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1. HISTÓRICO DA QUESTÃO

Para que possamos melhor compreender as ações, o comportamento e o

surgimento do que se convencionou a chamar de Estado Islâmico (EI), temos que recorrer

à história, instrumento essencial para entender os fenômenos e eventos da atualidade.

Dessa forma, será descrito logo abaixo, um pouco mais do passado dos dois países do

Oriente Médio – Síria e Iraque - em que o EI passou a atuar. Convém adiantar que tal

organização terrorista conseguiu se expandir na região graças às instabilidades políticas

presentes até então nos dois países mencionados.

1.1 IRAQUE

Comecemos então descrevendo a região iraquiana. O Iraque, berço da civilização

humana, sempre foi território de disputa entre diversos conquistadores ao decorrer dos

séculos. Riquíssima em petróleo, tal recurso gerou muita renda ao país, porém também

foi causa de muita instabilidade graças ao desejo de muitos países se apoderarem de tais

recursos (BANDEIRA, 2013). Além disso, outro fator de instabilidade no Iraque é sua

composição demográfica, composta por 60% de Xiitas e 37% de Sunitas, estes últimos

divididos entre árabes e curdos, como pode-se observar no mapa que se segue:

Imagem 1: Distribuição Étnica no Iraque

Fonte: The Global State 2015

Outro fator que vem a desestabilizar o Iraque, sem o qual não podemos

compreender o surgimento do ISIS na região, são as intervenções ocidentais na região.

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Em 2003, durante o contexto pós os atentados de 11 de setembro, os países ocidentais

passaram a se opor fortemente contra os atores militares no Oriente Médio, acusando

diversos Estados de serem permissíveis a atuação de grupos terroristas. Baseado então no

ideário de libertação do oriente médio dos regimes ditatoriais da região, e utilizando o

discurso de defesa à nação norte americana, George W. Bush acusa o então presidente

iraquiano, Saddam Hussein, de possuir um estoque de armas nucleares e químicas que

seriam uma ameaça ao mundo e poderiam ser utilizadas por terroristas. Assim, tal

contexto representava uma ameaça aos EUA, devendo ser contida a qualquer custo. É

importante destacar, porém, que nenhuma dessas alegações possuíam qualquer tipo de

prova. Deu-se início então, em 2003, a invasão norte americana no Iraque, resultando na

retirada de Saddan Hussein do poder Iraquiano. A partir desse ponto, as forças americanas

que ocuparam o Iraque possuíam a missão de reconstruir o país e prover as condições e

instituições necessárias para a instalação de uma Democracia aos moldes ocidentais

(UFRGSMUN, 2015).

Visualizou-se, entretanto, que os EUA não possuíam qualquer plano de

organização para construir tal democracia. Não compreendendo as sutilezas da região,

concedeu o poder governamental do Iraque para os Xiitas, instaurando um governo que

excluía os sunitas dos poderes decisórios do país, os quais estavam à frente do governo

durante o período de Hussein. Tal marginalização dos Sunitas geraria uma intensa revolta

desse grupo, consolidando-se em grupos rebeldes contra o governo, fazendo parte de tais

grupos a Al-Qaeda (BANDEIRA, 2013). Houve assim um crescimento do sentimento

anti-xiita na região, dando início à guerra civil no Iraque e instaurando um dos períodos

mais violentos da história iraquiana, que levaria a milhares de mortes civis. É importante

ter em mente tal situação de caos e instabilidade no país, para que se possa, à posteriori,

compreender o surgimento do EI. Porém também é importante tomar conhecimento da

situação da Síria, país o qual também é território das ações do Estado Islâmico.

1.2 SÍRIA

O território Sírio, assim como o do Iraque também foi ocupado por

diversas civilizações ao longo de sua história. Após a primeira guerra mundial, a Síria se

tornou um mandato francês. As forças francesas só se retirariam do país em 1946, período

o qual se seguiu na Síria uma série de golpes militares. Já em 1970, Hafiz al-Assad,

membro do partido reformista socialista Baath, tomou o poder do país em uma outra

tentativa de golpe. Com a morte de Hafiz no ano de 2000, seu filho e atual presidente,

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Bashar al-Assad toma o poder no país, seguindo-se um período de relativa estabilidade

para nação. Nesse contexto, também é importante destacar a composição étnica do país,

que conta com 74% de sunitas e 13% de xiitas, conforme podemos ver no mapa a seguir.

Imagem 2: Distribuição Étnica na Síria

Fonte: The Washington Post 2015.

