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“(…) parece cocaína, mas é só tristeza (...)”
Renato Russo/Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá – Há Tempos (1989)
1. Introdução
1.1 – A Química no contexto das Ciências Forenses
A importância da química em processos envolvendo investigações criminais, de toda
sorte, ao redor do mundo, é indiscutível. Por ser uma ciência central e versátil, a química faz
fronteira com diversas áreas, como física, matemática, medicina e, não obstante, o direito.
A aplicação de conceitos envolvendo a química na elucidação de casos não apenas
envolvendo crimes contra a vida, mas também de naturezas diversas, como ambientais,
adulteração de alimentos e bebidas, falsidade de documentos, contra o patrimônio (público ou
privado) e acidentes de trânsito é notória no mundo todo.
No Brasil, a química passou a ser uma das primeiras áreas da ciência a ser requisitada
pela investigação criminal, depois da medicina, a princípio sendo empregada na análise de
substâncias tóxicas e, a partir daí ampliando para gama de aplicações [1].
Sendo assim, Zarzuela (1995) [2] definiu a química forense como sendo “o ramo da
Química que se ocupa da investigação forense no campo da química especializada, a fim de
atender aspectos de interesse judiciário. Tal ramo da Química atende basicamente as áreas
de estudos da Criminalística e da Medicina Forense.”
Desta forma, entende-se como fundamental a atuação da Química nas áreas de
investigação e perícia e sua aplicação direta na tentativa de elucidação de casos.
Em se tratando da literatura por trás da Química Forense, quando comparada a outras
áreas da Química, esta é relativamente escassa, principalmente no Brasil.
Alguns grupos de pesquisa, recentemente, vêm se consolidando em território nacional,
desenvolvendo diversos trabalhos, enriquecendo não apenas a bibliografia brasileira com
informações relacionadas à química forense, mas também publicando em revistas
internacionais de bom impacto. Como exemplo, pode-se citar o grupo liderado pelo professor
Marcelo Firmino de Oliveira, do Departamento de Química da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (DQ / FFCLRP-USP),
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ainda, sendo esta Instituição a responsável pela abertura do primeiro curso de graduação em
Química Forense, em 2006, no país.
Pelo fato de a Química Forense proporcionar a possibilidade de atuação em áreas multi
e interdisciplinares com a Química, o profissional formado em Química Forense precisa
possuir, dentre muitas qualidades, um vasto conhecimento das mais usuais técnicas de
análises clássicas e instrumentais, além de perspicácia, em determinados momentos, para
decidir se as análises empregadas no estudo serão suficientes para levar a alguma conclusão
sem equívocos ou absurdos.
Por fim, a procura pela formação e atuação nesta área tem crescido no Brasil,
principalmente nas duas últimas décadas. Parte desta busca é impulsionada por filmes e
programas televisivos que abordam o tema. No entanto, a realidade da atuação profissional do
químico está distante daquela mostrada nos programas, pois locais reais de crimes envolvem
aromas que podem não ser agradáveis e cenas que podem chocar, à primeira vista, sem contar
na dificuldade em se encontrar pistas e/ou obter informações, em buscas que por vezes podem
se estender por dias, semanas, meses ou mesmo anos, quando se trata de casos reais.
1.2 – O Uso das Drogas de Abuso
Todo o desenvolvimento e trajetória da raça humana foi acompanhado pelo uso de
substâncias psicoativas, fosse para ajudar a superar problemas ou dificuldades inerentes à sua
época, para fins medicinais ou mesmo recreativos e religiosos como, por exemplo, os egípcios
que produziam uma espécie de cerveja com alto teor de álcool para ser consumida em
festivais realizados em homenagem aos deuses [3].
Atualmente o ser humano tem realizado o uso de drogas de forma desenfreada e sem
limites, ocasionando, muitas vezes, num aumento da criminalidade e violência. Desta forma,
tais substâncias passaram a ser consideradas drogas de abuso, abarcando nesta denominação,
por exemplo, a maconha, a cocaína (cloridrato ou na forma de base livre, denominada crack),
e o óxi (trata-se de um subproduto variante do crack), dentre outras.
O aumento do uso deliberado das drogas (principalmente as psicoativas) há muito
tempo é um problema de ordem mundial. Tanto a produção quanto a distribuição e o consumo
estão submetidas a leis federais que dissertam a respeito de padrões e proibições. No entanto,
o que ocorre no Brasil, assim como em outros países do mundo, é que existe um “mercado”
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paralelo a estas leis federais que envolvem uma imensa quantidade de pessoas, não apenas
usuárias finais do produto, como também figuras vulgarmente conhecidas como traficantes.
Logo, o uso de drogas de abuso passou a ser um problema global que requer atenção
especial dos governantes, virando um caso de segurança pública, dentro dos países.
Anualmente gasta-se milhões no combate ao uso de drogas, gerando pouquíssimo resultado,
em termos gerais.
Em 26 de junho de 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou, em
Viena, um relatório mundial sobre o uso e consumo de drogas de abuso. Neste relatório está
descrito, em linhas gerais, que a prevalência do uso de drogas no mundo está estável.
Aproximadamente 5% da população global entre 16 e 64 anos de idade, ou seja, cerca de 243
milhões de pessoas, fizeram uso de alguma droga ilícita no ano de 2012. Ainda, o mesmo
relatório aponta que o número de usuários de drogas de abuso que apresentam complicações
biológicas ou com a justiça, por uso dos entorpecentes, somam cerca de 0,6% da população
adulta, ao redor do mundo, expressando um valor aproximado de 27 milhões de pessoas, ou
seja, 1 em cada 200 habitantes [4].
No contexto brasileiro, o relatório Mundial sobre Drogas da ONU [5], divulgado em
2013, mostra que o consumo de drogas psicoativas, como é o caso da cocaína, aumentou em
aproximadamente 1,75% no Brasil, nos últimos anos. A pesquisa aponta ainda um aumento de
3% no uso de cocaína entre os estudantes universitários. Um estudo mais recente publicado
pela Revista FAPESP, em 2014, aponta que no Brasil a região em que há maior consumo de
cocaína (tanto na forma intranasal, ou seja, aspirado, como na mistura de crack) é a Sudeste,
com 45% dos usuários.
Ultimamente, uma das formas de combate ao uso de drogas seria investimento nas
áreas de educação, médica e de segurança pública. Investimentos nas áreas de educação
conscientizariam a população acerca dos malefícios do uso continuado de entorpecentes e
esclarecendo sobre resgates e locais de tratamento. Já os investimentos nas áreas médicas
auxiliariam no efetivo tratamento e recuperação de usuários, principalmente os pertencentes
ao Sistema Único de Saúde (SUS), que superlotam os hospitais e postos de atendimento
médico por todo o país. Por sua vez, investimentos maciços em segurança pública (que,
atualmente, parece se encontrar abandonada e falida) auxiliariam no combate efetivo e na
extinção do comércio paralelo existente na sociedade brasileira, que forma quase um país
dentro do próprio Brasil.
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Ainda em se tratando de segurança pública, maiores investimentos nas forças policiais
e nos laboratórios de análises de perícia criminal proporcionariam uma atuação mais rápida e
eficaz do Estado.
1.3 – Os Analitos
1.3.1 – Cafeína e Teobromina
A cafeína (C8H10N4O2), substância orgânica representada nas figuras 1.1, muito
popular, sendo algumas de suas propriedades há tempos conhecidas e discutidas, sendo um
dos estimulantes mais conhecidos no mundo.
Quimicamente, tanto a cafeína quanto a teobromina apresentam-se na forma de um pó
branco, amorfo, com sabor azedo [7] possuindo caráter básico, muito empregadas em
produtos industrializados, principalmente de origem alimentícia e farmacêutica [8],
participando da formulação de inúmeras especialidades analgésicas, antigripais e antipiréticas,
associadas ou não a outras substâncias, como ácido ascórbico [9].
Ambas são classificadas como alcalóides pertencentes ao grupo das xantinas [10],
juntamente com a teofilina.
Em termos de solubilidade, a cafeína, teobromina e teofilina apresentam propriedades
distintas. Como exemplo, a cafeína solubiliza-se bem em água fervente, o que justifica a sua
presença, em quantidades significativas, nas bebidas como o café e chá [7].
A cafeína, cuja estrutura espacial é representada na figura 1.1.b, é encontrada,
naturalmente em folhas de chá verde e erva-mate, sementes de café, guaraná e em torno de 60
espécies de plantas distintas.
Figura 1.1.a – Fórmula molecular plana da cafeína (C8H10N4O2)
N
NN
N
O
O
CH3
CH3
CH3
5
Figura 1.1.b – Fórmula estrutural espacial para a cafeína (1,2,3-trimetil-3,7-dihidro-1H-purina-2,6-diona, ou
ainda, 1,3,7-trimetilxantina); região cinza designa carbono, vermelha designa oxigênio, azul
designa nitrogênio e branca designa hidrogênio.
Estudos farmacológicos confirmam que bebidas que possuem quantidades moderadas
de cafeína em sua composição estimulam a capacidade de concentração, diminuem a fadiga e
elevam o ânimo, atuando como estimulantes e anti-soporífero [11]. Tais estudos apontam que
a ingestão excessiva de cafeína pode causar, em alguns seres humanos, irritabilidade, insônia,
cefaléia e, em casos extremos, levar a óbito, sendo que, a dose letal para uma pessoa adulta de
massa, aproximadamente, 70 quilogramas está em torno de 10 gramas de cafeína. Em termos
gerais, esta quantidade de cafeína significa, em média, o equivalente a 200 latas de
refrigerantes do tipo Cola, 50 quilogramas de chocolate ou 100 xícaras de café [11].
Atualmente, a cafeína vem ganhando o “status” de droga de rua, sendo procurada por
consumidores contumazes de estimulantes, tais como a cocaína. Sua utilização é análoga
àquela realizada para a cocaína (figura 1.2), podendo ser auto-administrada por aspiração
(intranasal), ou ainda, de forma intravenosa, demonstrando tão logo seus efeitos sobre o
organismo [8].
Figura 1.2 – Amostra de cafeína em pó [12].
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A cafeína é metabolizada no fígado humano pela ação de enzimas, biotransformando-
se em 4% de teofilina, 80% de paraxantina e 10% de teobromina, sendo esta última também
metabolizada no fígado, produzindo metilxantina e, posteriormente, ácido metilúrico [13].
Por sua vez, teobromina (figuras 1.3.a e 1.3.b) está presente em sementes de guaraná e
na polpa do cacau (Theobroma cacao L.). Logo, o chocolate ao leite possui quantidades que
variam de 0,5% a 2,7% de teobromina, enquanto que no chocolate branco esta apresenta-se
em quantidades traço.
Está relacionada à teobromina presente no chocolate a sensação de prazer, induzida
pelo hipotálamo e, ainda que não seja comprovada como uma substância que causa
dependência química, está associada à teobromina o vício que algumas pessoas desenvolvem
pelo consumo de chocolates [13].
Figura 1.3.a – Fórmula molecular plana da teobromina (C7H8N4O2)
Figura 1.3.b – Fórmula estrutural espacial para a teobromina (3,7-dimetil-3,7-dihidro-1H-purina-2,6-diona);
região cinza designa carbono, vermelha designa oxigênio, azul designa nitrogênio e branca
designa hidrogênio.
Sua descoberta deu-se no final do século XIX sendo, posteriormente, empregada em
usos clínicos em 1916, no tratamento de edemas e também para ataques de angina (sifilítica e
N
NHN
N
O
O
CH3
CH3
7
degenerativa). Historicamente, a teobromina foi utilizada em outros tipos de problemas
circulatórios, incluindo arteriosclerose e hipertensão. Atualmente é usada como vasodilatador,
auxiliando na eliminação da urina e estimulante cardíaco, bem como a cafeína [13].
Em quantidades extremas a teobromina pode causar tremores.
Por fim, estudos envolvendo a utilização da teobromina (figura 1.4) na prevenção de
alguns tipos de câncer já encontram-se protegidos por meio de patentes requeridas [13].
Figura 1.4 – Amostra de teobromina em pó [14].
1.3.2 – Lidocaína
A lidocaína, que possui sua estrutura representada nas figuras 1.5.a e 1.5.b, também é
conhecida comercialmente como xilocaína® ou lidostesim
® sendo um fármaco do grupo dos
antiarrítmicos e possuindo propriedades anestésicas. É administrado, usualmente, no
tratamento de arritmia cardíaca e em pacientes no estado pós-cirúrgico no tratamento da dor
local. A figura 1.5 abaixo ilustra a fórmula molecular plana da lidocaína [15].
Figura 1.5.a – Fórmula molecular plana da lidocaína (C14H22N2O)
CH3
CH3
NH
O
N
CH3
CH3
8
Figura 1.5.b – Fórmula estrutural espacial para a lidocaína (2-(dietilamino)-N-(2,6-dimetilfenil) acetamido);
região cinza designa carbono, vermelha designa oxigênio, azul designa nitrogênio e branca
designa hidrogênio.
Dentre suas inúmeras aplicações clínicas, a lidocaína é administrada no tratamento de
taquicardia ventricular, especialmente pós-infarto agudo do miocárdio e em casos de
fibrilação ventricular. Nesta última o uso intravenoso é o mais empregado. Também pode ser
utilizada por via endotraqueal, em casos de urgência, enquanto o acesso venoso ainda não
estiver estabelecido.
Já o seu emprego como anestésico de curta e média duração (com anestesia pulpar e
tecidual de, aproximadamente, 60 minutos e 5 horas, respectivamente) pode se dar na forma
tópica de spray para mucosas como, por exemplo, em procedimentos de endoscopia digestiva
ou técnicas de intubação com o paciente consciente ou semi-consciente ou mesmo em
tratamentos odontológicos [15].
Por apresentar baixa toxicidade, são raros os casos de intoxicação média ou crônica
causados por lidocaína. Quando ocorrem é em decorrência de sobredoses ou mesmo injeção
intravascular inadvertida. Dentre os inúmeros sintomas para a intoxicação leve por lidocaína,
pode-se destacar tinitus (zumbido no ouvido), sensação de cabeça leve e parestesias
(formigamento na língua e nos lábios) e, nos casos de intoxicação de altos níveis, convulsões
ou colapsos cardiovasculares [15].
Ainda, a lidocaína, figura 1.6, pode ser encontrada como um adulterante em amostras
de cocaína apreendidas, juntamente com uma larga espécie de outros anestésicos, tais como,
tetracaína, procaína, bupivacaína, dibucaína e benzocaína [16].
9
Figura 1.6 – Amostra de lidocaína em pó [17].
1.3.3 – Cocaína
Os efeitos psicoativos causados ao se mascar as folhas de coca são conhecidos pelo
homem há séculos. No entanto, somente no século XVIII, com o desenvolvimento e
aperfeiçoamento das técnicas de análise química foi possível isolar e sintetizar a estrutura do
seu principal princípio ativo.
Desta forma, a benzoilmetilecgonina (vulgarmente conhecida como cocaína) é
considerada o principal alcalóide presente nas folhas de coca sendo também atribuído como
sendo a causadora dos efeitos psicoativos [18].
A benzoilmetilecgonina, cujas estruturas moleculares plana e espacial estão
representadas nas figuras 1.7.a e 1.7.b, é empregada na indústria farmacêutica, principalmente
na formulação de anestésicos locais, sendo extraída, principalmente, do arbusto de
Erythroxylum trujjilo, cultivado legalmente para finalidades médicas, em países andinos como
o Peru, a Colômbia e a Bolívia. No entanto, a cocaína extraída dos arbustos de Erythroxylum
coca, cultivado ilegalmente, possui emprego na forma de entorpecente quando é misturada a
outras substâncias e vendida ilegalmente [19].
As folhas de coca são, inicialmente, processadas nos próprios países de origem e
posteriormente enviadas a outros países para que seja realizada a segunda fase de seu
processamento, por meio da utilização de insumos químicos, tais como, éter dietílico, acetona
e ácidos sulfúrico e clorídrico.
Os relatos de estudos acadêmicos acerca da cocaína remontam de 1859, quando Albert
Niemann, então estudante de pós graduação no laboratório do professor Friedrich Wöhler,
extraiu um alcalóide primário das folhas de Erythroxylum coca, provenientes do Peru. A este
alcalóide primário Niemann denominou cocaína, publicando seus estudos no ano seguinte, na
tese de doutoramento intitulada “Über eine neue Base in der Kokablättern” (“Sobre uma base
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orgânica nova das folhas de coca”, ainda não traduzida para o português). No entanto,
somente em 1962 Wilhelm Lossen, também desenvolvendo estudos no laboratório do
professor Wöhler, estabeleceu a fórmula química para a cocaína [19].
N
O
O
O
O
Figura 1.7.a – Fórmula molecular plana da cocaína (C17H21NO4).
Figura 1.7.b – Fórmula Estrutural Espacial da Cocaína (ácido metil éster 3-benzoiloxi-8-metil-8-
azabiciclo[3.2.1] octano-4-carboxílico); região cinza designa carbono, vermelha designa
oxigênio, azul designa nitrogênio e, branca, designa hidrogênio.
A popularização do uso de cocaína é atribuída a Sigmund Freud, sendo os seus
escritos de 1884 famosos por descrever estudos sobre as propriedades da cocaína para
tratamento em pacientes com depressão ou dependentes de morfina. Ironicamente, uma das
primeiras mortes relatadas por overdose de cocaína é atribuída a um médico cirurgião norte-
americano, durante o tratamento do vício de morfina [20].
A cocaína consumida ilicitamente (figura 1.8) apresenta-se na forma de cloridrato,
obtida por meio do tratamento da pasta de coca purificada com ácido clorídrico, constituindo
um pó branco, cristalino, misturado a outras substâncias (adulterantes e/ou diluentes). Na
forma de cloridrato a cocaína não é costumeiramente fumada, por não se volatilizar e, ainda,
11
sofrer pirólise, então, geralmente é auto-administrada por meio de aspiração (intranasal), oral
ou intravenosa, sendo a primeira forma a mais comum entre os usuários [8].
Figura 1.8 – Amostras de cocaína apreendidas por forças policiais [21].
Entretanto, a cocaína na forma de base livre, apresenta ponto de fusão em torno de
98ºC (em contrapartida do cloridrato de cocaína, que possui ponto de fusão em 197ºC),
volatilizando-se a 90ºC quando submetida a aquecimento, permitindo que seus vapores sejam
inalados no ato de fumar. A forma mais comum da base livre de cocaína é denominada crack
(formado pelo aquecimento da solução aquosa do cloridrato de cocaína com uma substância
de caráter básico, até a formação de um produto de aspecto oleoso e, posteriormente, resfriado
em meio a banho de gelo, até a completa precipitação da base livre). Terminado o processo, o
aspecto final do produto obtido é semelhante a cristais irregulares, denominados vulgarmente
de “pedras” [8].
Em alguns países do mundo, incluindo o Brasil, existem subprodutos da cocaína,
como, por exemplo, a merla e o óxi. A merla é um subproduto que possui consistência
pastosa, obtida por meio da reutilização dos restos das folhas de coca que já sofreram
processo de refino (cocaína oxidada), adicionadas a estas porções de ácido sulfúrico,
querosene, cal virgem e barrilha. Já o óxi (ou oxidado) é uma droga que nasceu no Brasil e
rapidamente se espalhou para países vizinhos, sendo conhecida como uma variante do crack, e
no seu processo de manufatura, ao invés de ser adicionada uma base (bicarbonato), é
adicionada querosene ou cal virgem.
Por fim, a cocaína vendida por meio do tráfico (seja na forma de cloridrato ou base
livre) apresenta muitos adulterantes na composição final do produto. Dentre os mais comuns
encontra-se, comumente, anestésicos de efeito local (benzocaína, procaína, tetracaína,
12
bupivacaína, dibucaína, prilocaína e lidocaína), estimulantes (cafeína, teobromina, teofilina,
ergotamina, metilfenidato, fenilpropanolamina e anfetaminas) e diluentes (lactose, amido,
talco, glicose, sacarose, sulfatos, carbonatos, bicarbonatos, ácido bórico e pó de vidro) [22].
Por fim, estudos apontam que o uso continuado e progressivo da cocaína leva a uma
série de distúrbios no organismo, a saber; distúrbios psíquicos, respiratórios, cardiovasculares
e hepáticos.
1.4. – Breve Revisão da Literatura para Análises de Cocaína
A busca e o desenvolvimento de novas metodologias para análise de entorpecentes
tem sido o foco de estudo de muitos grupos de pesquisa, tanto na área puramente acadêmica
quanto em laboratórios especializados em centros de perícia.
Sendo assim, um bom teste pode ser aquele que traduz boa reprodutibilidade e
repetibilidade, apresentando robustez e, de preferência, que forneça resultados em intervalos
de tempo pequenos.
Um teste muito utilizado para análise de cocaína, no Brasil e em alguns países do
mundo, constituindo-se na classe dos spot tests (ou colorimétrico), é o realizado na presença
de tiocianato de cobalto, em meio ácido. A presença do meio ácido é muito importante, pois
assegura a formação do cloridrato de cocaína (figura 1.9) e tornando-o mais solúvel.
O
O
O
O
N
HCl
NaOH O
O
O
O
N+H
Cl-
cloridrato de cocaínacocaína (base livre)
Figura 1.9 – Esquema de conversão entre as formas de cloridrato e base livre para a cocaína.
Tal teste é realizado rotineiramente em laboratórios de análises forenses a fim de se
pré-determinar cocaína, por constituir um teste fácil e rápido. Primeiramente, se adiciona
algumas poucas gotas de solução aquosa de ácido clorídrico 1:5 (v/v) à amostra (que
13
geralmente trata-se de um pó branco) e, posteriormente, adiciona-se algumas gotas de solução
de tiocianato de cobalto 0,5% à amostra. Ao entrar em contato com a amostra ocorre o
desenvolvimento de um precipitado de coloração azul turquesa, em caso positivo para a
droga.
Por fim, a mudança de cor ocorre devido à formação de um complexo formado entre o
íon cobalto e as moléculas de cocaína, de fórmula [Co(cocaína)2(SCN)2(H2O)2] , [1] conforme
ilustrado abaixo:
Figura 1.10 – Estrutura do complexo azul turquesa formado entre a cocaína e o tiocianato de cobalto [1].
