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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE BIBIOTECONOMIA E COMUNICAÇÃO DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO ANELISE FROZZA A PRESENÇA DA MULHER NA COBERTURA DE FUTEBOL DA RBS TV Porto Alegre 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE BIBIOTECONOMIA E COMUNICAÇÃO

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO

ANELISE FROZZA

A PRESENÇA DA MULHER NA COBERTURA DE FUTEBOL DA RBS TV

Porto Alegre

2008

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ANELISE FROZZA

A PRESENÇA DA MULHER NA COBERTURA DE FUTEBOL DA RBS TV

Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado à Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo.

Orientadora: Profª Drª Sandra de Fátima Batista de Deus

Porto Alegre

2008

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ANELISE FROZZA

A PRESENÇA DA MULHER NA COBERTURA DE FUTEBOL DA RBS TV

Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado à Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo.

Conceito final:

Aprovado em ____ de _____________ de ______

BANCA EXAMINADORA:

______________________________________________

Prof. Dr. Flávio Antônio Camargo Porcello

__________________________________________

Prof. Me. Mário Villas-Boas da Rocha ______________________________________________

Orientadora: Profª Drª Sandra de Fátima Batista de Deus

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus entrevistados, pela

disposição que tiveram em ajudar-me na

confecção do trabalho.

À minha orientadora, Sandra de Deus, pela

ajuda e apoio durante todo o trabalho.

Agradeço aos meus amigos e companheiros de

jogos de futebol, por sempre me convidarem

para ir às partidas.

Aos meus amigos de trabalho, pela motivação

e apoio durante os últimos meses.

Aos amigos que fiz durante a faculdade e

àqueles que cultivo desde a infância.

Ao meu namorado, pela ajuda incondicional.

Às minhas tias de Planalto, por serem minhas

segundas mães.

Ao meu pai que, mesmo longe, ainda cuida de

nossa família e me envia forças para lutar.

À minha mãe, por ser um exemplo de mulher e

por me ajudar em todos os momentos.

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo mostrar a inserção da mulher na cobertura de futebol

da RBS TV, as dificuldades enfrentadas e os casos de preconceito sofrido pelas jornalistas

esportivas ao atuarem em um ambiente tipicamente masculino. Para isso, mostra-se, através

de um breve histórico, o espaço conquistado pelas mulheres na programação da televisão, no

telejornalismo e no telejornalismo esportivo, em especial da RBS TV. Por meio de entrevistas

relata-se como se dá a contratação de mulheres para a área esportiva da RBS TV, quem são as

jornalistas que já trabalharam ou ainda trabalham na cobertura de futebol da emissora e quais

são as principais dificuldades sofridas pelas repórteres.

Palavras-chave: Televisão – Futebol – Mulher - Telejornalismo esportivo

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ABSTRACT

This work has as objective showing the introduction of the women in the coverage of

soccer events by RBS TV, the difficulties faced and the bias cases suffered by the sportive

journalists as working in an environment typically consisted by men. For this, by showing a

brief historic, the space conquered by the women in the grade of television, in the television

journalism and sportive television journalism, especially by RBS TV. Through interviews are

shown how the women join in the sportive area in RBS TV, who are the journalists that have

already worked or still work in the coverage of soccer events by this broadcaster and which

are the main difficulties faced by the reporters.

Key words: Television – Soccer – Women - Sportive Television Journalism

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 08

2. A MULHER NO JORNALISMO DE TELEVISÃO ................................................12

2.1 O SURGIMENTO DA TELEVISÃO E A MULHER NO TELEJORNALISMO

DOS ESTADOS UNIDOS.......................................................................................................13

2.2 A TELEVISÃO NO BRASIL E A PARTICIPAÇÃO DA MULHER NA

PROGRAMAÇÃO...................................................................................................................16

2.3 O TELEJORNALISMO BRASILEIRO E A INSERÇÃO DA MULHER NOS

NOTICIÁRIOS.........................................................................................................................20

3. O FUTEBOL E A MULHER NA COBERTURA DE JOGOS................................25

3. 1 O FUTEBOL...................................................................................................................26

3. 2 FUTEBOL NO BRASIL................................................................................................28

3. 3 FUTEBOL FEMININO..................................................................................................30

3. 4 COBERTURA DE FUTEBOL NO RÁDIO...................................................................31

3. 5 A MULHER NA COBERTURA ESPORTIVA DE RÁDIO........................................32

3.6 O JORNALISMO ESPORTIVO DE TELEVISÃO NO BRASIL E A

PARTICIPAÇÃO DA MULHER NA COBERTURA ESPORTIVA......................................34

4. A RBS TV E SUA PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA...............................................38

4.1 SURGIMENTO DA RBS TV.........................................................................................38

4.2 A MULHER NA PROGRAMAÇÃO DA RBS TV.......................................................41

4.3 PROGRAMAÇÃO DA RBS TV....................................................................................43

4.4 PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA DA RBS TV.............................................................45

4.5 MULHERES NA PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA.....................................................47

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5. A MULHER NA COBERTURA DE FUTEBOL DA RBS TV ................................49

5.1 CONTRATAÇÃO DE MULHERES.............................................................................49

5.2 A PIONEIRA..................................................................................................................52

5.3 AS ATUAIS....................................................................................................................54

5.3.1 Eduarda Streb..............................................................................................................55

5.3.2 Débora de Oliveira.......................................................................................................56

5.4 DIFICULDADES E PRECONCEITOS........................................................................57

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................62

REFERÊNCIAS...........................................................................................................65

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1 INTRODUÇÃO

Torcedora desde criança, o interesse pelo futebol nasceu na infância, através,

principalmente, de meu pai, que assistia a inúmeras partidas transmitidas pela TV na sala de

nossa casa. Mesmo sem nunca ter jogado futebol, as vitórias de meu time do coração e os

jogos transmitidos pela televisão despertaram meu interesse pelo esporte e, também, minha

simpatia.

A simpatia transformou-se em algo maior quando entrei, pela primeira vez, em um

estádio, quase lotado, com a torcida cantando, manifestando sua paixão pelo time. Desde

então, meu interesse pelo futebol só aumentou e com ele, o interesse pelo jornalismo

esportivo também. Passei a acompanhar com afinco a cobertura de jogos, tanto pela televisão,

quanto pelo rádio, e foi durante esse período que surgiu a idéia de fazer meu trabalho de

conclusão sobre jornalismo esportivo.

Ao acompanhar o programa Toque de Bola, da Band, deparei-me, em determinado

momento, com uma mulher na bancada, participando, com outros quatro ou cinco homens das

discussões sobre os times gaúchos. A presença dela, Débora de Oliveira, no programa, trouxe-

me várias dúvidas e interrogações. Como ela chegou ali? Será que ela entende mesmo do

assunto? Por que será que foi contratada? Como os jogadores a tratam? Será que sofre

preconceito? E o telespectador, o que acha disso?

Procurando uma resposta para essas perguntas, decidi uni-las ao meu gosto pelo

jornalismo esportivo e pelo futebol e encontrei, depois de muito pensar sobre o assunto, o

objeto de estudo de meu trabalho de conclusão: a inserção e aceitação da mulher na cobertura

de futebol da televisão. Como analisar todas as mulheres que participam desse tipo de

cobertura esportiva no Brasil seria um tanto difícil, optei por recortar minha amostra apenas

para o Rio Grande do Sul. Ao perceber, contudo, que no Estado apenas um emissora faz, com

freqüência, transmissões de jogos de futebol e que, além disso, ela é a única a ter um histórico

de repórteres mulheres que participaram e ainda participam da cobertura de jogos, recortei

novamente minha amostra para a RBS TV. Ao chegar na RBS TV, obtive, realmente, o objeto

de estudo de meu trabalho: a presença da mulher na cobertura de futebol da RBS TV.

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Devido à escassa bibliografia sobre o tema, a metodologia utilizada no trabalho

concentrar-se-á em entrevistas feitas, pessoalmente ou por e-mail, com as repórteres que já

trabalharam, ou trabalham, no jornalismo esportivo da RBS TV e com o chefe de esportes da

emissora. Nos quatro capítulos que serão desenvolvidos no trabalho, a pesquisa bibliográfica

será utilizada em três, nos quais serão mostrados, para situar os leitores, pequenos históricos

da televisão, do telejornalismo, do futebol e da RBS TV, e a inserção da mulher em todos

eles. No terceiro e no último capítulo serão utilizadas as entrevistas.

O primeiro capítulo compreenderá um breve histórico sobre a televisão construído

através de uma pesquisa bibliográfica a partir de autores como Sebastião Squirra, Fernando

Morais, João Lorêdo, Guilherme Jorge de Rezende, entre outros. Nele são mostrados o

surgimento do aparelho nos Estados Unidos e a inserção da mulher no telejornalismo do país,

o qual figura como um dos pioneiros no uso e aperfeiçoamento da televisão. Serão mostradas,

também, a chegada da TV ao Brasil e a participação da mulher na programação da mesma e,

ainda, o telejornalismo brasileiro e a utilização da jornalista mulher nas reportagens e

apresentação de telejornais. Em todas as partes serão relatadas as dificuldades sofridas pelas

mulheres na conquista de espaços e sua valorização perante o telespectador.

No segundo capítulo, utilizando autores como Celso Unzelte, Luiz Artur Ferrareto e

Rixa, um breve histórico do futebol será apresentado com o intuito de mostrar a dominação

masculina do esporte e a lenta abertura dada ao sexo feminino para a prática do mesmo.

Através desse viés, mostrar-se-á o início das transmissões de jogos pelo rádio e a participação

da mulher nesse tipo de cobertura. Mostrar-se-á, ainda, o início das transmissões televisivas

de partidas de futebol e a participação da mulher na reportagem esportiva e na cobertura de

jogos.

O terceiro capítulo compreenderá a RBS TV, sua história, a inserção da mulher na

programação, sua programação, a programação esportiva da emissora e a mulher na

programação esportiva. Para esse capítulo serão utilizados como fontes o autor Lauro

Schirmer, o site da RBS TV e ainda uma entrevista com o chefe de esportes da emissora.

No quarto capítulo será relatado, através da entrevista com o chefe de esportes da

RBS TV, como se dá a contratação de mulheres para trabalharem nos esportes da emissora.

Serão mostradas, ainda, as cinco repórteres que já trabalharam, ou ainda trabalham, na

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cobertura de futebol da RBS TV, as dificuldades que enfrentaram e o preconceito sofrido nos

gramados pelo fato de serem mulheres.

A pesquisa sobre a presença da mulher na cobertura de futebol da RBS TV se

justifica por, não somente deixar um registro que possa servir de base para outros estudos

sobre o tema, mas também por retratar um momento vitorioso para a jornalista mulher,

sobretudo no jornalismo esportivo, área em que ela, cada vez mais, conquista novos espaços e

mostra sua competência.

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2 A MULHER NO JORNALISMO DE TELEVISÃO

Uma mulher como âncora de um telejornal. Nos dias atuais, essa frase mostra uma

situação normal, que não causa espanto, tampouco estranheza. Há seis décadas atrás, no

entanto, nos primeiros anos da TV no Brasil, seria um tanto absurdo imaginar uma mulher

comandando um telejornal.

O espaço ocupado pela mulher em muitas profissões nas décadas de cinqüenta e

sessenta era praticamente nulo. No telejornalismo a realidade também era essa. Apresentar

telejornal, fazer reportagens, dirigir programas; isso era coisa para os homens da época. Às

mulheres cabiam outras funções, como atuar em novelas, cantar em programas musicais ou

trabalhar como garotas-propaganda. A televisão ganhava um brilho especial com as lindas

mulheres que trabalhavam nesse tipo de programa. Com suas vozes suaves e rostos perfeitos,

elas ajudavam a embelezar, a dar um charme a mais para a tela da televisão.

Aos poucos elas puderam exercer outras funções na TV, muitas alcançaram o sucesso

apresentando programas de entretenimento e programas direcionados a mulheres.

Pouquíssimas, no entanto, não se contentaram em trabalhar apenas nesse tipo de programa e

lutaram para ocupar funções exercidas, majoritariamente, pelo sexo masculino, como

repórteres de telejornais, apresentadores de programas de entrevistas e comentaristas de

política.

Enquanto na década de setenta as mulheres já conquistavam seu espaço no

telejornalismo dos Estados Unidos, no Brasil elas ainda encontravam dificuldades para chegar

ao mesmo patamar das norte-americanas. Mesmo com alguns exemplos de mulheres que

apresentavam noticiários ou eram repórteres da época, os principais telejornais brasileiros,

como o Jornal Nacional, ainda mantinham o sexo masculino como padrão na apresentação e

no comando do programa.

A liberdade que as mulheres foram conquistando ao longo dos anos, somada ao

sucesso na conquista de novos espaços em várias profissões antes exercidas somente por

homens, possibilitou a elas mostrarem seu trabalho e sua capacidade também no

telejornalismo. O preconceito foi deixado de lado e as mulheres, aos poucos, conquistaram

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posições importantes em telejornais, como âncoras, apresentadoras, repórteres e editoras de

importantes e renomados noticiários da TV brasileira.

2.1 O SURGIMENTO DA TELEVISÃO E A MULHER NO TELEJORNALISMO DOS

ESTADOS UNIDOS

O surgimento da televisão está associado a dois engenheiros, o russo erradicado nos

Estados Unidos Vladimir Kozma Zworykin, responsável pela invenção do iconoscópio, um

tubo eletrônico de imagens, em 1923, e o também russo e morador do mesmo país, Philo

Farnsworth, responsável pela descoberta, em 1927, de um sistema de varredura de imagens

por raios catódicos (Dallago, 2005). Zworykin, através de seu invento, foi convidado pela

RCA pra chefiar a equipe que produziria o primeiro tubo de televisão, que passou a ser

fabricado em escala industrial apenas em 1945.

Na Alemanha, em março de 1935, foi lançada oficialmente a primeira televisão. Em

novembro do mesmo ano, a França também apresentou seu aparelho, sendo a Torre Eiffel o

posto emissor. Em 1936, na cidade de Londres, foram utilizadas imagens com definição de

405 linhas e lá foi inaugurada a estação regular da BBC. Na Rússia, a televisão começou a

funcionar em 1938 e nos Estados Unidos, em 1939, através da National Broadcasting

Company (NBC), que transmitiu, ao vivo, a abertura da Feira Mundial de Nova York, para

cerca de 200 aparelhos localizados na região metropolitana da cidade.

As transmissões regulares, contudo, só começaram em 1939 nos Estados Unidos,

através da NBC. No mesmo ano começaram a ser vendidos ao público os primeiros aparelhos

de televisão. Os Estados Unidos deram um grande salto à frente do resto do mundo na

implantação da televisão. Enquanto os países europeus lutavam na Segunda Guerra Mundial,

os norte-americanos aprimoravam tecnologias e investiam na fixação e aprimoramento da

televisão no país.

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Em 1941, os Estados Unidos deram início à TV comercial, com 17 emissoras ligadas

ao telespectador através dos quase dez mil receptores domésticos existentes em todo o país.

Devido à Segunda Guerra, o número de emissoras em funcionamento baixou para seis. O

conteúdo apresentado na programação era exclusivamente sobre a defesa civil, em

transmissões que tinham duração de quatro horas por semana. A operação de emissoras

comerciais em tempo integral foi dada no mesmo ano, pela Federal Communications

Commission – FCC, o órgão regulamentador das comunicações dos Estados Unidos (Squirra,

1995).

A televisão em cores firmou-se em 1946, através da RCA, depois de uma longa

disputa com a concorrente CBS. A CBS demonstrou publicamente, alguns meses antes, seu

particular sistema de cores para a televisão, inicialmente bem aceito pela crítica por

apresentar uma qualidade satisfatória. O sistema, porém, tinha a particularidade de não ser

compatível com os aparelhos de TV já vendidos e existentes no mercado dos Estados Unidos,

o que fez com que a CBS perdesse a disputa pela adoção da TV em cores.

Em 1946, a televisão possuía dois programas jornalísticos, o The Esso Newsreel,

transmitido pela NBC aos domingos, segundas e quintas-feiras, que apresentava em quinze

minutos notícias em forma de filme. E o The CBS-TV News, pela CBS, transmitido

inicialmente nas noites de quinta-feira e algum tempo depois, também aos sábados.

