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20
A
Relações mais que públicasCAPA
Imprescindível para empresas e mercado para profissionais de comunicaçãocom formação multidisciplinar, o relacionamento com Governos reabre a
discussão sobre a legitimidade e os limites da ação de lobby.
Marcelo Lopes
ar canais institucionais de relacio-
namento com o Governo começou
efetivamente no Brasil entre 1974
e 1978, durante a gestão de
Ernesto Geisel, com o início do
período de distensão da ditadura
militar. Naquele momento, um
grupo restrito de empresas –
notadamente multinacionais –
despertou para a necessidade de
se comunicar com outros públi-
cos-alvo, além dos consumidores.
E, dessa abertura para cá, o pró-
prio exercício da democracia –
com a promulgação da Constitui-
ção de 1988, a chamada Consti-
tuição Cidadã, e a realização
ininterrupta de eleições – propor-
cionou terreno fértil para que mui-
tas empresas abandonassem a pos-
tura low profile para assumir uma
postura participativa. Paralela-
mente a isso, multiplicaram-se aos
milhares, de norte a sul, as orga-
nizações não-governamentais. A
sociedade organizada começava,
com esse gesto, a apresentar res-
postas às deficiências do sistema
democrático, por meio da organi-
zação de sindicatos e associações
de classe para representá-la - uma
forma alternativa de fazer frente
às promessas não-cumpridas por
meio das instituições democráti-
cas tradicionais, como segurança
eleição de Luiz
Inácio Lula da Silva
para a Presidência da
República, além de
simbolizar o desejo de mudança
da maioria da população, pode re-
presentar – até pela própria histó-
ria de Lula e do PT – o início de
uma nova era marcada pela práti-
ca exaustiva do diálogo com os di-
versos segmentos da sociedade.
Uma abertura à livre manifesta-
ção das diferenças que exigirá ha-
bilidade e cultura de negociação
por parte de empresas, institui-
ções e organizações não-governa-
mentais. Imprescindível, porque o
Governo (Executivo, Legislativo
e Judiciário) faz parte do grupo
de públicos estratégicos com os
quais deve interagir toda organi-
zação, as relações governamen-
tais, no entanto, integram a histó-
ria recente da cultura empresarial
brasileira e não raro ainda são
confundidas com a prática de
corrupção, apadrinhamento e
beneficiamento “dos amigos do
rei” – estigma que vem sendo
substituído pela atuação de em-
presas historicamente responsá-
veis cuja ativa participação socio-
política no mercado comprova
essa mudança de mentalidade.
O trabalho na direção de se cri-
pública, educação e combate à
corrupção, à fome e à miséria.
Lacuna da comunicação
Se, por um lado, houve avanços
na atuação desses movimentos so-
ciais que se organizaram em gru-
pos de pressão para defender seus
interesses, no ambiente empresari-
al a percepção da importância es-
tratégica das relações governamen-
tais não aumentou na mesma pro-
porção e, pior, permaneceu impreg-
nada de preconceitos sobre o exer-
cício da atividade. “Eu fico impres-
sionado com a incapacidade da
maior parte dos profissionais de
comunicação empresarial brasilei-
ros. Eles pensam a comunicação
nas empresas de forma ortodoxa.
Alguns ainda estão na década de
sessenta; outros ainda não chega-
ram à de setenta; pouquíssimos
chegaram ao novo milênio”, avalia
o professor de Comunicação Polí-
tica da USP, jornalista e consultor
Gaudêncio Torquato. De acordo
com Torquato, essa é uma lacuna
da comunicação empresarial brasi-
leira, isto é, a falta de formuladores
estratégicos ou de profissionais que
pensem comunicação de uma ma-
neira mais sistêmica, envolvendo
relações governamentais, mar-
“Muitos profissionais
de Comunicação
Empresarial ainda
estão na década de
sessenta”.
Gaudêncio Torquato,Professor da USP
21comunicação empresarial
keting e articulação en-
tre os poderes. Ainda
segundo ele, a falha co-
meça nas escolas, que
não têm esse pensamen-
to, e passa pelo profes-
sores, que pensam à
moda antiga. No merca-
do, continua, os profis-
sionais de comunicação
empresarial passaram a
olhar muito as suas áre-
as de maneira estanque,
sem interagir com o
ambiente. “O conheci-
mento de técnicas de co-
municação é algo muito
pobre sozinho e não leva
a nada. Por isso, esses
profissionais deveriam
se banhar hoje de políti-
ca, economia, sociologia
e opinião pública. O
inadmissível é fazer comunicação
em 2003 como se fazia na década
de 70, com jornaizinhos bitolados
e revistas infantis, voltados ape-
nas para os interesses da empre-
sa, ao invés de inserir a comuni-
cação no contexto social, que é o
que efetivamente traz dividendos
para a empresa.”