No entanto, apesar da larga utilização do método colorimétrico envolvendo o
tiocianato de cobalto, a reação e formação do complexo turquesa não é específica para a
cocaína, podendo apresentar resultados semelhantes para diversas substâncias, inclusive
muitas que possuem aspectos físicos próximos ao da cocaína (pós brancos), a saber: lidocaína,
cafeína, escopolamina, fenobarbital sódico, salicilato de nicotina e cloridratos de metadona e
procaína. Há relatos na literatura que apontam o aparecimento de uma coloração bem
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semelhante àquela apresentada na presença de cocaína quando se analisa alimentos como leite
em pó e recheio de biscoitos [23].
Desta forma, o método oficial para a identificação de cocaína é proposto pela British
and United States Pharmacopeias, baseado em titulação por ácido perclórico de uma solução
não aquosa de cocaína em 1,4-dioxano [23].
O crescimento do número de apreensões de cocaína requer o surgimento de novas
técnicas de identificação e, como já citado, que preferencialmente sejam rápidas e de baixo
custo. Na literatura existem trabalhos apontando a utilização de uma vasta gama de técnicas,
dentre elas Ressonância Magnética Nuclear (NMR) [23,24], Cromatografia Líquida de Alta
Eficiência (HPLC) [23-29], polarimetria [23], cromatografia gasosa acoplada a espectrometria
de massas (GC-MS) [23-25,30-34], espectroscopia na região do infravermelho com
transformada de Fourier (FT-IR) [23-25].
As técnicas cromatográficas são aquelas que apresentam o maior número de trabalhos
descritos na literatura envolvendo análises diversas de cocaína, tanto na forma apreendida
quanto em fluídos biológicos. Para exemplificar, pode-se tomar como base dois trabalhos
experimentais, um utilizando a técnica de cromatografia gasosa com detector de ionização por
chama e outro por cromatografia líquida de alta eficiência com detector na região do ultra-
violeta visível (UV-Vis) e que são descritos na literatura, para análise de cocaína e seus
metabólitos em amostras de sangue [35,36].
Por fim, percebe-se a necessidade de desenvolvimento de técnicas cada vez mais
sensíveis, rápidas e de baixo custo, que sejam capazes de gerar respostas que minimizem ou
mesmo excluam os resultados falso-positivos para as análises.
1.5 – A Voltametria Cíclica e as análises para a Cocaína
O campo atual da eletroanalítica abarca uma série de técnicas que variam entre si
quanto ao estímulo elétrico e a resposta que se deseja obter.
A voltametria, técnica eletroanalítica empregada neste trabalho, teve seu início na
polarografia em 1922, técnica criada e desenvolvida pelo químico Jaroslav Heyrovsky
(Prêmio Nobel em Química, 1959)[37-38].
Na polarografia o potencial é varrido linearmente e a corrente que flui no processo é
monitorada. O eletrodo gotejante de mercúrio era empregado realizando papel de eletrodo de
trabalho enquanto que o eletrodo de calomelano saturado (ECS) atuava como eletrodo de
15
referência. A figura 1.11 apresenta a curva obtida por potencial versus corrente, denominada
polarograma.
Figura 1.11 – Polarograma geral de corrente contínua [39].
A polarografia foi uma técnica muito explorada até a metade do século XX, por ser
capaz de determinar concentrações de íons metálicos em solução na ordem de 10-5
mol.L-1
.
No entanto, com o desenvolvimento da absorção atômica em meados da década de 50, a
polarografia passou a figurar em segundo plano para estes fins [37].
Com a substituição do eletrodo gotejante de mercúrio por eletrodos de outros metais (e
que podiam estar revestidos com outras substâncias, denominados, então, de quimicamente
modificados), o emprego de um terceiro eletrodo (eletrodo auxiliar ou contra-eletrodo) e a
implementação de técnicas voltamétricas de pulso, na década de 60, surge a voltametria, e
trabalhos detectando íons metálicos na faixa de 10-9
mol.L-1
,são reportados na literatura. Desta
forma, trabalhos envolvendo a voltametria passou a ressurgir e esta a se constituir como uma
técnica com elevado padrão de sensibilidade [37].
Tendo em vista todo o histórico do seu desenvolvimento, a voltametria pode, então,
ser definida como: “um conjunto de técnicas nas quais se observa relações entre o potencial e
a corrente, durante o processo eletroquímico” [40].
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Por se tratar de um conjunto de técnicas eletroanalíticas, a voltametria, então,
compreende as modalidades linear, cíclica (empregada no atual estudo), de pulso diferencial e
de onda quadrada.
O que varia entre estas modalidades (figura 1.12) é o padrão potencial aplicado,
influenciando de forma significativa na resposta da corrente.
Figura 1.12 – Representação dos quatro sinais de tensão em função do tempo, empregados nas modalidades
voltamétricas [41].
Desta forma, pode-se observar que para a voltametria cíclica, a varredura de potencial
ocorre em um sentido que, posteriormente é invertido, retornando ao potencial inicial,
totalizando, assim, uma varredura completa.
A curva de potencial versus corrente, representada na forma genérica na figura 1.13,
obtida após a varredura completa de potencial, em ambos os sentidos, é denominada
voltamograma.
17
Figura 1.13 – Representação de um voltamograma cíclico e cada uma de suas respectivas regiões [42].
Uma das principais limitações da voltametria cíclica no tocante à sensibilidade na
análise, diz respeito à corrente capacitiva (ic), sendo esta uma corrente de fundo residual. A
presença da corrente capacitiva é relacionada aos efeitos relativos à dupla camada elétrica.
Outra limitação é relativa aos efeitos apresentados pela corrente faradáica (if), que estão
relacionados a impurezas presentes ou mesmo gases, como, por exemplo, o oxigênio,
presentes na solução [39].
Logo, no emprego da voltametria, a principal corrente residual que limita a
sensibilidade da análise é a corrente capacitiva e esta deve ser minimizada, para se obter uma
melhoria na razão sinal/ruído. No tocante à eliminação/minimização da corrente faradáica, o
uso de reagentes de elevada pureza e a desaeração da solução de análise, por meio da
passagem de nitrogênio, mostram-se úteis.
A figura 1.14 abaixo relaciona a variação das correntes residuais, em função do tempo,
para análises voltamétricas.
18
Figura 1.14 – Relação da variação das correntes faradáica (if) e capacitiva (ic), em função do tempo, para a
voltametria [39].
Em última análise, nota-se que a corrente faradáica decai mais lentamente, em
comparação a corrente capacitiva, sendo possível, desta forma, discriminá-las.
Ainda, de acordo com a equação de Randles-Sevcik, descrita abaixo, pode-se
estabelecer uma relação entre corrente de pico e concentração da espécie eletroativa na
solução, a 25ºC. Observa-se também que a velocidade de varredura também influencia na
curva expressa para a corrente de pico.
Ipc = (2,69x105)n
2/3AD0
1/2v
1/2C0 Equação 1.1
Onde:
n = expressa o número de elétrons envolvidos no processo
A = área do eletrodo (cm2)
D0 = coeficiente de difusão (cm2/s)
v = velocidade de varredura (V/s)
C0 = concentração da espécie eletroativa (mol.cm-3
)
Além das técnicas voltamétricas, advindas da polarografia, pode-se ainda citar a
potenciometria e a amperometria, como técnicas eletroanalíticas e, suas relações podem ser
entendidas de acordo com o esquema representado na figura 1.15.
19
Figura 1.15 – Relações entre a potenciometria, polarografia e amperometria em função dos parâmetros de
corrente, potencial e composição química.
Desde a década de 60 a voltametria é empregada como ferramenta para a determinação
da concentração e mecanismos envolvendo espécies eletroativas [43] e técnicas
eletroanalíticas, principalmente nas modalidades de voltametria cíclica e de pulso diferencial,
têm se mostrado muito eficientes para análises de drogas de abuso, medicamentos e outras
substâncias orgânicas [44-49].
Tal fato disposto acima só é possível porque a cocaína apresenta comportamento
eletroativo, ou seja, sofre processo de oxidação ou redução mediante aplicação de potencial
[23,25,44,45,50-53].
Estudos relatam que a detecção da cocaína por métodos eletroanalíticos é possível
devido a uma oxidação que ocorre na amina terciária presente em sua estrutura. Komorsky-
Lovric (1999) [51], relatou em um estudo por voltametria cíclica oxidação da cocaína em
potencial +0,9V (vs. Ag/AgCl), em pH=9 (potencial hidrogeniônico), utilizando-se eletrodo
de pasta de carbono impregnado por parafina, como eletrodo de trabalho e, posteriormente, a
este eletrodo foram impregnadas micropartículas sólidas, de interesse pericial, contendo
cocaína.
Um estudo pioneiro relatado por Kalvoda (1982) [54] constatou de forma indireta a
presença de cocaína. Neste trabalho, o estudo ocorre pela redução de benzoilecgonina,
(formada espontaneamente pela hidrólise básica da cocaína), que poderia ser identificada em
20
potencial igual a -1,2V (vs. Ag/AgCl). Então foi utilizada uma solução com concentração 0,5
mol.L-1
de hidróxido de sódio (NaOH), em presença de amostra de cocaína e fez-se valer dos
estudos voltamétricos com aplicação de stripping.
Há relatos de trabalhos empregando técnicas eletroanalíticas, por exemplo, no estudo
de ação de mecanismos patológicos e fisiológicos envolvendo a cocaína [48,49,50,55-57] e
um de seus principais metabólitos, a benzoilecgnonina [58].
Em um trabalho recente, Asturias-Arribas (2014) [59] descreve a detecção de cocaína
em amostras apreendidas frente a três interferentes, a saber, codeína, paracetamol e cafeína,
sendo que estes apresentam picos de oxidação que sobrepõem os picos apresentados para a
cocaína. Neste trabalho é empregado um eletrodo de carbono vítreo recoberto com nanotubos
de carbono, que aumenta a seletividade da análise para a detecção de cocaína, minimizando os
efeitos apresentados pelos interferentes analisados.
1.6 – Estudos por Microbalança de Cristal de Quartzo
1.6.1 – O Quartzo
O quartzo apresenta fórmula química SiO2, sendo um mineral que pertence ao grupo
dos óxidos, apresentando sistema cristalino trigonal, com hábitos em prismas hexagonais,
possuindo clivagem inexistente e fratura classificada de concóide a total assimétrica. Atinge
dureza 7 na escala de dureza de Mohr, com um intervalo que varia de 1 a 10, apresentando
densidade de 2,65 g.mL-1
, baixa fluorescência e elevado ponto de fusão, em 1750 ºC.
Estruturalmente, apresenta-se na forma de quartzo alfa e beta. O quartzo alfa
cristaliza-se em temperaturas abaixo de 573 ºC, transformando-se em quartzo beta em
temperaturas entre 573 ºC e 870 ºC [60].
O quartzo apresenta-se naturalmente incolor, porém, certas impurezas podem se alojar
em seu interior, conferindo mudanças na sua coloração.
Dentre uma gama de variedades de quartzo, pode-se destacar a ágata (que apresenta-se
em diversas tonalidades, sendo a mais comum a de cor laranja), o crisópraso (verde-claro), o
jaspe (possuindo tonalidades variantes de vermelho escuro ao amarelo), a calcedônia (tons de
marrom, vermelho, cinza ou mesmo azul), a ametista violeta (figura 1.16), dentre muitas
outras.
21
Figura 1.16 – Exemplar do mineral quartzo denominado ametista, que possui em sua composição, além de
dióxido de silício (SiO2), ferro, manganês, titânio, cálcio, magnésio e traços de cromo.
Com os avanços no estudo da cristalografia e, consequentemente, nas propriedades
piezelétricas mostradas pelo quartzo, observou-se que suas propriedades vibratórias
dependem do corte laminar efetuado sobre o mesmo e, ainda, que as propriedades de
frequência ressonante poderiam se tornar independentes da temperatura caso as lâminas
fossem formadas sob uma determinada angulação.
Deste modo, lâminas de cristais podem apresentar diversos modos de vibração. Os três
modos mais conhecidos são: longitudinal (extensional), lateral (transversal e flexural) e
torsional [20].
O termo corte é usado para designar a direção normal em relação à face menor. Logo,
um corte X possui sua direção normal paralela ao eixo X.
Figura 1.17 – Representação de cortes laminares simples [61].
22
Em trabalhos analíticos que empregam o uso da microbalança de cristal de quartzo
(QCM), está presente o modo de vibração transversal de espessura de alta frequência
(thickness-shear mode – TSM), por apresentar maior sensibilidade. Neste modo, as partículas
movem-se em uma direção paralela à frente de onda ou perpendicular àquela do seu corte.
Figura 1.18 – Representação do modo de vibração transversal de espessura de alta frequência (thickness-shear
mode) [61].
No entanto, o quartzo pode apresentar distintos modos de vibração e tomando-se como
exemplo o TSM, os cortes mais empregados são do tipo AT / BT.
Figura 1.19 – Representação dos distintos modos de vibração [61].
23
1.6.2 – Sensores Piezelétricos
De modo geral, os sensores químicos são constituídos por uma camada seletiva que
responde a interações de natureza química ou física com uma espécie de interesse, produzindo
um sinal que pode ser interpretado na determinação ou quantificação desta espécie.
É interessante que os sinais gerados pelos sensores apresentem seletividade e
estabilidade, mas alguns parâmetros são importantes para a sua aplicabilidade, tais como,
repetitividade em múltiplas análises, seletividade, linearidade e tempo de histerese.
Os sensores piezelétricos são sensíveis à variação de massa, atuando como uma
microbalança. Daí surge a denominação microbalança de cristal de quartzo.
De acordo com as propriedades piezelétricas, deformações na estrutura do cristal de
quartzo são produzidas sob a ação de um campo elétrico, ou seja, oscilações mecânicas
ressonantes são geradas quando a perturbação elétrica aplicada também possuir propriedades
oscilatórias (corrente alternada, por exemplo).
Desta forma, são geradas nos cristais piezelétricos frequências fundamentais
ressonantes, que podem sofrer alterações (∆F) de acordo com a variação da massa total (∆M)
presente no sistema. Portanto, existe uma relação de linearidade entre a ∆F e ∆M, que pode
ser expressa em termos matemáticos pela equação de Sauerbrey.
∆F = −2,3.106 F0
2 ∆M
A Equação 1.1
Sendo:
∆F = variação de frequência (Hz)
F0 = frequência fundamental ressonante da lâmina de quartzo (MHz)
∆M = variação da massa total depositada nos eletrodos presentes nas faces do cristal (g)
A = área do eletrodo que pode ou não ser recoberta por modificador químico (cm2)
A Sauerbrey foi determinada em estudos utilizando cristais de quartzo de corte AT,
apresentando o modo de vibração transversal de espessura. De acordo com esta equação,
quanto maior for o valor da variação de massa total do sistema, menor será o valor da
frequência de vibração ressonante, fato que também pode ser comprovado por meio de
experimentos.
24
Logo, para que o sensor piezelétrico seja utilizado adequadamente na determinação
indireta da variação de massa, alguns critérios necessitam ser compreendidos e estabelecidos,
a saber:
a) O sistema deve ser facilmente excitado, principalmente por meios elétricos, e deve
possuir frequências ressonantes bem estáveis e definidas;
b) Alterações do meio, tais como flutuações na temperatura ou na pressão e ação de
campo magnético não devem influenciar de forma significativa quando comparadas
com a ação da variação de massa;
c) Um medidor de frequência adequado (frequencímetro) deve ser acoplado ao sistema
sem provocar perturbações ou alterações relevantes;
d) Responder a equação de Sauerbrey ou então possuir uma relação matemática própria
que permita a relação coerente entre as variações de frequência e massa;
e) Relação sinal/ruído precisa apresentar-se favorável, pois, desta forma os ruídos não
são capazes de gerar interferências que possam comprometer a resposta;
Assim, mantidas os critérios para a análise, os sensores piezelétricos apresentam excelentes
resultados frente a análises em fases gasosa ou aquosa.
1.6.3 – Os anos iniciais da piezeletricidade e seus trabalhos atuais
Coulomb é considerado o primeiro cientista a mencionar a respeito de alguns
fenômenos apresentados por cristais e que hoje entende-se como fenômenos piezelétricos
[62]. Nos anos de 1820, Becquerel realiza alguns experimentos utilizando cristal de quartzo e
constata a hipótese mencionada por Coulomb [63].
Anos mais tarde, o efeito constatado por Becquerel já havia sido explorado por outros
cientistas mas, somente em 1880 puderam ser cientificamente comprovados pelos irmãos
Curie (Jacques e Pierre), que verificaram o surgimento de cargas elétricas na superfície dos
cristais quando eram submetidos a tração mecânica, conferindo-lhes o mérito pelos primeiros
estudos confirmatórios [64].
No entanto, em 1881 fora notado um efeito piezelétrico inverso àquele estudado pelos
irmãos Curie, onde a aplicação de um campo elétrico sobre a superfície laminar dos cristais de
25
quartzo produzia distorções de natureza física, ou seja, vibrações. Este fenômeno havia sido
proposto, anteriormente, pelo físico e matemático francês, Gabriel Lippman [64].
Com os avanços em cristalografia e estudos de simetria, os cientistas notaram que nem
todos os minerais apresentam o efeito da piezeletricidade. Tal fenômeno é observado somente
em sólidos cristalinos com ausência de centro de inversão em sua estrutura cristalográfica
[65].
Desde então os usos e aplicações do efeito piezelétrico não ficaram somente no campo
acadêmico. Durante a Primeira Guerra Mundial, cientistas de renome, tais como, Hankel,
Lippman, Cady, Nicholson & Langevin, realizaram pesquisas mais aprofundadas no campo
da aplicabilidade de sensores piezelétricos [62,66], sendo atribuído a este último a criação e o
desenvolvimento do primeiro sonar para captação de ondas sonoras de alta frequência em
meios aquosos.
Nas últimas seis décadas surgiram inúmeros trabalhos na literatura envolvendo
diversas aplicações aos sensores piezelétricos, nos mais variados campos da ciência, como,
por exemplo, na detecção de umidade [64-67], medidas de oscilação de temperatura [64],
detecção de aerossóis e particulados suspensos [68-71], determinação para a espessura de
filmes metálicos evaporados ou eletrodepositados [72], fenômenos de adsorção [64],
determinação da velocidade em estudos corrosivos [73], detecções de poluentes ambientais,
em fase gasosa [74], entre outros.
Atualmente foi lançada na literatura uma revisão sobre as principais técnicas e
aplicações em análises forenses, voltado à química analítica forense, onde o sensor
piezelétrico aparece em posição de destaque, atuando em diversos trabalhos [75].
Num trabalho atual, Andreas Voss e colaboradores (2014) [76], descrevem a detecção
de Cannabis, na superfície da pele humana, fazendo menção a análises por detectores
piezelétricos do tipo nariz eletrônico.
Enfim, embora a utilização de sensores piezelétricos envolvendo análises químicas
seja antiga, ainda são raros os trabalhos relatados na literatura a respeito da utilização de tais
sensores para fins de análises forenses.
26
1.7 – Cucurbiturilas
As cucurbiturilas são membros de uma família de compostos denominados
cucurbitandos, pois são moléculas que apresentam sua arquitetura em formato de abóbora, ou
barril. Sua síntese, cujo esquema está representado na figura 1.20, por vezes, é bastante
simples e é realizada pela reação entre glicolurila e metanal, geralmente em meio ácido[77].
NH NH
NH NH
O
O
n + 2n CH2OH
+N N
N N
O
O
CH2
CH2
n
glicolurila metanal cucurbit[n]urila
Figura 1.20 – Representação esquemática da síntese de cucurbiturilas.
A primeira síntese de cucurbiturila realizada é atribuída a Behrend e colaboradores
[78], formando a cucurbit[6]urila (que também pode ser designada por CB[6]), entretanto, a
estrutura deste composto só pode ser resolvida em 1981, com o avanço das técnicas
instrumentais de análise.
Por serem estruturas toroidais, apresentam aberturas (opérculos) de ambos os lados e
possuindo capacidade para acomodar uma enorme variedade de espécies químicas, conforme
relatado por Demets (2007) [79].
Os opérculos podem variar de tamanho, de acordo com o número de unidades
glicolurílicas, conforme mostrados na figura 1.21. Como exemplo, pode-se citar o CB[6], que
apresenta simetria D6H e possui doze unidades glicolurílicas, sendo seis em cada opérculo,
tornando razoável afirmar que as estruturas apresentam caráter básico.
27
Figura 1.21 – Representação esquemática de cucurbiturilas em relação ao número de unidades glicolurílicas [80].
Assim, quanto maior for o número de unidades glicolurílicas, maior será o diâmetro da
cavidade e dos opérculos. De acordo com a figura 1.22, as estruturas mantém a mesma altura,
em 9,1 Å, e o tamanho da abertura é cerca de 2 Å menor que o diâmetro das cavidades
internas (hidrofóbicas) [79], sendo esta uma das principais barreiras para a formação de
caviplexos.
Figura 1.22 – Representações lateral e superior da estrutura química apresentada na CB[6].
Ainda, de acordo com a revisão apresentada por Demets (2007) [79], atualmente
existem inúmeras aplicações envolvendo o emprego de cucurbiturilas, nos mais variados
campos da química, como, por exemplo, em processos fotoquímicos confinados, formação de
complexos metálicos e adutos inorgânicos, remediação ambiental, aplicações em
eletroanalítica, atuando como filmes (modificadores químicos) na superfície de eletrodos,
entre outros.
28
Recentemente um trabalho foi publicado utilizando-se eletrodos quimicamente
modificados com cucurbit[6]urila para a identificação de 3,4-metilenodioximetanfetamina
(MDMA), vulgarmente conhecido como ecstasy, por voltametria [80].
