001-John G Paton O Mensageiro de Cristo Aos Canibais

24

description

Missionário de Cristo aos canibais

Transcript of 001-John G Paton O Mensageiro de Cristo Aos Canibais

  • John G. Paton: O Mensageiro de Cristo aos CanibaisTraduzido a partir do orignal em Ingls

    John G. Paton: The Apostle of Christ to the CannibalsCopyright 2015 Eugene M. Harrison

    Primeira Edio em Portugus | Abril de 2015.

    Produo Literria e Grfica

    www.veritasbr.com

    Todos os direitos desta publicao esto diponveis sob a licena Creative Commons Attribution- Non-Commercial- NoDerivs 3.0 Unported License e pertencem a VeritasBR.com. Voc livre para copiar, distribuir e transmitir esta obra, desde que o crdito seja atribudo ao(s) seu(s) autor(es) - mas no de maneira que sugira que este(s) concede(m) qualquer aval a voc ou ao seu uso da obra. Voc no pode utilizar esta obra para finalidades comerciais, nem alterar seu contedo, transforma -lo ou incrementa -lo.

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    5

    John G. Paton:o MensaGeiro de Cristo aos Canibais

    Era a virada do ano de 1861, na ilha de Tana, nas Novas Hbridas. Os missionrios haviam passado o dia levando remdio, comida e gua para os aldees, centenas dos quais tinham sido afetados violentamente com um tipo virulento de sarampo. A maio-ria daqueles que tomaram o medicamento e seguiram as instrues se recuperaram, mas muitos preferiram tentar seus prprios mtodos. Dezenas deles, atormentados pela febre ardente, mergulhavam no mar em busca de alvio e descobriam uma morte quase que instantnea. Outros cavavam buracos na terra, com o comprimento do seu corpo e com vrios metros de profundidade, e deitavam ali, sentindo em seus corpos febris a agradvel terra fria. Neste esforo intil centenas deles morriam, literalmente, em suas prprias covas, e eram enterrados onde estavam.

    noite, os missionrios se ajoelharam na casa da misso e oraram fervorosamente consagrando seu tudo a Cristo e pedindo pela salvao dos canibais entre os quais eles viviam. Eles solenemente entregaram-se a presena protetora de seu Senhor, sem saber que a casa estava cercada por ferozes selvagens armados com paus, pe-dras e mosquetes1, determinados a matar e devorar os estrangeiros cujo Deus - acre-ditavam eles - havia trazido doena, furaces e outros males sobre deles

    Aps o culto, o missionrio mais jovem saiu da porta para ir para a sua prpria casa que era ali perto. Imediatamente ele foi atacado e caiu no cho gritando: Cuidado! Eles esto tentando nos matar! Correndo para a porta, o missionrio mais velho gritou para os selvagens: O Deus Jeov os v e os castigar por tentar matar Seus servos. Dois homens negros balanaram suas pesadas clavas e tentaram atingi-lo, mas erraram, ento todo o grupo fugiu para a selva.

    O homem branco mais jovem estava em um estado to grande de agitao que no conseguiu dormir por dias. Na verdade, seu sistema nervoso ficou to desequilibrado pelo choque do ataque, que sua mente cedeu sob a apreenso de ser morto e comido por selvagens, e em trs semanas ele morreu. O missionrio mais velho j havia so-

    1 - Arma semelhante a uma espingarda porm muito mais pesada, com o cano de at 1,5 metros sobre a culatra de madeira.

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    6

    brevivido muitos desses ataques em sua vida e estava destinado a sobreviver muitos outros. John G. Paton - este era o seu nome - encontrou na presena de seu Senhor o antdoto para o medo, e tambm a certeza de que ele era imortal at que seu trabalho fosse realizado. Durante a crise, ele diz em sua autobiografia, eu me senti calmo e forte de esprito, permanacendo firme confiando plenamente na promessa: Eis que Eu estou convosco todos os dias. Que preciosa promessa! Quantas vezes eu adoro Jesus e me alegro nesta promessa! Bendito seja o Seu nome.

    A preciosa promessa!O segredo de uma alma tranquila!O segredo de um corao alegre!

    A promessa da qual depender!A promessa na qual se pode confiar plenamente!

    Eis que Eu estou convosco at o fim.

    Mateus 28:20 foi o texto que ecoou em todas as constantes mudanas, diversas pro-vaes e grandiosas realizaes da vida de John G. Paton. Este foi o texto sobre o qual David Livingstone disse: Esta a palavra de um cavalheiro de honra e h um motivo para isso. Este um texto que faz histria, porque ele fala de uma maravilho-sa, operante e infalvel presena.

    o texto de John G. Paton Fala de uMa Presena transFiGuradora

    John G. Paton, nasceu em um chal de uma fazenda no muito longe de Dumfries, na Esccia, no dia 24 de maio de 1824. Ele era o mais velho de onze filhos. Depois de passar um breve perodo no ensino fundamental, ele se comprometeu em aprender o ofcio de seu pai - a fabricao de meias. Durante quatorze horas por dia ele trabalha-va em uma das seis mquinas de tecer meias na oficina de seu pai, estudando na maior parte das duas horas dirias de seu intervalo para as refeies.

    John aprendeu primeiramente a doura e maravilha de Mateus 28:20 nas simplici-dades e obrigaes de sua humilde casa escocesa. Em uma passagem extraordina-riamente bela, ele caracterizou seu pai, James Paton, como um homem de piedade singular, o qual costumava ir trs vezes ao dia no quarto de orao e retornava com um brilho no rosto como se tivesse estado no Monte da Transfigurao.

    O mundo exterior pode no saber, mas ns, crianas, sabamos de onde vinha essa feliz luz que sempre raiava no rosto de meu pai: era um reflexo da presena divina, na conscincia da qual ele viveu.

    Sessenta anos mais tarde o filho faz esta eloquente homenagem ao poder das ora-es de seu pai:

    Jamais, em templo ou catedral, na montanha ou no vale, posso esperar sentir que o Senhor Deus esteja to prximo, to visivelmente andando e falando com os homens, do que sob o telhado de palha e vime de carva-lho daquela humilde cabana. Mesmo que todo o resto da religio fosse,

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    7

    por meio de alguma catstrofe inimaginvel, varrido de minha memria, ou apagado de meu entendimento, a minha alma voltaria aquelas cenas do passado e se trancaria mais uma vez naquele Quarto Sagrado, e, ao ouvir os ecos daqueles clamores a Deus, toda a dvida seria removida com o vitorioso apelo: Ele andava com Deus, por que eu no poderia?

