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Maria Valtorta O EVANGELHO COMO ME FOI REVELADO VOLUME PRIMEIRO Captulos 1-78 CENTRO EDITORIALE VALTORTIANO Todos os direitos reservados Ttulo original: LEvangelo come mi stato rivelato Volume Primo, capitoli 1-78 Traduo do italiano de Aristides Taciano Rodrigues Reviso aos cuidados do Centro Editoriale Valtortiano srl. Copyright 2000 by Centro Editoriale Valtortiano srl. Viale Piscicelli 89-91 03036 Isola del Liri - Italia ISBN 978-88-7987-076-4 ISBN 978-88-7987-075-7 (Obra completa de 10 volumes) Digitao e impresso: Centro Editoriale Valtortiano srl ndice do volume primeiro Nascimento e Vida oculta de Maria e Jesus.

1. 2. 3. 4. 05.00.00

Pensamento de introduo. Deus quis um seio sem mcu la. Joaquim e Ana fazem um voto ao Senhor. A festa dos Tabernculos. Joaquim e Ana possuam a Sabedoria. Ana com um cntico anuncia que ser me. No seu ventre est a alma imaculada de Maria. Nascimento de Maria. A sua virgindade no eterno pensamento do Pai.

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23 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. Purificao de Ana e oferecimento de Maria, que a Menina perfeita para o reino dos Cus. A pequena Maria com Ana e Joaquim. Em seus lbios j est a Sabedoria do Filho. Maria acolhida no Templo. Ela, em sua humildade, no sabia que era a Cheia de Sabedoria. A morte de Joaquim e de Ana foi suave depois de uma vida de sbia fidelidade a Deus nas provaes. Cntico de Maria. Ela se lembrava de tudo o que o seu esprito havia visto em Deus. Maria confidencia o seu voto ao Sumo Sacerdote. Jos escolhido como esposo da Virgem. Esponsais da Virgem com Jos, instrudo este pela Sabedoria para ser o guarda do Mistrio. Os Esposos chegam a Nazar. Como concluso do Pr-Evangelho. A Anunciao. [Lc 1, 26-38] A desobedincia de Eva e a obedincia de Maria. Maria anuncia a Jos a maternidade de Isabel e confia a Deus a tarefa de justificar a sua. Maria e Jos dirigindo-se a Jerusalm. [Lc 1, 39] Partida de Jerusalm. O aspecto mstico de Maria. A importncia da orao para Maria e Jos. Chegada de Maria a Hebron e seu encontro com Isabel. [Lc 1, 40-55] Os dias transcorridos em Hebron. Os frutos da caridade de Maria para com Isabel. [Lc 1, 5s] Nascimento de Joo Batista. Todo sofrimento se acalma no ventre de Maria. [Lc 1, 57-58] Circunciso de Joo Batista. Maria uma Fonte de Graa para quem acolhe a Luz. [Lc 1, 59-79] Apresentao de Joo Batista no Templo e partida de Ma ria. O Sofrimento de Jos. Jos pede perdo a Maria. F, caridade e humildade para receber a Deus. [Mt 1, 18-25] O edito do censo. Ensinamento sobre o amor ao esposo e sobre a confiana em Deus. [Lc 2, 1-3] 37 41 48 55 58 66 70 76 83 89 91 94 103 108 * 110 114 119 127 134 137 144 149

28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. 43.

A chegada a Belm. [Lc 2, 4-5] Nascimento de Jesus. Eficcia salvfica da divina maternidade de Maria. [Lc 2, 6-7]

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O anncio aos pastores, que se tornam os primeiros adoradores do Verbo feito homem. [Lc 2, 8-20] 167 A Visita de Zacarias. Santidade de Jos e obedincia aos sacerdotes. 176 Apresentao de Jesus ao Templo. A virtude de Simeo e a profecia de Ana. [Lc 2, 22-38] A cano de ninar da Virgem. Adorao dos Magos. Evangelho da f. [Mt 2, 1-12] A Fuga para o Egito. Ensinamentos sobre a ltima viso ligada vinda de Jesus. [Mt 2, 13] A sagrada Famlia no Egito. Uma lio para as famlias. [Mt 2, 14-15] Primeira lio de trabalho dada a Jesus, que no saiu da regra da idade. Maria, mestra de Jesus, de Judas e de Tiago. Preparativos para a maioridade de Jesus e partida de Na zar. O exame de Jesus maior de idade no Templo. A disputa de Jesus com os doutores no Templo. A angstia da Me e a resposta do Filho. [Lc 2, 41-50] A morte de Jos. Jesus a paz de quem sofre e de quem morre. 251 A concluso da Vida escondida. 257 182 188 191 204 213 221 225 232 236 241

Primeiro ano da Vida pblica de Jesus. 44. 45. Jesus se despede de sua Me e deixa Nazar. O pranto e a orao da CoRedentora. 261 Pregao de Joo Batista e Batismo de Jesus. A divina manlfestao. [Mt 3, 1-17; Mc 1, 2-11; Lc 3, 1-18.21-22; Jo 1, 19-34] 269 46. 47. Jesus tentado por Satans no deserto. Como se vencem as tentaes. [Mt 4,1-11; Mc 1,12-13; Lc 4,1-13] O encontro com Joo e Tiago. Joo de Zebedeu o puro entre os discpulos. [Jo 1, 37-39] 274 280

48. 49.

Joo e Tiago falam a Pedro sobre o encontro com o Messias. [Jo 1, 4041] O encontro com Pedro e Andr depois de um discurso na sinagoga. Joo de Zebedeu, grande tambm na humildade. [Jo 1, 42]

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289 50. 51. 52. 53. 54. 55. 56. 57. 58. 59. 60. 61. Em Betsaida na casa de Pedro. O encontro com Filiope e Natanael [Jo 1, 43-51] Maria manda Judas Tadeu convidar Jesus para as bodas de Can. As bodas de Can. O Filho, no mais sujeito Me, realiza, a pedido Dela, o primeiro milagre. [Jo 2, 1-11] A expulso dos vendedores do Templo. [Jo 2,12-25] O encontro com Judas de Keriot e com Tom. Simo Zelote curado da lepra. Um encargo confiado a Tom. Simo Zelote e Judas Tadeu unidos na sorte. Em Nazar com Judas Tadeu e com outros seis discpulos. Cura de um cego em Cafarnaum. O endemoninhado curado na sinagoga de Cafarnaum. [Mc 1, 21-28; Lc 4, 31-37] Cura da sogra de Simo Pedro. [Mt 8,14-15; Mc 1, 29-31; Lc 4, 38-39] 353 Jesus faz o bem aos pobres depois de ter contado a par bola do cavalo amado pelo rei. [Mt 8,16-17; Mc 1, 32-34; Lc 4, 40 -41] 359 62. 63. 64. 65. 66. 67. 68. 69. 70. Jesus procurado pelos discpulos enquanto reza na noite. [Mc 1, 35-39; Lc 4, 42-44] O leproso curado perto de Corozaim. [Mc 1, 40-45; Lc 5,12-16] 367 O paraltico curado em Cafarnaum. [Mt 9,1-8; Mc 2,1-12; Lc 5,17-26] 372 365 298 306 309 315 320 326 332 338 341 347

A pesca milagrosa e a eleio dos quatro primeiros apstolos. [Mt 4, 1822; Mc 1, 16-20; Lc 5, 1-11] 377 Judas de Keriot no Getsmani torna-se discpulo. O milagre das lminas quebradas porta dos Peixes. Jesus, no Templo com o Iscariotes, ensina. Jesus instrui Judas Iscariotes. No Getsmani com Joo de Zebedeu. Uma comparao entre o Predileto 380 383 388 393

e Judas de Keriot. 71. 72. 73. 74. 75. 76. 77. 78. Judas Iscariotes apresentado a Joo e a Simo Zelote. Em direo a Belm com Joo, Simo Zelote e Judas Iscariotes.

399 405 408

Em Belm, na casa de um campons e na gruta do Nascimento. 412 No albergue de Belm e nos escombros da casa de Ana. Jesus reencontra os pastores Elias e Levi. Em Juta na casa do pastor Isaque. Sara e os seus meninos. Em Hebron na casa de Zacarias. O encontro com Aglae. Em Keriot. Morte do velho Saul. 422 432 438 446 453

Nascimento e Vida escondida de Maria e de Jesus. 1. Introduo. Deus quer um seio sem mcula. Deus me possuiu no principio de seus caminhos. Salomo, Provrbios cap. 8 v. 22. 22 de agosto de 1944. 1Jesus me ordena: Pega um caderno todo novo. Copia, na primei ra 1.1 folha, o ditado do dia 16 de agosto. Neste livro se falar dela. Obedeo e copio. 16 de agosto de 1944. 2 Jesus diz: 1.2 Hoje escreve apenas isto. A pureza, na sua expresso mxima*, tem um tal valor que torna o seio de uma criatura capaz de conter o que no podia ser contido. A Santssima Trindade desceu com a sua perfeio em um pe queno espao, habitando-o com as suas Trs Pessoas, encerrando l o seu Infinito, sem diminuir-se com isso, pois o amor da Virgem e a vontade de Deus dilataram este espao at transform-lo num Cu. Eis como essas caractersticas se manifestaram: * Assim como no sexto dia, o Pai recria a Criatura, tendo uma fi lha digna e verdadeira, feita sua perfeita semelhana. A imagem de Deus estava estampada em Maria de tal modo que s no Primo gnito do Pai lhe era superior. Maria pode ser chamada a segundo gnita do Pai porque, pela perfeio que lhe foi dada e sabida con servar, por dignidade de esposa e me de Deus e tambm de Rainha do Cu, vem depois do Filho do Pai no seu eterno Pensamento, que ab aeterno nela se compraz; o Filho, sendo tambm para ela Filho ensinando-a, por mist _________________ * mxima, em vez de absoluta, correo da escritora Maria Valtorta (que a par tir deste momento indicaremos com a sigla MV) feita numa cpia datilografada. A presente edio da sua obra reproduz o texto original autografo e assinala em anotao sejam as nossas correes como as MV tiradas da cpia datilografada, da qual tratamos em nota ao texto de 174.10 e de 335.7. * sexto dia da criao, descrito em: Gnesis 1,24-31.

11 rio de graa, a sua verdade e sabedoria quando ainda no era mais que um embrio que lhe crescia no ventre; o Esprito Santo, aparecendo entre os homens por uma anteci pada Pentecostes, por uma prolongada Pentecostes, Amor naquela que amou, consolao dos homens, pelo fruto do seu ventre, santifi cao, pela maternidade do Santo. 3Deus, para manifestar-se aos homens, da forma nova e completa que inicia a 1.3 era da Redeno, no escolheu para seu trono um astro do cu, nem o palcio real de um poderoso. No quis nem mesmo as asas dos anjos como base para seus ps. Quis um seio sem mcula. Eva tambm tinha sido criada sem mancha. Mas espontanea mente quis corromper-se. Maria, tendo vivido num mundo corrupto (Eva, ao contrrio, vivera num mundo puro) no quis prejudicar a sua inocncia nem mesmo com um pensamento voltado ao pecado. Sabia que o pecado existe. Viu os vultos diversos e horrveis. Viu todos, at o mais horrendo vcio: o deicdio. Mas os conheceu para expi-los e ser, eternamente, aquela que tem piedade dos pecadores e ora por suas redenes. 4 Este pensamento ser introduo a outras coisas santas que da rei para teu 1.4 conforto e de muitos outros. 2. Joaquim e Ana fazem um voto ao Senhor. 22 de agosto de 1944. 1 Vejo o interior de uma casa. Nela est sentada, junto a um tear, uma mulher 2.1 de idade. Diria, ao v-la com os cabelos antes pretos, agora grisalhos, e no rosto no enrugado mas j cheio daquela se riedade que vem com os anos, que ela possa ter entre cinqenta e cinqenta e cinco anos. No mais. Ao indicar estas idades femininas me baseio no rosto de minha me, cuja imagem tenho mais que nunca presente nestes dias que me lembram os seus ltimos dias junto ao meu leito... Depois de ama nh far um ano que no a vejo mais... Minha me tinha um rosto jovial, sob os cabelos precocemente embranquecidos. Aos cinqenta anos eram brancos e pretos como no fim de sua vida. Mas, exceto a maturidade do olhar, nada denunciava os seus anos. Por isso poderia errar tambm ao dar s mulheres idosas um certo nmero de anos. Esta que vejo tecer, em uma sala toda clara de luz, que penetra da porta escancarada sobre um grande pomar - diria, um sitiozinho, 12 porque se estende num sobe e desce, at uma encosta verde - boni ta em seus traos decididamente hebreus. Olhos negros e profundos que, no sei porqu, me lembram os de Joo Batista. Mas este olhar sendo altivo como de uma rainha, doce tambm. Como se sobre o seu coruscar semelhante ao de uma guia fosse estendido um tnue vu azul. Doce e apenas um pouco triste, como de quem pensa, e la menta, as coisas perdidas. A tez morena, mas no excessivamente. A boca, levemente grande, bem desenhada, e est parada num gesto austero que porm no duro. O nariz comprido e delicado, levemente inclinado para baixo. Um nariz aquilino que fica bem com aqueles olhos. robusta, mas nao gorda. Bem proporcionada e creio que alta, a julgar de como aparece sentada. Parece-me que est tecendo uma cortina ou um tapete. As lan adeiras multicolores correm rpidas sobre a trama que marrom escuro, e o que j est feito mostra um vago entrelaamento de ga les e rosceas nos quais verde, amarelo, vermelho e azul profundo se cruzam e se fundem como em um mosaico. A mulher est vestida com uma roupa muito simples e escura. Um roxo-avermelhado que parece igual a alguns amores-perfeitos.