A situação no país começou a se desestabilizar com a eclosão da Primavera Árabe

no Oriente Médio em 2011, uma série de protestos aparentemente civis a favor de uma

maior democratização dos regimes. Assim como a maior parte dos países do Oriente

Médio, a Síria também apresentou focos de mobilizações, que foram prontamente

contidos pelo governo. Tal contenção gerou uma escalada de manifestações a favor da

democracia, resultando em um confronto violento entre o governo de Bashar al-Assad e

os protestantes. Supostamente a partir de então o governo Sírio passaria a utilizar armas

químicas contra sua população para conter os conflitos, o que era utilizado pelos Estados

Unidos para realizar uma intervenção no país, a qual só ocorreu após o rápido avanço do

Estado Islâmico na região (UFRGSMUN, 2015).

Formou-se assim dois grandes grupos que mediam forças na região. De um lado,

o Irã, o Hesbollah, o Hamas Palestino e a posterior entrada da Rússia tomaram o lado do

governo Bashar al-Assad, defendendo a legitimidade do governante no regime Sírio e

almejando evitar uma expansão da influência norte americana na região. De outro lado

estavam os aliados norte-americanos, a saber, a Arábia Saudita, Israel, o Egito e a

Jordânia, todos com interesses particulares na região. A Guerra Civil Síria, além disso,

serviria ainda como justificativa para outras potências ocidentais também interferirem na

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região, caso do Reino Unido e França. Instaurou-se assim, também uma situação de caos

na Síria.

É nesse contexto, de instabilidade e vácuo de poder, tanto na Síria quanto no

Iraque, que o Estado Islâmico encontrará brechas para se consolidar como uma força

importante no território em questão. Passemos a analisar então o surgimento do ISIS.

2. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

A ascensão do Daesh é resultado da instabilidade política na Síria e no Iraque e

do vácuo de poder consequente de tal situação, como já mencionado anteriormente. O

caos derivado da Guerra Civil Iraquiana possibilitou o fortalecimento do grupo, uma

vez que ele é a antiga al-Qaeda no Iraque (AQI) (Cockburn, 2015). A expansão do

Estado Islâmico para o território sírio deve-se ao importante papel desempenhado pelo

Jabhat al-Nusra na Síria, atualmente denominado Tahrir al-Sham, o qual foi fundado

pelo EI a fim de estabelecer um braço atuante nesse país. Eles eventualmente romperam

um com o outro dada a crescente autonomia do Fronte al-Nusra. Contudo, grandes

quantidades de armamentos destinadas à oposição jihadista ao regime de Assad

acabaram sob posse do Estado Islâmico graças a sua antiga cooperação com Jabhat al-

Nusra (UFRGSMUN, 2015).

Em junho de 2014, motivado pelo grande avanço territorial e vitórias que

chocaram a comunidade internacional, Abu Bakr al-Baghdad, líder do EI, proclamou a

organização como sendo um califado mundial e ele seu califa, demandando que todos os

muçulmanos jurassem lealdade a ele. Isso levou a diversos grupos fundamentalistas ao

redor do globo a apoiarem o Estado Islâmico e formarem alianças com ele, além de atrair

um fluxo internacional de jihadistas cooptados pelos meios midiáticos da organização.

Porém, o crescente sucesso e desenvolvimento do EI exacerbou as rivalidades entre ele e

al-Qaeda, culminando no rompimento entre os grupos. O Daesh visa a implementação de

seu califado seguindo a doutrina wahhabista e por meio da imposição da Lei de Sharia

sobre seu território conquistado, dessa forma, tem estabelecido instituições

administrativas que sustentem seu objetivo.

Para arcar com os custos da manutenção das estruturas estabelecidas para a

administração do território e financiar suas campanhas militares, o EI necessita de um

fluxo de renda considerável. A fim de atender essa demanda, os líderes do grupo terrorista

organizaram um sistema de arrecadação próprio. Neste sistema, o EI montou um aparelho

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burocrático para taxar a população sob seu território; passou a vender petróleo cru

extraído no mercado negro; recebe doações provenientes de apoiadores ricos residentes

em países como Arábia Saudita, Jordânia e Qatar; cobra resgates milionários de

estrangeiros capturados; além de outras atividades menos expressivas. Calcula-se que as

rendas passam do valor de U$1 bilhão. Porém, a coalizão internacional vem trabalhado

constantemente para negar o acesso do Daesh a essas rendas, seja obstruindo a capacidade

do grupo de extrair petróleo e conduzi-lo a rotas do mercado negro ou impedido seu

acesso ao sistema financeiro, além de afetar a capacidade de arrecadação dos

fundamentalistas a medida que perdem território.

