anos”, diziam muitos, entre trocas de abraços, no final da cerimónia. O dia em que a Fretilin comemorou oficialmente a sua vitória nas eleições de 30 de Agosto e, ao mesmo tempo, o 27º aniversário da sua fundação. O dia em que a bandeira da Repú-blica Democrática de Timor-Leste voltava a estender-se ao vento.

Já não é a primeira vez desde o dia 30 de Agosto de 1999, quando os timorenses abri-ram, no referendo popular, as portas da liber-dade, que a bandeira da independência do país é festejada. Não tem, aliás, passado um dia em que ela não seja festejada.

Ontem era, porém, um dia especial. Ao lado da bandeira da independência voaria ao vento pouco tempo depois o estandarte da Fretilin, sua irmã nas cores e na luta, também ela cho-rada enquanto subia, mas ao mesmo tempo saudada por todos com hino do partido: “Fo Ramelau”, a canção que dantes era cantada em sussurros e agora é gritada a plenos pulmões. Ontem foi, acima de tudo, festejada a primeira eleição em liberdade dos timorenses. Foi a festa da democracia.

Na primeira fila, todos de olhos nas ban-deira, alguns dos fundadores da Fretilin: Ra-mos-Horta, Mari Alkatiri, Lu-Olo, Xavier do Amaral, um irmão em tempos desavindo que agora regressa, Rogério Lobato e Ma’uhno, um dos grandes combatentes.

Junto aos líderes, milhares de pessoas en-chiam o espaçoso terreiro da sede da Freti-lin e os seus arredores. Ex- guerrilheiros, homens e mulheres que lutaram dentro e fora do país, e povo. Gente anónima que foi a grande alma da resistência. “O grande he-rói”, como ninguém tem dúvidas em apeli-dar aqueles que, desde a mais pequena das aldeias à maior das cidades, foram a água e o pão de resistência.

E entre eles, individualidades estrangeiras, impressionadas com a emoção que ali se vivia. Na multidão, um “malai” (estrangeiro) de feições asiáticas merecia mais olhares que todos os outros. Chalief Akbar, chefe da missão diplomática da Indonésia em Timor. Ontem, também ele se colocou em posição de sentido, de respeito, enquanto as duas bandeiras que o seu país perseguiu durante 24 anos se estendiam ao vento.

A festa da vitória da Fretilin nas eleições de 30 de Agosto e do 27º aniversário da fundação do partido foi de recordações e emoções, mas também a festa dos novos tempos de democra-cia, liberdade, paz e reconciliação que se vivem na meia ilha que dentro de menos de um ano se tornará no primeiro país do século XXI. �

A única província que os homens de

Ahmad Shah Massoud ainda controlam

integralmente é Badakhshan,

no extremo nordeste do país

Aproveitando os rumores so-bre a morte de Ahmad Shah Massoud, o líder carismáti-co da guerrilha afegã, os ta-liban lançaram ontem uma ofensiva contra zonas con-troladas pela oposição, 25 quilómetros a Norte de Ca-bul, na direcção de Charikar, capital da província de Pa-rwan. Segundo as agências internacionais, o som das ex-plosões ouvia-se claramente em Cabul.

A milícia no poder atacou

também Mahmud-i-Raqi, ca-pital da província de Kapisa. Tal como Charikar, trata-se um acesso importante ao Va-le de Panshir, a praça-forte de Massoud, a quem chamam justamente Leão de Panshir.

Um porta-voz dos taliban — que controlam já quase a tota-lidade do território afegão — declarou à AFP que os com-bates foram retomados na se-quência da “perda de moral” das tropas de Massoud.

Mohammad Habeel, um porta-voz da oposição afegã, confirmou que “eles [os tali-ban] tomaram alguns postos, mas voltaram a perdê-los, num contra-ataque”. Ontem à tarde, o dirigente local da oposição, Besmillah, acres-centou à AFP que a situação era “calma, normal”, e que “o inimigo” fora afastado. Segundo este comandante, a ofensiva dos taliban envol-

veu uma grande número de tropas e bombardeamento aéreo, e ter-lhes-á custado “dezenas” de baixas. A úni-ca província que os homens de Massoud ainda contro-lam integralmente é Ba-dakhshan, no extremo nor-deste do Afeganistão.

Entretanto a televisão es-tatal iraniana anunciou on-tem que os estados vizinhos do Afeganistão que contes-tam o domínio taliban e a sua influência na região se reunirão brevemente (não foram avançadas datas) em Dushanbé, capital do Taji-quistão. Só o Paquistão, a Arábia Saudita e os Emira-dos Árabes Unidos reconhe-cem o governo dos taliban — as Nações Unidas ainda consideram o Governo do Presidente Rabbani, que os taliban afastaram em 1996, como legítimo. �

Numerosas fontes diplomáticas em Wa-shington e Moscovo calculavam ontem que Ahmad Shah Massoud, o líder da guerrilha contra os taliban, tenha mor-rido na sequência do atentado de domin-go, no seu quartel-general, na província de Takhar, Norte do Afeganistão, quan-do dois pseudojornalistas de televisão fizeram explodir uma câmara armadi-lhada. Mas tanto o irmão de Massoud como o presidente afegão no exílio ga-rantiram às agências que o combatente está vivo e a ser tratado num hospital da região. “O meu irmão está a recuperar, num es-tado estacionário”, declarou à AFP Ah-mad Vali Massoud, embaixador em Lon-

dres da oposição afegã. “Ele está bem”, confirmou por sua vez à Reuters o an-tigo presidente Rabbani, acrescentan-do que Massoud “consegue comer, e até certo ponto, andar”, embora esteja im-pedido de falar, e que “o conselho dos médicos é de o enviar para um hospi-tal europeu”. Um “site” da oposição afe-gã (www.payamemujihad.com) explici-ta que o líder da guerrilha perdeu três dedos, sofreu feridas graves na cabeça e na perna direita, mas que conseguiu ir sem ajuda desde o local do atentado até ao hospital. A oposição afegã responsa-biliza os taliban e Ousama Bin Laden pelo atentado contra Massoud, acusação que os taliban rejeitaram.

RETRATO DE UM GUERRILHEIROMantinha-se ontem envolto em mistério o destino de Ahmad Shah Massoud, o líder da guerrilha contraos taliban, com os seus próximos a insistirem que ele sobrevivera a um ataque bombista suicida, apesar de persistentes notícias sobre a sua morte

REUTERS | PÚBLICO

Cabul

Kandahar

Herat

AFEGANISTÃO200 km

Província de Takhar

Maazar-e-Sharif

Vale dePanjsher

TAJIQUISTÃO

PAQUISTÃO

Ahmad Shah MasoodÁrea controlada pelos talibanÁrea controlada pela oposiçãoÁrea disputada

Nasce em 1953 — Conhecido como "Leão de Panshir",por ter nascido no vale com o mesmo nome

Finais de 1979 — Regressa do exílio no Paquistão,na sequência da invasão soviética

Anos 80 — Torna-se um dos mais bem sucedidoscomandantes mujaedin, na luta contra os invasores

1992 — Ganha a guerra, as facções "mujahedin"não conseguem implantar a paz. Massoud é nomeadoministro no governo de Burhanuddin Rabbani.

1996 — Uma nova força apoiada pelo Paquistão — ostaliban — vem do Sul e de Leste para tomar Cabul

Setembro de 2000 — Massoud é isolado pelos talibanna província de Badakhshan

2001 — Massoud, apoiado pelo Irão, Índia e Russiaalarga a área de oposição aos taliban

9 de Setembro — Massoud é alvo de assassinosdisfarçados de jornalistas de televisão,no seu quartel-general, na província de Takhar

Oposição afegã garante que Massoud está vivo

Taliban lançam ofensiva para controlar

todo o Afeganistão

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3 0 M U N D OPÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Com Jenin isolada, já ninguém esperava que Arafat e Peres se encontrassem ontem

à noite

A cidade autónoma palestinia-na de Jenin, na Cisjordânia, está desde ontem cercada por tanques israelitas numa ope-ração que o Exército descre-veu como de prevenção con-tra a infiltração de potenciais “kamikazes” em Israel.

O cerco gerou confrontos e, segundo fontes hospitalares citadas pela agência Reuters, pelo menos dois palestinianos foram mortos. Um encontro planeado para ontem à noite entre o chefe da OLP, Yasser Arafat, e o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Shimon Peres, ficou também em dúvida.

Noutros incidentes separa-dos, tropas israelitas mata-ram a tiro um palestiniano que seguia de carro para a Faixa de Gaza e guerrilheiros palestinianos mataram dois agentes da polícia de frontei-ras israelita que guardavam uma base próxima da Cisjor-dânia, adiantou a Reuters.

A operação com os tanques à volta de Jenin — uma loca-lidade descrita por responsá-veis militares como “um ni-nho de terrorismo” —surgiu dois dias depois de um bom-bista suicida ter morto três israelitas na cidade de Naha-

Tanques israelitas cercam cidade palestiniana

riya, no Norte do Estado ju-daico. O gabinete do primei-ro-ministro israelita, Ariel Sharon, denunciou que pelo menos seis bombistas saíram de Jenin desde que a revolta palestiniana começou há qua-se um ano.

O Exército, que bloqueou as estradas de acesso à cida-de, não especificou durante quanto tempo vai manter o cerco. Os blindados permane-cem a poucos metros do inte-rior da povoação e nos montes que lhe são sobranceiros pra-

ticamente desde que a opera-ção foi desencadeada às pri-meiras horas da madrugada.

Os apeos à resistência fize-ram-se ouvir em todos os altifa-lantes nos minaretes das mes-quitas de Jenim enquanto os tanques avançavam sob a co-

bertura da escuridão, relatou o jornalista da Reuters. Activis-tas palestinianos dispararam as suas armas e o Exército respon-deu com os seus canhões lan-çando pelo menos seis bombas. Dois homens, Ibrahim Fayed e Ihab al-Masri, foram mortos

num campo de refugiados pró-ximo de Jenin.

Israel tem feito breves in-cursões em território sob con-trolo da Autoridade Palesti-niana. A maioria tem durado várias horas, embora na loca-lidade de Beit Jala, nas ime-diações de Jerusalém, tives-sem permanecido dois dias no mês passado, para neutralizar os guerrilheiros que atacavam com morteiros o vizinho colo-nato judaico de Gilo.

Com a tensão em alta, as es-peranças de um encontro Peres-Arafat diminuíram substan-cialmente, até porque ambas as partes ainda não tinham che-gado a um compromisso quan-to ao local do diálogo previstro para ontem à noite. Arafat que-ria a estância egípcia de Taba; Peres preferia o “checkpoint” de Erez que separa Gaza de Isra-el. Ontem, um dos mais influen-tes ministros palestinianos, Na-bil Shaath, disse a repórteres em Damasco que o “rendez-vous” tão esperado não deverá acontecer antes da visita que Arafat inicia hoje à Síria — uma data simbólica, já que é o oitavo aniversário dos Acordos de Oslo agora moribundos.

Em todo o caso, mesmo que Arafat e Peres se sentassem à mesma mesa para a primeira das três sessões inicialmente planeadas, ninguém espera que eles ponham fim a 11 me-ses de banho de sangue que já causou mais de 700 mortos — 562 palestinianos e 165 is-raelitas. �

Uma mulher palestiniana protesta contra a demolição da sua casa pelo Exército israelita

AMMAR AWAD/REUTERS

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M U N D O 3 1PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

eridos depois de quase um ano de con-fl ito violento

com os palestinianos, os israelitas sofreram esta semana mais um trauma: toma-ram conhecimento, para seu horror, que um bombista suicida respon-sável pela morte de três inocentes numa estação de caminhos-de-ferro era um compatriota.Mohammed Shaker Habeishi (na foto), nascido em Acre, a residir há anos na aldeia de Abu Snaam, na Galileia, não era um refugiado palestiniano, res-sentido com o Estado judaico pelo êxodo da sua família. Era um cidadão desse mesmo Estado, um comerciante de meia idade, marido de três mulheres, pai de seis fi lhos, que ainda há cerca de um ano se candidatou a presidente de junta de freguesia da sua aldeia, habitada por drusos e muçulmanos.No domingo de manhã, ele fez-se explodir no exterior de uma estação de comboios em Nahariya, no Norte de Israel. As suas vítimas indiscri-minadas eram três viajantes de Jeru-salém: um artista, um arquitecto e um soldado que queria ser músico.Agravando o choque que no domingo abalou a nação surgiram imagens na televisão, difundidas pelo movimento palestiniano Hamas, onde se via Habeishi, antes do ataque, a explicar friamente o seu acto de suposto sacrifício reli-gioso. As imagens, fi lmadas com um fundo de “slogans” muçulma-nos e com o herói usando uma faixa verde e branca na testa, eram idênticas a outras exibidas anteriormente. Só que desta vez o assassino-suicida não era “um tipo meio doido”, mas um homem que ganhou maturidade dentro da sociedade israelita. Habeishi era militante do Movimento Islâmico de Israel, uma organização político-religiosa que cresceu imenso nos últimos anos. O seu líder, o xeque Ra’id Salah, é um dos numero-sos dirigentes árabes israelitas que, imediata e inequivocamente, conde-naram o atentado. “Temos que agir segundo as regras da lei e da demo-cracia de Israel”, declarou um dos seus porta-vozes.Deputados árabes do Knesset (Par-lamento), frequentemente acusados pelos seus colegas judeus de alinha-rem com os palestinianos na revolta em curso, insistiram em que o assas-sino era uma “erva daninha” numa comunidade leal e advertiram contra as tentativas da maioria judaica de manchar a dignidade da minoria árabe israelita com a suspeita de traição.Todas estas condenações tiveram imenso espaço nos jornais locais. Mas também foram tantos os elogios que garotos nas ruas das aldeias de árabes israelitas fi zeram a Habeishi, considerando-o um “shaheed”, mártir que irá para o Céu.Entre os judeus de Israel, a acção de Habeishi evocou, inevitavelmente,

a terrível primeira semana de Outubro de 2000, quando uma sublevação árabe no norte da cidade blo-queou as principais

estradas e ameaçou alastrar às cidades mistas, tomando a forma de uma quase rebelião de massas. Mal preparadas e posicionadas, as unidades de polícia usaram muni-ções reais para combater as pedras e pneus a arder que lhes foram arre-messados. Treze cidadãos árabes foram mortos.

Nessa altura, a Intifada assolava a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, com manifestan-tes palestinianos a enfrentar o Exército. Mas foi a explosão de vio-lência dentro de Israel que os isra-elitas não mais esqueceram. Esse momento, com o país quase à beira

de uma guerra civil, fi cou eterna-mente gravado na memória de todos os cidadãos — judeus e árabes.O Governo estabeleceu uma comissão de inquérito, presidida por um juiz do Supremo Tribunal, para examinar os acontecimentos daquela semana. As suas audiên-cias ainda continuam em Jerusa-lém, numa sala cheia de emoções, com testemunhas a prestar depoi-mentos por detrás de vidros espes-sos, para sua própria protecção.Muitos judeus e árabes israelitas partilham a esperança de que a comissão de inquérito represente uma oportunidade de catarse para a ira e amargura e ajude a sarar as feridas, de modo que as duas comunidades possam reconstruir a sua fracturada coexistência. O ataque bombista em Nahariya desferiu um golpe nessas espe-ranças e redespertou, do lado judaico, os medos, as desconfian-ças e as suspeitas de que a violên-cia de há um ano ressurgiu.Um ano de Intifada com a sua constante escalada e número cres-cente de mortos e feridos criou terreno fértil para que esses medos e suspeições ganhem raízes e floresçam de novo. Recente-mente apareceram casos de cola-boracão, suspeita ou provada, entre palestinianos da Cisjordâ-nia-Gaza e árabes israelitas em actos de terrorismo. Esta semana, uma maioria de judeus israelitas começou a sentir que a distin-ção, que eles imaginavam real, entre as diferentes comunidades árabes palestinianas está cada vez mais diluída. Depois do ataque de Habeishi, essa distinção tor-nou-se mais difícil de manter.Na segunda-feira, o jornal “Yedioth Achronoth” publicou fotografias do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Shaul Mofaz, com a sua mulher e alguns oficiais a jantar em casa de Yussuf Mishlav, um militar recém-pro-movido a general. Mishlav é o primeiro general druso de Israel. A sua casa fica em Abu Snaan, não muito longe da residência da família de Habeishi.

DAVID LANDAUJerusalém

C O M E N T Á R I OF

O suicida muçulmano e o general druso viviam na mesma aldeia

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DECISÃO SOBRE VOTOS NA HIDROCANTÁBRICO EM BREVE

As negociações para o desbloqueamento dos

direitos de voto da EDP na quarta maior eléctrica espanhola trouxeram secretário de Estado

espanhol a Lisboa

LURDES FERREIRA

A decisão do Governo espanhol sobre o desbloqueamento dos di-reitos de voto da EDP na Hidro-cantábrico será anunciada nas próximas semanas, disse ontem o secretário de Estado espanhol da Economia, José Folgado, após um encontro com o seu homólogo por-tuguês, Eduardo Oliveira.

Com os “dossiers” EDP-Hidrocantábrico e Iberdrola na me-sa das negociações e a dominarem, neste momento, as relações entre os dois países, José Folgado disse des-conhecer recentes declarações do ministro português da Economia exigindo “mais respeito” de Ma-drid, sobre a forma como o assunto tem sido conduzido pelo país vizi-nho. Em causa estão as crescentes pressões espanholas para um au-mento da participação da Iberdrola na EDP como moeda de troca para que esta confi rme a sua posição accionista na Hidrocantábrico.

“Nunca colocámos a questão ao nível de uma empresa em concre-to, é de modelo e de participação”, afi rmou. Para Madrid, “o merca-do ibérico de electricidade impli-ca uma participação mútua nos distintos âmbitos de produção, distribuição e venda”.

O representante de Madrid justi-fi cou a sua visita com a necessida-de de criação do mercado ibérico de electricidade, no âmbito da pre-paração da presidência europeia no próximo semestre, a cargo de Espanha, considerando esta agora

que a sintonia com Portugal nesta matéria é “um pilar importante” no desfecho da inibição dos direi-tos de voto da eléctrica portuguesa na quarta maior empresa espa-nhola do sector da electricidade.

No encontro, os dois países con-cordaram que o protocolo bilate-ral que já defi nia medidas concre-tas para o mercado ibérico de electricidade, e que espera há me-

ses para ser assinado, “será traba-lhado e enriquecido” pelos respec-tivos directores-gerais de Energia dos dois países. O protocolo era visto como o compromisso políti-co de aceleração de uma série de iniciativas impostas pela própria União Europeia à luz dos planos do negócio da EDP na Hidrocantá-brico, nomeadamente através do reforço das interligações entre os

dois países, da criação de uma bol-sa ibérica de electricidade e da liberalização do sector. Foi para o efeito acordada a “necessidade de estabelecer um programa de tra-balho conjunto nos próximos me-ses, para atingir objectivos co-muns”, o qual constará do futuro documento.

Questionado sobre a possibili-dade de ser esta uma forma de ga-nhar tempo neste processo, José Folgado respondeu que “é para ganhar efi cácia”. “Queremos que esse programa garanta que va-mos alcançar os objectivos que pretendemos”, acrescentou.

Depois de uma fusão falhada com a Endesa e de uma nova ad-ministração, a Iberdrola retomou o seu interesse pelo mercado por-tuguês e pela EDP, o que não era previsível. Foi esse, aliás, o motivo apontado para que a decisão sobre a Hidrocantábrico tivesse sido adiada para este mês, depois de prevista para o início de Agosto passado. �

PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SETEMBRO 2001

ECO N O M I A

C Â M B I O S

DÓLAR/ESCUDO 223,652LIBRA/ESCUDO 325,669

B O L S A S D E VA L O R E S

PSI-20 - 4,46EURO STOXX 50 - 6,39DOW JONES —

TA X A S D E J U R O

LISBOR 3 MESES - 0,5EURIBOR 3 MESES 0,0OT 10 ANOS 1BUND 10 ANOS 0

* Variação em pontos base: diferença entre as taxas de juro multiplicada por 100

10/0907/0906/0905/0904/09 10/0907/0906/0905/0904/09

LISBOR

EURIBOR

OT

BUNDS

4,315

4,276

4,242

4,27

5,25

4,914,82

5,16

A A J U D A

África necessita de 2200 milhões de contos

As nações africanas precisam de uma ajuda externa de 10 mil milhões de dólares (2200 milhões de contos) por ano para atingirem o objectivo de reduzir a pobreza para metade até 2015, revelou ontem um relatório das Nações Unidas. “Apesar dos seus esforços para se integraram no mundo globaliza-do, os países africanos não conseguirão desenvolver as suas economias sem a ajuda externa”, afirma o documento de 59 páginas intitulado “Desenvolvimento Económico em África, Acções Perspectivas e Políticas”. Em 1999, o Produto Interno Bruto por ha-bitante (PIB) da África subsariana foi de 507 dólares e em 1980 de 711 dólares, o que significa que o previsto crescimento de 3 por cento na próxima década apenas equilibra a taxa de natalidade.

A C O N F I A N Ç A

China pode crescer sete por cento

O ministro chinês das Finanças, Xiang Huaicheng, mostrou-se ontem confiante em que a economia chinesa conseguirá crescer este ano cerca de sete por cento, apesar do abrandamento económico glo-bal. “Estou prudentemente optimista que o crescimento económico da China seja de cerca de sete por cento”, disse Xiang Huaicheng, numa conferência de impren-sa conjunta com o seu homólogo norte-americano, Paul O’Neill. Xiang Huaicheng admitiu, contudo, que a situação econó-mica global está a afectar o crescimento económico da China, sobretudo na área das exportações, que representam mais de 40 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês. “O abrandamento da econo-mia global, incluindo nos Estados Unidos, e a estagnação da economia japonesa estão a ter algum impacte no crescimento da China”, disse.

As pressões para o reforço da participação da Iberdrola na EDP estão no centro do “dossier” eléctrico

Madrid mantém defesa de “participação mútua”

na electricidade

Contactos entre Galpenergia e IberdrolaJosé Folgado mostrou-se favorável aos planos de expansão da Galpenergia em Espanha, sublinhando com algum entusiasmo a existência de contactos entre a “holding” portuguesa de gás e petróleo e a Iberdrola, a empresa eléctrica que se encontra no centro da controversa negociação para a resolução do caso Hidrocantábrico. O secretário de Estado espanhol não avan-çou, contudo, se este projecto se enquadra na tese de “partici-pação mútua” defendida pelo país vizinho.A Galpenergia quer reforçar a sua rede de retalho em Espanha, admitindo-se a possibilidade de sinergias com os negócios da EDP no âmbito da distribuição de gás natural, na qual a Hidro-cantábrico tem interesses. � L.F.

