0 do Douro - IPB
Transcript of 0 do Douro - IPB
d ossie ARQUEOLOGIA DE TERRlT6RIO
RE.sUMO
Abordagem dos aspectos metodo16gico$, terminolOgicos e conceptuais em que asseDra a construoyao de uma base de dado. de sirias arqueol6gicos da Pre-Historia Recente (do VI ao II milenios a.c.) no territ6rio portugues
da bacia hidrogdfica do fiD Douro. Reflectindo sobre a classiflcao;.ao de sirias arqueoJ6gicos, a autora pretende contribuir para 0 di:ilogo construtivo entre pre-hisroriadores, flum tema em que 0 debate tern escassNdo.
PAUVRAS CHAVE: Prt -Hist6ria recente; Carra arqueo16gb;
Merodologia.
ABSTRACT
Approach to the methodological. terminological and conceptual issues underlying the construction of a database of Late Prehistory archaeological sites (from the 6th to the 2nd millenniums BC) in the Portuguese territory of the River
Douro basin. The author offers her reflections on historical site classification as a way of furthering the dialogue among prehistorians about a theme that has not been discussed sufficknrly.
KEY WORDS: Late Prehistory; Archaeological map; Methodology.
Approche des aspects methodologiques, de terminologie et conceptuels sur lesquels s'appuie la construction d'une base de donnees de sires archeologiques de la Prehistoire r6:eme (du VIl:me au Heme millenaire avo J .C) sur Ie tetritoire
portugais du bassin hydtographique du fleuve i)Quro. Reflkhissanr a la classification de sites archeologiques, I'auteure pretend contribuer au dialogue constructif entre prehistoriens, au sujet d'un theme autour duquel
Ie debat s'est rarese.
MOTS ells: Pr€histoire recente; Plan archeologique; Methodologie.
J Bolseira de DOUloramento da Funda~o para a Ciencia e a Tecnologia; Centro de btada;
Arqueol6gicos das Universidades de Coimbra e do Porto I I [nstituto Politecnico de BraganYl.
[texto entregue para publica~o em Mal¥> de 101 01
A Pre-Historia Recente na Bacia Hidrografica do Douro
constru~ao de uma
base de dados
Alexandra Vieira t
I. INTRODUC;:AO
O assunw que abordamos neste artigo t inre~
gra-se no projecto de investiga,ao que nos
encontramos a desenvolver e que tern como
terna central a "constru~ao da paisagem" na Pre~His~
toria Recente (do Vl ao II milenios a,C) da Bacia
Hidrografica do Douro, em Portugal, Para a sua con
cretiza~ao, deflnimos como objectivos gerais a esrudo
da paisagem enquanto realidade construfda no inte
rior de urn processo de inrerac~ao entre 0 rneio ffs ico
e as comunidades hurnanas) e 0 avan~ar de hip6teses
1 Comunica~ao apresem:ada no
I Encontro de Jovens Investigadores do (FAvep/CAM,
com 0 titulo uA Pre-Historia Recente na Bacia Hidrogcifica do
Douro - a conceptualizat;io de uma base de dados" (Universidade
de Coimbra, 23 e 24 de Janeiro 2009) , transposta para e5(e
artigo com algumas altera~6es.
explicativas sobre as principais formas de "constru,"o" da paisagem emre 0 Vl e II mili
nios a,C Neste processo de estrutura,ao do nosso trabalho, deparamo-nos com algumas
questaes relacionadas com a construl;;o de uma Base de Dados de Sftios Arqueologicos
da Pre~Hist6ria Recente) nomeadamenre com a grande variabilidade ao nlvei dos "sftios"
entre 0 Vl e II milenios a,C A ciassificalao de tipos de "sftios" da Pre-Historia Recente
e a recorrente utiliza~o de terminologias ambiguas) sao dais aspectos expostos aqui de
forma muito sumida, assim como a apresenta~ao de uma nova proposra de Tipos de
Sftios Arqueologicos e de uma Base de Dados de Sftios Arqueologicos da Pre-Historia
Recente para a Bacia Hidrografica do Douro,
2. A CONSTRU<;:Ao DA BASE DE DADOS
"Inventariar signifiea compilar, actuali7Ar, gerir e
disponibiliV1r informardo estruturada que descreva
urn objecto (au can junto de objectos) em momentos
determinadlJs do tempo, tendIJ em vista a compreensdo
dIJ seu valor material e simbolieo,
roo,] Os inventdrios dIJ patrimonio [. "j transformaram~se gradualmente em complexos sistemas de informardo, conslituidos par dlJdos
textuais e icollogrdficos, capazes de fornecer chaves para leiluras polivalentes, orientatlas para as
diferentes necessidtuks e procuras"
(AU;ADA 1998: 49),
Como compilar e gerir os dados arqueologicos da Pri-Historia
Recente da Bacia Hidrografica do Douro, A melhor SOIUlaO pareceu
-nos ser a consrru<;io de uma base de dados de shios arqueo16gicos.
Atendendo ao facto de que uma base de dados e urn eonjuuto estrutu
rado de informafdo, optamos par comes:ar pela recolha e sistematiza-
910 de dados, com a intuitO de realizar urn inventirio exaustivo de
sitios do VI ao II milenios a,c' para roda a area do projecto,
2,1, METODOLOGIA
o primeiro passo passon pela consrrul'o de uma base de dados de
sitios arqueologicos da Pri-Historia Recente na regiao estudada,
Arendendo a extensao da Bacia Hidrogd.fica do Douro em territorio
portugues, e a existincia da Base de Dados de Sitios Arqueologicos do
Instituto Portuguis de Arqueologia (posteriormente inregrado no
ICESPAR), disponivel oil-line, foi relativamente simples congregar urn
conjumo de dados que provim da revisao de bibliografia arqueologi
ca exisrente e dos resultados dos trabalhos arqueologicos desenvolvi
dos no pais desde os finais da dicada de noventa do seculo passado,
Esta base de dados on-line reline urn conjunro de dados, rais como a
localiza~ao adrninistrativa de urn determinado sirio arqueologico1 a
Seu periodo cronologico, 0 tipo de shio, descri~ao e referencias biblio
gr.ificas, encontrando-se disponfvel a radas as investigadores, nacio
nais e esrrangeiros. Apesar de constituirem urn born ponto de parti
da, a maior parte das flehas, pDf comerern apenas uma descri~ao muito sumaria dos sirios, carecem de seT revisras, analisadas e comple
menradas com Durws dados. Decidimos seleccionar rodas as fichas
referentes ao periodo de tempo que nos encontrarnos a esrudar e as unidades geograflcas que se integram na nossa area de analise, a que
nos levou a urn processo de revisao dos d~dos referenres a estes sirios
arqueologicos da regiao,
Are ao momento, os trabalhos realizados cingem-se ao levantamento
de informal'o bibliografica e documental.
A recolha bibliografica compreende a consulta de obras de caracrer
geeal, de arrigos de revistas arqueologicas, de publica,oes de variada
indole relacionada com a Pre-Historia da regiao, das bases de dados
do [nsrituto Porruguis de Arqueologia, IGESPAR e DGEMN (SIPA),
assim como de outras fomes de informa~o diversa, nomeadamente
os trabalhos de mestrado ou dourorarnenro de investigadores relacio
nados com projectos arqueologicos a decorrer na zona.
