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%04 6 sN o 1% %04 6 sN o 1% oferecemos segurança eTo8e temos uma elevada função social empresa moçambicana de seguros e. e. A NOSSA CAPA: Luís Cabral em Moçambique Director: Alves Gomes: Redacção: Albino Magiia, António Matonse, Barfolomeu Tomé, Calane da Silva, Carios Cardoso, Luís David, Mendes de Oliveira, Narciso Castanheira, Ofélia Tembe, Xavier Tsenane, Fotografia: -Ricardo kangel, Kok Nam, Naita Usséne, Armindo Afonso (colaborador); Maquetização: Eugénio Aldasse, Ivana Segali; Correspondentes Internacionais: Augusta Conchiglia (Angola) Jane Bergerol (Namíbia, A. Sul): Colaboração Editorial com «Tercer Mundou e «Guardian» (N.Y.); Agôncias: AIM, Prensa Latina; Registo: 001/INLD .- PUB./78; Propriedade: Tempográfica; Endereço Postal: Av. Ahmed Sekou Touré, 1078OA e B (Prédio Invicta) C.P. 2917; Telefs: M691/2/3 Maputo, República Popular "de Moçambique. ] . ... . . . «Eu quero transmitir ao Povo moçambicano, aos militantes da FRELIMO e à Direcção da FRELIMO, as nossas mais calorosas saudações fraternais e os nos sos sinceros votos para que Moçambique seja um Pais maravilhoso, de paz, de prosperidade, ,com que sonham os combatentes da FRELIMO desde os primeiros anos de luta de Libertação Nacional. - Presidente Luis Cabral em fn'revista com um jornalista moçam bicano em Bissau». Página ... ... ... ... 36 «Começa hoje a Campanha Nacional de Alfabetização. Viemos aos Portos e Ca minhas de Ferro para, com a classe operária, desencadearmos esta nova e fundamental batalha. Fundamental, porque o nosso desenvolvimento político, económico, cultural, social e ideológico, depende, em definitivo, da nossa vitória nesta batalha». Página ...... ... I Nota: Por necessidade de alleração da programação desta edição da revista não pudemos inserir nela a continuação da banda desenhada «Escola». Continuaremos a publicála na próxima edição. PÁGINA POR PÁGINA Cartas dos leitores ... ... ... ... Editorial ... .................... Semana a semana nacional ..... Estruturação d, Partido........... Museu da Revolução ............

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A NOSSA CAPA: Luís Cabral em Moçambique Director: Alves Gomes:Redacção: Albino Magiia, António Matonse, Barfolomeu Tomé, Calane da Silva,Carios Cardoso, Luís David, Mendes de Oliveira, Narciso Castanheira, OféliaTembe, Xavier Tsenane, Fotografia: -Ricardo kangel, Kok Nam, Naita Usséne,Armindo Afonso (colaborador); Maquetização: Eugénio Aldasse, Ivana Segali;Correspondentes Internacionais: Augusta Conchiglia (Angola) Jane Bergerol(Namíbia, A. Sul): Colaboração Editorial com «Tercer Mundou e «Guardian»(N.Y.); Agôncias: AIM, Prensa Latina; Registo: 001/INLD .- PUB./78;Propriedade: Tempográfica; Endereço Postal: Av. Ahmed Sekou Touré, 1078OAe B (Prédio Invicta) C.P. 2917; Telefs: M691/2/3 Maputo, República Popular"de Moçambique.] . . . . . . .«Eu quero transmitir ao Povo moçambicano, aos militantes da FRELIMO e àDirecção da FRELIMO, as nossas mais calorosas saudações fraternais e os nossos sinceros votos para que Moçambique seja um Pais maravilhoso, de paz, deprosperidade, ,com que sonham os combatentes da FRELIMO desde os primeirosanos de luta de Libertação Nacional. - Presidente Luis Cabral em fn'revista comum jornalista moçam bicano em Bissau».Página ... ... ... ... 36«Começa hoje a Campanha Nacional de Alfabetização. Viemos aos Portos e Caminhas de Ferro para, com a classe operária, desencadearmos esta nova efundamental batalha. Fundamental, porque o nosso desenvolvimento político,económico, cultural, social e ideológico, depende, em definitivo, da nossa vitórianesta batalha».Página ...... ...I Nota: Por necessidade de alleração da programação desta edição da revista nãopudemos inserir nela a continuação da banda desenhada «Escola». Continuaremosa publicála na próxima edição.PÁGINA POR PÁGINACartas dos leitores ... ... ... ...Editorial ... ....................Semana a semana nacional ..... Estruturação d, Partido...........Museu da Revolução ............

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Xl festival da Juventude ............Zambézia: escoamento d e produtos ... ... .... .. ..... .. .... ...151Jazz em Maputo ................ 34Guiné-Bissau:Entrevista com Luís Cabral ......6 Sobre o PAIGC ................ 41Assembleia Popular ............... 43Projecto da cultura ... ... .. : ... ... 45Batalha da alfabetização Discurso do Presidente Samora ... 48 Desporto federado- entrevista ... 55 Brasil: ressurgimento das 1 u t a soperárias j 51Tempos livres .................. 60Última página ............... ... 64PODE COMPRAR «TEMPO» NAS SEGUINTES LOCALIDADESPROVINCIA DE MAPUTO: Namaacha, Mýmhiça, Moamba, Incoluane.Xinavane e Boane; PROVINCIA DE GAZA: Xai-Xai. Chicualacuala. Chibuto,Cho>wé. Mass;ng r, Manjaco, Caniçado. Mabald'ne e Nharavila; PROVINCIADE INHÂMBANE: Inhambane. Quissico-Zavala. Maxixe. Homoine,Morrumbene, Mambone. Penda e Mabote: PROVINCIA DE MANICA: Chimoio.Espungabera e Manica; PROVINCIA DE SOFALA: Beira. Dondo e Marromeu;PROVINCIA DE TETE: Tete Songo. Angón;ak Mutarara, Zóbué, Moatize eMégoé: PROVÍNCIA DE ZAMPÉZIA: Quelimane, Pebane. G;l. Ile, Magaija daCosta. Namacurra, Ch;nde, Luabo, Alto Molocué, Lugela, Gúrué. Mocuba eMacuse; PROVINCIA DE NAMPULA: Nampulá. Nacala. Angoche. Lumbo,Murrupula, Meconta e Mossuril; PROVINCIA DE CABO DELGADO: Pemba,Mocimboa da Praia e Montepuez; PROVINCIA DO NIASSA. Lichinga eMarrupa. EM ANGOLA: Luanda, Lubango, Huambc, Cabinda. Benguela eLobito. EM PORTUGAL: Lisboa.CONDIÇOES DE ASSINATURA:PROVÍNCIAS DE MAPUTO. GAZA , INHAMBAIEI 5 ANO (52 NÚMEROS)540*O0; 0 MESES (20 NÚME~OS) 47 000; 8 M~SES (5 NÔMEROS> 855.00.OUTRAS PROVINCIAS. POR VIA A*REA. 5' AN (52 NÚMEROS) 1.1705OO; MESES (26 NÚMEROS) 8SO0 8 ME[SESM a 1113 ~DEJROS)»8800. 0 PEDIDO DE ASSINATURA DEVE SER ACOMPANHADO DAIMPORTÂNCIA RESPECTIVA.

TRANSPORTES:«Passageiros em terra e machimbombos vazios»Todos os dias de manhã, encontrando-me numa das paragens da área doRestaurante Ponto Final à espera de um machimbombo para o aeroporto, ondetrabalho, vêm muitos machimbombos da baixa para o aeroporto, vazios, semnúmero nem destino e sem poderem levar ninguém.No meu fraco modo de entender presumo que a estratégia é de irem recolher ogrande número de trabalhadores concentrados nas terminais como Houlene quevêm para a baixa, certo. Mas eu pergunto:

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Se das 6.45 às 7.00 horas não consigo deslocar-me da paragem porque osmachimbombos não me podem levar, quem é o responsável pelo meu atraso? seráque tenho de sair de casa de madrugada a pé para poder estar no aeroporto às17.00 horas? - Ou será que só são trabalhadores da República Popular deMoçambique os que vêm de fora da cidade para a baixa?Passando para um outro capítulo do mesmo padrão, vou afir mar com toda aveemência que os condutores e cobradores dos machimbombos dos S e r v iç o sMunicipalizados de Viação carecem de um ligeiro curso de reciclagem. Ligeiro ocurso, mas com intensivo cumprimento das suas normas.Sabemos que 3/4 destes irabalhadores são de um carácter insensível a quaisquertipos de critica e repreensão, mas contudo cremos que poderão vir a modificarquanto mais não seja por simpatia.Não há um único dia em que eu não veja um machimbombo a arrancar, com umaglomerado de pessoas a entrar, quando só têm ocui2ados os luoares senta-dos (sem ninguém de pé), o que quer dizer está vazio. Os senhores cobradores nãopodem recuar para a parte fron teira do machimbombo (por comodismo suponho)para as pessoas poderem entrar. Se estiver perto da porta, mesmo que vintepassageiros queiram entrar, dali não sai, acabando o condutor por arrancar porqueestão a demorar a entrar.Pelos modos que os cobradores se dirigem ao passageiro, ou porque não traz odinheiro trocado, ou por se demorar a entregar o dinheiro pela sua posição devidoao aperto, dá a impressão de que o machimbombo é dele.- Onde e s t á a consciência destes trabalhadores? - Quando será que vão aprendera respeitar os passageiros?E quanto aos machimbombos que todos os dias partem aqui do aeroporto às 17.00horas exac tamente quando, estamos a sair das portas do aeroporto, não poderãoalterar o seu horário de partida para as 17.05 horas?(Refiro-me aos machimbombos n.* 15 e 22 que a sua terminal é aqui noaeroporto). Será que não sentem o transtorno que é sairmos do serviço às 17.00 esó conseguirmos apanhar um machimbombo depois das 18.00 horas? Os senhoresfiscais!...Só fiscalizam no sentido de descobrirem aqueles que porven tura não tenhampago? Será só esta a sua missão?Tomaz MoianeC.M. AVIAÇÃO GERALMAPUTODISCRIMINAÇÃO RACIAL«Nem todos os pais a incutem nos seus filhos»Li com muita atenção a carta publicada na Revista Tempo n.o 401 de 11-6-78, deDaimo Amade Falibo, na qual /oca a existência de discriminação social, na Escolapreparatória da Maganja da Costa.Essas raparigas de que o companheiro diz, não querem Ialar com os rapazes quevivem "a 3 ou 4 quilómetros, da V i l a, mais adiante, dizem elas que estes sãoboçais, julgo eu que estão erradas. Elas, se bem disseram que os rapazes' quevivem no campo são boçais, não devem saber o verdadeiro significado da palavraboçal, Ora mais adiante elas acrescentam que não querem falar com rapazes do

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campo porque não sabem «SACAR CENAS». O facto de não saber sacar cenas,não tira valor a ninguém. Temos exemplo dado pelo presidente da RepúblicaPopular de Moçambique, Samora Machel, no seu discurso no Estádio daMachava, em 3 de Fevereiro de 1976, data da nacionalização dos prédios derendimento. Em Moçambique, não há elementos neutros seja quem for, mesmoum diminuído físico, vale. No entanto o sacar cenas, não diz respeito à n o s s acultura não nos interessa.Agora digo a si, para fazer criticas construtivas. Diz o companheiro que os paisdas raparigas que têm ideias de anunciar que (aquele rapaz é boçal), são burguesese que engoliram a política colonial; eu iria dizer que não, pois nem todos os paisdas raparigas com ideias semelhantes a estas, são burgueses! Portanto, é deadmitir que haja um ou dois, mas nem todos.Não podemos implicar os país nos erros dos filhos- A maldadeTEMPO W 4 f* pâýa 2

não se aprende mas sim ada-pta-se. Olha que são em númerõ reduzido pais queadmitam sacar cenas às suas filhas. No prologamento das suas acusações diz queaparecem rapazes com sapatos de 50 metros, de tacão que não querem falar commiúda do mato. Esses rapazes estão errados, pois no mato não vivem pessoas, massim anzmais selvagens. Eles não sabem o que dizem ainda não acompanharam ocontexto da nossa revolução, vamos puxar esses companheiros para o bomcaminho, às vezes dizem sem dar conta nas suas conversas.Inácio Silva DambileQuelimane/ZambéziaHOSPITAL DE NAMPULA:«liomens e mulheresno mesmo quarto na mesma enfermaria»No hospital de Nampula, em todas as enfermarias, excepto a da maternidade aosdoentes que baixam por diversas doenças dormem sem excepção de sexos nomesmo quarto. Uma senhora que não me lembro do nome, apareceu neste hospitalpara o efeito de uma operação, depois do preenchimento de papéis para serinternada e ao se dirigir para a enfermaria encara-se com esta situação: ao pedirque fosse internada num ~quarto só de mulheres, o responsável de saúderesponde: Não existe enfermaria ou quarto que não tenha homens com excepçãoda maternidade, em face disso que ela decidisse porquanto não havia outrapossibilidade.A doente face à falta de outra possibilidade decidiu contactar com a responsáveldesse hospitalAo contactar, esta esclareceu:«Não há alternativa visto que o socialismo já chegou nesse hospital central deNampula; ho mens e mulheres podem dormir no mesmo quarto juntos, não háexcepções. Se o socialismo ainda não chegou nos outros hospitais de provínciasaqui já chegou».Acrescentou ainda as antecedentes referentes aos trabalhadores do hospital.Devemos ser simples em todos aspectos para corresponder o socialismo;

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Porém, deixo aos demais colaboradores .para que possam observar o meu textoassim como a definição do que acontece nas enfermarias do Hospital Cen tral deNampula.Sansão Salomão SaturninoNAMPULACASTANHA DE CAJU: «0 processode comercializaçãono tempo colonial»Em muitas zonas do interior do nosso pais a castanha de caju substitui oamendoim. Uma vez que a primeira época da sementeira de amendoim começaem Agosto, cuja a colheita se processa a partir de Dezembro, muitas pessoassemeiam na totalidade o excedente, o que faz com que a partir de Novembro (mêsem que começa a época do caiu) utilizam a castanha para o consumo, à espera dacolheita do amendoim.O cajueiro começou a ser plan tado em grande escala nos meados deste século,pelo que, segundo algumas informações, a castanha naquela altura não se vendianalgumas regiões do nosso país. As pequenas plantações que existiam eram para oconsumo.Quando se iniciou a venda de castanha, esta passou adetem-penhar um papel prepotw-,., te para os camponeses, porque ao longo do anoacumulavam ctvidas, confiando na castanha de caju. Os impostos também fizeramcom que os camponeses dedicassem grande atenção a esta cultura porque ocamponês para pagar os impostos e as contribuições anuais para os chefes dasterras, recorria à castanha.A venda de castanha era feita da seguinte maneira:Os camponeses apanhavam a castanha e vendiam aos canti neiros em troca deprodutos alimentares e vestuário. Raramente os cantineiros davam dinheiro aoscamponeses, sempre alegavama falta de dinheiro e obri gavam os camponeses atrocarem a sua castanha p o r produtos. Era nesta altura do ano que os cantineirosauferiam fabulosos lucros, e conseguiam vender a maior parte dos produtos quedurante o ano não tinham sazda.Muitas vezes não era utilizada a vatança na venda da castanha, mas sim latas deaproximadamente quinze quilos e meio, à razão de trinta e cinco escudos cada.Depois esse preço auTveIn tava ou baixava cn/ orme a abundância da castanha e asituação das chuvas. Nos anos em que a produção não se fazia sen tir em grandeescala, os preços aumentavam, mas nunca atingiam o dobro dos trinta e cincoescudos. Nos anos de muita pro dlção e muitas chuvas, era muito raro manter ostrinta e cinco escudos. No fim aa época des te produto, os cantineirosaumentavam cerca de quarenta a cintuenta por cento, mas acontecia que nessaaltura o camponês já tinha vendido a maior percentagem da castanha parasatisfazer as suas necessidades (impostos, dívidas etc).A partir de 1972, os cantinei:ros começaram a competir na compra deste produto,chegando a pôr os seus carros à dispo-TEMPO N. 405-- pág. 3

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sição dos camponeses que se en contravam a longas distâncias das cantinas. Cadacantineiro tinha os seus clientes em cada zona. Semanalmente iam transpor tar oscamponeses com as suas mercadorias para as cantinas. Essas competições eramacompanhadas de propaganda e promessas falsas feitas aos camponeses,sobretudo no que diz respeito aos preços. Alguns comerciantes baixavam umpouco os preços para conquistar mais os camponeses, enquanto o u t r o s davamgratuitamente fósforos. rebuçados e facilitavam o crédito a alguns camponeses.Utilizando a máscara de amigos dos camponeses, os cantineiros não faziam notarque o transporte era pago. A lata que o camponês servia de medida na sua casa,não correspondia à do cantineiro. Para encher lata do cantineiro era preciso umalata e meia do camponês. Nos dias que utilizavam a balança, o ,camponês nãoparticipava, nem tinha possibilidade de saber o preço de cada quilo. Era umsimples espectador. Ã medida em que despelava a sua castanha na lata docantineiro a castanha que espalhava no chão, revertia a favor do cantineiro, ocamponês não tinha voz activa. São esses restos que pagavam o transporteconsiderado gratuito na altura da recolha dos camponeses. Depois de vender acastanha,o camponês começava a olhar para as prateleiras da cantina a fim de escolher osprodutos que necessitava. A lata que o cantineiro utilizava para medir os produtosque o camponês necessitava (milho, amendoim, feijão, mapira) era muitodiferente em relação à lata da compra da castanha. Esta era aberta.enquanto que aquela era deformada.A partir de 1973, a competição atingiu grandes proporçõesTEMPO N.° 405- pág. 4Os pequenos grossistas começaram a comprar directamente este produto aoscamponeses. Estabeleciam os seus postos de compra nas casas dos chefes dasterras. Os cantineiros começaram a perder os clientes, pois, estes viam nosgrossistas a possibilidade de trocar por dinheiro a sua castanha, o que nãoacontecia sempre com os cantineiros.Os preços tambem eram lavoráveis em relação aos praticados pelos cantineiros.Este sistema d os grossistas não durou muito tempo na medida em que a partir de1975 o sistema de comercialização mudou.No preço por lata praticadopelos cantineiros há a salientar o seguinte. Os trinta e cinco escudos eram paraquem quisesse trocar por dinheiro e quem quisesse por produto, davam quarenta ecinco escudos.Estes dados referem-se a algumas localidades do distrito d e Morrumbeneprovíncia d e Inhambane, foi por isso que ao longo do artigo evitei generalizar asituação.A terminar queria vos informar que não fiz nenhum comentário sobre a venda dacastanha, m a s simplesmente f a l e i da venda.Firmino RafaelMAPUTOMOTOS:«Porque não se pode transportar duas pessoas?»

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Este problema já há muito que vem sendo focado na imprensa es c r i t a,naturalmente com o objectivo único de o mesmo ser solucionado.O que acontece porém é que as multas sucedem-se. Quero me referir àsmotorizadas de 50 CC que trazem da Fábrica quatro pisa-pés, o assento concebidopara levar duas pessoas e a própria máquina com potência para tal e que afinaluma lei colonial, caprichosamente impede que viagem duas pessoas.Como é do conhecimento geral o problema de transporte é um dos que mais p r ob l em a s acarreta, pois não temos ainda meios que nos possibilitem umtransporte equilibrado, isso mesmo ao nível do país.Não discordamos que se apliquem multas quando a motorizada leva um(pendura), já que a lei que assim o determina ainda não foi revogada, mas que searranquem cartas pelo mesmo facto como aconteceu ao signatário, parece umanovidade. Digo novidade porque será talvez uma nova lei que eu ignorava ou queme tenha passado despercebida. Sendo assim, então estou ultrapassado.Mas sinceramente acho que es te assunto merece a atenção de quem de direito,uma vez que o transporte é um problema que acarreta problemas.AFONSO TINGAMAPUTO

NAMORARAS CATEGORIAS«Uma resposta»Com efeito foi ao ler o n., 396 de 7/5 deste jornal que eu deparei com um assuntoque é deveras importante para a juventude e não só, assunto esse que se encontranuma das colunas «Escrevem os leitores», a que eu daria o título de «Namorar asCategorias».Efectivamente, este problema de moças namorarem só aqueles que têm dinheiro,legal ou ilegalmente, aqueles q u e possuem um bom carro, os comandantes dosnossos corpos militares e policiais, aqueles q u e têm títulos «Sr. Doutor, Sr.Engenheiro, etc..., é um problema que não só se passa ai em Moçambique como oautor desta carta dá a entender, mas em qua se todo o mundo, e fundamentalmentenas ex-colónias portuguesas (Angola, Moçambique, Guiné, S. Tomé, etc).Antes do triunfo da revolução este problema já existia, e naquela altura tinha a suaexplicação e compreensão, pois era tal a discriminação social que muitos paisviam a sua garantia, no casamento ou amiganço de suas filhas com o Sr. Dr.fulano porque este tinha título e faria respeitar a sua mulher ao mesmo tempo que,e de um modo indirecto, incutia o respeito pelo pai de sua mulher, seu sogro. Paraalém disso, estava assegurada a estabilidade financeira de sua filha, e é claro, asua também. Mas note-se que isto se passava na era colonial, portanto quando oregime era de discriminação social. Mas agora que a revolução triunfou e ogoverno é popular, portanto do povo, será que a explicação pode ser a mesma?Seráque estas «mocinhas» que só se dão ao luxo de só se «atarraxarem com «Gente deposses» não sabem o que é uma revolução popular? Não sabem para que se formaum governo popular, ou o que ele representa? Pois bem, se os camaradas mepermitem, eu gostaria de poder dizer-lhes, a estas mocinhas, para quem e para o

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que serve um regime p o p u 1 a r democrático, dentro dos meus fracosconhecimentos políticos:Num Governo Popular não há já discriminação rácico-social. Os homens sãoiguais. O Doutor Bisturi, é igual ao senhor Sovela. A única diferença que há, éque um é médico e o outro é sapateiro. A anatomia é e sem pre foi a mesma.Quanto a regalias, não há diferença nenhu,-' ma entre eles porque ambos têm omesmo direito e as mesmas obrigações perante o Povo e perante a Nação. Umadas aspirações do povo revolucionário é acabar com diferença de classes. Acabarcom a diferença entre os «Literatos» e os «Matumbos», entre «As gentes deBensu e «Os monangambas». (1)Será que se a filha do doutor Bisturi casar com o filho do Sapateiro Sovela vaiandar vestida de cabedal? Vai dormir em cabedal? Ou será que vai deixar depensar como um animal racional e começar a pensar como o animal que nos dá ocabedal? Logicamente não. Por isso qual é o mal qe tem casar com uma pessoaque tem os pais no campo e não na cidade? Porque preferem as nossas jovens serhumilhadas pelo filho do doutor ou pelo comandante que têm quantas mulheresquerem e fazem delas objectos de satisfação sexual, e rejeitam o filho docarpinteiro ou do camponês que ganha o seu pão com muito suor do seu rosto, eque arde de paixão por elas?Já pensou que quando um dia o dinheiro do filho do doutor acabar, ele não terátanta facilidade em trabalhar como o faz o filho do camponês. E tu, «Doutorzinho,já pensaste que quando o teu dinheiro acabar elas vão te deixar e procurar outra»«burra?»Bom, para os que não entenderam ainda porque escrevo esta carta, gostaria dedizer-lhes mais, que é de acordo ou em continuação do exposto no n.* 396 de 7-5-78 pela camarada Vitória das F.P.L.M. (Destacamento Feminino)-MAPUTO«Amor e Categorias,,.Lembrem-se do ditado «Amar é sofrer», e que se dois jovens se amam, este amornão deve ser barrado ou destruido pela geração deste ou daquela. Devem ser osdois seres amados a fazer o seu mundo de felicidade mesmo partindo do nada.1 - Monangamba =filho de contratado ou escravo.José de Jesus PauloLUANDAENGAJEMO-NOS JOVENS DE TODO O MUNDO«Um apelo que vem de Angola»Escrevo para vós Jovens como eu, sobre a participação da Juventude no XIFestival Mun dial da Juventude e Estudantes de todo o mundo, que terá lugar emHavana, Capital de Cuba.Antes quero apresentar a todos as minhas Saudações Revolucionárias..É de e x t r e m a importância histórica esse Festival. É mais um golpe queaplicamos ao inimigo de todos os Povos que lutam para a conquista da suaýndependência.Somos nós jovens de todo o mundo que devemos contribuir para esse grandiosocenário.TEMPO , . 405- pág. 5

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Somos nós jovens, que chamados a desempenhar um papel decisivo edeterminante na trans formação das Sociedades Capitalistas em SociedadesSocialistas, devemos lutar contra o imperialismo mundial. Se este ano se festeja oXI é porque já houve muitos anteriores. Tais Festivais surgiram depois daPrimeira Guerra Mundial. Foi no mês de Novembro de 1945 que, pela primeiravez jovens representantes de 63 Países se reuniram na çidade de Londres, Capitalda Grã-Bretanha, onde se decidiu a criação da «Federação Mundial da JuventudeDemocrática,», e daí acordou-se a elaboração de Festivais Mundiais da Juventudeonde viriam a participar mais jovens ainda, de quase todo o mundo. É o querealmente vemos. Toda Juventude do mundo estará em Havana.O grande objectivo destes Fes tivais é a manutenção da Paz e A m iz a de de todosos Povos amantes da Liberdade. Servem também, estes Festivais, para rompercom as restrições impostas pelo imperialismo, que sempre tenta, a todo momento,romper o s laços d e amizade que unem os Povos Oprimidos.É através dessa grande manifestação que ganhamos experiência, coragem e,aptidão de enfrentar as hordas assassinas do imperialismo, que sempre tentoucorromper as Organizações Juvenis.Será uma grande actividade em que os jovens conhecerão a* realidades históricasdo s nascentes Países S o ci a lis t a s do Mundo.Neste ano de 1978 comemora-se. o XI Festival da Juventude e Estudantes, ondeparticiparão Países Africanos recentemente independentes, Países estes queemergiram das ruínas da brutalidade fascista e, enfren-tam com firmeza as contínuas violações e agressões do imperialismo.Em Havana, os Jovens Progressistas trocarão impressões sobre as causas queunem as mais variadas gerações sob uma só Bandeira, a Bandeira daSOLIDARIEDADE, DA PAZ E DA AMIZADE.Damião A. Carlos OliveiraR. P. ANGOLAREPARAÇÃO DE RÂDIOS: «Burla nas pequenas oficinas»Escrevo para falar de estabelecimentos que reparam rádios, gira-discos.No dia 21 de Maio de 1978 fui entregar o meu aparelho num estabelecimentodesignado pelo nome de "Rádio Central» sito na Av. Josina Machel em Maputo.Eles garantiram-me o levantamento do aparelho no dia 30 do mesmo mês. Foi nodia 30 que ao chegar dirigi-me ao balcão e contactei com a pessoa que estava deserviço relacionado com o meu aparelho. Ele disse-me:- O aparelho está pronto mas deves pagar 1200$00.- O que é que não estava em condições? Perguntei:Ele respondeu:- Arranjei o girador e o amplificador.Eu contente com o trabalho que fizeram pedi que fizessem uma experiência, masfiquei mui to admirado na medida em, que o aparelho continuava na mesma comonão entendo nada daquele serviço, disseram eles:- A sua agulha camarada é velha por isso está gasta.- Não, a agulha do meu aparelho foi comprada à bocado e julgo que vocêsmudaram e na realidade mudaram!- A sua agulha não foi mudada! - disseram eles:

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- Então, mostre-me a agulha que vos entreguei com o aparelho.Mas, depois de uma longa discussão mudaram a agulha e puseram outra agulha, eeu regressei a casa. Passados dias quando lá fui encontrei de novo o aparelhodesmontado. Não se importam de me esclarecerem porquê desmontaram de novo?- fiz eu essa pergunta, e, não me responderam conforme a pergunta, só medisseram:-Como nós conhecemos o seu sector de trabalho não se mace por cá vir a gentemandará logo que o aparelho fique pronto. Então, eu paguei a minha despesa edeixando lá ficar o aparelho, ao resolver sair dessa oficina o caixa disse:- Não te preocupes Zunguza da sua despesa eu ajudarei pagar 50%. Fiquei muitoadmirado ao ouvir.Agora pergunto aos leitores, como posso considerd-los? Façam favor de meajudarem como chamaremos estes senhores? Qual é o nome que merecem?Orlando L F. ZunguzaHotel Turismo (Maputo)TEMPO N. 405- pág. 6

MILANGE:«Correspondência sempre. atrasadae falta de assistênciana linha telefónica»Estou nesta Província da Zam bézia desde Janeiro do ano em curso, sendo um dosmoradores do distrito de Milange. Segundo as exigências das minhas tareias nestedistrito, tenho deslocado a outros distritos tais como Mocuba ou à capital daProvíncia,Durante estes percursos tenho observado um grande relaxamento pela parte dos(CTT) de Milange. Relaxamento esse que afecta em dois aspectos além dosdemais camuflados.1.0 A falta de assstênca na linha telefónica entre Namacurra a Milange, pode-secom certeza percorrer alguns kms ao longo da estrada, com o fio telefónicoinundado nos capins. E, quando queremos uma comunicação urgente para foradeste Distrito, o telefone mal ouve-se. Ora! a este ponto, precisamos muitaatenção, porque ainda pode tecnicamente. aleoar'se situacãoatmosférica. A este leitor quem tentará apresentar este argumento, custar-me-ácompreen der antes que seja assistido aquele meio de comunicaçãosemiabandonado. Os assistentes destes serviços, nem poderão polir nos alegandoa falta de material que é a palavra mais fácil a expressar, nós não estaremos deacordo porque trata-se de postes de estacas que são cortadas nas mesmas florestasonde o fio encontra-se arrastando o solo.2.' É o caso das correspondências que têm levado muitos dias de caminhos .para odestino ou recepção. Tenho por exemplo a esse caso: foi depositada uma carta emMaputo, carimbada 5.5.78, tendo chegado a Quelimane 8.5.78 e recebi-a emMilange 17.5.78. Portanto 3 dias de Maputo a Quelimane e 10 dias de Quelimanepara esse destino. As carreiras dos (CFM), vêm duas vezes por semana, isto é,duas vezes em 7 dias e que as mesmas são responsáveis pelo transporte de malasdos Correios.

