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  • FACULDADE CATLICA SALESIANA DO ESPRITO SANTO COORDENAO DO CURSO DE FARMCIA

    BRBARA MATHIAS FAHNING

    ELYOMAR BRAMBATI LOBO

    NANOTECNOLOGIA APLICADA A FRMACOS

    VITRIA 2011

  • BRBARA MATHIAS FAHNING

    ELYOMAR BRAMBATI LOBO

    NANOTECNOLOGIA APLICADA A FRMACOS

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado Faculdade Catlica Salesiana do Esprito Santo, como requisito obrigatrio para obteno do ttulo de Bacharel em Farmcia. Orientador: Prof Ms.c. Helber Barcellos da Costa.

    VITRIA

    2011

  • BRBARA MATHIAS FAHNING

    ELYOMAR BRAMBATI LOBO

    NANOTECNOLOGIA APLICADA A FRMACOS

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado Coordenao do Curso de Graduao em Farmcia da Faculdade Catlica Salesiana do Esprito Santo, como requisito obrigatrio para obteno do ttulo de Bacharel em Farmcia.

    Aprovado em ------ de ------------------------ de 2011.

    COMISSO EXAMINADORA

    Prof. Ms.c. Helber Barcellos da Costa Orientador

    Prof. Ms.c. Maurcio da Silva Mattar

    Prof. Dr Robria Arruda

  • Aos nossos familiares, nossos

    incentivadores na busca pelo

    sucesso profissional.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, amigo das horas difceis ou felizes. A ele devo toda a minha vitria. A minha filha amada Victria, por quem busco alcanar os objetivos para um futuro melhor. Desculpe pela ausncia nessa etapa da vida, mas com certeza, as recompensas viro. A minha me, pessoa que me incentiva desde criana a estudar, a ter gosto pelas cincias, e a buscar um futuro melhor pelo caminho acadmico, me dando base familiar. Ao meu irmo Bernah, por me ajudar na maioria das vezes em que precisei. Ao meu namorado Diego. Sua compreenso e dedicao neste momento foram importantssimas e s fez aumentar meu amor por voc. s minhas tias queridas, meu primo-irmo Vitor: minha torcida incondicional. s minhas avs, minhas lindas, por cuidarem e acreditarem no meu potencial. Ao meu pai, boadrasta, irms, queridos que guardo sempre em meu corao. Ao orientador Helber pela pacincia e dedicao. A professora Robria Arruda pela dica de tema de TCC. Sua ajuda foi fundamental! Ao meu parceiro Elyomar: conseguimos! E a sensao de dever cumprido no tem preo! As minhas amigas Juliene e Munik por agentarem as lamentaes e reclamaes de cansao e falta de tempo! A todos aqueles que contriburam direta ou indiretamente para a elaborao deste trabalho. Este um momento de comemorao! Mais uma etapa da vida vencida! Brindo a casa, brindo a vida, meus amores, minha famlia!

    Brbara Mathias Fahning

  • AGRADECIMENTOS Apesar de me sentir distante, ainda assim creio que tenha me ajudado at aqui, ento agradeo a Deus em primeiro lugar, por me dar foras em muitas vezes. A Minha famlia, minha irm pelas dicas, e em especial minha me por me dar sempre o apoio necessrio em momentos de total exausto. A Munike e Juliene, amigas das horas de aperto, sempre dando uma fora nos demais trabalhos acadmicos ou simplesmente escutando nos momentos de desespero. Aos Amigos Rhuan e Felipe que sempre souberam o momento certo de me tirar de casa para espairecer e no ficar louco com tanta presso. A Robria pessoa especial que passou por nossas vidas acadmicas, que nos instruiu por uma certa temporada, e sem a qual talvez nem tivssemos o tema do presente trabalho. Ao Professor Helber, orientador paciente, prestativo e compreensivo que nos ajudou bastante e soube lidar com a nossa loucura. A Minha companheira e amiga de todas as horas Brbara que apesar dos pesares, apesar de nossas loucuras e diferenas, ainda assim, sempre nos entendemos no final. Se no fosse esse nosso jeito doido, porem complacente de ser, no teramos conseguido. A Minha gerente Fabiana, que me deu apoio ate aqui. Em especial, a querida supervisora, mais amiga que supervisora, Penha, sempre sendo compreensiva nas minhas crises de presso e momentos de apertos, muitas vezes, dando foco pras direes certas a seguir. Ambas, liberando do trabalho quando o tempo j estava ficando cada vez mais escasso. Por fim, a todos os possveis colaboradores que talvez possa ter esquecido no momento, mas, que desde j, deixo gravado meus agradecimentos, me desculpando por tal deslize. E assim, com o apoio de muitos que passam por nossas vidas, que vezes ficam, que vezes se vo, seguimos em direo a um alvo, a um objetivo, felizes por cada progresso e meta alcanada. Torcendo tambm para o sucesso daqueles que esto do nosso lado, para que tambm consigam. Pois, apesar de difcil em muitas vezes, jamais se deve deixar de tentar ou parar de lutar. A final, esse no o fim, e sim o inicio de mais uma longa jornada.

    Elyomar Brambati Lobo

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Cronologia da evoluo de modelos atmicos ...................................... 21

    Quadro 2 - Investimentos (R$ milhes) em nanotecnologia do Ministrio de Cincia e

    Tecnologia (MCT) via Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) ....................... 26

    Quadro 3 - Lipdios e estabilizantes mais utilizados em preparao de NLS .......... 61

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1- Comparao de tamanhos na escala nanomtrica .................................. 19

    Tabela 2- Usos da nanotecnologia ........................................................................... 34

    Tabela 3- Propriedades fsico-qumicas das CDs naturais ...................................... 54

    Tabela 4- Propriedades de interesse industrial das CDs mais utilizadas ao nvel

    farmacutico ............................................................................................................. 57

    Tabela 5- Medicamentos atualmente disponveis no mercado mundial contendo CDs

    ................................................................................................................................... 59

    Tabela 6- Vantagens das formas farmacuticas de liberao prolongada sobre as

    formas convencionais ............................................................................................... 71

    Tabela 7- Vantagens e Desvantagens das formas de liberao controlada e

    convencional da Anfotericina B ................................................................................ 78

    Tabela 8- Efeitos colaterais gastrointestinais dos AINEs ......................................... 82

  • LISTA DE SIGLAS

    ngstrm

    A A - cido Araquidnico

    ABDI - Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial

    AIDS - Acquired Immune Deficiency Syndrome (Sndrome da Imunodeficincia

    Adquirida)

    AINE - Antiinflamatrio No-Esteride

    AAS cido Acetil Saliclico

    BBC - British Broadcasting Corporation

    CD Ciclodextrina

    CFL - Conjugado Lipdio-Frmaco

    CGTase - Ciclodextrina-glicosil-transferase

    CLN - Carreador Lipdico Nanoestruturado

    CM--CD - Carboximetil- beta-ciclodextrina

    COX Cicloxigenase

    CR Controlled Release (Liberao Controlada)

    DNA - Deoxyribonucleic acid (cido Desoxirribonuclico)

    EHL - Equilbrio hidro-lipfilo

    EUA Estados Unidos da Amrica

    FF - Forma Farmacutica Slida.

    FFSO - Forma Farmacutica Slidas de Uso Oral

    FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos

    FNDC - Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    Glic--CD - Glicosil- beta-ciclodextrina

    HP--CD - Hidroxipropil-beta-cilclodextrina

    HPCD - Hidroxipropil-gama-ciclodextrins (Hodroxipropil-gama-ciclodextrinas)

    IBM - International Business Machines

    LEDs - Light-emitting diode (Emissores de luz)

    LUV - Large Unilamellar Vesicles (Vesculas unilamelares grandes)

    MCT - Ministrio de Cincia e Tecnologia

    MLV - Multilamellar Large Vesicles (Vesculas multilamelares grande)

    NLC - Nanoestruturas Lipdicas Carreadora

  • NLS Nanopartculas slidas lipdicas

    nm nanmetros

    NNI - National Nanotechnology Initiative (Iniciativa Nacional de Nanotecnologia)

    PCL - Poli (e-caprolactona)

    PEN Project on Emerging Nanotechnology (Projeto sobre Nanotecnologias

    Emergentes)

    PG Prostaglandina

    PGE2 Prostaglandina E2

    PGG2 - Prostaglandina G2

    PGH2 - Prostraglandina H2

    PGI2 Prostaglandina I2

    PLA - Poli-(cido ltico)

    PLGA - Poli-(cido lctico-cido gliclico)

    PPA - Plano Plurianual

    PVA - lcool Polivinlico

    RETARD Liberao retardada

    RMCD - Randomly methylated -cyclodextrins (Beta-ciclodextrina- aleatoriamente

    metilada)

    RNA - Ribonucleic acid (cido Ribonuclico)

    SBE-CD - Sulfobutil ether -cyclodextrins (Sulfobutilterbeta-ciclodextrina)

    SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia

    SR Liberao Sustentada

    SRE - Sistema retculo-endotelial

    SUV - Small Unilamellar Vesicles (Vesculas unilamelares pequenas)

    TI ndice teraputico

    XR Liberao estendida

    CD Alfa ciclodextrina

    CD Beta ciclodextrina.

    CD Gama ciclodoxtrina

  • RESUMO

    Introduo: A nanotecnologia a aplicao tecnolgica de objetos que tenham ao menos uma de suas dimenses fsicas medindo entre 1 e 100 nanmetros. Richard Feynman, em 1959, proferiu que um dia seria possvel ao homem manipular tomos e molculas de modo a utiliz-los em seu benefcio. A partir da, com muito desenvolvimento em pesquisas, vrios avanos nanotecnolgicos foram alcanados em diversas reas. Na indstria farmacutica desenvolveram-se os Drug Delivery Sistems, envolvendo vasto campo de estudo e reunindo esforos, atualmente, na rea de nanopartculas. Objetivo: A presente pesquisa tem por objetivo explorar a nanotecnologia aplicada elaborao de frmacos de liberao modificada, as estratgias utilizadas em sua elaborao e verificar as vantagens apresentadas no uso deste medicamento. Metodologia: Levantamento Bibliogrfico de trabalhos cientficos publicados entre os anos de 1999 e 2011. Reviso Bibliogrfica: A nanotecnologia baseia-se na interdisciplinaridade entre a fsica, qumica, biologia, engenharias, computao e medicina, o que permite sua aplicao em vrios campos. Dentre os setores em maior evidncia a nanotecnologia farmacutica tem seu destaque. a rea das cincias farmacuticas envolvida no desenvolvimento, caracterizao e aplicao de sistemas teraputicos em escala nanomtrica, utilizando a nanotecnologia e os nanomateriais para desenvolver frmacos dentro de um sistema chamado de liberao modificada. Os tipos de nanoestruturas utilizadas pela indstria farmacutica para a encapsulao de ativos so: lipossomas, nanopartculas polimricas e lipdicas, ciclodextrinas, dendrmeros, entre outros, que permitem maior eficincia de encapsulao e liberao se comparadas aos sistemas de encapsulao convencionais, como por exemplo; menor flutuao dos nveis plasmticos do frmaco, reduo dos efeitos indesejveis, entre outros. Todos os produtos de liberao controlada compartilham o objetivo comum de melhorar a terapia medicamentosa em relao s limitaes potencias dos frmacos convencionais, proporcionando melhor adeso do paciente ao tratamento, aumento da eficincia ao tratamento, economia de custos, aumento de biodisponibilidade, entre outras vantagens. Entretanto, existem limitaes relacionadas aos sistemas de liberao modificada que precisam ser eliminadas para que se atinja a excelncia nesses sistemas. Vrios frmacos dessa categoria j podem ser encontrados no mercado atual e seu uso j algo corriqueiro entre pacientes. Concluso: Os frmacos de liberao controlada passaram a fazer parte de um nicho do mercado industrial farmacutico, aprimorando os frmacos convencionais, que, em sua maioria, trazem somente melhoria e eficincia teraputica.

