000829410.pdf

download 000829410.pdf

of 41

Transcript of 000829410.pdf

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    INSTITUTO DE BIOCINCIAS

    COMISSO DE GRADUAO EM CINCIAS BIOLGICAS

    Andr Simes Pires

    BIOQUMICA NO LIVRO DIDTICO DE ENSINO MDIO:

    Um distanciamento da realidade do aluno?

    Porto Alegre

    Dezembro/2011

  • Andr Simes Pires

    BIOQUMICA NO LIVRO DIDTICO DE ENSINO MDIO:

    Um distanciamento da realidade do aluno?

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado

    Comisso de Graduao do Curso de Cincias Biolgicas

    Licenciatura da Universidade Federal do Rio Grande do

    Sul, como requisito parcial e obrigatrio para obteno do

    grau de Licenciado em Cincias Biolgicas.

    Orientador: Prof. Dr. Jos Cludio Fonseca Moreira

    Porto Alegre

    Dezembro/2011

  • "Se fosse ensinar a uma criana a beleza da msica

    no comearia com partituras, notas e pautas.

    Ouviramos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria

    sobre os instrumentos que fazem a msica.

    A, encantada com a beleza da msica, ela mesma me pediria

    que lhe ensinasse o mistrio daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.

    Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas so apenas ferramentas

    para a produo da beleza musical. A experincia da beleza tem de vir antes".

    (Rubem Alves)

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente aos meus pais, Irur e Maria Cristina, por serem

    timos exemplos de pessoas e por apoiarem as minhas escolhas profissionais.

    No posso deixar de agradecer tambm aos meus amigos, pelos momentos

    de alegria, conforto, angstias e conquistas que eles me proporcionaram ao longo

    dos nossos (j muitos) anos de convivncia.

    Aos colegas do laboratrio 32 do Departamento de Bioqumica da UFRGS

    agradeo pelo timo ambiente de trabalho, que une bom humor e comprometimento

    com a pesquisa, se tornando assim um lugar agradvel.

    s professoras da banca que aceitaram o meu convite, e que foram fonte de

    inspirao ao longo da parte final da minha graduao: Eunice Kindel, a pessoa

    mais organizada e disposta a ajudar que tive o prazer de conhecer, e Russel Dutra

    da Rosa, um exemplo de pacincia e compreenso.

    Como no poderia deixar de ser, gostaria de agradecer ao meu orientador

    Jos Cludio Fonseca Moreira por me orientar desde o incio da minha faculdade na

    iniciao cientfica, por se aventurar comigo nessa experincia de realizar um

    trabalho de concluso de curso de licenciatura, por tornar a bioqumica uma cincia

    apaixonante e por me ajudar a crescer, sabendo o momento de ser amigo e o

    momento de ser orientador.

    Por fim gostaria de agradecer aos meus alunos do perodo de estgio pelo

    carinho que sempre demonstraram e por me inspirarem, mesmo que indiretamente,

    a realizar este trabalho.

    MUITO OBRIGADO!

  • RESUMO

    Diversos contedos tm sido ensinados de forma descontextualizada dentro

    da rea da biologia, sendo um deles a bioqumica. A bioqumica um dos assuntos

    mais presentes no cotidiano dos alunos, pois compreende diversos processos

    presentes no seu dia a dia. O livro didtico como principal ferramenta utilizada nas

    escolas tem sido cada vez mais aperfeioado graas a programas como o Programa

    Nacional do Livro Didtico (PNLD), porm, a forma como os contedos so

    abordados nele ainda apresenta certo distanciamento da realidade dos alunos. O

    presente trabalho visa analisar como os livros didticos apresentam os contedos de

    bioqumica e como estes so contextualizados na realidade dos alunos pelo mesmo.

    Para isto foram analisados qualitativamente quatro livros didticos de ensino mdio.

    Foi constatada uma baixa presena de exemplos relacionados a conceitos de

    bioqumica nestes livros; um excesso de classificaes; alguns conceitos sem

    definies e a presena de erros conceituais no contedo de bioqumica. Os dados

    analisados nos levaram a concluir que os livros de biologia disponveis no mercado

    tm distanciado a bioqumica do cotidiano do aluno, tornando a mesma um

    apanhado de conceitos e classificaes. Se o livro didtico apresentasse uma maior

    contextualizao da rea, provavelmente haveria um maior interesse dos alunos

    pelo assunto.

    Palavras-chave: Bioqumica. Livro didtico. PNLD. Contextualizao. Cotidiano.

  • SMARIO

    1 INTRODUO ................................................................................................................. 8

    1.1 O Livro Didtico ............................................................................................................. 9

    2 METODOLOGIA ............................................................................................................ 12

    2.1 Livros Utilizados ........................................................................................................... 13

    3 ANLISE DOS LIVROS DIDTICOS ........................................................................ 14

    3.1 Livro A ........................................................................................................................... 14

    3.1.1 Acares ...................................................................................................................... 14

    3.1.2 Gorduras ...................................................................................................................... 15

    3.1.3 Protenas ...................................................................................................................... 16

    3.1.4 Mitocndria e Metabolismo energtico ....................................................................... 17

    3.2 Livro B ........................................................................................................................... 19

    3.2.1 Acares ...................................................................................................................... 19

    3.2.2 Gorduras ...................................................................................................................... 20

    3.2.3 Protenas ...................................................................................................................... 21

    3.2.4 Mitocndria e Metabolismo energtico ....................................................................... 22

    3.3 Livro C ........................................................................................................................... 23

    3.3.1 Acares ...................................................................................................................... 24

    3.3.2 Gorduras ...................................................................................................................... 24

    3.3.3 Protenas ...................................................................................................................... 25

    3.3.4 Mitocndria e Metabolismo energtico ....................................................................... 26

    3.4 Livro D ........................................................................................................................... 27

    3.4.1 Acares ...................................................................................................................... 27

    3.4.2 Gorduras ...................................................................................................................... 28

    3.4.3 Protenas ...................................................................................................................... 29

    3.4.4 Mitocndria e Metabolismo energtico ....................................................................... 29

    4 DISCUSSO .................................................................................................................... 31

    5 CONCLUSES ................................................................................................................ 36

    REFRENCIAS.................................................................................................................. 37

  • 8

    1 INTRODUO

    Todo aluno de graduao de algum curso de licenciatura tem a oportunidade

    de conviver com alunos de escolas, sejam eles de ensino fundamental ou mdio.

    Essa relao discente/docente desenvolvida durante o perodo de estgio

    obrigatrio me trouxe muitas experincias positivas como graduando, porm

    tambm me deixou com muitos questionamentos. A minha principal dvida era se os

    alunos entendiam informaes trabalhadas em sala de aula como algo significativo

    em suas vidas, talvez a resposta esteja nesse pequeno trecho:

    O aluno aprende quando, de alguma forma, o conhecimento se torna significativo para ele, ou seja, quando estabelece relaes substantivas e no arbitrrias entre o que se aprende e o que se j conhece (SALVADOR, 1994 apud DAYRELL, 2006 p. 156).

    O trecho acima reflete um fato que infelizmente no muito comum no atual

    sistema de ensino, a relao que o aluno faz do conhecimento formal aprendido na

    escola com o seu cotidiano, culminando no verdadeiro aprendizado. Muitas matrias

    exigidas no currculo formal das escolas so ensinadas priorizando conceitos que

    para a maioria dos alunos so desconectados da sua realidade, fazendo com que o

    aluno no veja utilidade prtica em tal contedo e no consiga enxergar essa

    mesma utilidade no dito ''mundo real''. Esta afirmao traduzida perfeitamente

    neste pargrafo:

    Complementando esse pensamento, Macedo (2004) destaca que a rea das Cincias Naturais uma rea na qual as questes culturais sempre foram historicamente separadas. Natureza e cultura foram tratadas como opostos por grande parte do pensamento moderno e a escola tem incorporado essa polaridade. Nos currculos escolares, a cincia tende a ser discutida numa perspectiva internalista, com a crena em um ideal cientfico universal e independente da histria de cada civilizao (MACEDO, 2004 apud SILVA; CAVALLET; ALQUINI, 2006 p. 71).

    A falta de correlao dos conceitos com o dia a dia do aluno vai contra o que

    est publicado pelo Ministrio da Educao (MEC) nos Parmetros Curriculares

    Nacionais para o Ensino Mdio (PCNs), que diz que uma das competncias a serem

  • 9

    desenvolvidas pelos alunos a habilidade de utilizar noes e conceitos de biologia

    para interpretar os fenmenos cotidianos. Alm disso, os PCNs mostram que o

    entendimento de fenmenos biolgicos s obtido se houver uma forte relao

    entre os conceitos aprendidos no estudo da biologia, sendo que segundo os prprios

    PCNs uma das principais matrias que pode contribuir para este entendimento a

    bioqumica.