2.2, P ATRIM6NIO ARQUEOL6GICO: ENDOV£UCO
Portugal possui urn sistema de informalao arqueologica - Endovelieo
- ''que e ° mais completo can junto de dados sobre a aetividade arqueolti
gica nacional". Nos Ulcimos dez anos, e no cumprimento da legislal'o
relativa ao parrimonio arqueo16gico ao nivel das ac~6es de investjga~
~io, foram inseridos novos regis[Qs, estando parte dessa informa~io
disponivel on-line.
Tendo como finalidade a amplialao dos contelidos disponibilizados
no site do Insrituto Porruguis de Arqueologia, foi execurado urn pro
jecro atravis do Programa Operacional da Cultura, co-financiado por
fundos FEDER, Neste projecto procmou-se adaptar os dados das
ftchas de sitios arqueol6gicos, que se encontram on-line, as exigencias
da accividade arqneologica, tendo para tal sido escolhidos os sitios
arqueologicos intervencionados no ambito do Plano Nacional de
Trabalhos Arqueologicos - realizados enrre 1998 e 2004 -, bern como
as areas das albufeiras das barragens do A1queva, Pedrogao e Alamos
(Inventariar para Salvaguardar, em Iinha),
Segundo informa~io do ICESPAR, ''este sistema estd associado a urn
Sistema de InfonnaftW Geogrdfica, que visa conferir uma dimemao espa
cial, permilindo pesquisas de natureV1 territorial e 10caliV1rdo dlJs sitios
arqueo16gicos" (IGESI'AR, em linha), Os contendos fomecidos estao em
permanente actualiza~io e podem ser obtidos mediante 0 preenchi
menta de urn ou mais elementos de pesquisa nos campos disponiveis
(por ex" designa,ao, concelho, categoria de classificalaO, etc.).
Podemos considerar que este sistema de jnforma~io arqueo16gica (0
Endovilieo) e uma mais-valia para os investigadores em Porrngal e urn
exemplo a seguir por outros paises, 0 Endovilieo permite uma rapida
compila~io de dados e 0 acesso a dados inediros e nio publicados res
peitantes a relatorios de escavaloes e trabalhos arqueologicos, Ati ha
pOlleo tempo arras era urn meio de pesquisa exemplar na Peninsula
Iberica, quando comparado com 0 mesmo cipo de sistema de pesqui
sa on-line em Espanha,
Apesar das vantagens da existencia de urn sistema de gestio arqueo
logica como 0 Endovelieo, existem alguns aspecros que podem ser
melhorados. Urn dos elementos que nos suscirou urna serie de consi
deraloes prende-se com a classifica,ao de sitios, melhor dizendo, com
a categoriza~io de shios arqueol6gicos que tern ate 11 data sido utili
uda e que, no nosso entendimemo, deve ser revista e novamente
equacionada.
>,
dossie ARQUEOLOGIA DE TERRITORIO
2.3. as TIPOS DE SfTIOS
DA P RE-HIST6RIA R ECENTE
Dois elementos-chave da pesquisa de silios arqueologieos no f"dove/ieo sao 0 Peciodo Historieo (Tabela 1) e 0 Tipe de Silio (Tabela 2).
Enquanto 0 primeiro naa nos suscita grande controversia, esta !isra
gem de tipos de sirios arqueologicos encomra·se urn pOlleD superada.
nomeadarnenre no que concerne aos sitios da Pn!-Hist6ria Recente
(Tabela 3), em vinude dos trabalhos arqueologicos realizados nos ul
timos anas.
Propomos a realiza,ao de urn pe
queno exercicio. Analisemos algu
mas fichas que se inserem denna
do lipo de silio Necropole 1 e veja
mas 0 que nos dizem.
2.3. 1. Necropole
I. Outdriies (Carvalho; Celorico
de Basto; Braga)
- Calcolirico? I ldade do Bronze'
2 Os dados que comp6em os POflfOS seguimes foram ret irados
do sif( do extimo Instituto Ponugue de Arqueologia
(WWw.ip'l,min-rulrura,ptl) entre 05
anas de 2006 e 2008 e contemplam a designa~o do stria,
localizali"io administrativa (fr~guesia, conce/ho e distriw),
cranalogia e dcscrir;ao.
- Foram identificadas tres rnamoas, uma delas aparenternente intacta
e as Dutras duas apresenrando vesrigios de carapacra petrea, com era
tera central de viola~o. Situam-se numa pequena cha, num nucleo
cujas distincias entre si nao ultrapassam os 50 metros. Medem eerca
de 15 metros de diametro e 1.5 melros de altura. Poueo rempe apos
a descobena, 0 local foi selado para instala,.;o de uma induslria de
exrrae~o de granito. De salientar a descobena de urn esteio graniti
co que, alendendo a morfologia, pede rer perrencido a camara sepul
eral de urn destes monumentos. Eneontra-se integrado num mUrD
que ladeia 0 caminho juntO da necropole.
2. Lugar do Lameira (Rego; Celorico de Basro; Braga)
- Indelerminado I Pri-Hisloria.
- Aquando da eonstruc:io de uma esl rada, foram descoberras sepul-
turas escavadas no terreno, corn urn raio media na ordern dos 80 em.
Recolha de ossos e de fragmentos ceramieos de fabrieo manual, al
guns dos quais vasos de largo bordo horizontal.
- Levantarnenlo I 2000: no alargamento da eslrada entre Lameira e
Rego surgiram varias fossas abenas no saibro. que [oram desrrufdas
ou eorladas. As escava,6es arqueologicas realizadas posleriormente re
velaram pe,as de ceramica de fabrico manual, sendo algumas vasos de
largo bordo horizontal.
3. Lagares (Vale Benfeiro; Macedo de Cavaleiros; Bragan,a)
- Indeterminado I Pri-Hisroria Recente?