Formação profissional
Apesar das transformações por
que vêm passando os currículos
dos cursos de nível superior, as uni-
versidades brasileiras ainda não
dispõem de um curso específico de
Relações Governamentais cuja
grade esteja voltada à formação de
um profissional com o perfil de
Public Relations, que exige uma
visão multidisciplinar de proces-
sos. Uma das razões para o fato de
o curso de Relações Públicas, por
exemplo, não atender a essas ne-
cessidades pode estar na tradução
“abrasileirada” e tropicalizada do
termo. “Public Relations, nos Es-
tados Unidos, tem toda uma
conotação política, uma estru-
turação de trabalho e relaciona-
mento político; não é só comuni-
cação. Mas, ao mesmo tempo, a
gente percebe que a ferramenta
mais utilizada por eles é a assesso-
ria de imprensa. E nessa importa-
ção do conceito pode ter aconteci-
do o desvirtuamento”, explica
Terezinha de Andrade Leal, presi-
dente do Conselho Regional de
Profissionais de Relações Públicas,
CONRERP. “Se o curso de Rela-
ções Públicas tivesse sido criado
dentro de uma Faculdade de Ad-
ministração, hoje o conceito seria
outro”, avalia Terezinha, para quem
a capacitação para administrar deve
preceder o gerenciamento da co-
municação. “Hoje, só se aprende
Relações Governamentais fazendo.
Acertando e errando, fa-
lando com outros profis-
sionais”, define Gilberto
Galan, vice-presidente de
Assuntos Corporativos e
Comunicação do Citibank
e diretor da ABERJE.
Galan acredita que é cada
vez maior a tendência das
empresas incorporarem as
funções de Relações Go-
vernamentais às de Comu-
nicação Corporativa e que
o ponto-chave é saber se o
profissional, seja da em-
presa ou das agências de
RP, tem o perfil multi-
disciplinar necessário.
“Recomendo que come-
cem a pensar seriamente
no assunto, pois essa com-
binação de qualidades
amplia muito o campo de
oportunidades de trabalho.”
Consenso virou moda
Além do ponto de vista con-
ceitual, as relações governamentais
serão essenciais esse ano para uma
leitura e interpretação corretas da
pauta e do calendário de ativida-
des do Congresso Nacional. Afi-
nal, ainda não se sabe de que for-
ma os diversos segmentos sociais
serão impactados pelas versões
aprovadas das reformas Previ-
denciária, Tributária, Trabalhista e
Política. E isso exigirá, em face da
cobrança de outros grupos de pres-
são e ausência de consenso,
posicionamento e defesa de inte-
resses claros por parte das empre-
sas. “Não sei por que o tal ‘con-
senso’ virou uma palavra da moda
nos últimos tempos. É evidente que
qualquer governo do mundo, por
mais democrático que seja, ficaria
“Hoje, só se aprende
Relações
Governamentais
fazendo. Acertando
e errando”.
Gilberto Galan, Citibank
ILUS
TRAÇ
ÕES
: CAR
VALL
22
de mãos completamente atadas se
quisesse resolver todas as questões
por meio do consenso. Em todas
as decisões, alguém ganha e al-
guém perde”, opina Miguel Jorge,
vice-presidente-executivo de As-
suntos Corporativos do Grupo
Santander Banespa. “Tra-
ta-se de estabelecer, isso
sim, que a maioria ganhe,
o que é absolutamente
normal na democracia re-
presentativa. Ou o Con-
gresso vota por consenso?
Ou o Judiciário? Eviden-
te que não. Às vezes, há
unanimidade ou o tal con-
senso, mas, na maior par-
te dos casos, prevalece a
vontade da maioria.” Re-
nato Gasparetto Júnior, di-
retor de Relações Insti-
tucionais da Telefônica e
vice-presidente da
ABERJE, analisa a ques-
tão numa perspectiva his-
tórica. “Se, num primeiro
momento, a democracia
desobstruiu os canais de
comunicação entre os diversos gru-
pos que formam a sociedade, vi-
vemos agora um momento de apri-
moramento e depuração. A ética
deve ser o alicerce por meio do qual
se estabelece qualquer negociação
envolvendo legítimos interesses.”
No Poder Executivo, as movi-
mentações para estabelecer canais
formais de representação da soci-
edade renderam fartas discussões
até agora. O Conselho de Desen-
volvimento Econômico e Social,
órgão consultivo instalado dia 13
de fevereiro, composto por 82 in-
tegrantes (dos quais 42 são empre-
sários e os demais representantes
de associações de classe e organi-
zações não-governamentais), além
de dez ministros de Estado e presi-
dido pelo presidente da República,
é uma sinalização de que o Gover-
no, por princípio, deverá investir
mais tempo ouvindo a sociedade
antes de se posicionar sobre assun-
tos públicos. “Os políticos e o Go-
verno resolvem questões, mas não
decidem. Essa é a sutileza sobre a
qual o conceito de assuntos públi-
cos está fundamentado”, con-
textualiza Ramiro Prudencio, pre-
sidente da Burson-Marsteller Bra-
sil, que atuou anteriormente por
doze anos como assessor político
no Congresso Norte-Americano.
