1 O Escandalo Da Ambivalencia

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1. O escândalo da ambivalência A forma com que a modernidade suplantou o convívio com a natureza na antiguidade, determinando métodos e formas para um efetivo domínio da natureza, tendo como a metafísica, autêntica escudeira de uma empreitada inglória e sem tréguas, levou a técnica a criar uma ordem que tem na classificação das atividades humanas uma profunda ambivalência ao caos, entendido como elemento imanente do estilo vivido na antiguidade. Esse arcabouço humano de pensar, agir desenvolver atividades pelo caminho da cultura científica moderna, utilizou a dominação política, econômica e militar no ocidente, delineando os modos alternativos de vida. Alguns pensadores enxergam como uma “… autodefesa da modernidade, ela obliquamente reafirma e reforça o mito etiológico da civilização moderna como um triunfo da razão sobre as paixões, …a crença de que esse triunfo foi um passo inequivocamente progressista no desenvolvimento histórico da moralidade pública.”, pg. 28. O período da modernidade está marcado com a cumplicidade do estado com o desenvolvimento da metafísica e a razão convincente dos filósofos, qualificando o poder autodeterminado e soberano sobre as populações desprotegidas, ao convencimento do estilo de viver, por uma indústria cultural determinada a elencar as imanações e orientações do status quo dominante. “Ao longo de toda a era moderna, a razão legislativa dos filósofos combinou bem com as práticas demasiadamente materiais dos estados,… Legislar e impor as leis da razão é o fardo daqueles poucos conhecedores da verdade, os filósofos.”, pg.’s 29 e 31. Um dos resultados mais evidentes da suplantação da ética e das restrições morais com que as práticas científicas modernas no ocidente produziram efeitos traumáticos à humanidade, foi o holocausto, que não foi um malefício estanque ao próprio movimento nacional-socialista nazista, mas resultado somente possível com o progresso modernista, com as pesquisas genéticas e de eugenia nos EUA e Europa, tanto é que após a derrota desse movimento nacionalista, cientistas de outros países procuraram defender os avanços

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1. O escndalo da ambivalnciaA forma com que a modernidade suplantou o convvio com a natureza na antiguidade, determinando mtodos e formas para um efetivo domnio da natureza, tendo como a metafsica, autntica escudeira de uma empreitada inglria e sem trguas, levou a tcnica a criar uma ordem que tem na classificao das atividades humanas uma profunda ambivalncia ao caos, entendido como elemento imanente do estilo vivido na antiguidade. Esse arcabouo humano de pensar, agir desenvolver atividades pelo caminho da cultura cientfica moderna, utilizou a dominao poltica, econmica e militar no ocidente, delineando os modos alternativos de vida. Alguns pensadores enxergam como uma autodefesa da modernidade, ela obliquamente reafirma e refora o mito etiolgico da civilizao moderna como um triunfo da razo sobre as paixes, a crena de que esse triunfo foi um passo inequivocamente progressista no desenvolvimento histrico da moralidade pblica., pg. 28.O perodo da modernidade est marcado com a cumplicidade do estado com o desenvolvimento da metafsica e a razo convincente dos filsofos, qualificando o poder autodeterminado e soberano sobre as populaes desprotegidas, ao convencimento do estilo de viver, por uma indstria cultural determinada a elencar as imanaes e orientaes do status quo dominante.Ao longo de toda a era moderna, a razo legislativa dos filsofos combinou bem com as prticas demasiadamente materiais dos estados, Legislar e impor as leis da razo o fardo daqueles poucos conhecedores da verdade, os filsofos., pg.s 29 e 31.Um dos resultados mais evidentes da suplantao da tica e das restries morais com que as prticas cientficas modernas no ocidente produziram efeitos traumticos humanidade, foi o