060 - Cadernos de Teatro

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CADERNOS DE TEATRO N.60janeim:fevereiro-março-1974

Publicação d'O TABLADO patrocinada peloDepartamento de Assuntos Culturais (MEC)

Redação e Pesquisa d'O TABLADO

Diretor-responsável - JoÃo SÉRGIO MARINHO NUNES

Diretor-executivo - MARIA .cLARA MACHADO

Redator-chefe - VIRGÍNIA VALLI

Secretário - SÍLVIA Fucs

Redação: OTABLADOAv. Lineu de Paula Machado, 795 r: ZC 20Rio. de Janeiro - Guanabara - Brasil

Os textos publicadQs nos CADERNOS DE TEATROsó· poderão ser representados mediaute autorizaçãoda SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais),avo Almirante Barroso. 97. Guanabara.

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BENNO BESSON

'-Sua obra abrange cerca de duas dúzias de encena·

ções, algumas traduções e outros trabalhos e planos,realizados durante cerca de 20 anos. Comparada com otrabalho de outros diretores, ela pode não parecer muitogrande. Mas esta "pequena" obra bastou para consagrarBenno Besson como um dos primeiros diretores da Re­pública Democrática Alemã. Seus trab:illlos alcançamprojeção internacional esão muito populares. Oprimeiroloi A Paz, de Aristófanes/Hacks, que estreou em 14/outubro/1962 e foi aplaudida durante 45 minutos, com15 cortinas. Essa data representa um marco na carreirade BB - um obstinado aluno de Brecht e um bomdiretor, Apartir daí suas mises-en-scêne têm sido imita­das ecopiadas.

Benno Besson nasceu em 1922 em Yverdon, naSuíça de língua francesa. Em Lyon, para onde viajoucom um grupo teatral em 1942, ele aprendeu os pri­meiros elementos da arte teatral num instituto mais tardefechado pela policia devido àsua orientação anti-fascista.

Em Zurique, Besson encontrou Brecht pela primeiravez, pois essa cidade se tornara o refú~o de artistas emfuga àperseguição nazista, Aí foram representadas pelaprimeira vez Mãe Coragem, A Boa Alma e a Vida deGalileu (1941/43). Em Berlim trabalhou como assistentede direção depois da derrota de Hitler, fazendo tambémpequenos papéis. Em 1952 encenou em Rostock oDonJuan, de Moliere, num trabalho em colaboração comBrecht Em 1952 acompanhou a montagem de Processode Joana D'Arc no Bel'líllel' Ensemble, seguindo-se outrostrabalhos: Tambores eTrombetas e, depois da morte deBrecht: A Boa Alma de Setzuan, Volpone, Os Dias daComuna. tlm 1958 saiu do Ber/iner. Em 1962 aceitou ooferecimento de Wolfgang Langhoffs eentrou no Ensem­ble do Deutsclie Theatel' edo Kammerspiele. Apartir de1962 fez: APaz de Aristófanes/Hacks, Dois Senhores deVerona, Tartufo, ABela Helena eDer Draclie, de JewgeniSchwarz e 110 mesmo ano (1965) Moritz Tassow, dePeter Bach

Por suas pesquisas, estilo e originalidade artística,tem-se prccuedo deíinir o teatro de Besson como teatrode marionetes.

(Der Regisscur RCII/IO Bessol/ - André Muller - Hel/sehe!Vcr/ag KUllSt lllld Gcscll-Scllafl - Berlim 1967)

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CONVERSA COM BENNO BESSON *

Karl-Heinz Mueller: Contesta-se seguidamente o teatrocomo instituição. Acha que essas dúvidas são constru­tivas?

Benno Besson: Marx afirma que ofato de não terocupado o Banco da França foi um esquecimento daparte da Comuna de Paris. Isso não quer dizer que eleconsiderasse que oBanco da França eodinheiro neves­sem ser suprimidos de um só golpe. A impaciênciapequeno-burguesa não é necessariamente revolucionária.Fazer tabula I!lsa, destruir, só pode conduzir àmiséria.A burguesia, por exemplo, suprimiu apenas superficial­mcnte a civilização feudal. Oproletariado segue outroscritérios enão deveria concordar com a simples negaçãoda tradição. Osocialismo científico cria uma oportuni­dade ao exigir que a tradição seja mantida de mododialético a fim de transformar e enriquecer a vida pre­sente efutura. Aespontaneidade apenas não basta.

KHM: Osenhor enfatiza aatitude revolucionária em po­lítica ena arte?

BB: Ê dIfícil dizer quem, na arte, se comporta deuma maneira verdadeiramente "revolucionária". Orevo­lucionário é aquele que solucionou os problemas sociaisessenciais. Mas aquele que se comporta de uma maneirarevolucionária em política não é, necessariamente revo-lucionário na arte. '

KHM: Em que osenhor vê adiferença fundamental entreas atitudes verdadeira e aparentemente progressista noteatro atual?

BB: No sistema capitalista, abusca do lucro faz comque as pessoas de teatro sejam constantemente compradas.Assim qne alguém toca um ponto sensível, tenta animarou descobrir algnma coisa logo o compram como umproduto da moda e o revendem. Usou-se esse processo

com as peças e as opiniões de Brecht. O mesmo temacontecido com inúmeros elementos da cultnra popular:fizeram deles valores da moda que são comerciados. Amoda não existiu sempre. Ela éum produto do mercadodestinado a um rápido consumo. Não sou a favor dacriação de modas entre nós, no socialismo, nem pelaaceitação de correntes que se tornaram uma moda nocapitalismo.

KHM: Osenhor considera aforma atual do teatro comoum ponto de partida para o futuro?

BB: Considero que o teatro de repertório - naforma que existe ainda - não pode satisfazer as exi­gências do futuro. Oteatro de repertório está estigmati­zado pelas leis do mercado capitalista, tem acaracterísticade uma grande loja da cultura. Oferece de tudo: sandui­ches ebolos. É verdade que enquanto não encontrarmosuma outra forma de produção e de distribuição serápreferível conservar essa grande loja, sem o que nãohaveria mais ponto de partida. Mas se aceitamos esseteatro de repertório, temos que remodelá-lo em (unçãode novas finalidades. Ê preciso em todo caso explorara instituição do teatro na aplicação das nossas experiên­cias. Gostaríamos de fazer do Berliner VolksbiiJlne umcentro de cultura no próprio coração de Berlim. Oideal,para mim, seria um teatro em que se pudesse entrar edeonde se pudesse sair durante o dia todo e mesmo, sepossível, à noite, um teatro em que sempre se passariaalgo em diversos locais, em que todo seu interior estivesseà disposição do público. Foi por isso que iniciamos acolaboração com comunidades habitacionais e estabeleci·menos operários, ainda que isso represente apenas en­briões dessa forma de teatro.

KHM: Qual li sua opinião sobre a tradição técnica doteatro?

BB: Com Sabatlini, célebre construtor de máquinasede teatros do século XVII, vê-se aque ponto amáquina

teatral eaconstrução do teatro estão ligadas àconcepçãodo mundo. Acaixa cênica tinha que possibilitar a visãodo céu edo inferno, da terra, do mar, das ruas e praças,da natureza Gda civilização. Tinha que possibilitar tam­bém acriação de surpresas ede ilusões. Era isso que seexigia da representação que se tinha do mundo na Itáliado século XVII. Acena de Sabattini representa toda umaconcepção do mnndo com uma objetividade divertida.Fica-se surpreso com afantasia artesanal com que essepalco era equipado, a fim de permitir realizar e compora imagem do mundo em vigor na época.

Trata-se de conservar toda ariqneza das experiênciasteatrais e de fixar sua relação com a sociedade. Não éQuestão de se proclamar apobreza para oteatro. As ini­ciativas de caráter conventual tomadas pelos pequenosgrupos ajudam a manter adesenvolver certas qualidades,capacidades e aquisições das épocas passadas - estoulonge de subestimá-las - mas elas não resolvem os pro­blemas da existência do teatro.

Naquilo que se refere àconsciência do progresso, aspessoas de teatro se comportam muitas vezes como senão vissem o que há de essencial nas peças antigas.Brecht criticava severamente a maneira de ver a épocashakespeariana na interpretação de Laurence Olivier,expressa em seu filme sobre Hamlet. Olivier mostra aque ponto o jogo no teatro era vulgar e ingênuo, E,entretanto, éocontrário: oteatro shakespeariano era umteatro refinado, inteligente esensível. Devia-se dar repre­sentações de peças antigas que suscitassem tais reflexõesa propósito desse teatro não só entre atares como nopúblico.

Os atores do tempo de Shakespeare eram treinadosna comédia improvisada, asim como na interpretação,boa ou menos boa, do texto. Eram capazes de tomaruma atitude crítica e criadora em relação ao texto deShakespeare; tinham o domínio do métier cênico e uma .atitude definida quanto àrealidade. Os preconceitos pre­tensiosos são nefastos. Pode-se acabar com eles numasociedade em que os dirigentes, provenientes da classeoperária, declarem que évital que essa classe tenha cul­tura. Esta exigência refere-se, igualmente, aos atares.

KHM: Estamos sempre às voltas com adiscussão - polí­tica ou divertimento?

BB: Ê necessário fazer política por meio do teatro.Mas para isso são necessários talentos especiais. Quando

o divertimento, qualquer que seja ele, cessa, é que osprincípios adorados são falsos. Aconcepção dualista dohomem como cidadão e como "particular" de que falaMarx, manifesta-se igualmente na noção estreita do di­vertimento como divertimento "não político". Todo es­petáculo deve divertir, sinão nada aconteceu. Quebrar alinha de separação entre conhecimento e divertimento, érestabelecer a unidade do homem "político" e "parti­cular" na sociedade socialista. Se o divertimento consisteno fato de que, em seguida auma ação qualquer, alguémna platéia quebra o guarda-chuva na cabeça de outro,isto é um incidente divertido, mas não é exato pensarque vá provocar uma revolução. Ê preciso, portanto,refletir sobre o gênero de divertimento que se organizaesaber a quem ele se destina.

No socialismo, a necessidade de diversão difere es­sencialmente da que existe no capitalismo. Enquanto nãoforem resolvidos os problemas do desemprego eda fome,ohomem de teatro que não cuida disso em seu trabalhonão poderá organizar odivsrtinentc com o coração leveea consciência tranqiiila, Entretanto, pode-se, no teatro,não se preocupar com a fome porque se vive em casanum país que não a conhece? Em que medida se podeou se deve falar à classe operária da República Demo­crática Alemã, no teatro, da· fome que existe em outrospaíses? São problemas práticos da solidariedade interna­cional.

KHM: Quando osenhor diverte, com Ulll espetáculo, opúblico de Berlim, pode acontecer que não divirta odeum outro país ou de outra cidade, com o mesmo espe-fáculo? .

BB: Certamente. As peças que fazem alusão aosproblemas locais na R.D .A., como Lorbass, de HorstSalomon - oque aliás constitue oseu encanto - seriamvistas na França como se contempla um animal exóticonum zoológico.

KHM: O senhor procura satisfazer as espectativas doseu público concreto?

BB: Quanto tempo poderíamos nos manter finan­ceiramente se não divertíssemos aqneles que provêem anossa snbsistência? Aquele que quer divertir deve, antesde tudo, conhecer as necessidades daqueles a quem sedirige esse divertimento. Temos estabelecido bons conta- 3

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TEATRO INFANTIL EM DEBATEtos com nossos espectadores elevamos em conta as suasnecessidades.

KJiM: Por outro lado, éde fato necessário criar necessi­dades novas edesenvolvê-las de algum modo?

BB: Pelo espetáculo teatral, satisfazem-se as exigên­cias, criando novas. Quando alguma coisa agrada, pede­se para repetir o jogo. Então, pode-se repeti-lo, mas énecessário permitir ao mesmo tempo que se forme ogosto pela novidade. Ohomem de teatro deve ser res­ponsável pelas necessidades que ele satisfaz epelas novasnecessidades que ele cria. Acontece que existe gente noteatro fazendo apenas repetição, Pode-se vogar durantemuito tempo na onda da moda liberada pelo verdadeiroinovador teatral. Em teatro, sempre indagamos quão ra­pidamente ou quão lentamente alguma coisa morre ourenasce. Oteatro é um organismo vivo subordinado àsleis da decadência e do nascimento, de uma existênciaefêmera. É isto que faz oseu encanto.

(Le TMu/re Dalls Is MOllde/l972 - Le TIiét1/re ell Pa/agnespécial/dez. 72), '

(*) BellllO Bessoll começou sua atividade teatral na Suiçae na França. Depois de ler trabalhado durante muitos anos noBerlillcr ElIsemblc eno Dell/sclies Thea/cr de Berlim, éhá quatroanos o direlor artíslico do Ber/tller Volksbiilille.

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CARMOSINA ARAUJO responde

Qual oseu conceito de Teatro Infantil? (*)

Carmosina Araujo, Embora Antollin Artaud não sereferisse ao teatro convencional emuito menos ao gêneroinfantil, a sua frase "teatro é poesia em movimento noespaço" me parece perfeita para definir a fórmula idealde fazer espetáculos destinados à infância, desde que oübjetivo seja criar, por meio de suas características essen­ciais (tema, ritmo, gesto, luz ecor), um clima de sonhoe fantasia favorável ao desenvolvimento das faculdadesemocionais eestéticas da criança - eoque émais im­portante - capaz de causar-lhe uma impressão profundaeduradoura, refletindo-se, no futuro, em todas as mani­festações de sua personalidade.

Qual opapel da criança no teatro infantil? É um espec­tador, um participante ativo 011 um elemento aser f01~

mado?

CA - 1. É antes de tudo um espectador fascinadopela magia que transcende da ação dramática, do contatovivo, direto, com os atores em cena. Portanto, tendo odireito de ver essa espectativa correspondida ~ respeitada.Sua participação, no caso, seria apenas traduzida pelaobservação atenta ecuriosa (talvez por uma interferênciaespontânea expressando sua identificação com o espetá­culo), nunca o excitamento gratuito provocado com opropósito de forçá-la a "tomar parte" na representação,sem estar preparada para esse tipo de manipulação. Jean­Loup Temporal afirmou que "não se mede osucesso delima peça pela gritaria de uma sala cheia de crianças, maspela atenção silenciosa, pela admiração cJleia de alegda."Também é preciso não esquecer que se está formandocom o público-mirim a futura platéia dos espeláculospara adultos, e não será transformando a sala de teatronum auditório de TV, que se irá consegui-lo.

2, Aprendizagem e recreação sempre andam demãos dadas quando incursionam pelo mundo da criança,eoteatro, aluando no processo cultural de sua formação 5

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los. Para n65, () tíSliecto fundamental da questão ainda til nua épredso mUlta expertancia dramáttea, egressósseeial, não pode escapar à regra) porqnanto a literatura decorado, repetindo gestos emarcações pré-determinadas, '""r está na base da seleção do repertório pela qualidade do de cursos oficiais, em disponibilidade, continuam prati-dramática infantil não deve dissociar-se de certos princí- epor favorecer também amanifestações negativas de ca- texto a ser montado com atares c técnicos à altura do cando como profissionais, formando grupos para explorarpios educativos, desde que não insista nos argumentos ráter social como o estrelismo, as rivalidades e as com- teatro para adultos, a fim de evitar-se ocrime de írust~r o teatro infantil, enquanto aguardam oportunidade p~ra

pedagó~cos em detrimento da teatralidade do texto. Já petições, entre outras. a criança que busca satisfação no teatro. Talvez esteja ingressar definitivamente no que consideram averdadwaBrecht observava que a "criança aprende acomportar-se na repulsa interior pelo mau desempenho d~ ~ma. peça arte de representar, ou seja, no teatro para adultos.de forma inteiramente dramática", talvez achando que se Acha que qualquer método ou técnica pode ser válido que a criança assistiu) a inconsciente res\stenc!a doidentificassem no lar ena escola - através dos exercícios para qualquer camada 011 classe social? adulto em freqüentar o teatro. Além do alto preço dosdramáticos a da observância das regras dos bons cesta- Só sei de um gênero considerado em todas as épocas ingressos) naturalmente!mes - a maneira de ensinar a arte de representar nopalco e/ou na sociedade. e por quase todos os povos como forma universa! de

Como explica odesinteresse em relação ao teatJ:o in~an:iIentretenimento popular, atingindo igualmente todas as

Assim como existem métodos pedagógicos, acha queidades) nível de cultura ou condição social: o teatro de I por parte das escolas de teatro, bem como a (hsso~f([çao

existe uma técnica adaptável ao teatro infantil bmsileiro?bonecos, em qualquer de suas modalidades. Homens do

~-entre teatro infantil e teatro de bonecos?