“Assuntos públicos, continua, são
basicamente o cruzamento entre
as disciplinas de Relações Públi-
cas e relações com o Governo. É a
disciplina que leva ao entendimen-
to de como assuntos de interesse
público são discutidos, debatidos
e resolvidos. Trata-se também da
disciplina que auxilia empresas, in-
dústrias e outros grupos a se pre-
parar e se mobilizar de forma mais
eficiente, para que saibam admi-
nistrar aqueles assuntos de maior
interesse.” Membro do Conselho
de Desenvolvimento Econômico e
Social, Miguel Jorge define a fun-
ção política do fórum de represen-
tação. “É muito mais
que um símbolo, pois
ele terá uma participa-
ção importante e deci-
siva na discussão e de-
finição das políticas pú-
blicas e das muitas re-
formas absolutamente
necessárias para que o
País tome de uma vez
por todas o rumo do
crescimento e do de-
senvolvimento, sem as
soluções que têm carac-
terizado as últimas dé-
cadas. A participação
de amplos setores da
sociedade permitirá
que o Conselho atue de
forma muito semelhan-
te a seus congêneres de
outros países, como a
França, por exemplo.” Miguel Jor-
ge acredita que, pelo fato de o País
ter se mantido afastado tanto tem-
po da democracia, e da livre dis-
cussão de idéias, é que a criação
de um Conselho como esse tem ge-
rado tanta polêmica. Chegou-se até
a atribuir ao conselho, pela impor-
tância que o fórum adquiriu, o pa-
pel de substituto do Congresso Na-
cional. “Isso foi uma grande bes-
teira, ou má-fé por parte de quem
assim pensou.”
Quem faz lobby?
Paulo Nassar e Rubens Fi-
gueiredo, no livro O que é Comu-
nicação Empresarial, afirmam
CAPA
“Assuntos públicos
são basicamente o
cruzamento entre as
disciplinas de
Relações Públicas e
relações com
o Governo”.
Ramiro Prudencio,Burson-Marsteller
23comunicação empresarial
que no Brasil lobby é quase um
palavrão para a sociedade. Isso
acontece, segundo os autores, por-
que a atividade do lobby aparece
muitas vezes associada a escânda-
los, a licitações direcionadas, pro-
pinas e obras superfaturadas. E os
protagonistas dessas histórias, no
Brasil e no exterior, têm sido na
maioria das vezes empresas e au-
toridades. Esses fatos reforçam na
sociedade e junto aos públicos es-
tratégicos empresariais a percep-
ção de que a atividade de lobby é
ilegítima e ilegal. Nesse particu-
lar, a percepção brasileira tem
muito em comum com a argenti-
na. Segundo Diego Dilemberger,
diretor da revista Imagen, na Ar-
gentina a palavra também é sinô-
nimo de corrupção e não está as-
sociada ao lobby
tradicional e legí-
timo, parte do
jogo democrático.
“As grandes em-
presas costumam
manter um alto
executivo com o
cargo de Assuntos
Públicos dedica-
do a relações da
empresa com as
diferentes esferas
e níveis governa-
mentais, mas
esse tipo de pro-
f issional geral-
mente é retratado
como suspeito de pagar subornos
e traficar influência.” Lobby, no
entanto, é traduzido do inglês
como saguão, entrada, sala de es-
pera, como há em hotéis, edifíci-
os públicos, câmaras de vereado-
res, assembléias legislativas e se-
des de governo. O gerúndio
Lobbying caracteriza a função ou
a ação que nele se exerce, e está
diretamente ligado à ação
exercida sobre legisladores e exe-
cutivos há mais de um século nos
países anglo-saxões.