- Nesre local, actualmente ocupado por culturas agricolas, nomeada-
mente urn olival, apareceu em 1904 urna ciSla ou sepultura, que foi
deslruida. Segundo a deseri,ao, era composta por Ires lajes, uma de
cabeceira e duas laterais. Em visira pesrerior do Abade de Ba,al, foi
98 1 ",t.~ ... II St,,(l7) I )UNH02012
T ABELA 1 - Pedodo Hist6rico
Pakolicico Neolidco Final Romano, Republica Paleolidco Inferior Neo-Calcolidco Romano, Imprrio Paleolltico Medio Calcolitico Romano, AltO Impttio PaIeotilico Superior Calcolitico - Inidal Romano. Baixo Imperio Aurignacense Calcolitico - Pleno IdadeMbfia Grarelense CaJcolitico - Final Alra Idade Media Proto-Solutrense Made do Bronze Mcd.iMl. CrisUo Solurrense Idade do Bronze - Inicia\ Medieval Is!:i.mico MagdaJenense ldade do Bronte - Medio Bma ldade MMia Epipaleolifioo Idade do Bronze· Finat Moderno Mesolitico Idade do Ferro Comemporineo Neolitico Idade do Ferro - 10 Indelerminado Neotltico Antigo Idade do Fwo - 20
Neolirico Mooio Romano
Fonte: ICE.SPAR (Glossario - http://arqurologia.igupar.pl/POC/J
TABElA 2 - Tipo de Sitio ArqueoI6gioo (EndovliiuJ)
Abrigo Ermida Naufragio Ac:amp.amento &corial Na~;o
Aclu.do(s) Isolado(s) Escultura Necropole Aeronave Estaleiro Naval Nicho Aknia Emr;io de AI Livre NUdeo de Povoamento Alinhamento Estela Oficina Ana,,, Estru"", Olana Anfiteatro Explora~o mineral Ossario Anu Fernria QUIros Aquedul0 Fonte Palacio Armadilha de pesca Forja Pa\O Ane Rupeslrl: Fonim Pedreira Au/aia F6rum Pdourinho Arenh. Forno Peso de lagar Balneario Fortjfl~o Pio Barca Fo", Piroga 8amg<m fundtadouro Poldn Bast1ica Galeria POniC
Bateria Col.", 1'0"" Serrao Granja Po\"oado em Gruu I:'ovoado Fortificado Cal(>d, GrutlAnifidal Povoado Mineiro Campo de Bmlha Habitat 1'''1'' Co," Hipocausto Quinla au Granja (apliciYd Cmalw~o H;pof,<U 10 pc:" .. oamelllo run! rollWllll Caohao HipOdromo Recimo Upd.a Igreja Represa Casal Rlistico Indeterminado Sal in3 c.sro Inscri~o Sanruario Cal;ldo InscullUra Satrof.lgo Castdo Roqueiro )3lida Sepultura uverna de emb:ltca~ ugar Silo Ccmiterio [.,g,t= Sinagoga Cetaria Lajc Sepulcral T3lude Ch.furn.w lixeira Tanque Cidade Ma!aposta I Mutati() T~atro
Cipo Mamoa Templo Circo Mancha de Oru~o Tarnal Ci5ta Marui() Tesouro Cisterna ~1arco TllDlo, Complao Industrial Marco de Propriedade Torre Concheiro Menir Tulhas Conhtin. Mesquita TUmuio Convento Miliario Varadouro c.."d, Lobo Mina Vestigios Divcrsos CriptopOrtico Moinho Vntigios de SUp<'rficie Cromelequc Moinho de mar~ Vi. Cruzeiro Monteiro Viaduto c,"'" Monumento Mcgalilico Vi"" Dep6silO Mosaico Vi/la Dep6.siro de lasrtO Mostciro Vlveiros Dolmen Muralha Edificio Mum
Fome: IGESPAR (Glossirio - http://arqu(()1ogia.igrJptlr.pt/POQJ
TABErA 3 - Tipologia de Sirios Pri-Hist6rioos (E""''''lito)
Ahrigo Fo", Povoado Achado(s} Isolado(s) Gruta Povoado Fortificado
An~ HabiQt Recimo Arte Rupestre Indeterminado Santuario Cina Laje Sepulcral &pultut:l. Cromeleque Mrun" Tumulo DOlmen Mancha de D<:upa~o Vestigios de ocupa~o Escuhura Menir Vesrigios de superficic Estar;.ao de ar livre Monumeruo Mega!itico Vestigios diverros Estela Necr6pole Emu"", Pedrtira
Fonte: IGESPAR (Gloss:irio - http://arqutowgia.igtspar.ptlPOCl)
referenciado a aparecimento de uma segunda, havendo noticias ain
da do aparecimemo de mais. que reria sido destruidas rambem. Na
primeira cism assinala-se 0 aparecimemo de numerosos fragmentos de ceramica e de urn anel de aura) em espiral, de tres voltas, que desa
pareceu com 0 resro do esp6lio e das cistas. No terreno, a par de gran
de quantidade de pequenas laies de xisto. aparecem pequenas aglo
mera~6es de tres ou quatro Jajes maiores, tambem de xisto, registan
do-se ainda 0 aparecimento de uma em graniro, pedra alheia it geolo
gia local. Nao apareceram outros materiais a superficie. Hi algumas
indiea,6es, pouco precisas, de que podera rer sido aqui 0 local de
achado das quatro alabardas de Vale Benfeito.
4. Penedo de Cuba / Gruta do Coriscada (Soalhaes; Marco de
Canaveses; Porto)
- Neolitico.
- Localiza-se numa plataforma coberta de pinhal onde afloram mui-
tos penedos, em encosta sobranceira a ribeira de Lardosa. A gruta das
Coriseadas e formada por urn aglornerado de penedos e foi aprovei
rada como gruta sepulcral, aberta no saibro, desconhecendo-se no
entanto a sua estrutura interna, Forneceu esp6lio: dois machados de
pedra polida, uma ponta de sera em silex, duas facas de silex, urna goi
va de pedra e ossos humanos. 0 local e tambem conhecido como
Penedo de Cuba.
- Reiocaliza,ao / Identifiea,ao 12000: penedo de grandes dimensoes,
arredondado, que forma na sua base uma reentrancia corresponden~
te a urn pequeno abrigo.
Posto isto, e atendendo aos sublinhados, podemos formular uma serie
de questoes: 0 que e uma necr6pold Sao conjuntos de mamoas~ Sao
conjuntos de sepulturas I cistas? Sao conjuntos de fossas com mate
riais e oode se encontram ossos humanos? Sao grutas ou abrigos corn
materiais e onde se encontram ossos humanos?
2.3.2. Habitat
I. ~iga (Agilde; Celorico de Basto; Braga)
- Indererminado / Pre-Historia Recente indeterminada.
- Pequeno cabe,o em esporao pouco destaeado da paisagern, numa
extensa area aplanada e entre duas linhas de agua triburarias da Ri-
beira de Redolhos. as materiais, escassos, foram encontrados sensi
velmente no centro da plataforma, entre as sedimentos revolvidos
recentemente.
2. Lameiros (Seixo Amarelo; Guarda; Guarda)
- Neo-Calcolirico.
- Pequena plataforma de encosta, sobranceira a Seixo Arnarelo, onde
ocorre ceramica pre-hist6rica a superficie.
3. Fraga do TabillS (Alfandega da Fe; Alfandega da Fe; Bragan",)
- Indererminado / Pre-Historia Recente.
- Habitat aberto localizado num monte sobranceiro a aldeia do Cas-
telo. Detectam-se alg110s materiais a superficie, provavelmente colo
cados a descoberto por urn arroteamento recente, existindo alguns
fragmentos de ceramica manual, algo atipicos, mas de aparente cro
nologia pre-historica, e destacando-se 0 achado de dois machados de
pedra polida e de uma ponta de sera em silex branco.
4. Habirat eIas CarvalheirllS (Casteleiro; Sabugal; Guarda)
- Calcolitico.