Atualmente, o Daesh encontra-se sob cerco, já perdeu amplas porções de seu

território conquistado no Iraque (cerca de 65%) e na Síria (cerca de 30%) e sofreu derrotas

marcantes, como a perda de Faluja, Palmira, Monsul, sendo esta impactante, uma vez que

era sua capital no Iraque, ademais de ter sua capital de fato, Raqqa, sob ofensiva. Está

claro que o Estado Islâmico não é mais a mesma força que mudou a balança de forças no

Oriente Médio em 2013-2014, no entanto, sua ameaça ainda é real e se não for tratada de

forma adequada, a possibilidade da instabilidade permanecer na região é grande.

Imagem 3: Território do EI

Fonte: ISW, 2015

3. FORÇA-TAREFA CONJUNTA COMBINADA - OPERAÇÃO RESOLUÇÃO

INERENTE

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A Força-Tarefa Conjunta Combinada - Operação Resolução Inerente é uma

coalizão 73 países - atualmente - que foi formada em 17 de outubro de 2014 com o intuito

de formalizar as operações militares em andamento contra o Estado Islâmico na Síria e

no Iraque, sendo que a nomenclatura da operação serve retroativamente para os ataques

aéreos feitos pelos EUA desde agosto de 2014 (CJTF-OIR, 2017b).

A coalizão pretende: pretende derrotar o grupo ISIS, em conjunto com forças

locais aliadas, em áreas designadas na Síria e no Iraque e estabelecer condições para

operações em sequência, que aumentarão a estabilidade regional (CJTF-OIR, 2017c).

Derrotar o Estado Islâmico inclui incapacitar a habilidade de comando e controle

sobre seus seguidores, interromper fluxos de financiamento e arrecadação de suas

operações, reconquistar seu território, destruir seus equipamentos e matar seus

combatentes (CJTF-OIR, 2017c).

A coalizão entende que são as forças locais que deverão obter a vitória sobre o

Daesh e posteriormente possibilitar a estabilidade e segurança regional. Na Síria, seus

parceiros são as Forças Democráticas Sírias (ou FDS) - uma coalizão de diversas etnias,

e grupos mas predominantemente curdo - e seus respectivos grupos aliados. No Iraque a

coalizão apoia as forças de segurança do governo iraquiano - incluindo as forças armadas,

a polícia federal, o Serviço Contra-terrorismo e as forças curdas Peshmerga (CJTF-OIR,

2017c).

A operação compreende as lutas contra o EI no Iraque e na Síria como uma só.

Limita-se às áreas sob o controle inimigo, não incluindo o Sul do Iraque e o Oeste da

Síria. Coordena ações em que haja combate direto contra o Daesh e possíveis ações de

apaziguamento com terceiros atores regionais com o intuito de obter o efeito desejado

sobre o EI (CJTF-OIR, 2017c).

A coalizão também deve se ocupar do fortalecimento dos poderes nacionais de

seus parceiros, incluindo diplomacia, inteligência, instituições de segurança interna, etc.

A derrota territorial do EI deve ser acompanhada de uma derrota de seus ideais, essas que

possibilitam o fluxo mundial de jihadistas radicalizados e ataques terroristas (CJTF-OIR,

2017c).

3.1 A CAMPANHA

A campanha da Coalizão contra o EI compreende 4 fases. Na primeira, Degradar,

a coalizão realizou ataques contra o EI que impediram seu avanço acelerado e diminuíram

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sua capacidade militar. Nessa fase começou o equipamento e treinamento das forças

parceiras no Iraque e em menor proporção na Síria. No final de 2015, a campanha passou

para a segunda fase, Contra-atacar, em que as forças da coalizão agora realizam ataques

em apoio ao movimento das tropas locais para tomar o território do EI, de modo a moldar

as batalhas à favor das tropas parceiras. O apoio às forças locais continua nos dois países

da área de operação. Na terceira fase, Derrotar, a campanha consiste em conduzir ataques

em apoio à tomada das duas capitais do EI, Raqqa na Síria e Mosul no Iraque, e na

eliminação de focos de resistência do “califado”, destruindo sua capacidade material e

psicológica de poderio militar. Ainda se mantém o apoio às forças aliadas, ainda mais na

quarta fase, Apoiar a Estabilização, que consiste em prover segurança, planejamento e

apoio ao governo iraquiano e às autoridades competentes na Síria (CJTF-OIR, 2017a).

A Força-Tarefa Conjunta Combinada organiza suas tarefas e missões através de

três linhas de ação, que por sua vez combinam e ligam várias missões e tarefas numa

mesma lógica de causa e efeito. A primeira consiste em almejar a derrota militar do EI na

área de operação, principalmente através de ataques a alvos em território do “califado”.

