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Avaliação Multiaxial Um sistema multiaxial envolve uma avaliação em diversos eixos, cada qual relativo a um diferente domínio de informações capaz de ajudar o clínico a planejar o tratamento e predizer o resultado. A classificação multiaxial do DSM-IV é composta de cinco eixos: Eixo I Transtornos Clínicos Outras Condições que Podem Ser Foco de Atenção Clínica Eixo II Transtornos da Personalidade Retardo Mental Eixo III Condições Médicas Gerais Eixo IV Problemas Psicossociais e Ambientais Eixo V Avaliação Global do Funcionamento O uso do sistema multiaxial facilita uma avaliação abrangente e sistemática que contemple os vários transtornos mentais e condições médicas gerais, problemas psicossociais e ambientais e nível de funciona- mento, os quais poderiam ser ignorados se o foco estivesse na avaliação de um único problema apresentado. Um sistema multiaxial oferece um formato conveniente para organizar e comunicar informações clínicas, para captar a complexidade das situações clínicas e para descrever a heterogeneidade dos indivíduos porta- dores do mesmo diagnóstico. Além disso, o sistema multiaxial promove a aplicação do modelo biopsicosso- cial em contextos clínicos, de ensino e de pesquisa. O restante desta seção oferece uma descrição de cada um dos eixos do DSM-IV. Em alguns contextos ou situações, os clínicos podem preferir não utilizar o sistema multiaxial. Por esse motivo, diretrizes para o relato dos resultados de uma avaliação com o DSM-IV sem a aplicação do sistema multiaxial formal são fornecidas ao final desta seção. Eixo I: Transtornos Clínicos Outras Condições que Podem Ser Foco de Atenção Clínica O Eixo I serve para o relato de todos os vários transtornos ou condições da Classificação, exceto Transtornos da Personalidade e Retardo Mental (relatados no Eixo II). Os principais grupos de transtornos descritos no Eixo I são listados no quadro a seguir. O Eixo I também abrange Outras Condições que Podem Ser Foco de Atenção Clínica. Quando um indivíduo apresenta mais de um transtorno no Eixo I, todos eles devem ser mencionados (para exemplos, ver p. 67). Se mais do que um transtorno do Eixo I estiver presente, o diagnóstico principal ou o motivo da consulta (ver p. 37) deve ser indicado em primeiro lugar. Quando um indivíduo apresenta ao mesmo tempo um transtorno do Eixo I e um transtorno do Eixo II, o diagnóstico principal ou o motivo da consulta presumivelmente estarão no Eixo I, a menos que o diagnós- tico do Eixo II seja seguido da expressão qualificadora “(Diagnóstico Principal)” ou “(Motivo da Consulta)”. Se não houver transtorno do Eixo I, isto deve ser codificado como V71.09. Quando um diagnóstico do Eixo I é protelado por depender da coleta de informações adicionais, isto deve ser codificado como 799.9.

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Um sistema multiaxial envolve uma avaliação em diversos eixos, cada qual relativo a um diferente domíniode informações capaz de ajudar o clínico a planejar o tratamento e predizer o resultado. A classificaçãomultiaxial do DSM-IV é composta de cinco eixos:

Eixo I Transtornos ClínicosOutras Condições que Podem Ser Foco de Atenção Clínica

Eixo II Transtornos da PersonalidadeRetardo Mental

Eixo III Condições Médicas GeraisEixo IV Problemas Psicossociais e AmbientaisEixo V Avaliação Global do Funcionamento

O uso do sistema multiaxial facilita uma avaliação abrangente e sistemática que contemple os váriostranstornos mentais e condições médicas gerais, problemas psicossociais e ambientais e nível de funciona-mento, os quais poderiam ser ignorados se o foco estivesse na avaliação de um único problema apresentado.Um sistema multiaxial oferece um formato conveniente para organizar e comunicar informações clínicas,para captar a complexidade das situações clínicas e para descrever a heterogeneidade dos indivíduos porta-dores do mesmo diagnóstico. Além disso, o sistema multiaxial promove a aplicação do modelo biopsicosso-cial em contextos clínicos, de ensino e de pesquisa.

