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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE CINCIAS ECONMICAS

    DEPARTAMENTO DE CINCIAS ECONMICAS CURSO DE PLANEJAMENTO E GESTO PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL

    PLAGEDER

    EDSON MONTICELLI

    PRODUO ARTESANAL DE VINHO EM CARA: SITUAO ATUAL E SUAS PERSPECTIVAS

    Santo Antnio da Patrulha 2011

  • 2

    EDSON MONTICELLI

    PRODUO ARTESANAL DE VINHO EM CARA: SITUAO ATUAL E SUAS PERSPECTIVAS

    Trabalho de concluso submetido ao Curso de Graduao Tecnolgico em Planejamento e Gesto para o Desenvolvimento Rural - PLAGEDER, da Faculdade de Cincias Econmicas da UFRGS, como quesito parcial para obteno do ttulo de Tecnlogo em Planejamento e Gesto para o Desenvolvimento Rural. Orientador: Prof. Dr. Lovois de Andrade Miguel Coorientador: Tutor Camila Vieira da Silva

    Santo Antnio da Patrulha 2011

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    EDSON MONTICELLI

    PRODUO ARTESANAL DE VINHO EM CARA: SITUAO ATUAL E SUAS PERSPECTIVAS

    Trabalho de concluso submetido ao Curso de Graduao Tecnolgico em Planejamento e Gesto para o Desenvolvimento Rural - PLAGEDER, da Faculdade de Cincias Econmicas da UFRGS, como quesito parcial para obteno do ttulo de Tecnlogo em Planejamento e Gesto para o Desenvolvimento Rural.

    Aprovado em: Santo Antnio da Patrulha, 27 de junho de 2011.

    ____________________________________ Prof. Dr. Lovois de Andrade Miguel - Orientador

    UFRGS

    ____________________________________ Prof. Leonardo Alvim Beroldt da Silva

    UFRGS

    ____________________________________ Profa. Camila Vieira da Silva

    UFRGS

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Sinto-me um pouco acanhado para compor agradecimentos. No por lembrar

    de pessoas, muitas das quais grandes amigas e que merecem ser reconhecidas pela

    preciosa ajuda prestada, mas por cometer o lastimvel equvoco de esquecer de

    membros sempre presentes e que, direta ou indiretamente, contriburam de uma forma

    ou outra e acabam por deixar as suas impresses, mesmo que muitas vezes

    imperceptveis.

    De qualquer forma, devo agradecer a Deus por ter me iluminado e me dado

    fora para nunca desistir. No poderia jamais esquecer de pessoas importantes que

    participaram ativamente desta minha trajetria. Primeiramente minha esposa que

    incansavelmente contribuiu muito desde o incio dos planos at a etapa final desta

    caminhada. Aos importantes colegas personagens de ampla convivncia que se

    transformou num lao de grande amizade. Infelizmente este lao no se estendeu entre

    todos os colegas por motivos especficos da EAD. Devo mencionar tambm nossas

    tutoras presenciais incansveis e prestativas que muito colaboraram para este

    momento, Teresinha Oliveira e Sonia Dalmar. Aos demais colegas pelas grandes

    contribuies e mesmo as singelas, mas que sempre fazem a diferena em certas

    horas.

    No posso esquecer tambm de agradecer esta oportunidade que nos

    possibilitou uma graduao gratuita oferecida por esta instituio. Aos grandes

    professores que mesmo distantes estiveram presentes nos fornecendo o contedo

    disciplinar e tambm aos tutores distancia pela ateno e apoio. Mesmo que sem citar

    nomes ambos foram extremamente importantes nesta jornada. Ao Plo Universitrio

    Santo Antnio e sua coordenadoria tambm incansvel e inesgotvel de esforos para

    apoio e auxlio total para conosco.

  • 5

    RESUMO

    atravs do vislumbre das intensas transformaes do mercado, cada vez mais

    globalizado, que este trabalho est centrado. Mais especificamente aborda produtores

    familiares rurais que, como na grande maioria das sociedades, suportam influncias

    negativas provindas do processo de industrializao da agricultura. Presume

    caracterizar um mercado especfico caracterstico da cultura de uma etnia saliente no

    contexto local calcados na abrangncia deste trabalho. Envolve a produo artesanal de

    vinho, atividade importante e tradicional para a grande maioria dos colonizadores

    italianos estabelecidos na regio. Considerou-se dois produtores por desenvolverem a

    atividade por dcadas, de forma artesanal e pelas dificuldades que os produtores

    enfrentam. Alm de caracterizar estes produtores rurais pretende-se observar sua

    insero no mercado e suas perspectivas futuras. Como estratgia metodolgica

    ponderou-se o estudo emprico como melhor procedimento para a realizao deste

    trabalho. Para desenvolver o trabalho utilizou-se pesquisa de campo e referenciais

    tericos, artigos publicados em anais, revistas cientficas e cadastros referentes ao

    vinho em sites estaduais e federais. O desenvolvimento do trabalho apontou para

    possibilidades positivas no mercado de vinho artesanal. A interferncia maior ficou por

    conta principalmente dos limitantes que permeiam as questes relacionadas

    organizao social, gesto institucional interna, adequao as normas legais vigentes e

    carncia de auxlio tcnico especializado. No contexto atual, ficam mais expressivos

    aspectos como maior competitividade com os produtos industrializados, fatores

    climticos e problemas com a qualidade do produto final por conta da influncia dos

    fatores climticos sobre as videiras.

    Palavras-chave: Vitivinicultura. Produo Artesanal. Agricultura Familiar, Cara, RS.

  • 6

    ABSTRACT

    It is through the glimpse of the intense transformations of the market, more and more

    globalization, that this work is centered. More specifically it approaches rural family

    producers that, as in the great majority of the societies, they support influences

    negative arrival of the process of industrialization of the agriculture. It is supposes to

    characterize a characteristic specific market of the culture of a salient etnia in the

    local context stepped on in the inclusion of this work. It is involves the craft

    production of wine, important and traditional activity for the Italian settlers' great

    majority established in the rea it was considered two producers for they develop the

    activity per decades, in a craft way and for the difficulties that the producers face.

    Besides characterizing these rural producers it intends to observe it is insert in the

    market and their future perspectives. As methodological strategy one considered the

    case study as better procedure for the accomplishment of this work. To develop the

    work it was used researches of field and theoretical referenciais, goods published in

    annals, scientific magazines and registers regarding the wine in state and federal

    sites. The development of the work appeared for positive possibilities in the market of

    craft wine. The larger interference was for bill mainly of the limitantes that they

    permeate the subjects related to the social organization, institutional administration

    interns, adaptation the effective legal norms and lack of specialized technical aid. In

    the current context they are more expressive aspects as larger competitiveness with

    the industrialized products, climatic factors and problems with the quality of the final

    product due to the influence of the climatic factors on the grapevines.

    Keywords: Viticulture, Craft Production, Family Agriculture, Cara, RS

  • 7

    LISTA DE FIGURAS E TABELAS

    Figura 1. Perodos evolutivos da vitivinicultura brasileira .........................................15

    Figura 2. Localizao do Municpio de Cara no RS................................................32

    Tabela 1. Produo de uvas no Brasil em toneladas ................................................18

    Tabela 2. Produo de uvas para processamento e consumo in natura no Brasil em

    toneladas ...................................................................................................................19

    Tabela 3. Produo de vinhos, sucos e derivados do RS em litros ..........................19

    Tabela 4. Comercializao de vinhos e de suco de uva provenientes do RS em

    litros............................................................................................................................20

  • 8

    LISTA DE ABREVIAES E SIGLAS

    CNA Confederao Nacional da Agricultura

    EMATER/RS-ASCAR Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural

    Associao Sulina de Crdito e Assistncia Rural.

    FAO - Food and Agriculture Organization, Organizao das Naes Unidas

    FARSUL Federao da agricultura do Estado do Rio Grande do Sul

    GLP Gs Liquefeito de Petrleo

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IEA Instituto de Economia Agrcola

    INCRA - Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria

    PEP Prmio de Escoamento da Produo do Governo Federal

    RS Rio Grande do Sul

    RV Revoluo Verde

    SENAR Servio Nacional de Aprendizagem Rural

    STR Sindicato dos Trabalhadores Rurais

    UPA Unidade de Produo Agrcola

  • 9

    SUMRIO

    INTRODUO................................................................................................... 10

    1 PROBLEMA................................................................................................... 13

    2 REVISO DE LITERATURA......................................................................... 14

    2.1 PANORAMA GERAL DA PRODUO DE VINHO.................................. 14

    2.2 O MERCADO VITIVINCOLA NA PERSPECTIVA NACIONAL................ 17

    2.3 ASPECTOS INSTITUCIONAIS E O DESENVOLVIMENTO REGIONAL...................................................................................................... 20

    2.4 LIMITANTES E ENTRAVES DA AGRICULTURA FAMILIAR................. 24

    2.5 PERSPECTIVAS PARA UM NOVO RURAL........................................... 27

    3 METODOLOGIA............................................................................................. 29

    3.1 DEFINIO DOS PRODUTORES ESCOLHIDOS................................. 29

    3.2 CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO......................................... 31

    3.3 ESCOLHA E APLICAO DA METODOLOGIA..................................... 33

    4 RESULTADOS............................................................................................... 34

    4.1 CARACTERIZAO DOS PRODUTORES............................................ 35

    4.1.1 CARACTERSTICAS PARTICULARES DO PRODUTOR A................ 36

    4.1.2 CARACTERSTICAS DISTINTAS DO PRODUTOR B......................... 37

    4.2 O MERCADO DO VINHO ARTESANAL................................................. 39

    4.3 LIMITANTES E PERSPECTIVAS DA PRODUO DO VINHO ARTESANAL LOCAL.......................................................................................................................... 41

    5 CONCLUSO................................................................................................. 43

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................. 45

    APNDICE ....................................................................................................... 48

  • 10

    INTRODUO

    As origens do cultivo da videira no Brasil remontam, segundo os registros

    histricos, ao sculo XVI. Entretanto, como atividade significativa do ponto de vista

    econmico, a vitivinicultura origina-se com a colonizao italiana no Rio Grande do

    Sul (RS), a partir de 1875. No incio a produo era rudimentar e destinada ao

    consumo da famlia, posteriormente abrangeu o mercado regional, expandindo-se

    gradativamente at atingir o mercado nacional (FARIAS, [s.d]).

