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AgrAdecimento

Agradeço ao Dr. Nelson Gonçalves, advogado e pro-fessor, meu tio em primeiro grau com quem tive a honra de conviver e captar importantes conhecimentos básicos de educação e cultura que me influenciaram a boa formação como pessoa e dos primeiros conhecimentos técnicos que me serviram ao longo da minha vida profissional.

Agradeço-o especialmente na conclusão do presen-te trabalho, pelo seu incentivo e por ter atuado sem ônus como revisor. Isso se constitui numa relevante contribuição no sentido de viabilizar a publicação, devido aos elevados custos de impressão que um autor ainda desconhecido tem que bancar sem expectativa de retorno.

João Roberto Vasco GonçalvesVitória, 08/05/2012

© 2014—Above PublicaçõesEditor ResponsávelUziel de Jesus

Gerente EditorialBreno Queiroz

Revisãodo Autor

CapaJõnatas Rabello

Pré-ImpressãoBreno Queiroz

Diagramação Raquel Vieira

Todos os direitos reservados pelo autor.É proibida a reprodução parcial ou total sem a permissão escrita do autor.Editora Above(27) 4105-3374www.aboveonline.com.br

Ficha catalográfica

G635l Gonçalves, João Roberto Vasco, 1950- Loucuras da razão / João Roberto Vasco Gonçalves. – Vila Velha : Above publicações, 2014. 254 p. ; 14x21 cm. ISBN 978-85-8219-153-8 1. Literatura brasileira. 2. Poesia. I. Título

CDD B869.91

Catalogação na publicação:

Bibliotecária: Andréa da Silva Barboza – CRB7/6354

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PrefácioConvite

Convido os leitores a viajar pelo mundo mágico das poesias.

Escrevi os temas em verso e em prosa.

Aqui, a seqüência dos poemas não está na mesma or-dem cronológica de quando os criei.

Absolvam-me, os que não abrem mão da técnica, se em alguns momentos, as rimas não foram ricas nem a métri-ca foi rígida. Em alguns casos, priorizei a originalidade dos temas, inclusive o linguajar regional.

Tomei a liberdade de dividir em quatro partes esse trabalho: Devaneios, Poemas Urbanos I, Poemas Urbanos II e Folclore em cordel.

Na parte “Devaneios”, abordei vários temas, que aparecem no texto do poema “Devaneios”.

O que denominei “poemas urbanos” está igualmen-te explicado no texto do poema com esse mesmo nome, ou seja, tudo que está inserido no contexto da cidade: persona-gens, não importando se são ilustres por sua posição social e econômica ou se são excluídos. Lugares, belos ou horríveis pelo descaso, e Situações diversas, não importando se são enaltecedoras ou deprimentes.

Em “Poemas urbanos I”, foquei os temas colhidos em Vitória-ES, minha cidade por adoção, onde passei a ado-lescência, puberdade, maturidade. Nesta mesma cidade, constituí família, trabalhei e moro até hoje.

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Em “Poemas urbanos II”, me inspirei em Anchieta--ES, minha terra natal. Utilizei como tema muitos lugares que hoje já não existem ou foram descaracterizados e até mesmo totalmente modificados. Faço homenagem ao meu povo e o seu rico folclore. Enalteço as belezas naturais, faço queixas, lamentos, e bato insistentemente na questão da preservação ambiental e do desenvolvimento sustentável.

Na parte “Folclore em cordel”, tomei muitos fatos realmente ocorridos, alguns centenários, muitas estórias parcialmente verídicas e até algumas lendas. Muitas dessas coisas, nunca foram escritas, mas, passaram através de gera-ções na forma verbal, numa época em que as pessoas tinham mais tempo umas para as outras e contavam estórias à luz dos lampiões. Tomei algumas anotações que fiz há alguns anos e as transformei em versos.

A idéia de “cordel” é uma homenagem à literatura popular muito apreciada principalmente no nordeste onde algumas pessoas imprimem livretos, contando estórias em forma de versos, que são vendidos nas feiras livres, onde ficam expostos, dependurados em cordéis que ladeiam as bancas.

Sumário

DevaneiosDevaneios ...............................................................................15Maria-maria ...........................................................................17Quarenta anos ........................................................................18Rosa aperolada ......................................................................19Razão e paixão .......................................................................20Rosas do bem querer ............................................................21Alfabeto do amor ..................................................................22Credo do amor .......................................................................24Arte do bem querer ...............................................................25Nuance de ti ...........................................................................26Pensando em ti ......................................................................27Rosa silvestre .........................................................................28Cândida ..................................................................................29Ladainha das mães ................................................................30Mãe ..........................................................................................31Mater caritas est.....................................................................32Soneto das mães ....................................................................33Pater noster ............................................................................34Heroi .......................................................................................35Acalanto ..................................................................................36Meu sapato novo ...................................................................37Muralhas de gelo ...................................................................38Pitangais .................................................................................39Alagados .................................................................................40Caieira .....................................................................................41

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Rio e mar ................................................................................42Rio de mel ...............................................................................43Refúgio ...................................................................................44Aqueles bravos guerreiros ...................................................45Holocausto .............................................................................46Lembranças da restinga .......................................................47O entardecer ...........................................................................48Deus d’áfrica ..........................................................................49Tronco .....................................................................................50Terra brasilis ...........................................................................51Lamento ..................................................................................52Mestre .....................................................................................53Magnânimo ...........................................................................54Sabedoria ................................................................................55Sabedoria do silêncio ............................................................56Verdade ...................................................................................57Dia de luta ..............................................................................58Beleza sutil .............................................................................59Coragem e medo ...................................................................60A paz .......................................................................................61Tormenta ................................................................................62Bonança ..................................................................................63Maledicências .......................................................................64Loucuras da razão .................................................................65Codinome rosa ......................................................................66Uma rosa para rosa ...............................................................67Emiliana flor natalina ...........................................................68Flor de liz ................................................................................69Alvorecer na eternidade. ......................................................70Gatíssima ................................................................................71

Poemas urbanos – IVitória .....................................................................................73Poemas urbanos ....................................................................75Vitória .....................................................................................77Encantos de camburi ............................................................78Nuances de camburi .............................................................79Amanhecer em camburi .......................................................80Entardecer em camburi ........................................................81Virada ......................................................................................83Yemanjá ..................................................................................84Saga da yemanjá capixaba ...................................................85Doce loucura ..........................................................................87Vazante ...................................................................................88Ciclo de vida ..........................................................................89Faces da moeda .....................................................................90Reféns da glória .....................................................................92Galhardia na miséria ............................................................93Julgamentos ...........................................................................94Meretrício ...............................................................................95Menor abandonado ...............................................................96

Poemas urbanos –IIAnchieta ..................................................................................97Aos anchietenses ...................................................................99Tributo aos anchietenses ....................................................101Ser anchietense ....................................................................103Anchieta relicário vivo .......................................................104Alfabeto anchietense ...........................................................108Noites anchietenses .............................................................109Noites de novilúnio ............................................................111Praias ....................................................................................112Flamboyant ..........................................................................115Castanheiras .........................................................................116Ponte velha ...........................................................................117

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Saveiros .................................................................................118Morro da igreja ....................................................................119Campo santo ........................................................................120Assunção ..............................................................................121Mandoca ...............................................................................123Restinga ................................................................................124Desolação..............................................................................125Apocalipse ............................................................................126São martinho ........................................................................127Lenda do coimbra ...............................................................128Vozes do benevente ............................................................129Águas e águas .....................................................................131Água encanada ....................................................................133Luz da cidade ......................................................................134Garças do benevente ...........................................................136Choupana .............................................................................137Algozes da escassez ............................................................138Mivale ...................................................................................139Látego da miséria ...............................................................140Tempos de fartura ...............................................................141Mau tempo ...........................................................................142Rio benevente ......................................................................143Estação das chuvas ..............................................................144Princesa de aço ...................................................................145

Folclore em cordeRemédio caseiro ..................................................................149O morto vivo ........................................................................150Xaréu na rede .......................................................................151Incêndio e bênção com um machado ...............................153Maria fumaça .......................................................................154Feiticeiro ...............................................................................155História fúnebre .................................................................156Loucura e abandono ...........................................................159

Lucidez e torpor ..................................................................160Razão de viver .....................................................................161Diamante .............................................................................162Cabotagem ...........................................................................163Perdição ................................................................................165A cama que chorava ...........................................................166O remédio da comadre .......................................................168A visagem da porteira ........................................................169O tiro de canhão ..................................................................171O burro da canoa .................................................................173Cavadores de tesouro .........................................................175Saci telha ...............................................................................177A ilha do tesouro .................................................................178Saci esteira ............................................................................180O fantasma do morro..........................................................181Chico vapor ..........................................................................183Cirurgia celestial .................................................................185Mentira .................................................................................187Xingamentos ........................................................................188Apanhou da visagem..........................................................189Horas mortas .......................................................................190Adágio .................................................................................191A milhar do siri ...................................................................192A pedra de corisco ..............................................................193Estranho palpite ..................................................................195O engodo ..............................................................................196Coco de boi ...........................................................................197Siri de defunto .....................................................................198Água de são joão .................................................................199Barra do rio doce ................................................................200Banho de mar imprevisto ...................................................202O jogo da pule vencida .......................................................203Pesca desastrosa ..................................................................204Chorou de escumar .............................................................205

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O fantasma da praia ............................................................207Moqueca de isca ..................................................................209O exame de fezes coletivo ..................................................210O galo e as pílilas ................................................................212A pomada nas cadeiras ......................................................214A visagem desmascarada ...................................................215Um vulto na madrugada ...................................................216Maruís ..................................................................................218Lição de ecologia .................................................................219Defeso na pesca ...................................................................220São pedro que traga ............................................................221A macaca que lavava roupas .............................................223Lavagem do bucho ..............................................................224A espingarda e a ripa ..........................................................225Sobressalto ...........................................................................227Morreu de cisma ..................................................................228Unhas de preguiça ..............................................................230Confusões no cemitério .....................................................231A moça do cemitério ...........................................................234O caixão que apareceu na porta ........................................238Cadê o defunto, a cova está vazia! ....................................240O medalhão ..........................................................................242O boi e o cacho de bananas ................................................244O fantasma perfumado ......................................................245Supositório via oral .............................................................246Galinha afogada .................................................................248Panfl etagem ..........................................................................250Eu sou é “letrecista” ............................................................251O prefeito e o pastor ...........................................................253

Devaneios

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DevaneiosExiste um êxtase etéreoNos devaneios de um poetaQue torna musas, todos os focos de seus temas: Delírios da alma,Infinda lista de entes e gente, Seres, pessoas, lugares e tal.Afetos, desafetos, Queixumes, lamentos,Estórias, histórias.Uns sentimentos nobres,Mas, outros nem tanto.Paixões da alma,Momentos de calma,Esperanças infindas, Lampejos de vida,Carinho, amizade,Paixão, exortação.Louvores e glóriasIndulto, contrição.Idolatrias, fobias,Júbilos, vicissitudes, Pedidos e orações.Poemas, prosas, poesias.Lembranças, recordações,Gratidão, expectativas,

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M aria-mariaMaria teu nome é puro poema!Maria da terra, Maria do céu,Maria de Deus e dos homens também!Teu nome é missão, tua sina é a vida!Mulher venerada, mulher excluída,Umas vezes santa, outras perdida.Maria mãe ou Maria qualquer!Não importa que outras Não tragam teu nome,Também são MariaPor ser mulher.Maria do Amor,Maria do bem,Não importa quem sejas, És tão plena de graçaQue até o senhorQuis ter uma também

Roberto Vasco, 16/11/2005

Condenação e redenção.Ladainhas, quadrinhas,Elogios, reprovações.O tempo e o vento,Pétalas arrancadas, folhas caídas,Aos transeuntes, tapete estendido.Luzes que brilham e se apagam.Sons intensos que se extinguem.Preciosas pérolas e pútridas chagas.Ódio e amor,Razão e paixão.São tantas as musas,Uma infindável listaQue nem mesmo o poetaConsegue construir.Ah! Minhas musas idolatradas!Que tanto me seduziram e fascinaramGosto de beijos molhados,Cálidos momentos orvalhados,Dos beijos que nunca beijei.

Roberto Vasco, 06/05/2009

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Rosa aperoladaRosa aperolada que em brilho resplandece, Chama ardente de uma cativante meiguice. Razão do bem querer sublime como prece De todas as juras de amor que eu não disse.

Enternecidos de amor os teus lábios, úmidosDo orvalho da noite onde em alma repousei,Abrigado onde estive em teu regaço férvido,Marcado por ternos beijos que jamais beijei.

Presente que estava, mas só em forma sutil,Aspirei o perfume, contemplei por instantes,Suplicante de amor, toda a rosa que se abriu.

Rosa aperolada que bela cativou-me, loucoDe desejo de colher-te mesmo tão distante. Aspiro ver-te em teu viço dentro em pouco.

Roberto Vasco, 02/10/2011

Quarenta anosEquinócio de outono da existência,Equilíbrio da aventura e maturidade,Quadragésima chance de recomeçar,Tempo de colher a segunda metade.

Prenúncio de bons tempos que virão,Certeza de ter cumprido plenamenteA missão de viver, amar e ser feliz.E do fruto do bem, lançado a semente.

Projetos bons e antigos implementar,Rever antigas e radicais posições,Lutar por tudo de bom que encontrar.

Exercer todo dia a arte de amar,Levar amor a todos os coraçõesE a tocha da luz a todo o lugar.

Roberto Vasco, 16/04/2007

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Rosas do bem quererRosas do bem querer que seduzem e fascinam,Odor que se esparge sorrateiro pelo entardecer,São o prelúdio do amor que enfeita e inebria As mais belas flores que nascem no jardim. Com Sua chuva de pétalas que acarpetam o chão frio.

Doce e suave perfume emana dessa dádiva,Odor Indelével nas mãos de quem oferece.

Bem mais que a beleza e a glória de viver,Enches de júbilo os mais duros corações, Mais nuances de belezas tem seus matizes.

Que seria dos tímidos sem sua eloqüência,Uma vez que falam por todos os coraçõesE enternecem as almas mais rudes e vis e Realmente conquistam os mais resistentesE transformam o vazio no puro bem querer.Realmente são a causa e a razão de viver.

Roberto Vasco , 16/07/2007

Razão e paixãoA razão habita no dia.Até que enfim anoiteceE a noite traz o sono E o sonho aparece.Ninguém manda no sonho,Ele é livre pra voar.O anjo que vive de dia,A noite sempre adormece.O homem que ao dia dorme, A noite logo aparece,Atrevido invade o jardim.A rosa se oculta na sombra,Mas a mulher apareceCoberta com manto de folhas.É então que tudo acontece.Ninguém resiste à paixãoMas toda noite tem fim.Desperta o anjo, chega a rosa,Dorme homem, mulher e paixão.Dorme a paixão, acorda a razão.

Roberto Vasco, 23/11/2006

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Vamos viver querida,Xodó do meu coração,Zelando por nossa vida.

Roberto Vasco, 07/07/2006Alfabeto do amorAcendeste minha emoção,Brilhaste nos olhos meusCativaste o meu coraçãoDetendo teus olhos nos meus.

Enterneceste minh’ alma.Feliz te sorrio, querida.Gentil te fitei com calma,Hei de te amar por toda vida.

Incendiaste minha paixãoJogando um beijo pra mimLatejou o meu coraçãoMexendo comigo enfim.

Não deu nem pra resistirOlhei os teus olhos assim,Peguei tua mão pra sair,Quis beijar teus lábios enfim.

Recebestes um beijo meu,Sorriste um sorriso lindo,Ternura no jeito teu,Uma flor que sorri se abrindo,

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Arte do bem quererDo teu terno ser emana o calor que me fascina, me faz venerar-te,Ver os teus olhos que luz irradia,E o teu eu, meu eterno baluarte.

Na arte sublime do bem querer Doces promessas falam de amor,Momentos divinos de pura magia,Suave perfume que emana da flor.

Hei de ofertar com muito fervoras mais belas rosas de um jardima quem venero, a mais bela flor.

Num lindo buquê exprimira paixão que nasceu em mim,Linda razão de o amor existir.

Roberto Vasco, 09/10/2010

Credo do amorCreio na luz dos teus olhos que ilumina todo o meu ser.Creio no céu de teus braços que abriga o meu viver.Creio no fogo da paixão que nos queima sem consumir.Creio que és água cristalina que sacia minha sede de amar.Creio no mar de teu corpo que o meu corpo faz flutuar.Creio no calor de tuas mãos que as minhas vem afagar.Creio em tua magia que faz o meu sono sonhar.Creio no enigma do amor que mesmo sendo infinito,cabe num momento de amar.Creio que o amor existe eque nunca vai terminar.

Roberto Vasco, 11/05/2008

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Pensando em tiComo o poeta anônimoQue fala por todos Os corações apaixonadosEm presença do mar,Seu dileto confidente,Confessa em silêncioSua louca paixãoQue parece ecoar No sussurro da brisa.Na quietude do recantoDeixa o terno bilhete.Na rocha eternizaSeu ardente amor,Pois se infinito Não cabe no peito,Cabe sim, inteiro,Por pura magia,Num sublimeMomento de te amar.

Roberto Vasco, 09/07/2011

Nuance de tiOh!Deusa que habita em minh’alma,Do meu âmago retira todo o amargor.Abafa meu grito, consola e me acalma.Em plenitude de júbilo me dá teu amor.

Com toda tua devoção e teus fervoresqual abnegada guardiã da naturaAlimenta os pássaros, cultiva as flores,Nuances de ti: amor, poema e ternura.

Observo pássaros que pousam na janelaSôfregos, fartam-se do rico alimento,Agradecem com seus gorjeios musicais.

Ouço tristes queixumes da flor mais bela,Ressentindo-se em dolorido lamentoDa falta das flores que não existem mais.

Roberto Vasco, 16/05/2009

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CândidaCândida, plena de virtudeNasceste em sutis emanaçõesDa fonte da eterna juventude,Rainha dos nossos corações.

No corpo as marcas da luta,Os vergões na pele fendida.Cansada do furor da labuta,Vence a heroína destemida.

Sua alma eterno baluarte,Imune aos achaques da vida,Quis um céu sábio ofertar-te,Do mal plenamente protegida.

Ofertou-nos Deus, num instanteDe glória e total complacênciaUma estrela de brilho fulguranteQue ilumina a nossa existência.

Roberto Vasco, 17/09/2010

Rosa silvestreRosa silvestre de azul safira,Orvalhada de madrugadaTeu cheiro de amor inspiraAroma da minha amada.Tua cor azul me fascina,Incendeia a minha paixão.És luzeiro de amor que iluminaVeredas do meu coração.Sinto dentro do peitoTernura de amor sem fim,Rosa de azul perfeito,Enlevo do meu jardim.

Roberto Vasco, 21/06/2006

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MãeAnjo nascido na terra em forma de mulher.Com o teu poder de conceber povoaste o mundo.Tua missão de amor transcende a efêmera carneE se projeta firmemente nos confins da eternidade.Do universo do teu corpo emana a essência da vidaE o templo do teu ventre é nosso primeiro refúgio.Concedeste-nos a luz, igual à que brilha nos teus olhosQue então ilumina nossas veredas e sempre nos guia.Da tua Via Láctea flui o néctar que sustém toda a magiaDe nascer, crescer sempre, amar muito, enfim, viver.Nem sempre consegues evitar que nos firamos nos espinhos,Mas, com teu imenso carinho nos tornamos bravos guerrei-ros,Não nos deixando abater diante de todas as vicissitudesE na glória do teu nome, trilhamos o bom caminho.Teu amor infinito supera as alegrias passageiras,Vence a dor e o cansaço e nos transmite valores.Muitos te devolvem dor maior que quando os deste a luz,E ainda perdoas e te alegras ao invés de condená-los.

Roberto Vasco, 21/04/2007

Ladainha das mãesRainha da eterna beleza,Rainha da eterna ternura,Rainha do puro amor,Rainha da paz,Rainha do bom conselho,Luzeiro do firmamento,Candura no jeito de ser,Fonte de nossa energia,Essência da misericórdia,Essência do nosso saber,Bandeira de misericórdia,Sol e chuva sobre justos e injustos,Consoladora dos corações aflitos,Refúgio dos oprimidos,Regente de nossas vidas,Dádiva celestial,Templo do nosso primo abrigo,Razão de tudo que existe,Alegria de nosso viver.