    Este homem de orao julgava ser ele mesmo o sacerdote da famlia, cujo dever principal era viver na Shekinah e levar seus filhos para a realidade transfiguradora da Presena Divina. Os filhos de Paton realmente fizeram parte desta herana sagrada e isto indicado pelas palavras de John:

    Quando de joelhos, e todos ns ajoelhados ao seu redor para o culto fami-liar, ele derramava toda a sua alma em lgrimas pela converso do mundo pago ao servio de Jesus e por cada necessidade pessoal e domsti-ca, todos ns sentamos que estvamos na presena do Salvador vivo, e aprendamos a conhec-Lo e am-Lo como nosso Divino Amigo. medida que nos levantvamos, eu costumava olhar para a luz no rosto do meu pai e desejava ser como ele em esprito.

    A luz no rosto do pai - o olhar transfigurado!Conhecer e amar a Ele - a vida transfigurada!

    A presena do Salvador vivo - o Senhor transfigurador!

    No foi um ministro, evangelista ou professor de Escola Dominical, mas o seu prprio pai, que levou John G. Paton para a presena redentora e transfiguradora. Tendo vis-to o texto materializado na majestosa nobreza do carter de seu pai e provado por si mesmo seus incomparveis deleites, ele se lanou em uma carreira que testou at o ltimo grau a validade da promessa, Eis que Eu estou convosco, e descobriu, para sua admirao, as sublimidades de Mateus 28:20.

    o texto Fala de uMa Presena Guiadora

    Quando jovem, John ouviu a voz de seu Senhor dizendo: V atravs dos mares como um mensageiro de meu amor; e eis que Eu estou convosco. Cristo estava o levando para uma esfera mais ampla de trabalho e treinamento, e ele estava determinado a obedecer. Era difcil deixar um lar to feliz, mas finalmente o dia da separao che-gou. Seria cerca de quarenta milhas at Kilmarnock, onde ele iria tomar um trem para Glasgow. A viagem at Kilmarnock teve que ser a p, porque ele no podia se dar ao luxo de viajar de carruagem. Todos os seus bens estavam embrulhados em um gran-de leno, mas ele no viu a si mesmo como um indigente, pois tinha consigo a sua Bblia e seu Senhor.

    Seu pai caminhou com ele as primeiras seis milhas. Os conselhos, lgrimas e conver-sas celestiais [com o seu pai] nessa viagem de despedida nunca foram esquecidos pelo filho. Por fim, os dois ficaram em silncio. O pai levou o chapu na mo e seus longos cachos loiros caram sob seus ombros, enquanto lgrimas quentes corriam livremente e oraes silenciosas ascendiam. Tendo chegado ao local designado para

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    8

    a despedida, eles deram as mos e o pai disse com profunda emoo: Deus te aben-oe, meu filho! Que o Deus de teu pai te faa prosperar e te guarde de todo o mal! Incapaz de dizer mais alguma coisa, seus lbios continuaram movendo-se em orao silenciosa. Em lgrimas eles se abraaram e partiram.

    Aps uma curva, estrada abaixo, John escalou o dique para ver seu pai uma ltima vez e viu que seu pai tambm havia subido o dique ansiando por mais um vislumbre de seu menino. O idoso patriarca olhou em vo, pois seus olhos se escureceram; en-to ele desceu e partiu para casa, com sua cabea ainda descoberta e seu corao oferecendo splicas fervorosas. Em sua autobiografia o filho escreveu:

    Eu o observei atravs das lgrimas que me cegavam, at sua forma desa-parecer de meu olhar; ento, apressei-me em meu caminho, prometendo profundamente e muitas vezes, com a ajuda de Deus, viver e agir de ma-neira tal que nunca afligisse ou desonrasse o pai e a me que Ele me dera.

    Em tempos de dolorosas tentaes nos anos vindouros, a figura de seu pai surgiria perante seus olhos e serviria como um anjo da guarda.

    Durante os anos que se seguiram, ele passou bem ocupado distribuindo folhetos, ensinando em uma escola e trabalhando como missionrio urbano em uma zona de-gradada de Glasgow. Ele percebeu que uma viagem pelo oceano no o transformaria, como por um passe de mgica, em um missionrio, e que ser um missionrio significa, acima de tudo, ser um ganhador de almas; portanto, ele estava constantemente bus-cando ganhar os perdidos ao seu redor. Um daqueles cuja salvao ele buscava era um mdico, o qual era um bbado e um infiel. Depois de fazer amizade com o mdico, ele pediu que o mdico se ajoelhasse e orasse. O mdico respondeu: Eu blasfemo, eu no posso orar. Deixe-me levantar e eu vou amaldioar a Deus na cara dEle. O infiel mpio acabou sendo convertido e viveu uma vida crist radiante. Enquanto prosseguia em seus estudos teolgicos e mdicos, o jovem Paton continua-va a ouvir o lamento dos pagos perecendo nos Mares do Sul. Por dois anos, a Igreja da qual ele era membro, a Igreja Presbiteriana Reformada da Esccia, vinha pedindo por um missionrio que fosse s Novas Hbridas para se juntar ao Rev. John Inglis em seu trabalho naquele lugar cheio de trevas. Quando Paton ofereceu-se para esta misso, o Dr. Bates, secretrio do Comit de Misses aos Pagos2, chorou de alegria.

    Quase todos pensaram que era muito tolo um jovem promissor ir viver entre os desu-manos nativos cruis das ilhas do sul do Pacfico. Um velho homem exclamou:

    - Os canibais! Voc vai ser devorado pelos canibais!

    O jovem nomeado a missionrio respondeu:

    - Mr. Dixon, o senhor j est com uma idade avanada e sua prpria pers-pectiva em breve ser colocado no tmulo para ser comido pelos vermes. Confesso ao senhor que se eu puder apenas viver e morrer servindo e hon-

    2 - Originalmente: Heathen Missions Committee.

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    9

    rando ao Senhor Jesus, no far nenhuma diferena para mim se o meu corpo ser comido por canibais ou por vermes.

    No dia dezesseis de abril de 1858, John G. Paton, acompanhado por sua esposa e pelo Sr. Joseph Copeland, disse adeus formosa Esccia e partiu para o Sul do Pac-fico. Em seu corao, uma cano continuamente entoava, e seu refro, muitas vezes repetido, era: Eis que Eu estou convosco at o fim.

