002. Marcel Mauss - Uma Categoria Do Espírito Humano a Noção de Pessoa a de Eu

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    1

    0 sujeito: ' a pessoa

    A indulgência de meus ouvinres e de meus leirores

    deverâ

    ser gra nde,

    pois

    0

    assunto é realmente imenso e nao poderei, nesres cinqüenra e cin

    co minutas, senao vos clar uma idéia

    da

    maneira

    de

    estudâ-lo. Trata-se

    de nada menas que de vos explicar COrno uma das categorias do espirito

    humano -

    uma

    dessas idéias

    que

    acredit

    amos

    inatas - lentamenre surgiu

    e cresceu ao longo dos séculos e através de numerosas vicissitudes, de ra i

    modo que ela ainda é, mesmo hoje, fl uruanre, delicada, preciosa. e pas

    sivel de maior elahoraçào_É a idéia de pessoa , a idéia do Eu _

    Todo

    s

    a

    cons

    ider

    am

    natural, h

    em

    definida

    no

    fu

    ndo da Sua

    pr

    opria consciên

    cia, perfei t

    amenteeq

    uip

    ;da

    no fundo da moral que

    de

    la se deduz_

    Tra

    ta-se de subStituir essa visao ingênua de sua hisroria e de seu arual valor

    por uma visào mais precisa .

    rna palavra obre 0 princfpio desse tipo de pesquisa

    Corn isso, vereis uma arnostra - talvez inferior ao gue esperais _ dos tra

    balhos da escola francesa de sociologia. Dedicamo-nos de maneira mui

      Oespecial

    à

    historia soc

    ial

    das carego

    ri

    as do espirito humano. Tenrarnos

    ex

    p]i

    ca-las uma a uma, partindo sî mplesmente, e

    prov

    iso riamenre, da

    lis

    ra

    das categorias

    2

    aristoté

    li

    cas.

    De

    screve mos aI

    gu

    mas

    de

    suas form as

    em aigu mas civilizaçoes e,

    por

    essa comparaçào, busca mo s encontr ar

    sua natureza fluida, e as razôes de esra ser assim. Foi de ssa maneira que,

    ao desenvolver a noçào de mana, Hub err e eu acredita mos encomrar nao

    apenas 0

    fundamenro arcai co da magia, mas também a

    forma

    muiw ge-

    1

    Duas teses da École des Hautes Études

    ja

    abo rdararn probJernas dess

     l

    ordem: Charles Le

    Coeur '932 e V Labock '9]2.

    2

    Hubert e Mauss 9°9.

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    raI e provavelmente

    muita

    primitiva da noçao de causa; foi assim que

    Hubert descreveu algumas caracteristicas da noçao de tempo; que n05-

    so saudoso colega, amigo e discîpulo Cza

    rno

    wski começou a elaborar -

    e infelizmeme nao terminou - sua teoria do retalhamento da exten

    sao , isto é, de alguns aspectas da noçào de espaço; foi assim

    que

    meu

    tio e mest re Durkheim esrudou a noçao de todo apos ter estudado comi

    go a noçâo de gênero.

    Ha

    muitas anoSvenho preparando estudos sobre

    a noçào de substância, do quai publiquei apenas

    um

    trecho bastante abs

    conso e inutil de 1

    er em

    sua forma atual. Mencionarei também as multi

    plas vezes em que Lucien Lévy-Bruhl abordou essas

    questoes

    no con

    junta de suas obras relativas à mentalidade primitiva - em partlcular no

    que se refere ao nossO terna,

    0

    que ele charnou a

    H ~ l m a p r i ~ i t i

    v a . Mas

    ele esta interessado, nao no esrudo de cada categona em partlcular, ou da

    que vamos esrudar, mas sobrerudo em destacar, a proposito de todas, in

    clusive a do eu , 0 que hà de pré-16gico na mentalidade das popula

    çôes que pertencem

    à

    antropologia e

    à

    etnologia, e nao

    à

    historia.

    N osso procedimento sera mais metôdico e nos restringimos ao es

    rudo de apellas uma dessas categorias, a

    do Eu .

    Isso ja s

    era

    bastante.

    Nesse curto espaço

    de excessiva, vos levarei a percorrer

    0 mundo

    e as épocas, ind o

    da

    Aus

    tralia a nossas sociedades européias, e de histo rias

    muita

    antigas

    à

    de

    nossOS

    dias. Pesquisas mais amplas poderiam ser empreendidas, cacia

    uma poderia ser

    muita

    mais aprofundada, mas

    pretendo

    apenas vos

    mostrar camo se poderia organizâ-Ias Pois minha intençao é vos ofere

    cer, bruscamente, um catâlogo

    i

    as formas que a noçao

    adq

    uiriu em di

    versos pontos, e mostrar de que maneira ela acabou

    por

    ganhar corpo,

    matéria, forma, arestas, e isto até n

    osSOS

    tempos, quando ela finalmente

    tarnou

    -se clara, niti da, em nossas cÎvilizaçôes (nas ocidentais, muita re

    centemente) e nâo ainda em todas. Farei apenas um esboço, darei uma

    primeira forma

    à

    argila. Ainda

    estau lon

    ge de ter exp

    lorado 0

    bloco in-

    teiro, de ter conc1uîdo a esculrura. .

    Assim nao vos falarei da questao lingüistica, que

    devena

    ser trata

    da

    num

    e s t ~ d o

    completa. De

    modo nenhum af

    irmo

    que

    t

    enha

    havido

    uma tribo, uma lîngua, em que a palavra l'eu - mim

    [je -

    moi

    ]

    (vejam

    que a declin amos ainda corn ciuas palavras) .nâo existisse: I:ao e ~ p r e s -

    sasse algo

    de

    nitidamente representado. ulto

    pela contrano,

    alem do

    pronome que elas possuem, muitas

    Hn

    guas se destacam pelo usa

    abundantes sufixos de posiçâo, os quais se referem em

    grande

    parte as

    37 Noçào de pessoa

    relaçôes que existem no tempo e no espaço entre 0 sujeito que fala e 0

    objeto de que ele fala. Aqui,

    0 Eu

    é onipresente, no

    entamo

    nao se ex

    prime

    por

    mim nem por eu . Mas sou um mediocre conhecedor nes

    se vasto terreno das

    Hnguas_

    Minha pesquisa sera inteirarnente uma pes

    quisa de direito e de moral.

    Camo

    de lingiiistica, tampouco vos falarei de psicologia. Deixarei

    de la

    do tudo

    0

    que diz respeito ao

    Eu

    )

    à

    personalidade consciente

    como tal. Direi apenas: é evideme, sobretudo para nos,

    qu

    e nunca hou

    ve ser humano que nao tenha tido

    0

    senso, nao apenas de seu corpo, mas

    também de sua individualidade espiritual e corporal ao mesmo tempo. A

    psicolog ia clesse sentido fez imensos progressos no ultimo século, de uns

    cern anos para .Todos os neurologistas franceses, ingleses, alemâes,

    entre os quais meu mestre Ribot, nosso caro colega Head e outros, acu

    mularam sobre esse ponto numerosos conhecimemos: sobre a maneira

    como se forma, funciona, decai, desvia-se e decompôe-se esse

    se

    mido, e

    sobre 0 papel consideravel que ele desempenha.

    Meu ass

    umo

    é hem diferente, e é independente.

    É

    um assunto de

    hi storia social. De que maneira, 301ongo dos

    s é ~ ~ l o s

    através de nu-

    merasas sociedades, se elaborou lentamente nào 0 senso

    do eu

    mas

    a noçao,

    0

    conceito que os homens das diversas épocas criaram a seu

    respeito? 0

    que quero mostrar é a série das formas

    que

    esse conceito

    assumiu na vida dos homens, das socie

    clad

    es, corn base em seus direi

    tas, suas religiôes, seus costumes, suas estruturas sociais e suas menta

    lidade

    s

    Uma coisa pode vos indicar a tendência de minha dem onstraçao; é

    que vos

    mo

    strarei 0

    quanta

    é receme a palavra filosofica Eu , como

    sâo recentes a categoria do Eu , 0 cuIta do Eu (sua aberraçâo) e 0

    respeito ao Eu - em particular, ao dos

    outras

    (sua norma).

    Classifiquemos, pois. Sem nenhuma pretensâo de reconsrituir uma

    hi

    st6 ria geral,

    cla

    pré-historia aos nossos dias, estude

    mo

    s prirneiro al

    gumas dessas formas da noçao de

    Eu ,

    para depois entrarmos na his

    toria corn os gregos e constatarrnos, a partir clat , alguns encadearnentos

    certos. Antes, sem outra preocupaçâo exceta a 16gica, faremos um pas

    seio por essa espécie de museu de fatas (nao gosto da palavra survivais,

    sobrevivêncÎas, para

    in

    stiruiçoes que ainda vivem e proliferarn) que a

    etnografia nos apresenta .

    37'

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    II .

    0

    personagem

    e

    0

    lugar da

    pessoa

    Os Pueblos

    Comecemos pela fato do quai partiram todas essas pesquisas. Vou

    toma-la dos indios Pueblos, dos Zui'ii, mais precisame nte os do Puebla

    de Zuiii , admiravelmenre esrudados par Frank Hainilton Cushing (p le

    namente inici: Jo aas Pu eblos) e

    por

    Mathilda Cox Stevenson e seu ma

    rido clurante

    mu

    itos anos. A ob ra de1es foi criticada. Mas julgo-a segu

    ra e, em roda caso, ûnica. Nada de muito primitivo , é verdade. As

    Cidades de

    Cibola foram

    convert

    idas

    outrora

    aD

    cristianismo, el

    as

    conservaram seus reg istr

    as batismais;

    mas ao mesmo tê

    mp

    -o

    seus antigos direitos e religiàes - quase

    em

    ('estado nativo , se pode

    mas

    dizer: aproximadamente os

    de

    seus predecessores, os cliff dwelfers

    [moradores dos rochedos1 os habitantes da

    mesa

    até a México. Eles

    eram e continuaram senclo muita comparave is em civilizaçào material e

    em

    constituiçào social aos mexicanos e aos mais civilizad

    os

    do s indios

    das duas Américas. :\Iéxico, esse Pueblo , escreve admiravelmente

    0

    grande

    e tao injustamente tratado L. H. Morgan,

    fundador

    de nossas

    ciências.

    '

    o documento que segue é

    de

    Frank Hamilton Cushing, autor mui-

    ta criticado, mesmo por seus colegas do Bureau

    of

    American Ethno

    logy.

    Ma

    s, conhecendo sua obra publicada e muito do que foi publicado

    sobre os Zu   i e os Pu eb los em geral, e também pela que julgo saber de

    um grande nûmero de sociedades americanas, insista

    em

    considera- lo

    como um dos melho res descritares de sociedades de todos os tempos.

