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RECICLE INFORMAÇÃO: Passe este jornal para outro leitor ou indique o site Ano VIII - Edição 102 - Maio 2016 Distribuição Gratuita Recomendados EDITORIAL EXPECTATIVAS PARA NOVOS RUMOS E o Brasil acordou estremecido diante das injustiças inaceitáveis que atraves- sam nossas vidas com posturas sem éti- ca pelos que vem comprometendo nosso futuro. A Natureza e a Música Muitos de nós já não nos percebemos parte da Natureza. Talvez por termos construído fortalezas nas quais fazemos quase questão de mantê-la afastada. Página 4 PORQUE NEM SEMPRE UM CANDI- DATO BEM VOTADO ASSUME? Os cálculos realizados na eleição proporcio- nal, sistema pelo qual são eleitos os repre- sentantes da Câmara Federal, das Assem- bleias Legislativas e também das Câmaras Municipais, consistem em uma das princi- pais dúvidas dos eleitores. Página 5 Aprendendo a nos conhecer A vida une as pessoas por algum moti- vo. E só por isso os encontros já valem a pena, pelo menos a maioria. Não impor- ta se foi um mês ou dois meses ou 10 anos. Página 11 E muito mais... Confira! - Boa música Brasileira - Cultura - Educação - Cidadania - Sustentabilidade Social Agora também no seu www.culturaonlinebrasil.net Baixe o aplicativo IOS www.culturaonlinebrasil.net /// CULTURAonline BRASIL /// www.culturaonlinebr.org Organizações populares e dos trabalhadores prometem não ser o dia do traba- lho um dia de festa e sim um dia para se iniciar a luta contra o Estado de Exce- ção, pelo respeito à Democracia e na defesa dos direitos trabalhistas e da democracia. Segundo os organizadores deve-se respeitar o voto e a democracia e, se não teve crime não tem impeachment! Vale do Paraíba Paulista - Litoral Norte Paulista - Região Serrana da Mantiqueira - Região Bragantina - Região Alto do Tietê Imagem:Mídia NINJA

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Ano VIII - Edição 102 - Maio 2016 Distribuição Gratuita

Recomendados

EDITORIAL EXPECTATIVAS PARA NOVOS RUMOS

E o Brasil acordou estremecido diante das injustiças inaceitáveis que atraves-sam nossas vidas com posturas sem éti-ca pelos que vem comprometendo nosso futuro.

A Natureza e a Música Muitos de nós já não nos percebemos parte da Natureza. Talvez por termos construído fortalezas nas quais fazemos quase questão de mantê-la afastada.

Página 4

PORQUE NEM SEMPRE UM CANDI-DATO BEM VOTADO ASSUME? Os cálculos realizados na eleição proporcio-nal, sistema pelo qual são eleitos os repre-sentantes da Câmara Federal, das Assem-bleias Legislativas e também das Câmaras Municipais, consistem em uma das princi-pais dúvidas dos eleitores.

Página 5

Aprendendo a nos conhecer A vida une as pessoas por algum moti-vo. E só por isso os encontros já valem a pena, pelo menos a maioria. Não impor-ta se foi um mês ou dois meses ou 10 anos.

Página 11

E muito mais... Confira!

- Boa música Brasileira - Cultura - Educação - Cidadania - Sustentabilidade Social

Agora também no seu

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Organizações populares e dos trabalhadores prometem não ser o dia do traba-lho um dia de festa e sim um dia para se iniciar a luta contra o Estado de Exce-

ção, pelo respeito à Democracia e na defesa dos direitos trabalhistas e da democracia.

Segundo os organizadores deve-se respeitar o voto e a democracia e, se não teve

crime não tem impeachment!

Vale do Paraíba Paulista - Litoral Norte Paulista - Região Serrana da Mantiqueira - Região Bragantina - Região Alto do Tietê

Imagem:Mídia NINJA

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Maio 2016 Gazeta Valeparaibana Página 2

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Gabriel Garcia Marques

Sinto que a conheço menos quanto mais a conheço. (Do

amor e outros demônios).

****************** A pior forma de sentir sauda-des de alguém é estar senta-do ao seu lado e saber que

nunca poderá ser seu.

******************* O primeiro sintoma da velhice

é que começamos a nos parecer com nossos pais.

******************* A vida não é mais que uma sucessão de oportunidades

para sobreviver.

******************* O amor se faz maior e mais

nobre na desgraça.

Editorial

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EXPECTATIVAS PARA NOVOS RUMOS

E o Brasil acordou estremecido diante das injustiças inaceitáveis que atravessam nossas vidas com posturas sem ética pelos que vem comprometendo nosso futuro.

O povo ergueu-se num brado retumbante e foram às ruas colocando-se frente à Nação demons-trando que não estavam alienados, mas, insatisfeitos, “de ambos os lados”, com a falta de ética dos gestores políticos que nos colocaram nesse paredão emplacados pela discordância e dividi-dos entre si, enquanto quem nos rege, politicamente, sempre estão “juntos e misturados” e de acordo com seus interesses e corporativismo.

Unidos, donas de casa, aposentados, crianças e intelectuais, todos atraídos pela energia que flu-ía com toda força por todo território brasileiro num incentivo ao “basta de corrupção e descaso”, foram para as ruas.

No entanto, invadidos pela indução do mau caráter da “mídia” e divididos como que em facções, os “contra o golpe” e os “contra a Dilma”, se atacavam e a democracia,covardemente aplacada por jargões ofensivos,provocou um “divisor de água” coibindo os cidadãos de se unirem nessa luta contra a sujeira acumulada embaixo de nossa bandeira e ir contra o cinismo dos políticos, como se a essa altura, fosse possível separar o joio do trigo.

Mediante esse quadro que se assolou em 2016 pelo impeachment, pergunto: será que ainda há expectativas favoráveis para as próximas eleições?

Os políticos corruptos seguem tranquilamente a mesma trilha favorecidos pela impunidade e os que ainda não corruptos são apenas candidatos aventureiros que só continuarão aplacando nos-sos sonhos.

Devemos desistir?

Não, temos que resgatar a verdadeira voz da nação para seguir munidos de verdadeiros anseios democráticos sem perder as expectativas e buscar novos rumos,combatendo até aniquilar, todos aqueles que intencionalmente nos barram e nos impedem de crescer.

Avante a retomar o que é nosso e que a justiça avante a favor da pátria contra a corrupção “seja de que lado for” e prove ao cidadão brasileiro que ela tarda, mas não falha.

Genha Auga – Jornalista – MTB: 15320

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Maio 2016 Gazeta Valeparaibana Página 3

Desigualdades REDAÇÃO DE ESTUDANTE CARIOCA QUE VENCEU CONCURSO DA UNESCO COM

50.000 PARTICIPANTES

Tema: ” Como vencer a pobreza e a desigualdade” Autora: Clarice Zeitel Vianna Silva UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - RJ “PÁTRIA MADRASTA VIL" Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência... Exagero de escassez... Contraditórios? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL. Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de ine-xistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade. O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematiza-da - de contradições. Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil, está mais para madrasta vil. A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira.' Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela forma-ção básica. E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter edu-cação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição! É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem! A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão. Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa partici-pação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a es-trutura. As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fa-zer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso? Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigual-dade no Brasil. Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona? Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posiciona-mento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos. Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho?

Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel Vianna Silva, 26 , estudante que termina Faculdade de Direito da U-

FRJ em julho, concorreu com outros 50 mil estudantes universitários. Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um

prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma redação so-

bre 'Como vencer a pobreza e a desigualdade.' A redação de Clarice intitulada 'Pátria Madrasta Vil',foi incluída num

livro, com outros cem textos selecionados no concurso.

A publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da UNESCO.

Calendário

Principais datas comemorativas

01-Dia do Trabalho 01-Dia da Literatura Brasileira 03-Dia Mundial da Liberdade de Imprensa 03-Dia do Parlamento 03-Dia Internacional do Sol 03-Dia Mundial do Solo 03-Dia do Sertanejo 05-Dia da Língua Portuguesa e da Cultura 05-Dia Nacional do Líder Comunitário 05-Dia Nacional das Comunicações 05-Dia do Marechal Rondon 08-Dia das Mães 10-Dia do Campo 13-Abolição da Escravatura 13-Dia da Fraternidade 15-Dia Internacional da Família 18-Dia Internacional dos Museus 20-Dia do Pedagogo 22-Dia Internacional da Biodiversidade 22-Dia do Abraço 25-Dia Nacional da Adoção 25-Dia Internacional das Crianças Desaparecidas 25-Dia Nacional do Respeito ao Contribuinte 26-Dia Nacional de Combate ao Glaucoma 27-Dia Nacional da Mata Atlântica 27-Dia do Serviço de Saúde 27-Dia Mundial dos Meios de Comunicação

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Maio 2016 Gazeta Valeparaibana Página 4

Fala maestro

A Natureza e a Música, parte I Muitos de nós já não nos percebemos parte da Natureza. Talvez por termos construído fortalezas nas quais fazemos quase questão de mantê-la afastada. Não permitimos a en-trada da luz do sol em nossa casa, fazemos que o ar que entre em nossos ambientes seja recondicionado, subvertemos o dia e a noite com a luz elétrica, substituímos os sons da Natureza por sons artificiais. Uma rejeição completa à nossa Mãe, da qual muitas vezes esquecemos que fazemos parte. Isso não foi sempre assim. Há algum tempo, e não faz muito tempo não, nossa vida era regida pelos grandes e pequenos ciclos do nosso ambiente. Antes da luz elétrica as pes-soas aproveitavam o dia e descansavam à noite, o ciclo anual das estações ditava a ma-neira de vida das pessoas. As grandes forças da Natureza, o vento, a chuva, o sol, a neve, o mar, os animais sempre foram respeitados e venerados pelos homens. Não é surpresa, portanto, que grandes com-positores se rendiam à sua beleza e essa for-ça os levava a criar obras primas inspiradas por ela! Nesses próximos artigos tratarei de algumas delas. Vamos falar por exemplo das quatro estações do ano: Primavera, Verão, Outono, Inverno. Para nós que vivemos em um país tropical elas não são tão diferentes como para quem vive na região subtropical ou temperada. É o caso da Europa ou de nossos hermanos sul americanos que vivem abaixo do Trópico de Capricórnio, como Chile, Paraguai ou Argenti-na. Para esses povos as quatro estações são (ou eram, antes do aquecimento global) bem definidas. O Verão, símbolo de luz, calor, des-canso, o Outono, época de colheita, de limpe-za, de estocagem, de beleza dourada, o In-verno, frio, tons de cinza e branco, escassez, recolhimento, solidão e a Primavera, renasci-mento, a volta das cores, do sol e da vida. Muitos compositores se inspiraram nesses sentimentos particulares de cada estação pa-ra compor, mas vou destacar dois deles: An-

tonio Vivaldi e Astor Piazzolla. De épocas e regiões bem diferentes. Vivaldi, italiano de Veneza, nascido em 1678 e morto em 1741, e Piazzolla, argentino de Mar del Plata viveu entre 1921 e 1992. Vivaldi era violinista, maestro e padre, e por motivos de saúde originalmente passou a dar aulas em orfanato de meninas. Era um pro-fessor dedicado e compôs inúmeras obras para suas pupilas. A maioria delas escrita pa-ra cordas. Uma de suas séries mais famosas foi chamada de Il cimento dell’armonia e dell’invenzione (A luta entre a harmonia e a invenção). Um conjunto de 12 concertos para violino e cordas dos quais os primeiros quatro ganharam fama por sua criatividade. São su-as famosas Quatro Estações. Vivaldi se baseou em quatro sonetos de auto-ria desconhecida, mas que muitos autores de-fendem ser de sua própria autoria. O incrível é ouvir a música acompanhando os sonetos e perceber a capacidade do “Padre Vermelho” de descrever a natureza com sua música. Vi-valdi era ruivo e padre, por isso o apelido de “Il prete rosso” (O padre vermelho).