    Eu entreguei o meu futuro ao Senhor Deus de meu pai, certo de que em meu prprio corao eu estava ansioso para servir e seguir o bendito Sal-vador.

    o texto Fala de uMa Presena FortaleCedora

    Depois de parar na ilha de Anatom, onde esforos missionrios j haviam obtido um sinal de sucesso, o jovem escocs e sua esposa desembarcaram em Tana no dia 5 de novembro de 1858, e comearam a construir uma pequena casa em Port Resolution. Foi naqueles dias, naquela ilha puramente canibal, que a f do homem branco em seu texto foi severamente testada. Ele e a Sra. Paton foram cercados por selvagens pintados, os quais eram envoltos nas piores supersties e crueldades do paganis-mo. Os homens e as crianas andavam nus, enquanto as mulheres usavam curtos aventais de grama ou folhas. Assim que eles desembarcaram, viram dezenas de ho-mens armados com penas em seus cabelos tranados e com os rostos pintados de uma forma extremamente grotesca, correndo em grande entusiasmo. Os disparos dos mosquetes no mato por perto e os gritos horrveis dos selvagens, logo deixaram claro que eles estavam envolvidos em um mortal e sangrento combate. No dia seguinte, os missionrios foram informados de que cinco homens tinham sido mortos, cozidos e devorados pelo grupo vitorioso. Naquela noite, o silncio foi quebrado por um choro selvagem e lamuriante, o qual era contnuo e sobrenatural. Paton foi informado que um dos homens feridos por causa da recente batalha, tinha acabado de morrer, e que eles tinham estrangulado a viva a fim de que seu esprito o acompanhasse ao outro mundo e ali o servisse, como tinha feito neste mundo.

    A sina das mulheres nas Novas Hbridas era verdadeiramente deplorvel. Elas eram apenas meras escravas pisadas pelos homens. Elas faziam todo o trabalho duro, en-quanto eles consideravam a luta a sua principal funo. Se ela o ofendesse de alguma maneira, ele iria bater nela tanto quanto desejasse e ningum pensaria em interferir. Havia pouco senso de afeto familiar, uma vez que os idosos que no pudessem traba-lhar morreriam de fome ou seriam violentamente aniquilados.

    Os taneses tinham hostes de dolos de pedra e encantos sagrados, dos quais eles tinham um medo orrendo. Na verdade, sua adorao era, de modo geral, um culto de medo, que tinha como objetivo apaziguar algum esprito mal, para evitar a calamidade ou assegurar a vingana contra algum inimigo. Eles tambm frequentemente oferece-riam presentes aos seus homens sagrados, feiticeiros e bruxas, os quais, acreditavam eles, eram capazes de remover doenas ou caus-las por meio de Nahak ou encan-tamentos.

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    10

    Certo dia, em uma luta, sete homens foram mortos, suas vivas foram estranguladas e todos foram cozidos e servidos em um banquete pelos guerreiros e seus amigos. Quando o cacique Nouka ficou seriamente doente, trs mulheres foram sacrificadas para a sua recuperao.

    Com o seu corao cheio de pavor e piedade, levado quase ao desespero, Paton escreveu:

    Por acaso desisti de meu mui querido trabalho, de meu querido povo de Glasgow e de tantas amizades prazerosas, para consagrar minha vida a essas criaturas degradadas? Seria possvel ensinar-lhes o certo e o errado, cristianiz-los ou ao menos civiliz-los?

    Porm, ele logo foi lembrado, que no tinha aceito esse trabalho por conta prpria e que ele tinha a sua disposio, recursos que estavam a altura at mesmo de um tra-balho to opressivo. Ele diz:

    Estvamos conscientes, que o nosso Senhor Jesus estava perto de ns e que, atravs dEle, ns fomos fortalecidos para qualquer tarefa que Ele havia nos dado ou nos daria.

    Assim, fortalecido e encorajado, ele comeou a falar abertamente aos nativos sobre sua maldade a fim de apont-los, de todas as maneiras possveis, o Cordeiro de Deus, o qual capaz de salvar do pecado, e mostr-los o contraste entre suas depra-vaes e o modo de vida cristo. Sempre que dois grupos estavam prestes a entrar em guerra, ele iria correr entre eles e convoc-los a desistir.

    Como ele era capaz de enfrentar tais perigos em meio a selvagens que eram fren-ticos pelo dio e que clamavam por sangue? Deixe-o responder em suas prprias palavras:

    Minha f me permitiu alcanar e tornar real a promessa: Eis que Eu estou convosco todos os dias. Em Jesus eu me sentia invulnervel. Estes eram os momentos em que eu senti o meu Salvador estar mais verdadeira e conscientemente perto, me inspirando e fortalecendo.

    A f capacitadora!O auxlio invulnervel!

    A promessa indubitvel!A presena fortalecedora!

    Eis que Eu estou convosco todos os dias, at o fim.

    Certa manh, ao alvorecer, Paton saiu e encontrou sua casa cercada por homens ar-mados, murmurando ferozmente que eles tinham vindo para mat-lo de uma vez por todas. No entanto, sendo os porta-vozes inveterados, os taneses tinham desistido de seu plano at que um chefe deu o seguinte discurso:

    Missi, ns amamos os caminhos e prticas de nossos pais, os quais voc

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    11

    e os outros missionrios se opem. Ns matamos o ltimo estrangeiro que vivia em Tana antes de voc chegar aqui. Ns matamos os professores anatomeses e incendiamos suas casas. Agora ns estamos determinados a mat-lo, porque voc est mudando nossos costumes e ns odiamos a adorao a Jeov.

    Sobre isso, Paton escreveu:

    Vendo que eu estava completamente em suas mos, ajoelhei-me e entre-guei-me de corpo e alma ao Senhor Jesus, o que parecia ser minha ltima vez nessa terra.

    Os selvagens ficaram estranhamente quietos, ouvindo a medida que ele, levantando--se, falava do grande amor do Salvador. Por fim eles partiram murmurando que ele ainda seria morto se no deixasse a ilha de uma vez por todas.

    Vrios dias depois, enquanto um grande nmero de nativos estava reunido, um ho-mem correu com seu machado furiosamente para cima de Paton e tentou tirar sua vida. No dia seguinte, um cacique de aparncia cruel, ficou espreitando Paton por quatro horas, frequentemente apontando o mosquete carregado para ele como se fosse atirar. Enquanto oraes silenciosas ascendiam, o missionrio continuava tran-quilamente o seu trabalho. Qual era o segredo deste to nobre esprito? Era o texto e a presena! Ele nos diz:

    A vida em tais circunstncias levou-me a me achegar muito intimamente ao meu Senhor Jesus. Com a minha mo trmula segurava aquela mo que uma vez havia sido pregada no Calvrio, e que agora, empunhava o cetro do universo; a calma e a paz habitavam em minha alma. As prova-es e fugas rpidas fortaleciam minha f e pareciam apenas revigorar-me para as prximas que viriam. Sem essa conscincia permanente da pre-sena e do poder do meu querido Senhor e Salvador, nada mais em todo o mundo poderia ter me preservado de perder a cabea e perecer misera-velmente. Suas palavras: Eis que Eu estou convosco todos os dias, at o fim do mundo3, tornaram-se muito reais para mim, e eu sentia o seu poder me sustentando. Eu tive os meus mais ntimos e queridos vislumbres da face e do sorriso do meu bendito Senhor naqueles pavorosos momentos em que mosquetes, lanas ou machados estavam sendo apontados contra minha vida.