    1 . Sobre l S datas respecti as das diferemes civilizaçôes que ocuparam essa area dos hasket

    people, dos cliff dwellers, PO\ os que habitavam as ruinas da mesa, e enfim dos pu. eh/os (qua

    drados e circularcs), encontrar-se-a uma boa ex posiçâo das hipôteses provaveis recentes cm

    F

    H.

    H. RobertS 1932: 23-ss. Id. 19,0: 9·

    372 Noçào

    de

    pessoa

    Deixo de lado, se permitis, tuda

    0

    que diz respeito à oriemaçào e

    à

    divisâo do s personagens do ritual, embora isso tenha uma gra nde im

    portância, como

    jâ assinalamos alhures; mas destaco estes dois pontas:

    Existência de um

    numero

    determinado de prenomes por clà; definiçào

    do pape exato que cada um

    desempenha na

    figuraçào do clà, e

    expre

    sso por

    esse

    nome.

    Em cada da. encontra-se um conjunto de nomes

    gue

    sao chamados

    nomes de in

    fância. Esses nomes

    sa.o

    mais

    t{rulos gue cognomes,

    Sao selecionados segundo

    modos sodolôgicos e

    di'Vinalônos,

    e

    conJen'dos na

    infância na qualidade

    de

    "nomes de

    'Verdade" ou

    titulos

    das crianças

    que os

    receoem.

    Mas

    este

    corpo de

    nomes

    relacionado

    a qualquer um

    dos

    tOl

    ens

    - por exemplo, a um

    dos

    totens

    animais - nao

    sera

    0 nome do propn'o totem, e sim 0 nome

    do

    tot

    em

    em suas

    'Van'as

    condiçoes ou de SUtll

    partes,

    ou de

    suas funçôes,

    ou de seus

    atriOulOs,

    reais

    ou

    misticos.

    Estas partes

    ou

    fimçôe

    s,

    ou

    atrioutos

    das

    partes

    ou un

    çôes,

    sao

    tamoém

    subdi'Vididas em seis, de

    modo que 0 nome

    reJerente

    a

    um

    memoro

    qualquer do totem - por exemplo, 0

    oraço direiro ou

    a perna

    do animal- corres-

    e sena 0

    9 . u e

    nào

    é,

    e ~ . . . I P p - r i q , _

    parte

    grupo

    setenm'onal);

    entao 0 nome reJerente

    a outro

    memoro -

    diga

    mos,

    a perna

    ou oraço esquerdo

    e seus poderes

    etc

    . - pertenceria

    ao oeste

    e seria

    o segundo

    em honra;

    e

    outro memoro

    -

    0

    pé direito por exemplo -

    ao

    sul e

    seria

    o

    terceiro em Iwnra;

    e

    outro

    memoro ainda - 0 pé

    esquerdo

    - ao

    les te

    e 0

    quarto

    em honra; a outro

    -

    digamos a

    caheça

    -

    às

    regiôes s

    uperiores

    e

    sen'a 0

    quinto

    em

    honra; e outra - digamos a cauda - à

    regiao

    inJen'or e seria 0 sexLO

    em

    honra;

    efUjuanto

    0

    coraçào ou

    umoigo e

    centro do ser seria

    0 primeiro

    assim como

    ûüi

    mo em honra

    .

    Os estudos do

    Major Powell

    entre os Maslcolci

    e

    outras

    t,

    ibo

    s

    deixaram muùo

    claro

    que os termos

    de

    parentesco, assim chamados,

    entre

    ou

    tras

    m'bos

    indigenas

    (e a

    regra

    lào se aplicarâ menos,

    e

    tal'Ve{ mesmo

    mais

    es

    trùam.ente,

    aos

    Zuiii),

    sao anUs

    dispositivos para determinar a p

    osiçà

    o

    ou

    au

    lon'dade

    relaliva

    como

    significadas pela

    relaçao

    de

    'idade, mais

    velho

    ou

    mais

    nova,

    da

    pessoa tratada ou refen'da pela Lerma de parentesco, De modo 'lue é

    imposs/vel

    para um

    ZuiiiJalando

    corn

    OUlro

    di{er

    simplesmente

    irmào;

    é

    precisa

    sempre di{er irmao mais 'Velho

    ou

    mais

    novo,

    por meio de

    que

    0 [a/ante afirma,

    ele

    me

    smo, sua idade ou posiçào relau'va,

    É tamhém haoitualque

    0

    memoro

    de

    um dà chame 0

    outro

    pelos

    nomes

    de parentescopara irmào mais

    velh

    o

    ou

    irmào

    mais

    novo, lia ou soorinho elC,; mas

    segundo

    0 dà daqu

    e

    le 'lue

    é

    chamado ocupe

    uma posiçào

    supen'o

    r

    ou

    infen'or ao

    do

    'lue 0 chama pelo termo vocati  o, a

    palavra-s/moolo

    para

    m

    ais

    'Velho

    ou

    mais

    novo tem de

    ser usada,

    373

  • 8/17/2019 002. Marcel Mauss - Uma Categoria Do Espírito Humano a Noção de Pessoa a de Eu

    4/15

    Com

    um laI slstema

    de

    ordenamelllo, que

    se

    pode constatar ser cudo ùso; m

    um dispositivo tào simples pa ra simbolirar esse ordellameflto (nà o Gpenas se

    gundo 0 l1ume

    ro

    de regioes e suas subdil/isoes em sua Sllcessào relat/ hl e a

    sucessào de seus elemefllos e estaçoes, mas também nas cores alfibut'das a elas

    elc  ,. e finalmente, com cal ordenamenta dos nomes correspondemel1lellle

    classificadose dos termos de paremesco, indicativos de posiçào

    mals

    do que

    de

    conexào consangiimea: cam cudo usa,

    um

    erra

    na

    ordem de

    uma

    cerim

    on

    ia,

    uma proclssào ou um conselho,

    é

    simplesmente impossivel, e as pessoas 9ue

    empregam tais disposiri'/os podem ser ditas ter escrùo e estar escrevendo seus

    Slatus e suas eis em rodas

    os

    seus relaclol/amentas e expressoes dùirias.

    Assim, por um lado, 0 clà é concebido como constituido por

    um

    cerl

    além, mas também a renascimenta dos individuos (homens ûnicos

    h e r ~ e i r o dos portadores de seus prenomes (a reencarnaçào da:mulhe

    res e uma questao hem diferente), co mpreendereis que vernos ja entre os

    Pueb los,

    em

    suma, uma noçào da pessoa, do indivîcluo confundido co

    rn

    seu cla: ma: des tacado dele no cerimonial, pela mascara, por seu tltu-

    1 , sua poslçao, seu papel, sua propriedade, sua sobrevivência e seu rea

    a ~ e c i m e n t o

    na num

    s e

    us

    descendentes dotados das mesmas po

    slçoes, prenomes, nrulos, dlreuos e funçôes. .

    oroeste

    americano

    numero de pessoas, na verclade personagens; e, por outr

    o,

    0 pap

    el

    de to - outra grupo de tribos da América seria digno, neste es tudo, se eu

    dos esses personagens é realme n

    te

    figurar, cada um por sua parte, a

    tO  [}

    vesse tempo, de uma amilise aprofund ada dos mesmos fatos.

    É

    0 das

    talidad e prefigurada do clà. tribos. do n o r ~ e s t e am ericano, cujas instituiçôes vosso Royal Anthro-

    Isto

    em

    relaçao às pessoas e ao cla

    .

    As

    CCfratern id

    ades" sào ainda pologlcallnstltute e a Br itish Association tiveram a honra de suscitar a

    mais complicadas. Ent

    re

    os Pueblos de Zuiii, e ev id entemente entre os anâlise iniciada por Dawson, a grande ge610go, tao bem

    outros, os de

    Sa

    i, de Tusayan, entre os Hopi, de Walpi e Mishongnov_

    ,

     -

    __

    ;,prossegulda, quando nao terminada, pelos excelentes trabalhos de

    os nom

    es

    correspo

    nd

    em nào simplesmente à organizaçào do cIa, a seu oas es eusauiilia

    re

    s lnaios Hunt e Tate, pelos de , . . : d ~ e ~ S ~ w ~ a ~ n . . , t - o

    desfile, a suas pompas, privadas e pûblicas, ma s sobretudo às posiçôes de Barbeau etc.

    nas confrarias, naq

    ui

    lo que a antiga nomenc1atura de Powell e do Bu-

    La

    ambém

    se

    coloca, em termos diferentes mas corn natur

    eza

    e

    reau of American Ethnology chamava as Fratemùies , as

    c

    Secret Socie- funçao idênricas, 0 me smo problema, 0 do nome, da posiçào social da

    lies , e que poderîamos corn

    mu

    ita exatidào comparar aos Colégios da "natividade" jurîdica e religiosa de cada homem livre e, corn mais

    religiao romana. Segredo das preparaçôes e de numerosos ritos so lenes dos nobres e principes.

    rese rvados

    à

    Socied ade dos Homens (Kaka ou Koko , Koyemshi etc.), Tomarei como ponto de partida a mais conhec ida dessas importan-

    mas [ambém demonstraçôes publicas - quase teatrais - sobretudo em tes socledades, os Kwakiutl, e me limitarei a algumas indicaçôes.

    Zuii.i, sobretudo entre os Hopi : as danças de mascaras - em partic

    ul

    ar as Vma ressalva: como

    em

    relaçao aos Pueblos, tampouco se deve

    dos Katcina, v isita dos espiritos representa dos pelos que possuem seus pensar em qualquer coisa de primitivo em relaçao aos indios do noroes-

    direitos nesse mundo, os portaclores de seus tÎtulos. Tudo isso, que virou te americano. Ern primeiro lugar, uma parte desses indios, ju stamente os

    agora espetâculo para ruristas, estava ainda

    em

    plena v

    id

    a ha menos

    de do

    n?rte, Tlingit e Haïda, falam lînguas que, segundo

    Sa

    pir, sao linguas

    cinqüenta anos, e ainda co ntinua vivo. [QnalS e aparentadas às linguas derivadas do tronco que se convencio-

    A srta.

    B.

    Freire Marecco (agora sra . Aitken) e 0 sr. E. Clews Par- nou charnar prota-sino-tibeto-birmanês. E, se posso vos conta r uma de

    sons cominuam trazendo-nos informaçoes e corroborando nossos co- minha:. e . s s ô e s de etn6grafo, se nao de ga

    bi

    nete, pelo menas "de

    nhecimentos. u s e ~

    e u ~ t o fo

    rte a lernhrança que guardo de um a apresentaçào dos

    Por outro lado, se considerarmos que essas vidas dos individuos, K w ~ ~ u t l dev lda ao respeitaclo Putnam, um dos funclaclores da seçao et-

    forças motoras dos

    c1 às

    e das sociedades sobrepostas aos cHi

    s,

    asseguram nolog ea do Ameriean Museum

    of

    Natural Hi story : um gra nde barco de

    nao apenas a vid a das coisas e dos deuses, m

    as

    a upropriedade" d

    as

    co

    i-

    ce

    rimônia,

    corn

    manequins em tamanho natural, corn todos os

    se

    us pe-

    sas; e que nao apenas asseguram a vida dos homens, nes te mundo e no trechos de religiao e de direit

    o,

    represemava os Hamatsé, principes ca-

    374 NOfàodep,moa

    375

     

  • 8/17/2019 002. Marcel Mauss - Uma Categoria Do Espírito Humano a Noção de Pessoa a de Eu

    5/15

    nibais que chegavam do mar para um rirual - certamente

    de

    casamento.

