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    Srie Agrodok No. 7

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    Criao de cabras

    nas regies tropicais

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    Agrodok 7

    Criao de cabras nasregies tropicais

    Carl JansenKees van der Burg

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    Fundao Agromisa, Wageningen, 2004.

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicao pode ser reproduzidaqualquer que seja a forma, impressa, fotogrfica ou em microfilme, ou por quaisquer outrosmeios, sem autorizao prvia e escrita do editor.

    Primeira edio em portugus: 1994Segunda edio: 2004

    Autores: Carl Jansen, Kees van der BurgTraduo: Antnio Martins Mendes

    ISBN: 90-77073-48-5NUGI: 835

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    Prefcio 3

    Prefcio

    As numerosas consultas que chegam constantemente Agromisa

    sobre a criao de caprinos, levaram reviso total do primeiro Agro-dok redigido em holands, sobre este mesmo assunto.Esta nova edio tem como finalidade fornecer elementos bsicos atodas as pessoas que pretendam fazer da criao de caprinos a sua

    profisso. Com isto queremos dizer que o caprino ser, neste caso,considerado como um animal til e no como um animal de compan-hia.Este pequeno fascculo contm conselhos prticos que consideramos

    poderem ser teis para os camponeses e para os que se ocupam daformao profissinal na rea da produo animai.

    No pretendemos esgotar o assunto. Os que desejarem saber mais po-dero consultar a bibliografia dada no fim do livro. Poderamos com-

    parar este manual de base a um estojo de socorrismo, destinado a serusado por todos os que habitam locais distantes de aglomerados popu-lacionais, que s muito dificilmente podem reconhecer uma doena oucalcular o valor nutritivo de uma forragem. Para os problemas muitoespecficos e para ensinamentos complementares, geralmente poss-vel consultar um perito ou um laboratrio numa cidade grande.

    Na redaco desta brochura servimo-nos com grande proveito doselementos j recolhidos por outros autores para esta reedio e quere-mos expressar os nossos agradecimentos a todos os que, no decorrerdos anos, deram a sua contribuio para esta realizao.Agradecemos igualmente ao Senhor Peter Hofs do departamento deProduo Animal Tropical da Universidade Agrcola de Wageningen,

    pela sua valiosa crtica.Servimo-nos da nossa experincia como instrutores (formao profis-sional e criao de caprinos no Ruanda e formao profissional nosentido mais vasto, na Holanda e no Per).Esperamos que esta brochura vos seja til e de leitura fcil.

    Os Autores

    Wageningen, Maro de 1991

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    ndice

    1 Introduo 6

    1.1 A importncia da cabra 61.2 Vantagens 7

    2 Criao de cabras 82.1 Cabras reprodutoras 82.2 Bodes reprodutores 92.3 Sinais de cio 92.4 O acasalamento 10

    2.5 A gestao 122.6 O parto 12

    3 Criao e seleco 173.1 Criao 173.2 Seleco 18

    4 Alimentao 264.1 Energia e protenas 274.2 Minerais e vitaminas 304.3 gua 324.4 Consumo de forragem 324.5 Composio da forragem e rao 354.6 Processos para melhorar a alimentao 364.7 Restos das coIheitas e subprodutos 38

    5 Alojamento 395.1 Finalidades de um curraI de cabras 395.2 Mtodos de estabulao 405.3 Arranjo interior 45

    6 Sade, doenas e parasitas 496.1 Cabras saudveis 49

    6.2 Cabras doentes 50

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    ndice 5

    6.3 Doenas contagiosas 516.4 Doenas de origem alimentar 556.5 Parasitas 57

    7 Produtos caprinos 657.1 Carne 667.2 Sangue 667.3 Ossos 677.4 Pele 687.5 Produo e transformao do leite 697.6 Nitreira 72

    8 Administrao 73

    Leitura recomendada 75

    Endereos teis 77

    Anexo 1: Unidades e valores nutritivos 79

    Anexo 2: Exemplo de clculo 81

    Anexo 3: Cuidados com os cascos (unhas) 83

    Anexo 4: Castrao de cabritos 85

    Anexo 5: Clculo da idade 88

    Anexo 6: Ficha de reproduo 89

    Anexo 7: Ficha individual de cabra 90

    Anexo 8: Ficha individual de bode 91

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    1 Introduo

    1.1 A importncia da cabra

    Os carneiros e as cabras tm um papel muito importante nos sistemasde produo de alimentos nos pases em vias de desenvolvimento. Soanimais muito apreciados porque se adaptam facilmente a climas mui-to diferentes (adaptao ecolgica) e por muitas outras razes. Em1981, cerca de 98% do rebanho mundial de caprinos encontrava-senos pases em vias de desenvolvimento ou sejam 475 milhes de umtotal de 496 milhes. Nesses pases as cabras correspondem a 20% dos

    ruminantes explorados em rebanhos. O maior nmero de caprinos ex-iste na frica e no sub-continente indiano (quadro 1)

    Table 1: Distribuio dos caprinos nas regies tropicais e sub-

    tropicais

    Regio Nmero (em milhes) Percentagem

    frica 144,7 41,3

    Amrica do Sul 18,4 5,3

    sia Ocidental 2,7 15,1Asia Oriental 13,7 3,9Sub-continente indiano 109,8 31,4

    Amrica central 10,9 3,1

    Total 350,2 100,0

    Origem: Production yearbook, vol. 33, FAO, Roma

    Em 1981 nos pases em vias de desenvolvimento, a produo de carne

    de cabra atingia 1,92 milhes de toneladas e a produo de leite ele-vava-se a 5,6 milhes de toneladas. A cabra fornecia 3,5% da totali-dade da carne consumida e 4,6% do consumo de leite. Isto muitomais do que nos pases industrializados, onde essas percentagens soiguais a 0,2% e 0,6%, respectivamente. Estas percentagens poderiamlevar a admitir que a caprinicultura tem uma importncia limitada.Contudo, necessrio no esquecer que, contrariamente ao que sucedeno mundo ocidental, a populao de camponeses nos pases em de-

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    2 Criao de cabras

    Para o criador essencial uma boa reproduo, isto , a capacidade

    possuda por um rebanho de cabras de parir todos os anos numerososcabritos. As cabras podem parir at trs vezes em dois anos. Uma pre-nhez por ano considerada normal. Quantos mais cabritos, mais ser

    possvel vender, matar ou oferecer. Nas cabras leiteiras, uma reprodu-o mais frequente aumenta a produo de leite.Os assuntos relacionados com a reproduo so a maturidade sexualda cabra e do bode, as suas condies fsicas, os cios, o acasalamento,a gestao e o parto.

    2.1 Cabras reprodutorasNo rebanho, as cabras jovens quando atingem a maturidade sexual ese manifestam os sinais do cio so cobertas pelo bode. Mas nessa

    primeira fase elas esto ainda em pleno crescimento. Se ficarem pren-hes tero de repartir as suas energias entre o seu prprio crescimento eo dos cabritos que elas esto formando. Alm disso, a produo deleite entrava o seu prprio crescimento. Resulta destes factos que acabra prenha muito cedo no atinge um pleno desenvolvimento e oscabritos que ela gerar so mais pequenos e mais fracos. A percentagemde mortalidade entre estes cabritos ser tambm mais alta.Qual ser ento a melhor idade para que as cabras sejam cobertas pe-los bodes, pela primeira vez? Ser preciso para isso ter em considera-o o peso da cabra e no a sua idade. As jovens no devero ser co-

    bertas antes de terem atingido trs quartos do peso normal de umaadulta da mesma raa. Este peso ser rapidamente atingido se a cabraestiver bem alimentada e bem cuidada. Se a cabra estiver magra esaudvel, o cio ser de menor durao e menos visvel. A deteco docio ser ento muito mais difcil. Para evitar estes problemas bomassegurar-se de que os animais estejam em bom estado de carnes, oque favorecido por uma boa alimentao e pela preveno e cuida-dos dados a tempo contra as doenas e os parasitas.

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    E certamente essencial fornecer alimentao suficiente no decurso doperodo da gestao e do aleitamento. Podem evitar-se tais problemasplanificando com rigor a data do parto (5 meses depois da fecunda-o), planificando devidamente o salto do macho.

    2.2 Bodes reprodutoresA partir dos 6 meses de idade, o bode est sexualmente maduro. Parater a certeza ser preciso verificar que os dois testculos esto bemdescidos. Se isto no suceder, a produo de esperma ser insuficienteou talvez mesmo no exista. Um bode pode cobrir 10 a 20 cabras. Nose devem dar ao bode jovem muitas cabras. A qualidade do salto res-

    sentir-se- e o macho ficar esgotado. Se um bode for especialmenteviril, ele poder, no entanto, cobrir as cabras pertencentes ao pequenorebanho de um campons vizinho. Neste caso ainda essencial que o

    bode esteja de perfeita sade e no muito gordo. Neste caso, a sua ac-tividade sexual diminuiria e o esperma seria de qualidade inferior.Entre as raas mochas podero existir eventualmente casos de inter-sexualidade. Trata-se de fmeas que mostram uma masculinizao dassuas caractersticas anatmicas, em consequncia de uma modificaodos seus sexos, durante a sua vida fetal. Em geral so cabras pequenasque se transformam em machos e so completamente estreis. Os or-gos genitais femininos no se desenvolveram e os orgos genitaismasculinos so incompletos. Se descobrir no seu rebanho uma destascabras ter somente uma soluo; p-la imediatamente na panela.Entre as raas que normalmente possuem cornos pode acontecer oaparecimento de um macho mocho: ser melhor no us-lo como re-

    produtor, mesmo que seja fecundo pois ele poderia gerar intersexuais.

    2.3 Sinais de cioUma cabra com boa sade, sexualmente bem desenvolvida e que noesteja prenha pode entrar em cio todos os 17 ou 21 dias. Poder entoser coberta durante 24 a 36 horas. Em climas temperados a estao docio bem marcada, o que no sucede geralmente nas regies tropicais.

    A constatao de que os animais entram em cio conforme a estao do

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    ano pode ser a consequncia de uma carncia alimentar ligada tambmela prpria estao: sucesso de secas e de chuvas, com grande faltade forragens durante a estao seca. Sem esta carncia a estao do cio bem marcada.

    Se o criador quiser planificar o momento da fecundao dever saberreconhecer os sinais de cio nas cabras:? agitao de cauda, mesmo quando se pousa a mo no lombo;? solta berros, est agitada e salta para cima das outras cabras;? vulva avermelhada e inchada;? urina frequentemente e de modo provocante na proximidade de um

    bode.