    A bioqumica, que aprendida durante o ensino mdio, uma rea do

    conhecimento to ampla e cotidiana que no deveria estar enclausurada somente

    aos conceitos qumicos sobre o que um monopeptdeo ou um fosfolipdio,

    conhecimento esse que nenhum leigo no assunto consegue relacionar com a

    realidade. A sua riqueza se reflete nos mecanismos pelos quais estas molculas

    agem e se integram ao nosso metabolismo realizando processos, continuamente

    desde o momento em que acordamos at quando estamos dormindo, e que

    viabilizam a vida como conhecemos. Outro ponto a ser ressaltado que devido ao

    fato de a bioqumica ser uma rea biolgica que est em constante processo de

    atualizao, muitas descobertas com aplicaes prticas so consideradas como

    ''curiosidades'' como mostrado no trabalho de Oliveira (2006). Esta falta de

    contextualizao da matria de bioqumica pode fazer com que o aluno no

    considere significativos os contedos relacionados mesma. Deveramos tratar a

    bioqumica como uma cincia de inter-relaes, inter-relaes estas que permitem o

    fluxo de massa e energia entre os seres vivos e entre os seres vivos e o ambiente

    num processo capaz de gerar e sustentar a vida.

    As questes levantadas durante esta introduo nos levam ao seguinte

    questionamento: De onde vem este mtodo de ensino que prioriza conceitos e no

    associaes? A resposta certamente envolver diversos fatores presentes no

    universo escolar, porm talvez fosse interessante nos focarmos em um fator em

    especfico. Esse fator o principal instrumento utilizado para a transmisso de

    contedo escolar, o livro didtico.

    1.1 O Livro Didtico

  • 10

    O livro didtico uma ferramenta amplamente utilizada nas escolas

    brasileiras, pois um guia onde esto compiladas as informaes acerca de

    determinados contedos de uma dada rea do conhecimento. Por isso tem sido

    dado ao livro didtico um papel quase de protagonista na educao, principalmente

    em pases onde a realidade do ensino mais precria, como diz Lajolo (1996):

    Didtico, ento, o livro que vai ser utilizado em aulas e cursos, que provavelmente foi escrito, editado, vendido e comprado, tendo em vista essa utilizao escolar e sistemtica. Sua importncia aumenta ainda mais em pases como o Brasil, onde uma precarssima situao educacional faz com que ele acabe determinando contedos e condicionando estratgias de ensino, marcando, pois, de forma decisiva, o que se ensina e como se ensina o que se ensina (LAJOLO, 1996 pg. 4).

    Por causa de sua importncia no cenrio educacional, principalmente o

    brasileiro, que foram criados programas com o intuito de melhorar a qualidade dos

    livros didticos disponveis no mercado nacional. Entre estes programas podemos

    destacar o Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD).

    O PNLD um programa do governo nacional que tem como objetivos avaliar

    os livros didticos, criando assim um guia dos mesmos, e distribuir estas obras aos

    alunos da rede pblica de ensino brasileira. A partir de 1997 a responsabilidade pelo

    PNLD transferida ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao (FNDE).

    No incio o programa contemplava somente o ensino fundamental, somente a partir

    de 2005 o programa comeou a abranger o ensino mdio (EM).

    Apesar de comear a distribuir livros para o ensino mdio no ano de 2005, os

    livros distribudos eram somente de portugus e matemtica, sendo que os livros de

    biologia s entraram no programa em 2007. Em 2009, houve uma reedio do

    catlogo contendo as obras didticas de biologia e, em 2011, haver uma nova

    escolha dos livros de biologia que sero utilizados a partir de 2012.

    Mesmo que o PNLD tenha melhorado a qualidade dos livros disponveis,

    ainda assim estes livros apresentam conceitos desatualizados sobre diversos

    assuntos da rea de biologia e uma falta de ligao entre reas diferentes do

    conhecimento biolgico como visto no trabalho de Silva Jnior (2008).

    Alm dos conceitos desatualizados, a mdia tambm contribui para que certos

    conhecimentos biolgicos sejam interpretados erroneamente e devido a isto so

    muitas vezes colocados de forma tambm errnea nos livros didticos. Pedrancini

    (2007) mostra que a maioria dos alunos entrevistados em seu trabalho tinha um

  • 11

    conceito altamente miditico acerca do tema transgnico, alm de no conseguirem

    correlacionar como os transgnicos estavam presentes no seu cotidiano.

    Outro problema presente nos livros didticos a idealizao de cincia que o

    mesmo faz. Idealizao essa que distancia cada vez mais a cincia do cotidiano do

    aluno. Fracalanza e Neto (2003) enfatizam:

    Apesar de todos os esforos empreendidos at o momento, ainda no se alterou o tratamento dado ao contedo presente no livro que configura erroneamente o conhecimento cientfico como um produto acabado, elaborado por mentes privilegiadas, desprovidas de interesses poltico-econmicos e ideolgicos, ou seja, que apresenta o conhecimento sempre como verdade absoluta, desvinculado do contexto histrico e sociocultural (FRACALANZA e NETO, 2003 pg.151).

    Essa desvinculao do contexto social, cultural e histrico juntamente com a

    ideia de produto acabado distancia a cincia do aluno.

    Tendo em vista os argumentos discutidos ao longo desta introduo o nosso

    objetivo neste trabalho ser analisar como os livros didticos recomendados pelo

    PNLEM 2009, que ainda valido no ano de 2011, apresentam o contedo de

    bioqumica ao aluno, avaliando-se: a validade cientfica dos conceitos e como estes

    conceitos so transpostos para o cotidiano dos alunos.

  • 12

    2 METODOLOGIA

    Para as anlises foram utilizados quatro livros didticos de Biologia, todos

    indicados no PNLEM 2009 sendo, portanto ainda utilizados nas escolas. A anlise

    se deu de forma qualitativa. Os critrios utilizados para a anlise qualitativa foram os

    seguintes:

    1- O livro apresenta conceitos cientficos vlidos sobre o assunto, sem

    a presena de erros conceituais;

    2- O livro consegue correlacionar o assunto com o cotidiano dos

    alunos atravs de exemplos de fcil associao;

    3- A apresentao dos conceitos se da de forma clara, sem excesso

    de terminologia especfica;

    4- O livro no possui uma influncia miditica sensacionalista na

    abordagem dos assuntos relacionados com a rea de bioqumica.

    Os temas que identificamos como sendo parte da rea de bioqumica foram

    divididos em quatro grandes tpicos, para que as anlises fossem realizadas de

    forma mais dinmica, sendo eles:

    1- Acares

    2- Gorduras

    3- Protenas

    4- Mitocndria e metabolismo energtico

    Durante as anlises foram realizados alguns comentrios sobre outras

    possveis maneiras pelas quais determinados contedos poderiam ser abordados e

    apontados exemplos que os livros poderiam mencionar para correlacionar o

    contedo com o cotidiano do aluno.

  • 13

    2.1 Livros Utilizados

    Todos os livros analisados possuem os tpicos apontados acima e so

    utilizados nas escolas pblicas. Os quatro livros esto relacionados no Quadro 1.

    Livro Nome do livro Autores Edio/Ano Editora

    A Biologia-

    Volume nico.

    Srgio Linhares e

    Fernando Gwandsznadjer.

    1/2005 tica

    B Biologia-

    Volume nico.

    Snia Lopes e Srgio

    Rosso.

    1/2005 Saraiva

    C Biologia-

    Volume um.

    Wilson Roberto Paulino. 1/2005 tica

    D Biologia-

    Volume nico.

    J. Laurence. 1/2005 Nova

    Gerao

    Quadro 1. Livros componentes da amostra

  • 14

    3 ANLISE DOS LIVROS DIDTICOS

    3.1 Livro A

    O primeiro livro aborda os contedos de bioqumica na Unidade II- Citologia,

    onde est inserido o Captulo 2- Os componentes qumicos das clulas e o Captulo

    6- Mitocndrias e respirao celular.

    3.1.1 Acares

    No captulo 2, aps uma breve introduo sobre gua e sais minerais, o livro

    comea a falar sobre os glicdios. Eu considero que seria mais fcil para o

    entendimento do aluno se o ttulo do tpico fosse carboidratos ou acares, j que

    so palavras mais usuais. Estes termos s iro aparecer na metade do tpico. Na

    sequncia abordado onde os glicdios so encontrados, e o livro cumpre bem este

    papel, j que cita muitos alimentos que so fontes de glicdios entre eles o arroz, que

    se encontra presente no dia a dia da maioria dos alunos. Aps esta explanao, o

    livro entra na classificao dos glicdios e na parte de monossacardeos apresenta

    diversas classificaes, porm no faz nenhuma correlao entre as classificaes e

    a utilidade ou presena destes monossacardeos no mundo real como pode ser visto

    a seguir:

    Monossacardeos, acares simples ou oses- So os glicdios mais simples, que no podem ser quebrados pela digesto. De acordo com o nmero de tomos de carbono podem ser: trioses (trs tomos), tetroses (quatro tomos), pentoses (cinco tomos), hexoses (seis tomos); entre estas destacamos trs, presentes em vrios alimentos e que entram na composio de outros glicdios: glicose, frutose e galactose (LINHARES; GEWANDSZNADJER, 2005 p.23).