2Levanta-se ao ouvir bater porta. alta realmente. Abre. 2.2 Uma mulher lhe pede: - Ana, queres dar-me a tua nfora? Eu a encherei para ti. A mulher tem consigo um menininho travesso de cinco anos que se pendura imediatamente nos vestidos da nominada Ana, que o acaricia enquanto vai em um outro cmodo e retorna com uma boni ta nfora de cobre, que oferece mulher dizendo: - Tu s sempre boa, com a velha Ana. Deus te recompense por isto e pelos filhos que tens e ters, tu bem-aventurada! Ana suspira. A mulher a olha e no sabe o que dizer por aquele suspiro; para desviar a compaixo, que se compreende existe, diz: - Eu te deixo Alfeu, se no te aborreces, assim posso andar mais depressa e te encherei muitas moringas e jarras. Alfeu est bem alegre de ficar, e explica-se o motivo. Tendo ido embora a me, Ana o pega no colo e o leva ao pomar, o levanta at uma parreira de uvas loiras como topzio e diz: - Come, come, que so gostosas - e o beija no rostinho sujo de suco de uva, que o menino arranca avidamente do cacho. Depois ri com gosto, e parece imediatamente mais jovem por causa dos dentes bo nitos que aparecem e pela alegria que lhe cobre o rosto, anulando os anos, quando o menino diz: 13 - E agora o que me ds? - ele a olha com dois olhos grandes arre galados de um cinzento azul escuro. Ela ri e brinca inclinando-se sobre os joelhos, dizendo: - O que me ds se te dou... se te dou... adivinha! O menino, batendo as mozinhas, diz todo risonho: - Beijos, beijos te dou, Ana bonita, Ana boa, Ana mame!... Ana, ouvindo dizer: Ana mame, d um verdadeiro grito de afeto jubiloso e se abraa contra o pequenino, dizendo: - Oh que alegria! Querido! Querido! Querido! - A cada querido um beijo desce sobre a pequena face rsea. E depois vo a uma es tante, e vai tirando de um prato pezinhos de mel. - Fiz os pezinhos para ti, beleza da pobre Ana, para ti que me queres bem. Mas, diz-me, quanto me queres bem? E o menino, pensando naquilo que mais o impressionou, diz: - Tanto quanto amo o Templo do Senhor. Ana o beija ainda sobre os olhinhos espertos, sobre a boquinha vermelha, e o menino a toca de leve como um gatinho. A me vai e vem com o cntaro cheio e ri sem dizer nada. Ela os deixa ao seu entusiasmo. 3Entra do pomar um homem ancio, um pouco mais baixo que Ana, com 2.3 uma cabea de cabelos espessos todos brancos. Um rosto claro, de barba aparada, com dois olhos azuis como turquezas entre clios de um castanho claro quase loiro. Est vestido de marrom es curo. Ana no o v porque virou-se de costas porta, e ele vem atrs dela dizendo: E a mim nada?. Ana vira-se e diz: - Oh Joaquim! Terminastes o teu trabalho? Ao mesmo tempo, o pequeno Alfeu lhe abraa os joelhos dizendo: - A ti tambm, a ti tambm! Quando o ancio se inclina e o beija, o menino cinge-lhe o pesco o despenteando-lhe a barba com as mozinhas e com beijos. Joaquim tambm tem o seu presente. Tira de trs das costas a mo esquerda e lhe oferece uma ma to bonita que parece de cermica. Rindo diz ao menino, que estende as mozinhas avidamente: -Espera que a corto em fatias para ti. Assim no podes. maior do que tu. Com um canivete que carrega cintura, uma faca de poda dor, a corta em fatias, parecendo dar de comer a um passarinho no ninho, tal o cuidado com que coloca os bocados na boquinha aber ta que mastiga e mastiga.

14 - Mas olha s que olhos, Joaquim! No parecem dois pedacinhos do mar da Galilia, quando o vento da noite lana um vu de nuvem no cu? Ana fala apoiando uma mo nas costas do marido e apoiando-se tambm levemente a si mesma, num gesto que revela um profundo amor de esposa, um amor intacto, depois de muitos anos de casa mento. Joaquim a olha com amor e concorda dizendo: - Maravilhosos! E aqueles caracoizinhos? No tm a cor da palha que o sol secou? Olha: entre eles h uma mistura de ouro e cobre. 4- Ah! Se tivssemos tido um menino, teria querido assim, com estes olhos 2.4 e estes cabelos... Ana est inclinada, alis, ajoelhada e com um grande suspiro, beija os dois grandes e belos olhos cinza-azulados. Joaquim tambm suspira. Mas quer consol-la. Coloca-lhe a mo sobre seus cabelos crespos e embranquecidos e lhe diz: - Convm ainda esperar. Deus tudo pode. Enquanto se vivo, o milagre pode acontecer, especialmente quando se ama e se amado. Joaquim frisa muito as ltimas palavras. Mas Ana calada, desalentada, est com a cabea inclinada para no mostrar duas lgrimas que descem, e que somente o pequeno Alfeu v; admirado e angustiado por ver a sua grande amiga chorar, como faz algumas vezes, levanta a mozinha e enxuga aquele pranto. - No chores Ana! Somos felizes assim mesmo. Ao menos eu sou, porque tenho a ti. - Eu tambm. Mas no te dei um filho... Penso que desagradei a Senhor, j que me secou as entranhas... - Oh minha mulher! Em que tu, santa, queres ter-lhe desagrada do? Escuta. Vamos ainda uma vez ao Templo. Por este motivo. No s pelos Tabernculos. Faamos uma longa orao... Talvez te acontea * como com Sara... ou com Ana de Elcana. Muito esperaram, e se acreditavam reprovadas por serem estreis. Ao invs disso, nos cus de Deus, amadurecia um filho santo para elas. Sorri, minha esposa. O teu pranto me di mais do que no ter prole... Levaremos Alfeu conosco e o faremos orar, ele que inocente... Deus ouvir a sua e a __________________ * como com Sara, em: Gnesis 17,15-21; 18,10-15; 21,1-3; com Ana de Elcana, em 1 Samuel 1; 2,1-10. Mencionadas como as mulheres que tiveram o Dom da maternidade mesmo sendo idosas e estreis (Sara me de Isaac, Ana de Elcana me do profeta Samuel), sero igualmente recordadas em: 104.4 - 138.4 - 300.2 - 346.4 - 473.8 - 486.4 - 561.15 - 569.4. 15 nossa orao, nos atendendo ento. - Sim. Faamos um voto ao Senhor. Ser seu o recm-nascido. Contanto que nos conceda... Oh! Ouvi-lo chamar-me mame!. E Alfeu, espectador admirado e inocente: - Eu te chamo assim! - Sim, querida alegria... mas tu tens a tua mame e eu... eu no tenho nenhuma criana... A viso termina aqui. 5Entendo que iniciou o ciclo do nascimento de Maria. E estou muito 2.5 contente, porque o desejava muito. Penso que tambm o senhor * ficar contente. Antes que eu comeasse a escrever, ouvi a Me dizer: - Filha, escreve ento sobre mim. Todo o teu desgosto ser con solado. Enquanto dizia isto, me pousava a mo sobre a cabea em uma suave carcia. Depois veio a viso. Mas a princpio, ou seja, enquanto no ouvi chamar a senhora de cinqenta anos por nome, no

havia compreendido estar diante da me da me e por isto da graa do seu nascimento.

3. A festa dos Tabernculos. Joaquim e Ana possuam a sabedoria. 23 de agosto de 1944. 1Antes de continuar, fao aqui uma observao. 3.1 A casa no me parece aquela j bem conhecida de Nazar. Ao menos o ambiente muito diferente. Tambm o pomar mais vasto, e alm disso, pode-se ver os campos. No muitos, mas enfim, alguns. Depois, quando Maria casou-se, havia s o horto, vasto mas limitado a horto, e este quarto que vi, nunca vi em outras vises. No sei se devo pensar que, por motivos pecunirios, os pais de Maria se des fizeram de parte de seus pertences ou se Maria, saindo do Templo, _____________________ * senhor o diretor espiritual da escritora, o padre Romualdo M. Migliorini, da Congregao Ordine dei Servi di Maria, ao qual MV se dirige com frequncia. Por vezes vem favorecido um seu desejo (como em: 44.7 e em 45.10) ou lhe de dicado um episdio (como em: 58.1) ou lhe dirigido um ensinamento (como em nota a 180.5 e em 234.10) ou lhe vem feita uma confidncia (como em 185.1 e 212.3). Leva a Comunho escritora (108.3). - Todo o passo que se segue (de Antes at nascimento) vem escrito como anotao no incio do caderno autgrafo, na face interna da sobrecapa; contudo, nos o colocamos aqu, por ser evidente que se refira ao contedo do presente captulo. 16 passou para uma outra casa, talvez presenteada por Jos. No me lembro se nas vises e lies passadas tive qualquer indcio seguro de que a casa de Nazar fosse a casa nativa. A minha cabea est muito cansada. E depois, sobretudo por cau sa dos ditados, eu me esqueo logo das palavras, mesmo se os co mandos me permanecem gravados na mente e a luz me permanece na alma. Mas os pormenores se desvanecem imediatamente. Se de pois de uma hora tivesse que repetir aquilo que ouvi, com exceo de uma ou duas frases principais, no saberia mais nada. Enquanto que as vises ficam vivas na mente, porque tive de observ-las por mim mesma. Recebo os ditados. As vises, ao invs, devo perceber. Por isto, elas ficam vivas no pensamento, pelo esforo em observar as suas fases. Esperava que houvesse um ditado sobre a viso de ontem. Em vez disso, nada. 2Comeo a ver e escrevo. 3.2 Fora dos muros de Jerusalm, sobre as colinas e entre as oliveiras h uma grande multido. Parece uma enorme feira. Mas no exis tem bancas e barraces. No h o vozerio de charlates e vendedores. Nem jogos. H ali muitas tendas de l speras, certamente imperme veis, estendidas sobre estacas cravadas ao cho. Ligadas s estacas h ramos verdes que ornam e refrescam. Outras tendas, ao invs, so de ramos fincados ao cho e sendo ligadas assim: ^ , so como pequenas galerias verdes. De baixo de cada uma, h pessoas de toda idade e condio, e um falar tranqilo e concentrado, interrompido apenas por algum grito de criana. Desce a noite e as luzes de candeiazinhas a leo, j brilham inten samente aqui e ali, pelo acampamento estranho. Ao redor das luzes algumas famlias consomem a ceia. As mes esto sentadas no cho, com os menores no colo, onde alguns, cansados, adormecem ainda com o pedao de po nos dedinhos rseos, tombando a cabecinha so bre o seio materno, como pintinhos sob a galinha; as mes terminam de comer como podem, com uma das mos, enquanto a outra segura o filhinho junto ao corao. Outras famlias, ao contrrio, no esto jantando ainda e conversam na semi-escurido do crepsculo, espe rando que a refeio fique pronta. Alguns fogos so acesos aqui e ali, e ao seu redor as mulheres afadigam-se. Alguma cantiga de ninar muito lenta, diria quase

