Curso de fibrólisis diacutánea: Ganchos para fisioterapeutas
007 B - Burnout Em Fisioterapeutas - DISSERTA%C7%C3O
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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO - TRINDADE - CAIXA POSTAL 476 CEP 88.040-900 - FLORIANÓPOLIS - SANTA CATARINA
BURNOUT EM FISIOTERAPEUTAS:
INFLUÊNCIA SOBRE A ATIVIDADE DE
TRABALHO E BEM-ESTAR FÍSICO E
PSICOLÓGICO.
Florianópolis
2003
ii
Valana Justina Formighieri
BURNOUT EM FISIOTERAPEUTAS:
INFLUÊNCIA SOBRE A ATIVIDADE DE
TRABALHO E BEM-ESTAR FÍSICO E
PSICOLÓGICO.
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção da
Universidade Federal de Santa Catarina
como requisito parcial para obtenção
do grau de Mestre em
Engenharia de Produção.
Orientador: Roberto Moraes Cruz
Florianópolis
2003
Formighieri, Valana Justina Burnout em fisioterapeutas: influência sobre a atividade de trabalho e
bem-estar físico e psicológico../ Valana Justina Formighieri; orientador Roberto Moraes Cruz.
- Florianópolis, 2003. 92 f. : il.; gráfs. ; tabs. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, 2003. Inclui bibliografia.
1. Síndrome de burnout. 2. estresse laboral. 3. fisioterapeutas 4. Maslach Burnout Inventory I. Cruz, Roberto M.
II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduaçãoem Engenharia de Produção.
III. Título.
iii
Valana Justina Formighieri
BURNOUT EM FISIOTERAPEUTAS: INFLUÊNCIA SOBRE A ATIVIDADE DE TRABALHO E BEM-ESTAR FÍSICO E
PSICOLÓGICO.
Esta dissertação foi julgada adequada à obtenção do Título de Mestre em
Engenharia de Produção, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-
Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis,11 de julho de 2003.
_______________________________
Prof. Edson Pacheco Paladini
Coordenador do PPGEP
BANCA EXAMINADORA:
______________________________ __________________________
Prof. Kleber Prado Filho, Dr. Prof. Roberto Moraes Cruz, Dr.
PPGEP – UFSC Orientador – PPGEP – UFSC
________________________________
Prof. Neri dos santos, Dr.
PPGEP – UFSC
iv
AGRADECIMENTOS
A Deus, que em todos os momentos se faz presente
em minha vida me direcionando e me auxiliando.
A minha mãe que não economizou esforços para
me acompanhar nesta caminhada...
A minha irmã Rakel e ao Fábio pelos momentos
de distração e força.
Aos queridos Teugene, Nestor e Charles
Pelo acompanhamento competente e solidário
nas etapas deste trabalho.
A minha amiga Helenara companheira
de todas as horas.
Ao meu primo Luis Alberto Formighieri, grande
incentivador da realização deste trabalho.
Ao meu orientador, Roberto, pelas valiosas idéias e atenção dispensada
em todos os momentos e pelo Incentivo demonstrado no início da realização deste
estudo.
Ao Professor Osmar Possamai pelo estímulo, originalidade e paciência.
A todos colegas de turma e aos demais com quem tive
contato durante todo o mestrado.
v
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................1
1.1. Problema e contexto de estudo ....................................................................1
1.2. Objetivos .......................................................................................................4
1.2.1. Objetivos Específicos.............................................................................4
1.3. Justificativas..................................................................................................4
1.4. Limitações do Estudo....................................................................................5
1.5. Questões de Pesquisa ..................................................................................6
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................7
2.1. Saúde e desgaste profissional ......................................................................7
2.1.1. Estresse: fatores pessoais, sociais e ocupacionais .............................12
2.2. Caracterização da atividade de fisioterapia ................................................18
2.3. A síndrome de burnout – Aspectos gerais ..................................................21
2.4. Estresse e burnout em fisioterapeutas........................................................33
3. MATERIAIS E MÉTODO....................................................................................38
3.1. Desenho do Estudo.....................................................................................38
3.2. Procedimentos metodológicos ....................................................................39
4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS........41
4.1. Dados sócio-demográficos..........................................................................41
4.2. Resultados do MBI......................................................................................51
4.3. Resultados do Inventário de Sintomas de Estresse....................................58
5. CONCLUSÃO ....................................................................................................62
vi
Índice de Tabelas
Tabela 1– Distribuição de Fisioterapeutas participantes da pesquisa.......................41
Tabela 2: Distribuição do perfil sócio-demográfico da população (N=80) .................42
Tabela 3: Distribuição da população por tempo de atuação .....................................44
Tabela 4: Distribuição da ocorrência das pontuações obtidas nas questões do M.B.I.
que aferem EE (N=80) ..............................................................................................52
Tabela 5: Distribuição da ocorrência das pontuações obtidas nas questões do M.B.I.
que aferem DE (N=80) ..............................................................................................54
Tabela 6: Distribuição da ocorrência das pontuações obtidas nas questões do M.B.I.
que aferem a dimensão EP (N=80) ...........................................................................55
Tabela 7: Distribuição dos resultados do inventário de estresse...............................59
Tabela 8: Distribuição dos resultados do inventário de estresse...............................59
Tabela 9: Distribuição dos resultados do inventário de estresse relacionados aos
sintomas comportamentais (N=80)............................................................................60
Tabela 10: Distribuição dos resultados do inventário de estresse relacionados aos
sintomas defensivos (N=80)......................................................................................60
vii
Índice de Quadros
Quadro 1– Resumo esquemático da sintomatologia de burnout...............................26
Quadro 2– Estado da arte de pesquisas realizadas no Brasil sobre a síndrome de
burnout segundo autores, título, fonte, ano e local (2002-2001) ...............................30
Quadro 3: Estado da arte de pesquisas realizadas no Brasil sobre a síndrome de
burnout segundo autores, título, fonte, ano e local (2000 -1999-1998). ....................32
Quadro 4: Movimentos e Posturas Descritas na Literatura Especializada Relacionada
a Fisioterapeutas.......................................................................................................37
Quadro 5: Apresentação e comparação de médias obtidas no M.B.I. pelos docentes
psicólogos, da área de saúde e em diferentes populações.......................................56
viii
Índice de figuras
Figura 1 – Distribuição da freqüência nos principais locais de trabalho ......................................45
Figura 2– Distribuição quanto às áreas de atuação profissional................................................46
Figura 3 – Distribuição do número de pacientes atendidos por dia ............................................48
Figura 4– Distribuição percentual do tempo livre dedicado a outras atividades ............................50
ix
Resumo
FORMIGHIERI, V. J. Burnout em Fisioterapeutas: influencia sobre a atividade de trabalho e bem-estar físico e psicológico. Cascavel, 2003. Dissertação
(Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção. 2003.
Este trabalho aborda a síndrome de burnout como uma conseqüência do estresse
laboral crônico. Objetivou verificar a incidência e os graus manifestos das dimensões
esgotamento emocional (EE) despersonalização (DE) e envolvimento pessoal no
trabalho (EP) em Fisioterapeutas. Participaram da pesquisa 80 fisioterapeutas
efetivamente. Logo, os resultados apresentados referem-se a parte da população,
sendo que os níveis de burnout podem ser ainda maiores, pois, como indicam
autores, a não participação pode ser interpretada inclusive como traço de burnout.
Buscou-se também determinar algumas características do perfil sócio-demográfico,
ocupacional e pessoal e sintomas de estresse que possam estar associados a
burnout. Trata-se de pesquisa aplicada, quantitativa e descritiva. Os instrumentos
de investigação utilizados foram: Maslach Burnout Inventory (MBI), questionário de
perfil sócio-demográfico e, de valores pessoais relacionados ao trabalho. A
organização e tratamento dos dados foram organizados pelo Excel. A população
pesquisada caracterizou-se, pelo predomínio do sexo feminino, faixa etária entre 21
e 35 anos, estado civil solteiro (a) e de profissionais sem filhos. Quanto às
características ocupacionais, houve predomínio de atendimento de 20 a 30
pacientes por dia, graduação a menos de 05 anos (65%), seguida por 6 a 10 anos
(22,5%), sendo que (50%) trabalham em instituições de saúde especificas e que
(20%) desenvolvem atividade na docência universitária. Quanto as variáveis
pessoais, os fisioterapeutas utilizam (14%) do seu tempo livre para realização de
atividade física e (12%) para o lazer. Os resultados obtidos no Maslach Burnout
Inventory (MBI) indicaram grau alto para a dimensão EE, médio para DE e EP, o
que, segundo alguns autores, representa a fase inicial da síndrome.
Palavras chaves: Síndrome de burnout, estresse laboral, fisioterapeutas,
Maslach Burnout Inventory.
x
Abstract
FORMIGHIERI, V. J. Burnout in Physiotherapists: It influences on the activity of work and physical and psychological well-being. Cascavel, 2003. Dissertação
(Mestrado em Engenharia da Produção) – Programa de Pós-graduação em
Engenharia da Produção. 2003
This work (research) approaches the syndrome of burnout as a consequence of
chronic labor stress. It objectified to verify the incidence and the manifest degrees of
the emotional exhaustion (EE), depersonalization (DE) and personal envolvement in
the work (EP) in Physiotherapists. 80 physiotherapists had participated effectively of
the research. Soon, the presented results mention the part of the population, the
Burnout’s level might be even higher as some authors mention about the no
participation in this kind of research could be interpreted as a trace of the Burnout. As
well were search some characteristics of the partner-demographic, occupational and
personal profile and stress symptoms that they can be associates burnout. It is about
applied quantitative and descriptive research. The used instruments of investigation
had been: Maslach Burnout Inventory (MBI), a profile questionary of partner-
demographic and related personal values to the work. The data had been analyzed
by the Excel program. The searched population characterized itself, for the
predominance of the feminine sex between 21 and 35 years, single status and
professionals without children. About to the occupational characteristics, it had
predominance of 20 to 30 attendance patients per day, graduation to less than 05
years (65%), followed by 6 to 10 years (22,5%), being that (50%) they work in specify
health institution that (20%) they develop activities exclusively to teaching. About the
other people, the physiotherapists use (14%) their free time to practice physical
activity e (12%) for the leisure. The results gotten in Maslach Burnout Inventory (MBI)
had indicated high degree for the dimension (EE) and medium degree to (DE) and
(EP). According to some authors, it represents the initial phase of the syndrome.
Words keys: Syndrome of burnout, stress labor, physiotherapists, Maslach Burnout
Inventory.
1
1. INTRODUÇÃO
1.1. Problema e contexto de estudo
O mundo social do trabalho passa por transformações rápidas e
extremamente significativas. Evolução tecnológica, globalização, alterações na
legislação, mercado cada vez mais competitivo, mudanças na ética, nos valores
pessoais e sociais, na economia e política, deixam marcas indeléveis na vida do
indivíduo. Inserido em um sistema onde os meios de trabalho e as informações se
transformam muito rapidamente, o homem se esforça para desenvolver capacidades
de enfrentamento, ora criando, ora adaptando-se, no intuito de manter sua saúde
física, emocional e social.
As situações de trabalho se caracterizam por um complexo de exigências de
natureza ambiental, fisiológica, psicológica e social. O processo de adoecimento
relacionado ao trabalho é uma dimensão importante de investigação na
compreensão da natureza da organização e do conteúdo da atividade humana de
produção de bens e serviços.
Uma ampla mudança no interior das organizações tem sido uma constante,
sendo considerada geradora de disfunções entre o processo de trabalho e o homem,
podendo desencadear questões de importância crítica, como a elevação dos índices
de estresse de seus trabalhadores. Isto pode traduzir-se num decréscimo na
performance das tarefas, elevação dos custos com os variados problemas de saúde,
deteriorando o índice de qualidade e produtividade no trabalho.
Observando o comportamento humano na situação de trabalho e buscando
identificar as interfaces entre os fatores referentes ao funcionamento do organismo e
o ambiente de trabalho, percebe-se o desenvolvimento de um conjunto de sinais e
sintomas, causas e conseqüências, reações individuais e organizacionais próprios
2
da emergência de distúrbios ou síndromes associadas à redução da qualidade de
vida e bem-estar subjetivo.
Conforme Messias (1999), a articulação entre trabalho, a saúde e a doença
dos trabalhadores tem sido objeto de reflexão dos homens há séculos, por isso
quando se trata de saúde do trabalhador, os questionamentos devem ser sérios e
meticulosos. Não é difícil concluirmos que o trabalhador abrirá mão de hábitos
pessoais e de perspectivas particulares de sua vida para garantir a vitória nessa
batalha pela sobrevivência.
A persistência e intensidade dos agentes estressores inerentes ao sistema
sócio-organizacional, bem como as características e funções de cada indivíduo,
associadas aos vários esforços e falhas de lidar adequadamente com o estresse e
suas conseqüências, propicia aos trabalhadores desenvolver uma reação de
esgotamento laboral crônico, caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas
específicos denominados de síndrome da desistência ou Burnout, de incidência mais
visível entre em profissionais que desempenham função assistencial, a qual exige
elevado investimento na relação interpessoal, marcada pelo cuidado e a dedicação.
Com o passar do tempo, o profissional acentua o desgaste emocional e
surge o estresse. As manifestações dessa desistência são a queda da auto-estima,
o surgimento de comportamentos inadequados frente a sua clientela (irritação,
descaso, distanciamento), a diminuição da produtividade e da realização pessoal no
trabalho, a instalação de problemas psicossomáticos e o absenteísmo.
Freudenberger (1974) considera Burnout um estado de esgotamento ou
exaustão resultante de grande dedicação e esforço no trabalho, onde o indivíduo
afasta ou deixa de lado as suas próprias necessidades. Inicialmente, pensava-se a
síndrome, afetando apenas profissionais que são considerados “cuidadores”
(médicos, psicólogos, agentes penitenciários, professores e similares), mas hoje se
percebe que outros profissionais são acometidos por ela. O estudo da incidência ou
prevalência dos sintomas de burnout nas profissões pode nos ajudar a compreender
a natureza da etiologia ou nexo do adoecimento. As ocupações assistenciais são as
mais afetadas, pois estão fundamentadas na filosofia humanística e a discrepância
entre expectativas e a realidade contribui para o nível de estresse que tais
profissionais experimentam (Alvarez & Fernandez, 1991). Outro fator que contribui
3
para a alta incidência da síndrome é o longo tempo dedicado aos clientes que
freqüentemente se encontram em situações dramáticas gerando, com isso, uma
relação interpessoal provida de frustração, medo e tensão emocional.
Os profissionais de saúde freqüentemente são expostos à carga física e
mental durante seu trabalho. Os equipamentos, móveis e ambientes de clínicas e
hospitais freqüentemente não respeitam preceitos ergonômicos, situações de
emergência impõem tarefas que sobrecarregam o indivíduo, a jornada
freqüentemente é extensa, duplicada e acompanhada de plantões. O trabalho com a
doença e o sofrimento rotineiramente são causas de estresse físico e psicológico.
