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1 PROJETO FOLHAS Autor: Claudete Marilda Campanhoni Amadori NRE: Dois Vizinhos Escola: CEEBJA Disciplina: Língua Portuguesa ( ) Ensino Fundamental (X) Ensino Médio Disciplina da relação interdisciplinar 1: História Disciplina da relação interdisciplinar 2 : Sociologia Conteúdo estruturante: O discurso como prática social Conteúdo específico: Literatura - Representação do Negro na Literatura Brasileira Como você se refere a uma pessoa negra: O que é, afinal, politicamente correto no tratamento de uma pessoa negra? Você, com certeza, já realizou alguma leitura que o tocou profundamente, o fez refletir sobre a sua vida, a sua existência? Lembra de que tema tratava? A Literatura, como o registro das emoções, pensamento e aventuras do homem, reflete e interpreta também a realidade de seu tempo, isto é, o momento de sua produção e, como tal, possibilita ao leitor compreender a história, valores, ideologias e preconceitos dessa época na qual a obra está inserida. Os temas e assuntos tratados pela Literatura são os mais diversos possíveis. Através dela é possível uma identificação da situação por nós vivenciada com o assunto e/ou tema por ela abordado, assim como também é possível conhecer, estudar, resgatar e refletir a cultura de um povo e suas origens. O Brasil é, reconhecidamente, uma nação multi-étnica. A curiosa mistura de elementos europeus, índios e africanos consolidou sua formação e construiu a identidade do povo brasileiro. Segundo Darcy Ribeiro, “Surgimos da confluência, do De cor? Negra? Afro- descendente? Mulata? Elaborada por Édena J. Baccin, a partir de consulta em diferentes sites

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PROJETO FOLHAS

Autor: Claudete Marilda Campanhoni Amadori NRE: Dois Vizinhos Escola: CEEBJA Disciplina: Língua Portuguesa ( ) Ensino Fundamental (X) Ensino Médio Disciplina da relação interdisciplinar 1: História Disciplina da relação interdisciplinar 2 : Sociologia Conteúdo estruturante: O discurso como prática social Conteúdo específico: Literatura - Representação do Negro na Literatura Brasileira

Como você se refere a uma pessoa negra:

O que é, afinal, politicamente correto no tratamento de uma pessoa negra?

Você, com certeza, já realizou alguma leitura que o tocou profundamente, o

fez refletir sobre a sua vida, a sua existência? Lembra de que tema tratava?

A Literatura, como o registro das emoções, pensamento e aventuras do

homem, reflete e interpreta também a realidade de seu tempo, isto é, o momento de

sua produção e, como tal, possibilita ao leitor compreender a história, valores,

ideologias e preconceitos dessa época na qual a obra está inserida.

Os temas e assuntos tratados pela Literatura são os mais diversos possíveis.

Através dela é possível uma identificação da situação por nós vivenciada com o

assunto e/ou tema por ela abordado, assim como também é possível conhecer,

estudar, resgatar e refletir a cultura de um povo e suas origens.

O Brasil é, reconhecidamente, uma nação multi-étnica. A curiosa mistura de

elementos europeus, índios e africanos consolidou sua formação e construiu a

identidade do povo brasileiro. Segundo Darcy Ribeiro, “Surgimos da confluência, do

De cor?

Negra?

Afro-descendente?

Mulata?

Elaborada por Édena J. Baccin, a partir de consulta em diferentes sites

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entrechoque e do caldeamento do invasor português com índios silvícolas e

campineiros e com negros africanos, uns e outros aliciados como escravos.”

(RIBEIRO, 1995, p. 19).

O povo brasileiro construiu, portanto, a sua identidade pela miscigenação de

povos brancos, negros e índios, diferente de outros países, com outras

colonizações. Se assim a sua formação se deu, esses três povos conviveram e

convivem harmoniosamente?

Para auxiliá-lo nessa reflexão, sugerimos a leitura da crônica de Luís

Fernando Veríssimo. Após, registre sua opinião e impressões sobre o texto.