    Se houver um macho na proximidade, os sintomas de cio sero muitomais claros. Pode saber-se facilmente qual a cabra que quer ser co-

    berta colocando um bode junto do curral em que as cabras se encon-trarem: a que estiver em cio colocar-se- o mais perto possvel do ma-cho.Um bode detector poder indicar uma cabra em cio. Bastar pass-lo na proximidade das cabras. Quando souber qual a cabra que est emcio poder ento oferecer-lhe um bode no dia que mais lhe convenha.D ateno ao bode detector. Ele pode cobrir a cabra mais cedo doque lhe convenha. Um processo para evitar que isso suceda colocarum pedao de pano ao redor do ventre do bode. Esse pano reter oesperma impedindo a fecundao.

    2.4 O acasalamentoSe o bode tiver livre acesso s cabras poder esperar ter cabritos du-rante todo o ano. O bode cobre vrias vezes as cabras em cio. So asfmeas que escolhem o momento de serem cobertas o qual , geral-mente, a altura mais favorvel do cio.Se quiser, por quaisquer razes, que as paries tenham lugar em cer-tas alturas do ano, necessitar de limitar o acasalamento a um dado

    perodo.Isto pode ser praticado para:

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    ? evitar uma grande sobrecarga de trabalho (por exemplo, para evitarque as paries e as colheitas sejam feitas simultaneamente);

    ? evitar uma estao desfavorvel do ano, durante a qual o alimentoseja escasso e pouco rico em protenas.

    Se as cabras e o bode estiverem separados aconselhamos que a cabraseja coberta cerca de 12 horas depois dos primeiros sinais de cio,repetindo eventualmente o acto seis horas mais tarde. Um salto maisfrequente intil e prejudicar a qualidade do esperma.Quando uma cabra est prenha no mostra sinais de cio. Se ela entrarnovamente em cio 17 a21 dias depois do salto, isso significa que nofoi fecundada. preciso portanto estar atento aos sinais de cio que

    apaream depois de a cabra ter sido coberta para que seja novamentecoberta.Existem meios para influenciara reproduo. Indicamos, seguida-mente, dois sistemas:

    Bodes e cabras permanentemente separados.Neste sistema o criador s coloca a cabra na presena do bode quandoela est em cio. Ficar assim a saber a data exacta do salto. O criadordeve verificar o incio do cio, o que exige muita ateno e nem sempre fcil. Ele corre o risco de constat-lo muito tarde ou mesmo de nose aperceber dos sinais de cio e assim deixar passar o melhor perodo

    para a cobrio.Ter ento de esperar trs semanas at que possa levar esta cabra ao

    bode. Se isto acontecer muitas vezes no fim do ano ter um menornmero de cabritos.

    Os bodes e as cabras que podem ser cobertas so mantidosmisturados.Com este sistema as cabras que no devem ser cobertas podem serisoladas. As cabras que devem ser fecundadas podem ser deixadascom os bodes durante todo o dia ou somente durante a noite. A vanta-gem deste sistema que o bode est sempre atento para no perder o

    perodo do cio. O inconveniente ser no se saber com toda a certeza

    se a cabra foi coberta e quando foi coberta.

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    2.5 A gestao preciso deixar passar alguns meses depois do salto para que se possater a certeza de que uma cabra est prenha. Neste caso a barriga inchae podem sentir-se os movimentos do feto (flanco direito da cabra).A gestao da cabra dura 145-150 dias (21 semanas). Durante este

    perodo deve ser deixada na maior tranquilidade para evitar um partoprematuro. Sobretudo nas ltimas 6 semanas preciso dar muita aten-o futura me. Deve ser-lhe dada uma rao melhorada (com mais

    protenas e sais minerais).Oito semanas antes do parto, se ainda houver secreo de leite na ca-

    bra prenha ela deve ser interrompida. Os cabritos sero desmamados e

    interrompe-se a ordenha (nas cabras leiteiras). Deste modo o cabritorecm-nascido desenvolver-se- melhor e a me ser capaz de pro-duzir novamente muito leite depois do parto.

    2.6 O partoAlguns dias antes do parto a vulva e o bere da cabra comeam a in-char; a garupa e a bacia tornam-se mais flexveis. No dia do parto a

    cabra fica agitada, deitando-se e levantando-se frequentemente. Deixade beber e de comer. O bere est contrado, duro. Repele os cabritosque se aproximem. Isola-se do robanho e afasta-se para um canto docurral. O tampo vaginal (um rolho de muco que protege as vias ge-nitais contra as infeces) solta-se e fica pendurado da vulva como umlongo fio de muco. Nesta altura, geralmente, a cabra vai deitar-se, mastambm pode parir ficando de p. As contraces aumentam, ento,em nmero e em intensidade.

    O recm-nascido vem coberto por dois envlucros ou madres. Estesdois envlucros so expulsos para o exterior. O colo uterino e a vaginadilatam-se. No preciso puxar os envlucros porque eles servem

    para alargar a via de sada, um de cada vez.Em posio normal so as duas patas dianteiras que saem primeiro,depois a cabea, ainda envolvida pelo envlucro interno. O resto docabritinho ento expulso muito rapidamente devido a constantescontraces.

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    Se os cabritos sofrerem de inflamao do umbigo, deve trat-lo apli-cando um desinfectante que pode ser: tintura de iodo, lisoformio, clo-ranfenicol ou creolina (figura 1).

    Figure 1: Aplicar um desinfectante

    Durante o parto caem grandes quantidades de lquido e de mucus nosolo do curral e isso deve ser limpo.Vigie bem a cabra e a cria durante um certo penodo porque impor-tante haver uma boa relao entre os dois. No dia a seguir ao parto, j

    os cabritinhos podem acompanhar o redanho no pasto.A placenta expulsa, normalmente, nas doze horas que se seguem aoparto, devido s contraces do tero e traco exercida pelos en-vlucros que j esto pendurados exteriormente. Nas duas a quatrosemanas depois do nascimento sai do tero uma espcie de lquidoque tem a funo de autolimpeza. Este lquido muda de cor e passa devermelho para castanho at ficar claro. Se no ficar claro ou se cheirarmel, significa que existe uma infeco do tero. Esta infeco deve ser

    tratada com antibitico. Pode tambm desinfectar o interior do tero,

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    Figure 2: Partos

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    3 Criao e seleco

    3.1 Criao

    Por criao entende-se os cuidados que devem ser prestados ao cabritoat que atinja a maturidade sexual. Cabritos bem tratados tero muitomais possibilidades de serem de boa qualidade na idade adulta. Ummomento essencial o desmame dos jovens, quando eles so separa-dos das mes e deixam de mamar.O leite o primeiro alimento do cabrito. O sistema digestivo do jovem

    permite-lhe absorver facilmente esse alimento rico em protenas e em

    energia. O primeiro leite materno, o colostro, muito concentrado ini-cialmente, mas um dias depois, j muito parecido com o leite queser produzido durante todo o perodo da lactao. Alm das substn-cias alimentares, o colostro contm numerosos anticorpos que so de-strudos no sistema digestivo do recm-nascido. Estes anti-corpos ga-rantem uma defesa contra certas bactrias. Mas o sistema digestivomuda rapidamente e todas as protenas, incluindo tambm os anticor-

    pos, so destrudos. por isso essencial que os recm-nascidos ma-

    mem, logo que o possam fazer, todo o colostro possvel e vontade.Isto no representar qualquer dificuldade, poisos recm-nascidosprocuraro instintivamente as tetas da me.As mes que sejam muito jovens ou estejam doentes aceitam dificil-mente, por vezes, os seus prprios filhos. Poder ento amarr-la para

    permitir que os filhotes mamem ou ento d-los a outra cabra que osaceite. Se esta tiver acabado de parir, ento esfregue os cabritos-orfoscom a placenta que tiver expulsando. Esta tcnica facilitar a adopo

    (reconhecimento dos filhos pelo cheiro). importante examinar bem os cabritos. Verificar que um animal muito mais activo do que outro ou que ele cresce mais depressa. Seum cabrito permanece isolado e passivo, com plos eriados no dorso,olhando fixamente, em frente, isso significa que no mamou nesse dia.Esteja vigilante: aprenda a conhecer os seus cabritos.Para alimentar os cabritos mo, o melhor usar leite de cabra. Se

    por qualquer razo no tiver leite de cabra, use outro leite. O mais f-

    cil ser o de vaca (eventualmente em p). Pode d-lo com o auxlio de

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    No existe a cabra ideal. O criador tenta obter a cabra que correspon-der melhor aos seus fins.Por isso selecciona no seu prprio robanho ou compra animais paraque consiga chegar ao melhoramento gentico das suas cabras.

    As caractersticas dos caprinos so determinadas pelo seu patrimniogentico, mas existem processos para influenci-lo. Os factores domeio ambiente como o clima, a alimentao (qualidade e quantidade),a higiene, o alojamento e os cuidados gerais so determinantes.A seleco no faz qualquer sentido se no forem criados antes fac-tores ptimos do ambiente. Eles daro um resultado mais rpido doque a seleco a partir do patrimnio gentico.Por outro lado, existem factores animais que exercem influncia sobre

    os caprinos: a idade, o sexo, a existncia do cio, a gestao e a lacta-o, primiparas (prenhes pela primeira vez) ou partos gemelares (vri-os gmeos), etc.

    Quando se selecciona necessrio fazer comparaes entre os animaisque podem ser guardados no mesmo meio ambiente e que correspon-dam ao mesmo grupo de factores animais.Comparam-se os resultados das cabras do mesmo grupo, depois com-

    param-se com as de um vizinho (o mesmo tipo de cabras, mantidas emcondies semelhantes). Quanto maior for o nmero de animais maisdifcil ser conseguir fazer um exame correcto. Ser portanto muitotil possuir uma correcta administrao da explorao animal. Estamatria ser tratada no captulo 7: ADMINISTRAO.

    Antes de passarmos ao estudo da seleco cuja finalidade principal :? melhorar a reproduo,? melhorar o rendimento em leite,? melhorar o crescimento,convm esclarecer que a seleco de certas caractersticas pode preju-dicar outras caractersticas do animal.

    Avaliaao do aspecto fsicoUma primeira selecco faz-se com base no aspecto fsico. Mas acon-

    selhvel que, mesmo assim, se faa uma avaliao sistemtica baseada

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    em critrios determinados. O juzo emitido ter assim mais valor eser mais objectivo. Certamente que ser melhor possuir uma cabrarobusta, a qual viva mais tempo e d uma boa reproduo durante um

    perodo prolongado. Deve ser dada ateno ao esqueleto. Um peito

    profundo e largo d mais espao aos orgos e indica que eles estobem desenvolvidos. O animal poder igualmente comer mais e pro-duzir mais. Deve prestar-se ateno ao harmonioso desenvolvimentode todo o corpo com plo acamado e brilhante, com os rgos genitais

    bem colocados e bem desenvolvidos. Na cabra, sobretudo na leiteira,deve verificar-se se o bere est bem colocado (entre as penas) e bemdesenvolvido, se a irrigao sangunea abundante, com tetas bemdesenvolvidas e apontadas para baixo.