    Palavras chave: Nanotecnologia, nanoestruturas, frmacos de liberao

    modificada.

  • SUMRIO 1 INTRODUO ...................................................................................................... 14 2 OBJETIVO ............................................................................................................ 17 2.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................ 17 2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS .............................................................................. 17 3 METODOLOGIA ................................................................................................... 18 4 REVISO BIBLIOGRFICA ................................................................................ 19 4.1 NANOTECNOLOGIA ......................................................................................... 19

    4.1.1 HISTRICO .............................................................................................. 20 4.2 APLICAES .................................................................................................... 27

    4.2.1 SETORES EM EVIDNCIA NO MBITO DA NANOTECNOLOGIA ........ 33 4.2.1.1 Indstria automotiva e aeronutica ........................................... 34 4.2.1.2 Indstria eletrnica e de comunicao ..................................... 34 4.2.1.3 Indstria qumica e de materiais ................................................ 35 4.2.1.4 Indstria farmacutica, biotecnologica e biomdica .............. 35

    4.2.1.5 Setor de energia ........................................................................... 35 4.2.1.6 Meio ambiente .............................................................................. 36 4.2.1.7 Defesa ........................................................................................... 36 4.2.1.9 Setor de agronegcio ................................................................. 36 4.2.1.10 Setor txtil ................................................................................. 37

    4.2 NANOBIOTECNOLOGIA .......................................................................... 37 4.3 NANOTECNOLOGIA APLICADA A FRMACOS ............................................ 39

    4.3.1 FRMACOS DE LIBERAO CONTROLADA ............................... 39 4.3.2 NANOTECNOLOGIA FARMACUTICA .......................................... 42

    4.4 NANOESTRUTURAS UTIIZADAS NA APLICAO DA NANOTECNOLOGIA .......................................................................................................................... 43

    4.4.1 LIPOSSOMAS .................................................................................. 43 4.4.2 NANOPARTCULAS POLIMRICAS .............................................. 47

    4.4.2.1 Emulsificao evaporao ........................................... 48 4.4.2.2 Nanoprecipitao ............................................................ 49 4.4.2.3 Salting-out ......................................................................... 49 4.4.2.4 Emulsificao difuso ................................................... 49

    4.4.3. CICLODEXTRINAS ......................................................................... 51 4.4.4 NANOPARTCULAS LIPDICAS ..................................................... 60

  • 4.4.5 DENDRMEROS .............................................................................. 65 4.5 FRMACOS DE LIBERAO MODIFICADA X FRMACOS CONVENCIONAIS .................................................................................................................................. 69

    4.5.1 VANTAGENS POTENCIAIS DAS FORMAS FARMACUTICAS DE LIBERAO MODIFICADAS SOBRE AS FORMAS CONVENCIONAIS .......................................................................... 71 4.5.1.1 Controle otimizado da manuteno da concentrao plasmtica teraputica de frmacos ......................................................................................................... 71

    4.5.1.2 Melhor adeso do paciente ao tratamento ..................... 73 4.5.1.3 Aumento da eficincia do tratamento ............................. 73 4.5.1.4 Economia de custos ......................................................... 74

    4.5.2 LIMITAES POTENCAIS DAS FORMAS FARMACUTICAS DE LIBERAO CONTROLADA ......................................................... 74

    4.5.3 EXEMPLOS DE FRMACOS DE LIBERAO CONTROLADA EXISTENTES NO MERCADO ATUAL............................................ 75 4.5.3.1Ambisome injetvel (anfotericina b liposomal liofilizada)

    ............................................................................................ 75 4.5.3.2 Daunoxome (daunorrubicina lipossomal) ................... 78 4.5.3.3 Cicladol (piroxicam beta-ciclodextrina) ....................... 81 4.5.3.4 Mucosolvan 24h (ambroxol) .......................................... 83

    5 CONCLUSO ...................................................................................................... 86 6 REFERNCIAS ..................................................................................................... 88

  • 14

    1 INTRODUO

    A nanotecnologia a aplicao tecnolgica de objetos que tenham ao menos uma

    de suas dimenses fsicas medindo entre 0,1 e 100 nanmetros, ou seja,

    aproximadamente 10-9 metros ou 1 bilionsimo de metro, algo menor que a

    espessura de um fio de cabelo (INSTITUTO INOVAO, 2005).

    O estudo em torno da nanotecnologia recente, tendo seu marco inicial em 1959

    quando o fsico americano Richard Feynman afirmou que ao homem um dia seria

    possvel manipular os tomos de forma a construir estruturas de dimenses

    nanomtricas, desde que as leis naturais fossem mantidas, o que possibilitaria a

    construo de materiais inexistentes na natureza (VELOSO, 2007).

    Baseado nas idias de Feynman o objetivo maior da nanotecnologia seria criar

    novos materiais e desenvolver novos produtos e processos baseados na crescente

    capacidade de tecnologia moderna em ver e manipular tomos e molculas (SILVA,

    2003).

    Com o avano das tecnologias em microscopia eletrnica na dcada de 80, a

    previso de Feynman pde tornar-se realidade. A chegada dos microscpios de

    varredura por sonda, incluindo o microscpio de tunelamento e o microscpio de

    fora atmica, possibilitou observar e movimentar tomos e molculas (MELO;

    PIMENTA, 2004).

    Mais tarde, em 1992, Eric Drexler, props no somente manipular tomos, mas a

    construo de nanorrobs, que poderiam at mesmo identificar e destruir seres

    vivos nocivos ao corpo humano, como vrus e bactrias (MARTINS, 2009).

    Atualmente, a nanotecnologia um dos principais focos das atividades de pesquisa,

    desenvolvimento e inovao em todos os pases industrializados do mundo. Os

    locais que mais investem em nanotecnologia ainda so Europa, EUA (Estados

    Unidos da Amrica) e Japo, cada regio investindo cerca de um bilho por ano,

    concentrando juntos mais da metade dos investimentos no mundo. Pases como

    Rssia, China, Brasil tem feito investimentos significativos no setor nos ltimos anos,

  • 15

    sendo que o governo brasileiro j investiu 140 milhes entre 2001 e 2006 em redes

    de pesquisa e projetos na rea de nanotecnologia (ROSSI BERGMANN, 2008).

    A maior das motivaes para o desenvolvimento de objetos nanomtricos reside na

    possibilidade de produo de molculas inditas que possuam diferentes e

    incomuns propriedades fsicas e qumicas. papel da nanotecnologia se aproveitar

    destas novas propriedades que surgem para desenvolver produtos com diferentes

    tipos de aplicaes tecnolgicas (ROSSI BERGMANN, 2008).

    O desenvolvimento da nanotecnologia tem demonstrado um campo cientfico

    multidisciplinar, encontrando aplicaes nas mais diversas reas, desde setores de

    energia e eletrnica at indstrias farmacuticas (ROSSI BERGMANN, 2008).

    Na indstria farmacutica, com o uso de nanomateriais desenvolveram-se os

    frmacos de liberao controlada, frequentemente descritos como Drug Delivery

    Systems, que oferecem inmeras vantagens quando comparados a outros de

    dosagem convencional (PIMENTEL et al, 2007).

    Entre as vantagens destacam-se: a proteo do frmaco no sistema teraputico

    contra possveis instabilidades no organismo, promovendo manuteno de nveis

    plasmticos em concentrao constante; o aumento da eficcia teraputica; a

    liberao progressiva e controlada do frmaco pelo condicionamento a estmulos do

    meio em que se encontram (sensveis a variao de pH ou de temperatura); a

    diminuio expressiva da toxicidade pela reduo de picos plasmticos de

    concentrao mxima; a diminuio da instabilidade e decomposio de frmacos

    sensveis; a possibilidade de direcionamento a alvos especficos (stio-

    especificidade); a possibilidade de incorporao tanto de substncias hidroflicas

    quanto lipoflicas nos dispositivos; a diminuio da dose teraputica e do nmero de

    administraes e aumento da aceitao da terapia pelo paciente (PIMENTEL, et al,

    2007).

    Embora estas vantagens sejam significativas, alguns inconvenientes plausveis no

    podem ser ignorados, como por exemplo; possvel toxicidade, ausncia de

    biocompatibilidade dos materiais utilizados e o elevado custo de obteno dos

    nanossistemas comparados com as formulaes farmacuticas convencionais

    (RAMOS; PASA, 2008).

  • 16

    Desde a dcada de 80, vrios sistemas de liberao de frmacos tem sido

    desenvolvidos. A utilizao destes sistemas em liberao controlada envolve um

    vasto campo de estudos e tem reunido muitos esforos, atualmente, na rea de

    nanopartculas (RAMOS; PASA, 2008).

    A presente pesquisa tem por objetivo explorar a nanotecnologia aplicada a

    elaborao de frmacos de liberao modificada, as estratgias utilizadas em sua

    elaborao e verificar as vantagens apresentadas no uso deste medicamento.

  • 17

    2 OBJETIVO

    2.1 OBJETIVO GERAL

    Descrever a aplicao da nanotecnologia no desenvolvimento de frmacos de

    liberao controlada.

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    Abordar os aspectos, histria e aplicaes da nanotecnologia.

    Explicar como se aplica a nanotecnologia na elaborao de frmacos de

    liberao modificada.

    Classificar os materiais utilizados na confeco de sistemas de carreamento e

    liberao de drogas.

    Identificar as vantagens e riscos que o uso de frmacos de liberao

    modificada traz aos seus usurios.

    Exemplificar alguns produtos j existentes no mercado comparando seus

    efeitos adversos e/ou eficcia com os dos frmacos convencionais.

  • 18

    3 METODOLOGIA

    Com o propsito de aprofundamento do tema, o objeto desta pesquisa, utilizou de

    levantamento bibliogrfico e documental, que quanto aos objetivos caracterizou-se

    como descritiva referencial terica. Quanto natureza denominou-se como pesquisa

    qualitativa, tendo em vista a anlise da documentao coletada no decorrer do

    estudo.

  • 19

    4 REVISO BIBLIOGRFICA

    4.1 NANOTECNOLOGIA

    A palavra nano tem origem grega e significa ano, muito pequeno, sendo assim, um

    indicador de medida. A nanotecnologia engloba todo tipo de materiais dentro da

    escala nanomtrica, ou seja, materiais que meam entre 0,1 e 100 nanmetros

    (INSTITUTO INOVAO, 2005).

    Segundo Alves (2010), possvel medir um nanmetro se enfileirar 10 tomos de

    hidrognio um ao lado do outro. Partculas consideradas to pequenas como vrus

    ou clulas brancas, se tornam enormes na escala nanomtrica (Tabela 1).

    Tabela 1 - Comparao de tamanhos na escala nanomtrica.

    ELEMENTO TAMANHO (nm)

    tomo (H) 0,1

    DNA 2

    Protenas 5-50

    Vrus 75-100

    Bactrias 1000-10000

    Clulas brancas 10000 Fonte: ALVES, 2010.