Investindo cada vez mais em novas tecnologias, os Estado Unidos, em 1947,

conseguiram ligar as costas leste e oeste do país através de cabos coaxiais e microondas,

fazendo com que as emissoras pudessem criar Redes Nacionais. O problema que surgiu após

a criação dessas Redes foi o que transmitir durante todo o tempo disponível que as emissoras

possuíam. A primeira solução foi preencher os horários com programação esportiva. Os

canais de televisão usavam cerca de vinte e nove horas semanais para transmitir esportes

como luta livre, futebol, boxe, corrida de cavalo e beisebol (Dallago, 2005).

A programação inicial da televisão dos Estados Unidos, além dos noticiários,

concentrou-se em programas de variedades, como o primeiro programa trazido do rádio, o

The Original Amauter Hour, da rede independente DuMont, e o de maior sucesso em 1948, o

Texaco Star Theater, da NBC, que sob o comando de Milton Berlem atingiu a preferência de

95% de todas as residências com aparelhos ligados. Esses primeiros programas de variedades

abriram espaço para que outros surgissem, e em 1948, já existiam dezenove em toda a

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programação das Redes de TV americanas, que no mesmo ano somavam quatro, a NBC,

CBS, DuMont e ABC (Squirra, 1995).

Entre os anos de 1948 e 1952, o número de aparelhos em uso cresceu de 250 mil para

17 milhões. Somente a partir de 1951 as empresas de televisão começaram a ter lucros depois

de anos de prejuízos.

Nos Estados Unidos, a inserção da mulher no jornalismo televisivo foi lenta e a

resistência à entrada do sexo feminino nesse meio, um tanto preconceituosa. Segundo estudo

realizado pelo Departamento de Comunicação da Igreja Unida de Cristo em 1972, metade das

estações de televisão dos Estados Unidos não empregava mulheres como âncora, repórter ou

produtor. As primeiras mulheres a vencerem o preconceito foram Helen Hiett e Mary Marvin

Breckinridge, ao provarem à sociedade que podiam cobrir uma guerra ou relatar uma história

qualquer como seus parceiros homens (Squirra, 1995).

A década de setenta foi um marco para o ingresso de mulheres no jornalismo

televisivo dos Estados Unidos. Várias jornalistas se destacaram na televisão norte-americana

durante o período e provaram que a mulher poderia assumir qualquer função no

telejornalismo. Pauline Frederick foi umas delas. Convidada a apresentar um programa para

mulheres na Rede ABC, destacou-se no meio televisivo e tornou-se, em 1946, após convite da

mesma emissora, a primeira correspondente do sexo feminino no meio jornalístico.

Conquistou uma carreira brilhante no telejornalismo e, em 1976, foi a primeira mulher a

moderar um debate presidencial nos Estados Unidos.

Além de Pauline, outras mulheres se destacaram, alcançando sucesso e prestígio no

telejornalismo da época e introduzindo o sexo feminino em diversas funções. Liz Trotta foi a

primeira jornalista mulher a assumir a função de correspondente estrangeira, em 1965, na

NBC. A primeira mulher a comandar um cargo de alta responsabilidade em uma rede de TV

foi Marlene Sanders, da ABC, em 1976, quando assumiu a vice-presidência e a diretoria de

documentários para a televisão. Bárbara Walters, além de ser uma das mais conhecidas e

importantes apresentadoras do telejornalismo norte-americano, foi a primeira mulher a co-

ancorar um telejornal em 1976.

Em 1988, segundo relatório da Federal Communications Commission – FCC, apesar

do número de mulheres ter crescido no meio jornalístico de TV, as representantes do sexo

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feminino ocupavam, naquele ano, somente 31, 9% dos postos nos jornais eletrônicos dos

Estados Unidos (Squirra, 1995). Na década de noventa, segundo a Associação de Diretores de

Jornalismo em Rádio e Televisão (RTNDA), dos Estados Unidos, 44% dos empregos no

jornalismo televisivo eram ocupados por mulheres (Roesler, 1996).

2.2 A TELEVISÃO NO BRASIL E A PARTICIPAÇÃO DA MULHER NA

PROGRAMAÇÃO

A história da televisão brasileira está diretamente associada a um nome. Assis

Chateaubriand. Foi ele o responsável por trazer ao Brasil a primeira emissora de televisão.

A inauguração da TV Tupi, ou PRF-3-TV Tupi, como inicialmente foi chamada,

ocorreu no dia 18 de setembro de 1950. Com a inauguração prevista para acontecer às 19

horas, uma câmera quebrada atrasou em uma hora e meia a apresentação inicial. Das três

câmeras compradas com as trinta toneladas de equipamentos avaliados em cinco milhões de

dólares vindos dos Estados Unidos, uma delas parou de funcionar momentos antes da

inauguração, e graças às outras duas câmeras e à improvisação dos responsáveis pela

transmissão entrou no ar, ao vivo, a TV Tupi de São Paulo.

Um mês antes da inauguração, praticamente não existiam aparelhos de televisão no

país, exceto pouquíssimos que haviam sido usados, alguns meses antes, na transmissão da

inauguração formal do Museu de Artes de São Paulo. Assis Chateuabriand, alertado que se

não houvesse aparelhos não haveria telespectadores, tratou de exportar cerca de duzentos

aparelhos de televisão dos Estados Unidos, de forma ilegal, contrabandeados, para não perder

tempo com a burocracia do processo de importação, que levaria em torno de dois meses.

Desses duzentos aparelhos, metade foi distribuído para personalidades e empresários que

financiavam a implantação da televisão e a outra metade foi colocado à venda nas lojas.

Um mês antes do dia D, o engenheiro norte-americano Walther Obermüller, diretor da NBC-TV, veio ao Brasil para supervisionar a inauguração e as primeiras semanas de funcionamento da Tupi. Logo ao chegar, a resposta que recebeu à pergunta feita a Alderigui e a Costa e Lima quase fez tomar o avião de volta para Nova York. O americano queria saber “quantos milhares de receptores tinham sido vendidos pelo comércio à população de São

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Paulo”. Os dois diretores da Tupi se entreolharam e responderam quase em coro: - Nenhum. Atônito com a notícia, Obermüller pediu uma reunião com Chateaubriand, para advertir o dono dos Associados. - Doutor Assis, o senhor está investindo 5 milhões de dólares na TV Tupi e sabe quantas pessoas vão assistir à sua programação a partir do dia 18? Zero. Sim: zero, ninguém. (Morais, 1994: p.500)

Após a programação do primeiro dia, a preocupação geral foi o que transmitir no dia

seguinte, problema que Cássio Gabus Mendes, um dos responsáveis pelo canal, resolveu ao

exibir filmes que havia reservado para casos emergenciais. Entre os programas iniciais da TV

Tupi, destacou-se, além dos filmes, A escolinha de Ciccilo, um sucesso do rádio levado à

televisão. A programação da TV Tupi era transmitida das 18 horas às 22 horas e variava com

programas musicais, filmes e posteriormente com dramaturgia, humorismo, jornalismo,

programas infantis, esportes e variedades.

Quatro meses após a inauguração em São Paulo, no dia 20 de janeiro de 1951, foram

inaugurados os transmissores da TV Tupi no Rio de Janeiro, com a presença do então

presidente da república Eurico Gaspar Dutra. O Canal 6 estreou com muitas dificuldades,

tendo em seus equipamentos apenas duas câmeras e um projetor de filmes. Essa falta de

equipamentos fez a emissora, por muitas vezes, manter a imagem do indiozinho, símbolo da

TV Tupi, estática na tela, por não conseguir transmitir a programação correta.

A primeira imagem feminina a aparecer na televisão brasileira foi a de Yara Lins, que

pronunciou os prefixos da TV Tupi de São Paulo no dia de sua inauguração. No Rio de

Janeiro, a primeira mulher a aparecer foi Aidée Miranda, transferida do rádio, onde fazia

teleteatro para a TV Tupi. Sua primeira função era fazer o encerramento da emissora,

agradecendo a audiência e anunciando a programação do dia seguinte da TV Tupi. Esse seria

o primeiro passo para a conquista definitiva da presença da mulher na televisão brasileira.

Fernando Chateaubrind, responsável pela instalação do equipamento técnico da TV Tupi, ao ver Aidée Miranda nos corredores, pediu-lhe uma foto para servir como imagem de prova da emissora a ser inaugurada. E a foto de Aidée foi usada até o lançamento da TV Tupi. (Lorêdo, 2000: p. 68)

Em 1952 foi ao ar a segunda emissora de São Paulo, a TV Paulista, canal 5,

pertencente ao grupo do deputado Ortiz Monteiro. No Canal 5, nasceram programas como a

Praça da Alegria e o primeiro teleteatro da América Latina, O sítio do pica-pau amarelo. No

ano seguinte, em setembro de 1953, surgiu a TV Record em São Paulo, em 1955, a TV Rio,

no Rio de Janeiro e, em 1960, a paulista TV Excelsior.

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A presença da mulher na televisão, após sua primeira aparição com Yara Lins, deu-se

através de cantoras, apresentadoras, atrizes e de garotas-propaganda da TV Tupi. Entre as

cantoras, Hebe Camargo, uma das pioneiras da TV brasileira, fez sucesso nos primórdios da

TV Tupi cantando Noite de Luar com Ivon Curi. Lídia Mattos destacou-se entre as

apresentadoras, não apenas por ser a primeira, mas também por conquistar grande sucesso

com seu programa de perguntas e respostas Teletestes Luiz Ferrando. De 1954 a 1960, Lídia

ganhou todos os prêmios instituídos: Melhor Animadora de TV, Melhor Apresentadora e

Maior Figura da TV (Lorêdo, 2000).

Dentre as atrizes da época, uma atriz de destaque foi Heloisa Helena, que juntamente

com outros atores, inaugurou as novelas e teleteatros da TV Tupi. Heloísa estrelava o

programa Teatro Gebara, que na época era sucesso de audiência da TV Tupi.

Autoras de novelas também tiveram destaque na primeira década da TV brasileira. Ilsa

Silveira, levada do Rio Grande do Sul para o Rio de Janeiro, escrevia e dirigia teleteatros e

novelas. Aparecida Menezes, igualmente, escrevia novelas e chegou a receber, em 1958, o

prêmio de Melhor Novelista das mãos do presidente Juscelino Kubistchek.

As garotas-propaganda igualmente fizeram sucesso nos primórdios da televisão

nacional. Elas surgiram para substituir os anúncios feitos com imagens paradas dos produtos e

textos em off narrados por locutores, e que agora seriam feitos por elas, mostrando as

mercadorias enquanto o locutor continuava a narrar as características do produto em off. Com

o aperfeiçoamento de seu trabalho, as garotas-propaganda passaram, algum tempo depois, a

apresentar e narrar os comerciais, sem mais precisar da ajuda de locutores. Durante essa fase,

muitas mulheres surgiram e se consagraram como garotas-propaganda da TV Tupi e de outras

emissoras. Até um programa de televisão foi lançado na TV Rio para escolher novos talentos

que fariam os comerciais de televisão.

Para descobrir novo valores, lancei na TV Rio um programa intitulado Garota-propaganda Pólo Ártico, um show musical durante o qual o teste das candidatas consistia dos comerciais do próprio cliente apresentados nos intervalos. Elas eram avaliadas por um júri composto por pessoas ligadas à publicidade, críticos de televisão e jornalistas [...]. O programa durou cinco meses e revelou Solange Siqueira, primeira colocada, Suely Fernandes, segunda, e Isabel Cardoso, terceira. O sucesso foi tanto que alguns jornalistas disseram: “[...] as emissoras de São Paulo que quiserem melhorar o seu quadro de locutoras devem consultar o caderninho de João Lorêdo no Rio de Janeiro”. (Lorêdo, 2000: p.22-23)

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Em 1962 chegaram os video-tapes, na época máquinas gigantescas, com as fitas

fechadas em caixas que pesavam até treze quilos. Essa nova tecnologia possibilitou à

televisão produzir programas com melhor acabamento e levá-los a outros lugares, por meio de

carros ou aviões, sem a necessidade da instalação de transmissores que custavam fortunas às

redes de TV. O vídeo-tape possibilitou também a criação de novas emissoras, que em 1963 já

ultrapassavam vinte.

A TV Gaúcha, futura RBS TV, teve sua inauguração em 1962. Mesmo ano em que o

brasileiro conheceu a TV em cores, através da TV Excelsior, no programa Moacyr Franco

Show. Um ano depois, a TV Tupi também experimentou a transmissão, porém a idéia de

continuar com a TV em cores foi abandonada devido ao alto custo dos receptores. Somente

em 1972, no dia 31 de março, aconteceu a primeira transmissão a cores da TV brasileira, na

Festa da Uva de Caxias do Sul - RS, pela TV Globo.

A TV Globo, de Roberto Marinho, teve sua inauguração em 26 de abril de 1965,

através do canal 4 no Rio de Janeiro e no canal 5 em São Paulo, antiga TV Paulista. Neste

ano, já existiam mais de dois milhões de aparelhos de televisão no Brasil.

Em 13 de maio de 1967 foi inaugurada, em São Paulo a TV Bandeirantes, pertencente

a João Saad. Em janeiro de 1976 surgiu a TVS (TV Studios), de Silvio Santos, no Rio de

Janeiro. Projeto inicial que anos mais tarde se tornaria o SBT.

A televisão brasileira chegou à década de setenta com mais de 30% das residências

equipadas com um aparelho de TV. Nesse período, algumas emissoras fecharam suas portas,

como a TV Excelsior, e outras foram inauguradas, como a TV Gazeta de São Paulo.

Em 1980, as emissoras existentes no país somavam 106 comerciais e 12 estatais. A TV

Globo dominava a audiência e o faturamento com publicidade, sendo seguida por SBT e

Bandeirantes. O número de aparelhos televisivos chegava a 28 milhões no Brasil, ocupando

mais de 64% das residências.

A crescente popularização do aparelho transmissor, somada à diversificação de

emissoras e programas fez a televisão brasileira chegar aos anos noventa com quase trinta

milhões de aparelhos distribuídos entre a população. Em 2007, dados do Instituto Brasileiro

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de Geografia e Estatística (IBGE)1 revelaram que cerca de 50 milhões de residências, ou 163

milhões de pessoas, possuíam pelo menos um aparelho de televisão no país.

As mulheres, inseridas totalmente na programação de todas as emissoras nacionais,

exercem praticamente todas as funções no meio televisivo. Sejam como apresentadoras,

produtoras, repórteres ou em cargos de alto escalão, como editoras-chefe e diretoras de

programação, elas ocupam cada vez mais espaços nos canais de televisão e conquistam

prestígio e sucesso entre os telespectadores.

2.3 O TELEJORNALISMO BRASILEIRO E A INSERÇÃO DA MULHER NOS

NOTICIÁRIOS

O telejornalismo no Brasil surgiu tão rápido quanto a implantação da televisão no país.

Mais precisamente, dois dias após a inauguração da TV Tupi, através do telejornal Imagens

do Dia, formado por uma pequena equipe liderada pelo redator e apresentador Ruy Resende.

Baseado em radiojornais da época, o Imagens do Dia mostrava Ruy sentado em frente à

câmera, no estúdio, lendo ao vivo as notícias nacionais colhidas por repórteres e as

internacionais, em geral atrasadas devido à falta de tecnologia para enviar informações de

outros países. Em 1952, o Telenotícias Panair foi criado, sendo transmitido diariamente às 21

horas.

Como seria razoável supor, os telejornais eram produzidos precariamente e careciam de um nível mínimo de qualidade. As falhas se originavam tanto das grandes deficiências técnicas quanto da inexperiência dos primeiros profissionais, a maioria procedente das emissoras de rádio. A repercussão dessas falhas na comunidade, no entanto, era muito pequena, pelo limitadíssimo número de pessoas que tinha acesso às imagens de TV. [...] Por causa dos obstáculos que impediam as coberturas externas, o jornalismo direto do estúdio, “ao vivo”, ocupava quase todo o tempo dos noticiários, “no mínimo como uma alternativa simples e econômica”. (Rezende, 2000: p. 106)

1 Censo 2007 realizado pelo IBGE – informação disponível no site www.ibge.gov.br - acesso em 10 de maio de 2008.

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O mais famoso telejornal da década de cinqüenta, porém, surgiu alguns meses depois,

primeiro no Rio de Janeiro e no, ano seguinte, em 1953, em São Paulo. O Repórter Esso,

telejornal apresentado por Gontijo Teodoro, na TV Tupi do Rio de Janeiro e Kalil Filho, na

TV Tupi de São Paulo, se firmou no horário nobre e ficou no ar durante 20 anos, devido, entre

outras razões, pelas suas inovações em comparação a outros telejornais da época, como a

transmissão freqüente de matérias ilustradas em substituição ao uso exclusivo das narrações

do apresentador.