NELSON GARRIDO

Grupo de Balsemão desvalorizou-se 17 por

cento em bolsa nos últimos dois dias

Os prejuízos semestrais da Impresa superaram as piores expectativas dos analistas, atingindo 3,3 milhões de contos (16,44 milhões de euros). Estes resultados negativos contras-tam com os lucros de 247,21 mil con-tos (1,23 milhões de euros) regista-dos no período homólogo de 2000. A quebra de investimento publicitá-

rio, o aumento dos preços do papel, o acréscimo dos custos na televisão e custos de reestruturação de algu-mas unidades de negócio foram os principais factores apontados, em comunicado, para a deterioração das margens operacionais da em-presa liderada por Francisco Pinto Balsemão. A cotação da Impresa em bolsa caiu, nos últimos dois dias, 17 por cento, fechando ontem a 1,8 euros (360 escudos) — e as per-das desde o início do ano situam-se na casa dos 72 por cento.

A estação televisiva do grupo foi a área de negócio mais afectada este

semestre: “[Esta quebra] deveu-se à redução verifi cada no investimento publicitário, que registou uma que-da de 6,1 por cento na primeira meta-de do ano, afectando principalmente a actividade da SIC. Simultanea-mente, continuou a assistir-se a uma queda generalizada na circulação das publicações, refl exo do abranda-mento do consumo privado”, expli-ca a Impresa em comunicado.

As receitas semestrais da SIC re-gistaram uma queda de 11,8 por cen-to face ao período homólogo do ano passado, para 14,4 milhões de contos (71,5 milhões de euros). Também as

receitas da Abril Controljornal (ACJ) — a área de revistas do grupo — re-gistaram uma quebra homóloga de 19,2 por cento, situando-se em 7,3 mi-lhões de contos. Esta área de negócio foi afectada pelo encerramento da revista “Roda dos Milhões”. Por ou-tro lado, as receitas consolidadas da área dos jornais do grupo de Balse-mão registaram um aumento de 7,2 por cento, para 5,9 milhões de contos (29,3 milhões de euros).

A SIC procedeu, em Agosto, a uma redefi nição dos blocos publici-tários, que passaram a ter menor duração e maior frequência, para melhorar a efi cácia da mensagem publicitária. A Impresa prevê que esta reorganização dos blocos pu-blicitários e o correspondente ajus-tamento de tabelas gere um aumen-to de cinco a dez por cento da facturação publicitária da estação televisiva. � PÚBLICO/Lusa

Impresa perdeu 3,3 milhões de contos no primeiro semestre

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E C O N O M I A 3 3PÚBLICO• QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

QUINTAS, SEXTAS E SÁBADOS ÀS 21H30

Cadeia avança sozinha se for preciso. Nesse caso, congela preços de 2000

produtos entre Dezembro e Fevereiro

A cadeia de distribuição Carre-four vai propor, aos operadores de distribuição em Portugal, o congelamento de preços no país, durante o período de transição do escudo para o euro (de Janei-ro a 28 de Fevereiro), por forma a assegurar uma transição har-moniosa para a moeda única. Se o desafi o não for aceite por estes agentes de mercado, vai ser a

própria cadeia a congelar por si só os preços de um cabaz de com-pras de cerca de dois mil produ-tos entre Dezembro e Fevereiro, anunciou ontem Gerard Vinson, administrador-delegado da ca-deia Carrefour em Portugal.

Facilitar a mudança através de uma transição harmoniosa, ge-rar confi ança nos consumidores, travar as pressões infl acionistas e combater o risco de se desenca-dear uma crise de consumo (com a redução acentuada de vendas) são os objectivos desta acção iné-dita e pioneira da cadeia de dis-tribuição francesa. O adminis-trador-delegado da Carrefour defendeu que a ideia central sub-

jacente a esta acção “é transmi-tir a ideia de que o euro é uma oportunidade, nomeadamente para fazer baixar os preços, é al-go de positivo”. O Carrefour con-sidera que é necessário apoiar e informar o consumidor nesta transição, na medida em que ele vai perder, momentaneamente, as suas referências, o que pode levar a um abrandamento do consumo, com consequências graves para a actividade econó-mica nacional.

Gerard Vinson admitiu que o objectivo do Carrefour — a ca-deia possui cinco lojas em Portu-gal — é “forçar um pouco as coi-sas” para que o mercado tome a

decisão de congelar os preços, pois defende que “devem ser os actores económicos a decidir, e não o Governo a impor” um cená-rio de congelamento de preços.

O cabaz de produtos de grande consumo que o Carrefour vai as-segurar aos portugueses durante os três primeiros meses do ano abrange a área alimentar (como arroz, esparguete, conservas, io-gurtes, cereais, congelados, bola-chas ou sumos), mas também de-tergentes, fraldas ou champôs “e poderá representar mais de 50 por cento das vendas do Carre-four em Portugal”, referiu ontem Gerard Vinson, num encontro com a imprensa. � REUTERS/ LUSA

Carrefour propõe congelamento de preços em Janeiro e Fevereiro

Franceses disponíveispara parceria com SonaeA Carrefour, o maior distribuidor euro-peu, vai manter a sua posição de 21 por cento na Modelo Continente — o número um da distribuição nacional —, estando disponível para uma eventual parceria com o Grupo Sonae (que detém cerca de 70 por cento da Modelo Continente). “Por enquanto, não há nenhuma razão parti-cular para vender. É uma boa participa-ção e dá lucros”, disse à Reuters o admi-nistrador-delegado da Carrefour em Portugal. “No início, após a fusão com a Promodés, foi um casamento forçado [a entrada no capital da Modelo Continen-te], mas temos que considerar isto como uma oportunidade para as duas institui-ções construírem uma nova parceria que ainda não foi possível”, afi rmou Gerard Vinson, relembrando que, há algum tem-po, a Carrefour propôs alguns cenários para resolver a situação dos dois grupos no Brasil (que, após a fusão com a Pro-modés, passaram a ser simultaneamente parceiros em Portugal e concorrentes no Brasil), sem obter quaisquer respostas.

RUA SOCIEDADE PROTECTORA DOS ANIMAIS, Nº 40

T E L S . 2 2 5 8 9 8 0 9 0

SOCIEDADE PROTECTORA DOS ANIMAIS

Page 34: 11 de Setembro de 2001

B O L S A3 4 E C O N O M I APÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Dólar Australiano AUDDólar canadiano CADFranco Suíço CHFLibra de Chipre CYPCoroa Checa CZKCoroa Dinamarquesa DKKCoroa da Estónia EEKLibra Esterlina GBPDólar de Hong Kong HKDForint húngaro HUFIene japonês JPYCoroa norueguesa NOKDólar da Nova Zelândia NZDNovo Zloty da Polónia PLNCoroa sueca SEKTolar da Eslovénia SITDólar dos Estados Unidos USDReal BrasilEscudo Cabo VerdePataca de Macau MOPRand da África do Sul ZAR

F U N D O S D E I N V E S T I M E N T O

MOBILIÁRIOMORGAN STANLEY MISTO GLOBAL F €9,97 1 998$92MORGAN STANLEY DEAN WITTER FT €10,03 2 011$83PARVEST DYNAMIC USD - -BIG SECTORES €7,41 1 486$69BIG Valorizaçao FF €9,31 1 867$14BIG Moderado FF €10,45 2 095$53BIG Euro Capital €7,83 1 569$85B.I.G. Crescimento Global €7,05 1 414$88Alves Ribeiro Acções Europa* * €35,99 7 216$73A R Mé dias Empresas Portugal* * €50,21 10 067$38Finifundo Small Caps €4,65 932$98Finifundo Blue Chips €4,24 851$82Finibond Mercados Emergentes €6,67 1 339$05Finiglobal €5,16 1 035$95PPA Finibanco €5,92 1 188$31Finirendimento €5,15 1 032$52Finicapital €4,46 895$05Banifundo Euro Renda Mensal €4,99 1 001$90Banifundo Acções Brasil €1,59 320$29Banifundo Euro Acções €2,71 544$54Banifundo Obrigaçoes Merc Emergentes €5,35 1 072$81Banifundo Oportunidades €1,06 214$49Banifundo Estrategia Agressiva €3,04 610$22FF Banifundo Estr. Equlibrada €4,09 821$93FF Banifundo Estr. Conservador €4,84 972$33Banifundo Acções Portugal €3,05 612$05Banifundo Euro Obrigações €5,61 1 125$86Banifundo PPA €4,00 803$51Banifundo Euro Tesouraria €6,07 1 217$30Raiz Poupança Acções €10,23 2 051$29Raiz Poupança Reforma €7,21 1 446$93Raiz Rendimento €5,44 1 091$78Raiz Tesouraria €6,78 1 360$91Raiz Europa €4,60 922$37Raiz Global €4,82 967$86MG Obrigações €74,62 14 960$44MG Acções €82,77 16 595$43MG Tesouraria €74,54 14 944$42MULTI GESTÃO PRUDENTE €47,31 9 485$80MULTI GESTÃO EQUILIBRADA €44,42 8 906$79MULTI GESTÃO DINÂMICA €38,50 7 719$59MG Obrigações Agressivo €51,64 10 353$31MG Acçoes Europa €34,53 6 923$50MG Taxa Fixa €56,00 11 228$37MG Renda Mensal €49,91 10 007$37MG Monetário €57,88 11 604$05BNC Rendimento €7,65 1 534$02BNC Euro Taxa Fixa €5,34 1 072$55BNC Accoes €3,63 729$65BNC Global 75 €3,48 698$63BNC Global 50 €4,02 807$24BNC Globa l 25 €4,61 925$48BNC PPA €4,06 814$29BNC Valor €3,79 760$32BBVA Obrigações €7,16 1 435$89BBVA Curto Prazo €8,32 1 668$33BBVA Cash €8,45 1 694$91BBVA Disponível €8,11 1 626$87BBVA Êxito €4,81 965$38BBVA Bolsa Internacional €3,09 620$51BBVA MIX 60 €4,39 881$37BBVA MIX 30 €4,71 944$45BBVA Global €5,51 1 105$81BBVA PPA €4,21 845$45Privado Agressivo F.F. €3,81 765$84Privado Crescimento F.F. €5,48 1 100$64

Privado Rendimento F.F. €4,55 914$19BPN Valorizacao FM €5,73 1 149$22BPN Optimizaçao FM €5,44 1 091$56BPN Conservador F M €5,26 1 056$27Barclays FPA €10,21 2 047$12Barclays Premier Acções Port. €8,74 1 752$65Barclays Premier Obrig. Port. €7,78 1 561$65Barclays FPR/E €12,38 2 482$38Barclays Premier Tesouraria €8,39 1 682$60Barclays Curto Prazo €10,03 2 011$37Barclays Rendimento €11,05 2 216$52BARCLAYS FPR/E Rendimento €10,79 2 164$96Barclays Global Moderado F.F. €9,79 1 964$40Barclays Global Conservador F.F. €6,45 1 294$61E.S.Poupança Acções €8,42 1 689$24E.S.Obrigações Europa €8,20 1 644$37E.S.Mercados Emergentes €3,05 612$15E.S.Fundo Acções Europa €12,01 2 408$71BIC Tesouraria €5,95 1 194$51BIC PPR/E €12,69 2 545$01E.S.Capitalização €8,41 1 687$65E.S. Obrigações Global €8,00 1 604$11E.S.Tesouraria €6,91 1 385$99E.S.Portfolio F.F. €5,46 1 094$67E.S.Curto Prazo F.tes. €100,02 20 053$27E.S.Renda Mensal €4,99 1 001$44Gestão Activa F.F. €6,01 1 205$81Espírito Santo Invest 90 €8,62 1 728$57Espírito Santo invest 40 €9,47 1 899$80Espirito Santo Invest 15 €9,92 1 989$20E.S. Acçoes America €8,34 1 672$20E.S. Acçoes Global €8,01 1 606$82E.S. Acçoes Rendimento €7,77 1 558$72E.S.Opção Moderada €4,74 951$56E.S. Portfolio I F.F. €5,04 1 010$93E.S. All Stars €3,22 645$61E.S. Fixed Income €5,15 1 033$82E.S. Liquidez F.Tes. €5,66 1 135$69E.S. Opção Dinâmica F.F. €4,34 871$65E. S. Opção Conservadora F.F. €5,07 1 016$46E.S. Portfolio Dinâmico €5,13 1 029$89E.S.Top Ranking F.F. €5,51 1 105$47Estratégia Moderada -F.F. €5,35 1 073$62E.S.Portugal Acções €3,89 781$31E.S.Renda Trimestral €5,01 1 006$05Espírito Santo Monetário €5,73 1 149$48Totta PPR €16,44 3 297$90 Totta Taxa Fixa €8,70 1 745$67Obrigações Semestre €5,05 1 013$85Santander Capital Portugal €139,91 28 050$33Santander Banca €5,72 1 146$89Santander Telecom €3,88 778$11Santander Acções Internacional €5,94 1 191$48Carteira Misto F.F. €5,80 1 164$66Carteira Protecção F.F. €5,94 1 192$60Santander Plano Poupança Acções €18,79 3 768$01Santander FPR/E €11,97 2 399$88Valor Futuro FPR/E €5,07 1 017$58Santander Iberfundo Acções €10,57 2 121$05Santander Acções Portugal €14,80 2 967$77Santander Mercados Emergentes €4,99 1 002$08Santander Tesouraria Novofundo €9,79 1 964$00Santander Obrigações €10,30 2 066$80Totta Capital Europa €47,83 9 590$07EURO Futuro Utilities €25,00 5 012$81EURO Capital 2004 €48,56 9 735$54EURO Capital 2003* * €49,04 9 832$25

Credito Predial Tesouraria €5,17 1 037$97Crédito Predial Obrigações €5,22 1 047$57TOTTA Obrigações €5,23 1 048$56TOTTA Tesouraria €5,18 1 038$87E.F. Qualidade Vida €21,58 4 327$40E.F. Tec. Informaçao €12,52 2 510$57E.F. Banca e Seguros €23,80 4 772$43E.F. Telecomunicaçoes €8,83 1 771$69Futuro Jovem Santander €5,27 1 058$00Santander Acçoes Europa €4,48 899$94Santander Empresas - F. Tes. €5,28 1 060$08Eurosul * * €21,30 4 270$68Multidiversificação €5,12 1 027$24Santander Capital 2002* * €50,03 10 030$63Multinvest €5,31 1 066$04Multipoupança €5,36 1 076$08Luso Valor * €25,10 5 032$19Luso-Acções * €35,70 7 157$60BNU PPA €10,14 2 033$93BNU Oriente Crescimento €2,59 519$46BNU Internacional €12,89 2 584$43BNU Prestígio €7,90 1 584$16BNU Acções €10,06 2 018$67BNU Obrigações €9,50 1 905$72BNU Rendimento €9,24 1 853$13BNU Tesouraria €11,37 2 280$48Invest - Obrigações €5,11 1 025$92Invest €5,81 1 165$56BNU Japao €3,28 658$04BNU Euro Indice €4,51 904$61BNU Gestão Activa Acções €3,93 788$49BNU Gestão Activa Obrigações €5,56 1 116$64BNU Gestão Activa Tesouraria €5,43 1 088$65BNU Fundo de Fundos III €4,97 996$85BNU Fundo de Fundos II €5,23 1 048$82BNU Fundo de Fundos I €5,54 1 111$67BNU Renda Mensal €4,99 1 000$72BPI Universal €5,89 1 182$48BPI Tesouraria €6,37 1 278$21BPI Taxa Variável €6,78 1 360$77BPI Bonds €6,70 1 345$15BPI Reforma Investimento PPR/E €10,72 2 150$83BPI O. Alto Rend. Alto Risco €5,24 1 051$76BPI Financeiras €4,83 969$93BPI América €6,76 1 356$52BPI Portugal €8,20 1 643$99BPI Euro Taxa Fixa €9,12 1 830$12BPI Reforma Segura PPR/E €11,35 2 277$31Europa Crescimento €10,48 2 102$09BPI TAXA VARI¡VEL PPR/E €4,99 1 000$50BPI Taxa Fixa PPR/E €5,00 1 003$29BPI Poupança Acções €9,66 1 936$69BPI Liquidez (FT) €5,96 1 196$23BPIRenda Trimestral €5,02 1 008$42Europa Valor €18,32 3 672$99BPI Reestruturações €4,28 858$72BPI Oportunidades M undiais €3,19 640$17BPI Tecnologias €1,54 309$08BPI Brasil €4,14 831$61BPI Global €6,32 1 267$52AF Obrigações €6,20 1 243$22F.F. Delta €7,63 1 530$45F.F. Beta €7,25 1 453$67F.F. Alfa €6,92 1 388$75AF Acções Portugal €8,38 1 680$68AF PPA €13,13 2 633$07AF Euro Taxa Fixa €8,73 1 751$63

AF Japão €4,14 830$47AF Mercados Emergentes €4,24 850$44Saude e Lazer 2004 * * €51,54 10 334$26AF Multinvestimento €7,30 1 465$32AF Portfolio Internacional €12,65 2 536$45AF Eurocarteira €11,28 2 262$45AF Curto Prazo €6,93 1 389$96Novofundo - Obrigações €10,47 2 100$89AF Obrigações R Mais €13,40 2 688$06Valor Futuro 2005 €40,98 8 216$17Novas Economia 2005 €31,76 6 368$13AF America €3,86 774$38F.F. Ciclo de Vida AF Prestige €4,49 900$82F.F.Ciclo de Vida AF Prestige €4,70 943$64F.F.Ciclo de Vida AF Prestige €4,80 962$65AF Obrigações EUA €68,39 13 712$80AF Euro Utilities €4,86 976$30AF Euro Financeiras €4,96 995$59M Acções Europa * * €51,77 10 380$45Redes e comunicações 2003 * €45,25 9 073$05AF Inv. Acçoes Pacifico €2,92 585$88Af Inv. Accoes America €5,45 1 093$76Af Inv. Accoes Europa €4,09 820$73Af Inv. Accoes Portugal €2,88 579$39Af Inv. Taxa Fixa €5,46 1 096$33Af Inv. Obrigacoes €5,47 1 098$44Af Global Mais €4,97 998$01AF Acções Euro €53,67 10 761$41Obrigações 7 €5,65 1 133$24F.F.BCP Global I €5,48 1 099$14M Acções Portugal * €15,09 3 025$67Af Empresas - Gest. De Tesouraria €5,63 1 129$09AF Rendimento Mensal €5,01 1 005$61Caixagest PPA Val.Fiscal €10,23 2 051$25Caixagest Investimento €6,23 1 250$62Caixagest Multidivisas €6,38 1 280$03Caixagest Moeda €6,31 1 266$66CAIXAGEST GEST√O AC«’ES EUA €4,00 803$89CAIXAGEST AC«’ES EUA €4,00 802$70Caixagest Renda Mensal €4,99 1 001$08Caixagest Obrigações Euro €7,77 1 558$02Caixagest Acções Europa €9,63 1 931$92Postal Rendimento €5,02 1 006$88Postal F. Tesouraria €8,61 1 726$61Caixagest Valorização €12,27 2 461$03Caixagest Tesouraria €9,65 1 934$87Caixagest Rendimento €5,01 1 005$67Caixagest - Curto Prazo €9,16 1 836$97Postal Capitalização €12,30 2 466$57Postal Acções €6,27 1 258$76Caixagest Maxivalor €4,80 964$01Postal Gestão Global F.F. €53,81 10 788$29Caixagest Gestão Euroacções €4,24 851$16Caixagest Gestão Lusoacções €2,95 592$96Caixagest Gestão Interobrigações €5,56 1 115$48Caixagest Gestão Euroobrigações €5,44 1 092$60Caixagest Gestão Cambial €5,39 1 080$67Caixagest Gestão Monetária €5,42 1 087$29Caixagest Multivalor €5,38 1 078$81Caixagest Investimento II €5,86 1 175$90Caixagest Investimento IV €5,45 1 093$82Caixagest Taxa Fixa €7,37 1 479$43Caixagest Acções Portugal €11,15 2 236$71Caixagest Investimento III €5,78 1 160$04IMOBILIÁRIOBANIF IMOPREDIAL €4,97 996$86BANIF IMOGEST* * - -

BPN REAL ESTATE* * €500,75 100 393$02BPN Imonegócios €5,25 1 054$30Vision Escritorios* * €5,66 1 136$73Imosotto Acumulação €4,73 950$00Bonança I * €44,99 9 020$56Gestão Imobiliária €6,72 1 348$75Portfolio Imobiliário €5,88 1 180$48Imosotto Rendimento €5,69 1 142$73Finimobiliário * €6,17 1 238$89Finipredial €6,42 1 287$39Selecto I * €5,71 1 145$39Margueira Capital * €6,31 1 265$15F.I.I. Fechado Turístico II * * €52,26 10 477$44F. Turismo * €5,75 1 154$23Imosonae Dois €65,11 13 053$49Vila Galé * €22,06 4 423$30Império * €6,81 1 366$13BNC Predifundo €8,24 1 652$13Grupo BFE €4,29 862$05Imofomento €5,45 1 093$00Amorim * €64,54 12 940$14Correia & Viegas * €8,22 1 649$43Urbifundo €6,43 1 289$61Renda Predial * €5,00 1 004$09T.D.F. * €13,40 2 686$61Imorenda * €5,00 1 003$73VIP €8,56 1 718$00Eurofundo * €1 027,76 206 049$38Fundimo €7,59 1 523$50GEF - II * €8,91 1 786$44Primeiro Imobiliário €6,39 1 282$70Maxirent * €6,29 1 262$05LUSIMOVEST* * €50,17 10 060$10NOVIMOVEST €5,09 1 021$17Hispano Imobiliário 2 €4,02 806$82Imovest €8,88 1 781$00Gestimo * €7,96 1 596$41Tottafimo €5,30 1 063$78Prestigeste Um * €83,44 16 730$22Gespatrimónio Rendimento €9,60 1 925$16Efisa Imobiliário * €61,74 12 377$97FUNDOS DE PENSÕESPraemium “V” €15,21 3 051$00Praemium “S” €13,11 2 630$00PPR BNU/Vanguarda €13,54 2 716$00Horizonte €8,64 1 733$35Pensoesgere - PPR €6,08 1 220$08PPR Europa €6,70 1 343$23Maximus Stabilis €5,18 1 040$10Maximus Medius €4,80 962$51Maximus Activus €4,46 895$55PPA Valoris €4,73 950$28Reforma Empresa €7,44 1 492$82BPI Vida PPR €5,62 1 127$79Multireforma €7,08 1 419$43GES €9,48 1 901$47PPR Vintage €6,96 1 396$25PPA - Acção Futuro €8,18 1 640$70Viva €10,15 2 035$00PPR/E 5 Estrelas €15,46 3 101$00PPE FRA €10,00 2 005$72Futuro Classico €10,35 2 076$97PPR/E Platinium €5,14 1 031$00PPR/E Garantia de Futuro €5,45 1 094$00BBVA PPR €8,76 1 757$52* Fundo fechado

Fundo Euro Esc

M E R C A D O M O N E T Á R I O E C A M B I A L

COTAÇÕES INDICATIVAS DO SEBC

Moeda C. de Ref. Pos.Vol. Cada Euro Escudos

* Sistema Europeu de Bancos CentraisFONTE: Banco Central Europeu e Banco de Portugal

Franco suíçoLibra inglesaDólar Iene

1.7453 114.8701.3984 143.3651.5146 132.3660.5732 349.75934.1 5.8797.4415 26.94115.6466 12.8130.6156 325.6696.9917 28.674251.78 0.796109.3 1.8347.947 25.2272.1018 95.3863.784 52.9829.4974 21.109219.7513 0.9120.8964 223.6522.3266 86.170110.264 1.8187.2015 27.8397.661 26.169

CÂMBIOS A PRAZO DO EURO

Moedas Spot Forward1.5146 1.5133 1.5102 1.49750.6156 0.6159 0.6166 0.62090.8964 0.8959 0.8947 0.8931109.3 108.91 108.17 105.19

Franco belga 4.96982Franco luxemburguês 4.96982Marco alemão 102.505Peseta espanhola 1.20492Franco francês 30.5633Libra irlandesa 254.560Florim holandês 90.9748Xelim austríaco 14.5696Markka finlandesa 33.7187Lira italiana 0.103540Dracma 0.588355NOTA: Taxas bilaterais de referência, implícitas na taxa de conversão fixada para cada uma delas face ao euro. Por força legal, qualquer transacção entre as moedas dos países da união monetária exige a passagem pelo euro.