Há inúmeras versões desses concertos na internet. Só procurar Vivaldi - The Four Sea-sons (as quatro estações). Cada um dos con-certos tem três partes (que chamamos movi-mentos). Não tenho espaço para publicar os 4 sonetos mas faço um resumo para que nos-sos leitores possam se divertir ouvindo a mú-sica. Primavera: 1ª parte: Ouçam os pássaros, ria-chos, relâmpagos e canções festivas 2ª parte: O pastor cuida de suas cabras que dormem no campo ao lado de seu cão. (Dá para ouvir “au, au” que se repete durante o movimento) 3ª parte: Dança de ninfas e pastores ao som da gaita de fole. Verão: 1ª parte: Calor e preguiça. Ouvimos o “cuco" e as canções dos pássaros mas de repente a tempestade e os ventos estreme-cem tudo! 2ª parte: Medo dos trovões estragam o des-canso de todos. Moscas voam furiosamente

3ª parte: A plantação foi arruinada pela chuva Outono: 1ª parte: Festa da colheita, alguns se entusiasmam e acabam dormindo de t a n t o beber vinho… 2ª parte: Esquecemos nossas preocupações com cantos e danças. O prazer está no ar. 3ª parte: Época de caça. Trompas, espingar-das e cães. A caça é um sucesso. Inverno: 1ª parte: O frio é intenso. Todos tre-mem e batem os dentes. 2ª parte: Na sala aquecida descansa-se en-quanto há chuva lá fora. 3ª parte: Anda-se no gelo com cuidado mas acaba-se caindo e escorregando. O inverno é frio mas tem suas delícias. Piazzolla foi um compositor e exímio bando-neonista. O bandoneon é um instrumento que é característico da música argentina com pa-pel fundamental no tango, típico do país. A formação eclética de Piazzolla fez com que ele criasse uma maneira particular de tocar o tango, bastante polêmica em sua terra, mas adorada no mundo inteiro. Quem já ouviu ‘Adios nonino’ (ht tps: / /youtu.be/VTPec8z5vdY) tenho certeza que concorda comigo que ele é um gênio! Quatro obras de suas obras, Verano Porteño (1965), Otoño Porteño (1969) e a Primavera e Invierno Porteño (ambas de 1970), foram a-grupadas e rearranjadas para que fossem e-xecutadas em conjunto em um paralelo emo-cionante com a obra de Vivaldi. (https://youtu.be/1-g8TzkrDFU). Muito interessante ouví-las depois de se ouvir as de Vivaldi. Esses dois exemplos podem mostrar a força e emoção que a Natureza provoca em nós hu-manos e que foram maravilhosamente trans-formados em música por esses dois grandes artistas de épocas e regiões tão distantes. Seguiremos falando de Natureza e música nos próximos artigos. Um grande abraço musical

Mto. Luís Gustavo Petri é regente, compositor, arranja-dor e pianista. Fundador da Orquestra Sinfônica Municipal de Santos. Diretor musical da Cia. de Ópera Curta criada e dirigida por Cleber Papa e

Rosana Caramaschi. É frequente convidado a reger as mais importantes orquestras brasilei-ras, e em sua carreira além de concertos im-portantes, participações em shows, peças de teatro e musicais.

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Maio 2016 Gazeta Valeparaibana Página 5

Cidadania

PORQUE NEM SEMPRE UM CANDIDATO BEM VOTADO ASSUME?

Os cálculos realizados na eleição proporcional, sistema pelo qual são eleitos os representantes da Câmara Federal, das Assembleias Legislati-vas e também das Câmaras Municipais, consis-tem em uma das principais dúvidas dos eleitores. Quociente eleitoral, voto em legenda e quociente partidário são assuntos não dominados até mes-mo por aqueles que participam ativamente das campanhas políticas.

O eleitor muitas vezes não entende por que um candidato bem votado não consegue uma vaga no Poder Legislativo, enquanto outro que tenha recebido menos votos, acaba eleito. Ou seja, neste caso é eleito o candidato que esteja no par-tido que recebeu o maior número de votos. Esse fato ocorre porque, nas casas legislativas (Câmara Federal, Assembleia Legislativa e Câ-maras Municipais), as vagas são distribuídas de acordo com a votação recebida por cada partido ou coligação.

Ao escolher o candidato para esses cargos, o eleitor está votando, antes de mais nada, em um partido. É por isso que o número do partido vem antes do número do candidato. Se o eleitor quer votar apenas na legenda, sem especificar qual dos candidatos daquele partido ele quer eleger, é preciso digitar apenas os dois primeiros números.

QUOCIENTE ELEITORAL A escolha dos deputados, sejam estaduais ou federais, só é concretizada após a aplicação das fórmulas que regem o sistema proporcional de eleições, cujo cálculo se inicia com a obtenção do número total de votos válidos. Esse número é então dividido pelo número de vagas em disputa. Essa divisão é conhecida como Quociente Eleito-ral. O numero total de votos para a Câmara Federal será dividido por oito, que equivale ao número de vagas que cada Estado tem direito, naquela Casa de Leis. Os votos destinados aos candidatos e partidos políticos que concorrerão à Assembleia Legislati-va serão divididos por 24, número de vagas para deputado estadual. Como o resultado dessa divisão nem sempre é exata, a legislação brasileira determina que caso a fração sejam igual ou menor que 0,5 ela será desprezada. Sendo maior que 0,5 somamos um voto ao quociente eleitoral final. QUOCIENTE PARTIDÁRIO Para chegar aos nomes dos candidatos eleitos, é preciso determinar o quociente partidário, dividin-do-se a votação obtida por cada partido (votos nominais + votos na legenda) pelo quociente elei-toral. Neste caso, despreza-se a fração, qualquer que seja. O número obtido dessa divisão, desprezando as frações, é o número de deputados que ocuparão, em nome do partido/coligação, as cadeiras do Poder Legislativo. O mesmo cálculo se faz para as eleições das Câmaras Municipais. Os mais votados serão os titulares do mandato, que neste caso foram eleitos pelo quociente eleitoral.

PREENCHIMENTO DAS VAGAS PELO CÁLCULO DAS MÉDIAS

Realizado o cálculo para definir quem ocupa as cadeiras do Poder Legislativo por meio do quoci-ente partidário, é comum restarem vagas não preenchidas, porque a divisão nem sempre resul-ta em números inteiros. Paras as vagas não ocu-padas, realiza-se um novo cálculo. O cálculo para ocupação das vagas remanescen-tes, ou cálculo das sobras, como é conhecido nos ambientes de apuração, é definido pelo arti-

go 109 do Código Eleitoral Brasileiro, e é talvez um dos cálculos que mais provocam dúvidas nos candidatos e eleitores. O artigo determina que vagas não preenchidas pelos quocientes partidá-rios devem ser ocupadas considerando o desem-penho médio dos partidos, que é calculado da seguinte forma: 1 - Divide-se o número de votos obtidos pelo par-tido ou coligação pelo número de vagas obtidas pelo quociente partidário, somando-se mais uma vaga ao número obtido pelo quociente partidário. Com soma de mais uma vaga ao número final de vagas obtidas pelo partido, evita-se que o partido/coligação que tenha obtido apenas uma vaga se-ja automaticamente contemplado, pois a divisão dos votos obtidos pelo número 1 não geraria um quociente médio. 2 - O cálculo das médias deve ser aplicado a to-do partido coligação. Aquele que possuir o maior quociente médio é contemplado com a primeira vaga remanescente. 3 - Distribuída a primeira vaga remanescente, refaz-se o cálculo, agora considerando a vaga já ocupada pelo partido, que terá que somar ao divi-sor a vaga conquistada. Assim, o partido contem-plado pelo primeiro cálculo terá que somar vagas ao total conquistado pelo quociente partidário, sendo uma delas referente ao determinado em lei, e outra referente à vaga conquistada pela mé-dia. 4 - Esse cálculo é refeito até que sejam preenchi-das todas as vagas que ainda estavam abertas e que não haviam sido contempladas pelo quocien-te eleitoral.

Aplicadas as fórmulas, define-se os titulares das vagas. Os demais candidatos dos partidos e coli-gações que elegeram candidatos, serão todos suplentes, sem exceção. O quociente eleitoral é o primeiro limitador para os partidos políticos com baixo desempenho, pois a agremiação partidária que não obter uma quan-tidade de votos igual ou superior ao quociente eleitoral não poderá eleger candidatos para o Po-der Legislativo.

A legislação brasileira ainda permite que, a cada eleição, os partidos se unam e formem uma coli-gação partidária que, para efeitos dos cálculos inclusos no sistema proporcional, será tratada como um único partido político. As coligações são formadas a cada eleição, se dissolvendo a-pós a realização do pleito.

Porque precisamos fazer a Reforma Política no Brasil?

Seus impostos merecem boa administração. Bons políti-cos não vem do nada. Para que existam bons políticos

para administrar o país, toda a sociedade precisa colaborar para que eles possam nascer e terem sucesso. É preciso um sistema eleitoral moderno para melhorar a qualidade da política. Os políticos "tradicionais" tem horror à reforma política, porque ela pode mudar a situa-ção atual onde eles usam e manipulam o eleitor e são pouco cobrados !

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DESIGUALDADES

Os contrastes sociais são responsáveis por todas as desigualdades raciais, étnicas e interculturais. Mesmo em tempos pós emancipação quem tem muita melanina, na maioria das vezes, é olhado de canto, é temido. Julgado e culpado. Prostrado à marginalização e banalidade. Jogado à sorte do destino. É triste ver que muitos são obrigados a sobreviver com pouca coisa, enquanto poucos riem e fazem de tudo um

circo, vivendo bem e muito bem, "com muitas coisas"

O problema da desigualdade social não é a falta de dinheiro para muitos, e sim o excesso na mão de poucos.

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Educação

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Nelson Rodrigues

Num casamento, o importante não é a es-posa, é a sogra. Uma esposa limita-se a

repetir as qualidades e os defeitos da pró-pria mãe.

*******

O adulto não existe. O homem é um meni-no perene.

*******

O amor entre marido e mulher é uma gros-sa bandalheira. É abjeto que um homem

deseje a mãe de seus próprios filhos.

******* O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil

para todos, melhor ainda.

******* O asmático é o único que não trai.

O biquíni é uma nudez pior do que a nu-dez.

*******

O boteco é ressoante como uma concha marinha. Todas as vozes brasileiras

passam por ele.

******* O Brasil é muito impopular no Brasil.

O brasileiro é um feriado.

******* O brasileiro, quando não é canalha na

véspera, é canalha no dia seguinte.

******* O cardiologista não tem, como o analista, dez anos para curar o doente. Ou melhor: – dez anos para não curar. Não há no en-

farte a paciência das neuroses.

******* O casamento é o máximo da solidão com

a mínima privacidade.

******* O grande acontecimento do século foi a

ascensão espantosa e fulminante do idiota.

*******

Maio 2016 Gazeta Valeparaibana Página 6

Meritocracia, cotas e educação Um dos pontos defendidos por alguns progra-mas (Políticos, e não de tv!), a meritocracia é a concessão de benefícios calcada no mérito, no merecimento. O nosso sistema é baseado na meritocracia, desde a pontuação nas provas à promoção no trabalho. Mas, o que ela tem a ver com educação? Quando uma pessoa é agraciada com benefí-cios ou promoções, a leitura que se faz é que ela mereceu, devido a seu esforço e dedica-ção, por ter se destacado frente a um grupo de iguais, que, comparados a ela, não obtiveram resultados tão relevantes. Ou seja, trata-se de ser melhor que os demais, o que é medido a-través de provas, concursos, processos seleti-vos, e, que por isso, tem tudo a ver com em-prego e educação. Uma pessoa se destaca nessas provas e é beneficiado com empregos bons, bem-pagos, posições, bolsas estudantis, vagas em universidades públicas... Enquanto isso, os outros, aqueles que não são inteligen-tes o suficientes ou não são estudiosos o sufi-ciente ganham o que "merecem". No entanto, quem são os outros e o que eles merecem? Imagine um rapaz, o Matheus, nos seus 17 anos, que cresceu em uma família estruturada, de economia estável, que depois de estudar em escolas consideradas boas por serem vol-tadas para a aprovação no vestibular, passe para o concorrido curso de Medicina da Uni-versidade Federal. Ele mereceu essa vaga com seu esforço e estudo, certo? Como dizia minha mãe "se tirou 8 não fez mais que sua obrigação!" Agora imagine uma moça, a Ana, nascida em ambiente hostil, de violência bana-lizada e uma família legal, porém instável e sem muitas condições econômicas, que estu-dou em escolas estaduais, essas em que fal-tam professor, não possuem biblioteca, ou in-fraestrutura. Quais são as chances dessa mo-ça passar para Medicina? Nenhuma, certo? A não ser que ela seja muito genial, consiga ob-ter em sua casa um ambiente silencioso para o estudo, o que ela provavelmente não tem, já que tem que ficar com seus irmãos menores enquanto a mãe e o padrasto trabalham fora. Então, ela adia o sonho de ser médica e deci-de cursar enfermagem que é menos concorri-do. Termina o curso já casada, morando com a sogra e o marido em uma casa maior que a-quela em que foi criada. Engravida logo em seguida do jovem marido. Com esforço conse-gue trabalhar e ser mãe, e ainda ajudar a so-gra que é exigente. Porém, meses depois de nascida a criança é abandonada por um pai inconsequente, e a moça fica sem o marido e sem condições de pagar a obra da casinha em que eles planejavam morar e que, a essa altu-ra, está com um custo altíssimo. Volta para a casa dos pais, aonde ainda moram os irmãos mais novos e agora, ela e o filho. Acumula mais um emprego só para sanar as dívidas, o bebê fica com a avó aposentada com um salá-rio mínimo para alimentar toda a família. Se ela conseguir sair dessa, pagar o fim da refor-ma, o mérito será todo dela. Ela é esforçada, ela merece um pouco de tranquilidade. Não

acha? Mas, quais são as chances reais dessa nossa personagem conseguir superar todo e qualquer obstáculo que se coloque no cami-nho para alcançar uma vida mais digna e con-fortável, para dizer o mínimo?