povo, intelectuais e artistas - cada qual à sua maneira I CA - A dissociação está na própria opção p~laCA - De que maneira? Não conheço nenhuma --.fizeram com esses pequenos personagens as mais di-forma direta on indireta de comunicação com o público"técnica adaptável" ou não ao teatro infantil no Brasil ferentes experiências dramáticas. George Sand, Bernard ,,--,infantil, ena diferença - do ponto de vista de formaçãoou em qualquer outro país) a não ser as diferentes mo- Shaw) Craig, Manuel de Falia, Lorca, Claudel, Alfred

dalidades de teatro de bonecos. Maria Clara Machado Jarrj, Baty eoutros escreveram textos, compuseram mú- artístico-profissional - dos meios de que, a~lbos os

diz que a "técnica de escrever para crianças é a mesma sicas, pintaram cenários e montaram peças populares) grupos dispõem para realização .de seus obJettvos. Em

para adultos." Portanto) amontagem do espetácnl0 deve clássicas, modernas emusicais, oque prova suas imensas várias universidades da Europa existem cursos para teatro

ser idêntica para qualquer tipo de público. Há quem possibilidades artísticas easua flexibilidade para criar os de bonecos com duração de dois a três anos - o que

afirme) como Bilinsk, que "os temas que interessam aos mais variados espetáculos. prova a seriedade de prop?sito; comi ,que são e~c~rados

adultos interessam às crianças também" desde que ama- por lá - e no currículo, 111c1~I~las alem de matenas,. es-

neira de expô-los seja diferente eo tratamento adequado - Acha que () teatro infantil levado da zona sul para apecfficas, pesquisas de laborato;to, como .no teatfl~ \IVO.No Brasil, existem apenas cursmhos partIculares, I,rregu-para cada caso - é óbvio - à altnra do público (in- zona norte terá amesma influência junto àplatéia local? lares e de caráter intensivo, onde mal o tempo da parafantil ou adulto) aque se destinam. Há condições em nossa realidade para um teatro infantil aquisição de elementos de inf~rmação ~eral sobre. repr~-

dirigido adeterminadas faixas etárias?Que diferença vê entre o teatro feito com acriança eo serrtação emontagem de espetaculos, ~lem de certa babi-

teatro feito para criança? CA - É sabido que acriança reage adeterminados lidade na arte de estruturar e movImentar os atores-conflitos dramáticos conforme a idade. Para os peque- bonecos. São geralmente freqüentados ,ror pess~~s que

CA - Amoderna pedago~a dá grande importância ninas) texto movimentado, som, riso) alegria. "A inteli- exercem outras profissões ou qne se dedIcam ~ allVld:~esà atividade teatral na escola, principalmente com o obje- gência se abre com oriso." Na faixa intermediária, temas ...,- correlatas como no caso dos professores de J1lvelmedlo,tivo de ajudar no desenvolvimento da personalidade in- dosados de fantasia e realidade, correspondendo à ma- }I'v visando àsua aplicação como instrumento didátic~ defantil através da expressão do corpo e da fala, Mas o terialização de sentimentos poéticos dos espectadores- recreação infantil e mil possibilidades psico-pe~a.góglc~,teatro como cspetáculo, somente representado por artistas mirins. Os adolescentes naturalmente preferem o campo cuja prática pode desenvolver entre os alunos v!nas ap~t-

dramáticos, écapaz de convencer como veículo transns- das intrigas mais realistas) onde - identificando-se com dões de aprendizado simultâneo e/ou a correçao de dís-sor de conceitos éticos implícitos na linguagem teatral. O o atar-herói possam realizar seus ideais de auto-afirma- torções de comportamento entre os mesmos. Desse am-teatro feito por crianças não pode ultrapassar oambiente ção. Mas entre nós, que oteatro infantil ainda estrr enga- biente escolar tem saído amaior parte de nossos grupos, "escolar e ser encarado apenas como exercício recI eativo tinhando, nem sequer atingindo (com raríssimas exceções amadores de teatro de bonecos, com apresentaçoes espo-sob orientação educativa, sem nenhum compromisso com e por motivos que não nos cabe aqui analisar) nível rádicas que, embora alcançando pelo esforç~ ~uto-didataas regras próprias da arte de representar, tal como acon- artístico razoável, seria pretensão inteiramente descabida de seus responsáveis apreciável nível arttstlco, quasetece com os jogos dramáticos aplicados com oobjetivo submetê-lo a tal discriminação. Além de tudo, hoje 110 sempre têm vida efêmera.de estimular uma atitnde criadora e ampliar na criança mundo inteiro, essa separação está se tornando cada vez Os alunos das escolas dc teatro de nível superioras suas descobertas das coisas e do mundo. O teatro mais difícil com o palco encaixotado da TV montado terminam o curso ignorando por completo as possibi~-convencional só pode ter, na área pedagó~ca, resultados dentro de casa, eas crianças assistindo tanto aos progra- dades arusticas do teatro de bonecos. Ecomo neste pas (*) Estas respostas foram dadas ao questionário Iormu- 7contraproducentes, por submeter a espontaneidade nam- mas que lhes são destinados quanto aos que a "censura ~ parece ter-se convencionado que para fazer teatro inían- lado para Associação de Teatro Infantil (V. CT n. 58).ral da criança àobrigação de agir de acordo com otexto oficial" eadoméstica consideram próprios só para adul- io"

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cmco MOREIRA (compositor) responde

Que acila do teal;o infantil apresentado na GUGllllbara?

Chico Mc.reira - Ao assistir aqualquer espetáculoque se intitule teatro infantil, na Guanabara, deparamoscom um quadro curioso: desde a mais absurda escolhados argumentos ou temas até aprópria realização cênica)que peca do figurino à construção do personagem) damúsica àproposição de conteúdo do texto.

Os responsáveis por esses empreendimentos pareceque partem da premissa de que criança é imbecil) pornão ter desenvolvido ainda um senso crítico comparativo,capaz de esposar esta ou aquela situação, e atiram-lhe oque lhes vem à cabeça em enredos que, quando não sãode exacerbado moralismo, são de uma vileza revoltante.Em termos de peça moralista ou moralizante, feita, sim,para os pais de nossa atualidade, assustados com os ca­minhos escolhidos pela 'Juventude desenfreada", filha dapsicanálise, cito abadalada peça Faça Alguma Coisa PeloCoelho, Bicho, de Pedro Porfírio. Otrabalho, contandoCom uma produção àaltura de uma empresa (a CATA),teve aparato técnico de relativa qualidade, conseguiu des­pertar o interesse das crianças e lotou o Teatro JoãoCaetano em meados de 1973. Já quando me refiro a"picaretagem" infantil, me vem logo àmente oLute Ra­tinho. Isto apenas como dois exemplos do teatro infantilna Guanabara.

Como músico e compositor, que acha da música daspeças infantis e do clima que oferece ao espectadorinfantil? I

CM - Ao participar deste debate, coloco-me comoespectador, interessado em rebuscar o que há por trásdas roupas coloridas dos Dartanhãs, Fadas e Girafas donosso teatro infantil. Essa posição éum tanto incômodapois, atualmente, a maioria responsável pela realizaçãodessa forma dramática teme cair no chamado "raciona­ltsmo" que pode vir aromper a"espontaneidade da coisaque tratam". Buscam no "astral" a composição de seus"climas", para não estarem sujeitos auma possível repres­são às suas manifestações "artísticas". Ea ilogicidade, oesquecimento da experiência passada, que redunda nodeboche edescrença do desenvolvimento técnico - vema ser o meio utilizado para a apresentação dos espetá­culos. Ora, se isso representasse oobjetivo consciente deum grupo ou escola, que estivesse desenvolvendo um mé­todo ou sistema próprio, estaríamos diante de coisa útil.

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Mas parece que a"loucura" égratuita egeneralizada; ospróprios diretorcs - que, parece) nem lêem - os aula­res, atares, músicos ecompositores além de, na maioria,desconhecerem suas técnicas específicas, tentam passar ascoisas (seus métodos de trabalho em si) como "impro­visação", sem ao menos saberem o que vem a ser isso.Primeiro vejamos que significa essa palavra má~ca. Numexemplo muito claro, quando somos aliabetizados, come­çamos por aprender uma técnica de representar os sonsatravés de sinais gráficos, que são as vogais econsoantes.Depois, auxiliados pelos sinais de acentuação, podemosmemorizar os grupos vocálicas econsonantais, mais tardeas palavras. E já auxiliados pela pontuação, formamosfrases eperíodos. Note-se, porém, que, àmedida que nossão fornecidas codificações mais complexas, há uma ne­cessidade cada vez maior de melhor (qualitativo)perceber einduzir os enunciados eleis que regem alingua.Aessa percepção, corre paralelo um processo de acumu­lação (vocabulário, expressões idiomáticas) que vem fa­cilitar a perfeita f1nidez da linguagem, falada ou escrita.Daí se conclue que uma pessoa que está sendo alfabeti·zada possui muito mais dificuldade de combinar palavrasdo que uma já alfabetizada. Há uma defasagem apenasem termos de tempo nesse processo, pois opensamentorem completo mas não há técnica suficientemente desen­volrida para arepresentação imediata em termos de falaou escrita. Vencida, porém, esta etapa, pode apessoa sedar ao luxo de formar palavras, frases, períodos e atéestórias (quer tenham nexo ou não). Aisso chamaríamos- por mais estranho que pareça - de improvisação. Ofato é que apessoa, possuindo um grande domínio téc­nico de seu instrumento (no caso, a fala ou a escrita),dispensa o pensamento de ligação entre o impulso e aforma. Ao conversar, podemos pensar no que estanosdizendo, élógico, mas não precisamos pensar cada palavraem si; a coisa flui, como se diz. Mas isto só aconteceporque temos um completo domínio técnico sobre oins­trumento em questão.

Quanto ao improviso lia mlÍsica?

CM - Na música, também, vemos isso claramente.Os músicos que melhor improvisam são justamente os quemelhor dominam seus instrumentos. Aqualidade artísticado trabalho depende do talento individual do músico.Mas a técnica é indispensável. Kafka, também, jamaisteria sido oescritor que foi se não soubesse escrever ou

pelo menos falar. Mas voltemos ao que as p~ssoa.s pensamque éimproviso. Oque se vê claramente sao dIretores eprofessores tentando fazer "improvisações" sem qualquermétodo, exigindo dos alunos que "sintam" n,a. base do"quem tem talento sente", sem lhes dar um nnmao con­dutor técnico para isso. Oresultado é, geralmente, cas~a­

tivo efrustante para aqueles que por um ou outro motivonão conseguem "improvisar". As críticas aesse trabalhosão também observações puramente formais, que não vãoao fundo do problema. Ligada, também, a essa "impro­visação", há abalela da "liberação emocional" que, paraos desinibidos se confunde com inlprovisação. Só que,geralmente, as vítinlas desse método nunca sabem ex­plicar "porque pintou aquele clima na aula" enão con­seguem saber porque se fez isso ou aquilo durante oexercício. Entretanto, todo verdadeiro improviso, tecnica~

mente escorado, éfeito de maneira consciente.Voltando ao "clima" podemos encontrar no trabalho

de sonoplastia ou de composição de música para peçainfantil certas características inevitáveis: a primeira é ado "clássico" violãozinho tocando aum canto do palcopelo compositor "despretensioso", numa repetição dechavões melódicos eharmónicos (escudados na desculpade que "o que faço émuito simplezinho, bem para criançaentender", esquecendo-se que em arte a simplicidad~ éomais difícil de se aíingir), contendo na letra versmhosbem rimados eapoiados pela maldita flauta doce, sopradadesafinadamente pela linda menininha de cabelos com­pridos.

Nesse primeiro caso, afora todas as restrições qua­litativas que poderiam ser apontadas, o trabalho mu­sical não chega avaler por si mesmo, ou seja, se abordadofora da peça, pois se reveste geralmente de caracteresvcltaíos, não para criar um elemento coadjuvante abran­gendo ototal (cena epúblico), oque já não seria grandecoisa mas não comprometeria' a totqlidade, mas sim para"climatizar" os atares no palco. Sem acena, amúsica, pordebilidade estrutural e falta de proposição conteudística,nada vale. Equando este ou aquele compositor, de violãoou piano a tiracolo équestionado nestes termos, explica,após o clássico "faço o que sinto", que "o negócio é.assim mesmo, pois música, letra e texto representam UIll

todo indivisível e que, uma vez separados, não fazemsentido." Oque se vê, na realidade, é que nem juntosnem separados fazem sentido algum; aproveitável, pelomenos. 9

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.Como segunda opção, temos achamada "música declima", que nada mais é que efeitos retirados de discosde Pink Floyd e outros grupos do gênero, tentando, ­como num filme - dar clima para operfeito "entendi­mento sensorial" ou "emocional" (como apelidaram) dedeterminada situação da peça. Neste caso, o trabalhomusical - excelente, via de regra - vale por si mesmo,6ló~co, por ter sido feito para outros objetivos e reali­dades sócio-culturais tão diversos dos nossos. Não seriajusto negar que houve algumas tentativas inteligentesnessa forma de musicar uma peça. Mas, em decorrênciade sua própria estrutura, nunca passam de experiênciasno terreno formal, ou seja, não há maior aprofundamentoem termos de conteúdo ou mesmo críticos. É semprepassivo ou representativo. Quando muito, interpreta,nunca questiona.

Chegamos ao terceiro caso. Acomposição estrutu­rada erealizada em termos mais amplos, com produçãogarantindo os gastos de gravação eo concurso de com­positores emúsicos profissionais. Ainda aí oque se nota- salvo raríssimas exceções - é apreocupação na so­fisticação instrumental (o que, geralmente, leva a expe­riências de péssimo gosto, quer pela utilização de instru­mentação inadequada, quer pela repetição dos chavõescrquestrais "a la orquestra de Tevê"), esquecendo-se ocompositor de dar atenção às letras, às vezes de um ri­dículo atroz de fazer corar qualquer platéia esclarecida (amaioria dos compositores se esquiva da responsabilidadedas letras ruins, afirmando que lhes são impostas pelaprodução, quando na realidade lhes falta uma informaçãocultural mais ampla para poderem distinguir entre LorcaeJ. G. Araujo Jorge); e aprópria falta de ori~nalidade

nos estilos. E o que vemos são repetições. E só rarasvezes o vanguardismo gratuito atingiu esse minúsculomercado de trabalho (remember o 1.0 lugar do Festivalde Teatro Infantil da GB em 1972). Ecomo com suasroupagens eletrônicas em nada modificariam opanorama,I:ão fazem a mínima falta, além de ficar um tanto caraessa "vanguarda" tupiniquim.

Quer dizer que asua conc/l!são é pessimista qUi/nto àutilização da m!Ísica /10 teatro infantil?

CM - Bastante, pois o quadro geral traduz umacompleta desinformação dos compositores quanto ao que

I está acontecendo bem debaixo de seus narizes. Fazer uma

análise mais apurada, não só do texto, mas também dotrabalho do diretor verificando o tipo efaixa de públicoque se quer atingir ecom qne proposição - éraro entrenós. E qualquer tentativa desse gênero éencarada comopedantismo intelectual elogo afastada pelos que desejamver tudo simplezinho "e sem muita encucação". Essapreocupação, geralmente isolada, quase sempre força ocompositor a não participar do trabalho proposto, umavez que diretores. eproduto~es não se preocnpam com oque vão dizer ao público infantil. Aúnica preocupaçãoédivertir. Ecomo a diversão pura e simples, falsamentedescompromissada com a realidade - pois por ser ela"apenas diversão" representa um tipo de relação com arealidade - é perniciosa em termos educativos, 0 quevemos éaidiotização da platéia infantil sem que ninguémdisso se aperceba.

"'T­.,Ii,

I

ESTíMULO AO JOGO

Por mais poderosa que seja a tendência para o jogona criança, acontece às vezes que ela não sabe de qnebrincar. Oimpulso existe, mas falta-lhe um pensamentoque osistematize em atividade coordenada. É neste casoque se pode intervir utilmente, estimulando acriança abrincar, seja propondo-lhe 11m jogo em que ela não pen­sava, seja ensinando-lhe algum novo jogo ou brincandocom ela. Quando se trata de jogos coletivos, não só aestimulação ao jogo pelo adulto mas também a direçãodo jogo é, às vezes, indispensável.

Um dos nellmes recursos do estímulo ao jogo éobrinquedo. Ignoro se oprimeiro brinquedo que apareceuem nosso planeta foi confeccionado por criança ou pelababá; se obebê apanhou oseu brinquedo ou se ele lhefoi dado. Pouco importa. Que um brinquedo seja mode­lado pela criança ou que ela o receba já pronto, suafunção éamesma: estimular ojogo esustentá-lo, criandomotivos de atividade e momentos de fantasia. Um bomjogo deve, portanto, ser um ponto de partida; deve deixarmargem à iniciativa infantil e alimentar sua imaginação.Muitas vezes os brinquedos mais simples é que atingemesse objetivo. Brinquedos muito aperfeiçoados, bonecasque andam sozinhas e dizem "papai" não divertem maisque as outras e, muitas vezes, fora do momento de admi­ração que proporcionam quando vistas pela primeira vez,divertem muito menos. É que 11m jogo só vale pelas qua­lidades que o espírito lhe atribui; se ele já ten muitas,isto restringe as possibilidades de interpretação de quepoderia ser objeto e, dessa forma, seu valor lúdico di­minue.

Omal 6 que, muitas vezes, os presentes dados àscrianças são considerados delicadezas feitas aos pais ecomo se considera que a gentileza é maior quanto jnaiscara for, acaba-se dando à criança brinquedos caros ecomplicados e de menor valor lúdico. Entretanto, acriança não deve ter nas mãos apenas brinquedos muitorudimentares. Pois o brinquedo não tem apenas porfunção @Qlver-lhe a fantasia. Seu papel é também de!~iciá-la nosmisíérios da realidade. Depois da qualidade 11

Page 9: 060 - Cadernos de Teatro

(EI Niíío ell E/redlro, Edil. Universitária de Buenlll Aires1963).

",

dos brinquedo~) épreciso examinar a sua quantidade, Éprejudicial dar-se à criança um grande número de brin­quedos ou isso favorece a estimulação ao jogo? Nãotenho elementos para responder essa pergunta. Admite-se,geralmente, que um demasiado número de brinquedoscansa acriança eaencoraja amudar freqüentemente dejogo sem perseverar em nenhum. Creio que há vanlUgem,se a criança tem muitos brinquedos, em dá-los sucessivae temporariamente, como fazem alguns pais intuitiva­mente. Algumas crianças se cansam depressa dos brin­quedos e reclamam novos; outras, ao contrário, tirampartido dos seus com engenhosidade renovada, outraspreferem jogos em que não intervêm brinquedos verda-deiros. .

