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1 1- INTRODUÇÃO A finalidade desta pesquisa etnográfica é apresentar a Religião Afro-brasileira, denominada Umbanda. A partir de informações, colidas, principalmente, no Centro da Fraternidade Tabajara localizada em Cariacica, durante dois domingos um no mês de maio e outro em junho, assim como, em livros e sites específicos além de troca de informações sobre a Fraternidade por meio de conversas e emails com alguns participantes do Centro. Utilizamos métodos de pesquisas etnográficos, como observação participante, utilizada por Malinowisk, na qual o antropólogo deve participar ativamente da vida do grupo estudado e pesquisa documental (fotos e vídeos), além de uma entrevista em profundidade, com o médium Luiz Augusto Labuto, responsável pela Fraternidade, para conseguir uma riqueza maior de conteúdo e informações interessantes. Ao contrário de alguns antropólogos evolucionistas, não resolvemos trabalhar com a idéia de ausência, mas sim, focamos no que a religião tem de diferente. Como ponto de partida, apresentamos dados históricos das Religiões Afro- brasileiras em geral, para um melhor entendimento da Religião proposta. Em seguida, uma breve visão sobre o que é Umbanda e sua doutrina, o Histórico da Fraternidade Tabajara, uma descrição sobre o Ofício Religioso Umbanda e de como foi sucedida nossa observação participante e por último um relatório com textuais da entrevista em profundidade realizada. Para melhor visualização do trabalho proposto segue nos anexos fotos e vídeos.

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1- INTRODUÇÃO

A finalidade desta pesquisa etnográfica é apresentar a Religião Afro-brasileira,

denominada Umbanda. A partir de informações, colidas, principalmente, no

Centro da Fraternidade Tabajara localizada em Cariacica, durante dois

domingos um no mês de maio e outro em junho, assim como, em livros e sites

específicos além de troca de informações sobre a Fraternidade por meio de

conversas e emails com alguns participantes do Centro. Utilizamos métodos de

pesquisas etnográficos, como observação participante, utilizada por

Malinowisk, na qual o antropólogo deve participar ativamente da vida do grupo

estudado e pesquisa documental (fotos e vídeos), além de uma entrevista em

profundidade, com o médium Luiz Augusto Labuto, responsável pela

Fraternidade, para conseguir uma riqueza maior de conteúdo e informações

interessantes.

Ao contrário de alguns antropólogos evolucionistas, não resolvemos trabalhar

com a idéia de ausência, mas sim, focamos no que a religião tem de diferente.

Como ponto de partida, apresentamos dados históricos das Religiões Afro-

brasileiras em geral, para um melhor entendimento da Religião proposta. Em

seguida, uma breve visão sobre o que é Umbanda e sua doutrina, o Histórico

da Fraternidade Tabajara, uma descrição sobre o Ofício Religioso Umbanda e

de como foi sucedida nossa observação participante e por último um relatório

com textuais da entrevista em profundidade realizada. Para melhor

visualização do trabalho proposto segue nos anexos fotos e vídeos.

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2- DADOS HISTÓRICOS DAS RELIGÕES AFRO-BRASILEIRAS

Em 1532, chegaram ao Brasil os primeiros negros africanos no nordeste,

trazidos por Martim Afonso de Souza para trabalharem nos engenhos de

açúcar como mão de obra escrava, e com eles a religião que dará origem a

Umbanda.

Entre os que vieram para o Brasil, um grupo significativo provinha das culturas

bantos (área angolo-congolesa da Costa Ocidental e da Costa Oriental). Os

bantos cuja experiência religiosa era voltada para os antepassados,

predominaram no sudeste brasileiro, nas áreas do Espírito Santo, Rio de

Janeiro e São Paulo.

Religiosamente, os Bantos conheciam o Ser-Supremo, denominado Zambi. As

suas praticas religiosas eram voltadas principalmente para o culto dos

ancestrais, seres mortos que se comunicavam com os vivos através do

processo da “possessão”.

Desde sua chegada, os escravos negros foram proibidos de praticar no Brasil

sua religião, ou de celebrar suas festas tradicionais africanas. Eles eram

obrigados pelos seus senhores, sob pena de tortura, a seguir a religião católica

e a falar unicamente a língua portuguesa. Porém, mesmo com esta forte

imposição, os negros não abandonaram a cultura africana. Clandestinamente,

eles realizavam seus cultos rituais, celebravam suas festas, mantiveram sua

arte e expressão rítmica, e até criaram uma luta artística, a capoeira. Somente

pouco antes da assinatura da Lei Áurea, os escravos negros começaram a ser

levados para as cidades e ali puderam se encontrar, mais abertamente, uns

com os outros e se organizar melhor. A vida urbana deu-lhes condições mais

favoráveis para a prática de suas tradições religiosas africanas. Assim, de

acordo com as cidades para onde eram levados, em geral capitais dos estados

brasileiros, eles iam recuperando seus cultos religiosos.

O fato de isso acontecer em diferentes regiões provocou inconscientemente um

fenômeno: os rituais foram recuperados de forma diversificada e acabaram por

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assumir até nomes diferentes. Devido a isso, a religião Africana deixou de ser

singular e passou a ser plural aqui no Brasil, denominando-se Religiões Afro-

brasileiras. Eis alguns nomes que a Religião Africana original assumiu, de

acordo com a região brasileira onde se organizou: 1) Batuque, no Rio Grande

do Sul; 2) Candomblé, na Bahia; 3) Macumba (depois virou Umbanda), no Rio

de Janeiro; 4) Tambor de Mina, no Maranhão e no Pará; e 5) Xangô, em

Pernambuco e Alagoas.

3- A UMBANDA

A Umbanda é um sincretismo religioso originalmente brasileiro. Também pode

ser definida como uma religião multi-étnica, que circunscrita apenas aos afro-

descendentes, mas está aberta a todos os brasileiros, com forte presença de

brancos, mesmo entre os pais-de-santo. Assim a Umbanda representa o

encontro da diversidade de crenças e tradições religiosas africanas com as

formas populares do catolicismo, mais o sincretismo hindu-cristão trazido pelo

espiritismo Kardecista.