Por esse motivo, quando alguém vem falar cri-ticamente das cotas e dos programas de in-gresso em universidades com frases genéricas e preconceituosas, a primeira coisa que tenho vontade de perguntar é: "você estudou em es-cola pública?", seguida por: "conviveu com alu-nos cotistas?". Essas pessoas que projetam frustrações em frases aleatórias e sem funda-mentam parecem não refletir sobre as dificul-dade que Matheus teve em alcançar um nível universitários em comparação com Ana. Isso sem mencionar que Ana teria ainda outras muitas dificuldades durante sua graduação que Matheus, com sorte, não precisará passar.

Quando há um benefício concedido a algum setor minoritário sob a tutela das cotas, o que está implícito é a tentativa historicamente atra-sada de equilibrar a desigualdade de condi-ções de emprego e estudo extirpada desses grupos há muitas gerações.

Nota-se com esses exemplos que a tal merito-cracia seria justa em se tratando de indivíduos em igualdade de condições, o que, sabemos, não é o que ocorre, por desníveis educacio-nais, principalmente. Enquanto não se olhar o problema da discrepância social e econômica de frente, vamos continuar repetindo besteiras sobre projetos de inclusão - no sentido mais superficial da palavras - que tentam tapar o sol com a peneira em vez de tratar das raízes do-entes que promovem tamanhos desníveis na sociedade. Portanto, tentando evitar que pes-soas estudadas cometam a ignorância históri-ca de repetir asneiras só por constatarem que algum privilégio seu ou dos seus está sendo reduzido (Atenção: reduzido e não extinto!), perceba que o grupo beneficiado pela educa-ção de base, pelo acesso à informação, pela escolha de qual carreira seguir, em suma, pela alegria de tomar as rédeas da própria vida não varia. Em compensação, são gerações conse-cutivas em famílias que exercem sub-empregos por falta de opção, ou ganhando mal, ou não conseguindo seguir a carreira dos seus sonhos. Portanto, a meritocracia é uma "gracinha" quando as oportunidades são da-das em proporções iguais ou semelhantes pa-ra todos os grupos e regiões e não pode ser tomada por possibilidade real. Não dá para de-fender a meritocracia em um país tão desigual.

O que se pode defender é uma educação for-te, integral e integrada para todas as crianças e adolescentes. Você consegue imaginar que sociedade construiríamos se o melhor colégio que você conhece fosse a média das escolas públicas de toda a sociedade brasileira?

GICA POLINA

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Maio 2016 Gazeta Valeparaibana Página 7

Contos, Poesias e Crônicas

DIA DAS MÃES!

Mãe! Ícone que deveria ser valorizado por sua importância.

Alicerce da família!

Cuida e zela a qualquer custo e acalenta seu bem mais precioso: os filhos.

E os filhos crescem...

Para alguns ela é eterna e seguem seus caminhos com a figura materna aquecida em seus corações. Outros se afastam por caminhos que as deixam desesperadas de dor.

Para muitas ficam as marcas das dores do sacrifício em vão e resta o sofrimento.

Poucas hoje em dia, são retribuídas pelo carinho, reconhecimento e respeito.

Para algumas fica o orgulho do filho vencedor que lhe retribui com a vitória e amor.

Para a mãe nunca faltou amor, apoio e perdão.

É...

Mas, os tempos mudaram, os filhos mudaram.

Mas, a mãe também mudou?

Ser mãe é um ato divino ou apenas uma escolha?

Hoje me parece escolha.

Quer ser mãe ou não quer. Quer ter um filho, muitos ou nenhum. Quer ser mãe indepen-dente, sem pai. Quer ter dedicação exclusiva ou dedicar-se exclusivamente ao trabalho para suprir bens materiais. Quer criar ou alguém cria.

Aborto é crime, a religião, a sociedade e a família condenam.

Mas mães abortam todos os dias.

Foi por descuido a gravidez ou falta de informação? Hoje não há falta de informação, nem falta de como se cuidar: preservativos, contraceptivos, laqueaduras, DIUs, tanto outros meios.

E depois jogam fora seus filhos.

E ainda há o recurso da doação. A criança não tem escolha, mas a mãe o tem.

Tantas mulheres ainda querem ser mãe.

No entanto, estão sem tempo para isso. Não podem estar presentes: trabalho, academia, estudar, passear, novos relacionamentos...São suas escolhas.

E a criança fica a mercê disso tudo, fica na escola, fica com a avó, fica com o irmão mais novo, fica na rua, nas “tribos”.

E os filhos crescem e fazem suas escolhas...

Escolhem amigos, namoradinhos, “baladinhas”, bebidas, drogas e o desapego por essas mães.

E vem a discórdia, as culpas, as tragédias, famílias destruídas e as mortes. A morte que pode ser física, moral ou emocional.

Ser mãe não é apenas gerar seus frutos e satisfazer seu ego de mulher, é preciso empe-nho, participar de tudo. Exige sacrifícios e renúncias como sempre foi, pois, o ser humano é o único animal “totalmente” dependente da mãe desde o nascimento até a morte.

Não basta ser “bela, recatada e do lar”, ser ótima no marketing emocional das redes soci-ais. É preciso carinho físico, olhar nos olhos, ser firme, falar e firmar laços emocionais. Não basta estar “presente e ausente”, interagindo pela tecnologia e através da escola que vem cumprindo essa responsabilidade, sem competência para tanto.

Atualmente a vida é bem corrida, sabemos disso, mas, o tempo do filho tem que ser desig-nado e com qualidade. Então, esteja lá de verdade e por inteira e haverá a surpresa na resposta deles depois que crescerem, pois, estarão conectados a vocês de verdade e lhes retribuindo com muito amor.

Afinal, são todos filhos de mães vivas!

Que volte a pura ternura da família, que a palavra da mãe continue a ser uma sementinha no coração dos filhos para que estes possam reverenciar suas mães para que no futuro a família não dependa tanto de psicólogos e sim mais de professores.

Salvem as mães, conforme, Deus projetou!

Genha Auga – Jornalista MTB: 15.320

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GESTOS DE FÉ

Abra caminhos com gestos de fé, em Deus estão as raízes do amor,

filhos eternos, que como as músicas encantam,

para “Ele”, nunca morrerão!

Esse Deus que comanda o mundo e que um dia todos entenderão.

Esse mistério, Allah, Jah, Jeová... Mistério de bravura e poesia,

que mudará seu destino e o purificará.

Coloque sua cabeça em cima do coração

e tornar-se-á um imperador, desenhes o futuro

com honras e gestos de fé. Seja um recriador das raízes do amor.

GenhaAuga

EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

A educação para a cidadania significa fazer de cada pessoa um agente de

transformação social, por meio de uma práxis pedagógica e filosófica: uma reflexão/ação dos homens sobre o

mundo para transformá-lo.

Este é um dos objetivo do Jornal Gazeta Valeparaibana

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Maio 2016 Gazeta Valeparaibana Página 8

Política

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Impeachment, STF e Pôncio Pilatos

DIREITO CONSTITUCIONALTEORIA DO ESTADOPO-DER JUDICIÁRIOSEPARAÇÃO DE PODERES

Muitos são os questionamentos dirigidos à postura ado-tada pelo Supremo Tribunal Federal no caso do proces-so de impeachment da Presidente Dilma Rousseff. Há também uma insatisfação de alguns setores da socieda-de com a posição pública adotada pela Corte.

Muitos são os questionamentos dirigidos à postura ado-tada pelo Supremo Tribunal Federal no caso do proces-so de impeachment da Presidente Dilma Rousseff. Há também uma insatisfação de alguns setores da socieda-de com a posição pública adotada e propalada aos qua-tro ventos por alguns de seus integrantes, além da au-sência de decisão, por parte da Corte Superior do Brasil acerca de ações que envolvem atores protagonistas fundamentais nesse processo de impedimento.

Sob a alegação do manto do princípio da separação dos poderes, no qual um poder ordinariamente não deve interferir no funcionamento de um outro poder, o STF não tem se imiscuído em decidir questões capitais para o processo de afastamento da Presidente. Vamos a dois deles.

No dia 16 de março de 2016, o ex-presidente Luís Iná-cio Lula da Silva foi nomeado ministro-chefe da Casa Civil e logo sua nomeação perdeu os efeitos por força de uma sentença oriunda de um juízo de primeiro grau da justiça federal. Devido ao fato do ex-presidente ser alvo de investigações da espalhafatosa operação con-duzida pelo juízo criminal da comarca da justiça federal de Curitiba denominada de “Lava a Jato”, pairam des-confianças de que o ato de nomeação correu com o vício do desvio de finalidade, para que na prática hou-vesse o deslocamento da competência do juízo de pri-meiro grau de Curitiba para o STF, pois o cargo de Mi-nistro dá a seu ocupante o benefício da prerrogativa de foro (foro privilegiado). A desconfiança aumentou após a divulgação de um trecho de uma interceptação telefô-nica de duvidosa legalidade, feita pelo juízo de primeiro grau da justiça federal de Curitiba, e que obteve uma estrondosa repercussão na mídia e na sociedade[1]. Não tardou e outras ações espocaram pelo país com pedido de anulação do ato de nomeação e, já no dia 18 de março, uma dessas ações foi impetrada perante o STF, que avocou a competência sobre o assunto e por meio de uma decisão individual, suspendeu liminarmen-te o ato de posse até que fosse julgado pelo seu Colegi-ado.

O Governo justifica a entrada do ex-presidente na Casa Civil não como uma tentativa de livrá-lo dos tentáculos do juízo de Curitiba, mas como uma tentativa de melho-rar a relação com o Poder Legislativo e, claro, barrar o processo de admissibilidade do impeachment, em curso

na Câmara dos Deputados. Conhecido como hábil ne-gociador, na opinião do Governo e de alguns especialis-tas, o ex-presidente Lula teria papel fundamental nesta negociação.

O julgamento foi marcado pelo STF para o dia 20 de abril de 2015, mais de um mês depois do ajuizamento da ação e, para surpresa geral, foi adiado novamente para uma data incerta. A Suprema Corte deixa, assim, em aberto uma questão das mais relevantes para o atu-al momento político do país, pois acredita-se que o Ex-presidente poderia auxiliar o governo na batalha para a manutenção da Presidente da República em seu cargo. Seria ele uma importante peça neste xadrez político que Brasília se tornou.

No longínquo 16 de dezembro de 2015, o Procurador Geral da República protocolou junto ao STF um pedido de afastamento do presidente da Câmara dos Deputa-dos, com o fundamento de por se tratar de réu em vá-rias ações criminais que tramitam naquela Suprema Corte, estaria utilizando seu “prestigioso cargo” para interferir no andamento das ações penais e também em processo que tramita contra si no Conselho de Ética da Câmara. Até o momento também não há decisão do STF sobre este pedido. Há que se ressaltar que o presi-dente da Câmara dos Deputados é ferrenho opositor e desafeto declarado da Presidente da República e foi condutor do processo de admissibilidade do impeach-ment, que restou aprovado no último dia 17 de abril. Sabe-se que o processo de admissibilidade da denúncia contra a Presidente tramitou com uma agilidade sem igual na Câmara dos Deputados, ao contrário do trâmite do processo que analisa a quebra de decoro parlamen-tar, que corre na Comissão de Ética da mesma ágil Ca-sa Legislativa contra o seu próprio Presidente.

Os magistrados são, por força do art. 35, II da Lei Orgâ-nica da Magistratura Nacional – LOMAN, obrigados a “não exceder injustificadamente os prazos para senten-ciar ou despachar”. Além disso, o Código de Ética da Magistratura também exige que a atuação do magistra-do deva se pautar pela prudência e diligência, além dos juízes serem obrigados a buscar o “fortalecimento das instituições e a plena realização dos valores democráti-cos[2]” (grifos do autor). Como o responsável pelo equi-líbrio da balança da justiça em um país sob o império das leis, o STF não deveria deixar de apreciar e decidir sobre as ações acima mencionadas, sob pena de enfra-quecimento das instituições e uma consequente quebra nos valores democráticos do Estado de Direito. Ao não decidir sobre o caso da nomeação do ex-presidente Lula para Ministro da Casa Civil, adiando indefinidamen-te a decisão, o egrégio Tribunal deixa de observar a prudência que se requer da mais alta Corte nacional, além de fragilizar a segurança jurídica nas relações ins-titucionais que tanto reclamam proteção neste momento de crise.