29
2. OBJETIVOS
Considerando a problemática citada na introdução, este projeto tem como intuito o
desenvolvimento de sensores: (i) piezelétricos: com eletrodos sem modificação e,
posteriormente, adicionando-se modificadores químicos (CB[5], CB[6] e CB[7]) a fim de se
verificar se há interferência de alguns analitos frente à identificação de cocaína em fase
gasosa e, (ii) voltamétricos: estudos envolvendo a voltametria cíclica, empregando-se eletrodo
de trabalho de ouro e de platina, sem modificação e quimicamente modificado (CB[5], CB[6]
e CB[7]), com o intuito de se levantar respostas quanto à identificação de cocaína frente à
alguns interferentes, em fase aquosa.
O objetivo de se estudar e verificar os possíveis sinais analíticos apresentados pela
cocaína frente a alguns de seus interferentes mais comuns e que, possivelmente, está na
possibilidade dos mesmos apresentarem resultados como falsos-positivos ou mesmo induzir a
erros experimentais, levando-se em consideração a metodologia empregada no trabalho.
30
3. METODOLOGIA EXPERIMENTAL
3.1 – Analito
As amostras de cocaína utilizadas no presente trabalho foram gentilmente cedidas pela
Polícia Científica de Ribeirão Preto – SP, no âmbito do convênio de parcerias realizadas entre
a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo
(FFCLRP-USP) e a Polícia Científica.
Em consideração à cocaína, parte da amostra cedida pela Polícia Científica foi
criteriosamente purificada por via úmida, pois, se tratando de um composto compreendido na
família dos alcalóides, a metodologia empregada para a purificação mostra-se rápida, eficiente
e de fácil manuseio.
3.1.1 – Purificação da Cocaína
De acordo com o supracitado, a purificação da cocaína deu-se por via úmida,
procedendo-se da seguinte forma, apresentada em passos, a saber:
1- Primeiramente dissolve-se uma determinada quantidade de cocaína impura (da forma
em que é apreendida e, consequentemente, vendida para consumo) em água destilada.
Nota-se, neste passo, que parte do sólido presente na amostra apresenta-se insolúvel
nestas condições, sendo atribuída a esta parcela adulterantes de naturezas diversas, tais
como pó de vidro, amido em pó, carbonatos e bicarbonatos.
2- Posteriormente, adiciona-se certa quantidade de ácido clorídrico à mistura, aferindo-se
o pH constantemente, até que o mesmo esteja próximo de 3,0.
3- Neste estágio, realiza-se uma filtração por gravidade, onde o que ainda resta de
insolúvel possa ser separado da solução e descartado, sendo apenas reservada a
solução final, isenta de quaisquer corpos de fundo ou insolúveis.
4- Em seguida, adiciona-se solução de hidróxido de sódio (NaOH) à solução ácida que
fora reservada após a filtração por gravidade, aferindo-se constantemente o pH seja
próximo de 10,0.
31
5- Por fim, procede-se à filtração por gravidade da solução alcalina e, neste momento,
reservar o precipitado retido no papel de filtro, podendo a solução alcalina ser
descartada.
O processo descrito acima foi repetido por três vezes consecutivas, a fim de se
aumentar a pureza do produto final.
Deve-se ainda salientar que a cocaína purificada no final do processo descrito foi
submetida à análise por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) e por espectroscopia
Raman, confirmando-se a sua pureza.
3.2. – Análise de Massa por Microbalança de Cristal de Quartzo
3.2.1 – Os Cristais Piezelétricos
Para este estudo foram utilizados cristais de quartzo disponíveis comercialmente e que
apresentam uma frequência fundamental de trabalho em 10 MHz e corte do tipo AT,
devidamente montados em suporte de cerâmica, modelo HC-6/U (Universal Sensors). Todos
os cristais possuem uma finíssima película de ouro, eletrodepositada nas duas faces, atuando
como eletrodo do cristal. A lâmina de quartzo possuía 14 milímetros de diâmetro, em formado
circular, apresentando espessura de 0,15 milímetros. No tocante aos eletrodos formados pelo
filme de ouro, os mesmos apresentam diâmetro de 6 milímetros, com espessura na faixa de
3.000 Å a 10.000 Å. De forma geral, todo o aparato formador do cristal piezelétrico possuía
23 milímetros de dimensão, conforme ilustrado abaixo:
Figura 3.1 – Ilustração detalhada de um cristal de quartzo piezelétrico [61].
32
Logo abaixo é possível observar a foto do cristal de quartzo piezelétrico do mesmo
modelo usado nos experimentos descritos neste trabalho.
Figura 3.2 – Foto de um exemplar de cristal de quartzo piezelétrico, com régua possibilitando o real
dimensionamento do aparato experimental [61].
3.2.2 – A Geração de Vapores
Os vapores de droga e dos analitos interferentes estudados no experimento da
microbalança de cristal de quartzo foram gerados com o auxílio de um forno elétrico,
alimentado por uma serpentina geradora de calor, acoplado ao sistema analítico.
Logo, as amostras são cuidadosamente colocadas em tubos de vidro temperado, e
estes, por sua vez, inseridos no interior do forno elétrico que possuía um sistema regulador de
temperatura. Assim, o presente estudo utilizou-se do método da difusão para que fossem
geradas amostras em estado gasoso e a temperatura de trabalho foi estabelecida em 50°C,
tanto para as amostras de cocaína (purificada e impura) quanto para os interferentes
estudados.
O tubo de vidro temperado que acondiciona as amostras de interesse possuía duas
aberturas na parte superior sendo uma de entrada de gás de arraste e outra de saída do mesmo
gás, que carrega consigo amostras de droga ou interferentes, no estado gasoso.
O gás utilizado no presente trabalho foi o nitrogênio e seu fluxo foi monitorado
continuamente durante toda a execução da análise, sendo que para o trabalho estabeleceu-se
um fluxo gasoso constante de 100 mL/min, por meio de um ajuste fino de um fluxímetro,
admitindo-se leves oscilações.
33
Por fim, durante todo o trabalho experimental envolvendo a microbalança de cristal de
quartzo a concentração da cocaína e dos interferentes foi considerada constante, visto que
tanto a temperatura quanto o fluxo do gás de arraste também se mantiveram constantes no
processo de análise.
3.2.3 – O Sistema Piezelétrico de Análise
O sistema piezelétrico de análise consiste de um aparato experimental formado,
basicamente, por um forno elétrico gerador de vapor onde as amostras são inseridas, um
frequencímetro registrador da oscilação de frequência sofrida durante a análise e uma célula
de vidro onde o cristal piezelétrico quimicamente modificado é devidamente posicionado para
a execução da análise.
Desta forma, o cristal piezelétrico já possuindo seus eletrodos quimicamente
modificados com as cucurbiturilas CB[5], CB[6] ou CB[7], foi então colocado numa célula de
vidro, com suas faces diretamente posicionadas para as saídas de gás de arraste contendo os
vapores das drogas ou dos interferentes (Figura 3.3).
A figura abaixo ilustra a célula de vidro, trazendo o arranjo experimental onde foi
acondicionado o cristal piezelétrico empregado neste estudo.
Figura 3.3 – Ilustração da célula detectora que acondicionou o cristal piezelétrico quimicamente modificado
utilizado nas análises [61].
34
Deve-se frisar que a configuração física da célula de vidro onde se aloja o sensor
piezelétrico influencia bastante na sensibilidade da análise o que justifica, inclusive, a
adaptação de fluxo repartido em duas frações iguais, direcionando frontalmente o fluxo de gás
aos eletrodos do sensor, de modo contínuo, efetivando ao máximo o contato entre as
moléculas da droga e/ou interferentes químicos com o modificador fixado no eletrodo do
cristal.
Posteriormente o cristal piezelétrico foi diretamente conectado a um oscilador
transistorizado OT-13 (International Crystal Mfg.Co, Oklahoma City, OK), que foi o
responsável por mantê-lo oscilando a uma frequência constante e que neste caso não se trata
mais da frequência fundamental, pois o cristal já se encontra com a superfície de seu eletrodo
modificada. O oscilador foi alimentado por uma fonte reguladora de voltagem (Heathkit,
modelo IP-2728), ajustada para 9 volts dc. Por fim, a frequência de saída do oscilador e,
consequentemente, do cristal piezelétrico foi monitorada e registrada por um frequencímetro
digital FC 2015 Goldstar, de onde foram realizadas as coletas de dados relativos à frequência
de trabalho.
Abaixo encontra-se a figura que representa o arranjo experimental completo do
sistema piezelétrico, incluindo o supracitado.
Figura 3.4 – Arranjo experimental que ilustra de forma completa o sistema piezelétrico; 1 – medidor de
frequência, 2 – oscilador transistorizado e 3 – fonte reguladora de voltagem [61].
35
3.3 – Análise por Voltametria Cíclica
A química eletroanalítica é uma área vasta, com inúmeros estudos fundamentais e
aplicações diretas, englobando métodos potenciométricos (como medidas rotineiras de pH), a
coulometria (incluindo a eletrogravimetria) e métodos voltametricos (linar, cíclica, de pulso
diferencial e de onda quadrada). Considerando os métodos voltamétricos, em particular, estes
podem ser entendidos como um conjunto de técnicas eletroanalíticas que dependem da
medida de corrente, em função do potencial aplicado.
Desta forma, os estudos nesta fase do experimento procederam-se na modalidade de
voltametria cíclica. Tal técnica foi escolhida pelo fato de prover dados experimentais de
grande valia como estudos de mecanismos de reação, reversibilidade de processos e regiões
de potenciais onde processos de redução e/ou oxidação podem ocorrer.
3.3.1 - Condições Operacionais da Voltametria Cíclica
Todos os estudos voltamétricos realizados nesta fase do estudo deram-se na
modalidade de voltametria cíclica realizados num potenciostato da marca Autolab, modelo
microAutolab III.
Também foi utilizada uma célula de vidro com capacidade para 10,0 mL de solução e
um arranjo de três eletrodos, constando um eletrodo de trabalho, um eletrodo de referência e
um contra-eletrodo (também denominado eletrodo auxiliar).
Para os estudos voltamétricos foram empregados eletrodos de trabalho de ouro e de
platina e, ainda, os mesmos recobertos por modificadores químicos. A janela de varredura de
potencial para os eletrodos sem modificadores químicos estendeu-se de -0,5V a +1,0V e,
quando na presença dos modificadores químicos, na faixa de potencial compreendida entre -
0,7V a +1,0 V.
Ainda, todos os estudos foram realizados em soluções aquosas acidificadas por gotas
de ácido clorídrico, possuindo como eletrólito suporte uma solução de cloreto de potássio,
com concentração igual a 0,1 mol.L-1
.
36
3.3.1.a – Eletrodos de Trabalho
O eletrodo de trabalho é, geralmente, aquele no qual a espécie eletroativa de interesse
é oxidada e/ou reduzida, e é polarizável de acordo com o potencial elétrico aplicado. Para o
presente trabalho foram testados dois tipos de eletrodos de trabalho: eletrodo de ouro e
eletrodo de platina. Também foram nos eletrodos de trabalho que ocorreu a deposição dos
modificadores químicos empregados no trabalho. Desta forma, foram realizados estudos com
e sem a presença dos modificadores químicos a fim de se verificar possíveis alterações nas
respostas obtidas.
3.3.1.b – Eletrodo de Referência
O eletrodo de prata/cloreto de prata atuou como eletrodo de referência para os estudos
neste trabalho. Eletrodos deste tipo são construídos empregando-se um eletrodo de prata
imerso em uma solução saturada de cloreto de potássio e cloreto de prata (que, geralmente,
adere ao fio de prata). Uma notação do eletrodo de prata/cloreto de prata descrito é a que
segue abaixo:
Ag|AgCl(saturado), KCl(saturado)||
Sendo que a semi-reação para este eletrodo pode ser considerada a seguinte:
AgCl(s) + e- Ag(s) + Cl
-
A 25ºC, o potencial do eletrodo de prata/cloreto de prata versus o eletrodo padrão de
hidrogênio (EPH) é de 1,99 volts.
Por fim, as medidas de potenciais elétricos ocorrem entre o eletrodo de trabalho e o
eletrodo de referência, de forma que o potencial do eletrodo de trabalho mantém-se constante
enquanto o potencial aplicado pelo eletrodo de trabalho varia linearmente com o tempo.
37
3.3.1.c – Contra-eletrodo
Para o presente estudo o contra-eletrodo utilizado foi formado por um fio de platina
espiralado. Nas análises voltamétricas, o contra-eletrodo exerce um papel fundamental pois,
na célula eletroquímica, a corrente flui entre o contra-eletrodo e o eletrodo de trabalho.
Assim, o esquema apresentado pela figura 3.5 resume o arranjo experimental utilizado
na voltametria cíclica desenvolvida no presente trabalho.
Figura 3.5 – Representação esquemática da célula voltamétrica possuindo três eletrodos e, logo abaixo, esquema
da mesma célula conectada a um sistema potenciostático [39].
3.3.2 – As soluções empregadas nos estudos voltamétricos
Todas as soluções empregadas nesta etapa do trabalho foram preparadas em água
destilada, acidificada com gotas de ácido clorídrico.
38
Antes de estudar o comportamento dos analitos perante um eletrodo modificado, foi
realizado um estudo do comportamento dos mesmos perante os eletrodos de ouro e de platina,
sem modificador.
Foram preparadas soluções padrões de 1,0.10-3
mol.L-1
, em meio aquoso, para todos os
analitos.
Cada um dos analitos foi analisado separadamente na célula eletroquímica.
Posteriormente os interferentes, teobromina, cafeína e lidocaína, foram analisados juntamente
com a cocaína. Uma última análise foi realizada com soluções equimolares de todos os
analitos e interferentes.
Todos os analitos foram analisados com concentrações, dentro da célula, variando
entre 1,0.10-5
mol.L-1
a 1,0.10-4
mol.L-1
, preparadas a partir de diluições das soluções padrões
e considerando-se o volume total de solução em análise sendo constante e igual 10mL. Deve-
se frisar que foi borbulhado gás nitrogênio num intervalo de 15 minutos, nas soluções
submetidas a análise, e que sempre teve-se o cuidado de verificar a não existência de bolhas
na superfície de quaisquer eletrodos, durante o processo voltamétrico.
Por fim, salienta-se que uma solução de concentração igual a 0,100 mol.L-1
de cloreto
de potássio foi empregada, sendo o KCl o eletrólito suporte utilizado nas análises.
3.3.2.a – Solução de Cocaína (padrão)
Inicialmente preparou-se 3,3 mL de solução aquosa com concentração 1,0.10-3
mol.L-1
de cocaína padrão, a partir de 1,0 mL de padrão comercial Cerilliant® de concentração
1mg/mL, em acetonitrila. Para tanto, a solução de padrão comercial foi pipetada na totalidade
e diluída em água destilada até o volume final de 3,3 mL, obtendo-se, desta forma, uma
solução padrão de concentração 1,0.10-3
mol.L-1
, conforme desejado.
3.3.2.b – Solução de Cocaína (purificada)
Inicialmente foram preparados, em um balão volumétrico, 10,0 mL de solução aquosa
acidificada, de cocaína purificada, com concentração 1,0.10-3
mol.L-1
. Para o preparo foram
pesados em uma balança analítica 3,034 mg de cocaína purificada (que se encontrava na
forma de pó branco). Após pesada, essa quantidade foi transferida, na totalidade, a um balão
39
volumétrico de capacidade 10,0 mL aferido com água destilada, acidificada, sendo
homogeneizado regularmente durante a dissolução da droga.
3.3.2.c – Solução de Cafeína (padrão)
Foram preparados, em balão volumétrico, 10,0 mL de solução aquosa de cafeína
padrão, com concentração 1,0.10-3
mol.L-1
. Inicialmente foram pesados, em uma balança
analítica, 1,951 mg de cafeína padrão comercial Merck® (que se encontra na forma de pó
branco) e, posteriormente, transferida quantitativamente a um balão volumétrico de
capacidade igual a 10,0 mL. A este balão foi adicionado água destilada, acidificada, até que
fosse completado o seu volume total, de forma lenta, e a solução sendo homogeneizada
durante o procedimento.
3.3.2.d – Solução de Teobromina (padrão)
Em um balão volumétrico, foram preparados 10,0 mL de solução aquosa acidificada
de teobromina padrão, com concentração 1,0.10-3
mol.L-1
. Para tanto, foram pesados, em uma
balança analítica, 1,802 mg de padrão de teobromina Merck® (que se encontra na forma de
um pó branco) e, posteriormente, transferido totalmente a uma balão volumétrico de
capacidade total igual a 10,0 mL. Por fim, a este balão foi adicionado de forma lenta e gradual
água destilada acidificada, até que o balão ficasse completo, sendo a solução homogeneizada
durante o processo.
3.3.2.e – Solução de Lidocaína (padrão)
O preparo da solução de lidocaína também seguiu o mesmo rigor e protocolo referente
às demais soluções preparadas para o estudo. Tão logo, foram preparados 10,0 mL de solução
aquosa acidificada, de lidocaína padrão, com concentração 1,0.10-3
mol.L-1
. Para o preparo
desta solução, inicialmente foram pesados 2,344 mg de lidocaína padrão Sigma Aldrich® (que
se encontra na forma de grânulos translúcidos) e estes foram, posteriormente, transferidos
quantitativamente para um balão volumétrico de volume total igual a 10,0 mL. Por fim, foi
40
adicionada água destilada acidificada de forma lenta, até que o balão fosse aferido, e durante
todo o processo de preparo a solução foi homogeneizada.
No tocante ao preparo das soluções empregadas nas análises, para a pesagem das
amostras foi utilizada uma balança analítica (com quatro casas de precisão) e todas as
vidrarias volumétricas foram devidamente calibradas.
3.4 – Os modificadores químicos
A aplicação de modificador químico sobre os eletrodos precisa proceder de forma
mais reprodutível possível, para que ocorra concordância entre as respostas observadas, pois a
aplicação do modificador no cristal pode afetar de forma direta e significativa a sensibilidade
da análise, bem como a estabilidade e o tempo de vida do detector.
As substâncias utilizadas como modificadores químicos são quimicamente conhecidas
como cucurbiturilas e foram gentilmente cedidas pelo professor doutor Grégoire Jean-
François Demets, docente desta faculdade. Todas as amostras de cucurbiturilas encontravam-
se na forma de um pó branco, de fina granulação.
Assim, a modificação do eletrodo foi feita pela deposição de uma camada fina de um
dos modificadores, suspensa em acetonitrila. Após a deposição o eletrodo secou por 5min a
90°, sem prejudicar a estrutura da cucurbiturila. Por cima do modificador foi depositada uma
camada de náfion (figura 3.6), 1:3 em metanol, para proporcionar melhor estabilidade ao
filme.
Figura 3.6 – Estrutura química do Náfion.
A figura 3.7 mostra a estrutura das cucurbiturilas utilizadas como modificadores
químicos tanto para os estudos com o sensor piezelétrico quanto na modificação da superfície
41
do eletrodo de trabalho, na voltametria cíclica. Nota-se que foi usada uma sequência de três
cucurbiturilas, buscando compreender se as diferenças estruturais gerariam mudanças na
sensibilidade das análises.
Figura 3.7 – Estruturas químicas das cucurbiturilas que serviram de modificadores químicos nos estudos
piezelétricos e voltamétricos (visão lateral e superior).
42
4. Resultados e Discussão
4.1 – A Análise de Variação de Frequência por Microbalança de Cristal de Quartzo
Os estudos envolvendo a microbalança de cristal de quartzo tiveram como principal
foco a investigação da interação entre a droga e/ou os interferentes analisados, em fase
gasosa, com os modificadores químicos depositados sobre os eletrodos do sensor piezelétrico.
Uma vez detectado algum tipo de interação, caberia ainda buscar entender a natureza
física e/ou química da mesma e, se se tratava de uma interação ou uma reação química sofrida
nos sítios de atividades superficiais dos modificadores químicos.
As respostas diretas que os estudos piezelétricos fornecem são as variações de
frequência operacionais de trabalho (∆F), caso ocorra alguma interação ou reação química que
deposite ou retire certa quantidade de massa no ou do modificador químico, conforme a
equação de Sauerbrey, apresentada no item 1.6.2. Pode-se também conhecer mais acerca da
reversibilidade do sistema modificador/droga ou interferente, de acordo com os sinais gerados
pela própria variação de frequência.
Foram realizados testes envolvendo os eletrodos do cristal piezelétrico sem a presença
de modificadores, ou seja, puramente o eletrodo de ouro, no entanto, nenhuma variação de
frequência, ou variação de massa aparente, foi determinada.
Ainda, deve-se frisar que em todos os estudos realizados nesta etapa do trabalho foi
utilizado um fluxo de gás nitrogênio constante e de 100 mL/min.
4.1.1 – Eletrodo de Ouro sem modificador químico
Todos os cristais piezelétricos empregados no trabalho possuíam um eletrodo de ouro
em formato circular de diâmetro igual a 6,0 milímetros.
A fim de se verificar a ocorrência de algum fenômeno físico como, por exemplo,
adsorção, entre as moléculas de cocaína ou então moléculas de algum dos seus interferentes
(cafeína, teobromina ou lidocaína), os estudos piezelétricos iniciais foram realizados com o
eletrodo de ouro na ausência de modificadores químicos.
43
Constatou-se, após vários processos, que durante a análise não ocorria mudança na
variação de frequência de oscilação apresentada pelo sensor. Logo, não houve nenhuma
alteração de massa perceptível na superfície do cristal, como ilustra a figura 4.1, tornando
razoável inferir que não há nenhum fenômeno físico de adsorção sobre a superfície do
eletrodo de ouro, sem modificador químico.
Figura 4.1 – Ilustração, fora de escala, da não ocorrência de processos de interação entre a cocaína, em fase
gasosa, com o eletrodo de ouro presente no cristal piezelétrico.
4.1.2. – Coating de Cucurbit[5]urila (CB[5])
Os estudos piezelétricos envolvendo o recobrimento dos eletrodos com o modificador
CB[5] não geraram resultados que pudessem determinar a variação de frequência do sensor e,
desta forma, podemos entender que:
i) Não ocorreu nenhuma interação ou reação química entre o modificador CB[5] e a
cocaína purificada ou presente em amostras com teores de impurezas e, tampouco,
entre o mesmo modificador e os interferentes estudos: cafeína, teobromina e lidocaína.
44
ii) No caso de interação ou reação, não houve nenhum depósito ou retirada de massa que
pudesse gerar variação na frequência operacional, de forma que nenhum sinal foi
observado durante a análise.