    A possibilidade de este trecho parecer vago para o aluno muito grande j

    que ele s mostra classificaes e nenhuma aplicao das mesmas. Dentro das

    pentoses ns temos a Ribose e a Desoxirribose, que fazem parte do RNA e do DNA

    respectivamente, o que poderia levar ao entendimento do aluno de porque acares

  • 15

    so to importantes para ns. Apesar da glicose, frutose e galactose serem citadas

    de forma aparentemente desconexa, na sequncia do captulo quando so

    explicados os dissacardeos, de forma muito mais clara que os monossacardeos e

    com exemplos, como o da sacarose que retirada da cana-de-acar, estas

    molculas so retomadas.

    3.1.2 Gorduras

    O subttulo escolhido pelo livro foi lipdios, porm no inicio ele j explica que

    lipdios so gorduras ou leos. Cita tambm alimentos onde podem ser encontrados

    e funes das gorduras, alm de dizer que elas fazem parte de hormnios e

    vitaminas, o que tornou a leitura at ento bem interessante. Na sequncia

    abordada a funo energtica das gorduras de forma geral e simples alm de

    relembrar aos alunos o que uma substncia apolar, que provavelmente eles viram

    na qumica, aplicando essa propriedade aos lipdeos tornando assim este trecho um

    ponto positivo. Passando esta parte comeam as classificaes onde a primeira

    classe abordada a dos glicerdeos. Novamente o livro peca no excesso de termos

    sem correlao com o cotidiano ou explicaes para os mesmos. Ele fala de cidos

    graxos saturados, insaturados e glicerol, porm no mostra nenhum exemplo. A

    manteiga, a banha, o leo de girassol e o leo de soja, usado para se fazer a

    margarina, so alguns dos exemplos de glicerdeos que poderiam ser abordados e

    que muito provavelmente esto presentes na vida da maioria dos alunos.

    A prxima classe a dos cerdeos, onde ao contrario dos glicerdeos o livro

    cita muitos exemplos como a cera das abelhas. Depois dos cerdeos so abordados

    os fosfolipdios, com o texto reproduzido na sequncia:

    Fosfolipdios ou fosfoacilgliceris alm de lcool e cido graxo, possuem cido fosfrico e uma molcula nitrogenada. O cido fosfrico ioniza-se (perde prtons) e adquire carga eltrica negativa; a molcula nitrogenada ganha prtons e adquire carga eltrica positiva. Assim, o fosfolipdio fica com uma regio polar, que se mistura com a gua (regio hidrfila), e outra apolar, que no se mistura com a gua (regio hidrfoba), na qual esto os cidos graxos (figura 2.5); (LINHARES; GEWANDSZNADJER, 2005 p.25).

  • 16

    O livro nos d uma abordagem essencialmente qumica esquecendo o papel

    fundamental dos fosfolipdios, um dos principais componentes da membrana

    plasmtica. Esta explicao acerca de afinidade ou no com a gua faria sentido no

    contexto da membrana plasmtica, porm colocada desta forma ela perde o seu

    sentido.

    Por fim so abordados os esteroides onde so citados os corticosteroides

    (apesar de no conter nenhum exemplo de corticosteroides), o colesterol (que

    depois abordado na caixa de texto Colesterol E Gordura Trans. p.26) e a vitamina

    D.

    3.1.3 Protenas

    A abordagem deste tema comea com uma introduo sobre o que so as

    protenas e j parte para o conceito sobre o que so os aminocidos. Dentro da

    parte de aminocidos, explicado que eles so os compostos orgnicos que

    formam as protenas e tambm mostrada a estrutura qumica dos aminocidos.

    Tambm citada a impossibilidade dos animais de sintetizarem todos os

    aminocidos necessrios para a sua vida, sendo assim necessrio o consumo dos

    aminocidos essenciais pela dieta. O livro aborda a dieta de aminocidos da

    seguinte forma:

    Alimentos de origem animal, como carne, leite, queijo, peixe e ovos, possuem protenas de alta qualidade, isto , possuem todos os aminocidos essenciais em boa quantidade. Entre os vegetais, as leguminosas, como o feijo, a soja, a ervilha e a lentilha, tm boa qualidade de protena (LINHARES; GEWANDSZNADJER, 2005 p. 27).

    Apesar de citar fontes de aminocidos, acredito que o livro poderia ir mais

    afundo neste tema, contextualizando os mesmos com os erros inatos do

    metabolismo. O livro poderia abordar, por exemplo, o teste do pezinho, que o

    exame realizado nas crianas logo aps o nascimento para diagnstico de

    fenilcetonria, uma doena caracterizada pela incapacidade de converter o

    aminocido fenilalanina em tirosina, que com a falta de tratamento adequado leva o

    indivduo a ter convulses e um atraso do desenvolvimento motor. Este tema

  • 17

    interessante, pois conseguiria transpor o tema protenas para a realidade de jovens

    gestantes. Poderia tambm abordar alimentos que no contm fenilalanina, pois a

    mesma esta diretamente ligada fenilcetonria.

    Na sequncia do tpico protenas, o livro comea a abordar as caractersticas

    estruturais das protenas, passando por estrutura primria, secundria, terciria e

    quaternria. Apesar deste tema no ser muito fcil de contextualizar, o livro utiliza

    muitos termos tcnicos sem explicaes para os mesmos, e no momento em que se

    fala de desnaturao, que seria a parte mais palpvel aos alunos, o livro explica o

    conceito de forma muito terica sem sequer dar um nico exemplo de desnaturao

    no texto, como o ovo quando frito ou o alisamento capilar, que muito utilizado

    pelas meninas que esto no ensino mdio.

    A parte final do captulo dedicada s enzimas, onde explicada a funo

    das enzimas sendo esta a nica parte clara deste subtpico j que o resto do

    mesmo dedicado a explicaes tcnicas acerca do funcionamento das enzimas.

    Antes de acabar o captulo dado um quadro com vitaminas, suas fontes, as

    principais funes e o que ocorre quando h uma deficincia das mesmas.

    3.1.4 Mitocndria e Metabolismo energtico

    O captulo 6 comea com a explicao da teoria endossimbitica das

    mitocndrias, e tambm mostrando as divises estruturais da mitocndria de forma

    bem resumida. Ele cita tambm que as mitocndrias possuem DNA prprio, o que

    pode servir de tema para discusses em sala de aula se abordado de uma forma

    mais evolutiva.

    Passando para a parte de respirao celular o livro explica como o oxignio

    reage com outras molculas do nosso corpo para a produo de energia, o que

    pode ser bem interessante j que o aluno raramente enxerga o oxignio como parte

    do nosso metabolismo energtico. Porm ao invs de continuar nessa linha e aos

    poucos adicionar novos elementos como o ATP o livro comea a utilizar uma

    enxurrada de termos tcnicos e nomes de enzimas e coenzimas como NAD, FAD,

    desidrogenases e descarboxilases sem fazer a ligao com a respirao.

  • 18

    O prximo tpico abordado a gliclise, onde explicado de forma bem

    resumida como os alimentos que consumimos diariamente entram no metabolismo

    energtico, explicando tambm que o ATP a moeda de troca da clula em

    questes de energia. Apesar de bem escrito, antes deste tpico deveria haver um

    item citando anabolismo e catabolismo e que o organismo vivo poderia ser citado

    como um processador de massa e energia, sendo o metabolismo a maneira pela

    qual isto ocorre. A eficincia destes processos seria coordenada pelo perfeito

    funcionamento das enzimas.

    Dando sequncia ao captulo, o ciclo do cido tricarboxlico abordado. Aps

    uma srie de reaes qumicas iniciais, que poderiam ter sido abordadas de forma

    mais biolgica e menos qumica o livro diz que as protenas e os lipdios tambm

    participam do ciclo do cido tricarboxlico. Essa informao seria interessante se

    fosse aprofundada, pois ao longo do captulo parecia que somente os carboidratos

    eram energeticamente teis, e as protenas e lipdios no. Com essa informao o

    aluno poderia perceber que tudo que consumido no seu recreio lhe ser til para

    manter o seu corpo ativo, porm o problema que no dito como essas protenas

    e os lipdios entram no ciclo do cido tricarboxlico. Seria interessante tambm, se o

    ciclo fosse citado como um ponto de juno do catabolismo e do anabolismo,

    permitindo que as mesmas reaes fossem usadas tanto na conservao de energia

    quanto na biossntese das partes formadoras do corpo (clulas).

