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1 09 a 11 de dezembro de 2015 Auditório da Universidade UNIT Aracaju - SE ÁNALISE DA CADEIA PRODUTIVA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS EM ARACAJU/SE Eliane Freitas Couto1, Maria do Socorro Ferreira da Silva2. 1 Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected] 2 Orientadora e professora do Departamento de Geografia/UFS; Pesquisadora do GEOPLAN - Grupo de Pesquisa Geoecologia e Planejamento Territorial/CNPq/UFS. E-mail: [email protected] RESUMO A pesquisa está sendo realizada em Aracaju/SE a partir da análise da cadeia produtiva de materiais recicláveis. Nesse trabalho será considerado a produção de materiais recicláveis coletados pelos catadores associados e autônomos e a comercialização que envolve os sucateiros e empresas de reciclagem no âmbito local. Essa pesquisa tem como hipótese: que na cadeia produtiva de materiais recicláveis em Aracaju, os catadores de materiais recicláveis associados autônomos estão na base, sendo os menos privilegiados, ao passo que proporcionam o fortalecimento dessa cadeia e contribuem para minimizar os problemas ambientais face a redução desses materiais no ambiente. O caráter interdisciplinar na pesquisa emerge a partir da necessidade de analisar a cadeia produtiva de materiais recicláveis a luz das Ciências Humanas e Sociais (Geografia, História, Antropologia, Serviço Social, Filosofia e Direito) destacando os aspectos sociais do sujeito na sociedade, das políticas públicas considerando os benefícios socioeconômicos; a legislação, direito ambiental e aspectos geográficos. A partir das ciências ambientais, cujo perfil é interdisciplinar, também serão analisadas as condições de trabalho que afetam a saúde dos catadores de materiais recicláveis, como por exemplo, o excesso do peso transportado, o contato com materiais perfurocortante, dentre outros problemas oriundos das longas jornadas de trabalho e do contato com os materiais. Palavras-chave: Reciclagem, Cadeia Produtiva, Catadores de materiais recicláveis

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09 a 11 de dezembro de 2015 Auditório da Universidade UNIT

Aracaju - SE

ÁNALISE DA CADEIA PRODUTIVA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS EM ARACAJU/SE

Eliane Freitas Couto1, Maria do Socorro Ferreira da Silva2. 1 Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente da

Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected] 2 Orientadora e professora do Departamento de

Geografia/UFS; Pesquisadora do GEOPLAN - Grupo de Pesquisa Geoecologia e Planejamento Territorial/CNPq/UFS.

E-mail: [email protected]

RESUMO

A pesquisa está sendo realizada em Aracaju/SE a partir da análise da cadeia produtiva de materiais

recicláveis. Nesse trabalho será considerado a produção de materiais recicláveis coletados pelos

catadores associados e autônomos e a comercialização que envolve os sucateiros e empresas de

reciclagem no âmbito local.

Essa pesquisa tem como hipótese: que na cadeia produtiva de materiais recicláveis em Aracaju, os

catadores de materiais recicláveis associados autônomos estão na base, sendo os menos

privilegiados, ao passo que proporcionam o fortalecimento dessa cadeia e contribuem para

minimizar os problemas ambientais face a redução desses materiais no ambiente.

O caráter interdisciplinar na pesquisa emerge a partir da necessidade de analisar a cadeia produtiva

de materiais recicláveis a luz das Ciências Humanas e Sociais (Geografia, História, Antropologia,

Serviço Social, Filosofia e Direito) destacando os aspectos sociais do sujeito na sociedade, das

políticas públicas considerando os benefícios socioeconômicos; a legislação, direito ambiental e

aspectos geográficos. A partir das ciências ambientais, cujo perfil é interdisciplinar, também serão

analisadas as condições de trabalho que afetam a saúde dos catadores de materiais recicláveis, como

por exemplo, o excesso do peso transportado, o contato com materiais perfurocortante, dentre

outros problemas oriundos das longas jornadas de trabalho e do contato com os materiais.

Palavras-chave: Reciclagem, Cadeia Produtiva, Catadores de materiais recicláveis

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1. Introdução

Com a chegada da Revolução Industrial as fábricas em plena expansão tecnológica,

começaram a produzir objetos de consumos em grande escala, gerando assim embalagens

diversificadas para acondicionar esses novos produtos, visto a grande quantidade de resíduos

sólidos que eram gerados pela população, principalmente nas áreas urbanas.