    Corn suas roupas muito ncas, suas coroas de casca de

    cedro

    vermelho,

    seus acompanha

    nt

    es menos ricamente vestidos mas

    glor

    iosos, eles

    me

    deram precisamente a impressâo do que pode ter

    sido

    ,

    por

    exemp lo, uma

    China setentrional muito}muito antiga. Penso que esse barco, que essa

    representaçâo um tanto romanceada desapareceu; ela nâo esta mais na

    moda em nossos museus de etnografia. Mas 0 que importa

    é

    que esta

    produziu um efeito sobre mim. Mes

    mo

    as [aces indigenas lembraram

    me vivameme as faces dos "paleo-asiaticos" (assim chamados porque

    nâo se sabe

    onde

    classificar suas Hnguas). E, a partir desse

    ponto

    de ci

    vilizaçâo e de povoamento, devemos ainda contar longas e muitiplas

    evoIuçôes, revoIuçôes, novas formaçôes , que 0 nosso

    caro

    colega Franz

    Boas se esforça

    por

    reconstituir, talvez um pouco apressadamente.

    o

    fato é

    que

    todos esses indio

    s

    os Kwakiutl em particular, instala

    ram

    2

    ent re eles

    um

    sistema social e religioso no quaI, nu ma imensa tra

    ca de direitos,

    de

    pr

    estaçôes, de bens, de danças,

    de

    cerimônia

    s

    de pri

    v

    il

    égios, de posiçôes, as pessoas e os grupos soc

    iai

    s sâo simultaneamente

    satisfeitos. Vê-se muito nicidamente

    ca

    mo, a partir das classes e do s clàs

    o

     

    r

     

    enam-se as

    rr

    pe 'ssoas humana

    s ,

    e

    coino,

    a partir destas, ordenam-se

    os gestos dos atores num drama. Aqui, todos os atores sâo

    t e o r i c m e n t ~

    todos

    os ho mens livr es. Mas, desta vez, 0 drama é mais do que estético. E

    religioso, e ao mesmo tempo côsmico, mito1

    6g

    ico, social e pessoa .

    Primeiro,

    coma

    entre os Zufii, todo individuo em cada

    cIa:

    tem um

    nom e - ou até dois nomes - para cada estaçào, profana (verao)

    WiX-

    sa)

    e sagrado (inverno)

    (LaXsa) .

    Esses nomes sao repartidos

    en t

    re as (a

    mîlias separadas, as "sociedades secretas" e os

    cHis

    gue colaboram nos

    ritos, nos momentos em que os chefes e as familias se enfremam nos

    inûmeros e interminaveis

    potlatch,

    dos quais busquei alhures

    dar

    uma

    idéia. Cada d a tem duas séries comple[as de nomes pr6prios, ou melhor,

    de prenomes, uma corrente, a

    outra

    secreta, mas esta nao é uma série

    simples. Po is 0 prenome do individuo, no caso 0 nobre, muda corn sua

    2. C f. Davy 1922; Mauss

    [

    923-2.-11 192 5(cf. Terceira pane, supra), onde n50 pude insistir

    estava fora do meu assuma - sobre 0 falo da pessoa" e de seus dir eito

    s

    dcveres e poderes

    religiosos, sob re a sucessào dos nomes elc. Nem Davy nem eu insistimos sobre 0 fata de que

    o porlatell comporta, além das trocas de homen

    s

    mulheres, heranças, contratos, bens, prcsla

    çoes riruais, em primeiro lugar, e em panicular, danças, iniciaçoes, e ainda: êxtases e passcs

    socs pelas espfritos elernos e reencarnados. Tudo, mesmo a guerra, as lutas, é liro apenas en-

    tre

    porraJores u ~ e s titulos hu eJùin'os, que encamam euas aimas.

    376

    "oçào de pessoa

    e funçoes que ele

    c ~ m p r

    em deco

    rr

    ência dessa idade.

    3

    É

    0 que

    dl z um do clà das Aguias isto é,

    é

    verdade, de uma espécie de

    grupo pnnlegJado de

    c1às pr

    iv

    il

    eg iados:

    o

    hâbiro de llào mudar os nomes começou ha muito tempo / / Oemaxt

    Mali 0 ancestal

    do

    flumaym G ig flgarn

    do

    / Q10moyâEye, fit os tronos

    das Aguias; e

    esses

    passaram para

    os

    nurnayms. E

    0

    dono do

    Mme Wilt-

    seEgstala dit /

    «agora, rlOSSOS

    cI/efes receberam tudo, e eu vou direto

    para

    baixo {segundo Q posiçào na lzierarquia)". / Assim eie

    dit

    quando ele doa

    sua.s propriedades: pois eu

    VOu

    apellas nom

    ea

    r

    os

    nomes / /

    de urn

    dos chefes

    prin.cipais dos numayms das / tribos Kwakiutl. Eles nunca mudam seus

    nom

    es

    desde a começo, / quando os primeiros hurnanos exirtiam no mundo;

    pois

    os

    nomes nào padern sair / da

    la m

    /lia dos che/esprincipais

    dos

    numayms,

    ape1la.s

    para

    a

    mals

    J'elho

    da proIe do chefe.

    o que esta em jogo em mdo isso

    é

    portanto mais do que 0 prestigio e a

    autoridade do chefe e do clà , é a existência

    me

    sma destes e dos antepas

    sa

    dos que se reencarnam nos

    deœmore

    s de tal direito, que revivem no

    corpo dos que carregam seus nomes, cujo perpe tuidade é garantida pelo

    rituaI em todas as suas fases. A perpetuidade das coisas e das aImas 56

    é

    garantida pela perpetuidade dos nomes dos individuos, das pesso

    as.

    Es

    [as

    agem apenas como representantes e, inver

    sa

    mente, sao responsaveis

    por todo 0 seu

    cla

    suas familias, suas tribos. Por exempl

    o

    uma posiçao,

    um poder, uma funçao religiosa e estética, dança e possessao,parapher_

    na ia

    e cobres em forma de escudos - verdadeiras "moedas" de

    cobre-

     

    moedas

    in

    signes dos potlatch presentes e futuros, tudo isso se conquis

    a

    pela guerra: basta matar seu possuidor - ou apoderar-se

    de

    um dos apa

    ratos do ritual , vestes} mascaras - para herdar seus nomes, seus bens,

    se

    us cargos, seus antepassados , sua pessoa - no se

    mido

    pleno da pala

    Assim adquirem-se posiçôes, ben

    s

    direiros pessoais, coisas e

    ao

    mesmo tempo 0 espirito individual deIas.

    Toda essa imensa mascarada, todo esse drama e esse balé compli

    cado de êx[ases, dizem respeito ta mo ao pas

    sa

    do

    quanto

    ao futuro, sao

    uma

    pr

    ova do oficiante e uma prova da pre

    se

    nça nele

    do naualaku

    (ibid.:

    39

    6

    ), elemento de força impessoa

    l

    ou do antepassado, ou

    do

    deus pessoaI, em todo casa do

    poder

    sobre-humano, espirituaI defini-

    3. Boas /92/: 431.

    4.

    A melhor exposiçào geral de

    Boa

    s encontra-se em: 1895b: 39

    6

    -

    ss

    .

    377

    .

    .

  • 8/17/2019 002. Marcel Mauss - Uma Categoria Do Espírito Humano a Noção de Pessoa a de Eu

    6/15

    tivo. 0

    potlatch

    vitorioso,

    0

    cobre conquistado, correspondem

    à

    dança

    irnpecavel (cf. ibid., p. j6j) e à possessào bem-sucedida

    ver

    ibid. , p.

    6j8, jOj,

    46j

    etc.).

    Nao

    dispomos de tempo para desenvolver todos esses assuntos. De

    um ponto de vista quase aned6tico, assinalo-vos uma insrituiçao, um ob

    jeto comum

    de

    s

    de

    os Nootka até os Tlingit do norte do Alaska: é 0 uso

    da

    s notaveis mascaras corn portinholas, duplas e mesmo triplas, que

    se

    abrem para r

    ev

    elar os dois

    ou

    trés seres (totens superpostos)

    que

    0 por

    tador da mascara personifica .

    5

    ' Podereis ver l g u m s ~ muito belas, no

    British Museum. E tambérn os famosos

    totem poles,

    os cachimbos em pe

    dr

    a-sabào etc.) t

    odos

    esses objetos que vira ram ago ra mercadoria para

    turistas trazidos

    de

    trem

    ou

    de navio, podem ser assim

    ana li

    sa

    do

    s. Um

    cachirnbo que julgo haida, e ao quaI nào dei antes muita atençao, repre

    senta precisamente um jovem iniciado corn seu chapéu pontudo, apre

    senta

    do par

    seu pai-espirito corn chapéu, portando a orca - e abaixo do

    iniciado, ao quaI estào subordinados em ordem descendente: uma

    certamente sua mae, e a corvo, certamente seu avô (materno).

    o caso i

    mporta

    ntissim o d_s mudanças de nome ao l

    ongo

    da vida -

    sobretudo

    nobr

    e - nao ira nos ocupar; seria preciso ëx-

    por toda

    uma

    rie de fatos

    cur

    iosos de substituiçâo: 0 filho - menor -

    é

    representado

    temporariame

    nt

    e

    par

    seu pai, que recolhe provisor iamente

    0

    espirito do

    avô falecido; e teriamos que fazer aqui toda uma demonstraçâo da pre

    sença, entre os Kwakiutl, da dupla descendéncia uterina e masculina, e

    do sistema das geraç6es alternadas e defasada

    s.