    O prximo tpico a ser abordado o da fermentao. O primeiro exemplo de

    fermentao o da bactria que causa o ttano. Com tantos exemplos dirios de

    fermentao como o fungo utilizado para fazer po, o livro prefere utilizar o ttano,

    associando assim fermentao com algo nocivo. Apesar de ter um quadro de texto

    falando sobre bebidas alcolicas e po mais no final do captulo a primeira

    impresso que o aluno tem de fermentao o ttano.

    Cabe ressaltar um quadro de texto neste captulo denominado Radicais Livres

    e Respirao Celular que ser reproduzido a seguir:

    Na respirao celular produzido um pouco de radicais livres (tomos ou molculas com eltrons livres e capazes de se ligarem a outros tomos ou molculas) que podem danificar partes da clula. Em caso de alguma doena ou no envelhecimento, essa produo pode aumentar. Alguns cientistas acham que vitaminas antioxidantes (C, E e betacaroteno) podem ajudar a neutralizar o excesso de radicais livres, mas ainda so necessrios maiores estudos para esclarecer essa questo (LINHARES; GEWANDSZNADJER, 2005 p. 71).

  • 19

    O tema muito atual e interessante, mas a abordagem completamente

    miditica, como miditica eu me refiro quela espcie de mdia sensacionalista que

    distorce ou manipula as informaes cientficas, e desprovida de conhecimento

    cientfico. Os radicais livres esto sim envolvidos em doenas e envelhecimento,

    porm eles tambm tm papis fisiolgicos importantes. Podemos citar a contrao

    e relaxamento muscular, o combate a bactrias patognicas e a sinalizao celular

    entre diversas outras funes. Quando falado dos antioxidantes, como a vitamina

    A, o livro esquece-se de mencionar que quando consumidos em excesso podem se

    tornar pr-oxidantes, sendo que diversos grupos de pesquisa, entre eles o nosso, j

    demonstraram isto.

    Ao trmino do captulo mencionada a fermentao ltica no msculo

    durante o exerccio, que um tema muito importante e que o aluno vivencia durante

    a educao fsica e seu tempo de lazer.

    3.2 Livro B

    O segundo livro traz o contedo relacionado bioqumica dentro da Parte 2-

    Citologia nos captulos 4- A base qumica da vida I, 5- a base qumica da vida II e 9-

    Metabolismo energtico II- Fermentao e respirao.

    3.2.1 Acares

    Aps uma introduo muito parecida com o livro anterior sobre o papel da

    gua e sais minerais nos seres vivos, o livro comea a abordar o contedo de

    acares. O tpico denominado carboidratos, que eu considero mais adequado do

    que glicdios para fins de introduo buscando o entendimento do aluno sobre o que

    ser ministrado. Apesar da boa introduo sobre o que so os carboidratos e suas

    principais funes, o fato de carboidratos e acares serem a mesma coisa s

    citado durante as classificaes dos grupos de carboidratos.

  • 20

    Passando para as classificaes, o primeiro grupo a ser abordado o dos

    monossacardeos. O primeiro aspecto a ser mencionado dos mesmos o fato de

    eles serem imediatamente aproveitados como fonte de energia pelos organismos.

    Acredito que seja interessante comear o tpico abordando o papel dos

    monossacardeos ao invs de ir direto para as classificaes como o livro fez, porm

    quando o livro chega na parte de classificaes, ele peca por dar a classificao

    qumica dos diversos monossacardeos sem exemplos palpveis dos mesmos, o

    que provavelmente far com que o aluno pense que est em uma aula de qumica

    sem nenhuma parte biolgica. Somente no final so citadas a glicose, frutose e

    galactose como fontes energticas para os seres vivos.

    O prximo grupo a ser abordado o dos dissacardeos. A explicao sobre o

    papel dos dissacardeos deveras curta, focando principalmente na sacarose,

    lactose e maltose. interessante ressaltar que o exemplo de sacarose dado pelo

    livro o do acar da cana. De fato a sacarose o principal acar na cana, porm

    ela muito mais conhecida por ser o acar de mesa. No caso do Brasil o acar de

    mesa vem principalmente da cana de acar, porm na Europa vem da beterraba e

    o que essas duas plantas tm em comum que ambas so utilizadas para fazer

    acar de mesa, que a sacarose. Se ao invs de dar um exemplo como o da cana

    o livro explicasse que o acar consumido no dia-a-dia pode vir de diversas fontes,

    porm continuar sendo sacarose, acredito que este contedo seria muito mais

    slido para o aluno.

    Para terminar o contedo de acares so abordados os polissacardeos, so

    explicadas brevemente as suas funes estruturais e energticas e citados alguns

    exemplos como a sacarose extrada da cana-de-acar.

    3.2.2 Gorduras

    Aps uma brevssima introduo sobre o que so lipdios, o livro entra nas

    classificaes das gorduras, dividindo-as em: Triglicerdeos; Fosfolipdios e

    Esteroides. O tpico triglicerdeos iniciado abordando a composio qumica dos

    mesmos, porm o livro se mostra muito bem conectado ao aluno no que diz respeito

    a este tpico j que faz uma discusso rica sobre onde encontrar triglicerdeos na

  • 21

    dieta e tambm da necessidade de consumo dos mesmos para obtermos cidos

    graxos essenciais.

    A parte de fosfolipdios tambm muito bem escrita, pois se foca pouco na

    composio qumica dos mesmos, dando mais ateno ao seu papel na membrana

    plasmtica.

    A parte final do captulo fica a cargo dos esteroides. O livro se foca

    principalmente no colesterol, ressaltando as funes do HDL e LDL, porm se

    esquece de outros esteroides que tambm esto presentes no dia-a-dia dos alunos.

    O fato de muitos hormnios produzidos pelo nosso corpo serem esteroides sequer

    citado. Creio que poderia ser interessante dar exemplos de alguns hormnios e suas

    funes fisiolgicas para que o aluno no associe esteroides a colesterol somente.

    Tambm seria interessante se dentro deste assunto o livro abordasse o tema

    catabolismo. Outro tema relacionado aos esteroides que considero relevante a

    questo dos anabolizantes. O livro poderia abordar o fato de muitos anabolizantes

    serem esteroides, o seu efeito no corpo do usurio e os riscos que os anabolizantes

    trazem sade do usurio. Este assunto extremamente relevante e usual em

    muitas academias, que muitas vezes so frequentadas por alunos de ensino mdio.

    A abordagem deste tema certamente seria de interesse dos alunos e poderia levar a

    uma conscientizao dos mesmos no que tange a um assunto muito comentado,

    mas raramente explicado.

    3.2.3 Protenas

    O contedo de protenas se encontra no captulo 5- A base qumica da vida II.

    Antes mesmo de explicar o que so protenas o livro diz que comear o seu estudo

    pelos aminocidos. No h nada de muito diferente do livro anterior no que tange a

    este contedo, somente que este livro d mais nfase parte qumica dos

    aminocidos e no final cita que existem alimentos como a carne e o leite que contm

    todos os aminocidos essenciais. Novamente parece haver uma correlao de

    aminocidos somente com produtos de origem animal.

    Passando para a parte de protenas, o livro comea com uma introduo

    explicando o que so protenas e citando diversas protenas presentes no corpo

  • 22

    humano. Depois destes exemplos so abordadas as caractersticas estruturais das

    protenas de forma bem resumida, me chamando a ateno o tpico relacionado

    desnaturao das protenas que se encontra reproduzido a seguir:

    Alteraes na forma das protenas podem ser causadas por outros fatores como altas temperaturas. Nesses casos fala-se em desnaturao da protena, que se torna inativa. A desnaturao pode ser reversvel, com a volta do meio s condies naturais. Em outros casos, no entanto, um processo irreversvel, como acontece com a albumina da clara de ovo: com o aquecimento, a albumina sofre desnaturao, e a clara endurece; aps o resfriamento a clara no volta a se liquefazer (LOPES; ROSSO, 2005 p. 94).

    Chamo ateno paro o fato de o livro citar um exemplo de desnaturao

    irreversvel, porm no cita nenhum exemplo de desnaturao reversvel. Um

    exemplo de desnaturao reversvel que pode ser facilmente associado pelos alunos

    o alisamento capilar ou a popular chapinha. Tambm poderia ser abordado o

    porqu de no podermos ter uma febre muito elevada, j que a mesma causaria

    desnaturao de protenas do nosso corpo vitais nossa sobrevivncia. Como no

    livro anterior, os erros inatos do metabolismo no so citados, que um tema que

    tambm poderia ser facilmente contextualizado com a desnaturao de protenas, j

    que na maioria dos erros inatos existem enzimas no funcionais.

