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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC : CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT, PADRC E FAPESPA RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período: AGOSTO/2014 a JULHO/2015 ( ) PARCIAL (X) FINAL TITULO DO PROJETO DE PESQUISA: O PORTUGUÊS AFRO-INDÍGENA NA AMAZÔNIA ORIENTAL NOME DO ORIENTADOR: JAIR FRANCISCO DE OLIVEIRA CECIM TITULAÇÃO DO ORIENTADOR: DOUTOR FACULDADE: FACULDADE DE LETRAS BRAGANÇA INSTITUTO/NÚCLEO: CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE BRAGANÇA LABORATÓRIO: TITULO DO PLANO DE TRABALHO: O SISTEMA PRONOMINAL PESSOAL DO PORTUGUÊS AFRO-INDÍGENA UTILIZADO NA TEXTUALIDADE DE COMUNIDADES QUILOMBOLAS DA AMAZÔNIA ORIENTAL NOME DO BOLSISTA: VITOR HUGO DE SOUZA GOMES TIPO DE BOLSA : ( ) PIBIC/ CNPq ( ) PIBIC/CNPq – AF ( )PIBIC /CNPq- Cota do pesquisador ( ) PIBIC/UFPA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁPRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

DIRETORIA DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC : CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT, PADRC E FAPESPA

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO

Período: AGOSTO/2014 a JULHO/2015( ) PARCIAL

(X) FINAL

TITULO DO PROJETO DE PESQUISA: O PORTUGUÊS AFRO-INDÍGENA NA AMAZÔNIA ORIENTAL

NOME DO ORIENTADOR: JAIR FRANCISCO DE OLIVEIRA CECIM

TITULAÇÃO DO ORIENTADOR: DOUTOR

FACULDADE: FACULDADE DE LETRAS BRAGANÇA

INSTITUTO/NÚCLEO: CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE BRAGANÇA

LABORATÓRIO:

TITULO DO PLANO DE TRABALHO: O SISTEMA PRONOMINAL PESSOAL DO PORTUGUÊS AFRO-INDÍGENA UTILIZADO NA TEXTUALIDADE DE COMUNIDADES QUILOMBOLAS DA AMAZÔNIA ORIENTAL

NOME DO BOLSISTA: VITOR HUGO DE SOUZA GOMES

TIPO DE BOLSA :( ) PIBIC/ CNPq( ) PIBIC/CNPq – AF( )PIBIC /CNPq- Cota do pesquisador( ) PIBIC/UFPA( ) PIBIC/UFPA – AF( ) PIBIC/ INTERIOR(X)PIBIC/PARD( ) PIBIC/PADRC( ) PIBIC/FAPESPA( ) PIBIC/ PIAD( ) PIBIC/PIBIT

INTRODUÇÃOO presente relatório apresentará os resultados da pesquisa realizada no âmbito do

projeto “O português Afro-indígena na Amazônia Oriental”, coordenado pelo Prof. Dr. Jair Francisco Cecim da Silva, projeto contemplado com uma bolsa de iniciação cientifica pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PRODOUTOR (PIBIC/PARD), cujo período de duração foi de agosto de 2014 a julho de 2015, tendo como bolsista o aluno Vitor Hugo de Souza Gomes, do curso de Letras Língua Portuguesa, turma 2013, a qual apresentou como plano de trabalho “O sistema pronominal pessoal do Português Afro-indígena utilizado na textualidade de comunidades quilombolas da Amazônia Oriental”.

O projeto faz uma proposta de análise do sistema pronominal falado em Comunidades Quilombolas do Pará, mais especificamente na região nordeste do estado, que possui em sua formação etnias de negros e indígenas. Nessa região, por fazer divisa com o estado do Maranhão, muitos dos negros escravizados que de lá fugiram para o estado do Pará, ao adentrarem as matas, topavam com grupos indígenas com os quais se miscigenavam.