TAXAS BILATERAIS

Moeda Escudos

Um euro corresponde aPortugal 200.482 escudosBélgica 40.3399 francosAlemanha 1.95583 marcosEspanha 166.386 pesetas França 6.55957 francos Luxemburgo 40.3399 francos Irlanda 0.787564 libras Holanda 2.20371 florinsÁustria 13.7603 xelinsFinlândia 5.94573 markkas Itália 1936.27 lirasGrécia 340.75 dracmas

TAXAS DE CONVERSÃO

TAXAS DE REF. DOS BANCOS CENTRAIS

Taxa actual Última Alter.Euro 12

Cedência

Facil. permanente de ced.*

Facil. permanente de dep.*

Estados Unidos

Fed Funds Rate

Taxa de desconto

Japão

Taxa de desconto

Reino Unido

Base rate

Suíça

Intervalo para Libor 3M

Brasil

SELIC

4.25% 10-05-2001

5.25% 10-05-2001

3.25% 10-05-2001

3.50% 21-08-2001

3.00% 21-08-2001

0.25% 01-03-2001

5.00% 02-08-2001

2.75%-3.75% 22-03-2001

19.00% 18-07-2001

TAXAS DE JURO INTERBANCÁRIAS DE CURTO PRAZO

Lisbor* Euribor Lisbor Euro Libra Inglesa Dólar Iene

4.3375% 4.3010% 4.3014% 4.9686% 3.5700% 0.0563% 4.2700% 4.2420% 4.2390% 4.8756% 3.4863% 0.0600% 4.1675% 4.1270% 4.1265% 4.8455% 3.4875% 0.0781% 4.0225% 3.9970% 3.9965% 4.8931% 3.6113% 0.0900%

1 mês 3 meses 6 meses12 meses

TAXAS DE JURO INTERBANCÁRIAS DE LONGO PRAZO

Portugal Euro EUA Reino Unido Japão

*Taxa de rendibilidade da dívida pública para as maturidades fixadas. As taxas do euro correspondem aos títulos franceses e alemães mais representativos. FONTE: Banco de Portugal

3.81% 3.86% - 4.51% 0.04% 4.01% 3.84% 3.52% - 0.07% 4.32% 4.27% 4.33% 5.01% 0.48% 4.53% 4.52% - 4.97% - 5.16% 4.82% 4.84% 4.91% 1.41% - 5.48% 5.38% 4.65% -

1 ano2 anos5 anos7 anos10 anos30 anos

Fundo Euro Esc Fundo Euro Esc Fundo Euro Esc Fundo Euro Esc

Page 35: 11 de Setembro de 2001

P S I - 2 0 VARIAÇÃO DIÁRIA DOS TÍTULOS

B O L S A3 6 E C O N O M I APÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

M E R C A D O D E F U T U R O S

RESUMO DA SESSÃO 11/09/01Contratos Pos. Abertas Negócios Volume Valor (euros)

B O L S A D E VA L O R E S D E L I S B O A E P O R T O

MERCADO DE COTAÇÕES OFICIAIS

Empresas Valor Preços Oferta var% Negoc.* Abert. Max. Min. Fecho Compra Venda

CONTÍNUO NACIONAL

OBRIGAÇÕESDívida Pública

O.T.-Junho 93/2003 - - - - -/ 110,58% - -

O.T.-Janeiro 94/2004 - - - - -/ 109,46% - -

O.T.-Fevereiro 95/2005 - - - - -/ 122,40% - -

O.T.-Fevereiro 96/2006 90830 119,85% 119,85% 119,85% 119,85%/ 119,85% - -0,07

O.T.-Março 97/2002 1247 100,05% 100,05% 100,05% 100,05%/ 100,05% - 0,05

O.T.-Fevereiro 97/2007 5400 109,50% 109,50% 109,50% 109,50%/ 108,28% - 1,15

O.T.-Abril 98/2003 - - - - -/ 100,01% - -

O.T.-Junho 98/2008 - - - - -/ 101,80% - -

O.T.-Setembro 98/2013 - - - - -/ 100,60% - -

OT.JUL9909 64680 92,06% 92,06% 92,06% 92,06%/ 92,05% 95,50% -2,06

OT.AGO9904 - - - - -/ 99,00% - -

OT.MAI0010 5000 104,98% 104,98% 104,98% 104,98%/ 103,84% - -0,73

OT.OUT0005 - - - - -/ 102,01% - -

OT.JUN0111 - - - - -/ 99,50% - -

OTRV 96/2002 - - - - -/ - 100,00% -

OTRV 96/2003 - - - - -/ - 99,83% -

OTRV 97/2004 - - - - -/ - 99,70% -

ACÇÕESAlimentação e bebidas

Sumolis 7377 €10,00 €10,08 €9,23 €9,40/1 884$ €9,40 €9,65 -5,43

Papel

Celulose do Caima 100 €20,69 €20,69 €20,69 €20,69/4 147$ €17,62 €22,00 -5,95

Portucel 651260 €0,92 €0,94 €0,90 €0,92/184$ €0,91 €0,92 0,00

Impressão e reprodução

Lisgráfica 2100 €3,14 €3,18 €2,95 €2,97/595$ €2,97 €3,16 -6,01

Química

Fisipe 100 €3,40 €3,40 €3,40 €3,40/681$ €3,40 €3,77 -0,29

CIN 3357 €3,61 €3,61 €3,40 €3,40/681$ €3,35 €3,40 -4,23

Cires - - - - -/- €1,52 €1,64 -

Minerais não metálicos

Barbosa & Almeida - - - - -/- €12,64 €13,13 -

Barbosa & Almeida-pref.s/v - - - - -/- - €9,00 -

Metalúrgicas

F.Ramada 281 €8,60 €9,10 €8,60 €9,10/1 824$ €8,16 €9,10 -1,09

Automóveis

Salvador Caetano - - - - -/- €9,09 €9,49 -

Electricidade, Gás e Vapor

EDP 3526076 €2,91 €2,92 €2,74 €2,75/551$ €2,75 €2,76 -5,17

Construção

Teixeira Duarte 91500 €1,12 €1,13 €1,11 €1,11/222$ €1,11 €1,12 0,00

Brisa - (Priv.) 1005328 €10,77 €10,77 €10,08 €10,39/2 083$ €10,30 €10,39 -2,90

Brisa 555 €9,92 €9,98 €9,70 €9,70/1 944$ €9,60 €9,89 -2,22

Soares da Costa 25377 €2,03 €2,03 €1,94 €1,94/388$ €1,93 €1,94 -5,37

Soares Costa-pref.s/v - - - - -/- €5,92 - -

Grão-Pará 516 €5,80 €6,27 €5,80 €6,27/1 257$ €5,75 €6,46 4,50

Comércio por grosso

Papelaria Fernandes 6900 €2,05 €2,08 €2,00 €2,05/410$ €2,05 €2,09 0,00

Transportes por água

Orey Antunes - - - - -/- €5,20 €5,70 -

Auxiliares dos transportes

Tertir 3098 €2,38 €2,38 €2,36 €2,37/475$ €2,37 €2,45 -4,05

Telecomunicações

Telecel 417084 €6,60 €6,67 €6,16 €6,25/1 253$ €6,25 €6,30 -3,85

Intermediação financeira

Imoleasing - - - - -/- €20,01 €21,00 -

BCP 2605564 €4,23 €4,26 €3,95 €4,00/801$ €3,99 €4,00 -4,76

BES 117521 €12,75 €12,89 €11,67 €12,00/2 405$ €12,00 €12,18 -6,25

Banif 3128 €5,90 €5,90 €4,53 €5,50/1 102$ €5,50 €5,70 -6,78

B.Totta & Açores 9 €27,31 €27,31 €27,31 €27,31/5 475$ €27,01 €27,70 0,00

NOTA: O PRIMEIRO CARACTER REFERE-SE AO SUBJACENTE SOBRE O QUAL FOI LANÇADO O CON-TRATO, O SEGUNDO REFERE-SE AO MÊS DE VENCIMENTO E OS DOIS ÚLTIMOS AO ANO DE VENCI-MENTO. OS MESES DE JANEIRO A SETEMBRO SÃO REPRESENTADOS PELOS ALGARISMOS 1 A 9 E OS MESES SEGUINTES PELAS LETRAS O, N E D. NO CASO DE O PRIMEIRO CARACTER SER “S” REFERE-SE AO “SPREAD” DO CONTRATO INDICADO PELO SEGUNDO CARACTER, SENDO A DATA DE VENCIMENTO INDICADA PELOS RESTANTES.

Lisboa não escapou ao pânico

ROSA SOARES

Pouco depois de a Bolsa de Lisboa encerrar, o sentimento dos operadores era de pânico e de angústia. O dia tinha começado muito bem, os mercados accionistas estavam positivos, e de repente as notícias dos atentados terroristas nos Estados Unidos deitavam tudo a perder. Pior do que as fortes quedas é o sentimento de angústia quanto ao que se vai passar a partir de agora nos mercados, confessavam.A Bolsa portuguesa, que chegou a ter a negociação interrompida durante meia hora, registou a maior queda diária desde Outubro de 1997, fechando abaixo dos sete mil pontos. O PSI-20 encerrou a desvalorizar 4,3 por cento, uma das menores quedas da Europa. Pouco depois da reabertura, a queda da bolsa portuguesa chegou a ultrapassar os cinco por cento. Apesar da forte queda, e do sentimento de pânico de alguns investidores, o volume de negócios de 123,5 milhões de euros (24,7 milhões de contos) está dentro dos valores normais.Todos os títulos do PSI-20 fecharam no “vermelho”, à excepção da Portucel, com 15 títulos a bater novos mínimos. Escaparam ao “rol” de mínimos a Brisa, a EDP, a Portucel, a Sonae.com e a Semapa.As perdas do dia foram lideradas pela PTM e PTM.com, com desvalorizações superiores a dez por cento, logo seguidas da Impresa, a recuar igualmente dez por cento, no dia em que apresentou resultados considerados maus. A Pararede, Sonae SGPS, BPI e BES fecharam com quedas da ordem dos seis por cento, logo seguidas da EDP e do BCP. As acções mais líquidas foram as da PT, com mais de dez milhões de títulos negociados e uma queda de 4,9 por cento.A Brisa continua a registar fortes compras, tendo sido negociado um milhão de títulos. A Sonae.com voltou ontem a dar nas vistas, tendo chegado a subir cerca de dez por cento, com 800 mil títulos transaccionados.

PSI-20 13.953 101 689 4.803.276PT 13.284 246 2.610 1.780.195EDP 16.086 50 2.707 767.300CIMPOR 220 0 0 0BCP 9.660 3 111 46.722TELECEL 69 0 0 0PT-MULTIMÉDIA 88 1 10 7.350SONAE 7.166 2 200 12.460TOTAL 60.526 403 6.327 7.417

FUTUROS PSI-20

Código Pos. Volume Melhores Ofertas Preço Preço Abertas Trans. Compra Quant. Venda Quant. Refer. Abert. Máx. Média Mín.

I901 13.739 689 6.885 50 7.303 40 6.919 7.319 7.349 6.971 6.802IO01 6.942 ID01 214 6.996 I302 7.063 I602 6.999 I902 7.065

FUTUROS PORTUGAL TELECOM

Código Pos. Volume Melhores Ofertas Preço Preço Abertas Trans. Compra Quant. Venda Quant. Refer. Abert. Máx. Média Mín.

P901 13.284 2.610 6.6 8 6.67 5 6.6 7.14 7.18 6.821 6.31PO01 6.62 PD01 6.67

FUTUROS EDP

Código Pos. Volume Melhores Ofertas Preço Preço Abertas Trans. Compra Quant. Venda Quant. Refer. Abert. Máx. Média Mín.

E901 16.086 2.707 2.77 100 2.78 60 2.77 2.91 2.92 2.835 2.76EO01 2.78 ED01 2.8

FUTUROS CIMPOR

Código Pos. Volume Melhores Ofertas Preço Preço Abertas Trans. Compra Quant. Venda Quant. Refer. Abert. Máx. Média Mín.

FUTUROS BCP

Código Pos. Volume Melhores Ofertas Preço Preço Abertas Trans. Compra Quant. Venda Quant. Refer. Abert. Máx. Média Mín.

B901 9.660 111 3.94 3 4.1 100 4.02 4.22 4.23 4.209 4BO01 BD01

C901 220 17 10 17.66 CO01 CD01

FUTUROS TELECEL

FUTUROS PT MULTIMÉDIA

Código Pos. Volume Melhores Ofertas Preço Preço Abertas Trans. Compra Quant. Venda Quant. Refer. Abert. Máx. Média Mín.

M901 88 10 5.85 7 6.7 7.35 7.35 7.35 7.35MO01 6.72 MD01 6.77

Código Pos. Volume Melhores Ofertas Preço Preço Abertas Trans. Compra Quant. Venda Quant. Refer. Abert. Máx. Média Mín.

T901 69 6.35 TO01 6.37 TD01 6.42

FUTUROS SONAE

Código Pos. Volume Melhores Ofertas Preço Preço Abertas Trans. Compra Quant. Venda Quant. Refer. Abert. Máx. Média Mín.

N901 7.166 200 0.55 300 0.575 0.623 0.623 0.623 0.623NO01 0.577 ND01 0.581

BCP BES BPI BRISA - (PRIV.) CIMPOR EDP IMPRESA J. MARTINS M. CONTINENTE NOVABASE -4,76%S -6,25%S -6,33%S -2,90%S -0,11%S -5,17%S -10,00%S -1,82%S -1,64%S -4,60%S

MAIORES SUBIDAS GRÃO-PARÁ 4,50% • SONAE IMOBILIÁRIA 0,42% • ITI-NOM. 0,00% • ITI - PORT. 0,00% • ESTORIL-SOL - NOMINATIVAS -10,44% • PT MULTIMEDIA -10,27% • PTM.COM -10,05% • IMPRESA -10,00% • PARAREDE -9,80% • MAIS TRANSACCIONADAS PORTUGAL

RESUMO DA SESSÃOSUBIDAS CONSTANTES DESCIDAS2 • 3,23% 6 • 9,68% 54 • 87,10%

DOW JONES NOVA IORQUE NASDAQ NOVA IORQUE FTSE 100 LONDRES CAC 40 PARIS XETRA DAX FRANKFURT IBEX 35 MADRID SMI ZURIQUE MIB 30 MILÃO NIKKEI TÓQUIO HANG SENG HONG KONG ENCERRRADO ENCERRADO -5,72%S -7,39%S -8,81%S -4,56%S -7,07%S -7,79%S 0,95%R 0,49%R

B O L S A S I N T E R N A C I O N A I S

11/0910/0907/0906/0905/09 11/0910/0907/0906/0905/09 11/0910/0907/0906/0905/09

Page 36: 11 de Setembro de 2001

10/0907/0906/0905/0904/09 10/0907/0906/0905/0904/09 10/0907/0906/0905/0904/09

0,8891

0,8964

DIA: 0,8964VAR: -0,92%VAR. ANO: -3,66%

EURODÓLAR

0,6148

0,6156

DIA: 0,6156VAR: -0,26%VAR. ANO: -1,35%

EUROLIBRA 106,93

109,30

DIA: 109,30VAR: 0,23%VAR. ANO: 0,96%

EUROIENE

VOLUME DE TRANSACÇÕES(em milhares de euros)

10/0907/0906/0905/0904/09

101324308658

B O L S A E C O N O M I A 3 7PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

N o t a sMERCADO DE COTAÇÕES OFICIAIS

Empresas Valor Preços Oferta var% Negoc.* Abert. Max. Min. Fecho Compra Venda

Central-Banco de Invest. 665 €5,95 €6,07 €5,66 €6,03/1 208$ €6,03 €6,05 -0,82

Finibanco 3120 €1,18 €1,18 €1,15 €1,15/230$ €1,15 €1,19 -4,17

BSCH.NOM 27937 €9,39 €9,39 €8,29 €8,60/1 724$ €8,60 €8,75 -7,13

BPI 808292 €2,25 €2,27 €2,00 €2,07/414$ €2,07 €2,12 -6,33

Informática

Compta 66 €8,40 €8,50 €8,40 €8,40/1 684$ €8,40 €8,50 0,00

Prestação de serviços

Inapa 41199 €5,24 €5,27 €4,80 €5,10/1 022$ €4,90 €5,10 -2,67

Sonae Imobiliária 16321 €14,15 €14,19 €14,04 €14,19/2 844$ €14,00 €14,19 0,42

Ibersol-SGPS 12643 €3,40 €3,49 €3,01 €3,20/641$ €3,06 €3,19 -6,98

Sonae SGPS 8462192 €0,61 €0,63 €0,56 €0,57/114$ €0,56 €0,57 -6,56

Reditus SGPS 29596 €1,95 €1,95 €1,77 €1,77/354$ €1,77 €1,78 -7,81

Somague - SGPS 25243 €7,20 €7,25 €6,50 €7,13/1 429$ €6,99 €7,13 -0,83

Cofina - SGPS 30331 €1,84 €1,84 €1,70 €1,75/350$ €1,74 €1,78 -4,37

C. Amorim - SGPS 55719 €0,96 €0,97 €0,84 €0,92/184$ €0,92 €0,93 -5,15

Sonae Indústria-SGPS 16937 €4,24 €4,25 €4,00 €4,01/803$ €3,95 €4,01 -5,42

SAG 73835 €2,02 €2,03 €1,85 €1,98/396$ €1,89 €1,98 -1,98

M. Continente 383282 €1,24 €1,28 €1,18 €1,20/240$ €1,20 €1,21 -1,64

Cimpor 81002 €17,74 €18,23 €17,03 €17,48/3 504$ €17,48 €17,50 -0,11

Mundicenter-SGPS - - - - -/- €12,35 €14,83 -

Efacec-SGPS 17500 €3,59 €3,75 €3,17 €3,26/653$ €3,26 €3,40 -10,44

Mota-Engil 13578 €1,15 €1,16 €1,10 €1,15/230$ €1,10 €1,15 -1,71

J. Martins 120023 €7,16 €7,34 €6,53 €7,00/1 403$ €6,90 €7,00 -1,82

Semapa-S.G.P.S. 37976 €3,91 €3,98 €3,90 €3,90/781$ €3,90 €3,96 -1,27

Pararede 213580 €0,51 €0,51 €0,46 €0,46/92$ €0,46 €0,49 -9,80

PT Multimedia 142758 €7,36 €7,47 €6,43 €6,55/1 313$ €6,55 €6,58 -10,27

Sonae.com 871387 €1,92 €2,08 €1,81 €1,85/370$ €1,82 €1,85 -2,63

Impresa 208710 €2,00 €2,00 €1,80 €1,80/360$ €1,80 €1,84 -10,00

PTM.com 313168 €1,91 €1,94 €1,62 €1,70/340$ €1,70 €1,71 -10,05

Novabase 47279 €8,70 €8,70 €7,47 €8,30/1 664$ €8,29 €8,30 -4,60

Portugal Telecom 10733308 €7,15 €7,18 €6,15 €6,70/1 343$ €6,70 €6,73 -4,29

V.ALEG.ATL 254 €0,70 €0,70 €0,67 €0,68/136$ €0,67 €0,68 0,00

valeg.ATLF 4702 €0,65 €0,69 €0,58 €0,58/116$ €0,57 €0,62 -14,71

Recreativos e culturais

Estoril-Sol - Portador 1002 €11,11 €11,11 €11,10 €11,10/2 225$ €11,05 €11,10 -0,18