O restante desta seção oferece uma descrição de cada um dos eixos do DSM-IV. Em alguns contextosou situações, os clínicos podem preferir não utilizar o sistema multiaxial. Por esse motivo, diretrizes para orelato dos resultados de uma avaliação com o DSM-IV sem a aplicação do sistema multiaxial formal sãofornecidas ao final desta seção.

Eixo I: Transtornos ClínicosOutras Condições que Podem Ser Foco de Atenção Clínica

O Eixo I serve para o relato de todos os vários transtornos ou condições da Classificação, excetoTranstornos da Personalidade e Retardo Mental (relatados no Eixo II). Os principais grupos de transtornosdescritos no Eixo I são listados no quadro a seguir. O Eixo I também abrange Outras Condições que PodemSer Foco de Atenção Clínica.

Quando um indivíduo apresenta mais de um transtorno no Eixo I, todos eles devem ser mencionados(para exemplos, ver p. 67). Se mais do que um transtorno do Eixo I estiver presente, o diagnóstico principalou o motivo da consulta (ver p. 37) deve ser indicado em primeiro lugar.

Quando um indivíduo apresenta ao mesmo tempo um transtorno do Eixo I e um transtorno do Eixo II,o diagnóstico principal ou o motivo da consulta presumivelmente estarão no Eixo I, a menos que o diagnós-tico do Eixo II seja seguido da expressão qualificadora “(Diagnóstico Principal)” ou “(Motivo da Consulta)”.Se não houver transtorno do Eixo I, isto deve ser codificado como V71.09. Quando um diagnóstico do EixoI é protelado por depender da coleta de informações adicionais, isto deve ser codificado como 799.9.

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Eixo ITranstornos Clínicos

Outras Condições que Podem Ser Foco de Atenção Clínica

Transtornos Geralmente Diagnosticados pela Primeira Vez na Infância ou na Adolescência (excluindo o RetardoMental, diagnosticado no Eixo II)

Delirium, Demência, Transtornos Amnésticos e Outros Transtornos CognitivosTranstornos Mentais Devido a Uma Condição Médica GeralTranstornos Relacionados a SubstânciasEsquizofrenia e Outros Transtornos PsicóticosTranstornos do HumorTranstornos de AnsiedadeTranstornos SomatoformesTranstornos FactíciosTranstornos DissociativosTranstornos Sexuais e da Identidade de GêneroTranstornos da AlimentaçãoTranstornos do SonoTranstornos do Controle dos Impulsos Não Classificados em Outro LocalTranstornos da AdaptaçãoOutras Condições que Podem Ser Foco de Atenção Clínica

Eixo II: Transtornos da PersonalidadeRetardo Mental

O Eixo II diz respeito ao relato de Transtornos da Personalidade e Retardo Mental. Ele também podeser usado para a anotação de aspectos da personalidade e mecanismos de defesa predominantemente maladaptativos. A disposição dos Transtornos da Personalidade e do Retardo Mental em um eixo separadocontempla a possível presença de Transtornos da Personalidade e Retardo Mental, os quais, de outro modo,podem ser ignorados quando a atenção se volta para os transtornos geralmente mais floridos do Eixo I. Acodificação dos Transtornos da Personalidade no Eixo II não deve ser interpretada como se a sua patogêneseou tratamento se diferenciassem em comparação com os transtornos codificados no Eixo I. Os transtornosdo Eixo II são relacionados no quadro adiante.

Na situação comum em que um indivíduo apresenta mais de um diagnóstico do Eixo II, todos devemser relatados (para exemplos, ver p. 67). Quando um indivíduo exibe um diagnóstico do Eixo I e outro doEixo II e o diagnóstico do Eixo II é o diagnóstico principal ou o motivo da consulta, isto deve ser indicadopelo acréscimo da expressão qualificadora “(Diagnóstico Principal)” ou “(Motivo da Consulta)” após o diag-nóstico do Eixo II. Quando nenhum transtorno do Eixo II está presente, aplica-se o código V71.09. Quandoum Diagnóstico do Eixo II é protelado por depender da coleta de informações adicionais, isto deve sercodificado como 799.9.