    De resto,

    é

    muito significativo que, entre os Kwakiutl (e seus pa

    rentes mais

    pr6ximos,

    Heitsuk, Be

    ll

    acoola etc .), cada

    mome

    n

    to da vi

    da

    seja nomeado, personificado,

    por

    um novo nome, um novo titulo, da

    criança,

    do

    adolescente,

    do

    adulto (masculino e feminino); a adulw

    também possui um nome

    coma

    guerreiro (na

    ru

    ralmente, nao as mulhe

    res),

    coma

    principe e princesa, coma chefe e chefa, um nome para a

    fes-

    ta que eles oferecem (hornens e mulheres) e para 0 cerimonial particular

    que lhes pertence, para sua idade

    de

    retira, seu nome

    da

    soc i

    eda

    de das

    focas (dos retirados: sem éxtases nem possessoes,

    se

    m responsabilidades

    nem beneficios, exceto os das lembranças do passado);

    enfim,

    sâo no

    meados:

    sua

    soc

    ie  ade secreta na quaI sào

    pr

    otagonistas (urso - fre-

    5. A

    uhima portinhola abre-se, se n50 para a face inteira, ao menos pa ra a boca, e

    na

    maio

    ria das vezes para os olhos e a hoca

    cf.

    id. ibid.: 628, fig. 195).

    378 Noçào de pessoa

    qüente entre as mulheres, que sào represemadas

    par

    seus ho mens o u

    seus

    filhos-.lobo,

    Hamatsé (canibais) erc.). Sào ainda nomeados: a casa

    do chefe (corn seu telhado, vigas. portas, aberturas, decoraçàes, serpen

    te corn dupla cabeça e face), a canoa cerimonia

    l.

    os càes.

    É

    precisa acres

    cemar às listas expostas Ethnology of the Kwakiml  6que os pratos,

    os   o ~ ~ cabres,

    ~ ~ o

    e brasonado, animad

    o,

    faz parte da

    persona

    do

    propnetano

    e

    dafomlüa,

    das

    res

    de seu clà.

    Escolhemos os Kwakiutl , e

    em

    ger

    al

    os îndios do noroesre, porque

    eles represemam os pomos maximos, os excessos que permitem perce

    ber

    m ~ l h o r

    os fatas do que

    la

    onde. nào menas essenciais, estes

    se

    mos

    tram amda pequeno: e nào evoluîdos. Mas convém saber que uma

    gran

    ~ a ~ t dos amencanos da Pradaria , os Sioux em particular, tém

    mstltulçoes semelhames. Assim os \Vinnebago, estudados

    por

    nosso co

    lega Radin. têm justamente essas sé ri es de prenomes determinados por

    clâs famûias , que os repartem segundo uma certa orrl.

    em

    ,

    ma

    s sempre

    p r e c l s m e ~ t e

    segundo uma reparriçào lôgica de atributos ou de forças e

    n.aturezas , baseada no miro de origem do clà. e que fundam ema a capa

    cldade desse ou daquele de assumir seu personagem.

    - . Eis aqui um exemplo dessa

    or

    igem dos nomes de individuos que

    RadIn oferece em detalhe em sua aurobiografia exemplar,

    Cras

    hing

    Thunder

    [ 9

    27

    ]:

    Em

    nosso clà sempre 'lue uma cn'ança ia ser nomeada, era

    meupai

    lue

    0 fatia.

    Eie agora transmitiu

    esse

    direito a

    meu

    irmào.

    o

    criador

    Earthmaker)

    , no prindpio, enviou quatro homens do mundo de

    cima quando eies chegaram a esta terra, tudo a 'lue acomecla cam eies era

    utili{ado.parafa ter nomes pessoais. Foi isso 'lue laSSO

    pai

    nos

    COlltOIl.

    Do

    [a a

    de

    eles l"trem

    de

    cima origil/ou-se 0 nome Vern-de-cima; e coma t'ieram como

    espiritos temos

    0

    lame Homem-espirito. QUQI/do yieram, caiu uma gama, dar'

    os nomes Andando-no-nevoeiro, Vem-no-ne yoe iro, Chuya-miûda.

    Ditem

    'lue

    quando eles yieram para Lago-de-dentro ( l.f7ithin-

    Iake)

    eles descansaram

    junlo

    a

    um arbuslO

    e

    dar' 0

    nome Dobra-o-arbuslo; e como eles descansaram

    jUlltO a um caryaiho, hâ 0 nome Aryore-carva/ho. Como nossos pâssaros vie -

    6 .

    B.oas

    1921:.

    79

     

    -80

    1. 7.

    Ver Radin (/916.

    v:

    246) , para os nom

    es do

    c1à

    do I3Malo,

    e as

    pagmas segulmes. para os oUlros clàs; ver sobrerudo a r

    epaniçào

    dos quarro a seis pr imei

    ros prenomes para os homens e

    0

    mesmo para as mulheres . Ver

    outras

    listas (p. 22.1) que

    datam de DOrSf\· .

    379

    .

    .,

  • 8/17/2019 002. Marcel Mauss - Uma Categoria Do Espírito Humano a Noção de Pessoa a de Eu

    7/15

    ram

    com

    ospdssaros-troviio cemos um nome Pdssaro-trovào, e como esses sào

    os animais que causam trovaes, temos 0 nome Ele-q

    ue

    -trovoa. Temos tamhém

    Anda-com-passadas-poderosas, Treme-a-terra-com-sua-força, Vem-

    com

    venlo-e-granizo Raios-para-todos-os-Iados S6-um-raio Relâmpago, Anda

    nas-nuvens, Ele-com-longas-asas, Alinge-a-arvore.

    Os pâssaros-troviio vieram com cerriveis trovoadas. Tudo sohre a terra, ani

    mais, plantas, cudo

    é

    coherto pela dgua

    da

    chul a. Trovoadas terriveis

    ressoam por wda a parte. De cudo isso um nome foi derivado, e este

    é

    0 meu

    nome: Choque

    -d

    o-troviio [Crash.ng Thunder} .8

    Cada um dos nomes de pâssaro-trovao em que se dividem os diferentes

    momentos do totem trovao, é a nome de um dos antepassados perpetua

    mente

    reencamados.

    (Ternas inclusive

    9

    a historia de du

    as

    reencarnaçôes.)

    Os homens

    qu

    e os reencarnarn sao intermediârios entre 0 animal totê

    mica e a espirito guardiao, de um lado, e as coisas brasonadas e os ri tos

    do

    da

    ou grandes medicamentos  ,de outro. E todos esses nomes e he

    ranças de personalidades sao deter minados par revelaçôes, cujos limites

    o beneficiario conhece antecipadamente, indicados

    par

    sua avo ou pelas

    anci6es:--En contramos-um-pouco-por-toda-a-América

    ;-

    se-nao-es mesmo

    fatos,

    pe

    lo menos

    0

    mesmo gênero de fatos. Poderiamos prosse guir essa

    demons traçao no mundo iroquês, algonquino etc.

    Australia

    Convém volt

    ar por

    um instante a fatas mais sumarios, mais primitivos.

    Duas

    ou três Îndicaçôes dize m respeito à Austrâ

    li

    a.

    Também aqui 0 d a de modo nenh um é representado coma um ser

    inteiramente impessoal, coletivo,

    0

    totem, representado pela espécie ani

    mal e nao pelas individuos - homens, de urn lado, animais, de outro.

     O

    Sob seu

    as

    pecta homem, ele é a frlito das reencarnaçôes dos espiritos

    dispersas e que renascem perpetuamente no d a (isso

    é

    verdade para os

    8. Ver

    0

    mesmo fato, diferentemente disposto, em Radin

    19 16: 194. 9.

    P. Rad in,

    Crashing

    Thunder

    (1927: 41). 1

    .

    Formas de totemismo desse gênero encontram-se

    na A.O.F.

    [Âfrica

    Ocidenlal Francesa1 e na Nigéria,

    0

    numero

    de

    peixes-boi e de crocodilos de um determina

    do

    braço morto de rio correspondendo ao numero de viventes. Noutros lugares, provavel

    mente, os individuos animais sào nomeados como os individuos humanos.

    380 Noçào de pessoa

    Aru nta, os Loritja, os Kakadu

    eIc

    .).

    Me

    smo entre os Arunta e os Lorit

    ja, esses espiritos reencarnam-se corn grande precisào na te rceira gera

    çào (avô-new) e

    na

    quinta, na quai antepassado e trineto sao homôni

    mos. Também aqui se trata de urn truto da descendênc ia uterina cruzada

    corn a masculina. -

    E.

    par exernplo, pode- se estudar na repart içào dos

    nomes por individuos, par clà e classe matrimonial exata (oito classes

    arunta), a relaçao desses nomes corn os ancesrrais eternos) corn os

    r l -

    pa

    sob a forma deles no momento

    da

    concepçao, os fetos e crianças que

    eles engendram a partir des

    se

    dia, e encre os nomes desses

    r l p

    e os

    nomes

    de

    adultos (que

    sao,

    em particular, os das funçôes cumpridas nas

    cerimônias de clà e trillais). A arte de todas essas repartiç6es é nao ape

    nas culminar

    na

    religiào, mas também definir a posiçào do individuo

    em

    seus direitos, seu lugar rama na tribo camo nos ritos.

    Finalmente,

    se,

    par razôes que veremos

    em

    seguida, falei sobretu

    do de sociedades corn ma.scaras permanentes (Zuni, Kwakiutl), convém

    nao esquecer que

    as

    mascaradas tempora

    ria

    s sao, na Austral ia e nOutros

    lugares. simplesmeme cerimônias de ma scar

    as

    nao permanentes. Nelas

    o homem fabrica-se uma perso nalidade sobreposta, verdadeira no casa

    do-rirual,-fingida-no caso do jogo.

    Ma s,

    entre uma pintura faci

    al

    ou cor

    poral e uma vestimema e uma

    ma

    scara,

    ha

    someme uma diferença de

    grau, nenhuma diferença de funçào. Tudo

    re

    sultou, aqui e acola, numa

    represemaçào extatica do antepassado.

    Alias, a presença ou a auséncia da mascara sao antes traças da arbi

    trariedade social, hist6rica, cultural, co ma

    foi

    dito, do que traças funda

    mentais. Assim,

    os

    Kiwai, os Papua da ilha de Kiwai , possuem admira

    veis mascaras, que ri\'alizam até mesmo corn

    as

    dos Tlingit, da Amér

    ica

    do Norte - enquanro seus vizinhos pouco afastados, os Mari

    nd

    -Anim,

    nào têm senao

    uma unica

    ma scara imeirameme simples, ma s realizam

    festas de confrarias e de c1as corn as pessoas enfeiradas da cabeça aos pés,

    tornadas irreconhecÎyeis corn rantos enfeites.

    Concluamos esta primeira parte de nossa demonstraçao. Observa

    se evid e

    nr

    emente que

    um

    imenso conjunto de sociedades chegou

    à

    no

    çâo de personagem, de papel cumprido pelo

    in

    dividuo

    em

    dramas

    sa

    -

    11. Sobre essas très séries de nomes, Hr os quadros genealôgicos A runta) em Slrehlow

    19

    1

    5, Caderno de ilustraçôes. parte V. Podem se r acompanhados corn inleresse os casos dos

    Jerramba (formiga de mel ) e dos

    Mal

    banka (portadores

    do

    nome do ncrôi civîlizaclor e fun

    dador

    do

    clà do gato

    seIYagem)

    que reaparecem varias vezes em genealogias muito scguras.