A presença da mulher nos telejornais brasileiros demorou mais que sua inserção em

outros gêneros televisivos, como novelas, programas de músicas ou propagandas. A

precursora foi Vera Rossi, atriz e redatora, através do Informativo Panair, transmitido na TV

Rio. (Lorêdo, 2000) A primeira repórter de TV nas ruas foi Maria Edith Mendes, que cobriu

um Grande Prêmio no Jóquei Clube de São Paulo, em 1956, pela TV Tupi.

Durante a década de sessenta, o telejornalismo avançou, tanto em tecnologia, com o

advento do vídeo tape, quanto em criatividade e expansão intelectual. O maior exemplo da

época foi o Jornal de Vanguarda, da TV Excelsior, que teve como sua principal inovação a

participação de jornalistas como produtores e de cronistas especializados como

apresentadores de notícias, quase todos vindo de jornais, e não de rádios, para ter sua primeira

experiência na TV. Além da equipe de texto, o telejornal ganhou força com a locução de Luiz

Jatobá e Cid Moreira e com o cuidado com as imagens que davam ao programa um visual

dinâmico (Rezende, 2000). Essas inovações trouxeram ao telejornal reconhecimento pela sua

originalidade e forma de apresentação distinta em relação a outros telejornais, o que conferiu

ao Jornal de Vanguarda reconhecimento não só nacional como internacional.

Em 1962, a atriz Odete Lara apareceu no telejornal Show de Notícias, da TV

Excelsior, provocando, com suas idéias e um jeito peculiar, os políticos que participavam das

entrevistas do telejornal. O Show de Notícias contava, ainda, com os comentários de Gilda

Müller, os quais faziam forte crítica aos políticos da época. A participação de Gilda no

telejornal criticando personalidades do meio político tornou-a uma exceção entre as mulheres

que trabalhavam naquele momento na televisão brasileira, as quais, em sua maioria, faziam

apenas programas sobre mulheres e para mulheres. (Roesler, 1996)

Em 1969, o início das transmissões via satélite e as ligações por microondas

possibilitaram a integração do país e uma ligação maior com o resto do mundo. Devido a

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essas novas tecnologias, em setembro do mesmo ano, foi transmitido, ao vivo,

simultaneamente para São Paulo e Rio de Janeiro, o Jornal Nacional, da TV Globo. Um novo

telejornal que nascia para competir com o Repórter Esso, transmitido no mesmo horário, às

20 horas, na TV Tupi. No final de 1970, o Jornal Nacional já era líder de audiência entre os

telejornais do horário nobre, o que resultou no enfraquecimento do Repórter Esso e

posteriormente, em seu fim, no último dia de 1970.

Hilton Gomes: “O Jornal Nacional da Rede Globo, um serviço de notícias integrando o Brasil novo, inaugura-se neste momento: imagem e som de todo o Brasil”. Cid Moreira: “Dentro de instantes, para vocês, a grande escalada nacional de notícias”. Era 1° de setembro de 1969. Começava assim o primeiro telejornal transmitido em rede nacional do Brasil. (Memória Globo, 2004: p 24)

Transmitido entre duas novelas, o Jornal Nacional manteve, até o final dos anos 80,

um padrão para os apresentadores. Eles deveriam ser do sexo masculino, ter uma boa voz e

um bom timbre e, além disso, ter competência e possuir boa aparência. Tudo estrategicamente

pensado para que o público feminino continuasse assistindo a TV Globo e não mudasse o

canal com o final da novela, detentora de grande audiência. Cid Moreira foi o escolhido para

desempenhar tal papel, mantendo-se à frente do Jornal Nacional até 1996. (Rezende, 2000)

A opção escolhida pela TV Globo, de dar preferência aos homens nos noticiários,

dificultou a penetração da mulher no telejornalismo brasileiro. Somente nos anos setenta

surgiram as primeiras repórteres mulheres, ainda no tempo em que o repórter não aparecia no

vídeo, era somente uma mão segurando o microfone enquanto os textos da reportagem eram

lidos pelo apresentador.

A TV Tupi, tentando superar a crise após o fim do Repórter Esso, criou o Rede

Nacional de Notícias, telejornal transmitido ao vivo para várias capitais do país. Na TV

Cultura, surgiu, em 1970, A Hora da Notícia, telejornal que dava prioridade ao depoimento

popular e que respeitava os problemas da comunidade. Devido a seu perfil editorial, tornou-se

líder de audiência na TV Cultura. No mesmo período, a TV Bandeirantes lançou Os Titulares

da Notícia, telejornal que também dava prioridade ao depoimento popular, mas se

diferenciava por valorizar o repórter, dando-lhe a tarefa de divulgar as notícias,

independentemente de sua aparência e timbre de voz.

Mesmo com as novidades trazidas nos telejornais A Hora da Notícia, e Os Titulares da

Notícia, o que caracterizou a televisão brasileira nos anos setenta foi o desenvolvimento

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técnico. A Rede Globo foi quem mais se aproveitou disso, aperfeiçoando a qualidade de seus

programas, sob a expressão “padrão global”, o qual acabou prevalecendo em relação às

maneiras até o momento existentes de fazer telejornalismo no Brasil. Foi a TV Globo que

acabou com o improviso, impôs uma duração rígida e um horário fixo aos telejornais e criou

um padrão de locução e visual aos locutores, como dito anteriormente.

Através desse “padrão global” e da estratégia de mantê-lo entre as novelas das 19 e 20

horas, o Jornal Nacional manteve-se com um enorme índice de popularidade entre os

telespectadores brasileiros. Em 1979, o telejornal alcançou a marca de 79, 9% da audiência

nacional. Animada com os ótimos resultados alcançados com o Jornal Nacional, a Rede

Globo lançou o telejornal Hoje, na hora do almoço, e outro no final da noite, que ao longo do

tempo recebeu vários nomes (Amanhã, Painel, Jornal da Globo, segunda edição do Jornal

Nacional, etc). Na década de setenta, ainda, a Globo lançou o Globo Repórter, para tratar de

temas com profundidade, o que não era possível nos telejornais e o Fantástico, criado para

trazer ao telespectador informações variadas. Investiu, também, no jornalismo especializado,

criando o TV Mulher, já extinto, e o Globo Rural, no ar até hoje.

Enquanto a Rede Globo mantinha-se líder no telejornalismo brasileiro, outras

emissoras corriam atrás do prejuízo, e em alguns casos, alcançavam o sucesso, como a TV

Manchete e o seu Jornal da Manchete. Em 1983, a Globo se viu ameaçada por um telejornal

que atingia altos pontos no Ibope e concorria diretamente com um dos programas de maior

audiência da TV brasileira, a novela Roque Santeiro. O Jornal da Manchete conquistou os

telespectadores através da ousadia de sua proposta em dar prioridade ao comentário e à

análise dos fatos no horário de maior prestígio da televisão.

Outras emissoras, contudo, não tiveram o mesmo sucesso na concorrência com a Rede

Globo e seu telejornalismo. O SBT não conseguia alcançar, com seus programas jornalísticos

de alto apelo popular, como O povo na TV, altos índices de audiência e nem convertê-la em

faturamento publicitário. Sílvio Santos conseguiu mudar essa situação somente em 1988,

através da ajuda de profissionais como Boris Casoy, que ficou com a missão de ancorar o TJ

Brasil, a nova proposta telejornalística da emissora. O novo formato do telejornal, que além

de apresentar as notícias, trazia entrevistas e comentários pessoais de Boris Casoy, trouxe

audiência e tornou-se o segundo programa a atrair maior publicidade à emissora, perdendo

apenas para os programas de Sílvio Santos. (Rezende, 2000)

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Em caráter de emergência, a primeira mulher a apresentar o Jornal Nacional foi Sônia

Maria, em 20 de novembro de 1971, por ocasião do desabamento do elevado Paulo de

Frontin, no Rio de Janeiro. Sônia, que já apresentava o Jornal Hoje, transmitiu as primeiras

informações sobre o desabamento do elevado no Jornal Nacional, o qual apresentou uma

grande cobertura sobre a tragédia, com várias edições extraordinárias e um grande número de

repórteres e apresentadores envolvidos na transmissão das notícias do acidente. Somente

depois de 22 anos de hegemonia masculina à frente do Jornal Nacional, é que Sandra

Annemberg assumiu a função de apresentadora fixa do telejornal, em julho de 1991,

tornando-se a “moça do tempo”. (Rixa, 2000)

No dia 29 de março de 1996, a Central Globo de Jornalismo promoveu a substituição

de dois apresentadores símbolos do Jornal Nacional – Cid Moreira e Sérgio Chapelin – pelos

jornalistas Willian Bonner e Lílian Witte Fibe, a primeira mulher a apresentar de forma fixa o

telejornal. Em fevereiro de 1998, entretanto, Lílian deixou o Jornal Nacional devido ao seu

baixo grau de empatia junto à audiência e sua insatisfação com a linha editorial do telejornal.

Fátima Bernardes foi escolhida para substituí-la e continua até os dias atuais, juntamente com

Willian Bonner, à frente do JN.

A presença da mulher no telejornalismo brasileiro, após algumas décadas de

dominação masculina, encontra-se, hoje, consumada. Em emissoras da televisão aberta ou a

cabo, como apresentadoras ou repórteres, as mulheres conquistaram e ainda conquistam

espaços que há pouco tempo somente os homens poderiam ocupar. Exemplo disso são as

repórteres esportivas de televisão. Jornalistas que venceram a barreira do preconceito e, hoje,

entram em campo para cobrir partidas de futebol no país inteiro. Débora de Oliveira e

Eduarda Streb, repórteres esportivas da RBS TV, jornalistas que alcançaram reconhecimento

ao se firmar na cobertura de jogos no sul do país são exemplos fiéis do espaço conquistado

pelas mulheres no telejornalismo e, devido a isso, serão os principais exemplos desse

trabalho. Além delas, outras mulheres se destacam no telejornalismo brasileiro, não em

reportagem esportiva, mas à frente de telejornais de renome de emissoras como a Rede

Globo, com Fátima Bernardes, apresentadora e editora do Jornal Nacional e Sandra

Annemberg, do Jornal Hoje, e o SBT, com Ana Paula Padrão, à frente do SBT Realidade.

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3 O FUTEBOL E A MULHER NA COBERTURA DE JOGOS

Quando chegou ao Brasil, entre os anos de 1864 e 1874, o futebol, ainda em sua forma

primária, era apenas mais uma novidade entre esportes praticados na época pelos brasileiros.

Uma bola, um espaço de grama ou areia para ser o campo e quatro pedaços de pau para

delimitar as traves e pronto; o futebol poderia ser praticado em qualquer lugar. Até mesmo

sem traves e sem campo, se fosse necessário. Somente uma bola e a imaginação de quem a

usasse já serviria para se ter um “joguinho de futebol”, ou “uma pelada com os amigos”.

Devido à facilidade com que se podia jogar uma partida de futebol e o encantamento

que ele causou entre os brasileiros, o esporte logo se tornou o preferido entre a maioria.

Maioria de homens, verdade, por ser um esporte inicialmente masculino e preconceituoso

com o público feminino.

Pelo encantamento e paixão que transmitiu às pessoas, o futebol conquistou, aos

poucos, as mulheres, as quais lutaram para vencer o preconceito, aprendendo a jogar e a

dominar a bola como os homens já faziam tão bem. Após a dura batalha para vencer o

preconceito, elas batalharam para disputar campeonatos, chegando ao ápice quando puderam

disputar uma Copa do Mundo de Futebol Feminino.

A essa altura, o futebol, já reconhecido pelo brasileiro como uma paixão nacional,

trazia grande audiência a rádios e emissoras de TV em suas coberturas esportivas, em suas

transmissões de jogos, notícias sobre times, comentários, especulações, o que acabou fazendo

com que as mulheres se interessassem ainda mais pelo esporte. Elas agora queriam ir aos

estádios, estavam interessadas na escalação, nos jogadores, nos campeonatos que seus times

do coração disputavam, enfim, elas também acabaram sendo “flechadas” pelo esporte tão

envolvente que era, e que ainda é, o futebol.

Após todos esses anos, ele continua sendo o preferido por homens e mulheres.

Continua conquistando fãs de todas as idades e continua sendo o mais noticiado pela

imprensa. As mulheres, que venceram o preconceito nos gramados, ainda batalham para

vencer o preconceito na imprensa. Nas coberturas esportivas, tanto de rádio quanto de

televisão, é difícil encontrar jornalistas do sexo feminino com o microfone na mão, cobrindo e

comentando jogos de futebol. O espaço ainda é majoritariamente masculino, especialmente no

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rádio, o qual mantém, desde sua origem, a característica de dar preferências aos homens. Na

televisão, a mulher conquista, aos poucos, espaços que aumentam gradativamente, tanto na

apresentação de programas esportivos como na cobertura de jogos, fazendo um trabalho de

qualidade e com boa aceitação do público telespectador.

3.1 FUTEBOL

O futebol, jogo que hoje é praticado por cerca de 265 milhões de pessoas no mundo2 e

que é motivo de paixões, discussões, opiniões contrárias, rivalidade e devoção tem o crédito

de sua invenção também envolvido nesse clima de competição.

Afinal, quem inventou o futebol?

Muitos povos creditam a si a invenção do jogo. Japoneses, gregos, franceses, chineses,

italianos e ingleses; porém, segundo Unzelte (2002), a primeira forma de futebol

documentada vem dos chineses, com o tsu-chu, que em chinês significa “lançar com o pé uma

bola feita de couro”. O jogo se caracterizava por chutar a bola de couro para dentro de um

espaço delimitado por duas estacas cravadas no chão e foi desenvolvido para treinamentos

militares por um integrante da guarda do imperador da dinastia Xia, em 2197 a.C.

Os japoneses, há mais de 2000 anos, também praticavam uma forma de futebol

parecida com a chinesa, o kemari, que em japonês significa “chutar a bola”. Na Península de

Yucatan, atual México, entre os anos de 900 e 200 a.C. os maias praticavam um esporte em

que o objetivo era arremessar uma bola de borracha em furos circulares localizados no meio

de seis placar de pedra quadrados. Após a partida, o atirador-mestre da equipe perdedora era

decapitado.

2 Dado colhido pela Fifa (Federação Internacional de Futebol Associado) em pesquisa realizada em 2006, chamada de Big Count 2006. A pesquisa foi divulgada em 2007 e teve como base 161 das 204 confederações associadas.

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Na Grécia, por volta de 850 a.C. Homero escrevera um livro sobre esportes com uso

da bola. O mais parecido com o futebol era o epyskiros, disputado com os pés, em um campo

retangular por duas equipes de nove jogadores.

Descendendo do epyskiros, o harpastum Romano, praticado por volta de 200 a.C. por

soldados romanos, também era disputado em um campo retangular, com uma linha no meio e

duas linhas de meta nas extremidades. A bola, feita de bexiga de boi e revestida por uma capa

de couro, tinha as dimensões muito parecidas com as das bolas atuais. Na França,

desenvolveu-se um versão do harpastum, o soule, introduzido pelos romanos entre os anos de

58 e 51 a.C.

O calcio, chamado assim até hoje pelos italianos, teve sua primeira partida realizada

em 17 de fevereiro de 1529 na cidade de Florença, quando duas facções políticas rivais

decidiram acertar suas diferenças em um jogo de bola. As duas equipes contaram com 27

jogadores em cada time, separados por camisas brancas e verdes e enfrentaram-se por duas

horas de forma violenta, com pernas, braços e dentes quebrados pelas ruas de Florença,

tentando levar a bola para além dos limites da cidade. A partida entrou para a história da

região e é reproduzida comemorativamente até hoje, no primeiro domingo após o 24 de

junho, dia de São João, padroeiro de Florença.

Em 1580, foram estipuladas regras para o jogo, com empurrões e pontapés sendo

punidos pelos 10 juízes que arbitravam as partidas. O cálcio se espalhou de Florença para

outras regiões da Itália, mas a festa anual do cálcio fiorentino realizou-se somente até 1699,

quando foi proibido, deixando de realizar-se até 1939, quando a encenação anual voltou.