lamentosa, embala uma criana que custa a adormecer. No alto, um bonito cu sereno torna-se sempre mais azul pro 17 fundo at parecer um enorme velrio de veludo macio de um azul escuro; sobre ele lentamente, invisveis artfices e decoradores di ligentemente fixam jias e lamparinas, as quais isoladas, como em bizarras linhas geomtricas, deixam sobressair a Ursa maior e a me nor com a sua forma de carro com a estaca apoiada ao cho, depois que os bois foram destacados do jugo. A estrela polar ri com todo o seu esplendor. Percebo que outubro * porque uma voz grave de homem o diz: - bonito este outubro como poucos o foram! 3 Eis Ana que vem de um fogaru com algumas coisas entre as mos, 3.3 estendidas sobre um grande po bem plano que serve tambm de bandeja. Preso s suas saias est Alfeu, que tagarela com a sua vozinha. Joaquim est na soleira da sua pequena cabana de ramos falando com um homem de uns trinta anos. (Alfeu de longe o sada com um gritinho agudo dizendo: Papai) Quando Joaquim avista Ana que se aproxima, apressa-se em acender a candeiazinha. Ana passa com o seu porte majestoso entre as fileiras de cabanas. Real, mesmo se humilde, Ana no soberba com ningum. Levanta o menino de uma pobre mulher, que caiu, exatamente a seus pes, ao tropear na sua corrida travessa. Visto que havia sujado o rostinho de terra, ela o limpa, consolando-o porque chora, e o devolve me, que chega correndo e se desculpa. Ana respode: Oh! No nada! * Estou contente que no tenha se machucado. um bonito menino. Quantos anos tem? - Trs anos. o penltimo e logo terei um outro. Tenho seis me ninos. Agora queria uma menina... Para uma me importante uma ____________________________________ * Outubro: por vezes - assim anota MV na cpia datilografada - os nomes so ditos em italiano, (por consenguinte, traduzidos em portugus), para melhor compreen so do leitor. A correspondncia entre os meses do calendrio hebraico, regulado pelo ano lunar, que iniciava na Primavera (como referido em 68.4), e os meses do nosso calendrio, regulado pelo ano solar, aproximativa: 1. nisam, ou abid como em 413.6 (Maro-Abril); 2. ziv ou zio como em vulgata ou em 461.7 (Abril-Maio); 3. sivan (Maio-Junho); 4. tamnuz ou tanuz como em 442.3 ou tamuz como em 461.16 (Junho-Julho); 5. ab (Julho-Agosto); 6. elul (Agosto- Setembro); 7. tisri ou etanim (Setembro-Outubro); 8. marchesvan ou bul (Outubro-Novembro); 9. casleu (No vembro-Dezembro); 10. tebet (Dezembro-Janeiro); 11. scebat (Janeiro-Fevereiro); 12. adar (Fevereiro-Maro). O ms de marchesvan ou bul no jamais mencionado na obra, que talvez reserva ao oitavo ms o nome de etanim separando-o de tisri. Os meses tinham incio com o novilnio, chamado neomnia. Para recuperar o atraso do ciclo lunar sobre o ano solar, de vez em quando se duplicava o ms de adar e se obtinha um ano de treze meses (chamado anno embolsmico em 114.8). _______________________________ * Oh! No nada! As frases do dilogo que aqui inicia so escritas de forma contnua na pgina autgrafo, ao p da qual MV anota: (Para poupana de papel escre vo os dilogos sem ir ao incio da linha. Pego que o faam ao copi-los). 18 menina... - O Altssimo muito te consolou, mulher! - Ana suspira. E a outra: - Sim. Sou pobre, mas os filhos so a nossa alegria e os maiorzi nhos j ajudam no trabalho. E tu, senhora (tudo indica que Ana seja de condio mais elevada, pois a outra o notou) quantas crianas

tens? - Nenhuma. - Nenhuma?! Esta no tua? - No, de uma vizinha muito boa. o meu conforto... - Morreram ou... - No, nunca as tive. - Oh! - A pobre mulher a olha com piedade. Ana se despede com um grande suspiro e vai sua cabana. - Eu te fiz esperar, Joaquim! Uma pobre mulher entreteve-me; me de seis filhos, imagine! E ter outro! Joaquim suspira. O pai de Alfeu chama o seu filho, mas este lhe responde: - Eu fico com a Ana. Estou ajudando-a. - Todos riem. - Deixa-o. Ele no me d aborrecimento. Ainda no est obrigado a observar a Lei. Estando aqui ou ali, ele no passa de um passarinho comilo. - diz Ana que senta-se com o menino no colo, ao qual d po com peixe assado. Vejo que antes de dar o peixe, parece estar lhe ti rando os espinhos. Depois serve o marido. Ela come por ltimo. 4A noite est sempre mais cheia de estrelas e as luzes sempre mais 3.4 numerosas no campo. Depois lentamente muitos candeeiros se apa gam. So daqueles que jantaram antes e que agora se pem a dor mir. Tambm o murmrio diminui devagar. Vozes de meninos no se ouvem mais. S alguma criana de peito faz ouvir a sua vozinha de cordeirinho buscando o leite da mame. A noite sopra o seu h lito sobre as pessoas, apagando desgostos e lembranas, esperanas e rancores. Alis, talvez Joaquim e Ana sobrevivam tranqilizados, seja no sono, que no sonho. Ana o diz ao marido, enquanto embala Alfeu que comea a dor mir em seus braos: - Esta noite sonhei que no prximo ano eu virei Cidade Santa para duas festas, ao invs de uma. E uma ser a ddiva da minha criana ao Templo... Oh! Joaquim!... - Espera, espera Ana. No ouvistes outra coisa? O Senhor no te segredou nada em teu corao? 19 - Nada. Somente um sonho... - Amanh o o ltimo dia de orao. Todas as ofertas j foram feitas. Mas as renovaremos ainda amanh, solenemente. Convence remos Deus com o nosso amor fiel. Eu penso sempre que te acontece r o mesmo que com a Ana de Elcana. - Queira Deus... e que houvesse logo algum que me dissesse: V em paz. O Deus de Israel te concedeu a graa que pedistes! - Se a graa vier, o teu menino dir-te- mexendo-se pela primeira vez no teu ventre, e ser voz de inocente, por isto, voz de Deus. Agora o campo cala-se no escuro. Ana tambm devolve Alfeu cabana contgua e o pe sozinho sobre a enxerga de feno prximo aos irmozinhos que j dormem. E depois deita-se ao lado de Joa quim, e tambm a sua lamparina se apaga. Uma das ltimas estreli nhas da terra. Ficam mais bonitas as estrelas do firmamento a velar sobre todos os que dormem. 5Jesus diz: 3.5 Os justos so sempre sbios porque, sendo amigos de Deus, vivem em sua companhia e so instrudos por Ele, que Infinita Sabedoria. Os meus avs eram justos e por isto tinham a sabedoria. Podiam dizer com verdade quanto diz o Livro *, cantando os louvores da Sabe doria, no livro: Eu a amei e a procurei desde a juventude e procurei torn-la minha esposa. Ana de Aro era a mulher forte de quem fala o nosso Av. E Jo aquim da estirpe do rei Davi, no tinha procurado tanto a formo sura ou riqueza, quanto a virtude. Ana possua uma grande virtu de. Todas as virtudes reunidas num mao perfumado de flores, para tornar-se uma nica lindssima

coisa, a Virtude. Uma virtude real, digna de estar perante o trono de Deus. Joaquim tinha portanto desposado duas vezes a sabedoria amando-a mais que qualquer outra mulher: a sabedoria de Deus encerrada no corao da mulher justa. Ana de Aro no procurara outra coisa seno unir a sua vida de um homem reto, certa de que na retido est a alegria das famlias. 6Sendo a 3.6 insgnia da mulher forte no lhe faltava nada a no ser a coroa dos filhos, glria da mulher casada, justificao do casamento, do qual fala Salomo. sua felicidade no lhe faltavam seno os filhos, flores da rvore que se une rvore vizinha obtendo assim a abundncia de novos frutos, _______________________ * no livro, isto em: Sabedoria 8,2; o nosso Av, isto Salomo, em: Provrbios 31, 10-31. Seguem citaes de: Provrbios 5, 18-19; Sabedoria 8, 10.13. 20 na qual duas bondades se fundem em uma, pois, tambm do lado do esposo, nunca lhe viera nenhuma desiluso. 7Ela, agora a caminho da velhice, h decnios mulher de Joaquim, era sempre 3.7 para ele a esposa da sua juventude, a sua alegria, a cer va to querida, a graciosa gazela, cujas carcias tinham sempre o fresco encanto da primeira noite de npcias e fascinavam docemente o seu amor, mantendo-o fresco como uma flor que o orvalho ume dece e ardente como fogo constantemente alimentado. Por isto, em suas aflies por no terem filhos, um dizia ao outro palavras de consolo em pensamento e em cuidados. 8Quando chegou a hora, a Sabedoria eterna, depois de t-los ins trudo na vida, 3.8 os iluminou com os sonhos da noite, alvorada do poema de glria que devia provir deles, Maria Santssima, a minha me. Se na sua humildade no pensaram nisto, seus coraes porm, tremeram de esperana, ao primeiro sinal evidente da promessa de Deus. Nas paavras de Joaquim j havia certeza: Espera, espera... convenceremos Deus com nosso amor fiel. Sonhavam com um filho: tiveram a me de Deus. 9As palavras do livro da Sabedoria parecem escritas para eles: Por ela 3.9 alcanarei glria perante o povo... por ela alcanarei imor talidade e deixarei memria eterna queles que depois de mim vi ro. Mas, para conseguir tudo isto, tiveram de fazer-se discpulos de uma virtude veraz e duradoura, imune a qualquer acontecimento. Virtude de f. Virtude de caridade. Virtude de esperana. Virtude de castidade. A castidade dos esposos! Eles a possuram; porque no preciso ser virgem para ser casto. E os leitos conjugais castos tm a proteo dos anjos recebendo filhos bons, que fazem da virtude dos pais a norma de suas vidas. 10Mas agora onde esto estes filhos? Hoje no se quer mais filhos e no se 3.10 quer tampouco a castidade. Por isso eu digo que o amor e o leito conjugal esto profanados.

4. Ana, com um cntico anuncia que ser me. No seu ventre est a alma imaculada de Maria. 24 de agosto de 1944. 1Revejo a casa de Joaquim e Ana. Nada mudou no seu interior, se se tirarem os 4.1 muitos ramos floridos, colocados em nforas aqui e ali, fruto das podas feitas nas rvores do pomar em flor: uma nuvem que 21

varia do branco neve ao vermelho de certos corais. O trabalho de Ana tambm diferente. Sobre um tear menor, ela tece algumas bonitas telas de linho, e canta, cadenciando o movi mento do p com o canto. Canta e sorri... A quem? A si mesma, a alguma coisa que ela v no seu interior. Eis o canto, lento mas alegre, que escrevi parte para segui-lo, porque o repete muitas vezes deleitando-se nisso, sempre mais forte e segura, como quem encontrou um ritmo no seu corao; primeiro o murmura em surdina, depois, segura, canta mais veloz e alto (aqui o transcrevo porque, na sua simplicidade muito doce): Glria ao Senhor onipotente que dos filhos de Davi teve amor. Glria ao Senhor! A sua suprema graa do Cu me visitou. A velha planta colocou novo ramo e eu sou bem-aventurada. Pela festa das Luzes a semente lanou a esperana; ora a fragrncia de Nisam o v brotar. Como a amendoeira na minha carne floresce a primavera. O seu fruto, nesta tarde, ela sente transportar. Naquele ramo h uma rosa, h um pomo dos mais doces. H uma estrela reluzente, h uma criana inocente. H a alegria da casa, do esposo e da esposa. Louvor a Deus, ao meu Senhor, que teve piedade de mim. A sua luz me disse: Uma estrela vir a ti. Glria, glria! Ser teu este fruto da planta, primeiro e derradeiro, santo e puro como ddiva do Senhor. Teu ser e por causa dele venha alegria e paz sobre a terra. Va, oh lanadeira. O fio s aperta sobre o tecido da criana. Ele nasce! A Deus glorioso v o canto do meu corao. 2Joaquim entra quando ela est para repetir pela quarta vez o seu canto. 4.2 - Ests feliz, Ana? Pareces-me um pssaro que viu a primavera. Que canto este? Nunca ouvi. De onde ele vem? - Do meu corao, Joaquim. Ana levanta-se e agora se dirige at o esposo, toda risonha. Parece mais jovem e mais bonita. - No te imaginava poetisa - diz o marido, olhando-a com clara admirao. No pareciam dois esposos idosos. Em seus olhares, existia uma ternura de jovens esposos. 22 - Vim do fundo do pomar ouvindo-te cantar. Eram anos que no ouvia a tua voz de rolinha enamorada. Queres repetir-me aquele canto? - Eu o repetiria mesmo que tu no me pedisses. Os filhos de Isra el sempre confiaram ao canto os clamores mais verdadeiros de suas esperanas, alegrias e dores. Eu confiei ao canto o cuidado de dizer- me e dizer-te uma grande alegria. Sim, tambm dizer a mim mesma, porque uma coisa imensa que, por quanto esteja certa, parece-me ainda no ser verdadeira...- e recomea o canto, mas chegando ao ponto: sobre aquele ramo h uma rosa, h uma ma das mais doces, h uma estrela... a sua voz bem entoada de contralto fez-se primeiro trmula, depois se rompe e com um soluo de alegria olha Joaquim e, levantando os braos grita: - Sou me meu deleite - e se refugia no seu corao, entre os bra os que ele estendeu para encerrarem em torno de sua feliz esposa. O mais casto e feliz abrao que eu jamais vi, desde que estou no mundo. Casto e ardente, na sua castidade. E a doce repreenso entre os cabelos grisalhos de Ana: - E no me disseste antes?