Roberto Vasco, 04/05/2009

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Soneto das mãesUngida rainha pelas mãos do senhorUma Deusa mulher na terra nascidaTal dádiva divina, essência do amorPara a nobre missão foi a escolhida

Ao acolher-nos no teu ventre sagradoEm um ninho de paz, nosso primo lar,Cercado de amor, carinho e cuidadoTeu sim recebo, teu jeito de amar.

Em teu terno olhar um brilho de luzFulgura nos céus de nossa existência,Ilumina a vida, ao bem nos conduz.

Teu imenso amor, a verdade primeira,Fé na justiça, verdade e benevolência Tua mente nos educa, sempre certeira.

Roberto Vasco, 22/04/2007

Mater caritas estMãe,A grandeza do teu nome espelhaTua nobre missão de conceberE vivenciar intensamente o amor.Renúncia, alegrias, nuance de ti.

Com o sim ao amor aceitaste-nos.Acolheste-nos na paz do teu templo.Realmente criastes outras vidas.Intensamente amaste tuas obras.Tens o dom de doar, partilhar,Amar até as últimas conseqüências,Sentir a dor e alegria dos teus.

E com o coração dilacerado punesSe for para mostrar o bom caminho.Tudo que a ti se refere passa pelo amor.

Roberto Vasco, 25/10/2008

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Pater nosterPai,Ao contemplar a grandeza do teu nomeTemos a noção exata da tua nobre missãoE vemos que na forma holística do amorReside a dureza dessa tua grande tarefa.

Na doação te divides para multiplicar,O teu amor também passa pela provação,Sem temor defendes os teus dos males.Tens o dever de prover sem nada esperar,Ensinar e viver teus próprios mandamentos,Reprovar os erros e indicar rumo certo.

Quem contestaria que és o fiel escudeiro,Ungido pelo senhor para eterno guardião,Investido do poder da justiça e do perdão?

E como negar que no cumprimento do deverSuplicias se for preciso para poder educar.

Intensamente vives o mistério do amor,Nunca esmorece teu ímpeto na batalha.

Tenaz guerreiro que luta o bom combateE trilha a estrada espinhenta da retidão,Rompendo os grilhões do comodismoRealmente encontras os portões dos céus eAssim finalmente vês a face do senhor.

Roberto Vasco, 26/04/2007

HeróiQuem enfrentou com galhardia a árdua labuta,Sem nunca se abater diante dos rudes revezes E saiu incólume e triunfante do furor da luta, Forjado no calor da batalha, jamais esmorece.

Quem nunca arrefeceu diante das vicissitudes,De cabeça erguida enfrentou a dura lida,Foi mais que um homem, foi bravo guerreiroFoi um nobre cavalheiro, um herói na vida,

Sem temor, no combate empunha a espada.Confiante na luta sempre almeja a vitória.Finalmente consegue a conquista esperada.

Muito mais que herói, foi um homem de brio.Um nobre como esse merece ostentar a glória, Ser a luz que alumia meu caminho sombrio.

Roberto Vasco, 23/05/2008

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AcalantoEra só um moribundoQue em seu berço choravaE nem mesmo compreendiaDe que mal tanto sofria.A dor me fustigava,A febre me queimava,O remédio amargava,Mas eu tinha o seu cantar,Oh deusa do amor!A magia do seu canto,Teu doce e suave acalanto,Secou meu rio de lágrimas, Calou de vez o meu prantoCom uma canção de ninar.Teu poder curou o meu mal.Teu amor me encheu de vida.O tempo secou as feridasE a paz voltou a reinar.Mas teu canto ainda ecoa,Sussurrando em meus ouvidosA doce canção de ninar.

Roberto Vasco, 04/10/2008

Meu sapato novoEra eu só uma criançaE uma índole puerilQuerendo calçar seu sapato,O sapato novo como falava.Quando alguem via estranhava, Pois, de novo não tinha nada,Mas, era novo quando ganharaE o chamou de o sapato novo.O sapato envelheceu,O pé, até um pouco cresceuE o sapato, nos últimos dias,Apertado, mas ainda servia.Mesmo velho como estava,O mesmo nome carregava.Ainda era o sapato novo.

Roberto Vasco, 08/02/2009

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Muralhas de geloImune aos sentidos e ao cansaço, Os duros conceitos e suas razõesArraigados em seu nobre espaço,Inexpugnáveis nas fortificações,

Sentimentos em seu cárcere triste,Relegados aos desígnios da sorte,Firmes na crença que ora persiste,Libertarem-se por mão mais forte.

As muralhas de gelo da fortalezaDerreteram ao calor das emoções.Rios de lágrimas e tal correntezaArrebentaram de vez os grilhões.

Luta ferrenha nos campos da vida,Sábias lições ficaram na memória.Uma velha intolerância foi vencida,Acre derrota com sabor de vitória,

Os preciosos conselhos da naturaSutilmente contestam o que pregas,Sábios ensinam com muita doçura:Os rios também nascem das pedras.

Roberto Vasco, 22/11/2010

PitangaisA magia dos prazeres é sempre a causa primeirada vida que começa pela semente que germina.Desponta nova vida de uma chama derradeira.Ao fechar mais um ciclo, Cumpre-se uma sina.

Na restinga exuberante, viçosas e doces pitangasEm profusão. Cores e sabores num vasto paraíso.Ávidas e felizes, crianças enchem suas capangas.Rapidamente a tarde se esvai e retornar é preciso.

Os tempos mudaram. Das pitangas brotam seixos. Subvertido o Genesis, nasceu uma Selva de pedras.Nenhuma sobrou, nem em jardim, por um desleixo.

No caminho de volta, rua pavimentada com canteiro.Nem estrada, nem brejo, nem restinga; coisas bregas.No cume do morro, nem pouparam o velho cruzeiro.

Roberto Vasco, 27/04/2013

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AlagadosCampos alagadiços ressecos e vazios,Mostram-se estéreis, inóspitos e hostis.Seres vivos esperam, pelo fim do estio.Por enquanto, exibem seu pobre matiz.

Estação das chuvas, qual divina magia,Transforma de vez, esse árido cenário,Generosamente inunda a várzea vazia,Explode de vida um fecundo santuário.

Plâncton disperso, densa vegetação,Rico alimento, repasto em demasia,Fartam-se, os animais, em nova sazão.

São segredos da natureza pressurosa,Fluxos de vida em estado de letargiaPara depois, voltar ainda mais viçosa.

Roberto Vasco, 23/01/2010

CaieiraBem afastadas, numa ilha fluvial,Fornos de barro, grelhas fixadas, Conchas do mar se tornarão cal,Depois de muito bem calcinadas.

As conchas, toda matéria prima,Em praias remotas, buscar-se-ão.A lenha, procurando-se rio acima,Vasculhando, as matas fornecerão,

Com oito camadas intercaladas,Umas de concha, outras de lenha,Caem, depois de bem queimadas.

Retiradas com garfo e molhadasCom água, para que se obtenhaO produto final, a cal hidratada.

Roberto Vasco , 02/04/2010

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Rio e marHavia peixes no rioMas o rio correu pro marSão 20:29, mas que importa?Não são horas de pescar.

A maré não está pra peixeJá não há mais como ficar.Uns peixes voltaram pro rioOutros, para outro lugar

Mas, um peixe ainda ficouPerdido no meio do mar.Ainda nem sabe se voltaNem tem data pra voltar.

Ouçam o murmúrio das ondasQue revelam os segredos do mar.Sigam os caminhos do ventoQue em pouco lá vão chegar.

Nem a persistência do rioNem a imensidão do marNem mesmo o sussurro da brisaFazem mais o peixe sonhar.

Roberto Vasco, 22/07/2007

Rio de melSaem barcos de seus pontos,Atracadouros e mini portos.Rio acima navegam lentos,Seguindo seus rumos tortos.

Os barqueiros e seus contosBreves. Plenos de realidade,de encontros e desencontros,relatam a história da cidade.

Essas águas vertidas do céu,Que ouso definir o que são:O sangue das veias do povo.

São as cores do rio de mel,Realçadas pelo sol de verão,Sempre nascendo de novo.

Roberto Vasco, 04/05/2014

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Refúgio Belo recanto, meu refúgio.Recolho-me, medito e calo.Canção da brisa, prelúdio,Sossego, venho encontrá-lo.

Mar, o discreto confidente!Oh! Meu rápido mensageiro,Ouve as queixas docemente,Salve! Dileto companheiro!

Ouve-me meu mestre e divã,Alivia meus acres espinhos.Cede-me as luzes da manhã,

Grande sábio e conselheiro,Logo mostras os caminhos,Grato, dileto companheiro.

Roberto Vasco , 25/11/2011

Aqueles bravos guerreirosAqueles bravos guerreiros que conheci,Que varavam as longas madrugadas,Um exemplo inegável de abnegaçãoE desprendimento em suas atitudes.Louvo-os, Oh bravos companheiros!Exaustos depois de uma intensa jornada,Sem ainda ter tido o descanso merecido,

Bravos retornavam devido a algum chamado eRespondiam ainda com um sorriso nos lábios,Aos relatos das ocorrências que lhes faziam.Vivos a despeito do cansaço que os consumia,Obravam as árduas tarefas e tudo resolviam Sem arrefecer os ânimos em nenhum momento.

Gentis, sempre encararam seu trabalho,Unidos, enfim, como em concreta oraçãoE dentro do seu templo, seu campo de luta,Realmente se doavam ao cumprir a missão.Raros cavalheiros forjados no calor da lutaE incansáveis obreiros da dura labuta,Imortais na memória dos seus contemporâneos.Retumbe meu brado de louvor àqueles honrados,Ostentem seus nomes a seleta lista dos heróis eSejam os eleitos, oh bravos de nobre estirpe.

Vitória, 22/07/2007

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HolocaustoOh nobres arvores, preciosas castanheiras!Urde contra vossas vidas a modernidadeQue impiedosamente reclama vosso espaço.Se isso dilacera o peito de qualquer humanoQuanto mais dos anchietenses em cujas veiasCorre o sangue daqueles que vos plantaram.Os homens insistem em oferecer em holocaustoAs vitimas inocentes e indefesas, em tributoAos deuses perversos de sua odiosa soberba,Mas jamais escaparão de suas afiadas garras.Não seja vosso consolo, mas iremos convosco,Pois o impetuoso progresso com seu afiado cuteloImolará nossas almas, aspergirá nossos sonhosSobre o rígido e frio altar de sua arrogânciaE inexoravelmente sepultará nossos restos No ataúde de nossa impotente passividade.Eis que se aproxima o ultimo dos cavaleiros Trazendo o cálice do amargo vinho da morte.Já antevejo o trágico e escaldante purgatórioDe cuja sufocante aridez nossas bravas guardiãsOutrora nos protegiam.

Roberto Vasco, 12/03/2012

Lembranças da restingaO perfume da mata, a brisa aspergia.Resina de almecegueiras, terebintina.O chacoalhar daqueles guizos, alegriaDo povo, suavizando a pesada rotina.

Faziam lenha, recolhendo galhos secos,As Lenhadoras a produzir seu sustento.Voltavam lentas com feixes de gravetos,Cantarolando como o assoviar do vento.

Árvores, os caminhos margeavam.Ofereciam farto sustento e abrigoÀs aves canoras que ali gorjeavam.

Areias brancas, cactos, mato rasteiro.Arbusto com frutos, o tesouro antigo.Gravatás, bromélias e mini coqueiro.

Roberto Vasco, 04/08/2013

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O entardecerO entardecer era único.Os derradeiros raios de solTornavam douradas a areia.Límpido era o firmamento.O mar verde acinzentado,Crespo pela ação do vento,Impetuoso como os que sibilamNas milenares colunas do Olimpo.Yemanjá, de mãos sempre estendidas,Derramava como sempre suas graçasSobre os pescadores de ocasião.Nem assim conseguiam seus intentos.O momento era de repasto das gaivotasQue em mergulhos certeiros capturavamSuas suculentas presas e as devoravamCom sofreguidão. Satisfeitas e Agradecidas,Brindavam os expectadores com seu Balé,Cuja precisão coreográfica fascinavaOs transeuntes que aplaudiam em silêncio.

Roberto Vasco, 14/07/2013

Deus d’ÁfricaDeus d’África tempos passadosOferenda, de bom grado, recebiaCulto sublime aos antepassados.Ruflam tambores, sua liturgia.

Povo privado de seus valoresAdotaria então um novo altar,Nos santos dos seus senhores, Seus Orixás iriam louvar.

Seria falso aquele deus cristãoQue obrigavam a ele o temor?Que imoral e hipócrita religião,Orava e subjugava sem pudor.

Não era Deus. Somente ambição, Talvez uma crença conveniente, Do “status quo”, plena manutenção,Pútrida chaga de cultura doente.

Roberto Vasco, 14/10/2008

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TroncoInstrumento de ignomínia,Como a cruz fora um dia.Tal o madeiro, vã insígnia, Algoz de corpo que sofria.

Suporta com galhardiaA dor de um áspero suplício,E o látego que a pele feriaDo rude feitor, maldito ofício.

No tronco, um vil sacrifício.De sangue, uma sede doentiaDe vida, somente um resquício, Ao redor o sangue aspergia.

No seu próprio sangue, remida,Imolada, enfim a vítima jazia,Liberto pra sempre do castigo,Em nova vida, eterna alforria!

Roberto Vasco, 10/10/2008

Terra brasilisBoa nova. Sob um novo céu, Descobriram a terra Brasilis,Lá, Onde escorre leite e melE vestem as cores do arco íris.

E “em se plantando tudo dá”Clima ameno, a gente sente. “Maior obra é mesmo, salvarImpuras almas dessa gente”.

Poderia uma gente corruptaEnsinar e pleitear salvaçãoDe almas de raça impoluta?

Escravizar para dura labuta!Hipocrisia, sutil dominação,Massacrando na força bruta.

Roberto Vasco, 14/10/2008

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LamentoAqui jazemos desnudos e desonrados.Destruíram o nosso templo,profanaram o nosso sacrário.Nossos altares tornaram-se mostruáriosE para o holocausto, há uma reles mercadoria.Corromperam nossos sacerdotes,tornaram mercenários;envileceram suas mãos e cassaram seu santo ofício.Leiloaram nossos bens e nos venderam migalhas de nosso próprio espóliopara nos tornarem senhores,de quem nunca fomos escravos.Nosso rebento foi arrebatado de nossos braços,e vendido a estranhos por preço vil.3.199.974.496,00 Reais. Esse maldito numerário foi a paga,pelo corpo sagrado que jamais teve preço.Nossa honra foi ultrajada,jamais seremos os mesmos,pois os bravos de outroraamavam demais seu sacerdócioe não se permitiram sobreviver a ele.Agora jazem sob os escombrosde seu templo destroçado.

Roberto Vasco, 10/05/97

MestreDecidiu dissipar as trevas,Fulgurar nessa escuridão.Passar por duras refregas,Sabe que é dura a missão.

É um repto, e muito forte.A labuta ao saber conduzTal como o pobre archote,Queima-se, mas traz a luz.

Dedica-se aos que queremTer o seu saber inconteste.Muda o destino de outrem,

Mas seu destino não muda.Tal como agulha que vesteE que permanece desnuda.

Roberto Vasco , 06/11/2010

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Magnânimo Se, magnânimo, almejas o melhorE julgas que o médio é mesquinho,Pratica as regras que sabes de cor,Remova as pedras do teu caminho.

Não serve o bom se existe o ótimo.Um pouco não faz jus a tua mente.Se não satisfaz o que está próximo,Encontra o máximo mais à frente.

Se a mediocridade refutas então,Pois, que siga o teu próprio metro,Linha sutil entre loucura e razão.

Escava as encostas da vida cruaEmpunha firmemente o teu cetroSiga em frente e Fiat voluntas tua

Roberto Vasco, 12/10/2011

SabedoriaQueres que eu defina sabedoria?Ninguém sabe dizer exatamente.Se soubesse, com prazer dir-te-ia,Mas, bem sei o que o sábio sente.

Segue as emanações de sua alma.Ouve a voz do silêncio diligente.Aprende a viver, então se acalma.Ama a verdade, assim não mente.

Sempre percebe engodos do mal,Travestidos de bem e de verdade,Pois que as coisas de aparência tal,

Só a sabedoria possui antevisão,Oculta nos trapos da humildade,Tal a confundem com instrução.

Roberto Vasco, 11/09/2010

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Sabedoria do silêncioSábio é o silêncio que transcende a vidaQuietude que ressoa no âmago da almaMais eloqüente que a palavra proferidaBalsamo perfumado que o peito acalma

Serena melodia em sutileza de acordesCântaros de lágrimas nos olhos retidosUrge extravasar antes que transbordes Em tuas lástimas todos os teus sentidos

A resposta mais perfeita, talvez, ironiaÀ cruenta pergunta que não quer calar,Eco retumbante que numa calma vazia,

Emudece o brado no silêncio escolhido.Vozes embargadas no seu úmido olharFluem eloqüentes do peito enternecido.

Roberto Vasco, 08/06/2010

VerdadeLímpida e clara ofusca os sábiosQue, utópicos, a buscam por outra via.Virtude que não lhes cabe nos lábios,Mesmo doutos da ciência, que ironia!

Procuram a verdade na vã filosofia.Pedante ofício de um pseudo culto,Pois julgam extraí-la da sabedoria,Encontrá-la fria num mundo oculto.

Mas, o vulgo simplesmente a sente.Aos olhos da alma nada está oculto.Da vida simples um nobre presenteSutilmente percebe seu nobre vulto.

Mas, afinal o que é mesmo a verdade?Axioma, corolário ou fruto da mente?Seria um saber que aguça a vaidade?É profunda, oculta ou algo presente?

À plenitude, é a porta sempre aberta.Da natureza divina atributo inerente.Instrumento que, a quem crê, liberta. (*)Como não ver se está a nossa frente! (**)

Roberto Vasco, 01/10/2011

Reflexões dos temas de:(*) - João,8:32(**) - Fiodor Dostoievski, Diário de um Escritor

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Dia de lutaMulher,Em teu seio há o signo do amor.Escala o teu íngreme calvárioE suporta com toda galhardiaO peso da cruz que te esmaga.Dá a luz na dor e para a dor,Vencendo e parindo a cruz.Trava-se o cruento combate:A mulher e a cruz da dorE nessa encarniçada lutaAlguem tem que tombar,Mas, a mulher é mais forteE quem tomba é a cruz.

Roberto Vasco, 08/03/2012

Beleza sutilA beleza sutil é a transpiração da alma,Aura de tênue brilho no teu semblante.Ostenta, tua tez, imagem meiga e calma,Transbordando carinho a todo instante.

Marca indelével da recriação da vida, Que a fornalha do tempo não degrada.É atributo divino em extensa medida.Oh Fúlgida luz de uma aura iluminada!

Uma obra divina na mais doce ventura.Sincretismo entre o místico e o humano.Semelhança sutil do criador e criatura.

“Philia” é a graça de que emana a simpatia,Atração fatal entre o sacro e o profano,Ágape e Eros convivendo em harmonia,

Roberto Vasco, 16/10/2011

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Coragem e medoDe peito aberto, não resistas ao medo.Da segurança o receio é o teu senso.É natural, não precisas fazer segredo.Planeja, e nada deixe em suspenso.

Não tenha medo, mas te tornes cauto,Pois, que coragem à proteção renega.Na prevenção, vive sem sobressaltoQuem, todo planejamento, emprega.

Seja pois o teu lema: Fazer Segurança.Não ter medo ou coragem, só cuidado,Guarda esta máxima na tua lembrança,

Certamente no trabalho se enobreceMas, pense nos que estão a teu lado, Chegue vivo, a tua família agradece.

Roberto Vasco, 19/10/2011

A pazÉ a concórdia de si consigo,Viver sem conflito na alma,Aconchego no regaço amigo,Ter seu momento de calma,

É a razão ouvindo o coração,Voz de um sábio conselheiro,Do saber um nobre guardião,Apoio no melhor travesseiro.

É a certeza de tudo ter feito,Do possível, não faltar nada.É o doce repousar do peito.

É poder adormecer sem custo,Orgulho do dia que acaba,Enfim, dormir o sono do justo.