No que toca à ausência de apreciação do pedido de afastamento do Presidente da Câmara dos Deputados, realizado pelo Procurador Geral da República em de-zembro de 2015, o STF deixa flagrantemente de obser-var a Lei Orgânica da Magistratura e o seu Código de Ética, que exigem rapidez nas decisões. Ainda mais neste caso, onde já há um juízo de valor formado pelo

órgão do Ministério Público, explicitado em petição dire-cionada à Suprema Corte, de que o agente em questão

“tem adotado, há muito, posicionamentos absolutamen-

te incompatíveis com o devido processo legal, valendo-

se de sua prerrogativa de Presidente da Câmara dos

Deputados unicamente com o propósito de autoprote-

ção mediante ações espúrias para a apuração de suas

condutas , tanto na esfera penal como na esfera política

[...] vem utilizando a relevante função de Deputado Fe-

deral [...] em interesse próprio e ilícito unicamente para

evitar que as investigações contra si tenham curso e

cheguem ao termo do esclarecimento de suas condu-

tas, bem como para reiterar as práticas delitivas.”.

Some-se a isso a gravidade por que passa o país neste momento no qual está em curso um processo que bus-ca o afastamento de uma Presidente da República elei-ta pelo voto democrático. Ato excepcionalíssimo, deveri-a ser conduzido com extremo cuidado, delicadeza e imparcialidade. Entretanto, o que se verificou na Câma-ra dos Deputados, sob a Presidência de um agente polí-tico que tem contra si um pedido de afastamento formu-lado pelo Procurador Geral da República sob a alega-ção de utilização do cargo para “autoproteção” e desa-feto declarado da Presidente cujo cargo está sob julga-mento foi justamente o contrário. A imparcialidade pas-sou ao largo do processo, assim como o STF, que insta-do pela Advocacia Geral da União, negou pedido de liminar em mandado de segurança para barrar o proces-so na Comissão Especial da Câmara dos Deputados que analisou a admissibilidade de denúncia de prática de crime de responsabilidade pela Presidente da Repú-blica, com a justificativa de que o juízo proferido pela Casa Legislativa no processamento de crime de respon-sabilidade é justamente de admissibilidade e não de mérito, que será analisado pelo Senado. Aparentemente dá a entender que poderia julgar o mérito da causa, o que parece ser pouco provável, tendo em vista os posi-cionamentos e decisões dados até o momento sobre o caso.

Assim, diante de tais fatos, algumas perguntas se im-põem formular. Qual o STF que possivelmente irá anali-sar o mérito deste processo de impeachment? O STF guardião da Constituição da República, da LOMAN e do Código de Ética da Magistratura? O STF que possui juízes com notório saber jurídico ou o Tribunal político? O STF da prudência e diligência que faltaram na celeri-dade de decisões importantíssimas para a estabilidade do país e sua democracia, ou o STF que alça o princípio da separação dos poderes acima dos demais?

A história desse conturbado período ainda será escrita e o lugar que será reservado por esta velha senhora ao Supremo Tribunal Federal ainda será definido. Em um julgamento famoso na Roma antiga, um governador, após interrogar o importante réu, dirigiu aos acusadores a seguinte sentença: “não acho nele crime algum”. E, mesmo assim, aquele réu foi condenado à pena capital e o governador entrou para a história como aquele que lavou as mãos. E o STF?

Felipe B. Campanuci Queiroz Advogado, Coordenador técnico do Laboratório de Polí-ticas Públicas da UERJ e mestrando em Políticas Públi-cas e Formação Humana da UERJ.

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Maio 2016 Gazeta Valeparaibana Página 9

Educação em debate

POR QUE OS PROFESSORES NÃO UTILI-ZAM OS LIVROS DIDÁTICOS?

O Brasil tem um dos (se não for o) maiores progra-mas de distribuição de livros didáticos do mundo. O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) tem como principal objetivo subsidiar o trabalho pedagógico dos professores, por meio da distribui-ção de coleções de livros didáticos de diferentes editoras aos alunos da educação básica. Só para o ano de 2016 o Ministério da Educação desem-bolsou nada menos que R$ 1.255.495.989,82 para atender 121.574 escolas e contemplar 34.513.075 alunos do ensino fundamental I, ensino fundamen-tal II e ensino médio, nas modalidades do ensino regular e da EJA. Em comparação com o ano de 2015, o MEC investiu R$ 1.362.618.334,01.Os da-dos estatísticos podem ser obtidos em: http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-dados-estatisticos. Porém, de nada adian-ta apresentar esses volumosos números, se o livro didático não for utilizado na sala de aula.

O fato que queremos discutir, neste momento, é a não utilização dos livros didáticos obtidos pelo Pro-grama Nacional do Livro Didático (PNLD). Obvia-mente que o que vou apresentar aqui não é a re-gra. Mas é o que tenho visto em diversas escolas e é o que meus colegas e alunos me relatam em diferentes discussões.

Muitas vezes os livros entregues aos alunos não são nem utilizados em sala de aula, nem como apoio aos estudos em casa. Os livros são entre-gues e não se toca mais no assunto. Em outras situações o livro nem é entregue. Fica empoeiran-do em algum canto da escola e depois de algum tempo o material é descartado. Sem querer me alongar, posso sugerir três reportagens que tratam deste assunto:

Mais de 3 mil livros didáticos novos são jogados fora em Santa Catarina. Nesta reportagem de 2014, o desperdício de dinheiro público ocorreu com a chamada de um catador de material recicla-do, que foi denunciado pelo próprio catador. A no-tícia pode ser acessada neste link: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2014/08/mais-de-3-mil-livros-didaticos-novos-sao-jogados-fora-em-santa-catarina.html.

Livros didáticos são jogados no lixo seletivo em Caxias do Sul. A notícia de 2015 conta basicamen-te a mesma história acima. Os livros não foram utilizados e foram para o lixo. http://p ione i ro . c l ic rbs . com.br / r s /gera l / c idades /noticia/2015/12/livros-didaticos-sao-jogados-no-lixo-seletivo-em-caxias-do-sul-4925850.html.

Livros didáticos jogados fora revoltam moradores em Teixeira (11/01/2016). Como diz o velho jar-gão: “A história nunca é nova, ela só se repete”. E foi assim que em Teixeira de Freitas-BA aconte-ceu. Os livros novos, embalados e sem uso foram parar no lixo: http://liberdadenews.com.br/index.php/policia/14696-denuncia-livros-didaticos-jogados-fora-revoltam-moradoresem-teixeira-de-

freitas#.

Mas, voltando ao assunto, o grande problema que quero trazer é: Porque os livrosdidáticos não são utilizados? O que acontece no dia a dia do “fazer docente” que resulta no desperdício de dinheiro público e no crime (sim, não utilizar o livro didático é um crime, já que o aluno tem direito ao material didático e a sua utilização também configura des-perdício de dinheiro público)?

Várias hipóteses poderiam ser apresentadas, tais como: Os materiais são de baixa qualidade. O livro está fora da realidade do aluno. O livro só trabalha com a memorização de conteúdos. O livro não contempla o currículo escolar. A escola recebe outros materiais que substituem o livro didático. O professor não está preparado para trabalhar com o livro didático. Dentre essas hipóteses preliminares, vou dissertar um pouco sobre cada uma delas.

Os materiais são de baixa qualidade. Mito! Os Li-vros didáticos no Brasil passaram (e passam) por reformulações constantes. Via de regra, os materi-ais são produzidos e reformulados, de acordo com as necessidades dos professores. As editoras e os autores de livros didáticos se preocupam em man-ter um diálogo constante com os professores (principalmente agora com o uso das redes soci-ais) para discutir e reorganizar seus conteúdos apresentados. Não somente, os livros também passam pela avaliação do MEC que prima pela linguagem aplicada na obra, qualidade das ima-gens, diversidade de exercícios etc.

O livro só trabalha com a memorização de conteú-dos. Mito! A memorização deixou de ser o carro chefe da educação brasileira há algum tempo. Ho-je, os livros devem estimular diferentes habilida-des, competências cognitivas, valores e atitudes. Basta navegar por algum livro didático e você verá que o texto, as imagens e as atividades conver-sam entre si e cada seção do livro estimula dife-rentes inteligências.

O livro não contempla o currículo escolar. Os currí-culos no Brasil são elaborados de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais. Esses docu-mentos norteiam os objetivos da aprendizagem de cada disciplina em cada etapa da escolarização. Os sistemas de ensino tem autonomia para desen-volverem seus currículos, mas sempre primando pelo que a legislação aponta e sendo norteados pelos parâmetros nacionais. Sendo assim, o livro deve ter uma abordagem ampla, permitindo se en-caixar em qualquer currículo.

A escola recebe outros materiais que substituem o livro didático. Meia verdade! Muitas redes de ensi-no acabam optando pelo uso de outros materiais. A rede estadual de São Paulo, por exemplo, traba-lha com o projeto Ler e Escrever, no Ensino Fun-damental I e o caderno do aluno no Ensino Funda-mental II e Médio. Porém, esses materiais não substituem o livro didático. Eles são materiais complementares que aprofundam alguns temas e habilidades. No planejamento do professor, ele pode (deve!) considerar o uso desses dois materi-ais dosando o que vai utilizar em cada aula. Ou-tros sistemas acabam optando pela aquisição de apostilados. Aqui sim isso se configura um proble-ma, uma vez que, de posse dessas apostilas de sistemas, o professor não consegue utilizar esses dois materiais. Neste caso, o correto a se fazer é a escola (e a Secretaria de Educação) não adquirir os livros didáticos (justamente para evitar o des-perdício de dinheiro público).

O professor não está preparado para trabalhar com o livro didático. Verdade (lembrando que isso não é regra!), e é aqui que vou me aprofundar um pouco mais.

Nas conversas com diferentes professores de dife-rentes lugares do país tenho percebido a cada dia que os colegas não sabem como trabalhar com o livro didático. Não entendem o objetivo pedagógico dos exercícios e não conseguem articular saberes, habilidades, valores e atitudes. Justamente a alta qualidade e a complexidade pedagógica que estão presentes no livro didático acabam impedindo com que o professor trabalhe em sala de aula.

Os cursos de formação de professores (lembre-se, não é regra!) acabam não trabalhando com meto-dologias e práticas de ensino utilizando diferentes livros didáticos. Os sistemas de ensino também não investem na formação continuada dos seus professores com este foco. Infelizmente, o que se observa é que o livro didático é utilizado para ser-vir ao professor de apoio para escrever um texto na lousa e para que seus alunos copiem.

Temos como método ativo de aprendizagem a re-produção a partir das nossas referências. Por isso proponho o seguinte exercício: tente lembrar-se das suas aulas enquanto criança. Se você nasceu antes da década de 1980 vai se lembrar de que não tínhamos livros didáticos para todos. Tínha-mos que cuidar ao máximo do livro para que outro colega utilizasse no ano seguinte. Encapávamos os livros e em hipótese alguma podíamos escrever nele. As aulas seguiam os seguintes passos:

Cópia do texto na lousa.

Explicação do “ponto” pelo professor.

Exercícios de memorização.

Prova.

Assim, aprendemos a trabalhar com o livro didáti-co e assim trabalhamos até hoje. Porém, essa prá-tica não mais se aplica, uma vez que nossos alu-nos possuem o livro didático. Fazer a cópia do li-vro na lousa (além de ser plágio) perdeu o sentido.

Por isso sempre frisamos que o livro didático é um subsidio a aula do professor. Ele deve ser utilizado para introduzir um assunto, realizar a leitura com-partilhada e embasar as discussões em sala de aula (discussões é diferente de “explicar o ponto”). As atividades presentes no livro têm como objetivo servir de base para a avaliação do professor, não para dar nota, mas sim para acompanhar o desen-volvimento do aluno. Utilizado como ponto inicial, cabe ao professor rechear as aulas com os outros diferentes materiais ou metodologias que ele qui-ser (livros paradidáticos, vídeos, músicas, exposi-ções, rodas de discussão etc.).

Por isso, resolvi neste curto espaço tentar contri-buir um pouco mais com o debate sobre o desper-dício de dinheiro público e sobre a não utilização do livro didático. Claramente este assunto merece ser aprofundado e melhor discutido, porém, espero que lhe tenha trazido um pouco de reflexão e cla-reza sobre isso.