O desenvolvimento tecnológico era notório e o crescimento populacional acompanhava o

progresso, pois muitas pessoas saiam da zona rural em busca de melhores condições de vida e

houve um crescimento acelerado dos grandes centros urbanos, e consequentemente passou-se a

gerar mais resíduos sólidos e o problema foi se acentuando nas últimas décadas com o consumismo

exacerbado e a era dos descartáveis.

A degradação ambiental passou a ser alvo de preocupação pelos órgãos e instituições

governamentais e não governamentais a partir do século XX e início do XXI e o tema passou-se a

se tornar mais reconhecido e debatido pela sociedade, pois começou a alterar da qualidade de vida

da população e do planeta, em especial às grandes cidades, e essa preocupação recaia sobre geração

de resíduos sólidos, pois com o crescimento populacional, as áreas para acondicionamento desses

resíduos se tornaram escassas. Os impactos dessa degradação causavam sérios prejuízos ao meio

ambiente, tais como: aquecimento global, poluição ambiental, efeito estufa, desertificação,

desmatamento dentre outros.

Bitencourt et al (2012) expõe que o século XX foi testemunha de transformações

significativas em todas as dimensões da existência humana, ao lado do exponencial

desenvolvimento tecnológico, que aumentou a expectativa de vida dos seres humanos, mas ao

mesmo tempo aumentou a sua capacidade de autodestruição, quando começou a utilizar matérias e

energia para suprir suas necessidades, sendo assim surge o termo sustentabilidade, para equilibrar a

relação homem e natureza.

No início da década de 1970, o vocábulo sustentável assumia o papel de coadjuvante,

estando implícito nos preceitos de eco desenvolvimento. Com a divulgação do Relatório Nosso

Futuro Comum no final dos anos 80 deixa de ser vocábulo e aparece como adjetivo, sendo utilizado

para qualificar e quantificar a palavra desenvolvimento, no sentido de transmitir a ideia de um

modelo permanente, capaz de se manter ao longo do tempo como Desenvolvimento Sustentável

Bitencourt et al (2012).

Contudo o debate de sobre sustentabilidade aparece de forma polissêmica, e vai se tornando

complexo plausível de várias interpretações, à medida que vai se propagando socialmente.

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O Brasil conforme dados do IBGE (2012) produz 209.280 mil toneladas de resíduos sólidos

urbanos por dia, sabe-se que uma parte desses resíduos contém substâncias podem prejudicar à

saúde, contaminar o solo, lençóis freáticos, desiquilíbrio dos ecossistemas, afetar a biodiversidades

de espécies e colocar em risco a vida humana e os bens naturais essenciais para a sobrevivência do

planeta.

O conceito de resíduo sólido pela Norma Brasileira NRB- 10004 (2004) é definido como:

resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de origem industrial,

doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta

definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em

equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas

particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou

exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia

disponível.

Nesse interim Ribeiro & Morelli (2009) menciona que resíduos são todas as coisas

indesejadas geradas na produção ou consumo de bens, contudo na prática a massa de resíduos

sólidos gerada pela sociedade industrial é muito maior à massa de produtos consumidos, ou seja,

todos os produtos que compramos ao final de sua vida útil quando não precisarmos mais deles, se

tornarão resíduos.

Por isso nos últimos anos diante da necessidade urgente de proteger o meio ambiente

visando a destinação correta dos resíduos sólidos, foi criada a Política Nacional de Resíduos Sólidos

PNRS (2010) que veio regulamentar as formas de tratamento dos resíduos sólidos urbanos em

âmbito nacional.

Ao analisarmos a periculosidade dos resíduos sólidos pela Norma Brasileira NRB- 10004

(2004), observa-se que as características dos resíduos são apresentadas em função de suas

propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas, pode apresentar: a) risco à saúde pública,

provocando mortalidade, incidência de doenças ou acentuando seus índices; b) riscos ao meio

ambiente, quando o resíduo for gerenciado de forma inadequada.

Diante dos riscos apresentados pelo descarte inadequado dos resíduos sólidos para a saúde

da população e do meio ambiente, alguns países em especial aqueles mais avançados

tecnologicamente, nas análises de Grippi (2006 p. 4) o assunto reutilização de materiais passou a ser

discutido e no início do século XX com o incremento da indústria gráfica, o papel já passava por

processos industriais da reciclagem e no Brasil numa perspectiva histórica, tenha sido o papel o

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primeiro tipo de material reciclado, e diante dessa reutilização muitas árvores foram e estão sendo

poupadas.