Queremos chamar a atenção para o fato de que, embora o projeto e, por consequência, o plano de trabalho contemplasse comunidades quilombolas da Amazônia Oriental, O campo de pesquisa na região da Amazônia oriental é muito extenso e requer muito tempo para uma pesquisa maior, então o projeto focou sua pesquisa apenas em uma comunidade nessa primeira etapa do projeto, no entanto queremos demonstrar a grande perspectiva do projeto, que nos permitirá pesquisar o tema por vários anos, uma vez que o estudo do português falado em comunidades quilombolas nessa área ainda é muito escasso.

Levando em conta as considerações apontadas no parágrafo anterior, o plano de trabalho do qual este relatório aponta os resultados teve como lócus da pesquisa a Comunidade Quilombola do Tipitinga, localizada no município de Santa Luzia do Pará, estado do Pará,

JUSTIFICATIVAO estudo em Comunidades Quilombolas, consideradas isoladas por suas

características sócio-históricas e de suas falas – falas estas que se desenvolveram a partir do contato entre o português, as línguas africanas e as línguas indígenas – é muito importante para a compreensão geral do que chamamos hoje ‘português brasileiro’. A literatura atesta significativas diferenças na gramática do português brasileiro, se comparado ao português europeu, como tem sido a tradição entre linguistas. E é na área da morfossintaxe pronominal que essas diferenças têm sido bastante demarcadas (Galves, 2001), entre outros. Logo, neste projeto tomamos como alvo o sistema pronominal pessoal utilizado na fala de comunidades quilombolas da Amazônia Oriental, contemplando parte da região nordeste do estado do Pará, por entendermos que estaremos contribuindo não apenas com o alargamento do entendimento de uma variedade vernacular do norte do país, o Português Afro-indígena, mas ainda ampliando o escopo de investigação acerca do que sabemos sobre o Português Brasileiro.

Por que pesquisar o português afro-indígena? A língua estudada tem uma forte ligação com a cultura (língua x cultura) e a Etnolinguística vem estudar essa relação, já que a linguagem é algo ligado diretamente à cultura de um povo, e se tem uma interligação entre si, todas juntas têm uma ligação diretamente com determinado povo. ”A Etnolinguística não analisa o fato lingüístico isoladamente, mas sempre relacionado ao contexto em que ele foi produzido, considerando os dados paralinguísticos e extralinguísticos.” (Barreto, 2010, p.3.).

OBJETIVOInvestigar o sistema pronominal pessoal utilizado na textualidade de

comunidades quilombolas da Amazônia Oriental, especificamente na Comunidade Quilombola do Tipitinga, utilizando na apreensão e análise dos dados os procedimentos metodológicos da etnolinguística, a fim de contribuirmos para ampliar o escopo de investigação acerca do que sabemos sobre o Português Brasileiro.

Materiais e métodos

Investigamos o sistema pronominal pessoal do Português Afro-indígena na textualidade de comunidades quilombolas da Amazônia Oriental, utilizando como método de pesquisa a abordagem etnolinguística, que, segundo Lima Barreto (2010), “[...] procura investigar os relacionamentos entre língua e visão de mundo”.

A linguagem é social e está diretamente ligada à cultura de um povo, ou seja, não é algo isolado da sociedade, por isso ao pesquisar a língua propomo-nos relacionar os elementos linguísticos aos extralinguísticos e paralinguísticos que envolvem a língua. Portanto não podemos estudar a língua sem relacionarmos os costumes, as origens, a tradição de um determinado povo, pois, a Língua está enraizada na cultura.

Nesse sentido é que utilizamos o termo Português Afro-Indígena, pois, como foi dito anteriormente, muitas comunidades quilombolas da Amazônia Oriental têm em sua formação sócio-histórico-cultural e étnica influência africana e indígena, que difere do Português Afro- Brasileiro e do Português Indígena. Vejamos a diferença.