    O termo nanotecnologia se refere s tcnicas de manipulao de tomos, de modo

    que se possa rearranj-los e modificar a natureza das interaes das foras nos

    materiais (MARTINS, 2009).

    Segundo Melo e Pimenta (2004):

    [...], as nanotecnologias buscam se aproveitar das novas propriedades que surgem nos materiais quando em escala nanomtrica para, atravs do controle do tamanho e da forma dos nano-objetos, conseguir a preparao de novos dispositivos tecnolgicos com finalidades especficas.

  • 20

    O objetivo da nanotecnologia criar novos materiais e desenvolver novos produtos

    atravs de tcnicas que possibilitem ver e manipular tomos, ou seja, com a

    construo de novas molculas pode-se conseguir materiais com caractersticas

    precisas e individualizadas (BARBASTEFANO et al, 2005).

    4.1.1 HISTRICO

    Para se contar a histria da nanotecnologia preciso voltar ao Sculo V a. C., poca

    em que pela primeira vez Leucipo de Mileto, considerado mestre de Demcrito, falou

    em tomo, descrito pelo segundo como partcula minscula, indivisvel e invisvel a

    olho nu que constitua todas as coisas (ALVES, 2010).

    A idia de que o tomo seria indivisvel chegou ao sculo XIX, quando Dalton

    (quadro 1) afirmou que tomos seriam como bolas de bilhar e que os elementos

    eram constitudos por tomos do mesmo tipo. Difundia-se a idia de que as

    molculas existiam e que cada material seria formado por molculas diferentes

    (ALVES, 2010).

    Embora mantido o nome de tomo, Rutherford, em 1908, trouxe a teoria em que o

    tomo deixava de ser indivisvel e que sua forma seria similar ao do sistema solar,

    no qual o ncleo atmico se encontrava no centro do tomo (ALVES, 2010).

    Sete anos mais tarde, Bohr daria sua contribuio propondo um modelo em que o

    ncleo era carregado positivamente e circundado por elementos de cargas

    negativas, os eltrons, que circundavam esse ncleo em rbitas. Com a mecnica

    quntica Bohr explicou que os eltrons mais externos eram responsveis pelas

    ligaes qumicas abrindo portas para pesquisas na rea de qumica e fsica

    (ALVES, 2010).

  • 21

    ANO CIENTISTA POSTULADO MODELO ATMICO

    1808

    John Dalton (1766 1844)

    tomo Partcula indivisvel e compacta; Matria - Composta por tomos. Elementos qumicos -formados por tomos simples idnticos entre si, em tamanho, forma, massa e demais propriedades. Substncias compostas - formadas por tomos compostos (molculas).

    Modelo Bola de Bilhar

    1897

    Joseph John Thomson (1856 1940)

    tomo - No macio e nem indivisvel; esfera de matria com carga positiva e em seu interior havia elementos de carga negativa.

    Modelo Pudim de Passas

    1908

    Rutherford (1871 -1937)

    tomo - Similar ao Sistema Solar, ncleo atmico no centro do tomo.

    Modelo Sistema Solar

    1915

    Niels Bohr (1885-1962)

    tomo - Ncleo carregado positivamente e circundado por elementos de cargas negativas, os eltrons, que circundavam esse ncleo em rbitas

    Modelo Rutherford - Bohr

    Quadro 1 Cronologia da evoluo de modelos atmicos. Fonte: Adaptado de ALVES, 2010.

    O primeiro cientista a dar medidas s molculas foi Albert Einstein, em um dos seus

    trabalhos intitulado Uma nova determinao das dimenses moleculares,

    apresentado em 1905. Nesta tese, Einstein chegava concluso de que o raio de

    uma molcula de sacarose media 0,62 nanmetros (SANDRE; SAULO, 2009).

  • 22

    Em 1959 surgiu a discusso a cerca da nanotecnologia no meio cientfico quando o

    fsico norte-americano Richard Feynman proferiu uma conferncia na reunio da

    Sociedade Americana de Fsica, a qual deu o ttulo de H muito espao l

    embaixo. Nesta ocasio Feynman discutiu a possibilidade da manipulao de

    tomos e de construo de objetos nanometricamente pequenos, com

    caractersticas prprias e individuais. A ele s no foi possvel colocar suas idias

    em prtica por no existirem possibilidades de se enxergar os tomos para que se

    pudessem manipul-los (VELOSO, 2007).

    Apesar de todas essas idias, a palavra nanotecnologia ainda no havia sido

    proferida por Feynman. Entretanto, em 1974, um pesquisador da universidade de

    Tquio chamado Norio Taneguchi utilizou o novo termo para descrever a fabricao

    precisa de novos materiais com tolerncias nanomtricas (MARTINS, 2009).

    Como ainda no havia meios para que se conseguisse ver e manipular tomos, foi

    preciso que desenvolvessem aparelhos que possibilitassem esse trabalho. Nesse

    sentido, a criao dos microscpios de tunelamento por Binning e Rohrer nos anos

    80 foi um grande marco no desenvolvimento da nanotecnologia, j que possibilitou

    no s enxergar como manipular na escala nanomtrica.

    Melo e Pimenta (2004) descrevem de maneira sucinta o princpio da microscopia de

    tunelamento: De uma maneira geral, esses microscpios funcionam pelo mapeamento dos objetos de dimenses atmicas por meio de uma agulha extremamente afiada, contendo poucos tomos em sua ponta, que de maneira controlada tateia a estrutura da amostra sob anlise. Atravs do deslocamento extremamente preciso da ponta do microscpio em relao superfcie da amostra que se quer investigar, possvel visualizar a natureza e disposio espacial dos tomos que constituem um material, o que permite construir imagens detalhadas de objetos com dimenses nanomtricas.

    O termo nanotecnologia foi popularizado mais tarde, quando Erick Dexler, em 1986

    publica o livro intitulado "Engines of Criation - The New Era of Nanotechnology",

    considerado por Oliveira (2011) um tanto quanto ficcional. Em 1992, com a

    publicao da tese de doutorado deste mesmo autor, cujo ttulo "Nanosystems:

    Molecular Machinery, Manufacturing and Computation", a primeira organizao

    criada para educar a sociedade sobre os riscos e os benefcios dos nanossistemas,

    a nanotecnologia ganha novo impulso na comunidade cientfica (MARTINS, 2009).

  • 23

    Um grande feito para o desenvolvimento da nanotecnologia foi quando, em 1989, o

    fsico norte americano Donald Eigler e seus colaboradores conseguiram construir um

    logotipo da empresa de computadores IBM (International Business Machines) sobre

    uma superfcie de nquel utilizando 35 tomos de xennio, a letra I da sigla era

    formada por 9 tomos e media aproximadamente 5 nm. As imagens correram por

    todo o mundo e a possibilidade de avanos em pesquisas nessa rea fica evidente

    (Figura 1).

    Figura 1 Logotipo da empresa IBM escrita em escala nanomtrica utilizando 35 tomos de xennio. Fonte: EYRE, 2011.

    Um outro marco no desenvolvimento da nanotecnologia a construo de

    nanotubos de carbono, em 1991, por Sumio Lijima, com base nas descobertas feitas

    por Ricahrd Smalley a cerca de uma nova forma de blocos de construo, os

    chamados buckminsters ou buckyballs. Segundo Fonseca (2009) o nanotubo de

    carbono basicamente uma folha de carbono enrolada de modo a conectar suas

    extremidades formando um tubo. Esse autor relata ainda que esses nanotubos

    (Figura 2) venham revolucionando a nanotecnologia por exibirem resistncia

    mecnica extremamente alta e aplicaes singulares, como por exemplo, serem

    utilizados como nanopinas no posicionamento de tomos e molculas.

  • 24

    Figura 2 Esquema mostrando Nanotubos de carbono. A) Nanotubo monofolhado. B) Nanotubo multifolhado. Fonte: MUEHLMANN, 2011

    Hoje a nanotecnologia no mais uma promessa para o futuro. Pases

    desenvolvidos e alguns em desenvolvimento vem investindo com fora total em

    pesquisa e desenvolvimento nesse campo. Para Silva (2003), o motivo desses

    investimentos o enorme mercado potencial que est em jogo.

    Silva (2003) destaca a importncia do desenvolvimento da nanotecnologia sobre a

    economia mundial citando reduo de matrias-primas, do consumo energtico de

    importantes processos industriais, menos agresso ao meio ambiente e maior

    proteo sade do consumidor.

    Segundo Motta (2009), entre os anos de 2000 e 2003 acreditava se que esta rea

    era de oportunidades ilimitadas para maioria dos setores. Nos anos anteriores, foi

    possvel verificar que havia um montante de aplicaes na rea de nanotecnologia

    relativos a valores de 2 bilhes de dlares anuais (BERGMANN, 2010). J em 2008,

    em termos globais, foram aplicados cerca de 8 bilhes de dlares para

    investimentos pblicos em pesquisas, salientando que os pases lideres nesses

    investimentos so: Europeus (Reino Unido, Frana, Alemanha, Finlndia, Sua,

    Itlia, Sucia, Dinamarca , Pases Baixos), Estados Unidos e Japo (Figura 3).

  • 25

    Figura 3 Investimentos governamentais globais em nanotecnologia. Fonte: MOTTA, 2009.

    No Brasil existem algumas iniciativas com o intuito de incentivar a pesquisa no ramo

    da nanotecnologia. Uma primeira tentativa do governo foi a elaborao do Programa

    Nacional de Nanotecnologia em 2000, que tem como foco conquistar uma fatia do

    mercado global de materiais, produtos e processos baseados em nanotecnologia o

    que implica em investimentos na formao de recursos humanos, pesquisa,

    inovao, criao de novas empresas e ampliao das reas de atuao nas

    indstrias nacionais.

    Silva (2003) conclui:

    Considerando-se o estgio atual do Brasil em Nanotecnologia, fixou-se, inicialmente, como medida do sucesso do Programa, a meta de conquistar 1% do mercado mundial de materiais, produtos e processos baseados na Nanotecnologia, ou seja, a meta de exportaes de cerca de US$ 10 bilhes de dlares, em um prazo de dez anos, para o setor brasileiro de Nanotecnologia.

    Diferente da viso global de investimentos em nanotecnologia, o Brasil anda em um

    descompasso significativo, ou seja, no existem estratgias visando o mercado. Se

    comparados aos investimentos globais, os do Brasil (Quadro 2 e Figura 4) podem

    ser considerados mnimos, e investimentos privados so quase inexistentes

    (MOTTA, 2009).

    Investimentos Globais em Nanotecnologia

    0100020003000400050006000700080009000

    2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    Anos

    U$$

    (Milh

    es)

  • 26

    Quadro 2 - Investimentos (R$ milhes) em nanotecnologia do Ministrio de Cincia e Tecnologia (MCT) via Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Fonte: MOTTA, 2009.

    Figura 4 Investimentos em nanotecnologia no Brasil. Fonte: MOTTA, 2009

    Motta (2009) afirma que atualmente a ABDI (Agncia Brasileira de Desenvolvimento

    Industrial) listou em ordem de prioridade e de forma estratgica seis temas que

    devem ser desenvolvido nessa rea de pesquisa no Brasil, a saber: Nanomateriais;

    Nanoeletrnica, Nanofotnica; Nanobiotecnologia; Nanoenergia; Nanoambiente.