- Porque queria estar certa. Velha como sou... Saber-me me... No podia acreditar ser verdade... no queria dar-te uma desiluso mais amarga ainda. Desde fins de dezembro sinto fazerem-se novas as minhas profundas entranhas e brotar, como posso dizer, um novo ramo. Mas agora sobre aquele ramo est seguro o fruto. Vs? Aquele tecido j para aquele que vir. - No o linho que comprastes em outubro em Jerusalm? - Sim. Eu o teci depois enquanto esperava. 3Esperava porque no ltimo 4.3 dia, enquanto orava no Templo, o maior tempo que pudesse uma mulher ficar na Casa de Deus, at a noite... Tu te recordas que eu dizia: Ainda, ainda um pouco. No podia afastar-me dali sem receber a graa! Pois bem! Na sombra que j descia do interior do lugar sagrado, que eu olhava com atrao de alma para arrancar uma anuncia do Deus presente, vi partir uma luz, uma centelha de luz maravilhosa. Era alva como a lua, contudo tinha em si as luzes de todas as prolas e pedras preciosas que existem sobre a terra. Parecia que uma das estrelas preciosas do Vu, daquelas estrelas postas sob os ps dos querubins, se desprendesse uma e se tornasse esplndida, de uma luz sobrenatural... Parecia partir um fogo para alm do Vu sagrado, proveniente da prpria Glria, vindo a mim veloz, e ao cortar o ar cantasse com voz celeste dizendo: O que pe23 distes venha a ti. por isso que eu canto: Uma estrela vir a ti. Que filho ser esse nosso, que se manifesta como luz de estrela no Templo e que diz: Eu sou na festa das Luzes? Que filho fez com que tu tenhas visto em mim uma nova Ana de Elcana? 4 Como cha maremos a nossa criana, que doce como um canto de 4.4 guas ouo falar-me no ventre com o seu pequeno corao que bate como o de uma rolinha apanhada na cavidade das mos? - Se for menino o chamaremos Samuel. Se for menina Estrela. A palavra que fortaleceu o teu canto para dar-me a alegria de saber me pai. A forma que escolheu para manifestar-se entre a sacra som bra do Templo. - Estrela. A nossa estrela, porque, no sei, penso que seja mesmo uma menina. Parece-me que carcias to doces nao possam vir seno de uma dulcssima filha. Eu no a carrego, no tenho nenhum sofri mento. ela que me carrega sobre uma vereda azul e florida, como se eu estivesse amparada pelos santos anjos e a terra j estivesse longe... Sempre ouvi as mulheres dizerem que conceber e gerar si nnimo de dor. Mas eu no tenho dor. Sinto-me forte, jovem, fresca, mais do que quando te dei a minha virgindade na juventude distan te. Filha de Deus, visto que mais de Deus do que nossa aquela que nasce de um tronco rido, no d dores sua me. Ela traz somente paz e bno: os frutos de Deus, seu verdadeiro Pai. - Ento a chamaremos Maria. Estrela do nosso mar, prola, feli cidade. O nome* da primeira grande mulher de Israel. Mas esta no pecar nunca contra o Senhor, e s a Ele dar o seu canto porque a Ele oferecida, como hstia, antes de nascer. - A Ele oferecida, sim. Homem ou mulher que seja, depois de nos alegrarmos por trs anos com a nossa criana, ns a daremos ao Se nhor. Hstia tambm ns com ela, pela glria de Deus. No vejo nem ouo mais nada. 5Jesus diz: 4.5 A Sabedoria, depois de t-los iluminado com os sonhos da noi te, desceu quela que vapor da virtude de Deus, certa emanao da glria do Onipotente, e tornou-se Palavra para a estril. Aquele que agora via prximo o Seu tempo de redimir, Eu, o Cristo, neto de __________________________ * nome da irm de Aaro e de Moiss, dela se fala em: xodo 15, 20-21; Nmeros 12, 1-15; 20,1; 26,59. Outras referncias a Maria de Aaro (ou de Moiss) encon tram-se em 131.2, 525.7, 609.3. * vapor..., como dito em: Sabedoria 7, 25. 24

Ana, quase cinqenta anos depois, mediante a Palavra, farei mila gres sobre as estreis e as doentes, sobre as endemoninhadas, sobre as desoladas, sobre todas as misrias da terra. No entanto, pela alegria de ter uma me, eis que murmuro mis teriosamente a Palavra na sombra do Templo que continha as espe ranas de Israel. Templo agora no limiar da sua vida, porque o novo e verdadeiro Templo no contm mais as esperanas de um povo, mas a certeza de um Paraso para o povo de toda a terra, por todos os sculos at o fim do mundo; Paraso que est para vir sobre a ter ra. E esta Palavra opera o milagre de tornar fecundo o que era in fecundo. Dar-me uma me, que no teve apenas tima provenincia, como era seu destino, nascida de dois santos; no teve somente um aumento contnuo da bondade pelo seu bem querer, no teve somen te um corpo imaculado, teve tambm o esprito imaculado, sendo nica entre as criaturas. 6 Tu vistes* a gerao contnua das almas de Deus. Agora imagines qual 4.6 deva ser a beleza desta alma que o Pai almejou antes que o tempo existisse, desta alma que constitua as delcias da Trindade, que ardia por enfeit-la com as suas ddivas para lhe fazer um dom a Si mesma. toda santa, que Deus criou para Si e depois para refgio dos homens! Portadora do Salvador, tu fostes a primeira salvao. Paraso Vivente, com teu sorriso, comeastes a santificar a terra. A alma criada para ser a alma da me de Deus! Quando, de uma mais viva palpitao do Trino Amor, brotou esta centelha vital, ju bilaram os anjos, porque o Paraso nunca viu luz mais viva. Como ptala de uma emprea rosa, uma ptala imaterial e preciosa que era jia e chama, que era o hlito de Deus* que descia para animar uma carne diferentemente das outras, que descia com fogo to potente que a Culpa no pode contamin-la, atravessando os espaos e encerrando-se num seio santo. Ainda sem saber, a terra j tinha a sua flor. A verdadeira, nica flor que floresce eternamente: lrio e rosa, violeta e jasmim, girassol e ciclame fundidos juntos, e com essas todas as flores da terra numa nica flor, Maria, na qual se rene toda virtude e graa. Em abril, a terra da Palestina parecia um enorme jardim: as fra grncias e as cores davam delcia ao corao dos homens. Mas a rosa _________________________ * tu vistes, a 25 de Maio de 1944, em Os cadernos de 1944. * hlito de Deus, em vez de parte de Deus, correo de MV numa cpia datilografada, assim como o que se segue a culpa no pde contamin-la em vez de a culpa foi incinerada. 25 mais bonita ainda era desconhecida. Ela j era florescente a Deus no segredo do ventre materno, j que minha me amou desde que foi concebida, mas s quando a videira d o seu sangue para fazer vinho, e o perfume dos mostos, aucarado e forte, enche as eiras e as narinas, ela iria sorrir primeiro a Deus e depois ao mundo, dizendo com o seu sorriso super inocente: Eis que a Videira, que vos dar o Cacho espremido na prensa, como Remdio eterno contra o vosso mal, est entre vs. Eu disse: Maria amou desde que foi concebida. O que d ao es prito luz e conhecimento? A Graa. O que leva a Graa? O pecado de origem e o pecado mortal. Maria, aquela sem mcula, nunca foi despojada da lembrana de Deus, da sua proximidade, do seu amor, da sua luz, da sua sabedoria. Ela pde por isto, compreender e amar at quando era apenas carne em torno de uma alma imaculada que sempre amou. 7Depois, fao-te contemplar mentalmente a profundidade da vir gindade de 4.7 Maria. Ters uma vertigem celeste, como quando te fiz entender a nossa eternidade. Por enquanto, considera apenas como o trazer no ventre uma criatura isenta da mcula da ausncia de Deus, d me uma inteligncia superior e a transforma em um profeta, mesmo tendo esta me concebido natural e humanamente. O profeta da sua filha, que a chama: Filha de Deus. Imagina o que seria se pais inocentes concebessem filhos inocentes, assim como Deus gos taria. homens, que vos dizeis semelhantes ao super-homem, mas com os vossos vcios vos assemelhais unicamente ao super-dem nio, neste exemplo tereis encontrado o meio de

chegardes ao su per-homem. Saber permanecer sem a contaminao de satans para deixar a Deus a administrao da vida, do conhecimento, do bem, no desejando mais do que isto, que pouco menos que o infinito. Deus vos teria dado poder de gerar em uma contnua evoluo at a perfeio, filhos que fossem homens no corpo e filhos da Inteligncia no esprito, ou seja triunfadores, fortes, gigantes contra satans, que seria derrubado muitos milhares de sculos antes da hora em que o ser, junto a todo o seu mal. 26

5. Nascimento de Maria. A sua virgindade no eterno pensamento do Pai. 26 de agosto de 1944 1Vejo Ana sair no pomar. Apia-se ao brao provavelmente de una parente, 5-1 porque se assemelha a ela. Est muito volumosa e parece afadigada talvez pelo af, parecido com o que eu sinto agora. Embora o pomar esteja na sombra, o ar ali est quente, pesado. Um ar que se poderia cortar como uma massa mole e quente, de to denso, sob um impiedoso cu de um azul embaado pela poeira suspensa nos espaos. Faz tempo que deve ter havido estiagem, porque a terra, onde no irrigada, est literalmente reduzida a uma poeira finssima, quase branca. De um branco levemente tendente a um rosa-escuro, mais para o marrom ao p das plantas ou ao longo dos breves canteiros, onde banhadas crescem fileiras de hortalias, em torno aos roseirais, aos jasmineiros, outras flores, que esto ao lado de uma parreira bonita cortando pela metade o jardim, at ao incio dos campos, despojados de graminceas. Tambm a relva do prado, assinalando o fim da propriedade, est chamuscada e rala. S s margens dela, onde h uma cerca de espinheiro-alvar selvagem, marcado pelos rubis dos pequenos frutos, a grama mais verde e espessa. Al esto as ovelhinhas com um pequeno pastor, procura de pasto e de sombra. Joaquim est ao redor das fileiras e das oliveiras. Com ele h dois homens que o ajudam. Mesmo ancio, Joaquim agil e trabalha com gosto. Esto abrindo pequenos cercados nos limites de um campo, para dar gua s plantas sequiosas. A gua abre um caminho borbulhando entre a relva e a terra abrasada, e se estende em anis, que por um momento parecem de um cristal amarelado e depois so s anis escuros de terra mida, em torno aos sarmentos e as oliveiras sobrecarregadas. Ana lentamente vai na direo de Joaquim que quando a v se apressa a encontr-la andando pela parreira sombreada, sob a qual abelhas de ouro zumbem vidas do acar dos gros de uva branca. - Chegastes at aqui? - A casa est quente como um forno. - E tu sofres. - O nico sofrimento desta minha ltima hora de grvida. O sofrimento de todos, homens e animais. No te acalores demais, Jo aquim. 27 - A gua, que esperamos faz tempo e que de trs dias para c parecia bem prxima, ainda no veio, e o campo queima. bom para ns que temos a nascente prxima e muito rica de guas. Abri os canais. Um pouco de refrigrio para as plantas, que tm as folhas murchas e cobertas de poeira. Mas suficiente s para mant-las vivas. Se chovesse!... - Joaquim, com a nsia de todos os agricultores, perscruta o cu, enquanto Ana, cansada, se abana com um leque que parece feito com uma folha seca de palma, entrelaada com fios multicolores que a tornara rgida. A parente diz:

- L, alm do grande Hermon, surgem nuvens velozes. Vento do norte. Refrescar e talvez trar gua. - So trs dias que se levanta e depois cai com o surgir da lua. Ser ainda assim. - Joaquim est desanimado. - Voltemos para casa. Aqui tambm no se respira, e depois penso que seja bom voltarmos... - diz Ana, que parece ainda mais olivcea por causa de uma palidez que lhe veio sobre o rosto. 2- Sofres? 5.2 - No. Mas sinto aquela grande paz que senti no Templo quando me foi dada a graa e que senti ainda quando soube que seria me. como um xtase. Um doce sono do corpo, enquanto o esprito ju bila e se aplaca em uma paz sem comparao humana. Eu te amei, Joaquim, e quando entrei na tua casa e disse a mim mesma: Sou esposa de um justo, tive paz, e assim todas as vezes que o teu amor providencial cuidou da tua Ana. Mas esta paz diferente. Veja, eu creio que uma paz como aquela que devia invadir, como leo que se expande e suaviza o esprito de Jac, nosso pai, depois do seu sonho * de anjos; e, melhor ainda, semelhante paz jubilosa dos Tobias depois que Rafael se manifestou a eles. Se me abandono a apreci-la, ela sempre cresce mais. como se eu subisse pelos espaos azuis do cu... e, no sei por que, desde que eu tenho em mim esta alegria pacfica, eu tenho um cntico no corao, aquele do velho Tobias. Parece-me que tenha sido escrito para esta hora... para esta alegria... para a terra de Israel que a recebe... para a Jerusalm pecadora e agora perdoada... mas, no rides dos delrios de uma me, quando digo: Agradece o Senhor pelos teus bens e glorifica o Deus dos sculos, a fim de que reedifiques em ti o seu Tabernculo, eu penso que aquele que reedificar em Jerusalm o Tabernculo do Deus verda _______________________________ * sonho, narrado em: Gnesis 28, 10-16; seguem reenvio a: Tobias 12-13. 28 deiro ser este que est para nascer; penso ainda que no mais do que a Cidade santa, mas pela minha criana seja profetizado o destino quando o cntico diz: Tu brilhars com uma luz esplndida, todos os povos da terra se prostraro a ti, as naes viro a ti trazendo presentes, em ti adoraro o Senhor e julgaro santa a tua terra, porque dentro de ti invocaro o Grande Nome. Tu sers feliz nos teus filhos, porque todos sero abenoados e se reuniro ao lado do Senhor. Bemaventurados aqueles que te amam e regozijam tua paz!...; e a primeira a regozijar sou eu, a sua me bem-aventurada.... Ana empalidece e se inflama como algo trazido pela luz lunar a um grande fogo e vice-versa, ao dizer estas palavras. Doces lgrimas descem sobre suas faces e ela nem as percebe, sorrindo de alegria. E assim vai em direo casa, entre o esposo e a parente, que a escutam e calam-se comovidos. 3Apressam-se porque as nuvens, impelidas por um vento forte galopam e 5.3 crescem pelo cu, e a plancie torna-se escura e estremece por um aviso de temporal. Quando alcanam soleira da casa, um primeiro relmpago lvido sulca o cu e o barulho do primeiro trovo parece o rufar de um enorme tambor que se mistura ao harpejo dos primeiros pingos sobre as folhas secas. Entram todos e Ana se retira, enquanto Joaquim, alcanado pelos criados, fala, da porta, desta longa espera pela gua, que uma bno para a terra sedenta. Mas a alegria se transforma em temor, porque vem um temporal violentssimo com raios e nuvens carregadas de granizo. - Se a nuvem rompe, a uva e as oliveiras sero esmagadas como pela moenda. Pobres de ns! Joaquim tem uma outra ansiedade: pela esposa para a qual chegou a hora de dar luz o seu filho. A parente o tranqiliza que Ana no sofre absolutamente nada. Mas ele est ansioso; cada vez que a parente ou outras mulheres, entre as quais a me de Alfeu, saem do quarto de Ana para depois voltarem com gua quente e bacias e linhos enxutos junto ao fogo da lareira central numa cozinha ampla, Joaquim pergunta algo, no se acalmando com as respostas. Tam bm a ausncia de gritos de Ana o preocupa. Diz: - Eu sou homem e nunca vi um parto. Mas lembro-me de ter ouvido dizer que a ausncia de dores fatal...

Vem a noite, antecipada pela fria tempestuosa que violentssima. Agua torrencial, vento, raios, ali tem de tudo, menos o granizo, que foi cair em outra parte. 29 Um dos criados percebe a violncia e diz: - Parece que satans saiu do inferno com seus demnios. Olha que nuvens negras! Sente que cheiro de enxfre no ar, assobios, sibilos, vozes de lamento e maldio. Se ele, est furioso esta noite! O outro criado ri e diz: - Fugiu-lhe uma grande presa, ou Miguel o espancou com uma nova fasca de Deus, e ele ficou com o chifre e o rabo cortado e quei mado. Passa correndo uma mulher e grita: - Joaquim! Est para nascer! E foi tudo rpido e feliz! - e desaparece com uma pequena nfora entre as mos. 4O temporal pra de improvisio depois de um ltimo raio to violento que 5.4 arremessa contra as paredes os trs homens; e na frente da casa, no cho do horto-jardim, fica como lembrana um buraco pre to e fumegante. Ao mesmo tempo um gemido vem de l da porta de Ana, gemido que parece o lamento de uma rolinha que pela primeira vez no pia, mas arrulha. Um enorme arco-ris estende a sua listra em semicrculo sobre toda a amplido do cu. Surge, ou pelo menos parece surgir, do cume do Hermon que beijado por uma lama de sol, parece de alabastro de um brancorosado delicadssimo. Este arco- ris levanta-se at o mais claro cu de setembro, e, atravessando por espaos limpos de toda impureza, sobrevoa as colinas da Galilia e a plancie que aparece, entre duas rvores de figo, ao sul e depois ainda um outro monte, indo pousar a sua ponta final no extremo horizonte, l onde uma spera cadeia de montanhas fecha qualquer outro panorama. - Nunca vi isso! - Olhai, olhai! - Parece que toda a terra de Israel esteja ligada em um crculo, mas olhai, ali j h uma estrela, enquanto que o sol ainda no desapareceu. Que estrela! Brilha como um enorme diamante!... - A lua toda plena, enquanto que ainda faltam trs dias para a lua cheia. Mas olhai como resplandece! 5As mulheres chegam repentinamente, alegres com um embrulhozinho 5.5 rosado entre tecidos alvos. Maria, a me! Uma Maria pequenina que poderia dormir entre o crculo de braos de um menino, uma Maria comprida tanto quanto um brao, uma cabecinha de marfim tingido de um rosa tnue, com a boquinha de carmim, que j no chora mais, mas faz o instintivo ato de sugar, to pequena que no se sabe como far para pegar 30 um mamilo, um narizinho diminuto entre duas pequenas faces arredondadas e ao toc-lo abrem-se os olhinhos, dois pedacinhos do cu, dois pontinhos inocentes e azuis que olham, mas no vem, entre clios delicados, de um loiro to intenso que quase rseo. Tambm os cabelinhos sobre a cabecinha arredondada so a cor loiro-rosado de algumas qualidades de mel quase branco. No lugar de orelhas, duas conchinhas rosadas e transparentes, perfeitas. E por mozinhas... o que so aquelas duas coisinhas que agitam-se no ar e depois vo boca? Fechadas como agora, dois botes de rosa musgo que separam o verde das spalas e lhes estende a seda de um tnue rosa; abertas como agora, duas pequenas jias de marfim de alabastro ligeiramente rosado, com cinco roms plidas no lugar das unhazinhas. Como faro aquelas mozinhas para enxugar tanto choro? E os pezinhos? Onde esto? Por enquanto so s um espernear escondido entre os linhos. Mas eis que a parente senta-se e a descobre... Oh! Os pezinhos! Compridos uns quatro centmetros, tm por planta, uma concha coralina, como dorso uma concha de um branco neve com veiazinhas azuis, tm por dedinhos as obras-primas de escultura liliputiana, so tambm coroados por pequenos fragmentos de plida rom. Mas como se encontraro sandalinhas to pequenas para poder estar naqueles pezinhos, quando tais pezinhos de boneca derem os primeiros passos? E como estes mesmos pezinhos faro to spero caminho e sustentaro tanta dor, debaixo de uma cruz? Mas agora isto no se sabe, e se ri e sorri do seu debater-se e espernear, das perninhas bonitas

torneadas, das coxas pequenas que fazem covinhas e dobrinhas de tanto que so gorduchas, da barriguinha, uma taa emborcada do pequeno trax perfeito sob cuja seda cndida se v o movimento da respirao que certamente se ouve. O pai feliz escuta seu peitinho agora, e o beija ao ouvir bater um coraozinho... Um coraozinho que o mais bonito que a terra teve nos sculos dos sculos, o nico corao humano imaculado. E as costas? Eis que a viram, e se v a forma dos rins e depois os ombros gorduchos e a nuca rosada to forte que a cabecinha se ergue sobre o arco das pequenas vrtebras, parecendo a cabecinha de um pssaro que perscruta ao redor o mundo novo e tem um gritinho de protesto por ser assim mostrada, ela, a pura e casta, aos olhos de tantos, ela que homem nenhum a ver nua, a toda virgem, a santa e imaculada. Cobri, cobri este boto de flor-de-lis que nunca se abrir sobre a terra e que dar, ainda mais bonita que ela, a sua flor, sem 31 pre permanecendo boto. S nos Cus o Lrio do Trino Senhor abri r todas as suas ptalas. Porque no cu no h poeira de culpa que possa involuntariamente profanar aquele candor. Porque l em cima deve ser acolhido, vista de todo o Empreo, o Deus Trinitrio que agora ocultado em um corao sem mcula, entre poucos anos estar nela: Pai, Filho, Esposo. Eis ali de novo entre os linhos e entre os braos do pai terreno, com quem ela se assemelha. No agora. Agora um esboo de homem. Eu digo que se lhe assemelhar quando mulher. Da me no tem nada. Do pai, a cor da pele, dos olhos e certamente dos cabelos que, se agora so brancos, na juventude eram certamente loiros como o dizem as sobrancelhas. Do pai, as feies, feitas mais perfeitas e gentis por ser ela mulher, a mulher. Do pai o sorriso, o olhar, o modo de mexer-se e a estatura. Pensando em Jesus, como o vejo, acho que Ana deu a sua estatura ao Neto e a cor marfim mais carregada da pele. Enquanto que Maria no tem aquela imponncia de Ana, um palmo mais alta e flexvel, mas tem a gentileza do pai. 6As mulheres tambm falam do temporal e do prodgio da lua, da estrela, 5.6 do imenso arco-ris, enquanto junto ao Joaquim entram onde est a me feliz e lhe entregam a criancinha. Ana sorri a um pensamento: - a Estrela - diz. - O seu sinal est no cu. Maria, arco de paz! Maria, minha estrela! Maria, lua pura! Maria, nossa prola! - Chama-se Maria? - Sim. Maria, estrela, prola, luz e paz... - Mas tambm quer dizer amargura... No temes trazer-lhe desventura? - Deus est com ela. J era Dele antes de ser. Ele a conduzir pelos seus caminhos e toda amargura se transformar em um paradisaco mel. Agora sejas da tua me... ainda por um pouco, antes de seres toda de Deus... E a viso termina sobre o primeiro sono de Ana me e de Maria criana. 27 de agosto de 1944. 7 Jesus diz: 5.7 Surge e apressa-te pequena amiga. Tenho um desejo ardente de te levar Comigo para o azul paradisaco da contemplao da Virgindade de Maria. Sairs com a alma jovem como se tu tambm fosses * 32 criada h pouco pelo Pai, uma pequena Eva que ainda no conhece a carne. Sairs com o esprito repleto de luz, porque tu mergulhars, na contemplao da obra-prima de Deus. Sairs com todo o teu ser saturado de amor, porque compreenders como Deus sabe amar. Falar da concepo de Maria, a sem mcula, quer dizer mergulhar-se no azul, na luz, no amor. 8Vem e l as suas glrias no Livro do Avo: Deus me possuiu no incio 5.8 * de suas obras, desde o princpio, antes da criao. Ab aeterno fui predeterminada no princpio. Antes que fosse feita a terra, ainda no existiam os abismos e eu j era concebida. Nem as nascentes