Para Ribeiro & Morelli (2009) um conceito que se tornou bastante difundido mundialmente

é o dos 3R’s (reduzir, reutilizar, reciclar). No entanto esse conceito vem sendo substituído como

propriedade pelos 4R’s colocando o termo repensar antes dos demais, ou seja, repensar desde a

forma que produzimos e consumimos os recursos até as formas de gerenciamento da destinação dos

resíduos sólidos.

Outra vertente já trata dos 5R’s, introduzindo a expressão residual management, que se

tornou no termo responsabilizar, para que a empresa geradora e os consumidores dos produtos

sejam responsáveis pelos resíduos sólidos produzidos conforme relata Ribeiro & Morelli (2009).

A Lei nº 12.305/10 –PNRS veio contribuir para a solução dos principais problemas

ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos, pois

prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de

consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da

reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou

reaproveitado) e a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser

reciclado ou reutilizado).

A lei veio trazer inovações, como a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos

produtos, ou seja, os fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e os

responsáveis pelos serviços de limpeza urbana terão compromisso pela destinação pós-consumo dos

produtos, além disso prevê acordos públicos e privados que devem ser feitos para que sejam

alcançados meios para o descarte final dos resíduos sólidos em aterros sanitários por meio de

consórcios.

E ainda colocou o Brasil em situação de igualdade aos principais países desenvolvidos no

que se refere ao marco legal e inova com a inclusão de catadoras e catadores de materiais

recicláveis e reutilizáveis, tanto na Logística Reversa quando na Coleta Seletiva, Lei nº 12.305/10 –

PNRS. Portanto resíduos sólidos é o material produzido pela indústria ou pela atividade humana

que tenha valor econômico, podendo ser reciclado após o uso.

Bitencourt et al (2012) destaca que a reciclagem é o reaproveitamento dos materiais como

matéria-prima para um novo produto e muitos produtos podem ser reciclados dando origem a novos

produtos: como papel, vidro, metal e plástico. A grande vantagem da reciclagem está em minimizar

a utilização das fontes naturais renováveis e não renováveis, diminuir a quantidade de resíduos

sólidos que precisam de tratamento final em aterros sanitários, incineração ou compostagem.

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Contribuindo Silva (2013) apresenta que a reciclagem é uma das soluções mais viáveis

ecologicamente para minimização dos problemas pertinentes aos resíduos sólidos. O ato de reciclar

significa refazer o ciclo, permite trazer de volta a origem, sob forma de matéria-prima, aqueles

materiais que não se degradam facilmente e que podem ser reprocessados, mantendo suas

características básicas. Nesse aspecto, pode-se observar a contribuição dos catadores de materiais

recicláveis para o ambiente, pois esses materiais recolhidos por eles, não chegam aos aterros, e pode

movimentar uma parcela da economia, gerando postos de trabalho informal, reduzindo ainda a

deterioração ambiental.

Para Demajorovic (2013) a reciclagem implica a efetiva transformação dos resíduos sólidos,

que envolve alterações físicas e físico-químicas, convertendo-os em matéria-prima para a fabricação

de novos insumos ou produtos. Sabe-se que uma grande parte dos resíduos sólidos se encontram

diretamente nas residências dos grandes centros urbanos. O que vem possibilitando uma

contribuição por parte da sociedade no processo da reciclagem é a separação dos materiais que

podem ser reciclados através da coleta seletiva, permitindo assim a redução dos impactos

ambientais dos resíduos gerados.

A coleta seletiva é a atividade de recolhimento de materiais previamente separados nas

fontes geradoras (domicílios, empresas e comercio) e esses materiais são separados por cores e

tipos, são prensados e enfardados e vendidos para as empresas recicladoras.

No art. 18 da PNRS (2010) temos a elaboração do plano municipal de gestão integrada de

resíduos sólidos, nos termos previstos por esta Lei, é condição para o Distrito Federal e os

Municípios terem acesso a recursos da União, ou por ela controlados, destinados a

empreendimentos e serviços relacionados à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, ou para

serem beneficiados por incentivos ou financiamentos de entidades federais de crédito ou fomento

para tal finalidade:

No § 1o do capítulo II - Implantarem a coleta seletiva com a participação de cooperativas ou

outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por

pessoas físicas de baixa renda.

