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TADEU TAFFARELLO Piptadenia gonoacantha para flauta e clarineta solistas, orquestra de cordas e percussão 2009

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TADEU TAFFARELLO

Piptadenia gonoacantha

para flauta e clarineta solistas, orquestra de cordas e percussão

2009

Instrumentação e abreviaturas

Instrumentos Especificações Flauta (Fl.)

(x1)

Clarinete (Cl.)

(x1)

Percussão I (P I)

Caixa Clara (C.C.); Chicote* (Ch.); Triângulo* (Trgl.); Reco-reco (R.R.); Claves* (Clv.); Marimba (Mrb.); Prato Suspenso** (P.S.).

Percussão II (P II)

Chicote*** (Ch.); Gran Cassa**** (G.C.); Triângulo*** (Trgl.); Tímpano***** (Timp.); Guizo (Gz.); Claves*** (Clv.); Vibrafone (Vib.); Tubular Bells**** (T.B.); Glockenspiel (Glk.).

Percussão III (P III)

Gran Cassa* (G.C.); Tubular Bells* (T.B.); Wood Blocks (W. Bl.) x 6; Tons (T.) x 3.

Violino I (Vl. I)

(x6)

Violino II (Vl. II)

(x6)

Viola (Vla.)

(x4)

Violoncello (Vlc.)

(x4)

Contrabaixo (Cb.)

(x2)

* Também em P II. ** Necessita de arco de contrabaixo.

*** Também em P I. **** Também em P III.

***** Extensão tímpano:

Símbolos e abreviaturas utilizados

fr. frulatto (sopros) col legno tocar com a madeira do arco gliss. glissando

vibrato, quase glissando (com ritmo específico)

n. normal (anula o frulatto, nos sopros; e arcadas distintas nas cordas, tais como sul ponticello, sulla tastiera e écrasé, entre outros)

S.P. sul ponticello S.T. sulla tastiera B.S.P. basso sul ponticello (muito próximo ao

cavalete) A.S.T. alta sulla tastiera (próximo aos dedos da

mão esquerda)

écrasé (som ruidoso obtido com uma pressão acima do normal do arco sobre a corda)

ou

sopro (assoprar dentro do instrumento com ritmo especificado e, sempre que possível, na altura indicada)

pizzicato Bartók

jeté com o arco jogado sobre as cordas (pode ser, também, em col legno)

(os demais símbolos e abreviaturas utilizados ao longo da peça são explicados no momento em que aparecem.)

Esta peça utiliza a seguinte escala de quartos de tons:

Piptadenia gonoacantha para flauta e clarinete solistas, percussão e cordas.

A Piptadenia gonoacantha, ou pau-jacaré, como é mais comumente conhecida, é uma árvore espinhenta que, segundo Harri Lorenzi1, é muito comum no estado de São

Paulo em regiões de altitude compreendida entre 500-700m. Em Jundiaí-SP, cidade onde cresci e até hoje habito, ela é comumente encontrada nos remanescentes de

Floresta Atlântica que ainda restam em pé. Ela possui, porém, uma característica muito particular que é a de não ser muito resistente à ação dos ventos fortes. Ou seja,

ela tem uma certa tendência a ter os seus galhos quebrados pela força do ar em movimento. Nessa peça, portanto, tentei explorar a expressividade sonora do vento. Isso

nos remete aos pensamentos de Paul Klee. Para o pintor suíço, um quadro tem a potência de tornar visíveis as forças invisíveis da natureza. Da mesma maneira,

podemos pensar que a música também tem a potência de tornar sonora as forças invisíveis da natureza. Como, por exemplo, tornar sonora a ação do vento. Isso nos

remete a um objeto de artesanato muito simples, e muito comum no Brasil, que são os Mensageiros do Vento. Eles são móbiles de materiais diversos, tais como metal,

bambu e pedras, que, justamente, têm a potência de tornar sonora a ação do vento. Esses móbiles têm algumas características, alguns gestos que lhes são particulares.

Entre eles, destacamos quatro que são importantes no desenvolver da peça: (i) cada móbile limita-se a um grupo de sons específico, delimitado pelo número de peças

que o compõe; (ii) cada peça do móbile tem uma altura fixa (quando possível determiná-la); (iii) cada móbile tem, também, um timbre homogêneo; (iv) os móbiles de

metal têm uma ressonância bastante prolongada, enquanto os de bambu e os de pedra têm um som seco, quase sem ressonâncias. Na interação da ação do vento com os

Mensageiros do Vento, podemos destacar três gestos: (i) muitas vezes, quando é apenas uma rajada de vento que afeta o móbile, ele responde com uma ação forte que é,

aos poucos, diminuída pela força da gravidade que faz com ele retorne ao estado inicial de repouso; (ii) outras vezes, o vento começa a assoprar lentamente, criando

uma espécie de resposta em crescendo nos Mensageiros do Vento; (iii) ou, ainda, o vento pode ter uma ação forte e contínua, gerando uma reação de iguais

características nos móbiles. Musicalmente, a peça de Almeida Prado2 Momento 8, do seu segundo álbum de Momentos, traz um gesto que nos lembra a reação de um

Mensageiro do Vento face à ação do vento. Nessa peça o compositor faz com que uma força melódica arranque uma harmonia de uma inércia estática, para, depois, aos

poucos, essa mesma harmonia retornar ao seu estado de repouso inicial. (Vale a pena ouvir essa peça, pois ela é, além de tudo, muito bonita...) Dessa maneira, portanto,

Piptadenia gonoacantha é uma homenagem às florestas de Mata Atlântica remanescentes da cidade Jundiaí-SP, na figura de uma de suas árvores mais comum. É,

também, uma sonorização de uma força da natureza, o vento, em ação sobre os Mensageiros do Vento e, ainda, trava um diálogo com o gesto musical de uma peça de

Almeida Prado. (Espero que eu tenha conseguido amarrar com carinho e elegância todos esses elementos que me fascinam tanto...)

1 LORENZI, Harri. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo. 4 ed. Nova Odessa: Instituto Platarum, 2002. v. 1, p. 201. 2 PRADO, José Antônio R. de Almeida. VI Momentos. São Paulo: Ricordi Brasileira, 1971. v. 2.