O Eixo II também pode ser usado para indicar aspectos predominantemente mal adaptativos da per-sonalidade que não alcançam o limiar para um Transtorno da Personalidade (nesses casos, nenhum códigonumérico deve ser usado — ver Exemplo 3 na p. 67). O uso habitual de mecanismos de defesa mal adapta-tivos também pode ser indicado no Eixo II (ver Apêndice B, p. 711, para definições e o Exemplo 1, na p. 67).

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Eixo IITranstornos da Personalidade

Retardo Mental

Transtorno da Personalidade Paranóide Transtorno da Personalidade DependenteTranstorno da Personalidade Esquizóide Transtorno da Personalidade Obsessivo-Transtorno da Personalidade Esquizotípica CompulsivaTranstorno da Personalidade Anti-Social Transtorno da Personalidade Sem OutraTranstorno da Personalidade Borderline EspecificaçãoTranstorno da Personalidade Histriônica Transtorno da Personalidade EsquivaTranstorno da Personalidade Narcisista Retardo Mental

Eixo III Condições Médicas Gerais

O Eixo III é usado para indicar condições médicas gerais potencialmente relevantes para o entendi-mento ou manejo do transtorno mental do indivíduo. Essas condições são classificadas fora do capítulo“Transtornos Mentais” da CID-9-MC (e fora do Capítulo V da CID-10). Uma listagem das amplas categoriasde condições médicas gerais é oferecida no quadro a seguir. (Para uma listagem mais detalhada, incluindoos códigos específicos da CID-9-MC, consultar o Apêndice G.)

Como já mencionamos na “Introdução”, a distinção multiaxial entre os transtornos dos Eixos I, II e IIInão quer dizer que existem diferenças fundamentais em sua conceitualização, que os transtornos mentaisnão têm relação com fatores ou processos físicos ou biológicos, ou que as condições médicas gerais não têmrelação com fatores ou processos comportamentais ou psicossociais. A finalidade de dar destaque às condi-ções médicas gerais consiste em encorajar uma avaliação minuciosa e melhorar a comunicação entre osserviços de assistência à saúde.

As condições médicas gerais podem estar relacionadas aos transtornos mentais de diversas maneiras.Em alguns casos, existe uma relação etiológica evidente entre a condição médica geral e o desenvolvimentoou agravamento dos sintomas psiquiátricos e fica claro que o mecanismo é fisiológico. Quando um transtor-no mental é considerado conseqüência fisiológica direta de uma condição médica geral, um TranstornoMental Devido a uma Condição Médica Geral deve ser diagnosticado no Eixo I, e a condição médica geraldeve ser registrada no Eixo I e no Eixo III. Por exemplo, quando o hipotireoidismo é uma causa direta desintomas depressivos, a designação no Eixo I é 293.83 Transtorno do Humor Devido a Hipotireoidismo, ComCaracterísticas Depressivas, sendo o hipotireoidismo novamente citado e codificado no Eixo III como 244.9(ver exemplo 3, p. 67). Para uma discussão adicional, ver p. 197.

Nos casos em que a relação etiológica entre a condição médica geral e os sintomas mentais não ésuficientemente clara para garantir um diagnóstico de Transtorno Mental Devido a Uma Condição MédicaGeral no Eixo I, o transtorno mental apropriado (p. ex., Transtorno Depressivo Maior) deve ser listado ecodificado no Eixo I, sendo a condição médica geral codificada apenas no Eixo III.

Existem outras situações nas quais as condições médicas gerais são registradas no Eixo III em virtudede sua importância para o entendimento ou tratamento global do indivíduo portador de transtorno mental.Um transtorno do Eixo I pode constituir uma reação psicológica a uma condição médica geral do Eixo III (p.ex., o desenvolvimento de 309.0 Transtorno da Adaptação Com Humor Depressivo como reação ao diagnós-tico de carcinoma de mama). Algumas condições médicas gerais podem não estar diretamente relacionadasao transtorno mental, mas ainda assim influenciar o prognóstico ou o tratamento (p. ex., quando o diagnós-

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tico no Eixo I é 296.30 Transtorno Depressivo Maior e no Eixo III há o diagnóstico de 427.9 arritmia, aescolha da farmacoterapia é influenciada pela condição médica geral; ou quando uma pessoa com diabetemelito é internada devido a uma exacerbação da Esquizofrenia, sendo que deve ser feito o controle dotratamento com insulina).