    No Brasil, o setor vitivincola se concentra em uma regio relativamente

    pequena do RS, com potencial para constituir um arranjo produtivo local. O mercado

    de vinho pode ser caracterizado pela grande complexidade, entre outros motivos, da

    grande diversidade dos tipos de vinho e da multiplicidade das legislaes nacionais

    a respeito. A vitivinicultura brasileira num contexto geral passou por grandes

    transformaes nos ltimos anos devido, principalmente, entrada de vinhos

    importados nos mercados e s mudanas muito acentuadas na preferncia dos

    consumidores (ROSA; SIMES, 2004).

    Na questo da produo de vinhos artesanais ou coloniais, inicialmente

    destinada para o consumo das famlias, convive atualmente com o mercado de

    vinhos finos, produzidos em escala industrial a partir de processos modernos.

    (SOUZA et al. 2010). justamente pela confuso e desentendimento do sentido das

    palavras tcnica e tecnologia que a moderna vitivinicultura tem sido direcionada,

    quase que exclusivamente, para um mesmo caminho: padronizao e produo em

    escala.

    A elaborao de vinhos artesanais no deve ser entendida simplesmente

    como uma linha de produo de certos artigos modernos fabricados em srie, como

    cerveja ou automveis. Existem diferentes maneiras para elaborar vinhos a partir de

    tcnicas distintas, ou decises distintas para o mesmo estgio de produo. Fatores

    que podemos perfeitamente destacar como o monoplio econmico, a unio e o

    controle de grandes grupos que melhor diluem custos e investimentos, o

    esquecimento de tradies culturais passadas de gerao para gerao e a

    propagao mundial de tcnicas e tecnologia modernas est levando a uma

    padronizao da produo em todo planeta.

  • 11

    Geralmente o vinho artesanal um produto oriundo da agricultura de base familiar.

    Elaborado a partir de tcnicas e conhecimentos tradicionais herdados das geraes

    passadas. A atividade de produzir vinho uma cultura mantida desde os primeiros

    descendentes de italianos estabelecidos no Brasil at os ltimos sucessores atuais

    como o caso do municpio de Cara, regio de estudo deste trabalho. Considera-

    se que o campesinato apresenta uma cultura prpria, que se refere a uma tradio,

    inspiradora, entre outras, das regras de parentesco, de herana e das formas de

    vida local (WANDERLEY, 1996). E, esta forma de vivncia percebida na grande

    maioria dos produtores rurais do municpio de Cara. O desenvolvimento da

    produo do vinho artesanal, no contexto do municpio de Cara - RS conta com a

    influncia da cultura italiana predominante em algumas comunidades, de seus

    costumes e conhecimentos tcnicos tradicionais sobre o trato das videiras e do

    trabalho realizado em famlia. O produto natural, distinto e com sabor diferenciado

    devido particularmente ao local e a forma de produo, ainda aliado com o manejo a

    partir de tcnicas mantidas por geraes consolidou um mercado caracterstico

    conhecido por uma pequena parcela de consumidores. O mercado originou-se

    primeiramente por consumidores locais e posteriormente por recomendaes assim

    como em outros mercados atualmente mais renomados. O produto passou a ser

    apreciado por consumidores locais especialmente, mas tambm ganhou pequenas

    propores regionais, principalmente na regio Metropolitana de Porto Alegre e

    Litornea do RS.

    Dessa forma, a partir do estudo da produo artesanal de vinhos por

    agricultores familiares do municpio de Cara, este trabalho busca responder a

    seguinte questo: qual a situao atual e quais as perspectivas da produo de

    vinho de forma artesanal no municpio de Cara?

    Para responder tal questo, busca-se identificar possveis limitantes e

    perspectivas com relao produo artesanal de vinho realizado por agricultores

    familiares do municpio de Cara. Como desdobramento deste objetivo, o trabalho

    visa caracterizar e descrever os agricultores familiares produtores de vinho; avaliar a

    situao socioeconmica e a insero destes agricultores no mercado.

    Sabe-se que as grandes mudanas decorrentes da Revoluo Verde (RV)

    afetaram, de forma negativa, muitos mercados e economias locais. As mudanas

  • 12

    decorrentes da RV contriburam para marginalizar atividades com caractersticas

    familiares e com uma pequena escala de produo. Esta modernizao alavancada

    pelo Estado, numa aliana com grandes produtores e as indstrias ligadas a

    agricultura, marginalizou muitos agricultores familiares rurais, independente da

    atividade agrcola praticada (MENEGETTI, [s.d.]).

    Esta nova lgica configurou um mercado mais exigente contestando, muitas

    vezes, a forma de produzir, o manejo empregado, tcnicas, at mesmo a quantidade

    produzida tornou-se empecilho na comercializao, entre outros detalhes. Estas

    exigncias levaram a grande maioria dos produtos disponveis no mercado a seguir

    um padro com normas e requisies delimitadas.

    O fato principal neste cenrio a heterogeneidade com que os produtores

    alcanaram sua legalizao. Uma vez sabendo que a desigualdade social fator

    intrnseco para adaptao as novas exigncias do mercado. A informalidade de

    muitos produtores surge como conseqncia deste mercado. Ainda que no sejam

    dados concretos ou tabulados, apenas informao conhecida entre os produtores de

    vinho, Cara possui cerca de doze produtores que comercializam vinho. Geralmente

    a forma sobre saliente de comercializao ainda diretamente ao consumidor.

    Destes, apenas trs esto de acordo com as normas vigentes para comercializao

    do produto. O primeiro a adequar-se obteve sua liberao h apenas dois anos.

    Podemos perceber que o ndice de produtores que permanecem na informalidade no

    municpio atinge 75% do total. Mas, esta realidade comea a transformar-se, pois os

    agricultores tm conscincia de que a legalizao de uns pode se transformar em

    mais um fator de risco para sua atividade.

    Mesmo com as dificuldades que estes agricultores viticultores enfrentam em

    sua atividade, principalmente as de carter artesanal e, nos anima a refletir como a

    atividade vem se mantendo ao longo dos tempos e quais as perspectivas futuras

    para esta atividade.

    A produo artesanal, especialmente exemplos como os citados neste

    trabalho, pouco representa em termos de participao ou composio da economia

    municipal. Mas, a exemplo de outras regies como a Serra Gacha, a arte da

    produo de forma artesanal apresenta potencial que pode se transformar em um

    determinado perodo num setor de destaque no municpio. Tanto que aps dcadas

  • 13

    de produo informal atualmente alguns produtores locais esto procurando se

    adequar legislao vigente visando alocar sua produo em mercados mais

    consistentes. esta nova perspectiva de adequamento s normas que nos motiva a

    avaliar os produtores que esto mais a margem do mercado vincola. Perceber os

    possveis potenciais da produo artesanal se constitui estimulo para caracterizar e

    avaliar o contexto local no intuito de alcanar explicaes que possam fornecer

    respostas acerca da produo artesanal de vinho, dos entraves e de suas

    perspectivas mercadolgicas futuras.

    Assim, a abordagem deste tema inspira o interesse principal de tentar

    caracterizar o mercado da produo artesanal de vinho local pertencente a uma

    comunidade do municpio de Cara na tentativa de explicar a situao atual e as

    perspectivas da produo de vinho artesanal em Cara.

    Para melhor compreenso, o presente trabalho est dividido em 4 captulos

    apresentando a seguinte seqncia: o captulo 1 constitudo da coleta do material

    terico pesquisado em referenciais tericos, artigos publicados em anais, revistas

    cientficas e cadastros referentes ao vinho em sites estaduais e federais. Aborda um

    panorama geral da produo de vinho, o mercado nacional vitivincola, traz alguns

    aspectos institucionais versando a respeito do desenvolvimento regional, aponta

    alguns limitantes e entraves da agricultura familiar e tenta vislumbrar perspectivas

    para um novo rural. O captulo 2 trata do pblico envolvido e da metodologia

    empregada para desenvolver o trabalho. J, o captulo 3 caracteriza a rea de

    estudo onde o trabalho foi desenvolvido. E, por fim, o captulo 4 apresenta os

    resultados obtidos com o desenvolvimento do trabalho. Mais precisamente

    caracteriza os produtores escolhidos. Faz referncia ao mercado do vinho artesanal

    e tambm aponta os limitantes e perspectivas da produo artesanal de vinho local.

    1 PROBLEMA

    Com a implantao do processo de industrializao novos mercados e

    economias se alavancaram abrangendo diferentes atividades agroindustriais e

    diferentes territrios. A partir do estudo da produo artesanal de vinhos por

  • 14

    agricultores familiares do municpio de Cara, este trabalho busca responder a

    seguinte questo: qual a situao atual e quais as perspectivas da produo de

    vinho de forma artesanal no municpio de Cara, RS?

    2 REVISO DE LITERATURA

    2.1 PANORAMA GERAL DA PRODUO DE VINHO

    Nas ltimas dcadas percebem-se grandes mudanas estruturais no setor

    vincola brasileiro. Mudanas ligadas a esforos que permitiram um grau de evoluo

    satisfatrio conforme as exigncias do mercado nacional. Outro aspecto importante

    est relacionado qualidade e o preo que atualmente so compatveis com a

    dimenso do mercado e com a exigncia dos consumidores (MELLO, 2010).

    Percebe-se que a vitivinicultura assume papel relevante na estrutura

    produtiva da regio da serra gacha desde os primrdios da produo do vinho

    pelos colonizadores italianos. Farias (2010) cita alguns autores como Iotti e Moure

    para justificar este surgimento principalmente com a origem dos colonos italianos.

    Estima-se que 54% dos imigrantes eram oriundos do Vneto; 33% da

    Lombardia; 7% da regio de Trento; e 6% das demais regies da Itlia. Estas

    regies so tradicionais produtoras de vinho na Itlia, com uma experincia em

    produo de vinhos que remonta o Imprio Romano. Alm do conhecimento tcnico-

    produtivo acumulado, tais imigrantes trouxeram em sua bagagem uma secular

    experincia de organizao republicana.

    Os primeiros colonos trouxeram mudas de novas variedades de uvas,

    auxiliando no aperfeioamento da qualidade do vinho produzido na regio at ento

    pelos alemes. Passados as duas primeiras safras, que garantiram a subsistncia

    dos colonos, comearam a surgir os primeiros excedentes dos produtos agrcolas e

    agroindustriais (ainda que de forma rudimentar), dando incio a um comrcio inter-

    regional e, em seguida, estadual e nacional, mesmo com todas as dificuldades

    logsticas existentes na poca. Alm dos produtos agrcolas tradicionais da

    subsistncia colonial (milho, batata, trigo, arroz e feijo), as plantaes de uvas se

  • 15

    adaptaram muito bem ao clima, gerando os maiores excedentes entre os produtos

    da regio (FARIAS, 2010).