Causa legítima
Num dos poucos livros em por-
tuguês que tratam do assunto, João
Bosco Lodi, falecido no ano pas-
sado, analisou assim a questão no
livro Lobby - Os Grupos de Pres-
são: ...”O lobby praticado no Bra-
sil é quase exclusivamente o dos
grupos econômicos e associações
afins, por estarem mais organiza-
dos e profissionalizados.” Segun-
do o autor, a falta de organização
política de outros grupos, ao con-
trário do sucesso do lobby econô-
mico, leva a um clima de mal-en-
tendido, de ilegitimidade e de fal-
ta de respaldo da sociedade para
com a prática dessa atividade. O
livro de Lodi confirma: as primei-
ras empresas conscientes da neces-
sidade de organizar profissional-
mente o lobby foram as empresas
internacionais, seja devido à sua
experiência política nos países de
origem, seja devido às dificuldades
de compreender o sistema de deci-
são nacional. A Light é tida como
uma das primeiras escolas de lobby
no Brasil. A Rhodia brasileira, em
seu Plano de Comunicação Social
(PCS), de 1985, define lobby como
uma de suas ferramentas. O PCS
da Rhodia afirma que “o empresá-
rio moderno é também um homem
público com poder de influência e
persuasão. Por isso, não deve ficar
alheio aos debates, até porque ele
é a voz e o rosto visível de uma
empresa”. Olhando o fim da dita-
dura militar, o PCS anunciava as
regras éticas do relacionamento
empresa/Governo: “o Brasil da
Nova República é diferente daque-
le que bastava o empresário ter
acesso a um ministro para abrir to-
das as portas”. Ou seja, o lobby
empresarial, dali para frente, te-
ria necessariamente de ser feito
dentro das regras democráticas,
que são a antítese das práticas es-
cusas. “Corrupção é uma forma de
interação degenerada com o setor
público, no sentido de trazer van-
tagens específicas contrárias à lei.
O lobby é uma forma positiva de
interação da sociedade organiza-
da com o Governo, porque permi-
te a atuação transparente dos inte-
resses organizados”, argumenta
Wagner Pralon, doutorando em
Ciências Políticas da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Hu-
manas da USP. Outro ponto rele-
vante da ação legítima de lobby, na
avaliação de Pralon, é o alto nível
de troca de informações úteis para
o aperfeiçoamento de políticas pú-
blicas. A literatura do assunto nos
Estados Unidos, onde o lobby foi
regulamentado em 1946 e a lei pas-
sou por adaptações em 1995 e
“Lobistas somos
todos que
pleiteamos uma vida
melhor e uma melhor
distribuição do
direito e da justiça
entre os cidadãos”.
Jack Corrêa, Coca-Cola
24
CAPA
1998, ratifica, no entanto, a inca-
pacidade de determinados setores
sociais de se organizar. São os con-
sumidores, contribuintes, aposen-
tados e excluídos, que, por serem
numerosos e dispor de poucos re-
cursos para bancar ações de defe-
sa de seus interesses, acabam teo-
ricamente em desvantagem em re-
lação aos setores de maior poder
econômico.
Não é por acaso, então, que po-
demos contar nos dedos os gestores
e empresas que assumem publica-
mente que defendem, por meio do
lobby, os interesses de sua organi-
zação junto aos poderes constituí-
dos. “O lobby, por tarefa, está com
seus dias contados. O lobby
institucional, que representa seto-
res, já está implantado e consoli-
dado. Porque lobistas somos todos
os que pleiteamos uma vida me-
lhor e uma melhor distribuição do
direito e da justiça entre todos os
cidadãos”, define Jack Corrêa,
vice-presidente de Relações Go-
vernamentais da Coca-Cola. “A
novidade responde agora pelo
nome de lobby participativo, enten-
dendo que o problema do nosso
segmento está inserido num pro-
blema maior do país.” E essa visão
prática e conceitual encontra eco
em outras organizações empresa-
riais igualmente representativas.
“O termo lobby não me preocupa,
porque tenho sempre em mente
que irei defender um determinado
interesse. E, desde que a causa seja
boa e legítima, faço o lobby sem
problema”, diz José Estanislau do
Amaral, diretor de Assuntos
Corporativos da Unilever Brasil.
Segundo Estanislau, que por
dezessete anos foi diplomata no
Itamarati, outra característica que
comprova a lisura e legitimidade
da ação de lobby é
o fato de o repre-
sentante de deter-
minado interesse o
fazer de modo aber-
to, numa sala aber-
ta e em contato com
a imprensa. Esta-
nislau cita, entre
outras ações de
lobby, uma ocasião
em que a empresa
havia desenvolvido
um produto especí-
fico que dependia
de aprovação gover-
namental para ser
comercializado.
“Marcamos uma
reunião com os téc-
nicos do governo responsáveis pela
análise do produto, apresentamos
pesquisas comprovando sua eficá-
cia e, após avaliação, obtivemos o
registro.” Miguel Jorge diz que no
Santander Banespa as ações de
lobby são realizadas como em
qualquer empresa responsável.
“Não conheço nenhuma empresa
séria que tenha medo de assumir
que faz lobby”, dispara .
Regulamentação
A primeira iniciativa para regu-
lamentar o lobby no país ocorreu
entre 1977 e 1979, quando Marco
Maciel exerceu a presidência da
Câmara dos Deputados e re-
formulou o Regimento Interno da-
quela casa. Mas foi em 1989, como
senador, que Marco Maciel, do
PFL, encaminhou Projeto de Lei
propondo a regulamentação da ati-
vidade de lobby no Brasil. No mes-
mo ano, o Senado Federal aprovou
o Projeto de Lei, regulamentando
a atividade, remetendo-o em segui-
da à Câmara dos Deputados. So-
mente em 2001, no entanto, o ple-
nário da Câmara aprovou requeri-
mento de urgência apresentado
pelos líderes dos partidos. Atual-
mente, o projeto se encontra na
Mesa Diretora da Câmara aguar-
dando a inclusão na Ordem do Dia.