    Para determinar objectivamente as propores do corpo bom tomaralgumas medidas, caso contrrio haver o risco de ser enganado poruma cabra com belas cores e muito mansa.Entre outras, deve medir a altura do garrote, a largura do peito (logoatrs dos membros anteriores) e o comprimento do dorso (a distnciaentre o ponto mais alto da omoplata e o osso da anca (figura 3).

    Figure 3: Avaliao do aspecto fsico

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    Para julgar uma cabra desconhecida prtica comum poder tambmcalcular a sua idade. Isto faz-se pelo exame dos dentes (ver o anexo 5:clculo da idade).

    Seleco pela reproduoConsiderar em primeiro lugar os resultados dos saltos:? quantas vezes por ano pariu cada cabra (intervalo entre os partos)?? quantos filhos pariu em cada barriga?

    Estes dois elementos indicaro:? o nmero de cabritos por ano.

    Se for julgado mais interessante ficar a saber quantos cabritos foramproduzidos para venda, dever calcular-se tambm a percentagem demortalidade, a qual dar ento: o nmero de cabritos desmamadoscom sucesso por cada cabra em cada ano.

    Este resultado no depende somente em grande parte dos factores am-bientais (clima, higiene, alimentao e outros) e dos factores animais(por exemplo: a idade da cabra), mas tambm muito dos factores he-reditrios, como o rendimento da me em leite ou a resistncia doscabritos s doenas.Se estes elementos forem correctamente anotados ser possvel ficar aconhecer objectivamente os resultados de cada cabra. O julgamento decada cabra ser tanto mais correcto quanto maior for o nmero de re-sultados de que se disponha.

    O melhor ser acompanhar as cabras durante dois anos antes de retirarconcluses definitivas. Escusado ser dizer que todos os animais queno tenham dado uma completa satisfao sero rapidamente substi-tudos.Todas as cabras que produziram um nmero de cabritos desmamadosinferior ao que era esperado sem causas aparentes, sero imediata-mente substitudas. Pode haver ento duas solues: comprar uma boacabra a um criador de confiana ou guardar os cabritos jovens das me-

    lhores cabras.

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    Quando o nmero de cabritos nascidos por ano for fraco em todo orebanho (para todas as cabras) sem que existam circunstncias anor-mais respeitantes explorao, o bode ou os bodes podero ser ascausas. Dever ento experimentar um macho pertencente a um viz-

    inho para ver se os resultados melhoraro.O bode ou os bodes devem ser substitudos regularmente por outrosnovos para evitar problemas de consaguinidade (uma vez por ano).Estes bodes devero ser adquiridos a outros criadores de confiana econhecidos por seleccionarem as caractersticas que mais interessarems finalidades pretendidas.

    Seleco para a produo de leite

    Esta seleco faz-se somente quando se pretendem cabras para a pro-duo leiteira. Aqui devem ser tomados com muita ateno os factoresfsicos externos para esta produo, em primeiro lugar, e depois ter emconta tambm os factores internos do rebanho que se possuir.

    Figure 4: Curva de lactao

    A figura 4 mostra que, no comeo da lactao uma cabra d umaquantidade de leite que aumenta rapidamente. O rendimento em leiteatinge assim um mximo e depois diminui. O perodo durante o qual o

    rendimento dirio em leite alto dura perto de 2 meses; depois o

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    rendimento permanece em nvel inferior durante mais ou menos trsmeses. Nos trpicos o rendimento em leite de um a dois litros pordia, com uma rao de forragens grosseiras . O estmulo da mama pelamungio ou pelos cabritos que mamam, permite prolongar o perodo

    de lactao.Quando se selecciona preciso dar ateno em primeiro lugar pro-duo total de leite no decurso dos duzentos dias que se seguem ao

    parto. Ser geralmente tanto mais alto quanto o rendimento dirio nodiminua muito depressa (comparar a cabra 2 com a 1 ). Em segundolugar deve procurar-se fazer com que a produo mxima atinja umnvel mais elevado (mximo mais alto da produo diria de leite).Conservam se as cabras boas que produzam mais leite e utilizam-se os

    seus filhos para substituir as cabras menos produtoras.Ateno: ter sempre em conta as caractersticas de reproduo das ca-bras.

    Seleco para a produo de carnePode seleccionar-se tambm para a produo de carne. Nos pasesocidentais a gordura que produzida juntamente com a carne con-siderada de valor inferior, mas nos trpicos ela atinge por vezes tantovalor ou mesmo mais do que a carne.

    Figure 5: Curva de crescimento da carne e da gordura

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    A produo de carne acontece principalmente quando os animais sojovens. O desenvolvimento da gordura tem lugar, pelo contrrio, maistarde (ver figura 5). preciso portanto saber o que ser mais conven-iente. Podem preparar-se os jovens para a produo de carne ou con-

    servar os animais muito mais tempo para a produo de gordura. Se ofim principal for a criao ou a produo de carne devem pesar-se osanimais com a mesma idade, por exemplo quando tiverem trs e seismeses. Aos seis meses preciso ter em conta o efeito do desmame.Quando a disponibilidade em forragem for factor restritivo, a selecoser feita de modo a conseguir o peso mximo o mais rapidamente

    possvel. Um erro frequentemente praticado consiste em vender oumatar os animais que apresentam crescimento mais rpido quando o

    que se devia era seleccionar neste grupo os futuros reprodutores.Quando as forragens no forem factores restritivos prefervel selec-cionar conforme o poso mximo obtido. Os animais que inicialmentetiverem um crescimento mais rpido no so, necessariamente os quetero pesos finais mais elevados. Ser assim possvel seleccionar osanimais destinados reproduo pelos seus pesos finais mximos (porexemplo, quando tiverem um ano e meio de idade).Se a seleco for feita para ter animais gordos a escolha ser realizadasegundo esta ptica, mas ser eficiente engordar os animais re-forando a alimentao com forragens ricas em energia. No fcilcalcular em vida a quantidade de gordura que o animal apresentaraps o abate; por isso deve guardar-se um irmo ou irm dos animaisque tiverem dado bons resultados. No ser preciso acrescentar aindaque as qualidades de reproduo so igualmente muito importantes

    para o resultado final de produo de carne.Finalmente, para melhorar as caractersticas hereditrias em geral, svezes preciso recorrer ao cruzamento com outras raas para se chegarmais rapidamente a um certo resultado. Mas necessrio ser-se pru-dente: pois poder acontecer que a nova raa no esteja adaptada aomeio ambiente local e os resultados conseguidos serem mnimos oumesmo maus. O animal resultante do cruzamento pode ser menos re-sistente s doenas locais ou necessitar de forragens melhoradas queno consegue encontrar localmente. Uma boa prtica ser observar

    primeiro os resultados que os restantes vizinhos obtiveram no pais ou

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    Criao e seleco 25

    na regio, com o mesmo cruzamento. Criar cabras uma ocupaotil e agradvel. medida que se for adquirindo experincia, os lucrossero cada vez maiores. Por isso no se deve perder coragem se osresultados iniciais no forem to bons como se esperava.

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    4 Alimentao

    Como os caprinos so ruminantes, eles sabem aproveitar relati-

    vamente bem os capins de m qualidade. Isso a consequncia de elespossuirem no rumen (ou pana, ou primeiro estmago) micrbios ca-pazes de degradar a celulose, fornecendo lhe assim protenas e ener-gia. Um caprino que possa escolher livremente a sua alimentao ser,geralmente, capaz de encontrar alimentos que lhe asseguram a prpriasobrevivncia e lhe permitam, embora precariamente, alguma pro-duo (crescimento, reproduo, produo de leite, produo decarne).

    As cabras so muitas vezes acusadas de responsabilidade no desapare-cimento da vegetao em grandes reas das regies tropicais e sub-tropicais. Deve esta reputao ao facto de pastar em campos onde asovelhas ou as vacas no encontrariam suficiente capim e plantas. Umacabra pode conseguir a sua alimentao graas escolha que capazde fazer. Isso conseguido, frequentes vezes devido escolha quesomente ela pode fazer. Naturalmente que isto reflectir-se- sobre arestante vegetao que ser prejudicada, mas smente o verdadeirose as vrias espcies de ruminantes pastarem juntamente, umas depoisdas outras, nas mesmas pastagens. A vaca procura principalmente oscapins e as plantas sem se preocupar com a qualidade do que come.Os carneiros fazem pouca seleco do que comem, mas preferem as

    partes de melhor qualidade do capim e das plantas, tais como as folhasnovas e os rebentos mais tenros. As cabras tm duas maneiras de pas-tar: elas podem comer tambm capim e plantas ou comerem as folhasdos arbustos e das rvores; so mais fceis de contentar quanto ao tipode plantas; comem mesmo as plantas aromticas e as de sabor amargo.Alm disso no procuram somente as folhas jovens, mas consomemtambm todas as espcies de flores. Comem as folhas, os frutos e asrazes das rvores e arbustos e podem colher as folhas que estiverementre os espinhos, graas a movimentos do lbio superior e da lngua(figura 6). Em caso de absoluta necessidade podem mesmo comer acasca das rvores e as razes que estiverem superfcie.

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    Como consequncia destes dife-rentes modos de pastar, a cabra capaz de sobreviver, sat-isfazendo bem as suas necessi-

    dades, em pocas difceis. Nofim da estao seca, ela estarem melhor estado de carnes doque uma vaca ou um carneiro.Lanar cabras, vacas e carneirosna mesma pastagem tem a van-tagem de retirar todo o proveitoda cobertura vegetal existente,

    mas existe o risco de sobre-pastoreio (pastoreio excessivo).Deixando pastar apenas as ca-

    bras evita-se o crescimento dosrebentos dos arbustos e permite-se que o capim e outras plantas

    plantas possam crescerSe for decidido criar cabras em curral fechado, ser necessrio que o

    prprio criador lhe fornea a forragem. As cabras gostam de raesconstitudas por variedade de forragem fresca, mas no muito hmida.

    No gostam de forragem com bolor ou cheiro a mofo ou podre. aconselhvel aliment-la vrias vezes por dia (preferivelmente trsvezes).

    4.1 Energia e protenasUma cabra tem necessidade de uma certa quantidade de forragem paramanter uma boa condio fsica, sem que haja melhoramento (cresci-mento) ou deterioramento (perda de peso); a isso que se chama raode manuteno. A forragem d-lhe energia e protenas. A energia necessria para todos os fenmenos da vida (digesto, respirao, etc)e para caminhar. As necessidades em energia so expressas Mega-Joules por animal por dia de energia metabolisvel (EM). Esta a en-

    ergia que aproveitada pelo animal quando as substancias alimentares

    Figure 6: Uma cabra comendo

    folhas e rebentos de um arbusto

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    ficado definitivamente modificado e ele , de facto, um mecanismo deauto-proteco da cabra me.