    Ao analisar os perodos evolutivos da vitivinicultura brasileira, o Instituto de

    Economia Agrcola (IEA) verificou que ela caracteriza-se pela produo de vinhos

    qualitativamente diferenciados ao longo dos ltimos 120 anos. Trs geraes de

    vinhos podem ser descritas conforme a Figura 1.

    O RS, responsvel por cerca de 90% da produo nacional dos produtos

    vincolas, possui informaes relativas produo de uvas, vinhos e derivados e

    comercializao, cuja anlise permite ter uma boa aproximao do desempenho da

    agroindstria vincola do pas (MELLO, 2010). O IEA revela que o consumo de

    vinhos no Brasil de cerca de 2 litros per capita/ano, insignificante em relao

    mdia per capita de 60 litros na Frana, Itlia e Portugal. Na Amrica Latina, os

    argentinos consomem 41,5 litros per capita e os chilenos, 15,7 litros. Mesmo com a

    desvalorizao do real em 1999, o consumo de vinhos importados cresceu em

    relao ao ano anterior. Os avanos significativos foram percebidos em torno do

    desenvolvimento tecnolgico a partir de pesquisas aliado modernizao da

    indstria vincola gerando melhoria satisfatria na qualidade do vinho gacho no

  • 16

    mbito nacional e internacional. Atualmente, verifica-se um interesse crescente por

    parte de novos pases pelas indicaes geogrficas para produtos vincolas e

    tambm para outros produtos da agroindstria.

    Com a unio e controle dos grandes grupos que melhor diluem custos e

    investimentos em propaganda, o rompimento de tradies culturais passadas de

    gerao para gerao e a difuso mundial de tcnicas e tecnologia mais avanadas,

    est levando a produo a uma padronizao em todo planeta.

    No entanto, em relao produo artesanal de alimentos ainda prossegue

    uma relao direta entre produtor-consumidor, sendo ainda muito simples em locais

    distintos. Mas, com a aproximao das grandes redes de distribuio, a valorizao

    da qualidade e da segurana do alimento artesanal se torna algo crucial. A

    vitivinicultura alm de ser, nos ltimos anos, uma atividade significante para a

    sustentabilidade da pequena propriedade tem se tornado importante, tambm, na

    gerao de emprego em grandes empreendimentos, que produzem uvas de mesa e

    uvas para processamento (MELLO, 2010).

    A vitivinicultura brasileira atravessa por ampla renovao de conceitos nos

    ltimos anos. Este processo de reestruturao dos vinhos do Brasil ocorre de forma

    igual ao que vem acontecendo em todo o mundo (MELLO, 2010). Afirmando que os

    vinhos sofreram mudanas, podemos entender que os consumidores modificaram os

    conceitos e sua viso sobre a qualidade e benefcios que um vinho deve apresentar.

    No cenrio internacional, a partir de Mello (2010) o Brasil ocupou em 2007, o

    17 lugar em rea cultivada com uvas e o 19 em produo, segundo dados da FAO.

    No que se refere s ligaes internacionais, dados da mesma fonte revelam que o

    Brasil foi o 11 colocado em exportao de uvas e o 10 maior exportador de suco

    de uva, em quantidade e em valor. Em uma ampla anlise da mesma autora as

    exportaes brasileiras do setor vitivincola somaram, em 2010, 148,33 milhes de

    dlares, 11,95% superiores ao ano de 2009, mas muito aqum das verificadas em

    2008 (194,30 milhes de dlares). As exportaes de uva de mesa, em 2010,

    situaram-se em 60.805 toneladas, 11,45% superiores ao ano anterior. Embora ainda

    muito inferior ao volume exportado, em 2008, observa-se uma retomada no

    crescimento, com ganhos no valor das exportaes, que cresceu 23,58%. Em 2010,

    houve reduo de 47,13% na quantidade de suco de uva exportado. Os vinhos de

  • 17

    mesa, que, em 2009, apresentaram bom desempenho no volume exportado, devido

    ao Prmio de Escoamento da Produo do Governo Federal PEP tiveram no ano

    de 2010, queda de 43,58% e 34,81% na quantidade e no valor, respectivamente.

    Foram exportados 10,18 milhes de litros no valor de 5,30 milhes de dlares. Com

    os vinhos finos, em 2010, foram importados 75,05 milhes de litros de vinhos finos, o

    que representa 75,26% do vinho fino comercializado no Brasil. O vinho fino nacional,

    apesar de ter melhorado a qualidade, conquistado medalhas no exterior e ganhado

    espao na mdia, no conseguiu reconquistar a fatia perdida no mercado para os

    importados.

    2.2 O MERCADO VITIVINCOLA NA PERSPECTIVA NACIONAL

    O mercado vitivincola mundial sempre enfrentou muitas dificuldades

    financeiras por se tratar de um negcio de longo prazo e esta peculiaridade serve

    como empecilho que repele investidores para aumentar o aquecimento deste

    mercado. Indicadores internacionais recentes apontam que o Brasil ser a quinta

    maior economia vitivincola do mundo em 2030. Isso aponta novos rumos para o

    mercado vincola nacional. E este setor precisa ser preparado para esse

    crescimento, pois se acontecer uma demanda aquecida e exigente daqui a vinte

    anos, teremos que tambm ter volume e qualidade at l (APPIO, 2002).

    O vinho gacho tem memria que inicia a partir da prpria histria da

    produo primria no RS, ainda no sculo retrasado: a chegada dos imigrantes, a

    implantao dos parreirais, o processo industrial, a modernizao e finalmente, o

    reconhecimento de que estamos diante de um poderoso e respeitvel segmento da

    nossa economia. Gerador de 100 mil empregos diretos e indiretos, o vinho, no

    pode ser separado da histria dos imigrantes. So 15 mil famlias em propriedades

    de 3 hectares, em mdia, totalizando 30 mil hectares no RS, sendo os maiores

    produtores de uva da regio, Bento Gonalves e Flores da Cunha (APPIO, 2002).

    Nos ltimos anos, tem se tornado importante, tambm, na gerao de

    emprego em grandes empreendimentos, que produzem uvas de mesa e uvas para

    processamento. Em 2010, pode ser visto uma reduo na produo de uvas na

    maioria dos Estados brasileiros com queda de 3,74% em 2010, em relao ao ano

  • 18

    de 2009 (Tabela 1). No RS, o produtor trabalha com um volume de engarrafamento

    pequeno em relao capacidade de investimento do pas. Para melhorar,

    necessita aumentar o consumo de vinho (MELLO, 2010). Um dado significante

    revela que em 2010, somente 43,07% da uva produzida no Brasil foi destinada ao

    processamento para elaborao de vinhos, suco de uva e derivados, sendo o

    restante destinado ao mercado de uva in natura (Tabela 2). Nesse mesmo ano,

    ocorreram problemas climticos que resultaram na reduo da produo de uvas

    para processamento, em especial no RS (MELLO, 2010).

    Tabela 1. Produo de uvas no Brasil em toneladas.

    Em 2009, a crise mundial refletiu fortemente na produo de uvas de mesa,

    sendo que alguns produtores abandonaram parte dos vinhedos; no ano seguinte,

    fatores climticos adversos, especialmente em reas de produo de uvas para

    vinhos, resultaram numa diminuio da produo. No ano de 2010 a maior reduo

    na produo ocorreu no estado baiano com um ndice negativo de 13,51% seguido

    por Minas Gerais que atingiu uma reduo de 10,05% em sua produo comparado

    com o ano anterior. O RS, principal Estado produtor de uvas e vinhos do pas,

    apresentou, em 2010, queda de 6,06% na produo de uvas (MELLO, 2010).

    Tabela 2. Produo de uvas para processamento e consumo in natura no

    Brasil em toneladas.

  • 19

    Conforme j citado anteriormente, os fatores climticos foram os principais

    determinantes pela reduo na produo de uvas e, conseqentemente, dos

    produtos elaborados a partir da uva. No ano de 2010 percebeu-se uma reduo de

    4,49%, em comparao com o ano anterior (Tabela 3). O suco de uva, produto em

    grande expanso atualmente, teve maior vantagem com o deslocamento de parte da

    uva que seria utilizada na elaborao de vinhos tendo assim um aumento na

    produo em 9,17%. Enquanto o suco de uva integral aumentou 67,69%, enquanto

    que o suco concentrado aumentou apenas 1,01%. Os vinhos de mesa apresentaram

    queda de produo de 4,93% e os vinhos finos, reduo de 37,83% (MELLO, 2010).

    Tabela 3. Produo de vinhos, sucos e derivados do RS em litros.

    Basicamente o RS apresentou uma reduo na comercializao de suco e

    vinhos no ano de 2010, em relao ao ano anterior (Tabela 4).

  • 20

    Tabela 4. Comercializao de vinhos e de suco de uva provenientes do RS

    em litros.

    Os vinhos de mesa apresentaram uma reduo de 5,97%, enquanto os

    vinhos finos sofreram diminuio chegando a atingir 35,70%. Esta diminuio na

    comercializao dos vinhos finos pode ser atribuda ao fato de em 2009 terem sido

    criados polticas de reduo de estoques, via PEP. Com o estmulo

    comercializao o resultando foi um crescimento de 56,63% no consumo do produto.

    Comparativamente ao ano de 2008, em 2010 houve um crescimento extremamente

    baixo com ndice de 0,07% na produo. Nesta lgica, os vinhos finos tintos

    apresentaram aumento de 21,12%, em 2010 sobre a produo de 2008 (MELLO,

    2010).

    Os sucos de uva tambm apresentaram um bom comportamento

    mercadolgico em 2010, considerando a diminuio da matria prima disponvel.

    2.3 ASPECTOS INSTITUCIONAIS E O DESENVOLVIMENTO REGIONAL

    Em termos mais institucionais descrevemos um caminho concreto onde a

    produo em pequena escala e rudimentar e ainda a partir de maiores ambies dos

  • 21

    produtores, pode trilhar ou tender por organizaes melhor constitudas se assim ser

    a ambio.

    Douglass North em sua obra, conforme Farias (2010) centra-se em explicar

    como as instituies e suas mudanas afetam a economia. Para Farias (2010),

    conforme o pensamento de North, as instituies so uma forma de reduzir as

    incertezas resultantes da interao humana. Tais incertezas constituem o cerne dos

    mercados (mercados estes marcados pela racionalidade limitada dos agentes e por

    sua complexidade intrnseca) acarretando custos na economia que, para North,

    somente so minimizados a partir do surgimento de instituies.