EDOUARD CLAPAREDE

PSJ'cllOlogie de /'EII/alll c( PMagogic Expérimclllalc - IDo.el, Dclaehollx &. Nestlié S.A. Suiça).

TEATRO NA ESCOLA

-'t-Quanlo mais livre elião pl'ellleditada for a alividade

de expressão dramática, melhor expressará a criança suapersonalidade de uma maneira improvisada eespontâneaerevelará suas próprias inclinações e inibições. Portanto, Io objetivo desta atividade dramática - sua função edu- Icativa - consistirá em fazer dessas crianças indivíduos jmais plenamente conscientes e mais harmônicamente de- I JOGOSsenvolvidos, enão em lransfornlar os alunos das escolas I

em outros tanios atores eaírizes Por isso, essa ativJdade Aproveitando anatural inclinação da criança para odeveria ser accessíveI a todas as crianças, e os esforços jogo eobrinquedo) as tarefas do teatro escolar poderãodo educador deveriam tender a transformar o simples ser facilitadas através de exercícios em forma de brinque-desejo dos jovens de fazer teatro em uma necessidade de dos, que desenvolvem a destreza, a agilidade, a atençãoeducação através do teatro. e disciplinam os gestos e movinlentação infantis, muitas

Educação através do teatro, ii que se chega educando vezes desperdiçados em correrias eatividades sem sentido,(I criança no teatro, isto é, de forma ativa e inventiva Através desses exercícios, que ajudam odesenvolvimentoque, partinlo de seus impulsos naturais tal como se rea- c a integração no grupo, a criança se acostuma a umalizam em seus próprios jogos) a levariam pouco apouco disciplina ao ser obrigada a a~r dentro de"determinadasàdranlatização de seus brinquedos eseguindo sempre seu regras - as regras do brinquedo.processo íntinlo de humanização, cada vez mais complexo, Os exercícios aplicados no escotismo poderão, coma levarão a interpretar uma cena, já não criada por ele, algumas modificações, ser aproveitados com essa finsli-mas na qual se sentir~ do mesmo modo, ela própria, dade.por meio do parimênio d~ e:p~tiências que são ofruto Oespaço para esse tipo de jogo deve ser, de preíe-de um pr0c,esso de formaçao iníimo que chega ao umbral rêada, ao ar livre, num parque, jardim ou praia onde ado verdadeiro teatro. criança poderá correr, movimentar-se com liberdade sem

Se a,P!cocupação constante do educador éoflores- preocupação de esbarrar em móveis eobjetos que podemcimento natural do desenvolvimento da criança como machucá-Ia ou distrair-llic a atenção do brinquedo. Numindivíduo, com seu caráter pessoal, ese tem, verdadeira- nmbiente ao ar livre a criança terá mais facilidade demente, o desejo de educar a criança e não somente concentrar-se e de usar a· imaginação para se expressarinstrui-la; para alcançar este fim, o educador deverá ter inventiva e espontaneamente. Além disso os jogos ao arem conta as tendências naturais da mesma e o ritmo livre proporcionam à criança a observação e o contatoparticular de cada uma. Deverá acreditar em sua perso- com anatureza.nalidade~ despertando cdesenvolvendo as tendência:i nela 1. As crianças se sentam em círculo, tendo àmãoadormeCidas. lápis epapel. Omonitor, que terá colhido 10 ou 15 folhas

MARIA SIGNORELLI de diversas ârl'ores, passa-as de mão em mão para quetodos as observem. Depois de examinadas as folhas, ascrianças têm que escrever onome das árvores aque per­tencem.

O vencedor será aquele que conseguir acertar omaior número de folha:;.

2, Algumas crianças se deitam de bruços Oll decostas. Outras observam as solas de seus sapatos e seafastam, ficando de costas. Um dos que estavam deiladosdá alguns passos na areia, deixando suas pegadas.

A tarefa das crianças será examinar as pisadas edescobrir qual aque deixou as pegadas impressas no chão 1j

Page 10: 060 - Cadernos de Teatro

ou na areia. Cada uma opinando isoladamente, ganhaaquela que acertar de quem são as pegadas.

3. Estando todas as crianças calçadas de "Sapatos,pede-se que os tirem. Faz-se um monte de sapatos, tendoocuidado de misturar bem os pares.

Pede-se, então, às crianças que procurem os seussapatos nesse monte eque os calcem novamente. Aquelaque conseguir se calçar mais depressa será avencedora.

Exercícios progressivos

1. Concentração de sentidos - ouvido, vista, t&to.Concentrar apenas num sentido - vista, olhando

um objeto imaginário que se desloca de um ponto paraoutro. Por exemplo: todos se colocam fonnando umcírculo, de pé e atiram uma bola (imaginária) como sefizessem um treino de bola com as mãos. Depois dealguns minutos, se todos se concentram na visão doobjeto, chega-se aacreditar que abola éreal.

Este primeiro exercício éfeito sem qualquer reaçãoemocional ou dramática, concentrando-se apenas no gestode atirar, receber, deixar cair abola, apanhar, etc.

Asegunda variação do mesmo exercício poderá serfeita com reações dos jogadores: impaciência, alegria, de­cepção, etc. Os elementos dramáticos de suspense, dimaxeanti-climax são acrescentados subconscientemente pelos[11 unos.

2. Exercícios individuais de concentração de senti­dos.

Cada aluno trabalha, ignorando o outro. Afinali­dade é concentrar a imaginação em um dos sentidos:visão, tato ou ouvido, acrescentando algum elementoemocional. Enquanto alguns podem ver algo desagradá­vel, outro grupo verá algo agradável.

Exemplo: concentrar-se durante algum tempo navisão de uma flor, a ponto de poder descrevêcla depois,apedido do professor; avisão de uma paisagem, porme­nores da mesma, luz, etc.

Outros grupos poderão se concentrar na audição de:canto de passarinho, sinos tocando, barulho de chuva,etc., enquanto outro grupo se concentra no tato: sentindo,por exemplo, aaspereza do tronco de uma árvore, opelode um animal, com as sensações correspondentes ao agra­dável ou desagradável do toque.

Aplicação

Pesquisa-se em textos de diversos autores acena quepode ser usada como exercício de concentração de sen­tidos: em Os Cegos (Cl' n.O24) de Ghelderode - otatoeoouvido; em Noé, de André Obey eEmbarque de Noé,li sensação da chuva caindo nas mãos; em Macbeth - asensação de cantata com osangue nas mãos; em Derra­deira Ceia (Cl' n.O 59) o sentido da audição aguçadopelo escuro, quando esperam achegada de Lampião.

Material

Além do espaço, que deve ser adequado às ativida­des de exercício do teatro escolar, o material que seráusado nesses brinquedos é importante. Para as criançasprincipalmente esses objetos coletados aqui e ali são demuita importância para sua motivação. É claro que nãose trata de roupas confeccionadas para montagem depeças de verdade, mas' sobras de panos, xales velhos,lençóis velhos, casacos usados, saias e túnicas, cbapéus,sapatos e tudo aquilo que se poderia jogar fora por serimprestável para o uso normal. Os acessórios tambémtêm muita importância: revólver de brinquedo, pedaçosde pau para fugir de espada, sacolas e bolsas usadas,guarda-chuva, pandeiros, pratos, atabaque, apitos, peda­ços de papelão para improvisar um escudo, cordas, cintos,lenços de cabtça - tudo terá sua utilidade no jogo, desdeque oexercício não exija a absoluta falta de objeto, porexemplo, para se treinar aperfeição do gesto, como tomarcafé sem a chícara para poder treinar a decomposiçãodos mínimos movimentos da mão.

Será conveniente ter um caixote ou caixa grande depapelão para aí guardar os acessórios e trapos que serãousados nas improvisações.

As máscaras também têm aplicação, podendo serimprovisadas de papelão, ou com caixas. As máscaras decarnaval poderão ser adaptadas e transformadas colando­S~ fios de barba, de ráfia, sisaI ou lã, cabelos de pano oude papel.

Cada aluno poderá improvisar o seguinte material:1 chapéu de Tabarin - que é apenas uma aba de

chapéu de feltro ou de palha, sem a copa, que seadapta conforme a maneira de colocá-lo na cabeçaem chapéu de bandido, chapéu de três bicos, balé,chapéu de Napoleão etc.

1 máscara inlprovisada. de cartolina ou 1 de camavaladaptada, à qual se acrescentam um nariz grande,bigodes, etc.

1 paletó velho ou camisa usada.1saia longa ou calças de brim.1pedaço de pano de 1m2para servir de lenço ou xale.

Cada aluno terá airna~nação eotrabalho de adap­tar esses elementos ao seu gosto ou conforme anecessi­dade do momento.

Os bichos epersonagens fantásticos também pode­rão ser construídos da mesma maneira.

Camelo: para se criar um camelo basta 2 meninos,um segurando a cintura do outro, cobertos por umatoalha ou pedaço de estopa, o da frente segurando umavara na ponta da qual está uma cabeça de camelo im­provisada com pano epapel.

Elefante: omesmo processo, com adiferença que omenino da frente poderá aproveitar aprópria cabeça, co­berta com um pano eolhos de cartão colado, com umatromba na extremidade para fazer a máscara do animal.A cabeça do elefante também poderá ser improvisadacom uma caixa de papelão (sapatos) J acrescentando-seas grandes orelhas eatromba (um canudo de cartolina).

Ema ou avestruz: será uma criança com otreoco ea cabeça envoltos num pedaço de pano segurando uma"ara ou canudo em cuja ponta se vê a cabeça da avefeita de cartolina pintada (bico e olhos); pode-se acres­centar um espanador para fazer o rabo; as pernas serãonuas,

Um leão, Oll dragão: poderá ser construído comalguma imaginação ealguns pedaços de pano ecartolina.

VIRGINTA VALLI

(*) Sobre confecção de máscaras, cons, os cr ns, 21, 24e 29.

TEATRO NA ESCOLA 1:

Page 11: 060 - Cadernos de Teatro

Preocupado com afomlação dos jovens eaeduca­ção infantil, Coelho Netto escreveu uma série de obras decunho cívico emoral. A América, A Terra Fluminense,Contos Pâtrios, Apólogos, Teatro Infantil, A Pátria Bra­sileira e Breviário Cívico. Preocupado com a faita detextos para as representações escolares, escreveu pequenascenas, monólogos epoesias para serem interpretados porcrianças pois se revoltava ao ver "crianças reproduzindoas chalaças regamboleiadas que tanto depravam os nossosteatros". Esses textos foram enfeL\:ados num volume ­Teatrinho, de onde tiramos omonólogo seguinte.

VENTOINHA

Monólogo de Coelho Netto

Personagem:Carlos, 12 anos. Maneiras pretensiosas.

Sala

Entra vagarosamente sobraçando um volume, embe­bido na leitura de uma revista ilustrada. Detém-seem meio da cena. Com um mamo, meneando aca-

beça em aceno negallvo.

CARLOS - Não! Não vão bem. Nesse andar dãocom os burros n'água. Falta-lhes uma cabeça, um Napo­leão. Esta guerra está apedir um gênio como Alexandre,César ou Napoleão. Assim não vai. É pena que eu sejaainda tão criança.Ah! se eu fosse homem e eles meconfiassem ocomando das tropas ... ! (Sem deixaI' are­vista mete amão no bolso e tira /Una touca de c/fançacom aqual esponja orosto. Sentindo-lhe aaspereza dasrendas) Que 6isto? Uma touca! Esta minha cabeça! Quehei de fazer? É de família. Meu tio Serapião era tão dis­traído que, querendo estudar medicina, para que tinhagrande vocação ededo, matriculou-se na Escola Poliíéc­nica e, quando se formou, em vez de exercer aengenharia,abriu um consultório receitando aos doentes fórmulas al­gébricas e resolvendo casos de cirurgia com uma dasquatro operações.

Lembro-me ainda de lhe haver ouvido afinnar que oque havia de melhor para acoqueluche era um cosimentode raiz quadrada. Se onão tivessem recolhido ao hospícioa medicina seria hoje um ramo das matemáticas supe­riores. Deram-no por doido, a ele, um sábio!

Que se há de fazer? É odestino de todos os grandeshomens, os eternos incompreendidos. (Com fingida mo­déstia) Eu, por exemplo. Quem há aí que me entenda?Ninguém!

Mamãe conta que, desde pequenino, de mama, fuisempre tão distraído que trocava anoite pelo dia, não adeixando pregar olho um segundo. Por isso fui desma­mado antes de completar oito meses. Comecei a sofrermuito cedo, mais cedo do que meu tio. (Com ênfase) Adistração éodesprendimento do espírito. Ohomem dis­traído eleva-se do mundo material, abandona aterra peloespaço, despreza as mesquinharias do plano inferior pelas

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grandezas do Ideal, como aave remonta em vôo altivo àsnuvens. (Pigarreia vaidoso) Algumas vezes, sucede-lhecair, como se deu com meu tio Serapião, mas se não caivai longe! (Outro tom) No colé~o os lentes, os bedéis,os colegas todos me tratam de "Ventoinha". Pensam queme incomodo? (Encolhe os ombros com indiferença)Pois sim! Inveja! Se me distraio em uma conta, na aná­lise de um trecho, na definição de uma regra é contarlogo com agargalhada. Os medíocres não compreendem)nem podem compreender os espíritos de eleição. Aritmé­tica, gramática, geografia, física, química ... que valemhaboseiras tais? Ogênio não se prende a regras. Osolprecisa de azeite ou de querosene para alumiar? Não!Alumia porque é sol. Assim o homem de gênio: sa~e

porque sabe. .t\ão me preocupo com gramáticas enúme­ros efalo, escrevo, conto, faço tudo que quero. Colaboroem vários jornais e se os meus artigos não saem éporfalta de espaço. Riem-se de mim quando não atino, depronto, com osujeito da oração. Ora um sujeito! Que éum sujeito? Não é que eu não saiba, é que me perco,distraio-me. Tenho tantos problemas na cabeça... Outrapatacoada éatal história dos pronomes. Francamente...Pois com tanta coisa séria que há na vida de um homemter cabeça para cuidar de pronomes, colocando-os à di­reita ou à esquerda do verbo, lá porque a gramáticaassim entende.

Os pronomes que se arrangem, eu éque não hei deandar atrás deles, a dizer-lhes: "Cavalheiro, o seu lugaré aqui. Mell caro senhor. .. ali", como quem distribuilugares à mesa. Eu faço com os pronomes o que papaifaz c,om os amigos que vêm aqui jantar: senta-se e diz­lhes: "Sem cerimônia, estão em sua casa". Eeles arran­Jam-se. Depois, distraído como sou. .. Se não fossem asminhas distraçães eu já estaria matriculado na Faculdadede Direito, porque o meu sonho é fazer um túnel queligue o Distrito Federal a Niterói. (Pausa. Sorrindo)Ora, aqui está. Vêem? Um bacharel a fazer túneis ... Éaalma do meu tio Serapião. Isto éque me preocupa. Seeu me pudesse dominar firmando a atenção no quefaço ... Ah! Mas qual! Omeu espírito é como um pas­sarinho que se não aquieta em um rano esó quer voardaqui para ali, ao sol.

Abro Ulll livro, ponho-me a estudar. .. De repenteas letras começam amover-se: crescem, põem-se a dan-.çar, a correr e a página transforma-se em uma tela decinema e, em vez de uma descrição geográfica, (10 uma

equação ou de um capítulo de história vejo uma fita eadormeço cansado. Porque essas fitas, quando são muitolongas, fatigam os olhos efazem dormir, não é verdade?No dia seguinte, na aula, é aquela certeza: nota má. Aculpa é minha? Não. De quem é? (Espalmando amãolia fronte) Disto! É do mundo de idéias que tenho aquidentro. Ofuturo dirá quem sou eoque valho.

(Olhando em volta) Que vim eu fazer aqui? (Pro­cuia lembrar-se) Ah! Procurar omeu atlas. Onde otereideixado? No colégio, com certeza. Também para unasterrinhas de nada Ulll volume daquele tamanho. (Põe-seaprocurar pelos móveis e, abrindo um deles, descobrelima caixa. Com grande alegria) Os meus soldados! Foimamãe que os escondeu aqui no dia em que levei notamá em geografia. (Penalizado) Pobres prisioneiros deguerra! (Outro tom) É isto! Depois dizem que sou vadio.Toda a minha inclinação é para a guerra. Estudo ba­talhas, fico horas ehoras à mesa combinando planos e,quando os vou executar, aparece José com a toalha,guardanapos, pratos, talheres, para por amesa. Se desçoao jardim para _cavar uma trincheira salta-me logo emcima Manuel: "Que não! Que tenha paciência, que nãolhe esburaque os canteiros, não lhe estrague as plantas."E estude-se! Só me querem de livros na mão. Os li­vros! ... Cada qual para oque nasceu. Entendem que heide ser médico! Cortam-me as asas equerem que eu vôe.Pois sim! Soltem-me! Deixem-me liberdade! Deixem-meir para onde me chama avocação, para onde me leva ogênio. (Enlevado) Ogênio!

De repente, prestando atenção.Vem gente! É mamãe, com certeza. (Ao público)

Não digam que eu estive aqui a tagalerar com os senho­res, senão ela não me leva amanhã ao cinema. (Arrega­lamlo os olhos) E vai uma fita!. .. (Senta-se, abre olivro qlle traz (Iebaixo do' braço epõe-se adeclamar comênfase

Dai-me uma fúria grande esonorosa,Enão de agreste avena ou frauta rudaMas de tuba canora ebelicosaQue opeito acende, cacor ao gesto muda.