- A esta,ao arqueol6giea ocupa 0 topo e a vertente Sui de uma plata-
forma pouco e1evada, sobranceira it ribeira do Casreleiro. Em cerea de
324 m' de terreno, identificou-se urn pequeno habitat de uso tem
porario e esporadico, talvez para dar apoio a expedicoes de ca~, usa
do para recolha de certos recursos alimeotares. Quanto as estruturas
identificadas, sao de dois tipos: buracos de paste e estruturas de COffi
bustao. as buracos de paste, num total de oito, concentram-se sobre
tudo 00 topo da plataforma, nao apresentando uma orgaoiza~ao apa
rente, sendo na sua maioria estruturas de sustenta~ao a uma ou mais
cabanas e estando tambem relacionados com as estruturas de com~
buscao. Quanto a estas, num total de del, apresentavam-se escavadas
no saibro, com diferentes morfologias e dimeosoes, de acordo com as
suas diferentes funcionalidades dentro da organiza,ao do habitat (iareiras, fomos de ceramica, fomos de culinaria, fossas de argila).
estando algumas delas relacionadas enrre si.
E formulemos novamente algumas questoes: 0 que e urn habitat! 0
que a caracteriza~ E a existencia de materiais? Que tipo de materiais?
Sera a existencia de materiais e estruturas? Que tipo de estruturas?
2.3.3. Povoado
I. Calvelo (Carvalho; Celorico de Basto; Braga)
- Calcolitico' / Idade do Bronze,
- Localiza-se numa e1eva"o (contiguo aos cabe,os de Pena Grande, a Oeste) de morfologia coniea e verteores dedivosas, rodeado por linhas
de:igua de caudal tempocirio- Apresenta exposi"o a todos os quarlran
tes, beneficiando, no entanto, de ampla v~ibilidade para Sui I Sudeste
(Vale do 1'amega e Serra do Matio). Algyns dos materiais arqueologicos
recolhidos encontravam-se dispersos na metade superior da vertente
Est<, afectada por uma planta.,o de eucaliptos que se esrende do topo
dossie ARQUEOWGlA DE TERRITOruO
do monte are a base (junto ao caminho de aces
so). Em rod. a extens'o do cabe,o n'o foram
detectados quaisquer materiais arqueol6gicos.
facto que se cleve a total ausencia de seclimento,
2. ArenTos (Rego; Celorico de Basro; Braga)
- Neo-Calcolitico.
- Nos cortes provocados pela abertura de um es-
tradao surgiram fragmentos de ceramica de f.bri
co manual, alguns com decora~ao phistica de cor
does e aneis mamilares.
- Prospec~ao I 2001: no perfil de um estradao
rasgado no saibro (Dram encomradas dUelS fossas e uma vaia, abertas no saibro. £Sta ultima revelou
varios fragmemos de cerfunica de fabrico manual
e aind. alguns objecros Iiticos.
3. Cmtelillhos (Paredes da Beira; Sao Jo.o da Pes
queira; Viseu)
- NeoHtico I Calcolitico I [dade do Bronze. • II ~
- Povoado sohranceiro aD rio Tivora, que ocupa
preferencialmeme a base Oeste do maci~o local
I - Povoado da Lavra, Marco de ARQUfOLOGIA, 1988).
mente denominado por Castelinhos ou Castelos Ve!hos. Trata-se de
uma plataforma com cerca de 50 m de comprimemo e 30 m de lar
gura, com acesso facilitado por Este e Sudoeste. A sua peculiar locali
ucla 56 se compreende se se pellsar que a principal funr;a,o desre
povoado era a de vigiar 0 fluxo de pessoas e de bens que se fazia pelo
rio Tavora, nao d~scurando a hiporese da explora,ao dos recursos
mineiros da zona. A dispersao dos achados leva a crer que 0 povoado se
esrende pela encosta a Esre. Vma espessa linha de muralha envolve 0
morro. A muralha i constituida por blocos informes de graniro de con
sideraveis dimensoes, sendo poSSIVe! observar a reaproveiramenra de
alguns elememas de moo de rola na sua edifica~a. Nao sao vislveis
quaisquer faces da muralha. Pelas observa~6es feiras no terreno, parece
possive! que 0 povoado possuisse uma acropole na plataforma supe
rior, que, a dado momento, foi amuralhada. Existiram, muito prova
velmeme, varias fases de expansao e de recuo dos limites do povoado.
4. Villh. do SOlltilha (Mairos; Chaves; Vila Real)
- CalcoHrico.
- 0 povoado pri-historico da Sourilha localiza-se numa zona de sua-
yes encostas, volradas a Oeste e delimiradas por pequenas Iinhas de
agua afluentes da ribeira do Rigueiral. A dispers.o dos materiais de
superflde e vasta. ulrrapassando largamente a rona oade [oi feita a
inrervencio arqueologica, e parece distribuir-se ao longo de duas en·
COstas disrintas, separadas a meio pela ribeira onde se poden Iocaliz.,
o abrigo do Buraco Feio I Buraco do Jac-mi-Jorge. Os materiais dis
tribuem-se ao longo de diversas plataformas, entre as numerosos ro
chedos granlticos que pontuam as encostas. A interven!(aO arqueolo
gica [eita nos aDos 80 cemcou-se numa plataforma siruada a meia
encosta. Identificaram-se diversas estruturas. como cabanas. lareiras.
100 I "l.~ ... II St., (t71 I JUNHO 2012
fossas e empedrados. com abundante espolio arqueologico. incluindo
material cedmico. litico. faunistico e algum metal. tendo sido tam
bim obridas algumas daracoes por Carbono 14.
Novamenre nos quesrionamos: a que e urn Povoado? 0 que caracre
riza urn Povoado? E a localiza~o do sidor E a ausencia au presenifa
de dererrninado tipo de estruturas? Que tipo de estrmuras? E a pre
sen~a de mareriais? .E a associa~ao de rnateriais a esrruturas? 0 que
distingue urn Habitat de urn Povoado'
2.3.4. Povoado forrificado
1. Castro de Santa jltStn (Euelsia; Alfandega da Fi; Bragan~a)
- Calcolitico I [dade do Bronze Ildade do Ferro I [dade Midia.
- Povo.do fortificado de midias dimensoes, localizado num cabe,o
em esporao, na encosta Leste do vaJe da Vilaricya, sobranceiro a aJdeia
de Santa Justa. Tern boas cond i~6es defensivas narurais e urn excelen
re dominio visual sobre 0 Vale da Vilari~. Do lado Poente rem gran
des fragueiros namrais. dos quais arranca a unica linha de muralha
perceptive!' que rodeia 0 resto do topo do cabe,o. Dentro da wna
amuralhada, e sobrerudo nas encostas subjacenres, que se encontram
agricultadas, e possivel encontrar grandes quantidades de c,,,mica
superficial. a partir das quais e possive! discern ir pelo menos w~s fam disrimas de ocupa!(ao. A primeira perrence a Pre-Historia Receme,
destacando-se urn conjunto apreciavel de ceramicas decoradas com
morivos "penteados". Sendo menos 6bvios, h:i urn conjunro de cera
micas que aparentam perrencer a [dade do Ferro (a segunda fase de
ocupa~ao) e, par nm, existem algumas escassas ceramicas de clara cro~
"alagia medieval. Naa hi elementos para dizer a que fase pertencera
a linha de muralha existente. mas as caracreristicas do local tornam
provavel que tenha sempre sido urn pavaada farrificada.