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Alguém destes serviços poderá me esclarecer onde têm estado estascorrespondências que sempre nos aparecem muito atrasadas? Será então a talburocracia que por mais que a combatamos ainda continua a persistir em cer tosserviços do Estado? Não chego de entender nada apesar de pôr a minha cabeça afuncionar forçosamente, fico na mesma.Queremos no entanto, que o órgão máximo destes serviços, em particular nodistrito de Milange, adoptem uma forma de trabalhar de modo a satisfazer amaioria esmagadora e boa conservação dos materiais de trabalho.Armando Macksene ChipaneMILANGE - ZAMB.ZIA1'RECTIFICA ÇAONo número especial da revista TEMPO .dedicado à visita presidencial a algunspaises da Ásia e Europa, e no que diz respeito aos dados geográficos e politicossobre a República Popular De mocrática da Coreia foram impressos vários erros,que passamos a corrigir: Superfície. 220.791 km2; População: 50 milhões dehabitantes; Situação Geográfica: Península da Coreia, no Oceano Pacífico entre omar Amarelo e o mar do Japão com fronteiras ao Nprte com a URSS e R.P.China. A data da fundação da RPDC é' 9 de Setembro de 1948 sob a direcçâo doseu Presidente e Secretário Geral do Comité Central do Partido do Trabalho daCoreia Kim 1i Sung.Na página treze fala-se «das duas Coreias» o que não corresponde à realidade daluta do povo coreano, que luta desde longa data para a reunificação da Coreia.dividida na altura da Independência. «Mantemos a orientação constante emrelação à reunificação independente e pacífica da Pátria dividida», como se afirmana política interna da RPDC. Igualmente na página quinze surge a data 1953,onde na realidade devia constar a data 1947.TEMPO N. 406- pág. 7m * - .. . .

editorialQuem falasse com furplonários da única Embaixada moçambicana e perguntassequais os assuntos que lhes eram colo cados em maior quantidade, recebianecessariamente a resposta que nós mesmos ouvimos por duas vezes: «é oproblema das pessoas que querem voltar! para Moçambique».Há pouco mais de um ano porém e principalmente ao nível dos centros -urbanosem Moçambique, os principais temas de discussão, tinham por base essa tremendacorrida oportunística que um pequeno grupo de pessoas fazia a mudar denacionali dade. O seu objectivo era o de gozar o estatuto de estrangeiro emMoçambique para negociar moeda no «mercado negro», gozar o estatuto decalu:ziar abertamente as medidas governamentais sem ser punido, ou preso.Como em qualquer país do mundo um cidadão estrangeiro não pode gozar esteestatuto, e querendo-o gozar está sujeito à punição que se dá a qualquercriminoso. E, o que acontece a um estrangeiro criminoso em qualquer país é serdetido temporariamente e expulso ou entregue às autoridades do pais do qual temnacionalidade.

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A medida tomada a 16 de Março do ano passado pelo Comité Político Permanenteatingiu este tipo de estrangeiros vivendo em Moçambique. Foi uma medida nãopara punir pessoas só porque tinham mudado de nacionalidade - como o tentaramveicular certos órgãos de imprensa ocidentais -, mas para punir indivíduos quecometiam crimes.O .que aconteceu entretanto foi a «tragédia», a tomada de consciência por partedeste pequeno grupo de pessoas. Algumas cartas chegaram até nós e por elas secompreendia todo esse arrependimento Noutro país, as coisas ficariam comoestavam- a lei é lei, o que ela diz deve-se cumprir.Existe contudo em Moçambique uma tradição tremendamente humana que aguerra popular criou - a política de clemência.Foi a clemência feita em relação à vida dos soldados portugueses aprisionados.Foi todo esse trabalho de consciencialização feito pela FRELIMO durante a LutaArmada para explicar às populações que o soldado português uma vez capturado,uma vez sem arma, já não era opressor, era parte -do povo amigo de Portugal.Moçambique nasceu e mais uma vez veio a clemência em relação aos que tinhamcometido crimes de guerra - Siman go, N'Kavandame, Joana e os outros estãovivos, não foram fuzilados.Ao contrário de tantos países avançados, superdesenvolvidos países semanalfabetismo, em Moçambique não se esperou para se aprender que a pena demorte não deveria existir.Agora uma vez mais, a política de clemência veio beneficiar este grupo queontem, há um ano apenas, vendia a sua Pátria a troco de um passaporte qualquer,oua troco de uma meia dúzia de insultos contra a Pátria que agora reconhecem serrealmente a sua.TEMPO N. 405 - pág, 8

SEMANA A SEMANA___ ______CLEMENCIA PARA EXPULSOS DEMOÇAMBIQUE* Comunicado da presidência da repúblicaForam autorizados a regressar ao País oitenta indivíduos que tinham sidoabrangidos pela me dida de expulsão da República Popular de Moçambique,determinada em 16 de Março de 1977 pelo Comité Político Permanente daFRELIMO. por terem renunciado à nacionalidade.A autorização, concedida pelo Presidente da FRELIMO e Presidente daRepública, surge «na passagem do terceiro aniversário da proclamação daindependência e dentro da tradição da política de cdemência» da vanguardarevolucionária do Povo moçambicano.É o seguinte, na íntegra, o texto do Comunicado da Presidência da Repúblicadivulgado no passado dia 1, em Maputo:«Em 16 de Março de 1977 o Comité Político Permanente determinou a expulsãoda República Popular de Moçambique dos moçambicanos originários querenunpiaram à nacionalidade por recusa ao Poder Popular e desprezo à nossaIndependência ou por mero oportunismo económico.

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De acordo com essa justa medida não teriam mais lugar na nossa sociedade osindivíduos que se tinham transformado em activos agentes de desmobilização donosso Povo., veiculando toda a sorte de boatos, calúnias e propagandareaccionária, escudados na pretensa impunidade do seu novo estatuto deestrangeiros. Não teriam mais lugar na nossa sociedade os vende-pátria, aquelesque trocavam a nacionalidade moçambicana por uma que lhes desse a faculdadede transferir dinheiro para o estrangeiro - faculdade essa que na maior parte doscasos era oferecida a terceiros a trocn de altas percentagens.A independência do nosso Pais, conquistada com inúmeros sacrifícios através deuma luta dura que se estendeu por várias gerações ó o valor mdis precioso para onosso Povo. A cidadania é o título do nosso orgulho, da nossakdignidade. Ela nãodeve ser objecto de negóci-o. Ela não deve ser insultada, particularmente porquem, nacional ou estrangeiro, viva nonosso País, na terra que nós libertámos.Logo quando da publicação da decisão do Comité Político Permanente houvecentenas de indivíduos abrangidos que requereram a suspensão da aplicação damedida de expulsão para os seus casos.Na clara demonstração do carácter pouco sério da maior parte dos casos derenúncia da nacionalidade e em comprovação do que já se referia na própriaresolução do Comité Político Permanente o facto de a maior parte dos individuosnão terem quaisquer vinculos ou identificação com os países por cujanacionalidade optaram, a Embaixada da República Popular de Moçambique emPortugal tem vindo a receper inúmeros pedidos de reaquisição da nacionalidademoçambicana e regresso à República Popular de Moçambique, agora reconhecidacomo Pátria longe da qual esses individuos declaram não poder viver.Muitos dos requerentes manifestaram o seu arrependimento, faziam a desistênciado pedido de renúncia e provavam ter agido sob pressões familiares e porimpreparação política.Em muitos dos casos apresentados a aplicação da mýdida de expulsão causousérios problemas familiares e morais, com reflexos sobro inocentes,nomeadamente menores e pessoas idosas, cujos interesses importa proteger.Porque o objectivo essencial da medida era a valori zação dos sentimentospatrióticos e a moralização da nossa sociedade - foi em muitos casos concedida apermanência temporária na República Popular de Moçam bique. As listas dosindivíduos beneficiados por essa decisão foram oportunamente divulgadas.Na passagem do terceiro aniversário da proclamação da independência e dentroda tradição da política de clemência, o Presidente da FRELIMO e Presidente daRepública autoriza o regresso à República Popular de Moçam bique eeventualmente retomada da nacionalidade moçambicana a o s individuos abaixomencionados:Maria Luisa da Conceição Baronet. José António Abrunhosa da Silva MenezesCabral; Zarina Tayob Omar; Silvino Fernando Pissarra Ramos; Fernando CostaRodrigues Ferreira; Luís Maria Fernandes; Roberto Vasconcelos da ConceiçãoAzevedo, Hermí nia Claudina da Silva Azevedo. Piar Aly Abibo Gulamussene;Nurbano Momade Ussene Nassar; Cahiro.-Nissá Jafar: Manuel Coelho Maia;

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Maria Teresa de Jesus Pinho Pereira Maia; Maria Delfina Pinto Leal; MaimunaMahomed Jalá. Asaraf Ali Mohamed Salé: Celestino José Xavier da Barca; JúlioTavares Rosa Alfredo; Maria Helena Mega; Wong Pack Honq; Elsa FernandesGil. Lisete Carolina Fernandes Gil; Amélia Monte. Laura Augusto Gomes; MariaHelena; Maria José Carriére de Campos Lima Machado, Teresa RodriguesBarbosa; António Correia, lida Francisco de Barros Correia. Sara de BarrosCorreia; Ofélia de Josefa Rita Correia, Afrodite Aspácia Papucidas Caldeira;Hamida Banú Calú Issufo; Frederico Peter Cletodoulou; Maria Beatriz Pereia dosSantos; Manuela Adriano de Sousa. Joaquina Maria Soares. Mário Luís deFaria Leal; Gulamo Mohamed Jussub; Romana Mussá Amade; Maria EduardaMorgado Simão Clemente; Michaque Cardiga Timóteo Pfumo; Maria IsabelLopes de Azevedo; Marília da Conceição Dias. Lizete Perpétua de AlmeidaVentinhas; R u i Pinto d e Abreu; João Luís Cruz Carriço; Taibo Amade Issimail;Nurbay A m a d e Issimail; João Carlbs da Silva Ornelas de Mendonça; SaritaLubrino; Naline Prengy. Máximo Prengy Morar; Alima Mamade; Alexandre deJesus Antunes; Maria Eduarda Salgado Antunes de Sousa; Rita Vicente Ribeiro;Maria Luisa Correia Serras; Maria do Céu Marques dos Santos; Marcela dos dosSantos Pedro; Maria Gabriela Vidal Seixas Ferreira Mamede; Maria Ivone NunesRibeiro; Racidabanu Abubacar; Maria Eugénia Sirmões; Laura da Silva; MariaChang. Maria José da Graça Lemos; Marlia Eduarda de Jesus Teló; Maria TeresaMarques Martins Ferreirinho; João Carlos Martins Ferreirinho; Lourdes Delgadoda Silva. Rashida Aboobacar Juma; Cândido Figueiredo; Leonor MariaAbrunhosa da Silva Teles Cabral; Abdul Magid Rentula; Zubeida EbrahimAmid; 'Rosa Maria da Costa Xavier e Meneses; Maria de Lurdes Duarte Colaço eRashida Aboobacar Juma.Estes indivíduos deverão contactar a Embaixada da República Popular deMoçambique em Portugal dentro do ,prazo de 15 dias a partir da data do presentecomunicado».TEMPO N., 405-- pág. 9

,ANA A. SEMNOVOS EMBAIXADORES EM MAPUTOO Presidente da FRELIMO e Presidente da República Popular de Moçambique,Samora Machel, recebeu na manhã do dia 27 do mês passado os Embaixadores deseis Países da África e da Europa, que lhe apresentaram as suas cartas credenciais.O Chefe de Estado moçambicano recebeu primeiramente o Embaixador daRepública Socialista da Albnia, Desnik Kela, e em seguida os Embaixadores daRepública Unida dos Camarões, Hamana Dicko, da República do Zaire, Banda N.Larity, da República da Áustria, dr. Franz Pala, da República do Gana, Major-General Joshua M. Jiamidu. e da República do Kénia, Ochieng Adala. Asimaggns referem-se às cerimónias, pela ordem mencio tda, ao alto. e em cima daesquerda para a direita.CONSELHO DE MINISTROS DA OUA DISCUTE MANOBRAS DOIMPERIAUSMO0 Joaquim Chissano partiu para Cartum

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O Ministro dos Negócios Estrangeiros de Moçambíque, Joaquim Chissano partiude Maputo no passado dia 3, com destino à capital do SuCo, Cartum, onde vaiparticipar na reunião do Conselho de Ministros da OUA que prepara a Cimeirados Chefes de Estado a realizar brevemente.O titular da pasta dos No- em Africa, durante a reunião gôcios Estrangeirosprestou ,dp Conselho de Ministros pardeclarações à Informaçã4, d tiularme e asmanobras immomentos antes da sua par- perialistas parar recolonizar o tia tendoafirmado q e se, Coninentq = Com efeito verifiprovê a discussão de ue ti ýumIaumento cresce ite,tão relacionadas com !ta .1da litertZnção imperiali t' tuação global que pre alecfc o o jectivo de destruir TEMPO N. 405- pág jias revoluções africanas, os movimentos de libertação e a vontade dos povos. «Éexemplo disso a intervenção francesa e a criação da chamada força interafricana».Para além das questões politicas como os conflitos entre países africanos, serãodebatidos pontos relacionados com a cooperação económica, cultural e científica,disse Joaquim Chissano.Ao referir-se à questão do reconhecimento do MPAIAC, o chefe da diplomaciamoçambicana Qfirmou: «Nós pensarilos qu ieurl povo se põe de pé!6 luta Ipelasua libertação é porque devemospensar no direito que esse povo tem de se libertar e encontrarmos meios desolucionar o. problema.» Assim., uma vez que o MPAIAC já demonstrou existiruma luta de libertação nas Canárias, este problema deve ser discutido tendo comoponto de partida que o Povo daquele Pais deve libertar-se.Sobre o problema do Saha4a, Joaquim Chissano, disse ter pedido à OUA, ainscrição dessa questão na agenda de trabalhos., pois, trata-se também de umadescolonização. «A Africa deve tomar uma posição muito clara em relação aoproblema do Sahara, ou então mostrar a sua incompetência e a sua incapacidadede resolver o problema, deixando que seja o Povo do Sahara a fazê-lo» frisou oMinistro dos Negócios Estrangeiros que acrescentýu: «Nós estamos prontos 4apoiar o Povo do Sahara»>

Joaquim Chissano, acusou ainda o imperialismo de ser responsável pelosfracassos verificados na resolução do problema do Sahara.A respeito das Ilhas Comores, o Ministro afirmou que a questão fundamental quese coloca, é a da defesa da sua integridade territorial, acrescentando que sedesconhece se algum país levantará o problema do golpe de Estado.Finalmente, Joaquim Chissano informou que serão as-suntos de destaque a ques.tão do Zimbabwe, Namíbia e >%rica do Sul, o quesignifica que será amplamente discutido o relatório do Comité de Libertação.«N 6 s continuaremos a apoiar a luta de libertação levada a cabo pela FrentePatriótica do Zimbabwe, apesar de apoiarmos as discussões na base das propostasanglo-americanas.» _ concluiu.eEXPULSO DO PAISAGENTE DA PIDE/DGS

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No cumprimento das suas tarefas de vigilância contra as acções reaccionárias quevisam atingir o nosso Estado de Operários e Camponeses, as forças de Defesa eSegurança da República Popular de Moçambique detiveram para averiguações,após o que foi expulso, um indivíduo que esteve comprometido com o aparelhorepressivo do poder colonial-fascista no nossoPaís.Trata-se de Domingos José de Castro, cidadão português que vivia há muitos anosem Moçambique onde, para além de ter sido agente da máquina repressiva dapolícia politica do colonial-fascismo, PIDE/DGS, também foi correspondente doseu jornal «Renovação», órgão de repressão ideológica daquela sinistraorganização. Escrevia também para a agência de informação do colonialismo,U'NI, e era correspondente do jornal «Diário», órgão de informação daarquidiocese da então cidade de Lourenço Marques, a quem cabia a tarefa de, àluz do «Evangelho», defender a ocupação colonial-fascista do nosso País.Domingos José de Castro foi detido na Província de Nampula devido acomportamentos muito estranhos que ameaçavam a necessária estabilidade daordem política-social do Pais, a caminho da edificação da Sociedade Socialista.Para além das suas acções presentes, que estão ainda a ser alvo de aturada análise,Domingos de Castro esteve directamente implica-do, nos últimos anos da dominação colonial-fascista, no processo que culminoucom a expulsão do Bispo de Nampula, Manuel Vieira Pinto, figura que -se tornoqperigosa para o poder então existente e a cuja expulsão também esteve ligada aIgreja Católica, através do seu arcebispo de então Custódio Alvim Pereira,igualmente agente da PIDE/DGS.Em fins de 1973, princípios de 1974, o regime colonial-fascista apertou o cercoque mantinha contra Manuel Vieira Pinto, pelas posições que vinha tomandocontra a guerra colonial de agressão dirigida contra o Povo moçambicano em quese enquadra a publicação do texto «Repensar a Guerra» e a sua solidariedade paracom o texto dos padres colombianos da sua diocese, «Imperativo deConsciência».Dado que estas posições se tornavam incomodativas para o poder colonial-fascista, era necessário montar uma campanha para mostrar o desagrado dapopulação de Narn, pula (entenda-se pessoas directa ou indirectamentebeneficiadas com o regime de então) em relação a essas posições assumidas porManuel Vieira Pinto.É aqui que Domingos de Castro começa a ter uma tarefa ao serviço dos seuspatrões fascistas, fazendo parte de um grupo que actua em Nampula,superiormente manobrado pela PIDE/DGS, a que não estão estranhos os serviçosmilitares, e o sector reaccionário da Igreja Católi-ca. Este grupo está ligado ao então Chefe do Estado-Maior do exército colonial,Orlndo Barbosa, através de Osório de Castro, um advogado colonialista quetambém.esteve implicado nos acontecimentos que desestabilizaram aquelaProvíncia, em mados de 1974, com o apoio de Joana Simeão.Em fins de Março de 1974, Domingos de Castrõ"começa a distribuir em Nampulae posteriormente em Lourenço Marques uma fotografia do Bispo de Nampula,com as seguinte palavras: «Bispo d Nampula/VEIRA PINTO/Fa.migerado

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Traidor à Pátria/Indesejável em território Português/VIVA PORTUGAL UNO EINDIVISIVEL».A distribuição de fotografias como a referida e panfletos, seguem-se acçõesdirectas contra Manuel Vieira Pinto e outros padres progres-sistas, como telefonemas provocatórios, aeiaças de morte e manifestaçõeshabilmente montadas, para mostrar aquilo a que chamam o «desagrado dapopulação de Nampula».Nesta campanha, que culmina em 14 de Abril de 1974 com a expulsão deMoçambique do Bispo de Nampula, Domingos de Castro teve o papel de agitador,onde para além da distribuição de planfletos e fotografias, escreveu textos para osvários órgãos de informação de que era cor respondente, defendendo os valores depoftugalidade, lusitaniedade e outros semelhantes que, para além de seremtotalmente estranhos à realidade moçambicana constituiam um insulto ao nossoPovo e sua vanguarda revolucionária, a FRELIMO.DESENVOLVER A COOPERAÇÃOMOÇAMBIQUE.CORIA* delegação coreana chegou a MaputoUma delegação da República Popular Democrática da Coreia, chefiada por KongZin Te, Vice-Primeiro-Ministro d o Conselho Administrativo daquele País amigo,chegou no dia 29 do mês findo a Maputo com o objectivo de estabelecerconversações em vários campos de desenvo!vi mento económico, no âmbito doTratado de Amizade e Cooperação assinado recentemente pelos Presidentes KimI[ Sung e Samora Machel.A delegação coreana, de que faz também parte Ro Te Sok, Vice-Presidente doComité Económico do Comité Popular Central, integra um total de 22 elementos,entre directores nacionais, chefes de serviços e peritos de diversas expecialidadesdos sectores da indústria ae construção de navios, minas fAbricas de fertilizantes.de vidro e de papel, caminhos de ferro, exploração geológica, obras públicas eoutros.A sua chegada a Maputo, o Vice-Primeiro-M i n i s t r n coreano falando àInforrflacão moçambicana exprimi,, a r,.tisfação da sua delegação por «poder ver com os próprios olhos a luta que o Povomoçambicano, sob a direcção correcta da FRELIMO, trava por consolidar asconquistas-da revolução e pela construção da nova sociedade».Depois de afirmar que «durante a estada da nossa de legação neste país-irmão,trataremos de problemas con carnentes à colaboração técnico-económica acordadaentre. os nosos dois países», aquele dirigente coreano manifestou a esperança deque a visita da sua delegacãno contribua para um desenvolTEMPO N.° 405- pág.11

IANA A SEMvimento ainda maior das relações de amizade e cooperação entre ambos os Povoée Estados.Entretanto, na noite do dia 1, a delegação coreana foi obsequiada com umarecepção oferecida pelo Ministro

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sita desta delegação coreana, que constitui uma valiosa contribuição para odesenvolvimento das relações de amizade e cooperação enre os dois Povos eEstados. Em resposta, Kong Zin Te recordou que a amizade exis-O chefe da delegação coreana, Kong Zin Te, Vice-Primeiro-Ministro do ConselhoAdministrativo da RPDC, acompanhado por Mário Machungo, Ministro daIndústria e Energia do nosso País, momentos após ter chegado a Maputo.da Indústria e Energia do nossoPais, Mário Machungo, cerimónia a que estevepresente o Ministro do Plano, Marcelino dos Santos,No decorrer da cerimónia., o Ministro moçambicano da Indústria e Energiamanifestou a sua satisfação pela vi-tente data do tempo da Luta Armada de Libertação Nacional do Povomoçambicano e reafirmou o desejo da sua delegação em poder observar de pertoas conquistas do nosso-Povo.empresas, machambas estatais, aldeias comunais, escolas secundárias e direcçõesprovinciais, trabalharão na divulgação da Lei Fundamental do Pais.O trabalho destas brigadas teve início no passado dia 1 e deverá prolongar-se atéao próximo dia 20, devendo também durante este período ter reuniões comdeputados às Assembleias do Povo a diversos escalões.Na reunião de Inhambane foram formados quatro grupos de trabalho queestudaram o documento explicativo da Constituição-e o documento orientador daactividade das brigadas que dinamizarão o estudo da Constituição em toda aProvíncia, formadas durante o seminário. Em Xai-Xai, capital da Província deGaza, realizou-se uma reunião idêntica, com o objectivo de proceder tam-bém à formação de brigadas que divulgarão a Constituição em toda a Província.Estes três seminários tiveram o seu início no dia 29 do mês findo e contaram coma participação de deputados das Assembleias do Povo de diversos escalõesquadros do Partido e do Estado, das Forças de Defesa e Segurança e elementosdas Organizações Democráticas de Massas.Na Província de Sofala, a divulgação da Constituição da República Popular deMoçambique decorre, igualmente, entre 1 e 20 de Julho, em cerca de quarentaempresas, aldeias comunais e cooperativas, tendo já sido constituídas diversasbrigadas no decorrer de um seminário realizado na cidade da Beira.ACORDOS COM A CHECOSLOVAQUIANo prosseguimento dos contactos iniciados em Dezembro passado entre aRepública Popular de Moçambique e a República Socialista da Checoslováquia,chegou no dia 29 do mós findo a Maputo o Ministro federal doNo dia seguinte, tiveram inicio conversações entre delega ções governamentais daRepública Popular de Moçambique e da República Socialista da Checoslováquia,chefiadas pelos Ministros do Comércio Externo dos dois países, res-PROSSEGUE ES'UDODA CONSTITUIçAOTeve lugar recentemente na capital do Paisa segunda reunião da Comissão Nacional de Revisão da Constituição que, após terapreciado o trabalho realizado e as sugestões recolhidas durante a primeira fase dacampanha de divulgação da Lei Fundamental do País, constatou a necessidade de

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prosseguir o processo da sua divulgação, particularmente nos locais consideradosprioritdrios na economia nacionalNa materialização desta orientação, tiveramjd lugar semindrios de estudo nas capitais das províncias de Cabo Delgado,Inhambane, Gazae Solala.Na Província de Cabo Dei- , da Revisão da Constituiçãogado, o seminário de estudo1 formou nove brigadas que, nas TEMPO N.- 405-pág. 12y :lumza&u uu 4Uwm1CLu r,,xerno aa necosLovaquIa, Andrei Barcek,acompanhado pelos Ministros dos Transportes e Conrunicações e do ComércioExterno do nosso País, respectivamente, José Luís Cabaço e SalomãoMunguambe. Durante a sua estada no nosso País, o Ministro Andrei Barcek foirecebido pelo Presidente Samora Machel e foram também assinados dois acordosde cooperação entre a R.P.M. e a R.S.C. nos, domínios técnico e cientfico.Comércio Externo daquele I pectivamente Salomão MunPaís socialista, AndreiBarcek, guambe e Andrei Barcek. que .se faz acompanhar ppr As conversaçõesvisam cinco funcionários do seu Mi- discutir os mecanismos connistério.ducentes ao desenvolvimento

da cooperação bilateral nos domínios económico, financeiro e científico, nasequência dos contactos iniciados em Dezembro de 1977 quando uma delegaçãodo nosso Pais, chefiada pelo Ministro dos Transportes e Comunicações, José LuísCabaço, se deslocou à Checoslováquia.No início das conversações, as duas partes reafirmaram asboas relações existentes entre os Povos de Moçambique e da Checoslováquiadesde o período da Luta Armada de Libertação Nacional do Povo moçambicano,sublinhando que as conversações agora iniciadas deverão ter como base essasrelações.e93 OPERÁRIOS E CAMPONESESPARTICIPAM NO V CURSODOS CONSELHOS DE PRODUÇIOCom a duração, aproximada de dois meses, decorre em Maputo o V Curso dosConselhos de Produção, denominado «25 de Junho», em que participam 93operários e camponeses das províncias de Manica, Sofala, Gaza, Inhambane eMaputo.A sessão de abertura do curso, que decorre no Centro de Formação PolíticoIdeológica dos C.F.M., teve lu gar no dia 28 do mês findo e foi presidida porAlberto Cassimo, membro do Comité Central da FRELIMO e Ministro doTrabalho, que depois de historiar e situar a importância dos cursos realizadospelos Conselhos de Produção na formação política, ideológica e profissional dostrabalhadores moçambicanos afirmou que «a nossa luta entrou agora numa fasebastante avançada o que nos exige um grande sentido de responsabilidade esacrifícios para servir os interesses do nosso Povo».

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o Ministro'do Trabalho referiu também que o V Curso dos Conselhos de Produçãose realiza no momento histórico da Estruturação do Partido, que os aspectos da-disciplina e organização devem ser uma preocupação permanente de todos osalunos, e salientou o espírito internacionalista e de solidariedade., uma vez maisdemonstrados através da participação de monitores estrangeiros.Depois de recomendar aos participantes neste curso que mantenham umapermanente troca de experiências e de conhecimentos, Alberto Cassimo afirmou aterminar:,«A nossa obrigação fundamental, neste curso, é de conhecermos profundamentea política e as orientações traçadas pelo nosso Partido e Governo. Sabemostambém que a classe operária, em estreita aliança com os camponeses, estárealmente decidida a desafiar, decidida a realizar todas as tarefas necessárias parao desenvolvimento do nosso País.» Anteriormente, tinha sido lida uma mensagemdos alunos deste V Curso dos Conselhos de Produção, em que se comprometem a«aproveitar no máximo as experiências que iremos adquirir, para as irmostransmitir nas nossas unidades de produção» e a «elevarmos o índice de produçãoe produtividade, nesta fase decisiva da reconstrução do País». De referir que é aprimeira vez que um curso deste gênero reúne operários e camponeses de ambosos sexos, provenientes de diversas empresas e machambas estatais. a-quem ser5oministradas aulas de Edocação Política, História de Moçambique, EconomiaPolítica, Organização de Empresas, Conselhos de Produção, Higiene e Segurança,Legislação do Trabalho, Directivas Económicas e Sociais e Planificação daProdução.PETROLEIRO 'MATCHEDJE'CHEGOU A MAPUTO0 temporal causa estragos no navioO navio-petroleiro «Matchedje», recentemente adquirido pela Empresa Nacionalde Petróleos de Moçambique (PETROMOC) a uma empresa japonesa denavegação, atracou no dia 30 do mês findo ao cais do Maputo, após uma viagemde mais de 12 mil milhas que durou 95 dias, durante a qual foi apanhado por fortetemporal que provo-cou alguns estragos.O «Matchedje», construído há cerca de cinco anos para uma empresa japonesa,foi adquirido pela PETROMOC por quatro milhões de dólares (cerca de 130 milcontos) e destina-se fundamentalmen-te,, como noticiemos anteriormente (Tempo n.° 391), ao serviço costeiro detransporte de produtos refinados -do petróleo para os portos daBeira, Quelimane, Nacala e Pemba.Na viagem definitiva, para o Maputo, este primeiro petroleiro moçambicano quetem umacapacidade de; 10 mil toneladas, fez um carregamen-to de óleo de palma em Singapura, com destino ao Kuwait, assim como um fretede gasóleo 'ntre Bhrain e o porto da eira, e 'te último a cargo da PETROMOC.TEMPO N.°405- pág.

