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1 FICHA INFORMATIVA DE PORTUGUÊS CATEGORIAS DA NARRATIVA A narrativa é o relato de acontecimentos que remetem para o conhecimento do Homem e das suas realizações no mundo; é uma forma de literatura que compreende o romance, a novela, o conto e a epopeia (narrativa em verso). 1. ACÇÃO : qualquer acontecimento que se desenrola num determinado espaço e num tempo mais ou menos extenso. Intriga, enredo e diegese são, muitas vezes, termos usados sinónimos de acção; contudo, não são a mesma coisa, ainda que designem realidades afins: intriga aplica-se aos vários incidentes que constituem a acção; enredo designa o entretecimento das partes do discurso e dos incidentes e diegese exprime a sequência linear dos acontecimentos funcionais ligados a diferentes actantes. Relevo: Acção principal/ central: conjunto de sequências narrativas que ocupam a maior parte do universo narrado e consequentemente detêm a maior importância. Acção secundária: conjunto de acontecimentos de menor relevo e cujo interesse é definido em relação à acção principal; permite identificar situações ou valores e compreender contextos sociais, culturais, ideológicos, geográficos e outros. Delimitação: Acção fechada: quando o narrador nos conta absolutamente tudo sobre os acontecimentos e as personagens; a acção e a sorte das personagens são resolvidas até ao pormenor. Acção aberta: quando o narrador se limita a contar parte dos acontecimentos, deixando-nos a possibilidade de imaginar o resto, ou seja, a acção não apresenta a solução definitiva para o destino das personagens. Estrutura: uma acção é constituída por um número variável de sequências (núcleos de acontecimentos que, conjugados, formam a acção), que se podem articular por:

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FICHA INFORMATIVA DE PORTUGUÊS

CATEGORIAS DA NARRATIVA

A narrativa é o relato de acontecimentos que remetem para o conhecimento do Homem

e das suas realizações no mundo; é uma forma de literatura que compreende o romance, a

novela, o conto e a epopeia (narrativa em verso).

1. ACÇÃO: qualquer acontecimento que se desenrola num determinado espaço e num

tempo mais ou menos extenso. Intriga, enredo e diegese são, muitas vezes, termos usados

sinónimos de acção; contudo, não são a mesma coisa, ainda que designem realidades

afins: intriga aplica-se aos vários incidentes que constituem a acção; enredo designa o

entretecimento das partes do discurso e dos incidentes e diegese exprime a sequência

linear dos acontecimentos funcionais ligados a diferentes actantes.

Relevo:

• Acção principal/ central: conjunto de sequências narrativas que ocupam a

maior parte do universo narrado e consequentemente detêm a maior

importância.

• Acção secundária: conjunto de acontecimentos de menor relevo e cujo

interesse é definido em relação à acção principal; permite identificar situações

ou valores e compreender contextos sociais, culturais, ideológicos, geográficos

e outros.

Delimitação:

• Acção fechada: quando o narrador nos conta absolutamente tudo sobre os

acontecimentos e as personagens; a acção e a sorte das personagens são

resolvidas até ao pormenor.

• Acção aberta: quando o narrador se limita a contar parte dos acontecimentos,

deixando-nos a possibilidade de imaginar o resto, ou seja, a acção não

apresenta a solução definitiva para o destino das personagens.

Estrutura: uma acção é constituída por um número variável de sequências (núcleos

de acontecimentos que, conjugados, formam a acção), que se podem articular por:

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• encadeamento (os acontecimentos sucedem-se como elos de uma cadeia):

Introdução Desenvolvimento Conclusão

• encaixe (uma sequência é encaixada dentro de outra):

• alternância (iniciada uma sequência, ela é interrompida para ceder lugar a outra que, por sua vez, fica em suspenso para se recomeçar a primeira e assim sucessivamente):

Construção:

• Acção linear: se os acontecimentos relatados o são de acordo com a sua

cronologia.

• Acção quebrada: se a cronologia dos acontecimentos não é respeitada, ou

seja, se apresenta desvios temporais que podem ser analepses (recuos no

tempo) ou prolepses (antecipações de acontecimentos que hão-de suceder

mais tarde).

2. PERSONAGENS: seres de ficção que protagonizam a acção.

Relevo: as personagens têm papéis diferentes na economia da narrativa:

• Protagonista: tem o papel central, ou seja, é o herói.

• Personagem secundária: o seu papel é de menor relevo na economia da

narrativa.

• Figurante: tem um papel irrelevante para o desenrolar da acção, mas é

importante para ilustrar uma atmosfera, uma profissão, uma ideologia,...

Organização por enca-deamento

Sequência inicial S1 S2 Sequência final

Organização por

encaixe

Narrativa principal

Narrativas encaixadas

Organização por

alternância

.......