Para finalizar só posso afirmar que hoje os livros são distribuídos para as escolas, o material é de ótima qualidade, salvo exceções, a infraestrutura para trabalharmos é razoavelmente aceitável, os professores possuem ensino superior (na sua grande maioria), os alunos recebem subsídios bá-sicos para seus estudos, então o que resta é a preguiça, o não saber pedagógico e o não querer fazer.

Ivan Claudio Guedes Geógrafo e Pedagogo. [email protected]

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Maio 2016 Gazeta Valeparaibana Página 10

Cultura simbólica (artigo continuado) O BRASIL NUNCA FOI UMA COLÔNIA!

PARTE III

“A expansão portuguesa não foi, nem fruto do acaso, nem um feito político da Coroa ou de cortesão esforçados, antes a missão de

uma Ordem iniciática.”

Manuel J. Gandra POR: Loryel Rocha

No entanto, mesmo após o assassinato do Grão-Mestre da Ordem de Cristo, o Projeto Templário continua a subsistir, haja visto que as palavras MORE e MROE, tantas vezes presentes na eclíptica da esfera armilar de D. Manuel, com o significado de Manuel Orbis Rex est e Manuel Rex Orbis est, claramente reinvindicam um estatuto imperial, cuja tradi-ção remonta à cristofânia de Ourique, com inequívocas ligações com o Rei do Mundo e a profecia do Quinto Império. Compele acorrer que numa sequência tradicional, Vasco da Gama (1497) e Pedro Álvares Cabral (1500) receberiam das mãos de D. Manuel I a ban-deira da Ordem de Cristo, como estandarte das navegações. Ressalve-se que a cartogra-fia portuguesa ostenta bandeiras da Ordem de Cristo pelo menos desde a carta de Pedro Reinel em 1500. Mas, que ideal perseguem os Templários?

“Não são de todo subreptícias, nem dispicien-das, as conotações entre o ideal sinárquico dos templários, isto é, a sua demanda da e-quanimidade universal ( no seio de uma hie-rarquia de competências), com o corpus dou-trinal derivado do pensamento do cisterciense Joaquim de Fiori e popularizado pelos espiri-tuais franciscanos. De outro modo, como justi-ficar que os mesmos monarcas que protege-ram os templários se tivessem empenhado na difusão do joaquimismo, cujos princípios reli-giosos, éticos e políticos se baseavam na i-deia de que, sob a influência sucessiva de ca-da uma das três pessoas da Trindade, as cri-aturas se haviam de tornar puras, como os meninos, para ganhar o Reino dos Céus. Foi este ideário que, como é público, imortalizou Santa Isabel e Dom Dinis.

[…] A expansão portuguesa não foi, nem fruto do acaso, nem um feito político da Coroa ou de cortesão esforçados, antes a missão de uma Ordem iniciática.

Motivada por expectativas milenaristas e mes-siânicas coletivas, sincreticamente compendi-adas no Auto do Império, a gesta marítima lusa resolve-se na demanda do Paraíso Per-dido, esse Centro Espiritual supremo só al-

cançável, garantem-no escritos espirituais medievos como o Conto do Amaro, a Navega-ção de são Brandão, o Livro de José de Ari-matéia e o Orto do Esposo, pelo nauta audaz que, em demanda do seu destino, embarque nas naus da iniciação e empreenda a traves-sia do Oceano da Alma, modelo dos oceanos do mundo, para dilatar Fé e Império (Manuel J. Gandra, 2013).

“Dilatar Fé e Império”… o engenho e arte de-cantados por Camões está na contramão da tese que perfila atribuir uma má gestão e des-caso da Coroa Portuguesa na chamada toma-da de posse definitiva do Brasil depois de 1500. O tema dos Templários portugueses, salvo raras e honrosas excessões, tem sido ignorado, omitido ou subvalorizado.

Consigna Silva que a historiografia registra, desde muito cedo, os precoces e estreitos la-ços entre a Ordem do Templo e os círculos aristocráticos portucalenses. A Ordem do Templo desempenhou papel fundamental tan-to na formação da nacionalidade portuguesa quanto na expansão urbana portuguesa, ocor-rida ao longo dos séculos XII e XIII. Acrescido a isso, a Ordem do Templo teve papel decisi-vo nas guerras de Reconquista da Península Ibérica, exerceu poderosas influências em vá-rios reinos da Europa e foi decisiva para as Cruzadas. Vale frisar que, no tocante a este último item, vinculou-se de tal modo a ima-gem Templária às Cruzadas que sua vital im-portância e presença em Portugal foi abafada. Evidentemente que os Templários tem muito a ver com as Cruzadas. No entanto, os Tem-plários portugueses configuram um tipo muito particular de templário. E a própria Ordem do Templo em Portugal se desenvolve de modo bastante específico.

Relações extremamente complexas se tece-ram entre os reis portugueses e a Ordem do Templo, onde apesar de documentado, impe-ra o véu de silêncio sobre a relação da Coroa Portuguesa com os Templários e, da Ordem de Cristo com o Brasil. Isso não só porque o tema sobre os Templários é carregado de es-tigmas. Reações bipolares acontecem no tra-to dessa questão, que oscila entre a admira-ção incrédula, a discrição da ignorância, o preconceito pretencioso e a negligência erudi-ta. Mas, sobretudo, porque, ainda se ausen-tam das pesquisas historiográficas o diálogo e os novos horizontes que a transdisciplinarida-de estará mais habilitada a fornecer que a en-gessada hermenêutica positivista.

Nesta conformidade, uma vez alienada a pre-sença e a participação da Ordem de Cristo no Descobrimento do Brasil, espargido o seu di-namismo específico e perdidas as chaves destinadas à sua leitura e interpretação, abre-se inexoravelmente um vazio histórico que só pode ser transposto uma vez que se recupere e se esclareça o que foi efetivamente o Proje-to Templário.

“De facto, salvo algumas monografias e con-tributos pontuais com direito a destaque, as Ordens do Templo e de Cristo não conhece-

ram ainda quem, numa perspectiva global, sistemática, sustentada (quer tradicional, quer documentalmente) e lusíada se aventurasse a resgatar a sua história, projeto, práxis e patri-mônio.

A utilidade do empreendimento chegou a me-recer, convém recordá-lo o reconhecimento de autoridades como Pedro A. de Azevedo ou Jaime Cortesão, o qual sublinharia ainda a necessidade de conduzir tal estudo ponderan-do o quanto do tesouro templário (espiritual, mas também material) terá sido investido na preparação e concretização da expansão ma-rítima, bem como na consolidação do Império português (Gandra, op. cit., 2013, p.22).

Essa parece ser a aspiração que tanto Tito Lívio quanto Manoel R. Ferreira tinham em mente quando se propuseram a pesquisar so-bre as conexões entre a Ordem de Cristo e o Brasil. Apelam incessantemente para a impor-tância do “eixo templário” na construção da totalidade da visão que norteia o Descobri-mento do Brasil, indo buscar o início de um tal projeto com a Ordem de Cristo. Nisto reside sua virtude.

Contudo, cabe acrescentar mais algumas considerações para encerrar esse assunto. As obras de ambos os irmãos não tratam da decadência nacional portuguesa propiciada pelo enfraquecimento da Ordem de Cristo, que tem como marco basilar o assassinato do Grão-Mestre da Ordem por D. João II, o “Príncipe Perfeito”. Uma vez que o ideal na-cional imbuído de um sentido missional preco-nizado pela Ordem de Cristo (e assumido in-tegralmente pela Coroa até D. João II) se ar-refece ou transmuta, de resto, sofrem as con-sequências todo o planejamento do Projeto Templário, incluso o Descobrimento do Brasil e a forma como a Coroa conduzirá suas a-ções e decisões em todo o império ultramari-no.

Para o contributo do enfraquecimento da Or-dem de Cristo e, por conseguinte, da deca-dência de Portugal, está D. João III que suce-de o pai D. Manuel I em 1521, aos 19 anos. D. João III manteve a equipe governante do pai, mas, abandonou seu projeto Imperial (que seria retomado por seu neto D. Sebasti-ão I, (projeto de Império decantado por Fer-nando Pessoa). Dividiu o Brasil em Capitanias-Hereditárias. Era extremamente religioso (católico) e subserviente à Igreja de Roma a ponto de permitir a entrada da inquisição em Portugal.

CONTINUA NA

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POR: Loryel Rocha Email: [email protected] Site: http://www.imub.org/o-instituto/

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Mantido o texto original em português de Portugal

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Maio 2016 Gazeta Valeparaibana Página 11

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Aprendendo a nos conhecer

A vida une as pessoas por algum motivo. E só por isso os encontros já valem a pena, pelo menos a maioria. Não importa se foi um mês ou dois meses ou 10 anos. Através dos relacionamentos nós nos conhecemos mais. Desenvolvemos-nos, evoluímos com o outro. Frente ao outro, aprendemos so-bre nós. Quando estamos num relaciona-mento é a nós que enfrentamos, é com a gente que temos que lidar. Com a consci-ência dos nossos limites.

Um relacionamento tem que ter ternura, tem que ser gostoso, espontâneo. O cari-nho está presente. Os relacionamentos são sempre lições. Não importa de que tipo se-ja. Relacionamentos perfeitos não existem. O que acontece é o melhor pra nós. Ah que lição difícil enfrentar a dor do fim de um relacionamento amoroso, ou do fim de uma amizade. Me pergunto: O que não estamos querendo ver, o que não estamos querendo aprender, o que a vida quer nos mostrar e fingimos não saber. Não percebemos que quando estamos num relacionamento que-remos que o outro aja como nós agiría-mos, queremos moldar o outro, quando não conseguimos, nos tornamos intolerantes, impacientes, cobradores.

E quando achamos que estamos fazendo tudo certo? Afinal estamos nos doando, a-postando, querendo que dê certo, que fun-cione, porque acreditamos no outro, no que ele nos diz, no que nos passa, achamos que estamos começando a construir algo, de repente, não era nada do que havíamos imaginado. Tudo se desfaz de um jeito que nos deixa perdidos e perplexos, pensando: fui eu ou foi o outro? Vamos tentar organi-zar os pensamentos. Se estou investindo, me doando e querendo que dê certo, então porque não funcionou? Não sabemos, ape-nas podemos especular a respeito. Não a-cho que quando apostamos em algo, esta-mos errados. Isso é para tudo na vida. Es-tamos tentando, experimentando, vendo até onde podemos ir, e gosto de pensar que o céu é o limite. O que não podemos fazer é ter medo. O medo nós já sabemos, nos paralisa e nos faz perder oportunidades incríveis.

A vida é muito preciosa para desperdiçar-

mos nosso tempo sofrendo por coisas que dependem exclusivamente de nós, falo de nossas atitudes frente às situações que a vida nos apresenta. Errar todos erramos. Estamos aqui para aprender. Mas puxa vi-da, às vezes aprendemos da pior maneira, do modo mais dolorido. Porque não ouvi-mos nossa intuição, ou simplesmente não estamos atentos aos recados que a vida está nos mandando. O universo não perdo-a. Não quer ver? Vai aprender da maneira mais difícil. Acredito nisso, todos já vivenci-amos algumas experiências desse tipo. En-tão alguns irão dizer, falar é fácil. Verdade! Nós temos dificuldade de aplicar algumas das coisas em que acreditamos, tropeça-mos, caímos, levantamos e nos damos conselhos que não conseguimos seguir, sabemos tudo que devemos fazer para sair de situações desgastantes, unilaterais e egoístas, mas não fazemos. Alguns de nós tem essa tendência, de quebrar a cara vá-rias vezes e custar a aprender, mas a espe-rança é a última que morre, sempre! Como podemos nos preparar para ser melhores? Para não precisarmos sofrer tanto? Enten-dendo-nos, nos amando mais, nos conhe-cendo. Sabendo o que precisamos e o que queremos. Não entrar em qualquer experi-ência quando nossa alma diz que aquilo não é pra nós. Porque fazemos isso então? Porque estamos perdidos. Queremos nos iludir que vai ser diferente, isso em todas as situações da nossa vida.

Temos que ser sinceros com nós mesmos, quando mudamos o jeito de agir com a gente , todo mundo percebe, melhoramos e os outros melhoram também. Tenho que saber o que eu quero pra mim, o que eu quero que melhore. O que eu preciso. Usar o bom senso às vezes ajuda. Olhar para nós mesmos com mais carinho e mais ge-nerosidade também. Vamos procurar o que de bom há em nós. Ouvirmo-nos mais, si-lenciar um pouco a mente e ouvir nossa in-tuição. Temos muito a aprender com ela. E não vamos desistir de relacionamentos, se-ja de que tipo for. Vamos colocar mais a-mor e poesia, mais sentimento e vontade em tudo que fazemos.