    ..

     

  • 8/17/2019 002. Marcel Mauss - Uma Categoria Do Espírito Humano a Noção de Pessoa a de Eu

    8/15

    grados, assim como ele desempenha

    um

    papel na vida familiaL A fun

    cào criou a formula e isso desde socîedades muito primirivas até as nos-

     

    sas. - Instituiçôes coma as dos retirados , das focas kwakiutl, ou um

    costume coma

    0

    dos Arunta, que relegam à condiçâo das pessoas incon

    seqüentes aquele que nao consegue mais dançar,

    que perdeu

    seu

    Kaba-

    ra , sao inteiramente tipicas.

    Um outro

    ponto de vista, que apenas mencionarei, é

    0

    da noçao de

    reencarnaçào de um numero determinado de espiritos nomeados, nos

    corpos de um numero dererminado

    de

    indivîduos. -

    No

    entanto,

    B

    e C.

    G Seligmann publicaram corn razao os documentas de Deacon, que ob

    servou 0 fato na Melanésia. Rattray jâ 0 havia observado a proposiro do

    nlOro shantin.

    12

    E vos anuncio que Maupoil descobriu nisso um dos ele

    mentos mais importantes do culto do Fa (Daomé e Nigéria). - Mas dei

    xo

    tu

    do

    isso de lado.

    Pa

    ssemos da noçào de personagem à noçào de pessoa e de Eu .

    I l l A persona Iatina

    Todos sabeis

    0

    quanto é normal , classica, a noçào de persona larina: mas

    cara, mascara tragica, mascara rirual e mascara de ancestral. Ela aparece

    no inicio da civilizaçào latina .

    Quero vos mosrrar de que maneira ela se tornou eferivamente a

    nossa. 0 espaça, os tempos, as diferenças gue separam es sa origem des

    se fim sao consideraveis Evoluço

    es

    e revoluçàes dispàem-se, hisrorica

    mente desta vez, segundo datas precisas, e par causas visiveis que ire

    mas descrever. Essa categoria do espirito vacilou em alguns pontos,

    noutros lançou profundas raizes.

    - - - - -   ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ I _ C - e s m _ c h r r e grandes e amigas sociedades que foram as primei-

    ras a

    tomar

    cansciência dela, duas a inventaram para,

    por

    assim dizer,

    dissolvê-Ia quase definitivamente, ja a partir dos ûltimos séculos gue

    precederam nassa era. 0 exemplo delas é in strutivo: é 0 da fndia bramâ

    nica e budica, e a da China antiga.

    12 Ver

    0

    artigo de Herskovits 19

    3T 287-96.

    Um bom exemplo de r e a p a r e c i m ~ n t o de

    ~ o m ~ s

    em paises bantu

    foi

    assinalado por E.

    \V

    Smith e A. Dale, 19

    20;

    C. G. e B Sebgmann Jamais

    perderam essa questao de vista.

    38 Noçào

    de

    pessoa

    A

    [ndia

    A India pareee-me ter sido a mais antiga das civilizaçôes que teve a no

    çao do individuo, de sua consciéncia, digo eu, do

    Eu ;

    a ahamkara, a

    fabricaçao do eu , é

    0

    nome da consciência individual, aham = eu (é a

    mesma palavra indo-européia que ego . A palavra

    ahamkara

    é evidente

    mente uma palavra técnica, criada por alguma escola de sâbios videntes,

    superiores a todas as ilusôes psicologicas. 0

    samklzya,

    a escola que jus

    tamente deve ter precedido 0 budismo, afirma 0 carater compostO das

    coisas e dos espiritos

    (samklzya

    quer dizer pr ecisamente composiçao),

    considera que

    0

    Eu é algo ilusorio; quant a ao budisma, numa primei

    ra parte de sua historia ) ele decretava ser esse apenas um composta, di

    visîvel, separavel de skandha, e buscava seu aniquilamento no mange.

    1

  • 8/17/2019 002. Marcel Mauss - Uma Categoria Do Espírito Humano a Noção de Pessoa a de Eu

    9/15

    As grandes escolas do bramanismo dos Upani.xades - seguramen

    te anteriores ao

    samkh)'a

    assim como às duas formas ortod oxas do

    Ve

    dama que 0 seguem - partem rodas da liçâo dos '\'identes , até 0 dialo

    go de Vixnu mostrando a verdade a A r j u n a ~ na

    Bhagava d Gita: tat tvam

    asi ,

    0

    que equivale quase a dizer verbalmente em inglês: that thou art

    _ ru

    és

    isso 0 universo). Alias,

    0

    ritual védico posterior e seus comenta

    rios

    ja

    estavam impregnaclos dessa merafisica.

    AChina

    Da

    China, sei apenas 0 que meu coleg a e amigo Marcel Granet consen

    tiu em ensinar-rne. Em nenhum lugar, ainda

    h o j e

    0 individuo, seu ser

    social em particular, é mais levado em coma; em parte alguma ele se

    classifica mais fortement . 0 que nos revelam os

    adm

    iraveis trabalhos

    de Granet é a força e a grandeza, na China a n t i g a ~ de instituiçôes com

    paraveis às do noroeste americano. A ordem dos nascimentos,. a

    h i e r ~ r -

    quia e

    0

    jogo das classes sociais fixam os nomes, a for ma de vlda do 111

    -

    dividuo, sua face , como ainda se diz .

    n6s). Sua individualidade é seu

    ming,

    seu nome. A

    China

    conservOu as

    noçoes arcaicas. Mas, ao mesmo tempo, retirou da individualidade todû

    carater de ser perpétuo e indecomponivel.

    0 nome,

    0

    ming, é um coleti

    vo, é uma coisa vinda de alhures:

    0

    antepassado correspond ente

    0

    usou,

    assim como volta ra a usa -Io

    0

    descend en te do portador. E

    quando se fi-

    losofou sobre

    0

    individuo, quando em certas metafîsicas se tentou expri

    mir a que ele é, foi dito que

    é

    um composta de

    shen

    e de

    kwei

    (ainda dois

    coletivos) nesta vida . Taolsmo e bud ismo tarnhém rocaram nesse pontO,

    e a noçao de pessoa nao se desenvolveu mais.

    Outras naçoes conheceram ou adotaram idéias semelhantes. Sao

    raras as que fizeram da pessoa humana uma entidade completa, ind e

    pendente de qua lquer

    outra

    , exceto

    de

    Deus. A mais important e

    é

    a ro

    mana. A nosso ver,

    foi

    em Roma que essa liltima noçao se forrnou.

    384

    Noçào de pessoa

    IV. A persona

    contrario dos

    hi

    ndus e dos chineses, os rom anos - os lat

    in

    os, melhor

    dlzendo - p a ~ e c e m ser aqueles que estabeleceram parcialmente a noçao

    de e : s ~ a , CUJO nome permaneceu exatamente 0 da palavra latina. Bem

    no InlCIO, samos transportados aos mesmos sisternas de fatos que os an

    teriores, mas ja corn uma forma nova: a pessoa é mais do que um ele

    meoto de organizaçào, mais do que um nome ou

    0

    direito a um persona

    gem e a uma mascara ritual, ela é um fato fundarnental do direito. Ern

    direito, os juristas dizem:

    ha

    somente aspersonae, as res e as actiones: esse

    prindpio ainda governa as

    ~ i v i s ô e ~

    de nossos c6digos . Mas t r a t a

    romano.

    Corn alguma ousadia, eis camo posso conceber essa historia.

    1

    Tuda

    indica que 0 sentido origina l da palavra fosse exc1usivamente masca

    ra . N aturalmente, a exp licaçao dos etimologistas latinos - persona

    vio

    do de

    per/sonare,

    a mascara pela

    (per)

    quaI ressoa a voz (do ator) - foi

    mventada logo em seguida. (Embora se distinga entre persona e persona

    muta, 0

    personagem rnud o do drama e da pantomima .) Na verdade a

    palavra nao parece ser exatamente de origern latina mas sim e t r u s ~ a

    camo outros nomes em

    na

    (Porsenna, Caecina etc.). Meillet e Ernout

    (Dictionnaire t y m ~ l o g i q u e compara

    n

    -na

    à

    palavra mal transrnitida far-

    su,

    e Benvemste dlsse-me que ela pode vir de um empréstimo tomado

    pelos etruscos do grego rrp crwTIov

    (perso) .

    0 faro é que, materialmente,

    1. 0. sociôlogo e 0 historiaclor do DireilO sempre deparam corn 0 obstaculo de nào termos

    p r ~ t l c a m e m e (omes autêmîcas do mais amigo direito: s6 alguns fragmentos

    da

    época dos

    Reis

    ~ u m a )

    e a l g u n ~ t ~ e c h o s da

    Lei das

    Ote

    Tâ/mas,

    c a seguir faros registr ados muiro

    p ~ s [ C n o r m e m e . Do dlrelta romano completa, s6 comcçamos a formar uma idéia

    cena

    atra

    ves

    de texlOs de dircito, devidameme re s

    ti

    ru

    fdos

    ou recuperados, nos séculos

    1II

    e

    Il

    antes

    de

    n o s s ~ era, e mesmo mais tarde. No entamo. precisamos imaginar um passado do Direito e

    da Clda.de. Sobre esta e

    su

    a primeira histôrü . podem ser consultados os livras de Pigan

    io

    l e

    CarcopIno.

  • 8/17/2019 002. Marcel Mauss - Uma Categoria Do Espírito Humano a Noção de Pessoa a de Eu

    10/15 

    mesmo a instituiçào das mascaras, e em particular das mascaras de an

    cestrais, parece ter tido por nûcleo principal a Etrûria.

    Os

    etruscos i-

    nham

    uma civilizaçào de mascaras. Nào ha comparaçao entre a guanri

    clade

    de mascaras de madeira, de terracota -

    as

    de ce ra desapareceram -.

    a guantidade de efîgies de ancestrais adormecidos e sentados gue

    se en

    contraram nas escavaçôes do vasto reino tirre

    no,

    e as encontradas em

    Roma, no Lacio ou na Magna Grécia - alias, em minha

    op

    iniào)em sua

    maior parte

    de

    ratura etrusca,

    Mas, se nao foram os latÎnos

    que

    invemaram a palavra e as institui

    çà

    es, ao menas foram eles que Ihe deram 0 semido primitivo que veio a

    ser

    0

    nosso. Eis agui

    0

    processo.