Quando um indivíduo apresenta mais de um diagnóstico clinicamente relevante no Eixo III, todosdevem ser registrados. Para quem quiser exemplos, ver p. 67. Quando não há nenhum transtorno no Eixo III,isto deve ser indicado pela anotação: “Eixo III: Nenhum”. Se um diagnóstico do Eixo III é protelado pordepender da coleta de informações adicionais, isto deve ser indicado pela anotação “Eixo III: Protelado”.

Eixo IIICondições Médicas Gerais (com códigos da CID-9-MC)

Doenças Infecciosas e Parasitárias (001-139)Neoplasias (140-239)Doenças Endócrinas, Nutricionais e Metabólicas e Transtornos da Imunidade (240-279)Doenças do Sangue e Órgãos Hematopoiéticos (280-289)Doenças do Sistema Nervoso e Órgãos Sensoriais (320-389)Doenças do Sistema Circulatório (390-459)Doenças do Sistema Respiratório (460-519)Doenças do Sistema Digestivo (520-579)Doenças do Sistema Geniturinário (580-629)Complicações da Gravidez, Parto e Pós-Parto (630-676)Doenças da Pele e Tecido Subcutâneo (680-709)Doenças do Sistema Musculoesquelético e do Tecido Conjuntivo (710-739)Anomalias Congênitas (740-759)Condições Originadas no Período Perinatal (760-779)Sintomas, Sinais e Condições Mal-Definidas (780-799)Ferimentos e Envenenamento (800-999)

Eixo IV Problemas Psicossociais e Ambientais

O Eixo IV é utilizado para relatar problemas psicossociais e ambientais que podem afetar o diagnósti-co, o tratamento e o prognóstico dos transtornos mentais (Eixos I e II). Um problema psicossocial ou am-biental pode ser um evento vital negativo, uma dificuldade ou deficiência ambiental, um estresse familiarou interpessoal, uma inadequação do suporte social ou dos recursos pessoais ou algum outro problemarelacionado ao contexto no qual se desenvolveram as dificuldades da pessoa. Os chamados “estressorespositivos”, tais como uma promoção no emprego, devem ser listados apenas se constituírem um problema,como quando um indivíduo tem dificuldade para se adaptar à nova situação. Além do papel que exercem nadeflagração ou exacerbação de um transtorno mental, os problemas psicossociais também podem desenvol-ver-se em conseqüência da psicopatologia da pessoa ou podem constituir problemas que devem ser conside-rados no plano global de tratamento.

Quando um indivíduo apresenta múltiplos problemas psicossociais ou ambientais, podem ser anota-dos tantos quantos sejam considerados relevantes. Em geral, convém anotar apenas aqueles problemaspsicossociais e ambientais que estiveram presentes durante o ano anterior à avaliação atual. Entretanto, o

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clínico pode optar por anotar os problemas psicossociais e ambientais que ocorreram antes do último ano,caso eles tenham contribuído claramente para o transtorno mental ou tenham-se tornado foco de tratamen-to — por exemplo, experiências de combate anteriores levando a um Transtorno de Estresse Pós-Traumático.

Na prática, a maioria dos problemas psicossociais e ambientais será indicada no Eixo IV. Entretanto,quando um problema psicossocial ou ambiental é o principal foco primário da atenção clínica, ele devetambém ser registrado no Eixo I, com um código extraído da seção Outras Condições que Podem Ser Foco deAtenção Clínica (ver p. 683).

Por questões de conveniência, os problemas são agrupados nas seguintes categorias:

• Problemas com o grupo primário de apoio — por exemplo, morte de um membro dafamília; problemas de saúde na família; ruptura da família por separação, divórcio ou desavença;saída do lar; novo casamento do pai/mãe; abuso sexual ou físico; superproteção pelos pais: negli-gência para com criança; disciplina inadequada; discórdia entre irmãos; nascimento de um ir-mão.