Vamos nos focar naquilo que nos fortale-ce, que nos dá ânimo, que nos impulsiona, causa um friozinho na barriga de tão bom que é. Vamos nos focar no que importa nessa vida que é o amor. Só ele nos cura de tudo. Só nele que nos fortalecemos, e só através dele conseguimos nos regene-rar, tentar mais uma vez, e outra e quantas vezes for preciso. Isso é vida! Isso é viver.

Mariene Hildebrando Professora e especialista em Direitos Humanos E mail: [email protected]

FRASES SOBRE MENTIRAS FRASES SOBRE MENTIRAS FRASES SOBRE MENTIRAS FRASES SOBRE MENTIRAS

E MENTIROSOSE MENTIROSOSE MENTIROSOSE MENTIROSOS

Assis Chateaubriand: “Só o real é contraditório”.

* * * Vicente Avelino: “A verdade é o meu ponto de

vista”

* * * Sabino de Campos: “A mentira repassada de comicidade e humor é um tônico do espírito”.

* * *

Sabino de Campos, de novo: “A mentira que di-verte é um bálsamo para os males crônicos da

humanidade”.

* * * Medeiros e Albuquerque: “Os fracos e persegui-dos precisam da mentira como de uma defesa”.

* * *

Aristóteles Onassis: “Não ser descoberto numa mentira é o mesmo que dizer a verdade”.

* * *

Ieda Graci: “A mentira é uma ilusão dos infeli-zes”.

* * *

Machado de Assis: “A mentira é muita vezes tão involuntária como a respiração”.

* * *

Mário Quintana: “A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer”.

* * *

Mário Quintana, de novo: “Do bem e do mal / Todos têm seu encanto: os santos e os corrup-

tos. / Não há coisa na vida inteiramente má. / Tu dizes que a verdade produz frutos… / Já viste as

flores que a mentira dá?”.

* * * Paula Nei: “A mentira é um passo em falso – de-

sequilibra; escorregando na primeira é depois um trabalho para um homem restabelecer o a-

prumo”.

* * * Galeão Coutinho, de novo: “Toda mulher tem horror à mentira… pregada pelos homens”.

Autoconhecimento

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Maio 2016 Gazeta Valeparaibana Página 12

Opinião Por que não o Neoliberalismo no Brasil? Qual é o problema?

O que tem de errado no Neoliberalismo? Por que tem gente rejeita essa redefinição do Li-beralismo clássico, essa corrente de pensa-mento, essa ideologia, essa forma de ver e julgar a economia e a sociedade que rejeita a participação estatal na economia, e que quer o mercado absolutamente livre? Há um argumento atribuído a Adam Smith, autor do livro “A Riqueza das Nações” que eu concordo com a maior parte. O argumento é “todo ser humano é movido pelo interesse próprio e suas decisões são ditadas por um cálculo racional de custos e benefícios, seus atos num mercado livre tendem a servir o bem comum. Ambas partem do mesmo princí-pio de que o homem é um ser essencialmente egoísta”. A parte que eu discordo é “tendem a servir o bem comum”, porque não foi isso que eu percebi na História. Outra frase atribuída a ele, "não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu "auto-interesse". O perigo da ausência do Estado está justamente na tendência egoísta de auto-interesse do ser humano. Isso não tem garantido o bem co-mum da humanidade. É o que a História rela-ta. É incontestável que o Capitalismo, a partir da Revolução Industrial, trouxe benefícios a hu-manidade. Benefícios como inovação e de-senvolvimento tecnológico, permitiu a muitos indivíduos adquirir riqueza e propriedades pa-ra si, pessoas que eram pobres se tornaram ricas, em alguns casos, impulsionou a educa-ção escolar e as pesquisas científicas. É claro que o Capitalismo e a Revolução Industrial trouxeram benefícios. Contudo, o mesmo Ca-pitalismo trouxe também malefícios, assim como muitos enriqueceram, muito mais gente foi mantida na pobreza e excluída dos praze-res proporcionados por esse modo de produ-ção, sem falar nos graves problemas ecológi-cos no planeta. O sistema capitalista não é algo perfeito, sem defeitos. O capitalismo pro-move benefícios sim, mas promove malefícios também. E, se aplicando ao Brasil, há uma resistência justamente de muitos empresários. No meio político brasileiro, há muitos indivíduos da eli-te econômica e financeira, ou ligados a ela, que são vereadores, deputados e senadores. E lobistas também.E,o que eles realmente pretendem quando defendem adotar o Neoli-beralismo é, como dizia Adam Smith, é pro-mover o seu próprio interesse. Sim. Porém, jamais os interesses dos consumidores ou dos empregados assalariados deles. Eles não querem livre-concorrência de verdade, com-petitividade de verdade. Mesmo porque, não têm condições de competir com empresas dos EUA, Japão, China, Alemanha, etc. Eles querem obrigar os empregados a serem muito

competitivos na disputa por baixos salários. Eles querem funcionários que sejam baratos, de baixo custo para eles. Se eles realmente acreditassem no conceito de meritocracia co-mo afirmam, nós veríamos nas ruas das cida-des, ônibus de boa qualidade, confortáveis e com espaço para todos os passageiros senta-rem, nem veríamos passageiros de pé. Mas o que vemos, é ônibus velhos e desconfortáveis lotados de gente, trafegando pelas cidades. Outro exemplo, serviços de telecomunica-ções. Se eles fossem verdadeiramente libe-rais, várias operadoras disputariam o mesmo mercado com serviços de ótima qualidade de telefonia e internet. Mas, o que há na prática é um monopólio de algumas empresas que são campeãs de reclamações feitas por clien-tes. O ensino escolar, as escolas públicas têm péssima qualidade, salvo louváveis exceções. Porém, as escolas particulares, principalmen-te no ensino médio, são meros cursinhos pré-vestibular, salvo também louváveis exceções. As pesquisas científicas no Brasil, a maioria das pesquisas, são feitas por universidades estatais, públicas. As universidades particula-res não se interessam em incentivar cientis-tas, estão preocupadas com oferta e deman-da do mercado e só. A mentalidade empresa-rial que predomina no Brasil é o Paradoxo de Garschagen. O “Neoliberalismo” que a maiori-a dos grandes empresários brasileiros e dos grandes empresários estrangeiros no Brasil querem é que o Estado pare de proteger os empregados, os funcionários. Eles querem é o fim dos direitos trabalhistas. Porém, eles querem que o Estado permaneça protegendo-os, protegendo o monopólio deles. A evidên-cia do que eu digo é a reação dos taxistas ao Uber e das operadoras de TV a Cabo ao Net-flix. Eles não querem competitividade entre eles mesmo. Mas querem empregados muito competitivos e mais baratos para os bolsos deles. Eles lutam com unhas e dentes por re-serva de mercado, por monopólio. Aqui no Brasil, o Neoliberalismo não vai funcionar por motivos de mentalidade social. Nos Estados Unidos, se você leva o carro para o mecânico consertar, ele vai lhe dizer: “-I will do maybest.(Vou fazer o meu melhor)”. No Brasil, o mecâ-nico vai lhe dizer: “-Vou ver o que dá para eu fazer.”Apesar de ouvir-se muito sobre a satis-fação do cliente ser prioridade, na prática, dei-xar o cliente satisfeito não é prioridade, no Brasil. É um problema cultural. Eu sei que o Estado presta serviços de péssi-ma qualidade ao público, no Brasil. Eu sei que o aparato* estatal brasileiro (União, Estados e Municípios) não atende corretamente as ne-cessidades da sociedade, principalmente da classe menos favorecida. Mas o problema do Estado no Brasil é o sistema no qual ele fun-ciona e o tipo de gente que o comanda, que o controla. O problema no Brasil e em muitos países neste mundo, é de mentalidade. A es-magadora maioria dos políticos brasileiros tem mentalidade patrimonialista, ou seja, tra-tam o patrimônio público como propriedade

particular deles. Já houve Liberalismo no Bra-sil e no mundo em geral. As consequências do Liberalismo clássico foram o advento do Marxismo e do Fascismo, que foram reações ao Capitalismo liberal do passado. Convido você que lê, pesquise sobre o Taylorismo, so-bre os Trade Unions na Inglaterra, sobre o Cartismo e o Ludismo. Assista ao filme “Tempos Modernos” de Charles Chaplin. O problema do Estado, do Poder Público no Brasil é o tipo de gente que nele está, que o faz funcionar como funciona, e as regras de funcionamento do Poder Públ ico (Presidencialismo de Coalizão). Os eleitores têm pouco poder e as pessoas eleitas para o Congresso Nacional têm poder demais, quan-to a relação eleitor-eleito. Além do problema da pseudo-representatividade política. Eu não sou contra pessoas serem ricas. Eu não sou contra pessoas terem propriedade privada. Eu não sou comunista. Eu não sou petista, apesar do meu discurso. O que eu sou é keynesiano e também contra a sacana-gem com a maioria, que é o que se passa no Brasil e em muitos países pelo mundo afora. Para que o Liberalismo, ou melhor, o Neolibe-ralismo realmente funcione em favor da maio-ria, a população tem que estar muito bem al-fabetizada e principalmente em educação fi-nanceira. E uma ética muito elevada. E a res-ponsabilidade por isso, na minha opinião, é do Estado que é um patrimônio comum da sociedade civil. O cidadão comum que não é rico, não aguenta ter que correr atrás de tudo sozinho, é muito caro para o bolso dele ter que bancar tudo por conta própria. Então, o cidadão comum que não é rico necessita do apoio do Estado para ser bem alfabetizado. No meu ponto de vista pessoal, o que defen-do não é Socialismo, nem Comunismo. Sou adepto do Estado do Bem-Estar Social demo-crático, que una propostas capitalistas e soci-alistas. Considero como questão de bom senso e de responsabilidade social. Em que tipo de sociedade civil queremos viver? Numa sociedade de pessoas passando fome? Numa sociedade onde as pessoas precisem come-ter crimes para sobreviver? Ou numa socieda-de segura e civilizada em que as pessoas res-peitem umas às outras e sejam produtivas pa-ra a coletividade, ainda que sejam motivadas por interesses pessoais? O interesse é de ca-da brasileiro. Cada um tem a liberdade de op-tar por aquilo que achar ser o correto ou a melhor opção. Eu apoio o direito de livre-iniciativa do capitalismo, apoio que cada cida-dão deva ter direito de liberdade individual e, entendo que o Estado não pode cometer ex-cessos, não deve ser autoritário. Porém, o in-divíduo convive com uma sociedade, então os direitos sociais/coletivos também devem exis-tir. Acho o Liberalismo econômico ruim? Não! O que eu acho é que a sociedade não está

preparada para o Liberalismo eco-nômico.

João Paulo E. Barros

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Maio 2016 Gazeta Valeparaibana Página 13

Sobre maiorias

Quem disse que a

maioria tem a razão?

Como é confortável para grande parte das pessoas estarem de acor-do com a maioria, e como é desconfortável ter uma opinião própria ou defender posições minoritárias, afinal “a maioria sempre tem razão”. E seria quase irracional não estar do lado do mais forte, mesmo que isso tenha sido alimentado por decisões muito mais emocionais do que lógicas, ou mesmo construída ocultamente para simplesmente conduzir o rebanho, tendencialmente a escolha da maioria parece ab-solutamente correta e democrática, em alguns casos mesmo sendo meramente emocional parece tornar-se lógica. E muitos sentam em frente à televisão nos programas jornalísticos destinados as massas e sentem-se muito bem informados, donos da verdade, simplesmente passam a defender a opinião da maioria, a mesma maioria que por muitos séculos considerou a Terra plana.

Lembremos o teimoso René Descartes que, recusava-se a acreditar em qualquer coisa até que a tivesse verificado pessoalmente, um São Tomé da nossa filosofia. Apesar de ter vivido a mais de trezentos a-nos, sua filosofia merece ainda muita atenção, nela, ele duvida de tu-do literalmente, inclusive da existência de Deus, do homem e de si próprio. Naquela época causou um alvoroço na França religiosa e te-ve que fugir para a Holanda, porém recusando o que os outros bus-cavam vender-lhe como sendo a verdade, e usava dos seus sentidos e experiências para tentar buscar a verdade, até formular o: ‘’Cogito, ergo sum’’, ou seja: ‘’Penso, logo existo.’’ Deixando de ser um espec-tro fantasmagórico, continuou a comprovar ou rejeitar inúmeras ver-dades postuladas, a jogar e a beber vinho caros. Neste processo dei-xou muitas contribuições a matemática e abriu novos caminhos para a filosofia, insistindo em descobrir a verdade por conta própria.