Roberto Vasco 18/11/2011

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TormentaRude tormenta que torna noite o dia,Torna o bravo, temeroso como criança,Oculta o brilho da luz que antes se viaMas, após a tempestade vem a bonança,

Exibe entre os opostos toda diferença.Mostra um valor através da ausência.Do que não percebemos na presença;Fustiga a alma em sua íntima essência.

Faz-nos entender que o mesmo cenárioConfere-nos prazer ou a alma envenena,Pode ser uma ventura ou nosso calvário.

Luz que confunde noites com manhãs,No quadro que contém a mesma cena, Tempestade e bonança são como irmãs.

Roberto Vasco, 16/12/2011

BonançaTempo firme. A borrasca é só uma lembrança.Claridade, céu multicor, plenamente iluminado.O mar calmo, esverdeado, placidez e bonança,Nitidez, montanhas ao fundo em tom azulado.

Não importa, a chuva fina, o teu rosto a molhar.Enfim, não importa que mares agitados, cruzes,Que ventos fortes soprem na superfície do mar,Tormenta e bonança é só uma questão de luzes.

O núcleo da paisagem permanece inalterado, Conselho valioso que a natureza nos oferece;Sê tambem coerente contigo e teu passado,

O tempo que se alterna nos campos e na cidadeÉ como o humor que com os humanos acontece.Felizmente, há mais bonança do que tempestade.

Roberto Vasco, 18/12/2011

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Maledicências Vis intrigas que envenenam a alma,Propagando toda a maledicência, Mácula que o bem querer desvanece. Na tormenta da torpe inconsciência, O espírito maligno semeia a discórdia,Mente perturbada, vinga-se com fúria,De ser infeliz por sua própria inépcia.Maldosamente usa da pseuda astúcia,Tentando destruir a felicidade alheia, Que muito a tortura e tanto incomoda.Fere o mundo desencadeando a dúvida,No entanto seu intento resulta infrutífero,Cai-lhe a máscara e leva-a ao ridículo,Pois, a verdade que é única, se restabelece.Esquece de ser feliz no exercício do ódio,Recebe de volta todo o mal que oferece.

Roberto Vasco, 12/12/2011

Loucuras da razãoComo pode estar longe e tão perto,Acompanhada e tambem solitária!Volúvel como as dunas do deserto,Cativa, mas, com a índole libertária.

Como um rosto perdido na multidãoTem seu olhar um quê de melancolia,Um misto de calmaria e sofreguidão,Fronteira entre loucura e sabedoria!

Nos recônditos recantos do coração,Guardadas na oculta arca do tempo,Jazem indecifráveis loucuras da razão,

Protegidas por um muro espessoPorém, espalhando-se pelo Vento,Pelo avesso do avesso do avesso,

Roberto Vasco, 08/02/2012

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Codinome rosaHavia um mavioso jardim celestial,Paraíso de todas as formas e cores,De todos os tipos de folhas e flores.Um viçoso jasmim beirava um muro, Belas rosas emergiam de uma estrelaE transbordavam em todos os canteiros.Incontáveis flores de todos os matizesBrotavam de suas leiras e alastravamSobre o muro, os girais e os balaustres.Dos diversos vasos, quais vivos castiçaisSaiam caules, folhas e flamejantes floresE a chama de vida emanada das pétalasInundava de luz aquele magnífico éden. O que tronava indelével esse quadroEra a fragrância pura de um ResedáQue a brisa do entardecer espargiaE perfumava todo o templo natural,Exuberantemente habitado pela vida.A ninfa que sustinha toda essa magiaPossuía a doce essência da primaveraE possuindo então o espírito das floresEra guardiã e vitalícia rainha do jardimE atendia pelo místico codinome: Rosa.

Roberto Vasco, 10/03/2012

Uma rosa para rosaLouvo-te rainha do nosso jardimOh! Rosa mulher. Em tua missãoDo bem querer e de amor, enfimCumpriste a sina com abnegação,

Se pudesse com todos os ardores,Como um poeta no auge da arte,Em seus poemas, colher as flores,E o viço da primavera, ofertar-te,

Com muito amor e toda a reverência,Escolheria a rosa mais formosaE da estação ofertar-te-ia a essência.

Só me resta uma palavra sincera.À flor mulher se oferta uma rosa,Mas, à rosa oferta-se a primavera,

Homenagem à Tia RosaRoberto, 08/11/2009

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Emiliana flor natalinaTens nobreza, Oh! Flor natalina!Possuis toda a firmeza e doçura.Autêntica, verdadeira, cristalina,Impetuosa, uma guerreira segura.

Quem teme teus acres espinhos,Não sente nas pétalas, a maciez.Priva-se, então, dos teus carinhos,Das singelas nuances de tua tez .

Oh! Rosa púrpura do meu jardimTeus matizes ocultam todo amorContido em ti; a ternura sem fim.

Quem encontrou uma flor assim,Sentiu na alma teu indelével olorAdmira teu eu e te venera enfim.

Homenagem à Tia MimiRoberto Vasco, 27/12/2009

Flor de lizIntensa luz emana, a tua brancura,Livremente se esparge o teu olor,Zelosamente esculpiu-te a natura,A flor mulher feita de todo amor.

Aceitando tua missão, Destemida Mãe, mulher, uma doce provação.Ofertas o amor, o sentido da vida.Realiza no altar, a sublime oração,

Símbolo do amor, essência da arte,Em tributo a tua singela grandeza,Mais que te amar, quero venerar-te.

Fito a candura de teu meigo olharIndelével brilho, pleno de beleza,Mesmo o tempo, não ousa apagar.

Homenagem à Tia IlzaRoberto Vasco, 13/03/2010

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Alvorecer na eternidadeAbraçando dignamente o sacerdócio,Exerceu com desvelo seu santo ofício.Em segunda missão, digno consórcio,Providencial num momento propício.

Cuidou do rebanho com muito fervor,Edificou seu templo, grande aspiração. Luta aguerrido pela causa do senhor,Destemido cavalheiro, nobre guardião.

Sua provação como em um duro jogo Dignamente, porque o ouro da jazida, Liberto da ganga, purifica-se no fogo.

Servo do senhor, defensor da verdade.Ente imortal, pois que eterno em vida,Vive doravante sua paz na eternidade.

Frase do homenageado: “O ouro se purifica no fogo”Homenagem ao tio ZequinhaRoberto Vasco – 26/11/2009

GatíssimaArrebatou-se em alma, quase em transe.Era alguem que resgatava lembrançasNum suspiro de êxtase e de nostalgia.Num momento cálido de pura veneração,Em suspiros de paixão seu nome proferia.A foto que eternizara a sua rara belezaAtestava o intenso fulgor de sua juventude.Jamais alguem resistiria ao seu magnetismo,Pois, sendo totalmente estonteante e feminina,Transbordava a beleza, luzes da sedução.A bela mulher com a graça da alma felina,Espargia toda a essência que emanava de si.E por ser realmente uma exuberante gataFazia jus ao seu carinhoso nome: Mimi.

Roberto Vasco, 18/03/2012

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Poemas urbanos – IVitória

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Poemas urbanosOs poemas urbanos são espelhos.Refletem a imagem de nossa cidade:Nossa gente, nossa vida e nós.Fatos do nosso quotidiano,Coisas da nossa história,Maledicências populares,Lamentos, boatos, notícias,Críticas, denuncias, protestosEdificações, praças e árvores,Praias, rios e canais,O alvorecer e o crepúsculo,O vento, o calor e o frio,A seca e a enchente,A invasão e a favela,A guerrilha urbana,O trânsito caótico,O esgoto a céu aberto,A falta d’água, a rua escura,Monumentos inertes,Monumentos humanos,Figuras emblemáticas.A gente simples que trabalha,Os ilustres pela cultura,Pelos serviços prestados,Pela posição de destaque.O político, o alto funcionário,

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O Juiz, o promotor, o advogado,O Bispo, o Padre, o Pastor, O morador de rua, o mendigo,A meretriz, o bêbado, o drogado,O menor abandonado,O louco, o sem caráter,Enfim, todos os excluídos.Somos todos presunçosos,Gostamos do que enobrece,Daquilo que enternece,De tudo que envaidece,Pois, a miséria incomoda,Denigre, humilha e deprime.Quando falamos dos excluídos,Não queremos nos deleitarCom seus algozes e infortúnios,Nem zombar ou escarnecer deles.Na verdade, é um reconhecimentoDa nossa responsabilidade social,Nosso mea culpa por essa exclusão.

Roberto Vasco, 24/10/2010

VitóriaA beleza de teus canais,O encanto de tuas praias,E teus montes colossais,São tuas belezas naturais.

As luzes de tuas manhãsE teu entardecer singular,O mar calmo de tua baía,Não me canso de admirar.

Compõem a saborosa comida,As delícias dos frutos do mar.Tua gente forte, destemida, Cedo levanta e vai trabalhar.

Teu solo sagrado sempre afagaOs nobres pés que tocam teu piso.Oh vitória que me encanta,É meu recanto no paraíso.

Roberto Vasco, 17/05/2007

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Encantos de CamburiOh Praia de areias macias e douradas! Os raios de sol realçam sua graça e cor.As impetuosas ondas que avançam sobre suasIlhas, inundam suas fendas e as fazem cantar.A magia do seu canto revela os segredos do mar.De tarde, o nordeste chega com seu látego de areiaE açoita os incautos que ousam desafiá-lo.O céu azul nas tardes de verão contrasta com aAlvura das espumas que avançam sorrateiras.O mar beijando a areia, canta árias de amor, Qual musa que a poetas inebriados enternece.A brisa suave tremula suas castanheiras.Há um sussurro de voz no seu farfalhar.A rainha das águas de feições altaneirasÉ a imagem de mulher que emerge do mar.

Roberto Vasco, 22/01/2007

Nuances de CamburiO solo está morno no frescor da manhã,É um tapete dourado de cerda macia,O chão escaldante de que emana calor,São as areias tórridas ao sol do meio dia.

A calmaria indolente nas manhãs de outono,E o impetuoso Nordeste nas tardes de estio,São como plumas suaves que manhãs afagam,E pulsos fortes e rudes que tardes supliciam.

Turvas águas. Num descontentamento,Mares revoltos depuram essa imagem.Águas bem claras, em outro momento.

As castanheiras, purificadas no árduo vento,Ficam mais viçosas, com a troca da folhagem.Carpete de folhas caídas, para um novo tempo!

Roberto Vasco, 08/09/2006

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Amanhecer em CamburiO hálito praiano ainda conserva o frescor da madrugada. O clarear do céu se intensifica quase despercebido,Amanhece.Aos poucos, começa a emergir do maruma gema dourada de brilho suaveque se intensifica vagarosamente,a medida que a esfera amarelada se distancia da linha do horizonte.Sob o efeito dos raios do sol,Milhares de gotículas do orvalhose transformam num reluzente tapete de brilhantes,sobre a densa vegetação rasteira.A coloração do mar, outrora acinzentadoapresenta agora um azul esverdeadorefletindo o límpido céu sobre a superfície aplainada pela calmaria. A ausência de ondasconfere uma aparência lacustre.As gaivotas, em bando, vasculham a área a procura do seu primeiro alimento.A iluminação pública, há muito apagada,foi substituída pelas luzes da clara manhã.A quietude das horas calmas foi quebrada,e reina o barulho dos carros na avenida.Enfim, é dia,

Roberto Vasco, 06/09/2006

Entardecer em CamburiFinal de tarde. O impetuoso nordeste de julho que, ainda há pouco, açoitava com suas contínuasrajadas frias, começou a amainar até tornar-seuma brisa suave. O chão, acarpetado com as folhas avermelhadas desprendidas até entãodas castanheiras, misturadas com outras járessequidas, era como um tapete estendido a passagem dos transeuntes. O mar, outrora braviocom sua cor azul esverdeada, agora pareciaum felpudo tapete acinzentado. O céu, com seusmatizes índigo carmim já arrefecido em sualuminosidade, aos poucos mudava sua vivatonalidade. Era o crepúsculo que chegava,sorrateiro, anunciando serenamente que a noite se avizinhava. Aos poucos, a luz davalugar à penumbra que se instalava. Quandoentão o espetáculo vespertino se iniciava, asprimeiras aves noturnas ensaiavam seu vôotímido, a procura de alimentos. Logo após sevia, o tremular das luzes da iluminação públicaque já iniciava sua atividade, até brilharemcompletamente iluminando toda a orla. As luzes multicores dos anúncios se misturavam

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aos feixes amarelados produzidos pelos faróisdos automóveis que contrastavam com as buzinase os ruídos produzidos por seus motores.Enfim era noite.

Roberto Vasco, 20/06/2006

ViradaComo num passe de mágica, parou o vento.Na breve calmaria que se seguiu, o hálito praiano modificou-se ficando mais frio.Sorrateiramente uma brisa sudoeste sopravasuas primeiras rajadas frescas, prenunciando a mudança das condições atmosféricas. Aos poucos, a direção do vento foi mudando,até que prevaleceu um vento sul que, cada vez mais forte, soprava impetuoso e atrevido, penetrando gélido até o fundo da alma.As folhas das palmeiras, quais birutas naturais,mudaram de posição, indicando de onde partia a intensa massa de ar.As castanheiras, ainda há pouco mudas,começaram a se agitar continuamentee o farfalhar de sua folhagem, como um vozerio,parecia transmitir uma lúgubre mensagem.O mar outrora calmo, tornara-se revolto.As areias, em movimento, começaram aapagar os rastros dos caminhantes.Apesar de ser primavera, a promessa era de alguns dias com cara de inverno.Enfim, era a virada do tempo.

Roberto Vasco, 09/10/2010

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YemanjáYemanjá, Oh rainha do mar!Emerge das águas e caminha.Mulher faceira, de seio fecundo,A gerar os seus filhos orixás.Notáveis são as cores do seu manto.Jamais o povo a esquece e cantaA saudar: odoyiá, odoyiá,

Rainha das águas, deusa doAmor e de tudo que procria,Imaculada conceição queNa sua essência de vidaHabita, fecunda e povoaA espuma das ondas do mar. Diva e rainha que o pai Oxalá escolheu pra ser seu bem. Mulher plena de graça queA sua missão alcançou,Rainha do mar, odoyiá.

Roberto Vasco, 11/02/2007

Saga da yemanjá capixabaEu nasci branca, do intelecto do meu criador.Repousei num pedestal sobre um píer que avança,Mar adentro, margeando o canal, ladeado de ilhas.Fui vilipendiada, apedrejada, riscada e “pixada”,Finalmente, tive as mãos decepadas e roubadas.Como explicar esses atos de irracionalidade?Seria um ato de fé mal orientado de algum ignorante,tentando obter o descrédito e propor uma guerra santa?Seria uma reprovação aos praticantes de uma fé,acusando-os de idolatria por venerarem um pedaço de pe-dra?Seria uma falta de respeito ou zombaria a uma fé alheia?Será que temiam que as mãos estendidas, a derramar gra-ças,Lhes amaldiçoasse e trouxesse todas as desventuras?Será que gostariam que o retrato de sua mãe fosse rasgado, Pisoteado e sua memória submetida a ignomínias?Ou será que foi mesmo um bestial vandalismo?Se não lhes aprouvesse respeitar a fé alheia,Que respeitasse o monumento, patrimônio público,Custeado pelos contribuintes municipais.Renasci negra pelas mãos do mesmo artistaQue compreendeu que um ente espiritual Está acima dos conceitos humanos de cor.Alguns estranharam bastante e reprovaram. Colocaram lá até um quadro da Yemanjá branca,

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Conforme a figura convencionalmente conhecida.Sou sim, um monte de argamassa, pedra e tintaE também um ídolo inerte com figura humana,Mas, em verdade habito o coração do povo.Estou tão arraigada em sua mente criativaE tamanha é a força do sincretismo religiosoQue sou uma entidade da Umbanda e candomblé,Mãe dos orixás e fonte que propicia a vida,Com um status de santa cristã cultuada e querida.

Roberto Vasco, 27/02/2012

Doce loucuraBanhava-se ao sol da manhã. Sua tez caramelo,Fúlgido semblante, contemplava o verde mar,Arrebatada de si, no próprio universo paralelo,Os cabelos ao vento, cachos revoltos a voejar,

De sua alma transpirava o seu eu com doçura,Cantarolava baixinho simples canções ao léu, Externava sua mente só pra si, doce loucura. O sonho é tão doce quanto a realidade é cruel.

Só enxergam os normais o seu curto horizonte,Julgam loucura, o que os escapa à compreensão,Mas, os loucos, saciando-se em sua própria fonte,

Conseguem ver tudo à volta muito mais distante.Certamente, os loucos enxergam com o coração,Livres, sem medo, sem nexo, caminham adiante.

Roberto Vasco, 26/08/2011

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VazanteSegue, em seu ímpeto, a vazante,Opondo-se, rude, a fúria do vento,Drenando sempre, a cada instante,A massa líquida, o rio turbulento.

Intuitivas, como assim eu nunca vi,Pacientes, esperam garças famintas,Águas baixas, no canal de Camburi,Colher suas presas quase extintas.

Bravias, voejam, a marcar o terreno.Executam com classe nobre balé.Assim garantem seu repasto pleno.

Enquanto dure o ponto congruente,Urge desfrutar a condição da maré,No fim da vazante, inicia a enchente.

Roberto Vasco , 16/10/2011

Ciclo de vidaMorto um animal, em brutal acidenteCorpo sem vida é arrastado a um lado.Já cumpriu sua sina no mundo vivente.Terá nova sorte, seu corpo devorado.

Aberto o invólucro que o corpo enlaça, Urubus usam o faro e seguem o rastro.Ávidos, disputam uma necrosa carcaça,Sôfregos, devoram seu pútrido repasto.

É vida que se renova, não sabes tu?Vira alimento, um corpo que morre,“Morre a carniça pra bem do urubu”.

Digerida, a matéria em sangue virou,Ressuscita em novo fluxo que corre. Retorna na vida de quem devorou.

Roberto Vasco, 29/03/2009

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Faces da moedaEmpregado

Nessa vida muito lutei.Sem modéstia sou um bravo.O pouco que tenho é meu.Mereci cada centavo.

Construí ricos palácios,Mas no barraco vivi.Produzi roupas de marca,De molambos, me vesti.

Sofri duras provações,Mas, esmola eu não pedi,Comi pó que o vento soprou,Águas de chuva eu bebi.

Eu pareço ignorante,Mas, do meu, não abro mão.Faço questão do que é meu,Vim buscar o meu quinhão.

PatrãoNesta vida também lutei.Do céu, o maná não caiu.Com as unhas, a terra cavei.Das entranhas, o pão saiu.

O que tenho, também, é meu.Consegui, no calor da labuta.Mereci cada centavo,Também, nunca fugi da luta.

Passei noites sem dormir,Ardendo os miolos pra ver,Como fazer pra conseguir,Meu pão e o seu, defender.

Eu fiz jus a minha parte,Dela eu faço questão.Parte dela, vou investir eManter nosso ganha- pão.

Roberto Vasco, 18/05/2009

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Reféns da glóriaNão vale a pena ser o milionário,Em meio a fatos tão deploráveis,Sendo um prisioneiro voluntário,Um rico, num país de miseráveis.

Árdua rotina que bem sabe de cor,Entra num carro a prova de fuzil.Sobe no pedestal, pra ver melhor,A desgraça que a glória produziu.

A vítima de sua própria riquezaNão encontra um melhor lugarTem que habitar numa fortaleza.

Rei num palácio e, cativo tambémPrivado do que é mais elementar,Um pobre ricaço, da glória refém.

Roberto Vasco, 12/12/2010

Galhardia na misériaMiséria que incomoda e acanha,Avilta e esmaga a gente sofrida,Oprime o pobre com sua sanha,Um estorvo, um dedo na ferida.

Subjugam-no por razão maior,Exploram o seu corpo exangue.Seu pão é temperado com suorE o seu vinho é tinto de sangue.

Enfrenta o seu doloroso algoz,Suporta o escárnio e a pilhéria,O suplício cada vez mais feroz.

Destemido, luta com galhardia,Escavando a ganga da miséria,Tira o ouro do que não servia.

Roberto Vasco, 05/12/2010

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JulgamentosQuem julga a falha de alguémE que o persegue com frenesi,Não percebe que isso também É uma imagem refletida de si.

A bitola com que tudo mediu,Sempre o medirão nessa vida.Quem mede o outro é tão vilQue cabe nessa exata medida.

O erro de outrem que abominaE reprova com tanta ousadia,Também flui pela sua latrina.