    Em primeiro Jugar, encontramos neles rraços definidos de

    in

    srirui

    çôes

    do gênero da

    s cerimô

    ni

    as

    de

    clàs, mascara

    s,

    pi

    nt

    uras, em que os

    atores

    se

    enfeitam conforme os nomes que trazem. Ao menos um dos

    grandes riruais da Roma mais antiga corresponde exatamenre ao tipo co

    mum cujas formas descrevemos . É 0 dos

    Hirpi Sorani,

    dos lobos do

    [monte] Soracte (Hirpi

    =

    loba em lingua samnira). lrpini apelfatinomù/e

    l u p l ~

    quem irpum

    dieU/Il

    Samnites; eum enim dueem seeuti agros

    oeeUpa  /è-

    re,

    ensina Festo,

    93,

    2).2

    As pessoas das familias

    que

    portavam esse tÎtulo caminhavam so

    bre carvôes ardentes no sa muario da deusa Feronia, e gozavam de privi

    légias e

    de

    isençào

    de

    impostos.

    Si

    r

    J

    mes Frazer supôs ser

    0

    resta de

    um

    anrigo cIa, transforma do em confra

    ri

    a, que usava nomes, peles e masca

    ras. E mais:

    pa

    rece que estamos aqu i em presença

    do

    miro mesmo

    de

    Roma.

    Aeea Larentia,

    a velha, a mae dos Lares, festejada nas Larenrais

    (dezembro), nao é outra senao 0 indigitamen.tum, 0 nome secreta da

    Loba romana, mae de Rômulo e de Remo (Ovidio,

    Fastes,

    l

    5)

    -SS), 3Um

    clà, danças, mascaras, um nome, nomes, um rirua

    1.

    0 fa te

    ,

    admira, e s t ~

    um pouco dividido em dois elementos: uma confra

    ri

    a que sobrevive,

    um

    mita que relata 0 que precedeu a pr6pria Roma.

    Mas

    os dois formam

    um

    rodo complete. 0 estudo de

    outros

    colégios romanos permi

    ti

    ria

    OUI

    ra

    s

    hip6teses.

    No

    fundo, samnitas, etruscos, latinos ainda viviam na atmos-

    2. Alusào clara a uma

    fo

    rma de 100 em- lobo do deils do Irigo RoggenwolfJ (germ.). A pala.

    vra hirpex or ie;inou herse (cf. Lupatum), Ver Meillel e

    Em

    oul 1931.

    3.

    Ver os comemarios de

    Frazer,

    ad. loc.,

    cf. id. ibid., verso

    4SJ,

    Acca lamemando·se sobre os r

    eslOS

    monais de Remo

    mOrio par Rômulo - Fundaçào das lemuria (resla sinisna dos lêmu res, das aimas dos mor·

    tos sangrentos) - jogo de palavras entre

    Remuria/

    Lemuria.

    386

    Ofao de pessoa

    (edra q.ue

    a ~ a b a m ~ s ~ e i x a r

    personae,

    mâscaras e nomes, direitos indi

    VI

    ualS

    a rItos, pnv Ileglos.

    D

    - d

    d d d

    al

    a no?ao e pessoa hà somente um passo. Ele ta lvez n

    ào

    foi

    a a e

    il,ma

    so vez. Penso que lendas coma a do cônsuI Bruto e seus fi

    lhos, do direito do

    paLer

    de matar seus filhos, seus

    sui,

    u z e ~

    a aqulslçao da

    persona

    pelos fi lhos ainda em vida

    do

    .

    p

    1

    d

    1 b

    . . pal. enso qu

    eare_

    vo

    ta

    a

    pee ,

    0

    pleno dlrelto

    de

    cidadania que adqu

    ir

    iram d . d

    filhos das familias senatoriais _ rodos os memb

    1b

    d- epolS os

    d

    T'

    d ros p e eus

    as gentes

    fOl

    eClslva. l a os os homens

    li

    vres de Roma foram cidada )

    dos

    t .

    os romanos to-

    v ~ r m apersona CIvil ; alguns tornaram-sepersonae re

    li

    giosas '

    al

    u-

    m ~ s

    . m a ~ c a r a s ,

    nomes e rituais permaneceram ligados

    a

    algumas

    : m i ~ a s

    pnv l egladas dos colégios religiosos.

    Um

    Outro costu,me chegou aos mes mos fins,

    0

    dos nomes, reno-

    mes e cognomes. 0 cldadào romano tem di reiro ao nOmen ao p

    e

    ao '

    praenomen

    cognomen,

    que sua

    gens

    lhe atribui. Prenome que traduz

    0

    P

    lo

    a orde d . d ' P r exem-

    , m e naSCl

    me

    nto a antepassado que 0 usou P . S

    d N . n mus, ecun-

    u_s. 0n:

    e

    (nomen - numen) sagrado da gens. Cognomen sobrenome

    _ _ T,nao a p e h d o ~

    par

    exemplo Naso, Cicero etc.

    4

    Um s e n a t u s - ~ o de-

    erm lnou (evlC1entememe aeve ter fiavldo abusos) que =

    -;i

    =

    o

    h

    -:

    a

    ..

    v

    ia=o::.d;éi-'re ic-

    _

    - - - -

    - --

    ta de tomar, de usar

    0

    prenome de Outra

    gens

    que nao a sua

    0 co

    rem

    um h'

    .

    .

    'gnomen

    a Outra lstona, acabou-se

    por conf

    undir eognomen 0 sobreno-

    me

    que se pode usar, corn a

    imago,

    a mâscara de cera moldada sobre a

    face, 0 np6awnov do ances[ral mono e conservado no vestibulo da casa

    : DeverÎamos desem'olver mais essa questào das relaçôes em Roma entre

    I m a g ~ e entre esta e,0

    n o ~ ~ : n o m ~ n , p r a t . n o m e

    e, sobrerudo: cognomen. Nao

    e : ~ : r ~ o t : : e

    =

    ~ a r a

    IS5O.

    A

    e s s ~ a

    e

    condmo,

    stalUS,

    munus. Condùio

    é a posiçào hierarquica (po P

    uapersona Epammondat. 0 segund . r ex. secun-

    da vida civil M , 0 pecsonagem depols de Epaminondas), Slalus é 0 estado

    nado pel . u n ~ sao ~ r g o s e as. honrarias na vida civil e milita r; tudo isso é determi_

    leia

    -se

    n ~ s n ; : ~ s :

    ; r ; ~ : : ; : d : ~ ~ : ~ n , a ~ ~

    pela

    pO,si

    .çào

    f a ~ i l i a r

    a

    classe,

    0

    nascimento.

    fala da

    origem do nome de Augus,o (',"', \ e c ~ m e { n t a n o de SIr

    J.

    G. Frazer, a passagem gue

    .

    v.

    47v' c 1 v 589)

    po

    0

    ..

    q

    uis

    IOmar

    0 ,'orne l

    R 1 '

    . ,.

    ,

    r que tavlO Augusto n50

    e omu 0.

    nem

    e Qu" Q . ,

    preferindo um g . ' , IfIno UI

    tenu

    flO nume , Romulus anU

    fuit

    Encomramos

    af

    t : ~ : e : u m l s : e 0 cara.ler sagrado de :odos os Outras (cf. Frazer,

    ad.

    v. 0 ) ~

    Iho

    d '" teona romana do nome. Asslm também em Virgilio:

    Mar

    celo 0 fi

    e Auguslo, Ja e nomeado no limbo onde seu "Pai" Enéias

    A •   -

    ver-se igual menre a consideraçào do ù ~ / u . r gue

    é

    mencionad 0 ve. - Aqul d e H ~ n a Inscre

    se qu e para ele " 1 0 nesses versos. EmoU me dis-

    '. ) a propna pa avra lem uma origem etrusca. Do meSmo mod _

    gramallcal de "pessoa"u 0, a noçao

    deveria ser cOtlsiderada. q e empregamos alnda, persona (grego np6awrrov, gramaticos),

    .

    ..

    ..

    ,

    ,

    .,.

    '

    f'

  • 8/17/2019 002. Marcel Mauss - Uma Categoria Do Espírito Humano a Noção de Pessoa a de Eu

    11/15

    l

    ,.

    de famîlia. 0 usa dessas mascaras e esta tuas deve ter sida reservado por

    muito tempo às familias

    p a t r î ~ i a s

    e de faro - ainda mais que de direito

    pareee nunca ter se estendido muita na plebe. Sào antes

    usurpador

    es, es

    trangeiros que adotam

    cognomina

    que nào Ihes pertenciam. Alias,

    as

    pa

    lavras cognomen e imago estào, por assim dizer, indissoluvelmenre liga

    das em fôrmulas quase correntes. Agui

    esta

    um dos fatos - em minha

    opiniào, tîpico - de que parti para wdas essas pesquisas,

    e

    que encontrei

    sem procurar. Trata-se de urn indivîduo suspeito, Stalenus, cOntra 0

    quaI

    Cicero

    advoga em favor de Cluentius. Eis a cena. Tum appe/at hi

    lari vu/tu hominem Bu/bus, ut placidissime potest. Quid

    lU

    Înquù, Pae

    te? Hoc

    enim sibi Staienus

    cognomen

    ex

    imaginibus Aeliorum delegerat ne

    sese Ligurem ecisset, nationis magis quam generis Utl cognomine videretur.;

    [Entao, Bilbo chama

    0

    homem de rosto risonho, do

    modo

    mais brando

    possÎvel. E agora tu, Peto*?", diz. Corn efeito, Estaleno** escolhera

    para si este sobrenome, tendo como referência as esta tuas da familia

    Élia, temendo, se se apresentasse coma Ligure, que parecesse usar antes

    o nome de sua naçao do que 0 de sua famllia.] Pa erus é um cognomen dos

    Aelii, ao quaI Staienus, um ligure , nao tinha

    nenhum

    direito, e que ele

    u

    rrrpava-p-ara-esc-

    ondersua

    -nacionalidade e indicar

    uma

    outra

    descen

    dência que nao a sua. Usurpaçao de pessoa, ficçao de pessoa, de tlrulo)

    de filiaçâo.

    Um

    dos mais belos e autênticos documentas, assinado no bronze

    pelo imperador Claudio (assim como nos

    chegaram

    as â ~ u a s de

    ~ 1 1

    ciTa de

    Augusto),

    a Tcibua de

    Lyon

    (anno

    ..j.8 ,

    camendo

    0

    dlscursa

    Im

    perial sobre 0 senatus-consulto de jure hOl1orum Gallis dando, concede

    aos jovens senadores gauleses, recentemente admitidos à curia,

    0

    direi

    ta

    às

    imagens e aos cognomina de seus antepassados .

    Agora

    eles nada

    mais tedo a lamentar.

    Como

    Persicus, meu caro amigo [que fora obri

    gado

    a

    escolher

    esse

    cognome estrangeiro

    .. na falta desse

    s e n â t u ~

    consulto], e que agora pode inter imagines majorum SUOTum Allobroglcl

    nomen legere ('escolher

    seu

    nome

    Allobrogicus

    entre

    as imagens de

    seus ancestrais').

    Até

    0

    fim,

    0

    Senado romano concebeu-se

    camo

    composto par um

    numero determinado de patres que representavam as pessoas, as ima

    gens de seus antepassados.