2. Calille!o (Milhaa; Braganp; Bragan,a)
- Calcalitico ! Idade da Bronze.
- Pavaada fartificada de grandes dimensoes, sabranceiro a Ribeira da
Ferradasa, na margem esquerda, Ocupa a ropa de urn cabe,a apla
nada de vertentes basranre suaves e acessiveis, excepto a Oeste, oode
enfrenta a ribeira, e, parcialmenre, a Norte. Na encosta Norte e evi
denre uma linha de muralha a meia encosta, e pareee haver uma pri
meira logo no rchorda superior do cabeyo, a quaL par sua vr::z., e evi
denre na enCOSla Oeste. Sao assim pela menos duas as li nhas de mu
ralha deste pavaada, As faces naa saa visfveis, senda detectadas pelas
taludes farmadas pel os seus derrubes. Nas restantes encosras. as de
acessa mais facilitado. naD sao clarameme visiveis quaisquer mura
Ihas. 0 que padeti dever-sf' a ac~ao cia agriculrura e ao facto de a zona
onde presumivelmente cxisririam esrar cobena de malO. 0 recinto
interno e uma vasta plataforma plana. Os materiais de super6de dis
trihuem-se por toda a area, com maior concentra~ao no sector Noro
es!e, A excep,aa de urn fragmento perdida de telha de meia-cana, to
dos os materiais se enQuadram numa cronologia da Pn!-Hisr6ria
Recente. provavelmente da Calcalftico e Idade da Bronze. 0 mate
rial mais abundante e a ceramica, destacando-se pela ausencia a cera
mica decorada. Quanta a Jit icos, nao se encontrOll qualquer elemen
to de mo manual au artefaclOs de pedra palida. Aparecem numero
sos seixos inteiros ou fracrurados. de quarrzito ou quarrzo. e algumas
lascas de quartzito.
3. Espolldra (Marais; Maceda de Cavaleiros; Bragan,a)
- Calcolitica !Idade da Branze ! Idade da Ferra,
- 0 mante da Espondra constirui-se por uma eleva,aa basrame alan-
gada, que se desenvalve na planailO de Marais, As suas caracteristicas
geamarfalogicas nao "unem graod., condi,6es de defrsa oatural,
embora a sua impl anta~ao permita 0 controlD geDestrategico sabre
uma vasta area envolveme. 0 mOllIe e de fadl acesso praticameme
por todos as senores, com excep~ao dos seetores Sui e, particular.
mente, do sector Este, que consritui a vertenre que descai no sentido
da ribeira de Vale de Mainhas. 0 lacal fai sujeilO a uma intensa des
trui,aa, devida a urn projecta de flaresta,aa aqui cancretizada. Talvez
par tal motivo nao se consigam observar vesrigios articulados com a
exisrenda de estruturas defensivas, nem Qualquer talude. derrube au
amontoado de pedra que perrnita deduzir a sua exisrencia. Tal facto
constitui urn elemento a eer em conta, ja que, por urn lado, a shio
nao posslii QuaiQuer indicia estrurural de urn sistema defensivo e. par
autra, a sua implantacia confere-Ihe grande vuloerabilidade em !er
mas de defw natural. Os vesrigios mareriais reduzem-se a fragmen
tos cecimicos, cujas pastas se inserem em periodos cronol6gicos arri·
culadas cam a Calcalftico, Idade da Bronze e Idade da Ferra. Estes
mareriais, unicos vestigios arqueol6gicos observados no local, eneon
tram-se dispers~s em grande quanridade, por uma area superior a um
hectare.
4. Castelo-Ariz (Ariz; Maimenta da Beira, Viseu)
- Calcalirico,
- A esta,ao arquealogica ocupa urn panta elevada que damina a vale
da Ribeira de Cubos, marcada par abundantes penedas e alguns tro
~os de muralha, que deftnem um recinro oode se idenrifica uma dis
persaa de vestigias de DCUpa,aa humana (ceriunica), assaciadas ram
bern a diversos abrigos naturais.
o que e urn Pavaado Fartificada' Que caraCleristicas apresenta' E urn sitio localizado em pontos com boas condi~6es de defesa narurais~
Tern urn excelenre dominio visual sobre a regiao~ Possui urn sistema
defensiva: uma au duas linhas de "muralha"'
Fai na decorret da consulta da base de dados de sftias arquealogicos
da IPA e na constru\aa da nassa propria Base de Dadas, que desper
ramos para a necessidade de sisremarizar esras quest6es, refercnres nao
Casrelo Velho de Freixo de Num:i.o (Vila Nova de Foz Coal. ----------~--~----~~~------~----~--~~~~
dossie ARQUEOLOGIA DE TERRlTOruO
56 a variabilidade de sitios oa Pre-Hisr6ria Recente, mas tambem pela
forma como estas tipologias e conceitos tern sido utilizados.
Escolhemos as exemplos apresentados anteriormente de forma alea
taria e com 0 objecrivo de mostrar 0 quaa diffcil pode ser a interpre
ta,ao e gestao da informayao disponibilizada pelo Endovelico. Nao
pretendemos com isto caIocar em causa 0 nabalho que tern sido fei
to pelos tecnicos do IGESPAR que, no fundo, e apenas 0 reflexo do
pensamento arqueologico que se vern desenvolvendo are aD momen·
to. Pretendemos apenas agitar consciencias, promover a reflexao e
suscitar uma deflnic;ao mais precisa de conceiros e criterios de classi
ficac;ao de sitios arqueologicos.
Portugal nao disp6e, ate a data, de uma ciassifica,ao rigorosa de sitios
arqueologicos. Alguns autores, que empreenderam uma abordagem
abrangente da nossa Pf(~-Hist6ria Recente, regisraram e perpetuaram
nomendaruras que foram surgindo e sendo adaptadas de outras rea
lidades ou de outros perfodos cronologicos. Muitos desses termos
continuaram a ser utilizados de forma convencional) apesar de alguns
deles Hcarem urn pouco aquem de espelhar a nossa realidade actual.