ANA A SEM,

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O primeiro daqueles fretes rendeu 250 mil dólares (cerca de oito mil -contos) emdivisas, e o segundo representa uma economia de 80 mil dólares (cerca de 2 500contos) para o País.No percurso entre Bahrain e a ,Beira,, o «Matchedje» foi apanhado por um fortetemporal na zona do Golfo de Oman, o que provocou alguns danos no navio. Umdos mastros do convés, cortado pela base com a violência do temporal, na quedadestruiu diversa tubagem e aparelhos hidráulicos e eléctricos que, por sua vez,imobilizaram um molinete. Para além de inundar com água do mar algumas dassecções do navio, as vagas, de cerca de 10 metros, provocaram ainda diversasoutras avarias, principalmente no sistema eléctrico.Espera-se que as reparações destes danos estejam completas dentro de 15 dias eque o «Matchedje» comeceimediatamente a transportar gasolina super, normal e de avião, além de petróleode iluminação e outros derivados, para os referidos portos de Moçambique.Entretanto, no dia da chegada ao porto do Maputo, o «Matchedje» foi visitadopelo Ministro dos Transportes e Comunicações, José Luís Cabaço, que se faziaacompanhar pelo director nacional de Portos e Caminhos de Ferro, pelo directorda PETROMOC e outros responsáveis ligados ao seu Ministério.Na ocasião, José Luís Cabaço, durante o contacto que teve com a tripulação dopetrolí'lro e responsáveis da PETROMOC, afirmou com o «Matchedje»> temque navegar depressa», e inteirou-se, junto do comandante, de vários pormenoresda viagem e do comportamento disciplinar da tripulação.eNOVO EMBAIXADOR DA TANZANIA 0 Presidenle Julius Nyerere daTanzania, designou Charles Kileu como novo Embaixador da República Unida daTanzania em Moçambique.Charles Kileu desempenhava as funções de governador da Província de Mutwara,que faz fronteira com a Província de Cabo Delgado.TRBALH IDEOOIIGICOEM NAMPULA E INHAMBANENo quadro da implementação das orientações da Segunda Conferência Nacionaldo Trabalho Ideológico, realizou-se em Nampula, a Primeira ConferênciaProvincial do Trabalho Ideológico, com a participação de delegados de todos osdistritos da Província, elementos ligados ao Partido, Governo e Organiza-çõesDemocráticas de Massas, bem como trabalhadores da Informação.Na agenda de trabalho para a conferência., constava um debate sobre o discursodo Secretário do Comité Central para o Trabalho Ideológico doTEMPO N.o 405- pág. 14Partido, Jorge Rebelo, e o comunicado final da Segunda Conferência Nacional doTrabalho Ideológico e outros temas considerados prioritários, nomeadamente,História da FRELIMO, Educação e Propaganda, questões religiosas e formação.Daniel Mbanze, Primeiro Secretário Provincial do Partido e Governador deNempula, -presidiu à sessão de abertura desta reunião, no passado dia 29, tendodado orientações para todos os que directa ou indirectamente estão ligados aotrabalho ideológico.

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Entretanto, visando elaborar um plano de trabalhos para os próximos quatromeses, realizou-se no passado dia 28 de Junho na cidade de Inhambane, a reuniãoprovincial do Trabalho Ideológico do Partido que contou com a participação dedelegados dos disMaputoORGANIZAÇÃOCom o objectivo de dinamizar a divulgação e discussão do anteprojecto daOrganização Judiciária junto das estruturas do Partido e Estado e das massaspopulares, brigadas do Ministério da Justiça começaram a actuar na Província deMaputo no dia 29 do mês passado, a exemplo do que está a suceder nas restantesprovíncias do Pais.Segundo divulgou o Ministério da Justiça, no dia 28, as brigadas actuariam nosdistritos da Mptola, Magude e Marracuene nos dias 29 e 30 de Junho. Nos dias 3 e4 de Julho estavam marcadas deslocações aos distritos de Moamba e Matutuíne,devendo trabalhar a 6 e 7 no distrito da Namaacha e nos dias 10 e 11 no distrito daManhiça.A comunicação divulgada pelo Ministério da Justiça afirma que a «implantaçãotritos ao Departamento do Trabalho Ideológico, dos órgãos de Informação eoutras estruturas. O encontro foi orientado pelo Secretário Provincial do TrabalhoIdeológico em Inhambane, José Pascoal Zandamela.eJUDICIARIAdos Tribunais Populares desde a localidade à Nação., em cumprimento dasorientações traçadas pelo Partido e pelo Estado, é a garantia do escangalhamentodas leis caducas do colonialismo e da edificação de uma justiça que sirva osinteresses das massas trabalhadoras».Na Província de Sofala, a brigada do Ministério da Justiça ali destacada reuniucom os trabalhadores do Banco de Moçambique, na cidade da Beira, que, após aexplicação do funcionamento dos Tribunais Populares, deram diversas sugestõespara enriquecimento do documento, especialmente no que se refere à solução doscasos de divórcio, violação de menores, adultério, corrupção sexual ecriminalidade.ITALIA OFERECE MEDICAMENTOSPARA O POVO DO ZIMBABWEEm resposta ao apelo lançado pela Frente Patriólica do Zhnbabwe após asrecentes agressões do regime racista da Rodésia, o Governo italiano, ofereceucerca de 800 quilos de medicamentos à vanguarda do Povo zimbabweano.O donativo foi entregue no passado dia 30 de Junho pelo Embaixador Italiano emMapulo, Cláudio Moreno, ao responsável do sector sanitário do Comité ExecutivoNacional do Comité Central da ZANU, Herbert Ushewolmnze, na presença doresponsável da Comissão Nacional de Apoio aos Movimentos de Libertação emembro do Comité Central da FRELIMO, Francisco Langa.A oferta. no valor aproximado de 20 000 dólãres, conr siste em broncodilatadores,expectorantes, antimalários, sulfamidicos, analgésicos, mtipirélkos,. antiácidos eantibióticos.

O PARTIDO

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E A LUTA DOS TRABAILADORESNA 'CAJU INDUSTRIAL'Em Abril deste ano, iniciou-se o processo de Estruturação do Partido na CajuIndustrial. Durante os últimos três meses a brigada de Estruturação do Partidodesencadeou um processo de levantamento dos problemas existentes na fábrica,processo esse que culminou com:0 a candidatura de 126 trabalhadores para o Partido;0 a prisão de seis pessoas-o responsável financeiro da Comissão Administrativa, osecrietário do Grupo Dinamizador, o responsável-adjunto do- Assuntos Sociais doGD, o respont ' ei da Alfabetização e dois trabalhadores;a r!omeação de uma nova direcção para a fábrica.TEMPO N. 405---- pág. 151~

1 - NO PERIODO COLONIALA Caju Industrial, fábrica situada na cintura industrial de Ma p u t o, t e m 2160trabalhadores 1709 dos quais são mulheres. Esta fábrica, hoje intervencionadapelo Estado Moçambicano, foi fundada em 1950 e éi a mais antiga do pais noramo de descasque e preparação do caju e também a menos mecanizada, Trêsfenómenos caracterizavam a exploração capitalista durante o período colonial:a) os salários baixíssimos;b) as condições de trabalho verdadeiramente sub-humanas;c) a sobre-exploração da mulher-operária.Em volta destes três fenómenos gravitava toda uma vida de sofrimentos para ostrabalhadores e suas famílias. É. essa vida que hoje nos contam alguns dosoperários e operárias da fábrica.ESTER NEIMIA MANJATE(responsável da OMM e candidata do Partido): «Desde que entrei nesta casa vimuitos sofrimentos. Mesmo que estivesse grávida havia uns guardas que tinhamsido cá postos, que nos empurravam até cair e comer areia na boca. Tendo umacriança nas costas até a criança saía das costas e caía. Havia um, chamadoMafuntanhane, esse dava pancada com uma tábua de madeira e nem olhava seestava grávida ou tinha bebé, ou se era velho».CRISTINA JOSÉ MAC HAVA: «Entrei aqui em 1958 e fui trabalhar na secçãode de8casque e depois na despeliculagem. Primeiro o vencimento era de 240$00(por mês), depois 330$00, até receber 450$00 e depois 700$00.O nosso trabalho era custoso, era à tarefa, e quando os fiscais viam que estamosconcluídas na tarefa faziam a balança voltar atrás. E se perguntássemos porquenão marcava o que devia ser, havia um europeu de nome Roquete que te mandavalogo para a cadeia. Por isso cqlávamos. E assim andou até chegar a FRELIMO».Esta figura, bastante conhecida em Maputo como elemento da PI DE deixoumarcas na Caju Industrial. ZEFANIA!S MELECO MACHALELE, hoje membrodo Grupo Dinamizadorý e candidato TEMPO N 405- pág. 16Aspecto do encontro com os operários e operárias sobre a situação vivida nafábrica.

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do Partido, fala um pouco sobre o seu papel na fábrica: «Ele era o agente da PIDEligado à Caju Industrial e ele tinha os seus agentes aqui que nos deviam vigiar. Eaté este momento alguns ainda se encontram cá dentro.ADELINA MARQUES NHANTUMBO especifica unia das formas de duplicar aexploração: «Entrei em 1963 e vimos muitos sofrimentos. Havia fiscais dentrodos sectores: acontecia que quando eles odiassem alguém, essa pessoa ficava semmarcar o dia». Outra forma: «Nós aqui, nos encontramos com muitos e poucosanos.de serviço, quer dizer se alguém ficava em casa doente quan do voltava àfábrica não nos deixavam ficar a .trabalhar. Diziam que era preciso serreempregado primeiro. É por isso que digo que estamos empregados há muitos*e poucos anos».Ao lado Ester continua a recordar: «Havia cá umas lotarias mas essas lotarias nãoera para o povo ganhar. Eles favoreciam sempre as amantes deles e assim umasrecebiam máquinas de costura, chapas de zinco para fazer as casas. E tambémhavia outra coisa: quando íamos a sair o portão da fábrica, se deixávamos caircartão de entrada e não o víamos então, quando viéssemos traba lhar no diaseguinte, não éramos aceites no serviço, e assim passava às vezes um mês semtrabalhar e sem receber».De um lado o terror, do outro a táctica de semear divisões entre os trabalhadores.E também a prostituição para sustento dos filhos, e o analfabetismo parale-lamente ao desconhecimento da língua portuguesa. Na Caju Industrial, como noresto do país, foi a história do capitalismo na sua variante colonial.2 - SE A BRIGADA NÃO CAVAÉ FUNDO...Três anos após a independência muito mudou e muito não mudou. É um processo.Completando as suas memórias sobre a situação no período colonial Adelina diz:,E assim chegou o tempo de estarmos livres e independentes e de entrarmos todosna FRELIMO. Vimos os momentos da FRELIMO e ficámos contentes, mas nãototalmente por causa da nossa casa».Em Abril deste ano a brigada de estruturação do Partido começou a trabalhar naCaju Industrial Um dos elementos dessa brigada sintetiza a situação encontrade naaltura: «Quando lá chegámos para reunir com os trabalhadores e iniciar assim oprocesso de estruturação do Partido deparámos com uma situação muito grave. Ostrabalhadores não falavam, não contribuíam e mesmo a cantar parecia q u eestavam mortos. P o r m a i s que tentássemos, não conseguíamos nada. Entãovoltámos, discutimos a situação para vermos como avançar, qual a táctica correctaa adoptar. Reunímos de novo com as estruturas e pusemos a questáo. No entanto.também eles não avançavam gran de coisa. Víamos que havia problemas mas nãoconseguíamos detectá-los. Então decidimos que iríamos fazer reuniões porsectores, mais restritas portanto. Avan_

çámos com esse processo. Mas, mesmo assim, houve dificuldades. Foi então queuma operária se levantou numa reunião e disse que se a brigada não cavassefundo, não conseguiria levar avante o trabalho, n4o conseguiria implantar oPartido na Caju Industrial».Foi como arrancar a tampa a uma panela com água a ferver jentró.

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Todo um novo processo de purificação foi despoletado: as operárias,particularmente elas, começaram a descrever pormenorizadamente a situaçãodepois da c.ueda do colonialismo.3 - «NÃO COMBATEMOS OS OPRESSORES ESTRANGEIROS PARA PÕRNO SEU LUGAR OPRESSORES NACIONAIS». (Samora ,Iachel)Estas palavras do presidente da FRELIMO, síntese da linha política do Partido,podem ser aplicadas ao caso da Caju. Industrial, nomeadamente, ao processo quelevou o Partido a actuar contra a opressão nessa fábrica nos últimos meses.Adelina Marques Nhantumbo, membro dos CPUP, começa a recordar a nova fasepós-colonial. É uma luta, lenta, e extremamente complexa, que se desenvolve.«Formámos o primeiro Grupo Dinamizador e vimos que não estava a seguir asaspirações das massas e então foi dissolvido. Nomeámos o segundo GrupoDinamizador, que é este hoje, e ele provou que era a mesma coisa.Depois foram nomeados os Con selhos de Produção mas não foram dados otempo para poderem exprimir o que sentiam. Quando foram nomeados os CPUPdisseram que eles deveriam seguir tudo o que diz respeito aos trabalhadores masnão foram dados ocasião de ouvir os problemas e também quando trouxéssemosorientações, não nos deixavam implementar. Até as próprias lérias foi uma guerrapara as conseguirmos. Mesmo hoje não consigo falar, falo duvidosa e comdificuldade. Nós não conseguimos porque não nos davam ocasião de sen tar edebater os problemas da casa para então sabermos que agora já somos humanos eestamos livres e independentes. Não nos davam essa liberdade algunsresponsáveis do Grupo Dinamizador. E quandoíamos à Comissão Administrativa para apresentar os problemas, não nos davamocasião de obter uma respoãtd é assim ficámos passivos. Até agora é difícillevantar os casos. Estávamos livres, nós filhos de Moçambique, mas aqui na nossacasa ainda não».Segundo esta operária uma das formas de aqueles responsáveis rodearem osproblemas apresentados era a seguinte: «A forma de negar às vezes, não eraaberta; diziam que «ainda está-se a estudar o problema».Onde há opressão há resistência. Na Cajú Industrial houve os que lutaram contraesta situação de injustiça. Adelina especifica: «<Quando se tivesse a coragem deseguir um caso até obter resposta mandavam-no embora. Até aqueles que eram doGD e quiseram seguir os casos foram embora. E para ficar a trabalhar na fábricaentão tínhamos medo de falar, pa ra não sermos mandados embora. Muitostiveram castigo e foram transferidos para outras secções só porque deram umacontribuição na reunião. Esses eram perseguidos».As últimas palavras desta operária introduzem um pormenor importante: a luta dealguns elementos do GD contra a injustiça dos outros do mesmo GD.ZEFANIAS MACHALELE, secretário-adjunto do GD, foi um dos que resistiu eacabou por ser marginalizado como aconteceucom outros nas diversas células do GD.Caracterizando a situação no interior do GD, Zefanias Machalele disse que «haviaos avançados e os atrasados», segundo os níveis de formação acadêmica,mormente, os que se podiam exprimir melhor em português e aqueles que nãoconseguiam.

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Quanto à Comissão A4ministrativa há muito a dizer. Nomeada em 1976, mais oumenos na mesma altura em que surge o segundo GD, a Comissão Administrativadepressa começou a caracterizar-se pela actuação reaccionária de Gimo Cândido,o responsável pelo sector financeiro. Ao longo de várias reuniões gerais ostrabalhadores acusaram Gimo Cândido de, entre outras coisas, conivência com r ou b o s verificados na fábrica, desprezo pelos trabalhadores e intimidação a todosque n ã o concordavam com as suas acções.Um outro elemento da Comissão Administrativa, de nome Luciano, ostrabalhadores identiiicaram-no como «muito amigo de G i m o Cândido»,atribuindo-lhe também as mesmas características de arrogância para com osoperários.O terceiro elemento, M á r i o Cuambo, é diferenciado dos outros dois pelostrabalhadores e, pelo que se apurou, tentou várias vezes parar castigos que eramimpostos«aos que não se calavam».A creche, ou melhor a gaiola, como lhe chamam as operdrias da Caju Industrial.TEMPÓ N. 405- pág. '17

Agora há que referir a ligação entre os dois primeiros e aqueles membros do GDque se caracterizavam pelo mesmo tipo de actuação reaccionária. Fala Zefamas,Machalele: tO próprio secretário do GD, Jonas da Silva Bambo, estava coladocom a Comissão Administrativa e o. que.eles faziam com tudo o secretário concordava. Aqui- na fábrica tinham feito do secretário um capataz. Ele nunca estavano sector dele na produção, tinha que estar sempre a dar voltas para poder infor-Ester Manjate ao responder ao Secretário do G.D. quando este lhe ameaçou deprisão por ela ter perguntado pelo dinheiro colectado para a creche da fábrica,disse: «Pode-me prender mas dever prender-me desde os pés à cabeça até à boca,porque senão irei andar sempre a falar desde o Rovuma até ao Maputo dizendoque fui presa por perguntar pelo dinheiro do povo quefoi gasto e que já não existe!»mar a Comissão. Os problemas não eram canalizados através das células. Era osecretário que lidava directamente com todos os problemas e como ele era osecretário do GD as pessoas bastavam vê-lo, e~aão não podiam falar mais nada».Uma das formas de intimidação mais perigosas usada por esses elementos era ofacto de usarem o nome do Partido como «papão». Quando alguém protestava oulevantava problemas pendentes eles diziam «vocês estão a meter-se com oPartido». Isto foi-nos relatado por muitos trabalhadores. TEMPO N.* 405- pág.184 - EXEMPLOSDE CORRUPÇAO MATERIALRoubos desvios de fundos marcaram profundamenite.a actividade dos elementosque temós vindo a referir: por-exemplo, sobre o fundo de apoio dos trabalhadoresenlutados. Fala ISABEL VICENTE MACHAVA: cTirávamos dinheiro mas essedinheiro todo tirávamos, em vão, pois não servia para nada daquilo quepretendiamqs. E depois quando quiséssemos saber onde é que ia o nosso dinheiro

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eles diziam «olha, que a porta está aberta». Então as massas calavam-se temendoser mandado embora».Quando alguém lhe acontecia um falecimento, sendo sócio, não lhe eraconsentido o dinheiro para tal. No entanto pagava as quotas mas quaudo ia pedir o4inheiro diziam-lhe que «se queres o dinheiro então terás que desenterrar- essapessoa e tornar a enterrar para toda a gente ver dentro do caixão». Mas sabendoque nós somos pobres temos os filhos que os homens nos dão mas que depois nãotomam conta deles, como não temos ninguém confiamos nesse dinheiro, Sendoassim, não iríamos dar o cadáver ao governo enquanto tirámos o dinheiro paraesse efeito, não é?Outra questão que levantou sérios problemas e contribuiu para agudizar a luta nointerior da fábrica foi a colecta de mais de 20 contos para a melhoria das instalações da creche da fábrica. Es-Matilde Tembe, operária do sector de descasque: «Aquela máquina ali fomosnós que a fabricámos!»se dinheiro, entregue à Comissão Administrativa para melhorar «a gaiola» - comoas operárias chamam à creche - nunca foi visto e muito menos a sua aplicação.Pressionada pelos outras operárias, a responsável da OMM, Ester Manjate, tentousaber do dinheiro junto do secretário. do GD. Dada, a insistência de Ester, osecretário chegou a dizer «olhem que se querem brincar com as coisas do Partidoeu mando-vos prender». Então ela retorquiu, dizendo: «Pode-nos prender masdeverá prender-me desde os pés à cabeça, até à boca, porque senão irei andarsempre a falar, desde o Rovuma até ao Maputo, dizendo que fui presa por perguntar pelo dinheiro do povo que foi gasto e já não exiàte».À nossa frente, Ester, continuava a falar, cada som da sua voz irada como queecoando cada ruga da sua cara: «Com estas coisas a OMM não conseguia nada.Mes mo quando a OMM trazia documentos e orientações para dinamizar juntodas massas, havia sempre problemas e não havia modo de fazer esse trabalho. Issoenfraquecia-nos por que impediam que fizéssemos ver a liberdade às massas, parasaírem da escuridão e engajarem se na política.Foi o mesmo com o dinheiro da lutuosa. «Decidimos, as células, a OMM e osConselhos de Produção, fazer o balanço desse fundo. Então eles disseram que euera uma agitadora só por ter ouvido e atendido as massas quando reclamavam. Etambém me chamaram inimigo do povo. Fiquei tão ofendida que até a n d e i aperguntar pelo caminho qual era o significado de ser inimigo do povo. E agoraafinal, todos esses foram já presos por terem roubado o dinheiro da creche, dalutuosa, esses mesmos que me chamaram agitadora».Um outro exemplo de corrupção material é o da conivência de pessoas em casosde responsabilidade com o roubo. É o caso de Gimo Cândido.Um trabalhador, de nome Raimundo, foi colocado na cantina e desviou 14700$00. Gimo Cândido, como responsável da Comissão Administrativa para asfinanças, retirou-o da cantina e pô-lo

Após a denúncia dos infiltrados pelos trabalhadores, surgiu num quadro o«retrato» dos xiconhocas, feito pela mão deste operário.

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na secção de Caixa. Na Caixa Raimundo desviou 36 contos. Na cantina Raimundofoi substituído por Eduardo Bulule que roubou 46 contos. Gimo Cândido retirou-ode lá e pô-lo no escritório como pagador. Pouco depois Eduardo Bulule desviou10 contos.O GD - não sabemos que elementos - soube do caso e quis apresentá-lo à PIC.Gimo Cândido opôs-se dizendo que o que devia ser feito era aumentar osordenados desses elementos para eles poderem repor o que tinham roubado. Estasituação de conivência de Gimo Cândido foi denun ciada por muitostrabalhadores.Outros casos de roubos e desviós verificaram-se em relação a outras contribuiçõesdos trabalhadores tais como o Banco de Solidariedade, dinheiro para as vitimasdas cheias do Zambeze edinheiro para a escola de alfabetização. Todo este dinheiro fica va a cargo dosecretário do GD, de Alfredo Macandja, dos Assuntos Sociais, e da ComissãoAdministrativa, que empurraram uns para os outros a responsabilidade pelodesaparecimento do dinheiro.Mais um caso. Francisco Mindo, responsável da alfabetização, havia sidoencarregado de cobrar as rendas de casa, do caniço, de al guns trabalhadores a fimde se poupar tempo. Algumas dessas rendas nunca chegaram ao APIE o que levoua que os locatários envolvidos começassem a ser ameaçados de despejo.5 - AS MEDIDASTOMADASToda a investigação, a partir das acusações postas pelos trabalhadores, foramlevadas a cabo por uma Comissão Especial, formada por iniciativa do Gabinete Provincial de Estruturação do Partido, após tertomado conhecimento da situação, através da Brigada.No fim, tomaram-se as seguintes medidas, que os trabalhao res, em reunião geral,aceitaram de uma forma que não deixaVà margem a dúvidas:a prisão de Gimo Cândido,Jonas Bambo, Alfredo Ma candza, Francisco M i n d o, Raimundo. e EduardoBulule.- dissolução da comissão administrativa e nomeação deuma Direcção constituídapor delegado da Comissão de Reorganização do Sector Indastrial do Caju, e uma:ijunto proveniente da Cajuca;- formação de unia Comissãode Assuntos Sociais que deverá fazer um levantamen to de todos os problemassociais, e estudar as soluções, tanto na Caju Industrial, como noutras fábricas domesno ramo.As famílias aos presos, que não sabiam dos acontecimentos, toram notificadas. Asmulheres dos presos que estejam em condições de trabalhar, poderão empregar-sena própria Caju Industrial, enquanto que às outras será dado apoio pela novaDirecção da fá brica, Os presos, quando saírem da cadeia, voltarão a trabalhar e arepor o dinheiro roubado.6 - AS CONDIÇÕESDE TRABALHO COM BASE

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NA ESTRATIFICAÇÃOSOCIALDe entre os ýectores que piores condições de trabalho comportam está o dedescasque, quase exclusivamente c o mp o s to por mulheres.mulheres.CAJU INDUSTRIALTrabalhadores - 2160, dos quais 1709 mulheres e~451 homens.A Cajiu Industrial é a fábrica de preparação de castanha de tau mais antiga do paíse também aquela que mais emprega o trabalho manual. Presentemente. a fábricaestá a laborar essencialmente com base no trabalho manual, pois é aquele quegarante uma qualidade mais elevada - castanha de melhor qualidade significamelhor colocação no mercado internacional, e mais divisas para o pais. O se#principal problema, neste momento, é a falta de ma-FUNDADA EM 1950téria-prima, o que impede que sejam atingidas as metas de produção definidas -15.000 toneladas.A Cajiu Industrial Integra três sectores fabris distintos preparação de castanha,fabrico de latas para a sua embalagem e produção de óleos a partir da casca dacastanha. Estes óleos são aplicados no fabrico de produtos químicos efarmacêuticos e são. na totalidade, exportados para o Japão e Austrália.A Caju Industrial, como todas as cajueiras intervencienatias pelo Estado, está soba direcção geral da Comissão de Reorganização do Sector Industrial do Caju.TEMPO N.' 405 --Pág. 19

Trabalha-se no meio de uma densa poeira, tendo as operárias que enrolar lenços àvolta da boca como protecção. As suas caras ficam esbranquiçadas como se setivessem pintado.Na divisão capitalista do trabalho as piores condições de trabalho estãogeralmente reservadas para os sectores de trabalho manual não-especializado. NaCaju Industrial, esta situação herda da do colonialismo, mantém-se em grandeparte, ainda. E as operárias têm consciência disso. MATIL DE TEMBEespecifica: «aquela máquina, ali, fomos nós que a fabricámos pelas nossas mãos edói-nos todas as costelas, mas agora os que trabalham na máquina ganham maisdo que nós, porquê», não sei». L preciso, pois um grande trabalho político paradetnonstrar aos trabalhadores que o trabalho com máquinas, exige uma maiorespecialização, donde surge, portanto, um salário mais alto. Isto, contudo, nãoquer dizer que não seja necessário melhorar as condições de trabalhos dossectores manuais como é o caso da Caju Industrial. O trabalho deconsciencialização no seio dos operários deve levá-los tambén a compreender quecontra dições deste tipo não são antagónicas, que a contradição antagónica é entreos trabalhadores e o capitalismo.uAté pela maneira de comer não somos iguais», dizia ainda Matilde Tembe, agorafazendo alusão aos que foram presos e também a certos funcionários da fábrica aquem o colonial-capitalismo impôs um progressivo afastamento dos sectoreslaborais. Uma das características de alguns desses funcionários é a não -

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participação em tarefas colectivas. ,Mas quem lhes paga, de onde vem o dinheiroque eles manejam, lá no escritório? Não éa nossa produção?São e st a s. algumas das contradições que a brigada de Estruturação do Partido ea célula do Partido, que em bieve será criada, terão de resolver.Há também muitos outros pequenos problemas que reflectem a estratificaçãosocial na empresa, reflexo da estratificação geral à escala da sociedade. Porexemplo, os fiscais na porta de salda não revistam alguns, d i z e m os TEMPO N.405- pág. 20trabalhadores. P o r i s s o continuam a registar-se roubos de vário material dafábrica.7 - É PRECISO LIMPARO MATO E SEMEARAS SEMENTESO que se passa na Caju Industrial reflecte um fenómeno actual da luta de classesem Moçambique: -a crescente agudização da contradição *antagónica entre asclasses trabalhadoras e todos aque les que, pelos seus métodos de actuação,demonstram ter assu mido o papel que lhes legou o colonial-capitalismoportuguês: imporem no nosso país a ditadura de uma nova burguesia.Esses métodos de actuação es tão plenamente ilustrados nesta reportagem-Dossier. São métodos característicos de sectores da pequena-burguesia, incapazesincompetentes e profundamente cor ruptos. Roubam e nem sequer sabem bemcomo esconder o roubo. Por isso mesmo é esta a altura de as classes trabalhadorasmoçambicanas darem um passo em frente e, desse modo, contribuírem até paraque muitos dessa classe não passem para o lado do inimigo. A arma para isso,como está a provar o caso da Caju Industrial, é o processo de estrutura çáo doPartido. Esse processo é precisamente isso de os trabalhadores exporem com todaa liberdade essa contradição antagónica entre eles e os que querem ser os NovosExploradores.Na Caju Industrial houve uma luta árdua durante todo o período que se seguiu àindependên cia. De um lado os explorados, do outro, uma minoria que, usandodemagogicamente o nome da FRELIMO, queria pôr os trabalhadores contra o seu Partido. Essa luta deu consciência a mui tos trabalhadores dessa fábricaconsciência de que os antigos exploradores podem ser substituidos por novosexploradores. E é para o Partido que vão entrar agora alguns desses homens emulheres que não desanimaram, que no meio da confusão não se deixaram e o n fu d i r totalmente. Estão na Caju Industrial e em todo o Moçambique e estão aconstruir o Partido.Agora pôs-se uma questão.Na Caju Industrial a brigada de estruturação do Partido con-tinua lá e trabalhará com a célula mesmo depois de ela estar formada, como está aacontecer nos outros locais. Porquê?Porque há muita coisa a resolver, pequenos e grandes problemas. O processo atéaqui já demonstrou que a Estruturação do Partido, mesmo na sua fase inicial,provoca avanços consideráveis. Mas para fortificar as célu las para consolidar asvitórias do período inicial, é necessária uma forte mobilização de todos ostrabalhadores. Para o aumento da produção, para a elevação, da sua organização,