O Projeto de Lei, em linhas gerais,
dispõe sobre a necessidade de re-
gistro de pessoas físicas ou jurídi-
cas que exercem qualquer ativida-
de tendente a influenciar o proces-
so legislativo. E ainda o uso de cre-
denciais de acesso de lobistas a
cada uma das casas do Congresso,
além de exigir o encaminhamento
à Câmara e ao Senado de declara-
ção de gastos relativos à atuação
perante o Congresso. “É leviano
acusar quem propõe a regulamen-
tação do lobby. Não estou defen-
dendo lobistas. O que quero é aca-
bar com o lado obscuro dessa ati-
vidade, que permite o tráfico de in-
fluência. Se houver uma discipli-
na, há como se punir as desobedi-
ências”, explica o senador Marco
“O termo lobby não
me preocupa, porque
tenho sempre em
mente que irei
defender um determi-
nado interesse”.
José Estanislau doAmaral, Unilever
26
Maciel. A opção de regulamenta-
ção da atividade somente nas ca-
sas do Congresso Nacional se deve,
de acordo com o senador, à difi-
culdade de estender, à época, a
mesma disciplina ao Executivo e
ao Judiciário. “Mais importante
que a lei, é a conduta moral; não
há lei que garanta conduta moral.”
A intenção de melhorar as relações
governamentais e apoiar a regula-
mentação do lobby parte também
do próprio Partido dos Trabalhado-
res. “O relacionamento das empre-
sas com o Governo é legítimo, prin-
cipalmente através de suas repre-
sentações institucionais”, explica
José Genoino, presidente Nacional
do PT. “O Governo administra uma
sociedade formada à base de gru-
pos que agregam interesses. Res-
peitados o pluralismo e a democra-
cia, os interesses dos mais diver-
sos setores sociais são legítimos.
Acredito que o primeiro passo para
eliminação do preconceito seja a
regulamentação da atividade do
lobby. Isso trará a atividade para a
esfera da institucionalidade e da
transparência. Hoje o lobby funci-
ona por detrás da cortina, clandes-
tinamente. É isto que o deteriora.”
De acordo com Genoino, ainda é
cedo para se fazer um prognóstico
sobre as prioridades da Câmara e
do Congresso, porque as comissões
temáticas estão sendo formadas e
as prioridades deverão ser defini-
das pelo colégio de líderes, pela
mesa diretora e pelas próprias de-
mandas do Governo. Voltando ao
paralelo com a Argentina, desde
1997 vários projetos foram apre-
sentados na tentativa de regula-
mentar a atividade de lobby. Um
deles chegou até a ser aprovado em
primeira votação no Senado, mas
os parlamentares argentinos hesitam
em aprovar a lei que, a exemplo da
proposta brasileira, prevê o registro
de lobistas e a obrigatoriedade de
prestação de contas declinando para
quem o lobista trabalha e quanto
recebe pela atividade.
Lobby e mercado
Empresas e instituições com
vivência na comunicação com go-
vernos costumam utilizar estrutu-
ra de pessoal própria ou, por não
fazer parte de sua atividade-fim,
contar com suporte de empresas
especializadas em relações gover-
namentais, ou ainda com as re-
cém-criadas agências de comuni-
cação focadas em Public Affairs.
Têm atuação efetiva em Brasília
como empresas especializadas em
relações governamentais: Arko
Advice, Semprel, Roberto No-
gueira, Umbelino Lobo e Patri. O
setor interpreta como positiva a re-
gulamentação, contanto que as
normas valham não só para os pro-
fissionais de empresas formal-
mente constituídas, mas também
para ex-parlamentares, advogados
e toda sorte de pessoas que reali-
zam ações de relações governa-
mentais e lobby. “As pessoas têm
de parar de trabalhar com inter-
mediários. O serviço que presta-
mos é, eminentemente, de supor-
te e de acompanhamento, como
um médico ou personal training.
Não representamos nossos clien-
tes e não fazemos lobby. Analisa-
mos sua situação dentro de uma
estrutura de níveis e recomenda-
mos a adoção de determinadas
medidas nas várias esferas de go-
verno. Se eles acatam e dão se-
qüência ou não às recomendações,
não nos diz mais respeito”, escla-
rece Eduardo Ricardo, presidente
da Patri Relações Governamentais
e Políticas Públicas. A empresa
está instalada em Brasília desde
1986, conta com um escritório em
são Paulo, um braço em Washing-
ton e uma carteira de 35 clientes.