Estoril-Sol - Nominativas - - - - -/- - - -

ITI - Port. - - - - -/- €10,00 €10,89 -

ITI-Nom. - - - - -/- - - -

OBRIGAÇÕES

Diversas

EDP-22ª Emissão 3491 99,40% 99,40% 99,40% 99,40%/ 99,30% - 0,00

BPI.AP2.99 34000 98,14% 98,14% 98,14% 98,14%/ - - -0,05

BPI.CSI.99 4500 87,40% 87,40% 87,40% 87,40%/ - - 0,08

BPI.I.2E99 1000 87,27% 87,27% 87,27% 87,27%/ - - 0,38

BPI.RF3A99 18000 99,11% 99,11% 99,11% 99,11%/ - - 0,02

BPI CM2E00 5 86,60% 86,60% 86,60% 86,60%/ - - 0,46

BPI CM3E00 5000 85,91% 85,91% 85,91% 85,91%/ - - -0,16

BPI RF5A00 2500 99,99% 99,99% 99,99% 99,99%/ - - 0,45

BPICSZE200 4500 91,90% 91,90% 91,90% 91,90%/ - - 0,00

BPIRF3A800 2038 100,16% 100,16% 100,16% 100,16%/ - - 0,19

BPIRLETE00 10000 70,00% 70,00% 70,00% 70,00%/ - - 0,43

CGDRGT2097 2494 114,60% 114,60% 114,60% 114,60%/ 114,60% 120,00% -4,50

MERCADO DE COTAÇÕES OFICIAIS

Empresas Valor Preços Oferta var% Negoc.* Abert. Max. Min. Fecho Compra Venda

BCPA TEL00 6300 90,60% 90,60% 90,60% 90,60%/ 90,60% - 0,00

CISFTF2E99 199800 99,94% 99,94% 99,94% 99,94%/ 99,94% 100,00% -0,01

B.Santander Sub. 149963000 99,00% 99,00% 98,00% 98,00%/ - - 0,00

MELLOSTX04 1000000 97,31% 97,31% 97,31% 97,31%/ 97,31% 98,81% 0,00

MELLOMUL03 5500000 91,40% 91,40% 91,40% 91,40%/ 91,40% - 0,00

Cofina (Warrants) 8000 94,99% 94,99% 94,99% 94,99%/ 92,62% 94,99% -0,01

INPAR.9804 35000 89,00% 89,00% 89,00% 89,00%/ 89,00% 90,00% 1,52

UNIDADES PARTICIPAÇÃOFundos Invest. Mobiliário

Luso Acções - - - - -/- - - -

Luso Valor - - - - -/- - - -

EUROSUL - - - - -/- - €24,10 -

REDES C.98 350 €44,00 €44,00 €44,00 €44,00/8 821$ €43,90 €44,00 0,00

SAUDELAZER 148 €42,70 €42,70 €42,70 €42,70/8 560$ €42,50 €44,00 0,47

N.ECONOMIA 312 €37,78 €37,78 €37,78 €37,78/7 574$ €37,78 €39,39 -3,99

VALFUT2005 40 €37,60 €37,60 €37,60 €37,60/7 538$ €37,60 €40,50 0,05

M.Acções Potugal - - - - -/- - - -

M.ACC.EURO - - - - -/- - - -

Fundos Invest. Imobiliário

Maxirent - - - - -/- - - -

SEGUNDO MERCADOACÇÕESFutebol Clube do Porto 816 €3,11 €3,11 €3,05 €3,11/623$ €3,05 €3,11 0,00

SPORTING-SDF 1295 €3,05 €3,06 €3,04 €3,04/609$ €3,04 €3,09 0,00

Cofaco - - - - -/- €0,36 €0,36 -

Copam - - - - -/- €25,00 - -

Soc. Têxtil Amieiros Verdes - - - - -/- €4,95 €5,00 -

Litho Formas Portuguesa - - - - -/- €1,50 €2,70 -

Conduril - - - - -/- - €5,15 -

Sacor Marítima - - - - -/- €5,30 - -

MERCADO SEM COTAÇÕESSoc.Águas da Curia 100 €3,21 €3,21 €3,21 €3,21/643$ - - 0,00

E U R O S T O X X 5 0

ABN-Amro Holanda 16.5 -11.19%Aegon Holanda 25.6 -10.55%Ahold Holanda 29.68 -6.08%Air Liquide França 140.2 -6.84%Alcatel França 12.6 -11.83%Allianz Alemanha 232.36 -12.58%Aventis Alemanha 68.5 -10.16%AXA França 22.89 -13.30%BASF Alemanha 41.98 -4.46%Bayer Alemanha 33.1 -5.43%BBVA Espanha 12.44 -3.49%BNP França 89 -8.81%BSCH Espanha 8.86 -3.59%Carrefour França 49.9 -6.73%Daimler Chrisler Alemanha 40 -9.09%Danone França 135 -8.16%

Deutsche Bank Alemanha 57.5 -12.35%Deutsche Telekom Alemanha 14.4 -7.75%Dresdner Bank Alemanha 53 -4.85%E.on Alemanha 18.12 0.00%Endesa Espanha 14.31 0.00%ENI Itália 25.01 -10.04%Fortis Bélgica 28.1 -9.27%France Telecom França 32.1 0.00%Generali Itália 36.34 -10.23%Hipovereinsbank Alemanha 26.37 -12.97%ING Groep Holanda 2.39 -9.13%KPN Holanda 69.15 -11.12%L’Oreal França 45.34 -7.83%LVMH França 232.81 -16.09%Munich Re Alemanha 14.4 -6.49%Nokia Finlândia 23.66 -9.87%

Konin Philips Holanda 133.2 -4.17%Pinault Printemps França 18.36 0.00%Repsol Espanha 60.2 1.07%Royal Dutch Holanda 41.1 -3.97%RWE Alemanha 12.42 0.00%San Paolo Itália 70.25 -4.42%Sanofi Synthelabo França 44.8 -7.05%Siemens Alemanha 56.1 -8.71%Soc. Générale França 7.82 0.00%Telecom Italia Itália 5.36 0.00%Telefónica Espanha 10.45 -5.86%Totalfina Elf França 160 0.13%Unicrédito Italiano Itália 4.01 0.00%Unilever Holanda 62.4 -4.15%Vivendi Univers França 46.36 -5.43%Volkswagen Alemanha 44.65 -8.60%

Título País Fecho Var.% Título País Fecho Var.% Título País Fecho Var.%

PARAREDE PORTUCEL PORTUGAL TELECOM PT MULTIMEDIA PTM.COM SAG SEMAPA-S.G.P.S. SONAE SGPS SONAE.COM TELECEL-9,80%S 0,00%P -4,29%S -10,27%S -10,05%S -1,98%S -1,27%S -6,56%S -2,63%S -3,85%S

C Â M B I O S

0,00% • V.ALEG.ATL 0,00% • MAIORES DESCIDAS VALEG.ATLF -14,71% • EFACEC-SGPS TELECOM 10.733.308• SONAE SGPS 8.462.192• EDP 3.526.076• BCP 2.605.564• BRISA - (PRIV.) 1.005.328

A produção industrial portuguesa registou um abrandamento no mês de Julho, crescendo 0,6 por cento face ao período homólogo. A produção de bens de consumo sofreu uma queda homóloga de 4,5 por cento e a de bens de investimento perdeu 0,4 por cento, quebras que foram compensadas pelo aumento de quatro por cento na produção de bens intermédios e pelo crescimento de 3,3 por cento na energia. A produção e distribuição de electricidade, gás e àgua subiu 7,8 por cento, e a das indústrias extractivas aumentou 3,7 por cento. Nos sete primeiros meses do ano, a produção industrial cresceu 3,4 por cento.

O PIB francês registou um crescimento de 2,3 por cento, em termos homólogos, no segundo trimestre deste ano. Em Itália, a confiança dos consumidores voltou a diminuir em Agosto, e na Alemanha a balança de transacções correntes apresentou novamente um défice. O conjunto destes dados reforça a perspectiva de moderação do crescimento económico na zona do euro, favorecendo a manutenção de baixas taxas de juro.

O Governo alemão reviu em baixa a previsão do crescimento para 2002, estimando que fique abaixo dos dois por cento, contra os cálculos iniciais de 2,25 por cento. O ministro das Finanças alemão, Hans Eichel, referiu que a economia do país deverá recuperar no final de 2002, “agradecendo” ao Banco Central Europeu o corte nas taxas de juro, que deverá permitir uma retoma mais rápida das economias europeias.

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S O C I E DA D EPÚBLICO•TERÇA-FEIRA, 12 SETEMBRO 2001

O P I O R

Álcool com metileno já matou 41 pessoas

O número de mortos depois de terem tomado álcool com metileno aumentou para 41 na Estónia. Outras 81 pessoas estão a ser tratadas nos hospitais de Par-nu, esperando-se que o número de mortos cresça ainda mais. Os casos mais graves são transportados para Tartu ou para Talin, a capital. “Infelizmente, o número de mortos está a crescer e continuam a chegar vítimas ao hospital. O período de incubação é de 16 horas, o que quer dizer que vamos continuar a receber pessoas que beberam metanol depois de o assunto ser divulgado pelos ‘media’”, afi rmou Annu Adra, porta voz da polícia. A polí-cia continua a procurar o álcool que terá tido origem no mercado de contrabando. Em Parnu, uma cidade a 130 quilómetros de Talin, já foram encontrados cerca de mil litros de álcool ilegal, que teria meta-nol. O ministro da Justiça garantiu que cerca de dez pessoas já tinham sido deti-das pelo contrabando. Mas como o quími-co foi misturado involuntariamente, es-tes apenas estarão sujeitos a uma condenação de três anos.

A I N V E S T I G A Ç Ã O

Enfermeira suíça confessa mais actos de eutanásia

Uma enfermeira suíça, que já estava liga-da à morte de nove mulheres idosas, con-fessou ontem ser responsável por 18 ou-tros actos de eutanásia. Torna-se assim a maior praticante de eutanásia neste país, superando as mortes provocadas por um homem a que os ‘media’ suíços chamam o “Anjo da Morte“. As autoridades não divulgam o nome da enfermeira, apenas indicando tratar-se de uma jovem entre os 20 e os 30 anos. A enfermeira afi rmou agir por simpatia, estando convencida que ti-nha tomado a opção correcta.

O C E N S O

Recorde de japoneses centenários

O número de japoneses centenários vai atingir um recorde. Segundo um estudo anual do Ministério da Saúde, cerca de 15.475 pessoas terão mais de 100 anos no fi nal do mês. “O número de pessoas cen-tenárias aumentou para mais do dobro desde há cinco anos”, afi rmou um fun-cionário do ministério. A população ja-ponesa é aquela que vive mais anos. A esperança de vida das mulheres é de cerca de 84 anos e dos homens é de 77. A questão, mais de que um mero “fait-divers”, é reveladora do grave problema de envelhecimento da população que o Japão enfrenta. Segundo as organiza-ções internacionais, este envelhecimen-to vai ter um forte impacte na sociedade, fazendo crescer o desemprego e aumen-tando os custos da saúde e das pensões. O crescimento do número de idosos de-ve-se aos melhores cuidados médicos, à segurança social e à comida.

A área queimada é um terço da área ardida no

mesmo período de 2000

Mais de 42 mil hectares de fl oresta e mato arderam do início do ano até 2 de Setembro, número consi-derado positivo pelos bombeiros quando comparado com os 115 mil hectares ardidos no mesmo perío-do de 2000.

Contudo, as temperaturas eleva-

das dos últimos dias levam os bom-beiros a encarar o mês de Setem-bro com um “optimismo moderado”. “Se tivermos em conta que até agora ardeu um terço da área que já tinha sido queimada o ano passado no mesmo período podemos considerar que tem sido um ano positivo”, disse à agência Lusa o presidente do Serviço Na-cional do Bombeiros (SNB), Joa-quim Marinho.

De acordo com dados provisórios

da Direcção-Geral de Florestas, de 1 de Janeiro a 2 de Setembro de 2001 ocorreram 3853 incêndios fl orestais, em que arderam 42.089 hectares. No mesmo período de 2000 já tinham sido consumidos pelas chamas 115.402 hectares, num total de 5459 fogos fl orestais.

Joaquim Marinho considera que o clima, o dispositivo de combate existente e a prevenção foram os três factores que mais contribuíram pa-ra o decréscimo dos fogos e da área

já ardida. “Este ano até Agosto tive-mos um Verão moderado, com tem-peratura abaixo do que é habitual para a época e com pouco vento, principalmente vento de leste, o que podemos considerar como condi-ções favoráveis para os bombeiros”, sublinhou o presidente do SNB.

Por outro lado, afi rmou, o dispo-sitivo de combate tem aumentado todos os anos, contando actualmen-te com 3100 homens e quatro heli-cópteros pesados, entre outro equi-pamento. “Desde 1996, altura em que cheguei ao SNB, foi feito um investimento de cerca de 12 milhões de contos em equipamento. Exis-tem mais 1100 viaturas no terreno. Claro que isso também contribui para que a área ardida seja menor”, acrescentou. � LUSA

As três frentes do incêndio da serra da Estrela foram fi nalmente circunscritas no fi nal da tarde de ontem

Fogo dominado na serra da Estrela e chamas intensas em Viseu

VENTO DIFICULTOU TRABALHO DOS BOMBEIROS

Incêndio da serra da Estrela entrou em fase de rescaldo no final da tarde

de ontem

ANA TROCADO MARQUES

Um violento incêndio defl agrou cer-ca das 16h00 de ontem no norte do concelho de Viseu, com as chamas a avançarem rapidamente numa área densamente arborizada, infor-mou fonte dos bombeiros. No com-bate ao fogo estão cinco corporações de bombeiros com cerca de 60 ho-mens no local. Os responsáveis pela coordenação de meios no terreno mobilizaram os corpos de bombei-ros disponíveis para se deslocaram para a zona de forma a evitar que as chamas ganhem a intensidade que nos últimos dias adquiriram na re-

gião, nomeadamente em Sátão, Vila Nova de Paiva e Tondela. Esta área de pinhal é de difícil acesso e o vento, aliado às elevadas temperaturas, difi cultou a acção dos bombeiros.

Ontem, este era o incêndio de pio-res proporções, dado que o fogo que há dois dias consumia a serra da Estrela entrou em fase de rescaldo. No local estavam ontem 409 bombei-ros, apoiados por 124 viaturas, seis helicópteros e dois aerotanques pe-sados a combater as chamas, apoia-dos agora por 85 militares prove-nientes da Base de Santa Margarida. Depois de terem amea-çado várias vezes as povoações de Teixeira e Baldoca, provocando en-tre oa população dois feridos com queimaduras de segundo grau, as chamas cederam.

As três frentes da incêndio — So-bral de S. Miguel, na Covilhã; Pió-dão, no concelho de Arganil, já na serra do Açor; e Balocas e Teixeira, no concelho de Seia — encontra-vam-se ao fi nal da tarde de ontem completamente circunscritas e em

início de rescaldo. As frentes dos incêndios distribuíram-se por três distritos — Guarda, Coimbra e Cas-telo Branco —, mobilizando um to-tal de 409 homens: 175 em Seia, no distrito da Guarda, 197 em Arganil, distrito de Coimbra e 137 na Covilhã, distrito de Castelo Branco. Para além dos bombeiros, muitos foram as pessoas que, perante a aproxima-ção do fogo, ajudaram como pude-ram a combater as chamas, auxilia-dos ainda pelas forças da GNR e pelas brigadas da polícia fl orestal.

Depois da intensa neblina que se fez sentir durante toda a manhã, impossibilitando a descolagem dos meios aéreos, no combate ao fogo estavam já ontem à tarde dois heli-cópteros na Guarda, dois em Coim-bra e dois helicópteros e dois aero-tanques na zona de Castelo Branco.

Os 85 militares destacados para o local encontram-se divididos em três pelotões distribuídos pelas três frentes de fogo. Após a consolidação da extinção das chamas, prevista para o fi nal da tarde de ontem, estes

militares deverão permanecer no local, numa missão de vigilância e auxílio no rescaldo.

Ao fi nal da tarde de ontem era ainda impossível prever a extensão da área ardida, sabendo-se apenas que seriam milhares de hectares de mato e fl oresta, que afectaram algu-mas das manchas mais ricas da re-serva natural da serra da Estrela.

Em fase de rescaldo estava ainda ontem à tarde o incêndio na serra do Caramulo, em Tondela. Nesta zona, o fogo, apesar de circunscrito, en-contrava-se ainda em fase de rescal-do. No local estavam ainda 108 bom-beiros, apoiados por 19 viaturas. As causas do incêndio, bem como o to-tal de área ardida não eram ainda conhecidos. Em Vila Real, o incên-dio que estava desde a passada se-gunda-feira em fase de rescaldo já ontem se encontrava extinto. Por motivos de prevenção continuavam no local as equipas de patrulhamen-to, não se verifi cando no entando, durante o dia de ontem, qualquer reacendimento. �

Arderam este ano mais de 42 mil hectares

MANUEL ROBERTO

Page 38: 11 de Setembro de 2001

S O C I E D A D E 3 9PÚBLICO• QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Dentistas dão consultas gratuitas em Outubro, o “Mês da Saúde Oral”

PAULA TORRES DE CARVALHO

Uma consulta externa de Esto-matologia vai funcionar até à meia-noite, já a partir de Outu-bro, na Faculdade de Medicina Dentária, em Lisboa, disse ao PÚBLICO o presidente da So-ciedade Portuguesa de Estoma-tologia e Medicina Dentária (SPEMD), Vasconcelos Tavares. O início desta consulta, a pri-meira com características de serviço de urgência em Portu-gal, é uma resposta daquela fa-culdade ao desafi o lançado pelo reitor da Universidade de Lis-boa, Barata Moura. Segundo Vasconcelos Tavares, cerca de duas dezenas de dentistas vão integrar esta nova consulta de Estomatologia que, a médio pra-

zo, se prolongará durante toda a noite.

Esta é uma notícia que pode-rá contribuir para melhorar o panorama da estado da saúde oral dos portugueses, por altura em que decorre o “Mês da Saúde Oral”, uma iniciativa da Socie-dade Portuguesa de Estomato-logia e Medicina Dentária, com o patrocínio da Colgate, que se prolongará durante o próximo mês de Outubro. Para assina-lar esta acção, vão realizar-se “check-ups” dentários gratui-tos, com a participação de cer-ca de mil médicos, foi ontem anunciado em conferência de imprensa realizada em Lisboa.

Todos os interessados pode-rão visitar gratuitamente o den-tista e informar-se sobre o es-tado da sua saúde oral. Para esclarecimentos acerca dos mé-dicos aderentes a esta iniciativa e contactos de consultórios, co-meça a funcionar, já a partir de

dia 21, uma “linha verde” com o número 800 100 800.

70 por cento das crianças com cárie dentáriaAs conclusões de um estudo re-alizado, no ano passado, basea-do em mais de sete mil exames dentários realizados foram tam-bém divulgados na conferência de imprensa. Os resultados in-dicaram que 70 por cento das crianças com idades compreen-didas entre os oito e os 16 anos já tinham tido cárie dentária, o que foi considerado “inacei-tável” por Mário Bernardo, se-cretário-geral da SPEMD, para quem “não se justifi ca que, hoje em dia, crianças e adolescentes desenvolvam cáries”, situação cuja responsabilidade é atribu-ída aos pais.

Relativamente à população adulta, o mesmo estudo revela que mais de metade “recorre ao dentista somente quando neces-

Urgência para dores de dentes

DESBLOQUEADA VERBA PARA

TRATAR DOENÇA DOS PEZINHOS

Associação preparava manifestação de

protesto em frente ao Ministério da Saúde

TERESA LIMA

Foi preciso mais de meio ano, exactamente sete meses, para que a vice-presidente da Asso-ciação Portuguesa de Parami-loidose (APP), Goretti Macha-do, ouvisse uma notícia assim. O ministro da Saúde, Correia de Campos, assinou fi nalmen-te o acordo estabelecido entre a Administração Regional de Saúde do Norte (ARSN) e a APP, que viabiliza a transferência de verbas do Governo para a única clínica fi siátrica do país voca-cionada para tratar os “doentes dos pezinhos”.

A situação ameaçava tornar-se insustentável e, por isso, a APP tinha tudo preparado para se instalar à porta do Ministé-rio da Saúde no dia em que a clínica completava dois anos, a 17 de Setembro. Subitamente, Goretti Machado foi informa-da verbalmente pela tutela de que o ministro havia assinado a convenção. A vice-presidente da associação “não tem dúvi-das” que a decisão dos doentes se manifestarem em Lisboa fun-cionou como o melhor meio de pressão para que tudo se resol-vesse. Agora, Goretti Machado aguarda que o despacho do mi-nistro lhe chegue às mãos den-tro de oito dias. Anualmente, a clínica irá receber 12 mil contos do Governo.

Trinta mil contos de dívidaO processo começou com a ex-ministra Manuela Arcanjo. Quando a APP se preparava pa-ra uma manifestação, na próxi-ma segunda-feira, em Lisboa, em protesto contra o atraso do Governo em homologar a con-venção, eis que o Ministério da Saúde desbloqueia o acordo. Há dois anos que a Clínica Fisiátri-ca Bracara Augusta, com sede em Braga, vivia às custas da associação de paramiloidose, sem que se percebesse por que é que não recebia uma conven-ção anual do Estado, tal como acontece com as restantes clí-nicas privadas do país. Duran-te o tempo em que tem estado aberta, providenciando um tra-tamento a cerca de cinquenta doentes, vinte dos quais com paramiloidose, acumulou uma dívida de 30 mil contos.

A clínica está equipada com um revestimento especial, que evita que estes doentes se mago-em em caso de embate. Da mes-ma maneira, as casas de banho têm um chuveiro que regula a temperatura da água junto à sanita, para que os pacientes não corram o risco de se quei-marem. São aspectos como es-tes que fazem a diferença entre uma normal clínica e a Braca-ra Augusta. A paramiloidose é uma doença hereditária que tem origem num erro genético, o qual provoca a degenerescên-cia dos nervos. �

Grupos de defesa dos direitos humanos

criticam Governo, que prepara nova lei de

imigração

LINA FERREIRA

O Tribunal Federal da Austrá-lia condenou ontem a posição do Governo no caso dos refu-giados que viajavam no navio “Tampa”, agora a bordo do “Manoora”. O juiz afi rmou que os refugiados não podem ser impedidos de pisar solo austra-liano, mas a saga continua: o Governo apresentou recurso e pretende agora levar os refugia-dos directamente para Nauru.

O juiz Tony North conside-rou ilegal o assalto ao “Tampa” e a detenção dos 433 refugiados, na maioria afegãos, impedindo-os de desembarcar na ilha de Natal. “As ordens do tribunal vão obrigar à libertação dos re-fugiados detidos pela Austrá-

lia”, afi rmou o juiz, acrescen-tando que teve de ser o “antigo poder do tribunal” a proteger estas pessoas contra uma deten-ção sem razão.

A queixa tinha sido apresen-tada por um grupo de direitos humanos, que punha em dú-vida a gestão que o Governo australiano fez da crise. O ad-vogado responsável pela queixa considerou a decisão do tribu-nal “uma grande vitória”. Tam-bém a Agência da ONU para os Refugiados, que desde o iní-cio condenaram a posição do Governo australiano, aplaudiu ontem a decisão do tribunal.

Governo recorre da sentençaSexta-feira é o prazo-limite da-do ao Governo para cumprir a decisão. Um porta-voz de Jo-hn Howard, primeiro-ministro australiano, afi rmou imediata-mente que vai recorrer da sen-tença e prosseguir a viagem dos refugiados. “Uma vez que há apelo, as pessoas devem man-

ter-se a bordo do barco”, acres-centou.