A maioria dos estudiosos concorda em dizer que houve uma fusão entre a

macumba e o espiritismo de Allan Kardec. Mais ou menos em 1920 e 1930 um

grupo da população pobre que já conhecia o espiritismo, se aproximou da

macumba e de suas formas vibrantes, Surgindo assim um conjunto religioso

que se denominou “Umbanda”.

A Macumba era um culto afro-brasileiro de origem banto-angolense, que ao

contato com o espiritismo Kardecista acabou se dividindo em dois cultos

antagônicos: a Umbanda e a Quimbanda.

Outra influencia para a mudança de nome, foi a forte depreciação, que havia

em relação ao nome Macumba nos meios urbanos, ser chamados de

“Macumbeiro”, passou a ser uma ofensa.

Segundo a antropóloga Diana Brown, outros elementos religiosos foram se

incorporando à Umbanda: como a feitiçaria e as praticas mágicas que no Rio

de Janeiro neste período parece ter atingido um grau de extraordinário

desenvolvimento; e o Catolicismo que foi se associando desde o período da

escravidão a algumas religiões africanas.

Diana Brown relata que o primeiro centro de Umbanda surgiu quando por volta

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de 1920, um jovem de nome Zélio de Moraes ficou paralitico, não tendo

sucesso com o tratamento médico, seu pai adepto do Kardecismo, levou-o a

uma consulta na Federação Espírita Brasileira, no Rio. Uma entidade espiritual

de um padre jesuíta disse que ele deveria fundar uma nova religião, que seria

uma religião tipicamente brasileira dedicada à veneração de espíritos de

caboclos, índios e pretos velhos. Esses mesmos espíritos tinham sido

excluídos das sessões do espiritismo de Allan Kardec.

Logo depois ele recebeu o caboclo das Sete Encruzilhadas. Que deu o nome

para a nova religião “Umbanda”. Começando assim o primeiro centro de

Umbanda com o nome Centro Espírita Nossa Senhora da Piedade, que existe

até hoje funcionando em um grande prédio no centro do Rio de Janeiro,

através da filha de Zélio, a Zilméia de Moraes.

Neste local o Caboclo Sete Encruzilhadas previu muitos acontecimentos, como

a Primeira e Segunda Guerras Mundial. Uma curiosidade é o fato de o

Caboclo Sete Encruzilhadas revelar ter sido em outra encarnação o Padre

Gabriel de Malagrida, que foi sacrificado na fogueira da inquisição por ter

previsto o terremoto que destruiu Lisboa em l755.

3.1- O Crescimento dos terreiros de Umbanda

No Brasil como um todo, é quase impossível determinar o número dos adeptos

e dos freqüentadores da Umbanda. Antes de tudo, essa forma religiosa só

entrou no recenseamento em 1965, e mesmo assim a maioria continuou se

declarando católica, mesmo os assíduos freqüentadores da Umbanda.

No Brasil, ainda hoje, muitos centros de Umbanda são denominados Espíritas

e seus freqüentadores também definem-se como espíritas. Há também a

confederação Espírita Umbandista do Brasil e a Federação Espírita

Umbandista do Brasil.

Embora a Umbanda não siga todos os preceitos da doutrina espírita, ela utiliza

muitos dos termos e conceito advindos desta doutrina, inclusive o nome

Espiritismo.

A Umbanda é espiritualista, nas suas práticas ocorrem fenômenos mediúnicos,

e aceita a reencarnação, como o espiritismo. A Umbanda tem “pais” de terreiro

com vestimenta e prerrogativas equivalentes ao exercício de funções

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sacerdotais, diferente do espiritismo que não prescreve paramento nem tão

pouco formalismo de funções sacerdotais. A Umbanda tem imagens e altares, o

espiritismo não.

O Espiritismo é baseado na crença da existência de um espírito (alma) que não

necessita de corpo para existir e retorna a terra em sucessivas encarnações

ate atingir a perfeição. O Espiritismo considera o homem o único responsável

pela própria felicidade, já que tudo vai depender dos seus atos. Prega o amor

ao próximo como meio de chegar à maturidade (perfeição). Assim as

reencarnações permitem a evolução gradativa do espírito para se redimir dos

erros passados, e que todas as faltas podem ser reparadas.

Os Espíritos interferem na vida terrena por meio dos médiuns. A comunicação

acontece através da psicografia ou incorporação.

A Umbanda tem suas raízes nas religiões indígenas, africanas e cristãs. Ela

está fundamentada nos Orixás africanos trazidos pelos negros. Considera que

o universo é povoado de guias espirituais. Estes entram em contato com o

homem por intermédio de um iniciado chamado médium, que os incorporam.

Tais guias se apresentam por meio de figuras como o caboclo, o preto-velho, a

pomba-gira. Eles dão conselhos, realizam e encomendam ritos purificadores de

cura e de encaminhamentos para as questões e pedidos feitos pelos fiéis.

Como no Candomblé, a Umbanda reverencia os Deuses africanos (Orixás) que

são pontos de força da natureza, e os seus arquétipos são relacionados às

manifestações dessas forças. Os Orixás têm características iguais ou

aproximadas às dos seres humanos, que se manifestam através de emoções

como nós. Sentem raiva, ciúmes, amam em excesso, são passionais. Cada

Orixá tem o seu sistema simbólico, composto de cores, comidas, cantigas,

rezas, ambientes, espaços físicos e horários (não é conceito transmitido por

mim, Luiz ).

3.2- Religiosidade Popular

O mundo da Umbanda é povoado de espíritos e entidades espirituais que

regulam a vida cotidiana, e permitem que o fiel se relacione facilmente com o

universo das realidades sagradas.

Essa maneira de ver o mundo, não é prerrogativa do universo umbandista, mas

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é facilmente encontrada em toda forma de religiosidade popular. A religiosidade

dos católicos tem seu mundo povoado de almas e santos que interferem

constantemente na vida diária.

A Umbanda, portanto, mergulha no tipo de crença religiosa que revela a

interferência do espiritual sobre o cotidiano: é o mundo espiritual que regula e

harmoniza as coisas. Ela sustenta-se num universo povoado por espíritos e

entidades que regulam o ritmo da vida. A relação que se estabelece entre

pessoas e deuses orientam, também, o comportamento dos seres humanos

entre si.

O elemento que permite uma rearticulação de forças antagônicas é a caridade.