    Mesmo com todas as tentativas, investimentos e desenvolvimento de pesquisas na

    rea de nanotecnologia, o Brasil vivencia a fase inicial do desenvolvimento

    observada nos pases lideres h uma dcada. (MOTTA, 2009).

    Origem 2007 2008 2009 2010 Total

    MCT/FNDCT 4,8 6,5 9,5 12,7 33,5

    MCT/outras aes PPA 10,29 8,74 8,59 8,87 36,49

    Total 15,09 15,24 18,09 21,57 69,99

  • 27

    4.2 APLICAES

    A nanotecnologia um conjunto de tcnicas usadas para manipular a matria na

    escala de tomos e molculas. A chave para entender o poder e o potencial nicos

    dessa tecnologia que, em nanoescala, as propriedades dos materiais podem

    mudar drasticamente (GRUPO ETC, 2005).

    Somente com a reduo do tamanho e sem mudar a substncia, os materiais podem

    exibir novas propriedades, tais como: condutividade eltrica, elasticidade, maior

    resistncia, cor diferente e maior reatividade, caractersticas essas que no seriam

    apresentadas por essas mesmas substncias em escala micro ou macro (GRUPO

    ETC, 2005).

    A nanotecnologia se tornou um dos mais promissores campos de pesquisa da

    atualidade e por no possuir uma tecnologia especfica e sim interdisciplinar

    baseada na fsica, qumica, biologia, engenharias, computao e medicina, permite

    que vrios campos faam seu uso (ALVES, 2004).

    As Figuras 5 e 6 mostram as aplicaes em diferentes reas do conhecimento,

    ilustram os parmetros que so aproveitados de cada disciplina e mostram ainda

    que a unio desses parmetros tem como resultado a nanotecnologia.

    Figura 5 - Nanotecnologia: agregado interdisciplinar de vrios campos das cincias naturais e exatas. Fonte: ALVES, 2010.

  • 28

    Figura 6 - Inmeras aplicaes relacionadas com a Nanotecnologia. Fonte MOTTA, 2009.

    Segundo Alves (2004), existem duas estratgias de fabricao atualmente utilizadas em

    nanotecnologia (Figura 7), ou seja, duas sries de tcnicas disponveis para manipular a

    matria na escala de tomos e molculas, a saber:

    [...] a denominada top down, na qual estruturas nanomtricas so produzidas por meio de quebra de materiais por moagem, nanolitografia ou engenharia de preciso, e a denominada botton up, a qual permite que nanoestruturas sejam formadas de tomos ou molculas individuais capazes de se auto-arranjar ou organizar.

    Figura 7 - Abordagens utilizadas para desenvolvimento de Nanoestruturas. Fonte: ALVES, 2010.

  • 29

    Em outras palavras, a tcnica de top down (de cima pra baixo) consiste em fabricar

    um objeto pela eliminao de material existente em uma amostra maior do material.

    Normalmente se vale das chamadas tcnicas de litografia, que correspondem a uma

    srie de etapas de corroso qumica seletiva e extremamente precisa para a

    preparao final do objeto nanomtrico a partir de um bloco macroscpico do

    material (MELO; PIMENTA, 2004). Nesse caso h necessidade do uso de

    maquinaria capaz de reproduzir os padres, como o caso da confeco de chips

    (ALVES, 2010).

    O procedimento bottom up (de baixo para cima), consiste em tentar construir o

    material a partir de seus componentes bsicos, ou seja, seus tomos e molculas,

    da mesma forma que uma criana monta uma estrutura ao conectar as peas de um

    Lego (jogo de peas de montar) (MELO; PIMENTA, 2004). Parte-se do

    entendimento e controle do comportamento quntico intramolecular, de molculas

    especificamente desenhadas e sintetizadas. Usam-se superfcies para localiz-las e

    estabiliz-las em um processo semelhante ao que a natureza j faz de uma forma

    otimizada h milhes de anos em sistemas vivos e no meio ambiente. Embora se

    sabendo que imitar processos biolgicos naturais no uma tarefa fcil, esta

    segunda alternativa muito mais atrativa que a anterior, por requerer um menor

    investimento financeiro e por incentivar fortemente o trabalho conjunto de fsicos,

    qumicos, bilogos e engenheiros. Os sistemas so interconectados, partindo-se de

    partes atmicas e/ou moleculares (ALVES, 2004, 2010).

    Os tomos mais apropriados para aplicao na nanotecnologia so fsforo,

    hidrognio, cloro, enxofre, silcio, flor, nitrognio, e oxignio possibilitando que, em

    todo ramo da Cincia, a aplicao da tecnologia de composio de molculas

    microscpicas e tomos possa vir a trazer inovaes tecnolgicas (VELOSO, 2007).

    Muitas vezes, os tomos depositados se organizam espontaneamente, formando

    estruturas bem definidas de tamanho nanomtrico, o chamado processo de auto-

    organizao, ou auto-agrupamento. Tambm possvel construir objetos

    nanomtricos a partir de reaes qumicas controladas (MELO; PIMENTA, 2004).

    Mihail Roco da NNI (National Nanotechnology Initiative), EUA, descreveu quatro

    geraes de desenvolvimento das aplicaes da nanotecnologia (Figura 8). Na

    primeira gerao, de 2000 a 2005, trabalhou-se com nanoestrutura passiva,

    materiais projetados para executar uma tarefa. A segunda fase, a partir de 2006,

  • 30

    introduz nanoestruturas ativas para multitarefa, por exemplo, elementos

    nanoeletrnicos, atuadores, dispositivos de distribuio de drogas (drug delivery) e

    sensores. A terceira gerao, iniciada por volta de 2010, conta com nanossistemas

    com milhares de componentes que interagem entre si como a produo controlada

    de montagens de nanossistemas, de novas arquiteturas e redes para eletrnica, de

    desenvolvimento da robtica e de sistemas evolutivos. Na ltima fase, ao redor de

    2015 - 2020, ser possvel controle molecular e projetar dispositivos a nanoescala

    (OLIVEIRA, 2011; ALVES, 2010).

    Figura 8 As quatro geraes de aplicaes da nanotecnologia. Fonte: OLIVEIRA, 2011.

    Alves (2010) afirma que difcil saber ao exato quantos produtos obtidos a partir da

    nanotecnologia so comercializados atualmente no mundo. Porm, existem

    informaes vindas do projeto PEN (Project on Emerging Nanotechnology) da

    Woodrow Wilson (EUA), atravs de dados cedidos voluntariamente pelos prprios

    fabricantes, que apontam 54 produtos, em 2005. Cinco anos mais tarde, j eram

    1015 produtos. Se essa tendncia continuar, no fim de 2011, 1500 produtos sero

    fabricados e comercializados pelo mundo (Figura 9).

  • 31

    Figura 9 - Nmero total de produtos na lista, por data de atualizao do inventrio, com anlise de regresso. Fonte: PEN, 2011.

    Esses produtos foram agrupados em categorias (Figura 10) e a de maior

    crescimento, em termos de nmero de produtos a categoria Sade e Fitness na

    qual tem-se vesturio (182 produtos), cosmtico (143 produtos), filtros (43 produtos),

    cuidados pessoais (267 produtos), artigos esportivos (119 produtos) e protetores

    solares (33 produtos) (Figura 11) (PEN, 2011).

  • 32

    Figura 10 - Nmero de produtos, de acordo com a categoria. Fonte: Adaptado PEN, 2011.

    Figura 11 - Nmero de produtos por subcategoria dentro da categoria Sade e Fitness. Fonte: Adaptado PEN, 2011.

    28

    39

    36

    39

    10

    13

    267

    182

    143

    119

    43

    33

    Cuidados Pessoais

    Vesturio

    Cosmticos

    Artigos Esportivos

    Filtros

    Protetor Solar

    N de produtos

    Sub

    cate

    goria

    s

    Subcategorias Sade e Fitness

    2011

    2006

  • 33

    4.2.1 SETORES EM EVIDNCIA NO MBITO DA NANOTECNOLOGIA

    Estudos de nanopartculas alavancam oportunidade desde o ltimo quarto do sculo

    passado, de modo a criar o campo novo da nanocincia e nanotecnologia, com

    fronteiras mais precisas e com necessidades mais amplas de associao de

    diversos campos do conhecimento (TEMPERINI, 2009).

    Alguns exemplos de como estudos nestes setores podem ser importantes so

    citados por Temperine (2009) a seguir:

    A alocao de grupos hidrofbicos, na superfcie das nanopartculas, iro promover repelncia gua em tecidos ou tintas e complementos. Grupos sinalizados podero promover aderncia a diversos substratos melhorando propriedades como abraso, dureza, pega de sujeira no filme seco. A melhora sensvel da penetrabilidade durante a aplicao pode promover tanto um acabamento mais duradouro de uma madeira como melhorar a qualidade de impresso em litografia pela maior absoro do corante pelo substrato de impresso. A alocao de grupos reativos podem fazer das nanopartculas catalizadores altamente eficientes na cura de polisteres e alqudicas, melhorando a dureza e abraso dos revestimentos. Grupos especficos podem promover interao com anti-corpos para oferecer um rpido diagnstico in vitro.

    De acordo com NNI (2011), a nanotecnologia est ajudando a melhorar

    consideravelmente, ou at mesmo revolucionar, muitos setores industriais.

    Dentre os setores em maior evidncia no mbito da nanotecnologia esto:

    tecnologia da informao, energia, cincia ambiental, medicina, segurana interna, a

    segurana alimentar e transporte, entre muitos outros.

    Em abril de 2005, o site BBC News veiculou artigo denominado Nanotech Promise

    for Global Poor, apresentando um painel (Tabela 2) realizado com 63 especialistas

    mundiais, que identificaram as reas mais promissoras da nanotecnologia.

  • 34

    Tabela 2 Usos da nanotecnologia. Os dez Mais Usos da Nanotecnologia

    1. Armazenamento, produo e converso de energia 2. Incremento da produtividade da agricultura 3. Tratamento de gua e remediao ambiental 4. Diagnstico e screening de doenas 5. Sistema de entrega de drogas 6. Processamento e armazenamento de alimentos 7. Poluio do ar e remediao 8. Construo 9. Monitoramento da sade 10. Vetores, deteco e controle de pragas

    Fonte: BBC News, 2005.

    4.2.1.1 Indstria Automotiva e Aeronutica

    Materiais mais leves, reforados por nanopartculas; pneus mais leves, que durem

    muito mais tempo e que sejam reciclveis; tintas que no sofram os efeitos da

    salinidade marinha, que proporcionam pinturas especiais que no riscam,

    autolimpantes; plsticos no inflamveis e mais baratos, tecidos e materiais de

    recobrimento com poder de autoreparao, catalisadores para conversores

    catalticos para gases de escapamento, eletrnica embarcada, tecidos

    antibacterianos (ALVES, 2004, 2010; NNI, 2011; ROCO, 1999).

    4.2.1.2 Indstria Eletrnica e de Comunicao

    Registro de dados por meioS que utilizem nanocamadas e pontos qunticos

    (quantum-dots); telas planas; tecnologias sem-fio; novos aparelhos e processos

    dentro de todos os aspectos das tecnologias de informao e comunicao;

    aumento das velocidades de tratamento de dados e das capacidades de

    armazenamento, que sejam ao mesmo tempo menos caras que as atuais (ALVES,

    2004, 2010; NNI, 2011; ROCO, 1999).