O Português Afro-Indígena é definido por Oliveira, Campos, Cecim, Lopes, Santos e Silva (manuscrito) como:

Uma variedade vernacular do português brasileiro falada por comunidades de fala ‘aquilombadas’. Destacamos que tais comunidades não são apenas as “terras de preto”1, mas ainda as “terras indígenas” e as “terras mistas” como se dão no norte do Brasil. Nestas sociedades, verificam-se, como traços marcantes: (i) nas “terras de preto”: uma descendência de africanos; (ii) nas “terras indígenas”: etnias que perderam ou estão por perder por completo suas línguas maternas, mas mantém seus laços identitários; (iii) nas “terras mistas”: comunidades aquilombadas no norte do Brasil cuja formação étnica é negra e indígena. Nestes três tipos de “terras” o português é traço de identidade e nossa hipótese é que cada comunidade de fala traga suas marcas específicas devendo cada uma delas, na medida do possível, ser inventariada. (grifos nossos)

Como podemos observar o Português Afro-indígena é uma variedade vernacular falada por comunidades que têm em sua formação a mistura das etnias negra e indígena.

Diferentemente do Português Afro-Brasileiro, o qual tem em sua formação comunidades rurais com descendentes diretos de escravizados africanos.

Uma variedade constituída pelos padrões de comportamento linguístico de comunidades rurais compostas em sua maioria por descendentes diretos de escravos africanos que se fixaram em localidades remotas do país, praticando até os dias de hoje a agricultura de subsistência. Muitas dessas comunidades têm a sua origem em antigos quilombos de escravos foragidos e ainda se

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conservam em um grau relativamente alto de isolamento. Dessa forma, o português afro-brasileiro guardaria uma especificidade no universo mais amplo do português popular rural brasileiro (ou, mais precisamente, norma popular rural do português brasileiro) [...]Lucchesi (2009: 32).

Já o Português Indígena tem em sua formação descendentes diretos de povos indígenas.

Interessada fundamentalmente na cultura interacional dos professores indígenas (pertencentes a nove grupos étnicos distintos) [...] observados, Maher (1996,1998) empenhou-se em descrever o funcionamento sociopragmático do que denominou “português índio” […] teve todo o cuidado de explicitar o seu recorte […] “falar de um português Índio é, de um certo modo, uma generalização: mais correto seria falar em português Apurinã, português Kaxinawá, português Shawãdawa, etc... Cada uma destas variedades tem, certamente, a sua especificidade” (Maher 1996: 212). E, poderíamos acrescentar, essa especificidade permanece via de regra desconhecida, pois não são muitos os estudos acerca do produto das situações de contato linguístico vivenciadas por indígenas bilíngues.

Portanto o estudo do português falado por essas comunidades quilombolas da Amazônia Oriental é uma tentativa de recuperar a cultura daqueles que foram essenciais para a formação do nosso país, e mais ainda estudar esse contato entre língua e cultura de negros e indígenas é extremamente necessário para um melhor entendimento do português brasileiro falado atualmente.

A fim de concretizarmos nossos objetivos, utilizamos o gênero textual entrevista para a coleta dos dados. Segundo Ludke e André (1986) a entrevista é uma das principais técnicas de coleta de dados para pesquisa de campo, além da técnica da observação, pois o nível de interação na entrevista é alto suscitando um contato mais próximo entre entrevistador e entrevistado. Utilizamos especificamente a entrevista não totalmente estruturada, em que, por não haver “[...] imposição de uma ordem rígida das questões, o entrevistado discorre sobre o tema proposto com base nas informações que ele detém e que no fundo são a verdadeira razão da entrevista [...]” (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 33). E sem essa imposição a entrevista tende a transcorrer com fluidez e autenticidade.

Após a coleta de dados por meio de entrevistas houve a fase de transcrições, para as quais nos apoiamos na técnica da transcrição grafemática (LUCCHESI, s/d).

A proposta de transcrição grafemática serve de orientação para as pesquisas no âmbito do Projeto Vertentes do Português Popular do Estado da Bahia. A opção pela técnica de transcrição grafemáfica, e não pela técnica de transcrição fonética, deveu-se pelo fato de que:

[...] aquela possibilita uma melhor visualização do texto, atendendo igualmente às necessidades da análise [...]. Desse modo, a transcrição deve mobilizar os recursos disponíveis para uma reprodução mais fiel das características lingüísticas da fala do informante (LUCCHESI, s/d).