    5.

    Pro

    C/Ilenlio, 72. * Pe to é nome proprio masculino e, também, adjetivo que significa zaro

    Iho. ** Élio Estaleno Pero, juiz do processo de Opiâncîo tratado no

    Pro

    Cluêncio_ [S

    _

     ]

    388

    Noçào de pessoa

    . A propried ade dos -'I lIu/a

    cra

    e das imagines (Lucrécio, 4,

    29

    6

    ) é 0

    atnbuto

    dapersollna (c

    f.

    Plln

    io

    . 35,43, e

    no

    Digeste, I9 . J.

    '7,

    final).

    Paralelarnenr e. a

    pal

    ana persona, personagem artificial, mascara e

    papel de comédia e de tragedia. representando

    0

    embus e, a hipocris ia

    o . e s ~ r a n h o

    ao :'Eu - P6rossegu ia seu

    c ~ m i n h o :

    Mas a cararer pessoal do

    dlreno estava tundado, e pa;,:ona tambem havla se tarnado sinônimo da

    verdadeira narureza do in

    di

    \-iduo.7

    Par Outra lado, a direiro à persona é fundado. Somente

    0

    escravo

    esta exclufdo dele.

    Servus

    fion

    habet personam.

    Ele nao tem personalida

    de, nào possui seu corpo, nào rem antepassados,

    nome

    coonomen bens

    . Il 0 ,

    propnos. 0 ve

    1

    direito ge rmânico ainda a distingue do homem livre

    Leibeigen, proprierario de seu corpo. Mas, no momento em que os d i r e i ~

    tos dos saxoes e dos suevos sào redigidos, se os servos oao possufam seu

    corpo, ja possuiam uma al ma . que

    0

    cristianismo lhes deu.

    Mas antes chegar ao cristianismo, convém falar de um outro

    e ~ r i q u e c i m e n t o do quai parriciparam nao apenas

    os

    latinos, mas tam

    bem seus colaboradores gr egos. seus mestres e intérpretes . Entre fi l6-

    sofos g r e g ~ s nobres e legi sla dores r o m a n o s

    é

    tQdo_

    um

    _Outra edifîci0 -

    _____

    _

    que se consrruiu.

    6:

    O u t r ~ s exemplos de usurpaçao de pr

    auw

    mina, Sue onio, N ero., 1. 7. Assim Cicero, Ad At -

    lu

    :um, dlz flaluram et pUsol/am meam, e ft rso flam seeluis nOutra parte_

  • 8/17/2019 002. Marcel Mauss - Uma Categoria Do Espírito Humano a Noção de Pessoa a de Eu

    12/15

    v. A pesso

    a:

    fato moral

    Explico: penso que esse trabalho, esse progresso, fo i fei to sobretudo

    corn a ajuda dos est6 icos, cuja moral voluntarista, pessoal, pad ia enr i

    quecer a noçâo romana de pessoa, e mesmQ se enriquecer ao mesmo

    tempo que e nriquecia 0 direito.

    Cre

    io, mas infelizmente possa apenas

    começar a pr ova r, que nao hâ como exagerar a influência das escolas de

    Arenas e de Rodes sobre

    0

    desenvolvimento do pe nsamento moral la i-

    no - e inversamente a influência dos fatos romanos e das necessidades

    da educaçào dos jovens romanos sobre os pensa dores gregos. Po l

    lb

    io e

    Cicero â

    0

    testemunham, assim como Sêneca, Marco Aurélia, Epicteto

    e-outros,nrais-t a

    rde

    -  - -

     

    A

    pa

    lavra

    rr

    poowlIOV tinha claramente 0 mesmo sentido que perso -

    na mascara; mas e is que ela pode rambém significar

    0

    personagem que

    cada um

    é

    e quer ser, seu carater (as duas pal

    avra

    s estao ligadas corn fre

    qüência), a ve rdadeira face . Ela rap idamente adquire, a pa rtir do século

    antes de nossa era,

    0

    sentido de

    persona. Ao

    traduzir exat

    amenteperso-

    na pessoa, direito, ela co nserva ainda um sentido de imagem superpos

    ta; por exemplo, a

    fi

    gura da proa do barco (entre os celtas etc.). Mas sig

    nifica também personalidade humana ou mesmo divina.

    Tudo

    depende

    do contexto. Estende-se a palavra p

    awrrov

    ao individuo em sua natu

    reza nua, ar rancada toda mascara, conservando- se, em contraposiçao,

    0

    semido do artificio:

    0

    sentido

    do

    que é a intimidade dessa pessoa e

    0

    sen

    tido do que é personagem.

    Tudo soar

    â de outro modo entre os clâssicos latinos e g regos da

    mora

    l (século

    II

    a.C. a século

    IV d.C

    .):

    rrpoawT OV

    sera

    tao-som

    ente

    per-

    son e

    0

    que é fundamenta l acrescenta-se cada vez mais um sentido

    moral ao senti

    do

    juridico, um sen tido de ser con scien te, inde pendente,

    1.

    Sobre a moral esroica, tanto quanta estou informado,

    0

    me lhar livra é ainda Bonhafer

    18

    94.

    39

    N

    oçào

    de

    pessoa

    aurônomo, livre, responsâvel. A consciência moral introduz a con scièn

    cia na concepçào juridica do direitO .Às funçàes, honrarias. cargos e di

    reitos, acrescenta-se a pessoa moral consciente. Sou aqui

    raI

    vez mais ou

    sado,

    porém

    mais

    clara

    que BrunschYicg que, em sua

    gran

    de

    obra Le

    Progrès de f conscience [ 927], abordou com freqü ências esses assumos

    (em particular,

    l  

    p. 69-ss). Para mim; as palavras

    qu

    e design am primei

    ro a consciência, depois a consciência ps icol6gica, a O'u\'Ei8'latç _ TO

    auvEIOÔÇ, sào verdadeiramenre est6icas: elas pare-

    cern técnicas e rraduzem nitidamente COJ1ScllLS conscielllia do direito ro

    mano. Pode-se mesmo perceber, entre a antiga

    es

    toicismo e

    0

    da épaca

    greco-latin a,

    0

    progresso, a mudan ça, definirivamente realizada na épo

    ca de Epicteto e de Marco Aurélio. De um senrido primiti\·o de cûmpli

    ce, que viu corn - auvoloE - de testemunha, passa u-se ao sentido da

    consciência do bem e do mal . De usa carrente em a palavra ad

    quire por fim esse sen tido entre os gregos. em Diodoru de Sicîli a, em

    Luciano, em Dionisio de Halicarnasso

    1

    e a consciência de si tornou-se

    0

    apanâgio

    da pessoa moral. Epicteto guarda ainda

    0

    senrido das duas

    imagens sobre as qua is trabalhou essa ci\·ilizaçào, quando escreve 0

    qL e

    _ _ _ _ _

    __

    ._

    Marco Aurélio cita: esculpe tua mascara . impôe teu

    Hpe

    rso

    nagem

    ,

    teu tipo e teu carâter , quando Ihe propunha

    0

    que ve io a se r nosso

    exame de consciênci

    a.

    Renan percebeu a imponância desse momento da

    vida do Espirito.

    Mas a noçào de pessoa carecia ainda de base metafisica segura. É ao

    cristianismo que ela deve esse fundamenro.

    39

    1

    .,

  • 8/17/2019 002. Marcel Mauss - Uma Categoria Do Espírito Humano a Noção de Pessoa a de Eu

    13/15

    VI pessoa crista

    Foram

    os

    cristâos que fizeram

    da

    pessoa moral

    uma ent

    i

    dade

    metafîsica,

    de pois de terem sentido sua força religiosa_N ossa pr6pria noçào de pes

    soa

    humana

    é ainda fundamentalmente a noçào crista. Aq ui, nao farei

    senào seguir 0 excelente livro de Schlossmann (1906).' Este percebeu

    muita

    hem

    - depois de outros, mas

    melhor

    que outras - a passagem

    da

    noçào de

    persona,

    homem

    investido

    de um eSlado, à noçào de homem sim

    plesmente,

    de

    pessoa humana.

    A noçao de pessoa moral ) alias, h

    av

    ia se tornado de tal modo

    clara que,

    jâ nos

    primeiros dias

    de

    nossa era, e antes

    em Roma,

    em rodo

    -Imp

    ér

    io;-ehrse-impunhadnrda-s-:rs-

    p

    a

    licl

    a-

    d-esfittfclas que cl1afua- -

    mûs

    ai

    nda por esse nome depessoas

    morais:

    corporaçôes, fundaçôes re

    ligiosas etc., que passaram a ser pesso as . A palavr a Ttp6awJt?v de:

    signa até nos Processos e Constituiçôes mais recentes.

    Uma un,lversztas

    uma pessoa de pessoas - mas, como

    uma

    cidade, como

    Roma,

    e uma C

    sa,

    uma entidade.

    Magistratus

    gerù

    personam

    ~ i Y ù a t i s diz

    c l a r a ~ e n t e

    cero (De Off., 1, 34). E von Carolsfeld examma e comenta mUlto bem a

    Epistola aos Gâlatas, 3, 28: Jâ nao sois, um [rente ao outro, nem

    j ~ d e u

    nem grego,

    nem

    escravo, nem livre, nem

    hom

    em, n

    em

    mulher, pOIS to

    do s sois um, Elç

    ,em

    Jesus Cristo.

    Estava colocada a questào da unidade da pessoa, da unidade da

    Igreja, em relaçào à unidade de Deus, elç . Ela foiresolv ida apos nume

    rosos debates. É toda a historia da 19reja que se

    na

    preclso reconstltlllr

    aqui (ver Suidas - s. Y e as passagens do famoso Discurso

    da

    Epifania de

    Sao

    Gregorio

    de Nazianza, 39, 630, A). Sao as querelas Trinitâria , Mo

    no jsita, que

    cont

    inu arâo a agitar os espi rÎcos por muito tempo, e que a

    1

    H

    en

    ri Lévy-Bruhl indicou-me

    ha

    bastante temp o esse livro

    e,

    desse modo, facili tou toda

    cssa dcmonstraçào . Ver também a primeira parte do prim eiro volume de M.L.1. von Carols

    [eld. Ces

    clll c/ue der

    Jurislischen Per

    son

    .

    392

    Noçào de

    pessoa

    Igreja resolveu refugiando-se no

    mi

    stério divino, mas rambém corn um a

    firme za e uma clareza deci sivas:

    Unltas

    Ùl

    tres personas, ulla persona in

    duas llalUras - diz definitivamente 0 ConcÎlio de Nicéia . Unidade da s

    três pessoas - da Trindade - e unidade das dua s naturezas do Cristo.

    É

    a partir da noçào de

    UlIO

    que a noçào de

    pessoa

    é criada _ acredico ni sto

    hâ muito tempo - a propôsito das pessoas divinas , mas simultaneamen

    te a propôsito da pessoa humana, subsrância e

    modo

    : corpo e alma,

    consciência e arc.