(Tea/ril/lia - Coelho Nctto - Elos-Ed. Livf03 Organi- 1',zação Simões-Rio).

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SUGESTÕES DE CARLOS W. SI1VEmA

PARA OS FIGURINOS DE CAIXEIRO DA TAVERNA

19

ri\ .J .\\ \I I.

~13ÁRDAItA 1-1 ELIODORA

"O mistério de Martins Pena reside na segurançacom que, do teatro estrangeiro, selecionou oque lhe serialÍtilna criação de um teatro brasileiro, ecom que se livroude tudo oque poderia impedir essa límpida brasilidade.Em forma, estilo etemática, oautor retratou oBrasil desua época, querendo-o ver livre de pressões einfluênciasestrangeiras, tanto em sua vida político-econômica quau­to em sua vida cultural; e podemos afirmar tais idéias~em querer transformá-lo em nacionalista de momento,pois não era esse oespírito com que escrevia, mas antescom uma autêntica temul'([ pelas coisas e as gentes dopaís, /10 que elas têm de diferenciadas das coisas e dasgeules de outros países. Ecom isso surge, inopinadamen­IE, emmeado.l' do século 19, um autor de uma autentici­dade brasileira que só agora principia ater paralelos emuossa drama/urgia, eassim mesmo muito raror."

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oQUE VAMOS REPRESENTAR Cena 1 (Dá vm IIU1ÇO de papéis.) Sc algum"ir dos devedores não quiser pagar,I! Ao levantar do pano, Manuel dize-lhe que mandarei por no Jornal

estará sentado à escrivaninha, do Comércio. Anda, vai. (O menino

verificando colllas. sai) É o que se vê - tudo andapingando. (LeI'mltando-~e) É boa!

OCAIXEIRO DA TAVERNA MANUEL, continuando asomar -Quem come, pague! E quem .nãopode pagar, não coiua. .. ÓSr. An-

E4são 10, e 9, 19, e7, 26, soma tônio? Sr. Antônio?tudo. .. duzentos e sessenta e oito ANTÔNIO, (dentro) - Senhormil tresentos evinte réis ... que deveosenhor Laurinda da Costa àViúva MANuEL -Chegue cá.

COMÉDIA EM 1 ATO DE MARTINS PENA Pereira, por gêneros comprados emJI"'i' sua taverna durante cinco meses. Este

ébom pagador, dinheiro seguro. (Pe- Cena 3

.......... gmldo em outra conta) OMajor JoséFélix deve àViúva Pereira, etc., cento MANuEL aAntônio, qlle entra doe vinte e nove mil e oitocentos mesllio modo que José - Chegou a

PERSONAGENS: réis. .. Contem com este. .. dinhei- pipa de aguardente, que se foi bus-

MANÚEL, primeiro caixeiroro perdido". É isto, querem todos car ao Trapiche da Ordem?comer aboa manteiga, oqueijo Ires- ANTÔNIO - Já, sim senhor.

ANGÉLICA, dona da casa cal, ogordo paio ... Ésó mandar um MANUEL - Pois recolha-a, elogoDEOLINDA, costureira bilhetinho: Sr. Manuel, mande-meFRANCISCO, oficial de latoeiro isto; Sr. Manuel, mande-me aquilo;

à noite tempere-a com quatro barris

QUINTINO, sargento de fuzileiros de água.

Luís Carlos Martins Pena, nasceu no Rio de Janeiro ANTÔNIO, caixeiromas quando chega a ocasião de pa- ANTÔNIO - Sim senhor.

JosÉ, caixeiro, personagm muda.gar as contas é que são elas. Este

MANuEL - Os direitos estão cadaem 1815 e faleceu em Lisboa em 1848. Considerado o não paga, aquele desculpa-se, outro"criador da comédia brasileira", éconhecido como 'o Mo- descompõe, quer dar no pebie co- vez mais subidos, ecomo não pode-

liêre 4rasileiro' bradar... É um inferno! Ora, deste mos encurtar as medidas, aumente-

A cena se passa na cidade do Rio pobre major tenho pena. Mal lhe mos o líquido... Em que estado

"A maior parte das peças de MP são antes de Janeiro, 110 ano de 1845 chega osoldo para pagar casa eedu- estão aquelas pipas de vinho de

farsas que comédias. Independentemente dessa deno- car quatro filhos que tem; mas, bem Lisboa?

minação, qlle ele próprio lhes deu, asua feição e O teatro, na antecena, representa........ pensado, avenda de minha ama' não ANTÔNIO - Ambas pelo meio..,.l""

estilo é de farsa. Ele exagera o feitio cômico das uma sala com portas laterais e duas é montepio militar-.A nação que MANuEL - Pois acabe de as en-situações e personagens, acumula o burlesco sobre no fundo, pelas quais se vê ointerior pague! (Chamando) ÓJosé? José? cher com água fresca e bote-lheoridículo, manifestamente no intuito de melhor di- de lima tavema com seu balcão onde dentro dois engaços de bananas evertir, provocando-lhe o riso abundante edescome- estará Ulll caixeiro e mais arranjos uma porção de pau-campeche paradido, o seu público. É tradição que o conseguiu necessários - tudo distribuído de Cena 2 lhe dar a cor e tom; e quando oplenamente. Ainda hoje se representam as comédias modo tal que fiquem bem àvista do vender, diga aos fregueses que évi-de Pena com omesmo sucesso de franca hilaridade espectador as pessoas de diferentes Entra um menino de dez anos, nho superior da Companhia do Alto-que lhe fizeram nossos pais. A mais de meio século condições que entram na tm'er/1O du- de calça e mangas de camisa, Douro.de existência, lidas ou ouvidas, deixam-nos aimpres- rante arepresentação. De llIn lado e calçado de tamancos e muito ANTÔNIO - Sim senhor.são de representarem suficientemente /10 essencial e outro da sala, haverá algumas pipas, sujo. MANUEL - Enão se esqueça decaracterístico ameio brasileiro que lhe serviu de como écostume nas tavemas. No pri- pendurar àporta este letreiro. (Tiramodelo e tema. Esó talvez delas, em IIOSSO teatro, meiro plano, àesquerda, uma escriva-

!O se poderá dizer amesma coisa." (JosÉ VERÍSSIMO) ninha apropriada ao lugar etc.MANUEL - Toma estas contas, de sobre a carteira um rótulo com

,:I., vai cobrá-las. Os nomes aí estão, letras grandes, que digam: ÚNICO 21

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Cena 4

DEPóSITO DA COMPANHIA DO .ALTO-DOURO), Opúblico deixa- ,se levar por estas imposturas, Pode!ir. (Antônio sai com o rótulo). I

I

Cena 5

FRANCISCO - Tenente,general? burro, Compreendes agora a minhaMANUEL - Não, posição?FRANCISCO - Conde? Marq~ês? FRANCISCO - Ainda não muito

Ministro? bem.MANUEL - Não. MANUEL - Por amor - malditoFRANCISCO - Manuel, Manuel, amor! - casei-me em segredo com

que queres tu ser? Deolinda; nem o seu próprio irmão,MANUEL, com mistério - Sócio o Sargento Quintino, osabe, Pensa

de minha ama! agora o que será de mim,se minhaFRANCISCO, rindo-se _ Ah, ah! E ama desconfiar que a desprezei por

. causa de outra mulher... Raivosa,só isso? expulsar-me-á desta casa e minhas

MANuEL - Só, dizes tu? E que esperanças serão malogradas, É pre-felicidade pode haver no, mundo ciso enganá-la até o dia em que as-maior para mim? Ah, não sabes que sinarmos a escritura de sociedade.satisfação será a minha, quando es- ANGÉLICA, dentro _ Manuel?crever em uma conta: Fulano deve aManuel Pacheco e Viúva Pereira a MANUEL - Ela que me chama!quantia de tanto, por gêneros com- Vai-te embora!prados em sua venda. Sua, amigo, FRANCISCO - Adeus, e estimesua! Ela será também minha! que sejas bem sucedido.

FRANCISCO - Enfim, cada um tem MANUEL - Nem palavra ...lá ambição a seu modo. FRANCISCO - Fica descansado

MANUEL - E ainda sou caixeiro! (Sai)Caixeiro! Sabes tu o que é um cai-xeiro? Éum traste que paga impostoàCâmara Municipal, como qualquercarruagem ou burro.

FRANCISCO - Mas não vejo porque MANUEL e depois ANGÉLICAnão queres que eu case com tua ama, MANUEL _ Ela aí vem. Estou frio!

MANUEL - Não vês? Ai, que bocado amargoso! Ei-laFRANCISCO - Logo que estiver ca- ANGÉLICA, entrando - Manuel?

sado, prometo dar-te sociedade, MANUEL - Senhora minha ama?MANUEL -Sabes tu se ela te ama?· ANGÉLICA - Ah, já estava in-FRANCISCO - Julgo que não lhe quieta ...

sou indiferente. MANUEL - Oh, isso ébondade deMANUEL - Pois digo-te que ela i minha ama, Trabalhava.

não te ama, porque ama-me. I ANGÉLICA - Não quero que tra-FRANCISCO _ Ati? I balhes .tanto,. que podes adoecer.l1 Ed . d . Far-me-ias muita falta,11 ANUEL - euma manara e- ,. . r

sesperada e danada, Amigo, Deus te MANUEL - NlOguem faz falta.guarde de amor de mulher velha; é I ANGÉLICA - As pessoas como tupior do ·que carrapato em orelha de . fazem sempre falta. 23

MANUEL - Porque? Não te possodizer.

FRANCISCO - Percebo .. , Queres­te casar com ela. Pois bem, mostra­rei que sou teu amigo. Casa-te; tensmais direito dQ que eu. .. já estásem casa.

MANUEL, abraçando-o - Obriga­do, amigo.

FRANCISCO - Pois bem, casar-me­ei com anossa vizinha Deolinda.

MANUEL - Chico, tu não te ca­sarás com aDeolinda!

FRANCISCO - Hem?MANUEL - Digo-te que não casa­

rás com ela.FRANCISCO - Essa agora é me­

lhor, Eporque não me casarei?MANUEL - A Deolinda já está

casada.FRANCISCO - Casada? E com

quem?MANUEL, em voz baixa - Comigo.FRANCISCO - Contigo? Mas que

diabo de trapalhada éessa? ÉS casa­do equeres casar?

MANUEL - Chico, olha atenta­mente para mim.

FRANCISCO - Estou olhando.MANUEL - Vês em min um ho­

mem profundamente ambicioso.FRANCISCO - Tu?MANUEL - SÍlll, eu! E de uma

ambição tão frenética, que me levaráà sepultura se a não vejo realiza­da. ,. De uma ambição ambiciosa!

FRANCISCO - Tu me assustas!Acaso queres ser major da GuardaNacional?

MANUEL, com desprezo - Não.FRANCISCO - Chefe de le~ão?

MANUEL - Não.

que tivesse um ofício ganhava avida ' uma seringa de entrudo que esguichee ainda ajuntava dinheiro, Agora o água mais longe.caso éoutro, MANUEL - Ora, Chico! (Sorrin-

MANUEL - Deixa-te disso. do-lhe)FRANCISCO - Ora, dize-me, oque FRANCISCO - Olha, Manuel, não

pode fazer um pobre latoeiro do país, sei oque te diga; às vezes custa maisquando a rua do Ouvidor está cheia fazer-se uma seringa de esguicho dode latoeiros e lampistas franceses? que certas leis,

MANUEL e depois FRANCISCO j Meu caro, se não fossem as seringas MANUEL - Estás hoje pregador.

MAN I que fazemos para os moleques brio- I FRANCISCO - Estou zangado', tuUEL - Estou fatigado! Muito I

custa dirigir-se uma venda bem afre- carem oentrudo, não sei oque seria és feliz,de nós,

guesada como esta. Mas, ah, se eu MANUEL - Feliz?dela fosse dono, outro galo canta- MANUEL - Se vocês trabalhassem F ' .tão bem como eles .. , RANCISCO - Ha OIto meses queria. ,. Há seis anos que cheguei do teu amo morreu e a viúva não po-Porto eainda sou caixeiro. Éverdade FRANCISCO - Éum engano, éuma deria continuar com ataverna abertaque sou prÍllleiro caixeiro da taverna mania, e todos vão com ela; é obra sem oteu auxílio, Eras oúnico comoda viúva de meu amo, mas oque é estrangeira, e basta! Não se vê por primeiro caixeiro, que sabia das tran-isto para minl? Para mim, que sou II esta cidade senão alfaiates franceses, sações do defunto,ambicioso? Sim, uma ambição roe- dentistas americanos, maquinistas in- MANUEL, à parte e concentradodora me estraga a alma. Dorme e I gleses, médicos alemães, relojoeiros - E ainda sou caixeiro,acorda comigo, não me deixa um só. suiços, cabeleireiros franceses, estran-, t t t "'1 dli I geiros de todas as seis partes do FRANCISCO - Manuel, um negó-ms an e ranqut o; traz-me em el-I ' . t É iso.d, f d' mundo, E resistam os artistas do CIO aqui me raz. smeu anugo, evono, con un e-me as ideias, Ah, quan- . , ,

h did país, se são capazes, aessa torrente! comunicar-to, ate porque es nele in-tas vezes ten o eu ven 1 o aguar- íeressdo.dente do Reino, lingüiças por paios e Porém, meu pai éque éoculpado decebolas por alhos! Ambição, horrível estar eu hoje como estou, MANUEL - Interessado? Ecomo?martírio, quando te verei eu satisfeitâ? MANUEL - Como assÍlll? FRANCISCO - Estou resolvido a(Entra Francisco) FRANCISCO - Em lugar de ensi- casar-me,

FRANCISCO - Adeus, Manuel. nar-me o seu ofício, como ensinou- MANUEL - Queres-me dar mte-MANUEL _ Como estás, Chico? me, podia ter-me mandado para S. resse no teu casamento?FRANCISCO _ Vamos remando Paulo estudar leis. Bem podia estar FRANCISCO - Não. Amulher es-

contra a maré, deputado, colhida por mim étua ama,MANUEL - Ah, sh, ah! Deste MANUEL - Minha ama?

MANUEL - Chico, tu és bem feliz! modo podemos ser tudo. . . FRANCISCO - Ela mesma, etenhoFRANCISCO - Eu? Estás enganado, FRANCISCO M I t ' filh- anue, u es o razões para supor que lhe não sou

no mundo não se pode ser feliz sem de P rtug I - t' b f to a enaoes as em ao ao indiferente.dinheiro, eeu não otenho. da nossa Constituição. Ela diz: A lei M d II b

MANUEL _ Trabalha eterás. "I d I t d' ANUEL, pegan 0- le no raço-e 19ua para to os. so quer zer eh" . ?FRANCISCO _ Trabalha! Sou, eo- que todos podem ser tudo, I ICO, es meu amIgo.

mo bem sabes, oficial de latoeiro, e ! MANUEL - Ah, entendes assim'!' FRAt

NCISCO - Duvidas? Experi-., , t h dit F N t I to é I men a.Ja por mUltas vezes e ten o I o o RANCISCO - o aen o e que ,que presentemente ganha um oficial está adiferença. Ohomem de talento MANUEL - Desste desse casa-de latoeiro. Olha, Manuel, minha avó pode ser tudo quanto quiser, e tu I mento.dizia que no tempo dos vice-reis e i bem sabes que eu tenho talento." 1 FRANCISCO - Que eu desista? E

2 mesmo no tempo de el-rei, qualquer; Ainda ninguém pôde fazer, como eu, por que?

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"MM'miL; àparte '-'- Temo·la! ANGÉLICA -Nem-deves do nes- QUJNTIND .: Dous dedos dê ccn- "'\9i ontem ver se estavam prontas; se MANUEL, àparte - Quer fazer a Cena 7ANGÉLICA - Não se encontram mo modo freqüentar os bailes mas- versa ali com o Sr. .. quiser, vá perguntar-lhe. irmã viúva ...muitos caixeiros como tu, carados,

MANUEL - Comigo? QUINTIND - Se foi só por isso, o ANGÉLICA, para QUÍntino - Iran- MANUEL eANGÉLICAMANUEL - Oh, minha ama, dá MANUEL - Bailes? Não sei dsn-QUINTINO - Sim senhor. caso é outro ... qüilize-se, embainhe essa espada. M&'IUEL - Ora, aí está como selicença que vá ver aquilo lá pelo çar.

MANuEL - Epor que mais havia QUINTINO, para Manuel - Já eu bota um homem a perder. Vem o"balcão como vai. ANGÉLICA - Manuel, nos bailes MANuEL - Pois vamos cá parade ser? Importo-me cá com sua irmã? te rezava por alma. Respeito as se· diabo de um Ferrabrás destes pro-ANGÉLICA - Espera! Tens sempre mascarados não se dança, joga-se! fora.Oque tenho eu com sua irmã? Faço nhoras, éoque te salva. vocá-Io.tanta pressa quando falo contigo ..• Dever·se·iam antes chamar jogos ANGÉLICA -- Espera, Manuel, on- lá caso dela? (À parte) E não me MANUEL, àparte - Belo cmha- ANGÉLICA - É um desafóro!MANUEL - Acudir às minhas mascarados, ou outro nome que eu de vais? quer deitar aperder?não quero d,izer. Aí éque aperdição do! MANUEL - Se não fosse ores-obrigações.

é certa... E o jogo tem levado QUINTlNO - Podemos falar aqui ANGÉLICA - Manuel! ANGÉLICA - Osenhor sargento peito que tenho aesta casa, tinha-lheANGÉLICA - Já te disse que nãomuita gente boa à forca; vê lá se mesmo.