4.1.3 – Coating de Cucurbit[6]urila (CB[6])
Os estudos em fase gasosa que tiveram o CB[6] como modificador químico do sensor
piezelétrico geraram muitos resultados frutíferos e interessantes, que estão elencados abaixo.
Desta forma, os resultados que levaram a efetiva variação da frequência operacional e,
por consequência, à variação na massa total sobre o sensor piezelétrico, serão discutidos
separadamente entre a cocaína purificada, na amostra contendo impurezas e em cada um dos
interferentes estudados.
4.1.3.a – Cocaína Purificada (padrão)
A cocaína utilizada como forma padrão para os estudos piezelétricos foi a cocaína
purificada pelo próprio autor deste estudo e, posteriormente, verificada sua pureza frente a
espectroscopia Raman, conforme já descrito.
Os estudos em fase gasosa da cocaína na forma purificada (padrão) foram realizados
primeiramente, a fim de se conhecer a possibilidade de interação ou reação química entre a
cocaína, a principal droga do estudo, e o modificador químico CB[6].
Uma vez determinada uma variação de frequência, estudos em triplicada foram
executados, com o propósito de se entender a reprodutibilidade do sistema e sua possível
reversibilidade.
A figura 4.2 mostra os resultados, em triplicata, entre o sistema formado pela cocaína
em fase gasosa e o modificador químico CB[6], recobrindo o eletrodo do sensor piezelétrico.
45
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
9,80000
9,80002
9,80004
9,80006
9,80008
9,80010
9,80012
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
9,80000
9,80002
9,80004
9,80006
9,80008
9,80010
9,80012
Fre
qu
ênci
a /
MH
z
Tempo / min
Cocaína Padrão
Figura 4.2 – Resposta da frequência versus tempo para uma análise de cocaína padrão frente ao modificador
químico cucurbit[6]urila para uma triplicata de experimentos.
As análises de cocaína padrão apresentam uma variação de frequência (∆F), na ordem
de 20 Hz. O ∆F manteve-se constante após a realização de experimentos, em triplicata.
Nota-se também que, a cada ciclo experimental, ocorre um aumento da frequência do
patamar de saturação dos sítios de interação, representando um sistema com semi-
reversibilidade, havendo consecutivas perdas de massa, no sensor piezelétrico.
Pode-se determinar, portanto, que a cada ciclo ocorre não apenas a perda de massa de
cocaína padrão adsorvida sobre a superfície do modificador, mas também, porções do mesmo,
uma vez que, ao se atingir um novo patamar de saturação, este aparece com uma frequência
maior que a do início do processo anterior.
A figura 4.3 ilustra o modus operandi em que ocorrem as possíveis interações entre a
cocaína e a CB[6].
O
O
O
O
N
46
Figura 4.3 – Ilustração, fora de escala, dos possíveis processos de interação entre a cocaína, em fase gasosa, e o
modificador químico CB[6], adsorvido no eletrodo do cristal piezelétrico.
O fator mais interessante a ser notado é que, mesmo após uma sequência em triplicata
de experimentos, a variação de frequência permanece constante e em torno de 20 Hz, o que
permite afirmar que a quantidade de massa de cocaína padrão adsorvida também é sempre
constante a cada ciclo de experimento.
Ainda, por se tratar de uma variação de frequência constante e igual a apenas 20Hz, a
quantidade de massa adsorvida é muito pequena, podendo ser seguramente determinada pela
equação de Sauerbrey.
4.1.3.b. – Cocaína presente em amostra impura
Foram realizados experimentos utilizando-se cocaína em amostras impuras,
apreendida pelas forças policiais e que seria prontamente utilizada por seres humanos.
Objetivando estabelecer correlações com o padrão de cocaína, todos os parâmetros
utilizados para a execução deste último foram repetidos para a amostra contendo impurezas,
onde a mesma está presente e, os dados relativos à variação de frequência versus tempo de
análise, para uma triplicata de experimentos, estão mostrados na figura 4.4.
47
0 2 4 6 8 10 12 14
9,99685
9,99686
9,99687
9,99688
9,99689
9,99690
9,99691
0 2 4 6 8 10 12 14
9,99685
9,99686
9,99687
9,99688
9,99689
9,99690
9,99691
Fre
quên
cia
/ M
Hz
Tempo / min
Cocaína Impura
Figura 4.4 – Resposta da frequência versus tempo para uma análise de cocaína em amostras contendo frente ao
modificador químico cucurbit[6]urila para uma triplicata de experimentos.
Conforme pode-se notar, as análises de cocaína presente em amostras impuras e do
padrão apresentaram a mesma variação de frequência (∆F), sendo esta da ordem de 20 Hz e o
∆F manteve-se constante após a realização de uma triplicata de experimentos.
Um fato interessante que deve ser destacado é que o modificador CB[6] mostra o
mesmo ∆F para as duas formas analisadas de cocaína, o que pode levar a crer que este
interage somente com as moléculas de cocaína em fase gasosa, atuando como uma espécie de
modificador específico para a mesma. Logo, o processo de interação entre a cocaína na
amostra contendo impureza e o modificador deve ocorrer de maneira análoga à ilustrada na
figura 4.3.
A obtenção de um “novo” patamar de saturação de sítios de atividade em frequências
cada vez maiores sugere, mais uma vez, tratar-se de um sistema com semi-reversibilidade e,
ainda, que ao se passar o gás de arraste de nitrogênio puro além da dessorção de moléculas de
cocaína ocorre a perda de moléculas do modificador químico, CB[6].
O
O
O
O
N
48
Ainda, por se tratar de uma variação de frequência de apenas 20Hz, a quantidade
relativa em massa de cocaína adsorvida é muito pequena, tornando a análise muito sensível
para a mesma, conforme ilustra a tabela 4.2..
4.1.3.c. – Cafeína
Por se tratar de um interferente que aparece em quantidades relativamente pequenas
em adulterações corriqueiras de cocaína, mas, levando-se em consideração a sensibilidade da
análise, torna-se importante e necessário o estudo em fase gasosa da cafeína, a fim de se
estudar se a mesma oferece potenciais riscos de falsos positivos, em análises de cocaína, pelo
método empregado.
Desta forma, a figura 4.5 traz o resultado da interação do CB[6], como modificador
químico presente do sensor piezelétrico, com a cafeína padrão, na forma gasosa, por meio da
variação da frequência versus tempo, empregados no estudo.
0 2 4 6 8 10 12 14 16
9,97004
9,97005
9,97006
9,97007
9,97008
9,97009
0 2 4 6 8 10 12 14 16
9,97004
9,97005
9,97006
9,97007
9,97008
9,97009
Fre
qu
ênci
a /
MH
z
Tempo / min
Cafeína
Figura 4.5 – Resposta da frequência versus tempo para uma análise de cafeína frente ao modificador químico
cucurbit[6]urila para uma triplicata de experimentos.
N
NN
N
O
O
CH3
CH3
CH3
49
Apesar do perfil de sinal apresentado pela cafeína, aparentemente, assemelhar-se
bastante com o apresentado pela cocaína padrão e na amostra impura, a análise mais detalhada
das variações de frequência (∆F) apresentadas para uma triplicata de experimentos, para a
cafeína, mostra-se constante e igual a 11 Hz, diferindo consideravelmente daquela
apresentada pela cocaína, independente de sua pureza.
Analisando-se mais uma vez o perfil analítico apresentado pela interação entre a
CB[6] e a cafeína, em fase gasosa, pode-se entender que se trata de uma interação de semi-
reversibilidade, assim como ocorreu anteriormente entre a cocaína e o mesmo modificador
químico, onde a cada ciclo, além da dessorção do analito estudado em questão, também
ocorre a perda de massa proveniente do modificador químico. A figura 4.6 ilustra o possível
processo de interação entre as moléculas de cafeína com o modificador químico CB[6].
Figura 4.6 – Ilustração, fora de escala, dos possíveis processos de interação entre a cafeína, em fase gasosa, e o
modificador químico CB[6], adsorvido no eletrodo do cristal piezelétrico.
4.1.3.d – Teobromina
A teobromina, de forma análoga à cafeína, é encontrada em pequenas frações em se
tratando de amostras de cocaína apreendidas. No entanto, pelos mesmos motivos apresentados
para a cafeína, justifica-se a análise de teobromina, haja vista a sensibilidade da técnica em
questão.
50
Assim, a figura 4.7 mostra a resposta da variação de frequência versus tempo
determinada no estudo da interação entre o modificador químico CB[6] presente depositado
no eletrodo do sensor piezelétrico e a teobromina, em fase gasosa.
0 2 4 6 8 10 12 14 16
9,982210
9,982215
9,982220
9,982225
9,982230
9,982235
9,982240
9,982245
9,982250
0 2 4 6 8 10 12 14 16
9,982210
9,982215
9,982220
9,982225
9,982230
9,982235
9,982240
9,982245
9,982250
Fre
quên
cia
/ M
Hz
Tempo / min
Teobromina
Figura 4.7 – Resposta da frequência versus tempo para uma análise de teobromina frente ao modificador químico
cucurbit[6]urila para uma triplicata de experimentos.
O perfil analítico que representa a resposta da interação entre a teobromina e o
modificador químico CB[6] mostra-se, mais uma vez, muito semelhante àqueles apresentados
para a cocaína, independente de sua pureza e para a cafeína. No entanto, o valor apresentado
na variação de frequência (∆F) para a teobromina foi de 12 Hz, mostrando-se constante para
uma triplicata de experimentos.
Notadamente, as análises de teobromina e cafeína apresentaram um valor de ∆F muito
próximos entre si: 12Hz e 11Hz, respectivamente, conforme apresentado pelas figuras 4.7 e
4.5 (que mostra a resposta da frequência versus tempo para a cafeína frente ao CB[6]). Uma
explicação reside na semelhança entre suas estruturas químicas, diferindo-as apenas por um
N
NHN
N
O
O
CH3
CH3
51
grupo metila. Logo, o perfil de resposta da cafeína e teobromina frente a um mesmo
modificador químico dá-se de forma que não foi possível diferenciá-las entre si.
Observando-se a figura 4.8, onde está ilustrado um possível processo de interação
entre a teobromina com o modificador químico CB[6], pode-se notar que há semelhanças
estruturais entre as moléculas de teobromina em relação à cafeína, o que nos leva a crer que
os sítios de interação entre essas duas substâncias com o modificador químico deva ocorrer
em zonas semelhantes.
Figura 4.8 – Ilustração, fora de escala, dos possíveis processos de interação entre a teobromina, em fase gasosa, e
o modificador químico CB[6], adsorvido no eletrodo do cristal piezelétrico.
No entanto, a impossibilidade de distinção entre a cafeína e a teobromina pela
metodologia descrita não interfere tampouco invalida a detecção de cocaína pelo método,
muito pelo contrário, reafirma o que foi descrito anteriormente, sendo o CB[6] um possível
modificador químico para a cocaína, independente do grau de pureza apresentado pela
amostra da mesma.
4.1.3.e – Lidocaína
As análises realizadas para a lidocaína não apresentaram valores de variação de
frequência ressonante (∆F) significativos, portanto, não apresentando resposta pelo método
52
descrito e não fornecendo nenhuma possibilidade de interferência em possíveis análises de
cocaína pelo mesmo método.
Acredita-se que as moléculas de lidocaína não interagem com o modificador CB[6] de
forma efetiva ou, ainda, que nem chegam a interagir. Sendo assim, a figura 4.9 ilustra o fato
de as moléculas de lidocaína sequer mostrarem sinais de interação com o modificador
químico estudado.
Figura 4.9 – Ilustração, fora de escala, da não ocorrência de processos de interação entre a lidocaína, em fase
gasosa, com o modificador químico CB[6], adsorvido no eletrodo do cristal piezelétrico.
Neste momento, pode-se ainda destacar que todos os processos onde possivelmente
não ocorram interações devem apresentar-se de forma semelhante ao ocorrido para a
lidocaína, para o modificador CB[6], ou seja, os processos que não apontam variação na
frequência de oscilação podem ser entendidos como processos onde não ocorram interações
suficientemente efetivas entre o analito e o modificador ou mesmo que não ocorram
interações de nenhuma natureza, que possam ser detectadas pelo método.
4.1.4 – Coating de Cucurbit[7]urila (CB[7])
Analogamente ao procedimento experimental adotado para as análises utilizando-se
CB[6] como modificador químico nos eletrodos do cristal piezelétrico, foram repetidas as
análises utilizando-se o modificador químico CB[7], sob as mesmas condições.
53
Desta forma, conforme o esperado, os dados obtidos relativos ao emprego do
modificador químico CB[7] diferem bastante dos dados apresentados anteriormente, de forma
que serão discutidos, separadamente, conforme segue o texto.
4.1.4.a – Cocaína Purificada (padrão)
A cocaína padrão em fase gasosa não apresentou sinal de interação que pudesse ser
detectado por variação de frequência (∆F) pelo método experimental trabalhado. No entanto,
pode-se inferir que não ocorreram interações de natureza física ou química que ocasionassem
mudança na massa sobre o sensor piezelétrico.
4.1.4.b – Cocaína em amostras impuras
Distintamente do ocorrido para a cocaína padrão, uma forte interação foi determinada
experimentalmente entre a cocaína presente em amostras impuras, em fase gasosa, e o
modificador químico CB[7], depositado sobre a superfície do eletrodo do sensor piezelétrico.
A figura 4.10 mostra a resposta na forma de variação de frequência versus tempo ente
a interação da amostra de cocaína presente em amostras impuras com o modificador CB[7].
54
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
9,99450
9,99455
9,99460
9,99465
9,99470
9,99475
9,99480
9,99485
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
9,99450
9,99455
9,99460
9,99465
9,99470
9,99475
9,99480
9,99485
Fre
quên
cia
/ M
Hz
Tempo / min
Cocaína Impura
Figura 4.10 – Resposta da frequência versus tempo para uma análise de cocaína presente em amostras impuras
frente ao modificador químico cucurbit[7]urila para uma triplicata de experimentos.
O valor da variação de frequência (∆F) manteve-se constante e bem próximo do valor
de 110 Hz, denotando reprodutibilidade e repetitividade, por uma triplicata de experimentos.
Tomando-se como base que o padrão de cocaína não apresentou sinal de ∆F frente ao
CB[7] mas, a amostra de cocaína em amostras com impurezas apresentou um valor de ∆F
bem pronunciado, na ordem de 110 Hz frente ao mesmo modificador químico, os dados
apontam para o fato que tal modificador químico não interage com as moléculas de cocaína,
atuando possivelmente com seus interferentes ou com moléculas de água.
Ainda, o perfil analítico mostrado pela interação da amostra de cocaína presente nas
amostras impuras com o CB[7] mostra tratar-se novamente de um sistema semi-reversível,
ocorrendo perdas totais de massa da amostra em análise, de modificador e de moléculas de
água, caso estejam adsorvidas.
O
O
O
O
N
55
4.1.4.c – Cafeína
Verificou-se experimentalmente a não ocorrência de interação ou reação química que
pudesse efetivamente ser detectada ou identificada pelo método adotado. Desta forma, pode-
se afirmar que a cafeína em fase gasosa não apresenta interações que se mostram relevantes
frente ao modificador CB[7] que, por ventura, pudessem oferecer algum risco na análise de
cocaína por tal metodologia.
4.1.4.d – Teobromina
De forma análoga à cafeína, as moléculas de teobromina não apresentaram interações
ou reações químicas efetivas que pudessem provocar variações de massa na superfície do
sensor piezelétrico quimicamente modificado com CB[7].
O fato de tanto a cafeína quanto a teobromina não apresentarem interação com o
mesmo modificador pode ser entendido pela semelhança entre suas estruturas químicas,
conforme já explicado para o modificador CB[6].
4.1.4.e – Lidocaína
A figura 4.11 apresenta os dados experimentais obtidos para a lidocaína frente ao
modificador químico CB[7]. O valor da variação de frequência para a interação entre a
lidocaína e o modificador químico em análise apresentou-se constante próximo de 31 Hz, para
uma triplicata de experimentos, possuindo bons parâmetros de reprodutibilidade e
repetitividade.
56
0 2 4 6 8 10 12 14
9,99248
9,99249
9,99250
9,99251
9,99252
9,99253
9,99254
9,99255
9,99256
9,99257
9,99258
0 2 4 6 8 10 12 14
9,99248
9,99249
9,99250
9,99251
9,99252
9,99253
9,99254
9,99255
9,99256
9,99257
9,99258
Fre
quên
cia
/ M
Hz
Tempo / min
Lidocaína
Figura 4.11 – Resposta da frequência versus tempo para uma análise de lidocaína frente ao modificador químico
cucurbit[7]urila para uma triplicata de experimentos.
Assim sendo, o valor de variação de frequência para a lidocaína é menor e distinto
daquele apresentado pela amostra impura de cocaína, sugerindo que parte do valor de
variação de frequência apresentado por esta última pode ser proveniente da interação de
alguma parcela de lidocaína que, possivelmente, exista dentre as impurezas.
A tabela 4.1 agrupa os valores experimentais de variação de frequência, em hertz (Hz),
coletados para a cocaína padrão e amostra com impurezas e para cada um de seus
interferentes estudados, discutidos no texto acima, frente a cada modificador químico
utilizado nos estudos piezelétricos, incluindo o eletrodo do cristal piezelétrico sem
modificador.
CH3
CH3
NH
O
N
CH3
CH3
57
Tabela 4.1 – Resultados das variações de frequência, em hertz (Hz), dos principais interferentes da cocaína frente
aos modificadores químicos.
Modificador Químico Variação da Frequência (∆F) / Hz
Padrão Cocaína Cocaína (Impura) Cafeína Teobromina Lidocaína
Au (sem modificador)
CB[5]
CB[6]
ausente
ausente
20
ausente
ausente
20
ausente
ausente
11
ausente
ausente
12
ausente
ausente
ausente
CB[7] ausente 110 ausente ausente 31
Ainda, relacionando-se os valores de variação de massa (∆m) de cocaína e de cada
analito estudado frente aos modificadores químicos CB[6] e CB[7], que mostraram resultados,
de acordo com o apresentado pela tabela 4.1 acima, construiu-se a tabela 4.2, relacionando os
valores de variação de massa frente aos modificadores químicos, conforme mostrado. A
equação de Sauerbrey foi devidamente empregada para o cálculo de ∆m.
Tabela 4.2 – Resultados das variações de massa, em gramas (g), dos principais interferentes da cocaína frente
aos modificadores químicos.
Modificador Químico Variação da massa (∆m) / g
Padrão Cocaína Cocaína (Impura) Cafeína Teobromina Lidocaína
CB[6] 5,120.10-8
5,015.10-8
1,361.10-8
1,481.10-8
ausente
CB[7] ausente 2,707.10-7
ausente ausente 7,633.10-8
Deve-se salientar que apesar do gás de arraste utilizado ser o nitrogênio, pequenas
contribuições de massa referentes à água, presentes na forma de umidade, podem constar nos
valores calculados obtidos para a massa total, que possivelmente adsorveram ao modificador
químico.
Outro ponto importante a citar é referente à relação existente entre a variação de massa
e, por conseguinte, variação de frequência, e os valores de massas molares. Considerando-se a
mesma variação para a massa (∆m) para duas substâncias distintas, e ainda levando-se em
conta que apenas moléculas dessas substâncias interajam com o modificador químico, aquela
58
que apresentar menor massa molar terá, consequentemente, mais moléculas adsorvidas nos
sítios ativos do modificador químico.
4.2. Análises Voltamétricas
Todas as análises eletroanalíticas realizadas nesta etapa do trabalho deram-se na
modalidade de voltametria cíclica, a fim de se verificar os potenciais e os mecanismos de
reações de oxidação e redução que possivelmente ocorrem nas espécies eletroativas
estudadas.
Todos os parâmetros experimentais referentes aos estudos voltamétricos empregados
nesta etapa do trabalho são descritos abaixo e foram executados para eletrodos com e sem
modificadores químicos, procurando constatar se a presença destes últimos, devidamente
depositado nos eletrodos, influencia na resposta analítica ou mesmo suprime o sinal de algum
interferente que potencialmente possa afetar na análise de cocaína.
Os volumes de soluções empregados, no interior da célula, no estudo foram constantes
e iguais a 10,0 mL.
4.2.1 – Eletrodo de Platina com ausência de modificador químico
O eletrodo de trabalho empregado para os estudos voltamétricos é comercial, da marca
Metrohm®, de formato circular apresentando diâmetro de 3,0 milímetros.
Determinado o eletrodo de trabalho, foi realizada uma varredura completa da solução
aquosa contendo o eletrólito suporte, conforme se observa na figura 4.2, certificando-se que
nenhuma reação redox concorrente ocorresse no intervalo de potencial de estudo. Para um
primeiro teste, a janela de potencial para a varredura foi considerada na faixa de -0,5V até
+1,0V.
59
-0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
2,0x10-5
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
1ª varredura
2ª varredura
Figura 4.12 – Varredura da solução de eletrólito suporte de concentração 0,1 mol.L-1
KCl.
Posteriormente, àquela solução contendo eletrólito suporte, foi adicionada uma
quantidade de solução de cocaína padrão, de modo que a concentração final dentro da célula
fosse igual a 1,0.10-5
mol.L-1
, a fim de se verificar se algum sinal de corrente seria obtido, a
partir da solução de menor concentração de droga, conforme pode ser visto na figura 4.13,
pois, desta forma, o levantamento dos parâmetros experimentais poderiam proceder.
60
-0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
1ª varredura
2ª varredura
3ª varredura
Figura 4.13 – Varredura preliminar utilizando-se solução aquosa de cocaína padrão 1,0.10-5
mol.L-1
,
empregando-se eletrodo de platina como eletrodo de trabalho e 0,1 mol.L-1
de cloreto de
potássio como eletrólito suporte.
Desta forma, preliminarmente, nota-se que nas condições de trabalho empregadas a
cocaína não apresenta pico de corrente anódica e, portanto, não apresenta zonas de oxidação
na molécula. Inversamente, nota-se o aparecimento de um pronunciado pico de corrente
catódico, indicando que a cocaína é uma espécie eletroativa que responde ao estímulo de
redução próximo ao potencial de -0,2 volts. No entanto, trata-se apenas de um estudo prévio e
a cocaína voltará a ser estudada posteriormente, procurando obterem-se mais detalhes.