• Problemas relacionados ao ambiente social — por exemplo, morte ou perda de umamigo; apoio social inadequado; viver sozinho; dificuldades de aculturação; discriminação; adap-tação à transição no ciclo vital (por exemplo, aposentadoria).

• Problemas educacionais — por exemplo, analfabetismo; problemas acadêmicos; discórdiacom professores ou colegas de escola; ambiente escolar inadequado.

• Problemas ocupacionais — por exemplo, desemprego; ameaça de perda do emprego; jorna-da de trabalho estressante; condições de trabalho difíceis; insatisfação com o emprego; mudançade emprego; discórdia com chefe ou colegas de trabalho.

• Problemas de moradia — por exemplo, falta de moradia; moradia inadequada; bairro peri-goso; discórdia com vizinhos ou com o locador.

• Problemas econômicos — por exemplo, extrema pobreza; recursos financeiros inadequados;apoio previdenciário inadequado.

• Problemas com o acesso aos serviços de assistência à saúde — por exemplo, serviçosinadequados de assistência à saúde; indisponibilidade de transporte aos locais de assistência àsaúde; seguro-saúde inadequado.

• Problemas relacionados à interação com o sistema judicial — por exemplo, deten-ção; prisão; litígio; vítima de crime.

• Outros problemas psicossociais e ambientais — por exemplo, exposição a desastres,guerra e outras hostilidades; discórdia com prestadores de serviços que não fazem parte da famí-lia, tais como advogado, assistente social ou médico; indisponibilidade de agências de assistênciasocial.

Ao usar o Formulário de Relato da Avaliação Multiaxial (ver p. 68), é preciso identificar as categoriasrelevantes de problemas psicossociais e ambientais e indicar os fatores específicos envolvidos. Se não utili-zar um formulário de registro com uma lista de categorias de problemas, o clínico poderá simplesmentelistar os problemas específicos no Eixo IV (Ver exemplos na p. 67).

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Eixo IVProblemas Psicossociais e Ambientais

Problemas com o grupo primário de apoioProblemas relacionados ao ambiente socialProblemas educacionaisProblemas ocupacionaisProblemas de moradiaProblemas econômicosProblemas com o acesso aos serviços de assistência à saúdeProblemas relacionados à interação com o sistema judicialOutros problemas psicossociais e ambientais

Eixo V Avaliação Global do Funcionamento

O Eixo V é usado para o relato do julgamento clínico acerca do nível global de funcionamento doindivíduo. Essas informações são úteis para o planejamento do tratamento e para a mensuração de seuimpacto, bem como na previsão do resultado.

A descrição do funcionamento global no Eixo V pode ser feita usando a Escala de Avaliação Global doFuncionamento (AGF). A Escala AGF pode ser particularmente útil para rastrear o progresso clínico dosindivíduos em termos globais por meio de uma medida única. A Escala AGF deve ser pontuada com respeitoapenas ao funcionamento psicológico, social e ocupacional. As instruções especificam: “Não incluir prejuízono funcionamento devido a limitações físicas (ou ambientais)”.

A Escala AGF é dividida em 10 faixas de funcionamento. A atribuição de uma pontuação na EscalaAGF envolve a escolha de um único valor que melhor reflita o nível geral de funcionamento do indivíduo. Adescrição de cada faixa de 10 pontos na Escala AGF tem dois componentes: a primeira parte se refere àgravidade dos sintomas, e a segunda, ao funcionamento. A pontuação se situa dentro de uma determinadafaixa se a gravidade do sintoma ou o nível de funcionamento estão dentro desta faixa. Por exemplo, aprimeira parte da faixa 41-50 descreve “sintomas graves (p. ex., ideação suicida, rituais obsessivos severos,furtos freqüentes em lojas)”, e a segunda parte inclui “qualquer prejuízo grave no funcionamento social,ocupacional ou escolar (p. ex., nenhum amigo, incapaz de manter um emprego)”. Cabe notar que, naquelassituações em que a severidade dos sintomas e o nível de funcionamento do indivíduo são discordantes, apontuação final na Escala AGF sempre refletirá o pior resultado. Por exemplo, a pontuação AGF de umindivíduo que representasse um perigo significativo para si mesmo, embora, em outros aspectos, estivessefuncionando bem, estaria abaixo de 20. Da mesma forma, a pontuação de um indivíduo com sintomatologiapsicológica mínima, mas com prejuízos significativos no funcionamento (p. ex., um indivíduo cuja excessivapreocupação com o uso de substâncias resultou na perda do emprego e dos amigos, mas em nenhuma outrapsicopatologia) seria inferior a 40.