    Assim, instituies reduzem incertezas na medida em que se constituem em

    um guia para a interao humana. Ainda conforme Farias (2010) North vai alm

    afirmando que as instituies so as regras do jogo em uma sociedade, ou mais

    formalmente, so as limitaes idealizadas pelo homem e que do forma s

    interaes humanas. Elas geram incentivos interao humana, seja na forma

    poltica, social ou econmica.

    No se trata apenas de regras, mas tambm de sistemas de estmulos que

    conformam as instituies polticas e econmicas, o que tornam determinantes e

    fundamentais o desempenho de uma regio ou setor, no longo prazo.

    Talvez esta seja uma das grandes diferenciaes do modelo de anlise

    institucionalista de North: as escolhas individuais dependem de crenas, e essas so

    uma conseqncia do aprendizado cumulativo que se transmite culturalmente de

    gerao a gerao; o tempo a dimenso em que o processo de aprendizagem dos

    seres humanos modela a evoluo das instituies.

    Farias (2010) emprega as concepes de Arend e Crio afirmando que as

    instituies, juntamente com as tcnicas empregadas influenciam nos custos de

    produo e de transao. H assim a necessidade de recursos e tcnicas para

    transformar fatores de produo como a terra, o trabalho e o capital. No entanto, a

    forma de acesso a estes recursos (em geral financeiros), bem como o grau de

    facilidade na obteno dessas tecnologias influenciado pela estrutura das

    instituies. Continuando com o raciocnio de Farias (2010) com base em North,

    afirma que organizaes baseadas num aprendizado coletivo so to importantes

    para a mudana institucional, pois elas so construdas com base em crenas, que

  • 22

    determinaro as recompensas esperadas, fundamentais para a mudana

    econmica. Dessa forma, o desenvolvimento regional pode ser visto como um

    processo que podemos definir como uma organizao social regional. E este

    processo caracteriza-se pelo aumento da base de decises autnomas por parte

    dos atores locais.

    Conforme Silveira et al. [2007?] esta valorizao pode ocorrer de duas

    formas integrantes e no excludentes: a validao legal e a validao social. O autor

    detalha que a validao legal entendida como o aval do poder pblico atravs dos

    servios de inspeo sanitria e vigilncia sanitria, baseados nas normas legais.

    Enquanto que a validao social se entende como a articulao dos diferentes

    agentes envolvidos na produo, distribuio e consumo de um determinado

    produto. Por tanto normas construdas socialmente que estabelecem padres e que

    via controle social so fiscalizadas que representam compromisso de que as normas

    estabelecidas esto sendo cumpridas.

    O contexto vigente marcado pela crescente excluso de amplos

    contingentes sociais, dispensados pelas grandes cadeias agroalimentares. Esta

    realidade aponta para a necessidade de construo de alternativas para outro

    desenvolvimento rural. Esta construo pode apoiar-se na valorizao dos sujeitos

    sociais que trabalham e transformam cotidianamente o espao rural. Desta forma, a

    recriao de unidades de produo agrcola (UPAs) voltados ao processamento de

    alimentos, localizadas no espao rural, buscam o resgate e/ou aperfeioamento das

    prticas tradicionais de processamento artesanal fortemente correlacionados com a

    arte de produzir. Mas necessitando de estmulos de polticas pblicas, participao

    social conjunta ou atravs de luta dos movimentos sociais (SILVEIRA et al. [2007?]).

    Neste contexto pode-se afirmar que h na produo artesanal de vinho um potencial

    adormecido.

    As UPAs podem ser vistas como uma experincia de revitalizao da

    agricultura familiar considerando que a atividade rural aproprie-se de uma

    diversidade de valores e funes (FILIPPI et al. 2006).

    Segundo Schneider (2005), para definirmos agricultura familiar precisamos

    entender alguns indicadores que a caracterizam, principalmente de que as unidades

  • 23

    familiares funcionam com utilizao da fora de trabalho dos componentes da

    famlia, podendo ainda contratar outros trabalhadores eventual ou temporariamente.

    Para Abramovay, citado por Riva (2009), o conceito de agricultura familiar foi

    idealizado e compreendido muito tarde. A expresso agricultura familiar ainda

    recente no Brasil, sendo que at poucos anos atrs a noo de agricultura familiar

    era tratada de forma indiscriminada com noes equivalentes a agricultura de baixa

    renda, pequena produo e ainda agricultura de subsistncia. Julgamento

    relacionado ao desempenho econmico destas unidades. A mesma autora cita

    Benedet Filho (2004) que faz um importante reconhecimento da agricultura familiar

    no cenrio nacional. Tal importncia da agricultura familiar no Brasil fica

    demonstrada no documento Projeto de Cooperao Tcnica INCRA/FAO baseado

    no censo agropecurio do IBGE (1995/96) que existem no Brasil cerca de 5 milhes

    de estabelecimentos rurais que ocupam uma rea de 353,6 milhes de hectares. A

    agricultura familiar ocupa 30% desta rea e representa 85% do total destes

    estabelecimentos gerando 40% do total do valor bruto da produo nacional e

    recebe apenas 25% dos valores pblicos destinados ao financiamento rural.

    De um modo geral, a agricultura caracterizada pelo cultivo da terra,

    visando lucro ou apenas o prprio sustento das famlias, mas a realidade econmica

    recomenda a necessidade de aquisio deste lucro para o sustento de uma vida em

    sociedade (RIVA, 2009).

    A agricultura familiar em seu processo evolutivo acontece a partir da

    modernizao da agricultura alavancado pela RV. Tambm importante mencionar

    que pela consolidao destes complexos agroindustriais surgem reformulaes nas

    polticas agrcolas e mudanas nos incentivos institucionais para a atividade. O

    processo de comercializao ocorre no processo de insero, cada vez mais

    crescente, em circuitos de trocas mercantis e mercados monopolistas. Assim os

    produtores rurais perderam boa parte de sua autonomia tornando-se vulnerveis as

    oscilaes do mercado (RIVA, 2009).

    No mbito da comercializao para a agricultura familiar, as UPAs

    apresentam destaque por possibilitarem os agricultores a atuar em duas importantes

    etapas da cadeia produtiva, o setor primrio e secundrio. Aqui, se parte com a idia

    de mudana do papel da agricultura familiar, no mais apenas de produo de

  • 24

    matria prima, mas tambm de industrializao de sua prpria produo (RIVA,

    2009). Alm disso, conforme Riva (2009) citando Diesel (et al. 2005) a implantao

    de UPAs surge como um resgate dos mtodos de processamento agropecurios das

    famlias e reverte entre agricultura e indstria.

    2.4 LIMITANTES E ENTRAVES DA AGRICULTURA FAMILIAR.

    Diante de um agravamento de ocorrncias provindas aps a implantao do

    modelo agrcola moderno vigente o Estado passou a intervir com seus instrumentos

    a fim de controlar as falhas de mercado, motivado pela busca de eficincia de um

    Estado Modernizador. Sendo que o objetivo maior se deu na busca de instrumentos

    de combate aos altos ndices inflacionrios. As aes governamentais direcionadas

    ao setor agrrio no Brasil foram inicialmente norteadas com a finalidade de

    modernizar todos os setores da economia para promover e dar continuidade ao

    desenvolvimento econmico do pas. Percebe-se, portanto, que as razes que

    determinaram a interveno do Estado no setor rural so pretextos econmicos.

    Produes mais eficientes e qualificadas prevaleceram diante do mercado moderno.

    Muitos dos produtos provindos da agricultura familiar perderam espao diante das

    novas exigncias mercadolgicas. Nestas perspectivas a opo favorvel o

    produtor se adequar s normas estabelecidas ou, permanecer margem do

    mercado. Tanto que perceptvel em ambos os produtores abordados dificuldades

    que vo desde a possibilidade de expanso do mercado ou mesmo da

    comercializao at o reconhecimento e a visibilidade de seus produtos no mercado.

    A identificao do produto fundamental hoje para a prospeco de qualquer

    atividade ou produto. Outra dificuldade percebida em relao ao investimento

    necessrio para entrar em conformidade com a legislao vigente. A grande maioria

    dos produtores familiares est alm de obter condies econmicas prprias para se

    adequar s normas.

    Mielitz e Melo (2008) expressam que as polticas pblicas deixaram claro

    que a opo era pelo agrcola, pela expanso da produtividade, diante dos ideais da

    RV. As aes polticas que guiaram a busca da modernizao agrcola partiram da

    influncia das exportaes agrcolas na balana comercial brasileira. A

  • 25

    modernizao da agricultura modificou qualitativa e quantitativamente os ndices de

    produtividade, iludindo significativos ndices impulsionada por fortes incentivos

    governamentais, como afirma Alberti (2005).

    Em todos os planos de polticas dos distintos governos as aes polticas

    agiram no sentido de promover o desenvolvimento da agricultura enquanto atividade

    econmica. No espao rural, Alberti (2005) menciona que na situao atual do

    Brasil, um grande nmero de produtores familiares depende das atividades agrcolas

    e que estas devem ser estimuladas atravs de polticas, mas esto limitadas pela

    elevada concentrao de renda e de riqueza que caracteriza o pas. Neste sentido,

    Alberti (2005) citando Guanziroli (et al. 2001, p. 6) ressalta:

    O desenvolvimento rural possvel com polticas agrcolas com tcnicas modernas, mas relativamente intensivas no uso do fator abundante o trabalho onde o agricultor familiar capaz de gerar uma renda lquida superior ao custo de oportunidade de seu trabalho. Reconhecem que para alavancar a competitividade da produo familiar na agricultura preciso tambm garantir o acesso a servios essenciais de educao e sade s famlias rurais, eliminando, desse modo, o vis urbano dos investimentos sociais.

    Mielitz e Melo (2008), refletindo do contexto mais macro, avaliam os distintos

    planos influenciados tanto pela viso do que questo agrria, como pela

    conjuntura internacional. Os planos visavam independente de seus respectivos

    perodos, fomentar ou atrelar o desenvolvimento da agricultura enquanto atividade

    econmica do pas. O fato que as alteraes estruturais sucedidas nas ltimas

    dcadas geraram uma nova dinmica nas relaes econmicas e sociais no meio

    rural, alterando fundamentalmente a estrutura e a composio do trabalho rural.