Corroboramos que a técnica da transcrição grafemática efetivamente atendeu nossas expectativas uma vez que, como nosso objeto de pesquisa envolve a morfossintaxe, os dados apontaram com bastante exatidão as características da fala dos nossos entrevistados.

Queremos destacar que procedemos a alterações metodológicas no plano de trabalho posteriormente à aprovação do projeto. Inicialmente coletaríamos dados envolvendo textos orais e escritos e os analisaríamos levando em consideração a interface entre a etnolinguística e a análise do discurso na perspectiva bakhtiniana, no entanto só conseguimos coletar dados de fala da comunidade, logo analisamos os dados levando em consideração apenas os aspectos etnolinguísticos. Outra alteração aconteceu na execução do plano de trabalho: a participação de um número expressivo de alunos voluntários no projeto de pesquisa, totalizando 15 alunos, provocou que o coordenador criasse tópicos de pesquisa relacionados ao sistema pronominal e os distribuísse entre os participantes do projeto, permitindo ao coordenador organizar o “1º Seminário de Pesquisa” do projeto cujos resultados apontaremos no tópico seguinte.

Apresentaremos a seguir os resultados da pesquisa prevista no plano de trabalho.

RESULTADOSA realização de reuniões semanais de grupos de estudos sobre os aspectos

teórico-metodológicos levou aos primeiros resultados do plano, que foi a instrumentalização dos alunos para todas as etapas da pesquisa. Esses estudos abordaram questões como: a disciplina etnolinguística, (LIMA BARRETO, 2010), que serviu de base metodológica para a execução do plano de trabalho do projeto. Também realizou-se um estudo para entendermos o conceito de Português Afro-Indígena (OLIVEIRA et all, manuscrito) para a melhor compreensão da(s) comunidade(s) lócus da pesquisa. Estudamos também o texto “gênero textual a entrevista” (MENGA, e ANDRÉ, 1986), para termos base para a coleta de dados sabermos nos posicionar durante uma entrevista em uma pesquisa de campo, e o texto “A chave da transcrição grafemática” (LUCCHESI) para a melhor apreensão de como fazermos as transcrições das entrevistas da pesquisa.

Durante os estudos teóricos, no dia 18 de agosto de 2014, o coordenador do projeto e o bolsista fomos estabelecer esse primeiro contato com a Comunidade e seus moradores para apresentar o projeto e explicar os objetivos da pesquisa em Comunidades Quilombolas e o porquê da importância dessa pesquisa tanto para nós acadêmicos quanto para os moradores da Comunidade. Nessa visita fomos autorizados a pesquisar na Comunidade Quilombola do Tipitinga.

No período de 28 a 30 de outubro de 2014, realizamos a pesquisa de campo com a participação dos 15 alunos voluntários do projeto. Foram três dias de imersão na Comunidade (ver anexo V), cerca de 36 horas imersos no cotidiano dos moradores. Coletamos dados de fala por meio das entrevistas que fizemos com os moradores da referida comunidade, e também dados da escrita com a coleta de algumas poesias de um morador da comunidade. Foram cerca de 10 horas de gravação do cotidiano da comunidade, período de conversas e recolhimento de dados (gravações), levando em consideração diversos aspectos, como a localização, a constituição (origem e formação), manifestações culturais, o processo de reconhecimento como remanescente de quilombo e a titulação da terra, entre outros. A partir das entrevistas com os moradores realizou-se a transcrição grafemática dos áudios, exemplificada no trecho abaixo:

(...)

DOC: e o nome da comunidade? De onde veio? De onde se originou?INF: a comuni... o nome acho que seja origem indígena né porque tipitinga né

tem origem indígena...DOC: mas a senhora assim sabe o significado? Do tipintinga

INF: Tipitinga eu sei é significa tipi é água né e tinga barrenta água suja..DOC: há alguma pratica na comunidade que remeta as praticas indígenas ou

africanas?INF: africana... como eu já falei né a gente quase não tem assim prática

africana a única coisa que a gente ainda tem mermo assim que ficou forte foi a questão da religiosidade que foi bem passado pelos nossos... é ente queridos né... mas assim né...