RACISMO

- Escuta aqui, ó criolo... - O que foi? - Você andou dizendo por aí que no Brasil existe racismo. - E não existe? - Isso é negrice sua. E eu que sempre te considerei um negro de alma branca... É, não adianta. Negro quando não faz na entrada... - Mas aqui existe racismo. - Existe nada. Vocês têm toda a liberdade, têm tudo o que gostam. Têm carnaval, têm futebol, têm melancia... E emprego é o que não falta. Lá em casa, por exemplo, estão precisando de empregada. Pra ser lixeiro, pra abrir buraco, ninguém se habilita. Agora, pra uma cachacinha e um baile estão sempre prontos. Raça de safados! E ainda se queixam! - Eu insisto, aqui tem racismo. - Então prova, Beiçola. Prova. Eu alguma vez te virei a cara? Naquela vez que te encontrei conversando com a minha irmã, não te pedi com toda a educação que não aparecesse mais na nossa rua? Hein, tição? Quem apanhou de toda a família foi a minha irmã. Vais dizer que nós temos preconceito contra branco? - Não, mas... - Eu expliquei lá em casa que você não fez por mal, que não tinha confundido a menina com alguma empregadoza de cabelo ruim, não, que foi só um engano porque negro é burro mesmo. Fui teu amigão. Isso é racismo? - Eu sei, mas... - Onde é que está o racismo, então? Fala, Macaco. - É que outro dia eu quis entrar de sócio num clube e não me deixaram. - Bom, mas pera um pouquinho. Aí também já é demais. Vocês não têm clubes de vocês? Vão querer entrar nos nossos também? Pera um pouquinho. - Mas isso é racismo. - Racismo coisa nenhuma! Racismo é quando a gente faz diferença entre as pessoas por causa da cor da pele, como nos Estados Unidos. É uma coisa completamente diferente. Nós

Faça um mapa genealógico e registre ao lado a ascendência de seus pais

e avós, construindo assim, seu mapa étnico .

Aproveite e realize uma pesquisa nos relatórios do último recenseamento

e retire alguns dados sobre a composição do povo brasileiro.

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estamos falando do crioléu começar a freqüentar clube de branco, assim sem mais nem menos. Nadar na mesma piscina e tudo. - Sim, mas... - Não senhor. Eu, por acaso, quero entrar nos clubes de vocês? Deus me livre. - Pois é, mas... - Não, tem paciência. Eu não faço diferença entre negro e branco, pra mim é tudo igual. Agora, eles lá e eu aqui. Quer dizer, há um limite. - Pois então. O ... - Você precisa aprender qual é o seu lugar, só isso. - Mas... - E digo mais. É por isso que não existe racismo no Brasil. Porque aqui o negro conhece o lugar dele. - É, mas... - E enquanto o negro conhecer o lugar dele, nunca vai haver racismo no Brasil. Está entendendo? Nunca. Aqui existe o diálogo. - Sim, mas... - E agora chega, você está ficando impertinente. Bate um samba aí que é isso que tu faz bem.

(http://portalliteral.terra.com.br/verissimo/vida_publica/vidapublica_racismo.shtml?vidap...)

Luís Fernando Veríssimo, de forma irônica e numa crônica bem humorada,

denunciou, há mais de 30 anos, o preconceito racial existente no Brasil.

PARA SABER:

Retire, do texto, expressões que denotam preconceito e que estão presentes na

fala de nosso cotidiano.

Você já vivenciou, testemunhou, leu ou assistiu a alguma situação de

preconceito? Socialize com seus colegas.

Existe, na nossa sociedade, o preconceito de que a beleza está associada à cor

branca. Em virtude disso, verifique a presença do negro em comerciais de TV,

revistas, novelas e filmes. Registre de que forma ele é tratado. Monte um painel

com essas informações e abra uma discussão sobre o assunto.

Racista: é aquele que pratica o racismo, ou seja, uma ideologia que crê em

raças diferentes para os seres humanos e os classifica em superiores e

inferiores, em função de suas diferentes características físicas ou culturais.

(CAMPOS; CARNEIRO E VILHENA, 2006, p. 10)

Crioulo: Termo pejorativo - e portanto ofensivo – usado para designar o negro.