    Outra dificuldade percebida na atividade vincola est na rea de assistncia ao

    produtor. So praticamente duas dcadas que gradativamente a assistncia

    diminuiu, onde atualmente pode-se chegar a afirma que ela no existe no municpio.

    Quando tratamos de desafios para a agricultura familiar e questionamos sua

    autonomia lembramos que os problemas e entraves so diferentes para cada regio,

    estado ou municpio do Brasil. Mesmo com a presena distinta destas dificuldades

    em cada regio todas elas apresentam o mesmo entrave: limitantes para devida

    comercializao da agricultura familiar (RIVA, 2009).

  • 26

    Normalmente os principais entraves encontrados de modo geral nas

    diferentes atividades exercidas pelos agricultores caraenses, de modo especial na

    produo vincola, se apresenta fundamentalmente em quesitos internos como

    gesto da propriedade, conformidade com as leis vigentes, infra-estrutura,

    qualificao dependendo da atividade, independente de seus produtos, garantia de

    mercado, questes geogrficas dependendo da localizao da propriedade,

    disponibilidade de pouco capital. E externos como acesso virio, amparo tcnico

    especializado pelos rgos competentes, enquadramento e acesso s linhas de

    crdito ou programas de financiamento, excluso do processo de desenvolvimento,

    falta de polticas pblicas locais especficas para o agricultor familiar,

    individualismo...

    No podemos analisar as transformaes na agricultura brasileira sem

    considerar as mudanas da economia global. O Estado visou uma agricultura

    tecnificada com utilizao de insumos qumicos e implementos mecnicos

    subsidiando esta modernizao. A tecnologia, a princpio, veio para trazer o

    desenvolvimento da atividade agrcola, contudo Mielitz e Melo (2008) colocam que

    esta tecnologia se ampliou a partir da concorrncia das empresas que forneceram

    insumos para a agricultura. Coube ao agricultor aceitar passivamente o que lhe era

    oferecido. O produtor ficou no meio do processo que de um lodo tem o fornecedor

    de insumos e de outro os distribuidores dos produtos agrcolas. Com isto o produtor

    perdeu o poder de deciso sobre as questes referentes produo e

    comercializao do seu produto.

    perceptvel que a interferncia do Estado com polticas pblicas so

    qualificadas conforme o perodo e principalmente pelas ocorrncias em torno do

    campo econmico. O que temos visto que o conhecimento tecnolgico tem

    favorecido em especial uma parcela da sociedade ou grupos econmicos que tem

    acesso fcil as tecnologias e aos recursos de polticas pblicas.

    Ficou ntido que este padro de modernizao beneficia o maior, o que tem

    mais posses, o que obtm mais poder ou beneficiou uma pequena parcela da

    sociedade. Por outro lado estigmatiza o pequeno produtor, o que diversifica e

    contribui para a preservao ambiental, deixando-os na maioria dos casos, com

    mnimas condies de sobrevivncia. Os atuais rumos do desenvolvimento vm

  • 27

    acentuando o processo de excluso social, caracterstico desta estrutura econmica

    e social. A partir da insero do Brasil no processo de globalizao, uma srie de

    transformaes modificou os cenrios econmico, social e poltico, principalmente.

    A modernizao atendeu aos interesses das grandes indstrias de produtos

    qumicos, implementos agrcolas, sementes modificadas e as polticas pblicas do

    pas esto voltadas este modelo de agricultura que prioriza a exportao de

    produtos agrcolas que passam a ser mercadorias agrcolas, que reduz a diversidade

    de produo e traz danos ao meio ambiente e a segurana alimentar. Para reforar,

    segundo Alberti (2005, p. 4):

    No final dos anos 80, e mais especificamente nos anos 90, observa-se um verdadeiro desmonte das instituies e dos instrumentos que nortearam a Poltica Agrcola Brasileira, em que os volumes de crditos voltados ao segmento agropecurio foram os mais baixos. Essas mudanas se intensificam a partir da abertura comercial acelerada e da integrao regional afetando mais diretamente o segmento agropecurio e agroindustrial, com a

    perda de poder regulatrio e de planejamento.

    Nota-se que com o amadurecimento da participao popular atravs de

    grupos organizados na definio de polticas pblicas, grupos mais populares da

    populao rural tm se beneficiado dos instrumentos de polticas que visa abranger

    segmentos especficos da populao. Essa alternativa ainda no simbolizou e est

    um tanto distante de um patamar ideal diante da vasta gama de anseios da rea

    rural. Pela diversidade de situaes encontradas em nosso pas, as polticas no

    podem ser destinadas de forma geral a todos que trabalham com o agronegcio.

    necessrio garantir acesso aos que dispe de menos condies para que obtenham

    recursos ou aos que ficaram as margens dos recursos por no praticarem o tipo de

    agricultura estabelecida pelo modelo de desenvolvimento vigente.

    No se pode promover um desenvolvimento rural, reduzindo gradativamente

    a rea rural, pois nestes espaos que encontramos uma grande biodiversidade,

    um rico patrimnio ambiental e de formas de vida crescentemente valorizadas nos

    dias de hoje que ganham dimenses promissoras para o processo de

    desenvolvimento (MIELITZ; MELO, 2008).

    2.5 PERSPECTIVAS PARA UM NOVO RURAL

  • 28

    A implantao da RV consolidou um aumento nas produes e significativa

    rentabilidade econmica. Mas por trs destas incrveis mudanas surgiram

    conseqentemente inmeros conflitos, principalmente sociais e ambientais. Com o

    aumento das produes, foi necessrio aumentar as reas de produo e com todas

    as tecnologias modernas a favor deste crescimento a expanso no cessou. Gerou

    mobilidades entre as sociedades, onde muitas vezes a adaptao ao novo ambiente

    no acontecia de forma plena. Este modelo concentrou terras e riquezas a mo de

    poucos e parte da sociedade obrigou-se vender a mo-de-obra, descaracterizando o

    trabalho de sustentabilidade prpria, dos valores profissionais, culturais, da relao

    homem/natureza, onde passou a ser explorado em nome do capitalismo

    (LUTZENBERGER, 2001).

    No contexto atual percebe-se que uma nova ruralidade emerge no Brasil.

    Basicamente resultado de uma estratgia recente de produo agrcola onde as

    commodities passam a ceder mais espao a produtos artesanais. Esta tendncia se

    confunde com um marcante desenvolvimento do comrcio de produtos orgnicos

    que passa a proporcionar maior espao a mercados ainda de nicho (RIVA, 2009).

    Vislumbra-se, a partir do potencial presumido na atividade vincola no contexto

    caraense, que as caractersticas encontradas na produo artesanal pode seguir a

    concepo da autora. A mesma autora ainda cita Wilkinson e Mior (1999) para

    afirmar que as anlises e estratgias dessa nova tendncia tm como base o novo

    ambiente competitivo responsvel pela reestruturao das cadeias agroindustriais

    tradicionais. Um conjunto de fatores, a partir dos anos 1990 como

    desregulamentao e integrao regional, instituiu novas condies de

    competitividade nestas cadeias.

    Para que estas famlias permaneam estveis nestes mercados cada vez

    mais competitivos depende da sua capacidade de interagir com aspectos mais

    abrangentes como gesto de suas UPAs, emprego de novas tecnologias como

    complemento e alternativa para suas tcnicas tradicionais e considerar sua infra-

    estrutura observando uma adequao conforme a atividade que desenvolvem e o

    mercado a que pertencem.

    Do ponto de vista do agricultor, parece evidente que suas estratgias de

    reproduo, nas condies modernas de produo, em grande parte ainda se

  • 29

    baseiam na valorizao dos recursos de que dispem internamente, no

    estabelecimento familiar, e se destinam a assegurar a sobrevivncia da famlia no

    presente e no futuro. De certa forma, os agricultores familiares modernos

    enfrentam os novos desafios com as armas que possuem e que aprenderam a

    usar ao longo do tempo.

    Este novo rural est representado pelos produtores familiares rurais, mais

    ativos que com dinamismo e suficincia prpria, buscam insero nos mercados.

    Ocorre pela procura de agregao de valor aos seus produtos, acrscimo da renda

    das famlias agrcolas bem como a reteno e manuteno dos jovens no meio rural.

    Assim a agroindustrializao destes produtores familiares rurais pode ser vista como

    um reflexo deste novo rural, sendo uma das formas de insero das famlias e de

    seus produtos no mercado (RIVA, 2009).

    Mesmo que com todos os entraves existentes localmente lentamente os

    produtores vincolas caraenses esto buscando espao neste mercado competitivo.

    Afinal trata-se de um produto diferenciado que impregna uma cultura consolidada h

    mais de um sculo.

    3 METODOLOGIA

    O universo emprico estudado compreende duas famlias de agricultores

    familiares rurais estabelecidas no interior de Cara mais especificamente na

    comunidade de Passo Osvaldo Cruz, local habitado principalmente por

    colonizadores italianos. Por se tratar de uma pesquisa de investigao e

    conhecimentos ser empregado o mtodo de estudo emprico para desenvolver a

    pesquisa.

    3.1 DEFINIO DOS PRODUTORES ESCOLHIDOS

    As famlias do interesse deste trabalho esto inseridas em uma comunidade

    interiorana de Cara. As duas se encontram inseridas na comunidade de Passo

    Osvaldo Cruz, regio montanhosa e pedregosa, com mata preservada e rica em

    recursos naturais. Possuem rea prpria e dependem de seu trabalho na

  • 30

    propriedade para sua sobrevivncia. So duas famlias bem constitudas,

    agricultores familiares tpicos e desenvolvem a produo de vinho desde sua

    juventude. Herana que trazem de seus pais e avs com determinao, pois mais

    de meio sculo que desenvolvem a atividade.

    Apresentam ainda algumas caractersticas distintas que se tornam

    importantes para o objeto de estudo deste trabalho. So tradicionais e mantm a

    tradio de produzir vinho de forma artesanal h pelo menos trs geraes. O

    trabalho de produzir vinho rene muitos dos membros da famlia dispersados em

    outras regies. Ainda utilizam tcnicas herdadas dos ancestrais. Enfrentam as

    dificuldades normalmente trocando experincias para suavizar os problemas que

    surgem no processo de produo de vinho. So produtores rurais simples e todas as

    suas necessidades so alcanadas com seu prprio trabalho. Conciliam o trabalho

    na lavoura com a cultura que firma sua identidade como colonos italianos a

    produo artesanal de vinho. Cabe destacar que o fazem com grande orgulho, mas

    com o aumento de problemas internos e externos ligados produo e a qualidade

    final do produto os mais jovens esto perdendo a determinao para dar

    continuidade atividade. Caractersticas estas que consideramos especiais para

    escolher estes agricultores.