DOC: e indígena? INF: Indígena só os nome mesmo né que a gente ainda alguma coisa... assim a

questão da comida também ainda tem ainda alguns traços

(...)Cezarina de Jesus Ramos (INF)

Cada participante do projeto ficou responsável por um determinado trecho das entrevistas.

Dados dos informantes e a duração das gravações:

INFORMANTE DURAÇÃOCezarina de Jesus Ramos 43 Min 55 seg.Antônia Andrelina de Jesus Ramos 58 Min e 51 seg.Severino Pinheiro Ramos 56 MinRosalvo Ramos Farias 1 hora e 1 Min.Valter de Jesus Ramos 3 Horas e 15 Min.Célio Francisco de Jesus Ramos 1 Hora e 10 Min.Jucelina 45 Min 00 seg.Benedita 1 Hora e 15 Min.TOTAL 10 Horas e 6 minutos

A partir das transcrições já realizadas foram selecionados pelo coordenador os tópicos de pesquisa sobre o sistema pronominal pessoal e distribuídos entre os participantes do projeto para fins de catalogação e análise dos dados, com resultados muito interessantes para nossa pesquisa, oportunizando ao(á) bolsista e aos vários participantes do projeto apresentarem os resultados em diversos eventos, os quais descreveremos abaixo, com ou sem a participação do coordenador do projeto.

No mês de Março de 2015, nos dias 03 a 07, aconteceu, na UFPA-Campus Universitário de Bragança, o XVIII Encontro Paraense e o XV Encontro Regional dos Estudantes de Letras (EPEL&EREL) com o Tema “Educação, Cultura e Resistência: as vozes que subvertem e inovam o caminho das Letras”, no qual os bolsistas do projeto Ane Caroline Monteiro (PIBIC) e Vitor Hugo Gomes (Prodoutor/PARD) apresentamos uma comunicação oral intitulada “O Português Afro-indígena na Amazônia Oriental”, que teve como objetivo descrever o projeto, assim como os resultados parciais da pesquisa realizada na Comunidade Quilombola do Tipitinga, localizada em Santa Luzia do Pará”.

No dia 18 de março, juntamente com orientador do projeto, apresentamos a amostra de pesquisa “O Português Afro-indígena na Amazônia Oriental” no evento “quartas de pesquisa”, ofertado pelo Programa de Pós-graduação em Linguagens e Saberes na Amazônia aos alunos de graduação e pós-graduação.

No dia 26 de junho de 2015, ocorreu o “1º Seminário de Pesquisa do Projeto O Português Afro-indígena na Amazônia Oriental”, em que os participantes apresentaram

os resultados parciais das pesquisas realizadas na Comunidade Quilombola do Tipitinga. Seis trabalhos foram expostos para a comunidade acadêmica do campus.

O seminário teve início com a palestra de abertura por conta do Coordenador do projeto, Prof. Dr. Jair Francisco Cecim da Silva (UFPA-Bragança) com o tema “O Português Afro-Indígena na Amazônia Oriental”.

Em seguida os participantes, por meio de comunicações orais, apresentaram os resultados das pesquisas realizadas.

1. “Aspectos etnográficos da comunidade do Tipitinga” apresentados pelos alunos do curso de letras Língua Portuguesa - turma 2013 -, Marcia Rodrigues, Paulo Victor Ramos Ribeiro (morador da Comunidade Quilombola do Tipitinga) e Silvana Ribeiro. Os alunos abordaram aspectos como a origem e formação da Comunidade, reconhecimento e titulação da terra, religiosidade, artesanatos, economia, organização da Comunidade entre outros.