    Assim, atravs de provas de fogo, o missionrio foi aprendendo o divino poder e con-fiabilidade daquelas preciosas palavras: Eis que Eu estou convosco at o fim.

    o texto Fala de uMa Presena Consoladora

    Em meio a tantas experincias terrveis e perigosas, Paton parecia solitrio o sufi-

    3 - Traduo livre. Usado nesta e nas demais ocorrncias.

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    12

    ciente, mas a tristeza mais desoladora de todas ainda estava por vir. Quando ele e a Sra. Paton pousaram em Tana, ambos estavam saudveis e cheios de entusiasmo, uma vez que estavam esperando ter uma vida feliz juntos buscando a salvao de seus depravados companheiros. Trs meses depois, eles tiveram um filho, e seu ex-lio naquela ilha foi transformado em alegria. Mas o xtase logo desapareceu. A febre tropical realizou o seu trabalho mortal, e o missionrio desolado teve que cavar, com suas prprias mos, uma sepultura para sua jovem esposa e seu beb. Ele escreveu:

    Aqueles que j passaram por escurido semelhante, como a da meia--noite, sentem por mim. Fiquei atordoado, e minha mente parecia estar quase indo embora. Eu constru uma parede de coral ao redor do tmulo e cobri o topo com belos corais brancos, quebrados em pequenos pedaos como cascalhos; aquele lugar se tornou meu santurio sagrado e muito fre-quentado durante todos os anos em que, em meio a dificuldades, perigos e mortes, trabalhei para a salvao destes ilhus selvagens.

    Dois dos mais nobres cavaleiros da cruz - David Livingstone e John G. Paton - tinham muito em comum. Ambos eram da Esccia. Ambos saram de l como missionrios. Ambos enfrentaram inmeras mortes e sofreram indescritveis privaes no cumpri-mento de sua misso. Cada um teve por esposa uma garota chamada Mary e a en-terrou com suas prprias mos em uma cova estrangeira. E ambos encontraram sua fora e consolo no mesmo sublime texto - Mateus 28:20.

    Ao lado da cova ainda recente, feita debaixo da rvore Baobab em Shupanga, Livin-gstone clamou:

    No me deixe meu Senhor, nesta minha hora de angstia.

    Sobre o seu Getsmani Paton disse:

    Eu nunca fui completamente abandonado. O Senhor, que sempre mise-ricordioso, me sustentou para colocar o precioso p dos meus entes que-ridos no mesmo sereno tmulo. Mas se no fosse Jesus, e a companhia que Ele me concedeu ali, eu teria enlouquecido e morrido ao lado daquele tmulo solitrio!

    Algumas semanas depois, George Augustus Selwyn, um Bispo pioneiro da Nova Ze-lndia, e James Coleridge Patteson, mais tarde, o bispo mrtir da Melansia, fizeram uma visita oportuna ilha. Seguiu-se uma cena que deve ter causado lgrimas tanto no cu como na terra.

    Estando de p comigo ao lado da sepultura da me e filho, eu chorei em voz alta em seu brao direito, enquanto Patteson soluava silenciosamente sua esquerda. O bom Bispo Selwyn abriu seu corao a Deus em meio a soluos e lgrimas, enquanto colocava suas mos sobre minha cabea e pedia as mais ricas consolaes e bnos celestiais sobre mim e minhas tentativas de trabalho.

    Nunca completamente abandonado! - A presena infalvel.

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    13

    O Senhor me sustentou! - A presena sustentadora.Mas, para Jesus, eu devo ter enlouquecido! - A presena fortalecedora.

    As mais ricas consolaes celestiais! - A presena consoladora.Eis que Eu estou convosco todos os dias, at o fim do mundo.

    O missionrio confiou completamente no texto at o ltimo limite, e as consolaes celestiais acompanharam sua peregrinao.

    Apesar da dor excruciante em seu corao e do desencorajamento por toda parte, Paton continuou sua obra, declarando as riquezas do amor de Cristo enquanto visi-tava aldeia por aldeia. Ele tambm voltou sua ateno para a impresso e traduo, aps converter a lngua forma escrita. Ele tinha uma pequena prensa e uma fonte de tipos4 com ele, e por isso, quando ele traduziu uma parte do Novo Testamento para tans, ele comeou o penoso trabalho de definir a matriz. Finalmente, a primeira folha veio da prensa - o primeiro captulo da Palavra de Deus j impresso em tans! Apesar de ser uma hora da manh, ele gritou de alegria.

    No ano de 1862 uma nova crise surgiu. Centenas de nativos frenticos juraram a mor-te do missionrio sem demora. Nowar, um chefe amigvel, o persuadiu a fugir para a selva coberta pela escurido e se esconder l nos ramos de folhas de uma grande castanheira. Deste abrigo ele viu e ouviu os homens negros batendo nos arbustos em uma busca frentica por ele. Sobre s experincias emocionantes e terrveis daquela noite, Paton escreveu:

    Eu ouvia os disparos consecutivos dos mosquetes e os gritos dos selva-gens. Todavia, eu me sentei l em um dos ramos, seguro nos braos de Jesus! Jamais, em todas as minhas dores, meu Senhor esteve to prximo de mim e falou to suavemente minha alma. Sozinho, mas no s! Se eu fosse um estranho a Jesus e orao, eu certamente teria perdido a cabea, mas meu conforto e alegria vieram da promessa: Eis que Eu estou convosco todos os dias.

    Paton conclui seu relato deste memorvel incidente com uma pergunta que todo co-rao deveria refletir com grandssima seriedade:

    Se desta maneira, voc no tivesse ningum alm de si mesmo, estivesse s, completamente s, no meio da noite, na selva, nos braos da prpria morte; voc teria um Amigo que no o abandonaria ali?

    John G. Paton teve tal Amigo e em Sua presena havia um consolo to abundante quanto sua necessidade.

    o texto Fala de uMa Presena reConFortante

    4 - Tipos eram bloquinhos metlicos, em geral de chumbo, os quais eram esculpidos em rel-evo (com letras, smbolos e tambm reas de espaamento) e organizados em placas que recebiam ento o nome de matriz.

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    14

    Como citado anteriormente, os selvagens de Anatom haviam aceitado o cristianismo com entusiasmo e sinceridade. Na verdade, muitos deles tinham ido adiante para outras ilhas e sofrido muito por amor ao Evangelho e a Cristo - at mesmo o martrio - em uma srie de casos. Vrios dos cristos anatomeses estavam ajudando Paton em seus esforos de evangelizar os taneses.

    Um dia, ele recebeu a notcia de que ele e seus professores anatomeses estavam destinados a serem vtimas de um banquete que os nativos estavam planejando. Eles olhoram pela janela e viram um bando de assassinos armados que se aproximavam. Sabendo que humanamente falando eles estavam sem sada, eles comearam a orar. Por muitas horas eles ouviram os selvagens circulando ao redor da casa, ameaando arrombar a porta ou incendiar o local. Enquanto oravam, seus coraes foram acal-mados com a certeza de que Ele, que era por eles, era maior do que todos os seus inimigos. Paton disse:

    Nossa segurana estava em nosso apelo ao bendito Senhor que nos havia colocado ali, a Quem todo o poder foi dado no cu e na terra. Isso que fora, isto que paz - ter doce comunho com Ele. Eu no posso desejar aos meus leitores nada mais precioso do que isso.