MANUEL - Deise-me, pode ficar descansado; osr. Manuel, atirado com aquela pipa àcabeça.quero que te mates. Não acharei ou-queres também.. , MANUEL, àparte - Eu tremo ... ~Ii: meu primeiro caixeiro, não é capaz ANGÉLICA - Soldado de tarimba!tra pessoa com as tuas qualidades.

MANUEL - Morrer enforcado? QUlNTlNO, pondo a barretina à QUINTINO - Está bom, homem.de desinquietar sua irmã. MANUEL - Case lá a irmã comMANUEL - Oh, minha ema, não Nada! cabeça, de lado - Dizem nestequar· ANGÉLICA - Manuel!

MANUEL - Que dúvida! quem quiser.mereço, ......ANGÉLICA - Mas tu te surpree~~--ANGÉLICA - Mereces tudo, Aer- ANGÉLICA - Tu morreres? Ah! " teirão que o senhor namora minha MANUEL - Estou zangado! Assim

ANGÉLICA - Tem outras coisas(Chegando-se para ele) Oque seria irmã. se desacredita ao homem de bem, deste, quando ele disse que aia casarperiência do mundo tem-me feito coode mim, quero dizer, da minha ven· MANUEL - Não há tal. em que cuidar. com oalferes.nhecer os homens.da, Manuel? Não fales em morrer. QUINTINO - Em uma palavra, MANUEL - Sim; tenho outras MANUEL - Foi surpresa de cem-MANUEL} àparte - Que tal a ex· (Pegando-lhe na mão) Eu te segui· ANGÉLICA - Como élá isso? lião anamora? muitas cousas. (Assim dizendo, pega paixão. Quem pode ver de sangueperiência? ria ... MANUEL, àparte - Estou arran-

MANUEL - Vá-se com todos os na mão de Angélica ebeija). frio eníregar-se uma pobre meninaANGÉLICA - Ê todo omeu cuida- MANUEL, àparte - Oh, homem,jado ...

diabos você, seu irmão e toda asua ANGÉLICA, pondo amão sobre o daquelas a um extravagante como édo zelar a tua saúde. até depois de morto! QUINTINO - Foi aprimeira notí· parentalha. coração - Ah! oalferes?MANUEL - Tanta bondade! ANGÉLiCA, caindo em si, ii parte -cia que hoje tive, assim que cheguei

QUINTL.'lO - Mais respeito! QUlNTINO - Muito estimo, por- ANGÉLICA - É extravagante'!da Praia Vermelha. Osapateiro daANGÉLiCA, suspirando e olhando Ia traindo-me! (Alto) Digo-te isto, esquina dsse-me... MANUEL - Pois não me esquente que tenho cá certas vistas aseu res- MANUEL - Xi, como não fazpara ele - Ai, ai! porque se me faltares, omeu negócioANGÉLiCA, enfurecida - Como é a cabeça! Ora, não tenho eu mais peito .. ; Quero casá-la... idéia! Já foi coronel, epor causa deMANUEl, - Minha ama, sente vai por água abaixo. que fazer! Deixar de cuidar nos inte- MANUEL} àparte - Casar minha sua má cabeça tem descido d~ posoalguma dor? isto, Manuel? "

resses de minha boa ama, para na- mulher! tos; breve estará soldado raso, MasANGÉLiCA - Não. MANUEL - Osenhor está enga· morar sua irmã. Era o que me falo QUINTINO, continuando...,... . ,.com deixá·lo ...MANUEL, àparte - Ocaso está Cena 6 nada (Para Angélica) Não sabe o tava... "Diga ao sapateiro que vá oalferes de minha compan~ia. ANGÉLiCA - Assim o querem,que diz, está bêbado. - conversar com os defuntos. Irra! MANUEL - Casá-la com oalferes? assim otenham, Tratemos de nós.mau.

QUlNTINO - O sapateiro da es-MANUEL, ANGÉLiCA eQUINTINO 'I~'" QUINTINO - Basta. Como lião se QUINTINO - Sim. E tem que MANUEL, àparte - Ai!ANGÉLiCA - Manuel, uma cousate quero eu pedir; com farda de sargento de fuzi. quina disse-me que o viu entrar importa com ela ... dizer? ANGÉLiCA - Manuel, eu estou re-ontem ànoite lá.

MANUEL - É uma ordem que leiros.ANGÉLiCA - Entrar lá?

MANUEL - Nem com você, sô MANUEL - Casá·la! solvida a dar sociedade nesta minharecebo. barbaças!

ANGÉLiCA - Eoque tens lu com venda acerta pessoa ...ANGÉLICA - Espero que não fre-

QUINTINO, entrando - Licença? MANUEL - Eoque prova isso? QUINTlNO, puxando da espada - isto? MANUEL, ii parte - Meu Deus!qüentes certas ruas desta cidade e MANUEL, à parte - Abençoada ANGÉLiCA - O que prova? E Barbaças? (Manuel corre para trás

MANUEL, constrangendo-se - Na- ANGÉLiCA - Uma mulher, por sique, sobretudo, não arranches para visita! esta! de Angélica)da, nada! (A parte) E então! só, pouco representa. Que dizes doessas patuscadas dos domingos que ANGÉLiCA - Quem é? MANUEL - Sua irmã não cose ANGÉLiCA, para Quintino - Se· (Alto) Pode casá-la com quem qui- meu projeto?fazem os caixeiros no Jardim Botâ- QUINTINO - Um criado. para fora? nhor! ser. (iI parte) Odiabo é se ela se MANUEL - Que só resta-n:e sairnico, nos canos da Carioca e nas MANUEL, reconhecendo-o eàpar- QUINTINO - Cose sim senhor, e QUINTINO"- Barbaças'! Eule en- esquece que está casada comigo. ,. desta casa.Paineiras. Tens visto oresultado, te - Oh, diabo, éoirmão de minha com muita honestidade. sinarei.

QUlNTINO - Mell menino, esta ANGÉLICA - Sair de minha casa?MANUEL .~. NUIlca gostei desses mulher emeu cunhado sem osaber! MANUEL - Pois então? Mandei ANGÉLiCA - Senhor sargeuto ... espada corta muito bem orelhas ... MANUEL - Enquanto sois dela!4 pagodes. " ANGÉLICA -- Deseja alguma coisa? fazer por ela u"mas camisas e" fui X QUINTINO - Deixe-Jlle sangrá-lo. Eguarde·vos DeliS. (Sai) I única senhora, sirvo com prazer; mas

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quando tiverdes um sócio, um ho- MANUEL, tapando-lhe aboca com DEOLINDA - Epor que?~

MANUEL, àparte - Elas pegam- MANuEL, para Deolinda, enganatl- ANGÉLICA - Manuel, Manuel,

mem estranho, não posso, não devo. a mão - Cala-te ou meto-te esta MANUEL - Ela julga que um ho-I se! (Alto) Minha ama! do-se - Senhora minha ama! (Para não me abandones .. ,

ANGÉLICA, sorrindo-se - Não mão pela boca dentro. mem casado não deve ter sociedade DEOLINDA - Minha senhora, aAngélica, do mesmo modo) Deolin-

sejas tão precipitado; espera uin ins- DEOLlNDA, chorando alto - Ri! com outra mulher enem pode dirigir honestidade guarda-se em toda ada! Diabo!

tante. Eu vou lá dentro escrever um Ri! Ri! com todo ocuidado uma casa como parte quando se éhonesta; equandoCena 11

papel; não te digo mais nada, . , Le- MANUEL, raivoso e falando entre esta. A mulher, os filhos, a famí- não se é...

rás. .. Espera, Manuelinho, espera; os dentes - Olha que te mato! lia. .. tomam tempo .. , MANUEL, para Deolinda - Deo- Cena 10 QUlNTINO eos ditos

lerás. .. (Sai)DEOLINDA - Hi! Ri! Hi! DEOLINDA - E logo que fores linda! QUlNTINO, encontrando-se àporta

sócio ... DEOLINDA, Continu ando -FRANCISCO 'e os ditos com Deolinda - Espere lá.

MANUEL, na maior aflição - SeCena 8 minha ama chega estou arranjado! MANUEL - Oh, então, declarar- ... mesmo sem que seja necessário FRANCISCO - Então, o que te- ANGÉLICA - Quem é?

(Raivoso) Mulher! (Indo espiar à me-ei. .. sai-se de casa, praticam-se atos que mos? MANUEL, àparte - Meu 'cunha·

MANUEL só edepois DEOLINDA porta) Hoje me perco! Ainda estará DEOLINDA - Bem, esperarei, visto l .....envergonham... MANUEL - Prudência que aí vem do ...

MANUEL - Será possível? Ouvi·escrevendo? (Com ternura) Deo- que esse éomotivo.

ANGÉLICA - Oque? gente. FRANCISCO, àparte - Temos!

linda... MANUEL - E que outro poderiaMANUEL, para Deolinda -Cala· QUlNTlNO, trazendo Deolinda para

ram bem meus ouvidos suas pala- DEOLINDA - Ri! Ri! Ri!íe!

FRANCISCO - Senhora D. Angé-

vras? Espera, Manuelinho, espera e ser? Não és tu aminha querida mu- líca, .. (À parte, vendo Deolinda) a)rente - Preciso de uma explica-

lerás. Ódita! Ófortuna! Serei sócio! MANUEL - Deolinda, não chores, lher? Dá-me um abraço e vai-teDEOLINDA - .,. e dizem-se pa- Deolinda por cá? Mau! çao.

Sócio! Oh, oprazer sufoca-me; daqui tem compaixão de teu marido que embora. Dá-me. (Abre os braçoslavras indignas de uma senhora de ANGÉLICA - Sr. Francisco, isto é

DEOLlNDA - Deixa-me?

auma hora já não serei caixeiro; vou tanto te ama. para abraçar Deolinda. Angélica en-bem ... um horror, um desaforo! Osr. Ma- ANGÉLICA, para Quintino - Mas

andar de cabeça levantada, orgulho- DEOLINDA - Deixe-me Hi! Ri! tra neste momento) ANGÉLICA - Amenina fala co- nuel traz as suas costureiras - ccs- oque éisto, senhor?

so, ufano ... Sócio! Palavra má~ca! H'I migo?1. tureiras! - para casa e elas vêm MANUEL - Sim, o que é isto?

Ninguém, ninguém no mundo pertur- MANUEL, à parte - Se a velha DEOLlNDA - .. ,esó próprias de insultarem-me. Assim se entra por uma casa?

bará - aminha felicidade. chega.. , (Para Deolinda) Amanhã Cena 9 uma vendelhona! MANUEL - Eu, Senhora, minha QUlNTlNO, para Deolinda, sem dar

DEOLlNDA, entrando - Manuel?ou depois. tudo declararei, mas hoje, ANGÉLICA - Insolente! ana? Eu, Manuel Pacheco? Pois atenção aos mais - Não estavas em

oh! ANGÉLICA com 1lI1l papel e os ditos MANUEL - Minha ama! bem, hoje mesmo sairei desta casa. casa. Muito estimo encontrar-te aqui.

MANUEL - Oh, que havia·me es-quecido de minha mulher!

DEOLINDA - Eaté lá, meu irmão ANGÉLICA - Manuel? (Manuel, ANGÉLICA - Já desta porta para ANGÉLICA - Saires de minhaÊpreciso que todos me ouçam: Deo-

estará maltratando-me e atrapalhan-ouvindo avoz de Angélica, fica com fora ... Já! casa?

linda, disseram-me que tu te casaste

DEOLINDA - Ouve... do-me para que eu me case com oocultamente...

MANUEL - Vai-te embora! alferes.os braços abertos na ação de abraçar DEOLINDA, com zombaria - Ofen- MANUEL - Desconfiam de DEOLlNDA - Eu?

MANUEL - Mas tu não te casa-Deolinda) di a duquesa? mim. .. Que faço aqui? Não faço

DEOLlNDA - Hem? rás! DEOLlNDA - Ah! .- ANGÉLICA, querendo ir sobre ela nada, Vou-me, vou-me com. cem mil MANUEL, àparte - Mau!

MANUEL, empurrando-a - Vai-te DEODINDA -Quem sabe? ANGÉLICA - Oque éisto? Com'\11,; - Desavergonhada! milhões de diabos! ANGÉLICA - Casada!

embora, vai-te embora, diabo! MANUEL - Quem sabe? Isso sãoos braços abertos? MANUEL, retendo-a - Prudência! ANGÉLICA - Manuel! QUlNTlNO - Não procures enga-

DEOLlNDA - Assim me recebes? graças? Vê lá ... MANUEL, confuso - Estava mos- DEOLlNDA - Será ela, .. MANUEL - Adeus, senhora, nar-me; estou bem informado.

Queres que me vá? DEOLlNDA - Tenho muito medotrando o comprimento dos braços, MANUEL, afastando-as - Prudêa- ANGÉLICA, retendo-o - Não, tu DEOLINDA - Pois bem, c9nfessa-

MANUEL :-.Sinl, .sim. do meu irmão, edemais, meu maridop.!:fa medida das camisas. cia, .. Senhora minha ama! Sra. não sairás.,. não posso... meu rei: sou casada.

DEOLINDA - Sabes que mais? está tão misterioso... Não quer ANGÉLICA - Ah, a senhora é a Deolinda! negócio não pode estar sem ti. QUINTINO - Ah, confessas?

Isto assim não pode durar." É declarar-se ... sra. Deolinda, que cose para fora e ANGÉLICA - Deixa-me ensinar MANUEL - Deixe-me! MANUEL, à parte - Estou per-

preciso que declares o nosso casa- MANUEL - E julgas que não te-com muita honestidade? esta malcriada! ANGÉLICA - Não! Sr. Francisco, dido!

mento. nho razões para assim fazer? Deo- DEOLlNDA - Uma sua criada. DEOLlNDA - Malcriada será ela, ajude a segurá-lo. FRANCISCO, à parte e ao mesmo

MANUEL, com cólera e ,falando linda, minha cara Deolinda, escula- ANGÉLICA - E que vem em pes- velha de uma figa! FRANCISCO - Então, Manuel, que tempo - No que dará isto?

baixo - Desgraçada, cala-te, cala-te! me. Minha ama quer dar-me socie- soa tomar medida aos fregueses" . ANGÉLICA - Velha? (Angélica e éisto? ANGÉLICA - É possível?

DEOLlNDA - Se és meu mari- dade nesta venda, mas se ela souber em suas próprias casas .. , e tudo Deolinda forcejam para ir uma eon· DEOLINDA - Desgraçada de mim! QUlNTlNO - Agora quero saber

do. " I que estou casado, tudo desfará. com muita honestidade?, ..1i' tra aoutra) Ela o ama! (Vai asair pelo fundo)....... quem é teu marido.

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FRANCISCO - ASra. D. Angélicaestá tão pensativa!

~GÉLICA - Etenho motivos pa­ra 1SS.o. ~r. Francisco, épreciso queeu seja sncera com osenhor.

FRANCISCO - Há muito que issodesejo,

ANGÉLICA - O senhor tem-medado aentender que minha mão lheseria agradável. ..

FRANCISCO - Senhora...

ANGÉLICA - Não tenho cones­~ondido às suas finezas, porque, en­fim. .. uma mulher vexa-se. .. Es­perava poder confessar um dia essesegredo, mas ah, enganei-me enga-nei-me! J .

FRANCISCO - D. Angélica!

ANGÉLICA ., Foi uma zombaria!Eu, que o amava ...

FRANCISCO - Amim?

ANGÉLICA - Sim, ingrato, a ti.

FRANCISCO - Oh! (À parte) OManuel que se ananje como puder,eu falo,

f\NGÉLICA - Amim, semelhantetraição! Amim, que já ha'~a feitoesta escritura de casamento, vê ...Só onome está em branco. Olugarera para o teu.

FRANCISCO - Dá-ma!

ANGÉLICA - Agora de nada ser­ve, (Quer rasgar)

ANGÉLICA·eFRANCISCO edepoisMANuEL eQUINTINO

! ANGÉLICA} àparte - Hei-de sa­, bel' como isto é.. ' Empregarei um. meio... .Cena 14

ANGÉUCA eos ditos

ANGÉLICA, da porta - Que es­cândalo! Que escândalo! (Francisco,Manuel e Deolinda ficam espanta­dos) Assim deLxa abraçar sua mu­lher? Evê isso bebendo? Que imora­lidade! Que escândalo!

FRANCISCO - Foi por distração esede.

MANUEL - É minha afilhada ...Sou padrinho ebem vê...

ANGÉLICA - Sim, é afilhada!(Para Francisco) Osenhor, pelo quevejo, não é ciumento. .. E a meni­na... Está bonito!

FRANCISCO - Entre amigos nãodeve haver ciúmes - e quando háconfiança na amizade, bebe-se.

ANGÉLICA - Edorme-se.,. Temrazão. Mas olhe que há muita genteque assim se perde pela confiançaque tem nos amigos .. , (À parte)Eu saberei como isto é. (Para Ma­nuel) Vai acabar de arrumar asganafas.

MANUEL, à parte para FrGlicisco- Cuidado com abicha. (Vai-se)

ANGÉLICA, para Francisco - Ti­nha que lhe dar uma palavra. ,, Masao senhor só.

FRANCISCO - Deolinda, vai-meesperar lá em casa.

DEOLINDA - Eu vou, (A pGl'te,para Francisco) Diga aManuel quelá oespero. (Sai)

rafas. Param à porta vendo j enquanto os dOlls se abraçam, desaro :

FRANCISCO abraçar DEOLINDA. rolha uma garrafa ebebe). II MANUEL Minh lh rzinh IFRANCISCO _ Não se espante. Isto - a mu e a, I

épor conta dele, Abrace-me que ela aperta!nos vê.