Na maioria dos casos, as pontuações na Escala AGF devem ser relativas ao período atual (i. é, o nívelde funcionamento no momento da avaliação), uma vez que as determinações do funcionamento atual geral-mente refletem a necessidade de tratamento ou cuidados. De modo a contemplar a variabilidade diária nofuncionamento, a pontuação para “período atual” é às vezes operacionalizada anotando-se o nível maisbaixo de funcionamento durante a semana anterior. Em alguns contextos, pode ser útil anotar a pontuaçãona Escala AGF no momento da internação e por ocasião da alta. A Escala AGF também pode ser aplicada aoutros períodos de tempo (p. ex., o mais alto nível de funcionamento durante alguns meses durante o anoanterior). A Escala AGF é relatada no Eixo V pelo termo “AGF =,” seguido da pontuação de 1 a 100 da AGF,

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acrescentando-se entre parênteses o período de tempo refletido na pontuação, por exemplo, “(atual)”, “(ní-vel mais alto no ano passado)”, “(na alta)”. Ver exemplos na p. 67.

Para garantir que nenhum elemento da Escala AGF seja esquecido ao fazer uma avaliação, poderá seraplicado o seguinte método para determinar a pontuação:

PASSO 1: Começando no nível mais alto, avaliar cada faixa por meio da pergunta “a gravidade dossintomas do indivíduo OU seu nível de funcionamento são piores do que o que está indicado na descrição dafaixa?”

PASSO 2: Continue descendo na escala até chegar à faixa que melhor se aplica à gravidade dossintomas do indivíduo OU a seu nível de funcionamento, o que for pior.

PASSO 3: Examine a faixa inferior a esta para ter a certeza de não ter parado prematuramente.Esta faixa deve ser pesada demais para ambos os aspectos (gravidade dos sintomas e nível de funcionamen-to). Neste caso, a faixa apropriada foi alcançada (continuar com o passo 4); do contrário, volte para o passo2 e continue a descer a escala.

PASSO 4: Para determinar a pontuação específica dentro da faixa de 10 pontos selecionada, avaliese o indivíduo está funcionando na extremidade inferior ou superior da faixa de 10 pontos. Por exemplo,considere um indivíduo que escuta vozes que não influenciam seu comportamento (p. ex., alguém comlongo histórico de Esquizofrenia que aceita suas alucinações como parte da doença). Se as vozes ocorremcom relativa infreqüência (uma vez por semana ou menos), uma pontuação de 39 ou 40 pode ser a maisapropriada. Em comparação, se o indivíduo escuta vozes quase que continuamente, uma pontuação de 31ou 32 seria mais adequada.

Em alguns contextos, pode ser útil avaliar a incapacitação social e ocupacional e rastrear o progressona reabilitação independentemente da gravidade dos sintomas psicológicos. Para esta finalidade, uma pro-posta — Escala de Avaliação do Funcionamento Social e Ocupacional (EAFSO) (ver p. 762) é incluída noApêndice B. Duas propostas de escalas adicionais — Escala de Avaliação Global de Funcionamento nasRelações (AGFR) (ver p. 760) e Escala de Funcionamento Defensivo (ver p. 754), que podem ser úteis emalguns contextos, também são incluídas no Apêndice B.

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Escala de Avaliação Global do Funcionamento (AGF)

Considerar o funcionamento psicológico, social e ocupacional em um continuum hipotético de saúde-doença mental. Não incluir prejuízo no funcionamento devido a limitações físicas (ou ambientais).

Código (Obs.: Usar códigos intermediários quando apropriado, p. ex., 45, 68, 72)

100 Funcionamento superior em uma ampla faixa de atividades, problemas vitais jamais fora de| controle, é procurado por outros em vista de suas muitas qualidades positivas.