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Composição:

• Personagens planas: personagens que se mantêm estáticas ao longo da

acção, ou seja, que não evoluem nem têm vida interior.

• Personagens modeladas / redondas: são dinâmicas e dotadas de densidade

psicológica que as faz evoluir ao longo da acção.

• Personagens-tipo: personagens que representam um grupo ou uma classe

social ou profissional.

• Personagens colectivas: são as que representam um grupo, evidenciando a

desqualificação do indivíduo.

Apresentação / Caracterização:

• Caracterização directa: consiste na descrição das características da

personagem feita quer pela própria personagem (autocaracterização), quer

pelo narrador ou por outra personagem (heterocaracterização).

• Caracterização indirecta: é aquela que resulta dos actos, dos discursos e

das reacções da personagem face aos estímulos que lhe são oferecidos por

outras personagens.

3. NARRADOR: entidade fictícia a quem cabe o papel de enunciar o discurso, organizar o

modo de narrar e decidir sobre o ponto de vista a adoptar.

Quanto à presença no universo narrado, o narrador pode ser:

• Autodiegético: narrador coincidente com o protagonista ou o herói.

• Homodiegético: o narrador participa na história narrada, mas não como

protagonista. Este narrador também pode ser testemunha imparcial do que

narra.

• Heterodiegético: o narrador não participa como personagem na história

narrada.

Focalização: posição ou perspectiva que o narrador assume em relação ao universo

narrado.

• Focalização omnisciente: o narrador tem um conhecimento ilimitado de todo

o objecto da narração e das personagens. Pode omitir passos, avançar,

recuar, manipular o tempo, penetrar no interior das personagens, etc..

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• Focalização interna: abdicando do seu estatuto privilegiado, o narrador

adopta a perspectiva de uma ou mais personagens. Daqui resulta uma

diminuição de conhecimento, pois o narrador apenas sabe o que está ao

alcance da visão e da consciência dessa personagem.

• Focalização externa: o conhecimento do narrador limita-se ao que é

materialmente observável; sabe menos do que a personagem, porque só sabe

o que observa do exterior.

4. NARRATÁRIO: entidade fictícia correlata da figura do narrador, ou seja, é o

destinatário do discurso e da mensagem do narrador. Quando o narrador, entidade fictícia,

enuncia o discurso, ele fá-lo directamente para um narratário, um ouvinte fictício, que não se

pode confundir com o leitor. De facto, pode dizer-se que o narratário está para o narrador

como o leitor está para o autor.

5. ESPAÇO: corresponde, de certo modo, ao cenário da acção; designa também um

ambiente, um meio social, cultural ou civilizacional.

1. Físico: constituído por todos os elementos que servem de cenário

ao desenrolar da acção e à

movimentação das personagens.

Geográfico

Exteriores

Interiores

2. Social e cultural: meio social em que se movimentam as

personagens; define as classes e grupos sociais com os seus

interesses, as suas ideologias e crenças, os seus valores e a sua

posição na sociedade. O espaço cultural integra-se no social, embora

remeta mais para valores culturais, tradições/costumes e formação

cultural.

3. Psicológico: é a zona interior das personagens, ou seja, toda a gama de notações que nos deixam ver a alma dos intervenientes na

acção (monólogos interiores, sonhos, ...)

ESPAÇO

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6. TEMPO: marca a sucessão cronológica, indica a duração ou, juntamente com o espaço,

contextualiza histórica, cultural e socialmente os eventos. Mas a ordenação dos

acontecimentos pode suceder em transgressão à ordem cronológica. Daí distinguir-se entre

a ordem real e ordem textual. Muitas narrativas apresentam um desencontro entre a ordem

temporal dos acontecimentos e a ordem por que são narrados (anacronias).

MODOS DE REPRESENTAÇÃO E EXPRESSÃO LITERÁRIA

1. DESCRIÇÃO: representação de algo, mostrando aspectos que podem caracterizar,

identificar ou esclarecer acontecimentos, paisagens, lugares, coisas ou seres. A descrição,

ao contrário da narração, é mais estática e pode ser de objectos sem acção ou de objectos

com acção, imprimindo-lhes cor, movimento, forma, som ou vida, através de recursos

estéticos, de conotações e de impressões subjectivas.

Pode assumir a forma de:

- retrato: descrição oral ou escrita de uma pessoa ou coisa.

1. Tempo da história, da diegese ou cronológico: períodos temporais

em que decorrem os acontecimentos (ano, mês, dia,...); tempo decorrido

entre o início e o fim da acção.

2. Tempo histórico: época ou momento histórico em que se processam

os acontecimentos (por exemplo, tempo medieval, tempo do

Renascimento, tempo do Antigo Regime....).