Originalmente, eram chamados de crioulos os negros nascidos escravos nos

países sul-americanos.

(CAMPOS; CARNEIRO E VILHENA, 2006, p. 26)

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Leia este trecho da música “Lavagem Cerebral”, de Gabriel O Pensador,

1993.

“O racismo é burrice

Mas o mais burro não é o racista

É o que pensa que o racismo

Não existe

O pior cego é o que não quer ver

E o racismo está dentro de você

(...)

Qualquer tipo de racismo não

Se justifica

Ninguém explica

Precisamos da Lavagem Cerebral

Pra acabar com esse lixo

Que é uma herança

Cultural”

(...)

A ESTRUTURA DA SOCIEDADE COLONIAL

A luta do negro pela sua inserção dignamente na sociedade remonta o

período da escravidão.

A essência de uma sociedade é definida pelo caráter que as relações sociais

assumem no processo produtivo, articulando toda a sociedade como um conjunto.

Na sociedade colonial esse elemento básico é a escravidão e a organização

social da colônia, resume-se, praticamente, na relação entre senhor de engenho e

escravos. Estes, entretanto, não possuem as condições materiais de produção

(matéria-prima, instrumento de trabalho, técnica, terra). O escravo é mercadoria de

compra e venda. É propriedade do senhor, portanto, instrumento de trabalho.

Se assim se define a organização social, a relação escravista de produção

define também o poder do senhor de engenho: econômico, político, administrativo e

social. Esse poder da camada senhorial, formada por grandes proprietários de terras

e de escravos, penetra na sociedade e encontra legitimidade também na dimensão

religiosa.

O poder desses senhores é quase absoluto dentro de suas terras, com

direito de vida e morte sobre os escravos, mulheres e filhos.

No Brasil , por excelência, o trabalho escravo foi de notável importância

para a economia colonial. Destacam-se dois setores : o de atividades produtivas

Pesquise: Preconceito e Discriminação:

Ouça a música “Lavagem Cerebral” e estabeleça um paralelo entre esta e a crônica de Luís Fernando Veríssimo.

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e o dos serviços domésticos . Estes com grande participação na vida social da

colônia. Neles aparece a incorporação de valores culturais e religiosos dos senhores

brancos, daí o surgimento do desejo de “branqueamento”.

Já, nas atividades produtivas, o escravo era obrigado a trabalhar de sol a

sol, ou, quando, no trabalho de mineração, passar o dia com os pés dentro da água

fria, batendo cascalho em busca de pepitas de ouro nos rios ou mergulhados em

minas subterrâneas.

O escravo morava na senzala e os castigos corporais eram comuns e

freqüentes, permitidos por lei e pela Igreja. Surge, então, como uma forma de reação

a esse tratamento a rebeldia, a qual é permanente, uma vez que o grau de

dominação chega ao limite, é a coisificação do escravo.

A rebeldia assume várias formas: fugas,

suicídio, banzo, homicídios (aos que

representavam a dominação) e formas coletivas:

Quilombos . Portanto, cai por terra, o mito da

benevolência do senhor, do bom tratamento

dispensado ao escravo e, deste, como um ser

passivo, resignado com sua condição.

Os escravos trazidos ao Brasil eram

resgatados na África (a maioria na região de

Angola), de forma violenta e vendidos aos

mercadores de escravos. Eram embarcados no

Porto de Luanda, na sua grande maioria, e transportados em navios (tumbeiros)

negreiros e, aqui chegando, os negros eram comprados. Passam, portanto, a ter um

dono.

O tráfico de escravos representa alta rentabilidade e, por outro lado, passa a

ser uma exigência da lavoura canavieira, o que justifica o seu considerável volume.

O trabalho escravo esteve na base da organização da sociedade colonial

brasileira durante mais de 300 anos e sua exploração foi a principal forma de

acumulação de riquezas.