das guas transbordavam, nem os montes tinham-se erguido em suas grandes dimenses, nem as colinas eram cadeias montanhosas ao sol, e eu j tinha sido gerada. Deus ainda no tinha feito a terra, os rios, e as bases do mundo, e eu era. Quando preparava os cus eu estava presente, quando com lei imutvel fechou sob a orla celeste o abismo, quando tornou estvel no alto a abbada celeste e suspendeu as fontes das guas, quando fixava ao mar os seus confins e dava leis s guas de no passar os seus limites, quando assentava os fundamentos da terra, eu estava com Ele a dispor todas as coisas. Sempre na alegria brincava diante Dele continuamente, brincava no universo.... Aplicaram estas palavras Sabedoria, mas na realidade elas falam dela: a bela me, a santa me, a virgem me da Sabedoria, que sou Eu que te falo. 9Eu quis que tu escrevesses o primeiro verso deste hino no incio do livro 5.9 que fala dela, para que fosse confessada e percebida a consolao e a alegria de Deus; a razo do constante, perfeito, ntimo regozijo deste Deus uno e trino, que vos guia e ama, que do homem teve tantas razes de tristeza; a razo pela qual Deus perpetuou a raa, mesmo quando, primeira prova, merecia ser * destruda; a razo do perdo que vocs tiveram. Ter Maria que o amasse. Oh! bem merecia criar o homem, e deix-lo viver, e decretar perdo-lo, para ter a virgem bela, a virgem santa, a virgem

imaculada, a virgem enamorada, a filha dileta, a ____________________________ * de Maria, um acrscimo de MV numa cpia datilografada; na contemplao da obra-prima (em vez de na obra-prima), correo de MV numa cpia datilografada. * l, em: Provrbios 8, 22-31. Assim anota MV numa copia datilografada: Inspiradas ao autor dos Proverbios para celebrar a Sabedoria, podem aplicar-se tambm a Maria, Me da Sabedoria, porque Maria foi sempre, desde sempre, pensada e contemplada por Deus. Sabedoria, da qual era Me, Maria foi sempre unida, como reala uma nota de MV em 196.7. * primeira prova, aquela narrada em: Gnesis 6-9. 33 me purissima, a esposa amorosa! Muito e mais ainda vos deu e vos daria Deus para poder possuir a criatura das suas delcias, o sol do seu sol, a flor do seu jardim. E muito continua a dar-vos por ela, a pedido dela, pela alegria dela, porque a sua alegria se derrama na alegria de Deus e a aumenta de esplendor que enche de fascas a luz, a grande luz do Paraso; cada centelha uma graa para o univer so, para a raa do homem, para os prprios bem-aventurados, que respondem-lhes com um grito radiante de aleluia a cada gerao de milagre divino, criado pelo desejo do Deus Trino de ver o cintilante riso de alegria da Virgem. 10Deus quer um rei no universo que Ele havia criado do nada. Um rei que, 5.10 pela natureza da matria, fosse o primeiro entre todas as criaturas criadas e dotadas de matria. Um rei que, pela natureza do esprito, fosse quase divino, fundido na Graa como no seu inocente primeiro dia. Mas a Mente suprema, onde so notrios todos os acontecimentos mais distantes em sculos, cuja vista v incessantemente tudo quanto era, , e ser, enquanto contempla o passado e observa o presente, eis que aprofunda o olhar no ltimo futuro sem ignorar a morte do ltimo homem, sem confuso nem descontinuidade, esta Mente nunca ignorou o rei criado por Ele, para estar ao seu lado, semidivino, no Cu, herdeiro do Pai. Ao entrar adulto no seu reino, depois de ter vivido na casa da me, a terra com a qual foi feito, durante a sua infncia de Eterno, na sua jornada sobre a terra, este rei teria cometido contra si mesmo o delito de matar-se na Graa e o latrocnio de furtar-se do Cu. Por que ento o criara? Certamente muitos se perguntam isto. Tereis preferido no existir? Este dia no merecia ser vivido, por si mesmo, to pobre, nu e amargo pela vossa maldade, mas para conhecer e admirar a Beleza infinita que a mo de Deus semeou no universo? Para quem teria feito estes astros e planetas que deslizam como setas e flechas, riscando o arco do

firmamento? Ou os aparentemente lentos, majestosos na sua corrida como blidos, presenteandovos com luzes e estaes como se fossem eternos, imutveis, ainda que em contnua mudana, oferecendo-vos uma pgina nova para ser lida sobre o azul, toda noite, todo ms, todo ano, quase como dizendo-vos: Esquecei-vos do crcere, deixai as vossas gravuras repletas de coisas obscuras, podres, sujas venenosas, enganosas, blasfemadoras, corruptoras e elevai, ao menos com o olhar na ilimitada liberdade dos firmamentos. Tende uma alma azul olhando to grande 34 serenidade, criai-vos uma reserva de luz, para levar vossa priso escura. Lede a palavra que ns escrevemos cantando o nosso coro sideral mais harmonioso do que acompanhado por um rgo de catedral. A palavra que ns escrevemos brilhando, a palavra que ns escrevemos amando, visto que sempre temos presente Aquele que nos quis dar a alegria de existir, e o amamos por nos ter dado este ser, este esplendor, este deslizar, este sermos livres e belos em meio ao azul suave, alm do qual vemos um azul ainda mais sublime, o Paraso. E do qual cumprimos a segunda parte do preceito de amor amando a vs, o nosso prximo universal, amando-vos doando guia, luz, calor e beleza. Lede a palavra que ns dizemos, e aquela sobre a qual regulamos o nosso canto, o nosso resplandecer, o nosso riso: Deus? Para quem teria feito aquele lquido azul, que um espelho para o cu, um caminho para a terra, sorriso das guas, voz das ondas, palavra tambm essa que como os sussurros de seda farfalhando, com risadinhas de crianas serenas, com suspiros de velhos que lembram e choram, com bofetes violentos e com chifradas, mugidos e estrondos, sempre fala e diz: Deus? O mar para vs, como o cu e os astros. E com o mar, os lagos, os rios, os pntanos, os riachos e as nascentes puras, que servem a todos para vos transportar, nutrir, dessedentar e purificar, e que vos servem, servindo o Criador, sem sarem para fora dos seus limites, afogando-vos, como mereceis. Para quem teria feito todas as inumerveis famlias dos animais, como flores que voam cantando, os servos que correm, que trabalham, nutrem e so recreao para vs, os reis? Para quem teria feito todas as inumerveis famlias das plantas, e das flores que parecem borboletas, que parecem jias e passarinhos imveis, dos frutos que parecem os cofres de pedras preciosas, como tapetes para vossos ps, proteo para as vossas cabeas, recreao til, alegria para a vossa mente, membros, vista e olfato? Para quem teria feito os minerais nas entranhas da terra, os sais dissolvidos nas fontes de guas geladas ou ferventes, as fontes sulfurosas, as iodadas, as alcalinas? No teria sido para que algum gozasse de tudo, algum que no era Deus, mas filho de Deus? O homem. Para a alegria de Deus, para as necessidades de Deus, nada era preciso. Deus se basta a Si mesmo. No tem que se contemplar para alegrar-se, nutrir-se, viver e repousar. Tudo o que foi criado no aumentou um tomo a sua infinita alegria, sua beleza, seu poder. Mas 35 tudo Ele fez pela sua criatura, que Ele quis colocar como rei na Sua obra: o homem. Para ver to grandes obras de Deus e por reconhecimento para com o seu poder, vale a pena viver. Como viventes deveis ser gratos. Devereis ter sido gratos, mesmo se no tivsseis sido redimidos, hoje ou no fim dos sculos, porque no obstante tenhais sido os Primeiros, singularmente, sois at hoje prevaricadores, soberbos, luxuriosos, homicidas. Mas Deus ainda vos concede sabor de gozar das belezas do universo e da bondade do universo, e vos trata como se fosseis bons, filhos bons aos quais tudo ensinado e concedido, a fim de tornar-lhes mais doce e sadia a vida. Quanto sabeis, vs o sabeis pela luz que Deus vos deu. Tudo quanto descobris, vs o descobris porque Deus v-lo indica no Bem. Porque os outros conhecimentos e descobertas, que tm o sinal do mal, vm do Mal supremo, satans. 11A Mente suprema, que nada ignora, antes ainda que o homem 5.11 existisse, sabia que o homem, por si mesmo, teria sido um ladro e um homicida. E, j que a Bondade eterna no tem limites, antes que acontecesse a Culpa, pensou no meio para anul-la. E o meio seria: Eu. E o instrumento para fazer do meio um instrumento operante seria: Maria. Assim que a virgem foi criada no Pensamento sublime de Deus. 12Todas as coisas foram criadas para Mim, Filho dileto do Pai. Eu, como 5.12 Rei, deveria ter tido

sob os meus ps de Rei divino tapetes e jias como nenhum palcio real jamais teve. Cantos, vozes, servos e ministros to numerosos ao redor de minha pessoa que nenhum soberano jamais teve. Flores, pedras preciosas, todo o sublime, o grandioso, o gentil, o minucioso, tudo o que possvel buscar no Pensa mento de um Deus. Mas Eu devia ser Carne, alm de ser Esprito. Carne, para salvar a carne. Carne para sublimar a carne, levando-a para o Cu, muitos sculos antes da hora. Porque a carne, habitada pelo esprito, a obra-prima de Deus, e por ela, o Cu fora feito. Para ser Carne, eu tinha necessidade de uma me. Para ser Deus, eu tinha necessidade de que meu Pai fosse Deus. Eis que, ento, Deus criou para Si uma esposa, e lhe disse: Vem comigo. A meu lado, v tudo quanto Eu fao pelo nosso Filho. Olha e jubila-te, virgem eterna, menina eterna, que o teu riso encha todo este empreo, e d aos anjos a nota inicial, e ensina ao Paraso uma harmonia celeste. Eu olho para ti. E te vejo como sers, mulher imaculada que, por enquanto, s apenas esprito, o esprito em que 36 me deleito. Olho para ti, e dou o azul do teu olhar ao mar e ao firmamento, a cor dos teus cabelos ao trigo, a tua candura ao lrio, o tom rseo rosa, semelhante tua pele de seda. Imito nas prolas os teus dentes graciosos; olhando tua boca, fao os doces morangos, ponho na voz rouxinis s tuas notas, e na das rolinhas o teu pranto. Ainda lendo os teus futuros pensamentos, ouvindo as palpitaes do teu corao, eu encontrei os modelos de arte para criar. Vem, minha Alegria! Habita os mundos para divertimento teu, enquanto fores a luz que se move em meu Pensamento, teus ho de ser os mundos pelo teu sorriso, tuas as belas formaes das estrelas e o colar dos astros todos. Coloca a lua sob os teus ps gentis, cinge-te com o cinto de estrelas da Via Lctea. As estrelas e os planetas so para ti. Vem e diverte-te, vendo as flores que sero o divertimento do teu Menino, servindo de almofada para o Filho do teu ventre. Vem, e v como se criam as ovelhas e os cordeiros, as guias e as pombas. Fica perto de mim, enquanto eu fao como uns vasos, os mares e os rios, enquanto ergo as montanhas e as enfeito com a neve e as florestas, enquanto semeio as searas, as rvores, as, videiras, enquanto fao para ti a oliveira, minha rainha de paz, para ti a videira, meu sarmento que levar o Cacho eucarstico. Corre, voa, jubila-te, minha beleza, e que o mundo todo, que vai sendo criado de hora em hora, aprenda contigo a me amar, amorosa, e se torne mais bonito com o teu sorriso, me do meu Filho, rainha do meu Paraso, amor do teu Deus. Vendo o Erro, e olhando para a Sem Erro diz ainda: Vem a Mim, tu que anulas a amargura da desobedincia, da ingratido, da fornicao humana com satans. Eu terei contigo a desforra sobre satans. 13Deus, Pai Criador, criara o homem e a mulher com uma lei de amor to 5.13 perfeita, que no podeis, nem ao menos compreender. E vs vos enganais ao pensar como teria aparecido a raa humana, se o homem no o tivesse alcanado pelo ensinamento de satans. Olhai as plantas que produzem fruto e semente. Por acaso elas conseguem ter semente e fruto por meio de uma fornicao ou de uma fecundao em cada cem encontros conjugais? No. Da flor masculina sai o plen, guiado por um complexo de leis metericas e magnticas, vai ao ovrio da flor feminina. Esta se abre, o recebe e produz. No se suja e o rejeita depois, como vs fazeis, para poderdes gozar, no dia seguinte, da mesma sensao. Depois de produzir no floresce, at a prxima estao e, quando floresce, para reproduzir. Olhai os animais. Todos. J vistes algum animal, macho ou fmea, ir um ao outro para algum abrao estril, ou s para algum encontro 37 lascivo? No. De perto ou de longe, voando, rastejando, pulando ou correndo, eles vo, quando chega a hora, ao rito fecundativo, e no se subtraem a isso para ficarem s no prazer, mas vo alm, vo at s conseqncias srias e santas, que conduzem gerao da prole, o nico escopo que, no homem, semideus pela origem da Graa que Eu restitu inteira, deveria faz-lo aceitar a animalidade do ato neces srio, uma vez que descestes um grau no nvel do animal. Vs no fazeis como as plantas e os animais. Vs tivestes por mes tre satans, pois o escolhestes e o desejais. As obras que praticais so dignas do mestre que quisestes ter. Mas, se tivsseis sido fiis a