3. Tempo do discurso ou da narrativa: resultado da

elaboração do tempo

cronológico levada a cabo pelo

narrador, este aparece alargado

ou encurtado, alterado na sua

ordenação lógica ou submetido

a cortes mais radicais.

Anisocronia: quando, através de

elipses, pausas, sumários,

analepses, prolepses, o narrador

prolonga o tempo do discurso em

relação ao cronológico.

Isocronia: quando a velocidade do tempo do discurso e igual ou

semelhante ao cronológico.

4. Tempo psicológico: é o tempo filtrado pelas vivências subjectivas das

personagens. Está directamente relacionado com a problemática

existencial da personagem, revelando a sua mudança, o seu desgaste, as

suas contradições e a sua erosão, tudo isto provocado pela passagem do

tempo.

TEMPO

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- exposição: surge quando a descrição procura dar a conhecer o assunto, que se

propõe desenvolver ou apresentar de forma pormenorizada, o tempo, o espaço ou as

circunstâncias de um acontecimento.

2. NARRAÇÃO: representação literária que confere dinamismo à acção, relatando

enredos e alterações que, continuamente, acontecem. Também se apelida de narração a

organização e a apresentação verbal dos elementos na narrativa: o narrador que conta, o

narratário a quem se conta, a ordem cronológica, o espaço ou os objectivos a que obedece.

A narrativa exige sempre a narração, mas não pode prescindir de outras formas de

expressão, nomeadamente a descrição e o diálogo, que favorece a acção desenvolvida

pela narração. Entre os modos de expressão, encontra-se:

a) Diálogo: conversa entre dois ou mais interlocutores que pressupõe uma

comunicação em que cada interveniente procura informar-se ou debater ideias, gostos,

interesses ou opiniões.

b) Monólogo ou solilóquio: discurso de uma personagem que fala sozinha consigo

própria.

c) Efusão lírica: forma de monólogo, embora possa surgir ligada ao comentário;

através dela, a personagem, ou o narrador, expande os seus sentimentos pessoais,

recorrendo a frases inspiradas ou cheias de entusiasmo.

3. COMENTÁRIO: interpretação e explicação que se dá às frases, actos ou

acontecimentos. Permite dar conta, de forma reflectida, de um determinado acontecimento

ou facto e tomar posição sobre esse assunto. O conteúdo do comentário orienta-se para a

transmissão do que aconteceu, da forma como aconteceu e do modo como essa informação

foi apresentada. Exige o conhecimento do assunto pela análise e interpretação, bem como

a formulação de um juízo crítico.

a) Análise: ajuda a aprofundar o conhecimento da mensagem depois do contacto

inicial. Para a realizarmos, é importante situar o texto na obra e no contexto, em que é

produzido; dividir o texto em partes; …

b) Interpretação: permite a explicação e a clarificação do texto, dando conta das

ideias, do seu encadeamento e das significações. Ao fazer a interpretação, é importante

aclarar o assunto e as ideias principais; elucidar as passagens menos compreensíveis e as

diversas significações presentes; mostrar como se organiza e desenvolve o enunciado…

c) Juízo crítico: permite que se tome partido perante o conteúdo do texto e da

mensagem ou ideias transmitidas. Tem de haver uma certa sensibilidade e conhecimentos

sem perder de vista elementos de análise e interpretação.

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NARRATIVA EM PROSA

GÉNEROS

1. CONTO: narrativa curta e de enredo simples, de grande concentração espácio-

- temporal.

Unidade dramática – contém um só conflito;

Unidade de espaço – o lugar geográfico é restrito;

Unidade de tempo – os acontecimentos decorrem num curto período;

Número reduzido de personagens;

Diálogo (dominante);

Descrição (tende a anular-se);

Narração (tende a anular-se);

Dissertação (praticamente ausente).

2. NOVELA: narrativa menos longa do que o romance, contemplando geralmente aventuras

interessantes ou recreativas, de natureza pouco complicada. O tempo desenrola-se de forma linear.

Pluralidade e sucessividade dramática;

Liberdade de tempo e de espaço;

Número limitado de personagens;

Diálogo (importante);

Descrição (presente);

Narração (importante);

Dissertação (praticamente ausente).

3. ROMANCE: narrativa em prosa, de grande amplitude espacial e temporal. Estruturalmente,

caracteriza-se pela pluralidade de acção, ou seja, pela coexistência de várias células dramáticas, conflitos ou dramas.

Pluralidade e simultaneidade dramática (vários conflitos ao

mesmo tempo);

Liberdade total de tempo e de espaço;

Número ilimitado de personagens;

Diálogo

Descrição presentes e, às vezes, misturados;

Narração

Dissertação (pode estar presente).