A segunda é habilitar as forças parceiras em operar e manter capacidades militares

sustentáveis, equipando, treinando, apoiando e aconselhando os aliados locais. Por fim, a

terceira consiste em habilitar a coesão dos esforços da coalizão, maximizando a eficácia

desses esforços e contribuições de pessoal, equipamento e logística em suporte das forças

parceiras (CJTF-OIR, 2017a).

Imagem 4: Fases e Linhas de Ação da campanha contra o EI.

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Fonte: CJTF, 2017

3.2 O QUE FOI FEITO ATÉ AGORA

Os esforços militares da coalizão se concentraram e ainda se concentram em

ataques aéreos à alvos do EI e no treinamento, fornecimento de material e aconselhamento

tático das forças locais tanto no Iraque quanto na Síria. Até 9 de Agosto de 2017, a

coalizão realizou 24,566 ataques aéreos no total, 13,331 ataques no Iraque 11,235 ataques

na Síria (EUA, 2017). Assim como previsto no planejamento da campanha, o contra-

ataque da coalizão e seus parceiros locais reconquistaram 70% do território do EI no

Iraque e 51% na Síria (GLOBAL COALITION, 2017a).

Ainda em 2014 a Coalizão obteve sucessos como no impedimento da expansão

do EI para Bagdá, o resgate da minoria Yazidi no norte iraquiano e a tomada das represas

de Mosul e Haditha. Ao longo de 2015 e 2016 cidades importantes foram sendo

recapturadas. Ramadi, Fallujah e Sinjar são bons exemplos. No Iraque a investida atingiu

Mosul em 2016. Em 2017 ela foi declarada como “liberada” do EI, ainda que isso não

revele uma situação tão estável quanto se possa pensar. Na Síria a tomada de cidades

importantes em 2016, como Shaddad, que servia como principal ponte de comunicação e

fluxo de suprimentos entre as duas capitais, e Manbij, cidade importante da região,

ajudaram a fechar o cerco à Raqqa, isolando seu território. Recentemente às forças

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aliadas, com o apoio da coalizão começou a investida para a retomada da capital síria do

EI (CJTF-OIR, 2017).

Imagem 5: Territórios controlados pelo EI (vermelho fraco); territórios ganhos pelo EI desde 2014

(vermelho escuro); perda territorial do EI (verde fraco); perda territorial do EI desde Março de 2017

(verde escuro); território povoado não pertencente ao EI (cinza) e território esparsamente povoado ou não

povoado (branco).

Fonte: theglobalcoalition.org

Entretanto, todo avanço militar gera novos problemas nas áreas liberadas. Táticas

militares frequentemente resultam em danos colaterais, seja em baixas civis ou em danos

na infraestrutura urbana. Assim, a minimização de danos colaterais é tão importante

quanto o dano causado ao inimigo no cálculo de uma ação militar pela Coalizão. Assim

como a dificuldade material e organizacional dos grupos locais em lidar com civis

deslocados internamente requer atenção da coalizão.

3.3 CAPACIDADES MILITARES

3.3.1 CAPACIDADES MILITARES DA COALIZÃO:

Os principais esforços militares de ataque direto ao EI advém de missões aéreas.

Entretanto existem vários papéis a serem desempenhados. Os principais deles são:

aeronaves de ataque - aeronaves que tem o papel de atingir alvos terrestres, com

capacidade limitada ou nula de combater ameaças aéreas; caças multiuso - aeronaves que

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têm capacidades tanto de combater ameaças no ar quanto de atacar alvos na terra;

aeronaves de C3 (comando, controle e comunicações) - aviões especialistas em detectar

alvos, muito além dos radares de bordo de aeronaves de ataque, que informam e

direcionam outras aeronaves em uma operação; aeronaves de reabastecimento aéreo -

aviões cisterna que reabastecem outras aeronaves de combustível em pleno voo,

aumentando a possibilidade de duração ou alcance de uma operação; aeronaves de coleta

de inteligência - podem coletar inteligência interceptando sinais eletrônicos, de

comunicações ou de sinais, ou ainda podem obter imagens de possíveis alvos.

Em terra, os contingentes militares da coalizão estão focados no treinamento e

aconselhamento tático das forças parceiras. Alguns contingentes de artilharia -

autopropulsada, de campanha ou de mísseis - atuam de forma mais direta provendo fogo

em apoio ao avanço aliado. Outra questão importante é a atuação de unidades de forças

especiais atrás das linhas inimigas, principalmente realizando operações de coleta de

inteligência e de ataque a alvos de alto valor estratégico.