DEOLINDA, vendo Manuel - Ah,pois bem, abracemo-nos. (Abraça-o)Assim me vingarei dele.

FRANCISCO - Bravo! (Abraçam­se)

MANUEL, àporta - Isto não podeser!

ANGÉLICA, retendo-o - Eque teimporta que o Sr. Francisco abracesua mulher?

MANUEL - É indecente!

ANGÉLICA - Deixa-os lá e vemcomigo. (Vai atravessando acena esai. Manuel vai acompanhando An­gélica)

DEOLINDA, correndo eretendo Ma­nuel no momento deste sair - Vemcá!

MANUEL - Traidora!DEOLINDA - Ah, está zangado?MANUEL - Abraçando-o!DEOLINDA - Fiz muito bem; é

para teu ensino.FRANCISCO - Pateta, não vês que

era para melhor enganar tua ama?MANUEL - Ah, era para isso?

Perdoa-me, Declinda Chico, peganestas garrafas. .(Dando-as a Fran­cisco) Se soubesses, Deolinda, oquetenho sofrido hoje!

FRANCISCO - Agora abracem-se,MANUEL - Perdoa-me se te dei

outro marido; era para nosso bem,Dá cá um abraço.

DEOLlNDA, abraçando-o - Soumuito boa em perdoar-te (Francisco}

1"-:

'i';'il~.~

I

-;·k

Cena 12

MANUEL - Eu vou. (À parte,parii Francisco) Cl*o: :. (Angélicasai. Manllel acompanha Angélica,fazendo sinais para Francisco)

Cena 13

Os ditos, ANGÉLICA, seguida deMANUEL, que traz algumas gar-

FRANCISCO eDEOLINDA

FRANCISCO - Pobre Manuel, aquanto obriga a ambição!

DEOLINDA - Belo marido tenhoeu, que me entrega a outro,

FRANCISCO - Então, Sra. Deelin­da, que me diz aesta? Deve-me estaragradecida; salvei seu marido.

DEOLlNDA - Que marido! Enver­gonha-se de ter-me por mulher.

FRANCISCO - Não é vergonha, émedo.

DEOLINDA - Medo? Antes me ti­vesse casado com outro,

FRANCISCO - Não me quiseste amim por marido .. ,

DEOLINDA - Vou-me embora.FRANCISCO, retendo-a - Espere.DEOLlNDA - Não posso mais es-

tar aqui,FRANCISCO - Devagar, não com­

prometa seu marido.DEOLlNDA - Deixe-me.FRANCISCO - Sinto passos; aí vem

ela. Dê-me um abraço. (Abraça-a)DEOLINDA, esforçando-se por sair

de seus braços - Senhor!

FRANCISCO - Mas, se tu ....

MANUEL - Estás zangado porquefalei. (À parte) Salva-me, Chico!

FRANCISCO, àparte - Tranqilili­za-te... (Alto) Enfim, como já sesabe, que remédio? Estou casadocom a senhora... A senhora. .. éminha mulher ... (À parte) Já queassim quer seu marido. ,.

ANGÉLICA, à parte - Aqui hámistério" .

QUINTINO - Oque está feito, estáfeito. Lograram-me, Cunhado, aper­ta esta manopla. Quisera antes que aDeolinda se casasse com o alferes;mas, enfim, também és bom rapaz.Vou ao "Gradil" encomendar umjantar; há-de haver bebedeira grossa.Com licença da companhia; volto.(Vai-se)

MANUEL, à parte - Escapei deboas!

ANGÉLICA - Com que, osr. Fran­cisco écasado!

FRANCISCO - Ohomem sacrifica­se, às vezes.

ANGÉLICA, para Manllel- Enun­ca me disseste nada.

MANUEL - Segredo de um amigo.DEOLINDA - Que papel que faço

eu aqui?ANGÉLICA, à parte - Estou des­

confiado; aqui engana-se alguém. Ah,se for a mim... (Alto) Manuel,vem comigo; osr. Francisco quereráficar só com sua mulher. ..

MANUEL - Só, com ela!

ANGÉLICA - Eoque tem isso?

MANUEL, à parte - Pergunta oque tem... (Alto) Nada, nada!

ANGÉLICA - Pois segue-me, (Àparte) Há mistério!

DnOLINDA-:- Ah, ainda não sabe?Pois então pergunta all ao sr. Ma­nnel.

MANuEL - Amim?

ANGÉLICA, ao mesmo tempo - Aele?

DEOLINDA - Sim; diga a meu ir­mão quem émeu marido.

MANUEL - Que eu diga?

ANGÉLICA - Que honível drscon­fiança. ,. E esta escritura? (QlIe­rendo rasgar opapel)

MANUEL, pegando-lhe na mão ­Espere!

DEOLINDA, àparte - Oque eu iafazendo?

MANUEL, para QlIintitlO - Senhorsargento, eu queria guardar segredo,porque assim mo pediram; mas comoo negócio está meio divulgado, fala­rei. Fui padrinho do casamento ...

ANGÉLICA - Tu?MANUEL - Eassim sei qucm éo

marido.QUINTINO - Equem é?MANUEL - Osr. Francisco,FRANCISCO - Hem?DEOLINDA- Oque diz?ANGÉLICA, ao mesmo tempo - O

Sr. Francisco?QUINTlNO - Ah, osenhor é meu

cunhado?FRANCISCO - Eu, senhor?MANUEL, abraçando-se com Fran­

cisco - Amigo, perdoa se falei. ..(À parle para ele) Salva-me, Chico,salva-me! (AlIo) Onegócio estavameio sabido. .. (À parle) Salva-me,Chico ... (Alto) De que serviriaocultar mais tempo? (À parte) Dizeque te casaste. ,.

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I(Teatro de Ml/ftillS PCUI/ - Vai. [ ­Fubl. MEC' -- fNL/1956).

DEOLlNDA - Serás sócio! (Ma­nue//evanta-se POllCO apOI/CO, comoprocurando fixar-se 1/0 sentido daspalavras qi/C lhe dizem).

ANGÉLICA - Serás nosso sócio,ficarás coucsco. Eu te perdôo.

MANUEL - Sócio! Ouviram bemmeus ouvidos? Serei sócio! (CailUlode joelhos elevantando as mãos paraocéu) Oh, meu Deus, está satisfeitaa minha ambição! (Todos fal<ll/1 aomesmo tempo).

DEOLINDA - Está salvo!QUiNTlNO - Pobre sócio!ANGÉLICA- Pobre Manuel!FRANCISCO - Pobre amigo!MANUEl. - Serei sócio! (Cai o

FUlIO.)

QUINTINO, au mesmo tempo -Pobre homem! I

ANGÉLICA, ao mesmo tempo - IFaz-me pena! I

MANUEL traz Antônio pelo braçopara afrente do teatro - Antônio,eis-me de joelhos a teus pés. (Ajoe­lha) Lembra-te da amizade que nosuniu efaze-me oúltimo favor. (Abrea camisa) Enterra-me no curaçãoessa acha de lenha, traspassa-me opeito com ela. Não queres?

ANGÉLICA .; Manuel!MANUEL - Quem me chama?ANGÉLICA - É tua ama! Manuel,

MANUEL para Quintino - Então esqueço-me da afronta que me fizestefoste tu, barbaças do diabo! elembrar-me-ei somente dos serviços

QUINTINO, ameaçando-o - Passe que me tens prestado ... Serás nossode largo! I sócio, não éassim, Chiquinho?

MANUEL, voltando-se para AnCé-\ FRANCISCO - Sim, serás nossolica - Ou lu, caroc1la do in!cl'llo! IÓCÍO.

FRAJ'lCISCO, apontalll/o para lYfa- ANGÉLICA - Maroto! Já por estaIluei, ao mesmo tempo - É ele! É porta fora evai ser caixeiro de Bel-ele! zebu!

QUINTINO para Deolinda - Am- I MANUEL, como louco - Caixeiro,bos? J I sempre caixeiro! Oh, afastem-se de

r • • ' IDirn que estou louco, desesperado,ANGELICA - ~pere, Sr. Sargen- I furibundo! Para longe! Serei sempre

to, que e~ p~rel estasM~ous~s em caixeiro, caixeiro, caixeiro! Pagareiordem. (A pQ1 ~e, ~a[.a nlle) In~ I sempre imposto,como uma saca deg~ato, ~udo esta exp kado e eu me Icafé, um burro, um cavalo. Não souvmgare, ! nada no mundo. Cortem-me esta

MANUEL - Minha ama! i cabeça, pendurem-na na porta doANGÉLICA, repelindo-o com gesto açougue. Sou um boi; paguei direitos

desprezador - Sr. Francisco, aqui na barreira. Sou um boi. .(Assim di-está a escritura de nosso casamento. zC1ldo, principia aberrar como boi)(Dá-lhe opapel) TODOS - Manuel! (Manuel ber-

FRANCISCO - Quanto sou ditoso! ra)MANUEL - Mas senhora .. , DEOLINDA - Meu Deus, estáANGÉLICA, interrompendo-o - O louco!

sr'. Manuel terá a bondade de pro- TODOS - Louco! (Manuel berra)curar outro arranjo, porque hoje DEOLINDA - Qne desgraça!deix.a de ser meu caixe.iro. Tenho um FRANCISCO, ao mesmo tempo _mando enele um S6ClO. Coitado!

MANUEL - Um sócio! (ParaFrancisco, na maior desesperação)Amigo infiel epérfido, és acausa daminha desgraça e perdição!

FRANCISCO - Eu, Manuel'!MANUEL - Sim.FRANCISCO - Fiz oque pude por

ti, fui marido de tua mulher... Tués o culpado, eu não.

MANUEL, voltando-se para DEO­LINDA - Então foste tu, mulhertraidora!

DEOLlNDA - Eu? Não guardeisegredo? Queixa-te de ti, de mim,não.

J"ot

ANTÔNIO e JOSÉ, armados deachas de lenha, DEOLlNDA e os

ditos

ANTÔNIO, entrando - O queaconteceu?

DEOLINDA - Oque é, Quintino?

ANTÔNIO - Senhora minha ama!

DEOLINDA - Oque foi?

QUINTINO, para DEOLINDA -Oque foi? Vim encontrar teu maridoaos pés desta senhora.

DEOLINDA - Meu marido dejoelhos a seus pés?

QUINTINO - Sim, dizendo que aamava.

DEOLINDA, indo para Manuel ­Traidor!

MANUEL - Rem?DEOLINDA - Assim é que me

guardavas fidelidade?ANGÉLICA - Ah!QUINTlNO - Olha que te enganas!DEOLINDA - Não, não me enga-

no; este éomeu marido.QUINTINO - Seu marido?ANGÉLICA, ao mesmo tempo ­

Seu maddo?MANuEL, àparte - Ai, ai, ai!FRANCISCO, ii parte e ao mesmo

tempo - Pobre Manuel!ANGÉLICA, para Manue/- Ah, tu

eras casado eenganavas-me!DEOLINDA - Amim é que enga­

nava.QUINTINO - Então, com todos os

diabos, quem é aqui meu cunhado?MANUEL, apontando para Fran­

cisco - É ele! É ele!

QUINTINO, que nesse tempo tell/­se aproximado, segura a Frallciscopela golada jaqueta, dizendo - Ah!Tu a amas? E minha irmã, tuamulher?

FRANCISCO - Ai!

QUINTINO - Assim a enganas,patife?

FRANCISCO - Sua irmã não émi­nha mulher.

QUINTINO - Negas?

ANGÉLICA, para Manuel - Queméomarido?

MANUEL - Não sei. (ANGÉLICAtoma aManuel pelo braço. Qrlintinofaz omesmo aFrancisco. Todos fa­lam ao mesmo tempo.)

ANGÉLICA, para Manuel- Queméomarido? para que me enganaste?Dize já, quero saber. Ah, não dizes?Eu me vingarei! Não dizes, porquetens medo? Ingrato, mal-agradecido,eu me vingarei, me vingarei.

MANUEL, para Angélica - Nãosei. .. Posso lá saber quem éoma­rido de todas as mulheres? Disse oque me disseram; pode ser que meengane. Senhora minha ama, deixe­me, assim não nos entederemos.

QUINTINO, para Francisco, aquemameaça com aespada - Pensas queassim hás de mangar com oSargentoQuintino? Primeiro hei-de tirar-te as .tripas, pô-Ias ao sol. Enganar minhairmã! Tira as mãos... enfio-te ...mariola. .. tira as mãos!

FRANCISCO, esforçando-se parasair das mííos de Quintino - Deixe­me, não sou seu cunhado, já lhedisse. Ai, ai, não me mate! Ai, quemme acode? Juro que não é minhamulher! Ai, ai! (Todos acabam cri­tando)

FRANCISCO -'- Não rasgue!

ANGÉLICA - Estás casado.

FRANCISCO - Casado! (Ã parte)Leve odiabo oManuel! (Alto) An­gélica, quem te disse que estava ca­sado, mentiu.

ANGÉLICA - Mentiu?

FRANCISCO - Eu não estou ca­sado.

ANGÉLICA - Não estás casado? Equem éomando de Deolinda?

FRANCISCO - Não lhe posso dizer,mas juro-lhe que estou tão solteirocomo quando nasci. Eis-me a seus

. pés! (Ajoelha) Dê-me essa promessa.

ANGÉLICA '- Levanta-te, (QUIN­TINO aparece iiporta do fundo eficasurpreendido vendo Francisco aospés de Angélica)

FRANCISCO - Não me levantareienquanto não me der a sua palavraque me fará ditoso.

QUINTiNO - Omaddo de minhairmã aos pés de outra mulher?

ANGÉLICA - Lá de fora podemver-nos ...

FRANCISCO - E que vejam! Nãoserei eu seu esposo? (MANUEL apa­rece ii porta da direita e, vendo Fran­cisco de joelhos, ficaestupefato)

ANGÉLICA - Talvez, mas levanta­te.

FRANCISCO - Não!

:MANUEL - Muito bem! Muitobem! Amigo falso!

FRANCISCO, levantllndo-se - Ah!ANGÉLICA - Ah!MANUEL- Muito bem!FRANCISCO - Desculpa-me...

Ela me ama eeil também a amo.

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rI FESTIVAL PANAMERICANO DE TEATRO

(1973)

DOS JORNAIS

Durante oFestival de Teatro Panamericano realizadono Museu de Ciência e Indústria de Chicago em abril/1973, várias peças hispano-americanas foram apresenta­das com o objetivo de alcançar a grande população delatino-americanos residentes e estudantes na área deChicago. Oprofessor Efrén dei Castillo, antigo cenógrafodo Teatro Nacional de Cuba, foi opresidente do comitêeé diretor do Círculo Teatral de Chicago.

Na primeira semana do festival, ogmpo da IrdíaaaUniversity North-west, El Teatro DesengOll0 dei Fueblofoi oque obteve mais sucesso com improvisações draná­ticas de um Rio sobre a vida nos bairros de Chicago esua abordagem meio folclórica emeio política da herançacultural dos latinos. Diégido por Nicolás Karellos, estefoi oúnico grupo bem integrado não só em tema quantoem realização de seus membros: chicanos, portorrique­nhos, mexicanos elatinos do meio-oeste.

OTeatro Desengml0 dei Fueblo apresentou oseguin­te programa: ElllOl11bre )' el hambre, Escuela, Baile, EIfrijol )' la habicllllela, La lecll/lga e El Alcaide. Nessespequenos e diretos exemplos, além da direção segura eda. interpretação, há um desejo evidente de comunicarlima mensagem política urgente nos Estados Unidos, umaminoria presentemente em processo de reconsideração deseus valores cdireitos sociais.

Asegunda peça do festival não foi tão feliz, apesarde ser em três atos. La Familia ejemplar, de MonscrrateRamos, representou oteatro de Porto Rico. Foi realizadapela Academia de Teatro Hispano-Americana e dirigidapelo autor. Não concordamos com ainclusão no festivalde uma peça que éum melodrama em três atos mal co­nectados esobre tema de nenhuma importância. Aação56 passa em POlia Rico no fim do século 19 e trata de

uma grande família cujos filhos abandonam acasa esuamãe a fim de desenvolver talentos artísticos e profissio­nais. Reunem-se em casa no dia das mães para come­morar com um shaw de demonstração de seu talento.Termina com canto e dança. A ação deixou muito adesejar; era l1aca, provincial sem um mínimo de disciplinanecessária para demonstrar um certo grau de respeitoao público. Asegunda semana do festival viu duas eice­lentes produções pelos estudantes de teatro do Locp CityCollege de Chicago. "

Apeça colombiana, Aqui También Moja La Lluvia,de Frank Ramirez eBernardo Romero Pereiro, éuma agri­coce consideração sobre avida depois da morte. Passadanum cemitério, a peça examina avida depois da mortede um poeta, uma jovem, um antigo paraplé~co e umafrustada dona-de-casa que procuram compensação de suasantigas vidas. Oantigo paraplégico éum dos poucos queparecem ter encontrado liberdade após amorte pois nãoestá mais confinado àcadeira de rodas. Enamora-se dajovem, mas esse amor é logo dificultado pela senhoraque, tendo tido nma vida sem fil~os, torna-se possessivaem relação aEduardo eciumenta da moça. Apeça ter­n1Í11a com a remoção do corpo de Eduardo do cemitério.Otítulo da pcça indica que não há paz após amorte.