  • 35

    4.2.1.3 Indstria Qumica e de Materiais

    Catalisadores que aumentem a eficincia energtica das plantas de transformao

    qumica e que aumentem a eficincia da combusto dos veculos motores

    (diminuindo assim a poluio); ferramentas de corte extremamente duras e

    resistentes, fluidos magnticos inteligentes para uso como lubrificantes;

    nanocompsitos que combinam propriedades de materiais dspares, tais como,

    polmeros e argilas; embalagens com propriedades de barreira (umidade, gases),

    base de nanocompsitos; embalagens inteligentes, sensveis a gases de

    decomposio de alimentos; recipientes bactericida para guardar alimentos

    perecveis (ALVES, 2004, 2010; NNI, 2011; ROCO, 1999).

    4.2.1.4 Setor de Instrumentao

    Engenharia de preciso, visando produo de novas geraes de microscpios e

    de instrumentao para medida, para novos processos e desenvolvimento de novas

    ferramentas para manipular a matria em nvel atmico; incorporao de nanops,

    com propriedades especiais em materiais a granel, tais como os sensores que

    detectam e corrigem fraturas iminentes; automontagem de estruturas a partir de

    molculas; materiais inspirados pela biologia, bioestruturas (ALVES, 2004, 2010;

    NNI, 2011; ROCO, 1999).

    4.2.1.5 Setor de Energia

    Novos tipos de baterias; fotossntese artificial que permita a produo de energia de

    modo ecolgico; armazenagem segura de hidrognio para utilizao como

    combustvel limpo; economia de energia, resultante da utilizao de materiais mais

    leves e de circuitos cada vez menores; sistemas fotovoltaicos; clulas solares; grids

    de energia; baterias; ps para geradores elicos; LEDs baseados em quantum dots

    para iluminao pblica, domiciliar e automobilstica (ALVES, 2004, 2010; NNI,

    2011; ROCO, 1999).

  • 36

    4.2.1.6 Meio ambiente

    Membranas seletivas que possam filtrar contaminantes ou ainda eliminar o sal da

    gua; dispositivos nanoestruturados, capazes de retirar os poluentes dos efluentes

    industriais; caracterizao dos efeitos das nanoestruturas sobre o meio ambiente;

    reduo significativa na utilizao de materiais e energia; reduo das fontes de

    poluio; novas possibilidades para a reciclagem; estruturas para acelerar reaes

    de degradao de contaminantes na gua. (ALVES, 2004; ALVES, 2010;

    GUAZZELLI; PEREZ, 2009; NNI, 2011; ROCO, 1999).

    4.2.1.7 Defesa

    Detectores e remediadores de agentes qumicos e biolgicos; circuitos eletrnicos

    cada vez mais eficientes; materiais e recobrimentos nanoestruturados muito mais

    resistentes; tecidos mais leves e com propriedades de auto-reparao; novos

    substituintes para o sangue; sistemas de segurana miniaturizados (ALVES, 2004;

    ALVES, 2010; NNI, 2011; ROCO, 1999).

    4.2.1.8 Setor de Agronegcio

    Nanoproduto capaz de tornar a madeira autolimpante, impermevel e resistente ao

    ataque de fungos (SBPC, 2006); diversidade em agroqumicos e de fertilizantes

    qumicos mais potentes; nanoagentes antimicrobianos como nanoprata associadas

    s plantas leguminosas, como a soja ou adubos verdes; sensores e biossensores

    (lnguas e narizes eletrnicos), para controle de qualidade, certificao e

    rastreabilidade de alimentos; novos sensores para descobrir patgenos e

    contaminaes em alimentos e em produtos agrcolas (GUAZZELLI; PEREZ, 2009).

    4.2.1.9 Setor Txtil

    Incorporao de nanopartculas e cpsulas em roupas conferem leveza e

    durabilidade, e mudam as propriedades fsicas dos tecidos (tecidos inteligentes).

  • 37

    4.2.1.10 Indstria Farmacutica, Biotecnolgica e Biomdica

    Novos medicamentos baseados em nanoestruturas, sistemas de difuso de

    medicamentos que atinjam pontos especficos no corpo humano; materiais de

    substituio (prteses) biocompatveis com rgos e fluidos humanos; kits de

    autodiagnstico que possam ser utilizados em casa; sensores laboratoriais

    construdos sobre chips; materiais para a regenerao de ossos e tecidos;

    protetores solares; produtos para recuperao da pele; produtos contendo cores

    fsicas (ndice de refrao); produtos para maquiagem (ALVES, 2004, 2010; NNI,

    2011; ROCO, 1999).

    4.2.2 NANOBIOTECNOLOGIA

    Em especial, preciso destacar o desenvolvimento da nanobiotecnologia nesse

    avano tecnolgico. Durn, Marcato e Teixeira (2010), explicam a que o termo se

    refere da seguinte forma:

    [...] refere-se fuso de duas abordagens de tecnologias recentes, a biotecnologia e a nanotecnologia, apresentando enormes inovaes e potencialidades. A nanobiotecnologia pode ser, portanto, definida como o estudo, processamento, fabricao e desenho de dispositivos orgnicos, nanomateriais para atuao biolgica ou biomateriais, nos quais pelo menos um componente funcional possui tamanho nanomtrico. reas importantes da nanobiotecnologia incluem a nanomedicina (biologia molecular e gentica), a fsica-mdica (diagnstico), o desenvolvimento de nanofrmacos (frmacos encapsulados), alm da nanocosmecutica (cosmticos com efeitos farmacolgicos considerveis).

    Dentro do desenvolvimento da nanobiotecnologia, quatro reas se destacam

    promissoramente, sendo elas; nanobiotecnologia, fsica mdica, nanocosmecutica

    e nanofrmacos.

    A nanomedicina um dos ramos mais promissores da medicina contempornea,

    retendo boa parte dos esforos cientficos na busca de novos tratamentos para

    doenas como o cncer e a AIDS (Acquired Immune Deficiency Syndrome)

    (HERMOSILLA; CARLES, 2007).

    A fsica mdica, responsvel por toda a parte de diagnstico de enfermidades

    facilitada pela descoberta de que nanopartculas so capazes de se moverem

  • 38

    facilmente pelo corpo. Destacam-se os pontos qunticos funcionalizados para

    marcar diferentes componentes biolgicos, como protenas ou filamentos de DNA,

    com cores especficas, dando a possibilidade de observao rpida em amostras

    sanguneas (GRUPO ETC, 2005). Dessa maneira, os diagnsticos so feitos

    prematuramente, com menor margem de erros, levando a tratamentos mais rpidos

    e mais precisos (AZEVEDO, 2002).

    A nanocosmecutica, que para Guazzelli e Perez (2009), quando traz a

    sofisticao da tecnologia aumenta o valor agregado dos produtos e d ao

    consumidor uma percepo de desempenho melhor quando so comparados com

    cosmticos convencionais. Ela enfatiza que os protetores solares, cremes

    antirrugas, xampus e condicionadores, e desodorantes com nanocomponentes

    espalham mais facilmente, tm sensao mais suave ao toque, tm liberao

    controlada dos ingredientes ativos e maior penetrao nos cabelos e na pele,

    atingindo camadas mais profundas.

    Por fim, os nanofrmacos, foco deste trabalho, mais especificamente frmacos de

    liberao controlada, obtidos atravs do desenvolvimento de macromolculas

    nanomtricas capazes de, como uma gaiola qumica, armazenar em seu interior a

    molcula de uma droga ou o princpio ativo de um medicamento, de modo que

    venham a funcionar como vetores capazes do transporte pelo organismo e do

    controle, seja da taxa de liberao, seja do ambiente fisiolgico adequado, para que

    essa liberao do composto especfico ocorra. Da mesma forma, a macromolcula

    pode ter sua parte exterior preparada para que sua dissoluo, liberando o frmaco,

    ocorra apenas em tecidos-alvo especficos, minimizando os efeitos colaterais da

    droga utilizada. Por fim, as dimenses nanomtricas das molculas-gaiola podem

    levar inclusive preparao de medicamentos capazes de vencer a barreira das

    membranas cerebrais, levando ao desenvolvimento de uma nova gerao de

    frmacos especficos para o tratamento de alteraes bioqumicas ou de tecidos do

    crebro (MELLO; PIMENTA, 2004).

  • 39

    4.3 NANOTECNOLOGIA APLICADA A FRMACOS

    4.3.1 FRMACOS DE LIBERAO CONTROLADA

    A indstria farmacutica, fazendo uso das inovaes tecnolgicas utiliza a

    nanotecnologia e os nanomateriais para desenvolver frmacos dentro de um sistema

    chamado de liberao controlada (AZEVEDO, 2002).

    Frmacos de liberao controlada so todos aqueles que tem como objetivo

    fornecer uma dose teraputica de uma droga para um local do corpo

    predeterminado, e manter esta concentrao desejada (GENNARO, 2004), de modo

    controlado em velocidade e tempo apropriado, buscando tambm manter os nveis

    sanguneos teraputicos timos (ALLEN JR.; ANSEL; POPOVICH 2007) e evitar, a

    nveis plasmticos, a problemtica da toxicidade e/ou doses txicas (AZEVEDO

    2002). Desta forma, esse sistema permite que seja liberado gradativamente, a um

    ritmo ditado pelas necessidades do corpo, por um perodo especfico de tratamento

    (GENNARO, 2004).

    Dentro desse sistema dois aspectos so definidos: a colocao espacial que se

    relaciona ao direcionamento de uma droga para um rgo e a distribuio temporal,

    que tem relacionamento com o controle do ritmo de distribuio para o tecido alvo

    (GENNARO, 2004).

    Os anos de 1950 a 1970 so considerados como o perodo da liberao constante

    de drogas, ou seja, nesse intervalo de tempo foram criados os primeiros sistemas

    contendo ceras e polmeros hidrofbicos. Esses, por sua vez, foram aplicados s

    drogas e tinham como objetivo manter seus nveis de forma prolongada ou por um

    perodo prolongado de tempo (GENNARO, 2004). O ano de 1960 destaca-se pelo

    desenvolvimento da microencapsulao, tcnica de transformao de lquido

    (polmeros e outras substncias) em ps com tamanho de partculas micromtricas

    (MARQUES, 2009).

    No entanto, ainda nesse mesmo perodo no se tinha compreenso das barreiras

    anatmicas e fisiolgicas do corpo humano, o que gerou um contratempo ao

    desenvolvimento de sistemas de distribuio eficientes. Foi ento a partir dos anos

    de 1970 a 1990 que houve a busca por entendimento nas necessidades da

  • 40

    distribuio controlada das drogas e das barreiras para vrias vias de administrao

    (GENNARO, 2004).

    Os anos seguintes aos de 1990 foram ento considerados os da era moderna da

    tecnologia de liberao controlada o qual buscaram-se a otimizao das drogas

    (GENNARO, 2004).

    Lyra et al (2007), citam variados sistemas de liberao de frmacos que atualmente

    aparecem como as expresses liberao retardada (RETARD), repetida, controlada

    (CR), sustentada (SR), entre outras.