    O invencvel mensageiro da cruz estava pensando em Mateus 28:18-20 e na presen-a reconfortante que este texto concedia a ele: -me dado todo o poder no cu e na terra. Portanto, ide [...] e eis que Eu estou convosco.

    A mo que reconfortou o missionrio deteve o inimigo, e por fim, os assassinos parti-ram sem realizar seu plano.

    Paton mantinha vrias cabras como fonte de produo de leite. Um dia, ele ouviu um balido incomum entre as cabras, como se estivessem sendo mortas ou torturadas. Ele correu para o curral das cabras. Em instantes, um bando de homens armados surgiram do mato, o cercaram e levantaram suas clavas. Ele caiu na armadilha deles! Voc escapou de ns vrias vezes, eles disseram, mas agora ns vamos te matar! Levantando as mos e os olhos para o cu, Paton entregou sua causa ao Senhor de quem ele era servo. Enquanto ele orava, a presena divina o cobriu, seu corao se encheu com uma doce certeza e os canibais foram embora um aps o outro. Assim, afirma o missionrio, Jesus os deteve mais uma vez. Sua promessa real; Ele est com Seus servos, para suport-los e abeno-los, at o fim do mundo!

    A promessa que estava sempre em seus lbios!A presena que estava sempre em seu corao!

    A promessa que o suportou! A presena que o reconfortou!

    Eis que Eu estou convosco at o fim!

    o texto Fala de uMa Presena Protetora

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    15

    Em certa ocasio, quando Paton estava pregando em uma das aldeias, trs homens sagrados se levantaram e declararam que eles poderiam mat-lo por Nahak ou fei-tiaria, se ao menos pudessem obter um pedao de fruta ou comida que ele tivesse comido. Sendo assim desafiado, ele resolveu, com a ajuda de seu Senhor, golpear o tremendo poder maligno exercido pelos feiticeiros. Depois de dar uma mordida em trs ameixas, ele entregou uma para cada um dos homens sagrados. Os nativos fica-ram espantados com sua ao e esperavam v-lo cair morto instantaneamente assim que os feiticeiros prosseguissem com os seus encantamentos. Com muitos gestos e murmrios, eles enrolaram em folhas as trs ameixas, acenderam um fogo sagrado e as queimaram. Evoquem seus deuses para ajud-los, instigou Paton. Eu no estou morto. Na verdade, eu estou perfeitamente bem.

    Por fim, os feiticeiros disseram que iriam chamar todos os homens sagrados e juntos eles iriam matar Missi antes que o prximo sbado chegasse. Paton disse ao povo que iria encontr-los no mesmo local na manh do prximo sbado. Uma grande agi-tao predominou na ilha. Todo dia mensageiros vinham de diferentes lugares pergun-tando se o homem branco estava doente. Sbado pela manh ele apareceu saudvel diante do povo e disse:

    Agora vocs tm que admitir que os seus deuses no tm poder sobre mim e que eu estou protegido pelo Deus vivo e verdadeiro. Ele o nico Deus que pode ouvir e responder as oraes. Ele ama os seres humanos, apesar de sua grande maldade, e ele enviou Seu Filho amado, Jesus, para salvar do pecado todo aquele que nEle crer e O seguir.

    Daquele dia em diante, dois dos homens sagrados passaram a ser bem amigveis, mas os outros eram seus inimigos mortais e incitavam os nativos a inimizade.

    Mais ou menos neste perodo, uma cena sangrenta estava se passando na ilha de Erromanga. No ano de 1839, John Williams e seu jovem companheiro Harris, foram espancados at a morte e comidos pelos erromanganeses. No entanto, com o tempo outros missionrios corajosos tomaram seus lugares. Agora, aps trabalhar quatro anos lealmente, o Sr. e a Sra. Gordon tinham sido espancados e assassinados.

    Quando os taneses ouviram falar deste terrvel ato, eles gritaram uns aos outros: Nosso amor aos erromanganeses! Eles so homens corajosos. Mataram seu Missi e sua esposa enquanto ns s falamos disso!

    Devido aos frequentes ataques contra suas vidas e ao assassinato de um deles, to-dos os professores anatomeses, exceto Abraham, voltaram para a sua ilha. Este caro amigo, um ex-selvagem sedento por sangue, era um verdadeiro heri da cruz. Diante da morte iminente, ele decidiu ficar com o missionrio no posto de dever e de perigo. Enquanto centenas de canibais furiosos gritavam por sua morte, os dois se ajoelha-ram e oraram. Abraham orou:

    Senhor, faz de ns dois fortes para Ti e Sua causa, e se eles nos mata-rem, deixe-nos morrer juntos pela Tua boa obra, assim como Teus servos: Missi Gordon o homem e Missi Gordon a mulher.

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    16

    Os selvagens os cercaram em um crculo mortal e permaneceram incitando uns aos outros para dar o primeiro golpe, ou disparar o primeiro tiro. Logo depois, uma pedra foi jogada com grande fora e raspou o rosto de Abraham. O querido santo j idoso voltou seu olhar para o cu e disse: Missi, eu estava pouco distante de Jesus.

    Paton escreve:

    Naquele terrvel momento, eu vi as prprias palavras de Cristo, como se estivessem esculpidas em letras de fogo sobre as nuvens do cu: E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.

    Enquanto ele estava orando, ele viu o Senhor Jesus pairando por perto, observando a cena, e uma segurana veio a ele, como se uma voz do cu dissesse que nenhum mosquete seria disparado, nenhuma clava seria arremessada, nenhuma lana dei-xaria as mos daquele que estava segurando-a pronta para ser atirada, nenhuma flecha deixaria o arco e nem a pedra os dedos, sem a permisso de Jesus Cristo, que governa toda a natureza e detm at mesmo os selvagens dos Mares do Sul. Como os selvagens foram impedidos de realizar o seu plano assassino? Foi um milagre que emanou da presena protetora de seu Senhor.

    Se algum leitor indaga como eles foram detidos, muito mais indagaria eu se no acreditasse que a mesma mo que impediu os lees de tocarem em Daniel restringiu estes selvagens de me machucarem.

    Para finalizar esse episdio marcante, ele volta pela milsima vez ao texto que era entoado, soluado e bradado em sua peregrinao, durante todos os seus dias. Ele escreve:

    Eu nunca fiquei sem ouvir a promessa em todo o seu poder consolador e suportador, vindo por meio da escurido e da angstia, Eis que Eu estou convosco todos os dias.

    O texto que o suportou!A promessa que o consolou!A presena que o protegeu!