Como profissional da área da saúde, o fisioterapeuta atua na reabilitação do
indivíduo, sendo seu objetivo promover o restabelecimento das funções sensório-
motoras afetadas por lesões e/ou patologias. Exerce sua atividade terapêutica em
várias especialidades da área médica, dentre as quais podemos destacar: a
ortopedia, neurologia, pneumologia, cardiologia, geriatria e pediatria. Encontra-se
inserido no mercado de trabalho exercendo suas funções em estabelecimentos
hospitalares, clínicas, consultórios, instituições filantrópicas, centros de reabilitação
profissional, ambulatórios, creches, asilos, academias, entre outros, além poder
exercer a função docente em Universidades, desde que seja em área de sua
especialidade. É importante ressaltar que muitos dos tratamentos fisioterapêuticos
são bastante prolongados, e os resultados de melhora do quadro clínico são lentos,
o que exige um alto grau de paciência e perseverança por parte do paciente, e
também do fisioterapeuta.
Realizar esta pesquisa significa caracterizar no contexto brasileiro a
incidência da Síndrome de Burnout, que vem sendo estudada em diferentes
categorias profissionais no mundo inteiro, inclusive a categoria profissional dos
fisioterapeutas, onde se pergunta quais as características de atividade do trabalho
do fisioterapeuta podem estar associadas a incidência de sintomas de estresse e
Burnout?
4
1.2. Objetivos
Caracterizar a ocorrência da Síndrome de Burnout em Fisioterapeutas
e a sua repercussão sobre a atividade de trabalho e bem-estar físico e psicológico
desses profissionais.
1.2.1. Objetivos Específicos
Analisar a relação entre tempo de atuação profissional, jornada de
trabalho, número de pacientes atendidos diariamente e a área de atuação
com a ocorrência da Síndrome de Burnout;
Avaliar, segundo o inventário de Maslach Burnout (MBI), a incidência da
síndrome em suas três dimensões (exaustão emocional,
despersonalização e falta de envolvimento pessoal no trabalho) em uma
amostra representativa de fisioterapeutas que atuam na região oeste do
Paraná.
Obter um quadro dos principais sintomas fisiológicos e psicológicos
referidos pelos fisioterapeutas;
1.3. Justificativas
Necessidade de avançar na produção de conhecimentos sobre as relações
recíprocas entre trabalho e bem-estar psicológico entre fisioterapeutas.
Demonstrar a necessidade de diagnóstico e intervenção nos problemas de
saúde enfrentados no cotidiano de trabalho dos fisioterapeutas.
Necessidade de avaliar de forma mais precisa a relação entre sobrecarga de
trabalho dos fisioterapeutas, os aspectos ergonômicos da atividade e sofrimento
psicológico.
5
Sendo a saúde um estado de bem-estar que irá depender do funcionamento
do organismo, a saúde sob a concepção do fisioterapeuta, envolve um equilíbrio
fisiológico entre os sistemas do organismo e sua interação com a saúde mental e
somática, onde será possível a realização da atividade profissional de uma maneira
eficaz e prazerosa, influenciando ainda o contexto sócio-cultural e o cotidiano do
profissional fisioterapeuta trazendo diferentes graus de motivação e satisfação.
Raridade de estudos sobre o tema escolhido, aliado ao interesse científico
pelas áreas de trabalho e saúde, também justifica esta escolha. Além disso, pode-se
observar no dia-a-dia de trabalho indícios da existência de risco, para o
desenvolvimento da Síndrome de Burnout em profissionais fisioterapeutas.
1.4. Limitações do Estudo
Por este ser um estudo sem financiamento institucional, não foi possível
atingir diretamente uma população mais numerosa de profissionais, pois o custo com
mala-direta e despesas de resposta via correio tornou inviável essa expectativa.
Em referência aos aspectos metodológicos do estudo, há a limitação quanto
ao tratamento estatístico dos dados, pelo universo de participantes escolhido ter sido
criado de forma intencional, segundo o critério da acessibilidade fornecido pelos
procedimentos metodológicos. Não foi possível validar a escala de valores pessoais
relacionados ao trabalho, por não ser o objetivo deste trabalho. Ressaltando ainda,
que o uso de questionários de auto- avaliação, apesar de serem instrumentos de
fácil aplicação, não possuem forma de controle por parte do pesquisador, ficando a
cargo dos pesquisados o fator sinceridade em suas respostas. A limitação gerada
por esse tipo de coleta de dados, poderia ser suprida, utilizando-se de entrevistas
individuais, semi-estruturadas, o que não foi possível, por escassez de tempo para a
realização destas e por ser elevado o número da amostra.
A escassez de dados sobre a Síndrome de Burnout em fisioterapeutas em
nosso país constituiu um fator limitante pela dificuldade de comparação de
6
resultados com nossa pesquisa, o que nos impele a realizar comparações literais
com pesquisas internacionais.
1.5. Questões de Pesquisa
Para que os objetivos propostos sejam atingidos, responderemos as
seguintes questões de pesquisa:
Questão Central:
Qual a incidência da Síndrome de Burnout em fisioterapeutas?
Questões Complementares:
1. Quais as características da atividade de trabalho do fisioterapeuta que podem
estar associadas à incidência de sintomas de estresse e burnout?
2. Qual a relação entre as variáveis: tempo de profissão, jornada de trabalho,
número de pacientes atendidos por dia, local de trabalho e especialidade, e
ocorrência da Síndrome de Burnout em fisioterapeutas?
7
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Saúde e desgaste profissional
A organização do trabalho é relevante na questão da análise do sofrimento
psíquico e carga mental, considerando que, em nossas sociedades o índice e a
qualidade da produtividade logo se transformam em normas de produção, tendo
como prioridade à expansão econômica do sistema, visando a melhora dos
resultados.
Para Wisner (1994) a forma organizacional é complexa e precisa; a jornada
de trabalho se estende, exigindo maior poder de concentração; os postos de
trabalho adquirem caráter artificial; a população de trabalhadores disponíveis difere
aos dos jovens que supostamente representam a sua classe, enfatizando que essas
características possam desencadear algumas dificuldades, como operacionalização
das variáveis organizacionais. Adicionalmente verifica-se a inadaptação e a distância
entre a tarefa prescrita e como realmente a atividade é realizada.
Para Bridi (1997) estes fatores estão relacionados com o processo e com a
organização do trabalho, envolvendo métodos, meios técnicos, arranjos físicos, as
normas, as jornadas de trabalho, o ritmo, a remuneração e o esforço cognitivo. É
possível supor que tanto as sociedades como as condições de trabalho, não
contribuem integralmente com a saúde do trabalhador, pois absorvendo a cultura do
sistema das organizações, ele internaliza conceitos, por vezes estereotipados, de
desempenho, produção e reconhecimento de nível complexo, dando início ao
estresse laboral (FERENHOF & FERENHOF, 2002). Neste sentido, Coutinho (1996)
salienta que existem hoje importantes estudos evidenciando, que o avanço
tecnológico e a modernização têm cada vez mais contribuído para o crescimento dos
distúrbios mentais e psicossomáticos dos trabalhadores.
Na organização do trabalho a interação humana com os meios técnicos,
aponta para o controle e nível do desempenho do indivíduo para atingir os objetivos
8
de validade interna e externa, levando-nos a refletir sobre o papel psíquico-
econômico “crucial” do trabalho (CARVALHO, 1995).
De acordo com França e Rodrigues (1996), a forma com a qual o indivíduo
acostuma-se com os sintomas do estresse, levando-o a cronicidade e ao
esgotamento, são seguramente relevantes dentro do contexto do trabalho.
Sendo a carga de trabalho caracterizada sob três aspectos: físico, cognitivo e
psíquico, cada um pode determinar uma sobrecarga mental (Bisi, 1990). A definição
de sobrecarga física e cognitiva é mais evidente, quando tentamos dimensionar a
sobrecarga psíquica. Porque esta última envolve conflitos interiores de
representação consciente ou inconsciente das relações entre o indivíduo e a
organização do trabalho (WISNER, 1994).
Para compreender este contexto e a prescrição adequada da tarefa, Wisner
salienta que é necessária a realização da Análise Ergonômica do Trabalho,
realizando um estudo do comportamento da ação, observação e comunicação do
trabalhador, seguida da análise do conteúdo cognitivo e afetivo, utilizando a
semiótica para identificar as formas de linguagem corporal formal e informal.
Esta forma de intervenção deve levar também a investigação de fenômenos
psicológicos que possam estimular o aumento da criatividade, comunicação,
relacionamentos, satisfações e motivações dentro da organização do trabalho,
caracterizando o papel da Psicologia Ergonômica, que é o de compreender o
trabalho para depois “transformá-lo”.
Para Aubert (1996), as condições de trabalho parecem influir no maior ou
menor grau de resistência do trabalhador às condições desfavoráveis, alertando
para a importância da subjetividade no processo de avaliação dos objetivos a serem
alcançados e a sua relação com a reação do trabalhador.
Devemos analisar como o ser humano é afetado, para desempenhar a
atividade que executa. Os conflitos entre o regime da organização de trabalho e a
necessidade de atingir as metas determinadas pelo sistema, somada a exigência
pessoal, desempenho, ritmo, produção e rendimento que o trabalhador acaba
desenvolvendo por causa da própria exigência da organização (MASLOW, 2000).
9
Os trabalhadores sociais que fazem corretamente seu trabalho são exemplos
de classes que apresentam alta carga de trabalho em razão das dificuldades de
compreensão que apresentam frente a reclamações do público e execução da tarefa
ao mesmo tempo; as quais geralmente são “ignorantes” as categorias
administrativas. A psicodinâmica do trabalho (Dejours, 1994) destaca a importância
representada pelo papel da organização do trabalho, podendo-se afirmar que quanto
menor a autonomia do trabalhador na organização da suas atividades, maiores as
possibilidades de que a atividade gere transtornos à saúde mental.
Assim, para proteger os trabalhadores da pressão dos usuários, as
organizações, como via de “satisfação” criaram barreiras que foram sendo
construídas progressivamente, podendo ser físicas, emocionais ou simbólicas;
ficando evidente na literatura que essa atitude, subestima as capacidades dos
trabalhadores. Declara ainda com clareza, que a relação tarefa prescrita e a atenção
que deve ser atribuída às dificuldades perceptivas, esforços mentais e ansiedades
causadas pela incerteza da compreensão não devem ser otimizadas, pois aumenta
a carga mental e diminui a realização pessoal no trabalho.
Para Carlotto e Gobbi (1999), a Síndrome de Burnout apresenta-se hoje,
como um dos grandes problemas psicossociais no Brasil, e tem sido definido como
um fenômeno multidimensional, formado por três dimensões: exaustão emocional,
despersonalização e diminuição do sentimento de realização profissional no
trabalho. A variável mais crítica é a relação entre o ocupante do cargo e a sua
clientela. As características do papel consistem em sobrecarga, ambigüidade e
conflito.
Essas atitudes quebram o vínculo de motivação e interesse do indivíduo com
o trabalho, podendo alterar o ritmo e seu estado biológico, Cañete (2001). Quando
não é mais possível de se estabelecer à compatibilidade do indivíduo com o
trabalho, nasce o sofrimento, ocasionando sentimentos de desprazer, tensão,
estresse laboral, frustração, dentre outros.
Silva (2000) relaciona o meio organizacional com a saúde do indivíduo e a
produtividade da empresa. Pode-se perceber que o ajuste do mesmo, nem sempre é
adequado; considerando que a sociedade, o local e o momento conduzem para
10
diferentes pontos de observações e percepções. A essa questão atribui-se que a
transmissão da mensagem para o trabalhador pode levar a uma compreensão
deformada ou parcialmente encoberta, interferindo na iniciativa da tomada de
decisão e na escolha da conduta a ser adotada. Poderia ser essa uma das variáveis
ligadas à falta de motivação e engajamento pessoal?
As dificuldades perceptivas e questões de identificação e reconhecimento
estão ligadas diretamente à memória, seja ela imediata ou de longa duração.
Colocando esse componente como crítico, podemos associar a memória com
atividades mentais, que por sua vez são constituídas por símbolos. Como relata
Cruz (2001) em estudos relacionados à psicologia do trabalho, é sobre eles que
reagimos. Sendo assim a interpretação dos indivíduos frente aos símbolos,
caracterizam diversas situações de trabalho, pois nossas ações e reações são
produtos da nossa percepção simbólica, podendo provocar modificações específicas
dentro deste processo.
Para Cruz (2001), a “noção” de memória do trabalho tem estocagem limitada,
na realização de uma atividade de auto-repetição que permite conservar as
informações, sendo assim devemos renovar ou aperfeiçoar sempre a nossa
memória; citando ainda a memória operacional, que tem duração de vida transitória
ligada à duração de uma tarefa; quando ela termina é esquecida. Contudo, o autor
enfatiza que o elemento mais crítico, provavelmente seja a memória de curta ou
longa duração. Nos indivíduos que estão cansados, as capacidades de
memorização são baixas, intensificando o esforço cognitivo para realização da
tarefa, interferindo no período de repouso, pois produz dificuldades de sono.
O trabalho significa necessidade e razão de vida, envolvendo ainda os ideais,
objetivos, metas e perspectivas pessoais de cada ser humano (Dejours, 1987).
Portanto o autor define que a carga mental de trabalho e o sofrimento psíquico estão
ligados por problemas que nascem das reações adversas entre a história individual
de cada um, sua necessidade de prazer e a história da sociedade e sistemas
organizacionais que tendem a adaptar o homem ao trabalho.
Os fatores subjetivos e psicossociais que vem sendo identificados nas
situações de trabalho estabelecem a integração do indivíduo com o meio
11
organizacional. Quando os ideais e metas dos indivíduos são antagônicos as
normas do sistema, o ambiente e condições de trabalho tornam-se ameaçador,
levando a modelos mentais ás vezes nocivos e influenciados pela cultura da
organização. Conseqüências como frustração, insatisfação, desmotivação e
mudança de comportamento, refletem diretamente na organização do trabalho
(CARVALHO, 1995). Para Carvalho:
Ocorre uma dificuldade na adaptação do trabalho ao homem, demonstrando a necessidade de critérios específicos, dentro de um contexto organizacional e do trabalho, englobando o âmbito social e psicológico, que possam identificar a necessidade de se estabelecer situações potencialmente críticas para o desenvolvimento da intervenção apropriada, minimizando as repercussões negativas para o trabalhador, onde este associa os índices de motivação, participação e satisfação como as razões mais expressivas a serem atingidas para sua realização (p.45).
Torna-se clara a necessidade de atitudes, que estabeleçam vias de interação
entre as atividades de saúde mental e as de saúde no trabalho. Considerando a
importância dos homens para todo o sistema, sabemos como são importantes as
tentativas de humanizar o trabalho. O destino dos homens e de seus desejos no
trabalho, perante os novos desafios da humanidade, pode-se justificar numa reflexão
específica, porém, leva-nos a pensar qual é o lugar do desejo e qual é o lugar do ser
humano no trabalho contemporâneo.
Neste contexto, qualidade de vida e trabalho com qualidade é o ponto que
mais se destaca neste início de milênio, pois se sabe, hoje, que não se pode mais
separar o ambiente de trabalho, do ambiente da família e ou ambiente social.
O ser humano é um conjunto complexo cujo desenvolvimento depende de seu
ambiente interno e de seu ambiente externo. Portanto, não há como
compartimentalizar as emoções, as sensações, as percepções. Entender esta
verdade é o passo mais importante para as organizações e para os trabalhadores no
futuro.
Muitas são as reações que os indivíduos apresentam em relação ao seu local
de trabalho. Entre uma infinita variedade de atitudes e emoções podemos
considerar como mais relevantes a satisfação no trabalho e o estresse ocupacional.