    Essas expresses podem ser definidas, assim sendo:

    Liberao Retardada: desenvolvida para liberar o frmaco num tempo

    diferente daquele imediatamente aps a administrao (ALLEN JR., ANSEL,

    POPOVICH 2007);

    Liberao Repetida: em geral contem duas doses do medicamento, a primeira

    para liberao imediata e a segunda para liberao retardada (ALLEN JR.,

    ANSEL, POPOVICH 2007);

    Liberao Controlada: libera o frmaco em uma velocidade constante e

    fornecem concentraes plasmticas que permanecem invariveis com o

    tempo (AULTON, 2005);

    Liberao Sustentada: liberao inicial de frmacos, suficiente para

    disponibilizar a dose teraputica logo aps a administrao, a qual seguida

    de uma liberao gradual do frmaco por um perodo de tempo estendido

    (AULTON, 2005);

    Liberao Prolongada: frmaco disponibilizado para absoro por um perodo

    de tempo mais prolongado do que a partir de uma forma farmacutica

    convencional (AULTON, 2005);

    Liberao Estendida: frmaco liberado lentamente de modo a manter as

    concentraes plasmticas no nvel teraputico, por um perodo prolongado

    de tempo (8 e 12h) (AULTON, 2005);

  • 41

    Liberao Vetorizada: liberao do frmaco dirigida ou concentrada a uma

    regio do corpo, tecido, ou sitio de absoro ou ao (ALLEN JR.; ANSEL;

    POPOVICH 2007);

    Liberao Modificada: formas farmacuticas apresentando caractersticas de

    liberao com base no tempo, durao e/ou localizao, desenvolvidas para

    alcanar os objetivos teraputicos e convencionais no oferecidos pelas

    formas de liberao imediatas (ALLEN JR.; ANSEL; POPOVICH 2007).

    Para Allen Jr, Ansel e Popovich (2007), nem todos os frmacos possuem

    caractersticas adequadas para que se tornem produtos de liberao controlada,

    assim como nem todas as condies mdicas exigem o tratamento com drogas

    desse sistema. Logo, apenas sero considerados adequados aqueles que

    possuirem tais caractersticas:

    Exibir velocidades de absoro e de excreo nem muito lenta nem muito

    rpida, ou seja, frmacos candidatos a serem preparados em formulaes

    controladas so aqueles que possuem tempo de meia vida variante entre 2 a

    8 horas (ALLEN JR.; ANSEL; POPOVICH 2007; GENARO, 2004);

    Apresentar uniformidade quando absorvidos no trato gastrintestinal tendo uma

    boa solubilidade aquosa, resistncia e alta permeabilidade no mesmo (ALLEN

    JR.; ANSEL; POPOVICH 2007; GENARO, 2004; AULTON, 2005);

    Incapacidade de formar metablitos farmacologicamente ativos, por exemplo;

    por efeito do metabolismo de primeira passagem (AULTON, 2005);

    Possibilitar administrao em doses relativamente pequenas, cujos valores

    compreendem-se entre 125 e 325 mg, de modo a limitar o tamanho do

    sistema de liberao (ALLEN JR.; ANSEL; POPOVICH 2007; AULTON,

    2005);

    Apresentem alto ndice teraputico (TI) devido s limitaes tecnolgicas de

    controle preciso sobre taxas de liberao. Uma droga considerada

    relativamente segura se o seu valor de TI (dose txica mediana divida pela

    dose efetiva mediana) encontra-se alm de 10 (ALLEN JR.; ANSEL;

    POPOVICH 2007; GENARO, 2004);

  • 42

    Ser utilizado preferencialmente no tratamento de condies crnicas do que

    agudas, de forma que no sejam necessrios ajustes de doses dirias

    (ALLEN JR.; ANSEL; POPOVICH 2007).

    4.3.2 NANOTECNOLOGIA FARMACUTICA

    A nanotecnologia farmacutica a rea das cincias farmacuticas envolvida no

    desenvolvimento, caracterizao e aplicao de sistemas teraputicos em escala

    nanomtrica ou micromtrica. O estudo desses sistemas tem sido realizado com o

    objetivo de direcionar e controlar a liberao de frmacos (SAKATA et al.,2007).

    Alves, Martins e Santana (2008) afirmam que as nanopartculas possuem as

    caractersticas necessrias para que esses sistemas de liberao de frmacos

    controlados sejam efetivos. Permitem que sejam entregues em local apropriado, tem

    suas concentraes mantidas em nveis adequados por longos perodos de tempo,

    alm de prevenir sua degradao.

    As nanopartculas permitem ainda maior eficincia de encapsulao e liberao

    controlada se comparadas aos sistemas de encapsulao convencionais, alm de

    possurem tamanho pequeno suficiente para serem injetadas diretamente no

    sistema circulatrio e oferecerem a possibilidade de administrao por outras vias

    como pulmonar, nasal, transcutnea e oral (ALVES; MARTINS; SANTANA, 2008)

    Alves; Martins; Santana (2008) acrescentam os tipos de nanoestruturas utilizadas

    pela indstria farmacutica para a encapsulao de ativos: lipossomas,

    nanopartculas polimricas, ciclodextrinas e nanopartculas lipdicas. Listam ainda

    nanopartculas as quais os ativos podem estar associados: do tipo metlica,

    fulerenos, dendrmetros ou nanotubos de carbono.

  • 43

    4.4 NANOESTRUTURAS UTILIZADAS NA APLICAO DA NANOTECNOLOGIA

    A FMACOS

    4.4.1 LIPOSSOMAS

    Em 1961, Alec Bagham durante um estudo de fosfolipdios e coagulao sangunea

    descobriu os lipossomas. Tal estudo mostrou que quando os fosfolipdios se

    combinam com a gua formam imediatamente uma esfera de bicamada. Isso ocorre

    porque enquanto uma ponta de cada molcula solvel em gua, a outra

    hidrofbica. Desde ento, eles tm sido ferramentas bastante versteis, amplamente

    utilizados como modelos de membranas celulares na biologia e bioqumica

    (BAGHAM apud ROSSI-BERGMANN, 2008).

    A sua utilizao como sistema carreador de frmacos foi proposta pela primeira vez

    em 1971 por Gregoriadis, e a partir de ento eles tm sido extensivamente utilizados

    (ROSSI-BERGMANN, 2008).

    Castanho e Santos (2002) definem lipossomas como associaes coloidais de

    lipdios anfipticos, que se organizam espontaneamente em estruturas fechadas tipo

    concha esfrica. Podem ser preparados a partir de misturas lipdicas naturais

    extradas e purificadas, ou a partir de lipdios sintticos, disponveis comercialmente.

    Essas vesculas esfricas so constitudas de uma ou vrias bicamadas

    concntricas de lipdeos, que isolam um ou vrios compartimentos aquosos internos

    do meio externo (Figura 12) (CASTANHO; SANTOS, 2002). Esse tipo de estrutura

    permite a encapsulao de compostos de naturezas hidroflicas, hidrofbicas e

    anfiflicas (Figura 13), e liberao controlada do contedo encapsulado por difuso

    e/ou por eroso da vescula (ALVES; MARTINS; SANTANA, 2008). Os lipossomos

    podem ser carregados positivamente, negativamente ou serem neutros, dependendo

    da sua composio (FIALHO; CUNHA JR, 2007).

  • 44

    Figura 12 Estrutura lipossmica: Bicamada lipdica isolando compartimento aquoso. Fonte: Adaptado WIKIPDIA, 2011.

    Figura 13 Possveis localizaes dos solutos nos lipossomas. (1) Solutos hidroflico; (2) Molculas anfiflica; (3) Solutos Lipoflicos. Fonte: RICCI JR, 2005. Alm disso, so sistemas altamente versteis, cujo tamanho, lamelaridade,

    superfcie, composio lipdica, volume e composio do meio aquoso interno

    podem ser manipulados em funo dos requisitos farmacuticos e farmacolgicos

    (FRZARD et al, 2005).

    Os lipdeos mais utilizados nas formulaes de lipossomas so os que apresentam

    uma forma cilndrica como as fosfatidilcolinas, fosfatidilserina, fosfatidilglicerol e

    esfingomielina, que tendem a formar uma bicamada estvel em soluo aquosa. As

    fosfatidilcolinas so as mais empregadas em estudos de formulao de lipossomas,

    pois apresentam grande estabilidade frente a variaes de pH ou da concentrao

    de sal no meio (BATISTA; CARVALHO; MAGALHES, 2007).

  • 45

    A nomenclatura para os lipossomas baseada no seu nmero de bicamadas

    lipdicas (lamelas) e tamanho. O tamanho dos lipossomos pode variar de vesculas

    muito pequenas (0,025 m) a grandes (2,5 m), apresentando uma nica ou

    mltiplas bicamadas. Com relao ao tamanho e o nmero de bicamadas, os

    lipossomos podem ser classificados em Vesculas Multilamelares (Multilamellar

    Large Vesicles - MLV); Vesculas Unilamelares Grandes (Large Unilamellar Vesicles

    - LUV) e Vesculas Unilamelares Pequenas (Small unilamellar vesicles SUV)

    (Figura 14) (FIALHO; CUNHA JR, 2007).

    Figura 14 Representao esquemtica dos fosfolpides, da estrutura e dos tipos de lipossomos. Fonte: FIALHO, CUNHA JR, 2007.

    Segundo New Apud Conceio et al (2009), os mtodos de preparaes de

    lipossomas podem ser classificados de acordo com o modo de disperso dos lipdios

    na fase aquosa, destacando os de disperso mecnica, a disperso de duas fases e

    a solubilizao por recurso a detergentes. Tais tcnicas foram descritas pelo autor

    como:

    Nos mtodos de preparao por disperso mecnica, os lipdios so secos usando para tal um solvente orgnico num suporte solido (normalmente as paredes do recipiente de preparao), aps os que so dispersos em fase aquosa por agitao (em vrtice manual, ou outra). Aps a hidratao ocorre a formao de lipossomas multilamerares (MLV). O Conjunto de mtodos de preparao includos nessa categoria especialmente adequado para encapsulao de frmacos lipossolveis. No Conjunto de mtodos de preparao em que se recorre a disperso do solvente, os lipdios so primeiramente dissolvidos num solvente orgnico sendo, posteriormente, adicionada a uma soluo aquosa do composto a encapsular. Os lipdios dispem-se, ento, em monocamada na interface entre as duas fases. Dentro deste grupo de mtodos de preparao ainda possvel distinguir trs categorias de mtodos: aqueles que envolvem a

  • 46

    utilizao de um solvente orgnico miscvel com a fase aquosa; aqueles em que a fase aquosa em largo excesso orgnica, imiscvel com esta ltima; e finalmente aqueles em que a fase orgnica imiscvel e se encontra em largo excesso a fase aquosa. Na terceira classe de mtodos de preparao de lipossomas, os fosfolipdios so solubilizados num meio aquoso por recurso utilizao de molculas de um detergente dando origem de micelas mistas. A este procedimento segue-se a remoo do detergente (por exemplo, por dilise) o que leva a um progressivo enriquecimento das micelas em fosfolipdios, originando, conseqentemente, a formao espontnea de lipossomas unilamelares.

    Rossi-Bergmann (2008) afirma que os lipossomas foram os primeiros nanossistemas

    utilizados na clnica e, ainda hoje, so os nicos aprovados para administrao

    intra-venosa. Em 1995, a Doxorrubicina foi o primeiro medicamento lipossomal a ser

    introduzido no mercado utilizada no tratamento do sarcoma de Kaposi associado

    AIDS. Depois disso, muitas outras formulaes lipossomais surgiram no mercado:

    Myocet e DaunoXome (frmacos utilizados no tratamento de cncer) que

    reduziram significativamente a toxidez cardaca da droga; Anfotericina B

    (medicamento para tratamento de micoses e leishmaniose visceral), que reduziram

    sensivelmente sua toxidez renal.