    Eis que Eu estou convosco todos os dias!

    o texto Fala de uMa Presena livradora

    Em diversas ocasies navios chamavam do Port Resolution e o missionrio era ins-tigado a ir embora de navio para sua segurana. Todas as vezes ele tinha recusado, com esperana de que ele ainda poderia ganhar os taneses para Cristo. Mas, final-mente, quando a casa da misso foi arrombada e tudo o que ele tinha foi ou roubado ou destrudo, ele percebeu que ficar mais tempo resultaria no mais terrvel destino - ou seja, ser morto e devorado pelos canibais ou ento morrer de inanio lentamente. Tendo decidido deixar Tana por uma temporada, ele tomou um caminho pelo meio da

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    17

    ilha, em meio a dificuldades indescritveis e inmeros perigos, para a estao da mis-so ocupada pelo Sr. e Sra. Mathieson.

    Desgastado completamente por estar vigiando por tanto tempo e por causa da fadiga, Paton caiu em um sono profundo. Pelas 22:00 seu fiel cozinho, Clutha, a nica coisa que restou de todas as suas posses, veio silenciosamente em cima dele e o acordou. Olhando para fora, ele viu que a casa estava cercada por selvagens, alguns com tochas acesas, o resto armado com vrias armas. Rapidamente eles atearam fogo igreja prxima e, em seguida, cerca de cana que conectava a igreja e a casa. Em poucos minutos a casa, tambm, estaria em chamas, enquanto os homens enfureci-dos esperavam para matar os missionrios que tentassem escapar. Humanamente falando, eles estavam perdidos. Ajoelhados, eles entregaram-se de corpo e alma ao Senhor Jesus, suplicando por Sua presena e Seu prometido livramento: Invoca-me no dia da angstia e Eu te livrarei.

    Abrindo a porta, Paton correu para fora para cortar a cerca de cana. Imediatamente ele foi cercado por um grupo de selvagens que com machados levantados gritavam: Matem-no! Matem-no!. Paton diz: Eles gritavam com raiva, mas o Senhor invisvel os restringiu e me livrou. Fiquei invulnervel sob Seu escudo invisvel.

    A presena do Senhor invisvel!A proteo do escudo invisvel!

    O livramento da presena divina!

    Neste exato momento, um estrondo, um bramido veio do sul. Um enorme tornado de vento e chuva estava se aproximando rapidamente! Se ele tivesse vindo do norte, as chamas da igreja teriam rapidamente atingido e queimado a casa da misso. Em vez disso, o vento soprou as chamas longe da casa e logo uma torrente de chuva come-ou a cair. O terror bateu e os nativos fugiram, gritando: Esta a chuva de Jeov! Verdadeiramente seu Deus est lutando por eles e os ajudando!.

    No entanto seu medo durou pouco. Na manh seguinte, eles voltaram para concluir o ataque sangrento que havia comeado na noite anterior. Com gritos selvagens eles se aproximavam da casa. Neste momento, em meio crescente gritaria e agitao, os missionrios ouviram o grito, Veleiro O! Veleiro O!. Eles estavam com medo de acreditar em seus ouvidos, mas era verdade: uma embarcao estava navegando em direo ao porto justamente quando toda a esperana parecia perdida. Os mission-rios foram logo resgatados e levados para Anatom.

    Em jbilo unimos nossos louvores, verdadeiramente nosso precioso Je-sus tem todo o poder. Muitas vezes, desde ento, chorei por causa de Seu amor e misericrdia por ns naquele livramento.

    Jesus - a fonte de todo o poder!Jesus - a fonte de amor e misericrdia!

    Jesus - o autor de todo livramento!

    Jesus afirmou: -me dado todo o poder, e prometeu: Eis que Eu estou convosco. Com base nas mltiplas experincias milagrosas da vida de John G. Paton, a reivindi-

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    18

    cao e promessa de Cristo foram abundantemente estabelecidas.

    o texto Fala de uMa Presena Provedora

    Em Anatom, Paton pretendia continuar sua traduo da Bblia em tans e depois voltar a Tana assim que o caminho estivesse aberto. Mas, depois de consultar outros missionrios, ele concordou em ir primeiro Austrlia e depois Esccia para desper-tar maior interesse na obra das Novas Hbridas, recrutar novos missionrios e prin-cipalmente, levantar uma grande soma de dinheiro para a construo e manuteno de um veleiro a fim de ajudar os missionrios no trabalho de evangelizao das ilhas. Mais tarde, ele levantou uma soma muito maior com a qual pde construir um navio a vapor para a misso.

    A memria de uma experincia de infncia o encorajou a empreender esta misso.

    Tinha sido um ano difcil. A colheita de batata minguou e as outras colheitas eram pobres. A famlia de Paton, assim como outros camponeses, estava em grande ne-cessidade. Enquanto o pai estava ausente viajando a negcios, tanto a comida quanto o dinheiro tinham sido completamente distribudos. A me confiante levou o assunto ao Senhor em orao e garantiu aos filhos que Ele iria suprir suas necessidades pela manh. No dia seguinte uma cesta de alimentos chegou de uma fonte inesperada. Reunindo as crianas ao seu redor, a me disse:

    Meus queridos filhos, amem seu Pai Celestial. Conte a Ele em orao, com f, todas as suas necessidades, e Ele certamente ir supri-las, at onde isso for para o seu bem e Sua glria.

    Ele cria que o Senhor que tinha guiado, protegido, e livrado ele com tamanha pode-rosa mo durante seus dias em Tana, tambm supriria as necessidades materiais da Misso da mesma forma como Ele tinha suprido as necessidades materiais de sua famlia nos dias de sua juventude. Ele partilhou da mesma confiana tantas vezes expressa por Hudson Taylor: A obra de Deus feita maneira de Deus nunca ficar sem o suprimento de Deus. Em resposta comovente mensagem e apelo de Paton, presentes foram ofertados. Todavia, a maior parte do dinheiro veio de dezenas de milhares de garotos e garotas, que se tornaram acionistas do navio na proporo de uma ao a cada seis centavos5. Ele atribuiu esse sucesso de arrecadao de fundos presena provedora de seu Senhor. O anjo da Sua presena foi diante de mim, ele diz, e maravilhosamente comoveu o seu povo a contribuir.

    o texto Fala de uMa Presena CaPaCitadora

    Enquanto estava na Esccia, Paton se casou com Margaret Whitecross, e juntos na-vegaram para os Mares do Sul. Eles chegaram em Anatom em agosto de 1866, onde

    5 - Originalmente: Six pences.

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    19

    Paton foi informado que o fiel Abraham tinha ido para sua recompensa celestial. Ele havia recebido e apreciado grandemente um relgio de prata que seu amigo missio-nrio tinha lhe enviado da Austrlia. Quando ele estava morrendo, ele disse:

    D isso ao Missi, meu prprio Missi Paton, e diga a ele que tenho de ir a Jesus, onde o tempo est morto.