A Austrália encontrou ontem novos planos para o “Mano-ora”, que transporta os refu-giados desde que, na semana passada, foram evacuados do “Tampa”. Até agora, iriam ser transportados para a Nova Gui-né, onde seguiriam de avião até Nauru e a Nova Zelândia. “Pre-tendemos levar os refugiados directamente para Nauru em vez de apenas os transportar para a Nova Guiné”, afi rmou Alexander Downer, ministro dos Negócios Estrangeiros aus-traliano. Uma decisão anterior do tribunal indicava que os refugiados apenas poderiam abandonar a embarcação vo-luntariamente. Esta nova rota poderá, segundo as autorida-des, demorar “algum tempo”.

No “Manoora” seguem ou-tros 237 refugiados, desde que o barco em que seguiam foi inter-ceptado pela Marinha. Ontem a Austrália rejeitou o desembar-que de um terceiro barco, trans-

portando cerca de 130 pessoas, nas ilhas de Ashmore Reef. Se-gundo a agência Reuters, Ash-more Reef e Natal são geral-mente pontos de chegada de barcos de refugiados. São prin-cipalmente pessoas provenien-tes do Médio Oriente, Afeganis-tão e Paquistão que procuram desta forma chegar aos Estados Unidos.

O Governo australiano está a preparar uma nova lei que ex-clui estas duas ilhas da zona de imigração do país. De acordo com o novo diploma, os refu-giados que aí cheguem não vão receber asilo na Austrália.

Esta lei pode vir a criar novos protestos por parte dos grupos de direitos humanos. “É bastan-te preocupante a forma como os refugiados estão a ser tratados neste país”, afi rmou um por-ta-voz do grupo de direitos hu-manos que apresentou queixa. Mas a população, que viu o nú-mero de refugiados no país a crescer até cinco mil por ano, apoia a política de Howard. �

Tribunal defende desembarque de refugiados na Austrália

O navio “Manoora” transporta 433 refugiados afegãos em direcção à república de Nauru, no Pacífi co

sário e que apenas 17 por cento o faz mais de uma vez por ano”.

Considerado, sobretudo, co-mo um problema de educação, esta questão está decerto inti-mamente relacionada com o facto dos serviços de medicina dentária não estarem integra-dos no Serviço Nacional de Saú-de, não sendo acessíveis a uma parte signifi cativa da popula-ção, devido aos seus elevados custos. É um problema reco-nhecido por Vasconcelos Tava-res, que refere a inexistência de consultas de Estomatologia nos centros de saúde. O presi-dente da SPEMD aponta tam-bém uma questão, já abordada pelo bastonário dos médicos dentistas, Orlando da Silva, e que diz respeito ao “desperdício de recursos”, ou seja, ao facto de os equipamentos existentes em alguns centros de saúde não estarem a ser utilizados. A ques-tão de fundo, reside, contudo, na necessidade de passar a encarar a saúde oral como prioritária, ao contrário do que tem acon-tecido, como nota Vasconcelos Tavares. �

DAVID HANCOCK/EPA PHOTO

HÁ 96 MIL DOENTES EM LISTA

DE ESPERA Ministro da Saúde

desconhece o número de operações por fazer,

porque ainda há médicos com as listas

no bolso

JOANA FERREIRA DA COSTA

Os número de doentes em lista de espera para opera-ções disparou nos primeiros seis meses do ano. No fi nal de Junho, 96 mil portugue-ses aguardavam por uma ci-rurgia nos hospitais públi-cos, mais 11 mil do que em Janeiro passado. Números que o ministro da Saúde, Correia de Campos, apresen-tou ontem e justifi cou com a adesão de novos hospitais ao programa de recupera-ção das cirurgias em atraso (PPA), sobretudo em doen-ças como cataratas, hérnias ou varizes

O problemados congressosNa Comissão Parlamentar de Saúde e Toxicodependência, onde se estreou como titular da pasta, o ministro afi rmou mesmo que este aumento “até nos honra”, pois signifi ca “que há uma maior identifi -cação das necessidades” re-ais do país. Hoje, reconheceu, ainda não é possível saber com rigor quantas pessoas aguardam por uma cirurgia, porque ainda há médicos com as listas de doentes no bolso. O PPA deverá avançar “em força”, garantiu, explicando que desde o início do ano fo-ram feitas 10.400 operações, e que “tem a expectativa” de chegar às 21 mil até ao fi nal de 2001.

Ontem, perante a comissão da Saúde — onde também es-teve presente sua antecesso-ra Maria de Belém Roseira e o ex-secretário de Estado Nelson Baltazar —, Correia de Campos deixou claro que o ministério está disposto a negociar com quem se com-prometa a cumprir: a remu-neração das horas extraordi-nárias dos profi ssionais pela tabela máxima tem de cor-responder a uma melhoria dos cuidados. As consultas marcadas e não realizadas são outra das prioridades do novo ministro. Além da ne-cessidade de reorganizar os serviços, Correia de Campos lembrou que existem ainda “questões de honra” a resol-ver. A ida de um médico a um congresso durante cinco dias representa 100 consultas que não são feitas. E muitas ve-zes, no fi nal desses congres-sos, “há um pico do receituá-rio dos patrocinadores desses eventos”: uma “vergonha na-cional que não se resolve com repressão, mas sim com pre-venção”. O ministério está disposto a apoiar a formação médica contínua.�

Page 39: 11 de Setembro de 2001

S O C I E D A D E 41PÚBLICO• QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Estreia Amanhã

Estreia Amanhã

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIADA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Bolseiro para Projecto de Investigação

Pretende-se admitir um Licenciado ou Mestre interessado emintegrar um projecto de investigação financiado pela FCT -Fundação para a Ciência e Tecnologia na seguinte área:

- Estudo dos mecanismos de endurecimento após trans-formação estrutural de revestimentos metaestáveis dosistema W-SI-N

As actividades de investigação decorrerão preferencialmenteno Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade deCiências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e serãoremuneradas através de uma bolsa de iniciação à investigaçãocientífica. A data de início dos trabalhos de investigação é 2 deJaneiro de 2002.

O(A)s candidato(a)s devem possuir uma Licenciatura, ou grausuperior, em áreas consideradas relevantes para o projecto(Eng.ª de Materiais ou Metalúrgica, Eng.ª Mecânica, Eng.ªFísica, Licenciatura em Física Tecnológica).

O concurso decorrerá pelo prazo de 30 dias úteis a partir 11de Setembro de 2001.

Para mais informações, ou enviar Curriculum Vitae, contactar:Prof. Albano Cavaleiro - Departamento de EngenhariaMecânica - Pólo 2 - Pinhal de Marrocos - Universidade deCoimbra - 3030-201 Coimbra - Telefone: 239/790700 - Fax:239/790701 - E-mail: [email protected]@publico.pt

PÚBLICO NA ESCOLANOVO EMAIL

E D U C A Ç Ã O

Já é uma rotina no início de ca-da ano lectivo. Ofi cializando o regresso às aulas de mais de dois milhões de alunos, Antó-nio Guterres juntou-se ontem à equipa do ministério da Edu-cação para visitar dois dos 73 novos empreendimentos esco-lares que entram este ano em funcionamento. Um esforço fi -

nanceiro superior a 37 milhões de contos que o primeiro-mi-nistro fez questão de referir na primeira visita do dia, à Escola Básica (EB) 2,3 Professor Galo-pim de Carvalho, em Queluz.

E foi pelos números que co-meçou a intervenção de Guter-res, visto ser a EB 2,3 Galopim de Carvalho um bom exemplo do investimento que o Governo tem feito nos últimos anos, ex-plicou. É que, tal como aconte-cia em 1995 com 20 por cento das escolas da Área Metropoli-tana de Lisboa, também esta instituição de ensino funcio-nou até este ano em pavilhões pré-fabricados. “Neste momen-to são apenas cinco por cento e com este Quadro Comunitário de Apoio [até 2006] serão erra-dicados, não apenas em Lisboa, mas em todo o país”. A promes-sa não é nova, mas sofreu um atraso face ao que já fora anun-ciado no início do ano lectivo

de 1999. O fi m do ensino em ins-talações provisórias, algumas com mais de 20 anos, foi na altura garantido para 2003 pe-lo então ministro da Educa-ção, Marçal Grilo, igualmente acompanhado pelo primeiro-ministro.

Um novo empreendimento em cada cinco diasDe qualquer forma, entre 1996 e 2000 o parque escolar contou com cinco centenas de novos empreendimentos, entre obras de ampliação, substituição, pa-vilhões gimnodesportivos ou criações de raiz. Este ano, cum-prir-se-á uma média de um “ novo empreendimento em cada cinco dias”, contabilizou Antó-nio Guterres.

Números à parte, o chefe do executivo enalteceu a aposta na avaliação do sistema, enquanto prova dos “objectivos de rigor, qualidade e exigência do Gover-

no”, contrariando “um certo laxismo instalado”. O reforço da qualidade do ensino em “do-mínios vitais como a Matemáti-ca, o Português e o ensino expe-rimental” foi outra das apostas referidas.

Mas antes das intervenções que marcaram a sessão ofi -cial de abertura do ano esco-lar houve ainda tempo para para uma visita — em passo de corrida, que do programa constavam ainda mais duas idas a outras tantas institui-ções de ensino do concelho de Sintra —, às novíssimas e bem equipadas instalações da EB 2,3 Galopim de Carvalho. Uma “escola completa”, com direito a sala de informática, centro de recursos, laboratório e pa-vilhões desportivos, capaz de garantir as condições que le-vem os “alunos a gostar mais da escola, de estar nela e sobre-tudo de aprender”, sustentou o ministro da Educação, Júlio Pedrosa.

Afi nal, um cenário bem dife-rente daquele a que estavam habituados os alunos. “As salas de ciências não eram como es-tas, não tínhamos computado-res, só podíamos ter aulas de Educação Física se não choves-se e às vezes até chovia nas sa-las de aula”, descreviam quatro alunos do 6º ano, entusiasma-dos com a sua primeira aula de Ciências Naturais. Já a reorga-nização curricular do ensino básico, que entra este ano em vigor do 1º ao 6º ano, não era motivo de tanta alegria. As au-las de 90 minutos “vão ser mais difíceis para os alunos e para os professores”, explicava uma aluna. Quanto às novas áreas curriculares — Estudo Acom-panhado, Área de Projecto e Formação Cívica — ninguém parecia ainda saber muito bem do que se tratava. �

A visita de António Guterres a estabelecimentos de ensino é já um clássico da “rentrée” escolar

Guterres quer reforço da qualidadeem Português, Matemática e no ensino experimental

INÍCIO DO ANO LECTIVOPrimeiro-ministro

garantiu que a partir de 2006 não haverá

mais escolas a funcionar em pre-

-fabricados, adiando em três anos a

promessa feita por Marçal Grilo

ISABEL LEIRIA

DANIEL ROCHA

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S E C Ç Â O 4 2PÚBLICO•DATA

AT E N TA D O S N O S E U A

UEFA decretou um minuto de silêncio

A UEFA decretou um minuto de silêncio, a guardar em todos os jogos sob sua jurisdi-ção que se realizaram ontem, em memória das vítimas dos actos de terrorismo ocorri-dos nos Estados Unidos. O chefe do Comité Executivo da UEFA, Gerhard Aigner, ex-pressou simultaneamente a sua “profunda indignação” face “aos trágicos e terríveis acontecimentos que tiveram lugar nos Esta-dos Unidos”. Num comunicado emitido a propósito, a UEFA expressou “a sua profun-da tristeza e horror”, sublinhando que os pensamentos e os corações dos seus dirigen-tes “estão com as vítimas” dos atentados, que provocaram a queda das duas torres do World Trade Center, em Nova Iorque, e der-rubaram ainda parte da estrutura do gigan-tesco edifício conhecido como “Pentágono”, que alberga os principais departamentos do Ministério da Defesa dos EUA. Ao fi m da tarde, a UEFA pusera de lado a hipótese de cancelar as partidas da Liga dos Campeões europeus previstas para ontem.

OS JOGOS DE ONTEMLiga dos Campeões

Grupo AAS Roma (Ita)-Real Madrid (Esp) 1-2 0-1, Luís Figo, 50 minutos 0-2, “Guti”, 63 1-2, Francesco Totti (g.p.), 73’ Lokomotiv Moscovo (Rus)-Anderlecht (Bel) 1-10-1, Hendrikx, 15’1-1, Maminov, 18’

Grupo BLiverpool (Ing)-Boavista 1-10-1, Silva, 3’1-1, Michael Owen, 29’Dínamo Kiev (Ucr)-B. Dortmund (Alem) 2-21-0, Oleksandr Melashchenko, 15 minutos2-0, Isi Lucky Idahor, 46’2-1, Jan Koller, 56’2-2, Márcio Amoroso, 74’

Grupo CSchalke 04 (Ale)-Panathinakos (Gre) 0-20-1, Goran Vlaovic, 75’0-2, Agelos Basinas, 80’Maiorca (Esp)-Arsenal (Ing) 1-01-0, Vicente Engonga (g.p.), 12’

Grupo DNantes (Fra)-Eindhoven (Hol) 4-11-0, Pierre-Yves André, 5’2-0, Olivier Quint (g.p.), 10’3-0, Wilfried Dalmat, 44’4-0, Marama Vahirua, 75’4-1, Jon de Jong, 93’Galatasaray (Tur)-Lazio (Ita) 1-01-0, Umit Karan, 79’

Taça UEFAGorica (Slo)-Osijek (Cro) 1-2Roda JC (Hol)-Fylkir (Isl) 3-0Troyes (Fra)-Ruzomberok (Svq) 6-1 Zizkov (Che)-FC Tirol (Aut) 0-0 Puchov (Svq)-Friburgo (Ale) 0-0

Os responsáveis da equipa escocesa do Glas-gow Rangers rejeitam deslocar-se ao Da-guestão para defrontar o FC Anzhi Makha-chkala, em jogo da primeira mão da primeira eliminatória da Taça UEFA. O clube escocês assume a responsabilidade por desobedecer às ordens da UEFA, que o obriga a comparecer ao encontro no Da-guestão, agendado para depois de amanhã, e admite recorrer ao Tribunal Arbitral do Desporto para provar as suas razões. O Ran-gers justifi ca a decisão pelo clima de insegu-rança que reina actualmente naquela repú-blica do Cáucaso russo, que faz fronteira com a Tchetchénia.

PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SETEMBRO 2001

D ES P O R TOL I G A D O S C A M P E Õ E S

Anfield Road ficou mudoSilva marcou o golo que faz do Boavista a primeira equipa portuguesa a pontuar com o Liverpool

Do nosso enviado

LUÍS OCTÁVIO COSTA em Liverpool

“Se estás na zona da marca de grande-penalidade e não sabes o que fazer com a bola, mete-a na baliza e mais tarde discutimos as opções”. O boa-visteiro Silva nem precisou de ler os manuais de história do Liverpool pa-ra absorver a sabedoria das palavras do histórico “manager” inglês Bill Shankly. Com um golo logo ao tercei-ro minuto de jogo, o Boavista amea-lhou um ponto precioso — quase ini-maginável — na ronda de abertura da Liga dos Campeões. A estreia do Li-verpool na prova saiu furada.

Amorteceu (de cabeça) para Gou-lart um pontapé que veio da direcção do guarda-redes Ricardo, o número 30 devolveu de peito e o “pistoleiro” chu-tou de primeira sem hesitar, colocan-do o Boavista numa posição que pou-cos esperariam.

O minuto de silêncio decretado pe-la UEFA — um gesto de solidariedade Z

Liverpool O sucesso nem sempre é amigo do peso, altura e músculo. Houllier preparou uma equipa anti-Boavista, mas, para já, terá de continuar a apregoar as tais cinco taças em meia dúzia de meses.

DesperdícioNão esteve mal o ataque do Boavista. Longe disso. Mas até Jaime Pacheco refilou quando Duda desperdiçou um par de golos trabalhados pelos seus colegas.

Silva prepara-se para ultrapassar Henchoz — o avançado boavisteiro marcou um golo e fez uma exibição de luxo

Liverpool6 Dudek6 Carragher6 Henchoz6 Hyypia6 Vignal6 Gerrard6 McAllister6 Hamann6 Murphy5 (Riise),70’m7 Owen6 Heskey

BoavistaRicardo 7Frechaut 7Paulo Turra 6Pedro Emanuel 6Erivan 6Glauber 6Petit 7Sanchez 6(P. Santos),58’m 6Alexandre Goulart 6Duda 6(Bosingwia),83’m -Silva 7(Serginho),78’m 6

LIVERPOOL 1

BOAVISTA 1Estádio Anfield Road, em LiverpoolNoite fresca, relvado bomCerca de 35.000 espectadores

TreinadorGerard HoullierNão UtilizadosArphexad, Fowler, Redknapp, Barmby, Biskan e Litmannen

TreinadorJaime PachecoNão UtilizadosWilliam, Márcio Santos, Mário Loja e Gouveia

Árbitro Kyros Vassaras (6) ,da Grécia. Amarelos: Paulo Turra (24’), Vignal (26’), Silva (32’), Henchoz (37’), Pedro Emanuel (71’), Glauber (76’) e Ricardo (85’).Golos 0-1, por Silva, aos 3’; 1-1, por Owen, aos 29’.EstatísticaCantos: Liverpool 7 (3+4) Boavista 1 (1+0) Livres: Liverpool 22 (11+11) Boavista 25 (12+13) Remates: Liverpool 11 (5+6) Boavista 11 (4+7) Foras de jogo: Liverpool 1 (1+0) Boavista 5 (3+2)

XBoavistaPacheco fez o seu “bluff”, mas manteve-se fiel ao seu esquema. A equipa, essa, respondeu com tudo. Destaque para a tranquilidade que poucos esperariam e algumas triangulações a roçar o brilhantismo.

Owen Anfield Road continua a levantar-se de cada vez que o menino-prodígio toca na bola. Depois do “hat-trick” com a Alemanha, um golo espectacular que amenizou a desgraça inglesa.

“Sinto alguma frustração. Eu tinha dito que o empate podia servir ou não, mas soube-nos a pouco”. Foi assim que Jaime Pacheco reagiu ao resultado (1-1) do Boavista em Anfield Road, frente ao Liverpool. O técnico “axadreza-do” confessou que o empate “alegra muito os boavistei-ros”, tanto mais que foi conseguido em casa de “uma das melhores equipas do mundo” por um conjunto de jogado-res que “custaram pouco dinheiro”, mas se adaptaram à “mística” do Boavista. “Mostrámos raça e qualidade, e se temos arriscado um pouco mais...”. Contudo, rapidamente controlou a euforia: “Os pontos são importantes na quali-dade de visitante. Mas isto não nos faz ganhar os próximos jogos”. Satisfeito estava igualmente Silva, que marcou, aos 3’, o golo boavisteiro. “A primeira bola que peguei fiz golo. Estamos de parabéns. Mas o Boavista merecia melhor, pois teve boas oportunidades”, disse o ponta-de-lança.

Antes do encontro, a tragédia que se abateu sobre os EUA marcou os discursos da comitiva em Liverpool. João Loureiro foi o primeiro a reagir: “O jogo é irrelevante perante o que está a acontecer no Mundo. Hoje estou abananado, não tenho palavras para me exprimir num momento que é para todos reflectirmos”. Loureiro apre-sentou mesmo junto da UEFA um pedido para a utilização de um fumo juntamente com o equipamento “axadreza-do”, gesto de solidariedade que o organismo recusou.

Gerard Houllier disse que “a equipa do Boavista não foi uma surpresa”. “Já tinha avisado que tem bons joga-dores, todos muito rápidos”, acrescentou. O técnico do Boavista disse apenas ter ficado surpreendido com “as vezes que os boavisteiros caíram ao mão”. “Mas foi um bom resultado. Daqui a dois meses veremos que foi um ponto fundamental”, concluiu. �

Pacheco: “Soube-nos a pouco”

para com os familiares das vítimas da tragédia que se abateu sobre os EUA — repetiu-se (literalmente) e, a partir daí, os cerca de 35 mil adeptos ingleses foram obrigados a intercalar os es-trondosos “yeah” com os, cada vez mais frequentes, “oh”. Naquele mo-mento, de pouco serviu a Gerard Houllier os 1,85m de Emile Heskey ou o meio-campo musculado (Gerrard, McAllister, Hamann e Murphy), meti-culosamente preparado para anular a raça da equipa do Bessa. Num pon-tapé de livre (5’), o veterano McAllis-ter obrigou Ricardo a uma defesa apertada, e a mais recente aposta de Jaime Pacheco, Goulart, respondeu com um mergulho espectacular (21’) para a estirada do guarda-redes Du-dek. Mas a grande ovação da noite estava reservada para o precoce Mi-chael Owen, que, com um gesto digno do “Super-Rato”, fugiu à armadilha de fora-de-jogo e chutou em folha seca, longe do alcance das luvas de Ricardo. Os olhos de Houllier brilharam, mas o francês nunca chegou a ver a ópera

que tanto apregoou. O jogo ganhou então outra dinâmica. E voltou a ser o Boavista a dar o primeiro sinal de insatisfação, com Duda (44’) a desper-diçar infantilmente mais uma perfei-ta triangulação “axadrezada”: rece-beu, isolou-se pela direita, mas quis adornar o lance e estatelou-se a um par de metros de Dudek.

O Boavista continuava a dar que fazer ao Liverpool, que conta com ape-nas uma vitória na liga caseira, mas a segunda parte deixou a descoberto a diferença de valor entre as duas equi-pas. Durante os últimos dez minutos, ninguém se entendia na área “axadre-zada”. E os cartões eram já mais que muitos. O Anfi eld Road berrou “goal” com uma cabeçada de Heskey (64’), agitou-se com mais um “s” de Owen (75’), suspirou com um lapso de McAllister (69’), que cortou em vez de chutar, e entusiasmou-se com um livre de Riise. Algumas unhas desaparece-ram e muitas foram as mãos que se juntaram em prece. O resultado, esse, manteve-se intocável. �

GERRY PENNY/EPA PHOTO

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D E S P O R T O 4 3PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

CARLOS FILIPE

O Real Madrid começou da me-lhor maneira a sua participação no Grupo A da Liga dos Campe-ões, ao derrotar, na capital ita-liana, por 2-0, a Roma. Figo foi o autor do primeiro golo, aos 50’, num livre a 30 metros da baliza. O português bateu com força e a bola tabelou ainda num defe-sa romano e traiu o guarda-re-des Pellizoli. Pouco depois, Guti (63’) fez o 0-2. Mas a Roma carre-gou e aos 71’ Karanka derrubou Zebina. Totti encarregou-se da marcação e reduziu para 1-2. Batistuta fez-se notar no último terço da partida, reclamando um par de oportunidades.