    Ao final do captulo o tema enzimas abordado, onde h um foco maior em

    como as enzimas funcionam e fatores que alteram o seu funcionamento. Dentro

    deste assunto seria outra boa oportunidade para falar de controle da temperatura

    corporal, porm o mesmo nem sequer citado.

    3.2.4 Mitocndria e Metabolismo energtico

    O captulo comea com uma breve explanao sobre as diferenas entre

    respirao e fermentao. Depois o tema fermentao abordado, comeando pela

    gliclise, onde s dito quantos ATP so gastos e quantos so produzidos. Na

    sequncia so dados exemplos da fermentao ltica, alcolica e aerbia. H um

    trecho que merece ateno dentro do tema fermentao ltica:

    A fermentao ltica realizada principalmente por algumas bactrias e fungos e por clulas do tecido muscular esqueltico do corpo humano.

  • 23

    Neste ltimo caso, quando o exerccio fsico muito intenso, pode haver insuficincia de oxignio para manter a respirao, ento as clulas musculares passam a degradar anaerobicamente a glicose em lactato. Este pode ser acumulado nos msculos, contribuindo para a fadiga muscular (LOPES; ROSSO, 2005 p. 174).

    Em nenhum momento dito por que a glicose convertida lactato, que no

    caso seria para manter a produo energtica necessria para que o exerccio

    pudesse continuar sendo realizado. Alm disto, nenhum exemplo de bactria ou

    fungo mostrado.

    Aps a fermentao o livro aborda a respirao, comeando com uma viso

    geral da mitocndria. A teoria endossimbitica mostrada e dito que a mitocndria

    possui funo energtica. Tambm so abordadas doenas relacionadas ao DNA

    mitocondrial. Na sequncia dada uma rpida relembrada no que a gliclise e o

    livro entra no ciclo do cido tricarboxlico, que como o livro anterior, no h uma

    explicao sobre catabolismo e anabolismo antes do tema.

    Ao invs de abordar o ciclo do cido tricarboxlico como principal rota

    regulatria do nosso metabolismo, o mesmo praticamente jogado em uma figura

    contendo vrias molculas e reaes qumicas sem praticamente nenhuma

    explicao. Apesar de ele ser citado novamente na parte de fosforilao oxidativa,

    creio que esta abordagem descontextualizou o ciclo do cido tricarboxlico, fazendo

    com que o mesmo parecesse vago.

    Ao final do captulo abordado o catabolismo de outras molculas como

    gorduras e protenas. Seria interessante este assunto se o ciclo do cido

    tricarboxlico fosse explicado de forma bioqumica, ou seja atravs da construo de

    biomolculas e conservao de energia para que possamos desempenhar nossas

    funes metablicas, e no qumica somente, que fez com que esse tpico

    parecesse vago. Tambm h um quadro sobre radicais livres no final do captulo que

    novamente s explora o seu lado patognico e informaes errneas acerca dos

    antioxidantes so de novo expostas.

    3.3 Livro C

  • 24

    O terceiro livro aborda os contedos de bioqumica dentro da unidade II, nos

    captulos 3- gua, sais minerais, carboidratos e lipdios; 6- Protenas, 10- Citoplasma

    e 15- Respirao celular.

    3.3.1 Acares

    O captulo d uma breve introduo sobre os carboidratos e entra nas

    classificaes. Na parte de monossacardeos so mostrados os principais

    monossacardeos juntamente com o seu papel biolgico, o que faz com que este

    contedo seja de fcil associao ao aluno, porm o que mais chama ateno nesta

    parte um erro conceitual que o livro comete no trecho a seguir:

    No sangue humano, a normoglicemia, isto , a taxa normal de glicose, est compreendida entre 70 e 110 mg de glicose/100 ml de sangue. Essa taxa deve ser mantida, uma vez que certas clulas, como os neurnios do crebro, utilizam basicamente somente a glicose como fonte de energia (PAULINO, 2005 p.25).

    O livro diz que os neurnios s utilizam glicose como fonte de energia, porm

    quando o indivduo est em um jejum mais prolongado, cerca de 4 dias, a maior

    fonte energtica consumida pelo crebro so os corpos cetnicos (Marks, 2008).

    A parte de oligossacardeos tambm possui exemplos de onde estas

    molculas podem ser encontradas, porm o autor comete um equvoco ao dizer que

    os dissacardeos so os oligossacardeos mais importantes para os seres vivos. Em

    termos energticos ele est correto, porm no possvel afirmar uma maior

    importncia destes sobre os outros, j que nos monossacardeos temos a ribose e a

    desoxirribose que fazem parte do RNA e do DNA e nos polissacardeos a celulose

    pode ser citada como importante componente da parede celular das clulas

    vegetais. Por fim neste captulo no h nenhuma associao do acar de mesa

    sacarose, que certamente seria o exemplo mais palpvel de acar no cotidiano dos

    alunos.

    3.3.2 Gorduras

  • 25

    Aps uma brevssima introduo sobre o que so lipdios, o livro comea a

    conceituar os glicerdeos, se focando principalmente na funo dos mesmos como

    isolantes trmicos. Na continuidade do captulo so abordados os cerdeos, onde

    explicada a sua funo de impermeabilizao e citando onde os mesmos ocorrem.

    A ltima parte do captulo dedicada aos esteroides, onde o colesterol tido

    como principal, com um quadro de texto dedicado a ele e ao seu papel fisiolgico. A

    testosterona e a progesterona tambm so citadas sem muitas explicaes e o tema

    anabolizantes, que atual e interessante aos alunos, no abordado.

    Outro fato que pode ser citado que o captulo quase no aborda o tema

    fosfolipdios, eles somente so citados no final e a nica coisa que dita sobre os

    mesmos que fazem parte da membrana plasmtica.

    3.3.3 Protenas

    Como no captulo anterior, o livro traz um trecho curto de introduo s

    protenas e parte para o subtpico aminocidos. O livro expe este tema de forma

    totalmente qumica, mencionando o que so aminocidos essenciais somente no

    final e sem dar exemplos de fontes de aminocidos essenciais. Isto torna o tema um

    pouco vago, sendo que o livro poderia facilmente contextualizar este tema com erros

    inatos do metabolismo, podendo citar assim o teste do pezinho e doenas como a

    fenilcetonria.

    O prximo tema abordado no livro o da estrutura de protenas, que apesar

    de explicado de forma clara e resumida no contm exemplos. O livro fala de

    desnaturao como uma deformao da protena que faz com que a mesma perca

    a sua funo, porm nenhum exemplo de desnaturao dado nem dito se a

    desnaturao um processo reversvel ou no. Um exemplo simples como um ovo

    ao fritar deixaria este tpico um pouco mais palpvel.

    Dentro deste captulo h um tpico sobre o papel biolgico das protenas,

    onde so citadas diversas protenas e sua atuao, sendo esta a parte que melhor o

    livro mescla conceitos com exemplos. A maior parte do captulo dedicada s

    enzimas, estendendo-se do meio at o final do captulo. Apesar de demonstrar

  • 26

    conhecimento acerca do assunto, novamente aspectos cotidianos do contedo so

    deixados de fora como pode ser visto no trecho apresentado abaixo:

    A temperatura um dos principais fatores que influem na atividade enzimtica. Em geral, a cada 10

    0C de aumento da temperatura do meio em

    que a enzima atua, observa-se que a atividade enzimtica duplica ou triplica. Mas existe um limite para o aumento da intensidade da ao enzimtica, esse limite varivel nos diversos seres vivos, de maneira geral, situa-se ao redor dos 40

    0C. Acima disso, a atuao da enzima

    diminui, porque se inicia a alterao de sua estrutura qumica. A enzima , assim, levada a um estado de desnaturao, desorganizando-se de tal modo que perde suas propriedades biolgicas e se torna inativa (PAULINO, 2005 p.59).

    O livro poderia facilmente dar como exemplo a febre e junto com os sintomas

    da febre explicar a atuao da temperatura na atividade enzimtica, porm o tema

    explicado sem nenhum exemplo. O captulo termina abordando outros fatores que

    alteram a atividade enzimtica e dois quadros de texto abordando os assuntos

    anticorpos e soros.

    3.3.4 Mitocndria e Metabolismo energtico

    A mitocndria apresentada no captulo de citoplasma, junto com outras

    organelas. Neste captulo explicada a estrutura da mitocndria, sua funo e a

    presena de DNA prprio da mesma. O livro no faz nenhuma citao a processos

    evolucionrios que deram origem mitocndria.

    No captulo de 15 ocorre a introduo ao tema respirao celular, onde

    conceituada a respirao celular.