A função de Relações Públicas
volta à cena nesse processo. “Te-
mos de esclarecer que lobby não
se confunde com Relações Públi-
cas. Em determinados momentos,
vale a pena levar a tese defendida
ao público, como meio de obter
apoio da opinião pública para a
causa; ou de esclarecer questões
ou pontos de vista apresentados de
forma errada pelos adversários, ou
mesmo por pessoas de boa-fé”,
comenta Guilherme Farhat Ferraz,
diretor da Semprel, empresa de re-
lações governamentais que atua há
17 anos em Brasília. “Nesses ca-
sos, os instrumentos de Relações
Públicas podem e devem ser utili-
zados em favor dos objetivos das
atividades de lobby, propriamente
ditas. Mas lobby é, em 90% dos ca-
sos, atividade que se desenvolve no
contato de pessoa a pessoa. Trata-
se de falar, argumentar e conven-
cer. Informar e argumentar para
convencer.” Essa delimitação do
papel de RP no exercício do lobby
consta inclusive no Código de Éti-
ca dos Profissionais de Relações
Públicas. Na seção IX, artigo 29, o
“Temos de esclarecer
que lobby não se
confunde com
Relações Públicas”.
Guilherme Farhat
Ferraz, Semprel
CAPA
FOTO
: DIV
ULG
AÇÃO
27comunicação empresarial
código especifica que, no exercí-
cio do “Lobby”, o profissional de
Relações Públicas deve se ater às
áreas de sua competência, obede-
cendo às normas que regem as ma-
térias emanadas pelo Congresso
Nacional, pelas Assembléias Le-
gislativas Estaduais e pelas Câma-
ras Municipais. E no artigo 30 da
mesma seção f ica explícita a
obrigatoriedade do exercício éti-
co da profissão: “É vedado ao pro-
fissional de RP utilizar-se de mé-
todos ou processos escusos para
forçar quem quer que seja a apro-
var matéria controversa ou proje-
tos, ações e planejamentos, que fa-
voreçam os seus propósitos.”
Nas agências
de comunica-
ção, embora não
haja consenso, o
estabelecimento
de canais entre
Governo e em-
presas, e a leitu-
ra estratégica do
cenário político-
e c o n ô m i c o ,
a p r e s e n t a - s e
como oportuni-
dade de negócio
que tem se traduzido por meio da
criação de agências especializadas
em Public Affairs. “Ainda não dis-
cutimos esse assunto no ambien-
te da Abracom, mas sou contrá-
rio, particularmente, a essa idéia
de agências de comunicação pres-
tarem serviços de lobby”, adianta
João Rodarte, presidente da Asso-
ciação Brasileira das Agências de
Comunicação. “Quem faz lobby
cuida do negócio, defesa de inte-
resses, e age em nome do cliente.
Quando atuamos em Comunica-
ção, utilizamos um instrumental
de relacionamento entre empresas
e governo. Essa é a diferença.” Na
Edelman Brasil, que está no País
há sete anos e cuja atuação nos Es-
tados Unidos já atinge meio sécu-
lo, a possibilidade de a atividade
de lobby vir a ser regulamentada
é motivo de animação e perspec-
tiva de aumento de negócios. “Se
você analisar mercados maduros
como Estados Unidos ou Europa,
o modelo é completamente outro.
Todas as grandes agências têm de-
partamentos ou escritórios de
lobby e relacionamento com go-
vernos”, exemplif ica Ronald
Mincheff, diretor-geral da
Edelman São Paulo. Na Máquina
da Notícia, que criou recentemen-
te a MQ Institucional para traba-
lhar no Brasil o conceito ameri-
cano de lobby, o entendimento é
de que o conflito na atuação de
agências de comunicação é outro.
“O que é perigoso, e eu acho que
contamina, é uma agência de co-
municação atender empresas da
iniciativa privada e, ao mesmo
tempo, fazer assessoria de impren-
sa para políticos, para governo e
para programas de governo”, opi-
na Maristela Mafei, sócia-direto-
ra do grupo Máquina. De acordo
com Maristela Mafei, que estima
faturamento de R$ 1,2 milhão nes-
te ano com a MQ, as agências que
não suprirem essa necessidade do
mercado vão assistir passivamen-
te à entrada de concorrentes nas
instalações de seus clientes e co-
locar em risco suas contas.
Preconceito e oportunidade
Outra agência que inicia os tra-
balhos de relações governamen-
tais em Brasília é a INPress
Public Affairs, que tem como as-
sociada a Idéias, Fatos e Textos.
“Estamos trocando de atividade.
Eu não me sinto mais um jorna-
lista, mas um estrategista políti-
co. E, nesse caso, a política ante-
cede a comuni-
cação”, argu-
menta Luiz Lan-
zetta, diretor da
InPress Public
Affairs. “Não é
uma questão de
Jornalismo. Atu-
amos como inter-
mediários entre o
veículo e a fonte.