A jornada teve início mais cedo, às 16h00 de Lisboa, com o outro encontro do Grupo, onde o Lokomotiv de Moscovo recebeu e empatou (1-1) com o Anderle-cht. A UEFA determinou que em todas as partidas fosse res-peitado um minuto de silêncio, e os 15 mil espectadores que pre-senciaram o encontro associa-ram-se aos atletas no respeito pela dor dos norte-americanos. A partida teve pouca história:

Hendrikx abriu o activo para os belgas, aos 15’, e Maminov repôs a igualdade aos 18’.

No Grupo B, e enquanto o Bo-avista surpreendia o Liverpool em Anfield Road (1-1), o Dínamo de Kiev começou por se superio-rizar ao Borussia de Dortmund. Até ao intervalo, dois golos (por Melashchenko e Idakhor) sem resposta dos alemães, que só surgiu no segundo tempo, por Koller, autor do golo (56’) que reduziu a desvantagem para 2-1, e por Amoroso (77’), que bateu para o 2-2 final.

No Grupo C, em Maiorca, grande surpresa: o Arsenal, que começou da pior forma, perden-do o concurso de Cole logo no minuto 11 por expulsão a punir falta violenta para penalti sobre Luque na área, perdeu por 1-0. Engonga fez o golo de penalti para a equipa das Baleares. Na Alemanha, o Schalke 04 rece-beu o Panathinaikos, com o por-tuguês Paulo Sousa em campo, e foi presenteado com uma se-gundo parte de grande qualida-de pelos gregos, que marcaram aos 75’ por Vlaovic e aos 80’ por Bassinas. Resultado: 0-2.

Outro resultado-sensação, po-rém, ocorreu no Sul de França, onde o Nantes (Grupo D) che-gou ao intervalo e bater o PSV Eindhoven por 3-0, golos de An-dre (5’), Quint (10’, de g.p.) e Dal-mat (43’). Marama Vahirua, aos 75’, fez o quarto golo dos france-ses, e o golo de honra holandês (4-1) foi obtido por Bruggink. Na Turquia, o Galatasaray ba-teu a Lazio, com Fernando Cou-to já na equipa, por 1-0, golo de Umit Karan, aos 79’.

Esta noite, e exceptuando o FC Porto-Juventus, ganham particular realce os embate no Pireu, entre a Olimpiakos e o Manchester United, e em Bar-celona e Lille, onde duas forma-ções espanholas e duas france-sas se defrontam.

Os campeões ingleses apre-sentam-se em força, com Be-ckham e Véron no apoio a Nistelrooy. A turma grega, con-tudo, com os brasileiros Zé Elias e Giovanni e o francês Karem-beu, tentará conseguir a primei-ra vantagem. No curioso duelo entre espanhóis e franceses, re-alce maior para a deslocação do Lyon a Barcelona (Grupo F), do

Figo abriu caminho à vitória do Real

Jogos às 19h45

Grupo E

Celtic (Esc)-Rosenborg (Nor)FC Porto (Por)-Juventus (Ita)Grupo F

B. Leverkusen (Ale)-Fenerbahce (Tur)Barcelona (Esp)-Lyon (Fra)Grupo G

Lille (Fra)-Corunha (Esp)Olimpiakos (Gre)-M.United (Ing)Grupo H

S. Praga (Che)-S. Moscovo (Rus)Feyenoord (Hol)-B. Munique (Ale)

PROGRAMA DE HOJE:

Octávio Machado reconheceu o favoritismo da Juventus, mas acredita num bom começo na Liga dos Campeões

NELSON MARQUES

Octávio Machado reconheceu ontem que a Juventus é por-ventura a “principal favorita à vitória a Liga dos Campeões”. Classificando a equipa orien-tada por Marcello Lippi como “a mais forte de Itália e uma das mais fortes da Europa”, o treinador portista assumiu o favoritismo dos transalpinos, mas sublinhou que o FC Porto não se vai deixar intimidar pe-los milhões da “vecchia signo-ra”. “Respeitamos o adversá-rio, que se reforçou muito com o objectivo único de conquistar as competições em que vai in-tervir. Mas temos ambições jus-tificadas”, disse, acrescentan-do ser “importante começar bem perante um adversário de tanta qualidade”.

Falando na habitual confe-

“FC Porto tem ambições justificadas”

A Juventus viveu ontem um dia muito atribulado. A formação italiana chegou ao Aeroporto de Pedras Rubras por volta do meio-dia, seguindo de autocarro para o Hotel Porto Palácio, para um descanso antes do treino, às 18h30. Inespera-damente, por volta das 15h45, a polícia mandou evacuar o hotel devido a uma ameaça de bomba.“Ficámos um pouco im-pressionados. Parecia um filme”, afirmou o treinador Marcello Lippi, manifestan-

do a sua estranheza por o aviso de evacuação não ter sido feito em italiano — e apenas em português, in-glês e francês —, já que no hotel estavam hospedados cerca de 50 italianos. Relati-vamente aos atentados per-petrados contra os EUA, o capitão Del Piero negou que isso possa afectar o ren-dimento das equipas: “Esta-mos a falar de coisas distin-tas. Futebol é paixão, é divertimento. Somos atle-tas e temos que estar con-centrados no jogo”.

Em relação ao jogo, Lippi recusou assumir o favori-tismo da formação “bian-coneri”: “Não sei se somos favoritos. A atitude da Ju-ventus, tal como todas as equipas, é ganhar, com grande respeito pelo adver-sário”. O técnico italiano não achou “exagerado” que Octávio Machado te-nha comparado deco a Zi-dane. “O treinador do F.C. Porto conhece-o bem e sabe do que fala. Acho que o De-co é um médio com muita técnica e criatividade”.

Juventus evacuada por ameaça de bomba

Alertado para o facto de não ter mencionado treinador e equipa sportinguistas, o técni-co portista admitiu o “lapso”, aproveitando para agradecer a amabilidade de Lazlo Bölöni, que havia desejado felicidades aos portistas, via fax, antes do jogo com o Grasshoppers.

Restam 9 mil bilhetesA venda de bilhetes para o jogo de hoje tem decorrido aquém das expectativas. On-tem, os responsáveis portistas esperavam vender cerca de 10 mil bilhetes, mas não foram adquiridos mais de 4 mil in-gressos. Depois da lotação es-gotada nos jogos com o Barry Town e o Grasshoppers, o FC Porto espera repetir a faça-nha, mas a verdade é que fal-tam ainda vender cerca de 9 mil ingressos. Hoje, as bilhe-teiras encerram-se às 16h00, hora em que começa a ser de-limitado o perímetro de se-gurança. A partir desse mo-mento, quem tiver reservado bilhete poderá levantá-lo no posto de relações públicas que funcionará numa bola gigan-te que será colocada junto da Torre das Antas. �

EQUIPAS

Árbitro: Giles Veissière (França)FC PORTO: Ovchinikov, Ibarra, J. Costa, J. Andrade, M. Silva, Cos-tinha, Quintana, Deco, Capucho, Clayton e Pena. Outros convo-cados: P. Santos, R. Silva, R. Car-valho, Paulinho, Alenitchev, C. Costa, R. Júnior, Postiga e Rafael. JUVENTUS: Buffon, Thuram, Mon-tero, Iuliano, Zambrotta, Pes-sotto, Tudor, Tacchinardi, Del Piero, Salas e Trezeguet. Outros convocados: Carini, Rampulla, Zenoni, Ferrara, Paramatti, Bi-rindelli, Athirson, O’Neill, Ma-resca e Amoruso.

Sporting alivia pressão José Bettencourt acredita no projecto da equipa, que já está na Dinamarca, e reitera confiança no técnico

Do nosso enviado

PAULO CURADO,em Billund

Uma nota do improvisado dis-curso de José Bettencourt, ad-ministrador executivo da SAD do Sporting e chefe da comitiva que viajou ontem para a Dina-marca, serviu para aliviar a pressão sobre o técnico da equi-pa, o romeno Laszlo Bölöni, já “castigado” pelos resultados menos positivos da equipa nes-te arranque de temporada. A verdade é que os responsáveis pela equipa voltaram ontem a dar um voto de confi ança ao téc-nico. “Só os medrosos e os par-vos é que saltam para fora das pressões”, disse ontem Betten-court, sem referenciar destina-tários.

O administrador da SAD afi r-mou ainda: “Os momentos me-nos bons ultrapassam-se, funda-mentalmente, com vitórias, porque as derrotas potenciam debilidades e as vitórias maxi-mizam as potencialidades. É por isso que vamos lutar até ao fi m, pois sabemos que estamos no bom caminho. Contra ventos e marés vamos dar a volta”.

Choque à chegadaIsolados do mundo durante as mais de três horas e meia que durou o voo, foi com increduli-

dade que a comitiva “leonina” recebeu as notícias dos atenta-dos terroristas nos EUA assim que pisou solo dinamarquês, onde amanhã o Sporting de-fronta o Midtjylland, na primei-ra mão da primeira eliminató-ria da Taça UEFA. Isolados do exterior durante as mais de três horas e meia que durou o voo — por sinal, o último autorizado a aterrar naquele país — que transportou de Lisboa o plantel, adeptos e jornalistas, foi com espanto que se inteiraram dos acontecimentos que manti-nham há já algum tempo o mundo suspenso e atónito.

Pouco passava das 17h30 (16h30 de Lisboa) quando ater-rou em Billund, na Dinamarca, o avião da SATA. Os sorrisos iniciais à entrada do aeroporto da pequena localidade foram substituídos pelos primeiros esgares de incredulidade, ao rit-mo de cada chamada de telemó-vel proveniente de Portugal. Por fi m sobrou a perplexidade e o assombro face às loucas notí-cias que invadiram a sala de desembarque.

Jogadores, equipa técnica e dirigentes formaram pequenos grupos de conversação, mistu-rados com jornalistas e adeptos, que acompanharam a equipa, trocando as informações de que dispunham. Todas demasiado surpreendentes para serem re-ais e que levantavam as mais genuínas dúvidas, e até interro-gações, como a levantada por Manolo Vidal, director de fute-bol da SAD, a respeito da efecti-vação do jogo ou do voo de re-gresso a Lisboa. �

Os jogadores da Juventus foram obrigados a abandonar o hotel

rência de imprensa que antece-de os jogos da Liga dos Campe-ões, o técnico dos portistas disse ainda ser um “privilégio” de-frontar a equipa “bianconeri”: “Não há nenhum profissional de futebol que não gostasse de estar no lugar em que vão estar os jogadores do FC Porto. É um motivo de grande orgulho e de grande estima”. Apesar de ma-nifestar o seu respeito pelo ad-versário, reforçado esta época com jogadores como Buffon, Thuram, Nedved e Sals, o técni-co “azul-e-branco” alertou para o facto de nem sempre um gru-

po de excelentes jogadores fa-zer uma grande equipa: “Nem só de grandes vedetas se faz uma grande equipa. Às vezes, umas atrapalham as outras”, disse, dando o exemplo de Zi-dane, cuja contratação pelo Re-al Madrid tem sido motivo de grande reflexão.

Octávio Machado aprovei-tou ainda para desejar boa sorte “a Jaime Pacheco e ao Boavista, ao Marítimo e Nelo Vingada, a Fernando Santos, bem como a todos os jogadores e técnicos portugueses” em ac-ção nesta jornada europeia.

que para a do Corunha a Lille (Grupo G). Mas em França, no outro jogo do Grupo G, os gale-gos não terão a vida facilitada.

O “Barça” aposta forte, mas sem Rivaldo, lesionado. Carlos Rexach avaliza a sua candida-tura ao golo ao colocar na frente Kluivert, Geovanni e a jovem extrela argentina Saviola. Na mesma série de competição, o Bayer Leverkusen parece deci-dido a confiar no avançado Kirs-ten, mas terá que se acautelar com o fulgor de Revivo, estrela dos turcos do Fenerbahce. �

Sokota preocupaBenfica diz que não recebeu convocatória angolana para Mantorras, que enviou carta a pedir dispensa

Sokota é a última preocupação do Benfica para o jogo com o FC Porto, que sábado tem lugar na Luz e conta para a quinta jornada da I Liga. O avançado croata ressentiu-se de uma le-são e foi inclusivamente fazer um teste médico fora da Luz pa-ra avaliar a situação.

Se não recuperar, Sokota jun-ta-se a Zahovic, também lesio-nado (tal como Porfírio), co-mos grandes ausentes para este “clássico”, cuja importância vai levar o Benfica a realizar um curto estágio nas Caldas da Rai-nha, entre amanhã e sábado.

Entretanto, João Malheiro, porta-voz do Benfica, garantiu ontem que não chegou ao clu-be qualquer convocatória da federação angolana relativa a Mantorras, com vista ao jogo de domingo entre Angola e o Zimbabwe, da primeira mão da final da Taça COSAFA, o que impediria o avançado “encar-nado” de jogar o Benfica-FC

Porto. Ao que o PÚBLICO apu-rou, Mantorras enviou nos últi-mos dias uma carta à federação do seu país para que o libertas-sem deste compromisso e de ou-tros até ao final do ano.

Reuniões pelo estádioNuma azáfama continua a di-recção do Benfica para conse-guir concretizar a construção do novo estádio, como anteon-tem reafirmou Manuel Vilari-nho. Para ontem esteve previs-ta a reunião entre Vilarinho e João Soares, presidente da Câ-mara de Lisboa, por causa da necessária alteração do PDM, mas foi adiada. Segundo fonte do Benfica, o dito encontro terá lugar no dia de hoje. E para Lon-dres viajou ontem Mário Dias, vice-presidente para o patrimó-nio, acompanhado de quadros da Somague, que vai construir o novo estádio. Na capital in-glesa reuniram-se com respon-sáveis da Hok Sport, empresa que desenhou o recinto. Esta reunião é bastante importante e visa resolver um dos obstáculos que Vilarinho apontou anteon-tem: o fecho do contrato de em-preitada com a Somague para que, então, seja estabelecido o preço final da obra e assim seja montada a operação financeira necessária. � JOSÉ J. MATEUS

NELSON GARRIDO

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4 4 D E S P O R T OPÚBLICO• QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Colombiano Botero no comando da VueltaAlemão Erik Zabel (Telekom) ganhou ontem a sua terceira etapa em cinco já disputadas

EPA/PHOTO

Marítimo preparado para receber o Leeds

Equipa madeirense está fortemente moralizada

O Marítimo prossegue ama-nhã a sua nova etapa em com-petições europeias de futebol, depois de ter ultrapassado na pré-eliminatória a equipa do Sarajevo, da Bósnia-Herzego-vina, quando receber, no Fun-chal, os britânicos do Leeds, da Premier League inglesa de futebol, encontro da primei-ra mão da Taça UEFA. E para isso apresenta-se e afi rma-se fortemente moralizada, espe-cialmente depois do recente sucesso (1-0) frente ao Belenen-ses, no sábado, na quarta jor-nada da competição interna.

A equipa orientada por Nelo Vingada prosseguiu on-tem os trabalhos de prepa-ração, e fi cou mais animada com as recuperações físicas de Nélson e de Eusébio, jo-gadores que têm estado le-sionados. Só hoje, contudo, após o derradeiro treino, é que o técnico divulgará a lis-ta de convocados para a par-tida, que terá lugar no Está-dio dos Barreiros, a partir das 21h45, com transmissão directa na SportTV.

A equipa madeirense, que disputa pela quarta vez uma competição europeia de clu-bes, já tinha defrontado, em anteriores ocasiões, e desde a época de 1992-93, equipas como o Antuérpia, da Bél-gica, o Aaraus, da Dinamar-ca, e a poderosa Juventus, de Itália.

Na mais recente ocasião, na temporada de 1998-99, o Marítimo foi derrotado pelo mesmo Leeds, primeiro na deslocação a Inglaterra, per-dendo por 1-0 em Elland Ro-ad, desfecho que os mari-timistas contrariaram no encontro da segunda mão, vencendo então pelo mesmo resultado, embora tivessem sido eliminados, perdendo na decisão de desempate por pontapés da marca de grande penalidade.

A formação inglesa — se o espaço aéreo europeu per-manecer aberto durante as próximas horas — tem horá-rio de chegada marcado ao Funchal ao início da tarde (13h00), devendo treinar ao fi m da tarde, por volta das 18h30, no Estádio dos Barrei-ros, onde o técnico da equi-pa, David O’Leary, irá pro-mover uma conferência de imprensa para falar aos jor-nalistas.

A equipa britânica não te-ve um bom teste na última ronda do campeonato inglês, pois não foi além de um em-pate sem golos ante o mo-desto Bolton, equipa que, to-davia, está a fazer uma boa carreira na prova, e a surpre-ender tudo e todos, ao man-ter-se na liderança da cla-sifi cação, com dez pontos, mais dois do que o campeo-níssimo Manchester United. � PÚBLICO/Lusa

Campeonato paralelo pode avançar na Fórmula 1

Mercedes e Renault lideram grupo de pressão

CARLOS FILIPE

Os construtores europeus de automóveis implicados na Fórmula 1 deverão encontrar-se nos próximos dias para da-rem luz verde ao arranque do seu projecto de competição paralela, iniciativa congemi-nada após a tomada de con-trolo dos direitos de televisão deste desporto pelo grupo ale-mão liderado por Leo Kirch.

“Uma reunião de constru-tores [de F1] terá lugar nos próximos dias, em Frank-furt”, disse ontem o presi-dente do Conselho de Admi-nistração de Mercedes-Benz, Juergen Hubbert, à margem de uma conferência de im-prensa no Salão Automóvel que se realiza naquela cidade, onde as medidas de seguran-ça foram ontem drasticamen-te reforçadas, na sequência da série de atentados verifi -cados um pouco por todo o lado nos Estados Unidos, e tendo em conta a situação ge-ográfi ca da cidade, bem no coração da Europa.

Hubbert confi rmou tam-bém as recentes propostas feitas pelo presidente da Re-nault Sport, o francês Patri-ck Faure, quando mencionou um encontro no seio da Asso-ciação de Construtores Au-tomóveis. “Vamos criar e de-senvolver a nossa própria sociedade para gerir a F1 no futuro”, anunciou o respon-sável da Mercedes.

Como reacção à aquisição de 75 por cento dos direitos das provas de F1 pelo grupo Kirch, que as pretenderia re-transmitir apenas para clien-tes assinantes da sua rede de canais codifi cados, o projec-to de campeonato de F1 para-lelo ao que é promovido pela Federação Internacional do Automóvel, e controlado pelo inglês Bernie Ecclestone, foi lançado em Abril último. To-davia, algumas pessoas bem integradas no meio da F1 es-timam que as repetidas ame-aças dos construtores visam, sobretudo, fazer pressão so-bre o grupo controlado por Kirch, de forma a obter um bom compromisso, e que nun-ca serão postas em prática.

O grupo “media” de Leo Kirch detém já os direitos, fo-ra do território dos Estados Unidos, da retransmissão dos jogos do Mundial de futebol em 2002 e 2006. Aquele magna-ta também já tinha adquirido os direitos para a Alemanha dos jogos da Bundesliga de futebol (campeonato alemão), quer pela televisção, quer pe-la Internet. E a F1 deveria completar o “dossier” despor-tivo que asseguraria ao grupo importantes proveitos fi nan-ceiros nos próximos anos. � *com AFP

Michael Jordan pode regressar em breve à Liga Norte-Americana de Basquetebol pro-fi ssional (NBA), como ele pró-prio já admitiu. De acordo com um jornalista norte-americano, Jordan reconheceu que está a ser preparada uma conferência de imprensa, em Washington D.C., para os próximos dez dias, onde deverá ser confi rmado o que se tem dito sobre esta possi-bilidade nos últimos meses.

Jordan é um dos proprietá-rios dos Washington Wizards e tem vindo a treinar-se nos últi-mos tempos com mais alguns basquetebolistas num ginásio à porta fechada. Para muitos ob-servadores, isso signifi ca que Michael Jordan, de 38 anos, tem procurado recuperar a forma física e técnica para poder vol-tar a jogar a alto nível na NBA, onde ganhou seis títulos pelos Chicago Bulls, além de fama e proveito. E as recentes declara-ções do talentoso basquetebolis-ta a um pequeno círculo de pes-soas (incluindo alguns

jornalistas que acompanham a modalidade), segundo as quais os seus joelhos estão bem e que está recuperado de uma tendi-nite, foram interpretadas como um sinal de que se encontra, efectivamente, a preparar-se pa-ra regressar. De acordo com o sítio “CNNSI.com”, Jordan fez uma avaliação pessoal numa escala de um a dez, referindo que atribuía um oito à sua con-dição física.

Se voltar à NBA, Jordan terá de vender as acções que possui nos Washington Wizards e será obrigado a jogar por esta equi-pa. Questionado sobre a possibi-lidade de actuar por uma forma-ção habituada a perder, Jordan disse que amadureceu e que agora sabe que “não se ganham só campeonatos”. Pergunta-ram-lhe ainda porque pensa em voltar à competição: “Pelo amor ao jogo, nada mais”, respondeu. Quando entrou no seu carro, Jordan foi ainda mais enigmáti-co para os jornalistas: “Já têm a vossa história”. �

Michael Jordan admite regressoO talentoso basquetebolista tem vindo a treinar-se à porta fechada

O Conselho Superior do Des-porto (CSD) aprovou ontem, por maioria simples, o alarga-mento de 14 para 16 do número de equipas que vão disputar o campeonato de 2001/2002 da Liga dos Clubes de Basquete-bol (LCB). O CSD esteve reu-nido nas instalações do Com-plexo Desportivo da Lapa, em Lisboa, e a discussão sobre o alargamento ocupou os conse-lheiros por mais de cinco ho-ras, acabando a medida por ser aprovada apenas por dois votos de diferença: dez a favor e oito contra.

A LCB e a Federação Por-tuguesa de Basquetebol (FPB) defendiam, à partida, o alar-gamento, e o presidente desta última entidade, Mário Salda-nha, participou na reunião de ontem do CSD, na qualidade de convidado, para ali defender a posição federativa. O parecer fa-vorável do CSD será agora apre-sentado ao ministro da Juven-tude e do Desporto, José Lello, de cuja aprovação fi nal depende

a entrada em vigor da medida agora aprovada.