Deus, tereis tido santamente, sem dor, a alegria de filhos, sem vos esgotardes em cpulas obscenas, indignas, que os prprios animais no conhecem, os animais que no tm alma racional e espiritual. * Ao homem e mulher, depravados por satans, Deus quis opor o Homem nascido de mulher to purificada por Deus, a ponto de poder ger-Lo sem relao com homem. Flor que gera flor, sem necessidade de semente, mas apenas com o beijo do Sol sobre o clice inviolado do Lirio que Maria. 14A desforra de Deus! 5.14 Solta os teus silvos de inveja, satans, enquanto ela est nascendo. Esta menina te venceu! Antes que tu fosses o Rebelde, o Tortuoso, o Corruptor, j estavas vencido, e ela a tua vencedora. Mil exrcitos alinhados nada podem contra o teu poder, e contra as tuas couraas caem as armas das mos dos homens, perene, e no h vento que possa dispersar o mau cheiro do teu hlito. No entanto, este calcanharzinho de criana, to rosado, que parece o interior de uma camlia tambm rosada, to liso e to macio que a seda spera comparado a ele, to pequenino, que poderia caber no clice de uma tulipa e us-la como sapatinho, eis que ele te pisa sem medo, e te confina em teu antro. Eis que s o seu vagido j te pe em fuga, a ti que no tens medo dos exrcitos. O hlito dela purifica o mundo do teu fedor. Ests derrotado. S o nome dela, s o seu olhar, s a sua pureza j so uma lana, um fulgor de raio, uma enorme pedra que te transpassam, que te abatem, que te aprisionam no teu covil do inferno, Maldito, que tiraste a Deus a alegria de ser Pai de todos os homens criados. Foi intil, pois, teres corrompido os que haviam sido criados inocentes, levando-os a conhecer e a conceber sinuosidades da luxria, ___________________________ * racional e espiritual, um acrscimo de MV numa cpia datilografada. 38 38 privando Deus, de ser o doador dos filhos, em suas diletas criaturas, dando-lhes regras que, se respeitadas, teriam mantido sobre a terra um equilbrio entre os sexos e as raas, capaz de evitar guerras entre os povos e desventuras entre famlias. Obedecendo, teriam conhecido o amor. S obedecendo, teriam conhecido e conservado o amor. Uma posse plena e tranqila desta emanao de Deus, que do sobrenatural desce ao inferior, para que tambm a carne se alegre santamente, esta que est ligada ao esprito, criada por Aquele que criou o esprito. Agora, o vosso amor, homens, os vossos amores o que so? Ou libidinagem vestida de amor, ou medo insanvel de perder o amor do cnjuge, seja pela libidinagem prpria, ou alheia. J no estais mais seguros quanto posse do corao do esposo ou da esposa, desde quando a libidinagem entrou neste mundo. Tremeis, chorais e tornais-vos loucos de cimes, at assassinos, s vezes, para vingar al guma traio, desesperados, ou ento ablicos e at dementes. Eis o que fizeste, satans, aos filhos de Deus. Estes, que corrompeste, teriam conhecido a alegria de ter filhos sem sentirem dor, a alegria de nascer sem o medo de morrer. Mas agora ests vencido em uma mulher e por uma mulher. De agora em diante, quem a amar, tornar a ser de Deus, superando as tuas tentaes, para poder imitar a sua pureza imaculada. De agora em diante, no mais podendo conceber sem dor, as mes a tero para o seu conforto. De agora em diante, as esposas a tero por guia e os moribundos por me, sendo doce para eles morrer sobre aquele seio, que um escudo contra ti, oh Maldito, e proteo, diante do julgamento de Deus. Maria, minha cara interlocutora, viste o nascimento do Filho da virgem e o nascimento da virgem no Cu. Viste, pois, que para os sem culpa desconhecido o castigo de dar a vida e tambm o sofrimento de dar-se morte. Mas, se inocentssima me de Deus foi reservada a perfeio dos dons celestes, a todos, que tivessem permanecido inocentes e filhos de Deus, teria sido possvel gerar sem dor e morrer sem af, por justia de terem sabido unir-se e conceber sem luxria. A sublime desforra de Deus sobre a vingana de satans foi a de elevar a perfeio da criatura dileta a uma super-perfeio, capaz de anular, ao menos nela, toda lembrana de humanidade, que fosse

suscetvel ao veneno de satans, e para a qual, no de um casto abrao de homem, mas de um divino amplexo, que empalidece o esprito num xtase de Fogo, lhe teria vindo o Filho. 39 15A virgindade da Virgem!... 5.15 Vem. Medita nesta virgindade profunda, que produz em quem a contempla vertigens de abismo! O que a pobre virgindade forada da mulher que por nenhum homem foi desposada? menos do que nada. O que a virgindade daquela que quer ser virgem, para ser de Deus, mas sabe s-lo s no corpo e no no esprito, no qual deixa entrar muitos pensamentos estranhos, acaricia e aceita as carcias de pensamentos humanos? Isto j comea a ser uma mscara de virgindade, mas muito pouco ainda. O que a virgindade de uma enclausurada, que vive s para Deus? muito. Mas, mesmo assim, ainda no uma virgindade perfeita, se comparada com a virgindade da minha me. Sempre existiu um enlace, at mesmo no mais santo. O enlace da origem, entre o esprito e a Culpa. S o Batismo o desfaz. Mas, como uma mulher separada do marido pela morte, no restitui mais em si a virgindade total, como a virgindade dos nossos Primeiros, antes do Pecado. Uma cicatriz permanece, e di ao ser lembrada, e est sempre pronta para reabrir-se em ferida, como certas doenas que periodicamente voltam com seus vrus, ainda mais ativos. Na virgem no fica esse sinal de um enlace dissolvido com a Culpa. Sua alma apresenta-se bonita e intacta, como quando estava na mente do Pai, e rene em Si todas as Graas. a virgem, a nica, a perfeita, a completa, foi assim pensada, gerada, querida, coroada. eternamente a virgem, o abismo da intocabilidade, da pureza, da graa que se perde no Abismo do qual brotou: em Deus, intangibilidade, pureza e graa perfeitssima. A est a desforra do Deus Trino e Uno. Contra suas criaturas profanadas, Ele ergue esta Estrela de perfeio. Contra a curiosidade doentia, esta se esquiva, recompensada em poder amar somente a Deus. Contra a cincia do mal, esta sublime ignorante. Nela no existe somente a ignorncia do que um amor aviltado; no h tam bm somente a ignorncia do amor que Deus havia dado aos esposos. E ainda mais. Nela h a ignorncia das concupiscncias, herana do pecado. Nela h somente a sabedoria glida, mas incandescente, do Amor divino. Fogo que protege de gelo a carne, para que se torne espelho transparente no altar onde um Deus desposa uma virgem, e no se avilta, porque sua Perfeio abraa aquela que, como convm a uma esposa, s em um ponto inferior ao esposo, sendo-lhe sujeita por ser mulher, mas sem mancha, como Ele. 40

6. Purificao de Ana e oferecimento de Maria, a menina perfeita para o reino dos Cus. 28 de agosto de 1944. 1Em Jerusalem, vejo Joaquim e Ana com Zacarias e Isabel sarem juntos 6.1 de uma casa, certamente de parentes ou amigos, e dirigiremse ao Templo, onde vo para a cerimnia da Purificao. Ana tem nos braos a menina, toda envolta em cueiros, tendo sido antes enrolada com um amplo tecido de l mais leve, que deve ser macio e quente. Com que cuidado e amor leva a sua filhinha, levantando de vez em quando a beirada do pano fino e quente, para ver se Maria respira bem, e depois, cobre-a bem de novo, para proteg-la do ar gelado deste dia sereno, embora de pleno inverno. Isabel tem alguns pacotes nas mos. Joaquim puxa com uma corda dois cordeiros grandes e muito brancos, que j so mais carneiros que cordeiros. Zacarias no leva nada. Ele est muito bonito em sua veste de linho, que um pesado manto de l tambm branco, deixa entrever. Um Zacarias muito mais jovem do que aquele visto no tempo do nascimento do Batista, em plena virilidade, como tambm Isabel agora uma mulher madura, mas ainda de aparncia jovem. Todas as vezes que Ana