2. “A variação pronominal do ‘nós’ e ‘a gente’ no Português falado na Comunidade Quilombola do Tipitinga”, apresentado pelo estudante do curso de letras Língua Portuguesa - turma 2013 - e bolsista do projeto pelo programa PRODOUTOR/POARD, Vitor Hugo Gomes, autor deste relatório.

Este trabalho tem como objetivo verificar o comportamento do sistema pronominal pessoal, mais especificamente o pronome nós e seu correspondente a gente, no Português Vernacular Brasileiro da Comunidade Quilombola do Tipitinga.

Observando os dados recolhidos, ficou muito marcado o uso do substantivo gente que com o tempo veio a ser incorporado no quadro pronominal na forma cristalizada de a gente, substituindo a primeira pessoa em variação do pronome nós.

Trazendo para os estudos de dados do projeto de pesquisa, foram observadas as seguintes ocorrências de variação no pronome nós/a gente. Os dados levantados acerca dos pronomes ‘nós’ e ‘a gente’ somados totalizam 321 ocorrências, das quais 122 (36,5%) são casos de nós e 199 (63,5%) são casos de a gente. Portanto as ocorrências de a gente representam quase o dobro das ocorrências de nós.

Amostras das ocorrências na fala dos entrevistados:

A gente1. ...numa pequena historia que porque também a gente não tem assim tanto

conhecimento... (Andrelina)2. ...a gente num ate porque a gente não a um tempo atrás ninguém se interessou

né de documentar esse histórico... (Andrelina)3. A gente anda por ali pelas comunidades (Valter)4. Isso aí assim, a gente já não sabe nem muito (Valter)5. sempre aquela coisa né a gente tem o nosso serviço da roça né? (Rosalvo)6. mas pelo fato da gente não ser casado com a minha companheira aí a gente

não pode participar né? (Rosalvo)

Nós7. era no inverno e muita chuva e nós fomo achar ele no outro dia era bem meio

dia e ele num recunhicia quase a gente não (Severino) 8. nós era da primeira vez que meu pai casou era só dois filho dois irmão

(Severino)9. batia e assobiava lá em cima de nós, ai calmou, né, depois de meia noite uma

hora (Valter)

10. ai nós viemos, ai , quando nós chegamos eu...eu.. tinha outra casa ali né que era ali no outro sítio e não tinha, assim, coisa de porta era só coisa de buruti (Valter)

3. “Poesia e cultura: as marcas de um povo afrodescendente” apresentado pela dupla de alunas do curso de letras Língua Portuguesa - turma 2012 -, Francisca Dulcileia e Keila de Paula. As alunas mostraram a questão das marcas da identidade quilombola nas poesias do poeta da Comunidade, Rosalvo Farias.

4. “A generalização do crítico reflexivo ‘se’ na pessoa do discurso na comunidade quilombola do Tipitinga”, pela aluna do curso de letras Língua Portuguesa - turma 2013 -, Ane Caroline Lisboa, bolsista PIBIC Interior. A aluna constatou que em Tipitinga não há a generalização em todas as pessoas do discurso. Comparando esses dados com os dados da pesquisa de doutorado do coordenador do projeto na Comunidade Quilombola do Jurusssaca, localizada no munícipio de Tracuateua-Pa, foi observado que em Jurussaca ocorre a generalização em todas as pessoas do discurso. A aluna aponta como principal hipótese para essa diferença é o grau de escolaridade.

5. “A variação pronominal do ‘tu’ e ‘você’ no Português falado em Tipitinga-Pa.” pela aluna do curso de Letras Língua Portuguesa – turma 2012 -, Idaiane Corrêa, que apresentou como resultado de seu trabalho um percentual de 60% de ocorrência do pronome “você” e o pronome “tu” com ocorrência de 40%, ou seja, o pronome “você” é mais utilizado no Português falado na pessoa do discurso da Comunidade Quilombola do Tipitinga, embora estejamos em uma região onde ainda é maciço o uso do pronome “tu”.

6. “A expressiva ocorrência do sujeito pleno em Tipitinga como confirmação do português Brasileiro enquanto sujeito nulo parcial” pela aluna do curso de letras Língua Portuguesa - turma 2013 -, Rayenna Castro, cujo estudo colabora com a tese de que o Português Brasileiro (PB) está se tornando uma língua de sujeito nulo parcial.