    As principais vias de administrao dos lipossomas so: intra-venosa, intra-

    peritoneal e subcutnea. A principal desvantagem destas a captura dos

    lipossomas pelo fgado e bao. A via oral uma via de administrao preferencial,

    mas a administrao de lipossomas oralmente dificultada pelas condies

    agressivas do trato gastrointestinal (baixo pH estomacal, presena de enzimas

    degradativas e ao detergente dos sais biliares no intestino) (LASIC apud MATOS

    E MOUTINHO, 2008).

    O principal problema da administrao sistmica de lipossomas o fato de que

    quando entram na corrente sangunea so rapidamente capturados pelos

    macrfagos que fazem parte do sistema retculo-endotelial. Para alm dos

    macrfagos, os lipossomas so absorvidos rapidamente e em grande extenso

    pelos outros rgos do SER (Sistema Retculo-Endotelial), principalmente o fgado,

    o bao e os ndulos linfticos, mas, mais tardiamente, tambm pelos pulmes e

    medula ssea, o que diminui o seu tempo de semi-vida plasmtica a minutos. Este

    fenmeno de captura condiciona a utilizao primordial dos lipossomas no

  • 47

    tratamento de doenas relacionadas com os rgos referidos: fgado ou bao

    (SHARMA E SHARMA apud MATOS E MOUTINHO, 2008).

    4.4.2 NANOPARTCULAS POLIMRICAS

    O termo nanopartculas polimricas aplicado liberao controlada de frmacos

    refere-se a dois tipos de estruturas diferentes, nanoesferas e nanocpsulas (Figura

    15). Azevedo e Durn (2002) explicam as diferenas entre essas nanoestruturas:

    Denominam-se (nano) esferas aqueles sistemas em que o frmaco encontra-se homogeneamente disperso ou solubilizado no interior da matriz polimrica. Desta forma obtm-se um sistema monoltico, onde no possvel identificar um ncleo diferenciado. Nanocpsulas, ao contrrio, constituem os chamados sistemas do tipo reservatrios, onde possvel se identificar um ncleo diferenciado, que pode ser slido ou lquido. Neste caso, a substncia encontra-se envolvida por uma membrana, geralmente polimrica, isolando o ncleo do meio externo.

    Figura 15 Representao esquemtica de nanocpsulas e nanoesferas polimricas: a) frmaco dissolvido no ncleo oleoso das nanocpsulas; b) frmaco adsorvido parede polimrica das nanocpsulas; c) frmaco retido na matriz polimrica das nanoesferas; d) frmaco adsorvido ou disperso molecularmente na matriz polimrica das nanoesferas. Fonte: SCHAFFAZICK, 2003.

    A diferena morfolgica entre a forma farmacutica de nanoesfera e nanocpsula

    est ilustrada na Figura 16.

    Figura 16 (A) nanoesferas e (B) nanocpsula. Fonte: AZEVEDO, DURN, 2002.

  • 48

    As nanocpsulas so constitudas por um invlucro polimrico disposto ao redor de

    um ncleo oleoso, podendo o frmaco estar dissolvido neste ncleo e/ou adsorvido

    parede polimrica. Por outro lado, as nanoesferas, que no apresentam leo em

    sua composio, so formadas por uma matriz polimrica, onde o frmaco pode ficar

    retido ou adsorvido (SCHAFFAZICK et al, 2003).

    As nanopartculas podem ser preparadas por diversos mtodos, os quais podem ser

    classificados em polimerizao interfacial de monmeros dispersos e dispersos de

    polmeros pr-formados (SOPPIMATH et al, apud DOMINGUES, 2006).

    Quintanar-Guerrero e colaboradores (apud DOMINGUES, 2006) apontam

    desvantagens no mtodo de polimerizao interfacial de monmeros dispersos: o

    uso de polmeros no biodegradveis que geram subprodutos no totalmente

    biocompatveis, alm de resduos txicos provenientes dos monmeros, oligmeros,

    tensoativos residuais ou catalisadores presentes na reao. Podem ocorrer ainda

    reaes com o frmaco provocando degradao de outros componentes das

    nanopartculas.

    A disperso de polmeros pr-formados pode ser distribuda em quatro mtodos:

    emulsificao-evaporao, nanoprecipitao, salting-out e emulsificao-difuso.

    Essas tcnicas utilizam uma soluo orgnica na fase interna e uma fase aquosa

    externa a qual comum apresentar agentes estabilizadores da disperso das

    nanopartculas durante sua preparao. Alm disso, todos os 4 mtodos so

    preferencialmente empregados para frmacos de natureza lipoflica (QUINTANAR-

    GUERRERO et al; SOPPIMATH et al, apud DOMINGUES, 2006).

    4.4.2.1 Emulsificao - evaporao

    R; Rodrigues (2004) descreve o mtodo, assim sendo:

    [...] mtodo simples, de fcil transposio de escala e cuja realizao em condies asspticas garante a esterilidade final do produto. Em linhas gerais o polmero dissolvido em solvente voltil em gua, como CHCl3 ou CH2Cl2 . Se dispersa em gua por emulsificao com tensoativo apropriado. Aps a formao da nanoemulso, o solvente se difunde para a fase externa (extrao para a fase aquosa) at saturao da mesma. Com a evaporao das molculas do solvente que atingem a interfase fase aquosa-ar, reestabelece-se o gradiente de concentrao, ou seja, a fora motriz para a difuso do solvente orgnico das nanogotas para a fase

  • 49

    aquosa. Ao ser eliminado o solvente, o polmero precipita levando a formao das nanoesferas.

    4.4.2.2 Nanoprecipitao

    Quintanar-Guerrero et al, apud Domingues (2006) descreve a tcnica como tal:

    [...] consiste no emprego de um solvente semipolar miscvel em gua, com acetona e o etanol. Neste solvente o polmero, a substancia ativa e o estabilizador (tensoativo de baixo equilibro hidro-lipofilo-EHL) so dissolvidos para ser adicionados sob agitao, a uma fase aquosa contendo estabilizador hidroflico (tensoativos de EHL). As nanoparticulas so formadas instantaneamente pela rpida difuso do solvente que posteriormente eliminado da suspenso sobre presso reduzida.

    4.4.2.3 Salting-out

    R; Rodrigues (2004) cita o tcnica como sendo:

    [...] baseada na formao de uma emulso pela incorporao, sob agitao, de uma soluo aquosa saturada de alcool polivinlico (PVA) em uma soluo de polmero dissolvido em acetona. O PVA tem o papel de estabilizar a disperso. Aqui a miscibilidade das duas fases impossibilitada pela saturao da fase aquosa com PVA. A precipitao do polmero ocorre quando uma quantidade adicional de gua adicionada permitindo ento a difuso da acetona para a fase aquosa. Este mtodo adequado quando ativo e polmeros so solveis em solventes polares como acetona ou etanol.

    4.4.2.4 Emulsificao difuso

    Segundo Quintanar-Guerrero et al, apud Domingues (2006) tal mtodo consiste em:

    A tcnica de emulsificao - difuso faz uso de solventes parcialmente miscveis em gua, o qual devem ser previamente saturados em gua para garantir o equilbrio termodinmica entre ambos os lquidos. lcool benzlico e acetato de etila so solventes empregados nessa tcnica. Os constituintes da fase interna, polmero, substncia ativa, estabilizador so dissolvidos no solvente saturado em gua, esta fase emulsificada sob agitao rigorosa na fase externa constituda de gua saturada no solvente e estabilizador. Posteriormente, a adio de gua em excesso causa a difuso do solvente para a fase externa da emulso, resultando na formao das nanopartculas. O solvente pode ser eliminado a presso reduzida, por destilao ou filtrao tangencial.

  • 50

    As nanocpsulas formadas pelo mtodo de emulsificao de fuso tem tamanho

    superior as formadas por nanoprecpitao (LEROUX et al apud SCHAFFAZICK,

    1995).

    Schaffazick et al (2003) destacam como sendo uma das reas mais promissoras na

    utilizao das nanopartculas, a vetorizao de frmacos anticancergenos e de

    antibiticos, principalmente atravs de administrao parenteral, almejando uma

    distribuio mais seletiva dos mesmos e, assim, um aumento do ndice teraputico.

    Os polmeros mais utilizados clinicamente, principalmente em prteses ortopdicas e

    fios de sutura biodegradveis, so os sintticos como o PLA, o PLGA e a Poli (e-

    caprolactona). Os biopolmeros como a quitosana e albumina tm a vantagem de

    terem custo bem mais baixo que os sintticos, podendo ser mais econmicos

    (ROSSI-BERGMANN, 2008).

    Esses sistemas tem sido desenvolvidos visando inmeras aplicaes teraputicas,

    sendo planejados, principalmente, para administrao parenteral, oral ou oftlmica. A ltima aplicao visa o controle da liberao, o aumento da biodisponibilidade

    ocular e/ou a diminuio dos efeitos colaterais devido absoro sistmica de

    certos frmacos e tem sido fonte de grande interesse na rea de pesquisa

    farmacutica (SCHAFFAZICK et al, 2003).

    Quando utilizado em frmacos de administrao de via oral, Schaffazick et al (2003)

    apontam o uso dessas nanopartculas para que se obtenham certos objetivos, tais

    como:

    a) diminuio dos efeitos colaterais de certos frmacos, destacando-se os antiinflamatrios no-esterides (diclofenaco, indometacina), os quais causam freqentemente irritao mucosa gastrintestinal e b) proteo de frmacos degradveis no trato gastrintestinal, como peptdeos, proteinase/ou hormnios, aumentando a biodisponibilidade dos mesmos.

    Sistemas de liberao nanoestruturados polimricos agem como compartimentos

    transportadores de substncias ativas e apresentam vantagens, quando

    comparados aos sistemas microemulsivos e lipossomais, que justificam sua

    aplicao, dentre elas, a boa estabilidade fsica, qumica e biolgica, fcil preparo e

    boa reprodutividade, alm de serem aplicveis a uma ampla variedade de

    substncias visando melhorar suas propriedades qumicas (COCENZ, 2010;

    QUINTANAR-GUERRERO et al, apud CAMPOS, 2008).

  • 51

    4.4.2 CICLODEXTRINAS

    As primeiras ciclodextrinas (CDs) foram descobertas por A.Villiers, em 1891, a partir

    de produtos de degradao do amido. Mais tarde, entre os anos de 1903 e 1911,

    Franz Schardinger descreveu uma abordagem mais detalhada desses

    oligossacardeos cclicos, envolvendo sua preparao, isolamento e caracterizao,

    (DOUCHNE et al, apud GUEDES et al., 2008).

    A estrutura qumica das CDs, suas propriedades fsico-qumicas e suas habilidades

    em formar complexos de incluso, foram confirmadas no perodo entre 1935 a 1955,

    por Freudenberg, French, Cramer e colaboradores (UEKAMA, apud GUEDES et al.,

    2008).

    Freudenberg, em 1939, props o mecanismo de formao das CDs por ao da

    enzima ciclodextrina-glicosil-transferase (CGTase) sobre o amido (CLARKE, et al.,

    apud GUEDES et al., 2008). Porm, as pesquisas sobre CDs chamaram ateno a

    partir de 1950, particularmente, com os estudos de Cramer, que descobriu sua

    atividade cataltica em algumas reaes (NAKAMURA & HORIKOSHI, apud

    GUEDES et al., 2008).