Na Inglaterra o futebol também teve seu início em comemorações que simbolizavam

as vitórias dos povos da região. O documento mais antigo relacionado ao football, datado de

1175, cita um certo jogo disputado durante a Schovetide (espécie de Terça-feira Gorda)

quando habitantes de várias cidades inglesas saíram às ruas para comemorar a expulsão dos

dinamarqueses, chutando uma bola de couro. A bola simbolizava a cabeça de um oficial

invasor que teria introduzido o jogo involuntariamente na Inglaterra (Unzelte, 2002). Durante

muito tempo o futebol teve um caráter festivo para os ingleses, sendo disputado, assim como

na Itália, em festejos anuais. Com o passar do tempo ele tornou-se popular entre os habitantes

de Chester e de Kigston.

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No século XVI, a violência nas partidas aumentou drasticamente e o resultado aparecia

em pernas quebradas, dentes arrancados, roupas rasgadas e há até indícios de acidentes fatais

ocorridos no mass football (futebol de massa). A partir de 1700, as formas violentas de

futebol foram proibidas e as regras do jogo tiveram que mudar. Em 1710, escolas inglesas

passaram a usar o futebol como uma atividade física para os jovens, conquistando inúmeros

adeptos que deixavam de lado esportes como esgrima, tiro e equitação para se dedicar ao

futebol (Unzelte, 2002).

A grande adesão de escolas públicas inglesas ao futebol necessitou que regras fossem

estipuladas ao jogo, já que cada colégio jogava de maneira diferente. Somente em 1848, na

Universidade de Cambridge, nasceria o football - ainda em fase primária - quando diretores

de várias escolas se reuniram para definir algumas regras. A reunião, entretanto, não

conseguiu unificar todas as regras, fato que ocorreria somente quinze anos mais tarde, em

1863, quando representantes de onze clubes e escolas se reuniram e instituíram as bases para

as regras que conduzem o esporte até hoje.

Em 1871, foi disputado, entre clubes, o mais antigo torneio de futebol da história, a

primeira Copa da Inglaterra. Um ano depois, Inglaterra e Escócia se enfrentaram em um jogo

que representa a primeira partida internacional de futebol do mundo e que, assim como o

campeonato de clubes, representa o marco inicial do futebol que conhecemos hoje, com suas

regras e suas competições.

3.2 FUTEBOL NO BRASIL

Segundo Unzelte (2002), há indícios que o futebol tenha aparecido pela primeira vez

no Brasil por volta de 1864, quando marinheiros franceses, holandeses e ingleses de barcos

mercantes e navios de guerra teriam disputado alguns jogos em terras brasileiras. Duas dessas

partidas ficaram conhecidas, uma no ano de 1874, disputada nas praias cariocas e outra em

1878, disputada por tripulantes de um navio em frente à residência da princesa Isabel.

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A versão oficial, no entanto, ainda de acordo com Unzelte (2002), é que Charles

Miller( 1874-1953) foi quem trouxe o futebol ao Brasil em 1895. Descendente de ingleses e

escoceses, Charles Willian Miller voltou da Inglaterra em 1894, após um período de estudos

naquele país, trazendo consigo, em suas malas, duas bolas de futebol. Com essas bolas, pôde

realizar, em abril de 1895, a primeira partida de futebol do país entre um time formado por

ingleses e anglo-brasileiros e o outro por funcionários da Companhia de Gás e da Estrada de

Ferro Railway.

Em 1897, Oscar Cox, igualmente um estudante, porém, que regressava da Suíça,

introduziu o esporte no Rio de Janeiro. Em 1900 foi a vez do Rio Grande do Sul, em 1901 na

Bahia, 1903 em Pernambuco, 1904 em Minas Gerais, 1908 no Paraná, até que em 1917 o

futebol já havia se disseminado no Brasil, tornando-se em pouco tempo, o esporte preferido

dos brasileiros.

Em julho de 1914 ocorreu aquele que é considerado o primeiro jogo da seleção

brasileira de futebol. A partida deu-se entre a equipe do Exeter City, da Inglaterra e um

combinado brasileiro criado a partir de um acordo feito entre a Associação Paulista de

Esportes Atléticos e a Liga Metropolitana de Sports Atléticos do Rio de Janeiro. O combinado

brasileiro venceu por 2 gols a 0, em um jogo violento onde um dos jogadores brasileiros

terminou a partida ensangüentado, com dois dentes quebrados e ferimentos no joelho. Dois

meses depois, a seleção brasileira viajou à Argentina para disputar seu primeiro torneio

internacional, a Copa Roca, da qual sagrou-se campeã. Somente cinco anos mais tarde a

seleção voltou a participar de um desafio internacional, dessa vez um campeonato sul-

americano disputado no Rio de Janeiro, no qual, novamente, o Brasil saiu vitorioso,

derrotando a seleção do Uruguai.

O Rio Grande do Sul pode ser considerado um dos primeiros Estados que introduziram

o futebol no Brasil. Em julho de 1900, como dito anteriormente, foi fundado o Sport Club Rio

Grande, o primeiro clube gaúcho criado para a prática do futebol. Em 1903, surgiu o Grêmio

FootBall Porto-Alegrense e em 1909, o Sport Clube Internacional, que acabaram se firmando

como os dois grandes clubes do Estado, com os maiores patrimônios e as maiores torcidas do

sul do país.

Durante os primeiros anos da presença do novo esporte no Rio Grande do Sul,

somente jogos amistosos ou torneios citadinos eram realizados. Apenas em 1919 foi jogado o

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primeiro Campeonato Estadual de futebol, disputado entre Grêmio e Brasil de Pelotas, que

acabou levando a taça por vencer o time de Porto Alegre pelo placar de 5 a 1. O Campeonato

Estadual não foi realizado somente nos anos de 1923 e 1924, devido à revoluções ocorridas

no época. Neste ano de 2008, ocorreu a 88° edição da competição.

3.3 FUTEBOL FEMININO

O futebol feminino também teve seu início na Inglaterra, em 1895, quando uma

seleção de mulheres do norte do país enfrentou um time de mulheres do sul. Na ocasião, cerca

de oito mil pessoas estiveram presentes na partida. Sete anos após este jogo, devido ao

preconceito que o futebol feminino sofria, a Football Association vetou a participação de

mulheres em jogos. Somente na década de 20 o futebol feminino voltou a ganhar força na

Europa e nos Estados Unidos.

No Brasil, as primeiras competições ocorreram em 1921 (Unzelte, 2002), porém, logo

foram proibidas. Os ingleses voltaram a se pronunciar contra o futebol feminino e, através de

seu poder político, conseguiram disseminar suas idéias para os outros países praticantes do

esporte, que não tardaram em proibi-lo também.

Entre as décadas de 70 e 80 o futebol feminino voltou a ser praticado no mundo

inteiro. Várias competições não-oficiais foram criadas para reforçar a liberdade da prática do

esporte. Através desse gesto, a Fifa (Federação Internacional de Futebol Associado, do

francês Fédération Internationale de Football Association) passou a reconhecer a prática do

esporte como legítima e criou regras para sua organização.

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3.4 COBERTURA DE FUTEBOL NO RÁDIO

Quando se fala em cobertura de jogos de futebol no Brasil, não há como não falar em

rádio. Foi através desse meio de comunicação que surgiram as primeiras coberturas de futebol

no país e que a transmissão de partidas tornou-se popular entre os ouvintes quando ainda não

existia a televisão.

Na década de vinte, as primeiras informações sobre resultados de jogos de futebol

foram transmitidas em rádios de São Paulo. As informações geralmente eram dadas por

pessoas que iam aos locais das partidas e enviavam para as rádios telegramas com os

resultados dos jogos mais importantes, ou por telefonemas das rádios para os clubes ou

entidades que organizavam as competições a fim de saber os vencedores das partidas, que

nem sempre eram obtidos devido ao sistema de telefonia ser muito precário na década de

vinte.

Foi a Rádio Educadora Paulista quem transmitiu pela primeira vez, em 1931, uma

partida de futebol, com o locutor Nicolau Tuma. Como ainda não existiam camisetas

numeradas, era necessário que o locutor fosse ao vestiário antes da partida para gravar

aspectos físicos de cada jogador, para poder reconhecê-lo durante a transmissão. Para narrar a

partida entre as seleções de São Paulo e Paraná Tuma pôde criar um estilo próprio de narrar,

já que ninguém havia feito tal coisa até então (Périco, 1999).

A final da III Copa do Mundo, disputada pelas seleções do Brasil e da Polônia, foi

transmitida para as rádios do Brasil, diretamente da França, pelo locutor Gagliano Neto, em

1938. A vitória da seleção brasileira por 6 a 5 praticamente parou o país e confirmou o rádio

como um dos principais meios de comunicação da época.

Durante o período inicial da cobertura esportiva no rádio, o locutor transmitia toda a

partida sozinho. O término do jogo significava o final da transmissão, já que ainda não

existiam comentaristas e nem repórteres para entrevistar jogadores, técnicos e dirigentes. Essa

realidade mudou quando a direção da Rádio Panamericana optou por formar o primeiro

departamento esportivo de rádio do país, contando com um número considerável de

profissionais, que possibilitaram um melhora técnica na transmissão das partidas. Após alguns

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anos, a Rádio Panamericana criou uma jornada esportiva parecida com as atuais, com plantão

esportivo, narração, comentários e reportagem no campo.

Poucos meses após a primeira transmissão radiofônica de uma partida de futebol no

Brasil, o jogo entre Grêmio e Seleção do Paraná foi transmitido no Rio Grande do Sul, através

da Rádio Sociedade Gaúcha e do locutor Ernani Ruschel. Avesso ao futebol, o narrador

improvisado contou com o auxílio de um desportista que lhe soprava os nomes dos jogadores

à medida que a partida, vencida pelo Grêmio por 3 gols a 1, se desenvolvia. Nos anos

seguintes a transmissão de jogos foi ocasional, até o início da década de trinta, quando Breno

Caldas, um dos diretores da Rádio Gaúcha, contratou o locutor Oduvaldo Cozzi, da Rádio

Nacional, do Rio de Janeiro, que revolucionou a narração de jogos de futebol no Estado. Até

então, a narração se reduzia à citação seqüencial dos nomes dos jogadores que conduziam a

bola, Cozzi, no entanto, inovou a narração quando passou a descrever lance por lance a

partida e introduziu comentários durante o intervalo do primeiro para o segundo tempo

(Ferraretto, 2002).

Na década de quarenta a cobertura esportiva das rádios gaúchas se consolidou devido à

concorrência entre três grandes rádios da época, Rádio Sociedade Gaúcha, Rádio Difusora

Porto-Alegrense e Rádio Sociedade Farroupilha. Durante esse período, além das transmissões

de partidas de futebol, as rádios já possuíam informativos dedicados ao esporte. Um grande

acordo publicitário entre uma cervejaria e a Rádio Gaúcha possibilitou o desenvolvimento da

programação esportiva da emissora, que passou a fazer transmissões internacionais, como por

exemplo, o jogo entre Grêmio e Nacional no Estádio Centenário, no Uruguai, em 1949, o

primeiro a ser transmitido em uma rádio do Rio Grande do Sul.

3.5 A MULHER NA COBERTURA ESPORTIVA DE RÁDIO

Apesar de a mulher ter conquistado, ao longo dos anos, espaços em quase todas as

divisões do jornalismo, ainda é muito difícil encontrar mulheres trabalhando em rádio

esportivo, em especial na cobertura de jogos. A atual realidade do jornalismo esportivo não

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está distante daquela que muitas mulheres encontraram nos primórdios do rádio, quando,

praticamente, não havia representantes do sexo feminino trabalhando nesse meio. O que se

via eram mulheres atuando apenas em radionovelas e radioteatros, nos quais elas alcançavam

sucesso e reconhecimento perante os ouvintes.

Um fato novo e de grande expressividade contribuiu ainda mais para dificultar a

permanência e a fixação da mulher no rádio. Com o surgimento da televisão, radionovelas e

radioteatros acabaram transferindo-se para o novo veículo. O rádio, então, reestruturou-se e

passou a transmitir basicamente noticiários, programas esportivos e música, o que acabou

culminando no desaparecimento de mulheres na programação do rádio.

No Rio Grande do Sul, Carmem Rial foi a primeira representante feminina a trabalhar

com esportes, no final da década de setenta, na Rádio Gaúcha. Durante permanência no rádio,

Carmem ocupou funções de redatora, coordenadora de jornadas esportivas e até chefe de

reportagem, porém nunca atuou com o microfone na mão, em reportagens ou apresentação de

programas.

Ainda na década de setenta, uma nova experiência foi posta em prática em uma rádio

de São Paulo. Lá foi criada a Rádio Mulher e nela uma equipe esportiva composta apenas por

mulheres. Com o slogan que dizia: “a cada mulher a mais no estádio, um palavrão a menos”,

a equipe realizou transmissões durante quatro anos, até que a direção da rádio optou por

mudar o perfil do programa e contratar quinze homens para substituí-las. Fizeram parte da

experiência a locutora Zuleide Ranieri Dias, as comentaristas Jurema Iara e Leila Silveira, a

comentarista de arbitragem Léa Campos, as repórteres Germana Garili, Claudete Troiano e

Branca Amaral e as locutoras de plantão Lílian Loy, Siomara Nagi e Terezinha Ribeiro.

(Mallmann, 2004)

A repórter Débora de Oliveira, hoje trabalhando na área esportiva da RBS TV, já

ocupou um cargo de comentarista esportiva em uma rádio de Novo Hamburgo. Em 1998, a

rádio ABC realizou um concurso para montar um programa de debates sobre futebol, o

Fórum Feminino de Esportes, e Débora foi escolhida para executá-lo com outras três meninas

selecionadas. Após algum tempo do programa no ar, Débora começou a ir ao campo para

fazer matérias sobre os times do Novo Hamburgo e do 15 de Campo Bom e sobre a torcida e

a movimentação nos estádios. A partir daí foi contratada pela rádio e incluída na jornada

esportiva da rádio, onde fazia reportagem de campo em jogos do Campeonato Gaúcho.

34

Débora ficou na rádio ABC por sete anos, até ser contratada pela TV Bandeirantes, de Porto

Alegre.

Apesar das escassas tentativas de inserir a mulher em programas esportivos na década

de setenta e a presença de algumas mulheres na cobertura de futebol de rádio nos dias de hoje,

a presença feminina continua sendo muito limitada, tanto no sul do país como em outros

Estados. A equipe esportiva das rádios, ainda é composta, em sua maioria, por homens, com

algumas mulheres ocupando funções de produtoras ou redatoras, mas raramente como

repórteres ou comentaristas de futebol.

3.6 O JORNALISMO ESPORTIVO DE TELEVISÃO NO BRASIL E A PARTICIPAÇÃO

DA MULHER NA COBERTURA ESPORTIVA

Devido à escassa bibliografia sobre a história do jornalismo esportivo de televisão no

Brasil, há dificuldades em precisar as primeiras transmissões esportivas e a inserção da

mulher na cobertura de esportes da TV brasileira. Segundo Rixa (2000), a primeira

transmissão data do mesmo ano em que foi criada a televisão no país. Em 1950, mais

precisamente no dia 15 de outubro, a TV Tupi foi ao campo do Pacaembu transmitir a partida

entre São Paulo e Palmeiras. Outros autores, no entanto, dizem que essa mesma partida deu-se

entre a Portuguesa de Desportos e o São Paulo.

Ainda na década de cinqüenta, a TV Paulista também saía de seu estúdio, com todo

seu equipamento, para noticiar partidas de futebol.

Em dia de jogo, nos anos 50, a TV Paulista enviava seu pobre equipamento para o campo de futebol. Assim que a partida terminava, a emissora ficava temporariamente fora do ar, até que suas únicas câmeras pudessem retornar aos estúdios para a transmissão do programa seguinte. (Rixa, 2000: p.175)

Outras emissoras de televisão também iniciaram seus noticiários esportivos na década

de cinqüenta. Raul Tabajara, locutor esportivo da TV Record ganhou, em 1955, o troféu

Roquette Pinto por ter encontrado um meio-termo para narrar as transmissões de futebol. Não

35

da forma exagerada que a maioria dos narradores adotava, usando a tradicional empolgação

do rádio, nem da maneira que alguns escolhiam, apenas identificando os jogadores e deixando

o telespectador analisar as jogadas. Em 1956, Ary Barroso, compositor e narrador esportivo,

adotou uma nova forma de narração para as transmissões esportivas da TV Tupi do Rio de

Janeiro. Ele apenas comentava com naturalidade os lances, como se fosse um amigo sentado

no sofá ao lado do torcedor, em casa. (Rixa, 2000)

Nos primeiros anos de transmissões esportivas da televisão brasileira, apenas o futebol

era noticiado e sua importância para a televisão e para o público aumentava a cada ano. O

surgimento das mesas-redondas, com a participação de cronistas esportivos da época,

contribuiu ainda mais para o esporte aumentar seu prestígio entre os telespectadores. A mais

famosa mesa-redonda da TV brasileira foi a “Grande Resenha Facit”, da TV Rio, com Luiz

Mendes como mediador e a participação de craques da crônica esportiva como Armando

Nogueira e Nelson Rodrigues. Em 1966, três anos após sua criação, o programa transferiu-se

para a TV Globo, onde permaneceu até 1969.