Caso o ministro da tutela ve-nha a promulgar a decisão do Conselho Superior do Despor-to, o Belenenses e o Gaia — as duas formações despromovi-das na última temporada — se-rão recolocados na Liga Pro-fi ssional, perfazendo assim o total de 16 clubes na competi-ção relativa à época prestes a começar (o início da compe-tição está agendado para o fi -nal deste mês de Setembro). As equipas terão agora de apre-sentar as respectivas candida-turas, as quais deverão cum-prir determinadas premissas para obterem aprovação. Se-gundo Manuel Aurélio, presi-dente da Liga dos Clubes de Basquetebol, “todas as equipas terão de apresentar garantias bancárias”, para além de pas-sarem a estar sujeitos à obriga-toriedade de terem pelo menos três jogadores portugueses ins-critos para a primeira jornada da Liga Profi ssional. �

Liga de Basquetebol com 16 equipasConselho Superior do Desporto aprovou ontem, por maioria, o alargamento

O ciclista alemão Erik Zabel (Telekom) continua a somar vitórias na Volta à Espanha, tendo alcançando ontem, na quinta etapa, o terceiro triunfo consecutivo. A prova é agora comandada pelo co-lombiano Santiago Botero (Kelme). Uma queda de vá-rios ciclistas a cerca de dois quilómetros da chegada frac-cionou o pelotão em vários grupos, com Botero a termi-nar a tirada, que ligou Leon a Gijon (175 quilómetros), com menos cinco segundos do que o anterior líder, o bri-tânico David Millar. À parti-da para esta quinta etapa, Millar “segurava” a camiso-la amarela por apenas um se-gundo, mas a queda colectiva na fase decisiva da tirada re-legou o britânico para o gros-so do pelotão, que terminou a 21 segundos do vencedor.Mais feliz foi Botero, que con-seguiu juntar-se a mais dois ciclistas e distanciar-se o sufi -ciente para se consagrar co-mo novo comandante da cor-rida. “É lamentável vestir a camisola amarela desta for-ma. Preferia alcançar o pri-meiro lugar na quarta-feira [primeiro dia de alta monta-nha], mas, mesmo assim, não deixa de ser um prazer estar na frente da corrida”, confes-sou o colombiano.Para hoje estão agendadas as primeiras grandes difi cul-dades montanhosas, na tira-da que ligará Gijon a Lagos de Covadonga (160,8 quiló-metros), com a meta a coin-

cidir com uma contagem es-pecial de montanha. Apenas 40 quilómetros antes, o pelo-tão terá de superar uma con-tagem de primeira catego-

ria, colocada no Alto del Mirador del Fito.

ConsternaçãoEntretanto, a equipa de ciclis-

mo norte-americana da US Postal, a participar na Vuelta, manifestou-se ontem conster-nada pelos violentos ataques terroristas nos Estados Uni-dos, embora não pense aban-donar a prova. “Ainda não fa-lámos com o patrão da equipa, mas não creio que es-ta atrocidade tenha outras re-percussões na equipa. Quan-do tomei conhecimento do sucedido, em plena corrida, não quis acreditar e evitei di-zer alguma coisa aos ciclis-tas”, afi rmou o director des-portivo da US Postal, o belga Johan Bruyneel. �

Quarta etapa (175 quilómetros)1.º Erik Zabel, Ale. (Telekom), 4:09.46 horas; 2.º Oscar Freire, Esp. (Mapei), mt; 3.º Sven Teutenberg, Ale. (Festina), mt; 4.º David Fer-nandez, Esp. (Relax Fuenlabrada), mt; 5.º Wilfried Cretskens, Bel. (Domo Farm Frites), mt; (...) 30.º Rui Lavarinhas, Por. (Maia), a 21 s.

Geral1. Santiago Botero, Col (Kelme), 11:02.20 horas; 2. David Millar, G-B; 3. Pedro Horrillo, Esp (Ma-pei), a 11; 4. Igor Gonzalez Gal-deano, Esp (ONCE), a 21; 5. Jose Gutierrez, Esp (Kelme), a 29; (...) 60. Melchor Mauri, Esp (Maia), a 1.35 minutos.

CLASSIFICAÇÕES

Botero, novo camisola amarela, lamenta ter benefi ciado de uma queda de vários ciclistas

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CU LT U R APÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SETEMBRO 2001

A D I S T I N Ç Ã O

Prémio “Odisseia nas Imagens” para Oliveira

A antestreia nacional do fi lme-documen-tário “Porto da Minha Infância”, de Manoel de Oliveira, transformou-se anteontem à noite, no Teatro Rivoli, em mais um mo-mento de rara empatia entre o cineasta e a sua cidade. No fi nal da projecção, os es-pectadores que lotavam o teatro municipal portuense dispensaram a Oliveira uma longa ovação — idêntica àquela que o ci-neasta tinha recebido, poucos dias atrás, no Festival de Veneza. E Teresa Lago, em nome da Sociedade Porto 2001, ofereceu ao autor de “Porto da Minha Infância” a escultura-protótipo (da autoria de José Ro-drigues) do prémio que irá distinguir os vencedores do Festival Internacional do Documentário e Novos Media, que vai de-correr entre 19 de Outubro e 17 de Novem-bro. Ao agradecer o gesto — lembrando ser sempre essa “a parte mais difícil” da sua actividade —, Oliveira limitou-se a ex-plicar que o seu trabalho é um fi lme sobre a memória que guarda da cidade “que tanto amamos”. Antes, Jorge Campos, responsá-vel pela pelouro do audiovisual da Capital da Cultura, tinha classifi cado a estreia de “Porto da Minha Infância” como “o mo-mento culminante de toda a programação” do sector. E João Bénard da Costa, numa mensagem enviada para o Rivoli, classifi -cara o novo trabalho de Oliveira como “um fi lme singularíssimo“, que é ao mesmo tempo “a fi cção de um documento e o do-cumento de uma fi cção”.

O N Ú M E R O

5000contos é a verba que a empresa J. Pinto Leitão, fi rma portuense do ramo de ma-deiras e revestimentos, decidiu atribuir

à Sociedade Porto 2001 nos termos de um contrato de apoio mecenático as-

sinado ontem. Este montante destina-se a apoiar o concerto que o Coro Gul-

benkian vai realizar no dia 19 de Ou-tubro no auditório de Serralves, num programa dirigido pelo maestro Fer-nando Eldoro e que integra as peças “Vislumbre” e “Minnesag”, do com-

positor português Emmanuel Nunes.

om um novo maestro ti-tular — o húngaro Zol-tán Pesko, que substitui o espanhol José Ramon

Encinar —, a Orquestra Sinfónica Portuguesa (OSP) inicia hoje a sua nova temporada, trocando o controverso Teatro Camões pela sua casa-mãe: o Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa. Numa temporada que fi cará marcada pela diversidade da programação operática, os concertos sinfónicos foram reduzidos, mas em contra-partida cada programa será ob-jecto de duas apresentações. Nes-te primeiro concerto, que repete amanhã à mesma hora, serão in-terpretadas as “Duas Imagens”, op. 10, de Béla Bartók, “... Quasi una fantasia...”, op. 27, de György Kurtág (n. 1926), com o pianista italiano Andrea Pestalozza como solista, e a Sinfonia nº1, “Titã”, de Mahler. A obra de Kurtág terá nesta ocasião a sua primeira au-dição em Portugal (ver Mil Fo-lhas de 8-9-2001) e contará com a presença do compositor que dará amanhã (18h) um recital de piano com a sua mulher, Márta Kurtág, no Salão Nobre. Este será preen-chido com uma selecção de peças extraídas das colecções “Játékok” (Jogos) e “Transcrições de Ma-chaut a Bach”.

PÚBLICO — Esta tarde teve o primeiro ensaio com a OSP. Qual foi a sua impressão?

ZOLTÁN PESKO — Óptima. Está muito bem preparada, estou muito contente. A peça de Kurtág, uma obra-prima, é difi cílima, mas os músicos já a conheciam. A de Bartók é raramente tocada, mas é uma obra que admiro muito. É nesta época que ele começa a desenvolver a sua própria lin-guagem. Quanto à Sinfonia nº 1, foi escrita em Budapeste quando Mahler era director da Ópera, uma obra madura, que a orques-tra felizmente já conhece e toca muito bem.

É um programa que vem de encontro às suas raízes húnga-ras…

Não é uma questão de ser ou não húngaro. Mahler é pouco hún-garo e Kurtág é muito internacio-nal. Podia até ter sido Boulez ou Donatoni.

Crê que o facto de ser húnga-ro o coloca numa posição pri-vilegiada para interpretar este repertório?

No caso de Kurtág, creio que sim. Sou dos poucos maestros que já dirigiram toda a sua obra. Não foi meu professor, mas sinto-me muito próximo dele. Quanto a Bartók não precisa hoje de um es-pecialista húngaro, é um compo-sitor internacional. As suas obras são interpretadas de forma exce-lente por Abbado, Boulez, Maeze-l… A Primeira Sinfonia de Mah-ler é uma obra que me é muito cara, porque está ligada a um epi-sódio que me marcou muito. Um dos meus grandes protectores, o compositor Luigi Dallapiccola, proporcionou a minha estreia no Scala de Milão. Quando terminei a récita, ele teve de partir para Florença e não consegui falar-lhe. Escrevi-lhe um pequeno cartão a agradecer e a dizer como tinha

“Não há ninguém melhor para a música contemporânea que Boulez”

S U G E S T Ã O D O D I A

FESTIVALRuas em festa no PortoA segunda edição do FRESTAS — Festival de Cultura na Rua arranca esta tarde no Porto, junto da câmara municipal. Até ao próximo domingo, dezenas de artistas vão surpreender os transeuntes com “performances”, habilidades e partidas várias, cruzando as mais desencontradas disciplinas e animando o espaço público da cidade. PORTO Avenida dos Aliados. Entre as 17h e as 20h. Entrada livre.

Bartók, Kurtág e Mahler foram os compositores escolhidos pelo novo maestro titular da Orquestra

Sinfónica Portuguesa, o húngaro Zoltán Pesko, para o seu concerto de estreia à frente desta formação. Um

retrato das suas origens musicais que poderá ser escutado, hoje e amanhã, às 21h00, no Teatro Nacional

de São Carlos. Por Cristina Fernandes

E N T R E V I S TA C O M

Z O LT Á N P E S KO

mudado a minha vida. Ele res-pondeu-me com uma carta de três páginas: “Caro Pesko, não deves agradecer-me, porque quando era jovem mandei as minhas compo-sições ao maior compositor da época, Alfredo Casella, e ele rapi-damente as fez interpretar. Eu agradeci-lhe, mas ele respon-deu: Caro Dallapiccola, não de-ves agradecer-me porque aos 18 anos, quando fi z uma audição pa-ra Gustav Mahler, ele rapidamen-te me contratou como pianista. Agradeci-lhe e ele respondeu: Ca-ro Casella, não deves agradecer-me porque quando escrevi a can-tata “Das Klangende Lied” e a primeira sinfonia escrevi a Bru-ckner e… etc, etc. Podíamos conti-nuar até Pérotin! Se queres agra-decer-me deves sempre continuar a apoiar os jovens”. Foi esta a grande lição. Mais tarde ofereci a carta a um arquivo onde se guarda outra correspondência de Dallapiccola.

Tem trabalhado muito com orquestras ligadas aos teatros de Ópera. Foi uma escolha deli-berada?

Sim. Ser maestro de concerto e maestro de ópera são duas profi s-sões diferentes. Os concertos são muito importantes. Em primeiro lugar, a orquestra sai do fosso e torna-se protagonista. Em segun-do lugar, um programa sinfónico é sempre muito mais importan-te do que o acompanhamento de uma ópera italiana. Não estou a negligenciar esta música, mas pa-ra o nível da orquestra a prática do grande repertório sinfónico é essencial.

Estudou com três grandes maestros: Celibidache, Pierre Boulez e Franco Ferrara. O que é que cada um lhe transmi-tiu?

Foi um contributo muito diver-so. Não há ninguém melhor para a música contemporânea do que Boulez. O mesmo se pode dizer de Ferrara na lírica italiana, ou de Celibidache na ópera francesa ou na música do início do século. Foi muito importante ver como Ce-libidache comunica com as pes-soas, como Boulez se prepara, a disciplina, o artesanato…

Estudou composição com Goffredo Petrassi. Ainda com-põe?

Infelizmente não. São duas ac-tividades inconciliáveis. Mesmo um grande génio como Boulez tem difi culdades em conjugá-las. O último grande compositor que acumulou as duas foi Mahler. Compunha no Verão. Acho que morreu tão jovem devido a essa pressão. São dois comportamen-tos opostos: um voltado para o in-terior e outro para o exterior. Não é possível ser interior das sete às nove da manhã e exterior a partir das dez!

Tem um repertório muito amplo. Mas quais são as suas grandes preferências?

No teatro, naturalmente Mo-zart, Richard Strauss, Wagner, Verdi, Puccini. Na grande litera-tura sinfónica, quase tudo. Afi -nal temos só 250 anos de música. Qualquer encenador teatral tem um repertório de pelo menos 3 mil anos! �

C

Uma carreira em torno da ópera

Nascido em Budapeste no seio de uma família de músicos, Zoltán Pesko adquiriu notoriedade a nível internacional ao substituir três prestigiados maestros — Claudio Abbado, Lorin Maazel e Riccardo Muti — numa série de três produções de ópera diferentes no Scala de Milão, em 1970. Depois de ter es-

tudado composição com Goffredo Petrassi e direcção de orquestra com Sergiu Celibidache, Pierre Boulez e Franco Ferrara, empreendeu uma bem sucedida carreira internacional, que incluiu entre outras funções a de maestro da Deutsche Oper de Berlim

(1966-1973), maestro titular do Teatro Comunale de Bolonha (1973-1976) e do Teatro La Fenice de Veneza (1976-78) e o de director musical da Orquestra da RAI de Milão (1978-83). Nos três últimos anos desempenhou as funções de Director Musical da Deutsche Oper am Rhein (Düsseldorf-Duisburg), na qual mantém o cargo de maestro convidado. A sua extensa disco-grafi a encontra-se registada nas etiquetas CBS, Fonit-Cetra, Hungaroton, Sony, Supraphon e Wergo, destacando-se o Prémio Alemão do Disco que lhe foi atribuído em Janeiro de 2000. �

Perfil

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B r i d g e

PROBLEMA 4194A

HORIZONTAIS: 1 — Curado. Lente. 2 — Acertar. Que dura um ano. 3 — Antiga flauta pastoril. Retalho de pano, papel, etc., mais comprido do que largo. 4 — Cada um dos anéis que faz parte de uma cadeia. Parte aquosa que se separa do leite ou do sangue depois de coagulados (pl.). 5 — Lã cardada. A parte mais larga da enxada (pl.). Duas consoantes. 6 — Rocha (bras.). Aquilo que prejudica ou se opõe ao bem. Face inferior do pão. 7 — Sétima nota da escala musical. Variedade de carbonato de cálcio, usado especialmente para escrever em ardósia ou quadro preto nas aulas, para riscar, etc. Cause ferimento a. 8 — Fizera subir. Anuência. 9 — Instrumento achatado num dos lados, que serve para fazer avançar na água embarcações pequenas. Pesquisam. 10 — Espaço de 12 meses (pl.). Ermidas. 11 — Alargamento de um prazo, para se restituir ou pagar alguma coisa. Que tem muitos ramos. VERTICAIS: 1 — Sociedade Anónima (abrev.). Noticiaram. 2 — Género de formigas a que pertence a saúva. Hidrocarboneto de hidrogénio. 3 — Torna horizontal. Paixão. 4 — Desejo ardente. O conjunto de doze dúzias. 5 — Prejuízo. Geme (gír.). 6 — Além disso. Serenidade de espírito. Coloração da face. 7 — Substância utilizada para condimentar os alimentos. Dá saúde a quem está doente. 8 — Dilatado (pl.). Olham fixamente para. 9 — Formar um só. Polido com lima. 10 — Falar à toa. Certamente. 11 — Estender gradualmente. Sem companhia.

Solução do problema anterior:HORIZONTAIS: 1 — Pausa. Atara. 2 — Aire. Alor. 3 — Atolam. To. 4 — Er. Asir. Cor. 5 — Mor. Ga. Sopa. 6 — Rela. Mala. 7 — Cepo. Ei. Are. 8 — Ola. Arar. Am. 9 — Lá. Amarar. 10 — Aros. Real. 11 — Ralar. Rosca. VERTICAIS: 1 — Parem. Colar. 2 — Ai. Rorela. 3 — Ura. Repa. Al. 4 — Seta. Ló. Ara. 5 — Osga. Amor. 6 — Alia. Eras. 7 — Alar. Miar. 8 — Tom. Sá. Raro. 9 — Ar. Cola. Rés. 10 — Topara. AC. 11 — Agora. Emala.

PROBLEMA 4194B

HORIZONTAIS: 1 — Interjeição designativa de admiração. Borboleta nocturna. 2 — Ventarola. Capaz (fem.). 3 — Antes de Cristo (abrev.). Alimentar. 4 — Forma. O dobro de uma. 5 — Trovejar. Estado atmosférico. 6 — Vogal (pl.). Contracção de “me” com “a”. Alternativa. 7 — Espécie de loto. Outra coisa (ant.). 8 — Preposição que designa posse. Espécie de sapo da região do Amazonas (Bras.). Falso. 9 — Incriminariam. 10 — Doçura (fig.). Manifestação que se faz, sorrindo, e que exprime um sentimento de benevolência, simpatia ou ironia. 11 — Cheiro. Que vive no ar (fem.). VERTICAIS: 1 — Pequena ulceração das mucosas. Mulher nobre. 2 — Oração que os Muçulmanos fazem a Alá, antes de nascer o Sol. Urdir. 3 — Brinquedo constituído de uma bobina ou carretel a que se enrola um cordel e se dá um movimento de rotação. Gemido de agonia (Bras.). 4 — Avantesma (pl.). 5 — Consentir. Carvão incandescente. 6 — Jogo de azar. Sarraceno. 7 — Um certo. Cólera. 8 — Espécie de aranhas que mergulham na água. Nome dado pelos indígenas do Brasil ao padre missionário. 9 — Correcção (fig.). Governador árabe. 10 — Dar a forma de pua. Partícula apassivante. 11 — Pérfido. Pequeno lago.

Depois do problema resolvido encontre o nome de uma obra de Alexandre O’Neill (3 palavras). Solução do problema anterior: HORIZONTAIS: 1 — Quota. Aguar. 2 — Silvar. De. 3 — Em. Amaras. 4 — Mirrar. Dual. 5 — Aia. AMEAÇA. 6 — Uso. Aru. Dom. 7 — Mm. Ti. Imo. 8 — AFRONTA. 9 — Aos. Olhar. 10 — Rara. Astuto. 11 — Amorfa. Amor. VERTICAIS: 1 — QUEM. UM. Pra. 2 — Miasma. AM. 3 — Os. Rio. Faro. 4 — Tiara. Troar. 5 — Alma. Aios. 6 — Varar. Aa. 7 — Aar. MUITOS. 8 — Grade. Malta. 9 — Suado. Hum. 10 — AD. Aço. Fato.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

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PARA QUÊ ADIVINHAR?Ninguém vulnerável

Dador: Norte

PASSO 1 � 1 � PASSO2 � PASSO 4 � PASSOPASSO PASSO

CARTA DE SAÍDADama de Copas

Depois de o parceiro ter falado num naipe duran-te o leilão, se resolver sair a qualquer outro naipe, é bom que tenha fortes ra-zões para o fazer. Se os seus motivos não forem su-ficientemente justificados, pode ter conseguido pro-vocar danos irreparáveis na confiança da parceria.

O “cue-bid” de Norte em Dois Ouros mostrava uma mão limitada com apoio a Espadas. Com um naipe de seis caras de trunfo e valores de corte em dois outros, Sul considerou que a sua mão era suficiente-mente boa para marcar a partida.

Para quem joga naipes ricos de cinco, uma aber-tura em naipe pobre não quer dizer que a voz tenha sido dada com um naipe fraco ou curto. De facto, as Copas que Oeste tinha na mão sugeriam que o par-ceiro deveria ter um forte naipe de Ouros — daí que a posse de duas honras se-cundárias de Copas fosse razão suficiente para sair à Dama de Copas. Se Oeste tivesse saído ao naipe do parceiro, Este teria feito duas vazas em Ouros e saí-do de mão num dos naipes ricos. O carteador teria en-tão que adivinhar a loca-lização do Valete de Paus para conseguir ganhar o jogo. Depois da saída a Da-ma de Copas e com as Es-padas divididas 2-2 no flan-co, o declarante não teve problemas em resolver a situação.

O carteador fez a pri-meira vaza na mão e tirou trunfos em duas voltas. De seguida, bateu Ás de Co-pas, cortou uma Copa fe-chada e saiu de mão com um Ouro. Não tinha im-portância qual dos adver-sários iria fazer a vaza de Ouros. Um dos jogadores em Este-Oeste ficaria em mão, depois de terem ti-rado as duas vazas de Ou-ros e teria que se virar em Paus para as forquilhas do carteador ou ceder um cor-te-e-balda. O resultado da mão estava ditado: Quatro Espadas igual.

����

����

����

����

NORTE

ESTEOESTE

D 5 4A 8 3D 8R 10 9 8 2

6 310 9 6A R V 5 4A V 3

8 7D V 7 5 210 9 6 27 4

A R V 10 9 2R 47 3D 6 5

Norte Este Sul Oeste

SUL

P a l a v r a s c r u z a d a s

4 8 J O G O S PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Anuário das Organizações Não Governamentais

O Terceiro Sector em Portugal

O PÚBLICO, com o apoio do Montepio Geral, vai editar, no últimotrimestre de 2001, um anuário das organizações não governamentais emPortugal.

Trata-se de um trabalho inédito no País, já que apenas parcelarmente eem relação às ONG do ambiente ou do desenvolvimento, havia direc-tórios minimamente actualizados.

Para o trabalho de levantamento dos vários sectores em que as ONGtêm exercido actividade já foram feitos milhares de contactos e rece-bidas centenas de respostas. Mas só uma adesão maciça a este projectopor parte do Terceiro Sector fará do anuário uma obra de referência, noPaís e no estrangeiro.

Se a sua ONG já foi contactada e respondeu ao inquérito, o nosso obri-gado. Se já recebeu o inquérito e ainda não respondeu, recordamos-lheque o poderá fazer até 30 de Setembro. Se é dirigente de uma ONG quenão tenha sido contactada e a quer ver incluída no anuário, poderápedir os elementos de contacto e o inquérito a

Departamento de Projectos Especiais - [email protected] - 210 111 276/277Fax - 210 111 006/007/008

PÚBLICORua Viriato, 171069-315 Lisboa

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T V - R Á D I O M E D I A 4 9PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

FUTEBOL FC Porto-Juventus

Dragões recebem a equipa mais difícil do Grupo E na abertura da Liga dos Cam-peões.