Para Descartes, o truque que ele deixava evidente em seus textos, é o de rejeitar o que lhe dizem, até ter pensado tudo pela própria cabe-ça. Duvidar das verdades afirmadas por autoproclamados especialis-tas, e recusar até a ouvir a opinião da maioria. Registrou, ele que: ‘’Não existe praticamente nada que tenha sido afirmado por um sábio e não tenha sido contraditado por outro.’’ E também: ‘’Contar votos não serve de nada. Em qualquer questão difícil, é mais provável que a verdade seja descoberta por uns poucos do que por muitos.’’ Com

certeza isso fez dele um cidadão arrogante e certamente solitário na-quela época.

Na nossa era democrática, no nosso democrático lado do mundo, tendemos a aceitar sem críticas a opinião da maioria. Se um monte de gente diz que é assim, tudo bem, assim seja. É como nós pensa-mos. Se não temos certeza de alguma coisa, vamos contar os votos. Desde pequenos somos ensinados que a maioria está sempre com a razão. A maioria deve estar certa, mas as probabilidades são contra eles. Costumamos ter o hábito de achar que todas as afirmativas mui-to repetidas são a verdade. Afinal Hitler comentava em seu Mein Kampf, que um dos preceitos judaicos era de que “uma mentira dita mil vezes tornar-se-ia verdade”. Assim: “A previdência vai quebrar an-tes de me aposentar”, ‘’Estamos diante de uma possível bolha imobiliária’’, “O Brasil é o país do futuro”, “Vale mais um pássaro na mão que dois voando” afinal quase todo mundo diz isso. É verdade? Talvez sim, talvez não. Descubra você mesmo. Tire suas próprias conclusões. Não engula o que te dão mastigado. Não seja manobra-do pela maioria, seja você. Quanto ao aforismo “a voz do povo é a voz de Deus“, me pergunto, será que Deus faria tão péssimas esco-lhas? Prefiro pensar como Descartes, em que “é mais provável que a verdade tenha sido encontrada por uns poucos do que por muitos”.

No entanto não é possível descartar a voz do povo em certas situa-ções, mas nunca podemos negar a irracionalidade muito mais fre-quente do que se imagina em decisões coletivas, afinal, Pascal cu-nhou que “o coração tem razões que a própria razão desconhece”, mas será que múltiplos corações são capazes de compor um verda-deiro coração? Sem dúvida, numa perspectiva histórica, a maioria nem sempre tem razão. Portanto levar em consideração a voz do po-vo significa, metaforicamente, prestar atenção aos sinais de fumaça representados pelas manifestações coletivas. Não se pode ignorá-los, por arrogância ou leniência, mas não nos é permitido abdicar do exame de consciência e do juízo fundado na integridade pessoal. Se um livro, um programa de tv, ou um filme são lidos ou vistos por mi-lhões de pessoas, isso não constitui atestado de qualidade em hipó-tese alguma, nem pode fundar um juízo de valor, principalmente se estão aí inseridos governos e mídias. O fenômeno merece ser estu-dado e a mensagem deve ser interpretada. Freud dizia que “às vezes um charuto é apenas um charuto”. E, rigorosamente, tudo o que se pode concluir da visão da fumaça é que onde há fumaça, há fumaça.

Fonte: http://ajudese.com.br/

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O juiz não é nomeado para fazer favores com a justiça, mas para julgar segundo as leis. Platão

DESIGUALDADES

Os contrastes sociais são responsáveis por todas as desigualdades raciais, étnicas e interculturais. Mesmo em tempos pós emancipação quem tem muita melanina, na maioria das vezes, é olhado de canto, é temido. Julgado e culpado. Prostrado à marginalização e banalidade. Jogado à sorte do destino. É triste ver que muitos são obrigados a sobreviver com pouca coisa, enquanto poucos riem e fazem de tudo um

circo, vivendo bem e muito bem, "com muitas coisas"

O problema da desigualdade social não é a falta de dinheiro para muitos, e sim o excesso na mão de poucos.

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Maio 2016 Gazeta Valeparaibana Página 14

Um conto (matéria continuada)

Ao fundo uma oliveira (FINAL) - Para a próxima, tem de parar em frente à caixa amarela, carregar no botão e agarrar num cartão-zinho que ela lhe vai dar. Depois, à saída da auto-estrada, entrega o cartãozinho ao portageiro e paga o valor correspondente.

Dentro do carro, estacionado com zelo junto ao passeio da repartição, Edite sorria e abanava a cabeça em direcção ao senhor do concessionário, agradecendo e voltando a agradecer a informa-ção. José voltou a colocar a boina e virou costas sem uma palavra, humilhado. Por muitos anos que o acompanhasse, por muitas vidas que vives-se a seu lado e por muitas vezes que o visse fa-lhar, aquela mulher jamais compreenderia o que significava para o seu homem que agradecessem por ele - que lhe afagassem a cabeça com um olhar tolerante e depois sorrissem nas suas cos-tas para o cavalheiro do outro lado da barricada, com um trejeito cúmplice de quem diz: "Não li-gue". Edite não o fazia por mal, José sabia-o, mas fazê-lo por ignorância parecia ainda pior aos olhos do marido, o sinal derradeiro de que de nada havi-am valido trinta e oito anos em conjunto se, feitas as contas, tudo voltava sempre ao princípio - tudo tinha de voltar eternamente ao princípio, a estupi-dez como a única condição que nunca muda, ins-talada como uma ténia no intestino mais estreito do medo.

José voltou ao carro, sentou-se com estrondo no banco da esquerda e puxou de repelão o cinto de segurança. Era o seu sinal de desagrado, a bofe-tada que mais uma vez adiaria, evitando aborreci-mentos impróprios para o seu estado de velho - demasiado velho. Edite lançou-lhe um olhar de desprezo, respirou fundo e fez menção de deixar clara a inconveniência daquela reacção. Ainda esboçou uma frase sentenciadora, mas ele lançou depressa o indicador ao rádio, percorreu as pri-meiras seis estações memorizadas e deixou-se ficar nas notícias - notícias e mais notícias, pala-vras e mais palavras que se sobrepusessem ao que quer que aquela mulher pudesse dizer, comi-tivas de Estado que continuassem a chegar às margens do rio e corpos que permanecessem sem aparecer e homens que chorassem as suas perdas mais do que José chorava os seus falhan-ços. Edite conteve o rubor das faces, cruzou os braços e olhou pela janela, onde ao fundo uma

oliveira mirava impávida a marcha lenta do auto-móvel.

- Olha, ainda andam à procura do autocarro - dis-se Edite ao fim de um longo silêncio, para refazer as pazes.

José consultou o relógio: quase meio-dia. Três vozes sobrepunham-se agora na rádio, interrom-pendo-se sem pudor, num frente-a-frente acalora-do sobre a localização da "mais trágica das três viaturas acidentadas", como lhe chamava insis-tentemente o moderador. No terreno, em vários pontos do rio assassino, as buscas digladiavam-se com extraordinárias dificuldades, originadas pelo mau tempo, as fortes correntes e o estado lodoso da água. Em Lisboa, o Governo anunciara a criação de uma Comissão Parlamentar de In-quérito, para "apurar rapidamente as responsabili-dades da catástrofe", como exigira o Presidente da República. Mas a oposição queria mais. Num debate de urgência, o líder de uma bancada mino-ritária arriscou um elogio à reacção do ministro da tutela, que se demitira no momento da desgraça, e o partido caíra-lhe em peso em cima, acusando-o de intrujice com o fito de salvaguardar a sua po-sição para as eleições seguintes, certamente mais próxima do Executivo. Os deputados do Governo aproveitaram a embalagem e, mesmo dali, de ci-ma de uma tribuna a mais de três horas de distân-cia do acidente, atiraram-se ao autarca com juris-dição sobre a margem meridional do rio, eleito por uma cor hostil, lembrando que, depois das lágri-mas vertidas na televisão, defronte de milhões de portugueses, já nem era precisa campanha para assegurar a reeleição no mês de Dezembro. José cerrou as frontes:

- Filhos da puta!

Edite voltou o rosto para ele, levou a mão esquer-da sobre a consola central e deixou-a suspensa no ar, reprimindo um carinho. Depois, virou de novo o olhar para a oliveira lá longe, ainda em guarda pela segurança da viagem, e arriscou:

- Cabrões de merda, digo eu!

José arregalou os olhos, deixou de repente escor-regar o sapato sobre o acelerador, engoliu em se-co e sentiu o carro estrebuchar debaixo dos pés, tremendo de dúvida perante a estrada que se a-longava até uma curva larga no cimo de um mor-ro. Foi questão de segundos. Primeiro sentiu o tremor do automóvel, depois um apito prolongado

junto ao ouvido esquerdo e a seguir um baldeio violento, provocado pelo seu próprio susto, com torção sistemática do volante, para a direita e para a esquerda e novamente para a direita. Um cami-ão passou veloz, prolongando a buzinadela e li-gando os faróis de emergência, numa manifesta-ção de ódio. O separador lateral ameaçou precipi-tar-se sobre o Volkswagen, os pneus chiaram so-bre as bandas sonoras da escapatória, a oliveira lá ao fundo parecia ir e vir com o vento, o carro todo num estertor de imperícia, Edite esticando os braços nas beiras do assento, com o rosto desfi-gurado do pânico.

Em desespero, José meteu de súbito o pé ao tra-vão, acompanhou com o tronco o impulso da pa-ragem inesperada e foi bater com a cabeça no "VW" do volante, deixando-se cair de novo para trás ao último abanão da manobra. Durante muito tempo, ficou ali, sem acção, uma mão dentro da boina, indecisa entre a verificação de ferimentos e o castigo pela sua própria incompetência de pilo-to. Edite, de boca muito cerrada e respiração difí-cil, tinha os braços muito esticados na vertical, as mãos alongadas até aos coses do banco, onde se ajustava a inclinação do passageiro. Carros e ca-miões e motos e camionetas circulavam furiosos, em direcção ao sulco que bordava o outeiro adi-ante, e alguns apitavam repetidamente, em sinal de desprezo por aquele velho infeliz que nem u-nhas tinha para o seu próprio carro novo. Um ido-so a bordo de um Fiat antigo afrouxou de guincho, abanando o braço direito em oferta de auxílio, mas José esticou o indicador e fez-lhe que não, que estava tudo bem consigo e com a mulher e que a viagem prosseguiria em breve, assim o sol abrandasse.

Edite olhou o marido, colocou uma mão no peito e conteve as palavras. José consultou de novo o relógio e olhou para a mulher, despojado:

- Vamos antes pela Estrada Nacional.

Devagar, o Volkswagen arrancou, piscando com cuidado os faróis da esquerda, vogou por alguns minutos, em silêncio, e apontou à primeira saída à direita. Edite pôs a mão sobre a do marido, repou-sada em cima da alavanca das velocidades:

- Cabrões de merda!

Joel Neto Lisboa [email protected]

Numa sociedade movida à dinheiro e hipocrisia, encontramos pessoas propensas aos mais diversos rumos incluindo-se a devassidão. Cuidado com quem andas, pois tua companhia sumariza quem és. Não tenha medo de lutar pelo que acredita, apenas seja você mesmo nos mais divergentes momentos que possam surgir. Fazendo isto, certamente afetará os que estão à tua volta que não gostam do que veem. Saberão fazer a triagem do joio e do trigo. Só tome cuidado com o lado com que ficará, pois uma escolha errada pode te afetar drasticamente. Pense no seu futuro. Sua escolha hoje, será o seu futuro amanhã. Seja feliz, haja com honestidade sempre. Mas acima de tudo, cuidado com o que te tornarás!

Filipe de Sousa

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Mantido o texto original em português de Portugal

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Maio 2016 Gazeta Valeparaibana Página 15

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EUROPA hoje e ontem (artigo continuado)

Por: Michael Löwy Sociólogo, é nascido no Brasil, formado em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, e vive em Paris desde 1969. Diretor emérito de pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique

(CNRS). Homenageado, em 1994, com a medalha de prata do CNRS em Ciências

Sociais, é autor de Walter Benjamin: aviso de incêndio (2005), Lucien Goldmann ou a dialética da totalidade (2009), A teoria da

revolução no jovem Marx (2012) e organizador de Revoluções (2009) e Capitalismo como religião (2013), de

Walter Benjamin

Capitalismo e democracia na Europa

PARTE V

Grécia ficava reservada para o imperialismo inglês, como potencial plataforma de ataque militar ao Oriente Médio, dividido ainda em mandatos britânico e francês, obtidos depois da Primeira Guerra Mundial. As pretensões do imperialismo norte-americano ao aceitar a Europa Oriental como uma zona de influência soviética ainda não eram claras. E tampouco as de Stalin.