12
A primeira reflete um estado emocional agradável que resulta da percepção de que
o trabalho ajuda o sujeito a alcançar resultados valorizados pelos demais sujeitos e
por toda sociedade. Já o segundo reflete um estado emocional desagradável, pois é
decorrente de incertezas sentidas quanto à própria capacidade de atender às
demandas exigidas pelo trabalho.
Em vista dessa última situação chegou-se a apontar a existência de uma
ideologia de culpabilidade que responsabiliza os trabalhadores pelos seus
problemas de saúde – como nos casos ligados à síndrome de Burnout – deslocando
a atenção do verdadeiro produtor: o ambiente, as condições e a organização do
trabalho.
Por isso é importante, também, construir um saber coletivo que sirva como
instrumentalização para o enfrentamento diferenciado da realidade social, baseado
principalmente na capacidade de cada um de valorizar-se.
2.1.1. Estresse: fatores pessoais, sociais e ocupacionais
A epidemia do século XXI, o estresse, pode afetar bebês, crianças e adultos.
Razões pessoais, familiares ou sociais são normalmente invocadas para explicá-lo.
Em 1936, o fisiologista canadense Hans Selye, utilizou o termo pela primeira vez
com a conotação que se conhece atualmente: stress é a maneira como o organismo
responde a qualquer estímulo – bom, ruim, real ou imaginário – que altere seu
estado de equilíbrio.
As preocupações que cada pessoa carrega no seu dia-a-dia pesam em sua
saúde ao provocar tempestades de hormônios e derrubar defesas do organismo
(Miranda, 1998). O ritmo rápido, a poluição sonora, os problemas familiares, os
problemas no trabalho e outras características da alucinante vida moderna,
sobrando pouco tempo para o lazer e o relaxamento, se manifestam em
comportamentos desequilibrados que podem ser representados pelo estresse. No
entanto, algumas sobrecargas são potencialmente capazes de produzir estresse na
maioria das pessoas. Estas sobrecargas denominam-se fatores estressantes. Os
fatores estressantes podem ser psicológicos, físicos e sociais.
13
Todos os seres humanos vivem situações de estresse e os fatores
desencadeantes podem aparecer em qualquer etapa da vida. Uma das formas de o
estresse se manifestar no indivíduo é através da doença. Este fato é condicionado
pela gravidade da doença e pela idade da pessoa, uma vez que a capacidade de
combate às doenças é bastante elevada na infância diminuindo à medida que a
idade avança.
O conceito de doença difere ao longo da vida. As crianças possuem uma
compreensão limitada do que é doença ou morte. Até os cinco anos ela acha que a
pessoa que morreu apenas se ausentou e poderá, um dia, voltar. É somente a partir
dessa idade que ela começa a perceber que a morte é irreversível, que a morte é
uma ausência definitiva. Já as preocupações dos adultos doentes incluem angústia
em relação ao futuro, receio de se verem limitados na sua vida cotidiana ou mesmo
de morrerem (SANTOS, 1994).
Outra forma de estresse é o que resulta de conflitos interiores, gerados pela
preocupação sobre resultados de uma escolha a ser feita, por exemplo, quando uma
pessoa tem que escolher entre dois empregos ou entre dois tipos de tratamento
médico. As causa mais comum de estresse no âmbito familiar são os problemas
financeiros, objetivos opostos, conflitos interpessoais, aparecimento de um novo
membro, doença, incapacidade e morte de um familiar querido.
A doença ou incapacidade na família pode, igualmente, provocar estresse em
seus familiares. Tempo e liberdade são restringidos passando a serem dedicados a
cuidar da pessoa doente. O cotidiano das pessoas é de origem de múltiplas
situações estressantes, estando muitas das preocupações das crianças e dos
adultos associadas às suas ocupações e a um conjunto de fatores ambientais
(SILVA, 1992).
Sabe-se que o excesso de trabalho pode estar associado ao aumento de
acidentes e problemas de saúde, observando-se que há atividades que são mais
estressantes do que outras. O ambiente de trabalho, as relações interpessoais, o
nível de responsabilidade, o não reconhecimento de certas qualidades pessoais, são
situações estressantes que podem provocar alterações psicológicas e fisiológicas
como quebra de auto-estima e hipertensão arterial (SANTOS, 1994).
14
Freqüentemente o estado de equilíbrio dos vários sistemas do organismo
entre si e do organismo como um todo com o meio ambiente, é alterado por agentes
estressantes. Apesar de distintos em muitos aspectos, estes estímulos provocam
respostas orgânicas num padrão similar, com alterações nervosas e bioquímicas que
visam adaptar o organismo a situações de desequilíbrio funcional. O conceito
moderno de stress o considera como um processo bio-psico-social, pela forma como
se manifesta, dependente de características individuais, mas interagindo de forma
significativa com o ambiente social.
Uma vez reconhecido que se está sofrendo respostas a um estresse, a
pessoa tem que ser capaz de identificar e lidar com qualquer outra causa por trás
dele e não apenas com os sintomas. A prolongada exposição do organismo à
estimulação excessiva provocada por situações de estresse continuado ou repetido
vai consumir energias e recursos, levando o organismo à fase de exaustão.
As reações ao estresse quase sempre provocam alterações importantes do
sistema nervoso e do sistema endócrino que podem se refletir de uma maneira geral
em todo organismo, originando várias perturbações e doenças. As tensões
emocionais e físicas que acompanham o estresse são bastante desconfortáveis.
Desta maneira as pessoas sentem que têm de fazer alguma coisa para reduzir o seu
estresse. E “este” algo que as pessoas fazem são denominados de adaptação ao
estresse, que pode produzir modificações na composição química e na estrutura do
corpo. Os mecanismos de adaptação são processos dos quais o organismo tenta
gerar a diferença entre as exigências que a pessoa é submetida e os recursos que
possui em situações de tensão, este estado se manifesta como Síndrome Geral de
Adaptação. Esta síndrome desenvolve-se dentro do quadro alarme – resistência –
exaustão.
Os esforços de combate ao estresse são variados e não levam
necessariamente à solução do problema. Estas formas de adaptação podem ser:
a) Procurar alterar o problema que causa a situação;
b) Regular a resposta emocional ao problema;
Assim a forma de adaptação refere-se à capacidade de reduzir as exigências
da situação de estresse ou de aumentar os meios para lidar com o problema. Fixado
15
nas emoções, a adaptação refere-se ao controle da resposta emocional perante a
situação estressante. A pessoa pode regular suas respostas emocionais através de
abordagens cognitivas e comportamentais tais como negar fatos desagradáveis ou
vê-los de uma perspectiva melhor.
Uma reação psicológica com componentes emocionais, físicos, mentais e
químicos é a forma como Lipp (1984) define estresse. A autora diferencia eustress
de distress – o eustress se identifica quando estímulos estressores e agressores
contribuem para o bom desempenho do indivíduo, contribuindo com novas idéias e
estratégias que somam ao desenvolvimento do ser. O segundo denominado distress
é caracterizado quando as respostas exigidas por determinados tipos de estímulos,
ultrapassam a capacidade de resistência e da adaptação do organismo, podendo
desta forma, ocasionar o desenvolvimento de patologias ligado ao estresse. A ação
interpretativa que o individuo faz dos estímulos somada as características dos
mesmos, são elementos chaves para a determinação do distress ou eustress.
Para Simonton, Matthews e Greighton (1987), as condições emocionais
ligadas a reação do individuo frente às mudanças importantes em sua vida estão
relacionadas ao estresse e acionam mudanças de hábitos e de relação interpessoal
na vida pessoal e no trabalho evidenciando a intensidade dos agentes estressores.
Atualmente vários autores defendem que a causa do estresse é multifatorial; logo
para identificar as variáveis envolvidas em sua etiologia devemos examinar o fato
estressante, a interpretação do individuo ao determinado fato, o domínio da
situação, a predisposição genética individual, etc.
O estresse profissional é caracterizado como uma perturbação para o
individuo decorrente da sua força adaptativa para conseguir enfrentar as demandas
do seu ambiente de trabalho, quando estas exigem alem das suas capacidades
físicas e mentais. Quando uma situação organizacional ou profissional estressante
esta determinada, contribuindo para a instalação do estresse laboral e representa
conflito psicológico, instala-se um estado de desorganização persistente da
personalidade, caracterizando o quadro de neurose profissional (AUBERT 1996).
A cada dia o ser humano enfrenta conflitos, situações que exigem decisões,
responsabilidades e obrigações que não se podem simplesmente ignorar. O
16
estresse pode ser uma ameaça à saúde, mas pode, também, ser o estímulo
necessário para adaptações positivas no organismo. Quando as pessoas atingem
uma situação de estresse, elas entendem que precisam de algum auxílio. O
conselho fundamental para este momento de alarme é descobrir o que realmente se
quer na vida: paz, harmonia, alegria e amor.
O estresse pode ser entendido como um estado de desequilíbrio da pessoa,
que se desenvolve quando esta e submetida a uma serie de tensões
suficientemente persistentes. Para o desenvolvimento do estresse patológico, se
pressupõe que seja necessária uma certa predisposição pessoal, sem a qual os
agentes (estressores) ocasionais não seriam capazes por si só de produzir a reação
de estresse, verificando ainda as características das condições emocionais atuais e
a qualidade psíquica de cada individuo (BALLONE, 2001).
O termo disposição pessoal esta intimamente ligado com as características de
personalidade de cada pessoa, sendo que, sinteticamente podemos compreender
que personalidade e a organização dos traços do eu, formados a partir do código
genético herdado e das percepções singulares que o individuo tem do mundo,
capazes de torná-lo único em sua maneira de ser e de desempenhar o seu papel
social. Há pessoas que reagem aos estímulos (internos e externos) com mais
ansiedade que outros, podem estar ansiosas devido a insegurança, o temor, a auto-
estima baixa, falta de autoconfiança – esse traço de personalidade que exalta
ansiedade pode ser herdado ou pode ser adquirido com a experiência de cada um,
sendo que a ansiedade e o pedestal para o desencadeamento do estresse.
As condições emocionais atuais, também fazem parte da motivação interna
do estresse, refletindo o momento afetivo atual, caracterizando uma maneira da
pessoa estar e não uma maneira da pessoa ser. E evidente que uma pessoa, ainda
que não tenha traços tão marcantes de ansiedade, terá mais dificuldade de
estressar-se caso esteja passando por uma fase de crise conjugal, econômica ou
profissional – pela mesma razão, nos períodos depressivos da vida a probabilidade
do estresse e enormemente maior que em outras épocas. Devido às condições
emocionais atuais percebemos que em alguns casos os estímulos podem ser
estressores e não estressores em outros. Isso que dizer que os estímulos são
percebidos de acordo com as condições atuais de cada um (BALLONE, 2001).
17
A personalidade tipo A também é descrita como outra característica individual
relacionada ao estresse. Bermúdez (1994) relaciona as três principais características
que definem o padrão de conduta tipo A: competitividade – necessidade de
sobressair e render muito, concentrando-se exaustivamente em aspectos relevantes
para a tarefa a ser realizada, desfocalizando o restante; impaciência – alcançar o
melhor aproveitamento possível do tempo; hostilidade – reações de irritação, ira,
ressentimento e outros sentimentos negativos em relação a fatos do cotidiano,
especialmente quando esses oferecem ameaças ou frustrações a seus objetivos
profissionais. Moreno e Rueda (1987) acrescentam que pessoas do tipo A trabalham
mais, porque apresentam dificuldades de delegar funções, pois acreditam que
realizarão melhor a tarefa prescrita.
Podem ser citadas, ainda, várias características de personalidade
relacionadas ao estresse, porém estas não serão descritas, pois fogem ao objetivo
deste trabalho. A breve descrição realizada apresentou como objetivo fundamentar
as variáveis examinadas nesta pesquisa.
Diferentes investigadores têm enumerado e classificado os estressores
ocupacionais, dividindo-os em dois grupos: os relacionados ao ambiente e os
relacionados à demanda do trabalho.
Em relação às demandas de trabalho, estas referem-se a execução do
trabalho em si – entre os estressores presentes no desempenho da atividade, a
sobrecarga de trabalho, tanto em termos qualitativos como quantitativos, aparece
freqüentemente associada ao estresse. O excesso de horas trabalhadas reduz a
oportunidade de apoio ao individuo, causando insatisfação, tensão e outros
problemas de saúde. Por outro lado, a falta de estímulos e a falta de trabalho podem
causar sensação de tédio e resultar em estresse patológico e doença (LAURELL &
NORIEGA, 1989).
A oportunidade que um ambiente de trabalho permite ao individuo controlar as
atividades que realiza, tanto intrinsecamente, em termos de planificação e
determinação de procedimentos a utilizar, como extrinsecamente, em termos de
salários e horários - caracteriza outra variável responsável por diferentes graus de
estresse. A falta de controle sobre o trabalho, assim como as responsabilidades
18
excessivas, produzem conseqüências psicológicas e somáticas negativas. A
variedade de tarefas também tem relação significativa com a satisfação no trabalho.
Quanto maior o número de estímulos novos, mais estressante a situação. Por outro
lado, a pouca variedade das tarefas pode estar associada a ansiedade e depressão
(PEIRO, 1993).
Outro fator importante no momento de determinar o potencial estressor é a
qualidade das relações interpessoais (Chaves, 1991). A falta de coesão do grupo é
uma das características que pode facilmente causar estresse. O conflito no grupo de
trabalho cumpre funções positivas quando estimula a busca de soluções para o
problema; no entanto caso a situação de conflito seja continua, poderá gerar
frustrações, insatisfação e moléstias somáticas (PEIRO, 1993).
A segurança e a estabilidade correspondem a um percentual nos indivíduos.
A carreira pode gerar preocupações relacionadas a alterações na organização do
trabalho ou falta de promoção profissional. No desenvolvimento da carreira, podem
ocorrer diferentes estressores relacionados a cada etapa. Na fase inicial pode haver
discrepâncias entre expectativas do individuo e a realidade. Na fase de consolidação
pode ocorrer um desequilíbrio entre a carreira, as demandas de trabalho e os
compromissos familiares, e na etapa seguinte há estresse quando existe uma
diferença importante entre o êxito profissional e a frustração de carreira.
As conseqüências do estresse freqüentemente envolvem o ambiente familiar
e o laboral, contribuindo para que os circundantes sintam-se ansiosos devido a
ansiedade do individuo estressado. Isso acontece também em relação a
irritabilidade, depressão e mau humor. O excesso de tensão também pode
comprometer a comunicação, quando as mensagens não são compreendidas de
falta de paciência e tolerância. Ocorre a perda de qualidade no ambiente de trabalho
e a convivência torna-se seriamente comprometida, sendo essa a conseqüência de
quem esgotou sua capacidade de adaptação, bom senso, interesse, determinação,
persistência, atributos conquistados através do árduo aprendizado.
2.2. Caracterização da atividade de fisioterapia
19
O fisioterapeuta é um profissional de saúde, de nível superior, que tem sua
profissão reconhecida e regulamentada pelo DECRETO-LEI nº 938, de 13 de
outubro de 1969, sendo atividade privativa do fisioterapeuta a execução de métodos
e técnicas fisioterápicos e define sua finalidade de trabalho como a de restaurar,
desenvolver e conservar a capacidade física do paciente (COFFITO – CONSELHO
FEDERAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL).