    At o ano de 1970 sua aplicao industrial era invivel devido ao seu baixo grau de

    pureza e elevados custos de produo. Por esse motivo, apenas pequenas

    quantidades eram produzidas. Com o uso das tcnicas de clonagem dos genes da

    CGtase foi possvel aumentar sua produo em larga escala, reduzir custos e

    aumentar seu grau de pureza possibilitando, desta forma, a expanso de suas

    aplicaes a nveis farmacuticos ( LOFTSSON & MSSON, apud GUEDES et al.,

    2008).

    CDs so oligossacardeos cclicos formados por molculas de D-glicose unidas

    atravs de ligaes glicosdicas (14), obtidas a partir da degradao enzimtica

    do amido pela CGtase, enzima sintetizada por vrios microorganismos (Figura 17)

    (BRITTO; NASCIMENTO; SANTOS, 2004; SZEJTLI apud BOLDRINI, 2005).

  • 52

    Figura 17 Estrutura geral das ciclodextrinas (onde; n nmero de monmeros). Fonte: BRITTO; NASCIMENTO; SANTOS, 2004.

    As CDS naturais, facilmente obtidas pela ao direta de microorganismos, so

    conhecidas por CD, CD, CD (Figura 18), sendo a CD a mais utilizada. Apesar

    da reduzida solubilidade aquosa que limita a sua aplicao farmacutica, apresenta

    uma capacidade de complexao para elevado nmero de frmacos hidrofbicos,

    est disponvel em elevadas quantidades a baixo custo e o seu uso est aprovado

    como excipiente para frmacos (VEIRA et al, apud OLIVEIRA; SANTOS; COELHO,

    2009).

    Figura 18 Representao esquemtica de CD, CD, CD e suas dimenses. Fonte: Adapta de VENTURINI, 2008.

  • 53

    H Tambm as CDs chamadas derivadas, as quais possuem algum grupo

    substituinte ligado a alguma hidroxila na molcula (C6 ou C3). Podem ser do tipo

    hidroxialquiladas, inicas, ramificadas e polimricas, como por exemplo; HP--CD

    (hidroxipropil--CD), SBE- -CD (sulfobutilter- -CD), glic--CD (glicosil- -CD) e a

    CM--CD (carboximetil- -CD), respectivamente (BOLDRINI, 2005).

    Do ponto de vista estrutural, as CDs apresentam-se na forma de "cones truncados"

    com o lado mais largo formado pelas hidroxilas secundrias em C-2 e C-3 e a face

    mais estreita constituda pelas hidroxilas primrias ligadas em C-6 (Figura 19).

    Figura 19 Representao esquemtica da estrutura tridimensional das Ciclodextrinas, mostrando as caractersticas estruturais definidas pelo arranjo das unidades de glicose. Fonte: BRITTO; NASCIMENTO; SANTOS, 2004.

    A dimenso da cavidade determinada pelo nmero de unidades de glicose

    constituintes da CD. Os tomos de oxignio envolvidos nas ligaes glicosdicas (em

    C-1 e C-4) e os tomos de hidrognio ligados em C-3 e C-5 determinam o carter

    hidrofbico do interior da cavidade das CDs (Figura 20).

  • 54

    Figura 20: Dimenses de CD, CD, CD (onde; 1 = 0,01 nm). Fonte: Adaptada de VENTURINI et al, 2008.

    A presena das hidroxilas livres na parte externa das CDs confere a essas

    molculas um carter hidroflico (Britto et al, 2004). A tabela 3 resume as

    caractersticas fsico-qumicas das CDs naturais.

    Tabela 3: Propriedades fsico-qumicas das CDs naturais.

    CD N de

    unidades de glicose

    Peso molecular

    Dimetro interno da cavidade

    (nm)

    Volume da cavidade

    (nm3)

    Solubilidade aquosa a

    25 (% m/v)

    CD 6 972 0,47 0,53 17,4 14,5

    CD 7 1135 0,6 0,65 26,2 1,85

    CD 8 1297 7,5 8,3 427 23,2 Fonte: adaptado de: OLIVEIRA; SANTOS; COELHO, 2007

    Esse arranjo estrutural das molculas de glicose nas CD's possibilita a utilizao

    desses compostos como hospedeiros na formao de complexos de incluso. A

    presena de uma cavidade hidrofbica e de grupos hidroxilas livres na parte externa

    da molcula (Figura 21) permite a dissoluo em meio aquoso de compostos

    (hspedes) de baixa solubilidade (Britto et al, 2004).

    Figura 21 Estrutura molecular CD e sua representao pictria na forma de um cone oco. Fonte: EGDIO, 2005.

    A produo e/ou reproduo de CDs so influenciadas por diversos fatores.

    Dominguez et al, apud Balbino (2009), exemplifica os fatores responsveis por

  • 55

    complicar esse processo: cintica enzimtica extremamente complexa; rendimentos

    muito baixos; produtos de reao de difcil separao; inibio de enzima por

    oligossacardeos de baixa massa molecular e determinados ons e outras substncia

    orgnicas.

    Os mtodos de obteno das CDs so baseados na capacidade da CGtase de

    modificar o amido, catalisando a hidrlise das ligaes glicosdicas e a subseqente

    reao de transglicosilao intramolecular ou a ciclizao dos oligossacardeos

    (Figura 22) (VAN DER VEEN et al, apud CARNEIRO, 2006 ).

    Figura 22 - Representao esquemtica das reaes de transglicosilao catalisadas pela CGTase (ciclizao). Fonte:Adaptada de CARNEIRO, 2006.

    O amido, substrato da CGtase, um polmero relativamente simples composto de

    molculas de glicose de alto peso molecular, formado basicamente por amilose e

    amilopectina. A amilose uma molcula essencialmente linear, constituda de

    unidades de glicose (-D-glicopiranosil) unidas entre si por ligaes (14) (Figura

    23).

    Figura 23 - Frmula estrutural do amido: amilose. Fonte:Adaptada de CARNEIRO, 2006.

    A amilopectina formada de centenas de cadeias curtas de -1,4-glucanas, que so

    interligadas por aproximadamente 5% de ligaes (16), formando uma estrutura

    altamente ramificada (Figura 24) (JOBLING apud CARNEIRO,2006).

  • 56

    Figura 24 - Frmula estrutural do amido: amilopectina. Fonte: Adaptada de CARNEIRO, 2006.

    A degradao total do amido se d principalmente, pela ao combinada de

    enzimas amilolticas, as quais atuam na hidrlise das ligaes (14) e (16),

    especificamente (Figura 25).

    Figura 25 - A ao das enzimas envolvidas na degradao do amido. () Molcula de glicose com extremidade redutora; (o) Molcula de glicose sem a extremidade redutora. As setas indicam a preferncia pela quebra na molcula de amido. Fonte: CARNEIRO, 2006. A CGTase produzida por uma variedade de bactrias, sendo detectada

    predominantemente em Bacillus spp (ALVES-PRADO; SIAN; MARTINS; HATTI-

    KAUL apud CARNEIRO, 2006).

  • 57

    O emprego de CDs foi descrito principalmente para as indstrias farmacuticas e

    algumas aplicaes foram reportadas nas indstrias txteis, qumicas, de

    alimentos e de cosmticos (ANDREAUS et al, 2010).

    A utilizao de diferentes CDs em formulaes farmacuticas pode aumentar a

    solubilidade, a estabilidade e reduzir a toxicidade de frmacos ou aumentar a

    absoro de substncias bioativas como, por exemplo, da insulina, onde a CD

    diminui a capacidade da insulina de formar dmeros e hexmeros em meio aquoso

    (ANDREAUS et al, 2010).

    Vrios aspectos so considerados no momento da utilizao das CDs na indstria

    farmacutica: preo, pureza, restries toxicolgicas, capacidade de incluso de

    frmaco e solubilidade aquosa intrnseca (Tabela 4).

    Tabela 4 - Propriedades de interesse industrial das CDs mais utilizadas ao nvel farmacutico. Propriedades CD CD HPCD SBECD

    Preo ++ +++ + + Pureza +++ +++ + + Restries toxicolgicas

    +++ + +++ +++

    Capacidade de incluso de frmaco

    + +++ +++ +++

    Solubilidade aquosa intrnseca

    ++ + +++ +++

    +++ Excelente; ++ Boa; + Ruim. Fonte: Adaptada de CUNHA-FILHO; S-BARRETO, 2007. Dentre os aspectos, o mais importante no uso das CDs como excipiente na indstria

    farmacutica a sua capacidade de formar complexos de incluso com uma grande

    variedade de molculas hspedes (compostos orgnicos ou inorgnicos, de

    natureza neutra ou inica) em soluo (Figura 26) (SILVA, 2008). As CDs aptas a

    formar complexos de incluso possibilitam mascarar odores e sabores

    desagradveis de certos frmacos, reduzir ou eliminar irritaes oculares ou

    gastrointestinais e preveno de interaes e incompatibilidades (CUNHA-FILHO;

    S-BARRETO, 2007).

  • 58

    Figura 26 Formao de complexo frmaco CD. Fonte: SILVA, 2008.

    A incorporao das CDs em sistemas farmacuticos constitui uma realidade

    consolidada. Segundo estatstica recente, as associaes com CDs j foram

    estudadas com 515 princpios ativos, melhorando sua biodisponibilidade,

    estabilidade e segurana (SZEJTLI apud CUNHA-FILHO; S-BARRETO, 2007).

    Diversas preparaes de complexos de incluso com CDs foram patenteadas como,

    por exemplo, para o tratamento de doenas cardiovasculares com diocleina, floranol

    e anlogos, para aumentar a eficincia de antibiticos como cloro-hexidina, ou para

    reduzir a dosagem de semicarbazonas e tiossemicarbazonas no tratamento contra

    dores (ANDREAUS et al, 2010).

    Mais de 30 medicamentos comercializados no mercado mundial contam com a

    presena deste excipiente em suas frmulas (Davis & Brewster; Loftsson & Duchene

    apud CUNHA-FILHO; S-BARRETO, 2007). A Tabela 5 relaciona a maioria das

    apresentaes comerciais disponveis, suas aplicaes e procedncias.

  • 59

    Tabela 5 Medicamentos atualmente disponveis no mercado mundial contendoCDs.

    1 CD; 2 Aleatoriamente metilado-CD; 3 SulfobutilterCD; 4 hidroxipropil-CD; 5 CD; 6 hidroxipropil-CD. Fonte: CUNHA-FILHO; S-BARRETO, 2007.

    Na rea cosmtica existem produtos comercializados como, por exemplo, o

    Cycloazelon, um complexo de -CD com cido azelico, que garante maior ndice de

    eficcia e menor ndice de irritao e um efeito hidratante devido ao das CDs

    (ANDREAUS et al, 2010).

    As CDs vem sendo empregadas com sucesso na administrao e liberao de

    frmacos por vrias vias e/ou locais de administrao, como oral, vaginal, retal,

    nasal, oftlmica, pulmonar, drmica e transdrmica (SILVA, 2008).

  • 60

    Algumas das desvantagens das CDs esto relacionadas a sua toxicidade. Dentre as

    mais citadas na literatura est o fato da toxicidade das CDs esta diretamente

    vinculada absoro sistmica e consequentemente depen