Posteriormente, foi adicionada solução de cocaína padrão a solução contendo eletrólito
suporte, até que a concentração final dentro da célula fosse igual a 1,0.10-5
mol.L-1
, a fim de
se determinar em quais condições de tempo de concentração, intervalo de varredura e
velocidade de varredura, seriam obtidos melhores resultados.
Os dados levantados na figura 4.14 ilustram o estudo realizado para a determinação da
velocidade de varredura que foi empregada nos estudos deste trabalho.
61
0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35
2,0x10-6
3,0x10-6
4,0x10-6
5,0x10-6
6,0x10-6
7,0x10-6 Cocaína padrão
Ipc
/ A
v / V.s-1
Figura 4.14 – Estudo da velocidade de varredura utilizando-se solução de cocaína padrão 1,0.10-5
mol.L-1
,
empregando-se eletrodo de platina como eletrodo de trabalho.
Os dados experimentais utilizados para a construção dos pontos que seguem na figura
anterior estão elencados na tabela 4.3.
Tabela 4.3 – Resultados experimentais da corrente de pico catódica (Ipc), em ampères, versus velocidade de
varredura (v), em volts por segundo.
Ipc x10-6
/ A 2,184 3,377 4,356 5,725 6,690
v / V.s-1
0,100 0,170 0,220 0,280 0,320
A figura 4.15. traz o estudo realizado para a determinação do tempo de concentração,
para a solução de cocaína padrão, de igual concentração à empregada para os estudos de
velocidade de varredura.
62
-0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
[Cocaína padrão] = 1,0.10-5 mol.L
-1
0s
5s
10s
15s
20s
25s
30s
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Figura 4.15 – Estudo do tempo de concentração, utilizando-se solução de cocaína padrão 1,0.10-5
mol.L-1
,
empregando-se eletrodo de platina como eletrodo de trabalho.
Pode-se notar claramente que, conforme o tempo de concentração aumenta,
gradativamente, de 0 segundo para 30 segundos, acompanha uma diminuição na intensidade
do pico de corrente catódico. Para tanto, a fim de se otimizar e melhorar as respostas das
correntes de pico para a cocaína, decidiu-se por bem não utilizar tempo de concentração para
os estudos.
Deste modo, definiu-se que para as análises que seguem, com eletrodo de platina sem
modificador químico, que a velocidade de varredura seria igual a 0,1Vs-1
, o tempo de
concentração influenciaria de forma razoável o resultado das análises, mas nada que
comprometa e, ainda, que e os estudos voltamétricos seriam realizados numa janela de
potencial compreendida entre –0,5V e +1,0V.
4.2.1.a – Cocaína
A cocaína purificada apresenta alto teor de pureza, conforme mostrado na dissertação
de mestrado de Menezes (2010) [20], comprovando por espectroscopia Raman (realizado nas
63
dependências do Laboratório de Espectroscopia Molecular – LEM – IQ/USP-SP). Em
concordância com a figura 4.16, a cocaína purificada prestar-se-á, então, como referência para
os estudos envolvendo a droga, de forma que tanto o padrão comercial de cocaína
(Cerilliant®) quanto a cocaína purificada apresentaram-se como espécies eletroativas com
respostas semelhantes, ambas em concentração igual a 1,0.10-5
mol.L-1
.
-0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Cocaína padrão (comercial)
Cocaína purificada
Figura 4.16 – Estudo comparativo utilizando-se solução de cocaína padrão e solução de cocaína purificada,
ambas apresentando concentração igual a 1,0.10-5
mol.L-1
, empregando-se eletrodo de platina
como eletrodo de trabalho.
Assim, por mais uma vez, o teor de pureza da cocaína (que submetida a processo de
purificação por este autor) é comprovado, desta vez por voltametria cíclica utilizando-se
eletrodo de platina, operando como eletrodo de trabalho. Logo, os estudos posteriores
realizados para a droga utilizarão solução preparada a partir da amostra purificada, por
processo já descrito no corpo do texto apresentado neste trabalho.
A seguir, foi realizado um estudo de adição de solução padrão objetivando-se verificar
a resposta eletroquímica de corrente de pico em relação à concentração de cocaína na solução
64
presente na célula. São apresentadas na figura 4.17 as correntes de pico coletadas para a
droga.
-0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6
-1,5x10-5
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
2,0x10-5
[Cocaína] / 10-5mol.L
-1
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Figura 4.17 – Voltamogramas obtidos a partir de solução de cocaína, em várias concentrações, empregando-se
eletrodo de platina como eletrodo de trabalho.
Através da análise direta dos voltamogramas apresentados para a cocaína (Figura
4.17), pode-se observar que ocorre um ligeiro deslocamento dos potenciais de pico catódicos
para regiões mais positivas conforme a concentração da droga presente na célula
eletroquímica aumenta. No entanto, a partir dos dados experimentais pode-se afirmar que o
potencial de redução para a cocaína ocorre numa estreita faixa entre -0,11V a -0,15V.
Tão logo, a figura 4.18 mostra os valores de corrente de pico relacionados a cada
concentração de cocaína estudada.
O
O
O
O
N
65
0,0 2,0x10-5
4,0x10-5
6,0x10-5
8,0x10-5
1,0x10-4
1,1x10-5
1,2x10-5
1,3x10-5
1,4x10-5
1,5x10-5
1,6x10-5
1,7x10-5
Ipc
/ A
[Cocaína] / mol.L-1
Cocaína
Figura 4.18 – Correspondência entre os valores de corrente de pico versus concentração para a cocaína,
empregando-se eletrodo de platina como eletrodo de trabalho.
Através da regressão linear dos pontos correspondentes às correntes de pico em
relação à concentração da droga, é possível determinar a equação de corrente de pico por
meio da equação da reta obtida pela regressão linear, como segue:
y = A + Bx
y = 1,063.10-5
+ 5,934.10-2
x
Ipc = 1,063.10-5
A+ 5,934.10-2
[x] A.mol-1
.L
onde:
[x] refere-se à concentração de cocaína, expressa em mol.L-1
.
Ainda, por meio do valor do desvio-padrão também determinado pela regressão linear
dos pontos elencados na figura 4.18 foi possível determinar os respectivos limites de detecção
66
(LD) e limites de quantificação (LQ), para a cocaína. Tais limites foram determinados da
maneira como segue:
Limite de Detecção (LD) = (3 . SD) / B = (3 . 8,186.10-8
) / 5,934.10-2
= 4,14.10-06
mol.L-1
.
Limite de Quantificação (LQ) = (10 . SD) / B = (10 . 8,186x10-8
) / 5,934.10-2
= 1,38.10-5
mol.L-1
.
O limite de detecção (limit of detection) pode receber várias denominações em
trabalhos relatados na literatura, tais como limite de determinação (limit of determination),
concentração mínima líquida detectável (minimum detectable net concentration) ou mesmo
limite de decisão (limit of decision) [82]. Pode ser expresso como concentração ou
quantidade, derivado da menor medida que pode ser detectada com razoável certeza para um
determinado procedimento de análise [83].
Logo, o limite de detecção pode ser interpretado, em linhas gerais, como a verdadeira
concentração líquida, obtida com certo grau de probabilidade, que assegura que a
concentração de analito presente é, de fato, maior que na matriz branca (branco), ou ainda,
como a menor quantidade de analito presente que pode ser determinada ou detectada, com
confiabilidade, pelo método escolhido.
Já o limite de quantificação, também reportado na literatura como limite de notificação
(limit of reporting), pode ser interpretado como a menor concentração de um analito qualquer
a ser mensurada com precisão e exatidão, levando-se em consideração a metodologia adotada
no estudo [82]. Em termos práticos, pode ser entendido como a menor concentração de
analito, presente em uma amostra qualquer, que possui níveis aceitáveis de quantificação pelo
método adotado.
Experimentalmente os dados voltamétricos apontam para um clássico processo de
redução da cocaína, ocorrendo na superfície do eletrodo de trabalho, proposto na figura 4.19.
Desta forma, trata-se de um processo irreversível, pois uma oxidação efetiva não foi
observada nos voltamogramas e, desta forma, um possível mecanismo foi proposto para a
espécie eletroativa:
67
O
O
O
O
N
Eletrodo de trabalho
[H] / e-
cocaína
Eletrodo de trabalho
[H] / e-O
O
OH
O
N
O
O
O
OH
N
2-[hidróxi(metóxi)metil]-8-
metil-8-azabiciclo[3.2.1]oct-3-il benzoato
metil-3-[hidróxi(fenil)metóxi]-8-metil-
8-azabiciclo[3.2.1]octano-2-carboxilato
Figura 4.19 – Mecanismo simplificado proposto para a redução da cocaína
Em última análise, como segue a figura 4.20, outra possível proposta para a redução da
molécula de cocaína poderia ser entendido conforme segue.
O
O
O
O
N
Eletrodo de trabalho
[H] / e-
OH
O
O
N
O
OH
cocaína ecgonina ácido benzóico
+
Figura 4.20 – Esquema para a redução proposto para a molécula de cocaína, mostrando a cisão de ligação entre
carbono e oxigênio e formando ecgonina e ácido benzóico.
Através do esquema para a redução da figura anterior, nota-se a cisão de uma ligação
carbono – oxigênio na molécula de cocaína, resultando como produtos da reação ecgonina e
ácido benzóico. No entanto, a reação inversa não acontece, ou seja, não ocorre a efetiva
reação de formação de cocaína a partir de ecgonina e ácido benzóico (que poderia ser
entendida como um processo oxidativo), ou ainda, se ocorre, é ínfima. Logo, o pico de
potencial de redução aparece bem pronunciado e algum processo oxidativo pode ser
observado, no entanto, sem expressividade.
Por fim, trata-se de uma proposta para os mecanismos, uma vez que respondem aos
parâmetros experimentais coletados através da voltametria cíclica, corroborando ainda com o
fato de tratar-se de uma reação irreversível para as condições dadas de realização do estudo.
68
4.2.1.b – Cafeína
Análogo ao estudo realizado para a cocaína e, conforme apresentado na figura 4.21,
repetiu-se o mesmo procedimento de adição de solução padrão, no entanto, de cafeína. Os
valores de concentração variaram entre 1,0.10-5
mol.L-1
a 1,0.10-4
mol.L-1
, dentro da célula
eletroquímica.
-0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-1,5x10-5
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
[Cafeína] / 10-5mol.L
-1
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
Figura 4.21 – Voltamogramas obtidos a partir de solução de cafeína, em várias concentrações, empregando-se
eletrodo de platina como eletrodo de trabalho.
Observa-se que houve um aumento do valor da corrente de pico catódica conforme os
valores de concentração de cafeína também aumentavam. Logo, tais valores de corrente de
pico catódica versus concentração, para a cafeína, foram agrupados, conforme segue a figura
4.22.
N
NN
N
O
O
CH3
CH3
CH3
69
0,0 2,0x10-5
4,0x10-5
6,0x10-5
8,0x10-5
1,0x10-4
8,5x10-6
9,0x10-6
9,5x10-6
1,0x10-5
1,1x10-5
1,1x10-5
1,2x10-5
1,2x10-5
1,3x10-5
Ipc
/ A
[Cafeína] / mol.L-1
Cafeína
Figura 4.22 – Correspondência entre os valores de corrente de pico versus concentração para a cafeína,
empregando-se eletrodo de platina como eletrodo de trabalho.
Através da regressão linear dos pontos correspondentes às correntes de pico em
relação à concentração de cafeína, é possível determinar a equação de corrente de pico por
meio da equação da reta obtida pela regressão linear, como segue:
Ipc = 8,176.10-6
A + 4,140.10-2
[x] A.mol-1
.L
onde:
[x] refere-se à concentração de cafeína, expressa em mol.L-1
.
Por meio do valor do desvio-padrão também determinado pela regressão linear dos
pontos elencados na figura 4.22 tornou-se possível determinar os respectivos limites de
detecção (LD) e limites de quantificação (LQ), para a cafeína. Abaixo seguem os cálculos
para a determinação dos limites de detecção e quantificação.
70
LDPt = (3 . SD) / B = (3 . 9,724.10-8
) / 4,140.10-2
= 7,05.10-6
mol.L-1
.
LQPt = (10 . SD) / B = (10 . 9,724.10-8
) / 4,140.10-2
= 2,35.10-5
mol.L-1
.
A análise dos voltamogramas apresentados pelo padrão de cafeína permite prever que
suas moléculas sofrem redução, na superfície do eletrodo de platina, conforme mostram os
proeminentes sinais de corrente de picos catódicos (figura 4.21).
A figura 4.23 apresenta um esquema ilustrando alguns possíveis mecanismos de
atuação relativos ao processo de redução que as moléculas de cafeína poderiam sofrer no
eletrodo de trabalho.
N
NN
N
O
O
CH3
CH3
CH3
eletrodo de trabalho
N
NN
NH
O
O
CH3
CH3
CH3
1,3,7-trimetil-3,7,8,9-tetrahidro-1H-purina-2,6-dionaCafeína
eletrodo de trabalho
N
NN
N
O
O
CH3
CH3
CH3
1,3,7-trimetil-3,4,5,7-tetrahidro-1H-purina-2,6-diona
eletrodo de trabalho
N
NN
N
O
OH
CH3
CH3
CH3
2-hidroxi-1,3,7-trimetil-1,2,3,7-tetrahidro-6H-purina-6-ona
eletrodo de trabalho[H] / e-
N
NN
N
OH
O
CH3
CH3
CH3
6-hidroxi-1,3,7-trimetil-1,3,6,7-tetrahidro-2H-purina-2-ona
[H] / e-
[H] / e-
[H] / e-
Figura 4.23 – Esquema ilustrando algumas das possíveis estruturas geradas pela redução da molécula de cafeína.
71
As regiões destacadas na molécula de cafeína são aquelas que, possivelmente,
figuraram como as mais prováveis zonas para a redução, uma vez que, se o potencial de
redução para a cafeína apresenta-se muito próximo ao da cocaína e, nesta última as zonas de
possíveis reduções na molécula ocorrem nos oxigênios das carboxilas, na cafeína, de forma
análoga, provavelmente ocorrerá, o que justifica a proximidade dos potenciais de redução
para ambas as espécies.
Notadamente, conforme supracitado, a cafeína apresenta seus potenciais para a
ocorrência de picos catódicos muito próximos aos obtidos para a cocaína (entre –0,11V e –
0,15V para a cocaína, e -0,17V a -0,20V para a cafeína). No entanto, a cafeína possui uma
corrente de pico catódica muito fraca, em relação à cocaína e, sua concentração precisa ser, no
mínimo, 3 vezes maior que a da cocaína para que as os sinais de corrente de pico apresentem
a mesma magnitude.
A figura 4.24 mostra a correlação entre os sinais de corrente de pico catódicos para a
cafeína e a cocaína, ambas apresentando as mesmas concentrações de estudo, ilustrando o
supracitado.
0,0 2,0x10-5
4,0x10-5
6,0x10-5
8,0x10-5
1,0x10-4
8,0x10-6
9,0x10-6
1,0x10-5
1,1x10-5
1,2x10-5
1,3x10-5
1,4x10-5
1,5x10-5
1,6x10-5
1,7x10-5
Ipc
/ A
Concentração / mol.L-1
Cocaína
Cafeína
Figura 4.24 – Correlação entre as correntes de pico catódicas para a cocaína e cafeína, frente a um eletrodo de
platina como eletrodo de trabalho.
72
Posteriormente, foi realizado um estudo empregando-se os padrões de cafeína e
cocaína, em concentrações iguais, dentro da célula eletroquímica, conforme ilustra a figura
4.25. Nota-se, no entanto, que mesmo as soluções estando em iguais concentrações, os
voltamogramas se aproximam daqueles obtidos para a cocaína e as intensidades das correntes
de pico catódico são mais próximas, no entanto menores do que aquelas apresentadas pelo
padrão de cocaína, sob as mesmas condições de concentração.
-0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-1,6x10-5
-1,2x10-5
-8,0x10-6
-4,0x10-6
0,0
4,0x10-6
8,0x10-6
1,2x10-5
1,6x10-5
Branco
[Cocaína] = [Cafeína] / 10-5 mol.L
-1
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Figura 4.25 – Voltamogramas referentes às soluções equimolares de cocaína e cafeína, empregando-se eletrodo
de platina como eletrodo de trabalho.
Ainda, com o intuito de se comprovar que a presença de cafeína não interfere de forma
significativa na análise de cocaína, por voltametria cíclica, envolvendo as condições de
trabalho em questão, realizou-se um último estudo empregando-se os dois padrões,
conjuntamente, onde a concentração de cocaína permaneceu constante e igual a 5,0.10-5
mol.L-1
, variando-se as concentrações de padrão de cafeína, no interior da célula
eletroquímica. O resultado deste estudo é expresso na figura 4.26 onde encontram-se
ilustrados todos os voltamogramas.
O
O
O
O
N
N
NN
N
O
O
CH3
CH3
CH3
+
73
-0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-1,5x10-5
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
[Cocaína] / 10-5 mol.L
-1
5,0
[Cafeína] / 10-5 mol.L
-1
1,0
2,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Figura 4.26 – Voltamogramas referentes à mistura entre cocaína e cafeína, mantendo-se a concentração de
cocaína constante e variando-se as concentrações de cafeína, frente a um eletrodo de platina como
eletrodo de trabalho.
Por fim, a cocaína pode ser identificada na presença de cafeína, comparando a
intensidade dos sinais com a concentração das amostras, desde que a cafeína esteja em menor
quantidade, que é o caso da maioria da amostras de droga apreendidas. Ainda, analisando-se
visualmente os voltamogramas apresentados para a mistura formada entre cocaína e cafeína,
nota-se que estes assemelham-se àqueles obtidos para a cocaína, reforçando, mais uma vez, o
não comprometimento das análises de cocaína apresentando cafeína como interferente.
4.2.1.c – Teobromina
Os estudos para a teobromina procederam de forma semelhante aos realizados
anteriormente. Esta molécula apresenta muitas semelhanças estruturais com a cafeína,
levando-nos a crer que os potenciais de redução para a primeira ocorrerão próximos a esta
última, o que de fato ocorre e, ainda, que os processos redox podem assemelhar-se. Na figura
O
O
O
O
N
N
NN
N
O
O
CH3
CH3
CH3
+
74
4.27, são mostrados os voltamogramas obtidos para a teobromina numa uma série de
diferentes concentrações.
-0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-1,2x10-5
-8,0x10-6
-4,0x10-6
0,0
4,0x10-6
8,0x10-6
[Teobromina] / 10-5 mol.L
-1
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Figura 4.27 – Voltamogramas obtidos a partir de solução de teobromina, em várias concentrações, empregando-
se eletrodo de platina como eletrodo de trabalho.
A teobromina, aparentemente, poderia ser identificada em uma mistura contendo
cocaína, com maior facilidade pelo fato de seu potencial de redução (catódico) ser deslocado
para potenciais mais negativos com o aumento da concentração, compreendidos entre -0,20V
a -0,24V, enquanto que a cocaína tem seu pico deslocado para potenciais mais positivos.
Ainda, de forma puramente visual, os voltamogramas apresentados para a cocaína diferem
muito daqueles apresentados para a cafeína e para a teobromina, e também estes últimos entre
si.
N
NHN
N
O
O
CH3
CH3
75
0,0 2,0x10-5
4,0x10-5
6,0x10-5
8,0x10-5
1,0x10-4
9,0x10-6
9,5x10-6
1,0x10-5
1,1x10-5
1,1x10-5
1,2x10-5
1,2x10-5
1,3x10-5
1,3x10-5
Ipc
/ A
[Teobromina] / mol.L-1
Teobromina
Figura 4.28 – Correspondência entre os valores de corrente de pico versus concentração para a teobromina,
empregando-se eletrodo de platina como eletrodo de trabalho.
Determinada a correspondência entre concentração e intensidades de corrente de pico
catódicas, pode-se traçar a correlação linear entre os pontos e, assim, obter os parâmetros da
equação da reta para que a equação da corrente de pico possa ser construída bem como os
limites de detecção e quantificação obtidos.
Ipc = 8,783.10-6
A + 4,001.10-2
[x] A.mol-1
.L
onde:
[x] refere-se à concentração de teobromina, expressa em mol.L-1
.
E para os cálculos dos limites de detecção e de quantificação:
76
LDPt = (3 . SD) / B = (3 . 9,874.10-8
) / 4,001.10-2
= 7,40.10-6
mol.L-1
.
LQPt = (10 . SD) / B = (10 . 9,874.10-8
) / 4,001.10-2
= 2,47.10-5
mol.L-1
.
Como apresentado na figura 4.29, outro fator a ser levado em consideração é que a
corrente de pico catódica para a teobromina apresenta-se inferior àquela apresentada para a
cocaína, sob as mesmas condições de concentração.
0,0 2,0x10-5
4,0x10-5
6,0x10-5
8,0x10-5
1,0x10-4
9,0x10-6
1,0x10-5
1,1x10-5
1,2x10-5
1,3x10-5
1,4x10-5
1,5x10-5
1,6x10-5
1,7x10-5
Ipc
/ A
Concentração / mol.L-1
Cocaína
Teobromina
Figura 4.29 – Correlação entre as correntes de pico catódicas para a cocaína e a teobromina, frente a um eletrodo
de platina como eletrodo de trabalho.
Ainda, foi realizado um estudo fixando a concentração de cocaína em 5,0.10-5
mol.L-1
e variando a concentração de teobromina, varrendo de 1,0.10-5
mol.L-1
a 1,0.10-4
mol.L-1
,
como mostra a figura 4.30. Nota-se ainda que a corrente de pico catódica apresentada pela
cocaína é mais pronunciada que aquelas apresentadas pela mistura de cocaína e teobromina.
77
-0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-1,5x10-5
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
[Cocaína] / 10-5 mol.L
-1
5,0
[Teobromina] / 10-5 mol.L
-1
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
I /
A
Concentração / mol.L-1
Figura 4.30 – Voltamogramas referentes à mistura entre cocaína e teobromina, mantendo-se a concentração de
cocaína constante e variando-se as concentrações de teobromina, frente a um eletrodo de platina
como eletrodo de trabalho.