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para o reforço da sua unidade. Senão, volta a haver desânimo e os reaccionáriospassarão a dizer «vejam, como o Partido, não resolveu tudo, vejam, como aestruturação do Partido, afinal, não trouxe resposta para tudo».«QUANTOS MESES LEVA A CRIANÇA NA BARRIGA DA MÃE, E DEPOISPARA SE LEVANTAR E POR-SE DE PÉ QUANTO TEMPO LEVA? É UMANO. SÃO DOZE MESES, NÃO É? E DEPOIS, PARA DEIXAR DE MAMAR.É UM ANO E MEIO, NAO É? (...)Estas palavras de Samora Machel ilustram de facto o que se es tá a fazer nestemomento, o que é, na realidade, um processo, o processo de Estruturação doPartido. E o que se está a fazer agora é criar as condições para os trabalhadoresterem o Partido no seu seio. Por isso, a brigada continua lá a trabalhar. ISABELBUDULA KLHIVE tem consciência disso. Diz ela: «estou a dizer obrigado àbrigada que está a trabalhar, mas só vasculhou por cima. Por isso é preciso queesteja ainda aqui para acompanhar estes que foram nomeados. Deveriam acabarde limpar o mato e semear as sementes para que esses que foram nomeadospossam viver tudo desta fábrica. Porque ainda há restos para limpar».E para terminar, recordamos uma cena que ilustra bem o espírito combativo dostrabalhadores na Caju Industrial.Ester Manjate acabou a sua intervenção com as palavras <«A Luta Continua»!Silêncio (na sala).Com a voz emocionada e batendo com o punho na mesa, repetiu:A LUTA CONTINUA! ouviram?,

MUSEU DA REVOLUCRO__- - - 4- -e -UM LIVRO ABERTO DA NOSSA HISTORIAo "Devemos ler, estudar, aprender assumir correctamente o depois interpretarpolítica, militar, económica e ideologicamente o que nos mostra este museu, aqui- Presidente Samora MachelTEMPO N.° 405 - pág. 21

Encontra-se já aberto ao público o Museu da Revolução, livro aberto da reolidadehistórica moçambicana. O Museu foi inaugurado pelo Presidente Samora Machelno passado dia 24 de Junho em comemoração do 3.° aniversário da Independêncianacional.Nos seus quatro pisos de um edificio restaurado e localizado no Bairro do Alto-Maé no Maputo, podem ser vistas Imagens que vão da invasão, ocupação eopressão colonial até ao inicio da luta e vitória sobre o colonialismo portuguesComo se afirmou no inicio deste texto o Museu da.Revolução é um livro abertoda história do povo moçambicano. Uma história que esteve durante séculos fe"(;hada, ao mundo e ao próprio po, vo moçambicano. A história que nas escolascolonialistas se ensinava aos poucos moçambicanos que ali tinham acesso era ahistória de Portugal e dos «heróis» (pera os portugueses) colonialis täa quemassacraram o nosso pov numa guerra de ocupação e genocídio físico e cultural.Ora é precisamente isto que também está patente no Museu da Revolução. Asprdprias estatísticas referentes ao número de moçambicanos nas escolas do país

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mesmo nos últimos dias da ocupação colonial está ali bem Chegada do Presivisível.Recordando novamente as palavras do Presidente Samora Ma chel durante a visitaao Museu v'mos ali «A Resistência, a própria capacidade da história de resistir.Perseguida. mas resistiu e ressurge agora. com mais força e vigor. Históriafechada durante s4culos, mas quando nós a abrirm~s encontramos ouro 14 dentroe, *P4rim, o mesmo marfln'que atri ãu muita gente para: o nosso pais,encontrhImos tam~m laguardado. Vimos aqui no Museu todo o nosso p~sado, o nosso pre sente e aperspeetiva. São centenas de milhares de pdginas, todas qlas brilhantes e regadasde sangue. Agora depende de nós, de cada um de nós!».Deixaremos para o final desta reportagem um apontamento sobre o que se passounos bastido- ura fmagem de res para a conqcetização deste usado eabusadoimportante Museq. Para já Ire- elucidativas e pe TEMPO N. 405- pág. 22dente Samora Machel ao Museu da Revolução, que tnaugurou precisamente natarde do dia 25 de Junho.o tempo colonial: a tracção humana como meio de transporte pelos colonos. NoMuseu encontram-se muitas mais fotografias ças como a machila desde a épocado início da ocupação efectiva.e imperialismo e que terminam com a própria realização do III Congresso daFREiíMO as grandes vitórias do povoqToçambicano após a conquista da In- Devemos ler, estudar, aprender, assumircorrectamente e depois interpretar, cultural, política, militar, económica eideologicamente o que nos mostra este museu aqui» - diria o dirigente darevolução moçambicana no final da visita ao Museu da Revolução.

mep dar um roteiro e descrição de pka curiosas encontradas e ali expostas. Aspalavras serão breves, as imagens que preenchem este texto Irão explicar melhor.DA OCUPAÇÃO A VITóRIA: IMAGENS E DOCUMENTOS ORIGINAIS EINÉDITOS0 Museu da Revolução compreende quatro pisos. O primeiro corresponde aoperíodo da ocupação até ao advento das manifestações nacionalistas. O segundo àformação da FRELIMO e desencadeamento da Luta Armada de LibertaçãoNacional. O terceiro ao avanço impetuoso da luta e vitória. O quarto ao períodoapós a conquista da independência, III Congresso da FRELIMO e vitórias dopovo moçambicano nos vários aspectos da vida nacional. desde a Educação eSaúde até à formação de cooperativas agrícolas e Aldeias Comunais passandopela organização do operariado e produção nas fábricas.No piso referente ao período dá ocupação e luta de resistência até aos começos do'nacionalismo, o Museu apresenta de forma didáctica todos estes aspectos,salientando-se mapas elucidativos, assim como fotografias e documen-tos daépoca. Aqui pode-se admirar o célebre mapa «cor-de-rosa» (origin) onde Portugaldesejava ligar Angola com Moçambique, facto que foi contrariado peloimperialismo Inglês. Armas de fogo modernas lado a lado com armasrudimentares como arcabuzes, arcos e flechas mostram claramen-

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Logo no primeiro piso e à entrada do Museu existe um grande quadro a cores quefoi executado por um pintor coreano que juntamente com outros sete especialistasda mesma nacionalidade cooperaram na realiza ço do Museu.As Companhias majest4ticas monopolistas que dominavam grandes extensões doterritório moçambicano tinham um poder ilimitado como por exemplo o decunhar o próprio dinheiro e selos.

das as provínclas 10 pais para o que se podiam interrogar antigos régulos-esipaios sobre o assunto; a necessidade de se descobriras machilas utilizadas pelosadministradores coloniais e não só «as machilas civilizadas» utilizadas pelosgovernadores como a peça que ali está exposta. O Presidente Samora, ele próprio,afirmou possuir ainda a sua caderneta indígena e requerimento de assimilação eque faria a entrega desses documentos ao Museu. Aqui necessário se tornareflectir sobre esta contribui~á do Presidente, Samora Machel. Efectivamente hámuitos moçambicanos que possvem nas suas casas livros, documentos e mesmopeças A Luta Armada tornava-se como o único caminho possivel à libertação. Nade alto valor histórico e que seimagem primeiros combatentes da FRELIMO.ria bom começarem a enviar essaspeças para o nosso Museu, contribuindo para a sua valorização. Avançando nonosso processo histórico o Museu mostra os documentos originais da formaçãodos primeiros movimentos nacionalistas, cartas dos dirigentes desses movimentosao Presidente Eduardo MondIane, a formação da FRELIMO e os documentos do1. Congresso estão também ali expostas exactamente como as pri meiras armasutilizadas, a mais- sofisticada das quais era a pequena metralhadora ,Tompson».As primeiras zonas libertadas A Luta Armada iniciou-se com armas simples, aarma< mais sofisticada em 1964 a crise de 1968 e o II Congresso era ametralh.adora «Tompson» que se vê na imagem. são revividas pelasfotografias date a desproporção de forças e de material de guerra favorável ao, invasor.O poder das companhias ma- . jestáticas está bem patente nos selos e dinheiro queelas próprias mandavam cunhar e que estão expostos numa das vitrines do Mu--!seu. O Auto de prisão do Gungunhana também ali está. O chicote a palmatória aolado dos antigos passes, cadernetas indígenas, mos tram ao público a crueldade ediscriminação exercida pelos colonialistas portugueses.Aqui e aliás como em quase todas as salas do Museu o Presidente Samora deualgumas sugestões e valiosas contribuições para o enriquecimento histórico doMuseu. Referiu-se à necessidade de se expor ali histórias das dedestepoaloiahisóeárias A Luta Armada proporcionou o aparecimento de zonaslibertadas. Aqui desenadministrações coloniais de várias volvLa-se para além detarefas organizativas da população, trabalho de saúde circunscrições e distritos deto- e educação, também um grande trabalho de informação e propaganda.TEMPO N.* 405 - pág. 24

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época, documentos, cartas inéditas do Presidente Mondlane, farÀýdas manchadasde sangue e ar Smas de heróis moçambicanos-mortos durante essa crise, como ãpor exemplo: Samuel Kankomba e FilipeMagaia, culminando com uma sala dedicada ao Presidente Eduardo Mondlane,onde estão patentes os seus fardamentos, livros, documentos e manuscritos.Ainda sobre formação da FRELIMO o Presidente Samora afirmou durante asuavisita, que possuia gravações de comicios realizados com combatentes p83ýlhes explicar a razão porque é que falharam esses primeiros iO vimentosnacionalistas. Por oúttO lado o dirigente moçambicano te3s ~feriu-se sobrea existência de umacarta inédita que deve estar nos arquivos do Presidente Mondiane,MAPA DAS BASESGUERRILHEIRAS1 '1Al,:Jd em 1973174 as bases da PRELIMO estendiam-se por A operação «N óGórdio»,. uma das últimans grandes tentagrande parte do território moçaMbIcano.A' guer;,a estava tivas que a tropa colonial desenvolveu para derrotarmilipraticamente perdida pelos militares'coloniatistas. tarmente a FRELIMO. Apartir desta derrota militar, por-' ~tuguesa a FRELIMO fez um avanço imparávelque cul~minou com a derrota dos portugueses em todo o território .nacional moçambicano.TEMPO W. 405 -Pág. 25

carta essa escrita em 1965 pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugalque dizia mais ou menos isto: «Sr. Doutor, nós podemos compreender a violênciadirigida pelo Holden Roberto por ser um analfabeto, mas o sr. doutor, tãobrilhante, tão gentil que soube respeitar Portugal nas Nações Unidas, vir juntar-seagora aos terroristas?».NO GORDIO:O AVANÇO E A VITORIAUltrapassada a criãe de 1968 o colonialismo desencadeia a grande operação «NóGórdio» bem explicitada no Museu, com mapas elucidativos acompanhados derespectivas fotografias quer da defesa e contra-ataque das F.P.L.M. e povoarmado e organizado, quer das próprias tropas coloniais.Depois da Nó Górdio segue-se a «Ofensiva Generalizada em todas as Frentes»que levou aos avanços impetuosos e finalmente ,a derrota do exército colonial, àvitória. Esta história mais recente encontra-se bem documentada assim como aúltima batalha sobre a qual o Presidente Samora Machel deu mais contribuiçõespara a compreensão da mesma. Narrou ali a táctica utilizada que ludibrioucompletamente os por tugueses e liquidou-lhes os intentos de quereremtransformar a sua derrota, numa vitória de última hora.Ao longo deste percurso o visitante vai verificando também o aparecimento denovo tipo de armas utilizadas pelas F.P.L.M de armas cada vez mais pesadas esofisticadas, que dão bem ideia da dimensão da guerra de libertação e da suaextensão, dos efectivos e tácticas empregues.

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A Independência a realização do III Congresso, as nacionalizações e atransformação das relações de produção estão bem patentes no último piso doMuseu. O visitante sai daqui com a perspectva que a história continu e, que oMuseu continuará a ser enrqecido com a própra hl*4rtê que avança.TEMPO N.- 405 --pág. 26Primeiro presidente da FRELIMO Eduardo MondIane exortando os combatentesdas Forças Populares durante a Luta Armada. Como se sabe o PresidenteMondlane acabaria por ser assassinado por um grupo de traidores à FRELIMOaliados ao colonialismo.Com a vitória conquista"se a independência e a FRELIMO organiza-se no seu ,IIiCongresso onde-# constituída o Partido de Vanguarda da Aliança Operdria eCamponesa. O Museu da Revolução mostra que essa constituição do Partidocomeçou jd no tempo da Luta Armada de Libertação Nacional

UM ANO DE TRABALHOE PESQUISAo si um miu em transformao,um priiw regst,iremos mel&rá-lo e equipá-lo com mais mM er istr recolhi W'"O Museu da Revolução inaugu rado no dia 25 de Junho foi uma obra de um anode intenso trabalho de pesquisa e organização. Contudo, o Museu está ainda emtransformação qualitativa, pois muitas peças históricas e documentos importantesjá recolhidos não estão ainda ali expostos e di verso outro material está nestemomento a ser pesquisado em várias Províncias do Pais.- Esta é ainda uma primeira amostra, iremos valorizar cada vez mais o Museu daRevolução--acabaria por afirmar Luís Filipe responsável daquela instituição. PresidenteSamora Machel cumprimeUma delegação coreana com- lidariedade demonstradas pelos esperealização doposta por um historiador, umO Museu abriu ao público no passado 1 de Julho. Todas as visitas organizadassão gratuitas. As visitas individuais são pagas.pintor, um engenheiro eleetro-técnico e- outros especialistas num total de 7elementos deram por seu turno uma valiosa colaboração desde Maio do anopassado para a realização do Museu.Luis Filipe assim como os técnicos coreanot meslocaram-se várias vezes àsdiversas Províncias do pais para a recolha de peças históricas, tendo por outrolado ministrado um pequeno curso antando e agradecendo a colaboração e socialistas coreanos que nos ajudaram na«useu da Revolução.vários elementos da Educação e Cultura dessas mesmas Províncias para pesquisa,catalogação e recolha de material histõrico. Todavia, com excepção da Provínciade Cabo Delgado quase todos os elementos que frequentaram o referido curso nãoenviaram nada para Maputo.

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Restos de aviões e helicópteros abatidos durante a Luta Armada, bombas de todosos tipos e que já estão em Maputo não puderam ainda ser expostas e, segundo foiafirmado, o material que certamente irá começar a afluir não caberá no actualedifício do Museu. Num futuro não muito distante o Museu terá de ser ampliado ecertamente terá até um edifício próprio e muito maior que o actual.TEMPO N. 405 - pág. 27

A participação do nosso Pais no Festival de Havana, será diferente da outra queteve ho último Festival realizado em Berlim. Naquela altura, Moçambique foirepresentado por uma delegação da Juventude da FRELIMO em plena guerra deLibertação Nacional.Neste XI Festival Mundial em Havana a delegação da juventude moçambicanavai representar já um país livre e independente.A delegação moçambicana será composta por 150 elementos, seleccionados entrejovens estudantes e trabalhadores que neste momento se encontram a preparar-sea fim de irem representar condignamente a juventude nacional no Festival deHavana, que tem o seu inicio já no fim deste mês.O critério utilizado na selecção dos elementos que compõem a delegação nacionalfoi com base no comportamento, dinamismo e dedicação nas actividadesconforme declararam alguns jovens com quem dialogamos.«Fui escolhido por ser um elemento que já vinha a desenvolver as actividadesculturais e tam bém per ser da OJM da Escola»- começou por dizer o estudante Samuel Obedias Simango da Província de Sofalaque acrescentou: ao processo da escolha baseou-se de entre os jovens com melhorcomportamento e dinamismo».Falando da importância do Festival, o mesmo estudante após ter TEMPO N.' 405-pa9 28Albuns alusivos ao X Festival realizado em Berlim, República DemocráticaAlemã, em 1973, e ao XI Festival a ter lugar brevemente em Havana.salientado o facto do Festival se realizar fora da Europa pela primeira vezafirmou: «Para nós é importante porque em Cuba poderemos afirmar o quesomos. É pela primeira vez que Moçambique participa como País Independente».Prosseguindo, Samuel Obedias Simango, explicou como tomouconhecimento darealização doFestival na altura da criação do Comité Nacional Preparatório.Tendo a seguir manifestado a sua profunda alegria por ter sido escolhido comoelemento da delegação moçambicana no XI Festival Mundial da Juventude.«Sinto-me orgulhoso em poder participar num Festival desses. Uma coisa quenunca tinha ouvido falar. Vou para lá e poderei encontrar, ver jovens que estão emluta, caso concreto dos Jovens do Zimbabwe, da Namíbia a da África do Sul.Poderei ver como é que a FRELIMO outrora conseguia sensibilizar a opiniãopública a apoiar a sua luta».A terminar falou do ensaio nos quais ele toma parte:«Os ensaios decorrem num ambiente agradável que promete a nossa presença emCuba. Uma presença marcante porque a nível das actividades culturais estamos aensaiar danças. poemas e canções, tentaremos transmitir ao mundo aquilo que

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somos, o nosso processo revoluciondrio, de que maneira estamos a apoiar a lutados povos oprimidos e como é que estamos a enterrar o capitalismo».Por sua vez, a estudante Ermelinda dos Santos, da Província de Maputo, após terexplicado que foi escolhida num critério com base no comportamento eparticipação nas actividades culturais. afirmou que tomou conhecimento darealização do Festival, através da Rádio e do Jornal.«Sinto-me satisfeita por ter sido escolhida» - contou a Ermelinda dos Santosacrescentando que dentro das suas possibili-

dades tentará representar condignamente o Pais.Referindo-se aos ensaios disse que estão a correr bem, embora ao princípio tenhahavido dificuldades de adaptação dos elementos seleccionados «Posso dizer quetemos vindo a lutar por uma melhor organização e dis'eiplina».A finalizar, Ermelinda dos Santos deu a sua opinião sobre a realização do XIFestival Mundial da Juventude e Estudantes afirmando: «Penso que o Festival temuma grande importância para nós que somos hoje um país independente. Vamosrepresentar a cultura do nosso Povo. É uma for ma de tentarmos contactar com osoutros Povos do Mundo, um contacto com as outras juventu-des do Mundo, é uma prova da nossa personalidade.JOVENS COM EXPERIÈNCIADE OUTROS FESTIVAISPaulo Adelino Muyanga, um dos jovens que se encontram empenhados na fasefinal dos preparativos para o festival, em diálogo com a nossa reportagem, disseter já participado num festival internacional, designadamente o F E S T A C(Festival Africano de Arte e Cultura) realizado no ano findo de 1977 em Lagos,capital da Nigéria.Aquele jovem salientou contudo que segundo o seu ponto de vista o XI FestivalMundial poderá em larga medida ser mais emocionante e rico de troca de experi-ências, pois que nele participarão jovens de todos o s continentes, de todas asraças, diversas nacionalidades e ambos os sexos.wAcho que o X I Festival vai alargar em nós a visão que temos sobre o conceitodo mundo, da humanidade em si e das sociedades. Nós temos uma visão muitovaga neste aspecto.Quando nos falam de pessoas de outros países, da sua maneira de ser, dasociedade em que essas mesmas pessoas vivem, nós imediatamente imaginamosum certo tipo de pessoa que obviamente não passa de mera i~4nação nossa.wAcho portanto que o contiaÂo que iremos ter com a juvenhíd* todas partes domundo, serd ~ oportunidade para elucidarmo-nos sobre vários aspectos da vida deoutros povos.«Eles irão mostrar-nos aquilo que são. Nós seremos portadores da personalidademoçambicana, seremos portadores das acçoes e aspirações do povo moçambicanointeiro, de tudo o que se passa no nosso pais.Nos nossos ensaios sempre temos procurado que os componentes da delegação seintegrem nas diversas danças que temos para apresentar, sejam elas do Norte,Centro ou Sul. Isto é, procuramo4 ser minimamente polivalentes-.

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Maria Jacinta José Carlos Madeira, é também uma jovem que se prepara parafazer parte da delegação moçambicana que irá participar no festival. Querendo dara sua contribuição sobre o que seria esta realização, ela disse: «Penso que estefestival será uma coisa maravilhosa. Nem sei explicar como é que isto vai ser,mas, sob ponto de vista político, acho que ele vai contribuir para alastrarmos afrente anti-imperialista. Irá contribuir para firmarmos cada vez mais a nossa lutacontra todas as formas de dominação, de opressão e discrimznação».aQuando me convocaram para vir participar nos preparativos, senti-me deverdade emocionada. É uma h o n r a ir representar o nosso povo num festivaldeste género' ,,disse a 'terminar Maria Jacinta.TTEMPO N.° 405- pág. 29Havana. Como vão os preparativos.

Zambézia:O DIFiCIL ESCOAMENTODOS PRODUTOS AGRICOLASo Copra: 10 mil toneladas à espera de barcoCerca de 10 mil toneladas de copra ficaram por escoar na Zambézia não só porfalta de transportes mas também por falia de coordenação entre as váriasestruturas para o aproveitamento ao máximo das disponibildades de transportespossíveis.Mas o problema não afecta apenas a copra mas também outros produtos agrícolasda Zambézia como por exemplo o chá, embora este com menos acuidade.Muitos pequenos produtores ficaram por outro lado sem poder vender os seusprodutos uma vez que os grande compradores tinham os seus armazéns cheios enão aceitavam mais copra? por exemplo.O nosso correspondente na Zambézia dá uma panorâmica da situação e afirma adado passo que, apesar de lento, uma parte do escoamento da copra já começou...Mas começou tarde e dai muitos prejuízos para a economia nacional.Do nosso correspondente na ZambéziaA copra é um produto bastante importante para a nossa balança comercial esimultaneamente um peso no que se refere às relações entre a produção destaoleaginosa e as populações rurais.A área de produção de coqueiros é uma área bastante extensa. Ao longo da costa,desde NICAJúNE, a cerca de trinta quilómetros a sul de Quelimane até MOMA,já na Província de Nampula. Toda esta faixa costeira está coberta por milhões decoqueiros.A copra é afinal, o resultado da amêndoa do coco, depois de devidamentepreparada em estufas especiais.A sua aplicação é diversa. No entanto é maior no que se refere ao fabrico de óleosalimentares, sabões e outros derivados.Em face disto, a copra, produto que durante o período da dominação colonial eradestinada totalmente à exportação, começou posteriormente a ter mercado dentrodo nosso próprio País. O aparecimento de unidades industriais de fabrico de sabãoe óleos criou as condições esTEMPO N. 405 - pág. 30

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senciais para que grande percentagem da produção da copra fosse consumidainternamente.A importância da copra, uma produção demarcadamente tropical, para osmercados Mundiais, nomeadamente os da Europa, deu origem a que, emprincipios do século XX, as grandes Companhias Magestáticas do tipoexclusivamente colonial-capitalistas e monopolistas se dedicassemprioritariamente a esta actividade. Assim surgem as grandes plantações coloniaisde sisal, algodão e copra.Esta é a origem histórica da existência de grandes plantações de coqueiros naZambézia e parte de Nampula. Só em Quelimane, estão sediadas três Companhiasdo género, cuja actividade principal é a produção da copra: COMPANHIA DOBOROR, hoje, depois de uma acto de sabotagem na ordem de muitos milhares decontos, transformada em UNIDADE ESTATAL DE PRODUÇÃO BOROR, aCOMPANHIA DA ZAMBÉZIA e a SOCIEDADE AGRÍCOLA DA MADAL.Qualquer uma destas Companhias são basicamente de capitais estrangeiros na suaorigem. Capitais suíços (os mais fortes), e de outras nacionalidades. O própriocolonial-fascismo português não passava de um simples guarda da actividade dos«capitais» estrangeiros. O governo moçambicano tem actualmente umaparticipação na Companhia da Zambézia enquanto que a Sociedade Agrícola daMadal, mantém-se independentemente no seu todo global.O controlo Estatal sobre os sectores de Economia defenido nas DirectivasEconómicas e Sociais do III Congresso da FRELIMO, tem determinado queactualmente seja possível coordenar-se a produção e a exportação da copra deacordo com as necessidades do país, quer em

A copra que é uma das grandes riquezas de Moçambique foi smpre explorada porcompanhias monopolistas estrangeiras: Esta imagem obtida na Zambézia em 1973refere-se a trabalhadores moçambicanos, onde está bem patente a exploração deque éramos vitimas; nem roupas para trabalhar tinham!Abril de 1978 já havia bastante copra em armazém. Cerca de5.000 toneladasPor sua vez, a COMPANHIA DA ZAMBÉlZIA produziu em 1977 61.742.240cocos, que depois de utilizados nas mais diversas aplicações deram uma sobrapara a produção de copra equivalente a 9.334.474 quilogramas. De salientar queesta Companhia possuía em Janeiro de 1977 1.286.507 coqueiros.FALTA DE MEIOS DE ESCOAMENTO E SATURAÇÃO DE ARMAZÉNSOs armazéns de Quelimane encontram-se a aborrotar de copra. situação idêntica àdo chá. Existem nos armazéns de Quelimane 10 780 toneladas de copra paraserem escoadas. Onze armazenistas retêm esta quantidade de copra, sem contarcom as Empresas de grande envergadura (Madal, Boror e Zambézia).matéria-prima para as nossas fábricas, quer em divisas.Aliás, foi a ausência deste controlo, especialmente no que se referia às operaçõesde exportação que permitiu a sabotagem económica e técnica verificada na ex-Coýnpanhia da BOROR.