    4.2 Minerais e vitaminasOs minerais so muito importantes para a cabra. Eles intervm na se-creo do leite e na formao dos ossos durante o crescimento e a ges-tao. Consequentemente, o teor de minerais da rao deve ser sempresuficiente nos animais jovens, nas cabras prenhes e nas cabras em lac-tao.Uma carncia de minerais traduz-se por uma falta de apetite, uma me-nor fecundidade, pelos quebradios e mau crescimento. Nunca se deve

    esquecer que nos casos de carncia a cabra ir buscar as suas prpriasreservas. Quando a carncia se manifesta ela j existiria, na verdade,h muito tempo.

    No caso de carncia o animal comear a lamber ou a comer todas asespcies de objectos. Mas o risco de carncias ficar diminuindo se elereceber uma alimentao variada. Deve tambm ficar claro que umexcesso de minerais poder ser nocivo. Os rins que eliminam estesexcessos estaro ento sobrecarregados.

    Convm por isso ser prudente com as misturas deminerais.Os minerais mais importantes so: sal de cozinha,clcio, fsforo, ferro, cobre e iodo.O melhor ser fazer com que as cabras disponhamsempre, livremente, do sal de cozinha. Este saldeve ser separado dos restantes pois a sua necessi-dade de longe superior dos restantes minerais.Osal de cozinha pode tambm ser administrado sob aforma de bloco ou ter, por exemplo, uma cana de

    bambu com cerca de 10 cm de diametro, na qual seabriram numerosos buracos na parte inferior, cheiade sal e pendurada (figura 7). importante pro-teger o sal da chuva para que no seja dissolvido.

    Figure 7: Bloco

    de sal para

    lamber

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    As cabras leiteiras tm mais necessidade de sal porque o excretamcom o leite. Se houver carncia de sal, o apetite diminui e o tubo di-gestivo funciona mal.O clcio e o fsforo so minerais importantes para a formao dos

    ossos. importante que exista na forragem uma proporo cl-cio/fsforo de 2 para 1.O clcio existe geralmente em quantidade suficiente nas folhas verdesdas rvores e dos arbustos que fixam o azoto. O fsforo existe sobre-tudo nos cereais e nas sementes. As cabras leiteiras tambm tm ne-cessidades superiores de clcio e de fsforo. A falta de ferro revela-se

    por anemia e as mucosas ficam mais plidas. Existe muito ferro naspartes verdes mais escuras das plantas. O cobre necessrio para a

    formao do sangue. Uma falta de cobre indicada por deficincias napelagem. Os concentrados contm, por vezes, muito cobre. Uma ca-rncia em iodo manifesta se pelo nascimento de cabritos fracos e porvezes nado-mortos com m formao dos membros. As cabras podemter uma dilatao da glndula tiride (bcio). As carncias em iodo

    podem ser evitadas com o sal marinho e com outros sais que fixam oiodo.Quanto s vitaminas, somente poder haver carncia da vitamina A.Esta falta indicada por inflamaes dos olhos, descamao da pele(caspa), inflamaes do sistema respiratrio e do tubo digestivo. A suafalta pode produzir tambm cabritos fracos. As cabras leiteiras e ascabras prenhes devem receber maiores quantidades de vitamina A. Avitamina A formada no organismo animal pelo caroteno, uma sub-stncia que se encontra sobretudo nas partes verdes das plantas e nasque so completa ou parcialmente vermelhas, como os tubrculos da

    batata doce e as cenouras. O teor de caroteno da forragem diminuiquando a forragem conservada. Existe portanto frequentemente umafalta de caroteno na estao seca. As cabras em lactao e as prenhesno tero portanto reservas suficientes no fgado. Existem preparados

    para remediar esta falta.

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    4.3 guaUma cabra consome, em mdia, quatro vezes mais gua do quematria seca (forragem seca no forno). Tem portanto muita necessi-dade de gua, sobretudo na estao seca quando as forragens exis-tentes contm pouca humidade. O capim seco ou a palha contmsomente 10 a 15% de humidade.Quando os animais no bebem, comem menos e produzem igualmentemenos. Nas regies tropicais hmidas pode suceder que as forragenscontenham muita gua (mais de 80%) o que traz como consequnciaque os animais recebam menos nutrientes. Neste caso tero de comermuito para conseguirem uma alimentao suficiente.

    As necessidades em gua dependem de diferentes factores. Com tem-peraturas ambientais altas, a evaporao corporal maior e os animaisnecessitam de mais gua. A temperatura da gua igualmente impor-tante. Quanto mais fria for a gua, menos quantidade a cabra beber eo consumo de forragem aumentar. E pois importante que a gua para

    beber seja conservada fria e dada regularmente para evitar que seaquea no bebedouro. Tambm ser preciso renovar frequentemente agua para que ela no fique suja.

    As cabras recusam-se a beber gua suja. preciso ter cuidado paraque ela seja conservada limpa. As cabras em produo leiteira deverobeber mais gua, porque ela o elemento principal do leite. As cabrasde talho tm, relativamente, menos necessidade de gua do que as ca-

    bras em lactao.

    4.4 Consumo de forragem

    O consumo de forragem importante para que a cabra produza; comoregra geral, quanto mais uma cabra consumir mais produzir. O con-sumo de forragem expresso em quilos de matria seca (kg M.S.).

    Consumo de forragem e tipo de produoAs diversas raas de caprinos tm um consumo diferente de matriaseca avaliado em percentagem dos pesos respectivos. As cabras leitei-ras consomem 5% a 8% por dia enquanto as de talho no ultrapassam

    os 3%.

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    Consumo de forragem e o climaO clima tem um papel importante. Quando a forragem assimilada, acabra liberta uma certa quantidade de calor, o qual ter de ser elimi-nado por evaporao ou por libertao directa no ar.

    Se o ar estiver muito hmido ou se estiver muito quente, a cabra po-der ter dificuldades em desembaraar-se pela evaporao do calorque produziu e consumir menos forragem

    Consumo de forragem e a guaQuando uma cabra no dispuser de gua suficiente para cobrir as suasnecessidades, consome menos forragem. Ela necessita dessa gua paraassimilar o alimento e para libertar o seu calor pela evaporao.

    Consumo de forragem e assimilaoA assimilao da forragem importante pois ela que determina a

    parte que ser aproveitada pelo animal. Depende, entre outros, do teorem energia e em protenas e em segundo lugar dos teores de vitaminasde sais minerais; os teores desses materiais nas diversas forragens somuito diferentes. A energia de uma planta encontra-se principalmentenos glcidos e nos lpidos. Os glcidos podem subdividir se em celu-lose brota (cb) e em outros glcidos (o.g.). a celulose bruta que assegura a robustez da planta contribuindo paraformar as paredes das clulas. O seu teor mais alto numa plantamais velha. Os capins, as rvores e os arbustos lenhosos e robustostm maior quantidade dessa substncia do que os capins verdes. A ce-lulose tambm frequentemente menos assimilvel. Os concentradoscontm, em geral, pouca celulose bruta.Os outros glcidos como o amido e os acares formam geralmente ocomponente principal da matria seca da forragem. Um teor elevadodestes mais favorvel para o animal do que a celulose bruta, em vir-tude da sua assimilao ser mais fcil. As plantas com tubrculos erazes comestveis, assim como os cereais, so especialmente ricasnestes glcidos.Os lpidos produzem 2 a 3 vezes mais energia do que os glcidos.As sementes das plantas oleaginosas (soja, algodo, tornesol, amen-

    doim, coco) so ricas em lpidos. Mesmo depois da extraco do leo,

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    4.5 Composio da forragem e raoNo Anexo 1 poder encontrar a composio de um certo nmero dealimentos. Os respectivos valores nutritivos dependem do solo , daestao do ano, da idade da planta, etc. O valor nutritivo dos sub-

    produtos varia com o processo de transformao e tcnica de conser-vao. preciso que esta lista no seja considerada como definitiva ou abso-luta, mas como uma indicao. Se houver uma planta ou um produtodisponvel, procure na lista o que mais se aproximar deles e conse-guir ficar com uma ideia do respectivo valor nutritivo. O importante que aprenda a separar, mais ou menos, as forragens por categorias:?

    as ms, que so inconvenientes e somente so utilizveis em camas(por exemplo: palha ou capim muito seco (na estao da seca);? as medicres, que so convenientes para manuteno e um cresci-

    mento fraco, como possvel encontrar-se durante grande parte doano num sistema extensivo.

    ? as mdias, que permitem cabra um crescimento mdio e umaproduo de leite pouco elevada.

    ? as boas, que podem ser usadas pelos animais com grandes necessi-

    dades nutritivas, como as cabras prenhes, as cabras em produolctea e os cabritos, as quais permitem produes altas.

    Conforme as necessidades nutritivas e a composio das forragens, possvel calcular a quantidade e a espcie de forragem a fornecer. Noanexo 2 apresenta-se um exemplo de um clculo de rao. Deve notar-se que no existem valores absolutos, tanto para as necessidades nutri-tivas como para a composio das forragens.

    Por vezes difcil, nos trpicos, poder conhecer os valores nutritivosexactos, porque os produtos variam segundo o solo, a estao do ano ea transformao. Mas, com um pouco de bom senso, de conhecimen-tos e de perspiccia ser possvel fazer uma razovel avaliao. O an-exo 1 d os valores nutritivos e os factores de converso, se existiremalguns valores locais. Se a rao tiver muito poucas protenas, tentesubstituir uma forragem pobre por outra rica em protenas. O mesmo

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    se dir para uma falta em energia: use uma forragem rica em energia.O resultado final conseguido por tentativas.

    4.6 Processos para melhorar a alimentaoConservaoExistem vrios processos para melhorar o aprovisionamento de for-ragens. Abordaremos aqui a conservao de forragens pela secagem eensilagem e bem assim a utilizao dos restos das colheitas ou pro-dutos derivados. Estes processos so utilizados quando existirem gran-des diferenas nas forragens disponveis, segundo a estao.

    Na estao das chuvas, o excesso de forragem dever ser conservadopara a estao seca. Com estas tcnicas possvel conservar umagrande quantidade de produtos deteriorveis (como os resduos de f-

    brica de cerveja) os quais sero depois usados pouco a pouco.Uma secagem mais rpida da forragem (por exemplo: o capim) faz

    baixar o teor da humidade para valores inferiores a 20% (e portantoaumenta o valor da matria seca

    para mais de 80%).

    Consegue-se desta forma evitaro apodrecimento. preciso cei-far o capim antes do apareci-mento das flores, seno a quali-dade da forragem baixar muito.Sempre que o clima o permita, o

    capim deve ser deixado a secaronde tiver sido cortado no cam-

    po. Quando a chuva no permi-tir que isso seja praticado

    preciso secar o capim amon-toando-o em fenadores (tripsde madeira (figura 9).Se choversomente se molhar a superfcie

    Figure 9: Fenador com feno

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    externa e o capim fica afastado do solo. Alm disso h uma certa ven-tilao que vai facilitar a secagem.Para conservar a qualidade o feno armazenado num local ao abrigoda chuva e do sol (medas de feno).