Sórdida é sua mente malfazeja,Suja como a boca que injuria,Vã como a mão que apedreja,

Roberto Vasco, 11/12/2010

MeretrícioA exclusão que insulta e degrada,Indústria do pobre e da meretriz,É cegueira de quem não vê nada, O prêmio nefasto que nos condiz.

Vã escória que a miséria oferece,Ignomínia que a sociedade aceita,Compra uma serva pra sua messe,Rejeita o bagaço após a colheita.

Moeda social que o hipócrita paga,Enquanto justo, se auto-proclama,Deita-se, vil, com sua pútrida chaga.

Oculto na alcova, no trabalho servil.A puta e probo na cama e na lamaSão cuspe na cara de quem prostituiu.

Roberto Vasco, 05/12/2010

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Menor abandonadoDormia desabrigado, ao relento,Um triste habitante das calçadas,Esquecido sem tento nem alento,Expelido por vidas desajustadas.

Relegado aos desígnios da sorte,Amargava uma infância perdida.Da criança, em seu leito de morte, Nasce o adulto ruim, nossa ferida.

É descaso com um ente imaturo!O anjo que à margem caminha,É o demônio que está no futuro.

Para o mal trabalha à meia,Quem planta uma erva daninha;Depois colhe o joio que semeia.

Roberto Vasco, 12/12/2010

Poemas urbanos –IIAnchieta

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Aos anchietenses, carosconterrâneosSempre percebo Anchieta, não como uma relíquia, algo inerte e preso no passado, mas, como um relicário vivo que renasce a cada momento e pulsa no coração de seu povo.Temos uma profunda admiração pelo seu passado, sua cul-tura e sua história; cada um a seu modo, tem contribuído na preservação desse enorme patrimônio. Muitos até registraram na forma escrita, fatos e momentos solenes. Entre muitos, cito:- Um relato antigo “Cousas de Anchieta”, de Jose Gonçal-ves de Anchieta, ainda não publicado, - O livro “Anchieta cidade dos meus sonhos “( GONÇAL-VES, Emiliana. Anchieta: cidade dos sonhos. Vitória: [s.n.], 1996. 105, [5] p) e - Um antigo documento oculto numa das paredes do grupo escolar, acondicionado num garrafão de vidro, cuja segunda via foi zelosamente guardada por um dos então tabeliães da cidade que concebeu a brilhante idéia de documentar a inauguração dessa escola. Esse fato, bem como, algumas conseqüências da construção desse grupo, consta numa parte do poema “História fúne-bre”, escrito adiante na parte “Folclore Em Cordel”.Como uma cidade progressista, tem passado por vários ciclos econômicos ao longo dos tempos, como a Usina de açúcar de Jabaquara, a Ferrovia e a Navegação por cabo-tagem. Agora estamos diante de outro ciclo, com Usinas,

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Portos, Tratamento de gás e a iminência de novos grandes projetos que por certo impulsionarão seu desenvolvimen-to, que auguramos sejam ecologicamente corretos, pois, a destruição de ecossistemas tem produzido notórios desastres que se voltam sobre o próprio homem.Ao mencionar o relicário vivo, além das belezas naturais, não posso deixar de chamar atenção para os ecossistemas, como o rio, os manguezais, as restingas e os alagados, um imenso patrimônio ambiental, presentes que a natureza nos ofereceu e que temos o dever de preservar para que possamos passar aos nossos descendentes essa dádiva que recebemos. Se não assumirmos essa responsabilidade agora, corremos o risco de, no futuro, essas belas paisagens não passarem de doces miragens, só produzidas por nossas lembranças.Contemplando tudo isso, tentei traduzir em versos um pou-co de Anchieta, tudo que nela existe e como está presente em cada um de nós.Absolvam-me pelas licenças poéticas, pela falta da riqueza da rima e da rigidez da métrica, muitas vezes sacrificada em prol do conteúdo da mensagem.

Roberto Vasco , 18/11/2006

Tributo aos anchietensesOh! Anchietenses, tenazes guerreiros de nobre estirpeque jamais se deixam abater ante as vicissitudes e lutam até a derradeira gota de sangue por seus ideais.Oh! Ancestrais que outrora amaram com fervor sua terra até cruzarem os umbrais do reino do Senhor.Oh! Anchietenses domiciliados no seu próprio reinoque fizeram de baluarte a própria terra e galhardamentelutaram o bom combate , resistindo bravamentesem afastar-se nem mesmo por um nobre motivo.Oh! Anchietenses ausentes, por força da subsistência,pela glória do seu nome ou exercício de sacro ofício,que não suportam o peso do desterro e não pretendemacabar seus dias longe do seu chão. Então, cogitamde bem antes do último suspiro, beijar com veneraçãoo solo sagrado de sua querida terra.Oh! Anchietenses filhos do exílio, queamaram demais sua terra no amor de seus pais e em seu refúgio conheceram a paz de espírito.Oh! Novos anchietenses, filhos por adoção e sua prolegerada sob este céu, que emprestaram a força de seus braçospara o engrandecimento e a defesa de sua nobre causa.Oh! “Anchieta dos meus sonhos” conforme expressão demuitos dos seus filhos, exatamente assim ou com outras palavras,porque jamais conseguiram esquecê-la, por estar arraigadono fundo da alma, a sedução de suas belezas,

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como suas ensolaradas praias e o nordeste que agita suascastanheiras, que parecem sussurrar acalantos.São tantas, que nem se consegue enumerar.Oh! Anchieta, princesa de angelical sorriso,gosto de todos os sabores, lugar de todos os amorestemplo das mentes felizes, jardim de todos os matizes, delícias da vida, nosso pedacinho de paraíso.

Roberto Vasco, 12/05/2009

Ser anchietenseÉ amar seu solo eProfundas raízes,A profusa nuanceDe seus ricos matizes.

Do corpo a alma,Do berço ao túmulo,Viver, resistirNascer e morrer.

Venturas, desventuras,Doces amores,Saudades, alegriasRazão e paixão.

A pele e o sangue,O lar e a família.Um pé aquiOutro na estrada.

Voar bem distante,Mas, no fundo da menteAquietar-se um diaE voltar pra sua gente.

Roberto Vasco, 17/01/2010

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Anchieta relicário vivoO seu rio Benevente, Que tão vagaroso se esvaiInundando serenamenteSeus fecundos manguezais.

Nas matas de areias brancasVivem os pássaros a gorjear.As águas do Campo D’ÁguaO rio “Una” leva pro mar.

Das encostas de seus montes,Aparece linda paisagem.São cores do sol nascente,Como se fosse miragem.

A rica terra dos peixes,Camarões e mariscos, sem par,São dádivas da pródiga naturaQue ao povo quis ofertar.

Os barcos a vela à tarde Despontam ao longe no mar.As ondas sempre entoamSuave canção de ninar.

As praias de areias douradasSão tuas belas jóias reais,Com mil pedras adornadas,Cravejadas de rubros corais.

O suave Nordeste sussurra nas palhas dos coqueirais,E a brisa morna sopra Tremulando os castanhais.

O povo Conserva na mente,A memória dos ancestrais,E nas igrejas majestosasSuas pias batismais,

É perene guardião da históriaDe um passado distante,Pois, registra os dias de glória,Os revezes, mas, segue avante.

A Cidade tem rico folclore,Movimentos culturais,Antigas cantigas de roda,Teatro e canções sem iguais.

Prezam suas festas religiosasCom antigas procissões,Os seus tambores de CongoE jongos, simples canções.

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Seu povo feliz ostentaA beleza de seus carnavais,A alegria de seus foliões,E seus carros colossais.

Oh Anchieta que imperaNa mente desse povo audazQue vive de muita labutaE dos frutos que ela traz!

Oh relicário vivo,Em tudo que se recria!Sol que sempre renasceNo raiar de um novo dia.

Grandes plantas industriaisCrescem muito aceleradamente.Esperamos que respeitem a vidaE protejam o meio ambiente.

O povo aspira crescimentoE melhorar condições de vida.Desenvolvimento sustentável,É a meta a ser perseguida.

Os fecundos ecossistemas,Rios, restingas e mar,Alagados e manguezaisPrecisamos preservar.

Esse imenso patrimônio,Como dádiva pra esse lugar,Aos descendentes que virão,Temos o dever de passar.

Toda essa grande riqueza,Sem tratar de forma adequada,Pode um dia se transformar,Em história a ser contada.

Contemplando o passadoE tudo que vem de lá,Planejemos, no presente,O futuro que logo virá.

Oh Anchieta que imperaNa mente desse povo audazQue vive de muita labutaE dos frutos que ela traz.

Oh relicário vivoEm tudo que se recria!Sol que sempre renasceNo raiar de um novo dia.

Roberto Vasco, 18/11/2006

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Alfabeto anchietenseAnchieta, pedaço do paraíso, onde a Brisa morna que sopra do mar, agita os Coqueiros que entoam canção de ninar. Doce é a música do farfalhar das castanheiras, Enlevando e acalentando os sonhos, Falando de amor e enfeitando a vida.Garças no rio Benevente executam emHarmonia o seu majestoso balé. As belasIlhas, calmas praias e ricos manguezais, são o Jardim do Éden. O pródigo mar, oculta submersa, a Láurea coroa onde pululam crustáceos e mariscos. OMonte Urubu. Oh eterno guardião das planícies e lagoa de Maebá!Ninfas e Sereias, seduzem com seu cantoOs marujos, cujos encantos da magia faz Palpitar acelerado os corações apaixonados.Quem nunca ouviu a canção ritmada pelas ondas do mar?Rio acima, as ruínas do Salinas se revelam eSerenamente acolhem a quem deseja alcançá-las. Tortuoso é o trajeto do rio, irrigado por seus afluentes.Úmidas tornam-se as terras, quando o rio avança sobre aVárzea fertilizando-a. Voltam os barqueiros pra seusXodós que, em ânsias, estreitam-nos em seus braços, Zênite do mais louco prazer no momento de se amar.

Roberto Vasco, 21/10/2011

Noites anchietensesAh! Belos tempos de outrora,Suspira um tenaz caminhante.Ah! Minha vida, a doce auroraQue há muito ficou distante.

Mas quão vivo me parece tanto,Pois, que lúcido me aflora ao léu.O meu povo, em seu hábito santo,Comprazendo-se em olhar o céu,

Uma rara beleza se podia observar:No horizonte, o firmamento estreladoCavalgando sobre o dorso do mar,Um trote sereno, mas, cadenciado,

Nas noites de plenilúnio ao relento,Os iluminados flocos de puro algodão,Voando, majestosos, nas asas do vento,Brindando as cálidas noites de verão,

Quarto minguante, noites de encanto!Na penumbra um colorido mortiço.Sereias do mar entoavam seu canto,Seus signos ocultos, amores, feitiço.

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O novilúnio realçava na noite escuraO denso brilho de cada constelação.Apreciando aquela real formosura,Viam o céu, numa doce contemplação,

Miríades de estrelas eram brilhantes,Profusas, cintilantes, efervescentes,Em um passado não muito distanteNa magia das noites anchietenses.

Roberto Vasco, 04/07/2011

Noites de novilúnioDiante da cidade mal iluminada,Ando na areia das praias desertas.O negrume oprime, não se vê nada,Além das estrelas de luzes repletas.

No céu aberto, sem o clarão do luar,Cintila a Via Láctea tão exuberante.Espessas trevas servem para realçarO resplendor dessa nuvem brilhante.

Não há luz, mas, é bela a escuridão.Permuta-se um medo desalentado,Na magia da fugaz contemplação.

Não há mais o mal nem infortúnio,Só o lume de um manto estrelado, No regaço das noites de novilúnio.

Roberto Vasco, 13/03/2011

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Praias Guanabara! Praia das ondas bravias,Imponentes em contínuo movimento,Agradas aos visitantes a quem delicias,No forte sopro de um impetuoso vento.

És dos náufragos a perene memória,Da natureza, é precioso santuário,És a eterna guardiã de fatídica história,Dos seres do mar, é um rico berçário.

Castelhanos! Ao sussurro da brisaTuas ondas espargem a espuma,O tempo para, o sonho eternizaAcalentado na alvura da bruma

Boca da Baleia! És repouso, calmaria,Voz do silêncio, quietude e acalanto.O gorjeio de tuas aves em sinfoniaÉ dádiva divina que brinda o recanto.

Praia de Anchieta! Cativante poema,Um raro prazer que a beleza revela.Voltam barqueiros, alegria extrema,Na espera ansiosa dos barcos a vela.

Sopra o nordeste sua forte ventaniaE às castanheiras, ensina farfalhar,Esparge ao léu o aroma da maresia.Marolas cochicham coisas do mar.

Quitiba! Seu bucolismo é sem par,Águas calmas, serenidade, quietudeIntrospecção; um convite a meditar,A recordar, a eternizar a juventude.

Coqueiro! penhasco, forte muralha;Areias douradas acalentam os casais, Resistes ao tempo e à rude fornalha.És signo de vida e belezas naturais.

A praia das conchas multicoloridasQue se mostram, ao secar do remanso,Cumpriram a sina em épocas vividas,Jazem, agora, em seu nobre descanso.

Balanço! Um misto de praia e jardim,De Orquídeas, Bromélias e Gravatás,Um Éden permeado de vida sem fim.Cremos que, no futuro, ainda existirás.

Sossego e calma, tudo que se almeja.Frondosos arvoredos, sombra amiga,Protejamos a fonte da paz benfazeja, Pedaço do céu que um sonho abriga.

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Dourada e adornada, cativante e bela,Mosaico de conchas que ao sol cintila,Recanto de céu onde a vida se revela,Cálidas areias da exuberante Marvila.

Roberto Vasco, 18/10/2011

FlamboyantAh! Flamboyant, nosso eterno confidente,O rei dos alcoviteiros que abençoava os casaisSempre abrigados pela sua copa flamejante.

Se esse velho arvoredo falasse tudo que assistiu!Intensas juras de amor, trocadas entre os casais,Não seriam muitos os excluídos da enorme lista.Galanteadores tentando impressionar as namoradasE, sofregamente, recebendo seus beijos apaixonados.Lindas histórias de amor retidas nas malhas do tempo,Sublimes romances escritos nos lenços com batom, Sigilosamente guardados na oculta arca da mente.

Ah! Se pudéssemos revolver tão ocultos pertences!Mexer na silenciosa memória dessa árvore da vida,O mais completo arquivo de amor de nossa história,Reencontraríamos conosco mesmo em meio a tantosE nos veríamos sentados e eternamente enamorados,Sempre abrigados sob a copa do nosso flamboyant.Quem viu, viu. Quem não viu jamais veráPois o nosso flamboyant sumiu.

Roberto Vasco, 24/03/2010

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CastanheirasCastanheiras inesquecíveis que sobressaem na paisagem,Árvores de largas copas, raízes proeminentes e densa folha-gem,Suas folhas caem sob a força do impetuoso ventoTanto o nordeste predominante, como o sul ocasional.Ah! Recanto sublime dos casais apaixonados,Namorando na penumbra sob a tua confidência. Há um toque de magia que convida os transeuntes a pararE desfrutar da irresistível brisa marinha sob tuas sombras.Indiscretos repórteres se acomodam nos robustos bancos de madeira,Remexendo a vida alheia e propagando as notícias em joco-sas resenhas.Aqui se desenterram os mortos e enterram os vivos, confor-me diziam.Singelos monumentos, eleitos pelo povo como patrimônio sócio-cultural.

Roberto Vasco, 29/03/2010

Ponte velhaEm mil novecentos e cinquenta e quatro,Um marco importante de nossa história,Nasce uma ponte e nesse presságio atro,Perdem os navios os seus dias de glória,

Balsas e catraias, nunca mais alguém viu.Foram-se os navios pra outras paragens,Ajustou-se o comércio a seu novo perfil,Adaptou-se a cidade às novas paisagens.

Mas tudo é efêmero no curso dessa vida.Após longo serviço, cumprindo sua sina,Nova ponte, ao seu lado, já foi construída.

Da ponte velha ainda restam os pilaresE ninguém fechou sobre eles a cortina,Sempre estarão em seus velhos lugares.

Roberto Vasco, 27/08/2010

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SaveirosToscos barquinhos singram o marImpulsionados pela força do vento.Neles barqueiros precisam pescarE com sorte garantir seu sustento.

Fixam a bombordo a ponta da vela.Na popa, pegam o leme com mestria,Pois, a boreste o vento forte atropela,Trabalho dobrado devido à ventania.

Rara beleza pra quem vê, da praia,Velas que despontam no horizonte.Voltar bem antes que a tarde caia,

Passar no mercado, o peixe vender,Tomar um gole no boteco da ponte,Voltar pros braços do bem-querer.

Roberto Vasco, 27/03/2010

Morro da igrejaA igreja dominando o ambiente,Arquitetura do século dezesseis .Destacando sua torre imponente,Um sacro castelo digno de reis,

Assentados num maciço granito,Brotam os pilares monumentais,Espessas paredes, algo bonito,Desenhos de aspectos originais.

No pátio centenária castanheira,Monumento ao padre fundador,E a palmeira imperial altaneira

Que, há tempos atrás ali existiu,Patrimônio natural de alto valor,Arrancaram, ninguém mais a viu.

Roberto Vasco, 22/03/2010

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Campo santoNo alto do morro um tanto isolado,Futura moradia, em quietude total,Nosso derradeiro metro quadrado,Habitaremos, então, o edifício final.

Aqui, o nobre nunca mais impera,O orgulho aqui já não vale mais,Pois, sob os sete palmos de terra,Finalmente, somos todos iguais.

Não é só um apêndice da cidadeDos homens que moram ao lado,Mas, onde termina toda vaidade.

Pois o que está atrás desse muroÉ tudo que nos resta do passado,É tudo que nos reserva o futuro.

Roberto Vasco, 05/04/2010

AssunçãoQuem sois vós oh forasteiros!Que dizeis possuir a verdadeDe um passado obscuro,Pecando pela vaidade.

Despojastes a nobre assunção, De sua bela couraça,Deixando desnudo seu corpo,Somente em bruta carcaça.

Não profaneis nosso templo,Nem os túmulos ao seu redor,Não furteis a paz aos mortos,Nem mudeis o altar mor.

Envilecestes o nobre trabalhoDe anônimos artistas natos.Desprezastes grandes talentos,Dizimastes cultura de fato.

Mudastes o curso da história Em nome de qual verdade?Conheceis, acaso, as memórias Do povo dessa cidade?

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Essa não é mais a igrejaDo tempo de nossos pais.Roubastes nossas lembranças;O que foi não será jamais.

Roberto Vasco, 13/09/99

MandocaManguezal precioso,Rico berçário,Maravilha terrena,Nobre santuário,Explosão de vida,Eco-sistema,Jóia escondidaDas mãos sujas, de quemSempre trata com desdémEsse rico tesouro,Oferta da natura,Que pede socorroPra não morrer no descaso.Pois que morto não mataA fome do povo.O que está no futuro,Tardiamente saberemos.Não queremos perecer,Então, preservemos.

Roberto Vasco, 17/01/2010

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RestingaCadê o solo de areias brancas que outrora se viaE as árvores frondosas, próprias da região?Cadê o perfume da mata que o vento espargiaE os pássaros alegres que vinham gorjear?Onde estão as almecegueiras, aroeiras e camarás?Cadê a murtinha, pitanga, cardos e araçás? Onde está a folhagem rendada dos coqueiros? Cadê as palmeiras de coco indaiá? Já não se ouve o sussurro da brisa,Nem o canto das árvores com seu farfalhar.Não se vê a beleza das flores silvestres,Nem se provam dos frutos de lá.Cadê a restinga? A restinga sumiu!

Roberto Vasco, 23/01/2010

DesolaçãoDesolação. Apático, o povo chora.O Coimbra há muito se exaurira,Não flui, generoso, como outrora,Mas goteja o que a noite transpira.

A inconsciência gerou seus custos.Oxalá ainda haja uma esperança.Incautos, dizimaram os recursosSobrou apenas a doce lembrança.

A fonte São Martinho, murmurante,Serpenteava no seu leito de granito.As lavadeiras entoavam seu canto.

Hoje, pedras num deserto causticante.Um silêncio dolorido sufoca o gritoDe desespero pelo que virá adiante.