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Para se ter uma ideia mais correcta da importância da produção da copra, e dosíndices de produção, mesmo 'até das nossas capacidades fornecemos os seguintesdados:Só a Unidade de Produção Estatal BOROR, produziu em 1977, 19.963.000quilogramas de copra, que corresponde a um total de vendas equivalente a 166768 527$ýO, segundo o relatório apresentado pela sua Admi,dateunio1 ., lt'Coi=elhoAgrário Nac onal. Nessa altura,Por outro lado, existem acordos de compra já firmados e algumas quantidades jávendidas.Em relação ao exterior há compromissos assinados, por exemplo com a RepúblicaDemocrática Alemã. Para cumprir com o s compromissos a ENACOMO luta comas mesmas dificuldades. Até ao presente momento enviou apenas 2.000 toneladaspreparando-se para enviar mais 2.000, num ritmo exageradamente lento. Oproblema é a f a 1 t a de navios, principalmente os oceânicos, para este casoespecífico.Enquanto isto, de Maputo começam a chegar as primeiras solicitações de envio decopra para locais já determinados.Esta situação de impasse tem consequências graves.PEQUENO PRODUTOR AFECTADOA gravidade desta situação é conhecida quando s e consegue assumir aimportância dos sectores afectados.Porto de Quelimane: muito raro estarem no porto todo este número deembarcações. Milhares de toneladas de produtos agrícolas não são exportados porfalta de transporte, aliás, mais por falta de coordenação entre as diversasestruturas para o aproveitamento dos transportes.TEMPO N. 405 - pág. 31

Dado a que a copra não tem ,escoamento, os armazenistas recusam-se a comprarmais quantidades do produto aos comerciantes que por sua vez compram aospequenos produtores (e médios), e populações em geral.O armazenista compra o produto ao retalhista (Comerciante) a 7$50 o quilo para orevender à indústria por 9$70. A indústria passará a suportar quebras até 1,5% nãose responsabilizando os vendedores pelas outras resultantes das demoras no pontode destino ou em outros locais fora dos armazéns industriais.Por outro lado, dado a que a situação de torna difícil pela paralisação do produtono seu cir cuito, os armazenistas vêem-se obrigados a solicitar pagamentos apronto. Na realidade, a DINECA deu orientações de garantia aos armazenistas depagamento de 97% do valor da mercadoria, sendo os restantes 3% pagos após apesagem no seu destino.Tudo isto implica créditos bancários e uma série de trâmites de imediato.De outra forma os armazenistas continuavam com grandes importânciasempatadas na compra da copra existente em ar mazéns com fracas possibilidadesde adquirir mais copra aos retalhistas. Aliás era mais ou menos isto o que seestava a passar. Os armazenistas estavam incapacitados de comprar mais produto

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aos retalhistas e estes por sua vez, recusavam-se a comprá-lo às populações epequenos produtores.Portanto, deparamos com toda uma engrenagem que directa e indirectamente vaiafectar as populações. Directamente porque para as populações produtoras,desaparece por razões q u e ela mesma desconhece a possibilidade de venderemos seus produtos.Indirectamente, porque o atraso verificado vai-se reflectir nos números referentesà actual campanha. A determinada altura, isso vai emperrar a própria produção.Produz-se em excesso para as capacidades de escoamento e surge a saturação dasinfra-estruturas disponíveis e consequentemente a que s t ã o: - "Produzir maispara vender como?... «ou TEMPO N.° 405 pág. 32- «Produzir mais para conservar aonde?... ».E o produto não pode estar à chuva e ao sol indefinidamente.É lógico que se o produto não é escoado e vendido dentro do prazo previsto, issorefecte-se em toda a produção.Aparentemente, pode haver ligações entre esta situação e as limitações do portode Quelimane. Mas é borm salientar-se que não é toda a produção que é escoadapor Quelimane. A Unidade de Produção Estatal BOROR, por exemplo, podeescoar pelo porto de Macuse, localidade sede da Companhia e centro de produçãode copra.Se as limitações do porto de Quelimane se tornam agravantes, é precisamenteporque a situação de retenção da copra é agravada pela retenção de chá.Ora a comercialização do chá no exterior é um fenómeno que joga com diversosfactores, e principalmente a antecipação em relação a outros produtores mundiais,quando não o chá fica sujeito a ser desvalorizado em leilões.Mais uma vez surge o problema da Planificação.Se por um lado os navios costeiros são insuficientes para as nossas capacidadesactuais, a falta de planificação complica ainda mais a situação, assim como a faltade racionalização dos nossos recursos em transportes.Segundo os serviços de Marinha, é possível planificar-se o escoamento por formaa que determinado navio oceânico faça as respectivas descargas nos portosnacionais por forma a que no porto de Quelimane consiga ficar com os porõesvazios, após uma última descarga. Isso permitiria a garantia de um grandeaumento de capacidade de produção.Ainda no que se refere à planificação, há casos mais flagrantes, como porexemplo este:Aconteceu a uma firma local ter 1.000 toneladas de copra para escoar num navioestrangeiro, portanto para o exterior, mas perdeu a oportunidade (com o navio noporto) porque os«BRE» (Boletins de Registo de Exportação) caducaram. Mai s, os créditos para aoperação não chegaram nos prazos necessários.Também acontece com alguguns produtos que não só a copra, fretarem-se naviosestrangeiros de emergência, quando dias antes o porto havia sido visitado por umnavio nacional.Estes factos, todos eles frequentes relativamente, são a prova evidente da falta decoorde-

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nação entre estruturas, da fal- -tente, por vezes a negligência, ta de planificação,criam situações difíceis.A província possui já um núcleo de planificação.Mas mesmo depois da Conferência, à maioria das estruturas ainda não sesensibilizaram quanto à necessidade de coordena rem as suas actividades com osresponsáveis provinciais de planificação. É facto, porém, que o individualismonas formas de trabalho, o departamentalismo agravado pela burocracia ainda exis-Efectivamente há pessoas ligadas a toda esta máquina'económica, nomeadamentea nível de Empresas, e algumas Estruturas ao nível provincial até, que ainda nãoconseguiram sentir a necessidade de se programarem as actividades, e de inculcarnos diversos organismos formas colectivas de trabalho não só a nível internocomo e também em relação a todas as outras estruturas.Exemplificamos com a seguinte situação.Um navio vem a Quelimane e por razões diversas tem de ir à Beira para regressarde novo a Quelimane directamente. Se as Empresas e outras estruturas estiveremligadas aos Serviços de Marinha, e outras estruturas portuárias, é possívelaproveitar-se esta oportunidade para se trazerem da Beira para Quelimane,produtos de primeira necessidade ali retidos, pois o Zambeze não permite otrânsito automóvel entre a Zambézia e o sul do país. Este é um exemplo verídico,em que raras foram as Empresas que se aproveitaram disto. E neste momento, aprovíncia da Zambézia quase não tem pão por falta de farinha de trigo, entreoutros produtos de primeira necessidade.UM MILHÃO DE COCOS NAO COMERCIALIZADOSA Fábrica de Coco-Ralado «SOCOCO» está paralisada por decisão superior.A razão da paralisação desta unidade fabril sob controlo estatal deve-se ao factode a mesma não oferecer as condições higiénicas mínimas.Um carregamento de coco ralado destinado a exportação deteriorou-se devido aoexcesso de humidade segundo nos disse um dos responsáveis da Comissão Administrativa daquela Unidade Fabril.No entanto, e quanto a nós, as razões são remotas.Esta herança colonial, a fábrica Sococo foi construída sem o mínimo de condiçõeshigiénicas,o que é agravado pela inconsciência dos trabalhadores. Conhecemos a fábrica.Do sector inicial de transformação não encontramos um azulejo. E é aí que aamêndoa do coco é manuseada, lavada descascada até passar aos secadores e aosoutros sectores. Não se encontra um único azulejo numa fábrica que tem menosde um decénio, uma f á b r i c a recente portanto. Isto insere-se na estruturaeconómica colonial, as suas formas de trabalho, as respectivas condições, na baseda teoria liberal de economia visando unicamente o lucro fácil e imediato. Seráescusado dizer que os operários trabalhavam com os seus farrapos no corpo. Umafábrica de géneros alimentícios sem condições higiénicas mínimas.«Cerca de 250 trabalhadores assalariados», disse-nos ainda um dos elementos daComissão administrativa da Sococo «ficam periodicamente desempregados, e istoporque ainda eram assalariados, portanto sem grandes prejuízos para a fábrica.

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De qualquer forma, esta paralisação, vai beneficiar a unidade fabril em diversosaspectos.Primeiro, p o r q u e criará as condições higiénicas necessárias. Segundo porqueao longo deste período recuperar-se-á os geradores de energia eléctrica queduplicará a produção diária.Se se consumia 500.000 por dia, passa-se a consumir um milhão.A verdade é que um milhão de cocos não são comercializados por mês o que podeimplicar a sua consequente transformação em copra.Só a Sociedade Agrícola da Madaí forneceu à Sococo em 1977 3.075.000 cocosquando o consumo mensal daquela fábrica era então de 500.000 e sua capacidadeum milhão.Esta situação vai fazer com que os armazenistas e principais produtores tenhamaos ombros mais quantidades de copra para comercializar .e portanto maisdificuldades em adquirir quantidades às populações.TEMPO N.° 405-pág. 33

Jessíe Marney a 1lautzsta. Nota de destaque para a sua interpretação na balada«Stollen Moments» (momentos roubados).John Marney (alto) e Rachid (tenor). Nota de destaque para a adaptação de«Kanimanbo» ao 1azz.TEMPO N.* 405 - pag. 34

Felix Meyer: um dos mais aplaudidosna sessão do Grupo Internacional de Jazz de Maputo.1' IL~i~Com uma sala completamente cheia de gente sequiosa de ouvir jazz, na tarde do:passado domingo a Organização Nacional dos Jornalistas fez estrear o GrupoInternacional de Jazz de Maputo - com êxito Dizia-se no fim da sessão que o êxitodeste grupo tinha sido o longo tempo em que nenhum grupo de jazz se fez ouvirna pcapital do país. Porém, aquilo que se ouviu, tomando em conta a recenteformação do grupo, foi muito bom, e a prová-lo ,esteve a reacção do público quecomo em outras alturas se mostrou' apreciador, e exigente.Três composições, «Streap no chaser» de Monk, «Perdido» de Duke Ellington e abalada «Stollen moments» (momentos roubidff) puderam mostrar não só o va-'lor individual de cada músico como ainda planos çle conjunto de grande riquezaem que as marcações surgiram como imposição à própria respiração dosespectadores ouvintes. A adaptação da popular música moçambicana«Katiimambo» para o jazz, da autoria de saxofone-alto John M4rney, surgiuigualmente rica, mostrando a ",ietividade do seu adaptador.Mundinho, mostrando-sé serenamente senhor da bateria, exigiu através da suainterpretação em «Streap no chasen», que o público pedisse a repetição. Oprofessor inglês John Marney, e o médico suíço Félix Meyer no piano sabem doofício e deram a sensação que apesar da satisfação do público, eles próprios aindanão estão satisfeitos. O solo da flautista Jessie Marney na balada «momentosperdidos» foi igualmente extraordinário e das três horas em que o jazz se fez ouvirterá

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Mundinho o baterista - entusiasmou a pequena multidão com os seus solos.sido este um dos seus melhores momentos.Dos restantes elementos que compõem o Grupo Internacional de Jazz, Ramos notrompete. Rachid no sax-tenor, Baloy no soprano e Tembe no contrabaixo, elessouberam mostrar nos solos que interpretararm as promessas que o grupo faz aojazz em Moçambique. Para isso é necessário que a promessa lançada pela ONJ nofim da sessão - «realizar mais sessões periódicas» -, se faça cumprir.Sem tocar nenhum instrumento o apresentador e organizador principal da sessão.Ricardo Rangel, acabou constituindo «animador musical sem instrumento» bomodizia uma pessoa ao intervalo. As pessoas que ficaram de fora da sala, pode poroutro lado ser visto como essa necessidade de apoiar a iniciativa levada a cabo.Outros músicos conhecidos do meio do jazz de Maputo não apareceram - Go-Filipe Tembe no contrabaixo imprimiu a pulsação com notdvel balanço rítmico.veris surgiu, esteve lá, mas ainda «ferrugento».As composições escolhidas para esta primeira apresentação foram as doschamados «bons anos do jazz»: As composições que deram nome a Parker, MilesDavia, Duke Ellington. O jazz à base de um plano de conjunto a iniciar e afinalizar, com repetidos solos distribuídos por todos os músicos, continua a seraquele que se ouve melhor, e aquele a que Miles Davis depois de longos anosvoltá a tocar. Assim, temos de esperar por uma nova apresentação.TEMPO N. 405 - pág. 35

Quando a 10 de Selembro de 1t74, e nos termos do acor do assinado a 26 deAgosto em Alger. a Guiné-Bissau foi re conhecida como um Estado livre eindependente pelo Governo português, ela já o era considerada como tal por maisde cem poisesA Independência Nadonal foi proclamada a 24 de Setembro de 1973, em Medinade Boé. Proclamava-a o PAI6C, partido que dirigia a luta armada de libertaçãonacional contra o colonialismo português.Lutando por objectivos comuns, contra um inimigo directo comum. o PAIGC e aFREI.IMO, forjaram, desde a sua criação. laços de amizade indestrutível. Fizeramdo princípio de que a luta de um era a luta de outro uma estratégia coordenada.Que coordenada à luta dirigida pelo .MPLA. e à luta dirigida pelo MLS TP,obrigaram esse inimigo, inimigo directo comum, o colonialismo português, àcapitulação.Uma vez alcançada a Independência nacional nos países onde dirigiam a lutaarmada de libertação nacional, essas or ganizações, ou os Partidos que delasnasceram, impuseram naturalmente o desejo de manter e desenvolver esses laçosde amizade e solidariedade ao campo da cooperação estreita. Da cooperaçãoestreita que a opcção política comum, que a herança comum de países pilhados edestruidos pelo desgaste da guerra, subdesenvolvidos, pobres, impõe.É nesse âmbito que numa das suas primeiras deslocações fora do pais o PresidenteSamora foi à Guiné-Bissau e CaboVerde. É nesse âmbito que vem agora aMoçambique Luis Cabral. Presidente do Conselho de Estado da Guiné-Bissau.E é nesse quadro - e com o objectivo de permitir aos leitores conhecerem umpouco mais da Guiné-Bissau de hoje que incluímos nesta edição uma série de

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trabalhos sobre a Guiné-Bissau, elaborados pelo nosso colega e colaborador Solde Carvalho, que se deslocou recentemente a esse país irmão.GUINE-BISSAU TEMPO N.° 405-pág. 36Queremosprestarhomenagemas FPLMe ao povomoçambicanoo Entrevistacomo Presidente Luís CabralP - Na sua intervenção na Assembleia Popular, indicou a existência de um certodesnível económico e das dificuldades que vive a Guiné-Bissau. Quais são ascausas e como serão resolvidos esses problemas? Qual é vossa política em relaçãoaos funcionários do estado colonial?Luís Cabral - Bem, eu não falei exactamente, do desnível económico, referi-me aalgumas dificuldades que temos na etapa actual da nossa procura dedesenvolvimento, se depois de três anos de independência total do país, do fim daguerra nos encontrássemos num desnível económico seria preocupante... Eu quisdizer foi que o nosso esforço para melhorar a situação catastrófica herdada do

Luís Cabral recebe o Presidente Samora em Guiné-Bissau. H o j e é o povomoçambicano q u e recebe Luís Cabral.colonialismo ficou altamente comprometido por este ano de seca. Nós somos, umpaís agrícola. As principais riquezas do país vêm da agricultura. Nos anos de 1975e 1976, nós possuímos resultados encorajantes no domínio da produção agrícola.A nossa exportação quase que se multiplicou por quatro vezes nesses anos. Mas,entretanto, aparece-nos este ano seca, em 1977, e nós vimos as coisas, esse ritmode desenvolvimento, digamos, prejudicado, porque a nossa agricultura ficoutotalmente parada por falta de chuvas. Mas temos procurado sair dessa situação,com novos produtos, com uma exploração mais racional das nossas florestas, ecom a exploração da nossa pesca, de maneira a pelo menos não recuar em relaçãoà posição atingida no ano findo pelas nossas exportações. Entretanto nósreferimo-nos às dificuldades; dificuldades de vária ordem, que são sobretudo emhomens. Como sabe nós como todos Países saldos duma luta como a nossa, de umestado colonial como o que dominou o nosso país durante muitas dezenas de anos,encontramos uma gente amorfa, sem aquela consciência política, sem aquelaconsciência profissional que é necessária para satisfazer as exigências actuais donosso desenvolvimento. Quando nós nos referimos a isto, referimo-nos a umacerta falta de responsabilidade em determinados quadros, e apelamos ao esforçode todos para podermos levar para frente a nossa política de desenvolvimento cujabase fundamental terá de ser forçosamente essa consciência do homem, dotrabalhador e do militante.TEMPO N, 405- pag 37

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GUINÊ-BISSAUPara o desenvolvimento do pais há necessidade de mobilizar todo povo, e oesforço de todos, e essa é a nossa base também (de mobilização de esforço detodos) em relação aos funcionários do estado colonial. Funcionários que viverama época colonial, trabalharam muitas vezes com lealdade para a administraçãocolonial. Nós consideramos que são indivduos que adquiriram uma certaexperiência, um certo conhecimento que podem ser hoje úteis ao nossodesenvolvimento.Nós admitimos que numa terra como a nossa, nas condições em que viveu aGuiné, era de aceitar que muita gente, muitos compatriotas nossos nãoacreditassem na possibilidade de lutar e vencer o colonialismo português. É assimque nós procuramos compreender o problema dos funcionários coloniais. E, possodizer que temos encontrado, na queles funcionários que ficaram connosco,naqueles que não se consideraram portugueses depois da nossa índependêneia,mas que ficaram e continuaram a trabalhar connosco, temos encontrado uma forçabastante positiva na estruturaçáo da nossa administração, e portanto nasestruturação do aparelho do estado.P - As bases populares das zonas anteriormente libertadas mostram certamenteum maior nível de consciência política. Qual é a vossa política em relação a essaspopula~óes e especificamente em relação à cidade, a Bissau?Luís Cabral - Não há dúvida nenhuma que o nível de consciência das massas daszonas anteriormente libertadas é totalmente diferente das populações que nãoparticiparam directamente na luta de li bertação nacional. Mas isso não dá a essasmassas nenhum privilégio particular em relação ao resto da nossa popu!~. Nósprocuramos desde a libertação total do nosso pais evitar toda tendência de dividiro nosso povo em duas partes: os que lutaram pela independência e os que nãolutaram pela independência. Nós procuramos integrar todos no espírito, nacionalnovo e levar os que lutaram a compreender essa necessidade para que pudessehaver uma atmosfera de confiança, de mobilização para todo povo. E isso temsido para nós uma força bastante significativa no esforço que foi dispendidonestes últimos três anos. O problema de Bissau é o problema de todas as cidades.Bissau é uma cidade pequena (e isso é uma vantagem). Nós não queremos que elase torne muito maior, e procuramos limitar a população de Bissau criandointeresses no interior do país.Inicialmente em Bissau, nós tivemos algumas dificuldades na mobilização dasmassas. Houve muita propaganda do inimigo contra nós antes da nossa entradaem Bissau. Mas, podemos dizer que hoTEMPO N. 405- pég. 38O Presidente Luís Cabral.je a situação de Bissau é semelhante à das outras regiões, e que temos encontrado,principalmente junto às massas trabalhadoras de Bissau, dos operários, dosassalariados, e mesmo dos funcionários, um grande apoio. E pensamos que Bissaupoderá vir a ser também, depois do trabalho que vai realizar-se poderá ter umpapel motor na mobilização geral do pais nas tarefas de Reconstrução Nacional.P - A vossa cooperação internacional é bastante alargada. Qual é a perspectivaque vocês dão a essa cooperação? Como controlam tentativas de penetraçãoimperialista a nível económico?

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Luis Cabral - Eu penso que nós somos suficientemente fortes para fazer essacooperação alargada. Quero dizer: nós, como país não-alinhado como paisafricano não-alinhado, podemos ter uma política externa bastante aberta.

Temos os países que nos ajudaram durante a luta de libertação nacional, Comesses países continuamos a desenvolver a amizade, já longa, baseada na confiançae na ajuda que nos deram durante os anos difíceis da luta de libertação nacional.Mas, para além disso achamos que no contexto in ternacional actual é do interessedo nosso povo estabelecer relações de cooperação com todos os paisos do mundo.E nessa base temos orientado a nossa política exterior.Posso dizer que hoje temos a participação de muitos que não nos ajudaramdurante a luta no nosso esforço de desenvolvimento.O perigo da tentativa da penetração imperialista eu acho que não é isso que contaessencialmente. O que conta essencialmente, é a força do Partido. A nossapossibilidade de controlar o nosso país, e realizar no nosso país aquilo que nósqueremos realizar de acordo com as nossas opções, com a Linha Política doPartido, o PAIGC.P - Camarada Amilcar Cabral defendia que os guerrilheiros do PAIGC eram umdestaêamento de vanguarda na Libertação da África Austral dada à grandeinterpenetração das lutas. Acha que embora com uma situação diferente semantenha essa opçãO de fundo?Luís Cabral - Eu penso que aqui não se põe um problema de opção na concepçãodo Amílcar. Amilcar falando dessa maneira da vanguarda de libertação de ÁfricaAustral queria certamente, referir-se ao nosso papel no conjunto da luta dos povosafricanos contra o colonialismo português. E que os nossos combatentes fazendouma luta armada dura contra o colonialismo português, e causando perdasconsideráveis ao potencial militar do colonialísmo português, estavam a ser umavanguarda de luta para libertação de África Austral.Eu penso que é esta interpretação a dar a estas palavras do Amilcar, mas isso nãoquer dizer que nós não estejamos ao lado dos povos que lutam na África Austral eprontos a assegurar-lhes ioda a nossa solidariedade, toda uma aliança segura donosso Partido e dos nossos combatentes. Esta é a interpretação que eu dou àspalavras do Amílcar e quero aproveitar para dizer que não há dúvida nenhumaque a luta contra o colonialismo português, particularmente a independência deMoçambique e de Angola, abriu perspectivas novas à libertação dos povos daÁfrica Austral e portanto a análise feita por Amilcar se revela correcta nocontexto actual.P - Como vê a cooperação da Guiné-Bissau, com as ex-colónias portuguesas.Acha que deve existir uma cooperação igual à da CONCP?Luis Cabral - Vejo como muito importante a cooperação entre as ex-colóniasportuguesas portanto entre os nossos países, Moçambique, Angola, e F Tomé ePríncipe, Cabo Verde e Guiné-Bissau. Vejo essa cooperação o mais largapossível. Nós somos dos que estão prontos mesmo a fazer concessões a nível desoberania, se fosse necessário para desenvolvimento dessa cooperação.Creio que a CONCP teve o seu papel na nossa vida e a nossa libertação, na nossaluta vitoriosa contra o colonialismo mas que depois da independência das nossas

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terras mas CONCP não poderá existir na medida em que a CONCP foi, criadapara luta contra o colonialismo português. No entanto, penso q je as relações deluta que se desenvolveram entre os nossos partidos de vanguarda, a IRELIMO, OMPLA, O PAIGC e o MISTP, podem servir de base ao desenvolvimento dumacooperação especial dentro do quadro africano, no quadro das nossas relaçõesinternacionais. E embora eu saiba que isso não é uma coisa que se pode realizarimediatamente, acredito que constitui uma preocupação ãas nossas direcções. Aprova disso é que se realizouPorque os nossos objectivos são comuns, porque os nossos inimigos são comuns,porque lutamos juntos, a nossa aliança é indestrutível.ultimamente, em Bissau, a reunião dos Ministros de Educação e Educadores,portanto, para procurar tirar o maior proveito'das experiências realizadas em cadaum dos nossos países, e mais recentemente, em Cabo Verde teve lugar a reuniãodos Ministros de Transport4s. Eu penso que é nessa base de reforço de ~ e ecooperação, da alianTIMPO N.* 405- pág. 39

4~dPresidente Luís Cabral acompanhando o Presidente Samora Machel aquando davtsita do Chefe de Estado Moçambicano à Guiné-B:ssau.ça segura que sempre existiu entre os nossos partidos, e na procura de domíniosde cooperação concretos entre os nossos governos e os diferentes organismosgovernamentais que nos podemos encaminhar no sentido de manter todos esseslaços de luta que existiram durante os anos gloriosos da luta de libertaçãonacional.P - Não sei se o camarada Luís Cabral gostaria de aproveitar essa oportunidadepara transmitir alguma mensagem ao povo moçambicano?Luís Cabral - Sim, é com bastante prazer que o faço pela primeira vez utilizandoa informação moçambicana. Eu quero transmitir ao povo moçambicano, aosmilitantes da FRELIMO e à Direcção da FRELIMO, as nossas mais calorosassaudações fraternais e os nossos votos sinceros para que Moqanbique seja o paísmaravilhoso de paz, de prosperidade, com que sonharam os combatentes daFRELIMO desde os primeiros anos da luta de Libertação Nacional.Nós queremos também dizer que esperamos brev-mente visitar o vosso país parapessoalmente leTEMPO N.- 405 - Pg. 40var essa mensagem de amizade e de solidariedade para ao povo de Moçambique,que, nós sabemos tem vivido momentos difíceis. Nós aqui temos uma situação,podemos dizer privilegiada em relação a Angola e Moçambique na medida emque os nossos vizinhos são países africanos independentes com os quais nósdesenvolvemos relações de amizade e cooperação. Vocês batendo o colonialismoportuguês destruiram a base dos racistas da Africa Austral, e com issoencorajaram os povos da África do Sul, da Namíbia, e do Zimbabwe a selevantarem corajosamente, para também lutarem pela independência dos seuspaíses. Isto tem criado problemas graves ao povo de Moçambique. Mas nósqueremos prestar homenagem particular aos combatentes, as vossas gloriosasFPLM por tudo aquilo que têm feito para preservar a Independência deMoçambique, preservar a integridade territorial de Moçambique. E tudo aquilo

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que o povo moçambicano tem feito para garantir aos combatentes do Zimbabwt aretaguarda segura que tem sido Moçambique para a sua luta.

Sobreo PAIGiCA subida do custo de vida vem-se agravando desde a manifestação aberta da crisedo sistema colonial-capitalista em Cabo Verde cuja única solução para as gravesconsequências da seca (que- dura há já mais de dez anos) foi a de um chamado«programa de ajuda» que dava alguns postos de trabalho, no mais perfeito sentidoda caridade imperialista:Não houve nenhum projectoinfra-estrutural no sentido de resolver os problemas, mas apenas intervenções nosentido de minimizar (demagogicamente) as suas consequências. Um dosresultados imediatos da crise é que Cabo Verde importa 90 por cento dos produtosque usa (dos quais 45% são géneros alimentícios). E, no entanto, diz-se que CaboVerde é um país essencialmente agrícola, o que quer dizer que a pequeníssimariqueza nacional que possui é proveniente do campo.«Nós importamos tudo inclusive a, inflacção» - diz-nos CORSINO TOLENTINOmembro do Conselho Superior da Luta e responsável político da Ilha de SãoVicente.Sendo Cabo Verde um País do chamado Terceiro Mundo sujeita-se às relaçõescomerciais capitalistas. Quando os países capitalistas aumentam os produtos nomercado internacional, devido às leis naturais dó sistema capitalista, Cabo Verdeé fortemente atingido, prejudicado. Mesma coisá se verifica quando os paísessubdesenvolvidos, para fazer face à concorrência capitalista, aumentam o preçodas matérias primas. A situação difícil de um aumento inevitãvel do custo de vidajunta-se ainda a uma estratégia do governo de não aumentar os salários uma vezque optou (porque justamente consideram isso fundamental) por resolverprioritariamente o problema do desemprego (o mais grave dos problemaseconómicos cabo-verdianos) sendo para a criação de novos postos de trabalho quese destinam as poucas «energias» monetárias do pais.O PAIGC, Partido dirigente na Guiné-Bissau e Cabo Verde desenvolveactualmente uma luta tenaz para livrar-se da pesada herança colonial-fascista.É também preocupação do PAIGC a criação de estruturas, tanto a nível do Partidocomo a nível do Aparelho de Estado, que sejam capazes de se envolverem (oufornecerem apoio concreto) nessas tarefas.É, pois a partir desta situação, que a situação política é considerada boa. CorsinoTolentino explica-nos:«Nós pensamos que o principal factor que conduz a essa situação é um trabalhopolítico aturado que tem sido feito não com base em conversas mais ou menosimportadas, mais ou menos tiradas directamente dos livros e revistas, mas simuma política baseada numa análise concreta da nossa realidade, traduzida numalinguagem objectiva e portanto apreensível pelos trabalhadores, linguagem essaque tem como eixos: a observação directa das realidades e a comparação dessasrealidades com os objectivos do partido.»