    Quando se ensilar, deve procurar-se acidificar a forragem o mais de-pressa possvel para parar o desenvolvimento das bactrias quecausam a putrefaco (elevado grau de acidez ou pH baixo). Essaacidificao facilitada dando aos fermentos lacticos a possibilidadede se multiplicarem ao mximo. Para isso preciso que haja umaquantidade suficiente de aucares na forragem e se crie um ambiente

    pobre em oxignio, por excluso do ar. A ensilagem permite conservaros capins verdes ou, por exemplo, os resduos das fbricas de cerveja.

    Os capins e outras plantas verdes contm poucos aucares ou glcidoslivres e aconselha-se que eles sejam adicionados ou ento que se juntesal (para parar o crescimento das bactrias da putrefaco)

    Mtodo de trabalhoFaa uma cova ou uma trincheira (= o silo) com um metro de profun-didade, aproximadamente, no ponto alto para que fique livre das infil-traes de gua. Corte o capim quando o tempo estiver seco, antes daflorao e deixe que fique murcho. Amontoando-o ou cortando-o finofar libertar os acares de que os fermentos lcticos necessitam. Co-loque ento os capins no silo. Adicione, eventualmente melao ou sal(em quantidade proporcional ao poso da forragem fresca: 1 a 3 % demelao ou 1 ,5 a 3% de sal). Misture bem. Encha rapidamente a cova

    para evitar que se desenvolva, entretanto, a putrefaco (em 2 dias nomximo) e calque as sucessivas camadas com os ps, por exemplo, oucomprimindo com o cilindro de um tractor para que saia a maior quan-tidade possvel de ar da forragem. Encha o silo que tenha 1 metro de

    profundidade com o capim at altura de um metro e meio acima dosolo: durante a ensilagem, a forragem torna-se mais compacta. Se nohouver forragens suficientes para encher o silo, completamente, emdois dias, melhor fazer um silo menos profundo do que um silogrande que no ficar completamente cheio. Cobrir ento o silo comuma camada de folhas grandes (de bananeira, de mandioca, de milho)

    ou com um plstico sobre o qual se pe uma boa camada de terra (50

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    terra (50 cm, por exemplo). Faa com que exista uma boa drenagemde gua volta do silo.

    4.7 Restos das coIheitas e subprodutosNas regies onde as forragens escasseiam, os restos das colheitas e ossubprodutos que resultam da transformao dos produtos colhidos somuito importantes como complementos da rao.Os restos das colheitas, ou seja, o que fica no campo aps a recolha,tm mais interesse quantitativo do que qualitativo. So muitas vezesas partes mais idosas e lenhosas das culturas, com pouco valor nutri-tivo; as partes com maior valor nutritivo foi j apanhada. Os valores

    em energia e em protenas permitem classificar esses restos das col-heitas como forragens grosseiras e ms. O resto mais usado a

    palha. Os subprodutos tm valor nutritivo mais alto do que os restosdas colheitas.Podem servir como complementos de energia e/ou de protenas. A suadisponibilidade porm frequentemente restricta porque provm daindustrializao (melao, restos de fbricas de cerveja, farelo de arroz,turt de algodo ou de amendoim, etc.). S possvel obt-los na

    proximidade da fbrica e somente so peralmente acessveis se ex-istirem boas relaes com os proprietrios. Alm disso, estes sub-

    produtos servem muitas vezes para a fabricao de produtossecundrios (como a aguardente ou o rum a partir do melao ou dasforragens concentradas para venda local ou para exportao) o quelimita ainda mais a possibilidade de acesso para o pequeno criador.Mas apesar da sua raridade, tente conseguir esses produtossecundrios. Misturando os em pequenas pores s forragens que

    possuir, de qualidade mdia, aumentar muito a assimilao do con-junto da rao. Se dispuser de pouca forragem concentrada ou de boaforragem grosseira, deve d-las aos seus animais sempre depois deuma forragem grosseira m. isso aumenta a assimilao total. Faa demodo a que haja sempre um tero de forragem grosseira; isso evita

    perturbaes intestinais.

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    em grupo (estabulao livre). Uma cabra triste, aptica (por causa deuma infeco grave por helmintas por exemplo) mais facilmente no-tada se estiver num grupo. Uma explorao tem um local de quaren-tena onde se podem isolar os animais doentes ou suspeitos. Outra

    vantagem do curral poder dar-se uma forragem melhor a certosanimais, por exemplo s cabras cheias ou em aleitamento ou que notenham foras ou estejam doentes. Mas h ainda sistemas quefacilitam a munjio (por exemplo: amarr-las sobre uma plataforma).Um curral pode ter como objectivo evitar o roubo de cabras. Por issoele deve ser slido e construdo perto da habitao do proprietrio.Um bom co pode ajudar vigilancia. sobretudo nas regies muito povoadas que preciso vigiar o re-

    banho para evitar que os animais destruam as culturas. Isto poder serfeito somente durante uma parte do ano. Evitar-se-o atropelamentosse houver na proximidade uma estrada com grande circulao de au-tomveis. Os estragos que as cabras provoquem so compensados

    pelo estrume que elas fornecem para as culturas. Um curral permiteconcentrar a produo de estrume o que facilita o seu uso.

    5.2 Mtodos de estabulaoAs cabras podem ser exploradas de diferentes maneiras; h bons cria-dores que somente oferecem aos seus animais a sombra e o abrigo deuma rvore, mas h outros que constroem um grande curral com umasala de munjio. Cada um escolhe o que mais lhe convier. Construa ocurral de modo a que as cabras possam viver nele comendo e repou-sando e onde o leitor trabalhe com prazer.O investimento numa boa explorao de caprinos pode parecer ele-vado no momento em que se calculam os respectivos custos, mas naverdade ele relativamente pouco se for comparado aos outros custos.Um bom curral dura muito tempo e dar origem a poucos problemas.Os custos verdadeiramente altos so: os da alimentao, os da mo-de-obra, os dos animais que morrem ou so roubados e os cuidadoscom os doentes. Por isso no vale a pena fazer economias inteis naconstruo de um curral. Ser melhor alojar as cabras individualmente

    ou em grupo? Geralmente os caprinos so explorados em grupos (es-

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    Alojamento 41

    tabulao livre) porque d menos trabalho ao criador (cabreiro) e oscustos das construes so mais baratos. Acontece tambm que a ca-

    bra um animal de rebanho por excelncia. O rebanho no deve sermuito grande para evitar muita agitao. Ser necessrio um espao

    com 1,5 a 2 metros quadrados por animal se as cabras estiverem per-manentemente presas no curral. Se sairem para o pasto bastar, so-mente, 1 metro quadrado por animal. O modo mais simples de prenderas cabras se o criador tiver poucos animais (1 ou 2) e no quiser gastardinheiro em investir prende-las a uma estaca cravada no solo. Tem oinconveniente de a cabra andar volta e destruir muito capim. Ser

    preciso ento mud-las frequentemente de lugar para que tenhambastante capim para comerem. Outra possibilidade ser esticar uma

    corda ou arame entre duas estacas bastante abastadas. A cabra estpresa a uma outra corda que desliza ao longo do fio (figura 10). Estesistema prefervel ao precedente.

    Figure 10: Cabra presa a uma trela de exerccio.

    preciso distinguir entre a estabulao parcial e a estabulao total.Na estabulao parcial os animais ficam no curral durante a noite ouparte do dia e vivem em liberdade o resto do tempo. Na estabulaototal o criador ter de fornecer toda a forragem e toda a gua de que os

    animais necessitem. Representa muito mais trabalho do que se as

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    cabras forem deixadas livres durante o dia e estabuladas durante anoite. Isto exige tambm mais espao, porque as cabras devem terlugar para fazerem exerccio. A vantagem da estabulao parcial queo curral pode ser mais pequeno e o criador no ter de transportar toda

    a gua e toda a forragem necessrias. Mas os ladres de animais tam-bm ficam sem coragem.

    importante orient-lo numa certa direco,conforme o clima (figura 12). Evita-se que osol bata com muita fora no curral colocandoo eixo do comprimento segundo uma orienta-o este-oeste. Se pelo contrrio se quiser que

    o sol penetre no estbulo, para manter o choseco e matar os parasitas a orientao sernorte-sul.

    Nos climas hmidos importante que o tel-hado seja bem impermevel e suficientementelargo para proteger contra a chuva empurrada

    pelo vento. Veja como so construdos os tel-hados das habitaes locais e tire as suas con-cluses.O telhado essencial para conseguir uma regulao das temperaturas.Um beirado grande evita que o sol entre profundamente no curral. Nosclimas frios pode ser conveniente que o sol aquea o curral. Ento

    prefervel ter uma grande superfcie de telhado no lado sul (hemisfrionorte) ou do lado norte (hemisfrio sul), para que o tecto aquecidoaquea tambm o curral. Todas as cabras libertam calor quando estodigerindo as forragens; as cabras prenhes, as que esto produzindoleite ou as que estejam em crescimento libertam relativamente maiscalor.Se os animais no puderem libertar-se deste calor porque a tempera-tura ambiente alta, comem e produzem menos.

    Figure 11:

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    Figure 12: Orientao do curral de cabras

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    preciso que no seu interior no faa muito calor, mas tambm queele seja bem arejado. O telhado deve ser construdo suficientementealto para que haja uma boa ventilao, com aberturas no tecto e nas

    paredes (figura 13A). A ventilao permite a entrada do ar fresco e a

    sada do ar hmido. Dever porm dar-se ateno a que a ventilaono significa correntes de ar As aberturas devem estar situadas a umaaltura tal que o ar no bata directamente sobre os animais(correntes dear). Nos climas mais quentes em que os currais so completamenteabertos, basta construir uma parede baixa no lado de que sopra vento(1 metro de altura, por exemplo) ou plantar uma sebe (figura 13B).

    Figure 13: Ventilao, correntes de ar

    O cho do curral deve ser de fcil limpeza e permanecer seco. O chohmido e sujo favorece o aparecimento de toda a espcie de doenas ede parasitas. As cabras acabam por tambm ficarem sujas e molhadas,apanham frio, ficam sujeitas s doenas e do uma m produo.

    O solo coberto de areia absorve a urina. As feses devem ser retiradastodos os dias com um ancinho, para que no se forme lama. O cho decimento ou de terra batida tem a vantagem de ser fcil de limpar. Umaleve inclinao do solo permitir o escoamento da urina na direcode um rego, o qual terminar num outro rego escavado ao redor docurral, que servir tambm para impedir a entrada da gua da chuva.

    Nas regies tropicais hmidas ser melhor que se construa o cho comuma grelha de bambus ou de ripas de madeira (figura 14).