Roberto Vasco, 04/08/2013

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ApocalipseVejo a selva de pedra, ruidosa e desordenadaE os pássaros de ferro sobrevoando apressados.Vejo monstros de aço, com seu hálito peçonhento,Que avançam sobre tudo, rugindo seu canto de guerra.Vejo homens sem alento, famintos ao redor da mesa.Sobre ela há um prato, cheio de moedas de ouro,Que enchem os olhos, mas estraçalham as entranhas.Há um filete de água onde outrora fora um rio,Uma fila de latas que foram de óleo, hoje vasilhas.São as míseras migalhas da pseudo benevolência.Gente, com sede penando, na longa fila da água,Mas seus copos estão sujos ou cheios de óleo,Pois os monstros de aço, sempre têm preferência.Vejo monstros, os quatro cavaleiros, (Apo 6.2-7) subjugando seus servos com prepotênciaE esses, mortos de medo, clamando por clemência.E eles para não esmagá-los exigem total subserviência.Vejo andróides apressados buscando a perfeiçãoE toda a gente faminta consumindo ração.Vejo gente aprisionada nas correntes da ilusãoE os andróides perecendo, tragados pela ambição.Sinto a terra fender, ouço tremenda explosãoQue, por sorte, despertou todo mundo do pesadelo.Acordados, perceberam que talvez ainda haja tempoDe fazer alguma coisa para continuar vivendo.

Roberto Vasco, 23/01/2010

São MartinhoCélebre Fonte,Aqui se lava de tudo,Até roupa suja. Aqui se confessa,Se faz penitência.É o jornal falado,Voz da cidade.Aqui se malha, Sem dó nem piedade,A quem muito mereceE não merece também.Mas, nesse mundo,Nada é perene,Sempre se acaba.Por mais que dure,Sempre tem um final.A cidade cresceu, A água acabou, A fonte secou, O povo emudeceu.Dela só resta a lembrança,Um símbolo na história,Que no tempo se perdeu.

Roberto Vasco, 17/01/2010

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Lenda do coimbraOh! Pobre mulher, gestante da vida,Paciente espera uma água que gotejaDa bica escassa totalmente exaurida.Na secura agoniza a fonte benfazeja.

Nas dores do parto, um ventre revolto. O tempo se esvaiu, tudo consumou-se,Urge então amparar seu rebento solto.Bendita parteira que um acaso trouxe!

Lugar conhecido, marcado pelo fato,Assim, o destino atrelou sua história, Cedeu-lhe o nome o ente recém nato.

Coimbra seus nomes até hoje perdura,Conserva o povo em perene memóriaO homem e a fonte, irmãos de natura.

Roberto Vasco, 19/01/2010

Vozes do beneventeSeja no alvorecer ou às luzes do sol poente,No frescor das noites ou ao sol do meio dia,Ouvem-se a sinfonia, vozes do Benevente.Singelos instrumentos executam a melodia.

Ouvem-se vários sons na noite não calada:O vento que agita a folhagem no mangue,Grilos e outros cantam até de madrugada,Guincham morcegos a procura de sangue.

Periquitos do Mandoca inundam as árvores.Tagarelas, chilreiam todos ao mesmo tempo.Fazem arruaça, brigam, ameaçam seus pares,Como se discutissem a partilha do alimento.

Ouço e identifico um cadenciado trinado.Oculto na folhagem o maestro Bem-te-vi,Repetia suas notas, cada vez mais refinado, Tentando musicar os versos que eu escrevi.

Ao murmúrio da brisa, garças exuberantes, Umas sobre tocos, equilibradas num só pé,Outras a voejar em graciosos vôos rasantesExecutavam magistralmente um belo balé.

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Um caburé piava insistente ao findar o dia.Convidando os intrusos a retirarem-se dali,Pois a noite se avizinhava e nada se veria,E repetia seu pio de alerta: pi- pi- pi- pi- pi.

Percebem-se tambem quando há quietude,A voz do silêncio, um som não produzido:Qual surdo clamor de elevada magnitude,Infactíveis vibrações que zoam no ouvido.

A voz do vento varia em tons e intensidade.As marolas do rio geram som intermitente.O eco ribeirinho confirma o som de verdade.Executam a sinfonia: Vozes do Benevente

Roberto Vasco, 25/06/2012

Águas e águas Água de lavar,Água de cozinhar,Água de beber.Poço da Penha,Poço dos Padres,Chico Pedreiro,Poço dos Reis,Caxambu e “Mesqueira”.Fonte São Martinho,Famoso Coimbra,Água pra tudo,Cada poço oferece.Intermináveis trajetosDe idas e vindas.De tantas carênciasO povo padece,Mas sempre tem féE jamais esmorece.Pesca, Lava roupa,Faz lenha, busca águaEm poços ou cacimbas.O povo tem sede,Algoz do estio.O Coimbra goteja,A espera é louca,A água é pouca,

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A fila cresce,A paciência acaba,Mas, a sede é imensa.João enfrenta a fila,Exausto cochila.Leva tempo,Mas, a água aparece.Enfim saciado O povo agradece.

Roberto Vasco, 17/01/2010

Água encanadaÁgua do céu nas entranhas da terraFluido divino, precioso alimentoVida perene que seu ventre encerra,Busquemos, no poço, nosso sustento.

Alegria! Há, em casa, água encanada!Que ótimo! Mas, que água amarela!Valerá à pena, diz a crença forçada,É mal da vista que a mente cancela,

Água corrente, mas, ainda in natura. Urge conseguir introduzir, na rotina,Água tratada, salubre e mais segura.

Teremos água, do estio à primavera!Que luxo! Agora, sim, água cristalina,Tão límpida quanto a mente quisera.

Roberto Vasco, 14/11/2010

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Luz da cidadeÉ tempo de inverno, Os dias são curtosE a noite se avizinha, Urge acender a caldeira.Dezoito horas, tudo pronto,Ligam-se o gerador E a cidade tem luz.Chegou a modernidade!A caldeira está obsoleta,O gerador agora é a diesel,Mas, o que importa é a luz,Ruas iluminadas afinal.É tarde, está quase na hora, Piscou, é o primeiro sinal. Rápido, ao caminho de casa,É noite escura, é lua nova,Vai ser difícil caminhar sem luz.Piscou de novo, segundo sinal, Rápido, apertem-se os passos,Não haverá nenhum terceiro,Andar-se-á em escuridão total.A luz apagou, que espesso breu!Que sorte, chegamos! Feliz abrigo!Tênue luz dos lampiões, aconchego.Tudo calmo, sem barulho nem agito,A cidade dorme, desanca a ambição,

É o sono dos justos, paz no coração.Outros tempos. Oh! Modernidade veloz!Alem dos olhos que clamam por luz,Máquinas exigem força, diuturnamente. Modernas ficaram as lâmpadas elétricas E a praticidade de seus interruptores.Aposentaram-se, lamparinas, ferro à brasas,E até as românticas luzes dos lampiões,Mas vez por outra ocorre um apagão E o charme de jantar a luz de velas.

Roberto Vasco, 11/11/2010

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Garças do beneventeAlvas plumas sulcando o ar,Encantando a vista da gente,Bem gracioso é seu voejar,São as garças do Benevente.

De suas asas um surdo ruflar,Presença sempre imponente,Nas praias do bucólico lugar,Águas calmas do Benevente,

Planando no ar, ao sol poente,Quão majestoso é seu revoarSobre as águas do Benevente.

Da natura, um nobre presente,Brinde à vida, beleza sem parSão, as garças do Benevente.

Roberto Vasco, 05/10/2008

ChoupanaPobre casebre coberto de palha,Parede de estuque e chão batido,Proteção para noite que orvalha,Sagrado asilo do povo oprimido.

Ali habitava toda paz e alegria,Ventura de pobreza disfarçada.O pouco que Deus dava servia,No pobre mocambo sem nada .

A palha que lhes servia de tetoE o barro socado do rude chãoAbrigavam o humilde arquiteto,

Sua sina, sua prole e seu valor.Casa pequena, grande coração!Ali certamente morava o amor,

Roberto Vasco, 29/03/2010

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Algozes da escassezLançavam-se as redes, incerta loteria!Fiapo de esperança, suas redes encher. Estavam sem sorte, o peixe se escondia, Luta inglória, até quase ao entardecer.

Mariscos, siris, moluscos e uma estrelaApareciam, à medida que era recolhida.Puxada toda rede, revoltam-se ao vê-la,Cheia de lixo, nada de peixe, que vida!

Não desistiam, esperavam por sua vez,Imperiosa era a luta, precisavam viver.Como sofriam nos algozes da escassez!

Após muitos lances, mudanças de lugar,Miseras migalhas, pelo menos pra comer.Amanhã Deus ajuda, tudo vai melhorar.

Roberto Vasco, 19/03/2010

MivaleAcre tormento de uma noite insone,Cruenta história que sabe de cor;Ter que enfrentar o drama da fome,Luta inglória, vil derrame de suor,

Amargor da pesca mal sucedida,Trabalho perdido, árdua jornada,Permanecia aberta a antiga ferida,Porém, pouco é melhor que nada.

Peixes miúdos! Repetem a lástima,Secos ao sol, cáustico como a vidaE salgado na salmoura da lágrima,Sôfregos, devoravam a única saída.

Com seu escasso e lânguido maná,Feito de sol, sal e dos frutos do marSente-se feliz com o que Deus dá.É o que me vale, diz sem reclamar.

No entanto, ainda é o que me valem,Dizia num canto que quase entoouSábias palavras, dignas que se falemMe vale, mi vale e mivale se tornou.

Roberto Vasco, 14/02/2012

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Látego da miséria O látego da miséria que aflige a alma,Num rude suplício o corpo degrada, Dor pungente que jamais se acalma,Chaga da indiferença, rude espada.

Humilhante é a fome que sempre açoita,Insulta e denigre a dignidade humana.Rígida é a fibra dessa gente, que afoita,Em luta aguerrida, se mostra soberana.

Enrijecido na forja da sua dura vida,Nunca saberá o que é ter bem-estar,Paciente, suporta sua dor reprimida.

Duro, é suportar a falta de um alimentoMas, não chora miséria, decide lutar,Não foge da raia, provê seu sustento.

Roberto Vasco, 26/03/2010

Tempos de farturaFinda a penúria, enfim, a farta pescaria.Bons peixes: Tainha, roncador e corvina!Tempos de fartura, agora a sorte sorria!Esperar, perseverança que a vida ensina.

Redes ao mar! São momentos de euforia!Árdua tarefa, a de recolher um pescado.Com toda a facilidade a rede se enchia,Valeu a canseira, esforço recompensado.

Cestos repletos, recolhidos ao entardecer!Abundância, Garantia do nosso alimento,Felicidade! Vai dar para comer e vender.

Sem privações, sabem que a sorte muda,Pois, que na árdua batalha pelo sustento,A quem tem fé e duro trabalha Deus ajuda.

Roberto Vasco, 20/03/2010

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Mau tempoÉ vento sul, ninguém sai ao mar!Fazer fieira é uma necessidade.É arriscado, não se pode pescar,Costurar velas, outra atividade.

Postes fincados a boa distância,Linhas estendidas, bem torcidas,Trifólio provido de reentrância,Cem braças de fieira produzida.

No solo, rotas e úmidas velas,Primeiro devem secar ao vento,Pra depois, costurar as tabelas.

Organizar e recolher material,Tudo pronto, é mais um alento.Amanhã iremos ao mar, afinal.

Roberto Vasco, 20/03/2010

Rio beneventeAs nuvens cavalgam no dorso dos montes:Negros pilares que sustêm o firmamento.Céu e terra faceiam na linha do horizonte.Todos os seres suspiram de contentamento.

Avança o rio pela várzea outrora vazia,Capta restos de roçado, vegetais mortos.Segue seu curso em aparente calmaria,Fluem as correntes por caminhos tortos.

Quando o mar bloqueia e a viagem atrasa,O rio descansa, adentrando os manguezais,Que alegres os recebe em sua grande casa.

Em calmaria propícia e profuso alimento,Os peixes procriam nos recônditos canais,As matas e o mangue provêm seu sustento.

Roberto Vasco, 25/06/2012

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Estação das chuvasFérteis campos, pródiga é a natura.Nos alagados, pululam as espécies,Dádiva da terra, tempos de fartura,Água do céu que o solo enriquece.

Explosão de vida, ao longo da restinga,Pastos verdejantes, campos floridos,Águas alcalinas dos poços de batinga,Viço da relva, para deleite dos sentidos.

A natura nos presenteia sutis artimanhas,O pródigo Olho d’água, torrente infinda.O fluido de vida das fecundas entranhas

Jorra do Coimbra, com toda a exuberância.A estação das chuvas é sempre bem-vinda,Fartura de água, tempos de abundância.

Roberto Vasco, 19/03/2010

Princesa de aço Eram belos os tempos distantes,Oh princesa de belezas repleta!Juntos, como eternos amantes,Tu minha musa, eu teu poeta.

Acolhias-me em tua paz antiga,No regaço do teu cálido seio,Aos afagos de tua mão amiga.Amava-te sem nenhum receio.

Hoje, em dia de progresso, ávida,Segues avante, com desembaraço.Surges rígida, lépida, impávida,Bela e reluzente princesa de aço.

Observo-te atônito e pasmo.Vejo-te rápida e fervilhante.Não desejo a ti o marasmo,Mas, viva, em futuro distante.

Sempre foste o emblema do porvir.Não pretendo só no ocaso da vida,Fazer de ti minha rede de dormir,Esperando o momento da partida.

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Da trombeta percebo o clamor,Sou o fi el soldado, assim penso,Empunho a espada com ardor,Vou avante, luto por ti e venço.

Não faças caso das vis lamúrias,Dos pesares de um poeta louco,Nem das bobas queixas espúrias,Mas, do amor não me faças pouco.

A glória é teu nobre pendor,Louvo-te oh belo estandarte,Quero expressar meu amor,Em meus versos eternizar-te.

Roberto Vasco, 07/07/2011Folclore em cordel

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Remédio caseiroTriste fado, um povo sem alento. Alastra a moléstia uma epidemia. Pobre vilarejo sem medicamento,Em luta inglória um povo morria.

Um homem bastante esclarecidoUtilizava, com muita imaginação,Peça de cobre, ao rubro aquecido,Resfriada na água, eficaz poção.

Para os doutos da ciência é toliceUm remédio caseiro, superstição.É deslavada mentira de quem disse,Mas, ao povo desvalido uma opção.

Remédio, mandinga ou simpatia?Mas, o que importava era a cura.O melhor era que a coisa servia,E, além de tudo, era muito segura.

Roberto Vasco, 10/01/2010.

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O morto vivoHomem inerte. O mal, já evoluía,Em cada crise mais tempo passavaNum estado de mórbida Letargia.Durante seis meses já era a oitava.

Enrijecido e pálido seu corpo jazia.Milagre ali ninguém mais esperava.Corroído em inexorável catalepsia,Brandia-lhe a sorte sua rude clava.

Esse morreu! Ninguém mais duvida.Colhem-se flores, compram ataúde,Buscam aguardente, velas e comida,Vão “beber ao defunto” e sua ex-saúde,

Abrindo seus olhos, avistou a capela.Ao ver luz de velas e odores de flor,Berrou alto, atracou-se à sentinela E o pobre vigia borrou-se de pavor.

Roberto Vasco, 02/11/2010

Xaréu na redeEm nosso estado, ao litoral sul,Local que me abstenho de citar,Na bela costa, mar de puro azul,O sustento da vida era do mar.

Da pesca, só viviam com bravura,Não se abatiam no furor da luta.Alternavam-se escassez e fartura,A fatídica e constante permuta,

Nossos peixes sumiram daqui!Cadê a Tainha, Corvina e Xaréu?Comamos mariscos, sururu e siriE apelemos à compaixão do céu.

Façamos com fé a nossa novena,Estendamos nossas redes ao mar.Quem sabe, o céu nós tenha penaE faça, desta vez, a penúria acabar.

Rezava-se missa, combate ao azar.Da porta, soa o grito, Xaréu na rede!Ávidos, saem todos a rede puxarE o padre a falar às quatro paredes.

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Tornou-se chacota, o jocoso episódio,Espalhado que foi pela redondeza. Mexiam, os estranhos, causando ódioE eles xingavam com toda aspereza.

Com a desgraça, não se pode brincar,Porque escarnecem de nossa gente?Coloquemos a todos no devido lugar,Apedrejemos essa turba insolente.

Roberto Vasco, 17/10/2011

Incêndio e bênção com um machadoPobres choupanas que o fogo consome,Voando nas asas do impetuoso vento.Infeliz infortúnio, uma praga sem nome,Rápido, destrói, esse monstro sedento.

Passa fogo maligno que tudo arrasa,Filho do mal, se tu vens mandado,Segue teu caminho, poupa minha casa.Eu sou filho de Deus, “cristão batizado”.

Se destróis as choupanas por estar fadadoE minha pobre casa o teu curso atrapalha,Abrirei teu caminho a golpes de machado,Não queimes aqui nem mesmo uma palha.

Como se entendesse linguagem tal,Atendendo o clamor daquele instante,Contornou a casa, como que por canal O fogo passou, queimou tudo adiante.

Roberto Vasco, 23/11/2011

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Maria fumaçaEstridente apito, toque de sino,Espessos rolos de negro fumo.Lá vem a Maria fumaça!Traz, nas rodas, o progresso, Mas, no bojo de sua caldeira,Vem escondido, o infortúnio.Mil faíscas foram expelidas,Fatídicos incêndios ocorridos.Queimou-se uma casa de palha.Auxiliado pelo impetuoso vento,Rapidamente o fogo se espalha.A máquina traz as riquezas,O povo fica todo contente,Mas, acontecem acidentes,As alegrias viram tristezas.Tudo faz parte do processo,Misto de ventura e desgraça,O preço que cobra o progresso.La vem a Maria fumaça!

Roberto Vasco, 28/11/2011

FeiticeiroContatando o mundo do além,Tentava ser útil a comunidade.Era homem bem fraco também,Não estava isento da maldade.

Indo ao cárcere por um litígio, Inconformado com sua prisão,Sairia sim, sem deixar vestígio,Fuga sem a lógica explicação.

Mais do que pelo próprio erroE a culpa que o peito consumia,Mais penoso era o seu desterro,Do destino a mais pura ironia.

Procurado e perseguido, enfim,Depois de ser quase alcançado,Camuflou-se em casa de cupim,Iludindo o estupefato soldado,

Vil trapaça, estória descabida, Embuste pactuado com mestria,Graça de bom grado concedida,Paga pelos favores que o devia.

Roberto Vasco, 02/04/2010

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História fúnebre O século dezenove terminava,Triste fado, grave epidemiaA vila de Benevente assolava;Sem recursos o povo morria.

O cemitério, a igreja ladeava, Ínfimo campo assaz saturado.Cova ninguém mais pleiteava.Não cabia mais um enterrado.

Expandir, ninguém cogitava,Pois, não ajudava a topografia.No entorno a rocha atrapalhava.Medida urgente, então, carecia.

Mas, a oitenta braças a frente, Num escasso pedaço de terra,Mesmo sem espaço suficiente,Sem opção, por lá se enterra.

Eram muitos os que morriam,Com tal doença, contagiados.As covas profundas serviamA sete cadáveres empilhados.

Proveu-se então concomitante,Novo espaço em outro lugar,Embora fosse mais distante,Pra novo campo santo, alocar.

A história não pôde terminar.Mais de vinte anos a frente,Nas obras do grupo escolar,Abriram as covas, por acidente.

Uns operários ficaram doentes,Acabaram piorando e morrendoPara a tristeza dos seus parentes.E duramente o povo aprendendo.

No atual cemitério foram, então,Os novos cadáveres Enterrados,Mas foi feita a devida marcação,Sendo os caixões em aço zincado.

Separaram as covas. que coragem! Nos fundos! Contra, quem seria?Plantaram vermelha folhagem.Cova, ali ninguém mais abriria.

Do antigo cemitério, nada se sabe.No implacável tempo, foi apagado.Apenas um portão que jamais se abre,Sob um muro dos fundos, soterrado.

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Numa das paredes do grupo escolar,Há documento formalmente redigido,Relatando a construção nesse lugar,Protegido em um garrafão de vidro.

Roberto Vasco, 08/10/2008

Loucura e abandonoClamava seu eu por um pouco de atenção,Em obséquios infactíveis, Ilusões perdidas. Misérias da vida, impostas sem compaixão,Corroíam a mente em idéias enlouquecidas,

Sempre revoltada, vinga-se constantemente.É um vendaval turbulento, jamais se acalma.Ataca os transeuntes, algozes de sua mente,Com um látego de injúrias. Fere- lhes a alma.