Diante desse cenário surge a contribuição dos catadores de materiais recicláveis como parte

fundamental desse processo da reciclagem, a coleta seletiva na tentativa da minimização da

degradação ambiental.

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A cadeia produtiva de reciclagem começa a partir do desempenho exercido pelos catadores,

que atuam como catador autônomo, que coleta seu material diariamente pelas ruas e utiliza como

instrumento de trabalho carrinhos, carroças e sacos. Esse trabalho requer longas caminhadas, pois

para realizar a coleta precisam de percorrer o comércio varejista nos centros urbanos, residências e

ruas, e tentam coletar o material de maior valor econômico, que são as latinhas de alumínios.

Atualmente, para Demajorovic (2013) os catadores têm preferido o papelão e as latas de

alumínio e as embalagens de poli tereftalato de etileno (PET) têm sido recolhidas com menor

frequência, porque exigem grande volume para obtenção de retorno financeiro. Quando finalizam a

coleta, esses atores sociais se dirigem aos donos de pequenos depósitos, denominados por eles de

sucateiros, que compram o material por preços menores. Os sucateiros enfardam o material e o

comercializam para a indústria recicladora.

Por cadeia produtiva Farias et al (2013) vem relatar que significantes contribuições têm sido

oferecidas na literatura sobre o tema das cadeias produtivas, que delineia um conceito abrangente de

cadeia produtiva como [...] um conjunto de etapas consecutivas pelas quais passam e vão sendo

transformados e transferidos os diversos insumos. A cadeia da reciclagem no Brasil é dividida em

cinco níveis onde na base estão os catadores autônomos, seguido pelo nível intermediário,

subdividido em três categorias, e, as empresas recicladoras de acordo com Demajorovic (2013):

a) Catadores informais que coletam os materiais recicláveis pelas ruas, casas, lixões e

vendem para as organizações intermediarias que realizam as atividades de prensagem,

trituração, armazenamento e transporte;

b) Organizações intermediárias, que se encontram as cooperativas de catadores e pequenos

sucateiros, que recebem ou compram os materiais dos catadores com preços menores e

revendem para intermediários superiores ou empresa recicladora, por preços bem

maiores;

c) As organizações com maior capacidade de processamento de material e estocagem, que

também vendem para empresas recicladoras e oferecem melhores condições de trabalho

para seus funcionários;

d) Os grandes sucateiros que processam toneladas de materiais recicláveis e vendem

exclusivamente para empresas recicladoras;

e) As empresas recicladoras que fazem a transformação do material reciclado e vendem

diretamente para a indústria e integram o mercado formal de trabalho;

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O processo em cadeia de materiais recicláveis deve-se, principalmente ao trabalho

desenvolvido pelo catador de materiais recicláveis, que mesmo de forma anônima e incógnita vêm

contribuindo para o aumento e a qualidade do processo da reciclagem no país, além de reduzir os

impactos negativos ao meio ambiente.

A participação de catadores na cadeia produtiva de materiais recicláveis se torna

imprescindível no ambiente, pois associados ou autônomos, vem contribuindo para a diminuição

dos impactos ambientais, e alguns encontram nesse trabalho a única estratégia de sobrevivência em

face as inúmeras expressões da questão social.

Em cumprimento a PNRS (2010), o Governo de Sergipe, por meio da SEMARH, vem

desempenhando seu papel de órgão gestor da Política Estadual de Meio Ambiente, estabelecendo

metas, diretrizes e importantes instrumentos, atualmente o Estado de Sergipe conta com 15

cooperativas de catadores e catadoras de materiais reutilizáveis e recicláveis. Conforme o Plano

Estadual de Coleta Seletiva/2014 de Sergipe existe 260 catadores de materiais reciclaveis na região

Metropolitana de Aracaju (SERGIPE, 2014).

2. Estado da Arte

Contribuirão para a fundamentação teórica da pesquisa os autores: Demajorovic (2013),

Silva (2013), Ribeiro; Morreli (2009) que abordam, respectivamente sobrea cadeia produtiva de

reciclagem e os catadores; o gerenciamento de resíduos sólidos e coleta seletiva; reciclagem e

problemas gerados pelos resíduos. No tocante a sustentabilidade, e a interdisciplinaridade e ao

Saber Ambiental, ressaltam-se Leff (2006) Bitencourt et al, (2012).