olha a menina, ela tambm se inclina extasiada, sobre o rostinho adormecido. Muito bonita, com um vestido azul que tende ao violeta escuro, com um vu que lhe cobre a cabea, descendo depois sobre os ombros e sobre o manto mais escuro que o vestido. Joaquim e Ana, enfim, esto realmente esplndidos em suas vestes de festa. Ao contrrio do seu costume, ele no est com sua tnica marrom escuro, mas com uma longa veste de um vermelho bem escuro, diramos, um vermelho de fundo, e as franjas colocadas em seu manto so muito novas e bonitas. Na cabea, ele tem tambm uma espcie de vu retangular, cingido com uma tira de couro. Sua roupa toda nova e fina. Ana, oh! ela no se veste de escuro hoje. Est com um vestido amarelo muito claro, quase da cor do marfim velho, ajustado cin tura, ao pescoo e aos pulsos por meio de um cinturo que parece ser de prata e ouro. A sua cabea est coberta com um vu muito leve, que parece adamascado e est preso fronte por uma lmina delgada e preciosa. Ao pescoo, um colar de filigrana e nos pulsos, braceletes. Parece uma rainha, tambm pela dignidade com que caminha com sua veste, em especial o manto amarelo claro, com gales 41 formando um bordado muito bonito, tom sobre tom. - Parece-me estar te vendo no dia em que fostes a noiva. Eu era pouco mais que uma menina, mas lembro-me ainda como estavas bonita e feliz, diz Isabel. - Mas hoje estou ainda mais... Quis pr a mesma roupa daquele dia para a cerimnia de hoje. Eu a guardei sempre para este dia... J no esperava mais poder us-la para esta festa. 2- O Senhor te amou muito... - diz Isabel com um suspiro. 6.2 - por isso que eu Lhe dou a coisa que eu mais amo. Esta minha flor. - Como fars para arranc-la do seio, quando chegar a hora? - Recordando-me que eu no a tinha, e a recebi de Deus. Estarei sempre mais feliz agora, do que antes. Quando pensar que ela estar no Templo, direi a mim mesma: Reza junto ao Tabernculo, ora ao Deus de Israel tambm por sua me e ficarei em paz. E ainda maior paz terei, ao dizer: Ela toda Sua. Quando estes dois velhos felizes que a receberam do Cu no estiverem mais em vida, Ele, o Eterno, lhe ser eternamente Pai. Podes crer, eu tenho disso a firme convico, esta pequenina no nossa. Nada mais eu podia fazer... Foi Ele que a colocou em meu ventre, este dom divino para enxugar o meu pranto, confortar as nossas esperanas e atender as nossas oraes. Por isso ela Sua: Ns somos somente os felizes guardies dela... e por isso Deus seja bendito! 3 Chegam at os muros do Templo. 6.3 - Enquanto vos dirigis para a porta de Nicanor, eu vou avisar o sacerdote. Depois, eu virei tambm diz Zacarias, desaparecendo atrs de um arco, que d para um grande ptio rodeado de prticos. A comitiva continua a encaminhar-se pelos sucessivos terraos. Porque (no sei se j o disse) o recinto do Templo no est sobre um terreno plano, mas vai-se elevando por degraus sucessivos sempre mais altos. A cada lance pode-se chegar por escadarias, e em cada lance h ptios, prticos e portais muitos bem trabalhados, de mrmore, bronze e ouro. Antes de chegarem ao lugar combinado, eles param e vo tirar dos pacotes as coisas que tinham levado, ou seja, pes cozidos, de formato achatado e de pouca espessura, feitos com muita gordura, um pouco de farinha branca, duas pombas em uma pequena gaiola de vime e grandes moedas de prata, certas patacas to pesadas, que por sorte no havia bolsos naquele tempo, pois no resistiriam. Eis a bonita porta de Nicanor, um trabalho bem acabado de 42 entalhe, feito de pesado bronze com lminas de prata. L j se encontra Zacarias, ao lado de um sacerdote esplndidamente vestido de linho. Ana recebe a asperso de uma gua, que eu suponho seja a gua lustral, e depois recebe a ordem de aproximar-se do altar do sacrifcio. A menina no est mais em seus braos. Isabel carrega, estando ainda do outro lado da porta. Joaquim, por sua vez, entra, atrs de sua mulher, puxando um pobre cordeiro balindo. Fao como na purificao de Maria: fecho os olhos para no ver degolaes como esta.

Agora Ana est purificada. 4Zacarias diz em voz baixa algumas palavras a um colega, o qual concorda,6.4 sorrindo. Depois aproxima-se do grupo, que j se reuniu de novo, congratulando-se com a me e o pai pela sua alegria e pela fidelidade s promessas feitas, recebendo o segundo cordeiro, a farinha e os pes cozidos. - Ento, esta filha est sendo consagrada ao Senhor? Que a Sua bno esteja com ela e convosco. Eis Ana que chega. Ela ser uma de suas mestras. Ana de Fanuel, da tribo de Aser. Vem, mulher! Esta pequenina oferecida ao Templo em hstia de louvor. E tu sers sua mestra. Submissa a ti, ela crescer na santidade. Ana de Fanuel, j com os cabelos todos brancos, acaricia a menina, que acabou de acordar e olha com seus olhos inocentes e espantados toda aquela brancura e todo aquele ouro, que a luz do sol faz brilhar. A cerimnia deve ter acabado. No vi nenhum rito especial para a oferta de Maria. Talvez fosse suficiente diz-lo ao sacerdote e sobretudo que o dissessem a Deus, no lugar sagrado. 5- Eu gostaria de fazer a oferta ao Templo, e ir depois quele lugar, onde vi 6.5 aquela luz no ano passado. Vo assim para l, acompanhados por Ana de Fanuel. Mas no entram no Templo propriamente dito. Compreende-se que, tratandose de mulheres e de uma menina, no chegaram at o lugar, ao qual Maria chegou, quando veio oferecer o seu Filho. Mas, bem perto da porta toda aberta, olham para o interior meio escuro, de onde esto vindo doces cantos de meninas, e de onde vem o brilho de lmpadas preciosas, que espalham uma luz de ouro sobre dois canteiros de cabecinhas cobertas com vus brancos, dois verdadeiros canteiros de lrios. - Daqui a trs anos tu tambm estars l, meu Lrio, promete Ana 43 a Maria, que olha como que fascinada para o interior do Templo, sorrindo ao lento canto. - Parece at que ela compreende - diz Ana de Fanuel - uma linda menina! Ser querida por mim, como se fizesse parte de minhas entranhas. Assim eu te prometo me, se a idade me permitir. - Sim, que poders, mulher! - diz Zacarias - Tu a recebers entre as meninas consagradas. Eu tambm estarei l. Quero estar l naquele dia para dizer a ela que reze por ns desde o primeiro momento... - e olha para a sua mulher; que compreende, suspirando. A cerimnia terminou, e Ana de Fanuel se retira, enquanto os outros saem do Templo, conversando entre si. Ouo a voz de Joaquim, que diz: - Eu teria dado at todos os meus cordeiros, no s os dois melhores, em troca desta alegria, para dar louvor a Deus! Nada mais vejo.

6Jesus diz: 6.6 Salomo faz a Sabedoria dizer: Quem criana, venha a mim. Na * verdade, da fortaleza e dos muros de sua cidade que a eterna Sabedoria dizia eterna menina: Vem a mim. Ansiava por t-la. Mais tarde, o Filho desta purssima menna dir: Deixai vir a Mim os pequeninos, porque deles o Reino dos Cus, e quem no se tornar semelhante a eles, no ter parte no meu Reino. As vozes se perseguem e, enquanto a voz do Cu grita pequena Maria: Vem a Mim, a voz do Homem pensa em sua me, ao diz-lo: Vinde a Mim, se souberdes ser pequeninos. Dou-vos um modelo em minha me. Eis a perfeita criana, do corao de pomba, simples e puro, eis Aquela que os anos e os contatos do mundo no conseguem embrutecer pela barbrie de um esprito corrompido, tortuoso, mentiroso. Porque Ela no quer este esprito. Vinde a Mim, olhando para Maria. 7Tu, que a ests vendo, diz-me: o seu olhar de criana muito diferente do 6.7 olhar com que a

viste aos ps da Cruz, na alegria do Pentecostes, na hora em que suas plpebras desceram sobre seus olhos de gazela para o seu ltimo sono? No. Aqui est o olhar incerto e espantado da criana; mais tarde ser o olhar espantado e verecundo da Anunciada; mais tarde ainda, o olhar feliz da me de Belm; depois, o olhar de adoradora da minha primeira e sublime discpula; _____________________________ * faz a Sabedoria dizer, em: Provrbios 9,4; dir, em 378.8. 44 depois ainda, o olhar dilacerado da atormentada no Glgota; depois, o olhar radiante da Ressurreio e Pentecostes; e, por fim, o olhar velado do sono exttico da ltima viso. Mas, seja que se abra s pri meiras vistas, seja que se feche cansado sobre a ltima luz, depois de ter visto tanta alegria e tanto horror, o olho sereno, puro, plcido, nesga de cu que brilha sempre de modo igual, sob a fronte de Maria. Ira, mentira, soberba, luxria, dio, curiosidade, nunca o sujam com suas nuvens de fumaa. o olho que olha para Deus com amor, tanto quando chora, como quando ri. Por amor de Deus acaricia e perdoa, tudo suportando. Por amor ao seu Deus se torna inatacvel aos assaltos do Mal, que muitas vezes se serve dos olhos para penetrar no corao. O olhar puro, repousante, benevolente, que tm os puros, os santos, os enamorados de Deus. * Eu disse: A luz do teu corpo so os teus olhos. Se os olhos so puros todo o teu corpo estar iluminado. Mas se os olhos so turvos, toda a tua pessoa estar em trevas. Os santos tiveram esse olho que luz para o esprito e salvao para a carne, porque como Maria, durante toda a sua vida, no olharam seno para Deus. Ao contrrio, eles sempre se lembraram de Deus. Explicarei a ti, pequena voz, qual o sentido desta minha pala vra.

6. A pequena Maria com Ana e Joaquim. Em seus lbios j est a Sabedoria do Filho. 29 de agosto de 1944. lAinda vejo Ana. Desde ontem tarde, que a estou vendo assim: ela est 7.1 sentada no comeo da sombra da parreira, atenta a um trabalho de costura. Est toda vestida de uma cor cinzento-areia, com um vestido muito simples e solto, talvez por causa do grande calor que deve estar fazendo. No fim da parreira, podem ver-se os ceifadores, que esto cortando o feno. Mas ainda no deve ser o feno de maio, porque a uva j est para colorir-se de ouro e uma macieira grande j vem mostrando os seus frutos, entre as folhas escuras, que vo se tornando da cor de uma cera lustrosa, amarela e vermelha. Alm disso, o campo de ___________________________ * Eu disse, em: Mateus 6, 22-23 (174.9); Lucas 11,34-35 (413.7) 45 cereais agora um restolho sobre o qual, ondulam leves as chamazinhas das papoulas e se levantam, rgidas e serenas, as flores-de-lis, raiadas como uma estrela, e azuis como o cu do Oriente. Da parreira sombria vem vindo, frente, uma Maria pequenina, mas j andando ligeira e independente. Seu passo curto, mas seguro, e suas sandalinhas j no tropeam nas pequenas pedras. Tem j um esboo do seu doce passo, levemente ondulante, de pomba, e ela est parecendo

mesmo uma pombinha em seu vestidinho de linho, que desce at os tornozelos, um vestidinho bem cmodo, franzido no pescoo por um cordozinho azul celeste, e com manguinhas curtas, que deixam ver os antebraos rosados e gorduchos. Com os seus cabelinhos, que parecem de seda e de um loiro-mel, no muito encaracolados, mas formando ondas suaves, que terminam em um gracioso cacho; com seus olhinhos cor do cu, e o doce rostinho levemente rosado e sorridente, ela parece um pequeno anjo. At o ventinho leve que lhe vai entrando pelas mangas largas, e enchendo seu vestido de linho e fazendo-o ficar mais saliente nas costas, tudo contribui para dar menina o aspecto de um pequeno anjo, com as asas j entreabertas, e prontas para voar. Nas mozinhas ela leva papoulas, flores-de-lis e outras florzinhas, que crescem por entre os cereais, mas das quais eu no sei o nome. Ela vai indo e, ao chegar perto da me, d uma corridinha, solta uma vozinha festiva, e como uma pequena rolinha, pra o seu vo contra os joelhos da me, que se abrem um pouco para recebla, enquanto que o trabalho, que estava sendo feito, posto de lado, para acolh-la sem que ela se machuque, e os braos esto estendidos para abra-la. At aqui ontem tarde, e hoje de manh reapresenta-se e conti nua assim. Mame! Mame!. A pequena rolinha branca est agora no ninho dos joelhos maternos, com seus pezinhos sobre a erva curta, o rostinho curvado sobre o colo materno, e no se v nada mais, alm do ouro plido dos cabelinhos sobre a nuca delicada, que Ana se curva para beijar com amor. 2Depois a pequena rola levanta a cabea, e oferece as suas florzi nhas. 7.2 Todas so entregues mame e, para a oferta de cada flor, ela conta uma histria que ela mesma inventou. - Esta aqui, to azul e grande, uma estrela que desceu do cu para trazer o beijo do Senhor para a mame. Aqui est: esta florzi46 nha celeste, beija-a bem a no corao, e percebers que ela tem o sabor de Deus. Agora, esta outra, que de um azul mais plido, como so os olhos do papai, tem gravado nas folhas que o Senhor quer muito bem ao papai, porque ele bom. E esta aqui, to pequenina, a nica pequena que eu achei ( um miostis), a que o Senhor fez para dizer a Maria que lhe quer bem. Estas vermelhas, sabe a mame o que so? So os pedaos da veste do rei Davi, molhadas no sangue dos inimigos de Israel, e semeadas nos campos de luta e de vitria. Nasceram das fmbrias da herica veste real, rasgada na luta pelo Senhor. Mas esta aqui, to branca e graciosa, que parece formada com sete taas de seda que olham para o cu, cheias de perfume, nasceu l perto da fonte (foi papai que a apanhou entre os espinhos) -Foi feita com a veste de Salomo, quando, no ms em que sua netinha tinha nascido, h tantos anos (oh! quantos, quantos anos antes) na pompa da alvura de suas vestes, Salomo caminhou pelo meio da * multido de Israel, diante da Arca e do Taberncul