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    Figure 14:

    Espalhar palha no cho d uma proteco contra o frio. Todos os diasdeve espalhar-se uma nova camada de palha para que ela no fiquemuito hmida ( o que se chama curral com cama alta). Mas os cas-cos dos animais que andam sobre a palha crescem rapidamente e ser

    preciso apar-los regularmente (trs vezes por ano: ver Anexo 3: cui-dados com os cascos).

    5.3 Arranjo interiorSe o curral for construido para uma explorao do tipo estabolaolivre, pode haver a necessidade de isolar as cabras em certas ocasies(parto, doena, lactao). A distribuio das forragens e da gua exigetambm dispositivos especiais. prefervel que o parto tenha lugar emcompartimento separado para que os cabritinhos nasam em ambientelimpo, quente e tranquilo. Esse compartimento deve ter espao sufi-ciente para as futuras mes e para as pessoas que tratam delas. Ser

    bastante uma diviso com 2 metros por 2 metros.Para criar os cabritos ser por vezes necessrio mant-los apartados dorebanho durante os trs primeiros meses. Na verdade, na estabulaode grandes rebanhos h o perigo de os jovens serem pisados por outrosanimais ou de se perderem das mes.Se as cabras pastarem em campos acidentados ou perigosos, podemferir-se ou tresmalharem-se. Elas sero ento separadas dos restantesanimais num local do estbolo que est limpo, seco e abrigado das

    corentes de ar. E preciso isolar do rebanho os animais doentes para

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    la. Na construo alternativa que se mostra na figura 16, usa-se umafasquia que se passa por cima dos poscoos das cabras.

    Figure 16: Barreira de ripa para comedouro

    Em qualquer sistema de alojamento a distribuio das forragens e dagua tem grande importncia. Se as forragens forem distribuidas aosol, elas sero pisadas, ficaro sujas e de m qualidade. Por isso, o usode manjedoura (figura 1 7) de grande importncia. As cabras comemas suas forragens grosseiras levantando as cabeas, sem que as for-ragens toquem na terra. A manjedoura pode ser construida com paus

    ou ripas de madeira, barras metlicas, rede extensvel (com malhagem5 5) etc. preciso que os capins verdes estejam secos porque se es-tiverem hmidos sero mal assimilados.

    Quando fornecer forragem de alta qualidade pode suceder que algunsanimais fracos no consigam comer o seu quinho porque os mais ro-

    bustos comem tudo, pois geralmente esta rao fornecida em peque-nas pores. O problema ficar resolvido usando manjedouras indi-viduais pois ento cada animal ter o seu prprio lugar para comer

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    (figura 16). Uma manjedoura levantada do cho, facilita a limpeza,evita que as cabras nela entrem e a deixem os excrementos.Acontece o mesmo para os bebedourso. A colocao de uma grelha volta do bebedouro

    deixa que as cabrasbebam sem sujarem agua (figura 18). Deveexistir a certeza de queela tenha sempre gualimpa. Na estaoquente, se uma cabraestiver a comer uma

    forragem seca, podebeber cerca de 4 litrosde gua por dia (vercaptulo 3 ALIMEN-TAO).

    Na construo de um curral, assim como para tudo, essencial pensarantes de agir Veja como que os currais e as casas so contruidos nasua regio e procure compreender asrazes por que foram construidas decerta maneira e por que se usaram osmateriais aplicados.Quando utilizar madeira ou bambuter problemas com a conservao,

    pois h risco de putrefaco.Aconselha-se por isso que estes ma-teriais sejam besuntados com pre-

    parado adequado.

    Figure 17: Manjedoura ou comedouro

    Figure 18: Bebedouro

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    6 Sade, doenas e parasitas

    Este captulo ensina em primeiro lugar como se reconhece uma cabra

    com boa sade, depois estuda as causas das doenas e os parasitas pe-rigosos para a sade.Tal como para os Homens tambm se pode dizer para os animais quemais vale prevenir que remediar. Os animais com boa sade evitamdespesas com dinheiro e aborrecimentos. Se o curral for hmido eventoso, os animais estaro mais fracos e sofrero de vrias doenascomo as infeces pulmonares, por exemplo. Um curral sujo favoreceo desenvolvimento de bactrias infecciosas e de parasitas (vermes).

    Uma alimentao insuficiente ou inadequada enfraquecer os animaise poder dar origem a problemas graves (inchao ou indigesto gaso-sa do rumen, por exemplo). Conduzir os animais para pastarem nosmesmos locais vai aumentar a contaminao das pastagens e con-sequentemente aumentar o grau de contaminao do rebanho por

    parasitas (vermes, carraas).Mas impossvel impedir completamente as doenas e os parasitas,quanto mais no seja por causa de contactar directamente com outrosanimais ou com os seus excrementos. Descreveremos as doenas e os

    parasitas mais frequentes.O tempo, o dinheiro e os esforos que forem consagrados prevenodas doenas sero recompensados pela boa sade e pela boa produodo rebanho. Isto, por vezes, exige sacrifcios (por exemplo quando for

    preciso abater um animal que sofra uma doena contagiosa).Se no houver a certeza do diagnstico, deve consultar o veterinrioda regio. Ele tem mais experincia e dispe, frequentemente, de ou-tros meios, tais como um laboratrio, por exemplo.

    6.1 Cabras saudveisUma cabra com boa sade, reconhece-se pelo seu comportamento,

    pelo seu aspecto fsico e pelo bom funcionamento do seu organismo.Os caprinos so geralmente enrgicos. Caminham com passos firmes.

    So atrevidos e de olhos vivos. Tm bom apetite e ruminam depois da

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    refeio. No so magros. O plo liso e luzidio. Se examinarmosmelhor o respectivo aspecto fsico, comecemos pelas mucosas: elasso um bom indicador do estado da sade. Um animal com boa sadetem as mucosas dos olhos, da boca, do nariz e da vulva (nas cabritas,

    smente) de cor rosada.Uma das funes vitais mais importante um bom consumo e umaassimilao de forragem e de gua. Um bom consumo reconhece-se

    pelo apetite da cabra. Uma boa assimilao reconhece-se pelos excre-mentos: numerosas caganitas arredondadas e firmes.Outra funes so a circulao do sangue, a respirao, a urina e omodo de urinar: resultante do funcionamento do corao, dos pulmese dos rins. As batidas do corao dos caprinos novos, nos caprinos de

    um ano e num caprino adulto, so, respectivamente: 110-120, 80-1 10e 70-80, vezes por minuto. Uma produo alta ou uma prenhez adian-tada, aumentam o nmero de batidas do corao.Os pulmes funcionam bem se a cabra respira tranquilamente. As ca-

    bras jovens, as adultas e as mais velhas fazem respectivamente, 12-20,12-15 e 9-12 movimentos respiratrios por minuto. O bom fun-cionamento dos rins revela-se por uma urina clara e de cor amarela. Atemperatura do corpo uma forma prtica para controlar a sade. Elamede-se introduzindo um termmetro clinico no nus e mantendo-oa, pelo menos durante um minuto. os caprinos jovens tm uma tem-

    peratura alta (at 390C = 102,2 F). Na cabra adulta a temperatura daordem dos 38,5C (101,3 F). Nas horas que se seguirem s refeies, atemperatura de um ruminante pode ser mais elevada.A produo de leite tambm uma funo vital, caracterstica da ca-

    bra. Um bere so macio e elstico. No momento do parto o berepoder estar duro e inchado, sem que isso signifique a existncia deinflamao. O leite deve ter uma composio homognea e sem qual-quer cheiro especial.

    6.2 Cabras doentesOs sintomas mostrados por uma cabra doente diferem em vrios pon-tos do que foi escrito mais acima. partindo do principio de que o re-

    banho esteja so, uma cabra doente nota-se imediatamente porque ela

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    diferente. principalmente nos casos de doenas agudas, de rpidodesenvolvimento os sintomas notam-se muito depressa. Ser ento

    precisa uma actuao rpida. Uma doena aguda pode progredirrapidamente e acabar pela morte do animal.

    Nos casos de doenas crnicas (de grande durao) os sintomas somenos visveis. Por vezes apenas se nota que uma cabra emagreceu eque est produzindo menos. Este gnero de doenas mais difcil dedescobrir. Comparando as cabras do seu rebanho com as do rebanho

    pertencente a um vizinho, poder saber se haver uma doena crnica.

    6.3 Doenas contagiosas

    Peste dos pequenos ruminantes (PPR)Esta doena, semelhante peste bovina, causada por um vrus e en-contra-se principalmente em frica. A infeco a consequncia dainalao do vrus que provm do mucus nasal dos animais doentes.Sintomas: O perodo de incubao de 4 a 5 dias. Depois seguem-se 6a 8 dias de febre alta. H decomposio dos tecidos da boca, inflama-o das mucosas com um excesso de mucus nasal e diarreia. No prazo

    de uma semana a mortalidade elevada. Surgem as infeces secun-drias nos pulmes, sobretudo nos animais jovens.Tratamento: O mais aconselhado vacinar preventivamente. O trata-mento dos animais muito caro mas possvel se for feito logo noincio da doena. Ser melhor abater os animais doentes. Evitar as de-slocaes dos rebanhos para diminuir os riscos de contgio. As in-feces secundrias dos pulmes podem ser curadas com medicamen-tos especiais.

    Pleuropneumonia contagiosa dos caprinosEsta forma de pneumonia contagiosa causada por um micoplasma(uma nica clula muito pequena).O Mycoplasmamycoides, var. capri

    propaga-se em suspenso no ar (pelo mucus nasal). No caso de a es-tabulao ser permanente todo o rebanho ficar contaminado. A mor-talidade pode atingir quase 100%.

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    Sintomas: respirao rpida com frequentes ataques de tosse. O animalgeme quando respira e frequentemente tem muito corrimento nasal. Afebre alta.Tratamento: Vacinao preventiva, medicamentos arsenicais e anti-

    biticos.

    PasteureloseTrata-se tambm de uma pneumonia contagiosa, causada por dois ti-

    pos de bactrias Pasteurella. Ataca os caprinos, os ovinos e os bovi-nos. A propagao feita por suspenso no ar. Em geral adoecem s-mente alguns animais em cada rebanho. O stress (por exemplo: otransporte) favorece o aparecimento desta doena.

    Sintomas: os mesmos da Pleuropneumonia contagiosa dos caprinos.Tratamento: Sulfamidas e antibiticos. A vacinao tem apenas umefeito limitado. mais eficaz limitar o efeito do stress cuidando con-venientemente dos animais.