O Pacto de silêncio em sua sanha doentiaCativa no seu mundo das épocas passadas,Mascarando agruras que nem mais sentia.

Morte certa no abandono, num triste fado,Vivendo errante às margens das estradas.Cadáver insepulto, pelos corvos, devorado.

Roberto Vasco, 23/10/2010

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Lucidez e torporTrabalhava por morada de favor,Por trapos e por prato de comida.Alternava entre lucidez e torpor, Oscilava, a sua mente combalida.

Delírios em momentos de loucura,Desafetos escondidos nas estrelas,Uma banana, a essa corja impuraQue pressentia, mesmo sem vê-la.

Cantava sua preferida modinhaJunto ao poço, de água cristalinaAo sabor da paixão que mantinha.Relembrava o seu amor Rosalina.

Pensativo, remoia perdidas ilusões.No colo, um gato, seu único amigo,Partilhava suas mútuas solidõesDoces memórias do mundo antigo.

Guarda seu gato, parceiro de ceias,Rotos trapos, cabelo em desalinho,Travessa às costas, vasilhas cheias,Segue a rotina no mesmo caminho.

Roberto Vasco, 30/10/2010

Razão de viverAlma boníssima que sofria“Num macio e suave langor”,Risos passados, falsa alegria,Razão de viver, o doce amor.

Na garrafa e boneca de fumo,Os algozes, pesados grilhões.Vivia, sem prumo nem rumo.O terço a consolava, nas orações.

“Lá encima daquele ranchinho”,Desfalecida, num rude torpor“Lá na beira de um caminho”,

O fogo, como o que ardia em sua alma,“A saudade do primeiro amor”Consumiu seus restos, com triste calma.

Roberto Vasco, 17/10/2010

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Diamante Nobre pedra, ao sol, resplandecia.Rolava livre na fonte da ilusão,Impelida pelas forças da magia,Sedutores grilhões da ambição.

Brilhando, perturbou-lhe a mente.Trêmula, solta um grito de pavor,Solta a pedra, no ar num repente,Num conjuro, rechaça seu valor.

Um batismo com sangue, exigia,Artifício pra quebrar o encanto,Crença popular, antiga simpatia.

Mas, vacila ante tal compromissoTemente a um terrível quebranto,O poder maligno daquele feitiço.

Roberto Vasco, 31/08/2010

CabotagemVamos aportar, firmem as defensas,Lancem as cordas de proa e de popa,Amarrem firmes aos cabrestantes, Arriem as rampas a bombordo,Que a chata vai encostar a boreste.Vai, rápido, seu João chamar o seu PedroE quem mais encontrar da estiva. O armazém vai abrir suas portas,Coloquem as cargas pra dentro, Depois varram todo o convés,Que a nova carga já vem.Rio abaixo, vem descendo a chata,Suave, desliza a grande barcaçaTrazendo o feijão, milho e batata.Aí vem café, açúcar, cachaçaE muita madeira pra costado.O barco é de grande calado,Precisamos zarpar na preamar,Pra sair com o barco carregado.La fora, se avista o Santelmo,Ancorado fora da barra,Espera tambem o favor da maréE abrir uma vaga no cais.O “Porto de Cima” já está lotado,Mas, sempre algum barco é esperado.Vêm chegando o Santa Maria e o Natal

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E depois de amanhã, vai chegar o Ideal,Só o Friburgo não se espera no cais,Nem pra hoje nem nunca mais.No fundo do mar decidiu ficar.Pra navio, digno sepulcro é o mar.E o Betí que na barra do Rio Doce,Abatido pelas ondas, desintegrou-se.Cantam marujos, na saudade que assolaE assim, o Betí virou moda de viola.

Roberto Vasco, 04/12/2011

PerdiçãoMais uma vez, tudo se repete,Sai o marujo que volta pro mar,Pra garantir o sustento.É preciso navegar,Mercadores da vida em ação.Trabalho, amores e aventuras,Bebida, mulher e canção.O próximo porto é a Barra,A marujada fica assanhadaCertamente terá muita farra.Vai todo mundo, vai seu João.A turma espera boa seresta.Levam seu boné, cachimbo e violão.Pra Maria que ficou em terra,Dose dupla de preocupação,Ver seu homem fora de alcance,Solto, no antro de perdição.

Roberto Vasco, 05/12/2011

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A cama que chorava Há muito que ando sem jeitoPra poder entrar na questão,Sobre a cama, algo perfeitoQue agora causa apreensão.

Eu sou grato pelo bom presente;Estava mesmo bem precisado.Fiquei feliz, realmente contente,Mas, agora estou muito cismado.

Somente um homem nesse lugar,Talvez, possa explicar a contento.A cama chora e começa a pingarEm qualquer virada de tempo.

Não fique, senhor, tão assustado.Eu posso explicar toda a trama.O salgador de peixe, desativado,É a madeira com que fiz a cama,

Quando está pra virar o tempo,Torna úmido o sal entranhado.Dos poros internos da madeira,Pinga água do suor condensado.

Bom que me disse, de bom grado,Obrigado, me livrei do desgosto,Estava mesmo muito assustado,Temia que fosse algum encosto.

Roberto Vasco, 06/12/2011

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O remédio da comadrePoooommm. Ih! O navio apitou!Estamos entrando na barra.Agora é que me lembreiO remédio da comadre,Cascas ou gravetos de árvore.Esqueci e não comprei, Mas, o escaler é de pau... Essa é a solução do problema.Tiro umas finas lapadas, Enrolo num papel e entrego.O navio apitou, estamos zarpandoMissão cumprida com a comadre,Na volta, vamos ver no que deu.Retornando da viagem, tentou se esconder,Mas, a comadre foi lá agradecer...Ah! Compadre, que santo remédio!O que vale, é a fé, pois, o pau é da barca,Resmungou baixo, pra ninguém perceber.

Roberto Vasco, 06/12/2011

A visagem da porteiraSai o marujo em alta madrugada.O pessoal da estiva vai chamar, Com a paciência quase esgotada.Precisava logo ao navio retornar.

Exasperado bateu com a porteira.Mais três vezes ela repicou sozinha.Na crendice ocorria desta maneira.Viu uma rede que antes não tinha.

Curioso, foi lá, o tolo imprudente,Contrariando o conselho popular.Quis saber o que tinha realmente...Viu um volume escuro a roncar.

Com um misto de medo e abuso,Decidiu fazer o que nunca se faz;Entornou o café sobre o intruso, Correu apavorado e o bicho atrás.

Nem se lembrou de na boca cruzar A faca que sempre trazia consigo,Pra quebrar o encanto daquele azar,Ação popular contra aquele perigo.

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Correu pra casa, seu melhor lugar.À porta, passou a faca na tramela.Incauto, pisou no bicho, ao entrar, Que berrou com toda a procela.

Salvou-se porque entrou primeiro.Ouviu uma voz antes de desmaiar:Respeite o que não vê, marinheiro,Tanto na terra quanto no seu mar.

Roberto Vasco, 07/12/2011

O tiro de canhãoEra a festa da padroeira,Sempre havia novidade.Rebuliço, a tarde inteira,Muito agito na cidade.

Ano passado, à convite,O foguista, ao entardecer,Armou e soltou dinamite,Esse ano o que há de ser?

Tem que “ter” boa explosão,Coisa de grande estampido.Vai ser um tiro de canhão.O sucesso está garantido.

Um canhão enferrujado,Velha sucata de guerra,Sem perícia foi carregado,Afixado em cima da terra.

Aquele estranho artefato,Pro lado do rio apontado,Pronto pro ato insensato.O povo foi logo afastado.

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No momento anunciado,Aceso um curto estopim,Aconteceu o inesperado.Nunca se viu coisa assim.

O canhão desintegrou-se,Projetando seus estilhaços.Nenhuma casa que fosse,Escapou de alguns pedaços.

A despeito daquele incidente,Não feriu ninguém, por sorte,E os canhões remanescentes,Colocados em um mini forte.

Há algum tempo ainda se via,Um forte no morro do Quitiba.Simulando posto de artilharia,Que os velhos canhões abriga.

Roberto Vasco, 07/12/2011

O burro da canoaAnalisando todas as demoras,Pensava o homem horas a fio:Por que andar por duas horasSe poderia só atravessar o rio?

Não é tão difícil, é coisa a toa.O problema é de fácil solução:Fazer o burro entrar na canoaCom a carga e toda a provisão.

Tenta, mas o animal se recusa.Insiste, fustiga, espeta o ferrão.Não funciona, tarefa inconclusa,Pragueja: Esse burro é do cão!

Olha aqui, seu burro duma figa:Você pode ser mais inteligente,Mas, eu sou forte a moda antiga.Comigo a coisa é bem diferente.

Tentou erguer o pobre do burro,Colocar pra dentro da canoa e tal. De pavor, o animal deu um zurro. O tombo foi mesmo monumental.

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Quem assistiu à cena tão bizarra,Não deixou de rir daquela maçada,Que causou uma grande algazarra.Contrafeito, o cara pegou a estrada.

Roberto Vasco, 07/12/2011

Cavadores de tesouroOs sujeitos “metidos” a astutos,Com a fé dos tolos interagem.Esse “cara” tinha seus atributos.Era um mestre da molecagem.

Rapaz, eu sonhei que achava,Enterrado no morro da igreja,Um baú de bronze com trava.É, de quem a fortuna almeja.

Uma arca, na direção do altar,Num fosso, com terra coberto.Vai ser de quem queira cavar.Mas só à meia noite dá certo

Chegamos, aqui é o tal lugar.Pronto, já está quase na hora.É meia noite, vamos começar.Vou pegar o enxadão, é agora.

Veja só, é aqui, a marca se vê.Uma peça coberta pelo barro.Cavo primeiro, depois é você,Enquanto eu fumo um cigarro.

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Fez: Psssiiitt e depois disse: Olha o abuso, isso não se faz.Foi você. Deixe de canalhice.Eu? Nada. Fumo aqui em paz.

Três vezes simulou o perigoCom a maldosa brincadeira,Só pra deixar o pobre amigoCom medo, daquela maneira.

Ao escutar esse último psiu,Não perdeu nem um minuto,Apavorado, o medroso fugiuE tambem o moleque astuto.

Roberto Vasco, 08/12/2011

Saci telhaDo folclore, o mais lembrado,No que era contado por ali,Peralta do mato e do prado,Sempre foi o fabuloso saci.

Sempre lembrado por meioDa troça ou arte que fazia,Se sumia com algum arreio,O apelido era saci montaria.

Seu José deu falta das telhas.O galpão estava todo aberto.Esperto, teve aquela centelhaAlguem construiu, por certo.

Como ninguém construíra ali,Sendo o autor desconhecido,A culpa era do pobre do saci.Saci telha, mais um apelido...

Roberto Vasco, 09/12/2011

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A ilha do tesouroAportaram na ilha do tesouro,No ímpeto dos sonhos juvenis.Na caverna, enterrado, o ouro.Quem o pegasse ficaria feliz.

- Volte, não desça aí nesse lugar.Ébrio de cobiça, ele assim disse:- Hei de achar o que vim buscar,Não retornarei, deixe de tolice.

Na caverna, o ar fétido e viciado,Muita lama e fezes de morcego.Toxidez acima do recomendado,Vôos rasantes de tirar o sossego.

A fantasia, até então represada,Aflora na mente em profusão.Uma sala, ricamente mobilhada,No dourado palácio da ilusão.

Insistia em prosseguir o incauto,Ensurdecido e cego de ambição.O parceiro o pegou de um salto,Porque percebia a sua inaptidão.

Intoxicado, inconsciente e tonto,A duras penas arrastado à barca,Navegaram de volta até o pontoDa marina onde o barco atraca. Febre e dores até o terceiro dia.Poções, tentativa de sobrevida.Sem esperança o rapaz morriaDe doença ainda desconhecida.

Roberto Vasco, 09/12/2011

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Saci esteiraVinha um quarteto apressado.Davam seis horas, o sino batia.Ébrio, vai o pai que revoltado,Maldiz a sorte e a vida vazia.

Segue um com neném no colo,Depois, outro, levando a esteiraO saci, de cima, pulou no solo,Ao passarem sob a castanheira.

Assustado largou tudo e correu.Era a cama quase desmantelada,No inverno escuro como breu.

Sabia que um saci pega, mas, solta.Olhou pra traz, não viu mais nada.Voltou lá e pegou a cama de volta.

Roberto Vasco, 10/12/2011

O fantasma do morroNo alto do morro da capelinha,Depois do serviço, o povo subia;Pra casa, todo mundo Caminha.Justo descanso para o outro dia.

Retornavam pra seu cantinho.Era escuro, nem a luz do luar...Um fantasma, no seu caminho,Não deixava ninguém passar.

Chegou um homem de coragem,Resolvido a fazer uma boa ação,Decidido a espantar a visagem,Fosse qual fosse a assombração.

Chegou bem perto, até constatarQue, na verdade, não havia nadaDe fantasma, naquele ermo lugar,Só uma peça muito bem pregada!

Um cavalo, bem calmo, pastavaCom um lençol branco coberto.E ao pastar, se movimentava.Assustador para o local deserto.

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Bordada no lençol, as iniciais,Má sorte para o autor da troça...Foram logo falar aos seus paisQue lhe deram uma bela coça.

Roberto Vasco, 10/12/2011

Chico vaporFazia carreto como as formigas.Andava rápido, com todo vigor,Aludindo às máquinas antigas,Apelidaram-no de Chico Vapor.

Em quatro horas fazia o trajeto,Único a conseguir, como dizia,Indo a pé, sem descanso, direto.Mas estava apressado nesse dia.

Alugou um pangaré muito magro,Rapidamente disse uma das suas:Com duas pernas, faço em quatro,Ele, que tem quatro, fará em duas.

Arre! Burro trotão que me atrasasVou descer e puxar, tenho pressa,É Preciso chegar cedo em casa,Já é tarde, logo a noite começa.

Verificou seu relógio, irrequieto.Não deu certo, que idéia imbecil.Comparando às marcas do trajeto,Perdeu tempo desse jeito, logo viu.

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O resto da viagem, foi essa brigaAlternando entre ele e o animal...Mas que burro trotão duma figa...Sem ele sou mais rápido afinal!

Roberto Vasco, 10/12/2011

Cirurgia celestialAaiihhh! Gemia em dores pungentes,Pobre hemorroidário que tanto sofria.Embora requeresse medidas urgentes,Não havia recursos para uma cirurgia.

Defecações dolorosas, cada vez mais,Nas situações bem fáceis de antever.Esvaía-se em hemorragias colossais,A família não suportava vê-lo sofrer.

Após a evacuação, agachado, dormia.Ficava relaxando até notar os sinaisDe que desinchou e acabou a agonia,Pra voltar para o mundo dos normais.

Sua mãe, anjo que o teve em missão,Rezou trinta anos para obter a cura.Persistia, pedindo em ardente oraçãoO fim dos dias de uma sina tão dura.

Um dia, estando o moço acocoradoE a parte afetada em tal exposição,Um pato, com seu bico asserrotado,Interveio-lhe em bizarra operação.

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Socorrido a tempo, desse acidente,Banhos com erva cicatrizaram afinal!Finalmente, o céu foi benevolente,Não duvidou, foi cirurgia celestial.

Roberto Vasco, 16/12/2011

MentiraA tradição, em seu incisivo dito,Educa o infante de forma mordaz,O faz juiz de seu próprio delitoE o responsabiliza pelo que faz.

Se faltasse com a pura verdade,Um dos castigos do infelizQue faltou com a integridade,Era a terrível ameaça que diz:

Menino mau que conta mentira,O capeta carrega pro espinheiro.De lá, só a madrinha preta o tiraE o liberta desse duro cativeiro.

Agora vejam a situação do pecadorMadrinha preta? Como encontrar?Talvez mudara-se para o interior,Ou nem teve uma para o batizar.

Roberto Vasco, 18/12/2011

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Xingamentos- Quem é você, figura abjeta?- Sou aquele a quem chamas, Sou a tua palavra concretaQue xingas quando reclamas.

- Não te chamei, feia carcaça.- Chamaste, homem incauto.Sou a miséria e a desgraçaQue sempre xingas bem alto.

Levando suas mãos ao rostoCom aquele pavor peculiar,Orou pra se livrar do encosto,Prometeu nunca mais xingar.

Roberto Vasco, 19/12/2011

A panhou da visagemNão desafie as forças do mal,Disse alguém bem assustado.Ele é forte, não conhece rival,Lembre-se o que foi ensinado.

O cara era mesmo “esquentado”,Xingava por qualquer motivo.Advertido, ficava contrariado.Era durão, destemido e altivo.

Na estrada, voltando do mato,Segurando seu feixe de lenha,Sofreu agressão sem contato,Entrando numa luta ferrenha.

Invisíveis golpes de toda sorte,Não sabia de onde, nem quando.A surra do homem foi tão forteQue chegou em casa impando.

Roberto Vasco, 19/12/2011

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Horas mortasÀ noite, levantou assustada.Já antevia o romper do dia.Enganou-se, era madrugada,Mas, por rotina de casa saía.

Uma bacia e trouxa de roupaSobre uma rodilha na cabeça.Animada, esforços não poupa,Não importa o que aconteça.

Tênue visão à luz fraca do luarComo autômato, segue a trilha,No Campo D’Água vai trabalhar.Urge chegar, logo o sol brilha.

Em meio à penumbra, percebeSombras confusas a tremular,Vulto disforme, liso, imberbe,Rosto indefinido, nada familiar.

Disse uma voz, de algum lugar:Vá pra casa e fecha Tuas portas.Agora, não se pode, roupa lavarPorque estas são horas mortas.

Roberto Vasco, 20/12/2011

Adágio Sentado à sombra de frondosa figueira,Sob o morno Nordeste da beira do mar,Descansava com a velha companheira,Quando passam os meninos a peraltear.

Alvejada pela pedrada inconseqüente,Fartamente a cabeça começa a sangrar.Sem perceber, a turba segue em frente.É a cena que se repete no fatídico lugar.

- Falemos ao pai desse moleque atrevido!- Deixe-o, pago o erro da minha história.“Quem com ferro fere, com ferro é ferido”Disse o velho, num lampejo de memória.

Roberto Vasco, 20/12/2011

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A milhar do siriPalpite é assim: você vê o que quer.Primeiro carro que na rua transite,Figura de bicho, homem ou mulher,Qualquer coisa que se vê vira palpite.

Um caso curioso, um dia aconteceu,Estória manjada, coisa de pescador.Jurava que fora um compadre seu,O ganhador de aposta de alto valor.

- Está Rindo a toa, todo contente,Ele é sortudo, como eu nunca vi.Jogou bem e o palpite era quente,O Cara acertou na milhar do Siri.

Uma idéia descabida, meu senhor.É absurdo falar de siri numerado.É conversa de qualquer jogadorQue em jogo de bicho é viciado.

Mesmo sem alguma razão de ser,Examinando o corpo do animal,Com boa vontade dava pra verA milhar, escrita na parte ventral.

Roberto Vasco, 21/12/2011

A pedra de corisco- Foi o senhor, o autor dessa tal proeza?Essa pedra graciosa, como obra de arte,Amarelo claro com cinta azul turquesa,Certamente, foi jogada dessa parte.

- Não tenho esse caráter tão vulgar.Respeito às pessoas, tenho apreço.Conhecendo, eu não sou de brincar...Imagina alguém que não conheço.

- Eu sabia, o senhor é gente decente.Mas por aqui tem algum travesso. Foi alguém quem jogou certamente.As pedras só voam com arremesso.

- Isso, na verdade, foi perigoso atentado.Esquentar muito a pedra antes de jogar.Foi mal feito queimar, de caso pensado,A quem precisa das mãos pra trabalhar.

- É pedra de corisco, creiam no que falo.Formou-se por um raio que bateu no cais.Ouvimos um trovão seguido de estalo.Só pode ser isso, não seria nada mais.

Page 98: 1ª Edição - 2014 Vila Velha - ESVelha : Above publicações, 2014. 254 p. ; 14x21 cm. ISBN 978-85-8219-153-8 1. Literatura brasileira. 2. Poesia. I. Título CDD B869.91 Catalogação

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O catraieiro ficou com a mão sapecada,Só não a esfolou porque a esfriou no mar.A pedrada que quase fura sua catraia,Virou lenda, outra estória pra contar.