Outras fontes bibliográficas como dissertações de mestrado dos autores Pereira (2015) e

Nascimento (2012) que tratam da geração dos resíduos sólidos domiciliares de diferentes estratos

sociais em Aracaju já estão selecionadas. Ademais, também serão consultados artigos científicos

que tratam da influência das redes sociais de catadores na cadeia produtiva da reciclagem (Farias;

Pires, 2013), cadeia produtiva, reciclagem e coleta seletiva.

3. Objetivo Geral:

Analisar a cadeia produtiva de materiais recicláveis em Aracaju considerando os sujeitos

envolvidos.

Objetivos Específicos:

Identificar os sujeitos que compõem a cadeia produtiva de materiais recicláveis em Aracaju

e as relações estabelecidas;

Avaliar a situação socioeconômica e as condições de trabalho dos catadores de materiais

recicláveis em Aracaju;

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Averiguar a participação da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SEMA) e da

Secretaria Estadual do Meio e Recursos Hídricos (SEMARH) e a contribuição para cadeia

produtiva de materiais recicláveis;

Sugerir melhorias no tocante à sustentabilidade política, socioeconômica e ambiental da

cadeia produtiva;

4. Contribuição Científica

Essa pesquisa tende a contribuir para a dinamização dos estudos interdisciplinares das

ciências ambientais, estabelecendo um elo entra as ciências, para aprofundar o debate acerca da

temática proposta. O diálogo com outros “saberes” a partir do olhar de outras ciências fornecerá

subsídio para a análise da cadeia produtiva da reciclagem em Aracaju. Ademais, a contribuição

científica da pesquisa está respaldada nas sugestões de ações, via políticas públicas com benefícios

voltados para os catadores de materiais recicláveis, especialmente referentes a garantia dos direitos

dos catadores e ao fortalecimento das Cooperativas e Associações que perfazem a cadeia produtiva.

5. Metodologia

5.1 Delimitação e caracterização da área de estudo

A pesquisa será realizada no município de Aracaju, capital de Sergipe, cuja população em

2010 era de 571.149 habitantes (IBGE, 2010) e a geração de resíduos sólidos urbanos era de

17.172,22 toneladas/mês, ou seja, 572,41ton/dia. A pesquisa será realizada junto aos atores sociais

que fazem parte da cadeia produtiva de materiais recicláveis em Aracaju, tais como: a) Catadores de

materiais recicláveis Autônomos e Associados; b) Cooperativa dos Agentes Autônomos de

Reciclagem (CARE), localizada no Bairro Santa Maria; c) Sociedade Ecoar no Bairro Inácio

Barbosa; d) Associação Acaju - Associação de Catadores e Selecionadores de Materiais

Reutilizáveis e Recicláveis das Vias e Logradouros Públicos do Município de Aracaju no bairro

Siqueira Campos; e) Sucateiros (Depósito de Ferro Ana Dória no Bairro Dezoito do Forte, Rei da

Sucata no Bairro Siqueira Campos, e A Grande Sucata do Zé do Ferro Velho no Bairro América;

f)Indústria de Reciclagem Vitória LTDA situada no Município de Nossa Senhora do Socorro/SE

que trabalham formalmente com materiais recicláveis; g) Técnicos das Secretarias: SEMARH e

SEMA e da Empresa Municipal de Serviços Urbanos (EMSURB).

5.2 Métodos e técnicas:

O método de abordagem da pesquisa será o hipotético-dedutivo, proposto nas análises de

Popper (1975), que parte de um problema, ao qual se oferece uma espécie de solução provisória,

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uma teoria tentativa, apontando várias soluções com deduções de consequências na forma de

proposições passíveis de teste e tentativas de refutação.

Será feito Levantamento bibliográfico considerando o estado da arte (livros, teses, revistas,

periódicos e internet) e documental (IBGE, SEMARH, Política Nacional dos Resíduos Sólidos,

Plano Estadual de Resíduos Sólidos, dentre outras). As referências e serão lidas e fichadas e

auxiliarão todas as etapas da pesquisa.