E ela que possibilita uma harmonia entre opostos. É um elo imprescindível de

equilíbrio e inclusão. Daí a ênfase dada na Umbanda à caridade.

Toda religião tem um ritual simples ou complexo. A Umbanda é um movimento

religioso centrado quase exclusivamente no ritual.

Durante o ritual a experiência mística é vivida em toda a sua intensidade. As

entidade espirituais descem nas pessoas que estão participando do ritual.

A prática da caridade como momento ético privilegiado, dá-se principalmente

durante o momento ritual. É ali que os espíritos descem para trabalhar e

cumprir sua missão. Praticam a caridade na terra, mitigando os sofrimentos dos

consulentes e aliviando os problemas das pessoas. Os pretos velhos e os

caboclos sugerem que a dor não pode ser entendida como algo de negativo,

mas como purificação, aceitação e catarse.

Durante a escravidão os escravos foram obrigados a aderirem à religião

católica e proibidos de exercerem a sua religiosidade, a solução foi o

sincretismo desta forma cada Orixá foi associado a um santo católico. Assim

mantiveram seus Deuses vivos disfarçados em roupagem dos santos católicos

que eles cultuavam aparentemente. Desta forma passaram a chamar Oxalá;

Cristo ou Senhor do Bom fim, Ogum; São Jorge, Oxossi; São Sebastião, Iansã;

Santa Barbara e outros.

4- HISTÓRICO DA FRATERNIDADE TABAJARA

A Instituição foi fundada em 02 de fevereiro de 1940, com sede própria no

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bairro Vila Tabajara no Km 08 da Rodovia José Sete em Cariacica, Estado do

Espírito Santo, é de caráter espiritualista, educativa, filantrópica e apolítica. A

Fraternidade Tabajara contém em seu estatuto artigos que revelam os seus

princípios "Caridade, Tolerância e Amor ao próximo". A instituição foi fundada

por seus membros com o intuito de prestar serviços sociais filantrópicos às

pessoas carentes que moram no bairro e nas adjacências, fundamentada na

Bíblia Sagrada. Procuram observar toda a sabedoria necessária para atender

as necessidades materiais e espirituais daqueles que a procuram,

proporcionando esperança àqueles que por algum motivo estão desacreditados

e precisam de apoio espiritual para continuar acreditando na vida e assim viver

melhor.

Para melhor visualização do que se trata A Fraternidade Tabajara, uma

pequena parte do Estatuto Social desta:

“Art. 1º – A FRATERNIDADE TABAJARA – é uma organização civil de

interesse público do 3º setor, de direito privado, de fins não econômicos, de

caráter Espiritualística, Educativa, Filantrópica, Filosófica, Apolítica, que se

dirige para a Humanidade unicamente para beneficiar e iluminar pelo amor e

pela Graça de Deus, fundada em 2 de Fevereiro de 1940, com seus atos

constitutivos arquivados no Cartório de Registro Civil das Pessoas Físicas e

Jurídicas de Vitória– ES, sob o n.º de ordem 408 e Protocolo n.º 10139, de

duração indeterminada, fundamentada na Bíblia Sagrada e garantida pelo

Artigo 5, parágrafo VI da Constituição Brasileira que diz: “ é inviolável a

liberdade de consciência e de crença e assegurado o livre exercício dos cultos

religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas

liturgias “, constituída de um número ilimitado de associados, sem distinção de

gênero, etnia, cor, religião, ou nacionalidade, e também pelo Direito

estabelecido pela Organização das Nações Unidas, doravante denominada

simplesmente “FRATERNIDADE TABAJARA” com sede na Rodovia José

Sete, km 8, no Bairro Tabajara, Cariacica– ES, CEP.: 29.154– 580, passando a

partir do registro desses novos Estatutos a ter como foro a cidade de

Cariacica– ES, com os seguintes objetivos:

Art. 2º – O objetivo da FRATERNIDADE TABAJARA é a prática do seu

Lema: Fé, Esperança e Caridade, a tolerância, o amor ao próximo, a educação

pela evangelização para elevação do espírito em evolução – encarnado ou

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desencarnado – em sintonia com a Bíblia Sagrada, atendendo às pessoas no

aspecto religioso, cultural, intelectual, material, social– afetiva, ético– moral e

espiritual, e, efetivamente:

I – Promover o Estudo, a Difusão e a Prática da Alta Filosofia Espírita,

atendendo e ajudando as pessoas:

a) que buscam orientação e amparo para seus problemas espirituais e

materiais;

b) que querem conhecer e estudar a Umbanda á luz da Alta Filosofia

Espírita;

c) que querem exercitar e praticar a Fé, a Esperança e a Caridade, em

todas as suas áreas de ação.

II – Facultar condições para elevação dos indivíduos à condição de

dignidade humana e social pelos seguintes objetivos específicos:

a) facultar a assistência e promoção sócio– econômica e cultural;

b) promoção da educação, observando– se a forma complementar de

participação das organizações de que trata a Lei;

c) promoção da saúde, observando– se a forma complementar de

participação das organizações de acordo com a legislação vigente;

d) promoção da segurança alimentar e nutricional;

e) defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção

do desenvolvimento sustentável;

f) promoção do voluntariado;

g) promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à

pobreza;

h) experimentação de novos modelos sócio– produtivos e de sistemas

alternativos de produção, comércio, emprego e crédito;

i) promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da

democracia e de outros valores universais;

Parágrafo Primeiro – Para os fins deste Artigo, a dedicação às atividades

nele previstas configura–se mediante a execução direta de projetos,

programas, planos de ações correlatas, por meio da doação de recursos

físicos, humanos e financeiros de várias fontes, ou ainda pela prestação de

serviços intermediários de apoio a outras organizações sem fins lucrativos e a

órgãos do setor público que atuem em áreas afins.

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Parágrafo Segundo – No desenvolvimento de seus programas, projetos,

planos, atividades e tarefas, a FRATERNIDADE TABAJARA observará os

princípios da autonomia, independência, com liturgia própria, legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade e da eficiência e não

fará qualquer discriminação de raça, cor, gênero ou religião, nomeando,

sempre que for preciso, Irmãos representantes junto às demais Religiões,

honrando com tais para esse fim.