Conhecer um pouco mais sobre o Continente Africano significa entender também uma parte desconhecida da nossa história. Localize, no mapa político do Continente, as regiões de onde saíram os negros para o Brasil. Os Quilombos representaram não só um lugar de abrigo para os negros em fuga, mas também uma nova forma de organização da sociedade. Procure saber mais: leia, informe-se e pesquise (TV Escola, DVD Pluralidade Cultural – Mojubá, A cor da Cultura é uma ótima sugestão).

http:// internationalist.org/escravidão

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A CONSTRUÇÃO DA EXCLUSÃO RACIAL

A situação racial brasileira foi se construindo ao longo do desenvolvimento

do modo de produção escravista e da sociedade senhorial.

Com a proibição do tráfico e as represálias inglesas contra os navios

negreiros, a crise da produção escravista é inevitável e a mão-de-obra precisa ser

substituída. Os grandes fazendeiros brasileiros descobrem, então, outro tipo de

mão-de-obra barata: os imigrantes. Estes chegavam para trabalhar nas lavouras de

café, em São Paulo, produto, agora, de exportação.

Os negros são, portanto, alijados do trabalho escravo e do trabalho livre,

uma vez que neste, competiam com os imigrantes em condições desiguais, pois os

empregadores consideravam os recém-chegados uma opção melhor, mais racional

e compensadora. “O homem negro foi empurrado para a franja dos piores trabalhos

e de mais baixa remuneração, ele se sentiu, subjetivamente, como se ainda

estivesse condenado à escravidão.” (FERNANDES, 1989, p. 22).

E, a Abolição da Escravatura, em vez de implantar uma política de

assistência e compensação aos agentes do trabalho escravo não fez mais do que

emancipar os senhores de suas obrigações econômicas, sociais e morais diante dos

escravos, expulsando-os do sistema de trabalho e deixando “uma massa de ex-

escravos entregues à própria sorte, como se eles fossem um simples bagaço do

antigo sistema de produção.” (FERNANDES, 1989, p. 13).

Mesmo após sua propalada “emancipação”, o

negro e seus descendentes, em gerações sucessivas,

continuaram vítimas da tutela do branco, da exclusão, da

miséria, da pobreza e da exclusão racial. “O ‘preconceito

de cor’ entra em cena, na consciência social negra, como

uma formação histórica”. (FERNANDES, 1989, p. 37).

Entretanto, mesmo diante desse quadro desesperador, há

que se destacar a herança cultural deixada pelos negros,

principalmente, a religião e o folclore, os quais não foram destruídos pela escravidão

e estão presentes na vida brasileira. Portanto, “a sociedade que precisa ser

transformada é uma sociedade de classes, que absorveu funções racistas e

discriminatórias que já poderiam ter sido eliminadas historicamente.” (FERNANDES,

1989, p. 49).

http://www.oddshall.org/Classes/capoeira.html

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VOCÊ SABIA QUE:

A PRESENÇA DO NEGRO NA LITERATURA

A PRESENÇA DO NEGRO NA LITERATURA Na Literatura, a presença do negro não aconteceu de forma diferente àquela

representada na sociedade colonial, pois como já se disse anteriormente, a

Literatura reflete também o momento histórico e, estudar as personagens literárias, é

um excelente meio de se conhecer a sociedade.

A Literatura, primeiramente, glorificou o índio como herói nacional. Ao negro

não lhe coube esse papel, pois como escravo, humilde, submisso ao senhor,

representante da força de trabalho, não poderia, de forma alguma, ser um modelo

de herói.

� A Lei 10639 de 9 de janeiro de 2003, torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-brasileira no Currículo oficial das escolas públicas e privadas? � A Universidade de Brasília (UnB) foi a primeira federal a instituir o sistema de cotas em seu vestibular e que reserva, pelo menos, 20% das vagas para candidatos negros? � O Brasil tem a maior população de origem africana do mundo? Que de acordo com as pesquisas oficiais, mais de 45% da população brasileira são negros e pardos? � O nosso idioma está recheado de palavras de origem africana? Como, por exemplo, farofa, mochila, samba, sunga, xingar? � No Paraná já foram identificadas 86 comunidades negras tradicionais rurais e urbanas, entretanto apenas 37 foram reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares/MinC?