Roberto Vasco, 21/12/2011

Estranho palpiteElas cochichavam no balcão,Com suposta voz inaudívelPara não chamar atenção,Como se isso fosse possível.

- Se bem escutei seu sussurro,Eu não entendi esse recurso. A comadre sonha com burro,Mas, acaba jogando no urso!

No sonho, o burro comia cana.Decifrar a milhar, a gente tenta.O palpite pode até ser bacana,Mas, o burro não tem noventa.

- Os números valem para os dois.Cana tem nó e burro tem venta.Não tem nenhuma dúvida, pois,A milhar termina em noventa.

No grupo, o burro é zero três. Zero três noventa é a milhar.É do urso, mas dará dessa vez.Palpite é difícil de explicar.

Roberto Vasco, 21/12/2011

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O engodo- O que é isso que o barco arrasta?- É um engodo usado na pescaria.- A cultura popular é muito vasta,Esse artifício ainda não conhecia.

Era um saco de estopa, recheadoCom pedaços de fígado de caçãoQue, exposto ao sol e desidratado,Ao molhar, desprendia secreção.

Engodo ou artefato para enganar,Como diziam ser a real intenção,O certo é que parecia funcionar.Causava nos peixes forte atração.

Lançavam suas redes ao mar,Uma vez atraído um cardume.Assim, era o seu jeito de pescar.Desse povo era esse o costume.

Roberto Vasco, 22/12/2011

Coco de boiNão é uma Força de expressão.É uma Iguaria muito apreciadaPor todo o povo daquele rincão,Mas, fora dali, até causa risada.

Alem disso, pode causar aversãoA quem tem nojo pelo processoEnvolvido, para a sua obtenção,Meio grotesco, mas um sucesso.

O fruto do tipo coco de quartaCai no solo e sem muito esforço,Da sua casca, cada boi se farta.Depois rumina e cospe o caroço.

Por calor e enzimas da digestãoMuito curtido e cozido que foi,Vira saboroso petisco do sertão,E o povo o chama “Coco de Boi”.

Roberto Vasco, 22/12/2011

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Siri de defunto- Uma pesca melhor nunca vi!A lata está pra cima do meio.Aqui, nunca se viu tanto Siri,Talvez, porque o mar ta cheio.

Devagar, a maré vai baixando.Rápido, se descortina a visão.Um defunto, coalhado de siri,Em adiantada decomposição.

- Ah não como não! Exclamou!Verteu o nauseante conteúdo,Bem enjoado, quase vomitou.Se desfez do Siri, lata e tudo.

- Mas, você poderia ter vendido.Ponderou um amigo a questão.Se não viram comer o falecido,Ninguém vai sentir no coração.

Como se desfez de todo o Siri,Não adiantava mais discussão.O mais sensato era sumir dali,Antes que desse complicação.

Roberto Vasco, 23/12/2011

Água de são joãoBatiam boca na porta do mercadoSobre o porte das miúdas Tainhas,O peixe cada vez mais “esmirrado”.Eram mesmo muito pequenininhas...

- Isso nem pode ser chamado Tainha, Está mais para Pratibú, de tão miúda,Ou até Pratipemba, quem adivinha?Tainha, por aqui, já foi mais carnuda.

- Sempre o peixe graúdo desaparece...Vendem pra fora o melhor quinhão?- Não nos acusem. “Tainha emagrece,“Depois que bebe água de São João”.

Era só jeito do pescador se expressar. Depois de junho, peixes sobem os rios.Entre safra, desova, função alimentar,Novos peixes povoam os canais vazios.

Roberto Vasco, 23/12/2011

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Barra do rio doce Conversava o mestre desesperado,Com o contramestre do seu navio...Poderia ter, o Rio Doce, alcançado?Passara ou estava em cima do rio?

- Muito cansado, vacilei no timão,Cochilei e agora estou perdido.Preciso de sua ajuda, seu João,Peça e atenderemos seu pedido.

- É preciso balde, toalha e sabão,Disse o contramestre tranqüilo.- Que estranho! Qual é a razão?- É o jeito de anular seu Vacilo.

Fosse mandinga ou simpatia,Não tinha forças para discutir,Tinha que saber para onde ia,Precisava o seu rumo definir.

Decidido, joga o balde ao mar.Descobriria fosse o que fosse.Lavou com sabão até espumar,- Exclamou: aqui é o Rio Doce!

Disse incrédulo, diante daquilo:- Não entendi coisa nenhuma.Responde seu João, tranqüilo:- Água salgada não faz espuma.

Roberto Vasco, 24/12/2011

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Banho de mar imprevistoFoi andando pelas ruas do centroQue o marujo se viu atrapalhado.Incômodos que vinham de dentro,Má sorte de quem está “apertado”.

Deu uma dor de barriga danada.Perto, não havia onde se servir.Só o cais da barca e mais nada.Bem rápido, precisava se decidir.

Forte espasmo e aguda pontada.De um mergulho, la vai seu João. Para fora, umas quatro braçadasE alivia seu ventre da congestão.

Chegando em casa, disse à mulher:- Hoje tomei um banho sem vontade.Às vezes, não se escolhe o que quer.Má sorte de quem se aperta na cidade.

Roberto Vasco, 24/12/2011

O jogo da pule vencida- Fiz um jogo e acertei na milharMas, aquele cambista, um safado,Me afrontou, não quer me pagar.Quer receber? Aperte o danado.

Moleque! A pule estava vencida.A milhar era de quatro dias atrás. - O velho brigava: coisa descabida!E agitado, gritava: Isso não se faz.

O amigo velho não se convencia...O caso, quase vai parar na polícia.O brincalhão, gostosamente se ria.Foi difícil convencê-lo da malícia.

Felizmente todo mundo conheciaO velho zureta, como dizia o povo, E o moleque que, mais aquele dia,Aprontou outra das suas, de novo.

Roberto Vasco, 25/12/2011

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Pesca desastrosaA imprudência sempre cobra caro,Por algum erro que foi cometido...Acender uma bomba com cigarroE com ela pescar, o que é proibido.

Nos seus apetrechos de pescaria,Algumas bombas, fósforo e puçá.Nem anzol, nem rede, nada havia,Ação ilegal, essa forma de pescar.

Das arvores, o artefato iria lançar.Jogou a bomba, mas, também caiu.Tentou pegar e mais longe jogar,E a bomba, em sua mão, explodiu.

Na explosão teve a mão arrancada.A lama, quase lhe cega as vistasE as deixou inteiramente irritadas,Fora as explicações com a polícia.

Agora, o teimoso sem embaraço,Cabeça dura, sem qualquer receio,Põe a bomba debaixo do braço.Vai acabar separando-o ao meio.

Roberto Vasco, 25/12/2011

Chorou de escumarFesta num salão de comunidade.Os políticos, querendo se mostrar.Cantaram as músicas de saudade.Político sensível, tinha que chorar.

Chore, chore de pressa seu boçal,Mostre rápido, que ficou comovido.Ordenava o chefe político infernal.Se não conseguir, vai ser demitido.

Não conseguia, não havia clima,Suas costas doíam cada vez mais.Nos bancos, sem a parte de cima,Ninguém se concentraria jamais.

Lembrava-se de tristes momentos.As lágrimas não vinham, que azar!Devia demonstrar os sentimentos,Era importante, tinha que chorar.

Nesse ponto, teve uma idéia rara,Orgulhou-se da mente inventiva.Era óbvio, passar cuspe na cara...Afinal, valeria qualquer tentativa.

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Não fez caso de nenhum desaviso.De pronto, mascarou-se ali mesmo.Gabava-se: que ator de improviso!Mostrava que a alma voara a esmo.

Vendo o seu rosto quase jubiloso,Molhado, mas, com lágrimas rolarDe um jeito um tanto espumoso,Falaram: esse chorou de escumar.

Roberto Vasco, 25/12/2011

O fantasma da praiaChegaram e amarraram a catraia,No fim de tarde, quase à noitinha.Apressados caminham pela praia.À frente alguem tambem caminha.

Tão distraído, que pessoa era aquela?Não reagia a estímulos, era tranqüilo.Uma onda cobriu-lhe toda a canela.Acharam divertido, riram-se daquilo.

A situação parecia não o incomodar.Seria aquele um bêbedo ou demente?Ou quem sabe, seria só para disfarçar?Impávido caminhava, seguia em frente.

Outra onda cobriu-lhe até a cinturaE ele, nem mesmo reação esboçou.Riram-se daquela indolente criatura...Logo calaram, pois nem se molhou.

Seria o cansaço ou uma alma penada?Mais uma onda lhe cobriu totalmente.Quando baixou, não havia mais nada. Era assombração, a figura, certamente.

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Sem graça, não comentaram mais nada.Vexados, assustados e, por conseguinte, Julgaram que aquela história mal fadada,Acarretou os azares da semana seguinte.

Roberto Vasco, 30/12/2011

Moqueca de iscaColocava no anzol mais uma isca. Mas, a maré não estava pra peixe...Inúmeros lances ele ainda arrisca.Nada, nenhum que a sorte deixe.

Vai embora, com ar de decepção,O Pobre do pescador desajeitado,Dessa vez, sobrou muito camarão.Cozinha e devora o não pescado.

- E a sua moqueca com farinha?Perguntaram com certa malícia.- De peixes, nada, pois não tinha,Mas, a da isca estava uma delícia.

Roberto Vasco, 31/12/2011

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O exame de fezes coletivoEntra o caipira no consultório.Fala o médico e pra seu pavor,Não entende nada do falatório- E diz: o que eu tenho seu “dotô”!

- Preciso do seu exame de fezes.- Mas que coisa é essa seu “dotô”?- O senhor vai querer que eu reze?- Nada disso, moço, fezes é cocô.

Sua família precisa, tambem.- Mas, tem gente que dá medo!- Mas, não pode faltar ninguém.Volte aqui, amanhã bem cedo.

Pegou uma lata enorme e vazia.- Hoje é aqui, foi o “dotô” que disse!Lata na moita, cada um se servia.De manhã, carregou a imundície.

Três horas no sol, inútil esforço- Chegou lá e disse: Pronto “dotô”!- Pronto doutor o que? Seu moço.Destapou a lata cheia e mostrou.

Recendeu fortemente, aquela aca.- Foi toda a família, frisou animado,Mostrando o volume daquela caca.- Praça! O doutor Chamou o soldado.

Acompanha esse porco até o marPra jogar isso fora e tomar banhoE depois, voltar aqui pra consultar.Nunca vi um sujeito mais tacanho.

Mas, tacanho, o doutor tambem era.Nada é óbvio, para quem não sabe.Foi ele o responsável pela quimera.Para a mente popular, nada descabe.

Roberto Vasco , 09/01/2012

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O galo e as pílilasChegou, depois de muito andar.- O menino arde em febre, “dotô”!Disse apavorado ao consultar, Assim que o médico perguntou.

Pela urgência do seu atendimento,Forneceu e Informou, como tomarAmostra grátis do medicamento:- Uma pílula, quando o galo cantar.

- O menino ainda não melhorou!- Ele tomou o remédio direitinho?- Claro, “dotô”, o galo “inté” morreu!Foi o vidro de remédio todinho.

- Que boçal, desabafou baixinho. - Mas, afinal, quem estava doente?- Ainda é o meu filho, coitadinho.- As pílulas eram para o paciente.

- Paciente não foi, tomou obrigado!- Ainda bem, isso foi providencial,Se fosse o menino, o teria matadoCom uma dose tão grande, afinal.

Mas, será que o doutor não sabiaQue existe um remédio popular,Mais conhecido como simpatia,Sem nexo, mas que crêem curar?

Roberto Vasco, 09/01/2012

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A pomada nas cadeirasChegou ao médico, quase sem andar.A dor lombar era mesmo lancinante.Não se sentia bem, em nenhum lugar.Na consulta impava a cada instante.

O médico indicou tratamento peculiar,Passando a receita na língua do povo,Pomada nas cadeiras antes de deitar.Com uma semana, você vai ficar novo.

Passou a semana sem o alívio da dor.Chega o sujeito, ainda mais entrevado.Piorei. Ainda dói muito, seu doutor.O senhor me dá um remédio pra tomar?

Mas, o senhor passou a pomada direito?Disse o doutor, percebendo a maçada.Claro, pode até ir conferir, lá em casa. Todas as cadeiras estão emplastadas.

O doutor estava estupefato e alarmado.Ocorriam coisas que jamais imaginaria.Para um povo desassistido e necessitado,É difícil acabar com a idéia da simpatia.

Roberto Vasco , 10/01/2012

A visagem desmascaradaAfanou uma batina num quarador.Vestiu e escondeu-se no matagal.Na trilha, onde passava um senhor,Escolhido para sua vítima, afinal.

Vestido de padre e oculto no mato, Saiu e caminhou ao lado da vítima Que percebendo a vileza do seu ato,Simulou reação em defesa legítima.

Pra o azar dele, o homem nem tremeu.Pegou a arma e apontou-lhe na cara.- Por favor, não atira, sou eu! Sou eu!Gritou o assustador que se assustara.

Um dia é da caça outro do caçador,Conforme diz, o velho e sábio ditado.Ao produzir algum fato assustadorPode tornar-se o próprio assustado.

Roberto Vasco, 10/01/2012

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Um vulto na madrugada Quarto crescente, mal iluminada.Vulto negro, pelo escuro realçado, Houve algazarra, certa madrugada,Metro e meio de altura, o danado.

Ruídos roucos, como o ruflar de asas,Perseguido pela cachorrada, até sumir.Medo. As pessoas ficaram em suas casas,Mas, na verdade, precisavam descobrir.

Fantasmas trariam maus presságios.Sacis e lobisomens já eram comuns.Pingüim doente era risco de contágio.Moleques, poderiam, havia alguns.

Fantasmas vestem-se todo de branco.Esse, não seria, pois, se vestia de preto.Lobisomem perdido só se fosse manco.Pingüim tão grande assim, era espeto.

Caso não fosse brincadeira sem graça,Sobraria então, o falado saci da praiaQue, com uma peneira grande se caça,Mas, é bem perigoso caso ele não caia.

Arranjariam um sujeito de coragemQue quisesse fazer a tarefa arriscada. Quem seria tal valoroso personagem?Todo mundo “caiu fora” daquela “furada”.

Fizeram novena e benzeram o lugar,Rezaram missas pras almas penadas.Com essas medidas poderia acalmar,Mas, continuaram aquelas maçadas.

Resolveram vigiar, escalando guardas.Porém, nenhuma pessoa poderia vir.As pessoas já estavam acostumadas,Não havia necessidade de descobrir.

Com isso, a assombração se retiraE também, ninguém soube explicarPorque o fantasma da noite sumira, Perdera o seu gosto por assombrar?

Roberto Vasco, 10/01/2012

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Maruís Foram pescar no canal do mangue,Porém, havia seus inconvenientes.Os maruís atacavam. Haja sangue!Ninguém trouxe os tais repelentes.

Observavam-nos, pescadores nativos, Que, dos tais maruís não faziam caso.Será que havia algum remédio efetivo,Ou simpatia a lhes ensinar, por acaso?

- É fácil, é só pintar um de vermelho,Os outros se rirão muito divertidosE não conseguirão usar o aparelhoDe ferroar, os pescadores atrevidos.

Agüentar picadas de maruís, passaE também estórias de beira de cais.Peixes de mercado, não têm graça,Mas, ouvir as piadinhas era demais.

Roberto Vasco, 12/01/2012

Lição de ecologia- Aqui não se pode pescar, não.Porque, assim, à natureza magoa.Se você quer pescar camarão,Que vá apanhá-los, na coroa.

- Que diferença faz, os pegarmos lá,Não estaremos dizimando, então?- Este lugar é impróprio para pescar.Pegando aqui, nunca mais pegarão.

- Mas então qual é a explicação?- Aqui é o seu criadouro natural.Nascem e crescem em profusão,Depois, os leva a corrente central,

Chegam à coroa, uma nova ordem:A força entre rio e mar se equilibraE na água salobra se desenvolvem,Completando o curto ciclo de vida.

O nativo é sempre zeloso e atento.Sempre pratica uma ação salutar.Pois, retira do meio seu sustento,Portanto, convive sem o degradar.

Roberto Vasco, 14/01/2012

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Defeso na pescaUm menino observa o pescadorQue, ao puxar a tarrafa, segrega,Descarta uma parte do pescado,Ainda vivos ao mar os entrega.

- Por que jogou esses peixes, fora?É curioso, não poder aproveitar.- Os pequenos, os devolvo agora,Pra crescerem e povoar o mar.

Somente quem conheceu o pesoDa escassez e tortura pela fome,Enquanto pesca, pratica o defeso,Pois, se não preservar não come.

Era mais uma contundente liçãoDe quem aprendeu com a vida,Pois, necessária é a preservação,Para que nunca lhe falte comida.

Roberto Vasco, 15/01/2012

São Pedro que tragaA ingênua dizia: eu sou de Jesus E um espertalhão que observava,Disse: qualquer impostor a seduz E que a ela facilmente enganava.

A mulher foi vítima de joguete.Um dia, para sua grande alegria,Recebeu do malfeitor, o bilhete:Amanhã, Jesus te visitará: dizia.

Finalmente, o falso Jesus chegou,Com um manto, uma cruz e tudo.De emoção, ela quase desmaiou.Era calmo, cabeludo e barbudo.

O sapateiro vizinho se inquietou.Iria salva-la daquele mau sujeito.Mas e a desculpa, afinal, quem sou?São Pedro! Era o disfarce perfeito.

Bateu à porta da pobre coitada.O impostor logo se apavorou.Tinha que sair daquela maçada.- Quem é? A mulher perguntou.

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- São Pedro, disse à voz pausada.Temeroso, fugiu o rei dos judeus.- Jesus? e a cruz? Disse atordoada.- São Pedro que traga, respondeu.

Roberto Vasco, 15/01/2012

A macaca que lavava roupasDepois que chegava da pescaria,Lavava e estendia o tosco calção.Secar, à força do sol do meio dia, Era uma coisa de rápida duração.

Quatro horas da tarde, ia recolher.Intrigante! Ainda estava molhado...Exposto ao vento do entardecer,Era tempo, bastante, pra ter secado.

Uma tarde, vigiou abortando o sono. Era arte da macaca, curioso animal.Procurando imitar o ato do seu dono, Tornava a lavar e pendurar no varal.

Roberto Vasco, 16/01/2012

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Lavagem do buchoA fonte era sagrada, como templo.Fonte de sustento, o lugar da lida.Cuidar dela, era um bom exemplo,Todos admitiam, era fonte de vida.

Juntas, lavavam roupas, lado a lado,Somente roupas, era o pacto tácito.Quem disso abusasse, ficava falado.Mas, para alguns, era acordo flácido.

Muito bate boca, mas pouca briga.Algumas maledicências, aqui e ali,Sempre motivado por uma intriga.Eram sempre estórias como essa aí:

- Então, a senhora me dá um repuxo,Fazendo o comentário mesquinho,De que, sempre lavo o meu bucho,Logo aqui, na fonte São Martinho!

- Mas, quem fez essa intriga agora? - Não importa, quem disse pra mim.Portanto, fique sabendo, a senhora, Que eu não sou tão porca assim.

Roberto Vasco, 16/01/2012

A espingarda e a ripaDentro da furreca do encarregado,Armado com uma rude espingarda,Do sereno da noite bem abrigado,Cansado do ócio, dormia, o guarda.

Jeito desleixado de recruta vadio!Sua arma, cruzada sobre o peito,Janelas abertas, a despeito do frio,Boa soneca num recanto perfeito.

Quando acordou, cadê sua arma?Em seu lugar, só havia uma ripa.Teria que pagar; logo se alarma.Mas, explicar, dava nó nas tripas.

Aquilo era alguma molecagem.Daria uma boa lição no safado,Que fica maquinando bobagem.Foi lá discutir e ficou alterado.

- Quem me roubou a espingarda?- Mas, porque toda essa valentia?Essa estória está mal explicada!Como roubam a arma do vigia?

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- Deixei-a encostada e fui urinar.Algum safado passou e levou,Certamente, querendo caçoar.Mas, ele não sabe quem sou.

- Você dormiu mesmo, confessa.E sonhou que alguém ia roubar.- Basta, eu não posso cair nessa.- Insisto, vamos juntos procurar.