Observa-se, como resultado da mistura, que não apenas os voltamogramas
apresentados ainda apresentam correntes de pico catódicas inferiores àquelas obtidas para a
cocaína pura como, ainda, modificaram-se, mostrando-se visualmente mais próximos aos
voltamogramas obtidos para a cocaína padrão. Mesmo quando a concentração de teobromina
é maior que a de cocaína o resultado obtido ainda se assemelha ao da cocaína.
Logo, a fim verificar se os voltamogramas apresentados para a teobromina ainda se
assemelhariam visualmente àqueles obtidos para a cocaína, foi realizado um estudo,
apresentado na figura 4.31, com misturas equimolares de cocaína e teobromina.
O
O
O
O
N
+
N
NHN
N
O
O
CH3
CH3
78
-0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-2,0x10-5
-1,5x10-5
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
[Cocaína] = [Teobromina] / 10-5 mol.L
-1
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
Figura 4.31 – Voltamogramas referentes às soluções equimolares de cocaína e teobromina, empregando-se
eletrodo de platina como eletrodo de trabalho.
Analisando-se esses voltamogramas, pode-se, então, comprovar que mesmo para
misturas equimolares entre cocaína e teobromina, os voltamogramas assemelhar-se-ão àqueles
obtidos para a cocaína, inclusive quando se observa que com o aumento da concentração, os
potenciais catódicos deslocam-se para regiões mais positivas, ao contrário do que ocorre em
soluções contendo apenas teobromina. Desta forma, descarta-se, assim, possibilidade de
possíveis interferências causadas pela teobromina em análises de amostras onde a cocaína
esteja presente.
As análises voltamétricas considerando teobromina em relação à cafeína e cocaína,
mostram que os principais sinais de corrente de pico ocorrem em potenciais de redução bem
próximos aos apresentados pela cafeína (o que pode ser justificado, em linhas gerais, pela
semelhança estrutural entre estes dois interferentes) e, por conseguinte, as moléculas de
teobromina também reduzem-se em contato com a superfície do eletrodo de trabalho. A figura
4.32, mostra um esquema com algumas propostas para a redução da molécula de teobromina.
O
O
O
O
N
+
N
NHN
N
O
O
CH3
CH3
79
N
NHN
N
O
O
CH3
CH3
eletrodo de trabalho
N
NHN
NH
O
O
CH3
CH3
3,7-trimetil-3,7,8,9-tetrahidro-1H-purina-2,6-dionaTeobromina
eletrodo de trabalho
N
NHN
N
O
O
CH3
CH3
3,7-trimetil-3,4,5,7-tetrahidro-1H-purina-2,6-diona
eletrodo de trabalho
N
NHN
N
O
OH
CH3
CH3
2-hidroxi-3,7-trimetil-1,2,3,7-tetrahidro-6H-purina-6-ona
eletrodo de trabalho[H] / e-
N
NHN
N
OH
O
CH3
CH3
6-hidroxi-3,7-trimetil-1,3,6,7-tetrahidro-2H-purina-2-ona
[H] / e-
[H] / e-
[H] / e-
Figura 4.32 – Esquema ilustrando algumas das possíveis estruturas geradas pela redução da molécula de
teobromina.
Analogamente ao que foi discutido para a cafeína em relação à cocaína, o mesmo é
válido para a teobromina em relação a ambas, sendo que as zonas em destaque são aquelas
que, possivelmente, sofrerão processo de redução na molécula de teobromina, quando em
contato com a superfície do eletrodo de trabalho. Como as estruturas da teobromina e da
cafeína apresentam um grau de semelhança altíssimo, entende-se que as vias de redução para
ambas serão muito semelhantes e, consequentemente, em potenciais muito próximos. Mais
uma vez, justifica-se o fato de os potenciais de redução para as espécies apresentarem-se em
faixas muito próximas.
Ainda, ilustrado na figura 4.33, as intensidades das correntes de pico catódicas
apresentadas para este interferente são superiores àquelas apresentadas pela cafeína. No
80
entanto, conforme já discutido, as correntes de pico catódicas para a teobromina continuam
sendo bem inferiores àquelas apresentadas para a cocaína, nas mesmas condições de
concentração.
0,0 2,0x10-5
4,0x10-5
6,0x10-5
8,0x10-5
1,0x10-4
8,0x10-6
9,0x10-6
1,0x10-5
1,1x10-5
1,2x10-5
1,3x10-5
1,4x10-5
1,5x10-5
1,6x10-5
1,7x10-5
Ipc
/ A
Concentração / mol.L-1
Cocaína
Teobromina
Cafeína
Figura 4.33 – Correlação entre as correntes de pico catódicas para a cocaína, teobromina e cafeína, frente a um
eletrodo de platina como eletrodo de trabalho.
Por fim, analisando-se as correntes de pico obtidas pelos voltamogramas referentes às
misturas equimolares de cocaína, cafeína e teobromina, nota-se, na figura 4.34, que a corrente
de pico catódica para a solução apresentou valores superiores àqueles obtidos para cada
analito separadamente, no entanto, aproximando-se bastante dos resultados obtidos para a
cocaína e distanciando-se daqueles apresentados pelos interferentes.
81
0,0 2,0x10-5
4,0x10-5
6,0x10-5
8,0x10-5
1,0x10-4
8,0x10-6
9,0x10-6
1,0x10-5
1,1x10-5
1,2x10-5
1,3x10-5
1,4x10-5
1,5x10-5
1,6x10-5
1,7x10-5
1,8x10-5
Ipc
/ A
Concentração / mol.L-1
Cocaína
Teobromina
Cafeína
Solução equimolar
Figura 4.34 – Correlação entre as correntes de pico catódicas para a cocaína, cafeína e teobromina, em relação à
solução equimolar formada pelas mesmas, empregando-se eletrodo de platina como eletrodo de
trabalho.
Através da análise da correlação linear entre as correntes de pico catódicas
apresentadas pelas soluções equimolares formadas por cocaína, cafeína e teobromina,
determinou-se, a partir da equação da reta, os limites de detecção e quantificação para a
mistura, conforme descrito abaixo.
Ipc = 1,311.10-5
A + 4,414.10-2
[x] A.mol-1
.L
onde:
[x] refere-se à concentração da solução equimolar formada entre cocaína, cafeína e
teobromina, expressa em mol.L-1
.
82
E para os cálculos dos limites de detecção e de quantificação:
LDPt = (3 . SD) / B = (3 . 1,0628.10-7
) / 4,414.10-2
= 7,23.10-6
mol.L-1
.
LQPt = (10 . SD) / B = (10 . 1,0628.10-7
) / 4,414.10-2
= 2,40.10-5
mol.L-1
.
Em última análise, mesmo que cafeína e teobromina estivessem presentes em
condições equimolares à cocaína em amostras apreendidas da droga, os sinais analíticos
referentes à cocaína são mais intensos, suplantando a dos interferentes.
4.2.1.d – Lidocaína
A lidocaína constitui o último interferente analisado, frente à cocaína. Sendo assim, os
procedimentos experimentais adotados para a lidocaína foram análogos àqueles apresentados
anteriormente para ao demais interferentes.
Inicialmente, verificou-se, o comportamento eletroquímico apresentado pela lidocaína
em soluções apresentando diferentes concentrações, conforme mostrado pela figura 4.35.
-0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-2,0x10-5
-1,5x10-5
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
2,0x10-5
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
[Lidocaína] / 10-5 mol.L
-1
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
Figura 4.35 – Voltamogramas obtidos a partir de solução de lidocaína, em várias concentrações, empregando-se
eletrodo de platina como eletrodo de trabalho.
CH3
CH3
NH
O
N
CH3
CH3
83
De posse dos dados voltamétricos apresentados para a lidocaína, percebe-se que as
correntes de pico catódicas ocorrem na faixa entre -0,12V a -0,16V, quase que na mesma
faixa de potencial encontradas para a cocaína, que foi de -0,11V a -0,15V.
Observando-se ainda os padrões dos voltamogramas obtidos, nota-se que as correntes
de pico mais pronunciadas ocorrem em potenciais catódicos, sugerindo que a reação de
redução ocorre majoritariamente, na superfície do eletrodo de trabalho, para este interferente,
tratando-se ainda de um processo irreversível.
Nota-se, entretanto, há presença de correntes de pico anódicas e catódicas, de menores
intensidades, sugerindo um processo redox reversível, na faixa de potencial compreendida
entre +0,1V a +0,5V. No entanto, tais sinais não podem ser utilizados como um fator
diferenciador para a lidocaína, uma vez que, conforme já citado, apresentam baixas correntes
de pico e, ainda, ocorrem de forma análoga para a cocaína.
A figura 4.36, correlaciona os sinais apresentados para a corrente de pico versus
concentrações de trabalho, de forma que se pode notar uma linearidade, mostrando um
aumento da corrente de pico catódica conforme as concentrações também aumentavam.
0,0 2,0x10-5
4,0x10-5
6,0x10-5
8,0x10-5
1,0x10-4
1,1x10-5
1,2x10-5
1,3x10-5
1,4x10-5
1,5x10-5
1,6x10-5
Ipc
/ A
[Lidocaína] / mol.L-1
Lidocaína
Figura 4.36 – Correspondência entre os valores de corrente de pico versus concentração de lidocaína,
empregando-se eletrodo de platina como eletrodo de trabalho.
84
Determinada a linearidade entre concentração e correntes de pico catódicas, pôde-se
traçar a correlação linear entre os pontos e, assim, obter os parâmetros da equação da reta para
que a equação da corrente de pico possa ser construída bem como os limites de detecção e
quantificação obtidos.
Ipc = 1,051.10-5
A + 4,733.10-2
[x] A.mol-1
.L
onde:
[x] refere-se à concentração de lidocaína, expressa em mol.L-1
.
E para os cálculos dos limites de detecção e de quantificação:
LDPt = (3 . SD) / B = (3 . 1,000.10-7
) / 4,733.10-2
= 6,34.10-6
mol.L-1
.
LQPt = (10 . SD) / B = (10 . 1,000.10-7
) / 4,733.10-2
= 2,11.10-5
mol.L-1
.
De acordo com os voltamogramas apresentados na figura 4.35, percebe-se ainda que
com o amento da concentração, os sinais de corrente de pico catódicos deslocam-se para
potenciais mais negativos, bem como ocorre para a cocaína, constituindo um interferente que,
possivelmente, ofereça maiores dificuldades em análises onde ambos aparecem.
No entanto, ao se analisar as correntes de pico catódicas, contidas na figura 4.37,
conclui-se que a lidocaína apresenta valores inferiores aos obtidos para a cocaína, sob as
mesmas condições de concentração.
85
0,0 2,0x10-5
4,0x10-5
6,0x10-5
8,0x10-5
1,0x10-4
1,1x10-5
1,2x10-5
1,3x10-5
1,4x10-5
1,5x10-5
1,6x10-5
1,7x10-5
Ipc
/ A
Concentração / mol.L-1
Cocaína
Lidocaína
Figura 4.37 – Correlação entre as correntes de pico catódicas para a cocaína e a lidocaína, frente a um eletrodo
de platina como eletrodo de trabalho.
Logo, para uma amostra possuindo lidocaína e cocaína em condições equimolares,
tecnicamente, mesmo a lidocaína apresentando valores de corrente de pico inferiores àqueles
apresentados pela cocaína, esses dados não são satisfatórios para a diferenciação segura entre
amostras de cocaína e lidocaína.
Ainda, a lidocaína apresenta algumas propriedades que se aproximam muito da
cocaína, por exemplo, organolepticamente, a lidocaína também possui propriedades que
ocasionam dormência na região aplicada e, além disso, quando submetida ao spot test com
tiocianato de cobalto, apresenta coloração azulada semelhante à droga de abuso. Todos os
fatores aqui apresentados, somados, fazem da lidocaína o interferente químico mais
trabalhoso e que oferece maiores riscos para um possível resultado de falso positivo.
Por sorte, a lidocaína não é um interferente comum em amostras apreendidas de
cocaína e, quando presente, está em concentrações baixíssimas, por se tratar de um
interferente com elevado custo, não compensando a sua utilização. Sendo assim, os resultados
86
trazidos na figura 4.38 são referentes a um estudo realizado mantendo-se a concentração de
cocaína num valor elevado e constante, variando-se apenas as condições de concentração para
a lidocaína.
-0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-1,5x10-5
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
[Cocaína] / 10-5 mol.L
-1
10,0
[Lidocaína] / 10-5 mol.L
-1
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Figura 4.38 – Voltamogramas referentes à mistura entre cocaína e lidocaína, mantendo-se a concentração de
cocaína constante e variando-se as concentrações de lidocaína, frente a um eletrodo de platina
como eletrodo de trabalho.
Os voltamogramas apresentados anteriormente mostram que, quando presente numa
concentração menor que a cocaína, a lidocaína não se constitui como interferente nas análises
da droga.
Na figura 4.39, como exemplo, podemos tomar uma amostra com concentração de
cocaína sendo o dobro da apresentada para a lidocaína, numa solução de ambas, e a corrente
de pico da mistura apresentar-se-á inferior e, na média, metade àquela apresentada somente
pela cocaína, na mesma condição de concentração.
O
O
O
O
N
+
CH3
CH3
NH
O
N
CH3
CH3
87
0,0 2,0x10-5
4,0x10-5
6,0x10-5
8,0x10-5
1,0x10-4
1,1x10-5
1,2x10-5
1,3x10-5
1,4x10-5
1,5x10-5
1,6x10-5
1,7x10-5
Ipc
/ A
Concentração / mol.L-1
Cocaína
Lidocaína
Solução
Figura 4.39 – Relações entre os sinais de corrente de pico catódicos para a cocaína e lidocaína com a mistura
formada por concentração constante de cocaína, igual a 1,0.10-4
mol.L-1
, variando-se as
concentrações de lidocaína, frente a um eletrodo de platina como eletrodo de trabalho.
A partir da determinação das correntes de pico catódicas para as amostras formadas
por 1,0.10-4
mol.L-1
e concentrações variadas para a lidocaína, pôde-se traçar sua relação,
mostrando-se linear. Portanto, através do cálculo de regressão linear dos pontos obtidos para a
mistura tornou-se possível determinar sua equação da corrente de pico e os limites de
detecção e quantificação.
Determinada a linearidade entre concentração e correntes de pico catódicas, pôde-se
traçar a correlação linear entre os pontos e, assim, obter os parâmetros da equação da reta para
que a equação da corrente de pico possa ser construída bem como os limites de detecção e
quantificação obtidos.
Ipc = 1,045.10-5
A + 5,363.10-2
[x] A.mol-1
.L
88
onde:
[x] refere-se à concentração da mistura formada entre a cocaína e a lidocaína, descrita acima,
expressa em mol.L-1
.
E para os cálculos dos limites de detecção e de quantificação:
LDPt = (3 . SD) / B = (3 . 6,032.10-8
) / 5,363.10-2
= 3,37.10-6
mol.L-1
.
LQPt = (10 . SD) / B = (10 . 6,032.10-8
) / 5,363.10-2
= 1,12.10-5
mol.L-1
.
Deve-se deixar evidente neste texto que não foi realizado um estudo para a obtenção
das correntes de pico catódicas em amostras equimolares de cocaína e lidocaína por razões
óbvias, uma vez que, quando estudados de forma isolada, tecnicamente os analitos não
apresentaram diferenças significativas nos seus potenciais de redução e também nas
intensidades das correntes de pico, conforme variavam as concentrações.
Em última análise, pode-se compreender, de forma direta, as similaridades encontradas
para a lidocaína frente a cocaína, uma vez que esta última representa o interferente estudado,
neste projeto, que mais se aproxima estruturalmente à droga e, ademais, mesmo este não
sendo o único fator, tampouco o principal, influencia muito pois, possuindo zonas
semelhantes entre as moléculas, possivelmente os processos redox ocorrerão de forma a
seguir um certo padrão, desde que as condições experimentais sejam as mesmas, conforme
realizado.
Enfim, numa amostra em que estejam presentes cocaína e lidocaína, esta última não
oferecerá riscos à analise desde que esteja em concentrações inferiores à droga, como ocorre
geralmente, quando a lidocaína é empregada como diluente ou mesmo como potencializador
secundário, por apresentar algumas propriedades sensoriais próximas à cocaína, conforme já
discutido.
A figura 4.40 apresenta um esquema proposto para a redução de lidocaína, ocorrendo
preferencialmente na região indicada na molécula (em consonância com as regiões propostas
para a cocaína).
89
CH3
CH3
NH
O
N
CH3
CH3 eletrodo de trabalho
[H] / e-
CH3
CH3
NH
OH
N
CH3
CH3
2-(dietilamino)-1-[(2,6-dimetilfenil)amino]etanol
(lidocaína reduzida)
lidocaína
Figura 4.40. - Esquema ilustrando possível produto de redução para a lidocaína.
4.2.1.e – Todos os analitos
De forma comparativa, vemos na figura 4.41 os voltamogramas para a cocaína e seus
três possíveis interferentes, todos a uma concentração igual a 5,0.10-5
mol.L-1
. Conforme já
discutido, a cocaína apresenta a maior corrente de pico catódica, dentre todos. Nota-se
claramente, também, que o voltamograma da lidocaína é o que mais se aproxima ao da
cocaína, sendo a cafeína o interferente que apresenta a corrente de pico em menores valores.
-0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-1,5x10-5
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
2,0x10-5
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Lidocaína
Cafeína
Teobromina
Cocaína
Figura 4.41 – Voltamogramas para a cocaína e seus três possíveis interferentes, com todas as soluções
apresentando concentrações iguais a 5,0.10-5
mol.L-1
, frente a um eletrodo de platina como
eletrodo de trabalho.
90
Ainda pela análise dos voltamogramas trazidos pela figura anterior, verifica-se que as
correntes de pico catódicas para a cocaína e para a lidocaína aparecem em potenciais mais
próximos a -0,10V, enquanto que para a cafeína e teobromina as correntes de pico catódicas
ocorrem em potenciais próximos a -0,20V.
Posteriormente, soluções aquosas equimolares referentes aos quatro analitos foram
estudadas e os voltamogramas, mostrados na figura 4.42, obtidos mantendo-se as mesmas
condições de trabalho.
-0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-1,5x10-5
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
Concentração / 10-5 mol.L
-1
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Figura 4.42 – Voltamogramas referentes a soluções equimolares de cocaína, cafeína, teobromina e lidocaína,
utilizando-se eletrodo de platina como eletrodo de trabalho.
Notadamente, conforme aumenta-se a concentração, as correntes de pico catódicas
também sofrem um aumento e, ainda, os potenciais de pico catódicos são levemente
deslocados para próximos de -0,10V, sendo análogo ao comportamento eletroquímico
apresentado para a cocaína (e também para a lidocaína), conforme aumentaram-se as
concentrações.
Logo, as correntes de pico catódicas versus concentração, para soluções equimolares,
foram plotadas de acordo com a figura 4.43.
91
0,0 2,0x10-5
4,0x10-5
6,0x10-5
8,0x10-5
1,0x10-4
1,1x10-5
1,2x10-5
1,3x10-5
1,4x10-5
1,5x10-5
1,6x10-5
Ipc
/ A
Concentração / mol.L-1
Solução equimolar
Figura 4.43 – Correntes de pico versus concentração para soluções equimolares de cocaína, cafeína, teobromina
e lidocaína.
Pela análise da equação da reta obtida pela regressão linear dos pontos referentes às
correntes de pico em cada concentração foi possível determinar a equação para a
determinação da corrente de pico catódica (Ipc) conforme segue.
Ipc = 1,108.10-5
A + 4,209.10-2
[x] A.mol-1
.L
onde:
[x] refere-se à concentração da solução equimolar formada entre a cocaína e os três
interferentes químicos estudados, expressa em mol.L-1
.
E para os cálculos dos limites de detecção e de quantificação:
92
LDPt = (3 . SD) / B = (3 . 7,687.10-8
) / 4,209.10-2
= 5,48.10-6
mol.L-1
.
LQPt = (10 . SD) / B = (10 . 7,687.10-8
) / 4,209.10-2
= 1,83.10-5
mol.L-1
.
Por fim, estão plotados no gráfico da figura 4.44, todos os valores para as correntes de
pico catódicas versus concentração, dos analitos estudados e também para soluções
equimolares dos mesmos, frente ao eletrodo de platina como eletrodo de trabalho.
0,0 2,0x10-5
4,0x10-5
6,0x10-5
8,0x10-5
1,0x10-4
8,0x10-6
9,0x10-6
1,0x10-5
1,1x10-5
1,2x10-5
1,3x10-5
1,4x10-5
1,5x10-5
1,6x10-5
1,7x10-5
Ipc
/ A
Concentração / mol.L-1
Cocaína
Cafeína
Teobromina
Lidocaína
Solução equimolar
Figura 4.44 – Corrente de pico catódica versus concentração para todos os analitos estudados, incluindo soluções
equimolares, frente ao eletrodo de platina como eletrodo de trabalho.
Em baixas concentrações, a corrente de pico da solução equimolar se iguala àquela
apresentada para uma solução de cocaína purificada, possibilitando, desta forma, a
identificação inequívoca de cocaína quanto aos interferentes presentes, nas mesmas
proporções, em baixas concentrações.
No entanto, conforme as concentrações que representam a solução equimolar
aumentam, as intensidades das correntes de pico catódica se aproximam daquelas obtidas
93
experimentalmente para a lidocaína e, consequentemente, inferiores às apresentadas para a
cocaína. Tal fato impossibilita a identificação, por este método, de cocaína, pois, se uma
solução equimolar dos quatro analitos (ou seja, também possuindo cocaína) apresentar-se na
faixa entre 6,0.10-5
mol.L-1
a 1,0.10-4
mol.L-1
, as correntes de pico acusarão a presença de
lidocaína apenas, excetuando a cocaína.