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E conclui afirmando: «Eu penso que a situação política boa que temos nestemomento decorre de uma melhoria da consciência dos trabalhadores em especiale do nosso povo em geral, em relação às dificuldades reais que vivemos, emrelação aos esforços evidentes do Partido e governo no sentido de transformaressa realidade».O MELHORAMENTO DAS ESTRUTURASMas há ainda um outro factor. Trata-se do melhoramento das estruturas do Partidoao nível de Cabo Verde.Embora a luta armada na Guiné tivesse repercussões directas em Cabo Verde (atéporque havia cabo-verdianos a lutar no âmbito do PAIGC) no Arquipélago existiaapenas uma estrutura embrionária, clandestina até 1974.A situação difícil de dominação e da miséria que predominava no pais criaram, noentanto, o ambiente favorável P uma autêntica «explosão» com o 25 de Abril queabriu, sobretudo, a possibilidade de o PAIGC agir abertamente em Cabo Verde.Isso concretizou-se com o envio de muitos militantes da Guiné para o trabalho deagitação para a independência. («Nessa altura era mais agitação maciça para aIndependência de que um trabalho em profun-didade de preparação ideológica, de preparação política sólida.»)Mas houve também o problema de muitos quadros terem de ir ocupar lugares demaior responsabilidade no governo, o que dificultou a sua presença física .notrabalho do Partido, e o enfraqueceu.Não obstante, a implementação do Partido foi-se realizando progressivamente e-atingiu um ritmo maior depois do III Congresso. Palavra a Corsino Tolentino:«Actualmente podemos dizer que já temos o território nacional de Cabo Verde,divididõ em regiões ou sectores. com estruturas organizadas em cada ilha,havendo diferenças no que respeita à consciência política, enquadramento, etc.Mas, todas as ilhas têm uma organização que é considerada sólida.Por exemplo, em São Vicente, de 77 para 78 nós consideramos um saltoqualitativo no funcionamento das nossas estruturas. Porque se em 77 o primeirosecretário da direcção regional tinha de se deslocar a quase todos os pontos eInteirar-se localmente dos problemas, neste momento podemos dizer que amáquina funciona por si. Temos é de ter o cuidado de manutenção e lubrificaçãoe, portanto, da orientação do leme».O PAIGC tem como estrutura supranacional o CONGRESSO e, nos intervalos, oConselho Superior da Luta (equivalente ao Comité Central da FRELIMO) quefunciona com um comité executivo (semelhante ao Comité Político Permanenteda Frelimo) presidido pelo secretário-geral do PAIGC.Depois, existem os Conselhos Nacionais da Guiné e de Cabo Verde. Éinteressante a história da formação destes Conselhos: «Nós tínhamos durante otempo da luta armada, o Conslho Superior da Luta que tinha uma acçãopermanènte sobr as estruturas e a luta político-mlitar. Mas, em CaTEMPO N.°405 - pág. 41

bo Verde, tínhamos esruturas embrio. hárias sofrendo de todas as dificuldades edefeitos da luta clandestina. Assim, desde cedo houve necessidade de se criar umorganismo dentro do Partido que se dedicasse concretamente à recolha de

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informações, à emissão de directivas e ao estudo, com a Direcção do Partido, dosproblemas específicos de Cabo Verde, tendo inclusivamentn em vista odesenvolvimento da luta por todos os meios que se mostrassem indispensáveis.Inclusive a formação de quadros para a luta armáda com todas as especificidadesque imporia em Cabo Verde.Portanto, para conduzir esse trabalho tinha sido criada a Comissão Nacional deCabo Verde que a princípio tinha um número muito restrito de membros mas quefoi ampliada com a primeira vinda do camarada secretário-geral 'do exílio. Istoem fins de 74. Ampliou-se então a Comissão Nacioha1 para 30 e poucos membrose normalmente um desses membros estava colocado numa das. ilhas (ou pelomenos as pfincipais). A Comissão Nacional desenvolveu, daquela altura até àrealização do III Congresso, um trabalho meritório e que mostrou, de facto, quea sua criação correspondeu a uma necessidade organizàtiva real. Então o queaconteceu foi que o III Congresso tomou a decisão de em vez de liquidar aComissão Nacional de Cabo Verde, criar um órgão congénere na Guiné-Bissau.Houve assim, a trans. formação da Comissão Nacional para Conselho Nacional deCabo Verde e criou-se o Conselho Nacional da Guiné».Perante este tipo de organização imediatamente nos deparou a pergun'.a: Aexistência de suas direcções (uma para cada pais), o facto de o Conselho Superiorda Luta só se reunir uma vez por ano não iria provocar uma tendência defragmentação do PAIGC? Claro, tínhamos lido as recomendações do IIICongresso sobre o problema das fracções, sabíamos que as duas estruturasestavam subordinadas ao Conselho Superior da Luta mas mesmo assim era umproblema que se nos colocava. Tolentino disse que essa é a observação aparentedas coisas e esclareceu: As duas estruturas integram membros do ConselhoSuperior da Luta a quepi estão subordinadas e outros elementos que não o são. Eai temos dois objectivos: Por um lado, TEMPO N.° 405 - pág. 42abrir as portas do partido aos me)hores filhos do povo, aos elementos mais jovense manter essa discussão, esse dinamismo, ess dialéctica do debate permanentecom uma outra parte que tem toda uma experiência acumulada mas que tambémtem determinadas ideias e que podem envelhecer como tudoenvelhece no mundo.E eu penso que essa combinação óptima entre os jovens e os dirigentes provadosna luta, esse intercâmbio, vai permitir uma troca de experiência num âmbito muitomais vasto com os membros do Conselho Nacional, vai permitir umatransferência de experiências. Mas essa transferência não é unilateral. Tambémesses dirigentes têm tudo a ganhar com a experiência vinda directamente dasregiões, dos sectores, vá lá, da base, e pode ter discussões, debates, extremamentecriadores e que contribuirão para a melhoria progressiva do Partido. Este é umfactor que considero importante. Por outro lado, há um elemento na estrutura doPartido que considero importante que é a existência do secretariado executivo.Quer dizer, para além do Conselho Superior da Luta e do Conselho Executivo daLuta, há este Secretariado Executivo à cabeça do qual está um dirigente doPartido, neste caso concreto o camarada José Araújo, e que mantémconjuntamente e directamente dependente do camarada secretário geral, ocontrolo da vida dos Conselhos Nacionais. Porque os Conselhos Nacionais vãoser mais activos efectivamente que o Conselho Superior da juta pois reúnem-se

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mais vézes e estão em contacto mais directo. Além disso muitos membros daDirecção foram chamados a desempenhar tarefas no quadro da direcção do Estadoo que traz problemas de permanência física e numa certa medida isso, que poderiaparecer um certo vazio, é compensado por esses jovens do Partido que no âmbitodos Conselhos Nacionais vai dar uma boa contribuição. Por outro lado, o bomfuncionamento de cada uma dessas estruturas contribuirá para uma melhorformação dos quadros e que contribui para o reforço da Guiné com Cabo Verde».Depois dos Conselhos Nacionais (o da Guiné tem 50 membros e o de Cabo Verde32) que já efectuaram as suas primeiras reuniões e emitiram directivas específicas,existem as direcções regionais.As regiões estão divididas em sectores. Os sectores dividem-se depois em bairros(campo e cidade) e estes em Secções que é a estrutura base do PAI GC «a forçaviva do Partido no sentido preciso do termo>; como diz CorSino Tolentino.PARTIDO/ORGANIZAÇõES DE MASSAS(Existe em Cabo Verde uma forte organização sindical. O número de trabalhadores sindicalizados é pequeno mas pequeno é também o número deoperários. Pudemos no entanto verificar que o Partido dá grande importância àorganização da vida sindical e prepara-se, para este ano, a criação da CentralSindical).«Nós achamos - diz Corsino Tolentino - que toda a organização de massas devecaminhar no sentido de preparar os seus membros para a realização dos objectivosdo PAIGC. Mas deve caminhar nesse sentido com a sua independência orgânica,isto é, as organizações terão a sua própria estrutura, poderão criar e inovar osmétodos de concretização do programa do Partido, defendendo os interessesespecíficos neste caso, dos trabalhadores.Portanto, há separação orgânica das estruturas, o PAIGC não pode controlar edirigir os sindicatos mas emite directivas gerais e as organizações detrabalhadores estuda os meios para que todos os esforços convirjam. Mas issomantendo a estrutura orgânica independente para permitir o desenvolvimento dacriatividade dos trabalhadores e inclusivamente impedir uma espécie deinscrustação que poderia ser possível em caso de haver uma tendên. cia de dirigira todo o momento a acção dos sindicatos. Claro, o que os sindicatos são é obra doPAIGC, as suas direcções são militantes e mantemos uma colaboração estreitatanto no topo como na base».Não se trata, acrescentaria, de existir uma contradição e os sindicãtos nãodefendem interesses opostos aos do governo como seria num pais capitalista.Vimos que existe já uma experiência grande no domínio da legislação no sentidoda defesa dos trabalhadores e algumas leis (despedimentos, por exemplo) foramfeitas por sugestão dos sindicatos.

Ultima »reunião daassembleiapopularTúmiA s características essenciais da Assembleia Nacional Popular vêm expressas, talcomo no nosso país, na lei fundamental, a Constituição. Julgamos não ser

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necessário repetir aqui os artigos fundamentais sobre a Assembleia da Guiné, umavez que eles são bastante semelhantes aos que dizem respeito à nossa AssembleiaPopular.De a s si n aí a r uma diferença apenas, que reside na estrutura que funciona entreos intervalos da Assembleia: Na Guiné existe o Conselho de Estado, compostopor quinze membros eleitos entre os deputados por um período de três anos, naprimeira sessão da sua legislatura.O Conselho de Estado elege o seu presidente, u m vice-presidente e um secretário.O presidente do Conselho de Estado, que actualmente é o secretário-geral adjuntodo PAIGC, LUíS CABRAL, tem funções semelhantes a uma Presidència daRepública- no caso do nosso país, de Angola, ou de Cabo Verde.O Presidente do Conselho de Estado, segundo a Constituição, representa o estadonas relações internacionais e é o comandante supremo das FARP, forças armadasrevolucionárias do povo. Depois existe o Conselho dos Comissários de Estado,correspondente a um Conselho de Ministros, que é responsável perante aAssembleia Nacional Popular e nos intervalos desta, perante o Conselho deEstado.Ela foi constituída em 1974 ain da durante a ocupação colonial que nessa altura,já só se limitava às cidades.Claro que então e s t as não participaram no a e to eleitoral. Mas, mesmo assim aDirecção do Partido achou que deveriam ser eleitos elementos que representariamessas zonas.O processo de eleição foi normal. Foram eleitos os deputados aos ConselhosRegionais que por sua vez elegeram os deputados à Assembleia Nacional. Oprincipal trabalho desta foi a criação das condições para a proclamação daindependência no m e s m o ano. Ela foi também a primeiro órgão de estado umavez-que até ali as tarefas administrativas vinham a ser desempenhadas peloPartido.Quando se deu o 25 de Abril, a Assembleia estava a ind a no mandato da primeiralegislatura, que só terminaria em Março de 1977.Realizou-se depois a segunda eleição. Sobre o modo como ela decorre contou-noso segundo vice-presidente da Assembleia, Juvêncio Gomes, também membro doConselho Superior da Luta do PAIGC. Ele fala-nos do processo de eleição doscandidatos:«Esse processo de eleição dos candidatos, a vida e comportamento dos candidatosé analisa do pelas populações. Eh todas as regiões houve elementos que seinscreveram c o m o candidatos, houve candidatos do Partido e depois procedeu-se à revisão daCabra: na capital da Guiné-Bissau.lista, que foi aceite pela população, aceitação essa que foi demonstrada pelosvotos.Fez-se esse trabalho, fez-se um trabalho de explicação e discussão das massaspopulares. Houve elementos que não estiveram na luta armada nem são militantesdo Partido mas são elementos com um conduta moral irrepreensível, indivíduos

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que não se comprometeram com a política colonial e mereceram a confiança daspopulações.Isso constituiu uma prática da nossa democracia revoluciondria, uma prática quedemonstrou que todos os filhos da nossa terra, tenham ou não participado na lutade libertação, desde que não se tenham comprometido com o regime colonialfascista, têm lugar na Revolução.Portanto, nós fizemos todo um trabalho preparatório, antes da fase dos conselhosregionais. Nesse trabalho fizemos sondagens às populações. H o u v e indivíduosque se inscreveram como candidatos, essa lista foi submetida à apreciação populare houve depois o trabalho de revisão da lista. Depois foi a eleição (directae secreta). Cada um dos elemen tos podia confirmar ou não a sua opinião.Como funciona a Assembleia Nacional Popular da Guiné? O Presidente d oConselho de Estado faz um discurso de abertura no qual analisa as principaisvitórias e erros da actividade governamental desde a última sesTEMPO N.- 405 -pág. 4a

1são. Por ser a primeira vez que isto acontece no caso da Guiné, a análise feita peloPresidente Luís Cabral remontou a o tempo da completa retirada do exército deocupação. O Presidente discursou durante nove horas, em crioulo, onde analisouem detalhe o trabalho de cada um dos sectores.Dá depois a palavra ao comissário de estado de cada sector em discussão,. Eleresponde às críticas feitas, dá esclarecimentos, explica a situação do seuministério apontando as falhas e as realizações.Após terminarem estes esclarecimentos, o Presidente da Assembleia pergunta aosdeputados que falaram e à Assembleia em geral se já estão esclarecidos esatisfeitos com as respostas dadas. Nalgumas das sessões a que tive oportunidadede assistir, a discussão continuou. Noutras, a resposta dos comissários haviamsido consideradas satisfatórias. Falámos sobre este método com Juvêncio Gomesque nos afirmou:«A nossa assembleia está na sua segunda legislatura. Tem já cinco anos deexistência. É ainda jovem e está na fase de adquirir experiências, ao nível dosdeputados.Nós registamos como bastante in teresse a maneira como os nossos camaradasdeputados estão pondo os problemas, estão resolvendo os problemas, estãolevantando questões. Isso demonstra-nos todo um progresso verificado nes teprocesso. Comparando por exemplo com a primeira reunião depois do nosso paísestar totalmente libertado (porque depois da proclamação do estado, até 75 aAssembleia não chegou de se reunir) essa reunião comparada com estademonstra-nos todo o progresso alcançado. Acha mos que a nossa Assembleiadeva trabalhar como está p a r a permitir que todos os camaradas deputados dêema sua opinião franca e sincera. Como verificou quase todos os camaradas tiveramoportunidade de manifestarem as suas opiniões sem qualquer reserva nem receio,porque sentiram-se confiantes daquilo que eles próprios conseguiram fazer, amaioria deles são militan tes da primeira hora, são camaradas que estão pondo osseus problemas, exprimindo-se objectivamente;

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Nós achamos que o outro aspecto da importância desse trabalho é o seu carácterde críti-ca e autocrítica. Isso é muito importante porque é mais uma prática dos princípiosdo nosso partido, e revela o carácter dos princípios da democracia revolucionáriado nosso Partido».Depois da discussão sobre o trabalho dos comissariados, começa então o debatelegislativo propriamente dito. Nesta sessão da Assembleia Popular havia quatroleis para discussão. A primeira dizia respeito às terras. Outra dizia respeito àsqueimadas, que são feitas em grande parte dos c as o s sem qualquer cuidado emuitas vezes para fins que não são agrícolas, o que danifica bastante o equilíbrionatural da Guiné-Bissau.Havia também um projecto de lei sobre o roubo. Ultimamente se vinham averificar um grande número de roubos, organizados de tal modo que levaram osdirigentes a acreditarem no facto de se tratar de uma acção inimiga,O último projecto dizia respeito' às fronteiras, em particular a regularização das ág u a s territoriais. O governo tem também a n da d o em conversações com ospaíses vizinhos para a solução deste problema,A prática da critica e Qutocrtica são princípios fundamentais na AssembleiaPopular, estrutura máxima do novo £stado em Guiné-Bissau. Na imagem Povo daGuiné-Bissau numa rua da capital. TEMPO N.o 405 pag. 44

O projectoculturalExtractode uma entrevistacom Mário de Andrade«...Um outro nível de reflexão é o problema das estruturas da cultura e o perigoque existe entre a «gestão» da cultura feita por um grupo de indivíduos ãý testados organismos estatais e a criatividade das massas. Quer dizer, se a cultura deveser dirigida, como de facto estruturar um Departamento da Cultura? Eupessoalmente estou confrontado com esse problema. Não vale a pena contar todaa história daqui, das estruturas do Conselho Nacional de Cultura mas fá agoraposso-lhe dar alguns elementos que permitem fazer uma reflexão em voz altasobre esse problema.Aqui a cultura estava ligada à educação como é normal em muitos outros países.Geralmente a cultura nunca aparece nos nossos países em desenvolvimento,imediatamente como estrutura independente. São raros os países em que apareceum Ministério da Cultura. A cultura aparece sempre como «parente pobre» ligadaà Educação ou à informação. Do meu ponto de vista eu penso que é a concepçãoda cultura que deve reger a educação e não o contrário, como acontecegeralmente. Eu digo mesmo que é o projecto da cultura que deve reger toda asociedade, porque toda a sociedade e todos os organismos estatais, portanto, oprojecto de desenvolvimento, o seu conceito, é, em primeiro lugar um conceitocultural. Só isso é que pode, de facto, determinar um projecto de sociedade. Nãovejo que possa existir um projecto de sociedade que não seja um projecto cultural.

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Quanto ao problema das estruturas: é evidente que é necessário estruturar, énecessário ter um departamento especializado de definição da política cultural.Nós temos esse departamento que é o Conselho Nacional de Cultura. Antes deirmos para a estruturação de um departamento, nós procurámos pensar a políticacultural do PAIGC. Aliás, o primeiro documento que nós apresentámos àinstância superior do PAIGC que é o Conselho Superior da Luta, foi uma reflexãosobre a po-Entrevista com Mário de Anurade, responsável do Conselho Nacional de Cultura:a realidade cultural ma Guiné-Bissau.lítica cultural do PAIGC. O que é que é que o PAIGC pretende com a cultura?Fomos aos textos de Cabral, fizemos uma reflexão sobre a cultura comofundamento da luta e dissemos que a cultura, numa fase recente, que foi a da lutaarmada, foi a seiva que alimentou a resistência e a determinação de luta contra oinimigo directo. Fizemos a relação entre cultura e luta de libertação, e dissemosque na fase de desenvolvimento, a cultura deve ser o centro de elaboração dopróprio desenvolvimento nacional, O problema da harmonia, o próprio estilo, omodelo, portanto, o projecto global da sociedade, procede de uma inserção nosvalores culturais do país. Inserção nesses valores, mas evidentemente, valoresabertos à universalidade, ao carácter científico, etc.Mas resta ainda o problema de uma estrutura rígida, de um departamento central.A primeira dificuldade é a própria centralização. Não há dúvida que o própriofacto de os departamentos estatais estarem concentrados na capital administrativaé já um dado que pode ser negativo. A cultura estar centralizada quer dizer; areflexão sobre cultura estar centralizada e nas mãos de um grupo restrito (opróprio Consçlho aqui é formado por responsáveis do Partido e Comissários).Claro que se trata de dinamizar, Mas quando nós falamos em Conselho, emestruturar, há logo a tentação que criar estruturas culturais lá onde há infra-estruturas. As casas da cultura ficam na cidade, o balet está na capital, a difusãodo livro está lá onde há imprensa, o cinema lá onde há laboratórios e cinemasinstalados etc. Portanto, a própria discussão já da vida'administrativa limita eimpõe uma centralização. É um perigo.Mas eu digo, mesmo em termos de concepção: Não vejo porque é que um certonúmero de indivíduos e eu próprio estamos mais à altura de definir o que é acultura e o que é prioritário na cultura e na sua dinamização do que as massaspopulaTEMPO N. 405- pág 45

1res, os homens grandes, etc. Emboraseja talvez um pouco idealista pensay queseria possível ir às taban cas e às aldeias recolher de facto o pensamento, cul turale o que cada velho, cada homem importante, ca da produtor da cultura, penso queé importante pro curar recolher junto aos produtores da cultura uma concepçãoque enriqueça a concepção central da cultura.Por isso nós orientamo-nos no sentido, primeiro da descentral . Pensamos que énecessário criar infra-estruturas nas regiões para que a di" fusão da culturanacional e moderna seja possí vel: Fazer o cinema móvel, levar o cinema àstabancas, difundir filmes de carácter educativo, cultural, etc. tornar possível às

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próprias populações verem-se, reverem-se, "ezaminarem-se e compre ender onosso próprio processo e os processos revoluciondrios do mundo, portantoelevarem o seu próprio nível de conhecimentos culturais.Mas, essencialmente, e aqui é que nós consideramos ser a tarefa prioritdria: nósdevemos aprender com o povo e enriquecermo-nos com o povo. E nos projectosprioritdrios no quadro do Instituto de Investigação Científica - que programa ufaacção em ciéncias humanas, - nós damos prioridade a dois aspectos essenciais,que são as línguas e a história.No caso da história, há lá um projecto interessante que é o projecto do CentroPopular Integrado e de Educaçáo Nacional onde, de jacto, o povo participa naelaboração da sua própria história. Isso é importante, isso já nos dá uma certaesperança de que não estamos no caminho erraze3. Se para um dado tãoimportante como é a história oral, nós nos orientamos no sentido de, por um lado,recolher essas tradições orais com o próprio povo (recolher, escrever e voltar aopovo) e, por outro, difundir as técnicas da metodologia. criar técnicos, indivíduoscapazes de conhecer as técnicas da recolha da tradição oral encontramos então ooutro pólo da nossa acção. Ao lado da descentralização, e que talvez seja o pólomais importante, pomos a questão da democratização da cultura, a noção dedemocratização da cultura.Se um pais tem um princípio político que é a democracia nacional revolucionária- e esse é o princípio fundamental do PAIGC - também é necessdrio que isso setraduza no domínio da cultura. O nosso conceito de democratização da culturasignifica criar as condições para o acesso das massas, para a apreensão evalorização da sua própria cultura e uma inserção no mundo moderno.Esta é a nossa concepção, esses são os nossos dois pólos: Democratização dacultura e descentr'a-Indústria artesanal é também um aspecto importante a salientar no processocultural do povo da Guiné-Bissau.Na dança também o gesto cultural.TEMPO N.*405-P-p. 46GU

lizaçdo dos servços culturais. Isso dd-nos, digamos, a esperança de não termosuma visão elitista da cultura.Gostaríamos que se referisse a esse projecto de história, como é que essaexperiência está a ser realizada.MA - A experiência esta a ser realizada, estava sendo lá realizada, no quadro daEducação mesmo antes da criação do Conselho Nacional de Cultura. A escolaMáximo Gorki - uma escola de formação de professores, - integrou a históriatradicional no seu ensino: O professor nacional é um professor que, em princípio,deve conhecer a realidade cultural nacional. Mas como conhecer essa realidadecultural nacional? Ela não está toda escrita, não há manuais, etc. Então, essegrupo que vive no meio rural onde a escola está integrada,vivendo portanto, noseio da comunidade, faz participar a, .omunidade nas actividades da escola. Porum lado, alfabetizando (levando os homens' grandes, depois do seu trabalho, àalfabetização), criando círculos de cultura, por outro lado, pondo os professores

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junto dos homens sabedores (os homens grandes, os gideus que são conhecidosdentro de uma comunidade). Sabe-se que são os homens que conhecem a históriado país. Então eles põem-se à escuta da própria realidade cultural vei-«Se um país tem um princípio político que e a democracia nacional revolucionária- e esse é o princípio fundamental do PAIGC - também é necessário que setraduza no domínio da cultura. O nosso conceitc de democratização da culturasignifica criaras condições para o acesso das massas para a apreensão e valorização da suaprópria cultura e uma inserção no mundo moderno» - Mário de Andrade.culada pelo homom grande, vivem e recolhem, gravam, trabalham o materialcolectivamente, e depois esse material elaborado volta de novo à critica. Querdizer, conta-se a história de novo ao homem grande para saber se foi issorealmente que ele disse e se esta de acordo, se a cronologia está correcta.Até agora isso foi feito duma maneira científica. Agora no Conselho Nacional deCultura nós queremos racionalizar essa experiência. Portanto, estudar a história dacultura africana através da oralidade, pois essa é aliás a caracterstica da culturaafricana. Não vamos limitar a esta ou aquela região mas em todas as regiões ondehá escolas, ou escolas de professores ou centros populares integrados, como é ocaso de Tombali. E vamos procurar, num próprio semindrio, trazer pessoas paraBissau para um estágio nacional sobre a metodologia da recolha das tradiçõesorais. Darmos os conhecimentos técnicos necessdrios(tipo de gravação, o problema do testemunho histórico tipo de confrontação, a critica das fonteshistóricas) para que possamos dar não só às próprias massas populares aconsciência de que eles são produtores da cultura mas difundir isso à escalanacional».VrnCar a VerSonftalidae e culturanacional.TEMPO N.o 405- pág. 47

BATALHA DA ALFABETIZAÇÃOePrsest &&mor M~ch desucd4ia G.mpanha Na~inam reuunio com os tralklb»ws do porto o caminhos de ferroO Presidente da FRELMO e da República Popular deMoçambique, Samora Machel, procedeu à abertura oficial da Campanha Nacionalde Alfabetização no decorrer de uma reunião realizada no passado dia 3 docorrente mês de Julho com <» trabalhadores dos Portos e Caminhos deFerro em Maputo.Esta Campanha dirige-se fundamentalmente aos sectores prioritários do país,designadamente: FPLM. Empresas Estatais, Cooperativas, quadros do Partido,Organizações Democróticas de Massas e Deputados às Assembleiasdo Povo.uViemos hoje aqui para com a classe operdria desencadearmos esft nova efundamental bratalha. Fundamental porque o nosso desenvolvimento político,económico, científico, soetal e iteológico,depende essencialmente da Alfabetização.»

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Foi com estas palavras que o Presidente Samora Maohel ao dirigirse aostrabahadpres portuários e ferroviários definiu a importância e objectivos que sepretende com a Campanha Nacional de Alfabetização, a qual declarou iniciada apartir do passado dia 3 do cotrente a todos os níveis do país.0 Presidente Saniora fez notar a importância de se ter escolhido aquele centro deactividade para o lançamento da Campanha, dizendo a propósito que está decisão não é casual.«Proclamamos o desencadeamento desta batalha-nesta reunio com ostrabalhadores dos Portos.e Caminhos de Ferro TEMPO N. 406- pág. 48

porque nos Portos e Caminhos de Ferro se encontra a maior e mais antigaconcentração de operãrios do nosso País.»Ainda na sua alocução alertou a que muitos trabalhadores adoptam atitudesderrotistas no que diz respeito à aquisição de novos conhecimentos. aJá sou velho,para que é que vou estudar?» A este propósito sublinhou que «O -que envelheceno homem é o organismo. A nossa inteligência não envelhece. A nossaconsciência de explorado não envelhece.»Flncontramo-nos presentemente empenhados na Campanha de Estruturação doPartido e há bem pouco tempo terminou o processo da criação das Assembleiasdo Povo. Assim, muitos perguntarão para quê todas estas c o m p a n h a s quaseque em simultâneo.A esmagadora maioria do nosso povo não sabe ler nem escrever. O obscurantismoe tradicio nalismo ainda subsistem no seio da maioria do nosso povo. Estesaspectos foram abordados pelo Presidente Samora Machel que para uma melhorcompreensão dos trabalhadores, citou vários exemplos do que se verifica no dia-a-dia da maioria do nosso povo.«0 nosso País é um Pais de analfabetos, um País em que a maioria esmagadorados cidadãos nacionais não é capaz de ler tma resolução da Assembleia Popular,não é capaz de ler uma resolução directriz do Partido, não e capaz de ler asinstruções que acompanham a máquina no local de trabalho, que não é capaz deler as normas" que acompanham as sementes seleccionadas para a cooperativa,não é capaz de ler os preços que são afixados na loja. Muitos dos nossosdeputados das Assembleias do Povo nãO podem sequer ler a Constituição daRepública. Não conhecem as suas obrigações, os seus deveres e direitos. Muitosdos militantes do Partido não são capazes de ler os Estatutos e o Programa doPartido. Muitos dos membros dos Conselhos de Produção não estão em condiçõesde ler o programa de produção da sua empresa».A terminar o Presidente Samora exortou a todos os trabalhadores para seengajarem na Alfabetização decidirem-se a «Ir ao médico para ele lhe curar estecancro».uVamos começar a nossa Campanha de Alfabetização. Que os que sabem,aprendam mais e ensinem aos que não sabem. Que aqueles que não sabemaceitem aprender. Que todos e cada um se torne elemento activo da transformaçãodo nosso pais. Que todos e cada um se engaje no combate para pôr a ciência aoserviço do progresso do nosso Pas.»

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Começa hoje.a Campanha Nacional de Alfabetização. Viemos aos Portos eCaminhos de Ferro para, com a classe operária, desencadearmos esta nova efundamental batalha. Fundamental, porque o nosso desenvolvimento político,económico, cultural, social e ideológico, depende, em definitivo, da nossa vitória -n es t a batalha.E uma batalha que exigirá a concentração das nossas- energiaý, dos nossosesforços, da nossa inteligência, e, particularmente, da nossa paciência.É uma batalha longa, é uma guerra prolongada, a batalha que vamos hojedesencadear a partir dos Portos e Caminhos de Ferro.Se nós não formos capazes de vencer esta nova batalha. o nosso progresso e o.nosso desenvolvimento ficarão totalmente comprometidos.Se nós não formos capazes de vencer esta batalha que hoje desencadeamos,viveremos pobres, miseráveis, permaneceremos dependentes do imperialismo.Portanto esta batalha exige energia, inteligência, esforço. Exige particularmentepaciência, porque a paciência é o berço da vitória. Ao lado da impaciência está,como irmã gémea, a preguiça. O impaciente é preguiçosp, o preguiçoso éimpaciente. São gémeos.Mas há também o espírito derrotista, Há aqueles que dizem: «Não posso aprenderporque já sou velho. Nasci, cresci, lutei, com a minha ignorância, com o meuanalfabetismo, o meu osbcurantismo, por que é que agora é necessário que euaprenda?» -Isto é espírito derrotista.O que envelhece nos homens é o organismo. A inteligência, o cérebro, a nossaconsciência, esses permanecem jovens. A nossa inteligência não envelhece, anossa consciência de explorados não envelhece.Devemos fazer duas perguntas.A primeira é: porquê uma Campanha Nacional de Alfabetização? A segunda: porque é que a lançamos a partir dos Portos e Caminhos de Ferro?O ANALFABETISMO É UM CANCRO PARA O NOSSODESENVOLVIMENTOTerminámos há pouco tempo as eleições para as Assembleias do Povo. Nestemomento vivemos em todo o país a Camp&nha de Estruturação do Partido. Porque razão então desencadear uma nova campanha? A resposta é que não hácontradição. Todas estas campanhas se completam. Cada uma delas depende dasoutras.O nosso país é um país de analfabetos; um país em que a maioria esmagadora doscidadãos moçambicanos, dos cidadãos nacionais, não é capaz de ler umaresolução da Assembleia do Povo; não é capaz de ler uma directriz do Partido;não é capaz de ler as instruções que acompanham a máquina no local do trabalho;não é capaz de ler as normas que acompanham as sementes seleccionadas para acooperativa; não é l:apaz de ler os preços afixados na loja.Muitos dos nossos deputados das Assembleias do Povo não podem sequer ler aConstituição da República. Quer dizer, não conhecem os seus deveres, nãoconhecem as suas obrigações e não conhecem os seus direitos. Não são capazesde compreender quando é justo, quando é injusto.Muitos dos militantes do Partido não são capazes de ler os Estatutos e o Programado Partido.