holocausto, que no foi um malefcio estanque ao prprio movimento nacional-socialista nazista, mas resultado somente possvel com o progresso modernista, com as pesquisas genticas e de eugenia nos EUA e Europa, tanto que aps a derrota desse movimento nacionalista, cientistas de outros pases procuraram defender os avanos da metafsica alem hitlerista e a democracia-liberal absorveu as descobertas propiciadas pelo holocausto, mesmo com os evidentes engessamentos das populaes dominadas.O nascente estado moderno foi precursor da chamada filosofia fundadora fundamentada por Kant, Descartes e Locke, depois de atribuir a Kant, Descartes e Locke a responsabilidade conjunta pela imposio do modelo aos duzentos anos seguintes de histria filosfica., pg. 34.Esses pensadores foram movidos pelo sonho de uma humanidade livre da restrio social, poltica, econmica, nica condio que acreditavam, a dignidade humana pode ser respeitada e preservada.A natureza est merc da metafsica, que em aliana com o estado moderno, procuram domina-la e subjug-la aos interesses desenvolvimentistas.A cincia moderna nasceu da esmagadora ambio de conquistar a natureza e subordina-la as necessidades humanas Despojada de integridade e significado inerentes, a natureza parece um objeto malevel s liberdades do homem., pg. 48.A modernidade realmente reservou ao ser situao de poderio, que enfaticamente resultam em desequilbrio ao meio ambiente e dominao e alienao do homem. Tudo isto bem resumido no veredicto de Hans Jonas: Nunca tanto poder combinou-se com to pouca indicao sobre o seu uso. Ainda assim h uma compulso, uma vez existente o poder, para us-lo de qualquer forma. nota n 30, pg. 305.A modernidade colocou a humanidade em uma encruzilhada ameaadora, ou aceita o desprezo da tica e desqualificao da moral pelos cientistas ou questiona os valores e aes propostas por estes racionalistas.O que a lio do holocausto nos ensinou, porm foi a duvidar da sabedoria pretensiosa dos cientistas ao dizerem o que bom ou mau, da capacidade da cincia como autoridade moral, enfim da capacidade dos cientistas de identificar questes morais e de fazer um julgamento moral dos efeitos de suas aes., pg. 54.Bauman prope a sada na ps-modernidade frente a um crescente poder do estado em conluio com a cincia moderna e os polticos racionalistas. A ambigidade que a mentalidade moderna acha difcil de tolerar e as instituies modernas se empenharam em aniquilar reaparece como a nica fora capaz de conter e isolar o potencial destrutivo genocida da modernidade., pg. 60.2. A construo social da ambivalncia Como a verdade se faz presente, frente ambivalncia que a herana da modernidade insiste em desafiar, frente aos caminhos e descaminhos do ser domesticado, que v na liberdade, as sadas para se auto-reconstruir, o insistente apelo de Bauman, neste mergulho do olhar para o nativo e o estranho.Ancorado na pesquisa lingstica sobre o judeu europeu moderno e ps-moderno, que visto como a um estranho em meio a uma multido de europeus nativos, principalmente o alemo, o autor procura entender e sentir as emoes vividas pela estranheza ambivalente, num universo liberal-nacionalista. O elo de ligao que une e desune o nativo a oposio entre o amigo e o inimigo. O estranho se encontra presente, em meio a uma ordem pr estabelecida, surgindo a ambivalncia em uma construo social legitimada radicalmente, incompatibilizando a regra de uma ideologia nacionalista. Ele se situa entre amigo e inimigo, a ordem e o caos, dentro e fora. Ele representa deslealdade dos amigos, o gracioso disfarce dos inimigos, a fabilidade da ordem, a vulnerabilidade interna., pg. 71.O ser humano dominado e culturalmente domesticado por um meio liberal-nacionalista, tende a desenvolver um dio a si mesmo, inclusive podendo transformar-se em agresso a sua origem que lhe serve de prottipo e sentida como a sua coporificao. A resistncia do estranho a assimilao cultural encarada como desinteresse ou incapacidade de auto-remodelar.