A pesquisa de campo será realizada através de entrevistas com base em roteiros

semiestruturados e serão aplicadas aos:

a) Catadores de materiais recicláveis associados; a amostra será extraída do universo de 260

catadores existentes em Aracaju conforme o Plano Estadual de Coleta Seletiva (SERGIPE, 2014)

cuja amostra será de 30% dos Catadores Associados. Nessas entrevistas será verificada a situação

socioeconômica, a quantidade e qualidade os materiais coletados, a estrutura física do ambiente de

trabalho, as condições de trabalho, comercialização dos recicláveis.

b) Catadores Autônomos: a amostra contará com 40 catadores, os quais serão entrevistados em

pontos estratégicos, tais como: nos pontos de vendas (sucateiros), nas lixeiras de condomínios

residenciais e nas ruas de maneira aleatória. As perguntas serão direcionadas para à jornada de

trabalho, condições de trabalho, problemas de saúde, situação socioeconômica, tipos de materiais

coletados, transporte utilizada para a coleta, comercialização dos recicláveis, percurso percorridos

nos bairros;

c) Representantes da CARE, da Sociedade Ecoar e da Associação Acaju: para verificar as relações

estabelecidas entre os sujeitos que compõem a cadeia produtiva de materiais recicláveis, conhecer a

estrutura física dessas instituições, as condições de trabalho, a situação socioeconômica, a

comercialização compra/venda dos recicláveis;

c) Sucateiros: serão entrevistados 4 representantes na perspectiva de conhecer a estrutura física, os

preços pagos aos catadores considerando os materiais recicláveis, a comercialização com outros

sujeitos (empresas) as formas de tratamento (prensados e enfardados), dentre outras informações.

d) Diretor da Indústria de Reciclagem Vitória LTDA, as perguntas serão direcionadas no intuito de

verificar estrutura física, destinação final dos materiais recicláveis;

e) Técnicos das Secretarias: SEMARH e SEMA e da Empresa Municipal de Serviços Urbanos

(EMSURB): nas entrevistas pretende-se averiguara contribuição e/ou participação para cadeia

produtiva materiais recicláveis, a implementação da coleta seletiva considerando o Plano Estadual

de Resíduos Sólidos de Sergipe e o Plano Nacional de Resíduos Sólidos.

Tabulação e análise dos dados: a pesquisa terá uma abordagem qualitativa e quantitativa, pois os

dados obtidos através da pesquisa serão analisados e interpretados, de acordo com a análise da

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cadeia produtiva dos materiais recicláveis em Aracaju/SE e quantificado estatisticamente através de

tabelas e gráficos.

6. Resultados Esperados/Considerações Finais

Espera-se que os resultados obtidos venham proporcionar contribuições científicas e sociais,

especialmente junto aos órgãos públicos da capital Aracajuana de modo que seja possível garantir

os direitos dos catadores de materiais recicláveis, visto que eles formam um elo imprescindível na

cadeia da reciclagem e cooperam com a conservação ambiental.

Almeja-se ainda que os catadores autônomos sejam incluídos em programas sociais e que

sejam valorizados enquanto pertencentes da cadeia da reciclagem, e que contribua para a

dinamização dos estudos interdisciplinares das ciências ambientais, visto que a abordagem

interdisciplinar parte do pressuposto que nenhuma forma de conhecimento é em si mesma racional,

tenta, pois, o diálogo com outras formas de conhecimento, deixando-se interpretar por elas nas

análises de Fazenda (2001).

Dessa forma essa pesquisa contará com outras áreas do conhecimento, estabelecendo um elo

entra elas para contribuir com o tema proposto, adquirindo saberes de outras disciplinas com o

intuito de analisar a cadeia produtiva da reciclagem e sugerir melhorias para os atores sociais que

são a parte fundamental dessa cadeia e vem contribuindo para reduzir os impactos ambientais ao

coletar das ruas, residências, centros urbanos os resíduos sólidos.

A pesquisa está em andamento, portanto os resultados ainda estão sendo elaborados, todavia

através de análises preliminares observa-se que devido à baixa lucratividade dos materiais

recicláveis existe a possibilidade que as instituições não ofereçam proteção socioeconômica aos

seus atores sociais. O trabalho é exaustivo, pelo fato dos catadores percorrerem longas jornadas,

sem equipamentos de proteção, com transporte inadequado para a coleta. Pela condição de trabalho,

o excesso do peso transportado, o contato direto com os resíduos sólidos, são fatores que podem

contribuir para desencadear várias doenças, afetando diretamente a saúde dos trabalhadores. O

trabalho nas cooperativas e associações não oferecem condição de trabalho adequada, proteção

social e participação do lucro da produtividade dos materiais recicláveis, para que os catadores não

venham voltar ao trabalho nas ruas.

No tocante as políticas públicas podem-se dizer que elas têm trazido benefícios para os

catadores e para o ambiente, contudo se torna imprescindível que todos os catadores autônomos

sejam incluídos e beneficiados de forma integral por essas políticas.

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7. Referências:

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