Não estamos na
atividade-fim do
Jornalismo, em-
bora utilizemos várias técnicas de
Jornalismo.” Mas Lanzetta e seu
sócio o jornalista Luís Costa Pin-
to, não gostam de utilizar o ter-
mo lobby. “Preferimos dizer que
prestamos consultoria de comu-
nicação.”
Para Miguel Jorge, há uma for-
ma prática de administrar esses
conflitos. “Precisamos deixar de
ser hipócritas e cínicos: o que al-
gumas agências de comunicação
têm feito, ao criar áreas que têm
chamado de “marketing insti-
tucional”, “assessoria política” e
outras roupagens estranhas, é cri-
“Estamos trocando de
atividade. Eu não
me sinto mais um
jornalista, mas um
estrategista político”.
Luiz Lanzetta, InPressPublic Affairs
28
CAPA
ar departamentos de lobby. Te-
mos, aqui, exatamente a questão
do preconceito, pois essas empre-
sas deveriam dizer, com todas as
letras e absoluta clareza, que vão
se dedicar, além das áreas tradi-
cionais de assessoria de impren-
sa, organização de eventos, etc,
etc, à atividade de lobby.” Na ava-
liação de Miguel Jorge, as agên-
cias de comunicação deveriam
enxergam as novas oportunidades
de atuação e de trabalho que se
apresentam, e aumentar seu
portfólio de serviços, ingressan-
do em novos mercados, que vão
precisar cada vez mais de profis-
sionais de relacionamento, ou de
lobby. “À inércia dos lobistas,
contrapõe-se hoje o movimento
do chamado Terceiro Setor, que
atua na faixa da Responsabilida-
de Social”, argumenta Jack
Corrêa, da Coca-Cola.
Existem críticas pontuais na
comunicação que parte do Gover-
no em direção à sociedade. Para
as agências de comunicação, por
exemplo, não faz sentido o Go-
verno manter um edital de licita-
ção que, de certa forma, possibi-
lita a contratação de apenas agên-
cias de publicidade. O que se es-
pera é que o Governo desmembre
a comunicação e permita a parti-
cipação direta de agências de
Comunicação ou de Relações
Públicas, sem a intermediação de
agências de Publicidade. “Quan-
to maior o número de ferramen-
tas que o Governo dispuser para
o contato com seus públicos,
maior será sua eficiência de co-
municação com a sociedade. Sem
comunicação estratégica, o Go-
verno continuará despendendo
muitos recursos numa ferramen-
ta cara e não atingirá a eficiência
obtida pelas empresas da inicia-
tiva privada, que trabalham com
comunicação integrada”, analisa
Roberto Grad, presidente da Hill
& Knowlton.
Por onde começar
Se lobby e relacionamento são
mais que simples palavras, apre-
sentam-se como tendências da
comunicação, o que profissio-
nais, empresas e organizações
não-governamentais que estão
fora dessa corrente devem fazer
então? Além do domínio dos ter-
mos desse dicionário dos novos
tempos, algumas ações simples,
porém práticas, podem ser
adotadas de imediato para a ini-
ciação à prática das relações go-
vernamentais e lobby. Segundo o
consultor Roberto Castro Neves,
o primeiro passo é conhecer o
perfil dos novos ocupantes de
funções cujas decisões podem
influir na atividade da empresa
para a qual trabalham: quem são,
de onde vêm, que formação e ex-
periência têm, o que pensam, etc.
O segundo passo é fazer com que
esses novos tomadores de deci-
são venham a conhecer a empre-
sa: o que ela faz, grandeza
(faturamento, número de empre-
gados, impostos pagos, exporta-
ções, etc) e colocar-se à disposi-
ção da nova administração. “O
novo ocupante está acabando de
chegar, ainda não tomou pé da si-
tuação, não sabe bem quais os
seus poderes e com que recursos
pode contar. Um posicionamento
inadequado, afobação, ir com
muita sede ao pote, pode queimar
o filme da empresa para sempre”,
pondera Castro Neves. A terceira
providência é o monitoramento.
Acompanhar o dia-a-dia do Gover-
no, que pode mudar sua conduta
de atuação de acordo com acomo-
dações políticas e em função de re-
sultados de pesquisas de opinião.
Por fim, há que se acompanhar
cada questão que possa afetar os
negócios ou a atividade da em-
presa. Cada questão deve ser mo-
nitorada como um risco ou uma
oportunidade para a empresa. No
que ela vai se transformar, depen-
derá das informações que os re-
presentantes dos Poderes recebe-
rem ao longo do processo. Isso é
fazer relações governamentais
e lobby.
“Um posicionamento
inadequado, afobação,
ir com muita sede ao
pote, pode queimar o
filme da empresa
para sempre”.