O Código de Ética dos fisioterapeutas amplia a atuação profissional também
na área preventiva, no artigo 1o: “o fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional prestam
assistência ao homem, participando da promoção, tratamento e recuperação de sua
saúde”.
A resolução COFFITO, de 1975, em seu artigo terceiro, determina:
“constituem atos privativos do fisioterapeuta a prescrição, aplicação e supervisão de
terapia física com o objetivo de preservar, manter, desenvolver ou restaurar a
integridade de órgão, sistema ou função do corpo humano”. Constitui ainda ação
característica e exclusiva do fisioterapeuta o diagnóstico cinesiológico funcional –
designação atual do diagnóstico fisioterapêutico (MOURA 2001).
A fisioterapia busca romper com o paradigma de profissão reabilitadora e
massificada, procurando assumir um espaço social como profissão de primeiro
contato. Se não há clareza no objeto de trabalho do fisioterapeuta, com afirmam
Rebelatto e Botomé (1999), há unanimidade sobre a necessidade redefinição do
objeto de trabalho – centrado na doença - e conseqüentemente das
responsabilidades sociais e éticas do profissional. Atualmente, as definições do
campo profissional orientam-se para a patologia do movimento ou o tratamento de
patologias por meio do movimento.
Os profissionais poderiam estar refletindo sobre a ampliação das
possibilidades de atuação, tal como é percebido por Rebelatto e Botomé (1999).
Uma das razões para isso é que parece haver, ainda, pouco conhecimento sobre o que
caracteriza a atuação em cada um destes níveis e sobre as propriedades dos conceitos
envolvidos na explicitação dessa caracterização. Em Fisioterapia, isso é ainda mais
verdadeiro que para a área da saúde como um todo, na qual, pelo menos, já há um nível de
20
crítica e debate sobre os níveis, as possibilidades e as características de atuação profissional
(p.13).
Para o fisioterapeuta ser habilitado e exercer suas funções no Brasil, devem
diplomar-se em curso de nível superior reconhecido pelo MEC – Ministério de
Educação e Cultura e ser registrado no CREFITO (Conselho Regional de
Fisioterapia e Terapia Ocupacional).
O órgão máximo da classe no Brasil é o COFFITO – Conselho Federal de
Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Cada CREFITO – são nove atualmente - atua
como uma jurisdição regional e o conjunto compõem o Sistema
COFFITO/CREFITOS.
No Brasil, diferentemente de alguns países, como os EUA, não há nenhum
outro profissional de qualquer nível acadêmico que execute técnicas de fisioterapia
ou auxilie o fisioterapeuta. A jornada de trabalho do fisioterapeuta, como dos demais
profissionais de saúde brasileiros é de 30 horas semanais, fixada pela lei federal
8856, de 1o de março de 1994.
O fisioterapeuta insere-se no mercado de trabalho exercendo suas atividades
em hospitais, clínicas, centros de reabilitação, consultórios, entidades filantrópicas,
clubes, academias, universidades, instituições especializadas de cuidado a saúde e
consultoria e assessoria a empresas privadas, dentre outros. Tanto o fisioterapeuta
pode exercer suas atividades como profissional autônomo como possuir vínculos
empregatícios regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT.
Para ter êxito em sua finalidade – promover, curar ou reabilitar distúrbios
cinésico funcionais - o fisioterapeuta dispõe e utiliza os agentes físicos como
técnicas fisioterapêuticas. Constituem o instrumental de trabalho do fisioterapeuta:
hiper e hipotermoterapia, hidroterapia, aeroterapia, fototerapia, eletroterapia,
sonidoterapia, cinesioterapia e massoterapia (resolução COFFITO,1975).
Entendemos por técnicas manuais, além da massoterapia, métodos ou técnicas de
mobilização, manipulação ósteo-músculo-articular e aplicação de alongamentos
passivamente.
21
Rotineiramente, o fisioterapeuta realiza atividades que sobrecarregam o
sistema músculo-esquelético, como transferência de pacientes dependentes,
assistência a pacientes durante deambulação, resistências manuais, levantamento
de pesos e equipamentos.
2.3. A síndrome de burnout – Aspectos gerais
O termo burnout faz referencia a um tipo de estresse laboral e institucional
gerado nos profissionais que mantém uma relação constante e direta como outras
pessoas, sendo mais evidente nas profissões assistenciais (médicos, professores,
fisioterapeutas, psicólogos e enfermeiros), e sua origem tem como base como estes
profissionais que interpretam e manifestam seus sentimentos frente as situações
mais difíceis que possam encontrar. O termo burnout foi descrito originalmente por
Freudenberg (1974), antes mesmo dos estudos de Maslach e Jackson (1981),
quando as pesquisas realmente adquiriram verdadeira importância. Surgiu como
uma metáfora para designar o sentimento de profissionais que trabalhavam com
pacientes dependentes de substâncias químicas e que sentiam-se derrotados,
estavam exaustos e não conseguiam alcançar as metas que tinham por objetivo.
Burnout em português, significa “perder a energia” ou “queimar (para fora)
completamente” (Silva, 2000). Este autor considera que o burnout envolve atitudes e
sentimentos que vêm acarretar problemas de ordem social e emocional ao
trabalhador e a organização. Os estudos brasileiros têm se desenvolvido nos últimos
anos com maior ênfase. O quadro 3 mostra trabalhos publicados que foram
catalogados pelo NEPASB (Núcleo de Estudos e Pesquisas Avançadas sobre a
Síndrome de Burnout), atualmente denominado por GEPEP ( Grupo de Estudos e
Pesquisas sobre Estresse e Burnout).
Diversos autores relatam uma série de estudos teóricos, apresentando
definições e modelos explicativos da síndrome de burnout. Não existe consenso
quanto a essas as formas de abordá-la. Freudenberger (1974), reconhece que
burnout trata-se de um estado de exaustão, ocasionado pelo trabalho excessivo que
acarreta inclusive a alienação de necessidades do próprio trabalhador. Associa as
22
causas às características individuais de cada trabalhador. Delimita a síndrome como
um estado apresentado pelo indivíduo e não como um processo gradual a
desenvolver-se.Também concebem desta forma os autores Pines & Aronson (1988)
dentre outros. Christina Maslach e Susan Jackson (1981) consideram o burnout uma
resposta principalmente emocional, e situam os fatores de trabalho e os
institucionais, como condicionantes e antecedentes desta síndrome. Carlotto e Gobbi
(1999) acrescentam que o desenvolvimento da síndrome pode estar originado nas
falhas referentes a organização do trabalho que podem ser encontradas dentro das
instituições. Sendo assim o burnout constitui-se num fenômeno multidimensional
caracterizado pelas seguintes dimensões:
1. Exaustão emocional (EE)– perda progressiva de energia seguida de
esgotamento físico e mental. O indivíduo já utilizou várias estratégias para
lidar com os estressores, e todas falharam. O indivíduo não consegue mais
despender energia, gerando conflito pessoal. A necessidade de
disponibilidade afetiva para a vinculação e o conseqüente desenvolvimento
do trabalho e a impossibilidade de concretizá-las, levam a um desgaste e um
sentimento de exaustão emocional.
2. Despersonalização (DE) – o indivíduo passa a tratar as outras pessoas
com estrema frieza, insensibilidade, irritabilidade, chegando ao cinismo e
atitudes negativas e não se importa mais com as relações pessoais, agindo
como se aquele que estão a sua volta fossem “coisas”, como um objeto e não
um ser humano. Não há comprometimento com os resultados, nem com as
metas.
3. Baixa realização pessoal (EP) – falta de motivação e insatisfação com
o trabalho, ambos ocasionados pela sensação de insuficiência. O indivíduo se
julga incapaz de cumprir demandas de sua função. Torna-se presente uma
sensação de menor rendimento, insatisfação com o seu desenvolvimento
profissional e um sentimento de inadequação no trabalho.A auto-estima e
auto-confiança desaparecem.
Maslach & Jackson (1981), definem a síndrome como um processo de perda
de criatividade acompanhada por uma sensação de tédio e aborrecimento. Observa-
23
se que esta é a concepção mais difundida entre os estudiosos, por ser o Maslach
Burnout Inventory (M.B.I.) o instrumento mais utilizado nas pesquisas. Constata-se
também que há divergências quanto à ordem de aparecimento das dimensões, o
que provoca necessidade de especificar o parâmetro utilizado para fins diagnósticos
(Mendes, 2002).
Farber (1991) reconhece burnout como uma síndrome associada ao trabalho,
que tem sua origem na discrepância da percepção individual entre esforço e
resultado Considera a percepção influenciada por fatores individuais,
organizacionais e sociais. Alvarez e Fernandez (1991) consideram, de forma
complementar, que o burnout é uma resposta aos altos níveis de tensão no trabalho,
insatisfação pessoal e escassez de atitudes de enfrentamento das situações que
possam gerar conflitos, o que sugere que características de personalidade também
predispõem o surgimento da síndrome, assim como um traço organizacional e
social. Para Lautert (1995), sintomas como fadiga crônica, cefaléias, perda de peso,
hipertensão, dores musculares, asma e nas mulheres alterações menstruais, são
sinais precoces do burnout ligados ao psicossomatismo.
É conhecida a relação entre burnout e a sobrecarga de trabalho nas
profissões assistenciais. Este tipo de trabalho caracteriza-se pela assistência a
pessoas que necessitam e dele exigem, pois estão doentes, sofrendo, gerando
ansiedade, angústia, dor, raiva, tristeza e desesperança ou causando sentimentos
no profissional como frustração e impotência. Este fator pode ocasionar uma
diminuição na prestação de serviço oferecida por estes profissionais, tanto
qualitativa como quantitativa. Maslach e Leiter (1997) alegam que a síndrome não
afeta somente profissionais cuidadores, mas se estende a profissionais dos quais é
exigido um certo nível de inter-relacionamento pessoal, seja com clientes
consumidores, usuários, colegas e chefias.
Burnout ocorre pela cronificação do estresse, quando os métodos de
enfrentamento falharam ou foram insuficientes (Benevides Pereira 2002). Há autores
que defendem a síndrome de burnout como algo diferente do estresse, alegam que
a primeira caracteriza-se por atitudes e condutas negativas com relação aos
usuários, enquanto a segunda pode apresentar-se com aspectos positivos e
negativos, como um desfalecimento pessoal que interfere na vida do indivíduo e não
24
necessariamente na sua relação com o trabalho (Mendes, 2002). Pode-se afirmar,
segundo Maslach e Leiter (1997), que o burnout aparece sempre que houver um
desequilíbrio entre a forma do trabalho e as características individuais da pessoa
que faz o trabalho, verificam, ainda, que o papel temporal e relacional de burnout o
diferencia do estresse, pois esta base relacional está alicerçada na tensão
emocional e nas formas de enfrentamento que o trabalhador utiliza nas diversas
situações de trabalho.
Mendes (2002) afirma: “O estresse não leva necessariamente a burnout, pois
existem muitas variáveis implicadas no processo: predisposição constitucional para o
estresse, as condições ambientais agressoras, a personalidade e a percepção
subjetiva do sujeito, além da capacidade de enfrentamento”. A pessoa com fadiga
acentuada por excesso de carga de trabalho não apresenta burnout, pois a
despersonalização para fazer frente à sintomatologia física e psicológica e a falta de
realização pessoal não estão presentes.
Maslach e Leiter (1997) associam o burnout a uma situação em que o
indivíduo, ao demonstrar incialmente comprometimento e objetivos a serem
conquistados no trabalho, percebe, paulatinamente, os esforços de engajamento
sendo substituídos por sentimentos de irritabilidade, ansiedade e raiva, e pela falta
de realização pessoal. Somada a instalação desse quadro há fatores predisponentes
ao surgimento da síndrome, como a extensa jornada de trabalho, a sobrecarga
mental e a perda progressiva de energia. Com isso, parece estabelecer-se a
exaustão emocional como primeiro elemento da síndrome. O indivíduo passa a tratar
sua clientela com frieza e cinismo desenvolvendo um afastamento psíquico e
emocional, podendo atingir inclusive suas relações sociais. Instalando-se, portanto o
quadro de despersonalização. A situação pode se agravar a despersonalização leva
ao comprometimento do desempenho e sensação de incompetência estabelecendo-
se assim, a redução do sentimento de realização profissional (Silva, 2000).
Pode-se afirmar que existem perfis de profissionais mais propensos a
desenvolverem a síndrome de burnout. Pesquisas demonstram que os profissionais
altamente motivados, que enfrentam o cansaço e estresse no trabalho, se dedicando
ainda mais as suas atividades, estão propensos a burnout. Benevides Pereira (2002)
indica que pessoas com características de personalidade tipo A, competitivas,
25
impacientes, com dificuldades de tolerar frustrações e necessidade de ter o máximo
de controle sobre a própria carreira, quando em contato direto com determinados
ambientes de trabalho, lidam mal com suas falhas e são autocríticos, tornando-se
alvos primordiais ao desenvolvimento da síndrome.
A síndrome de Burnout apresenta graus diferentes de manifestação,
freqüência e intensidade, por ser um processo gradual, e cumulativo. Quanto à
freqüência: o menor grau é presente quando ocorre o aparecimento esporádico dos
sintomas, e o maior grau é detectado quando a presença é permanente. Quanto à
intensidade, o nível baixo caracteriza-se pela incidência de sentimentos como a
irritação, esgotamento, inquietações e frustração e o nível alto constitui-se na
presença de doenças e somatizações (Iwanicki, 1983).
Benevides (2002) descreve a sintomatologia de burnout como mostra o
Quadro 2:
26
SINTOMATOLOGIA DE BURNOUT
ASPECTOS FÍSICOS ASPECTOS COMPORTAMENTAIS
Fadiga constante e progressiva Negligência ou excesso de escrúpulos
Distúrbios do sono Irritabilidade
Dores musculares ou osteomusculares Incremento da agressividade
Cefaléias, enxaquecas Incapacidade para relaxar
Perturbações gastrintestinais Dificuldade na aceitação de mudanças
Imunodeficiências Perda de iniciativa
Transtornos cardiovasculares Aumento do consumo de substâncias
Distúrbios respiratórios Comportamento de alto risco
Disfunções sexuais Suicídio
Alterações menstruais
ASPECTOS PSÍQUICOS ASPECTOS DEFENSIVOS
Falta de atenção e concentração Tendências ao isolamento
Alterações de memória Sentimento de onipotência
Lentidão do pensamento Perda do interesse pelo trabalho ou lazer
Sentimento de alienação Absenteísmo
Sentimento de solidão Ironia, cinismo
Impaciência
Sentimento de insuficiência
Redução da auto-estima
Labilidade emocional
Dificuldade de auto-aceitação
Astenia, desânimo, disforia, depressão
Desconfiança, paranóia
Quadro 1– Resumo esquemático da sintomatologia de burnout
Fonte: Benevides Pereira, 2002.
Deve-se considerar que não é necessário apresentar todos os sintomas para
caracterizar burnout. Observa-se também que a ocorrência dos sintomas defensivos
constitui a característica mais importante, pois diferenciam a síndrome do estresse
(BENEVIDES PEREIRA 2002).
Segundo o manual do M.B.I., o indivíduo com burnout apresenta grau alto em
EE e DE e grau baixo em EP. Golembiewsky, Munzenrider e Carter (1983), citados
por Benevides Pereira (2002) colocam que, primeiramente surge DE como forma de
27
enfrentamento ao estresse, depois EP para então se instalar o EE. Para
desenvolver a síndrome, o indivíduo não precisa passar necessariamente por todas
os estágios. Apontando as deficiências quanto a equações estruturais do modelo
supracitado, Leiter e Maslach (1988) propõem o modelo em que os estressores
laborais levam a EE, que promove DE surgindo então EP. Nesta concepção, EE é o
elemento central de caracterização da síndrome (CADIZ, 1997).