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Muitos dos membros dos Conselhos de Produção não estãoTEMPO N.° 405- pág. 49

em condições de ler o programa de produção da sua própria empresa, de poderconhecer as metas.Se não souber ler, como irá o nosso camponês diversificar a produção no campo?Como irá o nosso camponês, o nosso cidadão, lutar contra os maus hábitosalimentares, os maus hábitos higiénicos?Como será capaz de ler quando está escrito que é proibido, ou que há um perigo?Como será capaz.de ler as regras mais elementares? Como é que.fundamentalmente, será capaz de diversificar a produção, de melhorar a qualidadeda produção, de melhorar a qualidade do 'eu trabalho?O analfabetismo é um cancro para a sociedade é,urs cancro para a humanidade. Oanalfabetismo é um cancrc para o nosso desenvolvimento.Fixámos metas fundamentais para o nosso povo, que correspondem aos interessesprincipais de cada homem e mulher no nosso país: Queremos acabar com a fome,queremos acabar com a nudez, queremcs acabar com a doença. Queremos acabar.em definitivo, com a miséria e com a pobreza.Para acabar com a fome e a nudez temos que produzir mais, melhor, maisdepressa, mais barato. Para acabar com a doença temos que saber viver melhor,comer melhor.Por que continuamos a ter fome se a nossa terra é generosa para todos nós? Anossa terra dá-nos milho, arroz, trigo. açúcar, feijão, girassol, gergelim, dá-nostodo o tipo de fruta. Dá-nos laranja, abacate, toranja, tangerina, ananás, manga,caju.. Dá-nos mafurra, tomate, alface, cenoura e cebola. ~É isto aue liquida afome.O nosso mar também é generoso. Dá-nos camarão peixe; lagosta, lagostim e-atum. Dá-nos amêijoa, mexilhão, tartaruga e baleia.Mas se formos analfabetos como podemos tirar proveito e rendimento de tudoisto?A nossa terra dá-nos ouro, cobre, urânio, ferro, asbestos.A nossa terra dá-nos carvão e das madeiras mais preciosas do mundo. Comoutilizar tudo isto em benefício do progresso, em benefício do desenvolvimentosocial, cultural e económico, quandosomos analfabetos?O estudo significa a organização~ significa adquirirmosconhecimentos. O estudo significa conhecimento sistematizado.Não é somente ler. Há um objectivo essencial, há um objectivotraçado que nós queremos atingir.A SABEDORIA É UM INSTRUMENTO DE LIBERTAÇAOQuando desencadeámos a luta armada tivemos que res-,ponder a estas perguntas todas: Quanto tempo vai durar a guerra?E dissemos: «O tempo que for necessário.» Quem participará na guerra? Sãoapenas os jovens? Dissemos: «Não, porque se trata dá libertação; de todos, porquese trata essencialmente de libertar ,os, homens e a terra.» Era o País inteiro queestava em causa.

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Hoje, de novo, a 3 de Julho de 1978, necessitamos de um novo engajamento paralutarmos contra o analfabetismo, a ignorância, o obscurantismo. Portanto tambémagora é necessária a participação rnassiva dos, homens, das mulheres, dascrianças, dos velhos. Essencialmente é necessária a participação dos velhosA luta contra o analfabetismo é também uma luta contraos preconceitos herdados. É fundamentalmente, uma luta política.Temos de lutar contra os preconceitos, lutar contra os tabus estabelecidos, lutarcontra os sistemas herdados, sistemas que foramsóndo aperfeiçoados pelos nossos inimigos.A ciência nas mãos do inimigo é um instrumento para aTEMPO N. 405- pág. 60morte. O nosso inimigo,\utiliza a ciência para oprimir, para semear a morte, parasemear a miséria. Para nós, a sabedoria, é um instrumento para a libertação, uminstrumento para o nosso deserfvlIvimento.Úa ánalfabetismo, a ignorância, õ obscurantismo, são os inimigos da nossaorganização, -do nosso conhecimento. Saber ler e escrever, saber sintetizar asnossas experiências e dominar a ciência, são as nossas armas para vencer estaguerra.Fundamentalmente é necessário que vocês compreendam a ligação destas oficinascom os outros sectores de produção do nosso País. É necessário saber queesta'oficina está ligada à agricultura e à indústria, ao hospital, à escola, àUniversidade, às escolas secundárias, às escolas primárias. É necessário saber quea vossa oficina está ligada ao hotel, à pensão, à empresa de construção; saber quese a vossa oficina não funciona, não há abastecimento na cidade, se a vossaoficina não funciona, se não está organizada, os funcionários chegam tarde aoserviço, preju- 1 dicam a chegada dos alunos a tempo à escola; saber que a oficinaestá ligada a todos ós sectores: transportes aéreos, ferroviários, rodoviários emarítimos; a vossa oficina está ligada ao tractor que cultiva a terra, à machamba, àenxada que fere a terra.Mas compreender isso exige conhecimento. Onde estão essas ligações, como sefazem essas ligações? Para sabermos isso é preciso saber ler e escrever, Em 20 deSetembro de 1.974, na tomada de posse do Governo de Transição, dissemos:«Colocar a instrução, a educação e a cultura ao alcance e ao serviço das largasmassas. combatendo enérgica e sistematicamente a pesada herança que nos foilegada pelo colonialismo: o analfabetismo, a ignorância. o obscuranismo.» No IIICongresso dissemos: «Orientar e controlar o sistema de ensino, dando prioridadeà alfabetização do nosso Povo.» Estamos, portanto, a cumprir essas orientações,vejamos em concreto: numa machamba onde trabalhamos com muito esforço, aonível da agricultura familiar, produzíamos 300 a 400 quilos de comida porhectare. Quatrocertos quilos, são quatrosacos de cem quilos.Para comer, comprar leite, comprar vestido, comprarcapulana, comprar blusa, comprar sapatos para domingo e sapatos para o trabalho,comprar saia, vestir-os filhos, ter cobertor, comprar cama, comprar boa colcha...quatrocentosquilos é suficiente? Não.

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Mas isto é a realidade em todo o nosso País. Num país em queos trabalhadores agrícolas, os camponeses, dominam a ciência e a técnica, comum esforço idêntico eles produzem sete toneladas de arroz ou milho por hectare!Vejam a diferença: Sete toneladas significa setenta sacos, num hectare. A China jáproduz dez toneladas por he.:tare, a República Popular e Democrática da Coreia«Qu os que sabem apre nm mao e ensmnem ao# que n4 sabem. Que aqueles queno sabemn aceitem aprohder.» Samora Machel.

ARQUIVO HISTORICO DE MOÇAMBIQUEproduz também dez toneladas por hectare. Significa cem sacos por hectare,enquanto nós produzimos quatro sacos apenas.Quando dizemos produzir, dizemos produzir melhor, mais depressa, mais barato.Diremos melhor: mais depres,, mais eficientemente, mais rápido.Este ano, o Vale do Limpopo vai produzir trinta e cinco mil toneladas de arroz!Sabem quantos sacos são? São 350 mil sacos de arroz! Mas se já dominássemos aciência teríamos produzido oitenta ou noventa mil toneladas no Vale do Limpopo.Noventa mil toneladas significa 900 mil sacos! No nosso país, comemos 120 miltoneladas, o que significa um milhão e duzentos mil sacos de arroz, e ainda não étoda a gente que come arroz. Nós queremos que, em todos os produtos, sejamosprodutores, consumidores e. exportadoreì. Temos que produzir, comer e exportar.Quando dou este exemplo quero dizer que se produzíssemos o que poderíamosproduzir só nas zonas que já cultivamos, estaríamos em condições de ter arrozquase para as necessidades de todo o País.O mesmo acontece em relação ao algodão. Se produzíssemos o que poderíamosproduzir, teríamos algodão. para vestir a nosso Povo, do Rovuma ao Maputo, eainda sobrava, para vender. Mas se nós não compreendermos o valor do algodãocontinuaremos nus. E teremos que comprar algodão para as nossas fábricaspoderem trabalhar. Com esse dinheiro poderíamos comprar outras máquinas.Não tem sentido estarmos a comprar peixe quando temos uma costa com três mile quinhentos quilómetros.',Não tem sentido termos que comprar castanha de caju, quando somos um dosmaiores produtores de castanha do mundo.O ano passado, tivemos que comprar à Tanzânia trinta e cinco mil toneladas decastanha de caiu, para as nossas fábricas.A causa disto é o nosso analfabetismo, a nossa ignorância, o nosso osbcurantismo.É um cancro, para o nosso desenvolvimentÉ preciso acabar com o analfabetismo. É preciso destruir esse cancro, é precisoaceitarmos ir ao médico e dizer: «Corte-me este braço, porque não quero que adoença que existe neste braço me atinja o corpo inteiro.» Temos que aceitar ir àEducação e dizer: «Tirem-me a ignorância, o analfabetismo.»Encontraremos algumas resistências, do Rovuma ao Maputo. Haverá alguns quedirão: «Você agora quer i.r estudar com esta idade?». Não tenhamos ilusões.Vamos encontrar esses desmobilizadores. Além disso, pessoas com mentalidadecapitalista, quando vêem outras adquirir conhecimentos pensarão: «Se esteaprende, eu vou perder o emprego.» Isto é errado, é falso. Na sociedade socialista

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quanto mais pessoas há com conhecimentos, melhor, porque vamos produzir maise melhor, vamoý viver melhor. Esta é a sociedade nova.DOMINAR A T<CNICA E A CIENCIAÉ ESTUDAR E NAO IMITARVejamos outros exemplos.A fruta é vida para as crianças. Em muitas zonas do nosso país produzimos fruta,mas não comemos. Noutras, apesar de haver condições. favoráveis, nãoproduzimos. Temos ovo4 mas poucas são as mulheres grávidas que comem ovos,apesar disso ser indispensável para a saúde da mãe e para o desenvolvimentosaudável do bebé que está para nascer. As vacas, ovelhas e cabras que existem nonosso País, embora em quantidade muito insuficiente, dão leite, que as criançasnão aproveitam. Não sabemos aproveit4r o que temos, nem melhorar a nossa vida.Estes são os tristes resultados do analfabetismo, da ignorância.A guerra que agora vamos desencadear contra o analfabe-Aprendendo a ler e a escrever, aprendendo a ter uma visão do conjunto,saberemos integrar que fazemos no esforço de todos, criamos condições paraobter uma visão científica do mundo, para derrubarmos o inimigo de ciência, oobscurantismo. - Samora Machel.tismo é parte integrante da nossa luta contra a fome, contra a doença e contra amiséria. 'parte integrante da nossa luta para tornar eficaz o exercício do PoderPopular. É necessária para que o Partido, através dos seus militantes, possa naprática quotidiana assumir o papel dirigente da sociedade e do Estado.Esta não é um> hAtalha nova. Já > tinhamos travado durante a guerra, quandocomeçámos a alfabetizar os soldados, para que elés pudessem tirar o rendimentodevido da sua arma, para que eles pudessem assumir a estratégia e a táctica dodesenvoivimento da luta armada de Libertação Nacional.Quando nós não sabemos, corremos sempre o risco de cometermos mais erros. Osacidentes nos Caminhos de Ferro são frequentes. Os comboios, em Nampula,Beira, Maputo, Tete e Mutarara, ainda têm desastres, porque. a ignorância dáincompetência. O ignorante é incompetente. O incompetente julga saber tudo.Em Maputo, hoje, é um perigo andar nas estradas. Os machimbombos vão contraos postes, galgam os passeios, vão contra as árvores, "ão contra as lojas, contra osprédios, contra as casas. Os machimbombos vão contra mulheres, contra criançase contra nós. Há machimbombos que saem daqui para Gaza. Inhambane e Beira, eduram uma semana pelo caminho, transportam cem pessoas mas é como setransportassem dez tonelaTEMPO N.' 405 - páo 51

das de lenha. Não ná consciência de que transportar pessoas. seres húmanos,velhos, crianças, mulheres, é uma grande responsabilidade. Há mesmo os queconduzem machimbombos quando estão totalmente embriagados. Isto não ésomente ignorância. nem Incompetência, é irresponsabilidade e inconsciênciaque, em muitos casos, nasceu da ignorância, do analfabetismo, do obscurantismo.Tivemos acidentes aqui no cais de minério, no porto de Maputo, por causa dessainconsciência e irresponsabilidade, por causa da ignorância.Tudo isto me faz lembrar a história de um macaco que. uma vez, estava em cimaduma árvore perto da residência de um homem que fazia a barba com uma

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navalha todos os dias. O racaco quis imitá-lo e arranjou uma navalha, espelho eágua. Molhou o focinho e pegou na navalha e começou a cortar o pescoço,pensando que estava a fazer a barba.Dominar a técnica e a ciência é estudá-la, não é imitar os técnicos e 'cientistas.O combate contra o analfabetismo é uma batalha fundamental. «Fundamentalporque o nosso desenvolvimento político, económico, cultural, social eideológico, depende, em definitivo, da nossa vitória nesta batalha - SamoraMachel.OS OBJECTIVOS ESSENCIAIS DA CAMPANHAPara a batalha do nosso desenvolvimento, o objectivo da Campanha Nacional deAlfabefização de Adultos, é libertar a iniciativa dos nossos trabalhadores,fornecendo-lhes conhecimentos científicos básicos e instrumentos de análise, quelhes permitam a sua completa participação no processo revolucionário.Alfabetizar, é produzir melhor, é preparar o trabalhador para aumentarconscientemente a qualidade da nossa produção, é o primeiro passo paramaterializarmos o princípio de que o estudo deve ser permanente, no nosso País.Alfabetizar é vencer o maior 1bstáculo ao rápido desenvolvimento da economianacional, através do aproveitamento racional dos nossos recursos, com os meiosque dispomos. Alfabetizar é preparar para dominar a técnica, as máquinas comque trablhamos, para dominar a ciência e conhecer como dominar as leis dodesenvolvimento da sociedade e da natureza, para controlar e transformar asociedade e a natureza. Alfabetizar é criar e consolidar condições para podermosplanificar a vida e a produção, para que o Povo possa, efectivamente, tomar opoder e construir uma sociedade nova.TEMPO N.' 405- pág, 52O objectivo da alfabetização, é armar ideologicamente. armar cientificamente, daros conhecimentos e meios de análise ao trabalhador moçambicano e libertar osadultos e velhos do passado; é libertar a iniciativa criadora, é liquidar oobscurantisrio e a ignorância.A"" Campanha de Alfabetização, é o primeiro passo de um processo longo epermanente, para aumentar cada vez mais os nossos conhecimentos e conquistar aciência.O nosso objectivo, nesta campanha é, também, diminuir os desastres, acabar comos acidentes nas ruas e nas fábricas, por causa da ignorância. O nosso objectivo édiminuir o desperdício de matérias-3rimas, de tempo de trabalho, desperdício,portanto, da nossa riqueza. E diminuir a mortalidade infantil, é liquidar a fome e anudez, é produzir mais e melhor, é acabar com*as bichas que surgem quando não produzimos.Alfabetizar é fortalecer a nossa consciência política, é solidificar a aliança queliga o operário ao camponês, é compreender a interligação que existe entre ooperário e a Função Pública, entre o operário e o hospital, entre o operário e aescola.Alfabetizar significa transmitir novos esquemas de compreensão dos fenómenosda natureza, significa aumentar a autoconfiança nas nossas próprias forças. Odever da alfabetização é preparar paã_poder assumir conscientemente asinterligações que existem entre o nosso pais e o mundo, as relações que

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-existem entre os Povos. a solidariedade que há entre os oprimidos, asolidariedade dos proletários de todo o mundo.Estes são os objectivos essenciais da Campanha Nacional de Alfabetizaç,Ageneralização da língua portuguesa, e um meio importante de comunicação entretodos os moçambicanos, veículo importante do nosso futuro comum. Algunsperguntavam durante a guerra: «Para quê continuarmos com a línguaportuguesa?» Alguns vão dizer que a Campanha Nacional de Alfabetização é paravalorizar a língua portuguesa. Em que língua é que vocês gostariam que nósdesencadeassemos a Campanha de Alfabetização? Em Macua. em Maconde. emNvania, em Changane, em Ronga, Bitonga, Ndau. em Chuabo?A CONSCIÊNCIA OPERÁRIA DOS TRABALHADORESDOS PORTOS E CAMINHOS DE FERROProclamamos o desencodeamento desta batalha nesta reunião com ostrabalhadores dos Portos e Caminhos de Ferro porque nos Portos e Caminhos deFerro se encontra a maior e maisantigo concentração de operários do nosso Pois.Nos operários dos Portos e Caminhos de Ferro encontramosos problemas principais a que fazemos face. Nesta reunião estóo trabalhadores dasOficinas Gerais que na sua grande maioria sabem ler e escrever, e trabalhadoresdo Via e Obras entre os quais é elevada o percentagem de analfabetos.Uns fazem funcionar os máquinas outros permitem às móquinas circular. Ostrabalhadores dos oficinas estão concentra dos, os trabalhadores do Via e Obrasestão dispersos co ongcdos 3000 Kms de linha férrea existente no nosso Pais.Queremos aumentar a produção de carvão em Moatize,Transportar o carvão para os portos depende dos locomotivas, depende dosvagões. depende do estado da via. Queremos quý os morangos da Angónia nãoapodreçam. Quem é que conhe o que é morango? São muitos, mos os morongosestão a apodre cer na Angónio. Queremos cultivar 80000 hectares de cereoina Angónio. Como escoar a produção poro o Pois?Em Niossa existe muita terra fértil. Estamos a preparadezenas de milhar de hectares para a produção de trigo. Temo indicação deimportantes jazigos minerais nessa Província Como f azer com que a produção deNiassa sirva todo o País

Inicia-se agora a construção do complexo têxtil em Cabo Delgado. Ele precisa dereceber algodão para nos dar roupa.Estão a ser construídas barragens em Cabo Delgado que devèrão fornecer maiscomida-ao País. Como fazer com que o esforço de produção beneficie o nossoPovo?O caju e o algodão de Nampula devem chegar às nossas fábricas para setransformarem em óleo e roupa.A copra e ýo chá da Zambézia devem ser vendidos ao estran. geiro para podermoscomprar os tractores e máquinas que ainda não produzimos.Em Manica vai-se erguer o grande complexo da produção do papel. Vai-sevalorizar a nossa madeiro. Desenvolve-se a produção da fruta. Sabemos que o ano

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passado tivemos que enterrar laranjas que apodreceram. Eram mais de 100toneladas.Em Sofala os trabalhadores engajaram-se resolutamente na tarefa de aumentar aprodução do açúcar. Precisamos de mais açúcar para o nosso consumo interno,precisamos de mais açúcar para exportação.Inhambane é rico em madeiras que podem abastecer o nosso mercado nacional e ointernacional. Inhambone tem grandes possibilidades de indústria química a partirdo gás. Mas é preciso liquidai o analfabetismo.O Vale do Limpopa deve-se tornar rapidamente no Celeiro Nacional, mas oCeleiro só é útil quando os produtos podem ser distribuídos.Em Maputo concentra-se uma grande parte da indústria nacional que deveabastecer o País.São os trabalhadores dos Portos e Caminhos de Ferro quem tem a tarefa deassegurar a circulação dos nossos produtos. São os trabalhadores dos Portos eCaminhos de Ferro que devem levar as charruas e os adubos para Os zonasagrícolas, trazer a comida para as zonas urbanos, garantir a saida das nossasexpor. tações para o estrangeiro.Estão aqui reunidos os trabalhadores dos Oficinas Gerais dos Caminhos de Ferro.Do eficaz funcionamento das Oficinas depende -a regularidade do comboio. Oatraso de um comboio implica a perda da coincidência com os machimbombos,implica perda de inúmeras horas para grande número de cidadãos. Se o comboioque atrasa é de mercadorias implica a imo-Muitos dos nossos deputados das Assembleias do povo não podem sequer ler aConstituição da República. Quer dizer, não conhecem os seus deveres, nãoconhecem os seus direitos (...). A generalização da língua portuguesa é umimportante meio de comunicação entre todos os moçambicanos, veiculoimportante do nosso futuro comum. Samora Machel.«FAÇAMOS DO PAIS UMA ESCOLA ONDE TODOS APRENDEM E TODOSENSINAM» - Samora Machel.bilização de camiões ou o atraso injustificado de navios, fazendo a economianacional perder milhares de contos.Estão aqui presentes também os trabalhadores de Via, que de sol a sol, zelam pelasegurança da circulação dos nossos comboios. Temos conhecimento de que amaioria que trabalha na Via e Obras é analfabeta. Mas sabemos também que elestêm um alto sentido de -responsabilidade. Por isso dizemos aos companheiros queestão aqui é a todos os outros, que eles não trabalham porque o fiscal, ou capatazos vigia constantemente. Não. Eles trabalham porque para eles o capataz éfundamentalmente o sua consciência. A responsabilidade da sua acção não seresume àqueles 1000 metros de linha onde ele exerce directamente a sua tarefa -ele é um elemento decisivo num dos sectores determinantes do economianacional.DEFINIÇÃO DOS 'SECTORES PRIORITÁRIOSO nosso princípiQ de. trabalho é concentrarmos forças para aniquilar o inimigo.Quer isto dizer concentrar os que sabem ler e escrever para que estes unam osseus esforços com aqueles que são analfabetos de modo a liquidar o

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analfabetismo. Na batalha, porque os objectivos são muitos, devemos definirprioridades.As nossas prioridades neste momento são as Forças Populares de Libertação deMoçambique. Temos o Serviço Militar Obrigatório. Os jovens vão estar dois anosnas Forças Armadas. Não podemos tolerar que alguém saia das Forças Armadassem saber ler nem escrever. Um soldado que não sabe ler nem escrever não sabetirar todo o rendimento da sua arma, não sabe estudar o inimigo, tem dificuldadeem compreender a grandeza da sua tarefa, as razões do seu combate. Ensinar a lere escrever aos soldados das Forças Populares de Libertação de Moçambique éfazer das Forcas Populares uma escola que forma quadros para a economianacional, é fazer do Serviço Militar Obrigatório um veiculoý de transformação donosso País.Temos as empre3as estatais agrícolase industriais. Temos TEMPO N.' 405- pág.53

fábricas, temos cooperativas, temos aldeias comunais. Estes são os sectores devanguarda da nossa economia nacional, são a grande força que transformará onosso País. É aí que se desenrola a batalha principal da produção e pelo aumentoda produtividade. Liquidar o analfabetismo nestes sectores é permitir odesenvolvimento rápido da economia nacional.Quando liquidamos o analfabetismo criamos as condições para liquidar aigloráncia. A ignorância é a incapacidade de compreender um fenómeno em todasas suas dimensões. O igno, rante pode saber ler e escrever mas do seu trabalho edo seu País, da sua vida mesmo em casa só tem uma visão empírica, uma visãoimediata e rotineira. Por exemplo, ao reparar a biela da locomotiva não temconsciência do que é que significa o seu trabalho para a empresa do Vale doLimpopo que necessita de trazer o arroz para o Maputo e precisa de receber ecimento para o regadio. Por exemplo, o ignorante ao urinar fora da retrete não temconsciência que está a criar condições para o seu filho apanhar a bilharziose.Aprendendo a ler e a 'escrever, aprendendo a ter uma visão do conjunto, osabermos integrar aquilo que fazemos no esforço de todos, criamos condiçõespara obtermos uma visão científicaO nosso País é um País de analfabetos, um País onde a maioria esmagadora doscidadãos moçambicanos não é capaz de ler as normas que acompanham assementes seleccionadas, não é capaz de ler os preços afixados na loja.TEMPO N., 405- pâg. 54Mas há também o espírito derrotista. Aqueles que dizem: «Não posso aprenderporque já sou velho.» O que envelhece no homem é o orçanismo. A nossainteligência não envelhece, a nossa consciência de explorados não envelhece. -Samora Machel.e materialista do mundo, para derrubarmos o inimigo da ciência, o obscurantismo.O obscurantista embora muitas vezes saiba ler e escrever e embora às vezes atétenha feito cursos de Filosofia e Teologia é incapaz de compreender a relação dosfenómenos da natureza e da sociedade.Por exemplo, um obscurantista pensa que a miséria, a existència de classes, querdizer a exploração do homem pelo homem, resulta dum plano divino, ele

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considera a mote e o sofrimento como uma fatalidade necessária. A seca e asinundações, a saraivada, são.para ele coisas contra as quais não podemos lutar.A luta pelo socialismo derruba as classes exploradoras. A luta pelo aumento daproduçãb acaba com a miséria. A utilização da ciência médica faz recuar a doençae a morte. As barragens e o regadio impedem as secas e as inundações. Astécnicas modernas podem impedir os granizos e as saraivadas. Por umaalimentação mais cuidada das mulheres grávidas e das crianças podemos salvarmuita gente. Mas nós sabemos que os obscurantistas.frequentemente lutam contrao consumo de leite, ovos, peixe, carne, em nome de tabus e tradições. Umexemplo: os descendentes do Gungunhana não comem peixe, mas este possui ofósforo necessário ao cérebro. Outros não comem carne de porco em nome deproibições divinas, quando esta e uma carne extremamente rica. Há os queproíbem mulheres, jovers e crianças de comerem ovos, quando o ovo é um doselementos indispensáveis á boa saúde.A construção da sociedade socialista, a criação do homem socialista sãoincompatíveis com a existência do obscurantismo, da ig'orância e dorialfabetismo.Vamos começar a nossa Campanha de Alfabetização. Que os que sabemaprendam mais a ensinem aos que não sabem. Que aqueles que não sabemaceitem aprendei. Que todos e cada um se torne elemento activo da transformaçãodo nosso País. Que todos e cada um se engaje no combate duro, longo, masexaltante para pôr a ciência ao serviço do nosso progresso. cada um apre,da asentir a dor do outro como uma dor de todos nós. E dizemos«FAÇAMOS DOPAIS UMA ESCOLA EM QUE TODOS APRENDEMOS E TODOSENSINAMOS».

SOBRE DESPORTO FEDERADOAs questões que hoje vamos aprofundar ao nível do desporto relacionam-se comuma análise ao trabalho do Desporto Federa do, nomeadamente sobre filiaçõesinternacionais, a Formação do Comité Olímpico Nacional e o .intercâmbiodesportivo internacional. Ainda neste âmbito falaremos das próximas realizações,co mo por exemplo os Jogos Africanos a realizar em Argel, o CampeonatoMundial de Hóquei em Pa tins a ter lugar na Argentina e também, de uma maneirageral sobre a programação do Serviço Nacional de Desporto de Alta Competição,mais propriamente da planificação e dos motivos que levaram à paragem doactual cam peonato provincial de futebol. A terminar falaremos também daparticipação moçambicana nos Jogos Olímpicos.Para isso R.M. Jornal traz hoje o Responsável do Serviço Nacional de Desportode Alta Competição João Carlos da Conceição que irá abordar estes temas que jáanunciámos.Gostaríamos que nos falasse primeiramente no trabalho que está a serdesenvolvido por este sector ao nível do Desporto Federado?Como é do conhecimento geral, em Fevereiro deste ano foram criadas FederaçõesNacionais. Estas Federações por sua vez insereveram-se em FederaçõesInternacionais correspondentes, o que cria a possibilidade de futuramentepodermos participar e fazermos parte da comunidade Internacional Desportiva.