Art. 3º – A FRATERNIDADE TABAJARA adota práticas de gestão

administrativa que coíbem a obtenção, de forma individual ou coletiva, de

benefícios ou vantagens pessoais, em decorrência da participação nos

processos decisórios dos Conselhos Deliberativo, Executivo, Auxiliar, Diretorias

de Departamentos e trabalhos mediúnicos.

Art. 4º – A FRATERNIDADE TABAJARA tem Regimentos Internos

aprovados pelo Conselho Deliberativo, ou reformados por proposição da

Diretoria dos Departamentos Operacionais, disciplinando o seu funcionamento.

Art. 5º – A FRATERNIDADE TABAJARA recomenda a divulgação de

seus Princípios e ideais pelo rádio, imprensa, e outros meios de comunicação,

proibindo ataques a outras Religiões, Crenças e Credos, bem como proíbe

expressamente, dentro de seus Templos e dependências, discussões sobre

matéria política, o exame ou crítica aos Atos das Autoridades”.

Seus trabalhos correspondem a doação de cestas básicas a um grande

número de pessoas, a atendimento ambulatorial às pessoas que muitas vezes

já passaram por médicos especialistas, não tiveram a cura desejada e

acreditam encontrá-la na fraternidade e doações de remédios, assim como o

oferecimento de uma sopa aos domingos a todas as pessoas que se

encontram no local. E que esses serviços prestados à comunidade são

gratuitos, oferecidos sem nenhum apoio das autoridades governamentais. São

doações feitas pelos membros da entidade e pelo pequeno lucro de bazar e da

lanchonete.

A Fraternidade Tabajara que existe há 70 anos, teve sua primeiras reuniões

iniciadas pelo Grandioso Espírito Pae João de Aruanda,que após várias

reencarnações na África e no Brasil, encontrou o Espírito Tabajara e propôs a

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União de suas Forças, passando a Tabajara a tarefa de chefiar os Trabalhos

Espirituais da Fraternidade Tabajara. Com o tempo, Espíritos Paráclitos foram

juntando suas forças e hoje formam uma egrégora que tem por Lema a Fé, a

Esperança e a Caridade. Este lema, em uma das reencarnações de Pae João

de Aruanda, como Anchieta, já preconizava como sendo a Fé, a Esperança e a

Caridade as Três Chaves para o Reino de Deus.

As primeiras reuniões eram realizadas na propriedade do Irmão Fundador na

Terra, Octávio Ferreira Paes, na Vila Tabajara, numa humilde cabana de sapé,

com assentos em tocos de madeira. O Irmão Geofredo Adolpho Silva, foi eleito

presidente, que dirigiu a Entidade até o seu desenlace corpóreo. Passou então

a Entidade, com seu pequeno templo construído, por um período de pausa,

tendo suas portas fechadas ao público. O Irmão José Baptista de Carvalho foi o

médium-chefe durante este período inicial, demonstrando caridade e benefícios

através a sua mediunidade.

A Irmã Maria de Lourdes Poyares Labuto, médium missionária, estava em

desenvolvimento espontâneo de sua mediunidade em seu lar. Os espíritos,

junto aos Irmãos Paes e João Firme, estavam em irradiações em prol dessa

médium em setembro de 1945. O Irmão Paes aconselhou o Irmão Álvaro da

Silva Labuto a levar sua esposa, que se achava desenganada pelos médicos

da Terra, até o Centro Fé, Esperança e Caridade de Jesus, em Vila Isabel, no

Rio de Janeiro. O Irmão Álvaro, sem prevenir a esposa, seguiu o conselho e

levou-a lá. O Espírito Pae João aconselhou a Irmã Lourdes a cumprir sua

missão e disse que ele daria assistência e com Deus, tudo se acertaria.

No dia primeiro de novembro de 1945, o Irmão Labuto levou sua esposa e os 4

filhos nascidos até aquela época Álvaro Labuto Filho, Marco Antônio Labuto,

José Carlos Labuto e Maria de Lourdes Labuto para fazer uma visita à Vila

Tabajara, após um longa conversa, o casal Octávio Ferreira Paes e Joana

Vieira Paes levou-os ao Templo Tabajara. O ambiente fez com que a Irmã

Lourdes ficasse maravilhada. Oravam na mesa o Irmão Paes e sua esposa. A

médium Maria de Lourdes foi, então, descrevendo através a clarividência, o

ambiente espiritual e, logo após, manifestada com o espírito Tia Maria, foi

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levada à mesa dos trabalhos. Pela psicografia documentada, foi dada a ordem

para que fosse reaberta a Casa Tabajara para os trabalhos espirituais e que

fosse feito um aviso para o público sobre a reabertura das sessões. Desde

então, o casal Labuto passou a freqüentar assiduamente as reuniões,

estipuladas pelos Guias.

No dia 9 de junho de 1952, numa sessão realizada na própria natureza, ao ar

livre, defronte ao Templo, o Irmão Anchieta, através da médium Maria de

Lourdes Poyares Labuto, fez lançamento da constituição na Terra da Ordem

Sagrada Tabajara. Estavam presentes também os Irmãos Octávio Ferreira

Paes, Joana Vieira Paes, Álvaro da Silva Labuto e seus quatro filhos. No dia 24

de junho de 1952, por determinações do Astral Superior e motivado por

circunstâncias físicas, o Templo Tabajara teve ordem para ser demolido, para

ser reedificado em terreno próprio, doado espontaneamente pelo casal Paes.

Com um ritual belíssimo, com transposição de fogo simbólico pelos Irmãos

Paes, Joana e Maria de Lourdes, foi feito o lançamento da Pedra Fundamental

do Novo Templo (atual), numa urna de bronze, foram colocadas várias

inscrições bíblicas, por alguns Irmãos Diretores daquela época, no local agora

simbolizado por uma estrela no pórtico principal do Templo. Nesta ocasião foi

cantado pela primeira vez o Hino da Fraternidade Tabajara, com letra e música

transmitidas pelos espíritos Anchieta e Castro Alves pela médium Maria de

Lourdes Poyares Labuto.

Os Irmãos Maria de Lourdes Poyares Labuto, Octávio Ferreira Paes e Joana

Vieira Paes foram iniciados na Ordem Sagrada Tabajara, às 18 horas, deste

mesmo dia, e assim, houve o início da Ordem Sagrada Tabajara na Terra.