91 Assintomático.

90 Sintomas ausentes ou mínimos (p. ex., leve ansiedade antes de um exame), bom funcionamento em todas as| áreas, interessado e envolvido em uma ampla faixa de atividades, socialmente eficiente, em geral

81 satisfeito com a vida, nada além de problemas ou preocupações cotidianas (p. ex., uma discussão ocasionalcom membros da família).

80 Se estão presentes, os sintomas são temporários e consistem de reações previsíveis a estressores| psicossociais (p. ex., dificuldade para concentrar-se após discussão em família); não mais do que leve prejuízo

71 no funcionamento social, ocupacional ou escolar (p. ex., apresenta declínio temporário na escola).

70 Alguns sintomas leves (p. ex., humor depressivo e insônia leve) OU alguma dificuldade no funcionamento| social, ocupacional ou escolar (p. ex., faltas injustificadas à escola ocasionalmente, ou furto dentro de casa), mas

61 geralmente funcionando muito bem; possui alguns relacionamentos interpessoais significativos.

60 Sintomas moderados (p. ex., afeto embotado e fala circunstancial, ataques de pânico ocasionais) OU| dificuldade moderada no funcionamento social, ocupacional ou escolar (p. ex., poucos amigos, conflitos

51 com companheiros ou colegas de trabalho).

50 Sintomas sérios (p. ex., ideação suicida, rituais obsessivos graves, freqüentes furtos em lojas) OU qualquer| prejuízo sério no funcionamento social, ocupacional ou escolar (p. ex., nenhum amigo, incapaz de manter

41 um emprego).

40 Algum prejuízo no teste de realidade ou na comunicação (p. ex., fala às vezes ilógica, obscura ou irrelevante) OU| prejuízo importante em diversas áreas, tais como emprego ou escola, relações familiares, julgamento,

31 pensamento ou humor (p. ex., homem deprimido evita amigos, negligencia a família e é incapaz de trabalhar;criança freqüentemente bate em crianças mais jovens, é desafiadora em casa e está indo mal na escola).

30 Comportamento consideravelmente influenciado por delírios ou alucinações OU sério prejuízo na| comunicação ou julgamento (p. ex., ocasionalmente incoerente, age de forma amplamente imprópria,

21 preocupação suicida) OU incapacidade de funcionar na maioria das áreas (p. ex., permanece na cama o diainteiro; sem emprego, casa ou amigos).

20 Algum perigo de ferir a si mesmo ou a outros (p. ex., tentativas de suicídio sem clara intenção de morte;| freqüentemente violento; excitação maníaca) OU ocasionalmente não consegue manter o mínimo de higiene

11 pessoal (p. ex., suja-se de fezes) OU amplo prejuízo na comunicação (p. ex., ampla incoerência ou mutismo).

10 Perigo persistente de ferir gravemente a si mesmo ou a outros (p. ex., violência recorrente) OU inabilidade| persistente de manter uma higiene pessoal mínima OU sério ato suicida com claro intento

1 de morte.

0 Informações inadequadas

A pontuação do funcionamento psicológico global em uma escala de 0-100 foi operacionalizada por Luborsky na Escala dePontuação de Saúde-Doença (Luborsky L: “‘Clinicians’ Judgements of Mental Health”, Archives of General Psychiatry 7: 407-417, 1962). Spitzer e cols. desenvolveram uma revisão da Escala de Pontuação de Saúde-Doença, chamada Escala de AvaliaçãoGlobal (Global Assessment Scale [GAS]) (Endicott J, Spitzer RL, Fleiss JL, Cohen J: “The Global Assessment Scale: A Procedure forMeasuring Overall Severity of Psychiatric Disturbance”. Archives of General Psychiatry 33:766-771, 1976). Uma versão modifi-cada da GAS foi incluída no DSM-III-R como a Escala de Avaliação Global do Funcionamento (AGF).