O negro, durante o período colonial, foi escravizado. E hoje? Observe um

trecho da canção e reflita:

“Mesmo depois de abolida a escravidão Negra é a mão de quem faz a limpeza” (...)

(Música de Gilberto Gil, “A mão da limpeza”)

Busque informações sobre a situação atual do negro, quanto a: trabalho,

habitação, educação - acesso à Universidade (ingresso/cotas).

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“A presença do negro na Literatura Brasileira não escapa ao tratamento

marginalizador que, desde as instâncias fundadoras, marca a etnia no processo de

construção de nossa sociedade”. (PROENÇA FILHO, 2004, p. 2).

Vejamos então, o estereótipo do negro em alguns trechos escolhidos de

nossa literatura.

1- Em “Escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães Nessa obra, a heroína precisou ser branqueada para ter a aceitação do

público leitor branco brasileiro. Observe no capítulo I, como ela é descrita:

“... A tez é como o marfim do teclado, alva que não deslumbra... embaçada

por uma nuança delicada que não sabereis dizer se é leve palidez ou cor-de-rosa

desmaiada” (p. 10).

E, mas adiante, temos: “És formosa e tens uma cor linda que ninguém dirá

que gira em tuas veias uma só gota de sangue africano” (p. 12).

Noutra passagem:

“ - Mas, senhora, apesar de tudo isso que sou eu mais do que uma simples

escrava? Essa educação, que me deram e essa beleza que tanto me gabam, de que

me servem?... São trastes de luxo colocados na senzala do africano. A senzala nem

por isso deixa de ser o que é: uma senzala.

- Queixas-te de tua sorte, Isaura?

- Eu não, senhora, não tenho motivo... o que quero dizer com isto é que,

apesar de todos esses dotes e vantagens, que me atribuem, sei conhecer o meu

lugar” (p. 13).

Observa-se nesses trechos a preocupação do autor em modificar idéias pré-

concebidas da maldade preta para a bondade branca. A escrava passa a ser

branca, portanto, virtuosa, bonita, de espírito nobre, heróica, contrapondo-se ao

estereótipo do negro de índole má.

No último excerto de Escrava Isaura, a nobreza de caráter da personagem,

percebe-se, nitidamente, com a aceitação da situação de submissão, ela sabe “o

seu lugar” .

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2- Em “O Cortiço” de Aluísio Azevedo Nessa obra, a personagem Rita Baiana é totalmente dominada por uma

sensualidade quase que animal e, por essa sua atitude, será a responsável pela

degradação de Jerônimo - imigrante português, honesto, trabalhador e que, a partir

do encontro com Rita, se torna um brasileiro inútil e cheio de vícios. É o negro ou o

mestiço de negro erotizado, sensual, transformado em objeto sexual.

“Ela saltou em meio da roda, com os braços na cintura, rebolando as

ilhargas e bamboleando a cabeça, ora para a esquerda, ora para a direita, como

numa sofreguidão de gozo carnal, num requebrado luxurioso que a punha ofegante”.

(p. 72-73).

3- Em “Os Escravos”, de Castro Alves O poeta Castro Alves, considerado “poeta dos escravos” não ficou imune

aos estereótipos. Observa-se nos seus versos outra dimensão estereotipada: a do

negro vítima. O escravo, assim visto, se transforma em motivo de luta pela liberdade

e também da causa abolicionista.

Vejamos um de seus textos, “O Navio Negreiro”, em que o poeta aborda o

tema do sofrimento dos negros. Mostra, portanto, a desumanidade que caracterizava

o tráfico de escravos.

Era um sonho dantesco!... o tombadilho,

Que das luzes avermelha o brilho,

Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros... estalar de açoite...

Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas

Magras crianças, cujas bocas pretas

Rega o sangue das mães:

Outras, moças... mas nuas, espantadas,

No turbilhão de espectros arrastadas,

Em ânsia e mágoa vãs.

(...)

Embora tenha também uma visão estereotipada do negro, não há como

negar a importância de Castro Alves na denúncia sobre a situação aviltante vivida

pelo negro. “É ele quem assume, na Literatura Brasileira, o brado de revolta contra a

escravidão, abre espaços para a problemática do negro escravo.” (PROENÇA FILHO,

2004, p. 4). Foi também Castro Alves quem primeiro representou o negro em sua

dignidade, quando o negro ama, em “Cachoeira de Paulo Afonso”.