Todos os determínios, orientações e todas as diretrizes da O.S.T. (Ordem

Sagrada Tabajara) foram dadas pelos Mentores Espirituais através da médium

Maria de Lourdes Poyares Labuto. No dia 25 de dezembro de 1952 foi

inaugurado parcialmente o novo Templo Tabajara, cujas obras tiveram

administração do construtor Irmão Becacicci e dos Mentores Espirituais, por

intermédio da médium Maria de Lourdes.

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Estando o Irmão Octávio Ferreira Paes conversando com o Espírito Pae João

incorporado na médium Marieta Cardoso de Moura Dias, no Rio de Janeiro,

quando lhe foi instruído que viesse a adquirir um terreno na região hoje

denominada de Bairro Tabajara, em Cariacica, estado do Espírito Santo, para

ali abrir um Terreiro de Umbanda. O Irmão Paes adquiriu uma fazenda de cinco

alqueires de terra, onde construiu uma cabana de sapé com tocos de madeira

como assentos. Assim iniciou-se a Grande Obra de Alta Importância espiritual.

Já no histórico espiritual, a Fraternidade Tabajara e a Fraternidade

Espiritualista Caminho á Luz, na Terra, fazem parte de uma obra maior, no

Plano Espiritual, local chamado de Planície Tabajara. O Patrono desta obra

espiritual é o Espírito João Baptista, declarado na Bíblia, o maior dentre os

nascidos de ventre de mulher. Vários espíritos iluminados formam uma

egrégora espiritual que governa toda a Planície, suas obras espirituais, tanto no

Plano Espiritual quanto no Plano Material.

O Povo Tabajara, que se espalhou por todo norte e nordeste do Brasil, surgiu

com entrelaçamento dos espíritos Chimovita - reencarnação de Tabajara,

descendente dos Incas, e de Rosa - reencarnação da Cabocla Rosa de

Jurema, como relatado no livro E O Sol Brilhou, editado pela Fraternidade

Tabajara, após publicação no Jornal O Tabajara. Neste povo Tabajara e Jurema

reencarnaram por várias vezes como Cacique e Sacerdotisa da Tribo Tabajara.

E assim, o porquê da Umbanda Tabajara cultuar Deus em suas Vibrações nos

Sete Orixás na Umbanda, como: Ory - irradiação de Deus na Natureza

Espiritual, vibrações do Oriente, Oxalá- a Vontade de Deus Manifesta pelo filho

Jesus, Yemanjá - vibração de Deus na Fonte da Procriação e Vida, na

Natureza das Águas, Ogum - o Senhor Jeovah, o Deus dos Exércitos, Oxoss i-

vibração de Deus na Natureza Vegetal, Xangô- vibrações de Deus pela Justiça

e da Natureza Mineral e Congo- vibrações de Deus junto aos Homens, da Terra

inteira. Os Ibejis são chamados, na Umbanda Tabajara, junto aos Orixás

Congo, Oxalá, Oxossi e Yemanjá.

São os Sete Orixás as vibrações dos Sete Caminhos, os Sete Meios, as

Direções e modalidades por que se verifica o Pai, através as vibrações

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Naturais, Materiais e Espirituais. A Umbanda Tabajara também admite o

Princípio Ternário: Deus é o Pai, Jesus é o Filho e a Vontade do Pai, o Espírito

Santo é o Espírito de Deus, em irradiações gerais e eternas.

E por fim, podemos citar alguns espíritos, em suas diversas reencarnações,

que governaram toda essa Planície, temos: Tabajara, Pae João de Aruanda,

Tia Maria, Rosa de Jurema, Rosas, Jeanne D'Arc, Francisco de Assis, Tereza

de Jesus, Estrela Guia, Arary, Antônio de Pádua, Caboclo Três, Caboclo

Bernardo, Araribóia, José de Alencar, Tiradentes, Benedicto, Sebastião,

Seleine, Napoleão Bonaparte, Almirante Jaceguay, Tamandaré, Barão do Rio

Branco, Caxias, Getúlio Dorneles Vargas (atualmente reencarnado), Tarimã,

Deodoro, Irmão X, Juraty, Schubert, Rembrandt, Rondon, dentre outros

espíritos iluminados. Esta egrégora governa o destino da Obra Espiritual, em

suas trinta e três Cidades Espirituais, que compõem a Planície Tabajara, com

setores de trabalhos específicos de assistência a milhares de espíritos.

5- RELATO

Fomos a Fraternidade Tabajara durante dois domingos. Acordamos cedo e

chegamos lá por volta de 07h30min da manhã, nos deparamos com um templo

com o um índio no alto da construção de braços abertos, a porta de entrada

estava fechada e passamos pela lateral. Havia poucas pessoas no local ainda,

verificamos que em sua maioria estava com vestes brancas.

Quando nos identificamos como alunos da UFES- Universidade Federal do

Espírito Santo todos nos trataram com muita educação era normal o “bom dia”

de todos que passavam. Naturalmente, ocorreu uma interação nos

apresentaram alguns dos responsáveis como a Rose e o João Batista. A Rose

fez as boas vindas e nos apresentou toda a casa e nos explicou todos os

ambientes e um pouco do que representam.

Observamos que antes das pessoas entrarem no templo eles iam a uma cruz

grande de madeira, chamada cruzado, que tem ao lado e fazem uma oração,

perguntamos o que era e nos explicaram que era pra limpar a alma e entrar de

forma pura no ambiente. Já dentro do templo tivemos que tirar os sapatos para

pisar no terreiro, este que tem no chão uma estrela que significa o homem de

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braços abertos, nela tem várias escritas feitas pelos médiuns com giz e muitos

outros elementos como plantas, pedras, charutos. Por se tratar de ser uma

curiosidade pelo simbolismo inicialmente, não tivemos acesso aos seus

significados. Ainda no altar existem muitos santos, estatuetas de negros,

caboclos, além de quadros com essas imagens, outro elemento é a cadeira

onde fica sentado o chefe da sessão.

Primeiramente fomos ao Gongá ou Santuário onde fica uma série de santos, o

ambiente tem uma iluminação amena, existe uma fonte onde todos passam em

suas mãos, rosto e pescoço. Conhecemos o ambulatório com camas

suspensas, armários de remédios, onde eles realizam curas espirituais.