    2

    Nào comentarei mais nem prolongarei esse estudo teolôgico. Cas

    sio

    dor

    o resume corn precisào :

    persona

    - sUhSlGmia

    rationalis indivl dua

    (Ps VII). A pessoa é uma substância racional indivisîvel,

    individuaP

    Falrava fazer dessa subsrância raciona l individual 0 que ela é ago

    ra, uma consciência e uma categoria.

    Isso

    foi

    a obra

    de um

    longo trabalho dos filoso fo s, que tenho so

    m

    eme

    alguns minuros para descrever.

    4

    2. Ver as notas de Schloss

    mann

    , op.cit.: 6s Ctc.

    3.

    Ver

    0

    CQncurs/ l S de nu sticu s. 4. Sobre essa

    histôria, essa revoluçào da noçào

    de

    unidade, have

    ri

    a ainda muito a dizer. Ver em particular

    02 volume de Progrès de la ConscÎence de Brunschvicg [19

    2

    7J.

    393

    _

    ----- OJ

  • 8/17/2019 002. Marcel Mauss - Uma Categoria Do Espírito Humano a Noção de Pessoa a de Eu

    14/15

    VII. A pessoa, ser psico16gico

    Ao resumir um certo numero de investigaçoes pessoais e inumeras

    opi-

    niàes das quais se pode fazer a historia, escusar

    -m

    e-ao se lanço aqui

    mais idé

    ia

    s do que provas .

    A noçào de pessoa haveria de sofrer ainda um a outra transforma

    çào para

    tarnar-se 0

    que ela se tarllOu hâ menas de urn século e meio,

    a

    categoria do Eu.

    Longe de ser a idéia primordial, inata, claramente ins

    cr

    ita

    desde Adào

    no mais fu ndo de nasso ser,

    ei

    s

    qu

    e ela continua , até

    quase

    0

    nosso tempo, lentamente a edificar-se, a c ar ificar-se, a especifi

    ca r-se a identificar-se co

    rn

    0 conhecimento de si, c orn a consciência

    psi

    co

    I

    6gka

    -  -

    . .

    ..

    __

    T

    odo

    0 longo trabalho da 19reja, das 19re jas, dos te610gos, dos fi

    lôs

    of

    os escolâsticos, dos

    fil

    6so fos do Renascimento - sacudidos pela

    Refo

    rm

    a _, produziu mesmo um

    cer

    to atraso, e obstaculos para criar a

    idéia

    que

    ago ra julgamos clara. A mentalidade de

    nossOs

    antepassados

    até a século XVlI, e mesmo até 0 fina l do século XVIII, é atormentad a pela

    questào de saber se a alma individual é uma suhstância

    ou

    se é sustenta

    da po r um a subsrância - se é a narur eza do homem ou se é apenas uma

    das duas naturezas do homem; se é una e indivisive\ ou divisivel e sepa

    ravel; se é livre, fonte absoluta de açôes, ou se é determinada 'e esta en

    cadeada pa r

    outros

    destinos, po r uma predestinaçao. P

    ergu

    nta-se co

    rn

    ansiedade de

    on

    de ela vern,

    quem

    a criou e

    quem

    a

    dirige

    .

    E,

    no de

    ba

    re

    de seitas, grupos e g randes instituiçoes da Ig reja e das escolas filosOfi

    cas, das universidades em part icular, nao se vai muitO além do resultado

    estabelecido desde 0 século tV de nossa era . -

    0

    concilio de Tr enta pôe

    fim, felizmenre, a polêmicas inûreis sobre a criaçào pessoal de cada alma.

    D e resta, quando se fala d as funçôes precisas da a lma, é ao pensa

    mento ao pensame nto discursivo, cla ro, dedutivo,

    qu

    e

    °

    Ren ascimenta

    .

    e Descartes se dirigem para co mpreender sua natu reza . E es ta que con -

    rém

    °

    evo lucionâ ri o

    Cogito

    e

    rgo

    sumj é

    Ela

    que con stitui a oposiçao es-

      94 Noçào de pessoa

    pinosista da "extensao e

    do

    pensamemo . Apenas uma pa rte da cons

    ciênc ia é considerad

    a.

    Me smo Espinosa

    l

    con servou ainda sobre a imortal idade da alma a

    idéia a

    ntig

    a pu ra. Sabemos gue ele nao crê na subsisrência apos a morte

    de uma outra parte da alma sena a a gue é ani i'na da pela amor intelec

    tua i de Deus .

    No

    fundo, ele repete M

    ai

    mônid es, gue repetia Aristote

    les

    De an.,

    408,

    6

    c

    f.

    430

    a,

    Gen

    an.

    Il,

    3,

    7)6

    b

    .

    Some

    nte a

    al

    ma poéti

    ca pode ser eterna, poi s as duas out ras aimas, a vegetati\'a e a sens itiva,

    estao necessariarnen te ligadas ao ca rpo, e a energia do corpo nao pene

    tra

    no

    voüç . - E, ao mesmo tempo, par uma oposiçào narural que

    Brunschv icgl evidenciou

    bem

    , é Espinosa, melhor

    gue

    Descartes, e m

    e

    lhor

    qu

    e 0 prop rio Leibni z, porque co locou antes de tudo 0 problema

    érico, gue rem a visao mais correra da s re laçoes da consciênc ia indivi

    dual corn as coisas de De us.

    Nao foi entre os cartesianas, mas

    eITI

    OutrOs meios, que

    0

    problema

    da pessoa que é apenas consciência enconrrou sua soluçao. Nao se pode

    ria exagerar a importância

    do

    s movimentos sectarios, duranre os século s

    XVlt

    e sobre a formaçâo dt?j,ensamento polftico e filoséfico. Ne-

    qu

    e se as

    que

    stèes da liberdade ind ividual, da consciê

    n-

    cia individual, do direito de comunicar-se diretamente corn Deus de ser

    um sacerdote para si mesmo, de ter um D eus inrerio r. As noçoes dos

    Ir

    maos Morâvios, d

    os

    puriranos, dos wesleyanos, d

    os

    pietistas, for mam a

    base sobre a quaI se estabelece a naçao: pessoa =

    0

    Eu;

    0

    Eu

    =

    a cons

    ciência -

    gu

    e é sua categoria primordial.

    Tudo

    isso é relativamen te recente. Foi preciso

    que

    Hum e revolu

    cionasse tudo (depois de Berkele

    y,

    qu e havia começado) para dizer que,

    na alma, hav ia apenas

    eSlados de cOflsciéncia

    percepçôes ; mas ele aca

    bava po r hes

    ir

    ar diante da noçao de "Eu ") coma categoria fund amental

    da consciência. Os escoceses aclimataram melhor suas idé ias.

    É

    so mente corn Kant que ela

    adqu

    ire forma

    pr

    ecisa. Kant era pie

    tista, swedenhorguiano, alun o de Tete ns, que foi fi losofo mediocre mas

    psic6 logo e te6logo experientej 0

    Eu

    indivisivel, ele 0 descobria a seu

    1. Élica, Va pan

    e,

    proposiçâo XL. Corolario, pro

    po

    s

    içà

    o XXIII e

    csc

    olio.

    cm

    relaçao

    corn:

    pro

    XXX IX e esc61 i

    o,

    proXXXVII e csc6lio, pro XX IX, pro XXI. A noçào de amor inrelecrual

    vem

    de

    Leâo,

    °

    Hebreu,

    fl

    orentino e plalônico.

    2.

    Op.CiL, 1: 182 -SS. 3. Blo

    nd

    el Jem b

    ra

    -rne 0 interes

    se das

    no

    t

    as

    de Hume , n

    as

    quais este coloca a questào da relaçào consciéncia-eu . En.saio so-

    hre

    0 n t e n d i m e n O

    humano: idemidade pessoal

    1912).

    39,

  • 8/17/2019 002. Marcel Mauss - Uma Categoria Do Espírito Humano a Noção de Pessoa a de Eu

    15/15

    redo r. l\.ant colocou , mas sem solucionâ

    -I a.

    a 'Iuestâo de saber se

    0

    "Eu",

    das leI/

    é uma categoria.

    Entlm. 'Iuem respondeu que todo fata de co nsciência é um fata do

    "Eu ", 'Iuem fundou toda

    ci

    ência e tada açào sobre

    0 Eu ,

    foi Fichte.

    Kant ja ha\'ia feito da con

    sc

    iência individual: do carâtel' sagrado da p

    es

    soa humana. a condiçao

    da

    Ra zào pcatica.

    Foi F i c h

    que fez dela, tam

    bém, a categoria do "Eu", co nd içào da consciència e da ciência, da Ra

    zào Pur

    a.

    Descie entào, a re vo lu çào das mentalidades se completou, temos

    cada um nos

    50 Eu ,

    eco das Declaraçoes dos Dire itos que haviam pre

    cedido Kant e Fichte.

    VII. Conclusao

    De uma simples mascarada

    à

    ma sca ra; de um pe rsonagem a uma pessoa,

    a um nome, a um individuo; deste a um ser corn valor metafisico e moral;

    de uma consciência moral a um se r sagrado; deste a uma forma funda

    mental do pensamento e da açào;

    foi

    assim que

    0

    percurso se realizou.

    Quem

    sa

    be quais se rao ai nda os progressos do Emendimento sobre

    esse ponto? Que Iuzes projetarao sobre esses recentes problemas a psi

    cologia e a sociologia, ja avançadas, mas que devem se des en vol ver ain

    da mais?

    Quem pode mesmo dizer que essa "categoria", que todos aqui

     

    i C B ë < I

    . i U m ) S

    estabelecida, sera-se mpre reconhe-ctdXëO"motà

    l?

    Eia

    56

    -se

    4. Fichte S O-  . Um breve e excelentc re sumo desse

    rexl

    pode

    se

    r lido em Xavier Léon

    19

    21.: 101-09.

    for mou para nos, entre n6 s. Mesmo sua força moral - 0 caraœr sagrado

    da pessoa humana - é questionad a nao apenas por todo um Oriente que

    jamais chegou às nossas ciências,

    ma

    s até mesmo em paises onde esse

    principio foi encontrado. Temos grandes bens a defender, conosco pod e

    desaparecer a Idéia. Nao moralizemos.

    Ma s tampouco especulemos em demasia. Digamos que a antropo

    logia social, a sociologia, a historia nos ensinam a ver como

    0

    pensa

    mento huma no "caminha" (Meyerson); lentamente, através dos tempos

    das sociedades, de seus contatos, de suas mudanças,

    por

    caminhos apa

    rentemente os ma is arriscados, ele consegue articular-se . E trabalhemos

    para mostrar coma é preciso tomar consciência de nos mesmos, para

    aperfeiçoa-Ia, para articula-la ainda mais.

    397