    Afim de melhor delinear caractersticas estruturais e familiares distintas dos

    produtores vamos delimit-los como produtores A e B e sero analisadas questes

    exclusivas produo de vinho. Esta atividade considerada especial pelos

    agricultores e normalmente uma poca onde se renem outros membros da famlia

    para agregar mo de obra.

    No caso do produtor A sua famlia est composta por cinco pessoas onde

    quatro destas trabalham ativamente. Com a reunio dos outros membros da famlia,

    dispersos em outras regies, nesta poca chegam a somar doze pessoas que

    trabalham ativamente. A justificativa para este acontecimento o fato da produo

    ser desenvolvida de forma totalmente artesanal. Em processos mais demorados na

    produo do vinho o emprego de mais mo de obra, exclusiva familiar, auxilia em

    ganhos de eficincia nestes processos.

    A partir de dados estimados pelo produtor A, conta com uma rea superior a

    um hectare e meio de parreiras. Diversifica com a variedade francesa principalmente

  • 31

    e bord ambas para a produo de vinhos tintos. E com a variedade champanhe

    que produz vinho branco. Calcula que 90% da sua produo representada pelo

    vinho tinto. Colheu aproximadamente um total de nove toneladas na ltima safra e

    estima que tenha perdido mais de uma tonelada de uva devido a problemas

    fitosanitrios e climticos.

    Suas instalaes e equipamentos so totalmente artesanais. Produz e

    comercializa por dcadas informalmente, fato que admite ser hoje um dos maiores

    entraves na atividade. No utiliza produto de nenhuma espcie no processo de

    fabricao, apenas emprega as tcnicas utilizadas pelos avs.

    Com o produtor B sua famlia est composta por trs pessoas onde todos

    trabalham ativamente. Com a reunio dos outros membros da famlia, tambm

    dispersos por outras regies, inclusive regio metropolitana de Porto Alegre e Litoral,

    somam nove pessoas que trabalham ativamente.

    Tambm a partir de dados estimados o produtor B conta com uma rea

    superior a dois hectares de parreiras. Diversifica com as mesmas variedades que o

    produtor A: bord, francesa e champanhe. Produz vinho tinto, branco e h dois anos

    iniciou um novo trabalho com a produo de suco da uva francesa. Estimou para a

    ltima safra que produziu 60% de suco, 30% de vinho tinto e 10% de vinho branco.

    Colheu aproximadamente um total de onze toneladas na ltima safra e garante que

    perdeu duas toneladas de uva pelos mesmos motivos apontados pelo produtor A.

    Diferentemente do produtor A, nosso produtor B busca a legalizao de sua

    atividade a pelo menos dois anos. Segundo o produtor por conta de dificuldades de

    assessoria tcnica e principalmente financeira pouco a pouco segue buscando sua

    formalidade conforme sua condio.

    3.2 CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO

    Este trabalho se prope abranger duas famlias de produtores familiares

    rurais do municpio de Cara. O municpio est localizado na regio do litoral norte

    do estado do RS entre a serra, a metrpole e o mar. Com uma extenso de 292,5

    km faz divisa com os municpios de Santo Antnio da Patrulha ao sul, Maquin a

  • 32

    norte, Osrio a leste e Riozinho a oeste, sua distncia em relao capital do

    estado de 96 km .

    Cara possui cerca de 7.300 habitantes. Tem como principal fonte de renda

    a agricultura e indstrias de calados.

    A populao caraense formada por uma mescla de vrias etnias, como

    alemes, portugueses, poloneses e a grande maioria italiana. Diante destes

    inmeros povos, encontramos uma abundante bagagem cultural, que mesmo com o

    passar dos anos e com o intenso intercambio cultural ocorrido nas ultimas dcadas,

    resguardam traos mais ou menos marcantes de sua cultura original. A exemplo

    podemos considerar a atividade de produo de vinho artesanal ou colonial

    desenvolvida em muitas comunidades caraenses onde h presena de

    colonizadores italianos.

    O municpio faz parte da Mesorregio Metropolitana de Porto Alegre e est

    inserido na Microrregio de Osrio. Figura 2.

    O relevo ondulado a montanhoso, alguns morros variam entre 200 e 800

    metros de altitude. Apresenta vales s margens dos rios constitudos por gramneas.

    A temperatura do municpio apresenta mdia anual de 19,08C com mxima

    chegando at 39C e mnima a 0C, e a umidade relativa do ar 79%, sua

  • 33

    temperatura mxima j chegou a 39C e sua mnima a 0C. Apresenta variao de

    chuvas entre 1200 e 1500 mm anuais sendo que os meses com maior densidade

    setembro e os de menor so maro e abril (PREFEITURA MUNICIPAL, 2011).

    Sua economia tem base nas prticas agrcolas, com produo de

    hortifrutigranjeiros, segmento voltado ao turismo, gastronomia diversificada com o

    comercio de produtos caseiros (PREFEITURA MUNICIPAL, 2011).

    A maior parte do comrcio local depende dos trabalhadores da indstria

    caladista, sendo que o maior plo comercirio localiza-se na sede e em seguida em

    torno das indstrias. Apesar de o comercio no ser amplo se mostra estruturado e

    com opes para as principais necessidades da populao.

    No que tange o local onde o trabalho ser desenvolvido trata-se de uma

    comunidade basicamente formada por descendentes italianos. A economia local gira

    em torno da agricultura familiar e dos produtos elaborados pelas famlias. A

    comunidade no possui indstrias e o comrcio varejista essencialmente composto

    por produtos alimentcios. O mercado de servios praticamente no existe restando

    apenas pequenos servios de carpintaria e alguns trabalhos artesanais envolvendo

    couro e madeira principalmente. Trata-se de uma comunidade simples e com

    potencial em alguns produtos como o vinho colonial.

    3.3 ESCOLHA E APLICAO DA METODOLOGIA

    Para a realizao da pesquisa foi utilizado o mtodo de estudo emprico. A

    pesquisa de estudo emprico visa conhecer em maior profundidade o como e o

    porqu de uma determinada situao descobrindo o que h de mais essencial e

    caracterstico. No h pretenso do pesquisador em intervir sobre o objeto a ser

    estudado, mas sim mostr-lo como o percebe (GERHARDT; SILVEIRA, 2008).

    Podendo ser tambm (ou ainda ) uma forma de realizar uma pesquisa social

    emprica, investigando fenmenos que no esto claramente definidos dentro de um

    contexto de vida real (CAMPOMAR, 1991 apud YIN, 1990). Mltiplas fontes de

    evidncias podero ser utilizadas para dar nfase completa descrio e ao

    entendimento do relacionamento dos fatores envolvidos (CAMPOMAR, 1991).

  • 34

    Para o desenvolvimento da pesquisa foram utilizados dados coletados

    atravs de entrevista detalhada cujo roteiro segue anexo e fontes secundrias. Os

    dados secundrios so de acesso mais imediato e podem fornecer critrios valiosos

    para obteno e interpretao dos dados da pesquisa mesmo relevando suas

    limitaes (LUCKMANN, 2006 apud MALHOTRA, 2002). Os dados da entrevista

    foram coletados a partir de um questionrio semi-estruturado, ou seja, um roteiro de

    entrevista. Este mtodo utilizado para obteno dos dados qualitativos de forma

    direta e pessoal. A entrevista foi aplicada aos gestores das duas propriedades. Foi

    considerado o tempo que permanecem na atividade, as tcnicas que empregam, a

    organizao estrutural e social da Unidade de Produo Agrcola (UPA) e o fato

    principal, as dificuldades que estes produtores vm enfrentando. Optou-se por

    aplicar a pesquisa na poca da colheita a fim de facilitar a compreenso dos dados e

    adquirir material terico adequado para o desenvolvimento do trabalho. Os dados

    das fontes secundrias foram coletados em referenciais tericos, artigos publicados

    em anais, revistas cientficas e cadastros referentes ao vinho em sites estaduais e

    federais. Mesmo com a elaborao de um roteiro de pesquisa a formulao de

    perguntas ser influenciada pelas respostas do entrevistado. Assim o papel do

    entrevistador se torna relevante para obter respostas valiosas e significativas

    (LUCKMANN, 2006 apud MALHOTRA, 2002).

    A coleta dos dados secundrios e a realizao das entrevistas tm o

    propsito de atender aos objetivos especficos caracterizando o contexto histrico e

    o comportamento do setor em estudo localmente objeto de estudo, assim como

    identificar fatores potenciais e limitantes desta cadeia produtiva.

    4 RESULTADOS

    Notoriamente a atividade vincola artesanal local apresenta-se distinta, pois

    h produes especialmente para comercializar em forma de vinho e tambm suco,

    como o caso dos produtores do interesse deste trabalho. Outros agricultores

    produzem apenas para consumo prprio no realizando a comercializao de seus

    produtos. Constata-se tambm a presena de pequenas parreiras destinadas

    apenas para consumo in natura.

  • 35

    Conscientes das barreiras externas produo artesanal como exemplo o

    aumento da produo industrial, a padronizao do produto, concorrncia com as

    importaes e maiores exigncias sanitrias, interferiram na atividade desenvolvida

    pelos produtores do municpio de Cara. Basicamente o maior entrave entre a

    maioria dos produtores de carter legal. Na maioria dos casos a adequao as

    normas vigentes pouco so consideradas. O reflexo maior percebido est na

    comercializao do vinho artesanal ou colonial que sofreu uma reduo na demanda

    nos ltimos anos. Apesar dos entraves e das barreiras comerciais, a produo em si

    apresenta riscos principalmente na qualidade da matria prima. O maior empecilho

    est ligado aos fatores climticos que influenciam automaticamente a qualidade do

    produto.

    A pesquisa partiu com a aplicao de um instrumento baseado em

    questionamentos sobre a realidade local e a vivncia dos produtores no mbito do

    tema apontado neste trabalho. O contato com os produtores perdurou por volta de

    dezesseis dias onde foi possvel obter uma viso geral da atividade de produo do

    vinho artesanal. No foi possvel acompanhar totalmente o processo de elaborao

    do vinho, pois o procedimento inicial, a poda, aplicado ainda no ms de agosto. A

    pesquisa foi aplicada entre os meses de janeiro e fevereiro, perodo de colheita e

    transformao. O acompanhamento das etapas de transformao foi realizado de

    forma alternada com os dois produtores para melhor compreenso das

    particularidades. Acompanhou-se em mdia duas horas de cada procedimento com

    cada produtor. Por motivos ticos privou-se a identidade dos produtores. Assim

    designou-se produtor A e produtor B para aludir suas peculiaridades.