A Força-tarefa conta com 73 países, mas nem todos eles agem de modo direto em

operações militares ou de inteligência. Muitos membros da coalizão contribuem apenas

com eventuais doações ou apoio diplomático. Dos principais países que atuam

diretamente no combate contra o EI, realizando operações militares tanto no Iraque

quanto na Síria, oito foram selecionados e suas capacidades são listadas abaixo.

3.3.1.1 EUA

Os EUA representam o principal membro da coalizão contra o EI, tanto em

esforços militares diretos quanto em direcionamento do rumo e do ritmo das campanhas

de retomada de território. No Iraque tem um contingente de 5,262 tropas incluindo: uma

bateria de artilharia autopropulsada com quatro M109A6; uma bateria de artilharia de

campanha com quatro M777A2; uma bateria de artilharia de mísseis autopropulsadas -

fuzileiros navais - com quatro M142 HIMARS; um esquadrão de ataque aérea com AH-

64D Apaches (IISS, 2017); além de elementos de comando e logística, apoio às forças

parceiras e elementos de forças especiais. O esforço militar por terra na Síria contava

apenas com forças especiais acompanhando as Forças Democráticas Sírias na campanha.

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Porém com o cerco mais completo da cidade de Raqqa, cerca de 400 tropas serão

mobilizadas para a Síria, incluindo rangers - uma espécie de infantaria de elite - e um

elemento de artilharia dos fuzileiros navais, com o intuito de acelerar o empurrão final

para a tomada da capital do EI. Essa ação quase dobrará o efetivo de tropas já atuantes na

Síria (NEW YORK TIMES, 2017).

Na sua campanha aérea, os EUA contam com: um efetivo de 2000 tropas na

Jordânia, incluindo um esquadrão de caças multiuso com 12 F-16C; um contingente de

8000 soldados no Catar, contanto com um esquadrão de bombardeiros pesados com seis

B-52H Stratofortress, um esquadrão de coleta de inteligência com quatro RC-135 Rivet

Joint, um esquadrão de coleta de inteligência com quatro E-8C JSTARS, um esquadrão

de reabastecimento aéreo com 24 KC-135R/T Stratotanker e um esquadrão de transporte

com quatro C-17A Globemaster; nos Emirados Árabes Unidos conta com um efetivo de

5000 tropas, incluindo um esquadrão de caças multiuso com 12 F-15E Strike Eagle, um

esquadrão de coleta de inteligência com quatro U-2, um esquadrão de comando e controle

com quatro E-3 Sentry, um esquadrão de reabastecimento aéreo com 12 KC-10A e um

esquadrão de coleta de inteligência de VANTs - Veículo Aéreo Não Tripulado - com RQ-

4 Global Hawks; por fim, na Turquia, com as aeronaves operando à partir da base aérea

de Incirlik, os EUA contam com um contingente de 2700 soldados, incluindo um

esquadrão de ataque com 12 A-10C Thunderbolt II, um esquadrão de reabastecimento

aéreo com 14 KC-135 e um esquadrão de coleta de inteligência/ataque de VANTs com

MQ-1B Predators (IISS, 2017).

Os EUA também operam um porta-aviões no Golfo Pérsico, atualmente o USS

Nimitz, disponibilizando toda a capacidade contida nele para a operação, incluindo as

cerca de 90 aeronaves de ataque, guerra-eletrônica e comando e controle que ficam a

bordo do navio (BUSINESS INSIDER, 2017).

3.3.1.2 REINO UNIDO

O Reino Unido é o segundo país mais atuante na coalizão em número de ataques

e de tropas terrestres de apoio. A Real Força Aérea do Reino Unido enviou, para o

combate do EI, alguns VANTs Reaper, 6 caças Typhoon e 8 caças Tornado, além de

aeronaves de apoio como uma aeronave de reabastecimento aéreo Voyager, uma aeronave

de comando, controle e comunicações E-3D, uma aeronave RC-135W Rivet Joint e uma

aeronave Shadow R1, ambas com capacidade de coleta de inteligência de sinais e

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comunicação. Mais de 1350 tropas, incluindo cerca de 500 tropas atuantes no Iraque,

fazem parte da Operação Shader, parte britânica da Operação Resolução Inerente. O

contingente inclui tropas de operações especiais atuantes na Síria e no Iraque. Além

desses o contingente abrange várias bases trabalhando dentro da estrutura de comando da

Força-Tarefa e dando apoio aos ativos aéreos, principalmente nas bases aéreas britânicas

de Akrotiri no Chipre e de Al Udeid no Catar (IISS, 2017; GLOBAL COALITION,

2017b).