A teoria germânica de ação-regulação afirma que DE não faria parte da fase
inicial da síndrome de burnout e, sim, seria uma reação à presença de EE e de EP.
Gil-Monte e cols. comentam que o modelo de Golembiewski se ajusta mal aos dados
sendo que o de Leiter e Maslach, ao contrário, mostra-se mais adequado. Leiter
coloca as três dimensões do M.B.I. de forma que a exaustão emocional é
responsável pelo início de desenvolvimento da síndrome, e é desencadeada pelas
características pessoais e da carga de trabalho. A partir daí surgem os mecanismos
de defesa e, quando estes são insuficientes ou inadequados, o profissional
desenvolve atitudes de despersonalização. Considera que a falta de realização
pessoal surge de forma paralela a exaustão emocional, e apresenta-se como uma
causa direta dos estressores do trabalho, considerando principalmente a falta de
apoio social e de oportunidades para desenvolver-se profissionalmente
(BENEVIDES PEREIRA, 2002).
As variáveis associadas a burnout mais averiguadas em trabalhos de
pesquisa são: idade, gênero, estado civil, prole e condição familiar, nível
educacional, área e tempo de atuação na profissão, tipo de ocupação, carga
quantitativa e qualitativa de trabalho, trabalho em turnos, qualidade das relações
com colegas e clientes, apoio da chefia e da organização, conflito e ambigüidade de
papéis dentre outras mais específicas a determinadas populações.
Burnout neste trabalho será considerado como um processo, pois se trata de
uma síndrome na qual as fases ou a seqüência do aparecimento dos fatores não
podem ser delimitadas com exatidão.
Os modelos apresentados são atualmente os mais utilizados nas pesquisas
realizadas no Brasil, conforme mostra os Quadros 3 e 4 e, por esse motivo, a análise
28
e discussão dos resultados desta pesquisa basear-se-ão nos resultados desses
estudos.
AUTOR (ES) TÍTULO FONTE ANO LOCAL
Benevides – Pereira,
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Quadro 3: Estado da arte de pesquisas realizadas no Brasil sobre a síndrome de burnout segundo
autores, título, fonte, ano e local (2000 -1999-1998).
Fonte: Benevides Pereira, 2002.
33
2.4. Estresse e burnout em fisioterapeutas
Muitas profissões têm a essência do seu fazer na capacidade de ajudar e
prestar assistência às pessoas, sob o título de profissões assistenciais e/ou
cuidadores. Pesquisas realizadas na década de 70, como as Holnrstrom e Rutheford
apud Romani (2001), em relação à personalidade dos profissionais cuidadores,
apontam características como a capacidade e predisposição empática e
desqualificação de recompensas externas como agentes motivadores do trabalho
(dinheiro e reconhecimento público). Essas considerações objetivaram ilustrar
possíveis características pessoais da população desse estudo.
Dejours (1994) fez um questionamento entre o sofrimento e o trabalho
colocando que o sofrimento específico pode ser causado pelo trabalho este pode
apenas revelar um sofrimento cuja origem são internas e estranhas ao próprio
trabalhador. O profissional da área de saúde converge para a necessidade de
grande gasto energético na busca de soluções e encaminhamentos para questões
estruturais no exercício profissional diário. Esta situação parece funcionar como
provável agente estressor, que pode levar o profissional à condição esgotamento e
alienação na busca de integração ou distanciamento.
A transformação constante e o afeto são produtos produzidos pela relação
interpessoal. Miranda (1998) acrescenta que quando o indivíduo se entrega a esta
forma de relação, é impossível sair ileso da mesma. Esse afeto, ligado ao vínculo
fisioterapeuta-paciente é essencial para o processo de reabilitação. O envolvimento
da emoção, da história pessoal de cada indivíduo nesta relação direta com o outro,
coloca este trabalho numa dimensão suscetíveis e delicadas, que envolve
investimentos e custos, incluindo dimensões física, psicológica, intelectual, financeira
e social.
A reabilitação do paciente é o gesto concretizado pela ação do fisioterapeuta,
que evolui pela atuação e estimulação afetiva do profissional. Este gesto é
fundamental para realização da atividade fisioterapêutica, porém o retorno, o
reconhecimento não acontece em diferentes instâncias (remuneração,
34
reconhecimento social, melhores considerações “autônomas” de trabalho). O
fisioterapeuta tornou-se idealistas, com o objetivo de lapidar as dificuldades
encontradas na execução da sua atividade, não obstante, superprodutivo e com
sensação de invulnerabilidade, tenta resolver seus conflitos profissionais e pessoais,
se esgotando, superando obstáculos, podendo chegar ao sofrimento psíquico e às
psicopatologias. O que contribui para esta condição é o fato da maior parte do
processo de reabilitação ser lento, moderado e às vezes abstrato e ter tendência de
ser apenas reconhecido em estados avançados, depois de um tempo longo de
tratamento.
Moura & Chaves (1999) mostram que a incompetência pode vir a se
manifestar pela perda de qualificação ou aptidão. Um fisioterapeuta qualificado pode
tornar-se incompetente, depois de exposto a condições desfavoráveis de trabalho,
marcadas pela desilusão e frustração. Apresentando burnout, este fisioterapeuta
pode levar a realização da sua atividade profissional a um estágio de grande
depreciação e ineficiência. Relata Barona (1994): “Também o informe da OIT
(Organização Internacional do Trabalho, 1993) reconhece que o estresse e a
síndrome de Burnout não são fenômenos isolados e sim que ambos tem-se
convertidos em um risco ocupacional significativo”.
Os estressores ocupacionais podem ser psicológicos e físicos ou uma
combinação de ambos. Os estressores reais dependem de características
individuais e da percepção do fisioterapeuta às exigências presentes, utilizando
mecanismos determinados por suas características para afastar a ameaça à sua
auto-estima, e quando estes não forem eficientes ocorrerá o estresse que pode
manifestar-se no campo psicológico, fisiológico ou comportamental. Quando o
estresse é prolongado, leva a sintomas crônicos e a burnout.
Zimmermann (1999) atribui burnout a fatores como, autonomia reduzida na
participação da gestão do trabalho, capacidade reduzida para desenvolver uma
carreira, buracrotização das tarefas e trabalho, papéis ambíguos, sobrecarga de
tarefas e pouca remuneração.
Burnout em fisioterapeutas é uma resposta à tensão emotiva crônica no
exercício profissional dos cuidadores envolvidos com o ser humano. Assim pode ser
35
considerado um tipo de tensão do trabalho, que surge da interação social entre o
terapeuta e o paciente.
Exaustão emocional é considerada por uma perda de energia física ou
psicológica. A emoção sentida pelo terapeuta está diminuída. O sentimento de
despersonalização é um estado no qual o profissional cuidador não apresenta mais
compaixão, respeito ou sentimentos positivos para os clientes. A realização pessoal
reduzida refere-se à avaliação negativa e um sentimento leviano refere ao seu papel
no local de trabalho (MARTINEZ, 1997).
Schlenz, Guthril e Dudgeon (1995) relataram uma causa adicional de Burnout
que também tem um impacto direto no profissional em relação ao paciente: atenção
tomada de decisão para o tratamento adequado cada uma das três causas teóricas
de Burnout podem ser aplicadas ao fisioterapeuta e/ou ao terapeuta ocupacional.
Os terapeutas têm características de personalidade em comum: eles prestam
assistência a indivíduos incapacitados. Estes atributos que são desejáveis em
profissionais cuidadores criam um nível de vulnerabilidade que os faz altamente
suscetíveis ao Burnout.
A falta de autoconfiança e uma base inadequada de conhecimentos podem
ser fatores que contribuem para a tensão adicional. Sendo assim, muitas estratégias
usadas no tratamento de Burnout, servem para melhor amparar o terapeuta com
ferramentas para espandir a base do seu conhecimento e aumentar a autoconfiança.
Estas estratégias incluem atividades profissionais de desenvolvimento laboral,
continuando com seminários de educação, oportunidades para consultas com
colegas, etc.
Embora estas estratégias são freqüentemente recomendadas para reduzir o
risco de burnout, não há evidências empíricas que possam apoiar sua eficácia.
Estudos adicionais procuraram identificar burnout em terapeutas ocupacionais e
fisioterapeutas e demonstraram níveis variáveis de burnout nestes profissionais.
Num estudo realizado no Noroeste Pacífico dos EUA, usando como
instrumento o MBI, foi obtido um número de reabilitação aceitável e validez deste
instrumento. Com relação aos resultados, em média, os assuntos exibiram níveis
36
altos de sentimento de baixa realização pessoal, níveis médios de esgotamento
emotivo e níveis baixos de despersonalização. Terapeutas Ocupacionais e
Fisioterapeutas neste estudo tendem experimentar esgotamento emotivo mais alto,
despersonalização mais baixa, e baixa realização pessoal. Esses profissionais
tendem manter um compromisso forte a seus trabalhos, eventual desempenho
profissional positivo e reconhecer que seus esforços terapêuticos não são fúteis.
Todas correlações para esgotamento emotivo e atividade profissional de
desenvolvimento eram perto de 0 (zero). Contagens emotivas de subescala de
esgotamento têm um relacionamento inverso significativo com anos de experiência
no trabalho presente. Em relação à despersonalização e desenvolvimento
profissional foi encontrada correlação baixa entre essas variáveis. O estudo concluiu
que a porcentagem alta nesta amostra exibiu uma quantia considerável de
esgotamento emotivo e baixa realização pessoal. Apresentando, portanto, risco para
burnout.
A carga de trabalho tem diferentes definições - para os ergonomistas ela
representa o esforço físico necessário para a realização de uma atividade laboral,
podendo ser mensurada pelo gasto energético, freqüência cardíaca ou por
eletromiografia (Grandjean, 1998; Couto, 1995; Wisner, 1987). Para os psicólogos
do trabalho, cargas de trabalho são mediações entre o processo de trabalho e o
desgaste psicobiológico (CRUZ, 2001).
Os profissionais de saúde freqüentemente são expostos à carga física e
mental durante seu trabalho. O Quadro 1 mostra estudos catalogados por Romani
(2001) em pesquisa realizada sobre os distúrbios músculo-esqueléticos encontrados
nos fisioterapeutas. Os equipamentos, móveis e ambientes de clínicas geralmente
não atendem as necessidades ergonômicas do fisioterapeuta sobrecarregando seu
sistema músculo-esquelético, aumentando o gasto energético podendo levar a
fadiga física e mental.
Autor Fatores de risco e carga de trabalho em fisioterapeutas
Cromie,
Robertson,
Posturas: trabalhar em posições desajeitadas ou restritivas; trabalhar
na mesma posição por longos períodos.
37
Best et al, 2000
Resultados de cargas de trabalho: curvar-se ou torcer-se de modo
desajeitado; alcançar ou trabalhar longe do corpo; tarefas repetitivas,
tratar grande número de pacientes por dia; working sheduling; poucas
pausas durante a jornada.
Fatores pessoais no trabalho: trabalhar próximo ou no limite físico;
continuar com o trabalho quando lesionado; treinamento inadequado
sobre prevenção de distúrbios.
Holder, Clark,
Di Biasio et al,
1999
Transferir pacientes; levantar algo; responder a movimento súbito ou
inesperado do paciente; terapia manual; tarefas repetitivas;
manutenção de postura por períodos prolongados; trabalhar em
posição desajeitadas ou restritivas; trabalhar quando fisicamente
fadigado; curvar-se ou torcer-se; escorregar, tropeçar ou cair;
instruindo o paciente; aplicar modalidades terapêuticas.
Molumphy,
Unger, Jensen
et al, 1985
Levantar subitamente com esforço máximo; curvar-se e torcer-se;
queda do paciente; empurrar, puxar ou carregar; sentar-se
prolongadamente.
Quadro 4: Movimentos e Posturas Descritas na Literatura Especializada Relacionada a
Fisioterapeutas
Fonte: Romani (2001)
38
3. MATERIAIS E MÉTODO
3.1. Desenho do Estudo
Trata-se de um estudo descritivo e analítico (explicativo) do tipo transversal e
de escolha intencional da população pesquisada, buscando a incidência de um
evento (Síndrome de Burnout) em uma determinada população, de caráter
qualitativo e quantitativo onde a amostra coincide com a população estudada.
Descritivo, pela necessidade de caracterização do fenômeno estudado (incidência) e
transversal, pelo fato da análise desenvolvida levar em consideração um
determinado corte temporal na população estudada. A preocupação, conforme
aponta Richardson (1999) é de obter um certo grau de generalização sobre a
característica do fenômeno ou processo investigado que permita comparações com
estudos anteriores e posterior reaplicação em populações similares.
A utilização da escolha intencional da população seleciona os elementos
estudados não por aleatoriedade estatística, mas por outras intenções ou
julgamentos relacionados à caracterização do fenômeno de pesquisa. Pereira
(1995) considera este tipo de estudo como útil para verificar a ocorrência de um
problema em um determinado universo populacional, no qual se insere o fenômeno.
Quanto aos estudos transversais, Pereira (1995:274) afirma:
Nesta modalidade de investigação, causa e efeitos são detectados simultaneamente. É
somente a análise dos dados que permite identificar os grupos de interesse, os “expostos” e
os ”não expostos”, os “doentes” e os “sadios”, de modo a investigar a associação entre
exposição e doença.
Nos estudos transversais a observação e mensuração das variáveis ocorrem
simultaneamente, constituindo uma radiografia daquele determinado momento. A
incidência reflete os graus ou níveis de intensidade com que um evento ocorre em
39
uma população, apresentando-se como uma especificidade da ocorrência de um
evento.
Nesta pesquisa, objetivamos a detecção da incidência de Síndrome de
Burnout no período de um ano. Havendo ocorrência da Síndrome, procuraremos a
relação entre o mesmo e a atividade profissional.
3.2. Procedimentos metodológicos
Este trabalho foi desenvolvido com base nas seguintes etapas:
A primeira foi o levantamento sistemático em bases de dados de artigos
científicos sobre o tema, no período de 10/10/01 a 10/06/2002. Foram consultadas
as seguintes bases de pesquisa, disponibilizadas em páginas eletrônicas na Internet:
Medline, Redpisca, LILACS, MedCarib, PAHO, Biblioteca Virtual da UFSC e página
de periódicos da CAPES. As principais palavras chaves utilizadas na pesquisa em
base de dados e combinações para a busca de referências, tanto na língua
portuguesa como inglesa e espanhola foram: fisioterapeutas/qualidade de vida;
fisioterapeutas/distúrbios psíquicos relacionados ao trabalho;
fisioterapeutas/Síndrome de Burnout; profissionais de saúde/estresse e trabalho.
Através de catálogos de editoras e outras publicações, selecionamos livros
passíveis de utilização em nosso trabalho, somando-se aos artigos de periódicos
científicos.