Continuando nossa observação visitamos a sala esotérica que é toda azul e os

espíritos que ali freqüentam são orientais. Para completar nossa visita

passamos em frente a sala de descarrego, mas ali não entramos.

É interessante dizer que aprendemos que devemos sair de costas de cada

ambiente deste, tudo isso em respeito aos espíritos, ou seja, “não dar as costas

a eles”.

Agora vamos explicar o Ofício Religioso Umbanda, recorte da nossa etnografia.

6- OFÍCIO RELIGIOSO UMBANDA

O Ofício Religioso Umbanda é um ritual em prol dos encarnados e

desencarnados. Os homens e as mulheres tanto no terreiro quanto nos bancos

ficam em lados opostos, dado que as vibrações espirituais são diferentes. O

oficio é precedido por uma preparação que consiste na reza do pai nosso e na

evocação dos espíritos que regem a casa, como ao Tabajara e aos orixás, por

meios de hinários, conjunto de hinos mediúnicos, e orações. Em divergentes

momentos cada membro se reveste de cordões coloridos, dirigidos aos seus

orixás, as guias, usadas para proteção espiritual. As cores variam conforme a

entidade de proteção.

Os membros médiuns, que representam um intermediário entre o plano

espiritual e a terra têm diferentes tipos de mediunidades: a de ouvir, a de ver e

a de possibilitar um espírito utilizar o corpo, sendo porta-voz da entidade, aos

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poucos saúdam a Deus todo poderoso, deitando-se no centro do altar,

significando que estão diante de Deus e que ele é o único que esta acima de

nós, assim, demonstrando respeito. O Tabajara, como os membros, vão

preparando o centro do altar, com símbolos e objetos, como flores (oferenda),

galhos de arruda (planta usada ritualmente para descarregar as más energias)

e fitas (transportam vibrações desde o plano Divino da Criação até o plano

espiritual e por imantação condensarem seus mistérios em fitas feitas de

tecido, dão a estes materiais todo um poder espiritual, e por trazerem dentro de

si, vibrações das mais diversas possíveis, e por transportarem muitos fatores,

realizam trabalhos positivos).

Os espíritos vão se incorporando a medida do tempo, o que não significa

perder o corpo físico para uma entidade espiritual. Existem variadas formas de

incorporação, da consciência total à perda dela. Com a consciência total ou

parcial, o médium estabelece um contato com sensações espirituais, ouvindo-

as ou sentindo-as movimentar o seu corpo; neste sentido, há uma perda parcial

dos movimentos, que são comandados pela entidade, todos somos

reencarnações de vidas passadas e que na bíblia é preciso encarnar 70 x 7,

sendo este um número figurativo, para entrar no reino do céus. Às vezes um

espírito demora uma reencarnação para evoluir, entretanto há alguns espíritos

perturbados que podem demorar mais, pois precisam de muitas reencarnações

para se tornarem espíritos superiores. O próprio espírito revela suas

reencarnações, ou até por revelações de outros espíritos. E mais, no mundo

espiritual não há diferença de gênero, o espírito não tem sexo, o que determina

a escolha do corpo material é a missão do espírito.

Depois, fazem a cruz de Tabajara. E há o momento da defumação, no qual o

incenso é usado para defumar e para purificar o ambiente, e serve para

espantar os espíritos não doutrinados, espíritos obsessos, e as energias

negativas, assim como, o cachimbo. E à medida em que há a purificação, um

dos membros vai andando pela assistência, lugar onde ocorre o ritual, e as

pessoas vão fazendo gestos, como passando a mão na cabeça, no coração e

rodando para que a fumaça limpe o seu corpo e sua alma. Logo após a

preparação as pessoas em tratamento espiritual são chamadas a se dirigir ao

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ambulatório para obter a cura, e ficam trancados até o termino do ritual. E

assim como os médiuns, os mesmos entram descalços no altar e nas salas,

uma vez que os calçados são feitos de borracha, o que isola a energia, sendo o

único material aceito, o couro, pois transmite e descarrega a energia do corpo e

do ambiente .

Em seguida os médiuns se preparam, com vestimentas específicas para iniciar

o Ofício Religioso Umbanda, os homens colocam um manto azul e as mulheres

um manto verde e um lenço branco na cabeça. Eles pedem pelos

desencarnados, com muita ênfase, principalmente, aos muitos espíritos que se

apegam a bens materiais não evoluindo e ficando presos à Terra. Eles fazem

suas preces também, pedindo pelos estudantes, escolas, serviços públicos,

hospitais, espíritos aflitos, encarnados, acidentados, pelos profissionais, pela

casa, pelos médiuns assistenciais e pela paz entre as religiões, e que as

preces sejam entregues a Deus, fazendo a sua vontade. Levando sempre em

consideração a Lei da Ação e Reação, pois o que se deseja ao próximo voltará

para si mesmo.

Iniciam a oração do Cordeiro de Deus, cantam a Maria de Nazaré, recebem o

vinho em memória de Cristo, primeiro os que estão no altar e depois os que

assistem, as mulheres e em seguidas os homens. Realizam o canto a Maria,

usam a santíssima trindade, e chamam a juventude tabajara para subir ao altar,

que cantam e colocam flores no altar, como oferenda. No final, há a leitura do

evangélico ou de um salmo, como o salmo 76, o dito, três vezes pronunciado,

do Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, regido pelos últimos

cânticos.

E para finalizar, o médium responsável por dirigir o ofício, fala sobre as

atividades da semana e o ritual se encerra com a benção dirigida a todos os

participantes, os quais saem de costas, pois as vibrações devem ser deixadas

no ambiente.

6- ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE

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Ao começarmos o trabalho etnográfico, pensamos como método de pesquisa

necessário, uma entrevista em profundidade, nada melhor do que com o Luiz

Augusto Labuto, responsável pela Fraternidade Tabajara na Terra.

Nessa entrevista queríamos saber e entender um pouco melhor sobre a

Fraternidade a relação dele com ela e com o espiritismo. Foi a forma que

encontramos de ouvir certos significados que nem sempre ficaram bem

entendidos em nossa cabeça.

A entrevista proposta teve quatro blocos. Sendo o primeiro de Caracterização,

o segundo sobre a Fraternidade Tabajara em si, o terceiro sobre a relação dele

com a Fraternidade e por último sobre o Ofício Religioso Umbanda.