No período de 26 de julho a 01 e agosto de 2015, participamos do evento Encontro Nacional dos Estudantes de Letras (ENEL) em São Luís no Estado do Maranhão. Quatro participantes do projeto tiveram seus trabalhos aceitos pela comissão organizadora do evento e os apresentaram em forma de comunicação oral: Ane Caroline Monteiro Lisboa, “A generalização do Clítico Reflexivo se na pessoa do discurso na Comunidade Quilombola do Tipitinga”; Idaiane Cruz, “A variação pronominal do ‘tu’ e ‘você’ no Português falado em Tipitinga-Pa”; Rayenna Castro, “A expressiva ocorrência do sujeito pleno em Tipitinga como confirmação do português Brasileiro enquanto sujeito nulo parcial.”; e Vitor Hugo “A variação pronominal do ‘nós’ e ‘a gente’ no Português falado na comunidade quilombola do Tipitinga, o que fechou com grande êxito o primeiro ano do projeto.

O evento contou com a presença de 60 ouvintes que participaram de forma dinâmica de cada apresentação através de questionamentos e contribuições, um grande avanço para o campus, pelo fato de o projeto se desenvolver dentro dele. Com o evento a comunidade teve a oportunidade de acompanhar todo o desenvolvimento do projeto, inclusive aguçando a curiosidade dos ouvintes em relação à língua afro-indígena.

PUBLICAÇÕESGOMES, Vitor Hugo de Souza e LISBOA, Ane Caroline Monteiro. O português afro-indígena na Amazônia Oriental. Bragança, EPEL & EREL - Norte 2015. (resumo)GOMES, Vitor Hugo de Souza. A variação pronominal do ‘nós’ e ‘a gente’ no Português falado na Comunidade Quilombola do Tipitinga. São Luís, ENEL 2015. (resumo)

CONCLUSÃOVimos que o plano de trabalho foi desenvolvido com bastante êxito, pois

acreditamos que os objetivos apontados no plano de trabalho foram alcançados, embora tenhamos que fazer algumas alterações metodológicas.

Evidenciamos, vale esclarecer, que o plano de trabalho de que este relatório aponta os resultados é limitado diante da extensão do projeto do qual faz parte, no entanto já podemos apontar resultados bastante relevantes para o objetivo maior do projeto, que é ampliar o escopo de investigação acerca do que sabemos sobre o Português Brasileiro.

REFERÊNCIAS

CHRISTINO & SILVA (2012: 418) apud OLIVEIRA, Márcia Santos Duarte de et alii Concordância verbal e nominal na escrita em Português Kaingang. PAPIA (22)

LIMA BARRETO, Evanice Ramos. Etnolinguística: pressupostos e tarefas. P@rtes. (São Paulo). Junho de 2010. ISSN 1678-8419. Disponível em <www.partes.com.br/cultura/etnolinguistica.asp>.

LUCCHESI (2009: 32) apud OLIVEIRA, Márcia Santos Duarte de et alii. a sair. O conceito de português afro-indígena e a comunidade de Jurussaca. In: Juanito Avelar, & Laura Álvarez (orgs.). Dinâmicas afro- latinas: línguas e histórias. SUP - Stockholm University Press.

LUCCHESI, Dante. (s/d). chave da transcrição. Disponível em: http://www.vertentes.ufba.br/projeto/transcricao.

MENGA, Ludke e MARLI E.D.A André. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. p.11 a 38. São Paulo, 1986.

OLIVEIRA, Márcia Santos Duarte de et alii. a sair. O conceito de português afro-indígena e a comunidade de Jurussaca. In: Juanito Avelar, & Laura Álvarez (orgs.). Dinâmicas afro- latinas: línguas e histórias. SUP - Stockholm University Press.

ANEXOS

Fotos do evento realizado no dia 26/06/2015.

Cartaz do primeiro Seminário do projeto