    4.1 CARACTERIZAO DOS PRODUTORES

    Num primeiro momento cabe ressaltar as particularidades dos produtores

    envolvidos. Apesar de se tratar da mesma atividade entre os dois produtores existem

    distines especficas na atividade como no caso do produtor B. Alm da produo

    artesanal, atividade comum entre os dois produtores, o produtor B conduz por duas

    safras um projeto de diversificao da produo utilizando a uva como matria

    prima.

  • 36

    4.1.1 CARACTERSTICAS PARTICULARES DO PRODUTOR A

    O produtor faz parte da terceira gerao de uma famlia italiana tradicional.

    O costume da produo do vinho mantido da mesma forma, com as mesmas

    tcnicas e conhecimentos utilizados ainda pelo seu av. Provindo de uma gerao

    de dez irmos, seis homens e quatro mulheres, sempre viveu das prticas agrcolas.

    Possui 68 anos, casado, pai de dois filhos sendo que um vive no meio urbano.

    Obtm um total de 25 hectares de terra sendo que 40% so prprias para cultivo. O

    restante da rea formada por morros cobertos por mata nativa.

    A atividade de produo de vinho tida como complemento da renda

    familiar e no entendida como atividade principal. A atividade desenvolvida

    paralelamente com outras atividades presentes na UPA.

    Encontramos entre as variedades de uva cultivadas a bord sendo

    aproximadamente 10%, francesa com cerca de 80% e as variedades nigara e

    champanhe das espcies claras que somam 10% da produo.

    Com sua atividade o produtor estima que sua mdia de produo gira em

    torno de nove e doze toneladas de uva por safra em uma rea de aproximadamente

    dois hectares. Sendo que na ltima safra o rendimento alcanou cerca de trs mil e

    quinhentos litros de vinho, onde mais de trs mil litros foram de vinho tinto. Mas j

    alcanou mdia de aproximadamente quatro mil e quinhentos litros de vinho.

    Para melhor compreender o processo de fabricao do vinho artesanal ou

    colonial podemos entender os processos utilizados para se chegar ao produto final.

    Inicialmente se parte com a colheita da uva na parreira, passando por um processo

    de seleo dos gros, a fermentao e transformao da uva no vinho e finalmente

    o armazenamento. De um modo mais sucinto basicamente se realiza a vindima,

    aps h uma necessidade de separar os gros verdes ou podres dos sadios, se

    esmagam os gros de uva. O caldo extrado aps esmagar a uva, segue misturado

    com a casca, a semente e o cacho para dentro de um barril que permanecer por

    mais ou menos sete dias. No h adio de qualquer tipo de produto que no seja

    unicamente uva. Este espao de tempo servir para fermentar e proporcionar o

    tempo necessrio para que o mosto, propriamente dito, se separe do resto das

    impurezas contidas dentro do barril. Logo, aps a fermentao, h a necessidade de

  • 37

    se transferir o vinho limpo para outro barril que ficar armazenando o mosto por

    tempo indeterminado.

    O produtor explicou que muita chuva prxima a colheita diminui a

    quantidade de acar na uva, seguido de muito sol facilita o apodrecimento da fruta

    e tambm um amadurecimento heterogneo. Em partes da parreira houve a

    necessidade de deixar mais alguns dias sem colher para que os frutos

    amadurecessem adequadamente. J em outras partes foi visvel a quantidade de

    frutos perdidos por estarem maduros demais ou apresentarem algum tipo de dano.

    4.1.2 CARACTERSTICAS DISTINTAS DO PRODUTOR B

    Da mesma maneira que o produtor A o produtor B faz parte da terceira

    gerao de uma famlia italiana tradicional. J se aventurou na indstria quando

    mais jovem. Mas a experincia o trouxe de volta para a agricultura. Foi produtor de

    farinha de milho nos anos 80 com moinho artesanal movido energia hdrica. Hoje

    pratica atividades agrcolas moderadas por conta de seus 75 anos. Casado, pai de

    quatro filhos, apenas um permanece na propriedade ajudando nas atividades

    agrcolas dirias. Possui uma rea de 80 hectares sendo que 40% so adequadas

    para cultivar. Assim como o produtor A h presena de morros com depresses

    acentuadas e cobertas por mata nativa.

    Em sua atividade vincola o produtor calcula que sua produo varia em

    torno de dez a treze toneladas de uva por safra em uma rea de quase trs

    hectares. Sendo que na ltima safra o rendimento foi de mil e quinhentos litros de

    vinho e mais de trs mil e trezentos litros de suco de uva. Esta variao se d

    exclusivamente por influncia do clima.

    Dentre as variedades de uva que o produtor trabalha esto a francesa com

    cerca de 70% da produo, bord com cerca de 15% e tambm com as variedades

    nigara e champanhe das espcies claras que somam 15% da produo.

    A partir da antepenltima safra o produtor decidiu investir na produo de

    suco de uva, um processo mais industrializado, algo indito na regio. Com o suco

    pretende abranger a princpio em maior escala consumidores locais e sua clientela j

    conquistada. Importante destacar como e porque surgiu a idia depois de dcadas

  • 38

    de se diversificar com um novo produto. A explicao do produtor que o prprio

    vem aumentando a produo de uva enquanto que a demanda de vinho est

    diminuindo. E ainda existem clientes que procuravam ou o questionavam porque no

    produzir suco. Em muitos casos uma famlia que visita a propriedade a procura do

    vinho e normalmente o homem que consome. Assim, com o suco, teria opo para

    todos os componentes da famlia que visitam sua cantina. Com o passar dos anos a

    idia foi amadurecendo at que o projeto passou a ser levado em considerao.

    Atualmente a segunda safra que se empenha na produo de uva. Num panorama

    inicial a nova atividade alcanou bons resultados motivando o produtor a procurar

    mercado para inserir seu produto. A princpio busca possibilidades de se incluir em

    um programa especfico do governo federal.

    Com o suco garantiu na safra passada cinco reais a garrafa. Com sua nova

    atividade o produtor precisou ampliar seus elos comerciais, alm de adquirir

    equipamentos prprios para produo de suco. A maior dificuldade foi encontrada

    com o vasilhame para armazenagem, pois para a aquisio em fornecedores seria

    necessrio uma quantidade mnima. Quantidade que ultrapassava

    consideravelmente sua necessidade e seu oramento. Necessitou tambm de uma

    pesquisa de tcnicas para a produo, consultando rgos especficos de apoio.

    Outro quesito importante e positivo para a UPA do produtor B foi a necessidade de

    se adequar as exigncias das normas sanitrias vigente.

    Com a produo do suco natural da uva o processo sofre algumas

    modificaes. Em comparao com o vinho, constata-se que no seria possvel

    obter o suco com equipamentos artesanais. Primeiramente o produtor teve que

    adquirir equipamento industrial especfico assim como os vasilhames para

    armazenamento. Para o suco, alm do mais, necessrio utilizao de energia, o

    gs de cozinha (GLP), para o processamento em duas panelas industriais

    especficas para a transformao do fruto no suco, tampinhas de garrafa, um

    aparelho para tampar as garrafas e vasilhame para armazenar o produto.

    A transformao do fruto no suco um procedimento simples, basta

    cozinhar a uva na panela industrial desenvolvida para liberar apenas o lquido deste

    processo de cozimento. Este lquido o suco e diretamente liberado para a garrafa

    onde ser armazenado. Depois de cheias as garrafas so ligeiramente tampadas,

  • 39

    este processo que garante a conservao do produto. Na panela, que cozinha a uva,

    h um dispositivo fazendo com que o lquido caia diretamente dentro da garrafa.

    Para tampar a garrafa se utiliza um dispositivo que acionado manualmente

    fazendo uma presso considervel sobre a tampa e o bico da garrafa, desta forma

    manter o contedo da garrafa protegida das aes externas que podem

    comprometer o suco. O processo de transformao lento, consegue-se produzir

    em mdia treze garrafas em uma hora por panela.

    Cabe mencionar que o produtor B, assim como o produtor A, trabalhou na

    informalidade por anos, mas com suas novas perspectivas precisou legalizar sua

    cantina. Ciente de que necessita estar regularizado para alcanar seus objetivos

    com sua nova atividade o produtor B est tomando providncias para conseguir

    trabalhar de modo formal. O produtor obtm instalaes ainda rsticas na maior

    parte construdas a partir de madeira. Seus equipamentos tambm apresentam a

    madeira como principal matria prima onde o aspecto artesanal bem caracterstico.

    Estas caractersticas desconfigura o padro exigido pela legislao vigente, onde

    materiais porosos estariam descartados para o manejo adequado na atividade que

    desenvolve.

    Hoje conta com local encaminhado para ser ideal, conforme as exigncias

    sanitrias e est buscando junto aos rgos competentes sua legalizao. Cabe

    ressaltar neste quesito a falta de auxlio e de maior presena no local de rgos de

    apoio ao novo projeto do produtor B.

    4.2 O MERCADO DO VINHO ARTESANAL

    Ao longo de dcadas a produo de vinho artesanal ficou diversificada com

    o vinho tinto, produzido com uva da variedade bord e francesa e o vinho branco,

    produzido com uva da variedade champanhe e nigara principalmente. O vinho

    colonial produzido em Cara possui mercado consolidado h dcadas, basicamente

    formado por uma clientela fiel que simpatiza com o produto colonial.

    A comercializao do vinho rende dois reais e cinqenta centavos o litro do

    vinho tinto e trs reais e cinqenta centavos o vinho branco, mdia local. Esta mdia

    se mantm h pelo menos trs anos entre a maioria dos produtores. Basicamente a

  • 40

    atividade de produo de vinho de modo geral no contexto caraense vista como

    complemento a renda familiar. desenvolvida em conjunto com outras atividades

    agrcolas.

    O mercado do vinho artesanal teve incio primeiramente por consumidores

    locais e posteriormente por recomendaes assim como em outros mercados

    atualmente mais renomados. O produto passou a ser apreciado por consumidores

    locais especialmente, como parentes, vizinhos, amigos e conhecidos. Mas tambm

    ganhou pequenas propores regionais, principalmente na regio Metropolitana de

    Porto Alegre e Litornea do RS. Desde a dcada de 70 que pode-se afirmar que

    este mercado est consolidado levando em conta as particularidades existentes.