Até o início da década de setenta, as transmissões esportivas eram escassas na

televisão brasileira e apareciam apenas em noticiários. Com a chegada do video-tape a

cobertura esportiva ganhou mais agilidade e maiores possibilidades na televisão.

Até o início dos anos 70 as experiências em jornalismo esportivo na televisão eram parte dos noticiários gerais. Não havia uma boa estrutura para a cobertura esportiva. Em parte porque a televisão brasileira ainda passava por um período em que a tecnologia disponível não oferecia grandes recursos e em parte porque o esporte no Brasil também não dispunha de uma organização efetiva e de uma cultura que lhe permitisse aproveitar uma maior parceira com o veículo. (Souza, 2005)

No início dos anos setenta, a Rede Globo passou a transmitir os jogos, em rede, para

diversas partes do país. A conquista da Copa do Mundo no México, em 1970, foi transmitida,

ao vivo, para os telespectadores brasileiros, que assistiram pela primeira vez a uma partida de

futebol em tempo real na televisão.

Inspirada nos modelos de programas e reportagens dos Estados Unidos, como o ABC

Sports, a Rede Globo criou, em 1973, o programa semanal Esporte Espetacular, destinado a

unir jornalismo e entretenimento no noticiário esportivo. O programa tratava basicamente

sobre futebol, partidas, gols e notícias sobre os jogadores. A criação do programa diário

Globo Esporte, em 1978, possibilitou ao telespectador assistir a um programa diário de

36

notícias sobre esportes e não apenas acompanhar algumas breves informações esportivas que

eram dadas nos noticiários da Rede Globo, principalmente no Jornal Nacional.

A televisão brasileira passou a abrir espaços para outros esportes somente a partir das

Olimpíadas de Montreal, em 1976. A Fórmula 1 já possuía espaço na programação da

televisão brasileira e na Rede de Emissoras Unidas (TV Record, TV Rio, etc) já havia sido

transmitida, exclusivamente, a vitória de Émerson Fittipaldi em Monza, em 1972. No início

da década de oitenta a Rede Globo já transmitia intensamente a cobertura da Fórmula 1.

Ainda na década de oitenta, outros esportes ganharam espaço nas transmissões

esportivas, como o basquete, tênis, natação e principalmente o vôlei, devido à conquista de

boas colocações em competições internacionais. Em 10 de abril de 1984, a Rede Globo,

transmitiu exclusivamente, direto de Havana, uma partida entre as seleções masculinas do

Brasil e de Cuba.

A introdução de mulheres no jornalismo esportivo de televisão se deu, no início dos

anos oitenta, através do Jornal Nacional, com as jornalistas Monika Leitão e Isabela

Scalabrini fazendo matérias sobre esportes para o telejornal. Memória Globo, no livro Jornal

Nacional – A notícia faz história, mostra um relato de Isabela contando como era a

participação da mulher no jornalismo esportivo da época.

Isabela conta que, quando começou a cobrir a área de esporte, havia preconceito contra mulheres, mas que, no momento das entrevistas, todos cooperavam, desde os jogadores até os dirigentes. “Aceitar uma mulher no campo era difícil, moderno demais. Eu não entrava no vestiário, ficava na porta e os cinegrafistas traziam os jogadores”, explica a repórter. (Memória Globo, 2004: p.131)

Repórter da Rede Globo desde 1980, Isabela foi contratada depois de um estágio

remunerado de um ano. Contratada pelo departamento de esportes, fez coberturas

internacionais como a Copa do Mundo de Futebol no México, em 1986, as Olimpíadas de Los

Angeles, Estados Unidos, em 1984 e Seul, Coréia, em 1988, além de muitos campeonatos

mundiais de vôlei e basquete. Apresentou, ainda na década de oitenta, o Globo Esporte, o

Esporte Espetacular e o Fantástico. Em 1992 trocou os esportes pela editoria geral. Outra

mulher que aparece como uma das primeiras a trabalhar com jornalismo esportivo de

televisão no país é a jornalista Carmem Lopes, no início dos anos oitenta, quando fazia

cobertura de jogos em Pelotas, para a RBS TV local, RBS TV estadual e em determinados

momentos para a Rede Globo.

37

Com a crescente popularização da cobertura esportiva pela televisão e a compra dos

direitos de transmissão de partidas nos dias de semana pela Rede Globo na década de oitenta,

a participação de mulheres na cobertura esportiva foi aumentando gradativamente. No início

dos anos noventa, Mylena Ciribelli foi convidada a apresentar o Esporte Espetacular na Rede

Globo. Um ano depois, outra mulher, Glenda Kozlowski, assumiu, na SporTV, o programa

esportivo 360 graus. Em 1996, Glenda transferiu-se para a Rede Globo para apresentar o

Esporte Espetacular, periodicamente, e o programa Globo Esporte, edição de São Paulo,

diariamente.

Em 2004, Sonia Francine Gaspar Marmo, a Soninha, antes apresentadora da MTV,

tornou-se comentarista de futebol do canal por assinatura ESPN, no qual passou por diversos

programas esportivos. No Rio Grande do Sul, Débora de Oliveira foi a precursora a participar

de um programa de análises e comentários sobre o os times de futebol do Estado, o Toque de

Bola, programa regional transmitido na TV Bandeirantes. Débora, hoje na RBS TV, atua

juntamente com Eduarda Streb em reportagens de futebol e apresentação de programas

esportivos.

Há, ainda, outros exemplos de sucesso na cobertura esportiva da televisão brasileira,

como as jornalistas Mariana Becker e Cristiane Dias, da Rede Globo, Vanessa Riche,

apresentadora do SporTV News, da SporTV e Renata Fan, do programa Jogo Aberto, da Band.

38

4 A RBS TV E SUA PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA

A RBS TV, em seus 46 anos de história, sempre reservou um espaço à mulher e à

jornalista mulher. Desde seus primórdios, no momento em que a televisão ainda apresentava-

se como um território machista, era comum a presença do sexo feminino em programas da

emissora, tanto de entretenimento, como no telejornalismo.

Apesar das dificuldades encontradas pelas mulheres para inserirem-se na programação

das emissoras nas primeiras décadas da televisão no Brasil, na RBS TV, durante a década de

setenta, houve um aumento da participação de mulheres no telejornalismo, principalmente

através do Jornal do Almoço. Esse aumento possibilitou um crescimento gradual da

participação de mulheres em todas as áreas da emissora, o qual é notado até os dias atuais.

Na década de oitenta, o sexo feminino conquistou espaço, também, no jornalismo

esportivo da RBS TV, área que na época era completamente dominada por homens. A

emissora foi a primeira do Estado e uma das primeiras do país a ter uma mulher fazendo

reportagens de campo, em partidas de futebol. A abertura para o sexo feminino na reportagem

e em outras funções no jornalismo esportivo da emissora cresceu desde a primeira experiência

e, hoje, as mulheres somam praticamente metade da equipe de esportes da RBS TV.

4.1 SURGIMENTO DA RBS TV

A história da RBS TV teve seu início em 1958, quando Maurício Sirotsky Sobrinho

descobriu ao acaso, em uma gaveta, informações sobre o andamento de um pedido de

concessão para uma TV em Porto Alegre. O pedido partira de Arnaldo Ballvé, que acabou

esquecendo-o por não acreditar em sua viabilidade.

39

Arnaldo Ballvé, padrinho de casamento de Maurício, foi quem o trouxe a Porto Alegre

em 19503, através de um convite para cuidar da publicidade das Emissoras Reunidas. Em

1953, Sirotsky deixou o ramo da publicidade e rendeu-se ao gosto pelo rádio, no qual

trabalhara anos antes (em Passo Fundo e Porto Alegre) e assumiu o comando do Programa

Pare a Música Maestro, na Rádio Farroupilha. Quatro anos depois, porém, Arnaldo Ballvé

fez outro convite a Maurício, sugerindo que os dois comprassem a Rádio Gaúcha, que, na

época, se encontrava mergulhada em uma séria crise. Maurício aceitou o convite e assumiu a

direção da rádio.

Foi nesse contexto que Sirotsky encontrou o pedido de concessão abandonado e

decidiu lutar pela sua liberação. Em 24 de novembro de 1959, o então presidente Juscelino

Kubitschek, assinou a concessão e a partir desse momento começou a batalha para construir e

instalar a TV Gaúcha no Morro Santa Teresa, em Porto Alegre, a qual teve sua inauguração

oficial em 29 de dezembro de 1962.

Pela disputa de audiência com a TV Piratini, Maurício buscou um diferencial, a

valorização da produção local. Diferentemente da concorrente, que baseava sua programação

na TV Tupi do centro do país, a Gaúcha produzia uma série de programas locais de auditório,

o que lhe conferiu sucesso no Estado.

E junto com o irmão caçula, Jayme, a quem esteve sempre muito ligado desde os tempos da Rádio Passo Fundo e que passa a acompanhá-lo na instalação da TV, transforma o Canal 12 numa autêntica “imagem viva do Rio Grande”, como proclamava o slogan da nova emissora. (Schirmer, 2002: p.26)

Com dívidas contraídas no exterior e as dificuldades naturais dos primeiros anos de

funcionamento, agravadas coma desvalorização da moeda em 1961, a TV Gaúcha recebe, em

1964, uma proposta de compra do Grupo Excelsior. Prontamente recusada pelos irmãos

Sirotsky, a proposta, porém, é aceita pelo outros sócios, que representam a maioria da

emissora, e ela acaba sendo vendida.

Em 1967, Maurício, que após a venda foi levado ao Rio de Janeiro para dirigir a TV

Excelsior de lá, volta a Porto Alegre para tentar recuperar a TV Gaúcha, que naquele

3 Maurício Sirotsky morou anteriormente em Porto Alegre. Com 17 anos foi à Capital, se submeteu a um teste, e foi escolhido para trabalhar como locutor da Rádio Gaúcha. Apesar das boas perspectivas, voltou a Passo Fundo, cidade onde morou desde criança com a família.

40

momento pertencia ao grupo da Folha de São Paulo. Somente em 1968 o Canal 12 e a Rádio

Gaúcha voltam às mãos dos Sirotsky.

Novamente em posse da TV Gaúcha, os irmãos Sirotsky optam por dar novos rumos à

emissora. A imagem do Canal 12 já chegava a muitas áreas do interior do Estado, porém, o

objetivo de Maurício e Jaime era instalar estações que, além de repetidoras, seriam geradoras

de programações locais. A TV Caxias, inaugurada em fevereiro de 1969, foi a precursora do

país a operar em cadeia com outra emissora (TV Gaúcha) e a produzir programação local.

Três anos depois, a TV Alto Uruguai, de Erechim passa a pertencer à RBS4, assim como a TV

Tuiuty, de Pelotas, TV Imembuí, de Santa Maria e a TV Uruguaiana. Nesse momento, além

dessas geradoras no interior, a TV Gaúcha já possuía 104 retransmissoras-repetidoras de TV

operando no Estado. (Shirmer, 2002)

Durante a década de 70, um dos principais objetivos da RBS foi sua expansão para

Santa Catarina. Objetivo que começou a se concretizar quando, em 1976, surgiu um edital

abrindo concorrência para a concessão de um canal de TV naquele Estado.

Depois de meses disputando com outros três grupos, a RBS saiu vitoriosa,

conquistando em maio de 1977 a concessão da TV e dando origem, dois anos mais tarde, no

dia 1º de maio de 1979, à TV Catarinense. Após muitas dificuldades e tropeços, a RBS

TV/SC, em 1985, já operava com quatro emissoras de televisão no Estado.

Depois de muitas disputas, trabalho e investimentos, a RBS TV chegou ao ano de

2008 com 18 emissoras distribuídas entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com uma

cobertura que atinge 790 municípios e mais de 17 milhões de telespectadores. Sua

programação se divide em 85% vinda da Rede Globo e 15% produzida pela própria RBS,

voltada ao público local. Conta ainda com três TVCOM (uma no RS e duas em SC), única

emissora do país com programação 100% local e com o Canal Rural, voltado ao segmento do

agronegócio.

4 O nome RBS surgiu apenas a partir de 1970, através da procura de uma sigla de três letras, no exemplo das redes americanas NBC, ABC, etc. O nome inicial dado foi Rede Brasil Sul de Comunicações, que acabou resumido em Rede Brasil Sul – RBS.

41

4.2 A MULHER NA PROGRAMAÇÃO DA RBS TV

A primeira emissora de TV do sul do país a dar espaço para as mulheres foi a TV

Piratini, fundada no Rio Grande do Sul em dezembro de 1960, através de radioatrizes e

cantoras transferidas do rádio para a televisão. A primeira mulher a apresentar um programa

de TV no sul do país foi Gilda Marinho, que comandava um programa semanal com duração

de quinze minutos, no qual falava de moda. (Roesler, 1996)

Em 1961, a jornalista Célia Ribeiro, que na época trabalhava como redatora do jornal

A Hora, foi convidada a apresentar o programa “Desfile na TV”, mesmo nome de sua coluna

no jornal, todas as quintas-feiras, às dezessete horas na TV Piratini. Célia apresentou também

o programa Dreher Convida, exibido nas noites de sábado, o qual trazia entrevistas e música.

Nessa época, o espaço dado às mulheres na televisão do sul do país era apenas em

programas de entretenimento, os quais tratavam de moda, crianças e de mulheres. As

escolhidas para ocupar tais cargos eram atrizes e garotas-propaganda, já que era raro

encontrar jornalistas do sexo feminino.

A TV Gaúcha, atual RBS TV, fundada em 1962, também iniciou suas transmissões

com mulheres fazendo parte da programação. Entre outros exemplos, Célia Ribeiro, vinda da

TV Piratini, apresentava um programa vespertino voltado para as mulheres. A emissora

inovou, no entanto, ao inserir uma mulher, Ivete Brandalise, no telejornalismo político da

televisão.

Afiliada da TV Excelsior, a TV Gaúcha retransmitia o telejornal Show de Notícias,

lançado em 1964, pela Excelsior, que trazia, além das notícias diárias, a comentarista Gilda

Müller expressando suas críticas ao regime militar e aos políticos da época. Os editores da

TV Gaúcha, Ibsen Pinheiro, Lauro Shirmer e Carlos Bastos, ao retransmitir o telejornal,

cortavam matérias que consideravam sem relevância e inseriam produções locais. Seguindo o

exemplo de Gilda, a TV Gaúcha contratou Ivete Brandalise para ocupar o cargo de

comentarista da parte local do telejornal, no qual ela lia e interpretava textos que continham

fortes críticas à política nacional escritos por Ibsen Pinheiro. O trabalho de Ivete teve grande

repercussão no Estado, já que nenhuma mulher havia tratado de tais temas nas emissoras do

sul do país.

42

Até a década de setenta, os programas de variedades foram os que deram maior

visibilidade e espaço ao sexo feminino na televisão. Durante os anos setenta, a participação de

mulheres em programas de telejornalismo cresceu. Em 1971, a TV Gaúcha lançou o Jornal

do Almoço, trazendo Magda Von Brixen como apresentadora do telejornal.

Após mostrar a bela Magda à frente do telejornal, a aparência das apresentadoras

tornou-se requisito fundamental nas emissoras do Rio Grande do Sul. Nomes como o de

Maria do Carmo, Magda Beatriz e a Miss Universo, Ieda Maria Vargas surgiram no cenário

televisivo da época. (Roesler, 1996)

A primeira repórter mulher da televisão gaúcha, Ana Winter, surgiu igualmente na

década de setenta, no mesmo momento que outras mulheres repórteres despontavam no

cenário nacional. Heidy Gerhardt, também umas das primeiras repórteres no Estado, tornou-

se um expoente na função. No campo dos esportes, o nome de Joyce Larronda marcou o

pioneirismo da mulher no comentário automobilístico, apresentando sua opinião diariamente

no Jornal do Almoço, ainda na década de setenta.