Em se tratando da realidade de amostras de cocaína apreendidas pelas forças policiais,
a presença dos interferentes cafeína, teobromina e lidocaína são bem inferiores, chegando ao
limite máximo de representatividade, quando somados, de 10% em massa. Logo, se os
mesmos apresentarem-se em baixas concentrações juntamente com a cocaína, também em
concentrações ínfimas (considerando que a droga esteja muito diluída por outras substâncias,
como carbonatos, bicarbonatos, cloretos de metais alcalinos e alcalino-terrosos, pó de vidro,
etc,), ainda assim a análise acusará a presença de cocaína, conforme mostrado na figura 4.44
No mais, se a presença de cocaína estiver bem superior àquelas dos interferentes
estudados, temos que os valores de corrente de pico catódicos apontarão para a presença de
cocaína, conforme já mostrados e discutidos no corpo deste texto, possibilitando, desta forma,
a identificação inequívoca, novamente, de cocaína.
Abaixo encontram-se agrupados na forma de tabela os valores calculados para os
limites de detecção (LD) e quantificação (LQ) para a cocaína e os interferentes cafeína,
teobromina, lidocaína e,ainda, para soluções equimolares de todos, conforme desenvolvidos
no texto.
Tabela 4.4 – Valores de limites de detecção e quantificação para a cocaína, cafeína, teobromina, lidocaína e
solução equimolar, empregando-se eletrodo de platina atuando como eletrodo de trabalho.
LD / 10-6
mol.L-1
LQ / 10-5
mol.L-1
Cocaína 4,14 1,38
Cafeína 7,05 2,35
Teobromina 7,40 2,47
Lidocaína 6,34 2,11
Solução equimolar 5,48 1,83
Em última análise, ainda pode-se afirmar, de acordo com os dados elencados na tabela
acima, que os limites de detecção e quantificação para a cocaína apresentam os menores
valores, sendo esta detectada e identificada com mais sensibilidade frente às demais e que
94
uma solução cuja concentração de cocaína seja a partir de 4,2.10-6
mol.L-1
é possível ser
detectada, fazendo-se valer de tal metodologia, porém, quantificada a partir de uma solução
de concentração presente de cocaína igual a 1,40.10-5
mol.L-1
.
Por fim, como foi salientado por diversos momentos no corpo desta discussão, sendo o
percentual de cocaína sempre superior aos apresentados para a cafeína, teobromina e lidocaína
e sendo a cocaína, ainda, aquela que possui os menores valores para os limites de detecção e
quantificação, esta pode ser identificada, sem equívocos, levando-se em conta as
considerações apresentadas neste trabalho.
4.2.2 – Eletrodo de Platina quimicamente modificado com cucurbit[5]urila (CB[5])
Para as análises envolvendo eletrodos de platina quimicamente modificados com
cucurnit[5]urila, ou CB[5], procedeu-se de forma análoga as realizadas para eletrodos sem a
presença de modificador, ou seja, o volume final de solução dentro da célula foi mantido
constante e igual a 10,0 mL, a velocidade de varredura foi mantida em 0,1 V/s.
No entanto, a janela de potencial para o estudo foi determinada, a fim de se explorar a
possibilidade da ocorrência de algum fenômeno e, desta forma, para os eletrodos
quimicamente modificados os estudos procederam-se numa janela de potencial de -0,7V a
+1,0 V.
Portanto, os resultados discutidos abaixo são correspondentes a presença do
modificador químico CB[5] depositado sobre o eletrodo de platina (trabalho).
De forma inicial realizaram-se análises prévias para a cocaína, a fim de se verificar o
comportamento eletroquímico desta, levando-se em consideração os parâmetros
experimentais já discutidos.
A figura 4.45 ilustra os voltamogramas obtidos para soluções de cafeína com diversas
concentrações.
95
-0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-4,0x10-5
-3,0x10-5
-2,0x10-5
-1,0x10-5
0,0
1,0x10-5
2,0x10-5
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
[Cocaína] / 10-5 mol.L
-1
Branco
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
10,0
60,0
Figura 4.45 – Voltamogramas obtidos a partir de solução de cocaína, em várias concentrações, empregando-se
eletrodo de platina, quimicamente modificado com CB[5], como eletrodo de trabalho.
Pela análise simples e direta dos voltamogramas apresentados acima, nota-se que não
há evolução significativa das correntes de pico conforme variavam as concentrações de
cocaína no interior da célula eletroquímica.
O sinal apresentado para o branco constitui-se de forma semelhante àqueles
apresentados para a cocaína, de forma que a presença deste modificador suprime o sinal da
corrente de pico catódica que a cocaína apresenta quando trabalhada com o mesmo eletrodo
sem modificador.
Dando prosseguimento com o estudo, realizaram-se análises para os interferentes da
cocaína considerados no trabalho e estes apresentaram voltamogramas muito semelhantes aos
apresentados para a cocaína, frente ao eletrodo de trabalho recoberto por CB[5].
Assim, pelo fato dos três interferentes apresentarem sinais semelhantes, nas mesmas
regiões e com as mesmas intensidades àqueles apresentados para a cocaína, não há como
diferenciá-los em relação à droga, apresentando o modificador químico CB[5], desta forma,
baixa especificidade e seletividade para estas substâncias, consideradas as condições de
trabalho empregadas.
O
O
O
O
N
96
Cabe ainda informar que frente aos resultados apresentados para o modificador
químico CB[5], o mesmo foi investigado alterando-se as condições de trabalho, como, tempo
de concentração e velocidade de varredura, porém, os resultados obtidos foram análogos aos
apresentados.
4.2.3 – Eletrodo de Platina quimicamente modificado com cucurbit[6]urila (CB[6])
As mesmas condições de trabalho empregadas para o modificador químico CB[5]
foram empregadas para as análises envolvendo o modificador químico CB[6].
No entanto, para assegurar-se de que se tratavam das melhores condições, foram
realizados estudos para a determinação de tempo de concentração e velocidade de varredura
para este modificador, de forma que os resultados obtidos estão discutidos abaixo, no corpo
deste texto.
A figura 4.46 ilustra estudos de tempo de concentração, realizados com solução padrão
de cocaína, apresentando concentração 1,0.10-5
mol.L-1
, a fim de explorar a influência do
tempo nas análises com modificador químico CB[6].
-0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-2,0x10-5
-1,5x10-5
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
2,0x10-5
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Tempo
0s
2s
4s
6s
8s
10s
Figura 4.46 – Estudo do efeito do tempo de concentração, para uma solução de cocaína de concentração 1,0.10-5
mol.L-1
, frente a um eletrodo de platina quimicamente modificado com CB[6], atuando como
eletrodo de trabalho.
O
O
O
O
N
97
Por meio do estudo do tempo de concentração pode-se entender que o tempo
influencia, porém, não de forma considerável a intensidade de sinal mostrada para uma
solução padrão de cocaína, apresentando a menor faixa de concentração de trabalho.
Na figura 4.47 estão plotados os dados experimentais de estudos realizados,
objetivando determinar a velocidade de varredura que seria empregada no trabalho. Para
tanto, selecionou-se alguns valores aleatórios de velocidade de varredura, no próprio
equipamento, e valores de intensidade de corrente de pico foram determinados.
0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35
4,0x10-6
6,0x10-6
8,0x10-6
1,0x10-5
1,2x10-5
1,4x10-5
Ipc /
A
v / V.s-1
Figura 4.47 – Estudo da velocidade de varredura utilizando-se solução de cocaína padrão 1,0.10-5
mol.L-1
,
empregando-se eletrodo de platina quimicamente modificado com CB[6], como eletrodo de
trabalho.
Os dados experimentais utilizados para a construção dos pontos que seguem na figura
4.47 estão elencados abaixo, conforme apresenta a tabela 4.5.
98
Tabela 4.5 – Resultados experimentais da corrente de pico catódica (Ipc), em ampères, versus velocidade de
varredura (v), em volts por segundo.
Ipc x10-6
/ A 4,022 7,162 9,500 12,920 13,643
v / V.s-1
0,100 0,170 0,220 0,280 0,320
A partir dos dados apresentados na tabela anterior, pode-se inferir que para uma
velocidade de varredura igual a 0,1 V.s-1
, obtém-se o menor parâmetro referente à corrente de
pico catódica, ou seja, detecta-se corrente de pico a partir de 4,022.10-6
A, enquanto que
conforme os valores de varredura aumentam, crescem com eles os menores valores para
corrente de pico, numa dada concentração.
Logo, os parâmetros para a realização dos experimentos utilizando-se cucurbit[6]urila
como modificador químico puderam ser determinados, sendo empregado para as análises
intervalo de concentração de 0 segundos, ou seja, sem tempo de concentração e velocidade de
varredura de 0,1 V.s-1
. A janela de potencial para os experimentos que seguem também foi
ampliada, varrendo de -0,7 V a +1,0 V.
4.2.3.a – Cocaína
De forma inicial, foram realizados experimentos para a cocaína padrão frente ao
eletrodo de platina quimicamente modificado com a cucurbit[6]urila.
Para tanto, variou-se a concentração no interior da célula eletroquímica, de modo que
se determinasse a relação entre as intensidades de corrente de pico, as regiões de potencial
onde as mesmas estão presentes e suas intensidades. A figura 4.48 mostra os voltamogramas
para este estudo inicial.
99
-0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-3,0x10-5
-2,0x10-5
-1,0x10-5
0,0
1,0x10-5
2,0x10-5
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Branco
[Cocaína] / 10-5 mol.L
-1
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
10,0
Figura 4.48 – Voltamogramas obtidos a partir de solução de cocaína, em diversas concentrações, empregando-se
eletrodo de platina quimicamente modificado com CB[6], atuando como eletrodo de trabalho.
Nota-se que a presença do modificador químico CB[6] na superfície do eletrodo de
trabalho proporciona um aumento da intensidade das correntes de pico para a cocaína não
apenas conforme a concentração evolui mas também quando comparados aos valores de
corrente de pico apresentados para as mesmas concentrações, utilizando-se eletrodo de platina
sem modificador químico.
Um ponto a ser destacado também é que com o aumento dos valores de concentração,
ocorre o deslocamento dos picos catódicos para regiões de potencial mais positivo, seguindo
em conformidade com os dados apresentados para a cocaína frente ao eletrodo de platina sem
a presença do modificador.
A figura 4.49 mostra as relações entre os valores das correntes de pico catódicas
apresentadas para a cocaína, em diversas concentrações, para o eletrodo de platina
quimicamente modificado com CB[6] e para o eletrodo de platina sem a presença de
modificador químico.
O
O
O
O
N
100
0,0 2,0x10-5
4,0x10-5
6,0x10-5
8,0x10-5
1,0x10-4
1,1x10-5
1,2x10-5
1,3x10-5
1,4x10-5
1,5x10-5
1,6x10-5
1,7x10-5
1,8x10-5
1,9x10-5
2,0x10-5
2,1x10-5
2,2x10-5
Ipc
/ A
[Cocaína] / mol.L-1
CB[6]
Platina
Figura 4.49 – Correspondência entre os valores de corrente de pico versus concentração para a cocaína,
empregando-se eletrodo de platina como eletrodo de trabalho.
Traçada a curva em relação aos valores de corrente de pico catódicas versus
concentração de cocaína, pode-se determinar os limites de detecção (LD) e de quantificação
(LQ), para a cocaína frente ao modificador químico CB[6], conforme seguem:
Ipc = 2,026.10-5
A + 1,984.10-2
[x] A.mol-1
.L
onde:
[x] refere-se à concentração da solução de cocaína, expressa em mol.L-1
.
E para os cálculos dos limites de detecção e de quantificação:
LDCB[6] = (3 . 9,010.10-9
) / 1,984.10-2
= 1,36.10-6
mol.L-1
LQCB[6] = (10 . 9,010.10-9
) / 1,984.10-2
= 4,54.10-6
mol.L-1
101
Sabendo-se que em amostras de cocaína apreendidas pelas forças policias a
concentração da droga apresentar-se-á superior quando comparada com a concentração dos
interferentes, tanto os cálculos para a determinação da corrente de pico catódica quanto
àqueles referentes aos valores de LD e LQ foram realizados desconsiderando os pontos
referentes às duas concentrações iniciais, de baixos valores.
Ainda, de posse das informações trazidas pela figura 4.49, nota-se que os valores de
ipc obtidos para as três primeiras concentrações estudadas delineiam uma reta com coeficiente
angular distinto (maior) àquela construída com os valores de ipc referentes às soluções de
concentrações maiores a 3,0.10-5
mol.L-1
. No entanto, para efeito de cálculo, foram utilizados
os valores apresentados pela regressão linear realizada na reta que apresenta a maior
quantidade de pontos, ou seja, aquela construída com os valores de concentração maiores a
3,0.10-5
mol.L-1
.
Por fim, quando comparados os valores de LD e LQ, para a cocaína, com os
apresentados na tabela 4.4, nota-se que houve um aumento para ambos os limites, conferindo
mais sensibilidade à análise.
4.2.3.b – Cafeína
De forma análoga aos estudos realizados para a solução padrão de cocaína, procedeu-
se para a solução padrão de cafeína.
Inicialmente realizaram-se os estudos referentes a variação da concentração da cafeína
frente ao eletrodo de trabalho quimicamente modificado com CB[6], a fim de se obter
parâmetros de comportamento dos valores de intensidades de picos e potenciais em relação a
variação da concentração do interferente.
102
-0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-2,0x10-5
-1,5x10-5
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
2,0x10-5
2,5x10-5
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Branco
[Cafeína] / 10-5 mol.L
-1
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
10,0
Figura 4.50 – Voltamogramas obtidos a partir de solução de cafeína, em várias concentrações, empregando-se
eletrodo de platina quimicamente modificado com CB[6], atuando como eletrodo de trabalho.
Conforme ilustrado na figura anterior, à cafeína não apresenta sinais na presença de
eletrodo de platina quimicamente modificado com CB[6]. De ante mão, tal fato pode ser
encarado como um ocorrido positivo, pois, nestas condições de trabalho os sinais referentes a
cafeína são suprimidos, não ocorrendo possibilidade de falsos positivos para análises de
cocaína.
4.2.3.c – Teobromina
Os estudos para a teobromina procederam-se de forma análoga aos descritos para
análises envolvendo o modificador químico CB[6]. A figura 4.51 ilustra os voltamogramas
para soluções de teobromina padrão, de diferentes concentrações.
N
NN
N
O
O
CH3
CH3
CH3
103
-0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-2,0x10-5
-1,5x10-5
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
2,0x10-5
2,5x10-5
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Branco
[Teobromina] / 10-5 mol.L
-1
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
10,0
Figura 4.51 – Voltamogramas obtidos a partir de solução de teobromina, em diversas concentrações,
empregando-se eletrodo de platina quimicamente modificado com CB[6], atuando como eletrodo
de trabalho.
As correntes de pico catódicas para a teobromina, de acordo com os voltamogramas
ilustrados na figura 4.51, dispõem-se em regiões de potencial muito próximas as apresentadas
para a cocaína. Ainda, os valores de corrente de pico para ambas apresentam-se numa faixa
muito próximas. No entanto, para a teobromina não há variações significativas para os valores
de corrente de pico a partir da concentração de 2,0.10-5
mol.L-1
, inversamente do que ocorre
para a cocaína, onde os valores referentes a correntes de pico catódicas aumentam de acordo
com o acréscimo da concentração.
Ainda, quando comparados os valores de corrente de pico para as soluções padrão de
teobromina frente a eletrodo de platina sem modificador e com modificador, nota-se que a
presença deste último potencializa o sinal, nas mesmas condições de concentração, conforme
pode ser verificado na figura abaixo.
N
NHN
N
O
O
CH3
CH3
104
0,0 2,0x10-5
4,0x10-5
6,0x10-5
8,0x10-5
1,0x10-4
8,0x10-6
1,0x10-5
1,2x10-5
1,4x10-5
1,6x10-5
1,8x10-5
2,0x10-5
2,2x10-5
Ipc
/ A
Concentração / mol.L-1
Cocaína / CB[6]
Teobromina / CB[6]
Teobromina / Pt
Figura 4.52 – Correspondência entre os valores de corrente de pico versus concentração para a teobromina e
cocaína, empregando-se eletrodo de platina quimicamente modificado com CB[6], atuando como
eletrodo de trabalho..
Observa-se ainda que, mesmo o modificador químico potencializando o sinal de
corrente de pico catódica referente à teobromina, esta ainda apresenta correntes de pico
inferiores àquelas apresentadas pela cocaína, sob as mesmas condições de trabalho. O fato da
teobromina possuir correntes de pico menos intensas pode ser um fator discriminatório entre o
interferente e a droga e, ainda, mostra que mesmo a teobromina presente nas mesmas
condições de concentração, o sinal apresentado pela droga não é suprimido, afastando, deste
modo, a possibilidade de ocorrência de falsos positivos.
Prosseguindo, foram determinados os limites de detecção (LD) e quantificação (LQ),
bem como a equação da corrente de pico, para as análises de teobromina realizadas na
presença do modificador químico CB[6], conforme mostram os cálculos abaixo.
Ipc = 1,814.10-5
A + 1,044.10-2
[x] A.mol-1
.L
105
onde:
[x] refere-se à concentração da solução de teobromina, expressa em mol.L-1
.
E para os cálculos dos limites de detecção e de quantificação:
LDCB[6] = (3 . 1,039.10-8
) / 1,044.10-2
= 2,98.10-6
mol.L-1
LQCB[6] = (10 . 1,039.10-8
) / 1,044.10-2
= 9,95.10-6
mol.L-1
Ainda, por potencializar os sinais de corrente de pico catódicos apresentados pela
teobromina e, conforme já discutido, por suprimir os sinais de corrente de pico nas soluções
de cafeína, tais interferentes também podem ser diferenciados com a utilização do
modificador químico cucurbit[6]urila sob a superfície de um eletrodo de platina, desde que
mantidas as condições experimentais descritas neste trabalho.
Analisando-se ainda os dados reportados pela figura 4.52, nota-se que o ipc
encontrado para a solução de concentração igual a 1,0.10-5
mol.L-1
, é bastante inferior àqueles
apresentados para as demais soluções com concentrações maiores, fato semelhante ao
ocorrido nas análises realizadas para a cocaína, conforme já reportado.
Em última análise, observando-se os valores de LD e LQ obtidos para a teobromina na
presença de modificador CB[6] e comparando-os com os apresentados na tabela 4.4 (onde
foram apresentados os valores de limites de detecção e quantificação para a cocaína, cafeína,
teobromina, lidocaína e solução equimolar, empregando-se eletrodo de platina atuando como
eletrodo de trabalho), confirma-se que a presença do modificador confere mais sensibilidade
para a análise.
4.2.3.d – Lidocaína
A lidocaína foi o último interferente a ser estudado frente ao modificador químico
CB[6]. Desta forma, as análises para esta substância procederam-se de forma análoga aos
demais já descritos acima.
Sendo assim, a figura abaixo mostra os voltamogramas obtidos para diferentes valores
de concentração, para a lidocaína.
106
-0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-2,0x10-5
-1,5x10-5
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
2,0x10-5
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Branco
[Lidocaína] / 10-5 mol.L
-1
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
10,0
Figura 4.53 – Voltamogramas obtidos a partir de solução de lidocaína, com variação da concentração,
empregando-se eletrodo de platina quimicamente modificado com CB[6], atuando como
eletrodo de trabalho.
De forma inversa ao ocorrido nas análises referentes ao eletrodo de platina sem
modificador, a lidocaína não constitui o interferente mais trabalhoso a ser identificado, frente
a cocaína, na presença do modificador químico CB[6].
Os voltamogramas apresentados para as soluções de lidocaína assemelham-se muito
aos apresentados pela cocaína, mesmo em se tratando de análises com o modificador químico
CB[6]. No entanto, um fator diferenciador é, mais uma vez, os valores das correntes de pico
catódicas apresentadas para ambos, bem como as regiões de potencial onde os sinais ocorrem.
Para a cocaína e teobromina, os sinais de corrente de pico ocorrem em potenciais em
torno de -0,3 V e, conforme a concentração da solução aumenta, o sinal se desloca para
regiões com potenciais mais positivos. Entretanto, para as análises realizadas com as soluções
de lidocaína, as correntes de pico ocorrem em regiões próximas a -0,4V e com o aumento da
concentração, os sinais das correntes de pico se deslocam para regiões com potencial mais
negativo.
CH3
CH3
NH
O
N
CH3
CH3
107
Ainda, de forma análoga ao ocorrido para a cocaína e para a teobromina, a presença do
modificador químico CB[6] potencializa os sinais de corrente de pico, porém, com menos
intensidade quando comparados aos dois primeiros modificadores.
A figura 4.54 relaciona os sinais de corrente de pico catódicos para a lidocaína,
estudada frente ao eletrodo de platina com e sem modificador, aos sinais apresentados para a
cocaína, estudada frente ao mesmo modificador químico.
0,0 2,0x10-5
4,0x10-5
6,0x10-5
8,0x10-5
1,0x10-4
1,0x10-5
1,2x10-5
1,4x10-5
1,6x10-5
1,8x10-5
2,0x10-5
2,2x10-5
Ipc
/ A
E / V vs. Ag/AgCl
Cocaína / CB[6]
Lidocaína / CB[6]
Lidocaína / Pt
Figura 4.54 – Correspondência entre os valores de corrente de pico versus concentração para a lidocaína e
cocaína, empregando-se eletrodo de platina quimicamente modificado com CB[6], atuando como
eletrodo de trabalho.
Pelo fato do modificador químico CB[6] conferir o menor acréscimo às correntes de
pico oriundas da lidocaína, a corrente de pico desta é muito inferior àquela apresentada pela
cocaína, considerando ainda as mesmas concentrações e, por conseguinte, não possui
condições para suprimir o sinal apresentado para a droga. Todavia, como já mencionado, a
concentração de cocaína é sempre maior que a do seu interferente isolado e, mais uma vez,
pode-se concluir que para uma amostra apreendida a concentração de lidocaína será muito
108
menor que a concentração da própria cocaína, excluindo a possibilidade de sinais provindos
do interferente analisado gerarem resultados falso positivos ou mesmo “mascarar” os sinais
oriundos da droga.