    Septicemia hemorrgica causada pelo tipo 1 da Pasteurella multocida. Ataca todos os rumi-nantes, sobretudo nas plancies tropicais hmidas ou no comeo daestao das chuvas. Propagao feita por suspenso no ar; depois deter morto alguns animais a bactria fica mais agressiva. Os animaisque estejam vivendo situaes de stress ficam mais sensveis. A mor-talidade pode ir at 80 a 90% dos animais contaminados.Sintomas: Incubao durante dois dias; surge depois febre alta, perdade apetite, respirao rpida, salivao abundante, infeco rpida dosolhos, mucosas vermelhas e inchadas.Se a doena for menos aguda surgem sintomas de infeco da gar-ganta e da lngua. Pode haver sufocao. Na ltima fase da doenasurge diarreia com sangue.Tratamento: Existem diferentes vacinas preventivas que devem serinjectadas 1 ou 2 meses antes do perodo de calor hmido durante oqual a doena se manifesta mais frequentemente. Como cura podemusar sulfamidas e/ou antibiticos.

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    Febre Aftosa uma doena causada por um vrus que ataca a boca e as unhas dascabras. Propaga-se pelo contacto directo, pelo alimento infectado, pelovento ou pelas aves.

    Sintomas: Perodo de incubao com 3 a 8 dias, seguido por um ex-cesso de salivao e boca espumosa. Formam-se pequenas aftas oubolhas na boca, nas patas e no fgado. A cabra caminha com difi-culdade e evita deslocar-se. A doena no provoca a morte dos ani-mais, mas eles deixam de produzir durante vrias semanas.Tratamento: possvel vacinar. Se existirem apenas algumas, poucas,cabras doentes, o melhor ser abat-las para evitar uma epidemia.Contudo, se a doena estiver muito espalhada o abate dos animais no

    uma soluo. Os animais doentes devem ser isolados e colocados emquarentena. desinfectar os ps de todos os animais (pediluvios). Noretir-los da localidade ou da regio. O seu transporte fica proibido.

    Carbunculo intemoO carbunculo interno ou antrax raramente ataca os caprinos. Pode in-fectar os bovinos, os ovinos, os sunos, os equinos e o Homem. cau-sado por uma bactria chamada Bacillus anthracis. A transmisso feita pela gua ou pelas forragens infectadas por sangue ou excremen-tos.Sintomas: O perodo de incubao de 1 a 3 dias, no mximo. Os

    primeiros sintomas so a febre muito alta e a morte sbita. Depois damorte sai sangue pelo anus e outras aberturas do corpo.Tratamento: As campanhas regulares de vacinao, todos os anos, somuito aficazes (preveno). Os antibiticos (curativos) tambm soeficientes mas, geralmente, so administrados muito tarde em conse-quncia do rpido desenvolvimento da doena. Para evitar uma epi-demia os cadveres devem ser completamente queimados (inciner-ados) ou enterrados a 2 metros de profundidade, depois de cobertoscom cal viva. Evita-se assim que eles sejam comidos por animais quese alimentam da carne dos cadveres (coprofagos) e tambm pelosces. A autpsia, para averiguar a causa da morte deve ser feita apenas

    por pessoal especializado. Os riscos da infeco so muito altos. No

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    caso de morte sbita de animais dever pensar-se que se trata de car-bunculo e tomar as medidas indicadas.

    Ectima contagioso

    uma doena frequente nos caprinos, principalmente nas regiestropicais hmidas. Geralmente no grave. muito contagiosa porcontacto directo entre os animais.Sintomas: Ulceras nos lbios e zonas vizinhas. Estas feridas estendem-se, juntam-se umas s outras. As cabras deixam de comer e emagre-cem.Tratamento: Isolar os animais doentes e tratar as feridas, frequente-mente, com desinfectantes.

    Brucelose uma forma de aborto infeccioso pouco frequente nas cabras, masque principalmente conhecido porque pode transmitir-se aos sereshumanos. Neste caso a doena chamada Febre de Malta. causada por bactrias da famlia Brucella, em especial e Brucella me-litensis.Sintomas: A brucelose pode provocar aborto em cabras aparentementess. Contudo elas so portadoras dessa bactria e ficam estreis. Ogrande perigo da doena que ela se transmite s pessoas que be-

    berem leite contaminado e no fervido.Tratamento: A vacinao possvel. Deve-se pensar sempre em bruce-lose se uma cabra abortar. Mandar analisar uma amostra de leite para

    pesquisa da bactria. Para sua prpria proteco ferva sempre o leiteantes de beb-lo.

    MamiteA mamite (inflamao da mama) uma doena que existe espalhada

    por todo o mundo. Pode ser aguda ou crnica. As bactrias chamadasEstafilococos e Estreptococos so geralmente as causas. A doena es-

    palha-se principalmente por causa de uma m higiene no curral e peloleite sujo. A produo de leite nas cabras doentes baixa consideravel-mente e fica imprprio para consumo humano.

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    mais de 2 a3 dias, para que no ingiram as formas infecciosas dosparasitas (as coccidias podem desenvolver-se em 3 a 4 dias nosexcrementos).

    Carncias mineraisOs minerais, como o sal, o clcio, o fsforo, o ferro, o cobre e o iodoso importantes para o bom funcionamento do organismo das cabras.So principalmente as cabras jovens, as prenhes e as que produzamleite que necessitam de muitos minerais.A carncia manifesta-se smente quando as reservas do animal estoesgotadas e portanto algum tempo depois da sua falta na rao.Sintomas: Diminuio do apetite, diminuio da fecundidade, plo

    eriado e atraso no crescimento. O animal chupa todas as espcies deobjectos e chega a engoli-los para tentar suprir as suas necessidadesem minerais.Tratamento: deixar sempre ao alcance dos animais um bloco de sal

    para eles lamberem (ver o captulo 3: ALIMENTAO). Pode-se,geralmente, prevenir o aparecimento de carncias, oferecendo capinsvrios. Existem venda preparaes com minerais mas elas devem serdadas com moderao; um excesso pode tambm ser prejudicial.

    6.5 ParasitasNas cabras podem encontrar-se parasitas tanto no interior como sobreelas. impossvel impedir um ataque de parasitas, e at pode aconte-cer que os animais desenvolvam resistncia contra alguns deles. Sehouver um nmero muito grande de parasitas eles enfraqueceromuito a cabra e podero mesmo mat-la. Os animais bem alimentadossofrem menos com os parasitas. Distinguiremos entre parasitas inter-nos ou endoparasitas e parasitas externos ou ectoparasitas.

    Parasitas internosEntre outros orgos eles encontram-se nos pulmes, no estmago e nofgado. Existem vermes achatados que se sub-dividem em tromatodose em cstodos. Os tromatodos so vermes no segmentados, com uma

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    cabea e uma cauda. Os cstodos compem-se de vrios segmentos(por exemplo: tnia).Existem igualmente vermes redondos, dos quais s6mente os ascarid-eos sero aqui considerados.

    A infeco por vermes frequente nas regies tropicais e de climatemperado. No um a infeco necessariamente grave e muitodifcil impedi-la; preciso saber trat-la. Mesmo sem que existamsintomas de doena, a produo pode baixar muito. Os animaissmente sofrero muito quando o contgio for muito forte.Procure evitar que numerosos animais pastem em conjunto, nas mes-mas reas; isso ir originar uma percentagem muito alta de infecescausadas pelas larvas que existem nos excrementos.

    Pode-se, geralmente evitar estes problemas usando alternancia depastagens e tratando regularmente os animais com finalidades preven-tivas.Como muitos destes vermes aparecem em hospedeiros especficos

    possvel fazer diminuir a contaminao, fazendo pastar alternada-mente, cavalos e/ou vacas, com cabrase/ou carneiros. Asvacascome-mas larvas que atacam as cabras, mas que no as prejudicam e ascabras comero tambm sem prejuizo as larvas que atacam as vacas.

    No momento do desmame faa tratamento contra os vermes da me edos cabritos. Separe os cabritos do resto do rebanho e ponha-os num

    prado o mais limpo possvel.Ateno: Quando fizer um tratamento contra os vermes, respeite rig-orosamente a dose prescrita e o mtodo de administrao. Os animais

    jovens, fracos e as cabras prenhes so muito sensveis e ser prefervelno os tratarInforme-se tambm de quais as plantas que, na vossa regio, actuamcontra os vermes.

    Dvia do fgado (ou distomatose)A dvia do fgado um trematodo que causa grande prejuizo; podemedir mais do que 3 cm de comprimento e 1,3 cm de largura. Vive nofgado, causando grandes danos. Provoca anemia pois alimenta-se desangue.

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    Ciclo evolutivo (figura 19): Os vermes adultos pem ovos que sotransportados pela bilis e eliminados pelas fezes, caindo na estrumeira.Dos ovos nascem larvas que continuam a desenvolver-se e depois sereproduzem numa espcie de caracol que vive em locais muito hmi-

    dos. Depois de deixarem o caracol as larvas fixam-se nas plantas e socomidas com elas. Passando pelo intestino e a cavidade abdominal aslarvas atingem o fgado e nle se transformam em dvias adultas. Atransformao de um ovo numa larva demora pelo menos 5 meses.

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    Figure 19: Ciclo evolutivo da dvia no fgado

    Sintomas: A doena aguda rara. Uma infeco sbita com numerosasdvias pode prejudicar seriamente o fgado e o ventre. Existe muitahumidade na caixa torcica e no abdmen que se nota pela barrigainchada. A cabra move-se lentamente e respira com dificuldade. Podemorrer em poucos dias. A forma crnica provoca anemia, menos ac-

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    tividade e perda de poso (emagrecimento). A morte muito rara, mas,quando sobrevem encontram-se dezenas de dvias no fgado.Tratamento: Consegue-se pela aplicao de vermifugos que agemtambm contra as formas juvenis das dvias. Se o risco de recontami-

    nao persistir na estao das chuvas ou em pastagens pantanosas,repita o tratamento de seis em seis semanas. Deve tratar sempre todo orebanho. Tenha cuidado para no deixar usar as reas hmidas dos

    prados. Fazer escoar as guas ao redor dos bebedouros. No use pro-dutos para matar os caracois porque so perigosos para outros ani-mais.

    Tnia

    As tnias so cestodos. Compem-se de segmentos com 1 a 1,5 cm. delargura e podem medir alguns metros de comprimento. Os vermesadultos, de certas espcies, vivem no intestino delgado, principal-mente de cabras jovens. Os animais smente ficam doentes quando asinfeces so graves, sobretudo se estiverem subalimentados ou jestejam sofrendo de infeco por bactrias.Ciclo evolutivo (figura 20): Cada segmento do verme possui um sis-tema de reproduo completo. Quando o segmento est maduro (cheiode ovos com embries) separa-se do verme adulto e expulso junta-mente com as fezes. Os ovos so libertados e atingem um hospedeirointermedirio (so muitas vezes caros). Quando o hospedeiro , porsua vez, ingerido pela cabra, enquanto pasta. A tenia atinge ento a suaforma definitiva de adulto.Para outras espcies de tnias a prpria cabra que serve de hospedei-ro intermedirio e nela que se encontram as larvas (sob a forma dequistos). O portador final o co, o qual se contamina comendo asvisceras cruas das cabras. As tnias que se encontram nas cabras no

    podem transmitir-se ao ser humano. Isto smente possvel pelas es-pcies de tnias que parasitam os sunos e os bovinos. preciso cozerbem a carne para evitar uma infeco.