3. A CLASSIFICA<;:AO DE SfTlOS ARQUEOL6GICOS
DA PIlli-HIST6RlA RECENTE: BREVES REFLEX6ES
o que e urn s!tio arqueologico) RENFREW e BAHN (1996a: 46) dei
xam-nos a seguinre sugestao: ''Archaeological sites may be thought of as places where artifacts, features, structures, and organic and environmen
tal remains are found together. For workingpurposes one can simplifj this still filrther and define sites as places IVhere significant traces of human activity are identified. Thus a village or tOlVn is a site, and so too is an isolated monument like Stonehenge in England. Equally, a mrfoce scatter of stone tools or potsherds may represent a site occupied for no more
than a few hours, whereas a Near Easten! tell or mound is a site indica~
ting human occupation over perhaps thousands of years". Urn Dutro autor) Karl W. Butzer,
na sua obra Archaeology as Human Ecology s, escreve: "An archaeological site can be defined as the tangi-ble record of a 10Clis of past hnman
3 lnforma~:io pessoal de
Lesley Mcfadyen.
activity. Such sites vary in scale from the locus of a single processing task to a complex urban settlement. They also range in duration from an ephemeral sojourn to millennia of sequential occupation",
Quando pensamos em sitios arqueologicos, pensamos em sitios iden
tiflcados atraves da existencia de vestfgios materia is, independeme
mente da sua natureza e cronologia. AD observarmos a realidade da
Bacia Hidrografica do Doum ao nivel da Pre-His[oria Recente, aper
cebemo-nos de que muitos destes sitios inventariados resultam de tra
balhos de prospecyao, nos quais, em muito casos, sao detectados ma
teriais 11 superHcie (fragmemos de ceramica e alguns Hricos atribuidos
1021 ",t~ .. II SlruE (17) I jU>lHO 2012
a Pre-Historia Recente) e estruturas (nomeadamente muros), a que
sao atribuidas de imediato tipologias e cronologias, sem se estar na
posse de dados suflcientes para tal. Existem sitios que se enconrram
classificados como "povoados", onde foram detectados apenas uns
quamos fragmemos de ceramica de cronologia da Pre~ Historia Re
ceme, que poderiam ter sido classificados como vestfgios de ocupa
yao, vestigios diversos, habitat, mancha de ocupayao. Por outro lado,
compreendemos a necessidade que temos, enquanto investigadores,
de temar "encaixar" os vestfgios encontrados nas tipologias de sitios que
se conhecem, apesar de este ser urn processo problemarico e delicado.
"«Classification!> is that activity in which objects,
concepts and relations are assigned to categories;
«classifYing» refers to the cognitive and cultural
mechanisms by which this is achieved; and IIclassifications) are the linguistic, mental and other
cilitural representations which result"
(ELLEN 2002: 103).
"Classifications as things, therefore, are not the
inventiom ofindividua&, but arise through the histOJically contingent character of cultural
transmission, lingllistic constr/lints, metaphorical
extensions, and shared social experience in relation to individual cognitive practice"
([dem: 106).
A classiflca~io pode ser emendida como a estrurura~3o ou organiza
y30 de determinados fenomenos em grupos ou DUUOS esquemas das
sificatorios, com base em atriburos comuns. Classificar sirios arqueo
logicos, ou definir uma tipologia de sftios arqueologicos, implica a
organiza~io sistematica de elementos em tipos com base ern atributoS
comuns, sendo que urn tipo e urn conjunto de elementos def'inidos
pelo agrupamento coerente de atrihutos (RENFREW e BAHN 199Gb).
Qualquer tentativa de ciassifica,ao de sitios arqueologicos deve ser
baseada em crirerios objectivos, usando atributos de caracter quanti
tativo e qualitativo. AD reflecrirrnos sobre as ripologias vigentes para
a Pre-Hisroria Recenre acmalmeme, chegamos 11 conclusao que mui
tos destes sitios arqueologicos se inserem nas seguimes caregorias:
- Local de implanta,ao: podem ser Silios de ar livre ou abrigos sob
rocha I grutas;
- Arquitecturas: recintos abertos ou fechados, tumulus) cistas, monu
memos megaliticos, cromeleques, esrelas, menires, fossas, entre outros;
- Tempo: sazonal, temporario, permanence;
- Explora,ao do espa,o I Funcionalidade: habitat, povoado, sepulero,
santuario (advem da interpretayao dos dados);
- Praticas f Contextos: domestico; funerario-cultual; ritual (advem da
interpretayao dos dados).
"Ndo me pareee que as pa/avras sejam inocuas. Povoddo, povoado
fortiflcado, recinto, neeropole [. .. j, todos tbn uma historia que
exp/ira nao 56 a sua aparipio, como a sua mais ou menos
prolongado manut,nrao"
UORGE 2003a: 9-10).
Ate ha POllCO tempo, tudo 0 que nio Fosse "enterramento" oem "san~
ru<irio de arte rupestre", era classificado como "povoado". 0 povoado
esra muiras vezes associado ao conceito de profano. Se nos deparar~
mas com urn sitio amuralhado, entaa sera urn local de defesa, urn
povoado fortificado. Estas c1assificaloes c1assicas assentam em dicoto
mias: domestico I ritual; lugares dos vivos I lugares dos mortos.
A partir dos anos 90 do seculo passado, alguns pressupostos e para
digmas foram colocados em causa, permitindo uma nova forma de
olhar os testemunhos materiais. Nas palavras de Susana Oliveira JORGE
(2003b: 1431), "mudou sobretudo a maneira de «olhar". Olhar os ves
tigios arqueolOgicos, os sitios, a paisagem, a propria maneira de se fozer
arqueologia. Nao i pOl' deaso que ttpareceram imovos sitios) em diferentes
regibes transmontanas e alto durienses". Que sitios sao esses~ Surge, por
exemplo, a oo~ao de redotos mulrifuocionais Dude coexistem, de for
ma rnuito complexa, diversos contextos riruais que, na pratica, sub
vercem a tradicional dicotomia entre ''esparos domistieos / esparos sepul
crais-rihldis" UORGE 2000: 97).
Segundo a mesma autora, exisre oa abordagem rradicional uma sepa
ra~ao entre aquilo que sera da esfera do domestico, por oposi~ao ao
funerario e cultual, assim como a oposi~ao secular I profano versus ri
tual. No entanro, 0 dominio "ritual" atravessa todos os contextos. Lo
go, nao pode ser autonomizado. Daf que se tome fundamental pro
blematizar a nOlaO de ritual (algo que excede os objecrivos de", arri
go). Algumas nomendaruras esrao "viciadas", pois transp6em quase
que linearmente conceitos da nossa conremporaneidade para a Pre
·Hisr6ria Recenre. Temos de ter consciencia de que uma necr6pole
megalitica na~ e urn cemiterio acrual; de que urn "povoado" Pre-His
tarico na~ e igual ao povoado actual.
Ao colocar em causa a dicotomia domesrico I ritual, Susana Jorge le
vanta uma inreressante discussao em Torno de terminologias e concei·
ros esrabilizados, como sejam "vida domestica", "uso comum I uso
domestico", "povoado", discussao esta que vai ser determinante para
a caracteriZ4yao dos ripos de sitios da Pre-Hisraria Recente, au mes
rno para as questoes ligadas a constfUlao da paisagern em Pri-Histo
ria. As realidades deixam de ser tao esranques para se tornarem mais fluidas.
A luz desta nova perspectiva, parece-nos redutor classificar de forma
categorica "sitios onde se vive" (povoados) e "sitios sagrados" (por ex.
"santuarios" de ane rupestre), a partir de uma analise exclusivamenre
arqueografica e muiras vezes superficial. Efectivamente, urn abrigo
sob rocha poderia ter funcionado como habitat, como necropole ou
ainda como "sanruario" de arte rupestre.