Os objetivos e as certezas foram se desenvolvendo aos poucos e, certamente, o esmagamento da revolução na Grécia foi um momento chave, po is aconteceu precisamente quando os EUA decidiram retornar à Europa. Foi exatamente quando Harry Truman expôs a teoria de contenção (containment) da União Soviética, que deu início à “guerra fria”.

Entre 1941 e 1944, durante a ocupação nazista na Grécia, haviam surgido vários grupos de resistência de diferentes filiações políticas – de monarquistas até comunistas – com predomínio da Frente de Libertação Nacional (EAM), organizada pelo KKE (Partido Comunista Grego). A burguesia grega se agrupava em torno do rei George II, que se encontrava no exílio, enquanto as organizações de esquerda haviam formado um governo clandestino, apoiando-se sobre a bem-sucedida organização da ELAS, que tinha o maior peso militar na resistência antifascista. A EAM, controlada pelo KKE, contava com aproximadamente dois milhões de membros em 1944. A ELAS, seu braço militar, fora fundada em fevereiro de 1942.

Devido a isso: “No início de setembro de 1943, Churchill visualizou a possibilidade de uma intervenção das tropas britânicas para impor um governo que entrasse em acordo com os desejos e interesses ingleses. Mas, para realizar este plano, Churchill precisava da concordância de seus dois parceiros na guerra, Roosevelt e Stálin. Oferecendo concessões a Stálin em outras partes dos Bálcãs, particularmente na Romênia, Churchill tentava manejar a Grécia livremente”.[13] Grécia, chave e porta de acesso ao Mediterrâneo oriental, era

estrategicamente mais importante para os ingleses e para o imperialismo em geral. Em abril de 1944, os partidos monarquistas formaram, tardiamente, um governo grego no exílio no Cairo, sob os auspícios dos aliados ocidentais. Este governo não foi reconhecido pela resistência grega, “mais eficaz do que os movimentos de resistência existentes na França e na Itália (que eram mais conhecidos que o movimento grego) – apenas em 1943-1944 a resistência grega matou o feriu mais de seis mil soldados alemães”.

Em maio do mesmo ano, representantes dos outros partidos políticos gregos e dos grupos de resistência se reuniram no Líbano, visando chegar a um acordo sobre um governo de “unidade nacional”. Apesar da EAM acusar às outras forças gregas de colaborar com o inimigo nazista, e apesar das acusações contra a EAM-ELAS de cometer assassinatos, roubos e banditismo (o que era a verdade, havida conta da direção stalinista das forças irregulares, que semeavam o terror nas aldeias e vilarejos gregos), foi alcançado um acordo formando um governo de união nacional. Dos 24 ministros designados, seis eram filiados à EAM. O acordo foi possível graças às instruções dadas pela URSS ao KKE para que evitasse ameaçar a “união dos aliados”, ou seja, defender um programa de revolução social. No verão de 1944, já era evidente que os alemães logo estariam fora da Grécia, pois as forças militares soviéticas já avançavam pela Romênia em direção à Iugoslávia. O governo grego no exílio, liderado por George Papandreou, transferiu-se para Caserta, na Itália, preparando-se para voltar à Grécia. Conforme o “Acordo de Caserta”, firmado em setembro de 1944, todas as forças da resistência grega ficariam sob o comando do general Ronald Scobie, comandante das tropas inglesas. Na Bélgica, na Noruega e na Grécia, os “governos reais”, as monarquias, exilados em Londres, retornaram a seus países junto com as tropas aliadas.

Após a evacuação alemã de Atenas a 12 de outubro de 1944, a ELAS se apossou do país em nome do governo Papandreou, que chegou a Atenas no dia 18 seguindo o exército britânico de Scobie. Em dezembro de 1944, após o fim da ocupação nazista na Grécia (em alguns casos, como em Creta e outras ilhas do Mar Egeu, guarnições alemãs permaneceram sob o controle até maio e até junho de 1945, quando Alemanha já havia assinado a capitulação em Berlim), o governo monárquico no exílio retornou. Apesar da forte inserção da EAM na Grécia, os monarquistas, com a ajuda do Reino Unido, conseguiram manter sob o seu controle as cidades de Atenas e Tessalônica. Os comunistas controlavam praticamente todo o restante do país. Logo depois da derrota e da evacuação (expulsão) nazista do país, na Grécia foi gritante a contradição entre as decisões tomadas pelos aliados e as tomadas pela ELAS (Exército Democrático da Grécia), que aqueles se esforçavam em aniquilar. Em vez de integrar a ELAS no novo exército,

Papandreou e Scobie exigiram o desarmamento das forças de guerrilha “irregulares”. Os seis membros da EAM do novo gabinete demitiram-se em protesto. Houve confrontos violentos em Atenas depois de 200.000 marcharem contra essas exigências. A Lei Marcial foi declarada a 5 de dezembro, dois dias depois do massacre de Syntagma. O general Scobie, em superioridade militar, aceitou um cessar-fogo em troca da retirada da ELAS de Atenas.

Finalmente chegou-se a um acordo, o “Pacto de Varkiza”, assinado pelos partidos políticos gregos, em fevereiro de 1945, sob a pressão britânica e da URSS. O acordo previa a completa desmobilização da ELAS e de todos os grupos armados resistentes, a anistia para crimes políticos, a realização de um referendo para decidir o futuro da monarquia e eleições legislativas: “A resistência grega teve o mesmo caráter revolucionário da iugoslava e adquiriu um vigor comparável ao desta. Em finais de 1944, era praticamente a senhora do país. A direção do PC grego, porém, não soube ter a mesma firmeza, diante das pressões de Moscou, dos iugoslavos. Fez graves concessões à política de ‘união nacional’ e aceitou compromisso com os aliados que facilitaram o êxito da intervenção armada inglesa contra a revolução grega. O acordo Churchill-Stálin, de outubro de 1944, encarregou-se do resto”. Enquanto os aviões ingleses ainda metralhavam a população ateniense, “o governo soviético nomeava um embaixador junto ao governo monárquico grego. E, na Conferência de Yalta, mal terminado o combate ent re os intervencionistas e os resistentes, Stálin declarava: ‘Confio na política do governo britânico na Grécia’. O acordo de Varkiza foi utilizado pelos imperialistas ingleses e a reação grega para restabelecer o poder monárquico e desencadear uma repressão terrorista contra as forças operárias e democráticas”.

O regente da Grécia, Arcebispo Damaskinos, e os monarquistas, concordaram em realizar as eleições legislativas sob a supervisão das tropas aliadas. O KKE continuaria legal. Em abril de 1945 seu líder, Nikos Zachariadis, retornou do campo de concentração de Dachau, na Alemanha, e declarou que o objetivo do KKE era uma “democracia popular” a ser obtida por meios pacíficos. O Pacto de Varkiza, imposto por Stalin, significou uma grande derrota política, mais do que militar, para o KKE. Segundo o pacto, só os crimes políticos seriam anistiados. Muitos atos de resistência cometidos durante a ocupação alemã foram considerados crimes comuns e, portanto, excluídos da anistia. Em consequência, 40 mil comunistas ou antigos membros da ELAS foram presos: muitos partisans veteranos esconderam suas armas nas montanhas e cinco mil deles escaparam para a Iugoslávia.

CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO

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Maio 2016

Edição nº. 102 Ano VIII

Sustentabilidade Social e Ambiental - Educação - Reflorestamento - Desenvolvimento Sustentável - Cidadania

Mantido o texto original em português de Portugal

As «Maias» e os «Maios»

No mês de Maio

Ernesto Veiga de Oliveira, filósofo, natural da cidade do Porto 1910/1990 descreve com rigor esse costume do povo português que tem algumas nuances regionais.

Segundo ele, o 1º de Maio é o Dia das Maias e comemora-se em Portugal, de um modo ge-ral, pela oposição das «Maias», ou seja, de giestas ou flores, sob diversas formas, em portas e janelas e noutros locais. Ao contrário de outras regiões, em Trás-os-Montes surge ao lado de outras práticas, que são indepen-dentes mas de significações convergentes.

Na faixa ocidental atlântica do País, não exis-te qualquer prática alimentar associada. Mas em Trás-os-Montes e nas Beiras as «Maias» estão associadas às castanhas, que muita gente guarda de propósito para esta data. Se-gundo Jorge Lage, no 1º de Maio devem-se comer castanhas. Caso contrário, ao passar-se por um burro, este atira-se à pessoa e morde-a Diz o ditado «quem não come casta-nhas no 1º de Maio, monta-o o burro». Isto porque Maio é o mês dos burros, como afirma o povo.

O uso de comer castanhas secas em Maio, terá a ver com a tradição muito antiga de no 1º dia o chefe de família ir à fonte e esconju-

rar ou afastar com favas pretas os espíritos (o «Maio») da sua família. Daí a expressão «Vai à feira e traz-me as maias (as castanhas pila-das)».

De um modo geral, o cenário das várias cele-brações cíclicas compreende cerimónias de véspera. A colocação de giestas faz-se no dia 30 de Abril para que as casas estejam floridas no momento em que começa o dia, para o «Maio», o «Carrapato» ou o «Burro» não en-trarem.

O «Maio» ou o «Burro» são entidades noci-vas, cujo malefício se pretende conjurar com ma oposição de flores ou a manducação de certas espécies.

Em Trás-os-Montes, além de se enfeitarem as portas das casas com flores de giestas, as raparigas adornam um menino que dizem repre-sentar o “Maio-Moço” e passeiam-no pelas ruas com grande ruído alegre, cantando e bailando em volta dele.

A origem da tradição das Maias perde-se no tempo e pode ter várias explicações. Segun-do alguns, a Maia era uma boneca de palha de centeio, em torno do qual havia danças toda a noite do primeiro dia de Maio. Por ve-zes, podia ser também uma menina de vesti-do branco coroada com flores, sentada num trono florido e venerada, todo o dia, com dan-ças e cantares.

Esta festa, de reminiscências pagãs, foi proi-bida várias vezes, como aconteceu em Lisboa no ano de 1402, por Carta Régia de 14 de A-gosto, onde se determinava aos Juízes e à Câmara "que impusessem as maiores penali-dades a quem cantasse Maias ou Janeiras e outras coisas contra a lei de Deus...". Ainda segundo outros, o nome do mês de Maio terá tido origem em Maia, mãe de Mercúrio, e a ele está ligado o costume de enfeitar as jane-las com flores amarelas.

Seja como for, todos estes rituais pagãos es-tavam ligados ao rito da fertilidade para com o novo ciclo da natureza, à celebração da Pri-mavera ou ao início de um novo ano agrícola.

Mais tarde, houve necessidade de lhe incutir algum sentido religioso, promovendo a sua

ligação à Festa da Santa Cruz ou ao Corpo de Deus. Esse facto pode justificar a lenda do Alto Minho, segundo a qual Herodes soube que a Sagrada Família, na sua fuga para o Egipto, pernoitaria numa certa aldeia. Para garantir que conseguiria eliminar o Menino Jesus, Herodes dispunha-se a mandar matar todas as crianças.

Perante a possibilidade de um tão significati-vo morticínio, foi informado, por um outro "Judas", que tal poderia ser evitado, bastando para isso, que ele próprio colocasse um ramo de giesta florida na casa onde se encontrava a Sagrada Família, constituindo um sinal para que os soldados a procurassem e consumas-sem o crime...

A proposta do "Judas" foi aceite e Herodes tratou de mandar os seus soldados à procura da tal casa. Qual não foi o espanto dos solda-dos quando, na manhã seguinte, encontraram todas as casas da aldeia com ramos de gies-ta florida à porta, gorando-se, assim, a possi-bilidade do Menino Jesus, ser morto.

Talvez resultado desta lenda, hoje em dia ain-da é possível observar em algumas zonas do nosso país, a colocação de ramos de giestas em flor, ou até mesmo coroas feitas de ramos de giestas, conjuntamente com outras flores e enfeites coloridos, nas portas e janelas das casas ou nos automóveis, na noite de 30 de Abril para 1 de Maio.

Nos variados aspectos, por vezes tão distin-tos, das celebrações do 1º de Maio, ter-se-ia pois operado um sincretismo de práticas e crenças, talvez de origens diferentes mas to-das convergentes, recobrindo a obscura ideia, que subsiste no espírito do Homem, da ne-cessidade de desencadear formas efectivas de protecção e de esconjuro a opor à insegu-rança da vida e à omnipresente ameaça do mal.

Autor: Alberto Blanquet Portugal

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