A segunda constituiu-se na utilização do instrumento de coleta de dados
denominado de Maslach Burnout Inventory - MBI (Anexo), desenvolvido pela
psicóloga Christina Maslach, contendo escalas de exaustão, emoção e
despersonalização que busca estabelecer o nexo entre a ocorrência da Síndrome de
Burnout e a organização do trabalho. O questionário é auto-administrado contendo
cinco páginas e composto predominantemente por questões fechadas, divididas em
três seções. A primeira seção (A1 e A2) corresponde aos dados sócio-demográfico e
profissional. A seção "B" é composta por 22 questões sobre "Exaustão e
40
Despersonalização", sendo que a terceira parte, seção “C” composta por 30
questões, corresponde ao inventário de sintomas (ISE), que apresenta como
objetivas questões fechadas relacionadas à freqüência com que esses sintomas são
sentidos no cotidiano do indivíduo.
As unidades de análise foram compostas pelos sujeitos e respectivos locais
de trabalho, levando em consideração as condições alternativas que, para
Richardson (1999), tornam mais provável a ocorrência do fenômeno.
O instrumento foi dividido em três seções. A seção "A" – A1, dados
demográficos - constituída por 9 questões, A2 - constituída por 7 questões -
variáveis ocupacionais/profissionais; a seção "B" – Exaustão e Despersonalização -
composta por 22 questões e a sessão “C” – inventário de Sintomas composto por
30 questões (Anexo).
Para a aplicação do instrumento, terceira etapa do trabalho, utilizamos a
forma tradicional, com distribuição dos questionários pessoalmente e recolhimento
após 24 horas ou mais. A divulgação do instrumento foi realizada por contatos
pessoais e mensagens eletrônicas e convencionais a profissionais, universidades e
locais de trabalho de fisioterapeutas. Foi estipulada a data de 01/02/03 a 15/02/03
como período de coleta de dados, sendo prorrogado até 28/02/2003 devido ao
atraso na devolução dos questionários junto aos fisioterapeutas.
A última etapa foi a organização dos questionários, computação e análise dos
dados por meio do banco de dados do EXCEL.
41
4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
4.1. Dados sócio-demográficos
O presente trabalho tem por objetivo identificar a presença da Síndrome de
Burnout, em sua tríplice dimensão, em fisioterapeutas da região oeste do Estado do
Paraná. Foram distribuídos 117 questionários, sendo considerados válidos 80. Os
dados obtidos foram organizados por categorias: a) sócio-demográficos; b)
ocupacionais/profissionais; c) resultados do MBI; d) resultados do Inventário de
Sintomas de Estresse.
Fisioterapeutas Ocorrência %
Participantes 80 68,4
Não participantes 37 31,6
Total 117 100,0
Tabela 1– Distribuição de Fisioterapeutas participantes da pesquisa
A análise da Tabela 1 mostra que 31,6% (37) sujeitos não participaram
da pesquisa, pois apesar de terem recebido o questionário, não o devolveram.
Apesar do retorno dos questionários ter sido considerado satisfatório, dados às
condições gerais de pesquisa nesse campo, estudos realizados por Mendes (2002)
e Freitas (2001) consideram que há aspectos que dificultam a obtenção de respostas
ao questionário relacionando as atitudes defensivas dos profissionais com as
dificuldades em expor suas avaliações sobre o contexto de trabalho. Porém houve
uma considerável responsividade dos profissionais para com a produção científica
refletindo o desenvolvimento da profissão e o comprometimento com a sua própria
saúde.
42
A Tabela 2 mostra a distribuição da população de acordo com gênero, faixa
etária, estado civil e número de filhos. Nos 80 questionários analisados,
encontramos predominância do sexo feminino 75,5% (58). A grande maioria dos
indivíduos 92,5% (74) encontra-se na faixa etária de 21 a 35 anos, traduzindo a
presença de profissionais jovens e recém-formados. De acordo ainda com a Tabela
2, destacou-se alta taxa de fisioterapeutas solteiros 78,8% (63) e de profissionais
sem filhos 86,3% (69).
VARIÁVEIS
OCORRÊNCIA %
Sexo
Masculino 22 27,5
Feminino 58 75,5
Total 80 100,0
Idade (em anos)
21-35
74 92,5
36-47 6 7,5
Total 80
100,00
2.1 Estado Civil
Casado 16 20,0
Solteiro 63 78,8
União Consensual 1 1,3
Tabela 2: Distribuição do perfil sócio-demográfico da população (N=80)
A distribuição da população quanto a variável sexo apresenta-se relacionada
ao aspecto gênero da sociedade ocidental, que esta direcionada ao comportamento
de cuidar, zelar e manter (Messias, 1999). Na profissão de fisioterapeuta há
predomínio de profissionais do sexo feminino sobre o masculino. Nesta pesquisa,
75,5% (58) dos indivíduos são do sexo feminino. Algumas características que
compõe o sexo feminino, como as formas de dedicação, o nível de cuidado, a
multiplicidade de funções e afetividade podem estar associada à presença do
esgotamento emocional e influenciar no aparecimento da Síndrome de Burnout.
43
Pesquisas realizadas por Freudenberger (1985), Zimmermann (1999) e
Mendes (2002) apontam que há maior incidência da Síndrome de Burnout em
mulheres, em vista do maior grau de estresse ocupacional. Conforme Freudenberg
(1985), as mulheres assessoram a todos, exceto a si mesmas afirma, devido às
excessivas demandas que enfrentam. Para Mendes (2002) quando ocorre maior
grau de estresse no gênero masculino, este se refere à falta de compensação e
reconhecimento profissional.
O grau médio alcançado pela amostra na dimensão DE corrobora pesquisas
que demonstram que mulheres apresentam menor grau de despersonalização
quando comparadas ao sexo masculino. Os profissionais fisioterapeutas apresentam
grau médio em DE o que pode evoluir para o grau alto agravando a incidência da
síndrome, ou diminuir, retardando a evolução da mesma.
Quanto à distribuição por faixa etária, encontramos uma população composta
principalmente de adultos jovens, 92,5% (74) com até 35 anos. Estes dados refletem
o fato de que a Fisioterapia no Brasil é uma profissão nova, reconhecida e
regulamentada há 34 anos e que apresentou expansão no número de profissionais
nos últimos 10 anos, com crescimento da oferta de cursos nas universidades neste
período. A fase da vida laboral que se encontra os profissionais, traduz momento de
menor estabilidade profissional, com pouca experiência na tomada de decisão e
desempenho das tarefas e expectativas ilusórias entre a realidade e a essência da
profissão de fisioterapeuta.
Observa-se ainda na Tabela 1 que 86,3% (69) dos fisioterapeutas não tem
filhos. Para Benevides Pereira (2001), os profissionais sem filhos podem tender a
usar o trabalho como fonte de vida social. Correlacionando o predomínio dos sujeitos
sem filhos, com a predominância do sexo feminino e faixa etária entre 21 e 35 anos
pode-se concluir que os fisioterapeutas encontram-se em um período da vida no
qual as exigências provenientes das questões de trabalho são grandes, podendo
também ser considerados agentes estressores que acabam por desenvolver
mecanismos de enfrentamento, e que se não forem adequados podem favorecer o
surgimento da Síndrome de Burnout.
44
Em síntese, verifica-se que o variável gênero, estado civil, idade e
número de filhos confirmam os estudos realizados anteriormente, discordando de
Mendes (2002), onde se constata que psicólogos docentes que apresentam
constituição familiar, faixa etária maior e filhos também estão predispostos ao
desenvolvimento da Síndrome de Burnout, pois apresentam Esgotamento Emocional
alto e baixa Realização Pessoal. Outros estudos não apontam correlações
significativas, justificando que não é o estado civil que influencia e, sim, o apoio
sócio emocional recebido do cônjuge e a qualidade das relações matrimoniais que
interferem positivamente no bem-estar do sujeito.
A Tabela 3 apresenta os resultados sobre o tempo de atuação
profissional dos fisioterapeutas.
Tempo na Profissão Ocorrência %
Menos de 01 ano 5 6,3
De 01 a 05 anos 52 65,0
De 06 a 10 anos 18 22,5
Acima de 10 anos 5 6,3
Total 80 100,0
Tabela 3: Distribuição da população por tempo de atuação
Os resultados sobre o tempo na profissão, mostram uma concentração de
percentual de sujeitos entre 1 e 5 anos 65% (52), indicando a profissão de
fisioterapeuta ser composta de alta concentração de profissionais jovens. A
Fisioterapia é uma profissão com o passado relativamente recente em que, não tem
sido fácil o seu desenvolvimento e afirmação em equipes multiprofissionais. O
predomínio de fisioterapeutas graduados ha menos de 5 anos sugere que estes
indivíduos possuem uma menor maturidade profissional, pois ainda estão iniciando
suas experiências no âmbito pessoal e de trabalho, o que segundo Amorim, Oliveira
e Alvarenga (1999), os tornaria mais predispostos ao burnout.
A figura 1 mostra os locais de trabalho relacionados à área de atividade
principal dos fisioterapeutas, apontando concentração de profissionais que atuam
45
em instituições de saúde específicas, domicílio, hospitais, instituições de ensino
superior e centro de reabilitação.
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0%
Inst. De Saúde Espec.
Domicílio
Hospital
Inst. De Ensino Superior
Centro de Reabilitação
Consultório
Indústria
Clínica
Ambulatório
Escola
Postos de saúde
Figura 1 – Distribuição da freqüência nos principais locais de trabalho
Obs: * Alguns profissionais atuam em mais de uma área
Houve o predomínio de fisioterapeutas que trabalham em instituições
de saúde específicas, domicílio e hospitais - traduzindo que há diversas áreas
clínicas de atuação, como fisioterapia em neurologia, cardiologia, pneumologia,
reabilitação ortopédica e geriatria. Sendo assim a alta freqüência de profissionais
que atuam em dois ou mais locais corroboram estudos realizados por Messias
(1999), que apresentou um resultado inferior a 10% de profissionais que atuam em
um único local.
Esse fator associado à alta carga de trabalho a qual os fisioterapeutas estão
expostos e a jornada de trabalho extensa, reflete o cotidiano do Fisioterapeuta e o
conseqüente risco para a sua saúde. Romani (2001) defende que a prática da
fisioterapia tem experimentado uma mudança quanto aos vínculos empregatícios,
caracterizados pela substituição de empregos com remuneração fixa por
produtividade. Se num primeiro momento essa relação sugere maior autonomia
46
profissional, acaba por submeter os profissionais a cargas de trabalho superiores
aos seus limites fisiológicos e pessoais. Essa tendência é agravada pelo grande
número de clínicas especializadas que pagam baixos salários exigindo alta
produtividade.
Na figura 2 observa-se fisioterapeutas que atuam em mais de uma
especialidade; neste item foi permitido até três respostas assinaladas por
questionário. Verifica-se maior concentração de profissionais na docência 39,2%
(69), sobre os que atuam somente nas especialidades fisioterapêuticas. Ainda na
figura 2 observa-se profissionais que atuam principalmente na neurologia 17% (930),
pneumologia 11% (20), hidroterapia 8,5% (15) e pediatria 6,3% (11). Encontrou-se
também profissionais que atuam em: reeducação postural global (RPG), medicina
chinesa, ginecologia, fisioterapia dermato-funcional, fisioterapia do trabalho,
ergonomia, desportiva e uroginecologia representando menos de 4% das respostas.
0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0%
Docência
Neurologia
Pneumologia
Hidroterapia
Pediatria
Medicina chinesa
Redução Postural Global
Ginecologia
Fisioterapia Dermato – Func.
Fisioterapia do Trabalho
Ergonomia
Desportiva
Unoginecologia
Figura 2– Distribuição quanto às áreas de atuação profissional
No que se refere ás áreas de atuação profissional observou-se que a maioria
dos fisioterapeutas entrevistados também segue a carreira de docente. Professores
com formação universitária apresentam maior grau de estresse devido a maior
responsabilidade a ele atribuída, Mendes (2002). Vários estudos relativos ao grau
47
universitário apontam deficiências das instituições de ensino superior na capacitação
dos profissionais quanto a questões práticas do relacionamento professor/aluno,
desenvolvimento de recursos para lidar com os sentimentos e cognições advindas
do exercício profissional e reconhecimento da sua importância. O despreparo dos
profissionais pode funcionar como agente facilitador do desenvolvimento de doenças
ocupacionais.
Principalmente ao nível das clínicas médicas, a presença de
fisioterapeutas em quase todos os serviços das diferentes especialidades tornou-se
indispensável. Esta nova realidade fez com que os fisioterapeutas vissem
aumentada a responsabilidade da sua intervenção, passando a ser confrontados
diariamente com novas situações nem sempre fáceis de se lidar.
Na figura 3 é apresentada a distribuição quanto ao número de
pacientes atendidos por dia. Nota-se que 22,5% (18) dos profissionais atendem de
5 a 10 pacientes por dia, 21,3% (17) atendem de 10 a 15 pacientes por dia e que
18,8% (15) mais de 15 pacientes ao dia.
48
0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0%
Menos de 05
05 a 10 pacientes
10 a 15 pacientes
15 a 20 pacientes
20 a 30 pacientes
Mais de 30 pacientes
Figura 3 – Distribuição do número de pacientes atendidos por dia
Foi identificado que o número de pacientes atendidos por dia não
reflete à realidade profissional dos fisioterapeutas, devido ao número de
profissionais entrevistados que atuam em instituições de ensino entre 20% a 30%.
Os fisioterapeutas que desenvolvem atividade de ensino realizam atendimento
inferior em relação aos seus colegas que atuam em hospitais, consultórios e clínicas
que podem chegar a atender em média cerca de 70 pacientes/dia.
Desse modo, verifica-se a densificação do trabalho referenciada por
Wisner (1994). Observa-se que os fisioterapeutas têm uma carga de trabalho
exacerbada tanto do ponto de vista quantitativo como qualitativo devido a natureza
do trabalho executado. Várias pesquisas demonstram que através do avanço
tecnológico o ser humano está trabalhando demais. O profissional de saúde
especificamente necessita atualizar e empregar tais tecnologias necessitando
empregar tempo e dedicação. Os fisioterapeutas não dispõem de auxiliar de
49
fisioterapia tal como os médicos dispõem da enfermeira, sendo assim não pode
delegar tarefas, acarretando assim mais trabalho a ele.
A percepção de sobrecarga de trabalho está relacionada aos sintomas
de esgotamento emocional do trabalhador segundo Maslach e Jackson (1981) e
Alvarez e Fernandez (1991). Neste estudo bem como na pesquisa com docentes
psicólogos realizada por Mendes (2002) confirma-se esta referência, percebendo-se
a elevação da média em EE e a sobrecarga de trabalho.
A figura 4 aponta a freqüência da realização de outras atividades que
diferem da profissional, destacando que 17,7% (40) dos indivíduos reservam tempo
para leitura e estudo, 16,4% (37) assistem a programas de tv e vídeo e 15,5% (35)
fazem uso de computador para o lazer. Variáveis como prática desportiva, trabalhos
domésticos e artesanais e outras atividades de lazer correspondem a menos de
14,2% dos entrevistados. Nesta questão não houve limite para o número de itens
assinalados.
50
0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 10,0% 12,0% 14,0% 16,0% 18,0%
Leitura e Estudo
Assistir Tv e Vídeos
Uso de Computador
Prática Desportiva
Atividades de Lazer
Outros
Trabalhos Domésticos
Atividades Artesanais
Figura 4– Distribuição percentual do tempo livre dedicado a outras atividades
O fato da atividade de leitura e estudo corresponder a aproximadamente 17%
do tempo livre demonstra a necessidade que o Fisioterapeuta apresenta de se
atualizar e aperfeiçoar seus conhecimentos. A realização de outras atividades que
não estão relacionadas com a prática profissional pode contribuir para amenizar o
desgaste do cotidiano provocado pela profissão, auxiliando na manutenção da
saúde no trabalho.