Roberto Castro Neves
*Leia na versão eletrônica da revis-
ta Comunicação Empresarial, site
www.aberje.com.br , o texto do Pro-
jeto de Lei de autoria do senador
Marco Maciel que regulamenta a ati-
vidade de lobby no Brasil e os pontos
principais da Lei norte-americana de
Divulgação de Atividades de Lobby.
**Literatura de apoio sobre o assun-
to - Business, Politics, and the Practice
of Government Relations (Charles S.
Mack); Creating Managing -
Association Government Relations
Program (Michael E. Kastner); A For-
ça da Comunicação (Frank M.
Corrado); Lobby - Os Grupos de Pres-
são (João Bosco Lodi); O que é Co-
municação Empresarial - Coleção Pri-
meiros Passos (Paulo Nassar e Rubens
Figueiredo).
29comunicação empresarial
Um dos temas mais relevantes daagenda política contemporânea é oda democracia participativa. Trata-se de um conceito cunhado paradistinguir os procedimentos eleito-rais da investidura do poder e dasdecisões políticas dos governos de-mocráticos. Em outras palavras, nãobasta que o poder político seja de-mocraticamente investido. Ele temde ser, também, democraticamen-te exercido. A participação políticasignifica a possibilidade de permitirque todos os atores do processo po-lítico, a começar pelo que seconvencionou chamar de socieda-de civil, tomem parte nas decisõesrelevantes que lhes dizem respei-to e que diretamente lhes afetam.A atuação dos chamados gruposde interesse no processo político éum capítulo relevante da democra-cia participativa. Como se sabe,quanto mais amplos e legítimos osinteresses sociais defendidos poressas entidades, mais participativose torna o processo decisório noâmbito da política. Convém frisar aexpressão “interesses legítimos”,porque o mecanismo da defesa deinteresses ilegítimos, obviamente,não opera por essa mesma via, nemtorna visível a sua atuação.
Como no Brasil não existe legis-lação a respeito, a prática de inte-resses que são ilegítimos terminouconfundida com a dos interesseslegítimos. Isso se deve, sobretudo,à circunstância de que a palavra deorigem inglesa lobby sofreu no Paísuma conotação pejorativa, muitoembora haja uma distinção entregrupos de interesse, não formaliza-
dos, grupos de pressão, que são for-malizados, e em geral defendem in-teresses corporativos, e lobbies, queexercem essa mesma atividade pro-fissionalmente. Resultado: termina-mos satanizando a participação,mesmo se legítima, e santificandoa manifestação, mesmo que ilegíti-ma. Foi para suprir essa lacuna dalegislação brasileira que apresentei,em meados da década de 80, pro-jeto de lei regulamentando o exer-cício dessa atividade. O projeto jáfoi aprovado no Senado e se encon-tra atualmente em tramitação naCâmara dos Deputados. Reconhe-ço haver um entendimento pelo qualalguns vêem em iniciativas dessanatureza o risco da contaminaçãose dar em sentido inverso do queatualmente ocorre, isto é, que a de-fesa de interesses autênticos termi-ne legitimando a defesa dos que sãoilegítimos. Os que pensam dessamaneira obviamente esquecem quea regulamentação visa, exatamen-te, dar transparência ao sistema departicipação nas decisões. Hoje,quando um parlamentar recebe umlobista, não sabe se é um represen-tante de uma entidade ou institui-ção legal ou se representa interes-ses escusos. Pretender, de antemão,santificar alguns interesses esatanizar outros constitui evidentediscriminação. O primeiro resulta-do da regulamentação será a pos-sibilidade de identificar a naturezade tais interesses. Aqueles que fo-rem legítimos não terão por que nãose registrar, especificando, inclusi-ve, os recursos que os financiam eos meios de que dispõem para a de-
LOBBY E REGULAMENTAÇÃOMarco Maciel*
fesa dos interesses que represen-tam. Os que forem ilegítimos seafastarão imediatamente desse cir-cuito legal, operando clandestina-mente, porque não terão a possibi-lidade de colocar permanentemen-te sob a ótica da fiscalização públi-ca a investigação dos seus recur-sos e processos. Ousaria mesmo di-zer mais: a regulamentação da de-fesa desses grupos é urna etapa ne-cessária e indispensável à moder-nização das relações das institui-ções públicas com a sociedade. Sedermos racionalidade a esse deba-te e não o encararmos de formaemocional e suspeita, não só esta-remos fortalecendo os mecanismosdemocráticos de participação dasdecisões de governo, como, ao mes-mo tempo, daremos mais transpa-rência às relações entre o governoe a sociedade e o que é mais im-portante contribuiremos decisiva enão retoricamente para conferirefetividade à democracia deci-sional, que todos aplaudem, masem favor da qual poucos atuam.
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: DIV
ULG
AÇÃO
*Marco Maciel é Senador pelo PFL