Enquanto isso, alguem recolocouTal objeto de onde fora retirado.Quando chegou lá e encontrou,Ficou alegre, mas envergonhado.

Roberto Vasco, 17/01/2012

Sobressalto No meio da noite, acorda assustada.Sentiu falta de algo e a boca vazia.Nem se lembrou que fora esvaziada.Minha dentadura! Em pânico dizia.

São Sebastião! Engoli a dentadura!Vou ao pronto socorro, sem demora.Nunca imaginei tanta desventura.Parece que chegou a minha hora.

Já sentia a dificuldade de respirar.Estaria atravessada na garganta?Espero que não tenha que rasgar.Pra conseguir retirar a “sacripanta”.

Foi pegar o dinheiro, com pressa,Na cristaleira, pra pagar condução. Dentro de copo d’água, submersa,Achou a dentadura, que satisfação.

Roberto Vasco, 17/01/2012

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Morreu de cisma- O moço pode me dar pousada?- No único quarto, há um doente.- Não posso continuar na estrada,Se deixar, cuido do seu parente.

Que dor de barriga, logo agora,Nessa tempestade, como vai ser?Pelo que sei, a casinha é lá fora.Preciso pensar logo, o que fazer.

Acho que encontrei a solução.Um doente se borrar, é normal.Sirvo-me em sua calça, no chão.Depois, visto-a no velho, afinal.

Um ano depois, por mero acaso,Encontrou o hóspede trapalhão.Decidiu que, embora com atraso,Cobraria a conta daquele lambão.

- E o velho, morreu daquele mal?- Curou-se, mas morreu de cisma.- Nunca ouvi falar antes, dessa tal.Seria o mesmo que aneurisma?

- Foi cisma mesmo, dessa maneira:Não pode entender aquela meleca,Como sua calça borrou-se inteira,Sem antes, ter borrado a sua cueca.

Roberto Vasco, 17/01/2012

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Unhas de preguiçaHavia festa, era dia da cidade.Aos conhecidos, deu pousada,Mostraram sua hospitalidade.No outro dia, pegariam estrada.

Gente boa, que se faça justiça!Sem luxo, mas meio desleixada.Unhas, como de bicho preguiça.A do dedão, nunca fora cortada.

Lençóis velhos e muito surrados,Muito fraquinhos de tanto lavar,Por aquela unha enorme, riscado,De cima a baixo, veio a rasgar.

No mês seguinte, se viram na rua:- Lembra de mim? Me deu pousada,- Claro, do senhor e da sua senhora,E do lençol, rasgado de fora a fora.

Roberto Vasco, 18/01/2012

Confusões no cemitério Ah amor, por que foi me deixar!Já está fazendo mais de dez anosQue te enterrei, com muito pesar!Passamos por muitos desenganos.

Você era bom pai e bom sujeito...Pagava as contas sempre em dia,Mas possuía um péssimo defeito:Pulava a cerca, era muita agonia.

Era a velha viúva a lamentar-se,Em torno do sepulcro do marido.Atraía a atenção de quem passasse,Falava alto e com grande alarido.

- A senhora chora na cova errada.Esse é o sepulcro do meu marido!Disse outra viúva recém chegada.- É do meu: O assunto é descabido.

Ah velho biscateiro, porco safado! Não chega as que botei pra correr?Aparece outra, depois de enterrado.Mais quantas ainda vão aparecer?

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- Por favor, Não me ofenda senhora! Fomos casados de papel passado.- Conseguiu me esconder até agora,Sem vergonha. Ah velho enrolado!

O falecido, dela também escapulia...Mas, essa mulher não era atraente!Só se fosse algum tipo de fantasia...E o tempo de enterro era diferente.

Chamou o funcionário mais antigo...- Esse jazigo, aqui, não é seu, senhora.- Claro que não, é do meu falecido.- Verifiquemos os seus títulos, agora.

- Estão vendo? é o que eu sempre digo,Aliciam eleitores até no cemitério...- Falo do título de propriedade do jazigo.Com ele, esclareceremos o mistério.

- Senhora, pelo número do título, é dela.Veja aí, na pedra, o nome do falecido.Ela já pagou tudo, parcela por parcela.- Vender pra dois, é coisa de bandido.

Já joguei um monte dessas pedras, fora.Mas os safados insistem em recolocar.Se insistirem e não saírem daqui, agoraVou dar parte a polícia e até processar.

- Estão te esperando no túmulo do papai,Disse sua filha depois que a encontrou.Não é muito longe, É por ali que se vaiFica na outra ala, a senhora já lembrou?

Está enganada, não é o lugar de chorar.- Isso é conversa fiada, é tudo mentira.Choro aqui, há dez anos e vou continuar.Daqui não saio, daqui ninguém me tira.

- Vovozinha, a senhora pode ir ali comigo?Era o neto dando-lhe a mão e quase puxando.Ela saiu sem contestar, liberando o jazigoE a situação, então, acabou se apaziguando.

- A administração não pode fazer nada?Reclamava a outra, bastante aborrecida.- Já a proibimos de entrar desacompanhada,Mas, a mulher sempre foge, é doida varrida.

Roberto Vasco , 19/01/2012

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A moça do cemitérioAquela semana foi de arrebentar...João iria a uma festa ao anoitecer.Um belo programa, seria salutar...Um baile era bom pra espairecer.

Sorte. Logo encontrou companhia!Moça solteira, mas segurando vela.Encantou-se com ela quando sorria,Do outro lado, próximo da janela.

Veio com a amiga e seu namorado.Convidou a pequena para dançar.Depois de o baile estar terminado,Galante, se dispôs a acompanhar.

Rua do cemitério, mal iluminada...Andando abraçados, pararam ali.Em frente ao portão de entrada,Beijou-o dizendo: entramos aqui.

Pensando ter beijado um fantasma, Ardeu em febre e delírios sem par.Tomou banho aplicou cataplasmaOrou muito, para, o sono conciliar.

Passaram-se quase duas semanas. Tudo aparentava estar tranqüilo.Foram-se, as inquietações insanas.Nem se recordava, mais, daquilo.

No entanto, no baile subseqüente,Ocorre novamente aquela visão.Parece real, sua vista não mente.Apático, não tem qualquer reação.

Ela, de novo? Tenho que ir embora! - Vou esconder-me naquele canto.Na primeira chance, eu pulo fora.Amanhã, vou ver um pai de santo.

- O que assusta ao moço da cidade?- Acho que arranjei uma namorada!- Bom, é muito comum na sua idade.- Sim, mas, ela é uma alma penada.

Profetizou o preto velho no “gongá”:- Culpa inconsciente, dívida moral...Deu-lhe alguns passes e um patuá.Saíra da consulta, num alívio total.

Há duas semanas estava tranqüilo.Bom tratamento, já estava curado!Não aparecera mais nada daquilo.Descontraído, foi ao supermercado.

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Próximo, escolhendo sua verdura,De novo, aparece a assombração.Quase teve um ataque de loucura.Sutilmente, misturou-se à multidão.

Foi ao analista, numa certa manhã.Comentou sobre tudo que o afligia.Começou a falar, deitado no divã.Falou sobre sua macabra fantasia.

Depois que uma semana se passou,Andava pela rua, atrás do cemitério.Havia um jogo e alguem o chamou.Era ela. Tentou disfarçar, ficar sério.

Apresentou os amigos daquele dia.- Moro naquela casa, quer conhecer?Ela é viva mesmo e sem fantasia!- Certamente, será um grande prazer.

Agora, preciso de uma desculpa boa.Como vou explicar para o analista,Que, eu me borrava de medo, à toa? Além da verdade, nenhuma à vista.

Dizendo que pagaria todas as seções,Incluindo as futuras já programadasDeu a notícia sem mais explicações,Dando as consultas como acabadas.

- Não precisarei mais dessas seções, Pois estou completamente curado.- Mas, e a moça fantasma, as visões?- Agora, me tornei, até seu namorado.

- Endoidou o coitado... O pior aconteceu.Está tão confuso que além de aceitar,Também participa e até já se envolveu.Freqüenta a casa e começou a namorar.

Confuso, ficou o analista, depois dessa.Nunca vira nada igual, até aquele dia.Esse caso, à medicina, muito interessa.Pra forçá-lo falar mais, provocá-lo-ia.

- Mas, e a entrada da moça, no cemitério,Tarde da noite, logo após despedir-se?Não é mais um incômodo esse mistério?- Qual nada, mistério nenhum, logo disse:

O pessoal daquela rua que fica acima,Para não contornar todo o quarteirão,Há tempo adotou uma estranha rotina:Corta o caminho por ali, como opção.

Roberto Vasco, 27/01/2012

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O caixão que apareceu na portaCerta manhã, aconteceu algo nada peculiar.Ao abrir a porta, deparou-se com um caixão.Refeito do susto, precisava daquilo se livrar,Procurar o solicitante, desfazer a confusão.

Perguntou sobre o entregador, aqui e acolá.Era incrível, ninguém sabia, ninguém viu.Precisava encontrá-lo e obrigá-lo a retirar.Por fim, o encontrou, não era nada gentil.

- Não preciso de caixão, eu não o comprei.O senhor o entregou num endereço errado.Entregue a seu dono, é o que manda a lei.Por aqui, não tem defunto a ser enterrado.

- O serviço era esse e trabalhei com rapidez.Não quero saber, se de fato, alguém morreu. Só carrego de novo se pagarem outra vez.Se não há defunto, o problema não é meu.

Na rua de traz, havia também muita aflição.Sem ação, velavam o defunto sobre a mesa.Ansiosos, aguardavam a entrega do caixão.Saíra da funerária? Ninguém tinha certeza.

- Despachamos, há horas, para o entregador.Pedimos que ele entregasse, com urgênciaNo endereço solicitado, na rua do ouvidor.Informamos tudo, até ponto de referência.

Escrevia e lia mal e estava mal das vistas.As ruas tinham nomes parecidos e afinal,Na esquina das ruas, uma banca de revistas. Até mesmo o ponto de referência era igual.

Era difícil provar quem estava sem razão.Precisavam, urgente, resolver o assunto.Finalmente, alguém encontrou a solução.Convidaram-no para beber ao defunto.

Finalmente, acertaram um curioso preço: Um por fora, uma pinga e bolo de fubá...- Vai rápido, o velório já esta no começo.Em dois tempos o caixão chegou por lá.

Roberto Vasco, 30/01/2012

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Cadê o defunto? A cova está vazia!O vôo foi cancelado, perdeu o enterro.Pagou o funeral, mas não pode chegar.Anotou o jazigo, mas, cometeu um erro.Dois dias depois, conseguiu chegar lá.

Havia cova, mas, estava aberta e vazia.Era o golpe da morte ou um seqüestro?Mas, defunto pobre, quem seqüestraria?Seria um ardil por demais canhestro.

Deveria ter qualquer uma explicação.De qualquer forma, era grave o assunto.Certamente, era muita desorganização.Como se poderia sumir com o defunto?

- Alguém tem que pagar, Isso é grave.- O enterro foi feito, tudo se registrou...- Como enterram onde ninguém sabe?- Sabemos sim, a gente acompanhou!

- Tudo foi feito, não há o que reclamar.- Mas, cadê o cadáver, a cova está vazia!- Enterraram o defunto em outro lugar.Disse o coveiro que trabalhou no dia.

Pegou o número do jazigo, pra conferir.Teria a certeza que o havia anotado?Era o do vôo cancelado que deveria vir...Desculpou-se, saiu todo envergonhado...

Roberto Vasco, 30/01/2012

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O medalhãoRecebera comunicado urgente.Assunto interno da organização...Manter o sigilo, seria prudente.Era a sua primeira convocação.

Recebera a missão de exterminarUm político e notório potentado.À recusa havia punição exemplar.Tinha, mesmo, que ser executado.

- Não se tira a vida do semelhante,Conforme ensina minha religião,Da qual, sou fervoroso praticante.Não poderia cumprir essa missão.

- Cumpra o seu dever de iniciado.Execute a ordem hoje, recebida.Caso se recuse, será eliminado.Essa falha, aqui, não é admitida.

- Senhor marujo, estou em apuros.Tenho que evadir-me em sigilo.Se me ajudar, eu pago com juros.Sou bom pagador, fique tranqüilo.

Pagaria o preço em doze parcelas.Viajou oculto no porão de carga.Dura viagem, em meio às procelas,Além da enorme dívida a ser paga.

Faleceu antes da ultima prestação,Mas, seu espírito ordenou à viúva,A saldá-la com o antigo medalhão,Guardado em antiga caixa de luva.

Corrente e medalhão de alto valor...Ouro puro, vinte e quatro quilates!Jóia de família guardada com ardor.A paga, seria de sua alma o resgate.

A viúva desmaiou logo depois da visão,Mas, o espírito, ao sair, seu neto beliscou,Esse chorou e a todos acordou em afliçãoE acudiram à senhora que tudo contou.

Roberto Vasco, 31/01/2012

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O boi e o cacho de bananasAcordaram cedo com aquele barulho.As Pancadas vinham de um galpão,Onde guardavam todo tipo de entulho.Ali martelava o nosso querido ancião.

Resmungando, surrava, com a bengala,Uma figura que a mente, já combalida,E a visão, pelos anos, fora de escala,Viu como um boi procurando comida.

- Quer quebrar nosso brinquedo, vovô?É uma alegoria, um elefante de massa.É! Eu pensei que era um boi que entrouE comia as bananas, sem fazer arruaça.

Não, vovô, esse é só o nosso brinquedo.É pra desfilar no carnaval na nossa ala.Ah, é? Eu cheguei aqui, era muito cedo.Eu achei que era boi e desci a bengala.

Roberto Vasco, 31/01/2012

O fantasma perfumadoTarde da noite, carro fechadoParou no sinal, na escuridão.Sentiu um perfume acentuado.Fato curioso, sem explicação.

Se eu não estou acompanhado,Nem passei nenhum perfume, Seria um fantasma perfumado,Assustando, como de costume?

O carro andava, o perfume sumia.Abrira os vidros e não adiantara,Ao parar, voltava. Quanta agonia!Meio apavorado, à fé se agarrara.

Casualmente, ao rosto leva sua mão.Perfume intenso, estava impregnado.Assim terminara aquela apreensão,Cumprimentara alguém perfumado.

Roberto Vasco, 01/02/2012

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Supositório via oralSaíram meio confusos, do consultório.Precisavam dar o remédio à menina.O doutor receitou o tal do supositório.Comprou numa farmácia da esquina.

- Parece que o remédio não se dá assim...- Só pode ser assim, disse de modo hostil.- A nossa comadre já explicou pra mim.- Dar remédio pela saída, onde já se viu?

Pega água na cozinha, num copo médio.Dissolva bem, o melhor que conseguir.Precisamos fazê-la tomar esse remédio,Antes que essa febre comece a subir.

- Toma de outro jeito porque é amargo.A menina vai colocar tudo pra fora...- Temos que fazer, é do nosso encargo.Se vomitar toma outro na mesma hora.

Tomou quatro vezes, sob ameaça.Todas as vezes, seu corpo expulsou.Já definhava, sua pobre carcaça.Sem demorar, voltaram ao doutor.

Como estava pior, tomou injeção.Também, o doutor ensinou direito,Que, supositório, era outra opção.E se dava, mesmo, daquele jeito.

Custou a aceitar aquela situação...Saiu resmungando, meio sem jeito,Mas, convencido com a explicação,O problema resolvido e satisfeito.

Roberto Vasco, 01/02/2012

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Galinha afogada Viajava com uma carga de galinhas,Repleto de gaiolas, o seu caminhão,Sem saber o que o desvio continha,Arriscou passar fora da fiscalização.

Ruas estreitas, valas e a ponte ruim.Urgia contornar aquela adversidade,Chegar ao mercado da Vila Rubim,Voltar mais cedo à sua propriedade.

Ao transpor a vala, a ponte partiu.O caminhão tombou com estrépito.Naquele impacto abriu-se um gradil,Peça fraca num veículo decrépito.

O motorista salvou-se por um fio,Mas, a metade da carga foi a pique.E as galinhas afogaram-se no rio. O que sobrou, foi objeto de saque.

A carga perdida, o seguro cobriria.Mas, precisava retirar o caminhão.Encontrou um guincho, na correria.Tinha que reaver o seu ganha-pão.

Parou pra almoçar, numa pousada.Perguntou o que havia, ao garçom.- Hoje, nós temos galinha afogada.- Um prato refogado deve ser bom...

É afogada, mesmo, falou o vizinhoDa mesa ao lado, num gracejo vil.Morreu afogada, lá no Rio Marinho,Naquele acidente da ponte que caiu.

Não gostou da piada e ficou passado,Acentuando sua carranca quase senil.Ninguém conseguiu se manter calado.Do jocoso trocadilho, todo mundo riu.

Fulo da vida, numa raiva sem nome,Mas, precisava enfrentar um dilema.Deveria optar entre o ódio e a fome.Ganhou a fome, seu maior problema.

Roberto Vasco, 10/02/2012

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PanfletagemMais uma vez, aqueles panfletos malditos... Parecem vir daquele prédio sem porteiro.É um subversivo. Observem seus escritos...Vamos prender esse canalha baderneiro!

Cerquem o prédio, bloqueiem as entradas.Dessa vez, pegaremos os corvos agitadores!Alerta, as pessoas precisam ser revistadas!Descobriremos quem são os seus mentores.

Ainda não foi dessa vez. Cavacos do ofício...Os tais panfletos foram bastante molhados.Blocos de papéis sobre o topo do edifício,Depois de secos, pelo vento são espalhados.

Certamente, foram colocados há muitos dias.Os agitadores, devem estar estão muito longe.Outra tática, típica de suas ousadas manias.Esses miseráveis têm a paciência de monge.

Roberto Vasco, 10/02/2012

Eu sou é “letrecista”- Quem são aqueles três caras?O que fazem, no bar, sem beber?- Esperam ônibus para Taquara.- Sirva-os, não há tempo a perder.

- Mas os caras não bebem nada.Um se diz convicto abstêmio. Outro tem sua fé resguardada.Ali não tem nenhum boêmio.

- Vá lá e venda alguma bebida.Caso contrário, mande-os embora.Essa é uma história descabida.Se falhar, será demitido agora.

Seu emprego estava ameaçado.Precisava decidir o que fazer.Seu dinheiro já estava contado.Precisava, alguma bebida vender.

A solução, era o terceiro sujeito.Precisava deixá-lo sem saída.Era só fazer a pergunta, direitoE deixar sua presa espremida.

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- E o senhor, é abstêmio ou pastor?- Eu sou é “Letrecista” nessa vida.Ah entendi! Aguarde por favor.Voltou rápido e serviu a bebida.

Fulo da vida, com aquele azarE com o escárnio de um colega,Reclamando por ter que pagar.Jamais voltaria àquela bodega.

- Mas você tambem é culpado,Enganando sobre a profissão.Não é eletricista, nem formado,Nem prático que tenha aptidão.

- Não, eu sou “Letrecista”, sim,Pinto letreiros comerciais.- É incorreto, não se diz assim!Seria só letrista e nada mais.

Roberto Vasco, 11/02/2012

O prefeito e o pastorCom entusiasmo, pregava o pastor.Falava de inferno, fogo e caldeira.Com interesse o prefeito o ouvia,Mas, com a índole toda eleitoreira.

Uma caldeira que nunca se apaga...Rios caudalosos de água fervente...Falava e gesticulava como draga.O prefeito arregalava impaciente.

Queria saber disso e muito mais.Era do que precisava, no momento.Ajudaria para abater seus rivais...Geração de energia e fornecimento.

Com a grande escassez que havia,Fontes de calor, grandes e baratas...Boa solução com toda a economia...Tema de campanha e suas bravatas.

Ansioso por iniciar logo, por certo,Perguntou ao pastor como chegar lá.Pra mandar uma equipe ver de perto,Elaborar todo o projeto e iniciar já.

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Bastaria seguir a estrada da perdiçãoE ser gente corrupta e torta na vida.No município, havia muita corrupçãoE a estrada do meretrício conhecida.

No entanto, é uma viagem, só de ida,Afirmava o pastor muito empolgado.Ótimo, eu farei a limpeza prometida.Precisamos nos livrar de cada safado.

Via internet, virá estudo ininterrupto E é provável que o projeto também,Pois, aqui, já está lotado de corrupto.Essa turma não fará falta a ninguém.

Roberto Vasco, 15/02/2012

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