    Outro conceito exposto neste captulo, o conceito de respirao aerbica,

    abordando primeiramente a gliclise. Durante a explicao o autor cita que a glicose

    desmontada para que se gere energia. Creio que este termo no seria o

    adequado para descrever a gliclise. Se o livro no quiser entrar em detalhes quanto

    s mudanas na estrutura da molcula de glicose, e eu particularmente acho que

    no deve j que fazer isso seria transformar um processo biolgico em algo

    puramente qumico, poderia ento usar um termo que exemplificasse melhor o que

    acontece com a glicose durante a gliclise. A palavra desmontada d a impresso

  • 27

    de que ela pode voltar a ser glicose quando bem entender, porm isso no ocorre

    fisiologicamente durante a gliclise. O termo mais adequado seria quebrada.

    Na sequncia o ciclo do cido tricarboxlico exposto e novamente, como nos

    outros dois livros, este tema sofre com o excesso de reaes qumicas e a falta de

    exemplos biolgicos. O ciclo do cido tricarboxlico pode degradar e produzir

    molculas, sendo, portanto catablico e anablico. nele que podemos integrar a

    energia vinda de acares, gorduras e protenas presentes no nosso dia a dia.

    Porm novamente o ciclo do cido tricarboxlico exposto como uma figura

    contendo diversas reaes qumicas, sem nenhum exemplo da significncia dele

    para o nosso metabolismo e sem nenhuma abordagem sobre catabolismo ou

    anabolismo.

    O ltimo tema abordado neste captulo o da fermentao, e apesar de o

    autor utilizar exemplos de coisas cotidianas, como o po na parte de fermentao

    alcolica, o mesmo no ocorre na fermentao ltica. A fermentao ltica poderia

    ter como exemplo o que ocorre nos msculos dos atletas quando esto sob grande

    esforo anaerbio, como os corredores de 50m rasos do atletismo ou mesmo

    durante a musculao, que algo cotidiano para muitos alunos do ensino mdio,

    porm isto no ocorre. O livro se contenta em somente mostrar as reaes que

    ocorrem na fermentao ltica e no final ele cita que a mesma realizada por muitos

    microrganismos e por certos tecidos animais.

    3.4 Livro D

    O quarto livro aborda os conceitos de bioqumica dento das unidades 2-

    Origem da vida e biologia celular e 5- O ser humano: evoluo, fisiologia e sade

    nos captulos 8- Citoplasma e organelas, 9- Metabolismo energtico da clula e 32-

    Fisiologia humana II: digesto e nutrio.

    3.4.1 Acares

  • 28

    Antes de comear a analisar o contedo de acares em si cabe dizer que

    este livro apresenta uma estrutura organizacional diferente dos outros livros

    analisados. Os acares, gorduras e protenas no so conceituados na parte de

    biologia celular. Sua conceituao dada somente na parte de fisiologia no captulo

    32- Fisiologia humana II: digesto e nutrio, o que a torna mais reduzida.

    Partindo para a anlise do contedo de acares, o livro conceitua os

    carboidratos a partir do exemplo de um prato de comida contendo arroz, feijo, bife,

    ovo e salada. dito que os carboidratos so formados por unidades menores

    chamadas monossacardeos e so citados exemplos de carboidratos advindos da

    alimentao. Apesar disto o livro cita nomes de monossacardeos e polissacardeos,

    como glicose; amido e sacarose, sem citar onde estas molculas so encontradas

    podendo assim causar uma dvida nos alunos quanto a isso.

    Os aucares so citados novamente em uma parte do captulo denominada

    Nutrio e sade onde so comentados os regimes com restrio e excesso de

    carboidratos e seus efeitos no organismo. interessante ressaltar que este o

    nico livro que relaciona excesso de carboidratos ao aumento da gordura, o que

    pode explicar porque o excesso de acar engorda.

    3.4.2 Gorduras

    Para conceituar as gorduras o livro se utiliza do mesmo exemplo do prato de

    comida j citado anteriormente, porm focando-se nos alimentos ricos em lipdeos.

    Assim como nos carboidratos dito que os lipdeos so compostos por unidades

    menores. No so feitas as classificaes dos lipdeos como nos outros livros, o que

    diminu a quantidade de termos especficos a serem decorados pelos alunos e de

    divises do contedo, mas tambm diminu as informaes interessantes sobre os

    lipdeos como as que dizem respeito a sua funo como molcula estrutural do

    nosso corpo ou hormonal.

    Na parte nutrio e sade so citadas as consequncias da falta ou excesso

    de lipdeos, se focando principalmente no excesso atravs do exemplo da

    aterosclerose.

  • 29

    3.4.3 Protenas

    Para a conceituao do contedo protenas novamente utilizado o exemplo

    do prato de comida. Tambm citado que as protenas so constitudas de

    unidades menores, os aminocidos.

    No quadro Nutrio e sade so abordados os aminocidos essenciais e

    como obter os mesmos atravs da dieta, o que certamente tem correlao com o

    cotidiano dos alunos.

    Na parte de protenas tambm so abordadas as enzimas, comeando com o

    conceito de enzimas e depois partindo para os fatores que alteram a sua atividade.

    Novamente abordado o tema desnaturao e novamente no so citados

    exemplos de desnaturao.

    3.4.4 Mitocndria e Metabolismo energtico

    A mitocndria introduzida ao leitor no captulo 8- Citoplasma e organelas.

    Sua composio estrutural exposta, focando principalmente no fato da mitocndria

    possuir DNA prprio, til para conduzir o processo de diviso celular da mitocndria.

    Tambm apresentada a teoria endossimbitica da mitocndria, que uma das

    explicaes para a sua origem.

    Neste mesmo captulo h um quadro de texto denominado Mitocndria:

    energia, calor e morte celular. Este quadro provavelmente ser de grande interesse

    para os alunos j que trata de funes mitocondriais que geralmente no so

    abordadas, como produo de calor e reguladora do processo geral de

    envelhecimento, que um tema facilmente associvel ao cotidiano dos alunos j

    que todos envelhecem.

    A abordagem do metabolismo energtico se d no captulo 9- Metabolismo

    energtico da clula, onde o primeiro tema abordado a respirao aerbia.

    Diferentemente do resto do livro, que tenta contextualizar o contedo com objetos

    familiares aos alunos, a respirao aerbia abordada de forma simplesmente

    qumica. No h uma tentativa de juntar os conhecimentos acerca das molculas

  • 30

    que nos do energia e relacion-los com a respirao aerbia. O ciclo do cido

    tricarboxlico, como nos outros livros, apresentado como uma srie de flechas com

    reaes qumicas e nenhuma explicao para as mesmas. Catabolismo e

    anabolismo no so sequer citados tornando o ciclo do cido tricarboxlico algo sem

    nenhuma correlao com o cotidiano.

    O ltimo tpico abordado no captulo o de fermentao. O livro as divide em

    ltica e alcolica. As duas tm suas reaes qumicas explicadas, porm desta vez

    so citados exemplos. Na parte de fermentao ltica o exerccio fsico citado e o

    porqu de ocorrerem as cimbras tambm, o que torna a leitura fcil ao aluno j que

    a atividade fsica normalmente faz parte da sua rotina escolar e estes contedos

    normalmente no so abordados em educao fsica.

    A parte de fermentao alcolica tambm contextualizada atravs de

    exemplos como o po e a cerveja, onde h um quadro de texto que explica que o

    po antes de ser levado ao forno contm lcool, porem este lcool evaporado com

    a elevada temperatura em que o po assado.

    Ao final do captulo ainda apresentada a fermentao actica, que apesar

    de pouco conhecida o processo pelo qual o vinagre feito. H tambm um quadro

    de texto explicando as diferenas entre o vinho e o vinagre o que pode ser

    interessante para alguns alunos.

  • 31

    4 DISCUSSO

    Antes de comear a discusso dos resultados propriamente dita, cabe

    ressaltar a importncia do livro didtico no processo de desenvolvimento do

    conhecimento do aluno. Para isto citamos as palavras de Santom apud Carneiro;

    Santos e Mol (2005):

    Apesar dos avanos tecnolgicos e da enorme variedade de materiais curriculares, atualmente disponveis no mercado, o livro didtico, LD, continua sendo o recurso mais utilizado no ensino de cincias. Essa centralidade lhe confere estatuto e funes privilegiadas na medida em que atravs dele que o professor organiza, desenvolve e avalia seu trabalho pedaggico de sala de aula. Para o aluno, o livro um dos elementos determinantes da sua relao com a disciplina. Como afirma Santom (1998), a lembrana que grande parte das pessoas tem de disciplinas cursadas est relacionada a livros didticos, particularmente os de Matemtica, Fsica e Qumica. Essa peculiaridade tambm condicionar suas avaliaes, expectativas e interesses por essas reas do conhecimento. O autor nos lembra ainda que no raro encontrar pessoas que, devido a fracassos nessas disciplinas durante o perodo de escolarizao, passem a considerar-se incapazes de compreender seus conhecimentos, chegando a mitificar e supervalorizar aqueles que compreendem os conceitos cientficos. Portanto, indubitvel a marca que o LD deixa na vida dos alunos (SANTOM, 1998 apud CARNEIRO; SANTOS; MOL, 2005 p. 36).