    O Sr. e a Sra. Paton estabeleceram uma nova base missionria em Aniwa, a ilha mais prxima de Tana, a fim de levar os aniwaneses a Cristo enquanto ele aguardava o dia em que poderia voltar ao local de suas primeiras expectativas e sofrimentos. Eles construram uma casa para si e duas casas para crianas rfs. Mais tarde foram erguidos uma igreja, uma casa de impresso e outros prdios. Eles descobriram que os aniwaneses eram, essencialmente, o mesmo tipo de selvagens que os taneses. As mesmas supersties, as mesmas crueldades canibais e depravaes, a mes-ma mentalidade brbara e a mesma falta de altrusmo e humanitarismo estavam em evidncia. Os pertences dos missionrios eram frequentemente roubados e muitas tentativas foram feitas para mat-los. Todos os tipos de experincias, de comdia tragdia, passaram a ser comuns em suas vidas.

    A princpio, os Patons viviam em uma pequena cabana nativa. Enquanto John estava empenhado em construir uma casa em um lugar mais distante, sua enx escorregou e cortou seu tornozelo gravemente. Ele pediu a alguns dos nativos que o levassem para sua cabana. Quando eles exigiram pagamento, ele mostrou alguns anzis, os quais estavam sendo grandemente requeridos, e deu vrios para um dos homens. Este homem levou-o por uma pequena distncia, colocou-o no cho e fugiu. Um se-gundo homem foi igualmente pago e da mesma forma colocou-o no cho aps poucos passos; depois um terceiro, e outros. Enquanto isso, o paciente sofreu terrivelmente e sangrou profusamente.

    Tendo se recuperado e voltado para a construo da casa, ele percebeu que precisa-va de algumas ferramentas que estavam na cabana. Escrevendo um bilhete sobre um pedao de madeira, ele o entregou a um chefe, chamado Namakei, e pediu-lhe para entregar Sra. Paton. Mas o que voc quer? o velho chefe perguntou admirado. A madeira dir a ela, foi a resposta.

    Namakei pensou que era um tipo estranho de piada, mas fez como solicitado. Sua surpresa no teve limites quando a Sra. Paton enviou exatamente o que o marido queria. O missionrio aproveitou a oportunidade para dizer-lhe sobre a Bblia, atravs da qual ele poderia ouvir Deus falar com ele. Um intenso desejo de ver a Palavra de Deus impressa em sua prpria lngua foi despertado na alma do idoso, levando-o a ser de grande ajuda nessa empreitada e estimulando-o a aprender a ler. Quando, finalmente, a primeira parte da Bblia foi impressa, ele perguntou ansiosamente:

    - Missi, ela pode falar? Por acaso ela fala na minha lngua?

    - Sim, ela fala.

    - Missi, faa ela falar comigo!

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    20

    Paton leu para ele alguns versos e o chefe exclamou alegremente: Ela verdadeira-mente fala! Ela fala na minha lngua! Por favor, d ela para mim. Depois de pressio-n-la ao seu corao, ele a devolveu desapontado dizendo: Missi, ela no vai falar comigo!

    Paton explicou que ele primeiro precisava aprender a ler, ento ele poderia fazer o livro falar. Percebendo que a viso do chefe era fraca, ele encontrou um par de culos que coubessem nele e Namakei chorou de alegria: Eu recuperei a viso que eu tinha quando criana. Missi, faa o livro falar comigo agora!

    Ele recebeu as trs primeiras letras do alfabeto. Ele logo as dominou e correu para o missionrio dizendo: Eu j gravei o A, B, C. Eles esto aqui na minha cabea agora. D-me outros trs.

    Namakei aplicou-se com muita diligncia. Assim que ele pde ler, ele disse ao povo:

    Venham e eu vou deixar vocs saberem como o livro de Deus fala a nossa prpria lngua aniwanesa. Oua estas belas palavras as quais falam porqu o Missi veio morar entre ns, pessoas miserveis, e de seu amigo Jesus, que sempre o acompanha, para fortalec-lo em todos os seus esforos.

    Um pouco hesitante, ele leu as palavras: Ide e fazei discpulos de todas as naes. E eis que Eu estou convosco todos os dias.

    Assim como Nabucodonosor viu a forma de um outro, semelhante ao Filho de Deus, na fornalha ardente com Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, assim os selvagens das Novas Hbridas discerniram que o missionrio no estava sozinho e no dependia de seus prprios recursos.

    o texto Fala de uMa Presena transForMadora

    Atravs de desencorajamento e provas de fogo, os missionrios foram em frente com seu trabalho, sabendo que Aquele que estava com eles era poderoso para salvar e transformar. Assim como Paton testificou:

    No paganismo cada convertido verdadeiro torna-se ao mesmo tempo um missionrio. A vida transformada, brilhando em meio escurido ao redor, o Evangelho em letras maisculas que todos conseguem ler.

    Namakei acabou por ser uma excelente demonstrao da nova criatura em Cristo, embora fosse necessrio um tempo considervel para passar da fase de louvar Jesus para possu-Lo e entroniz-Lo em sua vida. Devido grande escassez de gua em Aniwa e a predominncia de doenas devido ingesto de gua ruim, Paton decidiu cavar um poo. Quando a ideia foi sugerida a Namakei, o velho chefe pensou que o Missi tinha perdido a cabea. Mas o homem branco trabalhou duro, apesar do severo calor do sol tropical, por muitos dias. Quando em certa noite o poo desmoronou, ele, aps muito esforo, o cavou novamente. Namakei tentou persuadi-lo a desistir deste

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    21

    esforo louco e estpido, dizendo-lhe que a gua s vinha de cima e que, se ele des-cobrisse gua, ele iria cair no mar e ser comido por tubares. At que afinal, o homem branco saiu do poo de Jeov com um jarro cheio de gua. Namakei hesitante pegou o jarro, provou a gua e em seguida, gritou :

    Chuva! chuva! O mundo est virado de cabea para baixo desde que o Senhor veio a Aniwa!

    Cautelosamente ele e os outros espreitaram dentro do poo para ver a chuva de Jeov vindo de baixo.

    - Este poo s para voc e sua famlia?, eles perguntaram.

    - No, todos vocs podem vir e beber tanto quanto precisarem.

    Extremamente feliz, o povo saiu correndo para espalhar a notcia. Mas Namakei disse: Missi, posso ajud-lo no culto do prximo sbado? Eu gostaria de pregar um sermo sobre o poo. Missi concordou prontamente.