Duas Histórias para ser contadas, de Osvaldo Dra­gún, encerraram ofestivaL Aprodução, sensível e apu­rada desse absurdo exemplo da vida moderna foi apre­sentada com excelente direção einterpretação de RobertoSapier. Anarração ironicamente dramática, assim comoa nova perspectiva em relação ao público que se viuapanhado entre osofrimento dos personagens eamolduraimpessoal emecânica da ação. Muito do sentido de ambasas peças em 1 ato deve ser procurado no movimentofebril dos personagens no palco. De fato eles parecemcorrer em todas as direções em sua luta diária sem" ne­nhnm resultado. Na primeira, um infeliz vendedor ambu­lante não pode continuar seu trabalho por causa de umubcesso de dente que o impede de anunciar sua merca­doria com omáximo vocal. Ele acaba sofrendo nas mãosdo dentista cuja conta o faz perder a casa. Na segundapeça, outro "pobre coitado" éforçado a levar uma vidade cachorro a fim de ganhar a vida na desumanizadaburocracia da moderna Buenos Aíres. A obra terminacom uma nota humanística, entretanto, quando amulherdo "cachorro" se recusa adar àluz aum cachorrinho.

OFestival Panamericano, agora no seu segundo ano,éuna tentativa válida de melhorar aqualidade das apre­sentações teatrais para os latinos residentes e estudantesda área de Chicago. Espera-se que esse esforço continuepara o futuro.

TERESINHA A. PEREIRA

NICOLAS KANELLOS

(Latill Americall Thealr~ Rel'iewjSpringj1973). 3

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PROJETO DE FALSAREGULAMENTAÇÃO

Leio, com incredulidade e espanto, o texto do pro­jeto de lei do deputado Leo Simões, que teria sido recen­temente aprovado pelo Conselho Federal de Educa~ão, eque pretende regulamentar as profissões de artistas etécnicos de teatro, televisão, rádio e cinema.

Não conheço oautor do projeto, enão sei qual éoseu grau de familiarização com os problemas das carreirasque ele pret0nde regulamentar. Já o CFE, pela naturezaintrínseca de suas funções, não podia ignorar amais gri­tante falha do projeto, que diz precisamente respeito aoâmbito de ação do Conselho: a formação profissionalnecessária ao ingresso nas carreiras em vias de seremregulamentadas, Como oprojeto nega, por omissão, qual­quer exigência de uma tal formação, chego a perguntar­me se não haveria algum equívoco no texto publicadopela imprensa.

É impossível acreditar, com efeito, que um órgãocomo o CFE tenha aprovado um projeto que declaralivre oexercício das atividades em questão, sem esiipnlarnenhuma exigência de qualquer preparo específico paraqualquer uma delas, considerando implicitamente qual­quer analfabeto apto a realizar tarefas que, notoriamente,não podem ser competentemente cumpridas sem adequa­da formação técnica, artística e intelectual. De acordocom o texto publicado, bastará apresentar provas deidentidade e de quitação com o serviço militar, carteiraprofissional, prova de estar em dia com alegislação c1ei­torai, folha corrida e quitação do imposto sindical, parafazer jus ao registro profissional em qualquer uma dasc~tegodas artísticas ou técnicas, Aqueles que pessuiiendIplomas de curso de formação ou especialização deverãoregistrá-los no MEC - ninguém sabe para que, pois elesnão são exigidos no projeto e, portanto, tornam-se inúteispara oexercíclo da profissão.

É também impossível acreditar que um órgão comooCFE, ao aprovar oprojeto, tenha implicitamente opi­nado pela supressão da maior conquista anterior da classe

teatral: a lei n, 464l, de 27/5/65, cuja revogação odeputado Leo Simões propõe naqueles dispositivos queentram em choque com oseu projeto. Ora, a referida Leicondicionava oacesso à carreira teatral auma formaçãoespecializada (de nível superior ou médio, dependendo dacategoria), ressalvando naturalmente os direitos adquiri­dos pelos que já exercem aprofissão. Quando se esperavaque esta conquista fosse estendida também aos outrosmeios de comunicação, propõe-se asua abolição inclusivepara o teatro. Se isto for verdade, o CFE estaria dela­r~ndo, implicitamente: "Não percam tempo estudando,lllnguem precsa estudar para fazer teatro, cinema outelevisão,"

Que regulamentação da profissão é esta que declaraque todos podem ingressar nela em igualdade de condi­ções, os que se prepararam para ela como os que não seprepararam? Ointeresse moral maior de uma regulamen­tação profissional não consiste acaso justamente em pro­teger os verdadeiros profissionais dos curiosos? Para quefi regulamentação, se nela os curiosos são equiparadosaos profissionais?

Não se trata de tornar aprofissão privativa de umpequeno grupo de scholars, nem de admitir que diplomapossa ser mais importante do que talento. Em todos ossjm~ósios e grupos de trabalho de que participei, colo­queI-me sempre contra as propostas que tendiam a tornaro acesso à profissão sujeito a entraves demasiadamenteacadêmicos, e preconizei a definição de casos especiaisem que ~~tistas etécnicos sem curso especializado possamser admItIdos mesmo sem dispor de experiência prévia.Mas, como norma geral, um certo nível de escoladdadegeral e especlalizada é indispensável, nesta nossa épocade solicitações tão complexas em que o teatro - epre­sumo que também o cinema, o rádio e a televisão ­exigem do profissional uma soma de conhecimentos quenão podem ser improvisados. Na volta de qualquer via­gem ao exterior, chego sempre à mesma conclusão:temos talentos comparáveis aos de qualquer país, massomos amplamente inferiores em termos de aprendizagem,conhecimentos, técnica, compreensão intelectual do tra­balho, Por isso, em grande parte, nossos espetáculos sãomuito mais sujos no seu acabamento, eapresentam equí­vocos de enfoque que não se costuma admitir lá fora. Sequisermos melhorar esta situação, teremos de dar énfaseà aprendizagem, tornando-a'obrigat6da quando possível,

e não abolir todas e quaisquer exigencias de apreaaza­gem, como preconiza o projeto em foco.

É pena que em vez do projeto Leo Simões nãotivesse sido encaminhado ao CFE o projeto elaboradopelos Sindicatos do Rio ede São Paulo que, além de bemmais detalhado e técnico, mantinha pelo menos aobriga­toriedade de preparo especializado para as profissõesteatrais já definidas na Lei n. 4641, com os respectivosníveis ali estipulados. Mas, infelizmente, oque parece terprevalecido foram os notórios interesses das grandesempresas industrializadas de cOlllunicação de massa, quejulgam obviamente mais vantajoso para poder recorrer auma mão-de-obra menos preparada, mas mais barata emenos esclarecida do que aquela que lhes seria fornecidapelas escolas especializadas.

Além desta sua falha maior, oprojeto peca por umaincompetência técnica que gera detalhes verdadeiramenteridículos, Nenhuma categoria profissional chega aser de­finida quanto às suas funções específicas, o que seriajustamente Ulll dos princípios objetivos da regulamentaçãoprofissional. Uma das categorias profissionais propostasé uma divertida categoria-salada abrangendo "artistas(sic), atares, cantores, músicos etc. (sic para oetc); maslogo adiante surge a misteriosa categoria de intérpretes}como se aos atares, cantores e músicos não coubesseinterpretar as obras que executanl. .. Na categoria pro­fissional de diretor não há lugar para odiretor de teatro,mas apenas para o"diretor de televisão, rádio, cinema edemais espetáculos decaráter não eventual eque impor­tem em realizações de interesse artístico, social ehumanoeque redundem em empreendimentos com fins lucrativos,beneméritos ou assistenciais." Por outro lado, não me pa­rece que aregulamentação profissional deva preocupar-se,como ofaz oprojeto LS, com punições aserem aphcadasaos profissionais por transgressões eventualmente cometi­das no exercício de suas atividades, já que tais puniçõesdevem evidentemente estar estipuladas na legislaçãocomum.

Felizmente, faltam, ainda várias etapas de tramitaçiíopara oprojeto se transformar em lei e resta esperar queele receba, nessas etapas, as emendas que se impõem, eque lhe dêem a dimensão de uma verdadeira regulamen­tação que a profissão tão ansiosamente espera. Assimcomo está, apesar de algumas propostas válidas no aspecto

trabalhIsta, oprojeto não contere à classe a dignidadenecessária; dignidade que pressupõe, antes de mais nada,proteção contra a invasão do mercado de trabalho porpenetras sem qualificação especializada.

JAN MICHALSKI

(Do lamal do Brasil, 18/2/74),

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ALEGRE BESTIÁRIO'

Em sua ânsia de fazer perguntas, as crian~as muitasvezes se tomam insuportáveis. Mas como não ha mal semremédio, elas com freqüência se esquecem de esperar asrespostas ou - para alívio dos adultos - se c~n~ent~com qualquer uma. Foi confiando nessa carac~enstica. lll­

fantil que ogrupo Carreta elaborou AMargarL?a CUI'/osaVisita aFloresta Negra, peça onde nada éexp!lcado, ~emmesmo a ausência de explicações. Com esta formula am­plória, no entanto, o grupo conseguiu realizar um sabo­roso espetáculo) no qual todas as gratuidades florescemàsombra do jardim da infância,

Tudo se passa, justamente, em um jardim compostode alguns painéis de pano branco que servem para cscon­der os atares ocuDados em movimentar seus bonecos por, ,meio de varetas. Esão os bonecos, mais do que otexto,música ou enredo, que constituem oprincipal encanto dapeça. Apesar disso, da Margarida que se encarrega dopapel-título, pouco há que dizer, ex~eto que ela reproduz,sem muita imaginação, a flor que todos conhec~m. Mashá entre seus companheiros um desarticulado grilo, umasinuosa minhoca, uma trepidante abelha eurna langoros~lesma compondo um bem-humorado bestiário quc,po.r SI

só, justificaria os prêmios que a peça recebeu no úlíimofestival de teatro infantil da Guanabara,

Os auimais como acontece com seus modelos davida real, não afirmam com intransigência sua racionali­dade. Limitam-se a rastejar em torno da Margarida qu~,para fazer jus à importância que seus criadores ~hc at.n­buíram, ahaenta inquietações botanicamente eXistenCIa­listas. De início ela se sente solitária esem ter com quemconversar no jardim onde todos os animais s~ contentamcm ser o que são. Logo em seguida, ao oUVJr f~la( d?smistérios da Floresla Negra, imagina uma cxcl1fsa~ íuns­ilea ao perigoso lugar de onde, ao que todos lhe afír.mam,ninguém volta. Mas aMargarida insiste eparte. Avmgemlhe proporciona entre outras coisas um encontro com o

, '. I'Saei Pererê e um relorno triunfal ao scu Jarc un e aoscompanheiros. Ea peça termina, inocuamente agradáve!,como começara, com os quatro atares humanos erpli-

candoquc O(!ue qUDic.l\lnlesllJo crazer toatro ediverti!'.Não há dúvida que, nesse curto espetáculo (dum cercade uma hora), oGrupo Carreta conseguiu o que queria.É certo que aMargarida eseus amigos não contam nadade transcendente. Isso, numa peça infantil, em lodo caso,é uma inegável prova de bom gosto dos autores e umimenso alívio para o público. Resultado: os adultos nãose aborrecem e as ciianças reagem, encantadas, às aven­turas ajardinadas e florestais da Margarida. Participamdo espetáculo, gritam, aplaudem e reclamam com umentusiasmo que poderia causar inveja amuitos teatrólogosmais ambiciosos.

Pena, justamente, é que, por quererem enlrar nabrincadeira, os adultos por ela responsáveis a estraguem,por vezes. Quando saem de trás de sens esconderijos depano, abandonam os animais a que animam e dão voz edirigem-se diretamente ao público, translormaado G jar­dim, que até então era encantado, em um palco comotantos outros. Oque não ofende as leis do bom teatro,mas quebra um pouco a ilusão da magia.

MARINHO DE AZEVEDO

(Da rcv. Veja, 16/1114).

FESTIVAL ESTUDANTIL DE LUBLIN

Os Festivais de teatros estudaaíis se assemC1ham.Assiste-se a uma dezena e até muitas dezenas de espe­[áculos de curta duração seguidos de debates em clubesBnas pr6prias salas; discute-se, polemiza-se, adiantam-seargumentos, defende-se um ponto de vista defende-se esteou aquele teatro; a efervescência está na ordem do diaOs festivais fazem pensar numa panela em ebulição sim'

1 J ' ,

gera mente enma panela com uma tampa bem hermética.Oprato cozinha em seu próprio caldo. Airradiação

dos debates e mesmo dos espetáculos não vai além do~eio estudantil ou do público do festiva1. Faz pensar nasdisputas da maçonaria que deixam indiferente o púbHcoprofano. Durante os últimos 8 anos, a Primavera teatralde Lublin dava a impressão de um festiva! em vaso fe­chado, na cidade universitária, na bonita "Cabana doEstudante" onde acontecem os espetáculos e os debatescno clube "Areus" onde se bebe ese discute.

. A}rimavera deste ano era, talvez, de qualidade in­fenor, as precedentes, pelo menos quanto ao nível dosespetaculos, mas teve a vantagem de ser diferente doscutro~ e de ult:apassá~los em interesse, Muito bemorganizado (o ~ento diSSO cabe à Universidade MarieSklodowska-Cune, mecenas do teatro estudantil), diferiafundame.ntalmente dos anteriores e de outros festivaisestudantls.

. Os organizadores da Primavera Teatral de Lublinüraram conclusões da experiência dos anos passados masacabaram organizando não um [estival mas um encontrode trabalho, lima oficina de teatro. De fato durante osdez ~ias da manifestação, os grupos de estu(lantes vindosde dlferenles cidades polonesas, não se contentaram emap~esenlar espetáculos apenas. e em debatê-los, mas qai­scra~ traball:ur. em comum a mterprctação, adireção eomOVllllento celllCO. Os debates foram menos acadêmicos'orientar~l1l-se princ~pal~lente para a arte teatral pr\)pria~mente dita Pela prmena vez, talvez, a discussão passouà ação, que deu lngar a um espetáeulo improvisado porum grupo de participantes do festival que se propuseramacondenar a~ tendências de estilo dominante nas produ-

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;ões de diversos grupos. Nesse espetáculo, intitulado AInvasão dos Cristos, um bando de barbudos ecabeludosenvollos em panos brancos caçoou das veleidades ingê­nuas de certos grupos estudantis com .que se enganamcertas Iroupes de estudantes acreditando que aí se en-•ontra ocaminho do Novo Teatro,

APrimavera Teatral de Lublin nos possibilitou verespetáculos de outro gênero. Assim, Gong 2 apresentouTVhal )'ou Dream About, de Bryll, um espetáculo pormuitos motivos bem mais interessante que ode um teatroprofissional conhecido da Cracóvia. Um espetáculo quereata com as tradições de cabaré da canção próprias doteatro estudantil foi apresentado pelo grupo Kalambollr,de Wroclaw. Entretanto, oque parece mais importante éanítida aparição das novas gerações. Teatros COlho 'Gonge Kalambollr têm grupos inteiramente novos. Tambémnovas companhias foram formadas. O debate de encer­ramento discutiu não o como mas o porque e o "paraquem" do teatro estudantiL Verificou-se então oconfron­to de duas tendências. Uma que considera o teatro e ofato de fazer teatro como instrumento de pesquisas inte­lectuais e artstieas; a outra, mais realista, que acha queo teatro do estudante deve ser antes de mais nada ii

expressão de uma geração, de suas aspirações, de suasrecusas e que deve ultrapassar, pelo seu alcance, omeiodos "artistas" ou, geralmente, dos estudantes. Não émenos interessante expressar a opinião do mecenas, ex­posta por um jovem representante da União Socialistados Estudantes Poloneses de Cracóvia. Ele disse que atarefa dessa organização estudantil não consiste em' pro­gramar aatividade do teatro do estudante, mas oferecer­lhe meios de ação, independentemente dos erros 011 mal­entendidos qUti possam surgir mas de onde brotará algode válido.

(Le Tliéi1tre e/I Pologlle/10/1973).

:~.

AARTE DO DIÁLOGO

Muitas foram as experiências em teatro popular dequalidade até hoje na França, mas, com o espetáculomilanês de Dario Fo, no Théatre National Populaire ­nunca houve nada iguaL Foi a primeira vez qlle os pa­risienses assistiram - numa curta temporada de vintedias - a um verdadeiro espetáculo popular.

Normalmente, os escritores teatrais são intelectuaise, conscientemente ou não, dirigem-se ao espeaadoratravés de palavras e de mensagens muito elaboradasusando uma mise en scene que exige muito do público, oque torna difícil a percepção para uma platéia de gentesimples. E o resultado, apesar de toda a boa vontade,vai de encontro a tudo aquilo que eles querem atingir.As salas de espetáculos estão sempre cheias de estudantes,muitos de nível superior, alguns menos graduados, masem todo caso, nenhum operário. Equando há operáriosem teatros, torna-se sempre uma exceção, Isto éoque se

. passa na França, com oesquerdista Patrice Chereau es­miuçado pela crítica, assim como acompanhia Vincent eJourdeuil e até mesmo o muito famoso Planchon. So­mente Marcel Marechal (pela sua última representaçãoFracasse, que era uma cótica bem clara às novelas detelevisão) escapou desta lista.

Ê certo, no entanto, que Mistero Buffo, oespetáculode Dario Fo, realmente surpreende. Ê inteligente, engra­çado, baseado em fatos atuais ou na crítica de costumes,mas é, no entanto, perceptível por qualquer espectador,seja ele quem for. Isso se dá porque o artista - que étambém acrobata, mímico, humorista, cantor, palhaço edançarino - tem o cuidado de explicar antes de cadacena a sitnação e os personagens que vai representar. Seele conta, ainda que àsua maneira, As Bodas de Callaã}retorna aos antecedentes que geraram ofato. Se fala doencontro de Escapino eMoliêre, Dario os situa cada uma seu tempo, estado etc. Eoque émaravilhoso, tudo istoé feito naturalmente, sem demagogia, como se fosse oartista amigo de cada um de seus ouvintes, ede um modocomo se fosse contar uma anedota ao pé do ouvido decada um.