Com relação à prática desportiva, os fisioterapeutas assinalaram que apenas
16% do tempo livre é reservado para esta prática. Este se torna um aspecto
importante a ser observado, pois estes dados parecem indicar uma categoria
profissional “ligada a atividade física” pouco conscientizada pessoalmente com a
necessidade de atenção e de preparação física, ficando predisposta ao
desenvolvimento de sintomas de estresse e tensão que acabem por prejudicar sua
saúde no trabalho. O alto nível de profissionais sedentários também foi identificado
por Romani (2001), que relatou ainda há ocorrência de distúrbios músculos-
51
esqueléticos nestes profissionais, especialmente, o uso de técnicas manuais e o
esforço com os membros superiores agravados pelo uso do computador, verificado
também pelos sujeitos desta pesquisa.
4.2. Resultados do MBI
Nas tabelas 4, 5 e 6 as questões são distribuídas pelas dimensões EE
(Esgotamento Emocional Q1, Q2, Q3, Q6, Q8, Q13, Q14, Q16, Q20), DE
(Despersonalização Q5, Q10, Q11, Q15, Q22) e EP (Realização Pessoal Q4, Q7,
Q9, Q12, Q17, Q18, Q19, Q21) que correspondem às correlações de uma escala
detalhada do Inventário Maslach Burnout - M.B.I.
Um grau alto de burnout é refletido através de elevadas pontuações
nas subescalas de Esgotamento Emocional e Despersonalização e baixas
pontuações na subescala de Realização Pessoal. Pontuações de média em todas as
três subescalas indicam um grau comum de burnout (Gil Monte, 2001). Um grau
baixo de burnout é indicado através de baixas pontuações nas subescalas de
Esgotamento Emocional e de Despersonalização e uma alta pontuação na
subescala de Realização pessoal. No entanto, não existe um consenso entre os
pesquisadores do tema, quanto aos graus apresentados nas dimensões e a
incidência de burnout, nem em relação à ordem de aparecimento dos sintomas, nem
quanto a necessidade da presença das três dimensões para caracterizar a síndrome
(Mendes, 2002).
A Tabela (4) mostra a distribuição da ocorrência de respostas dadas por
alternativa, sendo que na 1ª linha em negrito aparece o valor pelo qual é multiplicado
o somatório das respostas. Feito o somatório, divide-se pelo total da população
(N=80). Obtém-se, desse modo, a média apresentada pela população.
52
nunca uma vez aoano
uma vez ao mês
algumas vezes ao
mês
uma vez semana
algumas vezes
semana
todos os dias
0 1 2 3 4 5 6Q1 6 8 20 16 10 20 0
Q2 2 2 10 14 8 32 12
Q3 12 12 11 16 12 15 2
Q6 28 14 14 4 8 8 4
Q8 4 12 14 17 7 18 8
Q13 28 25 15 0 2 10 0
Q14 18 4 14 10 12 14 8
Tabela 4: Distribuição da ocorrência das pontuações obtidas nas questões do M.B.I. que aferem EE (N=80)
A amostra de fisioterapeutas obteve média igual a 22,8. Para autores como
Gil Monte & Peiró (1995), Martinez (1997) e Mendes (2002) a classificação media
em EE reflete o inicio da Síndrome de Burnout. Segundo estes autores a síndrome
se inicia por essa dimensão, seguida pela despersonalização e sentimento de baixa
realização pessoal e envolvimento no trabalho. Há também alguns autores que
relacionam a exaustão emocional com o estresse laboral crônico (Carlotto e Golbi,
1999).
Num estudo realizado por Donohoe, Nawawi, Wilker, Schindeler e
Jette, (1993) com o objetivo de determinar quais os fatores responsáveis pelo
surgimento da Síndrome de burnout em 129 fisioterapeutas, foi verificado que 46%
apresentavam nível alto de exaustão emocional na subescala de MBI. Deckard e
Present (1989) realizaram uma pesquisa com o objetivo de identificar a relação entre
os fatores de estresse e o bem estar físico e emocional de 187 fisioterapeutas. Os
conflitos e as ambigüidades de funções parecem estar profundamente relacionados
com o desenvolvimento da exaustão emocional e da despersonalização assim como,
aos sintomas psicológicos e psicossomáticos do Burnout. A distribuição do tempo
53
inadequada disponível para a realização das tarefas, recursos humanos e físicos
insuficientes e atribuições de tarefas ou exigências incompatíveis coma realidade do
fisioterapeuta, são potentes fatores de estresse e tem um efeito negativo no bem
estar emocional e físico destes profissionais da saúde.
Benevides Pereira (2002) confirma juntamente com Mendes (2002) e
Zimmermann (1999) que quanto maior o tempo de profissão, maior a segurança no
trabalho e menor o desgaste físico-emocional em relação a tensão, fator este que
não foi identificado nos profissionais pesquisados deste estudo, pois se verificou
predomínio da população jovem com pouca experiência profissional. O predomínio
de profissionais graduados a menos de seis anos sugere que estes indivíduos não
possuem a experiência de vida profissional necessária, tornando-os mais
predispostos a Síndrome de Burnout. Para Mendes (2002), o distanciamento dos
indivíduos envolvidos no trabalho pode facilitar o aparecimento de recursos de
enfrentamento, marcados por comportamentos de evitação, podendo assim elevar
ainda mais a sensação Esgotamento Emocional. Falta de autoconfiança e uma base
de conhecimento inadequada seriam fatores que contribuem com tensão adicional
ao processo de tomada decisão. Para Schlenz, Guthril e Dudgeon (2001) a
estratégia defendida para trabalhar com Burnout pode preparar melhor o terapeuta
com ferramentas que ampliem a autoconfiança e a base de desenvolvimentos
profissionais, melhorando o suporte para carreira, porém poucas evidências
empíricas apóiam esta decisão.
A Tabela (5) mostra a distribuição da ocorrência de respostas dadas
por alternativa. O procedimento para cálculos obedece a mesma forma descrita para
a Tabela (4).
54
nunca uma vez aoano
uma vez ao mês
algumas vezes ao
mês
uma vez semana
algumas vezes
semana
todos os dias
0 1 2 3 4 5 6
Q5 58 5 5 6 4 2 0
Q10 50 12 4 6 0 8 0
Q11 44 10 12 6 0 8 0
Q15 58 10 10 2 0 2 2
Tabela 5: Distribuição da ocorrência das pontuações obtidas nas questões do M.B.I. que aferem DE
(N=80)
Os fisioterapeutas avaliados através do M.B.I quanto à dimensão DE,
apresentam média de 6,0. A característica principal da Síndrome de Burnout está
atribuída ao resultado alto para dimensão DE (Benevides Pereira, 2002). A autora
diferencia síndrome de depressão e insatisfação no trabalho de outros fenômenos. A
população estudada, de acordo com os resultados apresentados no M.B.I, apresenta
grau médio para despersonalização DE. Pode-se afirmar que, de certa forma, este
fenômeno pode estar em desenvolvimento na amostra analisada.
Os fisioterapeutas mais vulneráveis são os que se tornam incapazes
de manter sua atividade sem que haja de alguma forma alterações do seu
comportamento. Muitas vezes as adaptações elaboradas por estes profissionais são
pouco eficazes, traduzindo-se numa diminuição na qualidade e quantidade dos
cuidados de saúde prestados ao paciente e/ou manifestações adversas na vida
pessoal e familiar. Ainda podem desenvolver atitudes negativas e insensíveis para
com os pacientes, diminuindo sua preocupação com a reabilitação e apresentando
uma alienação pessoal e com o ambiente de trabalho.
Da mesma forma que na tabela (5), a Tabela (6) mostra a distribuição da
ocorrência de respostas dadas por alternativa para dimensão EP.
55
nunca uma vez aoano
uma vez aomês
algumas vezes ao
mês
uma vez semana
algumas vezes
semana
todos os dias
0 1 2 3 4 5 6Q4 4 0 0 8 6 22 40
Q7 2 2 2 10 6 26 32
Q9 0 4 0 2 2 22 50
Q12 0 3 0 14 10 40 13
Q17 6 0 4 10 8 25 27
Q18 0 0 5 5 10 25 35
Tabela 6: Distribuição da ocorrência das pontuações obtidas nas questões do M.B.I. que aferem a
dimensão EP (N=80)
Quanto ao resultado obtido pela amostra na dimensão EP observa-se que a
média atingida é de 33,7 o que corresponde à classificação média. Constata-se que
somente nesta dimensão houve consenso na classificação proposta pelos índices
espanhóis e americanos. Esta dimensão apresenta-se com critério de pontuação
inverso, pois pontuações baixas indicam menor nível de realização e envolvimento
pessoal no trabalho. Pode-se concluir que sentimentos de inadequação e
insatisfação estão presentes na população estudada, podendo ser amplificados se
não atendidos, ou minimizados, conforme pode ser aferido nas pesquisas de
Schlenz e cols (2001).
Os fisioterapeutas vêm os seus desejos e suas expectativas em relação ao
tratamento dos seus doentes serem defraudados por um excessivo número de
pacientes e um excessivo papel burocrático. As queixas de falta de tempo para
tratamento dos doentes é uma constante. Conflitos entre uma chefia autocrática e
inflexível, e o pessoal conscienciosos, podem resultar nem desequilíbrio entre as
exigências a serem cumpridas e o suporte de cada membro do pessoal. Se o sujeito
for pouco solicitado este pode sentir-se desmotivado ou mesmo frustrado. A
compensação dos deficientes recursos humanos, conduz a uma sobrecarga de
trabalho dos fisioterapeutas. Políticas pouco claras e conflitos dentro das equipes
multiprofissionais de reabilitação podem ser também uma fonte de estresse. Nem
56
sempre a responsabilidade da intervenção de alguns dos elementos destas equipes,
são acompanhadas de uma participação mais ativa, na influência de decisões e no
planejamento dos programas de tratamento e reabilitação.
A falta de reconhecimento profissional por parte dos outros profissionais de
saúde é evidente e ainda por parte da população em geral que centraliza o
conhecimento científico e técnico unicamente na classe médica. Desta forma, resta
muito pouco espaço para os restantes membros de uma equipe que deveria ser
multiprofissional e interdependente.
Quadro comparativo dos resultados do MBI
Dimensões NEPASB 1997
Gil-Monte & Peiró 1997
Manual Espanha 2000
Manual EUA 1998
Docentes Da área de saúde 2002
Fisioterapeutas 2003
N = 595 N = 1.188 N = 1.138 N = 11.067 N = 96 N = 80
Médias
EE 20,93 20,39 20,86 20,99 24,7 22,8
DE 6,31 6,36 7,62 8,73 6,6 6,0
EP 37,49 36,02 35,71 34,58 35,4 33,7
Quadro 5: Apresentação e comparação de médias obtidas no M.B.I. pelos docentes psicólogos, da área de saúde e em diferentes populações.
Considerando os resultados da dimensão de burnout apresentado pela
população de fisioterapeutas estudada podemos evidenciar que:
Observa-se no quadro acima que a média obtida na dimensão EE foi de 22,8,
o que corresponde a uma média inferior às apresentadas nas outras
pesquisas descritas.
O resultado obtido pelos fisioterapeutas indica que há incidência da síndrome
se for utilizado o referencial teórico de Leiter (1993) e Bessing e Glaser
(2000), citados por Benevides Pereira (2002), que considera a dimensão EE
como a primeira a surgir, a partir do estresse laboral crônico.
57
A dimensão DE identificada os fisioterapeutas, apresenta-se menor que a de
docentes na área de saúde e principalmente em relação à população dos
EUA. Mendes (2002) comenta que este fato se deve ao estilo de vida e
trabalho dos americanos que é marcado pela alta competitividade e condições
de desenvolvimento do estresse do trabalho.
Verifica-se que quanto a dimensão EP, os fisioterapeutas apresentam a
menor média 33,7, porém dentro dos limites médios apresentados nos demais
estudos.
O manual do M.B.I.,considera o indivíduo com burnout aquele que apresenta
grau alto em EE e DE e grau baixo em EP, visto que esta variável se pontua de
forma inversa. Baseando-se neste referencial, a população estudada coincide com a
população de docentes da área de saúde, pois se observa que preenche somente a
primeira condição variável, a de EE alto, sendo que DE e EP apresentam-se com
classificação média. Sentimentos de frustração e insatisfação estão presentes na
população estudada, podendo ser amplificados se não atendidos, ou minimizados,
conforme pode ser aferido nas pesquisas de Schlenz e cols (2001), que sugerem
aprimoramento pessoal com dinâmicas de equipe específicas como recursos de
enfrentamento eficazes para evitar a instalação da síndrome. Para delimitar a forma
de evolução do burnout estudos longitudinais também se fazem necessários, pois
esta pode elevar-se ou diminuir dependendo da situação de trabalho encontrada.
Nos fisioterapeutas estudados concluiu-se que estes possuem um grau médio de
burnout, com base no referencial adotado, não sendo possível determinar a fase ou
forma de manifestação do mesmo.
Dados referentes ao aspecto sócio-demográfico, ocupacional e pessoal desta
pesquisa podem levar os fisioterapeutas ao desenvolvimento da síndrome, como a
carência na realização de exercícios físicos, lazer, tempo de atuação na área, estado
civil, tempo de graduação, desenvolvimento de outra atividade além da clínica
fisioterapêutica (docência), experiência nessa área. Também é necessário
considerar que outros aspectos se apresentam como facilitadores da progressão da
mesma (sobrecarga de trabalho, gênero feminino, idade, desinformação, pertencer à
área da saúde).
58
4.3. Resultados do Inventário de Sintomas de Estresse
Nas pesquisas e estudos realizados sobre a síndrome de burnout é
possível encontrar uma vasta lista de sintomas recorrentes da síndrome, onde se
nota que vários destes sintomas também são característicos dos estados de
estresse (BENEVIDES PEREIRA, 2002).
Com o objetivo de encontrar sintomas de estresse nos fisioterapeutas
integrantes desta pesquisa aplicamos o Inventário de sintomas de estresse. O
somatório de ocorrências em cada alternativa procura evidenciar a ocorrência dos
sintomas de estresse físicos relacionados às questões (1, 3, 5, 7, 9, 10, 11, 13, 14,
15, 19, 21, 23, 25, 26, 27), dos sintomas de estresse psíquicos nas questões (4, 18,
24), sintomas comportamentais nas questões (2, 8, 17, 20, 22, 29) e os sintomas
defensivos relacionados as questões (6, 12, 28 e 30).
nunca Raras vezes
moderadamente
Freqüentemente
Assidua mente
Q1 8 14 30 22 6
Q3 20 30 14 16 0
Q5 12 40 10 16 2
Q7 54 22 4 0 0
Q9 24 27 16 6 7
Q10 14 24 22 6 14
Q11 23 26 16 4 11
Q13 42 20 10 4 4
Q14 22 24 26 6 2
Q15 22 40 14 4 0
Q19 22 22 16 12 8
Q21 26 30 12 8 4
Q23 62 12 2 4 0
Q25 12 36 20 10 2
59
Q26 26 38 16 0 0
Q27 38 26 6 8 2
Tabela 7: Distribuição dos resultados do inventário de estresse
relacionados aos sintomas físicos (N=80)
Os principais sintomas fisicos relatados pelos fisioterapeutas foram:
alteração do sono, dores nos ombros ou na nuca, sentimentos de cansaço mental,
dificuldades sexuais, cansaço mental, problemas respiratórios e gastrointestinais.