BLOCO 1 - Caracterização

Seu nome ou como senhor atende: Luiz Augusto Labuto

Sua idade: 57

Profissão: professor de inglês, português, ensino religioso

BLOCO 2 - Sobre a Fraternidade Tabajara

1. Como ela chegou a se instalar em Cariacica? Quem foi o seu fundador?

E quais foram os objetivos iniciais da Fraternidade?

O fundador na Terra, Octávio Ferreira Paes, quando ia ao Rio de Janeiro,

passava pelo Centro Espírita Paz, Amor e Caridade de Jesus, no bairro Vila

Izabel. Através da médium chefe de lá, o espírito Pae João falou para ele

que procurasse um pedaço de terra para comprar, na região do atual bairro

Tabajara, para fundar Terreiro de Umbanda ali. Isto em 1939. O Irmão Paes

comprou uma fazenda de 5 alqueires e iniciou os trabalhos espirituais em

2/2/1940. A finalidade da Fraternidade Tabajara é a prática do seu lema: Fé,

Esperança e Caridade.

O objetivo principal é a prática do seu lema: Fé, Esperança e Caridade

2. Hoje a Fraternidade desenvolve alguma ação em prol da comunidade?

Se sim, qual(is)?

Atendimento gratuito em todos os setores. Não cobramos dízimos. As doações

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são espontâneas.

Temos evangelização coletiva e individual, quatro dias por semana e de

crianças e jovens, duas vezes por semana. Atendimentos com conselhos úteis,

passes magnéticos e descarrego individual, quatro dias por semana. Trabalhos

de cura espiritual, três vezes por semana. Desenvolvimento mediúnico e

descarrego geral, uma vez por semana.

Cursos para crianças e adultos – artesanato ( trabalhos manuais em geral ),

teatro, dança, culinária, pintura em tecidos, fuxico, eletricidade, pintura de

paredes, etc.

Distribuição mensal de cestas básicas, periódicas de roupas, sapatos,

cobertores.

Atendimento mensal com médico do Trabalho e clínico geral, com distribuição

de medicamentos – amostras grátis.

Atendimento semanal com médico homeopata, com distribuição de

medicamentos homeopáticos gratuitos.

Biblioteca com empréstimo gratuito de livros.

Distribuição de sopão aos domingos e almoço comunitário aos sábados.

3. Observei ao conhecer o ambulatório uma série de remédios. A

Fraternidade sobrevive de doações? Os participantes e freqüentadores

pagam por alguma coisa? Se sim, pelo o que?

Como já falei, tudo é gratuito. Só a lanchonete que cobra pelos lanches

opcionais, que os freqüentadores e membros da Fraternidade venham a fazer.

Sobrevivemos de doações dos membros da casa e, eventualmente, de

freqüentadores. Não recebemos nenhuma verba governamental. Os remédios

são amostras grátis que são distribuídas mediante receita médica.

4. Dentro da Fraternidade existem “cargos” e funções especificas para

cada participante? Se sim, para obtê-los é necessário algum tipo de

preparação?

Temos sim. O organograma pode ser traçado pelos Estatutos (onde consta

também que nenhum cargo é remunerado na FT).

Para fazer parte do departamento Umbanda Tabajara, é necessário que se

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freqüente as sessões de desenvolvimento mediúnico por seis meses e assista

mais seis meses de palestras sobre a Fraternidade Tabajara. Ao entrar para a

Umbanda, passa dois anos como auxiliar- cambono e só então passará a

atender o público. Dentro da Umbanda há médiuns cambonos, médiuns de

atendimento, sub-chefes e um médium-chefe ( que sou eu).

Os outros departamentos operacionais tem presidentes, secretários,

tesoureiros,etc.

São os seguintes: Juventude Tabajara, Missionárias de Tabajara, Serviço

Social Tabajara, Tatwa Tabajara, Ambulatório Tabajara, Serviço Jurídico

Tabajara.

Temos uma diretoria com 27 diretores, sendo que doze são presidentes

mensais, secretário geral e tesoureiro geral.

Temos duas ordens religiosas – uma masculina e outra feminina. Para se tornar

um dos 27diretores ou presidentes dos departamentos operacionais, é preciso

ter alcançado o grau máximo nestas ordens.

5. Observei uma maior participação feminina tanto de quem participa em si,

como de quem freqüenta o senhor tem alguma explicação para esse

fenômeno ou considera que as mulheres são sim mais apegadas a fé?

É comum se dizer que a mulher em geral seja mais sensível do que o homem.

Os dons mediúnicos utilizam os cinco sentidos e outros tantos sentidos. Para

ser médium é preciso que os conceitos masculinos mudem. E estão mudando.

No passado, esta diferença de número já foi bem maior, entre os dois sexos.

Conceitos machistas realmente prejudicam a sensibilidade necessária para a

prática da mediunidade. Muitos homens mandam as mulheres falar por eles. A

mulher em geral é que tem perdido um pouco da sensibilidade, talvez por

influencia de estar assumindo cada vez mais importância no mundo

materialista.

6. Quando perguntei ao João Batista, se eu não me engano, sobre o

significado dos símbolos e dos elementos contidos no altar ele citou o

básico, mas disse que era muito cedo para eu saber essas respostas.

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Existe literatura sobre esse simbolismo? Vocês realizam estudos entre si

ou é algo particular de cada um?

Se a vontade é de aprender, e não mera curiosidade, não creio ser cedo ou

não para dar respostas. É claro que há coisas em todas as religiões que são

passadas apenas aos anciãos (velhos membros da religião – não significando

isto em idade física ).

No geral, posso afirmar que tudo que está diante dos olhos, no altar, são

objetos e imagens relacionadas com os Sete Orixás:

Oxalá – Jesus e santos – Deus na vibração do Filho, responsável pela Terra.

Ogum – personificado ou sincretizado em São Jorge e guerreiros. Luta entre o

Bem e o mal.

Oxossi – forças do reino vegetal, personificado pelos índios ou Caboclos.

Ory – forças dos povos e religiões do oriente. Poder da mente, da irradiação

espiritual.

Congo – forças dos povos africanos, personificado pelos Pretos Velhos.