Procure ler, na íntegra, o poema apresentado. Observe que nele é descrito

todo o sofrimento dos negros confinados em um navio, durante a travessia no

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oceano. Mostra também quem se beneficia com essa situação desumana e

conclama para que se tome uma atitude contra tal situação.

“A prevalência da visão estereotipada permanece dominante, na Literatura

Brasileira Contemporânea, pelo menos até os anos de 1960, quando começam a

surgir textos compromissados com a real situação da etnia”. (PROENÇA FILHO, 2004,

p. 5).

Fala o "Encourado" (de costas, grande grito, com o braço ocultando os olhos): - Quem é? É Manuel?

(...) JOÃO GRILO: - Jesus? MANUEL: - Sim. JOÃO GRILO: - Mas espere, o senhor é que é Jesus? MANUEL: - Sou. JOÃO GRILO: - Aquele a quem chamavam Cristo? JESUS: - A quem chamavam, não, que era Cristo. Sou, por quê? JOÃO GRILO: - Porque... não é lhe faltando com o respeito não, mas eu pensava que o senhor era muito menos queimado.

(SUASSUNA, 2000, p. 146, 147, 148)

O NEGRO, NOVO OLHAR!

Você já assistiu ao filme “Auto da Compadecida ”? Leu a obra de Ariano

Suassuna? É uma boa sugestão para que o faça acompanhado de seus colegas.

Para motivá-lo, uma pequena mostra...

No fragmento, percebe-se que nem mesmo Deus, passou despercebido

ao olhar de uma pessoa simples. Houve necessidade de uma explicação sobre

o fato. A presença de um Cristo negro, na peça, permite-nos, portanto, reflexões

sobre um tema polêmico. Comente-o, assim como sua intencionalidade.

A leitura do texto abre espaço para questionamentos de outros temas

polêmicos como, por exemplo, injustiça, preconceito social e racial; adultério,

corrupção, violência e, por aí vai... não perca tempo... Procure informações sobre

os temas e estabeleça paralelos entre as questões discutidas por Suassuna e as

presentes em nossa realidade.

Agora que você tomou conhecimento da peça de Ariano Suassuna que tal

fazer uma adaptação e encená-la para as turmas da escola?

É interessante também que você busque outros filmes que abordem essa

questão, como “Amistad” e “O Xadrez das Cores”.

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Nos fragmentos de textos estudados, observamos o negro numa visão

estereotipada: a mulher sensual, transformada em objeto sexual, resignada ou o

negro como figura feia, desprezível, animalesca, prestando-se apenas para os

serviços pesados e grosseiros. Entretanto, é preciso saber que existe uma literatura

que trata o negro com dignidade, como orgulho da raça, como ser humano, como

por exemplo, as obras de Lima Barreto ou então, os poemas transcritos abaixo, os

quais buscam a ultrapassagem do estereótipo e resgatam a figura do negro como

sujeito.

SOU NEGRO

(Solano Trindade)

Sou negro Meus avós foram queimados

Pelo sol da África (...)

Contaram-me que meus avós Vieram de Luanda

Como mercadoria de baixo preço Plantaram cana do senhor do

engenho novo E fundaram o primeiro Maracatu

(...)

PONTO HISTÓRICO

(Éle Semog)

Não é que eu Seja racista...

Mas existem certas Coisas

Que só os NEGROS Entendem.

(...) Mas existe uma

História Que só os NEGROS

Sabem contar ... que poucos podem

Entender.

Após todo esse trabalho, que enfoca e discute a presença do negro na

Sociedade Colonial e na Literatura Brasileira, assim como o preconceito, a

discriminação e o racismo, sugerimos que você escreva um poema, uma crônica,

Leia e curta os poemas apresentados, assim como as obras do escritor Lima Barreto

Estes poemas, na íntegra, e outros, você encontrará na “Antologia da

Poesia Negra Brasileira – O negro em versos”.