Para os cálculos da equação da corrente de pico catódica, LD e LQ, exclui-se o
primeiro valor de concentração (e de corrente de pico catódica). Desta forma, segue:
Ipc = 1,596.10-5
A + 7,843.10-3
[x] A.mol-1
.L
onde:
[x] refere-se à concentração da solução de lidocaína, expressa em mol.L-1
.
E para os cálculos dos limites de detecção e de quantificação:
LDCB[6] = (3 . 7,306.10-9
) / 7,843.10-3
= 2,79.10-6
mol.L-1
LQCB[6] = (10 . 7,306.10-9
) / 7,843.10-3
= 9,32.10-6
mol.L-1
Analisando os dados calculados, pode-se afirmar que houve um aumento para os
valores de LD e LQ obtidos com a presença do modificador químico, quando comparados aos
valores apresentados pela tabela 4.4, obtidos para o eletrodo de platina sem modificador
químico.
Em última análise, a presença do modificador químico CB[6] também confere um
aumento na sensibilidade para a análise de lidocaína, bem como apresentou para a cocaína e
teobromina.
4.2.3.e – Solução equimolar dos analitos
De forma comparativa, vemos na figura 4.55 os voltamogramas para a cocaína e seus
três possíveis interferentes, todos a uma concentração igual a 1,0.10-4
mol.L-1
. Conforme já
discutido, constata-se que a cocaína apresenta a maior corrente de pico catódica, dentre todos.
Nota-se claramente, também, que o voltamograma da lidocaína é o que mais se aproxima ao
da cocaína. O voltamograma referente à cafeína foi considerado, a fim de comparação com os
demais.
109
-0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-2,5x10-5
-2,0x10-5
-1,5x10-5
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
2,0x10-5
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Cocaína
Cafeína
Teobromina
Lidocaína
Solução equimolar
Figura 4.55 – Voltamogramas para a cocaína e seus três possíveis interferentes, com todas as soluções
apresentando concentrações iguais a 1,0.10-4
mol.L-1
, incluindo solução que também apresenta
igual concentração para todos, empregando-se eletrodo de platina quimicamente modificado
com CB[6], atuando como eletrodo de trabalho.
Em concordância com os voltamogramas apresentados na figura anterior, constata-se
que há um decréscimo no sinal de corrente de pico apresentado para a solução equimolar de
concentração 1,0.10-4
mol.L-1
. Assim, é razoável inferir que a presença dos três interferentes
químicos, que geram sinais de menores intensidades que os apresentados para a cocaína,
influenciem, de fato, no sinal obtido para a solução, provocando o decréscimo de suas
correntes de pico.
Desta forma, a figura abaixo apresenta a resposta eletroquímica de soluções
equimolares contendo os três interferentes estudados em conjunto com a cocaína,
corroborando com o que já foi discutido.
110
-0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-2,0x10-5
-1,5x10-5
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
2,0x10-5
2,5x10-5
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Branco
Concentração / 10-5 mol.L
-1
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
10,0
Figura 4.56 – Voltamogramas referentes a soluções equimolares de cocaína, cafeína, teobromina e lidocaína,
empregando-se eletrodo de platina quimicamente modificado com CB[6], atuando como eletrodo
de trabalho.
Prosseguindo o estudo de forma análoga aos anteriores, foi verificada para a solução
equimolar, a relação entre as correntes de pico catódicas com suas respectivas concentrações,
conforme segue.
111
2,0x10-5
4,0x10-5
6,0x10-5
8,0x10-5
1,0x10-4
1,4x10-5
1,5x10-5
1,6x10-5
1,7x10-5
1,8x10-5
1,9x10-5
2,0x10-5
2,1x10-5
2,2x10-5
Ipc
/ A
Concentração mol.L-1
Cocaína / CB[6]
Teobromina / CB[6]
Solução equimolar
Lidocaína / CB[6]
Figura 4.57 – Correspondência entre os valores de corrente de pico versus concentração para a cocaína,
teobromina e lidocaína, juntamente com uma solução equimolar formada por todos (incluindo a
cafeína), empregando-se eletrodo de platina quimicamente modificado com CB[6], atuando
como eletrodo de trabalho.
Percebe-se, no entanto, que os sinais de corrente de pico apresentados para a solução
equimolar aproximam-se muito daqueles obtidos para a teobromina, podendo esta última
“mascarar” os sinais de corrente apresentados para uma mistura equimolar contendo cocaína.
No entanto, por sorte, a concentração dos interferentes estudados é baixa em amostras
apreendidas de cocaína, tão logo, estes não oferecerão riscos à análise, pois quanto maior a
concentração da droga na mistura, os sinais de corrente de pico tendem a aproximar-se
daqueles obtidos para a solução de cocaína e os sinais de corrente apresentados para a solução
de cocaína suplantam todos os sinais de corrente de pico, incluindo a solução equimolar.
Procurou-se determinar para a solução a equação da corrente de pico e os valores de
LD e LQ, que seguem.
Ipc = 1,818.10-5
A + 7,083.10-3
[x] A.mol-1
.L
112
onde:
[x] refere-se à concentração da solução equimolar formada por cocaína, cafeína, teobromina e
lidocaína, expressa em mol.L-1
.
E para os cálculos dos limites de detecção e de quantificação:
LDCB[6] = (3 . 8,643.10-9
) / 7,083.10-3
= 3,66.10-6
mol.L-1
LQCB[6] = (10 . 8,643.10-9
) / 7,083.10-3
= 1,22.10-5
mol.L-1
Os valores de LD e LQ obtidos para a solução equimolar, apontam um aumento
quando comparados aos valores apresentados na tabela 4.4, referentes às análises ocorridas
com o eletrodo de platina sem modificador químico. Logo, constata-se também que, para uma
solução equimolar formada por cocaína, cafeína, teobromina e lidocaína, a presença de CB[6]
na superfície do eletrodo de trabalho proporciona aumento de sensibilidade para a análise,
desde que mantidas as condições experimentais descritas no corpo do trabalho.
No mais, foi construída uma tabela onde estão expressos os valores de LD e LQ
referentes aos estudos realizados utilizando-se CB[6] como modificador químico.
Tabela 4.6 – Valores de limites de detecção e quantificação para a cocaína, cafeína, teobromina, lidocaína e
solução equimolar, empregando-se eletrodo de platina quimicamente modificado com CB[6],
atuando como eletrodo de trabalho.
LD / 10-6
mol.L-1
LQ / 10-6
mol.L-1
Cocaína 1,36 4,54
Cafeína -- --
Teobromina 2,98 9,95
Lidocaína 2,79 9,32
Solução equimolar 3,51 12,2
Observa-se nos dados apresentados na tabela 4.6 que a presença do modificador
químico CB[6] eleva os índices para os limites de detecção e de quantificação, quando
comparados aos apresentados pelo eletrodo de platina na tabela 4.4, tornando a análise mais
sensível.
Nota-se que os dados de ipc apresentados pela solução equimolar podem ser
agrupados em duas retas, com coeficientes angulares distintos, sendo a primeira referente as
113
soluções equimolares entre 1,0.10-5
mol.L-1 a 5,0.10-5
mol.L-1
e a segunda para as soluções
equimolares compreendidas entre as concentrações 6,0.10-5
mol.L-1
a 1,0.10-4
mol.L-1
.
Desta forma, pode-se entender que o aparecimento de correntes de pico catódicas
menores para soluções com baixas concentrações, que também é recorrente para as moléculas
de cocaína, teobromina e lidocaína, frentes ao modificador químico CB[6], surge devido a não
ocorrência de saturação entre as moléculas dos analitos e os sítios ativos do modificador,
presentes no eletrodo. Contudo, conforme aumenta-se a concentração dos analitos, ocorre o
aparecimento de uma segunda curva, que pode ser caracterizada pela ocorrência de saturação.
Por fim, a análise fundamentada nos valores de LD e LQ permite prevenir resultados
que possivelmente possam gerar falsos positivos, ou seja, aqueles que apontam a presença do
analito quando o mesmo não está presente, ou ainda, em termos de quantificação, onde
possam ser determinadas quantidades de analito superiores àquelas que de fato estão presentes
na amostra [97].
4.2.4 – Eletrodo de Platina quimicamente modificado com cucurbit[7]urila (CB[7])
No presente trabalho também foi estudada a influência proporcionada pelo
modificador químico cucurbit[7]urila, depositado na superfície do eletrodo de trabalho, nas
análises de cocaína e seus três interferentes.
Entretanto, após inúmeras tentativas, não se obteve resposta do mesmo frente a droga e
também nenhum dos interferentes, como pode ser constatado na figura 4.58, representando os
voltamogramas para a cocaína frente a este modificador.
114
-0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-1,0x10-5
0,0
1,0x10-5
2,0x10-5
3,0x10-5
4,0x10-5
5,0x10-5
6,0x10-5
7,0x10-5
8,0x10-5
9,0x10-5
1,0x10-4
1,1x10-4
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Branco
[Cocaína] / 10-5 mol.L
-1
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
10,0
50,0
100,0
Figura 4.58 – Voltamogramas obtidos para solução de cocaína conforme a concentração varia, empregando-se
eletrodo de platina quimicamente modificado com CB[7], atuando como eletrodo de trabalho.
Por fim, não prosseguiram os experimentos utilizando eletrodo de platina
quimicamente modificado com CB[7].
4.2.5 – Eletrodo de Ouro sem Modificador Químico / com Modificadores Químicos
Em última análise foi utilizado eletrodo de ouro, sem modificação química, atuando
como eletrodo de trabalho, para análises de cocaína e seus interferentes. Todos os parâmetros
experimentais foram análogos ao descrito para eletrodo de platina sem modificadores
químicos, no entanto, não foi possível a obtenção de resultados conclusivos.
Também foram testados novos parâmetros experimentais, todos com insucesso.
O
O
O
O
N
115
Por fim, foram realizadas análises utilizando os mesmos modificadores químicos
empregados para o eletrodo de platina, sob as mesmas condições experimentais, culminando
em dados inconclusivos. Em última análise, foram testadas novas condições experimentais
que também não geraram bons resultados.
Desta forma, não é possível descrever resultados para a cocaína, cafeína, teobromina e
lidocaína mediante a metodologia adotada, tampouco na presença de modificadores químicos
da classe das cucurbiturilas.
4.3 – Estudo de caso: ensaio eletroquímico de amostra de cocaína apreendida.
Foi estudada uma amostra de cocaína apreendida por forças policiais, na cidade de
Ribeirão Preto-SP.
Para tanto, foi adotado eletrodo de platina modificada quimicamente com CB[6] e os
demais parâmetros experimentais empregados nas análises realizadas com este modificador
químico, já descritas no item 4.2.3, foram mantidos.
Por se tratar de uma amostra real, onde seria razoável pensar que a cocaína está
presente em maior quantidade, para o preparo das soluções foi realizada a pesagem das
massas em quantidades iguais às realizadas para a cocaína.
Os resultados para a amostra real de cocaína estão descritos na figura 4.59, mostrando-
se intermediários àqueles obtidos para a cocaína padrão (figura 4.48) e para a mistura
equimolar (figura 4.56).
116
-0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-2,0x10-5
-1,5x10-5
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
2,0x10-5
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Branco
Concentração / 10-5 mol.L
-1
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
10,0
Figura 4.59 – Voltamogramas obtidos a partir de uma amostra apreendida contendo cocaína, empregando-se
eletrodo de platina quimicamente modificado com CB[6], atuando como eletrodo de trabalho.
Numa primeira análise pode-se observar que as correntes de pico ocorrem em regiões
muito próximas daquelas obtidas para o padrão de cocaína. Um fato claro é que o aumento
das concentrações causa o deslocamento das correntes de pico para regiões mais positivas,
análogo ao que também ocorre para o padrão de cocaína.
A região de potencial compreendida entre -0,3V a +0,3V, para a varredura de
oxidação, é análoga à apresentada nos estudos envolvendo cocaína padrão.
Por fim, os voltamogramas referentes à amostra real e à cocaína padrão, foram
sobrepostos, conforme pode ser observado na figura 4.60, e estes são relativos à concentração
de 1,0.10-4
mol.L-1
.
117
-0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
-2,5x10-5
-2,0x10-5
-1,5x10-5
-1,0x10-5
-5,0x10-6
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
2,0x10-5
I /
A
E / V vs. Ag/AgCl
Amostra apreendida
Cocaína padrão
Figura 4.60 – Voltamogramas obtidos a partir de uma amostra apreendida contendo cocaína e cocaína padrão
empregando-se eletrodo de platina quimicamente modificado com CB[6], atuando como eletrodo
de trabalho.
Através da análise do perfil voltamétrico, pode-se predizer que trata-se de uma
amostra contendo de cocaína, coincidindo as correntes de pico catódicas sob uma mesma
faixa de potencial, além de outros pontos supracitados.
Deve-se frisar que, conforme já discutido, o sinal da corrente de pico proveniente da
amostra apreendida é menor que aquele apresentado para o padrão de cocaína, uma vez que a
amostra real é composta por uma matriz complexa, podendo apresentar além dos interferentes
trabalhados, muitos outros, como tetracaína, bupivacaína, glicose, sacarose, lactose, teofilina,
anfetaminas, etc.
118
5. Conclusão
A conclusão deste trabalho dar-se-á levando-se em consideração as duas metodologias
utilizadas para a análise da cocaína e de seus interferentes, cafeína, teobromina e lidocaína.
No tocante aos dados obtidos nos estudos em fase gasosa, empregando-se o sensor
piezelétrico, podem ser levantados alguns pontos de conclusão.
A começar pelo eletrodo de ouro sem a presença de modificadores químicos
(cucurbiturilas), os dados não trazem valores para as variações de frequência (∆F), levando-
nos a concluir que não existe interação física (tampouco química) entre as moléculas de
cocaína, presentes na amostra padrão ou impura, a ponto de gerar variação detectável de
massa no sensor (∆m). Tal conclusão estende-se para os interferentes analisados frente ao
mesmo eletrodo.
Em se tratando das análises envolvendo a presença de modificadores químicos, tanto o
CB[6] quanto o CB[7] foram aqueles que mostraram-se potencialmente utilizáveis em termos
de sensores.
A começar pelo CB[6], que aponta variação de frequência distinta para cada analito
estudado, exceto para a lidocaína, onde não foram observadas variações na frequência, as
conclusões podem se nortear na tentativa de se estabelecer explicações levando-se em
consideração as interações em níveis moleculares. Quando analisados os dados para as
moléculas de cafeína e teobromina, percebe-se que ambas apresentam resultados de ∆F muito
próximos, levando-nos a crer que o tipo de interação que ocorre é similar para ambas as
moléculas, uma vez que essas apresentam alto grau de semelhança em suas estruturas.
Concluindo ainda em relação aos resultados apresentados pelo modificador químico
CB[6] nos estudos piezelétricos, os dados de ∆F obtidos para amostras de cocaína impura, ou
seja, amostras reais apreendidas por forças policiais, são idênticos àqueles coletados para os
estudos realizados com cocaína padrão. Tal dado é de extrema relevância, uma vez que, pode-
se entender que as interações ocorridas são seletivas para as moléculas de cocaína, mesmo em
uma amostra de matriz complexa.
Os dados referentes às interações dos analitos com o modificador químico CB[7], em
fase gasosa, apontaram ∆F distintos para apenas dois analitos, a amostra impura contendo
cocaína e a lidocaína, conforme já mostrado e discutido no corpo do texto. Em decorrência da
ausência de sinal, ∆F, para a cocaína padrão e a obtenção de um sinal pronunciado para a
119
amostra impura, pode-se concluir que as moléculas de cocaína não interagem de forma efetiva
(adsorvendo, interagindo ou mesmo se ligando) com o modificador em questão e, ainda, que o
sinal apresentado para a amostra real pode ser explicado levando-se em conta a interação do
CB[7] com outras substâncias presentes, como, por exemplo, lidocaína, uma vez que esta
apresentou sinal de variação de frequência considerável.
A cafeína e a teobromina mais uma vez “concordaram” em seus valores de ∆F, no que
tange ao modificador químico CB[7], dado o fato de assemelharem-se estruturalmente e, de
certa forma, apresentarem os mesmos sítios de interação.
Ainda, analisando os valores para a variação de frequência apresentada para todos os
analitos frente aos modificadores químicos CB[6] e CB[7], verifica-se a ocorrência de
patamares de saturação em frequências cada vez mais elevadas, denotando a perda de analitos,
modificador químico e, ainda, possíveis moléculas de água, provenientes da umidade do ar ou
mesmo que possivelmente possam estar contidas no interior das cavidades das cucurbiturilas
utilizadas como modificadores químicos.
Em última análise, o modificador químico CB[5] não apresentou sinal de ∆F para os
analitos estudados. A ausência de sinal apresentada por este modificador frente aos analitos,
pode explicada quando se atribui o sinal de variação de massa no sensor por interações
apresentadas entre as moléculas (modificador – analito) e o CB[5] apresenta a menor estrutura
molecular (logo, o menor opérculo) entre os modificadores analisados, com apenas dez
carbonilas, orientadas de forma que fiquem cinco em cada abertura.
Assim, percebe-se que o opérculo das cucurbiturilas influencia de forma considerável,
quando se trata da interação apresentada pelos modificadores químicos frente aos analitos.
Considerando o CB[5], não há surgimento de interações que proporcionam variações de
massa mensuráveis (modificador com menor estrutura e, consequentemente, menor cavidade
de abertura); Já o CB[7], mostra-se como o modificador que apresenta a maior estrutura e
interage com apenas com as moléculas de lidocaína (além das interações que aparecem para a
amostra impura contendo cocaína), levando a crer que por ser uma estrutura maior, algumas
moléculas podem não interagir de forma efetiva ou mesmo não interagir, não resultando em
variação de massa aparente. Por fim, o CB[6], que possui uma estrutura de tamanho
intermediário e apresenta os melhores resultados, com aparente seletividade para a cocaína,
inclusive diferenciando-a dos interferentes estudados.
Para as análises voltamétricas, através dos estudos realizados para eletrodos sem
modificadores e na presença destes, conclusões interessantes podem ser levantadas. Deve-se
ainda considerar o fato de todos os analitos apresentarem corrente de pico catódicas em faixas
120
de potenciais muito próximas, o que proporcionou o desafio a ser superado pelo uso da
voltametria cíclica, através do ajuste correto dos parâmetros e da presença de modificadores
químicos na superfície dos eletrodos de trabalho.
Começando com os dados obtidos para os eletrodos sem modificadores, a platina foi
aquela que apresentou os melhores resultados, quando comparada ao eletrodo de ouro, que
não responde nas condições de trabalho empregadas. Deve-se ainda frisar a platina pode
sofrer passivação em decorrência das condições de trabalho empregadas nas análises.
Assim, as análises envolvendo eletrodo de platina permitem diferenciar a cocaína entre
todos os seus interferentes estudados no presente trabalho e, ainda, fornece bons valores para
os limites de quantificação e detecção.
Como era de se esperar, os sinais de corrente de pico catódicos gerados para a cafeína
e teobromina apresentaram muitas semelhanças, dado o fato destas duas estruturas
apresentarem-se como espécies eletroativas com mecanismos semelhantes.
Concernente às conclusões que podem ser atribuídas aos eletrodos quimicamente
modificados, mais uma vez o eletrodo de platina foi aquele que apresentou as melhores
respostas e, ainda, o modificador químico CB[6] potencializou os sinais de corrente de pico
catódicas (exceto para a cafeína), elevando os valores dos limites de detecção e quantificação,
tornando, desta forma, a análise mais sensível.
Ainda, a presença do CB[6] suprime os sinais de corrente de pico para a cafeína e,
desta forma, exclui a possibilidade desta apresentar sinais que, por ventura, possam levar a
falsas interpretações fornecendo falsos positivos.
Conforme mostram os estudos para o modificador químico, mesmo no estudo em
soluções equimolares, o sinal de corrente de pico apresentado pela cocaína pura mostra-se
superior.
Os demais modificadores (CB[5] e CB[7]) não apresentaram resultados conclusivos
frente aos analitos estudados, sob as condições descritas no trabalho.
De forma a concluir os estudos voltamétricos, os dados observados e discutidos para
uma amostra apreendida (real) possibilitam identificar a presença de cocaína, mesmo presente
em uma matriz complexa.
Concluindo, o modificador químico CB[6] apresentou os melhores resultados tanto
nos estudos em fase gasosa quanto em fase aquosa, sendo um modificador químico potencial
para a detecção de cocaína, sob as condições experimentais discutidas no trabalho.
Em suma, as análises obtidas por sensores piezelétricos e na modalidade de
voltametria cíclica possuem algumas vantagens em se tratando do desenvolvimento de
121
sensores. Ambas são técnicas que apresentam simplicidade na operação (manuseio), não
exigindo formação técnica específica do experimentador. São técnicas viáveis do ponto de
vista acadêmico, social e econômico, uma vez que a instrumentação necessária não possui
elevados preços e se encontram disponíveis no mercado nacional. Apresentam muita
praticidade e reduzidos tempo de análise, pois, em algumas análises piezelétricas uma
triplicata de experimentos é executada em menos de 12 minutos, ou ainda, análises
voltamétricas com varreduras completas em menos de 2 minutos (para cada faixa de
concentração) e, por fim, apresentam resultados reprodutíveis.
Em última análise, pode inferir que a geometria molecular e a orientação dos
opérculos influencia nos mecanismos de atuação, seja em fase gasosa ou aquosa, sendo que o
CB[6] apresentou-se como melhor modificador químico dentre os três empregados.
Por fim, considerando a utilização de tais técnicas no trabalho de rotina em
laboratórios de análises forenses, para uma jornada de oito horas de trabalho diárias, um
profissional com treinamento básico e um pouco de perícia, desenvolveria 28 análises
piezelétricas, em triplicata (84 análises/dia) ou, ainda, em torno de 30 análises utilizando
voltametria cíclica (apresentando 10 variações de concentração na célula em cada análise).
122
Referências
[1] BRUNI, A. T.; VELHO, J. A.; OLIVEIRA, M. F. Fundamentos de Química Forense:
uma análise prática da química que soluciona crimes. Campinas: Millennium Editora, 2012.
[2] ZARZUELA, J. L. Química Legal. In. TOCHETTO, D. et. al. Tratado de Perícias
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