Imagem 6: Bases da Operação Shader.

Fonte: warfare.today

3.3.1.3 FRANÇA

A operação francesa contida na campanha da coalizão foi batizada de Operação

Chammal. Há 43 aeronaves operando pela França: uma E-3F AWACS e duas E2C

Hawkeyes garantindo comando e controle no espaço aéreo; oito Super Etendards

modernizados, três Mirage 2000Ns, três Mirage 2000Ds, 18 caças Rafales da marinha e

seis Rafales da força aérea dão à operação sua capacidade de combate. Também é coletada

inteligência por uma aeronave Atlantique 2. O fornecimento de reabastecimento aéreo é

fornecido por um C135-FR. As aeronaves da marinha têm como base o porta-aviões

Charles de Gaulle, em serviço no Mediterrâneo. As aeronaves da força aérea contam com

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as bases de Al Dhafra, Emirados Árabes Unidos e de Azraq na Jordânia. O efetivo total

da operação gira em torno de 3500 tropas, 500 delas operando no Iraque, incluindo uma

bateria de 4 canhões autopropulsados CAESAR e tropas de operações especiais (IISS,

2017; FORCES OPERATIONS, 2016).

Imagem 7: Bases da Operação Chammal.

Fonte: forcesoperations.com

3.3.1.4 AUSTRÁLIA

Sob o nome de Operação Okra, as contribuições da Austrália para os ataques

aéreos da Coalizão contabilizam 300 pessoas e incluem um grupo de seis F/A-18F Super

Hornets, um E-7A Wedgetail para comando e controle e um KC-30A para

reabastecimento aéreo. A principal base aérea usada é a de Al Minhad nos Emirados

Árabes Unidos. A parte terrestre da campanha contém uma força conjunta, batizada de

Taji, de cerca de 300 soldados australianos com cerca de 100 soldados neozelandeses

participando do treinamento do exército iraquiano. Forças especiais compõe outro quadro

de cerca de 80 soldados, que estão servindo como tutores para as forças aliadas

(AUSTRÁLIA, 2017).

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3.3.1.5 ARÁBIA SAUDITA

A Arábia Saudita conta com a maior e melhor frota aérea do Oriente Médio,

contando com um componente de aeronaves de ataque que consiste em 134 caças

multiuso sendo 70 F-15S Eagles - seis deles estão baseados na Turquia pela operação - e

64 Typhoons. Também possui 69 aeronaves de ataque terrestre Tornado IDS. Tem

também amplos recursos de apoio, como mais de 10 aeronaves de reabastecimento aéreo

e cerca de 7 aeronaves de comando e controle. Porém, a Arábia Saudita, como polo de

poder regional se vê crescentemente inclinada a focar seus esforços militares na guerra

civil no Iêmen, disputando materiais, financiamento e comprometimento político com a

intervenção contra o EI (IISS, 2017).

3.3.1.6 JORDÂNIA

A Jordânia conta com forças armadas bem estruturadas e equipadas, contanto com

cerca de 63 caças multiuso F-16 e um dos melhores comandos de forças especiais do

Oriente Médio. Entretanto, junto com outros países árabes da região, vem dividindo seus

recursos entre a intervenção contra o EI e contra a guerra civil no Iêmen (IISS, 2017). Em

2014, a Jordânia perdeu uma aeronave em território do EI, o piloto foi capturado e

executado. O nome da operação competente à Jordânia foi então batizado de Operação

Mártir Muath, em homenagem ao piloto morto (UFRGSMUN, 2015).

3.3.1.7 EMIRADOS ÁRABES UNIDOS

Os Emirados Árabes Unidos são outro exemplo de uma nação árabe com alto

investimento em forças armadas. Tem 137 caças multiuso: 78 F-16D/Es e 59 Mirage

2000-9DAD/EADs, ao mesmo tempo que possui aeronaves de comando e controle e de

reabastecimento aéreo. Também tem uma organização de tropas especiais avançada.

Assim como outros estados do golfo, ocupa um grande contingente na Guerra do Iêmen

(IISS, 2017).

3.3.1.8 TURQUIA

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A posição turca na guerra civil da Síria é complexa, pois seu contingente instalado

no país não se encaixa no propósito da coalizão, buscando outros objetivos, armando

grupos rebeldes para lutar contra o EI, mas também contra o governo e contra as próprias

Forças Democráticas Sírias apoiadas pela Coalizão. Essa operação isolada da Turquia na

Síria conta com um contingente de aproximadamente 350 soldados, incluindo uma

companhia de forças especiais, uma companhia de blindados e outra de artilharia. No

Iraque, tem cerca de 2000 soldados, porém, não exatamente alinhada com a Coalizão.