Que tal você buscá-los nessa obra e, junto com seus colegas, organizar

uma Noite Cultural bem bacana, por exemplo, “O Negro em Versos” , em que os

poemas serão declamados? Por que não 20 de novembro, “Dia da Consciência

Negra”?

Para finalizar, ouça a música “Alma não tem Cor”, de André Abujamra.

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um texto dissertativo ou uma paródia musical que ab orde esses temas . Com

todas as sugestões aqui presentes, você sabe onde buscar inspiração. Então mãos

à obra... Procure apresentar propostas de textos em que esteja presente o desejo de

um mundo mais justo, humano e igualitário. Bom Trabalho!

REFERÊNCIAS Livros: ALVES, Castro. Os Escravos . Curitiba: Bolsa Nacional do Livro. AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço . São Paulo: Fundação Nestlé de Cultura/Ática, 1999. CAMPOS, Carmem Lúcia; CARNEIRO, Sueli; VILHENA, Vera. A Cor do Preconceito. São Paulo: Ática, 2006. CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: Linguagens . v. 2. 3ª ed. São Paulo: Atual, 1999. DAMASCENO, Benedita Gouveia. Poesia Negra no Modernismo Brasileiro . São Paulo: Pontes, 1980. FERNANDES, Florestan. O significado do Protesto Negro . São Paulo: Cortez, 1989. GUIMARÃES, Bernardo. A Escrava Isaura . Rio Grande do Sul: Edelbra. KOSHIBA, Luiz & PEREIRA, Denise Manzi Frayse. História do Brasil . 4ª ed. São Paulo: Atual, 1984. RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro – a formação e o sentido do Brasi l. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. SANTOS, Luiz Carlos dos (org.), GALAS, Maria; TAVARES, Ulisses. Antologia da Poesia Negra Brasileira. O Negro em Versos . São Paulo: Salamandra, 2005. SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil Africano . São Paulo: Ática, 2005. SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida . 34ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 2000. Internet: BARRETO, Lima. Clara dos Anjos . Disponível em: <http://www.culturabrasil.org/download.htm> Acesso em 05 ago. 2007 BARRETO, Lima. Recordações do Escrivão Isaías Caminha . Disponível em: <http://www.culturabrasil.org/download.htm> Acesso em 05 ago. 2007. BOSI, Alfredo. Poesia versus racismo . São Paulo: 2001. v. 16. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142002000100015&s...> Acesso em: 03 ago. 2007. CARVALHO, Rosângela Boyd de. O negro na literatura brasileira: a necessidade de um novo paradigma de crítica social e literária . 2007. 3p. n° 76. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/076/76carvalho.html> Acesso em: 03 ago. 2007. GIL, GILBERTO. A mão da limpeza . Disponível em: <http://letras.terra.com.br/gilberto-gil/574045/a-mao-da-limpeza-print.html> Acesso em: 28 jan. 2008. KARNAK. Alma não tem cor , 1995. Letra de André Abujamra. Disponível em: http://letras.terra.com.br/karnak/201405/ > Acesso em: 28 jan. 2008.

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PROENÇA FILHO, Domício. A trajetória do negro na literatura brasileira. São Paulo: 2004. 25p. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142004000100017&s...> Acesso em: 03 ago. 2007. VERÍSSIMO, Luís Fernando. Racismo . 1975. Disponível em: <http://portalliteral.terra.com.br> Acesso em: 06 nov. 2007. Filmes: “AMISTAD” (1997, EUA, Direção: Steven Spielberg). “O Auto da Compadecida” (2000, Brasil, Direção: Guel Arraes). Filme baseado na obra de Ariano Suassuna. “O Xadrez das Cores” (2004, Brasil, Direção: Marco Schiavon). TV ESCOLA – DVD Pluralidade Cultural – Mojubá – A cor da cultura (v. II, n. 27) – MEC Música: GABRIEL O PENSADOR. Racismo é burrice. MTV ao vivo. Ed. Hip Hop Brasil. Jornal: JORNAL MURAL. Brasília: CNTE, 2007, nov., ed. especial.