Após as primeiras aparições de mulheres no telejornalismo de emissoras do Rio

Grande do Sul, o espaço conquistado por elas cresce até os dias de hoje. Na RBS TV, muitas

jornalistas ocupam funções em diversas áreas da emissora, como as apresentadoras Cristina

Ranzolin e Rosane Marchetti, do Jornal do Almoço, o qual continua com o padrão de usar

mulheres na apresentação. Também em outros telejornais, como Paola Vernareccia, Daniela

Ungaretti e Eduarda Streb no Bom Dia Rio Grande; ou Cristina Vieira e Paula Valdez no RBS

Notícias. Em programas esportivos, com apresentação e reportagens de Eduarda Streb,

Débora de Oliveira ou Alice Bastos Neves; em programas de variedades, como Rodaika

Daudt, na apresentação do Patrola ou Regina Lima no Tele Domingo; e ainda no programa

Vida e Saúde, sob o comando de Isabel Ferrari, Laura Medina e Flávia Marroni.

43

4.3 PROGRAMAÇÃO DA RBS TV

A programação local da RBS TV, como já foi dito anteriormente, soma 15% da

programação total da emissora. Os outros 85% vêm da programação nacional da Rede Globo,

da qual a RBS TV é filiada. Nessa porcentagem de programação local, são produzidos 13

programas mais os especiais, que compreendem produções de cinema, como Curtas Gaúchos,

Histórias Curtas, Histórias Extraordinárias, Escritores, entre outros5.

Os treze programas produzidos, atualmente, pela RBS TV de Porto Alegre são6:

Redação RS: programa que vai ao ar de segunda a sexta-feira, às oito horas da manhã, com

três minutos de produção em um bloco único. Antecipa os principais fatos do dia, além de

trazer as informações do tempo/meteorologia e do trânsito em Porto Alegre e nas principais

estradas do RS. É apresentado por Daniela Ungaretti.

Bom Dia Rio Grande: Jornal transmitido de segunda a sexta-feira a partir das 6 horas e 30

minutos. Mostra notícias sobre economia, política, serviço, saúde, cultura e esporte, além de

entrevistas e da previsão do tempo. Suas apresentadoras são Paola Vernareccia, Daniela

Ungaretti, Eduarda Streb.

Jornal do Almoço: Apresentado de segunda a sábado, ao meio-dia, o telejornal está no ar há

35 anos e se caracteriza pela descontração e pelo jeito informal de transmitir as informações,

mostrando assuntos diversos como cultura, variedades, noticiário factual, musicais,

entrevistas ao vivo e comentários, temas da atualidade, comportamento e os fatos da manhã.

As apresentadoras são Cristina Ranzolin e Rosane Marchetti.

RBS Notícias: Telejornal que vai ao ar de segunda a sábado às 18 horas e 55 minutos. Seu

principal objetivo é noticiar os principais assuntos do dia, projetando também o que será

manchete no dia seguinte. Além das equipes de Porto Alegre, o RBS Notícias conta com a

5 A produção total compreende os especiais: A Ferro e Fogo - Tempo de Solidão, Antártida, Curtas Gaúchos, Escritores, Fundo do Mar, Herança Farroupilha, Histórias Curtas, Histórias Extraordinárias, Escritores, Loja da Esquina, Minha História de Natal, Mini-Metragem, Pé na Porta, Viajantes e ainda a cobertura do concurso de beleza Garota Verão. 6 RBS TV. Disponível em http://www.clicrbs.com.br/rbstv/jsp/default.jsp?programa=2&nome=rbsnoticias&pSection=260&groupid=215&uf=1&local=1. Acesso em 26/03/2008.

44

participação das 11 emissoras da RBS TV no interior do Rio Grande do Sul. Seus

apresentadores são Cristina Vieira, Elói Zorzetto e Paula Valdez.

Globo Esporte: Noticiário esportivo de segunda a sábado, transmitido logo após o Jornal do

Almoço. O programa é dividido em duas partes: estadual e nacional. Na primeira parte,

estadual, o programa apresenta reportagens com os principais fatos esportivos do dia, com

especial atenção para os destaques da dupla Gre-Nal. É o único programa esportivo que

apresenta todos os gols do interior do Estado, tanto do campeonato gaúcho, como da segunda

divisão e gols da Série Ouro do futsal gaúcho. Também acompanha os principais eventos

esportivos, como ginástica, automobilismo e maratonas. Na segunda parte, vem o noticiário

nacional, da Rede Globo, que destaca o noticiário esportivo nacional e internacional. O

apresentador estadual é Paulo Brito.

Lance Final: O programa, transmitido domingo à noite, traz um balanço dos times gaúchos

no campeonato em disputa. É apresentado por Glauco Pasa.

RBS Esporte: O programa, que estreou em 22 de julho de 2006, vai ao ar aos sábados, às 8

horas e 50 minutos, com 25 minutos de produção. Sua ênfase é dar destaque a iniciativas que,

através do esporte, ajudem crianças e adolescentes a encontrarem a cidadania longe das

drogas. Dá prioridade, também, para o trabalho do professor de educação física. Os

apresentadores são Alice Bastos Neves e Mateus Dagostin.

Tele Domingo: Programa transmitido aos domingos, após o Fantástico. Em seu conteúdo,

apresenta reportagens especiais, os principais fatos do final de semana e assuntos relacionados

ao comportamento, à informação e ao entretenimento. Seus apresentadores são Tulio Milman

e Regina Lima.

Vida e Saúde: O programa mostra reportagens sobre beleza, saúde, comportamento e terapia

alternativa. Vai ao ar às 8 horas da manhã de sábado. Suas apresentadoras são Isabel Ferrari,

Laura Medina e Flávia Marroni.

Campo e Lavoura: Programa que mostra acontecimentos da agricultura e pecuária, novidades

em tecnologia para o campo, feiras e eventos, dicas e também culinária. Traz, ainda, os fatos

políticos de interesse do agronegócio no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Vai ao ar aos

domingos, às 6 horas da manhã e é apresentado por Irineu Guarnier.

45

Galpão Crioulo: Programa que vai ao ar aos domingos, às 6 horas e 30 minutos e apresenta

manifestações artísticas da cultura gaúcha, através, principalmente, da música. É apresentado

por Antonio Augusto Fagundes (Nico Fagundes) e Neto Fagundes.

Patrola: Exibido aos sábados, às 11 horas e 30 minutos, o programa, direcionado ao público

jovem, mostra agenda de shows, festas; fala sobre moda, esportes radicais, curiosidades e

entrevistas. È apresentado por Ico Thomaz e Rodaika Daudt.

Anonymus Gourmet: Apresentado pelo jornalista, advogado e escritor José Antônio Pinheiro

Machado, o programa vai ao ar aos sábados, às 8 horas e 30 minutos e tem como objetivo

mostrar receitas fáceis, baratas e saborosas com um truque ou toque do Anonymus.

4.4 PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA DA RBS TV

A RBS TV, nos últimos anos, aumentou em grande escala sua programação esportiva.

Depois de iniciar as transmissões dos jogos do Campeonato Gaúcho, em 1998 e ter a

exclusividade de cobri-los em 2003, a área esportiva da emissora cresceu e o interesse pelo

futebol também. O jornalismo esportivo da RBS TV cresceu de tal maneira que, além dos

programas sobre esportes da emissora e das transmissões dos jogos do Campeonato Gaúcho, a

equipe responsável pela cobertura de futebol passou a cobrir também as partidas dos times

gaúchos no Campeonato Brasileiro e na Copa do Brasil, sem a interferência de equipes da

Rede Globo, como era feito em anos anteriores, nos quais a Rede Globo era responsável por

toda a cobertura desses campeonatos e mandava suas equipes completas para fazer as

transmissões.

Segundo o Chefe de Esportes da RBS TV, Renato Matte7 (2008), de janeiro a abril de

2008, a equipe de esportes da emissora fez a cobertura de 140 jogos. Entre eles,

7 Entrevista concedida à autora em 13 de maio de 2008.

46

aproximadamente 100 jogos foram do Campeonato Gaúcho, o qual foi transmitido na RBS,

na TVCOM e também no Premiere Futebol Clube8.

Além da cobertura de futebol, a RBS TV vem investindo também em outras

modalidades esportivas. De acordo com o chefe de esportes, a emissora cobriu, neste ano, a

Copa Gerdau de Tênis, a 25° Maratona Internacional de Porto Alegre, o The Best Jump,

competição de hipismo realizada na Capital, entre outros eventos esportivos. Há ainda, um

núcleo olímpico formado pela emissora, o qual está se preparando para cobrir as Olimpíadas

de Pequim em agosto de 2008.

Dentre os treze programas produzidos pela RBS, três deles são exclusivamente sobre

esportes: Globo Esporte, Lance Final e o RBS Esporte. Nos telejornais da emissora há um

espaço para mostrar os principais fatos esportivos do dia, com ênfase nos jogos de futebol de

Grêmio e Internacional e dos demais times gaúchos, com seus gols nas rodadas dos

campeonatos em disputa e nas novidades dos clubes.

No telejornal Bom Dia Rio Grande, além do noticiário geral, há um bloco para o

jornalismo esportivo, no qual a apresentadora Eduarda Streb transmite informações sobre a

dupla Gre-Nal e os times de futebol do Rio Grande do Sul. No Jornal do Almoço também é

dedicado um espaço ao futebol e a dupla Gre-Nal, no qual Paulo Brito apresenta gols,

resultados e informações da dupla. Quando Brito se ausenta, Eduarda Streb ou Débora de

Oliveira o substituem.

O Globo Esporte, programa transmitido na Rede Globo, tem, no primeiro bloco,

informações sobre os times de cada Estado, apresentados diretamente das filiais da emissora e

o segundo bloco apresentado da própria Rede Globo, no Rio de Janeiro, com noticiário

esportivo nacional e internacional. No Rio Grande do Sul, Paulo Brito é o apresentador da

parte regional, na qual transmite notícias sobre a dupla Gre-Nal, Juventude e outros times de

relevância no cenário esportivo estadual. Eventualmente é substituído por Eduarda Streb ou

Débora de Oliveira.

Ainda sobre futebol há o programa Lance Final, que apresenta os melhores momentos

da dos jogos da dupla Gre-Nal nos campeonatos em disputa, assim como gols de jogos do

Campeonato Gaúcho ou de quaisquer outros times gaúchos que disputam o Campeonato 8 Canal em pay-per-view presente na TV por assinatura que transmite os principais campeonatos estaduais de futebol do Brasil, além do Campeonato Brasileiro da série A e série B.

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Brasileiro nas suas três divisões. O programa é apresentado por Glauco Pasa e tem

comentários de Maurício Saraiva.

A emissora possui, além dos programas sobre futebol, o RBS Esporte, o qual além de

dar prioridade a iniciativas que, através do esporte, ajudem crianças e adolescentes, mostra

também esportistas gaúchos e eventos esportivos de Porto Alegre. O programa, neste ano de

Olimpíada, vem dando ênfase, também, aos competidores gaúchos que disputarão os Jogos de

Pequim. O RBS Esporte é formado pelos apresentadores e repórteres Alice Bastos Neves e

Mateus Dagostin e pela repórter Karine Alves.

A cobertura esportiva da RBS TV se completa com a transmissão de jogos da dupla

Gre-Nal pela emissora às quartas-feiras e aos domingos em época de campeonatos estaduais e

nacionais. Enquanto na Rede Globo são transmitidos jogos do Rio de Janeiro ou São Paulo, a

RBS TV transmite, no mesmo horário, os jogos dos times do Rio Grande do Sul, com

cobertura completa de profissionais da emissora, incluindo gravações, narração, comentários

e reportagens.

4.5 MULHERES NA PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA

O número de mulheres que fazem parte do jornalismo esportivo da RBS TV é notável

e também equilibrado se comparado ao número de homens. Em uma equipe formada por

cerca de dezoito pessoas, nove são mulheres. Uma coordenadora, duas repórteres e

apresentadoras, três produtoras, mais as três mulheres que fazem parte do núcleo olímpico,

das quais uma é coordenadora, uma é repórter e apresentadora e uma é repórter.

Entre os repórteres que, além de reportagens, fazem a cobertura de jogos de futebol, o

número de homens soma quatro, os quais são Glauco Pasa, Fernando Becker, Luciano

Calheiros e Felipe Bueno, contra duas mulheres representadas por Eduarda Streb e Débora de

Oliveira. No núcleo olímpico, que consiste na mesma equipe do programa RBS Esporte, são

48

duas mulheres, a repórter Karine Alves e a repórter e apresentadora Alice Bastos Neves

contra apenas um homem, o repórter e apresentador Mateus Dagostin.

As mulheres que fazem reportagens esportivas, Eduarda Streb e Débora de Oliveira,

ocupam e desempenham, igualmente, as mesmas funções que os repórteres homens. Entre

suas áreas de atuação estão as reportagens com os times, acompanhar os treinamentos, em

especial de Grêmio e Internacional, cobrir partidas de futebol e reportagens dos demais

esportes em destaque no momento. Eduarda Streb, além de repórter, apresenta um bloco

esportivo do Bom Dia Rio Grande, na RBS TV e o Torcida TVCOM, na TVCOM.

49

5 A MULHER NA COBERTURA DE FUTEBOL DA RBS TV

Na história do jornalismo esportivo da RBS TV, cinco mulheres já tiveram a função de

cobrir jogos de futebol. Desde a pioneira, Carmem Lopes, que iniciou sua carreira na década

de oitenta, as portas se abriram para outras mulheres que também fizeram história na

cobertura esportiva e que, aos poucos, conquistaram a confiança do telespectador,

acostumado desde os primórdios da televisão a ver homens cobrindo partidas de futebol.

Com Carmem Lopes nos anos oitenta, a passagem de Marjana Vargas e Juliana Bolson

na década de noventa, e Eduarda Streb e Débora de Oliveira nos dias atuais, a RBS TV não só

abriu as portas para as mulheres no mercado de trabalho do jornalismo esportivo do Rio

Grande do Sul, mas também colaborou para a aceitação da mulher nesse tipo de função,

deixando-a mostrar que também possui capacidade para exercer funções que em outros

tempos cabiam somente ao sexo masculino.

Ultrapassando dificuldades e, em determinados momentos, o preconceito dentro dos

gramados pelo fato de serem mulheres, essas jornalistas contribuíram para tornar o futebol um

assunto também discutido pelo sexo feminino. Colaboraram, ainda, para que os homens, aos

poucos, pudessem aceitar o fato de que mulheres podem entender de futebol e têm todo o

direito de participar das discussões e dos jogos, seja como jornalistas ou torcedoras.

5.1 CONTRATAÇÃO DE MULHERES

Competência. Segundo Renato Matte9 (2008), chefe de esportes da RBS TV, esse é o

principal critério de seleção de pessoal para a emissora, tanto para homens quanto para

mulheres. Para a RBS TV, não existe nenhum tipo de restrição quanto ao sexo do contratado e

nem a idéia preestabelecida de querer somente uma mulher, ou somente um homem para o

9 Entrevista concedida à autora em 13 de maio de 2008.

50

cargo. Para Matte, o critério de escolha que prevalece é sempre o da competência. Além dessa

característica, a pessoa precisa ter conhecimento, capacidade, comportamento ético e social,

formação e qualificação.

O gosto pelo esporte também é necessário, já que para a cobertura de jogos de futebol

o jornalista precisar abdicar de seus finais de semana. Matte diz que, somente neste ano, com

a transmissão dos jogos do Campeonato Gaúcho pela RBS TV, TVCOM e Premiere, a equipe

trabalhou, desde janeiro até abril, praticamente todos os finais de semana.

Nos finais de semana nós chegamos a ter escalas de quinze eventos esportivos, de quinta-feira a domingo. Então precisa de narrador, comentarista, produtor, repórter, coordenador e por aí vai. É gente que não acaba mais. (Matte, 2008)

Desde 2003 na chefia de esportes, Renato Matte não acompanhou a inserção de

mulheres no jornalismo esportivo da emissora. Quando chegou para assumir o cargo, as

mulheres já estavam estabelecidas na cobertura esportiva da RBS TV. Para ele, a ausência

delas nesse tipo de função em anos anteriores e a dominação de homens no jornalismo

esportivo são justificadas pelo fato de antes haver uma situação que hoje não existe mais, a

entrevista dentro do vestiário. A entrada de repórteres mulheres nos vestiários era muito mais

demorada que a de repórteres homens, já que elas deveriam esperar os jogadores tomarem

banho e se vestirem adequadamente, enquanto os jornalistas homens acessavam rapidamente

os vestiários e faziam suas entrevistas muito antes que elas. Hoje, com a modernização dos

clubes e a criação de salas de imprensa, tanto o jornalista homem quanto a jornalista mulher

conseguem, ao mesmo tempo, entrevistar jogadores e comissão técnica sem nenhuma

dificuldade ou constrangimento.