Entretanto, vêm apoiando a coalizão com ataques aéreos ao EI. Ao todo, seu inventário

de caças-bombardeiros conta com 280 aeronaves, 20 F-4E Phantom 2020 e 260 F-16

C/Ds (IISS, 2017).

3.3.2 CAPACIDADES MILITARES DO ESTADO ISLÂMICO

O EI, ainda que controle um pedaço significativo do território da Síria e do Iraque,

se apoia em estratégias e táticas militares que dependem largamente de tropas de

infantaria e de veículos civis improvisados com armamentos. Ou seja, ainda que controle

território de fato e se autoproclamarem um Estado, O EI tem poucos elementos de uma

força militar convencional. Pode-se dizer que o daesh executa uma estratégia de guerra

híbrida, misturando táticas de insurgência (terrorismo, guerrilha, mistura com a

população civil) com táticas convencionais (artilharia, ofensivas de tomada de território).

Seus traços não convencionais incluem o uso de redes de túneis, escudos humanos

em áreas fortemente povoadas, artefatos explosivos improvisados montados em carros

usados por motoristas suicidas que são a ponta de lança de ofensivas ou ameaças

constantes para os atacantes durante uma operação defensiva.

A maior parte do inventário convencional do EI foi adquirido por mobilizações

rápidas e agressivas no início do conflito no Iraque - 2014 - que possibilitaram a captura

de veículos e peças de artilharia pertencentes ao exército iraquiano. Isso incluiu pelo

menos 735 jipes militares, 231 caminhões militares, 88 blindados de transporte pessoal e

34 tanques. Muitos desses eram de origem americana e tinham sido doados ou vendidos

para o governo iraquiano, ao exemplo dos 9 tanques M1A1 Abrams e dos 398 jipes M-

1114 (MITZER, OLIEMANS; 2014). Esses recursos possibilitam ao grupo executar

operações mais complexas, porém com certas limitações, pois são escassos o efetivo do

EI qualificado para operar tais armamentos e peças e suprimentos necessários para operá-

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los de forma contínua. Além disso, tais equipamentos e veículos são alvos fáceis de serem

identificados e destruídos por forças da coalizão (IISS, 2017).

Estima-se que seu efetivo combinado entre Iraque e Síria seja de 20.000 à 35.000

de combatentes (IISS, 2017). Sua cadeia de comando tem influências de oficiais do antigo

governo de Saddam Hussein e de estrangeiros mais experientes, como comandantes

chechenos e norte-africanos. Grande parte do contingente do EI é de jihadistas

estrangeiros que são recrutados pela extensa rede de propaganda do EI e entram

ilegalmente nas áreas de conflito (IISS, 2015).

3.4 OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

Na busca de objetivos militares, o processo de tomada de decisão é extremamente

complexo – assim como em outras áreas -, principalmente devido à grande quantidade de

informações relacionadas a situação discutida. Em relação a isso, desenvolvem-se planos

a partir de informações coletadas a fim de garantir ao tomador de decisão a maior

vantagem possível e, consequentemente, a maior probabilidade de sucesso referente ao

objetivo (MARQUES, 2015).

Dada essa introdução, faz-se necessário apresentar o conceito de Inteligência, o

qual gira em torno da palavra “informação”. De acordo com Johnson (2008), Inteligência,

como utilizada por muitos profissionais da Comunidade de Inteligência dos Estados

Unidos, tem dois sentidos básicos. O primeiro, imbuído de uma aproximação mais

estratégica, refere-se à informação ao redor do mundo que é coletada – de maneira

clandestina ou oficial -, processada, inteiramente analisada e, então, disseminada para o

consumidor final. O segundo, com uma abordagem mais tática, redireciona o foco dessa

primeira definição aos campos de batalha, centrando-se nos combatentes de guerra. Essa

abordagem também é definida como Inteligência de Defesa.

3.5 COLETA E ANÁLISE DE INTELIGÊNCIA

Superficialmente, qualquer meio de adquirir informações é uma maneira de

coletar inteligência. Em princípio, os métodos de coleta de inteligência, conforme

Dondonis et al. (2015), são divididos em duas categorias: inteligência humana

(HUMINT) e inteligência técnica (TECHINT).