    Dentre as particularidades existentes podemos citar a falta de rotulagem, cuidados

    fitosanitrios para garantir a qualidade do produto por um espao de tempo maior e

    disponibilidade do produto unicamente na propriedade.

    Pelo relato dos agricultores tem-se um vislumbre que o modelo agrcola

    moderno acabou atingindo de forma negativa o mercado vincola local pela

    concorrncia dos produtores artesanais locais com os produtos provindos da

    indstria. O reflexo maior est sendo percebido na comercializao do produto. A

    venda de todo estoque de vinho h alguns anos era em mdia de quatro a cinco

    meses, mais precisamente de abril a agosto. Atualmente este intervalo de tempo

    aumentou para mais dois meses em mdia. Percebe-se tambm uma queda, ainda

    que pequena, na procura do produto. Dos problemas apontados pelos produtores

    normalmente esto problemas com a qualidade que a cada ano diminui devido a

    dificuldades nas questes fito sanitrias das videiras, aumento da concorrncia com

    produtos industrializados, aumento das exigncias do mercado que geralmente leva

    o cliente a procurar produtos novos que tenham procedncia. Tambm citam que a

    gerao mais nova no considera o produto colonial com a mesma idia apreendida

    pelo pai ou pelo av, por exemplo. Ou seja, as questes culturais, por esta lgica,

    no apresentam o mesmo valor atribudo por geraes mais antigas. Estes fatores

    pelo entendimento dos agricultores entrevistados acabam balizando a

    comercializao do produto.

    Partindo destes relatos percebe-se que h conscincia dos produtores que

    estar em conformidade com as normas vigentes um passo importante para ampliar

  • 41

    as fronteiras mercadolgicas. Mas por falta de informao ou talvez de maior

    interesse continuam na informalidade. Entre os principais entraves apresentados

    pelos produtores o emprego de capital que no dispem para adequao de suas

    cantinas e a incerteza na questo da sucesso familiar.

    Apesar dos entraves existentes a produo artesanal mantida e

    nitidamente no possuem inteno de cessar. Apenas esto condicionados a

    comercializar informalmente, restritos venda direta e geralmente para um pblico

    especfico que normalmente so as mesmas pessoas que adquirem o produto h

    anos, ou seja, uma clientela fiel.

    4.3 LIMITANTES E PERSPECTIVAS DA PRODUO DO VINHO

    ARTESANAL LOCAL

    Pelo relato dos produtores fica visvel uma gama de dificuldades em torno da

    cadeia produtiva da uva. De modo geral as dificuldades de cunho interno esto

    calcadas principalmente partindo pela influncia da bagagem cultural deixada e

    adquirida dos ancestrais. De certa forma esta bagagem cultural pode ser entendida

    como um potencial na atividade, mas para ser promissora precisa se adaptar s

    exigncias sanitrias e legais vigentes. Mesmo que as perspectivas destes

    produtores familiares nesta atividade ainda sejam obscuras a determinao por

    manter esta cultura viva uma condio coletiva vista entre os produtores

    caraenses.

    Ainda segundo os produtores afirmam que infelizmente no municpio h uma

    deficincia presencial dos rgos como a EMATER, do Sindicato dos Trabalhadores

    Rurais (STR) e at mesmo da administrao municipal que incide na perda de

    eficincia e desenvolvimento da atividade no municpio.

    Basicamente toda a experincia e tcnicas em torno da produo de vinho

    que utilizam atualmente so aprendizagens vivenciadas por volta das dcadas de

    1970 e 1980. So mais de 30 anos dando continuidade as mesmas tcnicas e

    conhecimentos. Mas podemos destacar a famlia no contexto local como

    componente estratgico nos processos histricos que envolvem o ambiente rural. As

    prticas agrcolas utilizadas pela famlia que garantiram a transmisso do saber

  • 42

    fazer que foi sendo repassada de gerao em gerao atravs das prticas do

    cotidiano.

    De acordo com Woortmann (1997) a reproduo social da famlia rural est

    alicerada em noes de hierarquia e gnero que refletem diretamente na

    organizao do trabalho e na diviso das tarefas tanto agrcolas como no agrcolas,

    sendo o trabalho familiar elemento central de uma lgica econmica prpria dos

    produtores rurais.

    Mas o cenrio agrcola brasileiro, em meio a um perodo de 30 anos,

    atravessou por grandes transformaes. Utilizando apenas seus conhecimentos e

    tcnicas, no acompanhando as dinmicas mercadolgicas, a informalidade, o

    individualismo, falta de acompanhamento e polticas distintas provavelmente levou

    estes agricultores margem do mercado. Nesta tica, com as transformaes da

    agricultura brasileira, a partir dos ideais da RV, os produtores rurais perderam o

    poder de deciso sobre as questes referentes produo e comercializao do seu

    produto. Com uma agricultura tecnificada, coube ao agricultor aceitar passivamente

    o que lhe era oferecido (MIELITZ e MELO, 2008).

    Outros elementos indispensveis nesta discusso de tentar compreender as

    disparidades da produo artesanal de vinho caraense so as organizaes de

    apoio que podem contribuir para alavancar a cadeia produtiva. Estas instituies,

    conforme Riva (2009) representam e desempenham um papel crucial por

    estabelecer, definir e limitar o conjunto de escolhas individuais. Alm de estas

    instituies formarem a estrutura de incentivo da sociedade, tm como finalidade

    auxiliar a conquista da auto-suficincia e do desenvolvimento da agricultura familiar.

    Dentre as organizaes presentes localmente podemos destacar a

    EMATER/RS ASCAR, com a misso, entre outras, de promover aes de

    assistncia tcnica e social e o SENAR, entidade sem fins lucrativos, vinculado a

    FARSUL e a CNA, que presta aes educacionais que visam o desenvolvimento e o

    aperfeioamento do trabalhador rural. Mesmo no destacando os motivos estas

    entidades atuam de forma tmida na regio e este reconhecimento por parte dos

    produtores envolvidos neste trabalho saliente. Mas como j mencionado no h

    fatores claros que determinam a ausncia das entidades no contexto local.

  • 43

    Naturalmente a atividade vincola est ganhando destaque e espao no

    mercado regional e nacional. Para a situao dos produtores caraenses a falta de

    organizao e especializao podem ser entendidos como os principais fatores que

    balizam a prospeco da comercializao do produto.

    Portanto Woortmann (1997), a partir de Nicoloso (2006), afirma que a

    gerao de capital quando associada a uma valorizao dos saberes locais, das

    caractersticas culturais de um determinado grupo, das condies ambientais do

    espao onde os mesmos vivem, trabalham e se reproduzem culturalmente, se

    tornam propcios para a gerao do desenvolvimento socioeconmico local. Pode,

    alm do mais, se transformas numa alternativa que firme a gerao mais nova no

    espao rural garantindo a sucesso, a expanso da atividade possibilitando melhor

    qualidade de vida aos produtores familiares rurais locais.

    5 CONLUSO

    No contexto local caraense verifica-se, com base nos materiais tericos

    utilizados, que a produo artesanal de vinho apresenta potencial para consolidao

    de um mercado promissor. Para os produtores que visam ampliar suas fronteiras,

    obter maior eficincia produtiva e comercial inevitvel observar questes que

    abrangem a especializao, tcnicas empregadas no processo de transformao e

    exigncias legais vigentes. Fundamentalmente que estes aspectos possam ser

    adaptados conforme as necessidades dos produtores mas sem descaracterizar suas

    peculiaridades.

    Dos fatores externos a adequao s normas vigentes e assistncia tcnica

    especializada so atualmente fatores indispensveis na busca da ampliao da

    atividade produtiva de vinho artesanal. Nos entraves internos fatores como falta de

    organizao coletiva, cursos de especializao e emprego de tcnicas mais

    modernas para o cultivo da videira, controle fitoterpico e tratamento adequado s

    videiras tambm so indispensveis.

    Notou-se que h o reconhecimento destes entraves por parte dos

    agricultores. Mas este reconhecimento precoce e necessitar de um mdio espao

  • 44

    de tempo para alcanar resultados significativos dada as condies

    socioeconmicas dos produtores.

    Nestas perspectivas o individualismo e a falta de organizaes coletivas

    reforam os limitantes encontrados localmente para a produo vincola. A

    explorao do contedo terico utilizado neste trabalho normalmente motiva ou

    recomenda a organizao de atores sociais que se identificam atravs de uma

    atividade semelhante.

    O mercado de vinho est caracterizado pela grande complexidade, entre

    outros motivos, pela diversidade dos tipos de vinho e da multiplicidade das

    exigncias legais a respeito. A produo de vinho artesanal ou colonial enfrenta

    atualmente problemas de competitividade no mercado alm de apresentar sria

    fragilidade.

    Percebe-se que os produtores artesanais destacados vivenciam uma

    realidade onde costumes, prticas, atividades e valores esto preservados

    localmente. Independente das transformaes e exigncias do mercado atual o fato

    principal que alimentam uma expectativa de romper barreiras que limita o

    progresso, ou a expanso da atividade de produzir vinho artesanalmente. Parte

    deste anseio decorrente das exigncias legais que os limitam na atividade. De

    certa forma as exigncias fitosanitrias e legais vigentes pressionam os agricultores

    a mudar sua postura diante das exigncias mercadolgicas atuais. Tanto que os

    produtores esto procurando se adequar. No que a adequao as normas seja o

    fator determinante que baliza os produtores. Existem outros motivos apontados que

    tambm so cruciais no suprimento das necessidades de expandir a atividade. Mas

    visvel a fragilidade em que a atividade se encontra e tambm, por outro lado o

    potencial que a atividade esconde.

    O presente trabalho possibilitou uma reflexo acerca da cadeia produtiva da

    uva no contexto local caraense fornecendo tambm uma pequena viso na

    conjuntura mais abrangente. Possibilitou uma reflexo mais detalhada acerca da

    atividade. O tipo e a forma da atividade praticada ocorrem numa dinmica

    tipicamente tradicional.

    Em suma a continuidade da atividade nos moldes atuais aponta para uma

    estagnao sem perspectivas de desenvolvimento. Mas o contexto geral demonstra

  • 45

    que os produtores esto preocupados com a situao, tanto que cogitam a

    necessidade de rever sua postura diante das transformaes mercadolgicas que

    ocorreram nas ltimas dcadas.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ALBERTI, R. L. Possvel Pensar Desenvolvimento da Pequena Produo Agrcola na Conjuntura Atual a Partir de Polticas Essencialmente Agrcolas? Texto destinado ao XLIII Congresso da SOBER. Ri