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Ao mesmo tempo a filiação dessas Federações nos Organismos' Internacionais,cria condições para se formar o Co mité Olímpico Nacional. Qual é o númeronecessário para a formação desse Comité Olímpico ao nível do nosso País?Para se formar um Comité Olím pico Nacional é necessário que hajam 5Federações Nacionais, inscritas, em Federações Internacionais.Para quando é que se prevê essa formação?A formação está para breve. Dentro dos próximos meses teremos o nosso ComitéOlímpico Nacional.Sera possível dar-nos uma ideia dos critérios que vão presidir à formação donosso Comité Olímpico ?Os critérios, são critérios Internacionais. O Comité é exactamente formado apartir das próprias Federações. São as próprias Federações que criam o ComitéOlímpico Nacional. Dele farão parte alguns dirigentes Federativos, bem comooutros elementos que-estejam ligados ao desporto.Gostaríamos de abordar uma outra questão. Ela está relacionada com ointercâmbio desportivo ao nível Internacional. O que é que este Sector já fez _atéao momento nesse aspecto?Como é do conhecimento geral, em relação ao intercâmbio inter nacional, jáfizemos convites a vários Países que nos visitaram. Já tivemos a visita, emfutebol, da Selecção de Cuba, já tivemos uma equipa de Ténis de mesa daRepública Popular da China, já cá estiveram também (ainda este mês) váriasequipas, nomeadamente da Nigéria, da Tanzania e Zâmbia em Badmington».Gostaríamos agora de centrar esta nossa conversa na participação moçambicanaao nível inter. nacional, como por exemplo da representação nacional dos JogosAfricanos de Argel e no Mundial de Hóquei em Patins. João Carlos pode-nos, daralgumas indicações sbbre ¿ste doiý acontcimentos despo*tivds? 1Os Jogos Africanos a serem realizados no próximo mês em Ar~ gel, é a nível donosso Continente, a realização de maior significado. 1I, porquanto os terceirosJogos Africanos são realizados por uma estrutura desportiva a nível do nossoContinente, ou seja, o Con selho Superior de Desportos de Africa, estrutura queconsegue congregar um grande número de países do nosso Continente. Cria-seassim a possibilidade de nos enquadrarmos melhor no desporto do nossoContinente. Isso per mitirá uma maior troca de experiências. Nós vamos estarrepresentados em Argel nos próximos Jogos Africanos nas modalidades deatletismo e natação, pois são as modalidades em que de momento oferecem asmelhores con dições de representação. Em outras modalidades não foi possível anossa inscrição dado que deveríamos ter participado em «poules» de apuramento.Nós passaríamos agora para uma outra realização. Aquela que está neste momentoem Moçambique a ser alvo de uma intensa preparação. É o Campeonato Mun dialde Hóquei em Patins, que como já é do domínio público, se vai realizar emNovembro na Argentina. O que nos pode dizer sobre esta nossa participação sobreos trabalhos que se estão a realizar a , possibilidades de Jogos Inte c na; i comofolma de prep& -'çâo da nossa eqýiía?,TEMPO N.° 405-pág. 55

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Em relação ao Campeonato Mundial que vai ser realizado na Argentina, a nossaSelecção Na cional, tem-se vindo a preparar já há cerca de três meses. É aprimeira vez em que Moçambique estará presente no Campeonato do Mundo.Uma presença num Cam peonato do Mundo acarreta várias dificuldades;dificuldades resultantes de experiências. Nunca participámos em Jogos deCampeonatos Mundiais, mas de qual quer forma a nossa Federação Nacional deHoquei em Patins está a fazer todos os esforços para que, os elementosseleccionados estejam a ser treinados devidamente e para que possam estarpreparados para realizar uma pro va tão dura e tão difícil. Há necessidade daequipa poder parti cipar e poder fazer jogos de treinamento com outros Países,mas como sabe há dificuldades de transportes, dificuldades de contacto comoutros Países e de facto isso vem a prejudicar um pouco os trabalhos da própriaselecção. Contudo tentaremos convidar alguns Países antes de arrancarmos para aArgentina. Estamos a fazer todos os esforços para que isso possa acontecer.Passaríamos agora a um outro aspecto desta nossa entrevista eque se relaciona muito com a pro gramação do Serviço Nacional de Desporto deAlta Competição. Quais foram os vossos planos iniciais e como é que estão a sercumpridos até esta fase?Como disse inicialmente, em Fevereiro último, criámos as Federações Nacionais.Não foi só criar as Federações Nacionais. Ha TEMPO N.o 405 --pág, 56344via a necessidade de se fazer uma programação geral do trabalho das própriasFederações. Uma planificação, digamos assim. A primeira dificuldade que surgiufoi exactamente pelo facto das próprias Federações não terem um local onde sepudessem juntar e trabalhar; mas isso depois foi resolvido. Em relação porexemplo, ao futebol que é a Federação mais antiga digamos assim, é a Federaçãopois que já vinha desenvolvend!o um trabalho. Nós tentámos planificar o trabalhoda seguinte maneira: A abertura da época, estava prevista para Janeiro, mas só foipossível fazer a abertura em Fevereiro. A partir daí, nós planificámos o trabalhono sentido de que os campeonatos provinciais deveriam ir de Fevereiro até o mêsde Agosto, com uma interrupção durante o mês de Junho, para que pudesse haverum intercâmbio interprovincial e internacional.Isto faz-nos abordar esta questão talvez um pouco mais a fundo. Muitas pessoasse têm referido à paragem do campeonato provincial, particularmente aqui naprovíncia de Maputo, dizendo que isso não está correcto na medida em que osjogadores perdem o contacto, pois ficam aproximadamente 4 semanas sem jogar.Pensamos que não estará muito correcta essa maneira de pensar na medida emque a interrupção dos campeonatos já fazia parte da vossa planificação.Exacto Muito antes dos campeonatos provinciais terem come-çado nós játínhamos previsto uma paragem durante o mês de Junho para que as respectivasFederações e Associações provinciais pudessem incrementar um intercâmbiointerprovincial, quer a nível de Selecções provinciais ou a nível de Clubes e sepossível intercâmbios internacionais.. É bom nós começarmos a pensar, que,quando se começa um cam peonato provincial não devemos ficar à espera docampeão. E o que acontece é que realmente a maior parte das pessoas,particularmente as que gostam de futebol pensam assim. Os campeonatos tiveram

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que ser parados por quanto já tinha sido programado. A verdade é que asrespectivas Associações Provinciais e Clubes, só exactamente durante o mês deJunho é que pensaram em realizar esse intercâmbio interprovincial, quandodeveriam ter pensado nele antes, para que du rante esse mês as equipas nãoficassem paradas. Há orientações nacionais para que Clubes de uma província,visitem outra província para que possamos conhecer as realidades de outrasprovíncias e possamos trocar experiências. Não devemos ficar só limitados ecircunscritos a realizações no âmbito da nossa Província. É necessá rio sair paraas outras Províncias e promover sobretudo o intercâmbio provincial, porque issode facto vem a beneficiar em todos. os aspectos, porque se há províncias que têmfutebol desenvolvido, há outras que têm futebol menos de senvolvido. Quem dizfutebol, diz qualquer outra modalidade. Há pois a necessidade de mostrar o tipode futebol que se pratica nesta ou naquela província e isso só vem a beneficiar ofutebol e o desporto a nível Nacional. As reacções que têm acontecido, pensa mosque são reacções particulares, reacções de pessoas que ainda não conseguiram«despir» as camisolas das suas equipas, e nós podemos pensar em aspectosparticulares. Temos que pensar em aspectos Nacionais, em interesses Nacionais enão em interesses particulares. Há a necessidade de se criar uma tradição duranteo mês de Junho de todos os anos em podermos promover o inter câmbiointerprovincial. Isso é de interesse Nacional.Colaboração

BRASILDECISIVO RESSURGIMENTODAS LUTAS OPERARIASAlgo novo, de importáncia extraordinária, vem de se pôr no processo brasileirodas lutas politico-sociais. Mais precisamente: algo novo está a se repor na tramada sociedade brasileira, decorrida quase década e meia de violenta ditadura, pró-imperialista e explicitamente antidemocrática. Trata-se do decisivoreaparecimento público do movimento sindical. Reactivação que se efectiva demodo renovado, em algumas de suas formas de objectivação, mas na trilha deantiga e justa tradição das lutas reivindicatórias, onde a pedra de toque é directa eimediatamente a batalha por salários, por salários menos aviltados e escorchantes,e por melhores condições de trabalho. É a luta, pois, que toca sem rodeios o planode base da subsistência material, que por isto mesmo, hoje como ontem,sensibiliza e mobiliza as massas trabalhadoras brasileiras.Este reaparecimento visível, na cena social e política, do movimento operário, nostermos em que vem se processando, possui duplo e for'.e significado: fere, noâmago, a política económica da ditadura, estruturada sobre o arrocho salarial -oferecimento de mão-de-obra barata para atracção de capitais imperialistas . umdos com-ponentes da configuração do Brasil em arena das disputas monopolistas; edemonstra, mais uma vez, para surpresa de não poucos, e até mesmo desgostonão-confesso de outros, a correcção e a real eficiência das lutas sindicaisconcretas, adequadamente concebidas e levadas à prática. Lutas formuladas àaltura das necessidades e da consciência populares, e travadas com objectividade

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e determinação, mesmo quando, como o é no caso brasileiro, nítidas e conhecidaslimitações da legislação trabalhista. - há décadas cerceadora da organização e daacção operárias -, conspiram contra os movimentos reivindicatórios e tolhem asiniciativas em geral das massas trabalhadoras. Evolvendo de uma fase anteriormarcada por lutas esparsas e isoladas nas fábricas, que tinham basicamente ocarácter de efisaios de resistência, naturalmente já movidas pelo fundodesconforto de uma situação material intolerável, mas que ainda não tinhamforças para sair do anonimato social, os acontecimentos sindicais que agora semanifestam são de distinta e superior qualidade.O quadro em que o movimento sindical brasileiro se repôs ou reexplicitou social epoliticamente principiou a serGreve dos metalúrgicos em Novembro de 1960 em São Paulo. Actualmente foramtambém os metalúrgicos os primeiros a sair para as ruas e a avançar com a lutaoperária.desenhado a 12 de Maio último e teve por antecedentes imediatas as tentativas deluta, travadas desde o ano passado, com vistas a obter reposição salarial aindareferente ao já remoto ano de 1973, quando a ditadura, em face do esgotamento efracasso do «milagre económico brasileiro», que principiavam a se tornarostensivos, falsificando índices estatísticos, condenou os trabalhadores a umreajuste salarial que os privou de cerca de um terço a que teriam direito mesmo doprisma, dos critérios e cálculos governamentais em vigor.TRÊS SEMANAS DE GREVESA 12 de- Maio, sem alarde ou prévio aviso, como impunha a situação, estala aprimeira greve: param os ferramenteiros e outros trabalhadores da Scania Vabis. Enão é por acaso, nem muito menos por efeito de suspicazes orientações e práticas,que algumas tendências ostentam e que agora de.sejam apresentar comoresponsáveis pelos sucessos, que quase todas as demais paralisações, que iam sesuceder, teriam como importantes protagonistas os operários das secções deferramentaria das grandes empresas auto~ mobilisticas. Os ferramenteiros são osmais especializados entre os trabalhadores metalúrgicos, e dentre os mais velhosainda se encontram os que começaram a trabalhar quando a indústriaautomobilística nasceu (últimos anos da década de 50) e que não esqueceram aslutas do passado, quando os trabalhadores brasileiros podiam se manifestar componderável liberdade e defender seus direitos e interesses com vigor. Por estasrazões, por suas qualificações técnicas e por sua experiência sindical osferramenteiros constituiram-se, em muitos lugares, no centro de irradiação dasparalisações do trabalho. Não pode ser esquecido que eles são a espinha dorsal detodo o processo de produção, estando sempre a fornecer as ferramentas e moldesque os operários de linha empregam em suas máquinas. São obrigados, porouTEMPO N.' 405-pág. 57

tro lado, ao longo de seu aperfeiNoa- 1 mento técnico, a se aprimorarem emcursos, num sério processo de aprendizagem, que os torna os mais Informados epreparados entte seus companheiros. Lêem jornais, revistas, discutem e inclinam-se por posições políticas. E, provavelmente, estão entre aqueles que maisperderam com o ar-, xocho salarial do «nilagre»; hoje, se o poder aquisitivo de um

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ferramenteiro, fosso igual ao de vinte anos atrás ele estaria ganhando cerca de 20mil cruzeiros por mês, e não apenas os 12 mil que, de facto, actualmente recebe.Mais ainda, pelas suas funções nas empresas, circulam por toda a fábrica paraconsertar as máquinas, em consequência conhecem a maioria dos problemas dosoperários. Por isso sabem que há gente com dificuldades muito maiores que asdeles; por isso perceberam com rapidez que o nível de vida da esmagadoramaioria dos operários do ABC - cinturão industrial paulista formado por váriosmunicípios próximos da Capital - havia-se deteriorado profundamente.A 15 de Maio, aderem à greve os trabalhadores da Ford. E ássim permanecemdurante uma semana, conseguindo arrancar da empresa uma promessa de aumentode até l5%,-. E assim, sucessivamente, uma atrás da outra, mais de quatro dezenasde empresas, envolvendo os. sectores automobílistico e outros (têxtil, qumico,electro-electrónico) vão sofrendo paralisações, que não cessam de ocorrer nemmesmo quando a greve é declarada ilegal pela Justiça do Trabalho, e, a 21 deMaio, duas ríspidas notas oficiais são publicadas: uma do ConselhoInterministeral de Preços, encabeçado pelo Ministro Mário H. Slmonsen, daFazenda, advertinido os empresários que sob hipótese alguma admitiria o repassedos reajustes para os preços dos produtos; e a outra do Ministério do Trabalholembrando às empresas que a greve era ilegal, e que as forças policiais estavam àdisposição das empresas que «quisessem garantir o direito dos operários aotrabalho». Ao contrário, as greves crescem e se alastram por toda a região doABC e, já nos primeiros dias de Junfio, principiam a se manifestar na Capital deS. Paulo. Aliás, o prosseguimento da ampliação do movimento paredista, mesmodepois da decretação de sua ilegalidade e das incisivas advertênciasgovernamentais, foi altamente significativo na nova equação sócio-politica que seobjectivava, pois deixou o patronato e as forças governamentais diante darealidade do um evento para o qual não tinham, nosadrões e na perspectiva do arrocho r da ditadura que cultivam já por qua- r ;edécada e meia, resposta pronta e E razoáveL Como assumir o ónus de umarepressão p e 1 a violência explícita, quando não havia violência a confrontar,nem mesmo em estado potencial, visto que a força das acções paredistas residiuprecisamente em se caracterizar puramente -pelo cruzar de braços dante demáquinas paradas, situação em que nem mesmo as vozes eram levantadas, porprudência, mas principalmente por maturidade e descortinio político? E, de outraparte, quem indemnizaria o patronato das perdas e prejuízos com a parada daprodução? Posto diante de uma situação duplamente negativa, - de uma mar".i,ameaçado pelo prolongamento da g1ve directamente em seus lucros, já afectadospela crise do «milagre» e pela decorrente desaceleração da economia, e, de outraparte, diante 0" incómodo «convite» de vir a arcar conm a responkabilidade dodesencadeamento da violência policial, nas mais desfavoráveis e injustificáveiscondições-, o capital não vislumbrou alternativa e cedeu: negociou directamente com ossindicatos operários, superando, pelo menos nesta oportunidade concreta e pelaprimeira vez, as regras do jogo salarial ferreamente sustentadas pela ditadura eque tantos benefícios lhe proporcionaram ao longo de anos.

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E é designadamente esta negociação, o processo grevista que a ela conduziu esuas consequências imediatas e futuras, bem como sua exemplaridade queconstituem o ponto mais elevado, significativo e rico de potencialidades do actualprocesso de ressurgimento das lutas operárias no Brasil.NEGOCIAÇÕESACTUAIS E LUTAS FUTURASA 30 de Maio, diante do facto consumado da greve, o Sinfavea - Sindicato daIndústria de Fabricantes de Veículos Automotores - que mantivera-se, durantequinze dias, intransigente e negara-se a reconhecer a legitimidade dasreivindicações operárias, respaldada então na decretação da ilegalidade da greve,teve que mudar drasticamente de posição e concordou em negociar com oSindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do tampo e Diadema, sobre cujabase territorial encontra-se a maioria dos trabalhadores da indústriaautomobilistica instalada no Brasil.A reunião do acordo foi dura e longa como as que se fazi~m antes da ditadu--a entrar como mediadora toda-podeosa nas relações entre empregados e-mpregadores: começou às 9 horas da nanhã do dia 30 e terminou às 4 da nanhãdo dia seguinte. Decorridas, portanto, quase vinte horas, realmente chegou-se aum acordo, principiando i colocar por terra, na prática, a poli-' tica salarialmontada depois de 1964. No dizer de Luís Inácio da Silva, o Lula, presidente doSindicato dos Metalúrgicos de S. Bernardo, uma das maiores, senão a maiorexpressão do sindicalismo autêntico e combativo que está a se repor no panoramabrasileiro, responsável maior, com certeza, pelo seu persistente trabalho deorganização e esclarecimento, pelo sucesso da reactIvação sindical em curso:«Parecia um jogo de basquete. Vira e mexe, um lado pedia tempo e saía da salapara discutir que posição tomar». E o caminho foi longo. Basta dizer que aproposta inicial do Sindicato dos Metalúrgicos era de um aumento de 20%,enquanto as empresas partiram de um modesto 3,6%.Resultado imediato de todo esse esforço é que foi assinada a primeira convençãosalarial entre entidades de empregados e empregadores já realizada no Brasil. Elogo com um sector, como salientou o Lula, que, até então, apresentava as pioresbarreiras. Assim, de imediato, 65 mil trabalhadores da Indústria automobilísticaforam beneficiados com reajustes salariais; e consideradas loutras negociaçõesefectuadas, só no ABC, nada menos do que 150 mil operários obtiverammajorações.Analisando os significados de todo o processo grevista, assinalou BeneditoMarcílio da Silva, Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André,outro dirigente de alto valor a quem o ressurgimento sindical brasileiro deve nãopouco: «é preciso compreender que organizando-se dentro das fábricas ostrabalhadores geraram uma força extraordinária, fazendo com que os poderososviessem a uma mesa de negociações, aceitando em parte as reivindicações doscompanheiros». Para Benedito Marcilio está «praticamente aberto o caminho paraa revogação dç duas leis antioperárias: ,a Lei 4330, que não permite a greve, e aLei 4725, que chamamos de lei do arrocho salarial». E sintetizou com grandepropriedade «Essa foi a primeira vitória do movimento operário após 1964». Noque foi secundado por um metalúrgico da Pirelli e que participava da ratificação

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do acordo na sede do Sindicato; 10% ou 100%. não é o que devemos considerar,porque nem um aumento deTEMPO N.' 405"-- pág, 58

100% resolveria nossos problemas. Não interessa quanto o patrão aceitou,importante é a vitória».É exactamente nessa linha de raciocinio que é preciso salientar que o movimentogrevista provou de modo contundente que o processo reivindicatório, essencial einsuperável, das acçes sindicais não estava condicionado pela conquista prévia defranquias legais ou institucionais, como insistentemente a oposição brasileira, nosúltimos anos, na quase totalidade de suas matizes, sempre acreditou e teimou emapregoar. A greve se fez e saiu amplamente vitoriosa. Mais do que isso, acima dasconqi Imediatas criou umdecsl - precedente, que perspectiva para lutas futuras, ao entreabrir, no Brasil dehoje, a possibilidade da organização e da acumulação de forças da classetrabalhadora- - das cidades e dos campos - eixo fundamental em torno do qual seporá a mobilização de massas, em todo seu complexo, que há de pôr abaixo, elasim, a estrutura ditatotial de poder que, precisamente contra as massas e osinteresses nacionais, se estabeleceu e ossificou há já quase quinze anos.Mais espessura politica possui o recente movimento grevista brasileiro do quetodas as palavras que pelas franquias institucionais foram, até hoje, ditas e reditas,e que até mesmo, algumas vezes, não deixaram de desviar de caminhos maisconcretos e justos. Tanto isso é verdade que na última Convenção Nacional doMDB, a federação das oposições brasileiras, realizada a 31 de.Maio, portanto nomomento culminante das lutas sindicais que se travaram, nenhuma palavrarelativa ao processo sindical foi consignada em suas conclusões. Tanto isso é maisgrave quando se considera que são precisamente os trabalhadores o grandecontingente eleitoral do Movimento Democrático Brasileiro. Por todas estasrazões fundamentais é. urgente apreender também que existe profunda e visceraldistinção entre r Oposições sindicais e luta sindical na s Oposição, queconvergesempre que pos- 1Muitosoperários têmde morarnas favelas e,mesmo aqui,dedo aosseus saláriosbatilsimos,muitas vezesa- tem apenasÍ alternativa:ou pagama rendaf ,v ou compramW ". ..,~comida.

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sivel e válido, em chapas de oposição. No Brasil, estas últimas, no aproveitamentoe na criação de todas as oportunidades, sempre lutaram e continuam lutandocontra os interventores, os pelegos e toda a sorte de pseudo-dirigentes que, porvezes, não poucas infelizmente, empolgando as direcções sindicais, emasculam edeformam os órgãos re.resentativos dos trabalhadores. Caracterizam-se as lutas naoposição e as chapas de oposição por um árduo e paciente combate, muitas vezesem condições absolutamente adversas, onde a repressão é figura constante eactiva. As lutas na oposição e as chapas de oposição, de antiga prática e tradição,e na trilha do que de mais rico e autêntico oferece a experiência internacional,batalham por dentro das estruturas sindicais existentes. sejam quais forem, semprejunto às massas, Suscando converter, através destas e em seu beneficio, a direcçãoda actividade sindical e o estatuto legal que a constrange, deprime ou mutila.Diferenciam-se, pois, das autodenominadas oposições sindicais que, estranhas naraiz às -Perspectivas operárias, e rebeldes à causalidade do real, tem a pretençãode converter um imaginário proletariado à sua exclusiva «verdade», e assimedificar um sindicato ideal, livre e puro das mazelas do mundo. Querem, pois,principiar por onde há que terminar. Convertem-se, desse modo, necessariamenteem opositores dos sindicatos reais, e não de direcções ou estruturas sindicaisnegativas. Tendem a propugnar, decorrentemente, pelo pluralismo e peloparalelismo sindical. Motivo pelo qual, comprovadamente, sua prática ésistematicamente, com independência de sua fraseologia, desagregadora edivisionista.O ressurgimento das lutas operárias no Brasil nada está a dever às opoiçõessindicais, nada em absoluto. Ao contrário, é mesmo à sua revelia íue tal fenómenovem se dando vitoiosamente. E como comprovação diso bastam as palavras deCândido Hiário Garcia de Araújo, candidato aPresidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo PebkChapa de OposiçãoRenovação, que concorrerá ao pleito em fins deste ano, contra a directorial actualdo maior sindicato da América Latina, encabeçada por um dos mais espertos emaleáveis pelegos, Joaquim de Andrade, ex-interventor do mesmo sindicato, queposteriormente conseguiu se eleger pela própria categoria. Diz Cândido Hilário,em carta de 9 de Maio enviada ao jornal paulista Foljha de São Paulo: «Porinckível que pareça, temos hoje no Brasil pessoas que se dizem avançadas, masque condenam toda e qualquer política de alianças com o rótulo de «populismo»!(...) que só exaltam as lutas do sindicalismo anarquista (principalmente a greve de1917) e seu actual herdeiro: o neoanarquismo apregoado em recentes entrevistaspor José Ibrahim, líder das autodenominadas «Oposições Sindicais». Para esses agreve de Osasco de 1968 seria a «retomada» de 1917. Ora, a orientação doSindicato dos Metalúrgicos de Osasco em 1968 foi extremamente aventureira eprejudicial aos interesses dos trabalhadores: rompeu a unidade do M.I.A.(Movimento Intersindical Antiarrocho), no qual até os pelegos eram forçados aparticipar pela pressão das bases; promoveu a desastrada intervenção no comíciode 1. de Maio, na Praça da Sé; e levou a greve de Osasco ao beco sem saída daocupação de fábricas e do sequestro de funcionários! Tudo isso pode ser «umaboa» para certos grupos estudantis irresponsáveis, mas causa sérios prejuízos àluta dos trabalhadores. Gostaria de fazer uma pergunta: na história das lutas

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políticas de nosso país, o maior «perigo» veio do sindicalismo anarquista ou dosindicalismo «populista», que sofreu o «colapso» de 1964? Neste último 1." deMaio, os herdeiros de 1917 montaram um espectãculo em Osasco presenciado poruma plateia quase só de estudantes; foram também responsáveis pela «façanha»de vaiar dois senadores do MDB, em Santo André. Será que não havia outrosalvos, para esses elementos mostrarem tão grande «valentia»? Quanto a nós,sindicalistas autênticos, preferimos seguir o único caminho válido: lutar pelaunidade dos trabalhadores e pela unidade com todos os democratas. Ostrabalhadores são os maiores interessados na reconquista das liberdadesdemocráticas. E todos os verdadeiros democratas sabem que é impossívelreconquistar a democracia se os trabalhadores não estão mobilizados».NEY C4RVALHOTEMPO N.' 405-pág. 59

tempos livresPALAVRAS CRUZADASHORIZOHTAI, 1 Resultado; Continente emque Moçambique está situado. 2 Concerto mu sical nocturno; Misturar com iodo.3 - Proce der; Espécie de cegonha da índia. 4 Contrac cão de preposição e artigo;O que está encarregado da administração e gastos de uma casa; Letra grega(invertidaI. 5 - Respeite. 6 - Nome antigo da nota musical dó; Pós-escrito(abreviatura). 7 - País africano; Antigo instrumento de suplício em forma de X. 8Eiró; Copa. 9 -Antiga possessão portuguesa no Oriente; Cintu rão. 10 - Enarra;Poder; Símbolo quimico do ruténio (invertido). 11 - Nem; Abreviatura de Item;Sociedade Agrícola de Tabacos (sigla). 12Grande planicie de pastagens; Alvo; Batráquio 13 - Liga de mercúrio com outrometal. VERTICAIS --...1 --- Gentílico dos Estados Unidos. 2 - Indício;Despotismo. 3 - Período; Cola; Saia. 4 -- Embarcação de recreio; Calculariam. 5" Licor extraído, por incisão, dos coqueiros; Abismo ',nvertido). 6 - Terreno delavoura; Simbolo químico do alumínio. 7 - Contracção de preposiçào com artigo.8 -- Espécie de macaco americano; Noia musical. 9 - lnflexível, Erva. 10 -lnstãncia;Verão; Nociva. 11 Jornada; Prefixo que designa tudo. 12 - Indiferen-1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11ça; Convencionara. 13 --- Ave trepadora semelhante ao papagaio (plural); Grandeartéria que nasce no ventrículo esquerdo do coração.(Colaboração de Prakash e UdaySABIA QUE...O Conselho de Segurança da ONU reuniu-se pela primeira vei em 17 de Janeirode 1946.A U.R.S.S. e os E.U.A. depositaram em Genebra um projecto comum de nãoproliferação de armas nucleares em 18 deJaneiro de 1968A Conferência de Paz, que pôs fim à Grande Gueria, iniciou-se em Versalhes em19 de Janeiro de 1919.... Paulo VI dissolveu o Corpo da Guarda pontifical, que conta-v& 700 anos deexistência, em 20 de Janeiro de 1971.

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... Amilcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC. foi assassinadoa 20 de Janeiro de 1973(Colaboração de Yasin Essop Laher - Chimoio)12 13Nam pula)TEMPO N.'

SABER NÃO OCUPA LUGAR(Sublinhe com um traço a resposta correcta)1 - Os Jogos Olmpicos de 1980 terãolugar emM xicoMoscovoTóquio2 - Mahatma Ghandi foi um dirigenteArgelino IndianoChinês3-OSolé umaEstrela Planeta Cometa4 - O órgão oficial do Chama Cha Mapinduzi chama-seUhuruPravdaA Voz da Revolução5 - Um dos afluentes do Zambeze éo rio Chire SaveRovumaJOGO DE PALAVRASAldeias Comunais-A----------E-L- - - -sA/ -------O- -- -------((Colaboração de Isaias Bento ChipeneteýTete )IEMPO N.° 405- pág. 61

tempos 110ivre8ADIVINHASNuma árvore estão dez pássaros. O"caçadordispara um tiro e caem dois. Quantos pássarosficaram?(Colaboração de Fátíma Duarte - Maputo)Qual é a coisa queÉ mãe de bípedes e não tem pésÉ mão de plumosos e não tem penasÉ mãe de bicudos e não tem bicoÉ mãe de piadores e não pia

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É mãe de debicadores e não debica nem come É mãe de móveis-voadores e éimóvel sem vooÉ também «filho» e mãe de comestíveis(Colaboração de Gabriel Moquito - Maputo)Um homem caiu no Mar Vermelho. Como éque saiu de lá?(Colaboração de Ivete Ildeberta Santos Dengo- Maputo)>Qual é a coisa qual é ela, Que está em todo o mundo E cada coisa o tem?Um pato pós um ovo entre os pontos cardeais. Para que lado caiu o ovo: norte, sul. nascente ou poente?(Colaboração de Agostinho Meneses-Mause'eDescubra quais os números (até 12). que devem ser colocados em cadacircunferència, de maneira a que fa zendo as operaçoes indicadas pelos sinais 1 -)se obtenham os totais indicados no desenho.i(Colaboraçio de ltria João Ro.>drigues Botelho - Chokué )TEMPO N. 405 - pag. 62

neNa escolaProfessor: - Timóteo, na oração «João roubou ca, jus», onde está o sujeito?Tim6teo: -Depende.Professor: -- Depende de quê?Tim6teo: - Se não está na prisão está na reanimação!No DICCA(stava na cartaz do diaElmut VirnaBerger LisiQuando a senhora conhecedora de cinema leu o cartaz, afirmou: São muito bonsestes dois artistas. a Elmul Virna e o Berger Lisi.(Colaboração de Zito - Maputo)O Leão e o SacerdoteNuma floresta, un sacerdote encontra um leão. Vendo se sem qualquer defesaajoelhou-se e começou a rezar.Momentos depois, viu o leão também ajoelhado.«lrmão - disse o sacerdote - que alegria sinto em acompanhálo na oração, quandohá pouco receava pela vida!»«Não me interrompa - respondeu o leão. Antes das refeições eu rezo sempre!(Colaboração de Jorge Jeremias Ussivane -. MalolaSOLUÇÕES DO NÚMERO ANTERIORPALAVRAS CRUZADAS1 -2 3 4. 5 6 7 8 9 105Q MOU A ALiSEI

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A Cí'1 >RIA R' 0SABER NÃO OCUPA LUGAR - 1 - 6 faces; 2 - 8 de Março; 3 - Ano luz;4 - Panamá; 5 - 27 de Março.JOGO DE PALAVRAS - Roma; Amor; Roam; Mora; Ramo Armo; Oram.ANAGRAMAS - FARP; FALINTIL; FPLM; FAPLA.ADIVINHAS - I- Inglaterra; II; - Tabaqueiro; Comuns; Smith; II - NdabaninguiShitole.TEMPO N. 405 - pág. 63g

úet Ema p0ginPresidente Luís Cabral, acompanhado pelo Presidente Samora Machel na suachegada a Moçambique TE0 O N.' 405- pâg. 64

mçabcnosn 25 contos moçambicanosrecolhidos do rovuma aomaputo., edição do instituto nacionaldo fivro e do disco.preço 30.00esta colecção de vozes militantes da Frelimo, significa revolução, documento, fsehistórica.edição do departamento do trabalho ideológico.preço 35.00e e - e