A inteligência humana, também conhecida como espionagem, baseia-se, como o

nome já diz, na gestão de recursos humanos para a aquisição de informações. Nesse

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sentido, realiza-se a escolha de um Oficial de caso - Case officer (CO), em inglês – e o

envio deste a um território estrangeiro com a finalidade de recrutar espiões. Os COs

procuram os melhores candidatos para determinada tarefa, geralmente recrutando

nacionais do território devido à grande familiaridade que têm com os costumes, a língua,

as tradições e afins. Para tal, os COs geralmente buscam certos perfis - como oponentes

políticos, exilados de guerra, informantes secretos, refugiados –, fazem avaliações

pessoais e psicológicas e oferecem um pagamento ao espião escolhido, seja de maneira

amigável, seja por métodos mais coercitivos, como a chantagem. Após isso, o espião e o

CO passam a se encontrar regularmente para trocar de informações (UNITED STATES,

2011). A HUMINT é uma das formas mais tradicionais de coletar informações, e a sua

natureza humana impõe vários riscos a informação obtida, pois ela pode, facilmente, ser

inverídica e/ou manipulada. Mesmo assim, ela é muito usada em virtude de ser um dos

melhores métodos para penetrar em grupos e organizações que têm pouco contato com o

mundo exterior, isto é, que são muito fechados, os chamados grupos de baixa assinatura

- low signature, em inglês -, conforme afirma Wippl and D’Andrea (2010).

Em outra parte do processo de coleta de inteligência, está o método que circunda

o uso da tecnologia, a TECHINT, a qual é dividida, comumente, em três áreas. Primeiro,

há a inteligência de sinais (SIGINT); ganhando grande destaque na modernidade, a

transmissão de dados é núcleo duro da SIGINT, uma vez que essa se vale de técnicos

especializados para interceptar e explorar essa transmissão, seja em textos, falas,

comunicação eletrônica, sinais de radares e congêneres. A próxima subdivisão é a de

Inteligência de Imagens (IMINT); esta funciona coletando informações na forma de

imagens ou material oriundo de sistemas de reconhecimento e segurança, a exemplo de

Veículos aéreos não-tripulados (VANTs) captando imagens específicas de locais,

satélites bem localizados, máquinas fotográficas, entre outros.

A terceira subdivisão é a inteligência de traços e medidas (MASINT),

measurements and signature intelligence, em inglês. A MASINT foca atributos físicos de

seus alvos com a finalidade de prover informações acerca da natureza do objeto. Assim,

ela desenvolve-se analisando, de forma quantitativa e qualitativa, as características de seu

alvo, procurando descrevê-lo e identificá-lo. Nessa subdivisão, observa-se a

especialização extrema de seus agentes, com a progressiva utilização de conhecimento

científico e altamente tecnológico, a exemplo de radares contra artilharia, sensores

balísticos, equipamentos eletromagnéticos e até acústicos.

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Após expostos os métodos de inteligência, o agente no processo de coleta, deve,

idealmente, valer-se de todas as fontes e todos os métodos, buscando informações

frequentemente mais precisas. Isso, além de aumentar as chances de um leque maior de

dados, ajuda a contornar as deficiências tecnológicas e humanas de cada método.

Por fim, com as informações reunidas, fica a cargo dos tomadores de decisão,

analistas de inteligência, produzirem um conhecimento útil no fim disso, isto é, sendo

capazes de “conectar os pontos” e de ver “um quadro geral” (BRUCE, GEORGE, 2014,

apud DONDONIS et al., 2015, p. 118). Destarte, mesmo que pareça óbvio, essa produção

necessita de um pensamento extremamente crítico para evitar erros que, em muitos casos,

são responsáveis por grandes desastres.

Sendo assim, depois de feita a análise das informações coletadas, o âmbito da

inteligência começa a se distanciar e chega a hora de realizar ações. Geralmente, são feitas

operações, as quais são organizadas pelos comandantes – os tomadores de decisões – com

o apoio de vários agentes de inteligência e outros recursos humanos necessários e

aprovadas pelo chefe de Estado. Ressalta-se que uma operação malsucedida, como a

Operação Garra de Águia de 1980, ocasiona incalculáveis perdas tanto materiais, a

exemplo de equipamentos, combatentes e civis, como imateriais, tal qual prestígio,

confiança e efetividade, o que causa, geralmente, a perca total do elemento surpresa e de

boa parte da vantagem adquirida sob o inimigo, quase que impossibilitando uma segunda

chance.

4. OBJETIVOS

1. Conduzir operações militares e de inteligência a fim de desabilitar o Daesh como

força combatente efetiva;

2. Conduzir operações com o intuito de atingir alvos de grande valor dentro da

hierarquia de comando do Daesh;

3. Conduzir operações de apoio logístico a forças aliadas locais.

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