    O fragmento acima reflete a importncia de analisarmos como um contedo

    apresentado aos alunos no livro didtico, para que o mesmo desperte interesses e

    expectativas positivas aos alunos e no uma eventual resistncia ao mesmo. A

    anlise de determinado assunto sempre importante para que o mesmo seja

    aperfeioado futuramente e para que os professores possam complementar e refletir

    sobre o que exposto no livro didtico, sendo este o objetivo de diversos

    pesquisadores da educao (VASCONCELOS, 2003; MOHR, 2000; CARLINI-

    COTRIM e ROSEMBERG, 1991).

    Todos os livros analisado neste presente trabalho contm pontos fortes e

    pontos fracos, por isso no cabe a ns execrarmos, exaltarmos ou at mesmo

    atribuir notas para nenhum livro, apenas analisar como estes pontos fortes e fracos

    se apresentam no contedo de bioqumica.

    O primeiro ponto em comum observado nos livros a pequena quantidade de

    exemplos que os mesmos apresentam com relao ao contedo de bioqumica. Os

  • 32

    exemplos so uma das formas disponveis para que o aluno associe o conhecimento

    cientfico ao seu dia a dia, fazendo com que ele veja que a cincia no um

    conjunto de regras formais feitas por mentes privilegiadas sem nenhum uso prtico.

    Engelke (2009) diz que um erro os livros didticos focarem somente os conceitos

    corretamente e restringirem os exemplos. A cincia se constitui na observao de

    fenmenos que ocorrem diariamente e na busca de explicaes para os mesmos.

    Ao relermos as anlises fica claro que h certa dificuldade dos livros em apontar

    exemplos acerca de determinados tpicos. O tema desnaturao proteica no

    possui nenhum exemplo em trs dos quatro livros analisados. Somente o livro B cita

    um exemplo de desnaturao, e o exemplo citado se refere somente desnaturao

    irreversvel fazendo com que a desnaturao reversvel seja desconhecida para o

    aluno j que a mesma no possui nenhum exemplo.

    O tema ciclo do cido tricarboxlico no possui nenhum exemplo nos quatro

    livros analisados. Apesar de ser uma rota metablica importantssima para a

    conservao energtica em organismos aerbios, como os humanos, nenhum

    exemplo de como essa rota esta integrada s nossas atividades dirias citado.

    Este assunto poderia facilmente ser integrado aos contedos de biomolculas

    (acares, gorduras e protenas), que em todos os livros analisados possuem

    exemplos, para que os alunos pudessem visualizar melhor a existncia e a

    importncia do ciclo do cido tricarboxlico.

    Alguns exemplos citados pelos livros no priorizam o cotidiano, apesar de o

    aluno saber qual objeto que est servindo de exemplo este aluno raramente tem

    uma interao com este objeto na sua rotina, criando assim uma menor

    contextualizao do contedo. Se o aluno no conseguir visualizar o exemplo,

    dificilmente o mesmo facilitar a contextualizao por parte dele, podendo at

    mesmo dificultar a compreenso. Vasconcelos (2003) opina:

    No suficiente um livro ter linguagem clara e coerente se ele no priorizar o reconhecimento do universo do estudante em suas pginas. Ao mesmo tempo em que o livro deve utilizar exemplos de grande abrangncia para atingir o maior pblico alvo possvel (e facilitar os aspectos logsticos de sua distribuio em grande escala num pas biologicamente e culturalmente diverso como o Brasil), o uso de exemplos pouco representativos para uma grande parcela dos estudantes especialmente fora do Sudeste brasileiro onde a maioria dos livros produzida dificulta a contextualizao do conhecimento e deve ser observada criticamente (VASCONCELOS, 2003 p.97).

  • 33

    Nos livros analisados o exemplo preferencial para a sacarose era o do acar

    presente na cana-de-acar. Apesar de a maioria dos alunos saber o que a cana-

    de-acar, uma grande parte dos estudantes presentes nas regies urbanas no

    teve um contato com a cana-de-acar transformando este exemplo em algo menos

    representativo. O acar de mesa, seja ele mascavo ou refinado, est mais presente

    na rotina da maioria dos estudantes do que a cana-de-acar podendo assim ser um

    exemplo mais abrangente para a sacarose.

    Outro ponto marcante nas nossas anlises foi o excesso de conceitos e

    classificaes, na sua maioria de origem qumica, que os livros didticos apresentam

    quando abordam a bioqumica. Pesquisadores tm observado que diversos livros

    didticos apresentam seus conceitos sem defini-los (DELGADO, 2007; CARNEIRO;

    SANTOS e MOL, 2005), alm de exporem classificaes desnecessrias (TAVARES

    e ROGADO, 2005) tornando a compreenso do contedo uma tarefa complexa.

    Em todos os livros analisados a abordagem do tema ciclo do cido

    tricarboxlico deu-se de forma completamente tcnica, sem nenhuma definio do

    conceito do ciclo do cido tricarboxlico ou de suas reaes associadas, e com uma

    grande quantidade de frmulas qumicas. Esta abordagem faz com que o contedo

    seja apresentado de forma vaga, onde no h uma contextualizao dos conceitos

    apresentados. Se os livros abordassem catabolismo e anabolismo de forma

    associada ao ciclo do cido tricarboxlico certamente o contedo seria de maior

    interesse aos alunos, pois eles poderiam ver que grande parte das molculas que

    nosso corpo constri ou quebra, como as gorduras, passam pelo ciclo do cido

    tricarboxlico. Cabe ressaltar tambm que esses excessos de reaes qumicas

    representadas de forma esquemtica podem vir a produzir um estranhamento no

    leitor j que o mesmo est lendo um livro didtico de biologia e no de qumica.

    O contedo de biomolculas tambm contm conceitos sem definies e

    excesso de classificaes. Isto ocorre em especial no livro A, onde o contedo de

    biomolculas apresenta diversas classificaes, como na parte de acares e

    gorduras, e dentro destas classificaes so apresentados conceitos sem definies

    dos mesmos. No livro D ocorre o oposto, pois as biomolculas fazem parte do

    captulo de fisiologia, sendo apresentadas com poucas classificaes e tendo os

    seus conceitos relacionados s situaes fisiolgicas do organismo sem uma grande

    quantidade de termos especficos para defini-los. Nos outros dois livros analisados

  • 34

    em geral h uma conceituao das biomolculas com muitas classificaes, porm

    os conceitos so, geralmente, acompanhados de suas respectivas definies.

    O ltimo aspecto que merece ser destacado nas nossas anlises a

    presena de erros conceituais sobre alguns tpicos abordados pelos livros didticos

    nos captulos de bioqumica. Existe uma srie de trabalhos que apontam erros

    conceituais do livro didtico nas mais diversas reas do conhecimento (LANGHI e

    NARDI; SANTOS et al, 2007; SANDRIN et al, 2005). O fato de erros conceituais

    continuarem a existir nos livros didticos pode prejudicar de forma significativa a

    compreenso acerca de um determinado conceito. Colombo e Magalhes-Jnior

    (2008) embora tratando do ensino de cincias no nvel fundamental, alertam:

    Sendo o livro didtico um dos poucos recursos para o professor de ensino fundamental da escola pblica e para a disciplina de cincias, estes no podem apresentar falhas, como vrios autores j perceberam, pois podem levar aos alunos uma viso modificada no s referente aos animais peonhentos, seu modo de vida mas, tambm, do mundo (COLOMBO e MAGALHES-JNIOR, 2008 pg. 158).

    O trecho anterior tambm se aplica para o ensino de biologia pois nos alerta

    para as consequncias que os erros conceituais podem causar, tanto no crculo

    escolar quanto no crculo social, para os alunos que so expostos a eles. Vimos ao

    longo das anlises que todos os livros possuem alguns erros conceituais em

    determinados tpicos, porm estes se encontram em maior quantidade no livro C.

    No livro C afirmado que o crebro somente consome glicose para suas

    necessidades bioqumico-fisiolgicas, sendo que esta informao no verdadeira.