Além disso, Dario Fo evita tudo aquilo que possadar aseus espectadores qualquer impressão de que possaexistir uma barreira entre o artista e o público: porexemplo, ante3 dosespetáculos, ele costuma circular peloscorredores para depois, ao começar a apresentação, subirao palco pela própria sala. E o palco não tem cortina.Até no modo de se vestir - calças largas cinzas epulo­ver de gola roulé marinho - ele procura uma identifica­ção com opúblico.

De pé, no palco, sem complementos nem roupasestravagantes, e valendo-se somente de suas mãos, queele mexe sem cessar, Dario constrói um clima de bumorsarcástico, onde a paródia e o grotesco estão semprepresentes. Oespetáculo dura duas horas e tem dez mi­nutos de intervalo, que o artista aproveita para ficar nomeio do público. E é impressionante com que rapidezessas horas passam.

Dario Fo, na Itália, faz parte do Teatro Coletivo daComuna enele construiu espetáculos que, brevemente, oartista vai apresentar nas cidades industriais do país, todasas vezes para um público nunca inferior a 3000 pessoas,seja num ginásio, num cinema ou numa praça de esportes.

Acabado o show} as pessoas não vão embora, masficam para falar com Dario Fo ou com outros ateres doCcleíivo, Isto também éimpressionante, pois a multidãoo espera para conversar coisas simples, nunca assuntosde alto nível intelectual. Todos conhecem bem Darioatravés de seus programas de televisão e de seus filmes.Éum personagem popular mas que se recusa a cada ins­tante a tornar-se um monstro sagrado e cada italiano quese confronta com ele tem a impressão de encontrar umamigo. E, então, a discussão entre os dois pode nascernaturalmente, com toda a sinceridade.

No TNP, opúblico era, certamente, um pouco dife­rente, mas mesmo assim os parisienses puderam ver ecompreender oque pode ser um verdadeiro teatro popular.

(lomal tio Brasil, 29/1/74).

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PRESENÇA LATINO-AMERICANA resto, a pantomina carecia de cenografia, vestuário, em ""'fi.'" lucia parece seguir arota aberta pelo teatro Expecimenta!

fim, de acessórios. Aênfase recaía brutalmente sobre o de Cali) mas ainda tem muito caminho apercorrer,

NO IX FESTIVAL DE NANCY atar. Foi urn espetáculo extremamente físico) de urna via- Os outros grupos fizeram um papel medíocre elência corporal incomum. Aprincípio, aobra se mostrou alg~ns foram bastante fracos. Com onome deCPN (siglalenta, ritualística, talvez um pouco presunçosa) mas pouco denvada dos nomes dos três membros principais), apre.apouco adureza sádica prendeu oespectador àcsdeira. sentou-se um grupo de uruguaios que realizam estudos deEvidentemente, o espetáculo impressionou) mas foi pre- teatro em Nancy eque, com aajuda de dois colombianosjudicado pelo seu próprio artificialismo. Como nota para- e alguns franceses, ofereceram) em francês e casteíhanoleia) ogrupo deu aconhecer asua organização comunal, . a obra La Voix des Vl1incus, um esforço malogrado em

No nono Festival Mundial de Teatro) realizado em suas amplas atividades de diversos tipos e suas várias tomo do tems da Conquista. Aprojeção envolvente deNancy, na França) de 24 de abril a6 de maio de 1973) publicações, inclusive Teatro 70, que já possui urn res- diapositivos com cenas demasiado turísticas (como Machua cena latino-americana esteve representada por nove peitável tempo de vida. Picchu). prejudicou qualquer potencial dramático que porgrupos que bem poderiam ter sido três ou quatro. ACasa da Cultura, de Bogot~ participou com seu

~4I:t: acaso tivesse a obra. OTeatro Aleph, de Santiago do

Do Brasil veio o Grupo Pão e Circo) com uma grupo de teatro La Candelaria, nome derivado do bairro ~h.ile, apresentou uma série de vinhetas de sátira ligeira)

original montagem de OCasamento do Pequeno Burguês, colonial onde está situado. Apresentaram duas "criações ,..:....,..~

intitulada Gn:fllls. O escasso "humor" que exibiram e

de Brecht, Uma montagem cheia de eaergia, anárquica) coletivas": Nosotros 10sComunes eLa Ciudad Dorada.que, obviamente, não captou a maior parte do público

furiosa, carregada. Cenograficamente barroca em seu es- Aprimeira se baseia numa investigação que ogrupo rea- devido àsua .linguagem peculiar, não absolveu o notório

tilo, com um guarda-roupa bastante elaborado e música lizou para celebrar o segundo aniversário da revolta deamadorismo do grupo. De Cuzco veio oTeatro Campe-

~....' orquestrada, viva emoderna, encenou-se a ridícula cele- sino de! Tio Javier (assim denominado em homenagem" . José Antonio Galán e outros, acontecida em 1871. A

A"F"" bração das bodas, com um ritmo às vezes diabólico, com investigação durou nove meses e abrangeu o estudo daao infeliz poeta Javier Heraud), que fez títeres em quichua

recursos circeuses, de cabaré, de ópera e também do realidade social, política eeconômica colombiana daquelacom interpolações em espanhol. Ê provável que opúblico

cinema mudo (um protagonista marcadamente chaplines- época até hoje. Apeça se desenvolve em 14 cenas cons-do Festival não fosse apropriado para esse gênero de

co). A groíesca cena da divisão do bolo de núpcias, truídas à base de 14 documentos históricos estudados.teatro. Com aobra La Farra, de Rodolfo Santana, parti-

desenvolvida num fundo sonoro de ameaças bélicas, foi Segundo Santiago Garcia, diretor do grupo) e outroscipou sem grande mérito um grupo de Caracas. De Lima

a delícia da platéia. Acelebração se transforma em orgia membros, a intensa investigação que precede a criaçãofoi um mímico notável, Jorge Acufia Paredes) cujo tra-

que, paulatinamente, desemboca num ritual de destruição coletiva, entre outras vantagens óbvias, capacita os atoresbalho, infelizmente, evocou aos franceses a arte superior

~ado-masoquista e, finalmente, no triunfo da morte. Os para a improvisação a partir de certos núcleos ~tuacio-de Marcel Marceau. E do México, foi Marta Verduzco

brasileiros, a julgar por algumas de suas declarações, es- nais. Aobra se desenvolve sem espaventos teatrais nemque apresentou, sem pena nem glória, um monólogo,

colheram essa peça de Brecht pelo espírito de rebelião maiores artifícios, numa evolução narrativa épica comNostalgia de la MlIerte, de Xavier VilIaurrutia.

que encerra contra uma realidade histórica muito sene- cronologia normal, sem altos e baixos mas com certaAimpressão geral de quem anota esses rápidos pará-

Ihante à que reina hoje no país e acreditam, com esse monotonia, especialmente da fala. Orecurso dramático ,...... grafos éque os conjuntos latino-americanos desentoaramespetáculo, ter conseguido um trabalho de 'estética des- mais bem utilizado pelo grupo talvez seja oda pluralidade ;"\,1: em Nancy. Esendo tão numerosos, decepcionaram Mascolonizada, pobre, inferior, oswaldiana, desprovida de épossível que, ainda sendo menos emelhores se eecon-qualquer referência às sacrossantas regras ocidentais.' de papéis desempenhada por cada atol'. Empregam, natu- trassem, entretanto, fora das correntes mais técnicas, mais

Com um espetáculo diametralmente oposto, partici-ralmente, aroupa ealinguagem camponesa da Colômbia, sofisticadas ou simplesmente diferentes das que dão a

pou o Centro Dramático de Buenos Aires, fundado emoque, para aplatéia européia, deu aspecto predominan- tônica em Nancy. Conjuntos como La Candelaria e o

1969 edirigido por Renzo Casali eLiliana Duca. Aobra,temente de costumes. Contndo, os espectadores apreciaram TEC sempre desentoaram ali. E talvez a última razão

Water-Closet, com osub-título de ATortllra, trata de umo valor do trabalho dessa obra documental e apiaudiu transcenda omeramente teatral, osimplesmente aliistico.

homem-engrenagem de uma fábrica, que se converte em generosamente. Talvez seja, cm definitivo, questão de maneiras de. ser,

chefe de outras engrenagens, dirige uma repressão oficial, La Cilldad Dorada trata de uma família camponesa de maneiras de refletir einterpretar realidades diferentes.

6torturado e, finalmente, se reintegra no grupo di: opri- que emigra para acapital em busca de melhores condiçõesmidos e acaba, já com consciência de classe, contra o de vida, mas apenas encontra outras formas da mesmamanipulador-opressor supremo, Com esse resumo do en- "violência" que a cercara antes. Aestrutura émuito se-redo, entregue oportunamente, era fâcil seguir odeearo- melhante àda outra peça etambém aencenação. É claralar do espetáeulo, que era desprovido de texto falado, li intenção de protesto, mas algumas cenas demonstram ,...,.e..,

salvo algumas poucas ordens policiais e uma canção. De um pitoresco um pouco fácil. Otrabalho de La Cande-~f.·';

(Latill AllIcricall Thealrc RcviC1V - 6/2/73). 41

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MOVIMENTO TEATRAL ,.,.,..TEATRO DULCINA Fernando Torres. Com Darlenc Glé-

Janeiro-fevereiro-março11974

ria, Osmar Prado, Cecil Thiré c

Mamãe, PapaiestiÍ Ficando Roxo, Paulo Rangel.

de Oduvaldo Viana Filho. Direção TEATRO GLÓRIAaAnil-Nelson Rodrigues, direção

de Avancini, com Renata Franzi, Ari de Paulo César Perda, com José

Fontoura, Felípe Carone, João Paulo Wilker, Neila Tavares, Sônia Oitici-

Adour e outros. Crimeterapia de Denis Wentworth. na, Nelson Dantase Carlos Gregório.Direção de João Bethencourt, comIracema de Alencar, Mario M~ndon-

TEATRO GINASTICOça, Beatriz Lira e Enio Sant03. TEATRO OPINIÃO

;il:t~ Alegro Desbu1H, de Oduvaldo Via-As Reinações de Monteiro Lobato,

TEATRO IPANEMAna Filho. Direção de José Renato.

de Maria Helena Kuehner, Direção

"'-.. Com André Villon, Berta Loran, Re- Apareceu aMargarida, de Robertode Luiz Mendonça.

~na Viana eoutros. Ataide, com Marília Pcra.

TEATRO BLOCH TEATRO DA PRAIA

TEATRO GLÁUCIO GIL TEATRO MAISON DEaHomem de La Mancha, musical FRANCE

A Gata Borralheira, GasparzfnllO

de Dale Wasserman e Mitch Leigh, Um Visitante do Alto, Reveillon,oFantasma Camarada, Chapcllzinho

supervisão de Flávio Rangel, com Manllal de Sobrcvivência e PequcnoVermelho, Branca de Neve ear Sete

Bibi Ferreira, Paulo Autran, Grande Dicionário da Língua Feminina, deaAmante de Madamc Vidal, de Anões e Qllem Quer Casar com Do-

Otelo, Suzy Arruda eoutros. Roberto de Ataide e Flávio Márcio.Verneuil, direção de Fernando Tor- lU! Baratinha, de Roberto de Castro,

Direção de Aderbal Júnior, com Ari-res Com Fernanda Montenegro, La- produção idem, pelo Grupo Carous-

dê Peres, lara Amaral, Ginaldo debanca, Otácio Augusto e Jacqueline seI.

TEATRO DE BOLSO Souza, André Valli e Hugo Bidet.Laurance.

Aos sábados e domingos: AMar- TEATRO PRINCESAaGenro que Era Nora, de Auri- garida Curiosa Visita aFloresta Ne-

mar Rocha. Direção de AR, com -- gra, espetáculo premiado no FestivalTEATRO MIGUEL LEMOS ISABEL

Glória Ladani, Marcos Weinberg, ). de Teatro Infantil da GB. Com Leo-Olegário de Holanda eRaquel Biase. nil Lara, Manuel Kobachuck. João Aos sábados e domingos: OPa- Um Grito Parado no Ar, de Gian-

Na programação infantil: aFilho·Siqueira eMarilda Kubachuck. lhacinho da Loja ABC, No Mundo francesco Guarnieri. Direção d\~ Fer-

te do Espantalho, Pinóquio oBonecoda Lua. aSoldadinho eaBoneca e nando Peixoto. Com Othon Bastos,

de Pau, Nínguém Segura esse RatoAs Aventuras da Patinha 1irintintim, Marta Overbeck, Fernando Peixoto

e Joãozínho e Maria na Casa da TEATRO GALERIAde Brigite Blair, Washington Guilher- e outros.

Bruxa.me eZdnek Hampl.

Aos sábados e domingos: UelelénTEATRO SANTA ROSAExiste Mesmo, de Ramon Pallut, TEATRO NACIONAL DE

TEATRO COPACABANA pelo grupo O Degrau. Direçio deNelson Luna, música de Ailton Es- COMEDIA A.Dama de Copas e o Rei de

Um Edifício Chamado 200, de .........cobar. Com Míriam Pérsia, Eduardo Cuba, de Tmoschenko Wehbi. Dire-

Paulo Pontes, com Milton Morais. .~Coutinho, Telma Reston e Mário aTrágico Filll de Maria Goiaba- ção de Odavlas Petti. Com Marlene,Roberto. da, de Fernando Melo. Direção de Vanda Lacerda e Emiliano Queiroz.

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Textos àdisposição dos leitores na Secretaria djO TABLADOTEATRO SERRADOR

Greta Garbo Quem Diria Acabonem Irajá, de Fernando Melo. Direçãode Leo Jusi, com Nestor Montemar,Arlete SaJes eMário Gomes.

Em São Paulo

São as seguintes as peças em cartazno 1.0 trimestre de 1974:

Tudo na Cama, com Derci Gon­çalves, no Teatro de Bolso.

Greta Garbo Acabou no Irajá,com Raul Cortez, no Teatro Itália.

As Desgraças de Uma Criança,com Camila Amado, no Teatro An­chieta.

Apareceu a Margarida, com Ma­rília Pera, no Teatro Maria DellaCosta.

oQue mantem o Homem Vivo,com Renato Borghi eEster Góis, noTeatro Ruth Escobar.

Falemos Sem Calças, com ZanoneFerrite, no Teatro Aquarius.

Bonitinha Mas Ordinária, com Mi­riam Mehler e Fregolente no Paiol.

Caiu oMinistério, de França Jú­nior, no TBC.

•.,

Andrade OswaldArrabal Fernando

Barr &StevensCocteau JeanChecov Anton

Drnmmond de AndradeFrança JúniorLabiche EugeneMacedo J. ManuelMachado Maria Clara

Marinho LuísMartins PenaPessoa FernandoQorpo-SantoSuassuna ArianoSynge JM

Tardieu JeanYeats

AMorta................................. 52Pique-nique no Front 54Guernica .. .. .......... ... ................. 50OMoço Bom eObediente 28Édipo-Rei ... .............................. 58OUrso.................................. 29OJubileu"............................... 46Os Males do Fumo 49OCaso do Vestido. .... .. .... .......... .... 39Maldita Parentela 55AGramática 47ONovo Otelo 43Os Embrulhos 47As Interferências 56Um Tango Argentino 57ADerradeira Ceia .. 59As Desgraças de Uma Criança 45OMarinheiro .'..... 50Eu Sou aVida Não Sou aMorte ... .... 45Torturas de um Coração 44Viajantes para oMar ,.............. 48ASombra do Desfiladeiro 51AConversação Sinfonieta 48OÚnico Ciúme de Emer ,.......... 43

Acham-se esgotados os seguintes ns. dos CADERNOS:Do n.o 1/16-19-20-21-22-23-24-25-26-30-31-32-33-34­35-36-37-38-39-40-41-42.

Aqueles que desejarem completar suas coleções, deverãosolicitar com brevidade os exemplares que lhes faltam,pois apenas os CT de 50 em diante poderão ser encon­trados com facilidade. Pedidos para Sílvia Fucs - sere­tária, n'O TABLADO. I

Page 26: 060 - Cadernos de Teatro

Publicações àvenda na secretaria d'O TABLADO

Maria Clara Machado

Plufl oFantasminha(conto) ,.............. 25,00

Como Fazer Teatrinho de Bonecos 12,00

A Menina eoVento, Marroquinhas Fl'llfru, AGata Borralheira eMaria Minhoca (l vol.) 14,00

Pluft oFantasminha, oRaptadas Cebolinhas,Cflapeuzinho Vermelho, OBoi eoBurro,ABl'Llxinha que Era Boa (l vol.) 20,00

OEmbarque de Noé, A Volta de Camaleão eCamaleão na Lua ,.. 12,00

ODiamante de Grão Mogol, Tribobó City c oAprendiz de Feiticeiro ·.··· 18,00

Cem Jogos Dramáticos, de MCM e MartaRosman o • .. • ·.. 10,00

CADERNOS DE TEATRO (número avulso) 8,00

Assinatura anual. . . . . .. .. . . . .. . . . . . .. .. . . 30,00Estas publicações poderão ser pedidas à Secretariad'O TABLADO. mediante pagamento com chequevisado, em nome de Eddy Rezende Nunes, pagávelno Rio de Janeiro, GB. \. 'i'':f{ Impresso por

). i;l;P~.ooCA EDITORA DO LIVRO LTDA.;i,~ Rio de Janeiro. rm .