Xangô – forças do reino mineral. Vibração pela Justiça.

Yemanjá – forças das águas, da procriação em geral, da Virgem Maria e

elemento predominantemente feminino no panteão dos Orixás.

Existe literatura sobre vários assuntos relacionados com a Umbanda, como ela

se apresenta, como ela trabalha.

Na Umbanda Tabajara temos, além das palestras gerais, que mencionei acima,

uma sessão Escola para Médiuns da Umbanda Tabajara, realizada todo

primeiro domingo de 14h30min às 19h30min.

BLOCO 3 - Sua relação com a Fraternidade Tabajara.

1. O senhor sempre freqüentou a religião Umbanda?

Sim. Desde o útero. Minha mãe foi médium-chefe da Umbanda Tabajara, por

30 anos. Quando ela desencarnou eu tinha 21 anos. Aos 22 anos assumi

minhas funções junto à Umbanda Tabajara.

Anteriormente, fui presidente da Juventude Tabajara, diretor da Fraternidade

Tabajara, iniciado da Ordem Sagrada Tabajara, etc.

Aos 15 anos cheguei a ver outros rituais e conceitos religiosos de outras

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religiões, para ver se eu iria escolher continuar na Umbanda. Não achei nada

que me parecesse melhor ou mais verdadeiro.

2. Qual o seu papel dentro da Fraternidade?

Sou o representante legal da Fraternidade Tabajara na Terra. Sou o

intermediário principal entre o Comando Espiritual da egrégora Tabajara e o

plano material, transmitindo todas as orientações em todos os setores de

trabalho da Fraternidade Tabajara e da afiliada Fraternidade Espiritualista

Caminho à Luz, em Belo Horizonte.

3. Qual é a função de um médium?

A palavra médium está relacionada com intermediário. Ser médium é ser

intermediário entre os espíritos e o plano material, de várias formas, chamadas

de dons mediúnicos. Com várias finalidades: evangelização, conselhos úteis

em geral, curas, descarrego, desobseção, previsão,trazer para o plano material

conhecimentos e conceitos que vão além do que já é de conhecimento da

humanidade.

BLOCO 4- O Ofício Religioso Umbanda.

1. Se souber me responder, ele possui alguma história?

O espírito idealizador da Fraternidade Tabajara, Pae João de Aruanda, em uma

de suas reencarnações, foi o Padre José de Anchieta. É ele que, através

psicografias através da minha mãe e de mim, vem orientado como conduzir

este ritual, que é executado por um irmão ou uma irmã do grau máximo da

ordem religiosa masculina ou da feminina. Ou por um dos Mentores Espirituais

da FT, incorporados em mim.

2. Qual o significado desse ritual?

Captação e irradiações de forças espirituais para os presentes, para os

irradiados e por toda a Humanidade em geral. A universalização de todas as

irradiações são vistas pelos pedidos iniciais: todas as profissões, todos os

governantes, todas as religiões.

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3. Existe alguma explicação para ele ser realizado aos domingos?

Por ser o dia dedicado a Oxalá e por ser o dia mais acessível à freqüência das

pessoas, em qualquer casa religiosa.

7- CONCLUSÃO

O trabalho que, inicialmente, parecia algo difícil pela indecisão sobre o tema a

ser abordado, ou até mesmo, pela escassez, imaginária, de material a seu

respeito, pois não conhecíamos praticamente nada sobre essa religião Afro-

brasileira, mas com paciência, continuamos a tratar da Umbanda, e como

primeiro passo para a nossa etnografia, recortamos nosso objeto, para facilitar

a descrição, a Fraternidade Tabajara e o Ofício Religioso Umbanda.

À medida que adentramos de vez na pesquisa, surpreendermo-nos pela

quantidade de escritos a respeito da Religião e pela sua riqueza de detalhes.

Com o desenvolvimento do trabalho, fomos descobrindo a sua origem e

doutrina, como seus cânticos, vestimentas e lema. Além, das diferenças e

semelhanças em relação às outras religiões, principalmente, no que diz

respeito a Católica.

Nossa observação participante contribuiu para desfazer de vez preconceitos

diante dessa organização ou tradição de cunho religioso. A pesquisa nos

mostrou também, que a Umbanda, e primordialmente, a Fraternidade Tabajara,

tem em sua doutrina o respeito ao próximo, a caridade e tolerância; buscam

desmistificar o extremo preconceito advindo da ignorância de outras pessoas e

religiões, que a julgam como rituais macabros, sem ao menos conhecê-las; e

pedem sempre pela paz entre as religiões, sem criticá-las.

E mais, concluímos também, que apesar dessa religião ser Afro-brasileira a

maioria são brancos; que apesar da Fraternidade se localizar em Cariacica,

grande porcentagem dos freqüentadores são de Vitória e Vila Velha; e que a

todo tempo não pediram nenhuma ajuda monetária, somente, doações de

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materiais usados em seus trabalhos, como incenso, alimentos para sopa feita

aos necessitados, velas e entre outros além do valor dos livros que lá

compramos.

E para frisar, mais uma vez, essa observação serviu para exercitarmos um

profundo respeito pelas crenças e suas diferenças, ultrapassando resquícios de

um etnocentrismo ainda muito presentes em muitas religiões e pensamentos

leigos, que conhecemos nos dias de hoje.

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8- REFERÊNICAS BIBLIOGRÁFICAS

Cf. GAARDER, Jostein, HELLERN, Victor, NOTAKER, Henry. O livro das religiões. São Paulo: Companhia de Bolso, 2005.

LABUTO, Maria de Lourdes Poyares. ...E o sol brilhou. Vitória:2009.

MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do pacifico ocidental: um relato do

empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné

melanésia. São Paulo: Abril Cultural, 1976. Revista Mundo e Missão. Religiões Afro-Brasileiras.

http://www.fraternidadetabajara.org.br

http://www.vivabrazil.com/abolicao_da_escravatura.htm

www.suapesquisa.com/históriadobrazil/escravidão.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Origem_da_Umbanda

http://www.guia.heu.nom.br/origem_da_Umbanda.htm

http://www.jornaldeUmbandasagrada.com.br/q1p=01.php

http://www.midiaindependente.org/es/blue/2003/12/269417.shtml

http://www.ceismael.com.br/tema/tema005.htm