Para Benevides Pereira (2002) a Síndrome de Burnout é uma resposta ao
prolongamento do estresse - o distress; sendo assim, a qualidade do trabalho e a
evolução clínica do paciente ficam comprometidos pela presença de sintomas que
colocam em risco a saúde dos profissionais da saúde. Para Santorum (1995), os
diferentes fatores de estresse provocam alterações nos funções fisiológicas e
metabólicas, podendo manifestar-se, ainda, sob a forma de sintomas
psicossomáticos.
nunca Raras vezes
moderadamente
Freqüentemente
Assidua mente
Q4 22 32 14 10 2
Q18 12 34 16 12 6
Q24 24 38 10 6 2
Tabela 8: Distribuição dos resultados do inventário de estresse
relacionados aos sintomas psíquicos (N=80)
Os principais sintomas psíquicos relatados pelos fisioterapeutas estao
relacionados a sentimentos de baixa auto-estima, perda do senso de humor e,
rpincipalmente dificuldade de memorizaçao e concentraçao, sugerindo o início da
despersonalização. Carlotto e Golbi (1999) referem que sintomas de diminuição do
estado de ânimo, perda do entusiasmo, levando a alterações do humor, podem
evoluir para a depressão. Os fisioterapeutas sentem a sensação que nada podem
contribuir para com a evolução dos seus pacientes, sentindo dificuldade na
elaboração dos seus programas de tratamento. Os sentimentos de desânimo,
60
disforia, astenia podem estar acompanhados de mudanças bruscas de humor,
passando a um estado de tristeza, angústia e agressividade, distanciando-se do
paciente.
nunca Raras vezes
moderadamente
Freqüentemente
Assidua mente
Q2 2 34 18 22 4
Q8 24 42 8 4 2
Q17 48 16 10 6 0
Q20 22 32 16 6 4
Q22 22 26 14 8 10
Q29 26 32 12 8 2
Tabela 9: Distribuição dos resultados do inventário de estresse relacionados aos sintomas
comportamentais (N=80)
Observa-se que com relação às questões 2 (irritabilidade fácil) e 22
(estado de aceleração contínua) houve uma acentuação das respostas nas
alternativas freqüentemente e assiduamente. Quanto a irritabilidade, os
fisioterapeutas sentindo-se esgotados com relação ao tempo disponível para o
tratamento dos pacientes e elaboração das aulas a serem ministradas na
Universidade, acabam diminuindo sua tolerância para com os demais, adotando
comportamentos irônicos que predispõe a despersonalização.
nunca Raras vezes
moderadamente
Freqüentemente
Assidua mente
Q6 20 40 10 6 4
Q12 6 22 12 24 16
Q28 20 34 18 4 4
Q30 16 30 20 12 2
Tabela 10: Distribuição dos resultados do inventário de estresse relacionados aos sintomas defensivos (N=80)
61
O estado de esgotamento físico, emocional e mental, caracterizado por um
abatimento físico, sentimentos de frustração, vulnerabilidade e perda de recursos
emocionais faz com que os fisioterapeutas se sintam pouco a vontade em se
comunicar e interagir socialmente, podendo desenvolver atitudes negativas para
com o trabalho, para a vida, para os pacientes e sentimentos de inadequação,
inferioridade e incompetência.
Na análise dos resultados deste Inventário de Sintomas do Estresse
pode-se observar que quando os fisioterapeutas estão sujeitos com certa freqüência
aos fatores de estresse, aqueles que não possuem um mecanismo de enfretamento
adequado para com estes sintomas, tendem a perder o entusiasmo e auto-estima
que caracterizam a sua profissão. Sentimentos de fracasso e de insucesso,
situações de conflitos e ambigüidades de funções e sobrecargas de trabalho
conduzem o fisioterapeuta a alterações de comportamento no trabalho,
apresentando baixo rendimento, falta de entusiasmo, aumento do absenteísmo.
Estas alterações frente ao estresse provocado pelo trabalho podem afetar de forma
negativa as próprias organizações, assim como prejudicar a qualidade dos serviços
prestados a saúde do paciente.
62
5. CONCLUSÃO
O objetivo desse trabalho foi verificar a incidência da Síndrome de Burnout
em fisioterapeutas, relacionando-os com a sua prática profissional, local de trabalho
e alterações na sua rotina.
No grupo de fisioterapeutas estudado foi encontrado uma carga horária
semanal caracterizando uma jornada extensa superior a 30 horas semanais, a
atuação em dois ou mais locais de trabalho sendo 40% também exercem atividade
na docência e o número de pacientes atendidos diariamente, contribuem para uma
sobrecarga física e mental da atividade, caracterizando a prática da fisioterapia
como de risco aumentado para a incidência da Síndrome de Burnout. Os
profissionais experimentam uma série de alterações psicológicas tais como a
irritabilidade, ansiedade, fadiga psíquica, baixo desempenho e perda da energia
associada à manifestação dos sintomas do burnout.
Quantos as variáveis que de acordo com as pesquisas e estudos realizados
estão associadas à incidência da Síndrome de Burnout verificou-se que de acordo
com as características sócio-demográficas 75,5% dos fisioterapeutas são do sexo
feminino, com faixa etária entre 21 – 35 e 78,8% são solteiros. Nas características
ocupacionais evidenciou-se que aproximadamente 20% desenvolvem atividade na
docência universitária e 50% em instituições de saúde específicas e atendem cerca
de 20 a 30 pacientes por dia.
Relacionadas a probabilidade de reduzir a incidência da Síndrome de Burnout
foi pesquisada a variável tempo de profissão onde 65% dos fisioterapeutas possuem
menos de 05 anos de graduação. Quanto às características pessoais os
fisioterapeutas utilizam 14% do seu tempo livre para realização de atividade física e
aproximadamente 12% para o lazer.
O Inventário de Sintomas de Estresse aplicado – ISE teve como objetivo a
função de coletas de dados associados aos sintomas de estresse presentes ns
63
sintomatologia da Síndrome de Burnout. Mostrou-se pouco efetivo, pois houve
predomínio das respostas nas alternativas raras vezes e moderadamente,
traduzindo a preocupação excessiva dos profissionais pesquisados na realização da
sua atividade no trabalho, não deixando demonstrar-se estressados.
Conclui-se que os resultados obtidos nesta pesquisa corroboram-se com
resultados constatados na literatura especializada. Verifica-se a necessidade de
estudos complementares em outras categorias profissionais, que forneçam
informações específicas para compreensão das relações entre as variáveis
ocupacionais, pessoais e organizacionais. A escassez de conceitos e formas de
análise e interpretação dos resultados é um fator que dificulta as conclusões finais.
Recomenda-se que pesquisas associem instrumentos de avaliação do estresse e de
burnout para que o diagnóstico diferencial e os elementos causadores da síndrome
fiquem melhor definidos, tornando-se importante a consideração de aspectos
situacionais no surgimento e evolução da Síndrome.
A média EE mais baixa com relação aos outros estudos realizados foi
constatada nos fisioterapeutas; em DE alcançaram média inferior a encontrada nos
estudos de Mendes 2002, como também no NEPASB; em EP alcançaram média
inferior quando comparados aos estudos de Madri e Gil-monte e Peiró.
A realização desta pesquisa entre os fisioterapeutas evidenciou que há
grande interesse por parte desta classe na elucidação referentes às questões
relacionadas a sua saúde e a sua atividade de trabalho. Este estudo nos permite
recomendar aos profissionais fisioterapeutas a adoção de medidas preventivas e
mecanismos de enfrentamento considerando a inclusão de atividades de
desenvolvimento profissional no espaço natural de trabalho com o intuito de
aumentar sentimentos de realização pessoal e minimizar o burnout. Estratégias para
identificar efetivamente e administrar sentimentos de fisioterapeutas sobre
esgotamento emocional requerem estudo adicional.
Futuros estudos devem estender sua capacidade de coleta de dados junto a
um universo populacional de maior monta, o que nos permitiria, seguindo os critérios
do método científico, ampliar o nosso grau de certeza e de inferência sobre o
desenvolvimento da Síndrome de burnout entre os fisioterapeutas, determinando
64
inclusive os níveis de prevalência das diferentes fases de acometimento da
síndrome e os sintomas físicos e psicológicos específicos desenvolvidos nestes
profissionais.
Por fim, consideramos que, dada a relação encontrada entre a Síndrome de
Burnout e os fisioterapeutas, cabe salientar a necessidade de análises ergonômicas
do trabalho como forma de aprimoramento da capacidade de investigação dos
problemas de saúde decorrentes da atividade dos fisioterapeutas, pois estes não
escolhem estar com burnout, que é uma condição relacionada diretamente à
natureza do trabalho deles.
65
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75
Caro Colega:
Este material tem o objetivo de levantar dados para pesquisa
científica sobre a incidência da Síndrome de Burnout em Fisioterapeutas
– apresenta-se dividido em 3 partes: Parte 1: Questionário sócio-demográfico e profissional;
Parte 2 : Questionário Maslach Burnout Inventory (MBI);
Parte 3: Inventário de sintomas fisiológicos;
Os resultados obtidos serão utilizados exclusivamente para fins científicos.
Grata,
Valana J. Formighieri
Fisioterapeuta – Mestrado em Engenharia da Produção – UFSC
76
QUESTIONÁRIO SÓCIO-DEMOGRÁFICO E PROFISSIONAL
Seção A: Dados Demográficos Nome ou iniciais:______________________________________________________
Endereço *:__________________________________________________________
Email*:______________________________________________________________
1. Sexo: fem masc
2. Idade: ____
3. Estado Civil: casado (a) solteiro (a) união consensual
viúvo(a) divorciado (a) outros
4. Tem filhos ? não sim Quantos? ______
4. Naturalidade:__________________
5. Cidade onde trabalha:____________________
Seção B: Variáveis ocupacionais/profissionais 1. Há quanto tempo você trabalha como Fisioterapeuta?
_____ anos _____ meses
2. Em que local (ais) você desenvolve atividade profissional?
Instituição de Ensino Superior Consultório
Hospital Centro de Reabilitação
Indústria Escola (pré-esc., ens. fund. e méd.)
Domicílio Instalações de saúde especializada
Postos de Saúde Clínica
Ambulatório Academia
Clubes ou Associações desportivas Outros
(*): Resposta opcional
3. Quantas horas você trabalha por dia como Fisioterapeuta?
___________
4. Quantos pacientes atende por dia?
menos de 5 de 5 a 10 de 10 a 15 de 15 a 20 de 20 a 30
mais de 30
77
5. Em qual especialidade você atua?
a. ____________________
b. ____________________
c. ____________________
6. Você exerce alguma outra atividade profissional?
sim não se a sua resposta for sim, qual?
_______________________
7. Durante o seu tempo livre a que atividades você se dedica?
Prática desportiva Trabalhos domésticos
Uso de computador Atividades de lazer
Atividades artesanais Leitura e estudo
Assistir TV e vídeos Outros
78
QUESTIONÁRIO MASLACH BURNOUT INVENTORY (MBI)
0 - nunca 3 - Algumas vezes ao mês
1 - Uma vez ao ano ou menos 4 - Uma vez por semana
2 - Uma vez ao mês ou menos 5 - Algumas vezes por semana
6 - Todos os dias
Nº
LEIA ATENTAMENTE AS SEGUINTES
AFIRMAÇÕES PONTUANDO, O MAIS
SINCERAMENTE POSSÍVEL, CONFORME A
INTENSIDADE DESCRITA: N
UN
CA
UM
A V
EZ
AO
AN
O O
U M
EN
OS
UM
A V
EZ
AO
MÊ
S O
U M
EN
OS
ALG
UM
AS
VE
ZES
AO
MÊ
S
UM
A V
EZ
PO
R S
EM
AN
A
ALG
UM
AS
VE
ZES
PO
R S
EM
AN
A
TOD
OS
OS
DIA
S
1. Sinto-me esgotado(a) emocionalmente devido ao meu trabalho.
2. Sinto-me cansado(a) ao final da jornada de trabalho.
3. Quando levanto-me pela manhã e vou enfrentar outra jornada de
trabalho sinto-me cansado(a).
4. Posso entender com facilidade o que sentem as pessoas.
5. Creio que trato algumas pessoas como se fossem objetos
impessoais.
6. Trabalhar com pessoas o dia todo me exige um grande esforço.
7. Lido eficazmente com os problemas das pessoas..
8. Meu trabalho deixa-me exausto(a).
9. Sinto que através do meu trabalho influencio positivamente na
vida de outros.
10. Tenho me tornado mais insensível com as pessoas desde que
exerço este trabalho.
11. Preocupa-me o fato de que este trabalho esteja-me endurecendo
emocionalmente.
12. Sinto-me com muita vitalidade.
13. Sinto-me frustado(a) em meu trabalho.
14. Creio que estou trabalhando em demasia.
79
15. Não me preocupo realmente com o que ocorre às pessoas a que
atendo.
16. Trabalhar diretamente com as pessoas causa-me estresse.
17. Posso criar facilmente uma atmosfera relaxada para as pessoas.
18. Sinto-me estimulado(a) depois de trabalhar em contato com as
pessoas
19. Tenho conseguido muitas realizações em minha profissão.
20. Sinto-me no limite de minhas possibilidades.
21. Sinto que sei tratar de forma adequada os problemas emocionais
no meu trabalho.
22. Sinto que as pessoas culpam-me de algum modo pelos seus
problemas.
80
INVENTÁRIO DE SINTOMAS (ISE)
ASSINALE COM UMA “X”
A FREQÜÊNCIA COM QUE SENTE ESSES
SINTOMAS EM SUA VIDA DIÁRIA
NU
NC
A
RA
RA
S V
EZE
S
MO
DE
RA
DA
- ME
NTE
FRE
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Nº SINTOMAS 0 1 2 3 4
1. Dores nos ombros ou nuca
2. Irritabilidade fácil
3. Perda ou excesso de apetite
4. Sentir-se sem vontade de começar nada
5. Dor de cabeça
6. Pouca vontade de comunicar-se
7. Dor no peito
8. Dificuldade de adaptação
9. Dificuldades com o sono
10. Sentimento de cansaço mental
11. Dificuldades sexuais
12. Pouco tempo para si mesmo
13. Erupções na pele, brotoejas
14. Fadiga generalizada
15. Pequenas infeções
16. Sentimentos de baixa auto-estima
17. Aumento no consumo de bebida, cigarro ou
substâncias
18. Dificuldade de memória e concentração
19. Problemas gastrointestinais
20. Necessidade de isolar-se
21. Problemas alérgicos
22. Estado de aceleração continuo
23. Pressão arterial alta
24. Perda do senso de humor
25. Gripes e resfriados
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26. Perda do desejo sexual
27. Problemas na voz (afonias, mudanças de voz,
rouquidão etc)
28. Pouca satisfação nas relações sociais
29. Dificuldade em controlar a agressividade
30. Cansaço rápido de todas as coisas
Agradecemos pelo tempo e colaboração com nossa pesquisa! Se você
disponibilizou seu endereço será informado em alguns meses sobre o resultados.