DOCUMENTÁRIO Crónica de Uma Morte Decidida

Nesta emissão de Si-nais do Tempo é apre-sentado o documen-tário “O Direito à

Morte”, um testemunho do jor-nalista Jean-Marie Lorand, que decidiu recorrer à eutanásia. São as últimas três semanas de vida deste homem, que sofria de uma doença incurável, fil-madas por um colega. Desde criança que, devido a uma va-cina contra a tosse convulsa, foi perdendo progressivamente o controlo do seu corpo. Aos 15 anos já não conseguia andar e em Junho de 2000 estava com-pletamente paralisado e decidiu que queria morrer. São os preparativos para a morte, as despedidas dos amigos, a orga-nização do funeral e, até, a notícia da sua morte, redigida pelo próprio. Vêem-se alguns momentos de desespero, mas também a alegria pela libertação que a morte proporciona.

BIOGRAFIA Alberto Giacometti“Biografar-te” é a nova série de do-c u m e n t á -

rios da SIC Notícias onde o destaque prin-cipal é dado a perso-nalidades artísticas das áreas da música, arquitectura, pintura ou escultura. O pro-grama de hoje é so-bre o escultor Alberto Giacometti. Através de um visão geral da obra deste artista, com testemunhos de amigos e colegas, o documentário traça o percurso daquele que ficou conhecido pelas suas esculturas de figuras frágeis, extraordinariamente magras e alongadas, que parecem sim-bolizar a condição solitária do ser humano.

TVHoje RTP1 RTP2 SIC TVI SPORT TV07.30 Infantil/Juvenil09.15 Notícias09.30 Praça da Alegria Como convidados, os actores Ricardo Carriço, André Cerqueira e Vítor Mendes. O espaço musical conta com a actuação da Banda de Alcochete. Apresentação de Manuel Luís Goucha e Sónia Araújo.12.10 Pedra Sobre Pedra13.00 Jornal da Tarde13.55 Emoções Fortes III15.40 Vidas de SalTelenovela realizada por Álvaro Fugulim e Lourenço de Mello 17.40 Privilégio de AmarTelenovela com Adela Moriega e Helena Rojo. 18.05 Meu Pé de Laranja-Lima19.00 Futebol: FC Porto-JuventusVer destaque. 21.35 Telejornal22.30 Direito de Antena22.35 A Senhora das Águas 23.30 Liga dos Campeões00.45 Andrómeda: “Under the Night”Estreia de uma série de ficção científica que gira em torno das aventuras de Dylan Hunt, o comandante da nave espacial, Andromeda Ascendant e do seu esforço em recuperar o System´s Commonwealth, um governo responsável por uma época de paz e prosperidade. Depois de vaguear no horizonte longínquo de um buraco negro, a Andromeda Ascendant é descoberta três séculos mais tarde, por Eureka Maru, uma nave de salvamento tripulada por um bando de mercenários. Dylan acorda e encontra um mundo totalmente diferente e modificado. A civilização está um caos e em ruínas. Determinado a reinstaurar o Commonwealth, Dylan recruta a tripulação da Eureka Maru para a sua causa. 01.45 24 Horas02.05 RTP Economia02.15 Boas Noites: “Mesmer”Um drama biográfico sobre o controverso médico do século XVIII Franz Anton Mesmer (1734-1815), que se tornou célebre pelas suas teorias de cura, a partir do magnetismo animal. Roger Spottiswoode constrói uma bela e romântica evocação de época sobre a acidentada trajectória de um médico que aplicou teorias e métodos revolucionários numa época de prática médica que quando tudo falhava acabava, inevitavelmente, a sangrar os seus infelizes pacientes. GB/Can./Al., 1999. 104 min. Com Alan Rickman e Amanda Ooms.04.25 O Tempo

06.52 Hora Viva09.45 Euronews11.00 Infantil/JuvenilInclui as rubricas Mr. Men Show, Nocamolinho,O Terrível Ralph, Tombik e BB e Hikarian.14.10 Boletim Agrário/O Tempo14.15 Euronews15.00 CiclismoTransmissão de uma etapa da Volta a Espanha 2001.16.30 Informação GestualInclui as rubricas Jornal da Tarde e Acontece.18.00 Fronteira OcidentalReposição de uma série documentalsobre a Europa do passado e do presente, com realização de Mário Mendes. 18.30 A Fé dos Homens19.05 Onda Curta19.50 Espaço Infantil20.20 Sabrina20.45 Documentário: Os Problemas do EstadoItália atravessa, especialmente no Sul, um período de enorme agitação. No plano administrativo local, o colapso das velhas estruturas do poder e as consequências das novas leis permitiram o aparecimento de novas caras políticas. Esta mudança não é apenas relativa às classes dirigentes mas uma concepção inteiramente nova do que é “público”. Este documentário centra-se na pequena cidade de Herculano, a leste de Nápoles, onde uma urbanização descontrolada, o desemprego, a presença de especuladores e a acção da Camorra são alguns dos problemas que se apresentam à nova “mayor”, Luísa Bossa.21.45 O Tempo21.50 RTP/Economia22.00 Acontece22.20 RemateMagazine desportivo.22.30 Jornal 223.25 Começar de Novo00.10 Sinais do Tempo: “Crónica de uma Morte Decidida”Ver destaque.01.10 Telefilme: “Os Caminhos da Paixão”Um nostálgico melodrama sobre um homem que tenta retomar uma relação amorosa com uma mulher. As suas vidas tomam rumos diferentes e muitos anos depois o seu romance continua ameaçado por intrigas, segredos e revelações. Baseado num romance de Edith Wharton, este telefilme conta com uma bela reconstituição de época e uma hábil realização de Robert Allan Ackerman. Destaque para as interpretações de Sela Ward e Timothy Dalton nos principais papeis. Al./EUA, 1997. 90 min.02.45 O Tempo

07.45 Portugal RadicalMagazine sobre os acontecimentos mais importantes nos desportos radicais.08.00 BuereréEspaço infantil que inclui as séries Celestin,Dragon Ball, Jim Button, Teletubbies e Triplets.10.00 SIC 10 HorasPrograma com convidados em estúdio, apresentado por Fátima Lopes12.00 A Presença de AnitaRepetição dos primeiros episódios de uma mini-série brasileira produzida pela Rede Globo. Com Mel Lisboa, José Mayer e Helena Ranaldi.13.00 Primeiro JornalApresentação de Rodrigo Guedes de Carvalho.14.00 Confiança CegaReality show apresentado por Felipa Garnel. Resumo dos principais acontecimentos de ontem.14.15 A Próxima VítimaTelenovela brasileira em reposição.15.15 A ViagemTelenovela brasileira em reposição, com António Fagundes no principal papel.16.30 New WaveTelenovela brasileira de Andréa Maltarolli em reposição.17.10 Um Anjo Caiu do Céu18.10 GanânciaTelenovela portuguesa com Catarina Furtado e Paulo Pires.19.10 A PadroeiraTelenovela brasileira de Walcyr Carrasco e Mario Teixeira, com direcção de Ivan Zettel e Vicente Barcellos.20.00 Jornal da NoiteApresentação de José Alberto Carvalho.21.30 Porto dos MilagresTelenovela brasileira.22.30 Sai de BaixoSérie brasileira de humor, com Miguel Fallabela e Aracy Balabanian. 23.30 Noites MarcianasSegunda edição de um programa que inclui diversos momentos de humor, crítica aos programas de televisão e olhares curiosos sobre os representantes do “jet set” lusitano. Apresentação de Júlia Pinheiro.01.30 Espaço de Informação01.35 O Grande Desastre Americano — Jerry Springer ShowTalk show apresentado por Jerry Springer.03.20 Portugal RadicalSegunda edição.03.50 Vibrações

08.30 Animação InfantilEspaço infantil que inclui as séries Os Traquinas, Rocky e Bullwinkle, Yolanda, As Aventuras da Sereia e Navegantes da Lua.10.00 Big Brother IIITerceira edição.11.00 Big Brother — Talk ShowRepetição do talk-show apresentado em directo por Teresa Guilherme e Pedro Miguel Ramos.13.00 TVI JornalAs notícias com Júlio Magalhães, em directo dos estúdios do Porto.14.00 Big Brother ExtraPrimeira edição. Análise e comentários dos ex-residentes Marco e Zé Maria, ao que de mais interessante se passou durante o dia na casa.14.10 Dona Anja15.00 Chiquititas16.00 BatatoonInclui as séries de animação Exosquad, Yaba, Jay Jay e Rita Catita. Como convidado de hoje, o Trio Marraquês.18.00 Big Brother ExtraSegunda edição. 19.00 Anjo SelvagemTelenovela portuguesa com Paula Neves, Isabel de Castro e Manuel Cavaco. 20.00 Jornal NacionalAs notícias com Pedro Pinto.21.00 Filha do MarTelenovela portuguesa com Dalila Carmo e Marcantonio del Carlo. 22.00 Olhos de Água22.50 Big Brother III23.40 Big Brother — DirectoTransmissão directa.23.50 Causa JustaBobby procura uma forma de ganhar a causa de Wallace, enquanto, por seu lado, Gamble tenta desacreditar os testemunhos que lhe são desfavoráveis.00.50 Última Edição01.30 Diário Económico/Financial Times01.40 Filme: “Viúva Assassina”Thriller policial sobre um mulher ambiciosa que não olha a meios para atingir os seus fins. Quando os seus dois maridos morrem em circunstâncias suspeitas, a polícia começa a desconfiar da atraente Bridgette Michaels, a única pessoa a lucrar com as duas mortes. De Michael Scott. Com Diana Scarwid e Hope Lange. EUA, 1997. 88 min. 03.40 Maggie04.10 A Herança05.10 Colégio Brasil

18.00 Automobilismo: Sport ProtótiposTransmissão de um resumo alargado da prova de Donington, um dos circuitos clássicos do automobilismo britânico, no qual os Sport Protótipos animaram a pista.19.45 FutebolTransmissão de dois jogos de futebol a contar para a Liga dos Campeões. Às 19h45, assista em directo ao jogo Olympiakos-Manchester United. Segue-se, às 21h45, em diferido, um desafio entre as equipas do Barcelona e do Olympique Lyonnais.

SIC NOTÍCIAS15.00 Toda a Verdade: “O Mercado da Fama”As revistas do coração vendem cada vez mais. Em Espanha, uma em cada três pessoas é leitora assídua deste tipo de literatura. É um negócio que move milhões, entre revistas, rádio e televisão. O interesse pela vida dos outros é cada vez maior, e as personalidades, os chamados famosos, temem pela sua privacidade.

NATIONAL GEOGRAPHIC 20.30 O Que Acabou com o MamuteO objectiva da pesquisa do paleontólogo Ross Macphee é a razão por que, há milhares de anos, uma criatura como o mamute foi levado à extinção. Ross Macphee é um dos caçadores de genes que acredita que pode encontrar a solução do desaparecimento dos mamutes através das pesquisas do D.N.A, pois acredita que um vírus pode ter sido o responsável pela destruição destes animais. Como demonstra nas suas teorias, esta descoberta pode vir a fornecer pistas para a saúde do planeta.

GNT

22.00 Marília Gabriela Entrevista: Marcello AntonyNo programa desta semana, Marília Gabriela entevista o actor brasileiro Marcello Antony, conhecido entre nós pela sua participação nas telenovelas “O Rei do Gado”, “Torre de Babel” ou “Terra Nostra”. Depois de falar sobre a sua carreira na televisão, cinema e teatro, Marcello dá alguns pormenores da sua vida pessoal e comenta o companheirismo que existe no seu casamento com a também actriz, Monica Torres.

LEGENDA CÓDIGOS:ANDAL: ANDALUCIA TV / BBC-P: BBC PRIME / BBC-W: BBC WORLD / BLOOM: BLOOMBERG / TOON: CARTOON NETWORK/ CINE1: TELECINE 1 / CINE2: TELECINE 2 / DISC: DISCOVERY / E-NEW: EURONEWS / EU-SP: EUROSPORT / F-TV: FASHION / GALIZ: TV GALIZA / HIST: CANAL DE HISTÓRIA / HOLL: HOLLYWOOD / MUZZ: MUZZIK / N-GEO: NATIONAL GEOGRAPHIC / ODISS: ODISSEIA / P&ART: PEOPLE&ARTS / PARL: PARLAMENTO / SIC-G: SIC GOLD / SIC-N: SIC NOTÍCIAS / SIC-R: SIC RADICAL / SKY-N: SKY NEWS / SOL-M: SOL MÚSICA PORTUGAL / SP-TV: SPORT TV

RTP200H10

RTP119H00

SIC-N21H00

Devido aos recentes acontecimentos nos Estados Unidos, não nos responsabilizamos por alterações na programação.

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5 0 M E D I A T V - R Á D I OPÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Cinema em Casa Antena 1O Prazer de Ler13h55 e 21h05Programa de Isabel da Nóbrega.

Cinco Minutos de Jazz00h15 e 20h50No programa de hoje podemos ouvir o saxofonista Charles Gayle.

À Esquina do Mundo00h50 e 13h30Hoje podemos ouvir o poema “Fado português”, de José Régio.

Antena 2A Partitura de Um Século10h00Programa de Luís Tinoco e Inês Moreira.

A Música e a Dança13h10Neste programa podemos ouvir obras de Glazounov.

O Perfil de Um Autor23h00Pedro Coelho traça o perfil de Aaron Copland.

Antena 3100%21h00Programa de música moderna portuguesa com Henrique Amaro.

RFMCafé da Manhã06h00Programa de Pedro Tojal e Maria João.

TSFJazz Avenue17h30 e 23h30Hoje podemos ouvir Coleman Hawkins, Stan Getz e Roy Eldridge.

FM Lisboa Porto Coimbra Braga Faro

ANTENA 1 95.7 96.7 87.9 88.3 97.6

ANTENA 2 94.6 92.5 89.3 88.0 93.4

ANTENA 3 100.3 100.4 102.2 103.0 100.7

R. CAPITAL 100.8 102.7 103.9 88.9 102.3

R. CIDADE 107.2 107.2 99.7 — 95.5

R. COMERCIAL 97.4 97.7 90.8 99.2 96.1

R. NOSTALGIA 104.3 100.8 — — 106.1

R. NOVA — 98.9 — — —

RDP ÁFRICA 101.5 — — — —

RFM 93.2 104.1 91.7 90.4 104.9

RR Canal 1 103.4 93.7 106.0 103.4 98.6

TSF 89.5 105.3 107.4 106.9 90.9

FREQUÊNCIAS

RÁDIOS

Ana e as Suas Irmãs

Título original: Hannah and Her SistersRealizador: Woody AllenActores: Barbara Hershey, Michael Caine, Mia Farrow, Dianne Wiest, Woody AllenEUA, 1986, 106 min.

TELECINE GALLERY, 19H40

Os Noivos SangrentosTítulo original: BadlandsRealizador Terrence MalickActores: Martin Sheen, Sissy Spacek, Warren Oates, Ramon BieriEUA, 1973, 89 min.

HOLLYWOOD, 17H00

As Cinzas de Ângela

Título original: Angela’s AshesRealizador: Alan ParkerActores: Emily Watson, Robert Carlyle, Joe Breen, Ciaran Owens, Michael Legge EUA, 1999, 145 min.

TELECINE PREMIUM, 13H10

Na sua primeira longa-metragem, Terrence Malick inspi-rou-se num caso verídico que ocorreu nos EUA, nos anos 50, para filmar “Os Noivos Sangrentos”. Kit (Martin Sheen) é um jovem que trabalha na recolha do lixo e namora com Holly (Sissy Spacek), uma adolescente de quinze anos. O comportamento de Kit não é propriamente exemplar e, naturalmente, o pai da rapariga (Warren Oates) opõe-se à relação entre os jovens. Kit remove facilmente esse im-pedimento, matando o pai da rapariga, perante o olhar impávido e sereno desta. Depois, ambos iniciam uma fuga de automóvel por vários estados dos EUA. A história é narrada parcialmente por Holly, de forma desapaixonada. O filme deu um empurrão decisivo à carreira de Sissy Spacek, que viria a protagonizar “Carrie”, de Brian de Palma, três anos depois. O cineasta Terrence Malick, que tem uma escassa filmografia, rodou em 1988 “A Barreira Invisível”, obra muito aclamada pela crítica, que apesar de ter sido nomeada para sete Óscares, em 1999, acabou por não receber nenhum.

“As Cinzas de Ângela” baseia-se no “best-sel-ler” autobiográfico de Frank McCourt, distin-guido com o prémio Pulitzer, em 1997. O filme relata as experiências da família McCourt para resistir à miséria, da perspectiva de Frankie (Joe Breen), um dos filhos. Em 1935, numa épo-ca negra da história irlandesa em que muitos abandonam o país para procurar uma vida melhor na América, os McCourt fazem o per-curso inverso e regressam a Limerick, cidade conhecida pela sua pobreza. Foi Ângela (Emi-ly Watson) quem tomou essa decisão, após a morte da filha, surpreendendo toda a famí-lia. Apesar da ajuda relutante da avó (Ronnie Masterson), as coisas não correm melhor na sua terra natal. A comunidade católica tem um grande preconceito em relação a Malachy (Robert Carlyle), pai de Frankie, um protes-tante natural de Belfast, o que dificulta a sua procura de trabalho e agrava o seu problema de alcoolismo. A situação piora ainda mais quando Malachy decide desaparecer. O filme foi nomeado em 2000 para o Óscar de melhor banda sonora original.

Os amores e as des-venturas de três irmãs durante o feriado de Acção de Graças. Han-nah (Mia Farrow) é o protótipo da mulher perfeita e é à sua volta que gravitam os ou-tros personagens de “Ana e as Suas Irmãs”. Casada em segundas núp-cias com Elliot (Michael Caine), Hannah reúne toda a família para a refeição do feriado de Acção de Graças, incluindo as suas irmãs Holly (Dianne Wiest) e Lee (Barbara Hershey) e o seu neurótico ex-marido, Mickey (Woody Allen). A festa vai

desmistificar o ca-rácter de Hannah, revelando também os dramas familia-res, que passam pe-lo ciúme, a fidelida-de, a hipocondria ou a falta de amor. Um filme diverti-do e brilhante, cujo argumento tem a chancela de quali-dade de Woody Al-len. O realizador/

actor/argumentista ganhou, aliás, em 1987 o Óscar para melhor argumento original. Michael Caine e Dianne Wiest foram também premiados, nas categorias de melhor actor secundário e melhor actriz secundária.

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POR BILL WATTERSON Tradução de Helena Gubernatis

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ISSN : 0872-1548

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JEAN-MICHEL STOULLIG

Os serviços de segurança da su-perpotência americana foram apanhados de surpresa, ontem, pelos atentados de uma dimen-são e coordenação nunca vistas, segundo os peritos, que apon-tam o dedo, até agora sem pro-vas, a Osama Bin Laden.

Estes especialistas, inqui-ridos pela AFP, notam que as diferentes agências de infor-mação civis e militares foram surpreendidas, nomeadamen-te porque não se consegui-ram infiltrar em alguns gru-pos terroristas.

É verdade que, segundo os peritos, estes serviços conse-guiram evitar atentados an-tes da passagem do ano 2000 e prenderam suspeitos que che-garam aos Estados Unidos com explosivos.

Mas ontem “houve uma fa-lha nas nossas informações”, aparentemente não houve avi-sos, afirma Ann Nelson da American University, interro-gando-se sobre como é que os terroristas conseguiram pe-netrar nos aviões que explo-diram contra o World Trade Center, em Nova Iorque, e o Pentágono, em Washington.

Novo Pearl Harbour para serviços secretos americanos

“É muito difícil infiltrar gru-pos terroristas originários da mesma localidade”, explica esta especialista em serviços secre-tos. Segundo Ann Nelson, os “meios humanos” da CIA e do FBI devem ser aumentados.

Dan Goure, do centro de pes-quisas conservador de Lexing-ton admite também que, “mes-mo nos Estados Unidos, é muito difícil a infiltração em grupos mafiosos” que falam o mesmo dialecto, e que se conhecem bem. Mas este perito militar considera que os serviços de es-pionagem tecnológica, como a NSA (Agência de Segurança Na-cional) que escuta as comunica-ções electrónicas no mundo, ou o NRO (Gabinete Nacional de Reconhecimento), responsável pelos satélites-espiões, não esti-veram à altura da tarefa.

Ao contrário do que diz Ann Nelson, Goure afirma que o que é necessário é “reforçar a tecnologia”: os terroristas tiveram necessariamente que comunicar para preparar os seus ataques e estas comuni-cações deveriam ter sido in-terceptadas. Na opinião deste perito, é preciso acabar com a divisão nefasta do contra-terrorismo entre agências ri-

vais, como a CIA, o FBI, a NSA ou os serviços militares.

Quem são os suspeitos?Quem é que conseguiu reali-zar com tanta eficácia estes ataques mortíferos no coração da superpotência? Horas de-pois da catástrofe, os especia-listas mantêm-se prudentes. O senador Orrin Hatch, que aca-bara de receber informações do FBI, disse na televisão que era “possível ver a assinatura de Osama Bin Laden”.

“É o suspeito número um”, confirmou na CNN o especia-lista em serviços secretos Pe-ter Bergen, recordando que o milionário de origem saudita foi sem dúvida capaz de reali-zar ataques simultâneos contra as embaixadas no Quénia e na Tanzânia em 1998.

Para além dos Estados “rene-gados”, como o Iraque, apenas alguns grupos, como o de Bin Laden ou a Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP), teriam os meios para

COMUNICAÇÕES SUSPEITAS NÃO FORAM INTERCEPTADAS

Especialistas em defesa dizem que é preciso acabar com as rivalidades entre a CIA, o FBI

ou a NSA, e uma historiadora lembra que os EUA negligenciaram tensões no Médio Oriente

lançar ataques tão vastos e pre-cisos, diz ainda Dan Goure.

“O dia 11 de Setembro de 2001 ficará para a história do mundo civilizado tão memo-rável como o ataque de sur-presa de 7 de Dezembro” de 1941 pelos japoneses em Pe-arl Harbour, considera Gou-re. Ann Nelson rejeita a ana-logia com Pearl Harbour, que representava uma entra-da em guerra, e recorda que, antes de atacarem, os pilotos japoneses estabeleciam um

silêncio rádio total. Segundo a historiadora, os

dirigentes dos EUA não presta-ram a atenção suficiente ao res-to do mundo nos últimos anos, negligenciando, nomeadamen-te, as tensões no Médio Oriente depois da guerra do Golfo.

Mergulhados na crença de que o seu santuário nacional era seguro, “os americanos vão entrar em pânico” face a um “terrível elemento de incerte-za”, diz Nelson. � Jornalista da

AFP, em Washington

A protecção civil mobilizou-se para apoiar os feridos dos atentados que apanharam os serviços secretos desprevenidos

SHANNON STAPLETON