Para Matte, a repórter mulher não era utilizada nesse tipo de função, muitas vezes para

ser preservada, já que em determinados momentos o ambiente tornava-se machista e

desrespeitoso com o sexo feminino. A dominação de homens na cobertura esportiva começou

a regredir, no entanto, com a entrada da mulher no mercado de trabalho do jornalismo e

também com a inserção da mulher na prática de esportes.

Com a presença consolidada de mulheres na cobertura esportiva, tanto na RBS TV

como em outras emissoras, Matte afirma que jamais o fator sexo vai ser impedimento para se

ter acesso a uma equipe de esportes dentro da RBS TV. Na contratação de Débora de

Oliveira, por exemplo, ele diz que a emissora estava procurando um repórter e ao observar o

51

mercado todo, encontrou Débora atuando nas coberturas de campo da Band. A partir disso

convidaram-na para trabalhar na RBS. Segundo ele, não houve interesse prévio em contratar

uma pessoa do sexo feminino, eles buscaram um profissional competente e encontram uma

mulher.

A presença de mulheres na cobertura esportiva da RBS TV poderia ser maior se a

dificuldade em encontrar jornalistas aptas não fosse tão grande. O chefe de esportes relata que

a emissora até certo ponto estaria interessada em ter uma voz feminina nos comentários de

futebol, mas se fosse buscar uma mulher que se enquadrasse no cargo, os obstáculos seriam

grandes, pois não há, no momento, mulheres aptas a exercer tal função.

Não há, no entanto, preconceito algum quanto ao fato de a emissora colocar mulheres

na cobertura esportiva e também nos comentários de futebol. Matte diz que os telespectadores

pedem as jornalistas mulheres na bancada e nos debates. A emissora, contudo, não coloca

repórteres para debaterem sobre futebol para preservar suas funções, já que eles não podem

emitir uma opinião sobre determinado jogador e no mesmo dia entrevistar o mesmo para uma

reportagem. Quem vai para a bancada discutir futebol são os analistas e comentaristas,

somente.

Preconceito, tanto por parte da maioria dos torcedores, quanto por parte dos colegas

homens, não há. Para Matte, a qualificação das repórteres mulheres é igual ou até maior que a

dos homens, então não há espaço para esse tipo de comportamento. Segundo ele, fora da

emissora até pode existir, por exemplo, quando uma jornalista mulher faz uma reportagem

que não agrada determinados dirigentes ou torcedores, eles podem ter uma reação mais severa

que aquela que teriam se um repórter homem tivesse feito a reportagem. Mas esse sentimento

é somente por parte do torcedor, internamente na emissora não há esse tipo de preconceito e,

se houver, o grupo imediatamente rejeita tal comportamento.

52

5.2 A PIONEIRA

A jornalista Carmem Lopes, hoje coordenadora do núcleo olímpico da RBS foi uma

das primeiras mulheres a cobrir futebol no país e a primeira10 no Rio Grande do Sul. Carmem

começou sua carreira no jornalismo esportivo em dezembro de 1983, como repórter da RBS

TV de Pelotas, quando estava indo para o quarto ano do curso de Jornalismo. Segundo ela11,

começou por acaso, foi contratada para fazer um estágio na RBS TV e posteriormente a

chamaram para cobrir as férias de um repórter. No dia em que se apresentou para ocupar a

função, o jornalista que entraria em férias havia sido demitido e ela foi convidada para ocupar

seu lugar.

Em seu relato, Carmem conta que, naquela época, a estrutura das televisões do interior

era pequena, nada comparado ao que é hoje, a TV de Pelotas, por exemplo, desfrutava apenas

de dois repórteres. Quando um deles foi demitido, ela teve que substituí-lo em todas as

funções que ocupava, inclusive nas reportagens de esportes. Foi nesse período que Carmem,

filha de ex-técnico de futebol, se encantou ainda mais com o futebol e com a reportagem

esportiva.

No ano seguinte a sua contratação, o Brasil de Pelotas estava disputando o

Campeonato Brasileiro. Em conseqüência disso, a RBS TV de Pelotas produzia muitas

reportagens sobre o time, as quais eram transmitidas não só para Pelotas, mas também para a

RBS estadual, Rede Globo e através dela para todo o país quando o time local disputava jogos

contra equipes de outras regiões. Carmem trabalhou na RBS TV de Pelotas por sete anos e

durante esse período aprendeu muita coisa. Naquele período tudo era permitido, como

Carmem era uma das primeiras mulheres a trabalhar no meio, ainda não havia um parâmetro

para seguir, não existia um protótipo, um modelo para produzir as reportagens. Segundo a

jornalista, se um jogador sentasse no gramado após o treino ou o jogo, ela, para entrevistá-lo,

sentava-se no gramado também. Sentava-se, ainda, nas arquibancadas para entrevistar os

torcedores. Carmem relata que

10 Na banca examinadora deste trabalho, o Doutor Flávio Porcello afirmou que a primeira mulher a trabalhar com jornalismo esportivo de televisão no Estado foi Carla Seabra, durante a década de 70, na TV Guaíba. 11 Entrevista concedida à autora em 15 de maio de 2008.

53

Se o jogador estivesse na sala de recuperação, deitado, fazendo massagem eu ficava ali do lado entrevistando, porque para mim tudo era permitido, eu não tinha um parâmetro, então isso foi legal. Até hoje, volta e meia, lá em Pelotas, me chamam para receber homenagens por ter sido a primeira mulher. (Lopes, 2008)

Durante os sete anos que ficou na RBS TV de Pelotas, acompanhou dois

Campeonatos Brasileiros e produziu muitas reportagens que através da RBS estadual, eram

mandadas para outros lugares, onde havia emissoras filiadas da Rede Globo. Como repórter

da Rede Globo, Carmem dividia as funções na reportagem esportiva com Isabela Scalabrini,

que fazia matérias sobre esporte amador, hoje chamado de esporte de alto rendimento,

enquanto Carmem cobria jogos e fazia reportagens de futebol.

Durante o período em que esteve em Pelotas, Carmem lembra que na RBS TV de

Porto Alegre a área de esportes era dominada por homens. Cristina Ranzolin, que entrou no

jornalismo esportivo da emissora um ano depois de Carmem, era a única mulher da equipe e

fazia basicamente reportagens sobre esporte amador. A Rede Globo encontrava-se na mesma

situação, os homens dominavam as reportagens relacionadas ao futebol e à cobertura de

jogos, e as poucas mulheres que trabalhavam no jornalismo esportivo faziam a cobertura de

competições de esporte amador.

Carmem permaneceu na RBS TV de Pelotas até 1990, quando trocou o Jornalismo

pelo Direito e mudou-se para Brasília. Um tempo depois voltou para Pelotas, onde foi diretora

do departamento jurídico do Brasil de Pelotas. Após um ano, mudou-se para João Pessoa e lá

foi convidada para ser comentarista de futebol da TV Manchete local, nos jogos da Série B do

Campeonato Brasileiro. Depois de algum tempo recebeu uma proposta para criar uma equipe

de jornalismo na TV Bandeirantes de João Pessoa. Mudou-se para Florianópolis e lá ficou um

ano como editora-chefe do Bom Dia SC e da rede regional. Voltou para Porto Alegre em

1995, quando assumiu a chefia de reportagem da RBS TV. Em 1996 e 1997 trabalhou no

núcleo da Rede Globo, fazendo produção para o Jornal Hoje e produção e edição para o

Jornal Nacional. Em 1998 foi convidada a restabelecer o contato entre a área esportiva da

RBS TV e a da Rede Globo, já que o encarregado de tal função, Régis Rösing, havia deixado

a RBS.

Durante esse período, Carmem assumiu a função de coordenar a parte de produção da

RBS TV feita para a Rede Globo e também o cargo de editora executiva do Globo Esporte.

Em 1998 e 1999 participou, junto com a equipe de esportes da RBS TV, da cobertura da Copa

54

do Mundo da França, produzindo diversas reportagens para a Rede Globo. Nessa equipe havia

outra mulher além de Carmem, Juliana Bolson, de Caxias do Sul, que também participava das

reportagens sobre a Copa. Carmem deixou novamente a área esportiva da emissora e foi para

a TVCOM coordenar, por um ano, o jornalismo da emissora. Voltou para os esportes da RBS

TV em 2001 e em 2002 participou da cobertura da Copa do Mundo Coréia do Sul/Japão. No

segundo semestre de 2002 pediu demissão e mudou-se para o Rio de Janeiro, para trabalhar

na Rede Globo/SporTV fazendo o “meio campo” entre essas duas emissoras e suas afiliadas

do Brasil, organizando toda a estrutura das equipes que saíam do Rio de Janeiro para fazer a

cobertura dos jogos transmitidos na Rede Globo.

Carmem conta que foi nessa época que deu muito apoio para as mulheres fazerem

cobertura de futebol na RBS TV. Em 1995 já havia uma jornalista que trabalhava na área,

Marjana Vargas, que produzia apenas reportagens e não jogos, pois a RBS TV ainda não fazia

transmissões de partidas de futebol. Carmem passou a sugerir que novas meninas fizessem

cobertura de jogos, como a Eduarda Streb na RBS TV do Rio Grande do Sul e Juliana Bolson,

que já havia trabalhado com esportes na RBS TV gaúcha, na emissora de Santa Catarina.

Segundo Carmem, a partir desse momento o número de mulheres aumentou, não só no Rio

Grande do Sul, como no resto do país. “Até a metade da década de noventa não havia

mulheres e, as poucas que tinha, faziam esporte amador, e não futebol. Futebol era restrito aos

homens. Mas depois de 2002, eu perdi as contas”(Lopes, 2008).

De volta para a RBS TV de Porto Alegre, Carmem passou a coordenar o núcleo Pan,

criado para fazer a cobertura dos jogos Pan-Americanos Rio 2007. Após o Pan, o núcleo

transformou-se em núcleo olímpico, devido às Olimpíadas de Pequim.

5.3 AS ATUAIS

Hoje, as repórteres que fazem parte da equipe de esportes da RBS TV são Eduarda

Streb e Débora de Oliveira. Entre a pioneira, Carmem Lopes e as atuais, duas outras

55

repórteres participaram da cobertura esportiva da emissora, uma nos anos noventa, Marjana

Vargas, e outra nos anos 2000, Juliana Bolson.

Marjana Margas começou no jornalismo esportivo da RBS TV em 1991 e, segundo

ela12, por muitos anos foi a única mulher da emissora a trabalhar na área. No período em que

permaneceu na RBS, fez reportagens de esportes olímpicos e futebol, foi produtora e também

editora. Em 1995 tornou-se âncora dos programas de esportes da TVCOM. Apresentou,

ainda, o Globo Esporte e o RBS Esportes e fez diversas reportagens esportivas para a Rede

Globo. Deixou a RBS TV em 1999. Atualmente Marjana é Diretora Artística e de Produção

da TV Pampa e âncora da TV Câmara.

Juliana Bolson entrou no jornalismo esportivo da RBS TV de Caxias do Sul, como

repórter, em 2001. Durante os anos que ocupou o cargo, fez produções de reportagens de

esportes em geral e também reportagens de futebol, para as quais ia ao campo quase que

diariamente. Deixou a reportagem esportiva depois de sete anos, para assumir a coordenação

de jornalismo de Caxias do Sul. Segundo ela13, a opção por deixar a área esportiva “foi a

maneira que encontrei de crescer profissionalmente, aprender coisas novas. Mas sinto falta

dos gramados” (Bolson, 2008).

5.3.1 Eduarda Streb

Eduarda Streb é repórter esportiva há nove anos e apresentadora há seis. Começou sua

carreira no jornal Zero Hora e transferiu-se, após um teste, para a TVCOM, onde trabalhou na

área de geral, como produtora e posteriormente como repórter. Sua entrada no jornalismo

esportivo aconteceu quando Marjana Vargas, então repórter esportiva da RBS TV, deixou a

emissora, em 1999. A paixão pelo esporte levou Eduarda a entrar para o departamento

esportivo e a tornar-se repórter da RBS TV. Em 2002, ela passou a apresentar um bloco de

esportes no telejornal Bom Dia Rio Grande.

12 Entrevista concedida à autora por e-mail em 03 de junho de 2008. 13 Entrevista concedida à autora por e-mail em 06 de junho de 2008.

56

Logo que começou no jornalismo esportivo fazia muitas reportagens de campo, depois

de tornar-se apresentadora, porém, acabou afastando-se um pouco desse tipo de reportagem.

Mesmo longe dos gramados, cobrindo jogos esporadicamente, Eduarda14 lembra o quanto ela

considera emocionante cobrir futebol

Eu acho uma adrenalina, acho fantástico, mesmo que muitas vezes eu fosse a única, ou uma das únicas, em um ambiente tipicamente masculino. Mas eu adoro essa adrenalina do estádio lotado, da expectativa das torcidas, da definição dos times, até o jogo em si também é bacana de cobrir. (Streb, 2008)

Além de apresentar o bloco de esportes do Bom Dia Rio Grande, Eduarda apresenta,

aos domingos, na TVCOM, o programa Torcida TVCOM e também produz reportagens para a

Rede Globo. Mesmo com todas essas funções acumuladas, Eduarda ainda participa de

cobertura de jogos, como da Copa Toyota Libertadores de 2006 e 2007, quando os times do

Grêmio e do Internacional disputaram a competição.

5.3.2 Débora de Oliveira

Débora começou sua trajetória no jornalismo esportivo na rádio ABC, de Novo

Hamburgo, em 1998, antes ainda de começar o curso de Jornalismo. O gosto por esportes

levou Débora a participar de um concurso que escolheria quatro meninas para debater sobre

futebol no programa Fórum Feminino de Esportes, criado aos moldes de um programa já

existente comandado por homens. Débora foi uma das escolhidas e participou, durante três

anos, do programa transmitido aos domingos pela manhã. Segundo ela15, o começo foi muito

complicado, tanto pela sua inexperiência quanto pelo fato de as outras meninas entenderem

mais de futebol, já que todas tinham um contato maior com o esporte. Débora, tentando

superar sua falta de conhecimento, buscou aperfeiçoar seus conhecimentos não só sobre

futebol, mas sobre todos os outros esportes presentes na mídia. Em um determinado

momento, optou por sair do estúdio e ir para o campo, para debater com as outras meninas

diretamente do estádio, onde poderia também acompanhar a concentração dos jogadores, a

torcida e a comissão técnica.

14 Entrevista concedida à autora em 21 de maio de 2008. 15 Entrevista concedida à autora em 15 de maio de 2008.

57

Com essa atitude, Débora aos poucos foi crescendo na rádio, foi efetivada e ganhou

um espaço durante a cobertura de jogos do 15 de Novembro e do Novo Hamburgo, chamado

Repórter da Galera, no qual acompanhava a movimentação da torcida chegando ao estádio.

Conquistou também um programa jovem na rádio ABC, o Galera e ainda passou a cobrir as

partidas desses dois times como repórter, acompanhando a movimentação do jogo atrás das

goleiras. Permaneceu na rádio ABC por sete anos, até ser chamada para trabalhar na Band.

Na Band, Débora foi contratada para trabalhar na TV e no rádio. Começou como

repórter esportiva e eventualmente, quando algum integrante do programa Toque de Bola

faltava, participava das discussões. Ao chegar na emissora, diz ter sentido dificuldades pois,

segundo ela, estava acostumada a trabalhar para um público de oitocentos, dois mil

torcedores, no máximo e, quando chegou na Band, deparou-se com trinta, quarenta mil

torcedores no estádio, além do fato de que ninguém sabia quem era Débora, todos queriam

ouvir o que ela tinha a dizer.

Débora conta que, aos poucos, foi mostrando sua capacidade e com isso tornou-se

integrante fixa do Toque de Bola e ganhou, ainda, um programa de rádio de duas horas, no

qual falava de futebol. Permaneceu na Band por dois anos e meio, até receber um convite para

trabalhar na RBS TV. Em 20 de novembro de 2006 Débora começou na nova emissora, a qual

a contratou para fazer reportagens esportivas, cobertura de jogos e apresentação de

programas.