FIG. 3 - Torre principal do recinto pre-hisrorico de Casranheiro do Vento (Vila Nova de Foz COa), na campanha arqueologica de 2005.
Basicamente, temos de admitir urn polimorfismo de Steios arqueolo.
gicos. Urn sitio arqueologico pode rer varias ocupa\6es diferenciadas
com cronologias distintas.
Hoje temos consciencia de que um mesmo sido pode ter diferemes
significados em momemos diferemes. Sao as prdticas que atribuem
urn determinado significado ou sentido ao sitio arqueologico. No
entanto, so "conseguimos" perceber esse tipo de praticas atraves da
escavalao dos sitios arqueologicos e da definilao dos contmos onde
esses elememos materiais nos surgem. Esras questoes (aqui abordadas
de forma muito superficial) obrigam.nos a repensar conceitos, a ten
tar encontrar novas oomenclaturas, mals adequadas a complexidade e
heterogeneidade das espacialidades pri-historicas.
Expomos de seguida a proposta de uma possive! tipologia de sitios
arqueologicos para a Pre-Hisroria Recenre para a Bacia Hidrografica
do Douro, que tern como base criterios ou categorias relacionados
com as arquitecturas dos sftios. Gostariamos de salienrar que esre e
urn rrabalho ainda em curso, passive! de alrera~6es, melhoramentos e
reflexaes (ver Fig. 4).
Em virrude desre oovo "olhar", tentamos compor expressoes descom·
prometidas (tanto quanto isso for possive! em Arqueologia), que nos
possibilitem integrar os sirios da Pre-Historia Receme em derermina·
dos Tipos, permitindo uma maior flexibilidade conceptual e urn
maior encaixe de realidades variaveis. Obviamente, urn rrabalho des·
ra natureza incorre numa serie de riscos, nomeadamente 0 de "esva·
ziar" algumas nomenclaturas de sentido. A maior diflculdade que en
frentimos ao estruturar a tipologia que apresentamos continua a ser
a do conceito de "povoado". Optimos por altera-Io para "sitios com
estruturas peredveis", mas este nao e urn ponto pacifico oa discussao
que remos rido com varios colegas. Continuad a ser urn assunto em
aberto, quem sabe passive! duma discussao saudavel por parte da co
munidade arqueol6gica em Portugal.
dossii ARQUEOLOGlA DE TERRITORIO Srnos DA Pll-HmuRJA R£crNJt DA
BN:::tA. HIDROGAAflCA 00 DouRO
r - --- - --=---=---~- !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!~:::::=:L..----.. : N30 lmentnciomdos t Nlo Explici!OJ I bo rom /lUltrWS Ik wptrficid
r---- p---- ----, , ~:~\~~~~~.~~d~'!~~~~'fl~~~~~ ______ ~ ~:~A'.h'~d~~'W.u.~ .. 1
Menil~ ou EudH isoWos qlK tmcrgtm em lugu~ ~uu)n(lmos
Anc RUJXSfIr
p---- ---- r---- ----, , I AoAr Livre: I, Em Gmu I Abrigo
'~----'
4. A BASE DE DADOS DE
SITIOS DA P RE-H ISTORIA
RECENTE DA BACIA
H lDROGRAFlCA DO D OURO
Uma base de dados e urn instrumento de
trabalho fu ndamental em Arqueologia, na
qual e possivel armazenar dados de maneira
e5t[ururada. Organizimos a nossa Base de
Dados arraves da compila,ao de urn conjun
to de dados sob a fo rma de flchas de sitios
arqueologicos. Pensamos que a flcha de sitio
que comp6e a nossa Base de Dados corresponde as exigencias que se
colocam a urn invemario sistematico de Patrimonio arqueologico. ern
especial da Pre-Histotia Recente, de uma atea tao ampla e diversifl
cada como e 0 caso da Bacia Hidtograflca do Douro. E abrangente 0
suficiente para servir de supone ao levantamemo dos sltios arqueol6·
gicos que constituern os gtUpos tipologicos estabelecidos mas, ao
mesmo tempo. e suhcienremenre detalhada, na medida em que com·
porta todos os elementos considerados adequ.dos a identi flca,ao e
caracterjza~ao dos elementos a invenrariar. A sua concep~ao recolheu
i nspi ra~ao em diversas fichas aplicadas a invemaria~ao de patrim6nio
imovel, nomeadamente d. Direc,ao-Geral dos Edificios e Monu
mencos Nacionais (Sistema de Invenrario do Patrimonio Arquitect6.
nico), do Instituto Portugues do Patrimonio Arquitectonico, do Ins
tituto Pottugues de Arqueologia, da emptesa Ctivarque e do Projecto de bwentario do Patrimol1io Imovel dOl A,ores (ver Fig. 5).
A frcha de sitio atqueologico que se integra nesta Base de Dados en
contra-se organizada em varios descritores, com os seus respectivos
campos e subcampos. Num primeiro POntO - Identiflca,ao -, identi
fica·se 0 sitio arqueologico em causa atraves do seu numero de inven·
tario (atribuido de fotma sequencial) e explicita-se a sua designa,ao
ou designa~6es (por vezes, urn mesmo strio e conhecido par varios
nomes). De seguida, ptocede-se a sua Localiza,ao. Aqui reunimos urn
conjunto de informa~6es que congregarn as seguimes itens: top6ni.
rno I lugar, freguesia, concelho. distrito; acessos ao sido; Carta /vli/itar
de Portugal; a1timettia; latitude e longitude e respectiva fonte de in
forma,ao. A Catacteriza,ao do Sitio conternpIa 0 tipo de sirio e respectivas obser
va~6es que possarn ser necessarias, cronologia e data~6es absolutas que
\041 ",t .~ IIS'm(l7) 1 jL""O'O]'
Reci!ltClS
A<>ArLil,rt
Em Gruras I Abrigos
AuAr lil'lt
Em mligos I GlUtiS
FIG. 4 - Proposta de (ipos de Sitios Arqueol6gicos
da Pre-Historia Receme.
existam e descti,ao e tr. balhos efectuados (prospee,ao, lev.marnen
to, escava~io). Decidimos individualizar as motivos de ane rupeme
encomrados no sitio arqueologico, para que essa in forma~io nao pas
sasse despercehida. Foi ainda incluido urn item reference aD nueleo ou
conju1l(o de sitios. rais como nucleos de arte rupesrre au monumen
[Os sob (limltlus que fayam pane, ou que os invesrigadores assumam
que fa>"", parte, da mesma tealidade. POt flm, comempla-se 0 estado
de conserva~o do sirio, imporranre, ja que mui tos deles se enconrram
compleramente destruidos. Consideramos importante a caracteriza
~io do sitio arqueologico a varios niveis, nomeadarnente a Caraete
riza~ao do Meio Envolvente (implanta~io topografica, contexto geo
logico, Iinha de 'gua e observ.,6es respeitames a este assunto), a ca
ractetiza, ao da Componente Artelactual e a Caracteriza, ao Etnogri
fica (trad i~6es I lendas, circunsrancias da sua deseoberta. parriculari·
dades) que se relaciona com a tematica que estamos a estudar: paisa-
gem e memoria social. Este e urn ponto-ehave da nossa invesriga~ao.