    Tendo ouvido falar do que estava acontecendo, uma grande multido se reuniu na igreja no sbado seguinte. Namakei entregou uma mensagem poderosa e eloquente, finalizando-a assim:

    Amigos de Aniwa, algo aqui no meu corao me diz que o Deus invisvel existe e que, quando as concentraes de poeiras, que agora cegam meus olhos gastos, forem removidas, vou v-lo algum dia, assim como vimos a gua que tinha a tanto tempo sido invisvel at a sujeira e o coral serem removidos, formando assim o poo. A partir deste dia, meu povo, adorarei o Deus que abriu para ns o poo. Que todo homem que pensa como eu, v agora buscar os deuses de Aniwa para que eles sejam destrudos. Que nos posicionemos pelo Deus Jeov, que enviou o Seu Filho Jesus para morrer por ns a fim de nos levar para o cu.

    Este discurso, juntamente com o exemplo fiel do chefe, levou muitos a deixarem seus dolos pagos e se voltarem ao verdadeiro Deus.

    Depois de muitos pedidos, Namakei conseguiu permisso para ir a Anatom com Pa-ton para participar da reunio anual dos missionrios. Ele j era bem velho e fraco. Na reunio, ele jubilou ao ouvir como pessoas de diversas ilhas estavam aceitando o evangelho e convertendo-se de seus caminhos pagos. Missi, ele disse, eu estou levantando minha cabea como uma rvore. Estou ficando alto com alegria.

    Depois de alguns dias em Anatom, o velho chefe adoeceu enquanto descansava sob a sombra de uma rvore de Banyan.

    Missi, ele sussurrou, eu estou perto de morrer! Diga ao meu povo para seguir agradando Jesus. Missi, deixe-me ouvir suas palavras subindo em orao. Meu querido Missi, eu vou encontr-lo novamente no lar de Jesus.

  • 22

    John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    Essa foi a morte triunfante de algum que uma vez tinha sido um canibal, mas que tinha sido transformado pelo toque do Deus vivo.

    Outro santo, transformado de um selvagem brutal, era Naswai. Ele era professor de uma escola em sua aldeia e era muito zeloso com as coisas de Cristo. Em certa oca-sio, um grupo de pessoas veio de Fotuna para ver por si mesmos o que o evangelho tinha realizado em Aniwa. Naswai deu um forte discurso, no qual ele disse:

    Homens de Fotuna, quando vocs voltarem contem a seu povo como ns de Aniwa temos sido transformados. Quando pagos, ns brigvamos, ma-tvamos e comamos uns aos outros. Ns no tnhamos paz e nem alegria em nossos coraes, lares e terras. Agora o Senhor transformou totalmente nossos perversos coraes e vivemos como irmos, em paz e alegria.

    A filha de Namakei, Litsi , tinha sido treinada desde pequena pelos missionrios. Ela se tornou um nobre exemplo da feminilidade crist. Sendo a filha do chefe mais im-portante da ilha, ela era chamada a rainha de Aniwa. Com o tempo, ela se casou com um homem chamado Mungaw. Em uma noite Mungaw foi baleado e morto por Nasi, um chefe de Tana. Algum tempo depois, Litsi foi para Tana encorajada por uma nobre e santa vingana. Ela foi como missionria para o prprio povo cujo chefe tinha matado seu marido! Outros cristos de Aniwa se juntaram a ela, e eles espalharam o abenoado evangelho naquela terra perversa. Assim, afinal, alguns dos convertidos de Paton de Aniwa estavam levando Cristo aos pobres e degradados povos daquela sangrenta ilha onde ele tinha sido levado muitos anos antes. Assim, suas constantes oraes feitas naquele santurio sagrado onde ele tinha enterrado sua esposa e beb trs meses aps chegar em Tana, estavam sendo respondidas. Ele disse:

    Quando quer que Tana se volte para o Senhor e seja ganha para Cristo, homens encontraro a memria daquele santurio ainda verde. Foi l que eu reivindiquei a Deus a terra em que eu enterrei meus mortos com f e esperana.

    Que f? Que esperana? F na promessa! Esperana no texto! Eis que Eu estou convosco todos os dias. Seguro daquela doce e permanente presena, ele sabia que transformaes poderosas aconteceriam - que selvagens se tornariam santos, assassinos se tornariam missionrios, homens egostas se tornariam servos e todas as moradas de crueldade e perversidade entoariam louvores ao Redentor.

    o texto Fala de uMa Presena CoMPletaMente suFiCiente e inFalvel

    Foi um dia notvel quando Paton finalmente visitou novamente Tana. O velho Nowar, o chefe amigvel, ficou muito feliz em ver ele e Sra. Paton, e os instigou a permanecer. Ele prometeu-lhes comida e proteo. Porm, parecia que ele percebeu que o que ele tinha para oferecer era inadequado e desnecessrio, pois os missionrios tinham uma fonte de poder que era mais forte do que todas as artimanhas e invenes humanas. Ele lembrou inmeros casos em que esta verdade foi demonstrada. Paton relatou:

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    23

    Ento, ele nos levou aos ramos daquela castanheira onde eu tinha me abrigado durante aquela memorvel noite solitria, quando todas as espe-ranas terrenas de um livramento tinham se acabado, e disse a Sra. Paton manifestando genuna emoo, o Deus que protegeu Missi na rvore sem-pre ir proteg-los!

    At mesmo os olhos selvagens eram capazes de ver que o missionrio tinha com ele a presena infalvel de seu Senhor onipotente.

    John G. Paton faleceu com oitenta e trs anos, na Austrlia, no dia 28 de janeiro de 1907. Seu corpo foi sepultado no Cemitrio Boroondara e sobre sua lpida foi gravado o texto que transfigurou todos os seus dias.

    Sobre este texto, seu filho, F. H. Paton, escreveu:

    Em suas conversas privadas e em seus discursos pblicos, meu pai esta-va sempre citando as palavras: Eis que Eu estou convosco todos os dias, como sendo a inspirao de sua tranquilidade, a confiana em tempos de perigo e sua esperana diante das impossibilidades humanas. Isto era to evidente para sua famlia que ns decidimos gravar esse texto em sua l-pide no Cemitrio Boroondara. Para todos ns, este texto parecia resumir o elemento essencial de sua f e a fonte suprema de sua coragem e per-sistncia.

    O texto em seus lbios!O texto em seu corao!O texto sobre sua lpide!

    A inspirao de sua confiana!O elemento essencial da sua f!

    A fonte de sua coragem e persistncia!Eis que Eu estou convosco todos os dias, at o fim!

    At o fim. A ltima frase do segundo volume da autobiografia do grande missionrio esta: Que tenhamos comunho uns com os outros novamente, na presena e glria do Redentor. A presena completamente suficiente e infalvel de seu Senhor esteve com John G. Paton at o fim de sua peregrinao terrena e nas realidades inefveis celestiais. Ele no havia entrado nas terras de um estranho. Ele estava apenas re-novando a amizade que tinha embelezado todos os seus dias. Ele havia entrado na presena e glria do Redentor, onde h deleites eternos.

  • John Paton | O Mensageiro de Cristo aos Canibais

    24