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    Figure 20: Ciclo evolutivo da tnia

    Sintomas: Se houver infeco grande a cabra tem o plo spero, o ven-tre dilatado e est anmica. Tanto pode ter priso de ventre como diar-reia. Estes sintomas tambm aparecem quando existem infeces porvermes redondos.Tratamento: Em caso de infeco grave provocada por tnias adultas,todo o rebanho deve ser tratado. Os animais ficam fechados no curral

    durante um dia porque, quando os vermes so eliminados, muitos ovos

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    saem deles e ficaro na estrumeira. Evita-se assim uma nova contami-nao da pastagem.

    Ascarideos (Vermes redondos)

    Este parasita intestinal fixa-se s paredes do estmago e do intestino,alimentando-se dos tecidos ou do sangue. As larvas atravessam os te-cidos e podem por isso causar grandes danos. Provocam anemia, in-flamaes, problemas de digesto.Ciclo evolutivo (figura 21): Os vermes adultos podem ser encontradosno estmago ou nos intestinos. Os ovos ou as larvas so expulsos comos excrementos, continuem acrescer at serem novamente comidos

    juntamente com o capim. Uma vez chegados ao estmago ou ao intes-

    tino tornam-se adultos. Deslocam-se ento, ao princpio, nos tecidosdo intestino ou para os pulmes, depois do que regressam ao tudo di-gestivo e completam o desenvolvimento.Sintomas: Perda do apetite, diminuio da vivacidade, plos secos eeriados, anemia, diarreia ou priso de ventre em consequncia dogrande nmero de vermes.Tratamento: Uso de vermifugos (conforme as disponibilidades locais)em todos os animais do rebanho e rotao das pastagens.

    Vermes parasitas dos pulmesSo vermes cilndricos que se encontram nos pulmes no estadoadulto. So menos perigosos do que os vermes intestinais mas provo-cam uma irritao das vias respiratrias e mesmo, por vezes, pneumo-nia, se forem muito numerosos. Os ovos so expulsos pela expectora-o (tosse), engolidos e espalham-se no solo juntamente com os ex-crementos. Uma semana depois as larvas infecciosas que existem no

    pasto podem j ser comidas juntamente com o capim.

    Chegam ento ao intestino e so levadas pelo sangue at aos pulmesonde crescem e se tornam adultas.Sintomas: Tosse, emagrecimento, eventualmente pneumonia.Tratamento: Igual ao dos ascarideos

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    Figure 21: Ciclo evolutivo dos vermes redondos (ascarideos)

    Parasitas externosAlgumas espcies de moscas, de pulgas, de piolhos, de mosquitos, decaros e de carraas, podem, em um dado momento do seu ciclo evo-lutivo, parasitar as cabras. Provocam principalmente irritao local.Para alm disso alguns deles podem transmitir doenas ou parasitasinternos.Estes parasitas tm como caracterstica comum, reproduzirem-se de

    modo extremamente rpido. A medida fundamental para evitar os pro-blemas manter uma higiene total do curral.Devem ser evitadas as estrumeiras ou acumulaes de outrosquaisquer dejectos orgnicos nas proximidades dos currais. Existemtambm numerosos produtos, acaricidas e carricidas (caros e carra-as) e insecticidas (para os outros parasitas externos) cujo uso se re-comenda.

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    7 Produtos caprinos

    Como j se disse a cabra pode preencher diversas funes. Pode servir

    para amealhar economias s quais se pode recorrer quando houverdespesas extra, como, por exemplo, despesas com a escola, com medi-camentos ou com a alimentao se as colheitas tiverem sido ms. estemealheiro est sempre ao dispor para dar lucro sob a forma de cabri-tos, de leite e de estrume.Quando so abatidas as cabras do tambm produtos diversos comocarne, sangue, ossos e peles. A carne, o sangue e o leite so alimentosde elevada qualidade para o homem, pela sua grande riqueza em pro-

    tenas.Alm disso elas facilitam as relaes sociais quando so usadas como

    presente, de casamento, por exemplo. Podem tambm emprestar-se aoutras pessoas que, como agradecimento, conserva e cuida de uma

    parte da descendncia para o dono. Quem empresta um animal, limitatambm os riscos porque se aparecerem doenas no seu rebanho ou seno tiver forragens suficientes, ter sempre esses animais que lhe per-tencem e que esto em melhores condies. Neste captulo trataremosdos produtos da cabra, das suas caractersticas e das suas transforma-es, mas antes de mais escreveremos sobre o abate.

    AbateO animal pode ser morto por um corte feito na garganta. Puxando acabea um pouco para trs o pescoo fica esticado e o golpe com afaca rpido. O sangue recolhido num recipiente para utilizao

    posterior. Quando a cabra estiver sangrada, comea-se a esfola. Con-forme os usos locais, corta-se em primeiro lugar a cabea. Depois acabra ou o bode deitado de costas e faz-se um golpe desde o pescooat mama ou bolsa. As patas so tambm cortadas. A separao da

    pele feita puxando tanto quando possvel com a mo e ajudando como punho, para evitar prejuzos na pele e na carcaa. Faz-se a aberturado animal desde a mama ou a bolsa, at ao anus. Esfola-se ento acauda e puxa-se o resto da pele.

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    Uma vez completado este trabalho abre-se a cavidade abdominal ats patas traseiras. O esfago deve ser libertado e fechado com um fioou um n para evitar que o contedo do rumen possa sair e suje a car-caa. O intestino grosso deve tambm ser amarrado a 15 ou 20 cm da

    extremidade. O peito ser igualmente aberto com a ajuda de uma ser-ra, serrote ou machado. O animal agora dependurado pelas patas dafrente. Far-se- a extraco da bexiga, do tero, ou do pnis, depois osintestinos e as restantes partes do tubo digestivo.Estas partes esto ainda ligadas ao dorso e preciso pux-las ou cort-las. Retiram-se os pulmes, o corao e o fgado. preciso muito cui-dado para no atingir a vescula biliar ( a bolsa de cor esverdeada quese situa sobre o fgado), por que isso transmitiria um sabor amargo

    carne.

    7.1 CarneA carne um dos produtos mais importantes fornecidos pela cabra.Conforme os costumes locais, so usadas as partes mais ou menos vo-lumosas da cabra. Frequentemente preferida uma mistura de carne ede rgos carne apenas. A gordura tambm muito apreciada, con-trariamente ao que sucede na Europa. A carne de cabra mais magrado que a de carneiro, porque a cabra acumula gordura principalmenteao redor dos rgos, e no entre os msculos como o carneiro.A carne do bode adulto tem um cheiro caracterstico, que nem todas as

    pessoas apreciam. Este cheiro pode ser evitado, fazendo-se a castraodos cabritos (ver anexo 4: Castrao).A carne conserva-se mal e deve ser comida ou convenientemente con-servada. os mtodos mais usados nos trpicos para conservar a carneso a salga e a seca (ver Agrodok 3: Conservao dos Alimentos).

    7.2 SangueA quantidade de sangue mais ou menos igual a 5% do poso da cabra.Uma cabra com 35 Kgs. d, portanto, 1,75 Kgs. de sangue, aproxi-madamente. O sangue um bom alimento. Contm 20% de matria

    seca da qual 95% so protenas.

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    O sangue degrada-se muito rapidamente, exactamente como a carne,devendo ser consumido imediatamente ou conservado. Smente osangue dos animais em bom estado de sade prprio para consumohumano. Ele pode ser cosido juntamente com outros alimentos, ou ser

    transformado em morcela (chourio de sangue). Mexendo o sanguecom uma colher de pau evita-se a coagulao (as fibras que provocama coagulao ligam-se colher). O sangue pode tambm ser usado

    para a alimentao dos animais.

    Dois exemplos:1 Misturar 200 gramas de sangue por cada quilo de farinha de man-

    dioca. Depois de seca, esta mistura d uma forragem rica em pro-

    tenas (cerca de 3,5%), perfeitamente comparvel a uma forragemconcentrada.

    2 Outro processo adicionar cal ao sangue (10 grs. de cal viva ou 30grs. de cal apagada por cada litro de sangue). A massa negra, vis-cosa, que se obtm, pela mistura, pode conservar-se durante umasemana. pode tambm faz-la secar ao sol, o que permitir a suaconservao durante muito mais tempo. O produto seco pode entoser modo e misturado facilmente com outras forragens. A cal au-menta o teor de minerais no produto final

    7.3 OssosUma grande parte da carcaa formada pelos ossos, os quais contmminerais importantes, como o clcio (Ca) e o fsforo (P).So bons para serem usados nos alimentos para o gado, ou como adu-

    bo. Os ossos secos e desengordurados contm 32% de Ca e 15% de P,alm de uma pequena quantidade de outros minerais.Se no houver mquina para moer ossos eles podem ser queimados,uma forma simples de libertar o Ca e o P. Por este processo, os ossosso esterilizados, outros componentes so queimados e os ossos tor-nam-se friveis e facilmente pulverizveis. Os ossos podem ser usadosfrescos ou secos. Ao adicion-los aos alimentos para o gado, evitemisturar tambm a cinza da madeira. Neste caso a forragem fica em-

    poeirada e com mau gosto.

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    Para queimar os ossos faa uma pilha com eles, em cima de uma gre-lha e acenda uma fogueira por debaixo. Os espaos entre as barras dagrelha no devem ser muito largos, para evitar a queda dos ossos.Tambm a camada de ossos no deve ter mais do que 30 cm de altura.

    Se ela for mais alta a camada superior dos ossos no ficar bem quei-mada. Depois de uma hora ou de uma hora e meia os ossos estofriveis e podem ser modos facilmente, produzindo um p fino.Segundo os casos (ossos frescos ou secos), os teores de fosfato (P2O5)e de xido de clcio (CaO) so de 35% e 43%, respectivamente.

    7.4 Pele

    As peles podem ser transformadas em numerosas utilidades. Elas es-tragam-se rapidamente e por isso devero ser conservadas.A curtimenta um processo complicado e por isso no nos estendere-mos sobre ele. No livro intitulado: Esfola e curtimenta de peles ecouros, encontram-se descries pormenorizadas da cuctimenta.mencionaremos, por isso, apenas alguns mtodos simples de conser-vao pela salga e pela secagem. Deste modo as peles podero serconservadas temporariamente at conseguir uma quantidade suficiente

    para venda a um curtidorA secagem das peles pode ser feita nas regies que tenham um grau dehumidade pouco elevado e sejam muito ventosas. Para a seca as pelesdevem ser esticadas com a ajuda de cordeis em plataformas ou emesquadrias de madeira, estando o lado da carne (carnaz) voltado para aluz. As esquadrias sero colocadas num local bem arejado, ao abrigoda chuva e do orvalho (ou cacimbo). No