5.4 DIFICULDADES E PRECONCEITOS

De acordo com as jornalistas entrevistadas, as dificuldades de trabalhar na cobertura

de futebol, em um ambiente dominado por homens, são maiores que o preconceito sofrido

pelo fato de serem mulheres.

58

A ex-repórter esportiva Carmem Lopes16 conta que, na década de oitenta, em um

momento que ainda não era comum a participação de mulheres na cobertura esportiva, não

havia um preconceito propriamente dito. Ela diz que, mesmo fazendo suas entrevistas nos

vestiários, no início e término dos treinos e das partidas, os jogadores nunca se negaram a

conversar com ela.

Eu entrava no vestiário direto. Saída de treino, entrada de treino, em muitos estádios e no Brasil de Pelotas era assim, eu passava no vestiário antes de ir pro campo. Então os jogadores diziam: - Bota a toalha que a Carmem ta passando! (Lopes, 2008)

Um dos motivos pelos quais Carmem acha que nunca sofreu preconceito foi o fato de

sempre ter mantido uma postura profissional no campo, nunca pedindo tratamento

diferenciado pelo fato de ser mulher. Ela diz ficar decepcionada quando surgem jornalistas

que se comportam como “marias-chuteira”, envolvendo-se com jogadores e deixando de lado

a postura profissional, porque, segundo ela, foi um trabalho árduo que as mulheres tiveram até

conquistar espaço, respeito e credibilidade no jornalismo esportivo.

Juliana Bolson17, repórter esportiva por sete anos da RBS TV de Caxias do Sul, crê

que “no início todos têm um pouco de desconfiança, mas com o tempo, e só com o tempo,

você conquista o respeito de jogadores, torcedores, e colegas, através da qualidade do teu

trabalho e com a postura que tens” (Bolson, 2008). Sobre as dificuldades que a mulher

enfrenta na reportagem de futebol ela diz que

As dificuldades são muito parecidas com a de um repórter de qualquer editoria quando se está começando a carreira. Tinha muitas inseguranças, dúvidas sobre como conduzir as matérias. É claro que, estar num meio ainda muito mais masculino do que feminino assusta um pouco, você quer ser aceito e respeitado, mas com dedicação isso é possível. (Bolson, 2008)

Para Eduarda Streb18, ainda existe um mito com relação à presença de mulheres na

cobertura de futebol, por exemplo, o mito em relação aos vestiários. Logo que iniciou sua

carreira nos esportes da RBS TV entrevistou um atleta dentro do vestiário, o qual estava

usando uma toalha na cintura e, mesmo nessa situação, Eduarda disse não ter passado por

nenhum problema, porque, segundo ela, quando se está fazendo uma entrevista, tanta coisa

passa pela cabeça do repórter, como o texto da reportagem, as repostas do entrevistado, que

16 Entrevista concedida à autora em 15 de maio de 2008. 17 Entrevista concedida à autora por e-mail em 06/06/2008. 18 Entrevista concedida à autora em 21 de maio de 2008.

59

não sobra tempo para o profissional pensar em qualquer outra coisa. Hoje, esse tipo de mito

não existe mais, pois com as salas de imprensa não há constrangimento nenhum, tanto por

parte do jogador como por parte do repórter.

A única vez que Eduarda lembra de ter sofrido preconceito foi em sua primeira

transmissão de futebol, no jogo entre Atlético Paranaense e Internacional, na Arena da

Baixada, em Curitiba. Eduarda estava cobrindo o time do Internacional e a repórter Delisie

Teixeira o do Atlético quando, durante a partida, um telespectador ligou para a RBS e disse

que aquelas duas mulheres deveriam ir esquentar a barriga no fogão e não cobrir partidas de

futebol.

Eduarda crê que não há um preconceito propriamente dito, “ninguém nunca falou

alguma coisa para mim, mas, por exemplo, certamente alguém já reclamou da minha voz”

(Streb, 2008). Ela crê, ainda, que o jornalismo esportivo sofra um pouco mais com isso por

ser um ambiente tipicamente masculino, porém imagina que as brincadeiras que ouve durante

os jogos sejam ouvidas pelos repórteres homens também.

Os problemas eu acho que os meus colegas também enfrentam. Para todos são os mesmos, do pessoal mexer, brincar, fazer um coro daqui, dali, mas nada agressivo, nada preconceituoso.Eu acho que, se existe, eles falam pelas costas, eu nunca ouvi nada com relação ao fato de ser mulher. (Streb, 2008)

Quanto às dificuldades, Eduarda diz que elas concentram-se, principalmente, na

questão de os torcedores que freqüentam os estádios e os telespectadores entenderem que a

repórter esportiva vai ao campo como uma jornalista, “nenhum delas está indo até lá para

combinar um programa à noite” (Streb, 2008). Segundo ela, esse é o início, a repórter deve,

em primeiro lugar, preservar-se.

Eu me preservo muito, eu não vou ao estádio de saia, vou da maneira mais básica possível, eu não tenho que chamar a atenção para a minha roupa, para o meu jeito feminino de ser, eu tenho que chamar a atenção pelas reportagens que eu vou fazer depois, então acho que a postura para quem trabalha nesse tipo de atividade, num ambiente tipicamente masculino, é tudo. (Streb, 2008)

Segundo Eduarda, esse comportamento profissional acaba se transformando em um

cartão de visita para a jornalista e é isso que ela costuma fazer, apesar de, em determinados

momentos surgirem situações constrangedoras, em que há necessidade de a jornalista mostrar

para que está no campo.

60

Eu nunca dei abertura para nada. Embora, obviamente, tu passes por algumas saias justas, inevitavelmente por tu ser mulher. Acho que isso existe em qualquer ambiente de trabalho. Já rolou alguma coisa assim, de constrangimento, mas a partir desse momento tu fala, tu tem que te impor. Com treinador já aconteceu, eu acho que você tendo postura, você dizendo desde o início a que você está lá, é muito mais fácil de você conduzir seu trabalho, seja onde for. (Streb, 2008)

Débora de Oliveira19 fala que preconceito existe até hoje, mas por parte de poucos. Ela

conta que, quando trabalhava na rádio ABC não tinha problemas com os jogadores locais,

porque eles a conheciam, viam que ela os acompanhava diariamente e que fazia seu trabalho

com seriedade. No entanto, quando vinha até Porto Alegre para cobrir jogos da dupla Gre-Nal

ninguém a conhecia e, devido a isso, muitos a tratavam com hostilidade, por ela não

acompanhar diariamente os treinos dos times da Capital. Ela cita um exemplo de um Gre-Nal

que cobriu para a rádio ABC, onde estava trabalhando como repórter atrás da goleira.

Enquanto esperava para entrar ao vivo na rádio, um dos integrantes da Federação Gaúcha de

Futebol pediu que ela se retirasse do campo, como conta Débora.

Eu estava atrás do gol e chegou um integrante da Federação e disse: - Olha, a gente quer que tu saia. Eu falei assim: -Mas eu estou trabalhando. E ele respondeu: - Não, não tem nenhuma mulher que trabalha aqui em rádio. E eu disse: -Não, eu estou trabalhando. E ele: - Então fala aí no microfone. E eu falei: -Mas eu não posso interromper o narrador, ele está narrando. E ele: - Não, então tu vai sair. Aí veio um integrante da Aceg - Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos - e falou: - Não, a Débora trabalha em todos os jogos. E o integrante da Federação: -Não, eu quero ver ela falar! Eu continuei explicando que não podia interromper o locutor e, mesmo assim, ele me retirou do estádio. (Oliveira, 2008)

Já na Band, na primeira transmissão de rádio que fez para a emissora, em um jogo

entre Grêmio e São Caetano, Débora relata um momento em que sofreu preconceito por parte

dos torcedores pelo fato de ser mulher.

Durante o jogo, teve um gol do Anderson Lima e eu estava atrás do gol. Ele fez o gol e colocou o dedo como se estivesse pedindo silêncio. Aí o comentarista da rádio disse: - Eu não acredito, ele está mandando o torcedor do Grêmio calar a boca! Um cara que jogou aqui tanto tempo! Aí eu disse: - Olha, eu tenho uma outra visão, ele não comemorou o gol, ele botou o dedo e pediu para que ninguém do time dele comemorasse o gol. Aí os ouvintes começaram: - Ah, essa guria não entende nada de futebol! Porque vocês trouxeram ela? Ela que vá fazer tricô em casa! Aí quando terminou o jogo eles foram entrevistar o Anderson Lima e perguntaram porque ele tinha mandado a torcida do Grêmio ficar quieta. Aí ele disse: - Eu jamais faria isso. Eu pedi para os meus companheiros não vibrarem, eu jamais vou vibrar

19 Entrevista concedida à autora em 15 de maio de 2008.

61

um gol que fizer contra o Grêmio, eu tenho o maior respeito por esse clube. A minha intuição acabou se confirmando eu aos poucos fui mostrando que eu não era apenas uma guriazinha que estava ali. (Oliveira, 2008)

Débora diz que sempre teve a preocupação de mostrar para o torcedor que, acima de

tudo, é uma jornalista esportiva, mas, segundo ela, não é nada fácil. Ainda na Band,

trabalhando no programa Toque de Bola, Débora disse que muitas vezes ouviu de

telespectadores que o jornalista responsável por comandar o programa era mal educado com

ela, que a tratava mal. Ela diz que, no início, logo que começou a participar das discussões,

sentia que os outros participantes, todos homens, a testavam em relação aos assuntos

comentados, mas depois de um tempo o comportamento de todos mudou e eles sempre a

ajudaram quando necessário. Para ela, trabalhar com jornalismo esportivo “não era fácil e

continua não sendo” (Oliveira, 2008).

Quando chegou na RBS TV, Débora conta que alguns torcedores e um jogador

chamaram-na de mercenária, por ter trocado a Band pela RBS. Além disso, os torcedores

colorados não gostaram da troca feita por ela. “O torcedor do Inter reagiu muito mal, porque

eles taxam a RBS de gremista” (Oliveira, 2008). Por outro lado, ela diz que muitos

telespectadores e torcedores a apoiaram na nova emissora. “Tem os três lados, uns que me

chamaram de mercenária, os torcedores do Inter, que taxam a RBS de gremista e os outros

que deram força. Tu nunca consegues agradar todo mundo” (Oliveira, 2008).

Débora enfatiza que é muito difícil fazer o que uma repórter esportiva faz. Ela diz ver

novas meninas querendo fazer jornalismo esportivo somente porque acham alguns jogadores

lindos e querem entrevistá-los. Mas não é fácil, é muito complicado. Tem que estar sempre

bem informada, pensando em uma coisa nova, cuidando as matérias, porque, de acordo com

ela, “para ti criar o respeito entre os colegas, tu tens que mostrar uma base, não pode ser uma

coisa superficial, superficial não se sustenta” (Oliveira, 2008).

62

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta desta pesquisa, surgida através do interesse pela cobertura de futebol de

televisão e de dúvidas pessoais sobre a presença da jornalista mulher nesse tipo de

programação, pode ser entendida como alcançada. A trajetória das repórteres esportivas da

RBS TV mostrou-se dificultosa, porém, sem o preconceito que se poderia imaginar que elas

sofressem pelo fato de serem mulheres e trabalharem em um ambiente tipicamente masculino.

Analisando o espaço reservado à mulher na programação da televisão desde o seu

surgimento, podemos notar que o sexo feminino iniciou sua trajetória na TV em programas de

entretenimento e propagandas e que sua entrada no telejornalismo demorou a realizar-se de

maneira efetiva. Assim como em outras profissões antes dominadas por homens, a mulher

conquistou, aos poucos, seu espaço no telejornalismo, mostrando para a sociedade sua

capacidade em exercer funções de maneira tão eficiente quanto o sexo masculino.

No futebol, a aceitação da mulher também foi lenta e conturbada, chegando a ser

oficializada apenas entre as décadas de setenta e oitenta. Juntamente com a oficialização do

esporte para o sexo feminino, as jornalistas brasileiras iniciaram experiências na cobertura de

futebol de televisão, de maneira discreta, com apenas duas ou três representantes em todo o

país. No rádio, no entanto, apesar de ao longo dos anos existirem tentativas de inserir

mulheres na programação esportiva, hoje o que ainda se vê é um meio de comunicação

praticamente dominado por homens.

Na televisão, através de emissoras como a Rede Globo e a RBS TV, as quais abriram

espaços para a participação de jornalistas mulheres na cobertura esportiva, o número de

repórteres de futebol do sexo feminino aumenta satisfatoriamente. Desde as primeiras

experiências na década de oitenta, com uma repórter da Globo e outra da RBS, as emissoras

continuaram utilizando jornalistas mulheres em jogos e reportagens de futebol até os dias de

hoje.

A RBS TV, que desde os primeiros anos de sua inauguração utilizou mulheres em seus

programas telejornalísticos, continuou apostando no sexo feminino durante as décadas que se

seguiram, chegando aos dias atuais com uma porcentagem maior de jornalistas mulheres em

relação ao número de homens à frente dos telejornais da emissora. São dez mulheres

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dividindo com cinco homens as funções de apresentadores dos programas Redação RS, Bom

Dia Rio Grande, Jornal do Almoço, RBS Notícias, Globo Esporte, Lance Final, RBS Esporte

e Tele Domingo.

No jornalismo esportivo da emissora, desde 1981, quando surgiu a primeira repórter

em Pelotas, a RBS TV, segundo relata o chefe de esportes, Renato Matte, nunca fez

diferenciação entre homens e mulheres no momento da contratação de um repórter. A

principal característica analisada é a competência, e não o sexo dos candidatos. Exemplo

disso é a seqüência ininterrupta de mulheres na cobertura esportiva da emissora. Quando a

pioneira, Carmem Lopes, deixou o cargo na RBS TV de Pelotas, em 1990, Marjana Vargas

assumiu a reportagem esportiva, um ano depois, na emissora de Porto Alegre. Ao deixar a

função, em 1999, Eduarda Streb ocupou o lugar de Marjana. Em 2001, outra repórter

participou da cobertura esportiva, Juliana Bolson, da RBS TV de Caxias do Sul,

permanecendo até 2007. Em 2003, uma nova repórter foi contratada vinda da Band, Débora

de Oliveira.

Hoje, a emissora possui duas repórteres esportivas que fazem cobertura de jogos e

reportagens de futebol, Eduarda Streb e Débora de Oliveira. Eduarda, além dessa função,

também apresenta programas sobre futebol.

De acordo com as cinco repórteres entrevistadas, diferentemente do que muitos leigos

podem pensar, as dificuldades se sobressaem sobre o preconceito sofrido. Segundo elas, o

preconceito existe, mas na maioria das vezes é um preconceito calado. Na poucas situações

em que acontece, é fruto da descrença do torcedor ou telespectador que não compreende que a

repórter tenha, pelo fato de ser mulher, conhecimento suficiente sobre futebol. No momento

em que o torcedor ou telespectador conhece a jornalista e percebe que ela mostra domínio

sobre o assunto, o preconceito é sanado.

As dificuldades enfrentadas pelas repórteres esportivas estão concentradas em

conseguir mostrar ao torcedor que as mulheres também podem entender de futebol e que as

jornalistas vão ao campo somente para trabalhar. Isso, no entanto, segundo elas, não é fácil.

A trajetória das repórteres esportivas da RBS TV pode ser tomada como exemplo, não

só por profissionais do jornalismo esportivo, mas também de outras profissões historicamente

dominadas pelo sexo masculino. A conquista da confiança do telespectador e do torcedor foi

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lenta, traçada aos poucos pelas cinco repórteres que passaram pela emissora desde a década

de oitenta, as quais tiveram coragem para enfrentar as dificuldades e, acima de tudo,

competência para mostrarem conhecimento sobre futebol.

O jornalismo esportivo de televisão e os telespectadores do sul do país já estão

definitivamente adaptados à presença da repórter mulher na cobertura de jogos de futebol. O

que falta, ainda, é o exemplo da televisão ser copiado por outros meios de comunicação,

como o rádio, por exemplo, que até hoje tem sua programação esportiva dominada por

homens. Falta, também, a coragem para diversas jornalistas e estudantes de jornalismo

enfrentarem as dificuldades, já narradas pelas repórteres da RBS TV, e seguirem o jornalismo

esportivo, o qual, muitas vezes, deixa de utilizar mulheres na cobertura de jogos pela simples

falta de opção.

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