Olhamos para os Sirios com ocupac;6es Pre-Hisrorieas como urn pre
texro para pereebermos esse sirio como urn rodo, tendo em conside
ra~o nao s6 os elementos arqueogrificos, mas ram bern tentando per
eeber de que forma as popllla~6es locais se relacionam com os mes
mos. E preciso abrir a invesriga~ao arqueologica a urn eonjunro de
elementos que nio eosrumarn ser devidamenre analisados, au que
costumam ser olhados como meras euriosidades.
Inrroduzirnos ainda urn campo para observac;oes gerais e a bibliogra
fi. consulrad •. Opramos por colocar 0 COdigo Naeion.1 de Sirio (que
remere p.ra 0 Endo\'elico) no final de cada fieh •.
5. N OTAS FINAlS
Neste anigo, procuramos reeer lima serie de considerac;6es com as
quais nos fomos canfromando no decurso da investiga~ao da Pre
-Historia Reeente d. Bacia Hidrogcifica do Douro. nomeadameme
no processo de cons"u,;o da Base de Dados de sirios arqueologieos.
Abordimos superficialmeme a questao basilar da classifica,ao de
sirios arquealogicos em Pre-Historia Recenre, que deveria ser fruro de
discussao alargada. Apesar de ser urn terna bastanre comentado, exis
[e pouca bibliografia sobre 0 assumo no nosso pais. Enecrar urn dialogo emre pre-historiadores, promover uma discussao saudavel e
construriva sobre as questoes que aqui referimas brevemente1 e alga
que almejamos para urn futuro proximo.
FIG. 5 - E.murura da Ficha de Sitio da
Pre-Historia Rccenre da Bacia Hidrogrifica do Douro.
AGRADECIMENTOS
Agrade~o a Professora Domora Susana Oliveira Jurge (minha orien
radora de Douroramenro), pel. sua d~pon i bi l idade em discurir
alguns dos pomos aqui abordados. Agrade,o igualmenre a Lesley
McFayden e a Andreia Arezes pelos seus conrriburos, assim como a
(ristiana Vcleda pela revisao do [(xro . .t
REFEMNCIAS BIBLIOGMFICAS E E LECTR6NICAS
AU;:ADA, Margarida (1998) - ~lnvcn['J riar,
Documenrar, Informarn• In Urbnllidfldf t
PatTimOnio. Usboa: IGAPHE. A!iQUEOWGIA (1988). Porto: GEAI'. Vol. 17. BRUNO, Jorge Paulus - Projerto do bwelltdrio do
Patrimonio Imowl dusArores. [em linha; dispollivd em h"p:l/www.illllflllflrio.ifl(/{/tUrtl.prlmuot/o.hmlf. acedido em 7 de Mar(fO de 2010].
CRlVARQUE - £SrI/do! de Impacte Tmba/hos GtOArqlleologicos, Lda. - I. Ficha de S!rio ArqlleoiOgrco. camara Municipal de Aveiro. [em Iinha; disponivel em imp:l/www.(m-avriro.pt/www/car/u/ .. .IXPQ5Fa AXXIO 730nGdb9J4jj'ZKU.pdj. ace<l;do em 19 Janciro de 20101.
DIREC('.AO Gmll dos Edifirios e Mommwnos Narionais - PNqllisa por Sisrfflla de JI/Jormafiio - imlnttdrio. {em Jinha; disponh,e! em http://www.mollummtos.pt. acroido enrre 2006 e 2008J.
EtiIN, Roy (2002) - ·Classificarion". In B.""ARD. Alan e SPENCER, Jonathan (eds.). Ellc)'clopedia of Sorial and Cllirllrat AI/Thopology. London INcw York: Routledge.
IGESPAR - PNql/isn por PatTimOnio. [em linha: disponivd em brrp:/huwIlJ.igespllr.prlparrimonioi
fmlJlIM/grral/(lr'lltfologiro-mdwt/ico/; acedido em Janeiro de 20101·
l.vsmum M Hnbila(flO ( Rrabi/ita(ao U,bfll/fl (20 1 0) ·SIPA. [em linh3; disponilre1 em http)/wUlJII. /I/OJ/I/IJIfIItOS.pt; acedido em Fevereiro 20101.
I.vS17Tum Portugllb de Arqueologifl - PeJqllisn por Bast de Dodos. [em linha; disponive1 em Imp:f/uIluw. ipa.min-ntltura.pt. 3cedido entre 2006 e 2008].
l.vsrrnrro Portl/glffs do PfltrimQllio Arquittcroniro -Pesqtdsa por 1wtrimollio. [em linha; disponivel em http://www.ippar.pt;acedidoentre2006 e 2008J.
INVENTARIAR para )t1h'agtiartitJr: sh,m/os de illfomlll(ito (111 arqllfoJogia - kIm de SimpOsw (20 de Abril de 2007. !em Iinha; disponive1 em www.ipll. mill-mlrurtl.prhmvS/Simposioj accdido em 25 de Janeiro de 201OJ.
JORGE. Susana Oliyeira (1990) - "D~enyolvimemo
da Hierarquiza~o Social e da Metalurgia. In Not'll HisrOrin d, Portugal. Lisboa: Editorial Prcsenl?-. Vol. 1, "Portugal: das origens a romaniza~:io~.
JORGE, Susana Oliveira (2000) - "Problemarizando a Pre-His(oria Receme de Portugal (VI·II milenios a.c.)". Traba/hoi de Amropologia t EflIOiogill. Pono, SPAE. Vol. 40 (3-4).
JURGE.. Susana Oliveira (2003a) - ~ PenS3.r 0 F..sp;1\o d3 Pre·hisroria Rect"nlc: a proposiw dos recimos murados da Peninsula rbCrica~. l n RecilltoJ Murtldos dl/ PrI-Histriria Rrrrntt. Pono I Coimbra: Ocr]) (FLeP) / CfAUP (Fer).
JORGE, Susana Oliwira (2003b) - ~A Faculdade de Lm lS da Universidade do Pono e a Pre-Historia do None de Ponugal: nOlas para a historia da invcstiga~io dos uhimos 25 anos". In Os ReII/O! fblricos //(/ [Mdt Media. Livro de Hommagem (10
Prof. DOlffor Hlfmbrrto Baqllfro Moreno. Pono: Livraria Civilizar;ao. Vo1.l lI . pp.1421-1450.
R8\FRE\\:', Colin e BAH!\" Paul (19900) - Alrhaeolog;\ Throriff, Mrrhods find Prt1rt;er. 2nd ed. Londres: Thamr:s and Hudson.
RE:-.lFRfW, Colin e BAHS. Paul (l996b) - ArciJarology, T/)(OnN. Me/hoth dnd Practier. 5th ed. Londres: Thames and Hudson. ~Gtossary". !em linha; disponi\'el em http://ll'll'w.tllfl1nffl/luiJllltisOI1lISlI.ro1ll/ wrb/arrhaeology/5dglossary.lmll/; aced ido a 25 de Janeiro d~ 20101.
1 105