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Exemplos de registro dos resultados de umaavaliação multiaxial segundo o DSM-IV

Exemplo 1:Eixo I 296.23 Transtorno Depressivo Maior, Episódio único, Grave Sem Características Psicóticas

305.00 Abuso de ÁlcoolEixo II 301.6 Transtorno da Personalidade Dependente

Uso freqüente da negaçãoEixo III NenhumEixo IV Ameaça de perda do empregoEixo V AGF = 35 (atual)

Exemplo 2:Eixo I 300.4 Transtorno Distímico

315.00 Transtorno da LeituraEixo II V71.09 Nenhum diagnósticoEixo III 382.9 Otite média, recorrenteEixo IV Vítima de negligência na infânciaEixo V AGF = 53 (atual)

Exemplo 3:Eixo I 293.83 Transtorno do Humor Devido a Hipotireoidismo, Com Características DepressivasEixo II V71.09 Nenhum diagnóstico, características de personalidade histriônicaEixo III 244.9 Hipotireoidismo

365.23 Glaucoma crônico de ângulo estreitoEixo IV NenhumEixo V AGF = 45 (na admissão)

AGF = 65 (na alta)

Exemplo 4:Eixo I V61.1 Problema de Relacionamento com ParceiroEixo II V71.09 Nenhum diagnósticoEixo III NenhumEixo IV DesempregoEixo V AGF = 83 (nível mais alto no ano passado)

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Formulário de relato da avaliação multiaxial

O formulário seguinte é oferecido como possibilidade de relato de avaliações multiaxiais. Em algunscontextos, este formulário poderá ser usado exatamente como está; em outros, poderá ser adaptado paraatender a necessidades especiais.

EIXO I: Transtornos ClínicosOutras Condições que Podem Ser Foco de Atenção Clínica

Código Diagnóstico Nome no DSM-IV—— —— —— . —— —— ——————————————————————————————————— —— —— . —— —— ——————————————————————————————————— —— —— . —— —— —————————————————————————————————

EIXO II: Transtornos da PersonalidadeRetardo Mental

Código Diagnóstico Nome no DSM-IV—— —— —— . —— —— ——————————————————————————————————— —— —— . —— —— —————————————————————————————————

EIXO III: Condições Médicas Gerais

Código da CID-9-MC Nome na CID-9-MC—— —— —— . —— —— ——————————————————————————————————— —— —— . —— —— ——————————————————————————————————— —— —— . —— —— —————————————————————————————————

EIXO IV: Problemas Psicossociais e Ambientais

Verificar:� Problemas com o grupo primário de apoio Especificar: ______________________________� Problemas relacionados ao ambiente social Especificar: ______________________________� Problemas educacionais Especificar: ______________________________� Problemas ocupacionais Especificar: ______________________________� Problemas de moradia Especificar: ______________________________� Problemas econômicos Especificar: ______________________________� Problemas com o acesso aos serviços de assistência à saúde Especificar: ______________________________� Problemas relacionados à interação com o sistema judicial Especificar: _________________________� Outros problemas psicossociais e ambientais Especificar: ______________________________

EIXO V: Escala de Avaliação Global do FuncionamentoPontuação: ____ ____ ____Data: ____ ____ ____

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Formato não-axial

Os clínicos que não desejam usar o formato multiaxial podem simplesmente enumerar os diagnósticosapropriados. Os que fizerem esta opção devem seguir a regra geral de registrar tantos transtornos mentais,condições médicas gerais e outros fatores coexistentes quantos sejam relevantes para os cuidados e trata-mento do indivíduo. O Diagnóstico Principal ou o Motivo da Consulta devem ser listados em primeiro lugar.

Os exemplos abaixo ilustram o relato de diagnósticos em um formato que não faz uso do sistemamultiaxial.

Exemplo 1:296.23 Transtorno Depressivo Maior, Episódio único, Grave Sem Características Psicóticas305.00 Abuso de Álcool301.6 Transtorno da Personalidade Dependente

Uso freqüente da negação

Exemplo 2:300.4 Transtorno Distímico315.00 Transtorno da Leitura382.9 Otite média, recorrente

Exemplo 3:293.83 Transtorno do Humor Devido ao Hipotireoidismo, Com Características Depressivas244.9 Hipotireoidismo365.23 Glaucoma crônico de ângulo estreito

Características de personalidade histriônica

Exemplo 4:V61.10 Problema de Relacionamento com Parceiro

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