    Alm disso, tambm mencionado que a glicose desmontada quando sofre

    gliclise. Apesar de parecerem erros pequenos, eles podem prejudicar os alunos

    quando os mesmos precisarem desta informao porque esto sendo passadas de

    forma incorreta e assim os alunos estaro perpetuando um erro.

    importante tambm mencionar outro erro conceitual presente nos primeiros

    dois livros avaliados, erro este que concerne ao tema espcies reativas

    (erroneamente colocadas como radicais livres, termo que contempla apenas uma

    parte da questo). Ambos os livros definem radicais livres somente como agentes

    que danificam as clulas. Apesar de essa afirmao ser verdadeira, alguns radicais

    livres possuem papis fisiolgicos importantes, como agentes bactericidas ou

    reguladores da contrao muscular. Acredito que este tipo de erro se deva graas a

  • 35

    uma abordagem mais miditica e menos cientfica sobre o tema. Segundo Augusto

    (2006) a mdia sensacionalista (e no os textos de divulgao cientfica) explora

    muito o lado ruim dos radicais livres sem se preocupar com o seu papel natural nos

    seres vivos. Este apelo miditico sobre alguns temas pode contribuir para que erros

    sejam propagados e o conhecimento cientfico seja cada vez mais afastado do

    cotidiano do aluno.

    A falta de exemplos ligando o contedo ao cotidiano do aluno, o excesso de

    classificaes juntamente com os conceitos sem explicaes e a presena de erros

    conceituais poderiam comear a serem revistos pelos autores para que a bioqumica

    ensinada nos livros didticos possa se tornar uma cincia de fcil associao aos

    alunos e no algo distante ou mstico.

  • 36

    5 CONCLUSES

    Considerando os argumentos apresentados durante o trabalho, vimos que

    existem algumas falhas nos livros didticos na abordagem do contedo de

    bioqumica, contedo este que est presente diariamente na vida dos estudantes

    seja atravs da alimentao, respirao, atividades fsicas ou outros fatores

    presentes diariamente em suas rotinas.

    As obras disponveis no mercado deveriam passar por uma reavaliao no

    que tange a bioqumica, j que as mesmas tm apresentado um distanciamento das

    vivncias dos alunos e das atualizaes dos conceitos, presentes na literatura

    cientfica. Esse distanciamento ocorre devido falta de exemplos que realmente

    sejam compreendidos e correlacionados pelos alunos, erros conceituais em alguns

    temas relacionados rea e excesso de conceitos e classificaes sem dar um

    significado palpvel aos mesmos, priorizando muitas vezes uma abordagem

    essencialmente qumica e abstrata, esquecendo-se inclusive da interdisciplinaridade

    contida na palavra bioqumica.

    Se o contedo adotado pelo livro didtico fosse mais prximo do cotidiano

    vivido pelo aluno de ensino mdio, eles poderiam ter um maior interesse pela

    bioqumica, fazendo indagaes sobre diversos temas presentes no seu universo.

    Alm disso, eles poderiam ser instigados a buscarem um conhecimento mais

    profundo nesta rea, fazendo com que a mesma deixasse de ser um apanhado de

    conceitos, relacionados a molculas e passasse a se tornar um dos meios

    disponveis para explicar diversos aspectos de nossa existncia e de nossa inter-

    relao com o ambiente.

  • 37

    REFRENCIAS

    AUGUSTO, Ohara. Radicais Livres Bons, Maus e Naturais. 1. Ed. So Paulo: Oficina de textos, 2006.

    BRASIL. Ministrio da Educao. Parmetros curriculares nacionais para o Ensino Mdio: cincias da natureza, matemtica e suas tecnologias. Braslia, 2002.

    BRASIL. Secretaria de Educao Bsica-Guia do livro didtico do ensino mdio 2009: Biologia. Secretaria de Educao Bsica, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao. Braslia: Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Bsica, 2008.

    CARLINI-COTRIM, B; ROSEMBERG, F. Os livros didticos e o ensino para a sade: o caso das drogas psicotrpicas. Revista de Sade Pblica, So Paulo, v. 25, n. 4, agosto 1991.

    CARNEIRO, M.H.S; SANTOS, W.L.P; MOL, G.S. Livro didtico inovador e professores: Uma tenso a ser vencida. ENSAIO- Pesquisa em educao em cincias, v. 7, n. 2, p. 35-45, dezembro 2005.

    COLOMBO, T. C.; MAGALHES JNIOR, C. A. O. Anlise dos contedos sobre animais peonhentos em livros didticos de ensino de cincias. EDUCERE - Revista da Educao, Umuarama, v. 8, n. 2, p. 153-169, julho/dezembro 2008.

    DAYRELL, J. A Escola como espao scio-cultural. Em: DAYRELL, Juarez (Org.) Mltiplos olhares sobre educao e cultura. 2. Ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. p. 137-161.

    DELGADO, Patrcia C. S. Uma anlise sobre nutrio humana nos livros didticos. Belo Horizonte: UFMG, 2007. 41 f. Trabalho de Concluso de Curso de Especializao em Ensino em Cincias. Belo Horizonte, 2007.

    ENGELKE, Douglas S. Anlise de livros didticos de Biologia do Ensino Mdio: estaria a teoria da evoluo sendo um fio condutor? Porto Alegre: UFRGS, 2009. 27 f. Trabalho de Concluso do Curso de Licenciatura em Cincias Biolgicas. Porto Alegre, 2009.

    LAJOLO, M. LIVRO DIDTICO: um (quase) manual de usurio. Em Aberto, Braslia, ano 16, n. 69, p. 3-9, janeiro/maro 1996.

  • 38

    LANGHI, R; NARDI, R. Ensino de astronomia: Erros didticos mais comuns presentes em livros de cincias. Caderno Brasileiro de Ensino em Fsica, v. 24, n. 1, p. 87-111, abril 2007.

    LAURENCE, J. Biologia- Volume nico. 1. Ed. So Paulo: Nova gerao, 2005.

    LINHARES, Srgio; GEWANDSZNAJDER, Fernando. Biologia- Volume nico. 1. Ed. So Paulo: tica, 2005.

    LOPES, Snia; ROSSO, Srgio. Biologia- Volume nico. 1. Ed. So Paulo: Saraiva, 2005.

    MARKS, Allan. Marks Basic Medical Biochemistry: A clinical approach. 3. Ed. Lippincott Williams & Wilkins, 2008.

    MOHR, A. Anlise do contedo de sade em livros didticos. Cincia e Educao, v. 6, n. 2, p. 1, 89-106, 2000.

    NETO, J. M.; FRACALANZA, H. O livro didtico de cincias: problemas solues. Cincia e Educao, v. 9, n. 2, p. 147-157, 2003.

    OLIVEIRA, V.L.B; REZLER, M.A. Temas contemporneos no ensino de biologia no ensino mdio. Acta Scientiae, Canoas, V. 8, n. 1, p. 95-104, 2006.

    PAULINO, Wilson Roberto. Biologia- Volume um. 1. Ed. So Paulo: tica, 2005.

    PEDRACINI, V. D.; CORAZZA-NUNES, M. J.; GALUCH, M. T. B.; MOREIRA, A. L. O. R.; RIBEIRO, A. C. Ensino e aprendizagem de biologia no ensino mdio e a apropriao do saber cientfico e biotecnolgico. Revista Electrnica de Enseanza de las Cincias, v. 6, n. 2, p. 299-309, 2007.

    SANDRIN, M.F.N; PUORTO, G; NARDI, R. Serpentes e acidentes ofdicos: Um estudo sobre erros conceituais em livro didticos. Investigaes em ensino de cincias, v. 10, n. 3, p. 281-298, 2005.

    SANTOS, J.C; ALVES, L.F.A; CORRA, J.J; SILVA, E.R.L. Anlise comparativa do contedo Filo Mollusca em livro didtico e apostilas do ensino mdio de Cascavel, Paran. Cincia e Educao, v. 13, n. 3, p. 311-322, 2007.

    SILVA, L. M; CAVALLET, V. J; ALQUINI, Y. O professor, o aluno e o contedo no ensino de botnica. Educao, Santa Maria, v. 31, n. 1, p. 67-80, junho 2006.

  • 39

    SILVA-JUNIOR, A. Repensando o ensino de cincias e biologia na educao bsica: O caminho para o conhecimento cientfico e biotecnolgico. Rio de Janeiro, Democratizar, v. 3, n. 1, p. 1-15, 2008.

    TAVARES, L. H. W, ROGADO, J. A histria das cincias e os seus fundamentos histricos, epistemolgicos e culturais no livro didtico de qumica: o conceito de substncia. Em: V Encontro Nacional de Pesquisa em Educao em Cincias, 2005, Bauru. Atas do V ENPEC, Bauru, 2005. p. 9-18.

    VASCONCELOS, S.D; SOUTO, E. O livro didtico de cincias no ensino fundamental- proposta de critrios para anlise do contedo zoolgico. Cincia e Educao, v. 9, n. 1, p. 93-104, 2003.

  • 40

  • 41